o direito dos povos sem escrita

Upload: ascmend

Post on 15-Jul-2015

148 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

O Direito dos povos sem escrita

Joo Fernando Vieira da Silva 1. No obstante, no terem desenvolvido a escrita, povos como os Incas na

Amrica do Sul, e os Mais na Amrica Central, atingiram patamares elogiveis de desenvolvimento. H um axioma jurdico que diz que onde est o homem, est a sociedade, onde est a sociedade, est o Direito. Assim sendo, tais povos, ainda que de forma rudimentar, tiveram esboos de ordenamento jurdico. 2. Uma dificuldade gritante a reconstiuio do Direito destes povos. Neste

sentido, urge citar o seguinte: Quando falamos no direito dos povos sem escrita, temos enorme dificuldade em conceitu-lo, j que com base em estudos arqueolgicos possvel reconstituir os vestgios deixados pelos povos prhistricos, como moradias, armas, cermicas, rituais etc., com os quais possvel determoinar a respectiva evoluo social e econmica. Mas o direito requer, alm desses itens, o conhecimento de como funcionam as instituies na poca em questo, o que deveras difcil de constituir. Podemos dizer que essa 'pr-histria' do direito escapa quase inteiramente ao nosso conhecimento? No, tendo em vista que, no momento em que os povos entram na histria, a maior parte das instituies jurdicas j existem, mesmo que ainda misturadas com a moral e com a religio, como o casamento, a propriedade, a sucesso, a banimento etc.

3.

Sem a pretenso de esgotar o tema, podemos traar como caractersticas

gerais do Direito nesses povos o seguinte: Raras regras abstratas delimitadas; Muito valor compilao de casos concretos; O costume como a principal fonte do Direito; Pluralismo jurdico exarcebado; *Cada comunidade tinha seu prprio costume; *Grande juno entre Direito e religio; *Grande temor em relao aos poderes sobrenaturais; *Inexistncia de distino entre Direito, religio e moral; *Inexistncia de padres razoveis sobre o termo justia; *Penas muito rgidas. A pena de morte e as penas corporais eram muito comuns; *Tolerncia poligamia, mas sendo comum apenas a unio de um homem com mais de uma mulher, no o inverso; *Utilizao subsidiria de provrbios, poemas e lendas como fontes do Direito. 4. A idia do costume como fonte do Direito em povos primitivos pode ser

reforada pela seguinte passagem: A obedincia ao costume era assegurada pelo temor dos poderes sobrenaturais e pelo medo da opinio pblica, especialmente o

medo de ser desprezado pelo grupo em que se vivia. Naquela poca, um homem fora do seu grupo, vivendo isoladamente, podia considerar-se fadado morte. 5. O Direito permeado por questes de ordem social e nos povos sem

escrita isto tambm deve ser observado. Destaque para a formao de cls, ou seja, grupos sociais extensos que ampliam os laos consanguneos. Outro destaque o forte culto aos antepassados. As cls eram coesas e um trecho que demonstra isso o seguinte: O cl acabou por ser considerado uma unidade. Se algum atacasse um membro do cl, todos se sentiam atacados, e a revolta era contra o cl ao qual pertencia o agressor, e no contra a pessoa fsica especfica que cometera o mal a vingana era comum a todos. 6. Uma evoluo das cls a formao de etnias, ou seja, alguns grupos

abdicaram da postura de aplicar a prpria vingana e lanavam tais decises nas mos de membros de vrias cls, os quais formavam as etnias. Sem pudor, podemos dizer que as etnias so um embrio da formao de um Estado. 7. Os padres de justia das etnias, se analisados hoje, no so nada

humanistas. Confirmando isso, leia-se a seguinte passagem: A justia adotada pelas etnias confia frequentemente nas foras sobrenaturais para solucionar os conflitos. Uma das espcies de prova que recorria ao sobrenatural era a ordlia, ou seja, na falta de certeza sobre um delito, e sendo uma pessoa acusada de t-lo cometido, atirava-se essa pessoa na correnteza de um rio. Caso sobrevivesse, era interveno divida e isso provava a inocncia. Caso no, estava demonstrada a culpa.