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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ALUNA: Mónica Pereira Sousa Mota da Fonseca Área: Ciências Jurídico-Empresariais Orientadora: Professora Maria de Lurdes Pereira O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS - EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS Abril 2018

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Page 1: O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM ......Sociedades Comerciais, 3ª reimpressão da 2ª edição de 1989, Almedina, Coimbra, 2004 pág.10. 5 DANIELA FARTO BAPTISTA, O Direito de

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

ALUNA: Mónica Pereira Sousa Mota da Fonseca

Área: Ciências Jurídico-Empresariais

Orientadora: Professora Maria de Lurdes Pereira

O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS

CONTRATUAIS - EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

Abril 2018

Page 2: O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM ......Sociedades Comerciais, 3ª reimpressão da 2ª edição de 1989, Almedina, Coimbra, 2004 pág.10. 5 DANIELA FARTO BAPTISTA, O Direito de

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Modo de Citar

Na primeira citação, as obras serão citadas, identificando-as pelo nome do autor,

título da obra, volume, edição, editora, local de publicação, ano, indicando a página ou

páginas.

Posteriormente, as obras serão citadas pelo nome do autor, primeira ou primeiras

palavras do título e indicação da página ou páginas.

Em cada note de pé de página, sendo citado mais de um autor, serão indicados

por ordem alfabética.

Quando sejam referenciadas disposições legais sem indicação da fonte elas

correspondem a artigos do código das sociedades comerciais, aprovado pelo decreto-lei

n.º262/86, de 2 de Setembro.

Poderão ser utilizadas abreviaturas constantes da lista que se segue.

Foram consideradas obras publicadas até Dezembro de 2016.

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Índice de Abreviaturas

A. – Autor (a)

AA. – Autores

Ac. – Acórdão

Acs. – Acórdãos

Al. – Alínea

Art.- Artigo

Arts.- Artigos

BMJ – Boletim do Ministério da Justiça

CCIt – Código Civil Italiano

CC – Código Civil Português (1966)

CCom – Código Comercial Português (1888)

Cit – Citado

CPC – Código de Processo Civil

CRP – Constituição da República Portuguesa

CSC – Código das Sociedades Comerciais Português (1986)

CVM – Código dos Valores Mobiliários

D.L. – Decreto-lei

OPA – Oferta Pública de Aquisição

Pág. – Página

SS. – Seguintes

Vol. – Volume

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho, elaborado no âmbito do mestrado em ciências jurídico-

empresariais, leccionado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, visa

compreender a figura do direito de exoneração no direito comercial português, em

especial nas sociedades anónimas.

O direito de exoneração é um mecanismo que permite aos sócios, mediante a

verificação de certas circunstâncias, desvincularem-se da sociedade obtendo o

reembolso da sua participação. Pode traduzir-se em um “…direito do sócio, que quebra

o princípio de que não se pode derrogar ou revogar unilateralmente um contrato…”1.

Este mecanismo visa proteger várias finalidades, entre as mais relevantes estarão

a protecção dos sócios no sentido de não ficarem reféns da vontade da maioria no que

concerne a decisões de especial relevo na vida da sociedade e a possibilidade de

desvinculação quando haja existido um vício da vontade na entrada para a sociedade.

No presente trabalho tentei, primariamente, uma abordagem ampla à figura do

direito de exoneração, nomeadamente quanto à sua noção e aplicabilidade. Foi preciso

compreender o seu surgimento no direito português, bem como a contextualização da

sua evolução histórica. Outra pertinente e inevitável abordagem é a comparação entre

diferentes ordenamentos jurídicos onde o direito de exoneração é também

comtemplado. Foram analisados os ordenamentos jurídicos europeus mais influentes, o

italiano, o francês e o espanhol.

Posto isto, era fulcral a análise do regime do direito de exoneração no direito

português, balizando o instituto e demonstrando o seu funcionamento. Na análise do

instituto deparamo-nos com disposições legais que o permitem, bem com a

admissibilidade de cláusulas contratuais que o contemplem. E é nestas últimas, a

propósito das sociedades anónimas, que surgem as maiores reservas e divergências

doutrinais, derivadas do silêncio do legislador, que foi preciso tentar interpretar e

integrar.

Têm sido apontadas várias causas para este silêncio, designadamente, o princípio

da livre transmissibilidade de acções em especial nas sociedades abertas. Isto porque

esta possibilidade resolveria muitos dos problemas que o direito de exoneração se

propõe a resolver, porém esta possibilidade nem sempre se verifica.

1 JOSÉ DE OLIVEIRA ASCENSÃO, Direito Comercial: Sociedades Comerciais, Parte Geral, Vol. IV,

Faculdade de Direito de Lisboa, Lisboa, 2000, pág.371.

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Outra questão que decorre do estudo da figura do direito de exoneração é a sua

previsão distinta consoante o tipo societário em causa. Esta questão é tão mais

importante quando abordamos as sociedades por quotas e as sociedades anónimas,

ambas sociedades de capitais, e em que se verifica uma disparidade enorme entre os

regimes. O presente trabalho tentou dar resposta a estas e outras questões relevantes

para aplicação do mecanismo do direito de exoneração.

Finalmente, no seguimento de alguns estudos recentes2, foi feita uma incursão

pela disciplina do direito dos valores mobiliários, onde se pensa existir um direito de

exoneração em sentido impróprio que é exercido através das ofertas públicas de

aquisição obrigatórias. Esta figura do direito dos valores mobiliários visa permitir às

minorias desvincularem-se da sociedade, quando esta esteja sobre domínio e controlo de

uma determinada entidade, sem que para isso haja perda do investimento efectuado, ou

pelo menos que haja uma perda diminuta. O motivo desta figura é conferir ao (s) sócio

(s) a possibilidade de abandonarem a sociedade bastando apenas para isso alienarem a

sua participação social.

2 MARIA ELISA DE SOUSA CARMO, A OPA obrigatória como direito de exoneração, Dissertação de

Mestrado em Direito e Gestão, Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2014.

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PRIMEIRA PARTE

ENQUADRAMENTO GERAL

Noção e Principais Elementos Caracterizadores

1. Noção de direito de exoneração

O direito de exoneração é um direito adquirido em simultâneo com a

participação social, é o direito do sócio de retirar-se, desvincular-se da sociedade

mediante a ocorrência de certas condições legais ou contratuais.

A formação de qualquer sociedade, seja ela comercial ou civil, é realizada

através de um contrato, contrato esse que, à semelhança dos demais, tem origem na

liberdade contratual.

Imperando nas sociedades comerciais a regra do respeito e da imposição pelas

decisões da maioria, o direito de exoneração visa tutelar as minorias quando as decisões

societárias têm significativo relevo e não seja conveniente ou justo serem suportadas

pelos que não as aprovaram.

O direito de exoneração é o direito de um sócio abandonar a sociedade, de

natureza potestativa, renunciável a posteriori pelo seu titular, realizável através de uma

declaração receptícia e que se efectiva com o reembolso da participação social.3

3 No Direito português existem várias posições doutrinais no que concerne à definição do direito de

exoneração.

COUTINHO DE ABREU, Curso de Direito Comercial, Vol.II, Das sociedades, 2ª edição, Almedina,

Coimbra, 2007, p.418, define o direito de exoneração dos sócios como “a saída ou desvinculação deste,

por sua iniciativa e com fundamento na lei ou no estatuto, da sociedade”.

DANIELA FARTO BAPTISTA, O direito de exoneração dos accionistas das suas causas, Coimbra

Editora, Coimbra, 2005, pág. 84, concretiza este direito como “ individual não potestativo, inderrogável e

indisponível pela maioria mas renunciável a posteriori pelo seu titular, de exercício unitário e de

consagração legal ou convencional, que permite ao accionista, quando alguma vicissitude societária

torna inexigível a sua permanência na organização social, abandonar voluntaria e unilateralmente a

sociedade anónima a que pertence e que subsiste para além da sua exoneração, através do reembolso do

valor das acções por ele detidas no património social e a consequente extinção da qualidade de sócio que

manteve até então.”

JOÃO MARIANO CURA, Direito de exoneração dos sócios nas sociedades por quotas, Almedina,

Coimbra, 2005, pág. 27, afirma: ” Sendo o direito de exoneração um direito subjectivo, uma vez que o seu

exercício se encontra na livre disponibilidade da vontade do seu titular, apresenta-se como um direito

subjectivo stricto sensu”

JOSÉ OLIVEIRA ASCENSÃO, Direito Comercial: Das sociedades comerciais, Parte Geral, Vol. IV,

pág. 371, “Direito do sócio, que quebra o princípio de não se puder derrogar ou revogar unilateralmente

um contrato”

Mª AUGUSTA FRANÇA, Direito à exoneração, Novas perspectivas do direito comercial, Almedina,

Coimbra, 1988, pág.207, entende que o direito de exoneração será “a faculdade concedida ao sócio de se

afastar da sociedade recebendo o valor da sua participação social”.

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Os contratos não devem ser eternos, nem limitar as opções dos contraentes, uma

vez que tudo muda, também os contratos devem acompanhar estas mudanças.

2. Elementos Caracterizadores do Direito de Exoneração

2.1 Direito exclusivo dos Sócios

O direito de exoneração destina-se exclusivamente aos que, no momento do

facto legalmente previsto para a exoneração, eram sócios da sociedade, não se aplicando

assim aos promitentes-compradores nem a usufrutuários.

2.2 Direito Potestativo

A maioria da doutrina analisa o direito de exoneração como um direito de

natureza claramente potestativa.4 Contrariamente, Daniela Baptista considera-o um

direito subjectivo comum5, justificando a sua posição no facto de a sociedade poder

alterar ou revogar a causa que originou o direito de exoneração e porque apenas

considera concretizado o direito de exoneração quando o sócio é ressarcido do valor da

sua participação social. Cura Mariano6, apresenta como objecção à qualificação do

direito de exoneração como um direito potestativo o facto deste só se efectivar com a

saída do sócio aquando da liquidação.

Ora vejamos. Embora apenas com a liquidação se torne efectiva o fim da relação

societária a verdade é que o direito de exoneração está na livre disponibilidade do sócio

desde que reunidas as condições que permitam a exoneração. A sociedade limita-se a

receber a declaração de intenção do sócio em quebrar o vínculo contratual com aquela.

Isto mais não é que um direito potestativo, tendo o poder de pôr fim àquela relação sem

necessidade de consentimento dos demais.

2.3 Renunciável a posteriori

Alguma doutrina tem-se debruçado sobre a questão da irrenunciabilidade deste

direito. Para alguns pode ser renunciável por cláusula estatutária, com ou sem

unanimidade.

4 No direito Português a doutrina tem sido praticamente unanime.

AMADEU FERREIRA, Amortização de quota e exoneração de sócio, Reflexões acerca das suas

Relações, Lisboa, 1991, pág.23-26

MENEZES CORDEIRO, Manual de Direito das Sociedades, II - Das Sociedades em Especial, 2ª edição,

Almedina, Coimbra, 2007, pág.323.

RAÚL VENTURA, Sociedades por quotas, Vol. II, artigo 240º a 251º, Comentário ao Código das

Sociedades Comerciais, 3ª reimpressão da 2ª edição de 1989, Almedina, Coimbra, 2004 pág.10. 5 DANIELA FARTO BAPTISTA, O Direito de Exoneração dos Accionistas Das Sua Causas, pág. 149-

151. 6 JOÃO CURA MARIANO: Direito de exoneração dos sócios nas sociedades por quotas, pág.27-29.

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À luz do direito Português vigente parece não ser possível a priori renunciar a

este direito, por um lado porque é um imperativo legal que não prevê discricionariedade

na sua aplicação e de outro modo ainda que se vislumbrasse essa possibilidade

desvirtuaria por completo tudo aquilo que o direito de exoneração visa proteger.

Contudo sendo um direito exclusivo do sócio, pertencente à sua, e apenas à sua

esfera jurídica, podendo este usar a faculdade do seu exercício ou não, isto torna este

direito renunciável, à posterior, perante uma concreta causa de exoneração já verificada.

2.4 Realização através de uma declaração receptícia. Direito unilateral.

Dada a natureza potestativa do direito de exoneração, como analisado supra, ele

realiza-se através de uma mera comunicação da pretensão do seu exercício pelo sócio à

sociedade. Esta questão é independente do momento da concretização da exoneração,

dado que a sociedade pode alterar ou revogar a causa que originou a pretensão do

direito de exoneração.

Pode até, porventura, o sócio, antes de reembolsado do valor da sua participação

social, alterar a sua vontade.

Contudo, todo o processo de exoneração tem início na vontade do sócio em

abandonar a sociedade, por não conseguir conceber a continuação daquele contrato,

quando se dirige à sociedade, a expressar o seu desejo, explicando claramente os seus

motivos e pedindo a efectivação daquele direito com o reembolso da sua participação.

Esta declaração não depende de qualquer acto ou mesmo de concordância da

sociedade, dos restantes sócios ou dos administradores.

2.5 Efectivação com o reembolso da capital

A primeira ilação após o envio da declaração de exoneração é a obrigação que

impende sobre a sociedade de fazer extinguir a relação societária.

A extinção desta relação pode acorrer através de diferentes instrumentos de que

a sociedade dispõe, porém todos se concluem no reembolso da participação ao sócio

exonerado.

Em termos gerais, sem prejuízo de análise mais aprofundada para cada tipo

societário, a sociedade pode extinguir a participação social amortizando, adquirindo ou

fazendo adquirir por sócios ou terceiros a participação social.

Em última análise pode a sociedade ser dissolvida, a requerimento de um

interessado, sendo este ressarcido do valor da sua participação social aquando da

dissolução da sociedade.

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Assim, o processo de exoneração apenas fica concluso quando a sociedade,

depois de seleccionado o processo de reembolso, o efectiva.

SEGUNDA PARTE

A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DE EXONERAÇÃO NO DIREITO

PORTUGUÊS

1. Das Ordenações Filipinas às Companhias Pombalinas

A previsão legal do Contrato Social7 e da Companhia verificou-se no

ordenamento jurídico nacional nas Ordenações Filipinas – 1595 a 1603 - (Livro IV,

Título XLIV (do contrato da Sociedade e Companhia), recolhido do Digesto de Justiano

(D., 17, 2: Pro socio).

Estabelecem-se aqui, pela primeira vez, o direito de renúncia. A renúncia de um

sócio impulsionava o termo da sociedade, isto porque conduzia, obrigatoriamente, à

dissolução da mesma.

Verifique-se, no entanto, que apesar da predita realidade algo destrutiva, a

verdade é que os demais sócios não se encontravam ao abrigo de uma penumbra de

completa desprotecção, na medida em que, sobre aquele que exercia o direito à renúncia

impendia o dever de indemnizar os demais sócios pelo prejuízo.

A este preceito, refira-se que, a temática da licitude da livre desvinculação do

sócio, no quadro supra descrito, era objecto de ponderação, assim, bifurcando-se a sua

admissibilidade em dois cenários distintos: (i) cenário das sociedades constituídas por

tempo ilimitado; (ii) cenário das sociedades constituídas com prazo de duração.

Com efeito, cumpre analisar, infra, os condicionalismos verificados em cada um

dos casos individualmente considerados.

Ora, no âmbito das sociedades constituídas por tempo indefinido, era permitida a

livre renúncia sem a verificação de quaisquer óbices ou consequências. Porém, de

contrário, nos casos em que a sociedade havia sido constituída por um determinado

período (com um termo, à priori, definido), existiam circunstâncias em que o direito de

indemnizar não era imposto ao sócio desvinculante, por razões que se reputavam

7 RUI MANUEL DE FIGUEIREDO MARCOS, As companhias pombalinas – Contributo para a

história das sociedades por acções em Portugal, Almedina, Coimbra, 1997, pág. 330.

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indubitavelmente justificativas da sua livre libertação, sem que sobre o mesmo

recaíssem ónus. E assim, os referidos casos concretos em que sócio que pretendia

desvincular-se em momento anterior ao fim do prazo de vigência, eram, habitualmente,

os seguintes: (i) Quando a manutenção da relação com outro sócio fosse impraticável

(incompatibilidades pessoais); (ii) Quando lhe fosse imposto o ingresso numa missão

oficial; (iii) Quando o mesmo tivesse violado alguma regra correlativa da sua condição

de carácter de permanência na sociedade; (iv) Quando lhe tivesse sido

embargado património, objecto de entrada para a sociedade.

Sucede que, posteriormente, no século XVII, nas Companhias Pombalinas,

constata-se uma evolução no que tange a exoneração do sócio, sendo que numa lógica

mais proteccionista dos direitos dos sócios e afastando-se da realidade algo redutora que

subjazia na consequência de dissolução imediata da sociedade com a saída de um sócio,

estabeleceu-se que a renúncia não dava lugar à imediata dissolução. Com esta alteração

acolheu-se a ideia de que se sucedessem modificações supervenientes, consideradas de

especial expressão das cartas da instituição ou caso se verificassem incumprimentos no

que tangia aos privilégios atribuídos pelo rei, não haveria a dissolução imediata.

Ora, a livre desvinculação, nestes dois panoramas, originava a possibilidade

àquele que renunciasse a ser ressarcido com o capital representativo das suas acções,

num cúmulo com os lucros que à data lhe fossem devidos. 8

2. Código Comercial de 1833 à Lei das Sociedades Anónimas de 1867

Em 1833, em Portugal, foi aprovado o primeiro Código Comercial Português,

com José Ferreira Borges (respectivo autor), não sendo de somenos importância referir

que o mesmo era uma réplica do Código Comercial Francês criado em 1807.

Neste código o direito de exoneração não tinha consagração autónoma, era

exercido de forma indirecta, através da possibilidade de dissolução da sociedade.

Assim, quando a sociedade não tivesse duração fixada previa o artigo CLXVIII

(N.º693) que qualquer sócio poderia requere a dissolução da sociedade, desde que

informasse os restantes sócios da sua intenção. Quando a duração da sociedade fosse

limitada qualquer sócio poderia requerer judicialmente a sua dissolução nos termos do

artigo CLXXI (N.º 696) mediante prova de um dos seguintes factos: mau

comportamento de um dos restantes sócios; impossibilidade de continuação da

8 RUI MANUEL DE FIGUEIREDO MARCOS, As companhias pombalinas, pág. 599, nota 1610

enuncia a título exemplificativo estas cláusulas.

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sociedade nos termos em que foi convencionada ou existindo abuso de boa-fé por parte

de qualquer um dos restantes sócios.

A saída do sócio efectivava-se através da dissolução da sociedade.

A lei de 22 de Junho de 1867, reguladora das Sociedades Anónimas, não

introduziu qualquer alteração ao regime em vigor da exoneração dos sócios.

3. Código Civil de 1867

No Código Seabra, a propósito do contrato de sociedade civil, o direito de renúncia

manteve as mesmas admissibilidades nos dois cenários, supra ilustrados, ou seja, no

caso das sociedades constituídas por tempo ilimitado e nos casos das sociedades

constituídas por tempo determinado.

4. Código Comercial de 1888 até ao Decreto-lei 262/86 de 2 de Setembro

A 28 de Junho de 1888 foi promulgado o novo Código Comercial Português,

produto dos esforços do então Ministro da Justiça, Veiga Beirão, através do qual se

atestou a tipificação mercantil, diferenciando-se tipos societários, tais como: as

sociedades em nome colectivo, as sociedades anónimas e as sociedades em comandita.

No âmbito deste código a temática da dissolução aplicava-se a qualquer uma das

tipologias mercantis, sendo que, a feição encerrada pelo mesmo que apontava no sentido

de admissibilidade da livre desvinculação apenas era aceite em casos atípicos, podendo,

desde que houvesse consensualidade, os estatutos regular esta realidade.9 E mais: as

regras do código civil não se aplicavam subsidiariamente ao direito de exoneração,

imbuído no novo Código Comercial Português.

No novo Código Comercial, no capítulo da dissolução, dentre várias formas de

dissolução, porém, na vertente ora em análise e que nos cumpre descortinar, consagrou-

se, a título pontual, a hipótese de dissolução pela vontade de um único sócio, no caso

das sociedades por tempo indeterminado, desde que se tratassem de sociedades em

nome colectivo. Todavia, esta regra era apenas de exclusiva aplicação às sociedades em

nome colectivo, não se aplicando às sociedades anónimas e às sociedades comanditas.

Acontece que, o Código Comercial de 1888, nas sociedades em comandita por

acções, estipulou que se na circunstância de em resultado de deliberação dos sócios

houvesse sido decidido a demissão de um gerente, concedia-se àqueles que eram os

9 RAÚL VENTURA, Sociedades Comerciais: dissolução e liquidação de sociedades, Comentário ao

Código das Sociedades Comerciais, Almedina, Coimbra, 1987, Pág. 453.

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sócios opositores daquela resolução, o recurso à prerrogativa de libertarem-se da

sociedade, usufruindo do benefício ao reembolso do respectivo capital, na

correspondente proporção que resultasse do último balanço de contas da sociedade.

A 11 de Abril de 1907, foi criada a Lei Reguladora das sociedades por quotas

procurando com a mesma instituir um regime de efectiva responsabilização dos sócios,

pela assunção das obrigações sociais.

A este propósito, para o tema sobre o qual nos debruçamos no presente estudo,

importa-nos, no que se referia ao direito de exoneração dos sócios, sublinhar que foram

contempladas, expressamente, regras das causas conducentes à exoneração e qual o

modus operandi para que tal ocorresse. Atentemos, então, aos casos em que tal

realidade era exequível: (i) quando o sócio se opusesse com a redução, reintegração ou

aumento do capital social; (ii) quando o sócio não concordasse com a procrastinação do

prazo de vigência da sociedade; (iii) quando o sócio não estivesse de acordo com a

fusão da sociedade. Nos casos ilustrados, verificava-se a diminuição do capital social

porquanto o sócio opositor era reembolsado no valor da sua quota.

O direito da livre exoneração dos sócios, nas sociedades constituídas por tempo

indefinido, sem que tal acto desse lugar à extinção da sociedade, apenas teve previsão

legal no Código Civil, criado em 1966.

Já nas sociedades constituídas por tempo limitado, a realidade era distinta, isto é,

o exercício do direito à exoneração apenas se admitia nos casos de justa causa ou ainda

quando pacto social assim o previsse.

Posteriormente, com o D.L. 583/73 de 8/11, surgiram novas regras para a livre

desvinculação dos sócios, desenhadas para os quadros de fusão da sociedade, nas quais

se determinado sócio não acolhesse tal decisão, poderia exonerar-se e, em consequência,

recebia da sociedade uma contrapartida pela absorção da sua participação social por

parte da sociedade.

Com o D.L. 262/86 de 2/9 aprovou-se o Código das Sociedades Comerciais, que

se encontra, presentemente em vigor, mediante o qual, finalmente, consignaram-se

regras concretas que permitem o direito de exoneração, extensível a todas as tipologias

societárias. 10

10

FERNANDO OLAVO, Alguns apontamentos sobre a reforma da legislação comercial, no B.M.J., n.º

293, pág.19-21.

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TERCEIRA PARTE

O DIREITO DE EXONERAÇÃO NO DIREITO COMPARADO

1. O “diritto di recesso” no direito italiano

1.1. BREVE RESENHA HISTÓRICA DO DIREITO DE EXONERAÇÃO NO

DIREITO ITALIANO

CÓDIGO COMERCIAL DE 1882

A primeira referência legislativa ao direito de exoneração surgiu no Código de

Comércio Italiano de 1865. Mas foi o Codice di Commercio italiano de 1882 no seu

artigo 158.º a regular, pela primeira vez, um diritto di recesso para os accionistas em

desacordo11

.

Esta disposição legal visava o equilíbrio entre a vontade da maioria, quando esta

alterasse os estatutos, e o sócio discordante com essas mesmas alterações. As causas

eram: a fusão, a reintegração ou aumento do capital social, modificação do objecto da

sociedade e a prorrogação da sua duração para além do previsto na constituição da

sociedade.

Relativamente à fusão, o direito de exoneração poderia ser avaliado em dois

cenários distintos, vejamos:

(i) Num quadro em que se verificasse a fusão por via da incorporação, ao sócio da

sociedade incorporante não lhe deveria ser permitida a libertação da sociedade, dado

que, por princípio, não se dava a alteração do pacto social. Porém, neste cenário, a

exoneração era admitida, nos casos em que concomitantemente à fusão se deliberasse

no sentido da amplificação do capital social ou modificação do seu objecto social.

(ii) Já num quadro em que se verificasse uma fusão por via da conglobação de duas

sociedades distintas: neste, considerando que a ambas as sociedades seriam subtraídas

as suas identidades originárias (nos termos em que haviam sido concebidas), enquanto

sociedades individualmente consideradas, larga porção da doutrina comungava do

sentido de que qualquer um dos sócios, de uma das duas, poderia exonerar-se.

É importante dar nota que nesta modalidade as duas sociedades ter-se-iam que se

dissolver, admitindo-se ainda que, em virtude da dissolução, o sócio dissidente pudesse

exercer o seu direito à absorção da sua quota-parte da liquidação.

11

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração do sócio no código das sociedades

comerciais, Almedina, Coimbra,2008,pág. 95, nota 265.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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Por outro lado, nos casos em que se desse a alteração do objecto social, era

sempre acolhida a possibilidade de exoneração, uma vez que estar-se-ia perante uma

outra sociedade que não a primariamente constituída12

. Todavia, existia uma dissidência

semântica que provocava discórdia no seio da doutrina e que se prendia com a própria

expressão “alteração do objecto social”. Ou seja, as hesitações eram suscitadas quando

não se estava face a uma modificação total do objecto social, sendo apenas uma parte da

mesma tema de alteração.

Apesar do referido, era consensual que o direito de exoneração era admitido

quando o objecto social era totalmente substituído por outro ou nos casos em que o

objecto social primordial era coarctado.13

No que concerne ao aumento do capital social que se corporalizava através da

subscrição de novas acções para os sócios, sendo que apenas tinha lugar quando havia

um incremento real e materializado - não se admitindo a exoneração com base na mera

expectativa da verificação desta realidade.14

Da leitura do Código Comercial Italiano de

1882, alguma doutrina15

detectava quanto a esta matéria uma lacuna, na medida em que

se entendia que a subscrição de novas acções não era uma figura de carácter imperativo

para os sócios e, por força desse entendimento, consequentemente, o direito de

exoneração não era reconhecido aos sócios dissidentes.

Ora, o alcance de tal raciocínio focalizava-se no facto de que o aumento do

capital social era visto como uma ocorrência trivial da boa gestão societária, condicio

sine quo non para êxito e manutenção do negócio. Ou seja, poder-se-ia entende-la como

um acto de visão estratégica visando o futuro, por parte dos sócios.

Ainda nesta senda, esta corrente preconizava que os sócios encontravam-se

amparados, num quadro de incremento do capital social através de entradas em

dinheiro, dada a admissibilidade legal do exercício do respectivo direito de preferência

de cada um.

Uma outra corrente16

contra a exoneração nos casos de aumento do capital social

defendia que uma deliberação nesse sentido apenas, e no limite, poderia ser nefasta para

a sociedade e nunca propriamente para os sócios. Pois vejamos, perfilhava-se que não se

estaria frente a uma modificação de especial expressão e importância dos estatutos e

12

Ac. Da CssIt de 17.10.1910, pg. 1135 a 1144. 13

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 103. 14

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 101, nota 290. 15

GIANCARLO FRÉ, Sul dirrito di recesso, riv. dir. comm., ano 31, Parte I, Milão, 1933, pág. 772-782. 16

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 101, nota 292.

Page 15: O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM ......Sociedades Comerciais, 3ª reimpressão da 2ª edição de 1989, Almedina, Coimbra, 2004 pág.10. 5 DANIELA FARTO BAPTISTA, O Direito de

O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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ainda que tal acto enquadrava-se numa conduta que faria parte daquela que se concebe

como a prática de actos de gestão elementares de uma empresa. Contudo, apesar das

honrosas correntes supracitadas, era praticamente unânime que o exercício do direito de

exoneração encontrava-se excluído quando se trata-se de uma amplificação decorrente

de reservas, que se consubstanciava mediante uma repartição de novas acções,

desonerada custos, para os sócios.17

Mais ainda, no quadro ilustrado, o não exercício do direito de exoneração

acondicionava o afiançar do direito do sócio a preservar a sua participação social sem

que, em virtude do aumento do capital social, houvesse para o mesmo despesas de

carácter financeiro. Assim, o sócio assistiria a uma ampliação da sociedade, o que só

poderia ser benéfico para o sucesso do negócio, e caso se socorresse do direito de

exoneração, naturalmente que, numa perspectiva de racionalidade económica, sairia

prejudicado.

Relativamente à modificação do objecto social, quando se verificasse, a doutrina

era unanime na permissão e aplicação do direito de exoneração 18

. Contudo quando

apenas se verificasse a ampliação ou restrição do objecto social a doutrina já não

reconhecia aos sócios o direito de se exonerarem pois não se verificava uma verdadeira

alteração.

No que tange à procrastinação do tempo de vida da sociedade, a mesma

implicava, naturalmente, uma amplificação da durabilidade da assunção da qualidade de

qualquer sócio, assumida por estes aquando da respectiva constituição.

Contudo, havia opositores à ideia de que tal facto figurava condição bastante

para o desencadear da prerrogativa, aqui estudada, de exoneração, isto porque poder-se-

ia reputar que o tempo de vida da sociedade não conformava um elemento essencial. Tal

ideia encontrava-se respaldada na realidade do bom modelo de gestão societário, no

qual só se justificaria a prorrogação do prazo final num quadro em que se perspectivasse

a prossecução bem-sucedida do negócio. Todavia, sublinhe-se que, para grande parte da

doutrina, tal causa consubstanciava um fundamento justificativo bastante conducente ao

direito de exoneração do sócio dissidente.

Quanto as termos e condições a observar para o exercício do direito de

exoneração do sócio dissidente eram as seguintes:

(i) Direito de reembolso:

17

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 101, nota 294. 18

GIANCARLO FRÉ, Sul dirrito di recesso…pág. 788-789.

Page 16: O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM ......Sociedades Comerciais, 3ª reimpressão da 2ª edição de 1989, Almedina, Coimbra, 2004 pág.10. 5 DANIELA FARTO BAPTISTA, O Direito de

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Era líquido na doutrina que ao sócio dissidente que pretende-se exonerar-se,

assistia-lhe o direito a ser reembolsado pela monta correspondente à sua participação

social. Porém, as divergências da quantificação do valor do reembolso reconduziam-se à

determinação do parâmetro através do qual se calculava a monta a entregar. Isto é, as

dúvidas surgiam se deveria ter-se em linha de conta o último balanço aprovado (ainda

que extraordinário), ou se, por outra banda, se teria como parâmetro o balanço ordinário

aprovado19

. Seja como for, autonomamente da matriz a considerar para a correcta

determinação do reembolso, o sócio que julgasse que o mesmo lhe havia ser atribuído

incorrectamente, poderia recorrer às vias judiciais, impugnando tal acto.

(ii) Prazo para apresentação da declaração de exoneração:

Os sócios que não tivessem estado presente na assembleia geral na qual se

tivesse deliberado sobre qualquer uma das matérias supra descritas, dispunham do

prazo de um mês, para exercer o direito de exoneração, a partir da data da publicação da

decisão social.

Os sócios intervenientes na assembleia geral, dispunham de vinte quatro horas,

desde o momento em que a mesma tivesse sido encerrada e na qual se tivesse deliberado

sobre qualquer uma das matérias supra descritas.

(iii) Legitimidade

Grande parte da doutrina pugnava pelo entendimento em que se admitia que os

sócios que se tinham abstido podiam exonerar-se20

.

Por outro lado, estreita fracção da doutrina reputava que esse direito apenas

assistia àqueles que tivessem intervindo activamente na assembleia, votando

desfavoravelmente e ainda àqueles que não se encontravam presencialmente na mesma.

(iv) Forma da declaração

Existia no âmbito da legislação em apreço total liberdade de forma na

apresentação da declaração de exoneração.

CÓDIGO CIVIL ITALIANO DE 1942

O novo código civil de 1942 veio reforçar a tendência de excepcionalidade do

direito de exoneração que já vinha a ser usual desde 1915.

Dos principais aspectos sentidos ao nível do direito de exoneração com a

vigência do código civil italiano de 1942 destaca-se a exclusão do acesso ao direito de

19

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 104, nota 303. 20

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 104, nota 302.

Page 17: O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM ......Sociedades Comerciais, 3ª reimpressão da 2ª edição de 1989, Almedina, Coimbra, 2004 pág.10. 5 DANIELA FARTO BAPTISTA, O Direito de

O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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exoneração quando houvesse uma deliberação social que determinasse a fusão,

procrastinação do tempo de vida da empresa, incorporação e ainda aumento do capital

social. Esta limitação do acesso ao direito de exoneração implicou que o mesmo apenas

se pudesse desencadear no caso de determinada deliberação optasse por reavaliar o

valor das entradas, translação da sede para o estrangeiro e modificação do objecto

social.

No que tange à reavaliação do valor das entradas eram tidas em consideração

várias premissas, a saber:

(1.ª Premissa)

(i) Mitigou-se as facilidades dos actos que aparcassem as causas legais conducentes ao

direito de exoneração, sendo aliás nulas as medidas que contrariassem essa

possibilidade, pelo que, em consequência, enfatizou-se a índole pública do direito de

exoneração21

.

(ii) O direito de exoneração passou a conter um carácter excepcional22

.

(iii) No entanto, resultado de leis avulsas especiais fora aditado às causas legais de

admissibilidade outras três previsões, designadamente:

(1.º Caso) Quando se estivesse em causa acordos parassociais, celebrados com duração

indefinida, desde que mesmos versassem sobre o direito de voto e as partes contraentes

fossem sociedades cotadas.23

(2.º Caso) Quando se tratassem de sociedades cujo desígnio era privatiza-las, a

libertação da sociedade era permitida ao sócio que discordasse da deliberação que

determinasse a entrada do direito de veto do Estado.

(3.º Caso) Quando se estivesse perante uma deliberação de fusão de uma sociedade

contada em bolsa, isto desde que a sociedade a primitiva ou aquela que fosse a ser

constituída ao aquele que fosse objecto de fusão não fosse cotada na bolsa.24

Quanto as termos e condições a observar para o exercício do direito de exoneração do

sócio também aqui houve alterações:

21

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração… pág. 106. 22

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 106, nota 309. 23

Art. 128.º do Decreto-Lei n.º 58, de 24.02.1998, Texto Único em Matéria de Intermediação Financeira. 24

Art. 131.º do Decreto-Lei n.º 58, de 24.02.1998, Texto Único em Matéria de Intermediação Financeira,

que foi revogado pelo Decreto-Lei n.º 37 de 06.02.2004, pelo n.º 1 do art. 9.º.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

18

Legitimidade

A doutrina maioritária continuava a considerar que a legitimidade para o

exercício do direito de exoneração pertencia tanto ao sócio discordante como ao sócio

que se absteve.

Declaração e Prazos

Com a entrada em vigor do CCit de 1942 iniciou-se a exigência de forma da

declaração de exoneração, esta agora, deveria ser efectuada por carta registada.

No que aos prazos concerne passou a conceder-se uma extensão dos mesmos,

que passou de 24 horas para 3 dias para os sócios participantes na assembleia geral,

quanto aos sócios que nela não intervieram o prazo seria de 15 dias contados desde a

inscrição no registo da deliberação social. Findos estes prazos o direito ao exercício do

direito exoneração caducaria.

1.2 DIREITO VIGENTE

O decreto-legislativo n.º6, de 17 de Janeiro de 2003 transformou

pronunciadamente as regras legais disciplinadoras do direito de exoneração, com

especial enfoque nas sociedades anónimas, objecto do presente estudo.

Com a reforma legislativa o legislador tentou dirimir as divergências doutrinais

que até à data se verificavam, designadamente a tipicidade ou não das causas de

exoneração, a possibilidade de os estatutos preverem um reembolso pelo valor real das

acções, a obrigatoriedade ou não de proceder à redução do capital social por força do

reembolso, a admissibilidade de a sociedade revogar a deliberação que originou a causa

de exoneração, a legitimidade do exercício do direito de exoneração por parte dos sócios

que se abstiveram na assembleia geral.

A alteração legislativa reconduziu as causas de exoneração a três modalidades:

as causas legais obrigatórias, as causas legais não obrigatórias e as causas estatutárias.

As causas legais obrigatórias são as que não podem ser derrogadas pelos

estatutos. A sua verificação origina sempre o direito de exoneração do sócio.

Actualmente constituem causa legais de exoneração as seguintes situações:

a) Modificação da cláusula do objecto social: a modificação estatutária do objecto

social confere o direito de exoneração ao sócio dissidente. Esta modificação pode operar

por substituição, redução ou ampliação do objecto social mas é necessário que se

verifique uma alteração substancial das condições iniciais do risco de investimento;

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b) Transformação da sociedade: na lei em vigor a alteração do tipo societário

constitui causa de exoneração;

c) Transferência da sede social para o estrangeiro;

d) Cessação da liquidação da sociedade;

e) Eliminação de causas estatutárias ou derrogáveis de exoneração: o legislador

previu esta norma de forma a proteger o princípio da confiança. Esta norma deve

também ser aplicada nos casos de alteração que dificultem o exercício de tais

cláusulas25

;

f) Alteração dos critérios de avaliação das acções em caso de exoneração;

g) Modificações relativas ao direito de voto ou participação.

h) Exoneração Ad nutum: a reforma de 2003 veio permitir a exoneração ad nutum

pelos sócios de sociedades constituídas por tempo indeterminado desde que não sejam

abertas ao mercado;

i) Exclusão da cotação de acções: esta norma visa assegurar o direito de

exoneração quando o princípio da livre transmissibilidade de acções não pode ser

aplicado;

j) Reavaliação das entradas em espécie ou de créditos;

k) Exoneração de sócio de sociedade sujeita a controlo e direcção de outra.

As cláusulas de exoneração legais não obrigatórias são as que a lei prevê mas

que os estatutos podem afastar. Actualmente, a legislação prevê, duas destas cláusulas:

a) Prorrogação do Termo da Sociedade;

b) Introdução ou Remoção de Limitações à circulação de acções.

No que concerne às cláusulas estatutárias estas surgiram com a reforça de 2003.

Esta possibilidade é admitida às sociedades que não tenham recorrido ao mercado do

capital de risco.

Principais linhas orientadoras do direito de exoneração actual

Há a possibilidade de a sociedade, se assim o entender, proceder à revogação da

deliberação que deu lugar ao direito de exoneração, ficando o mesmo sem qualquer

efeito.

O accionista dissidente, ou seja, aquele que se exonerou de forma legítima, tem

o direito ao reembolso correspondente ao valor das acções da sua titularidade. Quando

cabe à administração determinar esse valor são tidos em linha de conta critérios para

25

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 117, nota 349.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

20

que de forma justa se possa aferir a monta da liquidação; tais como: i) condição

patrimonial da empresa, ii) prospecções de futuro no que tange à liquidez da sociedade e

por fim, iii) o valor de mercado das acções. Porém, nos casos em que a sociedade se

encontra cotada em bolsa, “o valor da liquidação das acções é calculado de maneira

directa, através da média aritmética o seu preço de fecho nos seis meses anteriores à

publicação/ recepção da convocatória da assembleia geral que legitimou a

exoneração”26

. Nas situações em que há diferendos quanto aquele que foi o valor

atribuído às acções é nomeado um perito judicial para avaliar imparcialmente as

mesmas.

Consignou-se legalmente a possibilidade de compra por parte dos sócios que

permanecem na sociedade das acções do sócio que se exonerou, esta aquisição é feita

em proporção às acções da titularidade dos mesmos. Com esta introdução legal pugna-

se pelo equilíbrio e integridade da estrutura societária na medida em que é dada a

possibilidade aos sócios de manterem, ainda que em modos proporcionais, aquela que

era a sua quota-parte antes da exoneração. É possível também que as participações

sociais sejam vendidas a não sócios no caso das mesmas não serem adquiridas pelos

próprios. Mais ainda, face à inexistência de proponentes-compradores (accionistas ou

terceiros alheios à sociedade), o futuro que se dá às acções é o de que as mesmas são

absorvidas pela própria sociedade através das reservas existentes.

Ainda num cenário mais “negro” no qual nem as reservas são suficientes para

adquirir as acções do sócio que se exonerou, o reembolso é efectuado com recurso à

diminuição do capital social ou in extremis à própria dissolução da sociedade.

Para o exercício do direito de exoneração existem também regras de natureza

formal a observar, como por exemplo, a obrigação da existência de uma declaração de

exoneração mediante carta registada depois do registo da deliberação social, 15 dias

depois. O prazo pode ser dilatado para 30 dias quando estejamos face a causas

estatutárias, ou seja, quando não estamos perante causas legais obrigatórias ou causas

legais não obrigatórias. Da declaração de exoneração deverá fazer constar o sócio que se

pretende exonerar, a indicação das acções de que é titular e que serão objecto de

exoneração, dentre outras menções.

Quanto à legitimidade esta reforma solucionou também uma questão muito

importante, a legitimidade para o exercício do direito de exoneração pertence, quando

26

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…pág.126.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

21

estejamos perante deliberações sociais, aos sócios que não tenham contribuído para a

sua aprovação.

2. O “DROIT DE RETRAIT” NO DIREITO FRANCÊS

2.1. BREVE RESENHA HISTÓRICA DO DIREITO DE EXONERAÇÃO NO

DIREITO FRANCÊS

O direito de exoneração sempre teve parca expressão no direito francês, é

omisso na lei e por isso pouco discutido na doutrina. Pese embora esse facto existe

doutrina e jurisprudência que o admitem plasmado em cláusulas estatutárias27

.

Na versão primitiva do Código de Comércio Francês de 1807, não havia regras

focadas na dissolução da sociedade. João Espírito Santo, justifica tal omissão

socorrendo-se do facto de que o contrato de sociedade reger-se-ia pelo direito civil e

pelas convenções entre as partes28

. A feição do entendimento do autor tem lógica, dado

estarmos perante uma realidade que possibilitava a livre contratação sobre este aspecto,

tal poderia ter contribuído para que legislador não sentisse um especial apelo à

necessidade de ser debruçar sobre esta matéria.

No entanto, em momento anterior ao Código do Comércio Francês de 1807, nas

cartas de instituição das Companhias Coloniais, previa-se que aquele que pretendia

desvincular-se da companhia, só poderia fazê-lo depois de vendida a sua parte,

significando isto que, a despeito da cessão da correspondente participação social, a

companhia manter-se-ia a laborar, não conduzindo tal acto à dissolução da mesma.

2.2 DIREITO VIGENTE

Pese embora a parca expressão do direito de exoneração no direito francês, a sua

contemplação não é totalmente invisível, admitindo-se a possibilidade, sob alguns

entendimentos, que no âmbito do pacto social, tal prerrogativa poderá consignar-se.

Na senda do referido, actualmente, no ordenamento jurídico francês, no que

tange às sociedades anónimas, inexiste qualquer previsão legal sobre o direito de

libertação do sócio, baseando-se tal raciocínio, no primado da livre transmissão de

acções (princípio que também se verifica no direito português). Todavia, ainda assim, a

jurisprudência prevê a admissibilidade de um mecanismo de protecção dos sócios

27

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 65, nota 148. 28

JOÃO ESPIRÍTO SANTO, Exoneração do sócio no direito societário-mercantil português, Almedina,

Coimbra, 2014, pág. 110.

Page 22: O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM ......Sociedades Comerciais, 3ª reimpressão da 2ª edição de 1989, Almedina, Coimbra, 2004 pág.10. 5 DANIELA FARTO BAPTISTA, O Direito de

O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

22

minoritários, que se designa como “abuso da maioria”29

. Este quadro verifica-se nas

situações em que, consequência de determinada deliberação pela maioria dos sócios,

seja tomada qualquer determinada decisão que possa, no limite, afectar ou não ser

perfilhada pelo (s) sócio (s) minoritário (s). Ora, no cenário acima referido, o (s) sócio

(s) minoritário (s) pode (m) transmitir as acções, ao abrigo da tal previdência

proteccionista.

Ainda nas sociedades anónimas, designadamente nas sociedades cotadas em

bolsa ou em mercados secundários, o direito de exoneração surgiu por via da Lei 2.04

(1989); sendo que esta lei consagra o seguinte esquema: caso 95% dos direitos de voto

pertencerem ao mesmo accionista ou grupo de accionistas, assiste a possibilidade dos

accionistas minoritários poderem requerer ao Conselho dos Mercados Financeiros a

apresentação de uma oferta pública de exoneração. A mencionada oferta pública de

aquisição será, num primeira fase, objecto de estudo, para, ulteriormente, ser acolhida

ou rejeitada por parte do Conselho dos Mercados Financeiros.

Já no que se refere às sociedades por quotas, cuja abordagem se fará de forma

sumária, dado o tema não ser objecto nevrálgico do presente estudo, o direito de

exoneração é admitido quando se trate de uma cessão de quotas a terceiro e quando tal

acto seja rejeitado pelos demais sócios. No quadro descrito no precedente parágrafo, no

caso de repúdio pelos demais sócios, os mesmos dispõem de uma de duas soluções, nos

3 meses subsequentes contados do momento da rejeição:

(i) Os próprios absorvem para si a quota que se pretendem ceder; ou,

(ii) Os próprios obtêm um adquirente para as quotas que se pretendem ceder.

Por fim, nas sociedades em nome colectivo e em comandita simples, o direito de

exoneração é absolutamente imperceptível, vejamos o porquê:

Concretamente, nas sociedades em nome colectivo, considerando que nas

mesmas toda e qualquer decisão só poderá ser aprovada pela maioria, tal premissa

redunda na inelutável conclusão de que nenhum sócio minoritário com determinada

posição contrária à maioria, logrará sucesso num entendimento díspar do demais. 30

29

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 65, nota 153. 30

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…pág.65 a 66.

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23

3. O “DERECHO DE SEPARACIÓN” NO DIREITO ESPANHOL

3.1. BREVE RESENHA HISTÓRICA DO DIREITO DE EXONERAÇÃO NO

DIREITO ESPANHOL

A primeira referência legislativa ao direito de exoneração (derecho de

separación)31

no direito espanhol surgiu no código de comércio de 1829 no seu artigo

334 onde se dispunha que:”…socio que por su vonluntad se separa de la compañia(…)

no puede impedir que se concluam (…) las negociaciones pendientes…”. Pese embora

este normativo não dispusesse de regulamentação admitia-se a sua consagração e

regulamentação estatutária em todos os tipos societários.

Posteriormente, o real decreto de 15 de Abril de 1847 e a Ley sobre sociedades

mercantiles por Acciones de 28 de Enero de 1848 vieram impor um controlo

governativo sobre os estatutos das sociedades anónimas restringindo assim a

possibilidade de previsão estatutária do derecho de separación. Esta situação manteve-se

até à aprovação do decreto de 28 de Octubre de 1868 que derrogou a anterior legislação

e consequente necessidade de autorização governativa.

Com a Ley das Sociedades Anónimas de 1951 (LSA) o derecho de separación

para os accionistas foi efectivamente consagrado32

. A LSA consagrou, por influência da

legislação italiana, as mesmas causas de exoneração previstas no códice civile italiano, a

saber, a alteração do objecto social, a transformação e a fusão da sociedade anónima.

3.2 DIREITO VIGENTE

Após algumas reformas legislativas e integração de directivas comunitárias

surge o real decreto legislativo 1564/1989, de 22 de Diciembre, que aprovou o texto

refundido de la ley de sociedades anónimas (TRLSA) actualmente em vigor, que

permite o exercício do direito de exoneração dos accionistas em caso de alteração do

objecto social (artigo 147.º), transferência de sede para o estrangeiro (artigo 149.º) e em

caso de transformação de sociedade (artigo 225.º).

No que concerne ao regime, em termos de legitimidade, ela é atribuída a todos

os que votaram contra a deliberação social que originou o direito de exoneração.

Em termos de prazo para o exercício do direito de exoneração, os sócios que

pretendem exonerar-se devem emitir a declaração no prazo de um mês a contar da data

de registo da deliberação, isto quando a causa de exoneração seja a alteração do objecto

31

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 71, nota 163. 32

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 73, nota 169.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

24

social ou a transferência de sede para o estrangeiro. Quando a causa originária do direito

de exoneração for a transformação da sociedade esta efectua-se de forma automática

para os sócios que não tenham votado a favor da deliberação e que não a ratifiquem no

prazo de um mês.

Após a recepção da declaração de exoneração a sociedade deve proceder ao

reembolso das acções. O regime do reembolso será distinto consoante estejamos, ou

não, perante sociedades abertas. Na primeira hipótese o valor do reembolso resultará do

valor médio das acções apurado no último trimestre33

. Quando a sociedade não for

aberta ao mercado o cálculo do valor reembolsado será em primeira linha o acordado

entre o sócio que pretende exonerar-se e a sociedade, na falta de acordo o cálculo do

valor a reembolsar será aferido por auditor designado para o efeito, nomeado pelo

Conservador do registo comercial da sede social (artigo 147.º/2/LSA)34

.

O reembolso do valor das acções origina uma redução do capital social, pese

embora a doutrina já admita a possibilidade de as acções serem adquiridas por outro

sócio ou terceiro, evitando a redução do capital social35

.

Relativamente a cláusulas estatutárias de exoneração do accionista, tema do

nosso estudo, a doutrina espanhola tem-se pronunciado a favor da sua admissibilidade,

impondo como limites o respeito pela lei, pelos princípios gerais de direito e pelos

credores sociais. O fundamento legal invocado pela doutrina espanhola é o artigo 10.º

da LSA que permite a criação de cláusulas estatutárias para persecução dos interesses

dos accionistas36

.

QUARTA PARTE

O REGIME ACTUAL DO DIREITO DE EXONEÇÃO NO DIREITO PORTUGUÊS

CAPÍTULO I

Enquadramento Legal

1. Nas associações

O princípio da liberdade de associação requer também que o regime de saída da

mesma esteja na livre disponibilidade do associado.

33

Redacção da lei n.º 44/2002, de 22.11. 34

Redacção da lei n.º 44/2002, de 22.11. 35

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 91, nota 253. 36

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág.93, nota 260.

Page 25: O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM ......Sociedades Comerciais, 3ª reimpressão da 2ª edição de 1989, Almedina, Coimbra, 2004 pág.10. 5 DANIELA FARTO BAPTISTA, O Direito de

O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

25

Nas associações a perda da qualidade de associado caracteriza-se pela vontade

do próprio aquando da decisão de saída ou pela vontade da associação, no caso de

decidir excluir o associado, conforme dispõe o artigo 167.º, n.º2 do C.C.37

. A lei

contudo não descurou a questão patrimonial, prevendo no artigo 181.º do C.C. os efeitos

da saída ou da exclusão.

Em ambas as situações o associado não obtém o direito de restituição das

quotizações já pagas e perde o direito ao património social, mantendo-se obrigado à

regularização de todas as prestações relativas ao tempo em que foi membro da

associação. Esta saída voluntária nas associações aproxima-se assim da figura do direito

de exoneração.

2. Nas sociedades civis

Nas sociedades civis dedicou o legislador o artigo 1002.º do C.C. a regular o

direito de exoneração. Caracterizando-o como a vontade de saída unilateral de um sócio

de uma sociedade.

Segundo Pires de Lima e Antunes Varela “exonera-se o sócio quando, por

vontade unilateral, dissolve os vínculos que o ligavam à sociedade e deixa de lhe

pertencer”38

. Nos termos do artigo supra referido “ Todo o sócio tem o direito de se

exonerar da sociedade, se a duração desta não tiver sido fixada no contrato; não se

considera para este efeito, fixada no contrato a duração da sociedade, se esta tiver sido

constituída por toda a vida de um sócio ou por período superior a trinta anos.” Estamos

aqui perante uma exoneração ad nutum, uma vez que não requer fundamento. Para Pires

de Lima e Antunes Varela só existirá um prazo mínimo se isso resultar do próprio

objecto da sociedade.

O n.º2 do artigo 1002.º do C.C. prevê um tipo de exoneração condicionada. Ora

condicionada pelo contrato, ora ocorrendo justa causa, isto sempre que o prazo da

sociedade esteja fixado.

O exercício do direito deve ser feito por declaração aos outros sócios.

Pese embora que independentemente do momento da comunicação nos termos

do n.º 3 do artigo 1002 do C.C. a exoneração só se torna efectiva no final do ano social

em que é declarada, mas nunca antes de decorridos três meses após a sua comunicação.

37

As condições de saída ou da exclusão podem ser determinadas pelos estatutos mas não podem ser de tal

forma penosas que inviabilizem o exercício do direito, MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil,

Almedina, Coimbra, 2007, pág.726-730. 38

PIRES DE LIMA E ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, 4ª edicção, Coimbra Editora,

Coimbra,2010, pág.432.

Page 26: O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM ......Sociedades Comerciais, 3ª reimpressão da 2ª edição de 1989, Almedina, Coimbra, 2004 pág.10. 5 DANIELA FARTO BAPTISTA, O Direito de

O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

26

Ainda assim, a vinculação para o sócio é imediata uma vez que estamos perante

uma acto unilateral e irrevogável.

Não é permitida a supressão ou modificação das cláusulas legais de exoneração

e só por unanimidade podem ser supridas ou modificadas as cláusulas contratuais.

A exoneração não isenta o sócio de responsabilidade pelas dívidas sociais

contraídas até ao momento da exoneração nos termos do artigo 1006.º, n.º1 do C.C.

A liquidação da quota do sócio que se exonerar deve ser feita nos termos do

artigo 1021.º do C.C.

3. Nas sociedades comerciais

No direito vigente regula a questão o CSC, tendo o legislador comercial reunido

um pouco de toda a evolução histórica nesta matéria.

Dá-se ao sócio o direito se desvincular de uma situação que já não lhe é

favorável, “exoneração de sócio é a saída ou desvinculação deste, por sua iniciativa e com

fundamento na lei ou no estatuto, da sociedade”39

. Extingue-se, então, por vontade do sócio o

vínculo que o ligava à sociedade, extinguem-se os deveres e também os direitos, tal qual

de uma situação de resolução contratual se tratasse sem acarretar os demais.

Envolvem-se neste processo, unicamente, o sócio exonerado e a sociedade, ainda

que a quota seja adquirida por terceiros. Os fundamentos para que a exoneração seja

possível estarão previstos na lei ou no caso da sua admissibilidade nos estatutos

societários.

CAPÍTULO II

Causas Legais de Exoneração

SECÇÃO I

Causas Legais Aplicáveis a Todas as Sociedades Comerciais

1. Transferência da Sede da Sociedade para o Estrangeiro

Conforme estipula o artigo 3.º as sociedades têm como lei pessoal a lei do

Estado em que se encontre situada a sede principal e efectiva da administração.

A sede estatutária corresponde à sede que consta dos estatutos da sociedade. Esta

é a imposição legal que consta do artigo 9.º, n.º1, alínea e), tendo o seu desrespeito

39

J.M. COUTINHO DE ABREU, Curso de direito comercial …, pág. 418.

Page 27: O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM ......Sociedades Comerciais, 3ª reimpressão da 2ª edição de 1989, Almedina, Coimbra, 2004 pág.10. 5 DANIELA FARTO BAPTISTA, O Direito de

O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

27

como consequência a nulidade ou a invalidade do contrato de sociedade nos termos do

disposto nos artigos 42.º, n.º 1, alínea b) e 43.º, devendo a mesma ser estabelecida em

local concreto conforme artigo 12.º.

A sede efectiva corresponderá ao local de funcionamento dos órgãos de

administração da sociedade.

Regra geral a sede estatutária e a sede efectiva coincidirão.

A transferência de sede efectiva para o estrangeiro exige nos termos do artigo

3.º, ns.º 4 e 5 uma deliberação aprovada com pelo menos 75% dos votos

correspondentes ao capital social, podendo o pacto social exigir uma maioria ainda mais

qualificada mas nunca inferior.

Os sócios que não tenham votado favoravelmente na deliberação de

transferência de sede para o estrangeiro podem exonerar-se nos termos do disposto no

artigo 3.º, n.º 5.

O fundamento desta norma reside no facto de ser necessário tutelar o interesse de

um sócio que subscreveu uma sociedade com lei pessoal portuguesa e depois vê este

estatuto alterar-se por força da maioria. A transferência de sede implica alterações legais

e geográficas o que consequentemente implicará uma alteração ao exercício dos direitos

do sócio justificando a permissão do direito de exoneração.

A tutela desta norma é ampla e além de tutelar o interesse dos sócios que

votaram contra a deliberação da transferência também tutela os que se abstiveram e os

que não compareceram à assembleia geral40

.

2. Regresso à Actividade de Sociedade Dissolvida

A extinção de sociedades exige um processo. Processo esse que foi

cuidadosamente regulado pelo legislador e constituído por três fases, a primeira fase é a

dissolução, uma segunda que se concretiza na liquidação e por último a partilha entre

sócios.

É importante frisar que a sociedade mantém a sua personalidade jurídica durante

a fase da liquidação sendo por isso lícito aos sócios alterarem a decisão relativa à

dissolução da sociedade.

40

Neste sentido DANIELA FARTO BAPTISTA, O direito de exoneração dos accionistas …, pág. 166;

JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 67-68; MARIA AUGUSTA

FRANÇA, Direito à exoneração, Novas Perspectivas…, pág. 214; TIAGO SOARES DA FONSECA, O

direito de exoneração… pág. 208; RAÚL VENTURA, Sociedades por quotas, Vol. II…, pág.21.

Page 28: O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM ......Sociedades Comerciais, 3ª reimpressão da 2ª edição de 1989, Almedina, Coimbra, 2004 pág.10. 5 DANIELA FARTO BAPTISTA, O Direito de

O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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Quando ocorre uma deliberação de regresso à actividade finda-se o processo de

liquidação e consequentemente a partilha. É a esta deliberação que se reporta o artigo

161.º, n.º5 e pressupõe que esteja já encerrada a liquidação (artigo 161.º, n.º1 e n.º 3, al.

a) e artigo 156.º). Esta deliberação deve ser realizada com maioria igual à que foi

exigida para deliberação de dissolução de acordo com o artigo 161.º, n.º2 CSC.

Conclui-se, assim, de acordo com o estipulado na lei que a exoneração só será

possível depois de iniciada a partilha. Para que exista direito de exoneração do sócio

devem estar preenchidos, de acordo com a norma, pelo menos três requisitos

cumulativos: um primeiro e indiscutível, que haja sido aprovada a deliberação para

regresso à actividade, o segundo e também consensual, a data da deliberação supra

referida ter sido posterior ao início da partilha e por último que haja para o sócio uma

diminuição da participação social face ao que detinha anteriormente à liquidação.

Estarão assim a priori fora do propósito de protecção da norma os sócios que à data da

deliberação nada tenham recebido e aqueles que já tenham sido ressarcidos na totalidade

do valor da sua participação.

Um ponto controverso nesta matéria é o de saber se, além destes sócios

excluídos pela própria norma, o legislador terá tido a intenção de excluir mais algumas

situações, querendo unicamente proteger os sócios discordantes, com manifestação de

discórdia através do seu voto contra o regresso à actividade.

Para João Espírito Santo41

, a norma do artigo 161.º, n.º5 visou a protecção de

todos os sócios, quer daqueles que se manifestaram contra na deliberação, quer dos

ausentes, quer dos que se abstiveram e até mesmo daqueles que votaram favoravelmente

para o regresso à actividade. Raúl Ventura42

, Maria Augusta França, Daniela Farto

Baptista e João Mariano Cura entendem que a norma apenas deverá proteger os

ausentes, os que se abstiveram e que votaram desfavoravelmente.

Quanto a nós tendemos a acompanhar a posição de João Espírito Santo. Não há

exigência legal, contrariamente a outras disposições legais relativas ao direito de

exoneração, de que o sócio que pretenda exonerar-se tenha votado contra ou não tenha

votado a favor na deliberação de regresso à actividade de sociedade dissolvida.

41

JOÃO ESPIRÍTO SANTO, Exoneração do sócio…pág.225. 42

RAÚL VENTURA, Sociedades por quotas, Vol. II…, pág.27; MARIA AUGUSTA FRANÇA, Direito

à exoneração, Novas Perspectivas…, pág. 215; DANIELA FARTO BAPTISTA, O direito de exoneração

dos accionistas …, pág. 265; JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 87-

88.

Page 29: O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM ......Sociedades Comerciais, 3ª reimpressão da 2ª edição de 1989, Almedina, Coimbra, 2004 pág.10. 5 DANIELA FARTO BAPTISTA, O Direito de

O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

29

SECÇÃO II

Causas Legais de Exoneração Aplicáveis às Sociedades em Nome Colectivo e em

Comandita Simples

A lógica plasmada na introdução da presente dissertação de que os contratos não

devem ser eternos, nem vincular pessoas sem limite temporal, tem aqui, no âmbito das

sociedades em nome colectivo franca aplicabilidade.

“Todo o sócio tem o direito de se exonerar da sociedade nos casos previstos na

lei ou no contrato…” (artigo 185.º)

Da leitura do artigo 185.º retiramos desde logo que o sócio da sociedade em

nome colectivo pode exonerar-se com base em outro ponto da lei ou com fundamento

em cláusulas de exoneração previstas no contrato social.

1. O Direito de Exoneração Ad Nutum

A alínea a) do n.º1 do artigo 185.º prevê a hipótese de os sócios de uma

sociedade em nome colectivo, há mais de dez anos, se possam exonerar se não tiver sido

contratualmente fixada a duração da sociedade, ou se esta for constituída por toda a vida

de um sócio ou ainda se a duração da sociedade for superior a trinta anos. Estas

hipóteses não estão na dependência de uma causa, estão apenas na vontade do sócio,

cujo único requisito que lhe é exigido é que detenha aquela qualidade há mais de dez

anos.

Atendendo à letra da lei estaríamos, em princípio, perante dois requisitos

cumulativos. Mas assim não será, vejamos porquê. Comparativamente a outras causas

de exoneração ad nutum, ainda que para outros tipos societários, verificamos que a lei

não exige a cumulação destes dois requisitos. Veja-se a propósito das sociedades por

quotas, o artigo 229.º, n.º1, esta disposição legal prevê a possibilidade do exercício do

direito de exoneração do sócio desde que decorridos dez anos do seu ingresso na

sociedade e que haja uma proibição de cessão de quotas, não relevando para esta

exoneração ad nutum a duração da sociedade.

Ambas as normas visam evitar a perpetuação, que no entender do legislador,

acontecerá decorridos dez anos, do vínculo social. A lei não impede em ambos os casos

a criação e /ou manutenção de vínculos societários perpétuos43

, permite sim que o sócio

altere a sua decisão de manter esse vínculo. Visa proteger o sócio, que o seja há mais de

43

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração… pág. 218; PAULO ALBERTO

VIDEIRA HENRIQUES, A desvinculação unilateral ad nutum nos contratos civis de sociedade e de

mandato, Coimbra Editora, Coimbra, 2001, pág.50-51.

Page 30: O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM ......Sociedades Comerciais, 3ª reimpressão da 2ª edição de 1989, Almedina, Coimbra, 2004 pág.10. 5 DANIELA FARTO BAPTISTA, O Direito de

O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

30

dez anos, independentemente da duração da sociedade. Questão suscitada na doutrina, a

este propósito, é a de saber se os sócios podem contratualizar o direito de exoneração ad

nutum num período inferior a dez anos. Ou seja, a fixação do prazo legal de dez anos

terá carácter imperativo?

Para Paulo Videira Henriques44

, a norma é imperativa tanto para o mínimo como

para o máximo. O autor não vê na possibilidade da diminuição do prazo qualquer

justificação. Já Raúl Ventura45

, admite a supletividade relativamente ao prazo mínimo e

a imperatividade relativamente ao prazo máximo.

Face à evolução das sociedades comerciais, a muitos níveis, que nem sempre é

acompanhada da respectiva evolução legislativa, e ao carácter cada vez menos

duradouro das mesmas tendemos a acompanhar a posição de Raúl Ventura.

2. A Exoneração do Sócio fundada em Justa Causa

A justa causa foi a possibilidade elencada na alínea b) do n.º1 do artigo 185.º

para que o sócio possa exonerar-se.

O n.º2 do mesmo artigo veio concretizar esta previsão, enumerando situações de

justa causa, são elas:

a) As situações em que contra o voto expresso do sócio a sociedade não delibere

destituir um gerente havendo justa causa para tanto;

b) As situações em que contra o voto expresso do sócio a sociedade não delibere

excluem um sócio, ocorrendo justa causa de exclusão;

c) Quando o sócio for destituído da gerência da sociedade;

Estas três possibilidades têm em comum a exigência de um voto contra uma

deliberação social.

Releva aqui analisar a divergência doutrinária em relação à classificação como

taxativas ou enunciativas as hipóteses previstas no n.º 2 do artigo 185.º Considerando as

hipóteses como taxativas o sócio da sociedade em nome colectivo pode sair, exercendo

o direito de exoneração, sempre que uma daquelas se verifique. Admitindo, em

contrário, que as hipóteses previstas no n.º 2 do artigo 185.º são enunciativas torna-se

necessário delimitar o conceito de justa causa de exoneração para aferir quando

estaremos perante a possibilidade do exercício do direito de exoneração fundado em

justa causa.

44

PAULO ALBERTO VIDEIRA HENRIQUES, A desvinculação unilateral ad nutum …, pág.57-59. 45

RAÚL VENTURA, Sociedades por quotas, Vol. I…, pág.602.

Page 31: O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM ......Sociedades Comerciais, 3ª reimpressão da 2ª edição de 1989, Almedina, Coimbra, 2004 pág.10. 5 DANIELA FARTO BAPTISTA, O Direito de

O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

31

A doutrina46

que defende a tese de que as alíneas do n.º 2 do artigo 185.º são

enunciativas reconduz a sua opinião à letra da lei, alegando que a intenção do legislador

foi a de comtemplar a justa causa como causa autónoma, prevista no n.º1, alínea b) do

artigo 185.º e que no n.º 2 do mesmo artigo plasmou, apenas, alguns exemplos.

Fundamentam, estes mesmos autores, que se assim não fosse as hipóteses do n.º 2

estariam inseridas no n.º 1, ficando os sócios das sociedades em nome colectivo com

quatro possibilidades de exoneração.

Por sua vez, a doutrina47

defensora da tese da taxatividade das hipóteses do n.º 2

fundamenta s sua posição no facto de nas sociedades em nome colectivo existir a

possibilidade de cláusulas de exoneração estatutárias não sendo por isso necessário a

amplificação da enumeração legal, atendendo também alguns autores à predominância

do elemento pessoal neste tipo societário.

Continuando a aferir o conceito de justa causa, ora como sabemos trata-se de um

conceito indeterminado, sendo por isso necessário socorrermo-nos de conceitos de justa

causa de exoneração, assim definidos pelo legislador. É o caso do próprio artigo 185.º,

n.º 2 e do artigo 45.º, n.º 1. Em ambos os casos, considera o legislador, não ser legítimo

obrigar o sócio a manter a relação societária dada a importância que as duas alterações

podem ter na manutenção da qualidade de sócio. É a partir desta ideia que se deve

construir o conceito de justa causa, que existirá, sempre que perante uma situação crítica

haja uma quebra dos pilares da confiança da relação societária. Tiago Soares da Fonseca

chega mesmo a avançar alguns exemplos48

.

Em nosso entender, pese embora, a já ampla possibilidade concedida pelo

enunciado do artigo 185.º, n.º 1, alíneas a) e b) de os sócios poderem exonerar-se da

sociedade com fundamento na lei ou no contrato, se o legislador pretendesse a

taxatividade das situações elencadas no n.º 2 como justa causa teria descrito as mesmas

logo na alínea b) do n.º 1, prosseguindo a lógica usada para a alínea a) do mesmo

preceito onde comtemplou a exoneração ad nutum e simultaneamente os seus requisitos.

O n.º 2 do artigo 185.º constitui apenas alguns exemplos que deve ter como mote a

ajuda ao intérprete na definição do conceito de justa causa de exoneração. Expressou

46

MENEZES CORDEIRO, Manual de direito das sociedades II, pág. 214; MARIA AUGUSTA

FRANÇA, Direito à exoneração, Novas Perspectivas…, pág. 210; TIAGO SOARES DA FONSECA, O

direito de exoneração… pág. 220-221. 47

RAÚL VENTURA, Novos estudos sobre sociedades anónimas e sociedades em nome colectivo,

Comentário ao código das sociedades comerciais, reimpressão da edição de 1994, Almedina, Coimbra,

2003, pág.289-290; COUTINHO DE ABREU, Curso de direito comercial…, pág. 422. 48

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração… pág. 224.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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aqui, o legislador, a título de exemplo, algumas situações em que os pilares da relação

societária se podem tornar de tal forma frágeis que dificilmente poderia ser exigível ao

sócio titular do direito de exoneração a persecução dos interesses comuns que até à

verificação da justa causa de exoneração se mantinham.

SECÇÃO III

Causas Legais de Exoneração aplicáveis às Sociedades por Quotas

1. Vícios da Vontade no Ingresso para a Sociedade

O erro, o dolo, a coacção e a usura na celebração do contrato de sociedade são

motivos que constituem justa causa de exoneração nos termos do artigo 45.º, n.º1.

Aplica-se, também, o disposto neste artigo aos sócios supervenientes por força do artigo

48.º.

No que concerne à coacção o intuito do legislador seria apenas o de abranger a

coacção moral, uma vez que a coacção física não se consubstancia num vício de

vontade mas sim na ausência da mesma. Contudo alguns autores49

defendem a aplicação

por analogia à coacção física.

Por outro lado o artigo 45.º não comtemplou outros vícios da vontade como a

reserva mental, a incapacidade acidental e a simulação. Porquê? Haverá lacuna? Deve

fazer-se uma interpretação analógica para os outros vícios da vontade não descritos no

preceito?

Para João Cura Mariano50

, não existirá qualquer lacuna do legislador, houve sim

uma destrinça entre vícios da vontade não intencionais e aqueles que estariam feridos de

intencionalidade, não merecendo assim os últimos o mesmo tipo de protecção.

Numa posição intermédia encontramos a opinião de Menezes Cordeiro51

, que

apela a uma análise casuísta para que se possa avaliar a aplicabilidade da lei por

analogia.

Defendendo a aplicação por analogia de justa causa de exoneração aos vícios

omissos no artigo 45.º, Tiago Soares da Fonseca52

.

Inclinamo-nos a seguir a posição de Menezes Cordeiro, pese embora

concordemos, em parte com João Cura Mariano no sentido da pretensão do legislador

em fazer destrinça dos vícios da vontade intencionais e dos não intencionais, contudo

49

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração… pág. 225, nota 745. 50

JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 48. 51

MENEZES CORDEIRO, Manual de direito das sociedades I, pág. 517. 52

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração… pág. 226.

Page 33: O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM ......Sociedades Comerciais, 3ª reimpressão da 2ª edição de 1989, Almedina, Coimbra, 2004 pág.10. 5 DANIELA FARTO BAPTISTA, O Direito de

O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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por exemplo isso não será válido para a reserva mental ou a incapacidade acidental uma

vez que não serão vícios da vontade intencionais. Assim, propomos a solução

intermédia, de uma análise casuística, que conferirá mais justiça à análise de cada vício.

2. Direito de Exoneração com Fundamento em Interpelação para Pagamento

de Entrada Relativa a Nova Quota, Resultante de Aumento de Capital

“No aumento do capital social, através de novas entradas a subscrever por novos

sócios, ficam os restantes sócios solidariamente responsáveis com aquele pelo seu

pagamento.”53

Uma das formas, usuais, de aumento do capital social é a realização de novas

entradas por novos sócios, conduzindo ao aumento do património social.

Da necessidade de realização integral do capital social, nos termos do artigo

197.º, n.º 1, resulta a responsabilidade solidária, sendo os sócios solidariamente

responsáveis por todas as entradas. Estipula, também, o artigo 207.º, ns.º 1 e 2, nos

casos em que a sociedade não consiga obter o pagamento total ou parcial do valor da

entrada, ficam os restantes sócios obrigados ao seu pagamento.

Contudo o legislador decidiu estabelecer um mecanismo de protecção aos sócios

antigos, concedendo-lhes a possibilidade de “porem à disposição da sociedade a

quota”54

, aplicando-se o regime do artigo 240.º 55

.

O direito de exoneração aqui concedido não está dependente da sua posição

aquando da deliberação de aumento de capital social56

, apenas está dependente da

exigência ao sócio do pagamento das novas entradas e quando este tem a sua quota

liberada.

3. Direito de Exoneração por Existência de uma Proibição de Cessão de

Quotas

O instrumento da proibição de cessão de quotas visa essencialmente proteger a

sociedade da entrada de terceiros, corroborando na tese do carácter mais pessoal do que

patrimonial das sociedades por quotas.

O artigo 229.º, n.º1, admitindo a validade da proibição de cessão de quotas,

acautelou também o direito da livre iniciativa económica dos sócios, permitindo que,

53

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração … pág. 230. 54

JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 79. 55

JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 80. 56

Considerando que votando favoravelmente o aumento do capital social o sócio assume as inerentes

responsabilidades, entre as quais a possibilidade de interpelação para o pagamento de novas entradas,

JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 80.

Page 34: O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM ......Sociedades Comerciais, 3ª reimpressão da 2ª edição de 1989, Almedina, Coimbra, 2004 pág.10. 5 DANIELA FARTO BAPTISTA, O Direito de

O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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quando exista esta proibição, os mesmos se possam exonerar desde que tenham

decorrido dez anos após o seu ingresso na sociedade.

O prazo de dez anos deve contar-se da seguinte forma: quando a proibição for

posterior à constituição da sociedade, o prazo contar-se-á desde a introdução da

proibição para os sócios que já o eram; para os novos sócios a contagem do prazo deve

fazer-se desde o seu ingresso na sociedade; para os sócios supervenientes que tenham

adquirido a quota a título sucessório, o prazo conta-se desde o ingresso na sociedade do

sócio originário57

.

Relativamente ao prazo, surge ainda na doutrina a questão da sua imperatividade

ou supletividade. Para a maior parte da doutrina, a imperatividade opera em relação ao

prazo máximo, ou seja, não é possível à sociedade aumentar o prazo previsto na lei uma

vez que isso desvirtuaria por completo o sentido da norma, que será de impedir vínculos

perpétuos. No que respeita ao prazo mínimo a questão já não é tão pacífica. Videira

Henriques58

e João Cura Mariano59

pronunciaram-se contra a admissibilidade de reduzir

o prazo previsto no artigo 229.º, n.º 1, uma vez que isso se reconduziria à proibição de

exoneração com base na vontade arbitrária do sócio, proibida pelo artigo 240.º, n.º 8.

Em sentido contrário, admitindo a possibilidade de redução de prazo, pronunciou-se

Raúl Ventura60

.

Tendemos a concordar com a doutrina que entende o prazo como imperativo

tanto para o mínimo como para o máximo. O primeiro para não violar a norma do artigo

240.º, n.º 8 e o segundo para proteger os sócios, conforme intenção do legislador, de

vínculos perpétuos.

4. Direito de Exoneração por Oposição à Deliberação de Aumento de Capital a

Subscrever Total ou Parcialmente por Terceiros

Esta possibilidade de exoneração é a primeira a ser elencada no artigo 240.º,

n.º1, al. a).

A principal intenção desta norma é reservar ao sócio o direito de escolha quando

novos sócios entram na sociedade. É de salientar que o aumento de capital acarreta

perda do direito de voto e por conseguinte perda também na determinação dos destinos

da sociedade, assim como diminuirá a participação nos lucros.

Apenas os sócios discordantes podem exonerar-se.

57

RAÚL VENTURA, Sociedades por quotas, Vol. I…, pág.602. 58

PAULO ALBERTO VIDEIRA HENRIQUES, A desvinculação unilateral…, pág.57-59. 59

JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 45. 60

RAÚL VENTURA, Sociedades por quotas, Vol. I …, pág.602.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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5. Direito de Exoneração por Oposição à Deliberação de Modificação do

Objecto Social

O objecto social delimita a área de actuação da sociedade. A determinação do

objecto social prossegue vários interesses dos sócios na medida da sua decisão de

investimento em tal área, bem como define a actuação dos gerentes/administradores no

âmbito do mercado em que está inserido o objecto social61

.

Protegida pela determinação do objecto social fica também a sociedade uma vez

que o mesmo poderá ser determinante para a aplicação de legislação especial.

A sua alteração implica uma alteração aos estatutos societários, a qual só poderá

ser realizada com a concordância de uma maioria qualificada, isto se o pacto social não

exigir um número mais elevado ou mesmo a unanimidade (artigo 265.º, n.º1).

Também aqui, de acordo com o artigo 240.º, n.º 1, apenas os sócios que votaram

contra se podem exonerar, não sendo permitida a exoneração nem aos que se abstiveram

nem aos ausentes.

A alteração do objecto social, para que releve para efeitos do direito de

exoneração, deve ser uma alteração substancial, não bastando pequenas alterações62

.

6. Direito de Exoneração por Oposição à Prorrogação da Sociedade

O tempo de vida de uma sociedade pode ou não ser definido nos estatutos, não o

sendo esta terá, nos termos do artigo 15.º, n.º 1, duração por tempo indeterminado.

A sociedade pode, também, ter a sua duração sob termo certo ou incerto ou sob

condição resolutiva63

.

Quando, ainda que seja uma situação rara64

, por deliberação, nos termos do

artigo 265.º, n.º 1, o prazo da sociedade seja prorrogado, confere a lei, ao sócio

discordante, a possibilidade de se exonerar.

A prorrogação da sociedade só permite o direito de exoneração se esta for

realizada por deliberação social, ou seja, se for realizada automaticamente por cláusula

contratual não haverá lugar ao exercício deste direito65

.

Do mesmo modo, como para outras causas de exoneração, também para a

prorrogação da sociedade se exige que a mesma seja relevante66

.

61

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração… pág. 60, nota 65. 62

JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 62. 63

JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 63. 64

Porque geralmente têm duração indeterminada. 65

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração… pág. 243. 66

JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 65.

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7. Direito de Exoneração por Oposição à Transferência de Sede para o

Estrangeiro

Releva aqui a noção de sede supra referida.

Assim, estaremos perante causa de exoneração prevista no artigo 240.º, n.º1

quando a sociedade delibere a transferência de sede estatutária para o estrangeiro.

Quando a deliberação de transferência de sede se refira à sede efectiva estaremos,

também, perante uma causa de exoneração mas esta, nos termos do artigo 3.º, n.º 5.

Um problema surgirá quando haja uma deliberação que vise a transferência tanto

da sede estatutária como da sede efectiva para o estrangeiro. Qual das disposições será

aplicável?

Raúl Ventura67

e João Cura Mariano68

invocam a regra da especialidade segundo

a qual deverá aplicar-se o regime do artigo 240.º, n.º 1.

Por sua vez, Tiago Soares da Fonseca69

defende que caso estejamos perante

transferência de sede tanto estatutária como efectiva devemos aplicar o regime do artigo

3.º, n.º 5 porque confere maior protecção ao sócio. Acompanhamos a posição deste

autor pelos motivos supra citados.

8. Direito de Exoneração por Oposição ao Regresso à Actividade de Sociedade

Dissolvida

Retomando o tema, como já sabemos, só poderá relevar como causa de

exoneração a deliberação de regresso à actividade de sociedade dissolvida depois de

iniciada a partilha.

Como distingiremos, então, a causa de exoneração prevista no artigo 240.º, n.º 1,

al. a), da prevista no artigo 165.º, n.º 5?

Para João Cura Mariano, Coutinho de Abreu e Raúl Ventura70

estamos perante

causas de exoneração com diferentes fundamentos e âmbitos de aplicação distintos. Na

previsão do artigo 240.º, n.º 1, alínea a) não releva para a aplicação do direito de

exoneração a posição dos sócios na sociedade já dissolvida e /ou a retomar a actividade

nem a posição dos mesmos depois da partilha. Assim, dizem estes autores, ambas

podem ser utilizadas como causa de exoneração pelos sócios das sociedades por quotas.

67

RAÚL VENTURA, Sociedades por quotas, Vol. II…, pág.20-21. 68

JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 70. 69

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração… pág. 242. 70

JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 69, nota 106.

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Contra esta posição está Maria Augusta França71

que defende a aplicação em

exclusivo do artigo 240.º, n.º 1, alínea a) para os sócios das sociedades por quotas, uma

vez que para a autora este preceito afasta a norma geral do artigo 165.º, n.º 5.

Numa posição intermédia Brito Correia72

defende que se trata apenas de uma

repetição de preceitos legais, aplicáveis às mesmas situações.

Assim, como defendemos na situação anterior, também aqui devemos permitir a

aplicação da situação mais vantajosa para o sócio, sendo válido ao sócio da sociedade

por quotas escolher, perante o caso concreto, a disposição que lhe for mais favorável.

9. Direito de Exoneração com fundamento em Não Exclusão de um Sócio ou

pela Não Promoção da sua Exclusão

A possibilidade de exclusão do sócio é um direito da sociedade, porém quando a

mesma, por força de uma decisão da maioria, decida não existir fundamento ou pelo

menos não reconhecer a necessidade de afastar um sócio, havendo justa causa para tal,

atribuiu o legislador ao sócio que votou a favor da exclusão ou contra a não exclusão a

possibilidade de se exonerar nos termos do artigo 240.º, n.º 1, alínea b).

Para se verificar esta causa de exoneração é necessário que exista, em primeiro

lugar, justa causa de exclusão e, em segundo lugar, que haja uma deliberação de não

exclusão do sócio ou de não promoção da sua exclusão judicial.

Assim, assistirá ao sócio que votou a favor da exclusão ou da promoção judicial

de exclusão, bem como ao sócio que votou contra a não exclusão ou não promoção

judicial da exclusão, o direito de se exonerar.

SECÇÃO IV

Causas Legais de Exoneração aplicáveis às Sociedades Anónimas

1. Vícios da Vontade no Ingresso para a Sociedade. Remissão.

Por força da aplicação do artigo 45.º também às sociedades anónimas é válido

tudo o que foi referido supra sobre esta questão a propósito das sociedades por quotas.

2. Oposição à constituição de Sociedade Anónima Europeia por Fusão.

Estaremos perante uma sociedade anónima europeia constituída por fusão

quando duas das sociedades a fundir tenham lei pessoal de estados-membros distintos

(artigo 2.º n.º 1 e 17.º a 31.º do Reg. (CE) 2157/2001).

71

MARIA AUGUSTA FRANÇA, Direito à exoneração, Novas Perspectivas…, pág. 214-215. 72

LUÍS BRITO CORREIA, Direito comercial, 2.º vol., sociedades comerciais, A.A.F.D.L., Lisboa, 1989,

pág. 457.

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O mesmo regulamento admitiu a possibilidade de aquando a transposição para a

ordem jurídica interna o legislador contemplasse medidas de protecção dos sócios

minoritários (artigo 24.º do Reg. (CE) 2157/2001).

O legislador nacional agarrando essa possibilidade aquando a transposição

legislativa concedeu aos accionistas a possibilidade de exonerarem quando tenham

votado contra o processo de fusão, independentemente da existência ou não de

transferência de sede para o estrangeiro. Tudo o exposto encontra-se regulado pelo

artigo 7.º do Decreto-lei n.º 2/2015 (RJSE).

3. Transferência de Sede de Sociedade Anónima Europeia

O artigo 13.º do Decreto-lei n.º 2/2015 (RJSE) vem reconhecer o direito de

exoneração do sócio discordante em relação a transferência de sede de sociedade

anónima europeia para outro Estado-membro.

De acordo como Reg. (CE) 2157/2001 no seu artigo 7.º a sede estatutária e

efectiva das sociedades anónimas europeias devem coincidir pelo que acredito que o

artigo 13.º do Decreto-lei n.º 2/2015 (RJSE) deve aplicar-se em ambas as situações já

que a priori terão o mesmo local.

CAPÍTULO III

Causas Contratuais de Exoneração

Além das causas de exoneração legalmente previstas a lei concede aos sócios a

possibilidade de alargarem o leque de hipóteses de desvinculação nos estatutos

societários.

Para as sociedades em nome colectivo essa possibilidade encontra-se prevista no

artigo 185.º, não tendo a lei imposto limites à forma como os estatutos possam

consagrar o direito de exoneração.

Quanto às sociedades por quotas a previsão da possibilidade estatutária do

direito de exoneração está plasmada no artigo 240.º, n.º 1. Contudo aqui o legislador

instituiu um limite inultrapassável que proíbe a exoneração com fundamento na vontade

arbitrária do sócio nos termos do artigo 240.º, n.º 8 e sendo esta uma norma imperativa

todas as normas estatutárias que a violem padecem de nulidade73

.

73

JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 83.

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O pacto social não pode ainda, qualquer que seja o tipo societário, restringir o

uso do direito de exoneração quando previsto em norma legal.

Dentro das cláusulas contratuais cumprirá reparti-las em dois grupos. As

cláusulas contratuais típicas e as atípicas. É nestas últimas, a propósito das sociedades

anónimas, que se levantam as maiores questões.

SECÇÃO I

Típicas

1. Transformação de Sociedade

Todas as sociedades que tenham por objecto a prática de actos de comércio

devem adoptar um dos tipos societários previstos na lei, nos termos do artigo 1.º, n.º 2 e

3. Esta tipicidade é um elemento essencial para a aplicação de normas, que serão

distintas, consoante o tipo societário.

Não sendo porém, como sabemos, a economia uma disciplina estanque o

legislador permitiu que as sociedades comerciais se transformem, adoptando um outro

tipo previsto na lei (artigo 130.º). Condicionou, no entanto, o legislador, que esta

transformação de sociedade esteja dependente de uma permissão legal ou estatutária.

Não foi descurado, dada a relevância jurídica da transformação de sociedade,

todo um processo legalmente exigente, previsto e regulado nos artigos 132.º, 133.º e

134.º, sendo que o seu incumprimento é gerador de nulidade do processo de

transformação de sociedade. Além destes requisitos processuais legalmente exigentes o

legislador criou também mecanismos de protecção dos sócios.

Esta protecção repartiu-se em dois vectores, por um lado a transformação não

pode alterar as participações do montante nominal e da proporção do capital social,

salvo acordo por unanimidade, conforme dispõe o artigo 136.º, e de outro lado a

permissão do direito de exoneração para os sócios discordantes com o processo de

transformação.

Embora o artigo 137.º, n.º1 não atribua directamente um direito de exoneração

ao sócio discordante, admite que a lei o faça num outro ponto (que desconhecemos

existir) ou que o preveja o contrato de sociedade. Ora, como é fácil entender as

alterações que operam numa transformação de sociedade são profundas às quais não

deve a lei ou o contrato sujeitar os sócios discordantes, afirmando até, alguns autores,

que a transformação de sociedade deveria constituir causa legal de exoneração.

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São extensíveis à transformação, por força do artigo 137.º, n.º2, as regras

relativas à fusão.

2. A Fusão

“A fusão de sociedades é uma forma jurídica- por ventura a mais perfeita- que

permite dar corpo ao fenómeno da concentração económica.”74

A fusão é a união de duas ou mais sociedades em apenas uma. Existem duas

modalidades de fusão. A fusão por incorporação e a fusão por concentração. Ambas as

modalidades são descritas pelo legislador no artigo 97.º, n.º4, alíneas a) e b). Na

primeira modalidade uma sociedade mantendo-se em tudo inalterada absorve outra

sociedade. Na segunda modalidade uma ou mais sociedades transferem as suas posições

para uma nova entidade.

A fusão é uma operação transformadora de entidades já existentes que acarreta

alterações de fundo em ambas as entidades. Nomeadamente, alterações inevitáveis aos

estatutos qualquer que seja a modalidade da fusão, conforme artigo 98.º, n.º1, alínea f),

alterações ao capital social, podendo ainda envolver, operações de transformação de

sociedade de acordo com o disposto no artigo 97.º, n.º1.

Ora, é indiscutível o cariz transformador de uma operação de fusão, podendo a

mesma causar prejuízos para os sócios e inviabilizar a sua vontade de manter o vínculo

societário.

Por tudo isto, criou o legislador comercial uma norma de protecção, prevista no

artigo 105.º, admitindo a possibilidade de exoneração do sócio discordante com a

operação de fusão desde que tal direito esteja atribuído por lei ou por contrato.

Coloca-se aqui a questão de saber se a fusão será por si só uma causa legal de

exoneração. A doutrina maioritária tem-se pronunciado no sentido negativo.

Maria Augusta França75

não considera que o artigo 105.º atribua um direito de

exoneração. Na opinião da autora o legislador não considerou a fusão como causa

justificativa para o exercício do direito de exoneração mas permite que os estatutos o

façam.

74

MENEZES CORDEIRO, Direito das sociedades…vol. I, pág.959. 75

MARIA AUGUSTA FRANÇA, Direito à exoneração, Novas Perspectivas…, pág. 209.

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Raúl Ventura76

e João Cura Mariano77

interpretam a norma do artigo 105.º como

meramente reguladora do exercício do direito de exoneração caso o mesmo seja

atribuído pelo contrato de sociedade78

.

Existem porém autores que discordam desta posição e concluem que a norma

prevista no artigo 105.º se trata de uma previsão legal do direito de exoneração. No

sentido afirmativo da interpretação da norma do artigo 105.º como causa legal de

exoneração encontramos Brito Correia79

, Oliveira Ascensão80

e Videira Henriques81

.

Tendemos, embora com o mesmo desacordo no caso da transformação de

sociedades, a acompanhar os autores que interpretam o artigo 105.º como uma

regulamentação do direito de exoneração e não como uma causa. Fazemo-lo por dois

motivos, o primeiro é a letra da lei e o segundo prende-se com o facto de em mais

nenhuma parte do CSC o legislador atribuir um direito de exoneração com fundamento

na fusão, podendo tê-lo feito uma vez que abriu essa hipótese no artigo 105.º.

3. A Cisão

A cisão por seu turno também tem natureza transformadora mas, de modo

inverso, aqui cinde-se uma entidade para criar duas ou mais entidades.

Existem três modalidades de cisão previstas no artigo 118.º, n.º1. A alínea a)

prevê a modalidade de cisão simples, é o caso em que uma sociedade destaca parte do

seu património para com ele constituir uma nova sociedade. Na previsão da alínea b)

prevê-se a modalidade de cisão- dissolução, esta modalidade permite que uma sociedade

se dissolva ou divida para que com cada uma dessas partes constitua uma nova entidade.

Por fim, na previsão da alínea c), encontramos a última modalidade de fusão,

modalidade esta apelidada de cisão – fusão, onde se realizam duas operações, uma

primeira que consiste na dissolução ou destacamento do património de uma sociedade

em duas ou mais partes, a segunda operação consiste na utilização do património

destacado ou dissolvido para a realização de operações de fusão com outras sociedades.

Também no âmbito da cisão encontramos, na óptica do sócio, as mesmas

problemáticas supra referidas no regime da fusão. Deste modo, e por força do artigo

76

RAÚL VENTURA, Fusão, cisão e transformação de sociedades parte geral, Parte geral, artigos 97.º

a 140.º, Comentário ao código das sociedades comerciais, 3.ª reimpressão da edição de 1990, Almedina,

Coimbra, 2006, pág. 140. 77

JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 41. 78

No mesmo sentido DANIELA FARTO BAPTISTA, O direito de exoneração dos accionistas …, pág.

199-206. 79

LUÍS BRITO CORREIA, Direito comercial, 2.º vol., …, pág. 454. 80

JOSÉ DE OLIVEIRA ASCENSÃO, Direito comercial…, Vol. IV, pág.372. 81

PAULO ALBERTO VIDEIRA HENRIQUES, A desvinculação unilateral…, pág.35-36.

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120.º, com toda a relevância e lógica, também aqui tem aplicabilidade a possibilidade de

exoneração do sócio discordante.

SECÇÃO II

Atípicas

1. Cláusulas Contratuais Atípicas nas Sociedades Anónimas

Sendo a lei omissa na questão da admissibilidade de cláusulas estatutárias nas

sociedades anónimas cabe à doutrina e à jurisprudência analisar a questão.

Entre nós a doutrina já se pronunciou largamente sobre o assunto, existindo

autores que não concebem a sua admissibilidade e de outro lado autores que não

concebem a sua proibição.

De entre os vários autores daremos foco aos mais relevantes, contra a

admissibilidade de tais cláusulas, distinguimos:

Osório de Castro82

, diz suficientes os casos que a lei consagra para o direito de

exoneração nas sociedades anónimas, uma vez que são aplicáveis quando o princípio da

transmissibilidade de acções está restringido. Diz o autor “ …o accionista inconformado

tem sempre a possibilidade de alienar as sus acções, o que é uma solução bastante.”.

Paulo Olavo da Cunha83

, vai no mesmo sentido concluindo que a possibilidade

de transmitir acções faz com que o direito de exoneração assuma uma natureza

excepcional, não sendo assim admissíveis cláusulas que não as legalmente previstas.

Manuel Triunfante84

, entende que o silêncio do legislador foi intencional, no

sentido da proibição da exoneração por cláusulas estatutárias nas sociedades anónimas.

Para Menezes Cordeiro85

, não existe possibilidade de exoneração fora dos casos

previstos na lei, justificando a sua posição pela natureza jurídica das sociedades

anónimas em que os sócios só respondem pelo valor das suas entradas não devendo as

suas posições serem afectadas por decisões de outros sócios.

Como defensores da tese da admissibilidade de tais cláusulas, encontramos:

82

CARLOS OSÓRIO DE CASTRO, Da admissibilidade das chamadas “opas estatutárias” e dos seus

reflexos sobre a cotação das acções em bolsa, Almedina, Coimbra, 2002. 83

PAULO OLAVO DA CUNHA, Direito das sociedades comerciais, pág.311. 84

ARMANDO MANUEL TRIUNFANTE, A tutela das minorias nas sociedades anónimas, pág. 318-

320. 85

ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Direito das sociedades, das Sociedades em especial, pág.711-

712.

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Maria Augusta França86

, admite como válidas as cláusulas estatutárias de

exoneração baseando a sua posição no princípio da autonomia contratual, salientando

que tais cláusulas são válidas desde que não violem princípios ou preceitos legais.

Pais Vasconcelos87

, admite também a validade de tais cláusulas mas prevê a sua

maior frequência em acordos parassociais.

Coutinho de Abreu88

, considera também válidas as cláusulas contratuais de

exoneração nas sociedades anónimas desde que não colidam com normas legais

imperativas e não estejam na vontade arbitrária do sócio.

Raúl Ventura89

, a propósito das sociedades por quotas, defende a

admissibilidade de causas estatutárias fora dos casos previstos na lei com excepção para

a vontade arbitrária do sócio. Esta foi também a posição adoptada por João Cura

Mariano.

Como defensora acérrima da admissibilidade destas cláusulas temos Daniela

Baptista90

, justificando a sua posição no princípio da liberdade contratual, na existência

de regras legais que proíbam a criação destas cláusulas e na possibilidade de poder

existir dificuldade na transmissibilidade de acções.

João Espírito Santo91

, entende que a omissão do legislador foi intencional,

acolhendo a admissibilidade destas cláusulas e refutando todos os argumentos da

doutrina em sentido contrário. Este autor entende que o princípio da livre

transmissibilidade de acções poderá não ser exequível uma vez que podem haver

dificuldades por vários motivos nessa transmissão. O argumento do atentado ao

interesse público também é desmantelado por este autor uma vez que o direito

comercial se enquadra na esfera do direito privado e não na esfera do direito público.

Quanto à possível violação dos direitos dos credores na manutenção do património

social o autor afasta essa possibilidade uma vez que o direito de exoneração não tem

como consequência imediata, aliás é apenas o ultimo reduto, a dissolução, sendo que

primariamente a sociedade deve fazer adquirir a participação social por outro sócio ou

terceiro.

86

MARIA AUGUSTA FRANÇA, Direito à exoneração, Novas Perspectivas, pág.220. 87

PEDRO PAIS DE VASCONCELOS, A participação social nas sociedades comerciais, Almedina,

Coimbra, 2006, pág.384-386. 88

JORGE MANUEL COUTINHO DE ABREU, Curso de Direito Comercial…, pág. 424-425. 89

RAÚL VENTURA, Sociedades por quotas, Vol. II…, pág. 18 90

DANIELA FARTO BAPTISTA, O direito de exoneração dos accionistas…, pág. 327-328 e 480-483. 91

JOÃO ESPÍRITO SANTO, Exoneração do sócio…, pág.629.

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2. Direito Comparado

No direito italiano a questão também não é pacífica. A maior parte da doutrina92

tem negado a admissibilidade de cláusulas contratuais com base na interpretação

restritiva do artigo 2437 do CCit.

Os autores italianos que defendem esta posição fazem-no com fundamento na

excepcionalidade do diritto di recesso, na protecção de credores sociais e no interesse

público da manutenção societária. Consideram, estes autores, taxativas as causas de

exoneração previstas na lei. Em linha com posições de autores portugueses, supra

citados, estes autores reiteram a sua posição com base no princípio da livre

transmissibilidade de acções, afirmando que os sócios discordantes com determinada

deliberação social se podem facilmente desvincular da sociedade recebendo o valor das

suas acções.

Um sector mais diminuto da doutrina italiana reconhece autonomia ao diritto di

recesso, encarando-o também como um direito dos accionistas, não vendo estes autores

que uma interpretação ampliada da norma do artigo 2437 do CCit possa prejudicar

credores e/ou interesses públicos.

A questão ficou mais apaziguada aquando da reforma de 2003 o CCit veio

permitir através do n.º 4 do artigo 2437 cláusulas estatutárias de exoneração nas

sociedades anónimas.

Nuestros hermanos também não chegam a um consenso no que a esta questão

refere93

. Tal como no direito português e no direito italiano as questões que dividem a

doutrina espanhola são as mesmas.

No direito francês a legislação não confere direito de exoneração aos sócios de

sociedades anónimas, depositando a sua confiança na resolução de litígios através do

princípio da livre transmissibilidade de acções94

e nas ofertas públicas de aquisição.

3. Posição Adoptada

O silêncio do legislador foi, no nosso entender, o de quem não quis tomar

posição confiando por um lado na transmissibilidade de acções e por outro na vontade

dos sócios. A doutrina divide-se, como vimos, há autores para quem o silêncio significa

uma proibição, outros entendem-no como admissibilidade de tais cláusulas.

92

GIANCARLO FRÉ, Sul Dirrito di Recesso…pág. 811. 93

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…, pág. 272, nota 918. 94

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…, pág. 65, nota 148.

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Por entre as justificações de quem é contra a admissibilidade de tais cláusulas

podem destacar-se o princípio da livre transmissibilidade de acções, a lesão de

interesses dos outros sócios e credores sociais, a eventual dissolução da sociedade e a

natureza excepcional do direito de exoneração.

O principal argumento, o do princípio da livre transmissibilidade de acções, não

vence. Caso este princípio resolvesse os mesmos problemas que o direito de exoneração

visa resolver, então o legislador só teria previsto a exoneração em sociedades em que

este princípio não vigorasse, o que não é verdade pois como decorre da lei ele aplica-se

a todos os tipos de sociedade comerciais.

Ainda assim, partindo do princípio que admitíamos que essa era de facto a

intenção do legislador, seria questionar o que se faria no caso de se tratar de uma

sociedade anónima que não fosse aberta ao mercado. Ficaria o sócio refém da sociedade

ou da vontade da maioria? Esperaria até existir, a existir, uma cláusula legal de

exoneração? Qualquer destas soluções não fará qualquer sentido, estamos no domínio

do direito privado, vigora aqui o princípio da liberdade de estipulação, este deve primar

sempre, ainda mais no caso em apreço em que outras soluções não são aplicáveis.

Mesmo estando perante uma sociedade aberta ao mercado a transmissibilidade

de acções pode não ser exequível, ora porque o mercado não está favorável à sua

compra, ora porque o valor dessas mesmas acções em determinado momento por

qualquer motivo não é o justo valor. Não se pode assim sustentar a inaplicabilidade do

direito de exoneração por força do princípio da livre transmissibilidade de acções, que

nem sempre, como analisamos, é passível de ser utilizado.

Uma segunda ideia surge no facto de o direito de exoneração previsto em

cláusulas contratuais poder eventualmente lesar interesses de outros sócios ou credores

sociais. Se pode fazê-lo nas sociedade anónimas também pode fazê-lo nos outros tipos

societários, onde é permitido, mais uma vez existiria aqui uma descriminação face às

sociedades por quotas, discriminação essa, injustificada. Este argumento não pode,

igualmente, ser atendível. As cláusulas contratuais que dispusessem o direito de

exoneração seriam criadas pelos próprios sócios estando assim todos numa posição

igualitária em que ninguém teria, obviamente, interesse em agir conta os próprios

interesses. Ainda que a entrada na sociedade seja posterior à sua constituição os sócios

tem acesso ao estatutos e a na sua adesão já saberiam quais eram as possibilidades de

exoneração.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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O mesmo argumento a favor dos credores também não se aceita sendo que os

meios disponibilizados pelo CSC para sua protecção são os mesmos haja ou não

exoneração prevista em cláusulas estatutárias.

A única reserva que posso ter e que pode de facto sustentar esta posição é no

caso do exercício deste direito acarretar a dissolução da sociedade. Embora seja uma

possibilidade, a dissolução, não é uma consequência imediata ou necessária mas se tal

acontecer admito que lese interesses de outros sócios e credores sociais. Obviamente

que a continuação de uma sociedade não deve estar na liberdade de um sócio que exerce

o direito de exoneração mas ainda assim, quantas mais possibilidades de exoneração

mais possibilidades de dissolução, o que para a vida societária, sobretudo em momentos

de crise económica, pode acarretar alguns perigos.

No que concerne à natureza excepcional do direito de exoneração este

argumento refuta-se também. A deliberação para a criação de cláusulas contratuais de

exoneração está dependente da vontade da maioria. Mesmo que reconhecêssemos o

carácter excepcional do direito de exoneração isso apenas impediria os sócios de se

socorrerem do mesmo fora dos casos previstos na lei ou no contrato.

Por último há ainda quem sugira que o direito de exoneração estatutariamente

previsto pode lesar interesse público, ora, quanto a isto apenas cumpre salientar que o

direito comercial pertence à esfera do direito privado, não tendo natureza pública não

pode lesar tais interesses. Os interesses sociais são interesses privados na medida em se

reconduzem aos interesses particulares dos sócios95

.

Uma questão que surgiu aquando da elaboração da presente dissertação é a

violação do direito constitucional ao trabalho. O direito de exoneração no seu término

mais radical pode conduzir à dissolução da sociedade, quando pensamos em sociedades

elas não são apenas estruturas de capital, são também estruturas organizadas de pessoas,

estruturas essas que têm certamente trabalhadores, ora dissolvendo-se a sociedade todos

os postos de trabalho serão afectados. Neste prisma se já existe esta perigosidade

decorrente da lei que tenderá a aumentar com a maior consagração de cláusulas que

possibilitem a exoneração.

Face ao exposto, atendendo à intenção do legislador e corroborando as posições

doutrinais que aceitam a admissibilidade das cláusulas contratuais, também nós temos

de admiti-las. Não poderá ser de outra forma a protecção das minorias.

95

MENEZES CORDEIRO, Manual de direito das sociedades II, pág. 321.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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Quanto aos limites para o estabelecimento de cláusulas estatutárias de

exoneração propomos o recurso à analogia e concordamos com o bom senso do

legislador previsto no artigo 240.º, n.º 8. Assim, não devem os accionistas, introduzir

nos seus estatutos cláusulas contratuais de exoneração que esteja na pendência da

vontade arbitrária do sócio.

4. Cláusulas Contratuais de Exoneração por Justa Causa nas Sociedades

Anónimas

Como já referimos, anteriormente neste trabalho96

, a propósito da justa causa de

exoneração nas sociedades em nome colectivo, o conceito de justa causa é um conceito

indeterminado e por vezes subjectivo sendo por isso necessário identificar outras justas

causas, assim intituladas pelo legislador, para delimitar o conceito.

Concluímos que a justa causa ocorre sempre que não seja viável exigir ao sócio

que permaneça na sociedade.

Sabemos que não existe no CSC qualquer referência à exoneração por justa

causa nas sociedades anónimas contudo muitos são os autores que admitem tal

possibilidade.

Coutinho de Abreu97

, admite expressamente as cláusulas estatutárias de

exoneração com fundamento em justa causa socorrendo-se o autor do recurso à

analogia.

Brito Correia98

têm idêntica posição mas exige uma análise casuística.

Luís Menezes Leitão99

fundamenta a admissibilidade de tais cláusulas no facto

de a justa causa servir de fundamento a todas as cláusulas, sejam elas legais ou

contratuais.

A analogia a que estes autores recorrem será de acordo com o artigo 242.º, n.º 1,

a propósito das sociedades por quotas, o que obrigará a uma intervenção jurisdicional.

Para nós, arriscando ir mais longe a justa causa deve ser uma causa de

exoneração autónoma, independente de qualquer previsão legal ou estatutária, baseada

apenas nos princípios gerais do direito, da boa-fé, da justiça e da proibição do abuso do

direito. Isto porque assim como muitas das justificações da doutrina que não aceita a

96

Vide n.º 1, secção II, Capítulo II, da Quarta Parte. 97

COUTINHO DE ABREU, Curso de direito comercial …, pág. 438. 98

LUÍS BRITO CORREIA, Direito comercial, 2.º vol., …, pág. 467. 99

Luís Menezes Leitão, Pressupostos da exclusão de sócio nas sociedades comerciais, 1.ª reimpressão da

1.ª edição de 1988, A.A.F.D.L, Lisboa, 1995, pág. 92.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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admissibilidade das cláusulas contratuais nas sociedades anónimas, como foi exposto ao

longo deste trabalho, também aqui esses mesmos argumentos não vencem.

A natureza excepcional do direito de exoneração visa proteger minorias que

muitas vezes não dispõem de soluções justas para abandonarem a sociedade de uma

forma não pesarosa, ora a justa causa de exoneração protegerá esse mesmo fim.

Assim, concluímos, pela admissibilidade de cláusulas contratuais que

estabeleçam o direito à exoneração com justa causa, ainda que dependente do recurso à

intervenção jurisdicional.

5. Cláusulas Contratuais de Exoneração Ad nutum

A inserção nos contractos de sociedades de cláusulas de exoneração, embora

admitidas pela maior parte da doutrina, deve respeitar alguns limites.

Segundo Tiago Soares da Fonseca, autor que acompanhamos nesta matéria, os

limites serão três, a saber: i) a compatibilidade com normas legais imperativas, ii)

justificação causal e iii) adequação aos princípios caracterizadores de cada tipo

societário.

Admitir uma cláusula ad nutum é desrespeitar estes limites, admitindo o

desinvestimento puro sem dependência de uma causa.

Nas sociedades por quotas, regime aplicável e do qual nos devemos socorrer

para integração de lacunas nas sociedades anónimas, é expressamente proibido a

consagração de cláusulas contratuais que permitam a exoneração baseada na vontade

arbitrária do sócio, artigo 240.º, n.º8100

.

A razão maior para não serem admitidas é a protecção dos credores sociais na

manutenção do património social101

.

Tendemos, por razões de segurança jurídica, a seguir a posição da doutrina

maioritária, não admitindo pelos motivos supra expostos, cláusulas contratuais ad

nutum.

A exoneração ad nutum é ilícita sendo nulas todas as cláusulas contratuais que as

admitam, nos termos do artigo 294.º C.C.102

100

MARIA AUGUSTA FRANÇA, Direito à exoneração, Novas Perspectivas, pág. 220 e DANIELA

FARTO BAPTISTA, O direito de exoneração dos accionistas…, pág.460. 101

JOÃO ESPIRÍTO SANTO, Exoneração do Sócio…pág.794 102

JOÃO ESPIRÍTO SANTO, Exoneração do Sócio…pág.794 e DANIELA FARTO BAPTISTA, O

direito de exoneração dos accionistas, pág.460.

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CAPÍTULO III

Secção I

Direitos Especiais e o Direito de Exoneração

1. Direitos Especiais

Aquando da aquisição da qualidade de sócio ou accionista de uma sociedade,

independentemente do tipo societário, adquirem-se direitos e deveres, direitos esses que

devem ser acautelados e obrigações que devem ser cumpridas e assumidas, nos termos

dos artigos 20.º e 21.º do CSC.

Além destes direitos, ditos gerais, o legislador consagrou no artigo 24.º a

possibilidade de existirem também direitos especiais. Estes direitos conferem a

determinados sócios uma vantagem em relação aos demais.

Num primeiro momento estes direitos estariam em conflito com o princípio da

igualdade entre sócios, mas por força do artigo 405.º do C.C. impera o princípio da

liberdade contratual, uma vez que estes direitos são definidos e atribuídos pelo pacto

social.

Nas sociedades por quotas estes direitos são atribuídos a determinado sócio, tem

intuito personae, enquanto nas sociedades anónimas estes direitos são atribuídos a

categorias ou classes de acções, sem qualquer referência ao seu detentor.

Estes direitos são inderrogáveis pela maioria, ainda que qualificada para

alteração do pacto social, mas são renunciáveis a todo o tempo pelo seu titular nos

termos do artigo 24.º, n.º5.

2. Direitos Especiais e o Direito de Exoneração

Os direitos especiais coexistem no CSC com as várias previsões da possibilidade

de exercício do direito de exoneração.

Em alguns casos, até, a alteração substancial societária é condicionada à

demonstração da continuidade de respeito por esses direitos especiais. É o que

acontece no caso da fusão, nos termos do artigo 98.º, n.º 1, alínea j), que prevê

aquando a elaboração de um projecto de fusão se assegure a manutenção dos direitos

especiais dos sócios.

É contudo unânime que os sócios titulares de direitos especiais mantêm a

possibilidade de exercício do direito de exoneração, ainda que o fundamento deste

não prejudique tais direitos.

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A questão mais relevante, em nosso entender, será a de analisar (partindo da

admissibilidade do direito de exoneração em cláusulas contratuais) se os direitos

especiais podem consistir em direitos de exoneração. Será que o direito de

exoneração previsto em cláusulas contratuais pode ser um direito especial? Poderá

assistir apenas a alguns sócios certas possibilidades de exoneração?

De todos os autores que consultamos, no âmbito do presente trabalho, não

obtivemos resposta a estas questões. E também nós temos dificuldades em avaliar a

questão. Se por um lado, faz sentido e nada na lei impede que se atribua a

determinados sócios o direito de exoneração perante determinada situação, por outo

lado, esta ideia pode por em causa um dos principais fundamentos do direito de

exoneração, “o direito de resistência” à vontade imposta pela maioria.

Tornando a possibilidade de exoneração um direito especial estaremos a vedá-lo

aos restantes sócios, que podem coincidir com a minoria. Pode, assumimos, existir

nesta ideia alguma perigosidade. Porém nada, na nossa interpretação, no CSC

impede que tal possa acontecer.

Provavelmente, salvo melhor opinião, será necessário uma intervenção

legislativa nesta matéria de modo a delimitar a consagração de direitos de

exoneração enquanto direitos especiais.

CAPITULO IV

Exercício do Direito de Exoneração

Secção I

Da Legitimidade

1. Legitimidade

Enquanto figura do direito comercial o direito de exoneração é um direito reservado

aos sócios.

Apenas os sócios de sociedades unipessoais ou titulares de quotas/acções

próprias estão impedidos de exercer este direito.

Bem como quando a qualidade de sócio é adquirida posteriormente ao facto que

originou o direito de exoneração. A razão de ser desta premissa é simples, aquando a

entrada na sociedade o sócio já tinha conhecimento do facto sendo-lhe permitido

escolher não ingressar na sociedade.

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1.1. O usufruto de participações sociais

Quando existe usufruto de participações sociais releva aferir a posição do sócio e

a posição do usufrutuário.

O artigo 23.º, n.º2 tenta solucionar a questão remetendo para o artigo 1467.º do

C.C.. O artigo 1467.º do C.C. atribui por sua vez ao usufrutuário o direito aos lucros e

ao voto. Em relação ao direito de voto este é condicionado, necessitando também do

voto do sócio, quando estejam em causa deliberações que alterem os estatutos ou que

visem a dissolução da sociedade.

Sendo que nos restantes casos o direito de voto estará sempre na esfera do

usufrutuário e da sua posição dependerá sempre o direito do proprietário se exonerar.

Questão distinta será a quem pertence o direito de exoneração?

Só ao sócio poderá pertencer uma vez que é a propriedade que está em causa.

Ao usufrutuário que sejam defraudadas expectativas do uso e fruição da

participação social caberá somente o direito a ser indemnizado pelos prejuízos causados

pela não permanência na sociedade.

1.2. Contitularidade de Participações Sociais

Sempre que as participações sociais pertençam simultaneamente a duas ou mais

pessoas estamos perante uma situação de contitularidade ou compropriedade.

O CSC para solucionar eventuais questões que daí possam advir estabeleceu nos

seus artigos 222.º e 303.º que os contitulares devem exercer os seus direitos através de

um representante comum, bem como as comunicações e declarações da sociedade

devem ser feitas a esse mesmo representante e, na falta deste, a um dos contitulares.

Uma vez que a lei, no seu artigo 224.º, n.º 1, não permite que o representante

comum pratique actos que importem a extinção, alienação ou oneração da quota e tendo

o direito de exoneração como fim a extinção da relação societária deve ser exercido por

todos se estivermos perante uma causa de exoneração objectiva (que afectam todos os

titulares) ou subjectiva (que afecta apenas algum ou alguns dos titulares) que abranja

todos os contitulares.103104

Assim, os referidos actos, só podem ser praticados mediante

deliberação unânime de todos os contitulares105

.

103

Contra TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…pág. 97. 104

No mesmo sentido JOÃO CURA MARIANO aplicando por analogia o artigo 238.º, Direito de

exoneração dos sócios …,pág. 87. 105

RAÚL VENTURA, Sociedades por Quotas, Vol. I…, pág.524 e TIAGO SOARES DA FONSECA, O

Direito de Exoneração…pág. 296.

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O direito de exoneração implica a extinção da relação societária e alienação da

participação social, logo para o seu exercício, quando estejamos perante causas

objectivas de exoneração, terá de ser deliberado por unanimidade dos contitulares. O

desacordo de um dos contitulares impedirá a exoneração106

. Mas poderá não ser assim,

também nós, seguindo a doutrina mais recente107

, estamos em desacordo com esta

solução. Os contitulares não podem impedir o exercício de direitos que a lei visa

proteger.

Os contitulares devem, na falta de acordo, exercer o direito de exoneração com

autonomia, na medida em que é um direito singular, podendo exigir à sociedade que

adquira ou faça adquirir a parte que detém na participação social.

Já quando estejamos perante causas subjectivas de exoneração as mesmas não

devem ser objecto de deliberação dos contitulares nos termos do artigo 224.º, n.º1 uma

vez que não existe um direito de exoneração comum.

Se estivermos perante uma causa subjectiva que apenas fundamente o direito de

exoneração de um ou de alguns contitulares não podem todos os titulares da quota

exercer o direito, apenas aqueles que detenham fundamento para tal.

Assim:

- Se o fundamento da exoneração é a existência de vício da vontade na

assinatura do contrato de sociedade, apenas os sócios cuja vontade foi viciada podem

solicitar a sua exoneração.

- Quando o fundamento para a exoneração é a existência de uma proibição de

cessão de quotas apenas o sócio que completou dez anos de participação na sociedade se

pode exonerar.

- Se o fundamento para o exercício da exoneração é a transformação da

sociedade apenas os sócios que dela discordaram podem exonerar-se.

- Quando o fundamento da exoneração é a deliberação de regresso à actividade

da sociedade dissolvida apenas os sócios que tenham votado desfavoravelmente se

podem exonerar.

- Se estivermos perante transferência de sede para o estrangeiro, aumento de

capital a subscrever total ou parcialmente por terceiros, prorrogação da sociedade,

mudança do objecto social e não exclusão de sócio, apenas os sócios que votaram

vencido nessas deliberações tem legitimidade para requerer a exoneração.

106

Ac. STJ de 8 de Junho de 1995, in BMJ, 448, 1195, PÁG. 390-396. 107

JOÃO ESPIRÍTO SANTO, Exoneração do Sócio…pág.803.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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Pode, como analisado, o titular do direito de exoneração exonerar-se sem o

consentimento dos demais, exigindo à sociedade que aquira ou faça adquirir parte que

detém na participação social108

.

1.3. O penhor

O penhor, enquanto garantia real, coloca o credor pignoratício numa situação de

vantagem face aos demais credores, com vista à satisfação do seu crédito (artigo 666.º,

n.º 1 do CC).

Contudo sendo o direito de exoneração um direito que só pode ser exercido pelo

titular da participação social está vedado ao credor pignoratício o seu exercício.

Mariano Cura109

, considera necessário, para o exercício do direito de exoneração

de participações penhoradas, o consentimento do credor. Também nós acompanhamos

esta posição.

1.4 A penhora, o arresto, o arrolamento ou a apreensão em processo de

falência ou insolvência

Se a participação social se encontrar penhorada, arrestada, arrolada ou apreendida

em processo de falência ou insolvência o seu titular mantém o direito de se exonerar. O

destino do reembolso da participação social é que não será do sócio (artigo 235.º, n.º2

do CSC).

1.5 Os accionistas sem direito de voto e os sócios impedidos de votar

Uma questão bastante pertinente coloca-se quando estamos perante acções

preferenciais sem direito de voto (artigo 341.º a 344.º), accionistas sem direito de voto

por não possuírem o número mínimo de acções que lhes permita, nos termos dos

estatutos, votar (artigo 384.º, n.º2, alínea a)) e dos sócios impedidos de votar por

conflito de interesses (artigo 251.º, n.º12, 367.º, n.º2 e 384º, n.º6), ou por determinação

do Banco de Portugal.

Ora nestas situações a única vedação ao sócio é o direito de voto mantendo-se

todos os outros, incluindo o direito de exoneração110

.

108

Contra Tiago Soares da Fonseca, O direito de exoneração…pág. 297, para quem o exercício do direito

de exoneração quando existe contitularidade da participação social implica a extinção ou alienação

integral da participação. Razão pela qual o mesmo autor considera como solução no caso de desacordo

entre contitulares a acção de divisão de coisa comum. 109

JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 96. 110

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração… pág. 302.

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Secção II

Da Declaração

O exercício do direito de exoneração, sendo este um direito potestativo,

encontra-se na livre disponibilidade do sócio. Deve efectuar-se através de uma

declaração de exoneração, declaração essa que será unilateral e receptícia.

A produção de efeitos da declaração não depende de qualquer aceitação por

parte da sociedade.

A declaração de exoneração goza de liberdade de forma nos termos do artigo

219.º do CC, salvo quando estejamos perante as causas legais previstas no artigo 240.º

,n.º1 do CSC para as sociedades por quotas e nos artigos 7.º, n.º2, 11.º, n.º1 e 13.º, n.º2

do DL n.º2/2005, de 4.01, para a SE que é exigível a forma escrita sob pena de nulidade.

Quanto ao prazo para a emissão da declaração sempre que este esteja fixado não

pode ser afastado nem reduzido pelos sócios. Imperativamente sempre que haja prazo

para a emissão da declaração de exoneração esta deve ser emitida até ao seu termo sob

pena de caducidade do direito.

O conteúdo da declaração deverá compreender além da manifestação da

vontade, ainda que tácita, em abandonar a sociedade, a causa legal ou convencional

justificativa do direito de exoneração. A invocação da (s) causa (s) de exoneração é

essencial para que a sociedade possa aferir se estão ou não verificadas as condições para

o exercício do direito de exoneração.

CAPITULO VI

Efeitos do Exercício do Direito de Exoneração

Perda do Status Socii

A consequência mais importante do exercício do direito de exoneração é a perda

da qualidade de sócio. O exercício deste direito visa extinguir a relação societária

existente entre o sócio e a sociedade.

Questão de relevo e que tem ocupado a doutrina é o momento em que acontece a

perda da qualidade de sócio.

O CSC apenas tratou a questão para as sociedades em nome colectivo (artigo

185.º, n.º4) estabelecendo que a exoneração só se torna efectiva no fim do ano social em

que é feita a comunicação respectiva, mas nunca antes de decorridos três meses sobre

essa comunicação. Esta é também a solução do CC para as sociedades civis.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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No que aos outros tipos societários o legislador não se pronunciou deixando ao

intérprete essa tarefa. O tema tem dividido a doutrina.

Por um lado, há quem considere que o momento da perda da qualidade de sócio

acontece quando é recebida a declaração de exoneração, de outro lado, há quem defenda

que esse momento será apenas quando ocorre a amortização, transmissão ou o

reembolso da participação social. Ambas as hipóteses levantam alguns problemas,

nomeadamente na primeira posição o facto de a causa de exoneração poder não se

verificar e na segunda a posição jurídica do sócio desde o momento em que emite a

declaração de exoneração até à amortização, transmissão ou reembolso da participação

social.

Tentemos descortinar a questão.

Para o João Espírito Santo111

, existem três pontos cronológicos relevantes para

definir o momento da perda de qualidade de sócio; um primeiro momento será o da

produção de efeitos da declaração; um segundo momento será a realização do meio

técnico que executa o direito de exoneração (deliberação de amortização ou de

aquisição); por fim um último momento que será o pagamento da contrapartida.

A propósito das sociedades por quotas a maior parte da doutrina considera que o

momento da perda da qualidade de sócio será o da verificação da execução do

instrumento técnico.

Raúl Ventura112

, crê que o momento da perda da qualidade de sócio será o

momento da amortização ou aquisição da quota113

.

João Cura Mariano114

, defende que o momento da perda de qualidade de sócio

ocorrerá quando a sociedade comunica ao sócio a deliberação de amortização da sua

quota ou a data da celebração da escritura de aquisição da quota pela sociedade, outro

sócio ou terceiro.

Videira Henriques115

, por seu turno, defende a tese de que o momento da perda

de qualidade de sócio acontecerá aquando a recepção pela sociedade da declaração de

exoneração.

111

JOÃO ESPIRÍTO SANTO, Exoneração do sócio…pág.868. 112

RAÚL VENTURA, Sociedades por quotas, Vol. II…, cit. pág.33-34 113

No mesmo sentido e a favor da aplicação desta solução às sociedades anónimas MARIA AUGUSTA

FRANÇA, Direito à exoneração, Novas Perspectivas, pág.224 e JOÃO LABAREDA, Das acções das

sociedades Anónimas, A.A.F.D.L., Lisboa, 1998, pág. 317. 114

JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 142. 115

PAULO ALBERTO VIDEIRA HENRIQUES, A desvinculação unilateral…, pág.84.

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56

Tiago Soares da Fonseca116

, entende que a exoneração é um processo com início

na declaração de exoneração e culmina com o pagamento do valor da participação

social. Conclui este autor que o momento da exoneração será o momento da

amortização ou aquisição da participação social.

Acompanhamos a posição deste autor.

Questão distinta e também muito pertinente é a de saber o que acontecerá à

posição do sócio desde o momento da emissão da declaração até à amortização ou

aquisição da participação social.

João Espírito Santo117

, defende a ideia de que o exonerado deverá conservar

todos os direitos até à efectivação da exoneração com as limitações comuns do exercício

inadmissível de direitos.

Não podemos corroborar esta posição uma vez que o sócio quando emite a

declaração de exoneração está automaticamente a desvincular-se da pretensão do

exercício de direitos e obrigações sociais. Até porque no decorrer deste espaço de tempo

o sócio não poderá tomar isentamente decisões sobre a vida societária.

Tiago Soares da Fonseca118

defende a suspensão dos direitos e obrigações

sociais, com excepção dos poderes necessários para a concretização da sua pretensão de

saída.

Parece-nos mais razoável e lógica esta última posição que pelos mesmos

motivos acompanhamos.

CAPITULO VII

O Direito de Exoneração Exercido Através de Ofertas Públicas de Aquisição119

Obrigatórias

Secção I

As Ofertas Públicas de Aquisição

As ofertas públicas de aquisição consistem em propostas dirigidas aos titulares

de valores mobiliários com vista à aquisição dos mesmos. Apelam a uma decisão de

alienação da participação social ou de desinvestimento, ficando obviamente na

disponibilidade do titular aceitá-la ou não.

116

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…, pág. 319-323. 117

JOÃO ESPIRÍTO SANTO, Exoneração do sócio…pág. 933. 118

TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…, pág. 323. 119

Neste capítulo qualquer artigo sem outra indicação pertence ao CVM.

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Qualquer valor mobiliário pode, nos termos do artigo 173.º, n.º 3, ser objecto de

uma oferta pública de aquisição.

Existem diversas modalidades de ofertas públicas de aquisição.

Paulo Câmara120

, distingue-as em função dos seguintes critérios:

- Em função da natureza da contrapartida, em que a OPA em sentido restrito

pressupõe uma contrapartida monetária e a OPA de troca que tem por contrapartida

outro (s) valor (es) mobiliário (s).

- Em função do objecto da oferta, as OPAS podem ser gerais (quando visam o

universo das acções e dos valores mobiliários que dêem direito à subscrição ou

aquisição) ou podem ser parciais (aqui o objecto é mais restrito).

- Por último, em função da obrigatoriedade, em que são obrigatórias as OPAS

por imposição legal (artigo 187.º) e voluntárias as que decorrem da vontade do oferente.

Para o nosso estudo releva, essencialmente, a modalidade de OPA obrigatória.

O Dever de Lançamento de uma OPA

“ O dever de lançamento de oferta pública de aquisição constitui-se quando alguém

ultrapasse uma de duas fasquias quantitativas, definidas pelo artigo 187.º, relacionadas

com a percentagem de direitos de voto detida, individual ou conjuntamente, em

sociedade aberta” 121

.

A oferta pública de aquisição prevista pelo CVM é sempre na modalidade de

subsequente à aquisição relevante de direitos de voto.

“O dever traduz a incidência de normas de conduta: impositivas ou proibitivas.

A pessoa adstrita a um dever encontra-se na necessidade jurídica de praticar ou não

praticar certo facto”122

.

Para Paulo Câmara123

, o dever de lançamento de uma OPA representa um dever

jurídico em sentido técnico. O autor formula a sua convicção no facto das OPA

obrigatórias surgirem de um imperativo legal à apresentação de uma proposta de

aquisição de valores mobiliários.

O autor considera que a OPA obrigatória visa proteger o interesse dos

accionistas minoritários e dos titulares dos valores mobiliários que atribuem direito à

120

PAULO CÂMARA, Manual de direito de valores mobiliários, 2ª edição, Almedina, Coimbra, pág.

575. 121

PAULO CÂMARA, Manual de direito …, pág. 617. 122

MENEZES CORDEIRO, Tratado de direito…, pág. 916. 123

PAULO CÂMARA, Manual de direito…, pág. 620.

Page 58: O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM ......Sociedades Comerciais, 3ª reimpressão da 2ª edição de 1989, Almedina, Coimbra, 2004 pág.10. 5 DANIELA FARTO BAPTISTA, O Direito de

O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

58

subscrição ou à aquisição de acções visadas124

. E pese embora reconheça o dever de

lançamento de OPA como uma situação jurídica absoluta mas que não assenta numa

relação jurídica o seu cumprimento, para o autor, não pode ser exercido coactivamente

pelos destinatários da oferta125

.

Por seu turno, Menezes Cordeiro126

e Pedro Pais de Vasconcelos127

, consideram

existir um direito subjectivo dos sócios minoritários que deveriam ser visados pela OPA

e que se configura como um direito de exoneração.

Não podemos deixar de concordar com Menezes Cordeiro que vislumbra e bem

uma relação jurídica entre o oferente obrigado, por lei, a uma OPA e os accionistas

minoritários que deveriam ser visados pela mesma. Para o autor “em um cenário de

OPA obrigatória, os accionistas minoritários podem exigir a retirada da sociedade

visada, mediante uma adequada compensação”128

.

Secção II

A OPA Obrigatória e o Direito de Exoneração

1. A OPA Obrigatória como Direito de Exoneração

É indiscutível que uma das razões da consagração legal das OPA obrigatórias é

conceder a possibilidade de saída aos sócios minoritários.

E é justamente neste ponto que se têm configurado as OPA obrigatórias como

um direito de exoneração.

Como já analisado, supra, Menezes Cordeiro e Pedro Pais de Vasconcelos

consideram existir a possibilidade de exoneração dos accionistas minoritários detentores

de valores mobiliários que deveriam ter sido visados por OPA obrigatória e não foram.

Para Paulo Câmara, a configuração das OPA obrigatórias como direito de

exoneração encontra algumas adversidades. A primeira consiste no facto de “a

exoneração define-se por consistir num direito à saída voluntária de um sócio perante a

sociedade, ao passo que o dever de lançamento de oferta se aplica e desenvolve como

124

PAULO CÂMARA, Manual de direito…, pág. 621. 125

PAULO CÂMARA, Manual de direito…, pág. 621. 126

MENEZES CORDEIRO, Manual de direito das sociedades II, pág. 972. 127

PEDRO PAIS VASCONCELOS, Concertação de accionistas, exoneração e opa obrigatória em

sociedades abertas, Direito das Sociedades em Revista - Ano 2 - Volume 3, Almedina, Coimbra, 2010,

pág. 57. 128

MENEZES CORDEIRO, Manual de direito das sociedades II, pág. 972.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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um dever constituído na esfera de um titular de uma participação qualificada em

sociedade aberta perante outro titular de valores mobiliários129

.”

Permitindo-me discordar com o autor esta primeira adversidade não o é, será

apenas uma distinção de figuras, que quanto a mim visam o mesmo objectivo

primordial, a protecção de titulares minoritários de participações sociais130

. Aqui a

diferença do sujeito passivo não é relevante uma vez que o resultado final é o mesmo.

A lei deve ser interpretada no sentido funcional e aqui a função de ambos os

regimes é a protecção de accionistas minoritários que viram alteradas as condições da

sociedade, para que estes possam dela sair sem perder o seu investimento. Assim, não

deve o direito de exoneração ser definido apenas pelo lado passivo mas sim pelo objecto

do direito que visa tutelar.

A outra adversidade apontada pelo autor é a de que “a contrapartida pode

consistir em valores mobiliários, o que aumenta a distância em relação à figura da

exoneração.”

Este argumento não pode ser interpretado na sua visão mais restrita uma vez que

a lei prevê que quando a contrapartida consiste em valores mobiliários estes devem ter

comprovada liquidez e devendo existir também uma alternativa monetária. Veja-se aqui

mais uma vez a protecção do direito de exoneração a funcionar.

Paulo Câmara131

, socorre-se também o princípio da livre transmissibilidade de

acções.

Como já analisado anteriormente este princípio nem sempre funciona em todas

as sociedades anónimas, e ainda que funcione, nem sempre será pelo justo valor (deve

aqui atender-se às variações de mercado, sendo que o mercado nem sempre estará

disponível para pagar o real valor das acções sobretudo quando a procura é inferior à

oferta).

As tomadas de controlo acarretam vários riscos para os sócios nomeadamente

riscos de: intervenção regulatória, financeiros e de má gestão sendo que as conclusões

de uma tomada de controlo são imprevisíveis, e é esta imprevisibilidade que justifica o

direito de exoneração.

129

PAULO CÂMARA, Manuel de Direito…, pág. 640. 130

Neste sentido, ANA PERESTRELO DE OLIVEIRA, Opa obrigatória e controlo indirecto in direito

das sociedades - ano iv (2012) número 3, pág.37, “ o direito de fazer cessar unilateralmente a qualidade

de sócio, com fundamento na inexigibilidade de permanência na sociedade, a hipótese consubstancia-se,

materialmente, num direito de exoneração, embora atípico, desde logo por ser exercido não contra a

sociedade da qual o sócio se exonera mas antes contra outro sócio.” 131

PAULO CÂMARA, Manual de direito …, pág. 642.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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2. Conclusões

Uma das mais importantes premissas do dever de lançar uma OPA é a protecção

das minorias, dos accionistas minoritários.

As OPAS obrigatórias visam conceder ao sócio, tal como o direito de

exoneração, a possibilidade de se desvincular de uma sociedade em que existiu uma

alteração profunda da titularidade das acções e que conduziu a uma tomada de controlo.

Em termos estruturais o direito dos accionista visados por OPAS obrigatórias é

igual ao direito de exoneração. Em ambos os casos existe um direito a que alguém (a

sociedade, outro sócio ou terceiro, no caso da OPA o accionista a quem incumbe esse

dever) adquira ou faça adquirir a sua participação social mediante o pagamento de um

valor cujo método de cálculo é determinado por lei.

A alteração do sujeito passivo não releva para a execução do âmbito de

protecção das normas, tanto da exoneração como da OPA obrigatória, que será a

protecção das minorias que se vêem confrontadas com alterações substanciais na

sociedade em que ingressaram e na qual podem já não rever-se, nem a si, nem às suas

intenções de investimento.

Face ao exposto apenas podemos concluir que o dever de lançamento de uma

OPA se consubstancia num verdadeiro direito de exoneração, atípico, pela característica

diferenciadora do sujeito passivo mas ainda assim com idêntico fim de tutela normativa.

CAPITULO VIII

Conclusões

1. O direito de exoneração é um direito exclusivo dos sócios, de natureza

potestativa, renunciável a posteriori, unilateral e que se efectiva com o reembolso do

capital.

2. Este direito surgiu nas Ordenações Filipinas com direito de renúncia e conduzia

directamente à dissolução da sociedade, ainda que, sobre aquele que exercesse o direito

de renúncia impedisse o dever de indemnizar os restantes sócios.

3. Nas Companhias Pombalinas houve uma evolução no que tange à exoneração

estabelecendo-se que a mesma não conduziria de imediato à dissolução da sociedade,

mas o sócio que renunciasse teria direito a ser ressarcido.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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4. O Código Comercial de 1833 seguiu, no que à exoneração concerne, o desígnio

das Ordenações Filipinas efectivando-se a saída do sócio através da dissolução da

sociedade.

5. A lei 22 de Junho de 1867, reguladora das sociedades anónimas, não se

pronunciou sobre esta matéria.

6. No Código Comercial de 1888 foi introduzida a tipificação mercantil,

diferenciando-se os tipos societários. O direito de desvinculação apenas seria aceite em

casos atípicos. A desvinculação apenas é abordada nesta senda a propósito das

sociedades em nome colectivo de duração indeterminada.

7. A 11 de Abril de 1907 foi criada a lei reguladora das sociedades por quotas. Esta

lei veio prever para aquelas sociedades a possibilidade de exoneração quando: (i)

quando o sócio se opusesse com a redução, reintegração ou aumento do capital social;

(ii) quando o sócio não concordasse com a procrastinação do prazo de vigência da

sociedade; (iii) quando o sócio não estivesse de acordo com a fusão da sociedade.

8. A previsão legal da possibilidade do exercício do direito de exoneração sem que

tal conduzisse à dissolução da sociedade teve consagração no Código Civil de 1966.

9. Com a entrada em vigor do Código Comercial actual regularam-se regras

concretas para o exercício do direito de exoneração em todos os tipos societários.

10. A primeira referência legislativa ao direito de exoneração foi feita no Código

Comercial Italiano de 1865. Contudo foi o Código de Comércio de 1882 no seu artigo

198.º a regular pela primeira vez o direito de exoneração. A referida disposição legal

consagrou como causas de exoneração a fusão, a reintegração ou aumento do capital

social, modificação do objecto social e prorrogação da duração da sociedade.

11. Em 1942, com a entrada em vigor do novo Código Civil italiano, foi reforçada a

tendência da excepcionalidade do direito de exoneração. Esta consagração mais não fez

que admitir o que vinha a tornar-se usual desde 1915. A evolução legislativa, natural,

traduziu-se em um retrocesso para o direito de exoneração. Esta possibilidade de saída

deixou de ser admitida nos casos de fusão, procrastinação do tempo de vida da

sociedade, incorporação e aumento do capital social. Ficaram como causas de

exoneração possíveis a reavaliação do valor das entradas, a transferência de sede para o

estrangeiro e a modificação do objecto social.

Com o CCit de 1942 passou também a ser exigida forma para a declaração de

exoneração, devendo esta passar a fazer-se por carta registada.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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12. Actualmente, o direito di ricesso, pode estar previsto em causas legais

obrigatórias, causas legais não obrigatórias e em causas estatutárias. As causas legais

obrigatórias não podem ser afastadas pelo pacto social, a sua verificação origina,

sempre, a possibilidade de saída do socio. As causas legais não obrigatórias de

exoneração estão previstas na lei mas podem ser derrogadas pelos estatutos. As

cláusulas estatutárias surgiram no âmbito da reforma de 2003 e são admitidas desde que

as sociedades não hajam recorrido ao mercado do capital de risco.

13. O direito de exoneração sempre foi omisso na lei e pouco discutido na doutrina.

Ainda assim, tende a ser admitido em cláusulas estatutárias, por alguma doutrina e

jurisprudência.

14. No regime actual, a lei francesa, é praticamente omissa em relação ao direito de

exoneração, sendo que para as sociedades anónimas vigora o princípio da livre

transmissibilidade de acções.

15. No direito espanhol, o direito de exoneração, apelidado de derecho de sepracíon,

surgiu no Código de Comércio de 1829. Era admitida, no âmbito desta legislação, a

consagração estatutária do direito de exoneração.

16. Mais tarde, a legislação, veio impedir a consagração do instituto nas sociedades

anónimas. Esta previsão manteve-se até 1868.

17. Em 1951, com a aprovação da ley das sociedades anonimas, foi derrogado o

impedimento anterior, podendo a partir daí consagrar-se nos estatutos causas de

exoneração nos casos de alteração do objecto social, transformação e fusão de

sociedades.

18. Na actualidade, vigora o texto refundido de la ley de sociedades anonimas,

permitindo o direito de exoneração nos causos de alteração do objecto social,

transferência de sede para o estrangeiro e perante transformação de sociedade.

19. Em Portugal, no âmbito da legislação em vigor e a propósito das associações, o

regime de saída esta na livre disponibilidade do associado contudo sem direito de

restituição das quotizações já pagas e com perda do direito ao património social. Este

regime, nas associações, aproxima-se da figura do direito de exoneração.

20. Nas sociedades civis contemplou o legislador num verdadeiro regime do direito

à exoneração. Tal acontecerá quando o sócio por sua vontade dissolve os vínculos

societários. O regime do código civil, para as sociedades civis, permite a desvinculação

do sócio ad nutum e fundada em justa causa.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

63

São especialidades da regulação, para o exercício do direito de exoneração, o prazo

imposto pelo artigo 1002.º, nº 3 do CC, a proibição de supressão ou modificação das

cláusulas legais e a necessidade de unanimidade para serem supridas ou modificadas

cláusulas contratuais.

21. Nas sociedades comerciais existem, além de outras, causas legais de exoneração

aplicáveis a todos os tipos societários. São elas: a transferência de sede para estrangeiro

e regresso à actividade de sociedade dissolvida.

22. A permissão de exoneração no caso de discórdia da transferência de sede para o

estrangeiro, reside no facto de não ser exigível ao sócio, perante tais alterações, tanto

legais como geográficas, que se mantenha em sociedade com lei pessoal diferente da

contratada inicialmente e impedir que os direitos societários fiquem desprotegidos na

medida do seu exercício face a tais alterações e consequentes implicações.

23. A exoneração com fundamento na deliberação de regresso à actividade de

sociedade dissolvida apenas é possível depois de iniciada a partilha, na vez que até ai a

sociedade mantém a sua personalidade jurídica podendo revogar a decisão de

dissolução.

24. Nas sociedades em nome colectivo e em comandita simples existem duas causas

legais, específicas, que permitem exercício do direito de exoneração. São elas a

exoneração ad nutum e a exoneração fundada em justa causa.

25. Existem dois requisitos para a exoneração ad nutum nas sociedades em nome

colectivo: i) a duração da sociedade não ter sido fixada, ter sido fixada uma duração por

toda a vida de um sócio ou ter sido fixada duração superior a trinta anos e ii) o vínculo

do sócio já durar há pelo menos dez anos. Este prazo é supletivo, no que respeita ao

mínimo, os sócios podem fixar outro prazo que não os dez anos. Já no que respeita ao

máximo este prazo é imperativo, não podendo os sócios aumentá-lo por via do pacto

social.

26. Se ainda não tiverem decorrido dez anos desde o ingresso na sociedade a

exoneração só será possível se houver justa causa ou estivermos perante uma causa

legal de exoneração. O artigo 185.º, nº 2 do CSC prevê situações de justa causa. As

hipóteses elencadas na lei têm carácter enunciativo e não taxativo.

27. São causas legais aplicáveis às sociedades por quotas: vícios da vontade no

ingresso para a sociedade, a interpelação para pagamento de entrada relativa a nova

quota resultante de aumento de capital; a proibição de cessão de quotas; oposição à

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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deliberação de aumento de capital a subscrever total ou parcialmente por terceiros;

oposição à deliberação de modificação do objecto social; oposição à prorrogação da

sociedade; oposição à transferência de sede (estatutária) para o estrangeiro; oposição à

deliberação de regresso à actividade de sociedade dissolvida e não exclusão de um sócio

ou não promoção da sua exclusão.

28. O erro, o dolo, a coacção e a usura na celebração do contrato de sociedade são,

nos termos do artigo 45.º, n.º 1 do CSC, fundamentos do direito à exoneração. Para

aplicação analógica da norma a outros vícios da vontade deverá ser feita uma análise

casuística.

29. A solução encontrada pelo legislador para proteger os sócios antigos quando

estejamos perante interpelação para pagamento de entrada relativa a nova quota

resultante de aumento de capital foi possibilitar o direito de exoneração aos mesmos.

Esta possibilidade não esta dependente da posição do sócio na deliberação de aumento

de capital apenas é exigido para o exercício do direito que o sócio tenha a sua quota

liberada e que lhe haja sido exigido o pagamento relativo a novas entradas.

30. Quando exista uma proibição de cessão de quotas o sócio pode exonerar-se

desde que tenham decorrido dez anos após o seu ingresso na sociedade ou dez anos

desde a introdução da proibição. Este prazo é, em nosso entender, imperativo tanto para

o mínimo como para o máximo.

31. O direito de exoneração por oposição à deliberação de capital a subscrever total

ou parcialmente por terceiros visa proteger o carácter pessoal deste tipo societário assim

como o direito ao voto e aos lucros. Só podem exercer o direito de exoneração os sócios

discordantes.

32. A modificação do objecto social determina a possibilidade do sócio poder

exonerar-se. Esta modificação deve ser substancial, não sendo suficientes pequenas

alterações. Por força de normativo, artigo 240.º, n.º1do CSC apenas os sócios

discordantes se podem exonerar, não sendo admitida a exoneração aos sócios que se

abstiveram nem aos ausentes.

33. Quanto ao direito de exoneração por oposição à prorrogação da sociedade

apenas assiste aos sócios discordantes e desde que a mesma seja imposta por

deliberação social.

34. A oposição à transferência de sede (estatutária) para o estrangeiro, prevista no

artigo 240.º, nº1 do CSC, permite também a exoneração ao sócio discordante.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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35. O regresso à actividade de sociedade dissolvida, como anteriormente referido e

analisado, confere direito de exoneração. Contudo sendo esta uma causa legal aplicável

a todas as sociedades e uma causa legal específica aplicável às sociedades por quotas

cumpre saber de que preceito legal o sócio quotista deve socorrer-se. O sócio quotista

deve, depois de analisadas, as diferentes posições doutrinais, usar a disposição legal que

face ao caso concreto lhe for mais favorável.

36. Quando haja juta causa de exclusão de um sócio e a sociedade não reconhecer,

por decisão da maioria, esse facto pode o sócio discordante exonerar-se.

37. As causas legais aplicáveis, especificamente, às sociedades anónimas são: os

vícios da vontade no ingresso para a sociedade; a oposição à constituição de sociedade

anónima europeia por fusão e a transferência de sede de sociedade anónima europeia.

38. É válido para a exoneração baseada em vícios da vontade no ingresso para a

sociedade tudo o anteriormente exposto, a este respeito, a propósito das sociedades por

quotas.

39. Ainda, referente às sociedades anónimas, e no seguimento de transposição de

legislação comunitária, o legislador concedeu ao accionista a possibilidade de se

exonerar quando discorde de processo fusão para constituição de sociedade anónima

europeia.

40. A mesma possibilidade foi, igualmente, atribuída pelo Dec. Lei 2/2015 (RJSE),

quando o accionista discorde com a transferência de sede de sociedade anónima

europeia.

41. Além das causas de exoneração legalmente previstas a lei concede aos sócios a

possibilidade de alargarem o leque de hipóteses de desvinculação nos estatutos

societários.

42. O artigo 185.º do CSC vem permitir para as sociedades em nome colectivo, a

possibilidade de consagração de cláusulas contratuais de exoneração, contudo sem a

imposição de limites.

43. Para as sociedades por quotas previu o legislador, no artigo 240.º, n.º1, a

admissibilidade de tais cláusulas, desde que respeitem os limites estabelecidos no artigo

240.º, n.º 8.

44. De entre as cláusulas contratuais de exoneração cumpre dividi-las entre as

típicas e as atípicas.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

66

45. Como cláusulas contratuais típicas podemos encontrar na legislação portuguesa

a transformação de sociedade, a fusão e a cisão.

46. A transformação de sociedade será causa de exoneração se prevista nos

estatutos, conforme artigo 137.º, n.º1 do CSC.

47. Quanto à fusão, dada a sua natureza transformadora, é admitida como cláusula

contratual de exoneração no artigo 105.º do CSC que permite tal direito desde que

atribuído pela lei ou pelo contrato societário.

48. A doutrina tem-se debruçado sobre tal preceito, procurando avaliar se a fusão

será por si só uma causa de exoneração. A maioria da doutrina pronuncia-se em sentido

negativo.

49. Relativamente à cisão aplicar-se-ão as regras respeitantes à fusão, por força do

artigo 120.º do CSC.

50. A lei é omissa quanto à questão da admissibilidade de cláusulas contratuais nas

sociedades anónimas. As cláusulas contratuais de exoneração devem ser permitidas nas

sociedades anónimas. Estamos no domínio da autonomia privada. Existem autores que

defendem a inadmissibilidade de tais cláusulas baseando-se em argumentos que não

prevalecem. Concluiu-se pela admissibilidade de tais cláusulas nas sociedades

anónimas.

51. Não existe no CSC qualquer referência à exoneração por justa causa nas

sociedades anónimas. O tema divide a doutrina. Concluímos pela sua admissibilidade

enquanto causa de exoneração autónoma independente de causa legal ou contratual.

Esta, contudo, deverá sempre ser baseada nos princípios gerais do direito, da boa-fé, da

justiça e da proibição do abuso de direito.

52. Admitir uma cláusula contratual ad nutum é admitir o desinvestimento puro sem

dependência de uma causa. Concluímos pela ilicitude de tais cláusulas contratuais.

53. O legislador consagrou, no artigo 24.º do CSC, a admissibilidade de existirem,

no pacto social, direitos especiais que conferem a determinados sócios uma vantagem

em relação aos demais. Pode o direito de exoneração consagrar-se como direito

especial?

54. O exercício do direito de exoneração é reservado aos sócios.

55. O usufrutuário não pode exercer o direito de exoneração.

56. Perante uma situação de contitularidade de participações sociais o direito de

exoneração deve, quando estejamos perante uma causa objectiva ou subjectiva que

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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afecte todos os contitulares, ser exercido por decisão unânime de todos os contitulares.

Na falta de acordo, na senda das opiniões mais recentes, os contitulares podem exercer o

seu direito autonomamente.

57. O direito de exoneração está vedado ao credor pignoratício mas esteve deve

autorizar o seu exercício.

58. Quando uma participação social está penhorada, arrestada, arrolada ou

apreendida em processo de falência ou insolvência o seu titular mantém o direito de se

exonerar.

59. O accionista sem direito de voto e os sócios impedidos de votarem mantém o

direito a exonerar-se.

60. O exercício do direito de exoneração efectua-se através de uma declaração

unilateral e receptícia. É elemento essencial da declaração a invocação da (s) causa (s)

de exoneração.

61. O momento da perda da qualidade de sócio será o da amortização ou aquisição

da participação social.

62. Desde o momento da emissão da declaração até à amortização ou aquisição da

participação o sócio deverá ver suspensos os seus direitos e obrigações sociais, com

excepção dos poderes necessários para a concretização da sua pretensão de saída.

63. São obrigatórias as OPAS que decorrem de imposição legal (artigo 187.º do

CMVM).

64. Pactuamos com os autores que entendem existir um direito subjectivo dos sócios

minoritários que deveriam ser visados pela OPA obrigatória e que se configura como

um direito de exoneração.

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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ÍNDICE GERAL

MODO DE CITAR………………………………………………………………………2

ÍNDICE DE ABREVIATURAS……………………………………………...…………3

INTRODUÇÃO………………………………………………………………………….4

PRIMEIRA PARTE

ENQUADRAMENTO GERAL

Noção e Principais Elementos Caracterizadores

1. Noção de direito de exoneração……………………………………….................6

2. Elementos Caracterizadores…………………………………………...................7

2.1 Direito Exclusivo dos Sócios……………………………………………………7

2.2 Direito Potestativo……………………………………………………………….7

2.3 Direito Renunciável à posteriori…………………………………………………7

2.4 Realização através de uma Declaração Receptícia. Direito Unilateral………….7

2.5 Efectivação com o Reembolso do Capital………………………….....................7

SEGUNDA PARTE

A EVOLUÇÃO HSITÓRICA DO DIREITO DE EXONERAÇÃO NO

DIRETO PORTUGUÊS

1. Das Ordenações Filipinas às Companhias Pombalinas………………………….9

2. Código Comercial de 1833 à Lei das Sociedades Anónimas de 1867………….10

3. Código Civil de 1867…………………………………………………………...11

4. Código Comercial de 1888 até ao Decreto-lei 262/86 de 2 de Setembro……....11

TERCEIRA PARTE

O DIREITO DE EXONERAÇÃO NO DIREITO COMPARADO

1. O “diritto di recesso” no direito italiano……………………………………….13

1.1. Breve resenha histórica do direito de exoneração no direito italiano………….13

1.2. Direito Vigente…………………………………………………………………18

2. O “droit de retrait” no direito francês………………………………………….21

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2.1. Breve resenha histórica do direito de exoneração no direito francês…………..21

2.2. Direito Vigente…………………………………………………………………21

3. O “derecho de separación” no direito espanhol………………………………...23

3.1. Breve resenha histórica do direito de exoneração no direito espanhol…………23

3.2. Direito Vigente………………………………………………………………....23

QUARTA PARTE

O REGIME ACTUAL DO DIREITO DE EXONERAÇÃO NO DIREITO

PORTUGUÊS

CAPÍTULO I

ENQUADRAMENTO GERAL

1. Nas Associações………….…………………………………………………….24

2. Nas Sociedades Civis…….…………………………………………………….25

3. Nas Sociedades Comerciais…………………………………………………….26

CAPÍTULO II

CAUSAS LEGAIS DE EXONERAÇÃO

SECCÇÃO I

Causas Legais Aplicáveis a Todas as Sociedade Comerciais

1. Transferência de Sede para o Estrangeiro………………………………………26

2. Regresso à Actividade de Sociedade Dissolvida……………………………….27

SECCÇÃO II

Causas Legais Aplicáveis às Sociedades em Nome Colectivo e em Comandita Simples

1. Direito de Exoneração Ad Nutum………………………………………………29

2. Exoneração do Sócio fundada em Justa Causa………………………………...30

SECCÇÃO III

Causas Legais Aplicáveis às Sociedades Por Quotas

1. Vícios da Vontade no Ingresso para a Sociedade………………………………32

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2. Direito de Exoneração com Fundamento em Interpelação para Pagamento de

Entrada Relativa a Nova Quota, Resultante de Aumento de Capital…………..33

3. Direito de Exoneração por Existência de uma Proibição de Cessão de Quotas..33

4. Direito de Exoneração por Oposição à Deliberação de Aumento de Capital a

Subscrever Total ou Parcialmente por Terceiros………………………………34

5. Direito de Exoneração por Oposição à Deliberação de Modificação do Objecto

Social…………………………………………………………………………...35

6. Direito de Exoneração por Oposição à Prorrogação da Sociedade…………….35

7. Direito de Exoneração por Oposição à Transferência de Sede para o

Estrangeiro…………………………………………………….……………….36

8. Direito de Exoneração por Oposição ao Regresso à Actividade de Sociedade

Dissolvida………………………………………………………………………36

9. Direito de Exoneração com fundamento em Não Exclusão de um Sócio ou pela

Não Promoção da sua Exclusão………………………………………………..37

SECCÇÃO IV

Causas Legais Aplicáveis às Sociedades Anónimas

1. Vícios da Vontade no Ingresso para a Sociedade. Remissão………………….37

2. Oposição à Constituição de Sociedade Anónima Europeia por Fusão………..37

3. Transferência de Sede de Sociedade Anónima Europeia………………………38

CAPÍTULO III

CAUSAS CONTRATUAIS DE EXONERAÇÃO

SECCÇÃO I

Típicas

1. Transformação de Sociedade…………………………………………………...39

2. A Fusão…………………………………………………………………………40

3. A Cisão………………………………………………………………………....41

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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS

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SECCÇÃO II

Atípicas

1. Cláusulas Contratuais Atípicas nas Sociedades Anónimas…………………….42

2. Direito Comparado……………………………………………………………..44

3. Posição Adoptada………………………………………………………………44

4. Cláusulas Contratuais de Exoneração por Justa Causa nas Sociedades

Anónimas……………………………………………………………………….47

5. Cláusulas Contratuais de Exoneração Ad Nutum………………………………48

CAPÍTULO IV

DIREITOS ESPECIAIS E DIREITO DE EXONERAÇÃO

1. Direitos Especiais………………………………………………………………49

2. Direitos Especiais e o Direito de Exoneração…………………………………..49

CAPÍTULO V

EXERCÍCIO DO DIREITO DE EXONERAÇÃO

Secção I

Da Legitimidade

1. Legitimidade……………………………………………………………………50

1.1. O Usufruto de Participações Sociais……………………………………………51

1.2. Contitularidade de Participações Sociais……………………………………….51

1.3. O Penhor………………………………………………………………………..53

1.4. A penhora, o arresto, o arrolamento ou a apreensão em processo de falência ou

insolvência……………………………………………………………………..53

1.5. Os accionistas sem direito de voto e os sócios impedidos de votar…………….53

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Secção II

Da Declaração

Da declaração…………………………………………………………………...54

CAPÍTULO VI

EFEITOS DO EXERCÍCIO DO DIREITO DE EXONERAÇÃO

Perda do Status Socii……………………………………………………………54

CAPÍTULO VII

O DIREITO DE EXONERAÇÃO EXERCIDO ATRAVÉS DE OFERTAS

PÚBLICAS DE AQUISIÇÃO OBRIGATÓRIAS

Secção I

As Ofertas Públicas de Aquisição………………………………………………56

O Dever de Lançamento de uma OPA………………………………………….57

Secção II

A OPA Obrigatória e o Direito de Exoneração

1. A OPA Obrigatória como Direito de Exoneração……………………………58

2. Conclusões……………………………………………………………………60

CAPÍTULO VIII

CONCLUSÕES

1. Conclusões……………………………………………………………………...60

2. Bibliografia……………………………………………………………………..68