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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
ALUNA: Mónica Pereira Sousa Mota da Fonseca
Área: Ciências Jurídico-Empresariais
Orientadora: Professora Maria de Lurdes Pereira
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS
CONTRATUAIS - EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
Abril 2018
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
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Modo de Citar
Na primeira citação, as obras serão citadas, identificando-as pelo nome do autor,
título da obra, volume, edição, editora, local de publicação, ano, indicando a página ou
páginas.
Posteriormente, as obras serão citadas pelo nome do autor, primeira ou primeiras
palavras do título e indicação da página ou páginas.
Em cada note de pé de página, sendo citado mais de um autor, serão indicados
por ordem alfabética.
Quando sejam referenciadas disposições legais sem indicação da fonte elas
correspondem a artigos do código das sociedades comerciais, aprovado pelo decreto-lei
n.º262/86, de 2 de Setembro.
Poderão ser utilizadas abreviaturas constantes da lista que se segue.
Foram consideradas obras publicadas até Dezembro de 2016.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
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Índice de Abreviaturas
A. – Autor (a)
AA. – Autores
Ac. – Acórdão
Acs. – Acórdãos
Al. – Alínea
Art.- Artigo
Arts.- Artigos
BMJ – Boletim do Ministério da Justiça
CCIt – Código Civil Italiano
CC – Código Civil Português (1966)
CCom – Código Comercial Português (1888)
Cit – Citado
CPC – Código de Processo Civil
CRP – Constituição da República Portuguesa
CSC – Código das Sociedades Comerciais Português (1986)
CVM – Código dos Valores Mobiliários
D.L. – Decreto-lei
OPA – Oferta Pública de Aquisição
Pág. – Página
SS. – Seguintes
Vol. – Volume
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho, elaborado no âmbito do mestrado em ciências jurídico-
empresariais, leccionado na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, visa
compreender a figura do direito de exoneração no direito comercial português, em
especial nas sociedades anónimas.
O direito de exoneração é um mecanismo que permite aos sócios, mediante a
verificação de certas circunstâncias, desvincularem-se da sociedade obtendo o
reembolso da sua participação. Pode traduzir-se em um “…direito do sócio, que quebra
o princípio de que não se pode derrogar ou revogar unilateralmente um contrato…”1.
Este mecanismo visa proteger várias finalidades, entre as mais relevantes estarão
a protecção dos sócios no sentido de não ficarem reféns da vontade da maioria no que
concerne a decisões de especial relevo na vida da sociedade e a possibilidade de
desvinculação quando haja existido um vício da vontade na entrada para a sociedade.
No presente trabalho tentei, primariamente, uma abordagem ampla à figura do
direito de exoneração, nomeadamente quanto à sua noção e aplicabilidade. Foi preciso
compreender o seu surgimento no direito português, bem como a contextualização da
sua evolução histórica. Outra pertinente e inevitável abordagem é a comparação entre
diferentes ordenamentos jurídicos onde o direito de exoneração é também
comtemplado. Foram analisados os ordenamentos jurídicos europeus mais influentes, o
italiano, o francês e o espanhol.
Posto isto, era fulcral a análise do regime do direito de exoneração no direito
português, balizando o instituto e demonstrando o seu funcionamento. Na análise do
instituto deparamo-nos com disposições legais que o permitem, bem com a
admissibilidade de cláusulas contratuais que o contemplem. E é nestas últimas, a
propósito das sociedades anónimas, que surgem as maiores reservas e divergências
doutrinais, derivadas do silêncio do legislador, que foi preciso tentar interpretar e
integrar.
Têm sido apontadas várias causas para este silêncio, designadamente, o princípio
da livre transmissibilidade de acções em especial nas sociedades abertas. Isto porque
esta possibilidade resolveria muitos dos problemas que o direito de exoneração se
propõe a resolver, porém esta possibilidade nem sempre se verifica.
1 JOSÉ DE OLIVEIRA ASCENSÃO, Direito Comercial: Sociedades Comerciais, Parte Geral, Vol. IV,
Faculdade de Direito de Lisboa, Lisboa, 2000, pág.371.
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Outra questão que decorre do estudo da figura do direito de exoneração é a sua
previsão distinta consoante o tipo societário em causa. Esta questão é tão mais
importante quando abordamos as sociedades por quotas e as sociedades anónimas,
ambas sociedades de capitais, e em que se verifica uma disparidade enorme entre os
regimes. O presente trabalho tentou dar resposta a estas e outras questões relevantes
para aplicação do mecanismo do direito de exoneração.
Finalmente, no seguimento de alguns estudos recentes2, foi feita uma incursão
pela disciplina do direito dos valores mobiliários, onde se pensa existir um direito de
exoneração em sentido impróprio que é exercido através das ofertas públicas de
aquisição obrigatórias. Esta figura do direito dos valores mobiliários visa permitir às
minorias desvincularem-se da sociedade, quando esta esteja sobre domínio e controlo de
uma determinada entidade, sem que para isso haja perda do investimento efectuado, ou
pelo menos que haja uma perda diminuta. O motivo desta figura é conferir ao (s) sócio
(s) a possibilidade de abandonarem a sociedade bastando apenas para isso alienarem a
sua participação social.
2 MARIA ELISA DE SOUSA CARMO, A OPA obrigatória como direito de exoneração, Dissertação de
Mestrado em Direito e Gestão, Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2014.
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PRIMEIRA PARTE
ENQUADRAMENTO GERAL
Noção e Principais Elementos Caracterizadores
1. Noção de direito de exoneração
O direito de exoneração é um direito adquirido em simultâneo com a
participação social, é o direito do sócio de retirar-se, desvincular-se da sociedade
mediante a ocorrência de certas condições legais ou contratuais.
A formação de qualquer sociedade, seja ela comercial ou civil, é realizada
através de um contrato, contrato esse que, à semelhança dos demais, tem origem na
liberdade contratual.
Imperando nas sociedades comerciais a regra do respeito e da imposição pelas
decisões da maioria, o direito de exoneração visa tutelar as minorias quando as decisões
societárias têm significativo relevo e não seja conveniente ou justo serem suportadas
pelos que não as aprovaram.
O direito de exoneração é o direito de um sócio abandonar a sociedade, de
natureza potestativa, renunciável a posteriori pelo seu titular, realizável através de uma
declaração receptícia e que se efectiva com o reembolso da participação social.3
3 No Direito português existem várias posições doutrinais no que concerne à definição do direito de
exoneração.
COUTINHO DE ABREU, Curso de Direito Comercial, Vol.II, Das sociedades, 2ª edição, Almedina,
Coimbra, 2007, p.418, define o direito de exoneração dos sócios como “a saída ou desvinculação deste,
por sua iniciativa e com fundamento na lei ou no estatuto, da sociedade”.
DANIELA FARTO BAPTISTA, O direito de exoneração dos accionistas das suas causas, Coimbra
Editora, Coimbra, 2005, pág. 84, concretiza este direito como “ individual não potestativo, inderrogável e
indisponível pela maioria mas renunciável a posteriori pelo seu titular, de exercício unitário e de
consagração legal ou convencional, que permite ao accionista, quando alguma vicissitude societária
torna inexigível a sua permanência na organização social, abandonar voluntaria e unilateralmente a
sociedade anónima a que pertence e que subsiste para além da sua exoneração, através do reembolso do
valor das acções por ele detidas no património social e a consequente extinção da qualidade de sócio que
manteve até então.”
JOÃO MARIANO CURA, Direito de exoneração dos sócios nas sociedades por quotas, Almedina,
Coimbra, 2005, pág. 27, afirma: ” Sendo o direito de exoneração um direito subjectivo, uma vez que o seu
exercício se encontra na livre disponibilidade da vontade do seu titular, apresenta-se como um direito
subjectivo stricto sensu”
JOSÉ OLIVEIRA ASCENSÃO, Direito Comercial: Das sociedades comerciais, Parte Geral, Vol. IV,
pág. 371, “Direito do sócio, que quebra o princípio de não se puder derrogar ou revogar unilateralmente
um contrato”
Mª AUGUSTA FRANÇA, Direito à exoneração, Novas perspectivas do direito comercial, Almedina,
Coimbra, 1988, pág.207, entende que o direito de exoneração será “a faculdade concedida ao sócio de se
afastar da sociedade recebendo o valor da sua participação social”.
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Os contratos não devem ser eternos, nem limitar as opções dos contraentes, uma
vez que tudo muda, também os contratos devem acompanhar estas mudanças.
2. Elementos Caracterizadores do Direito de Exoneração
2.1 Direito exclusivo dos Sócios
O direito de exoneração destina-se exclusivamente aos que, no momento do
facto legalmente previsto para a exoneração, eram sócios da sociedade, não se aplicando
assim aos promitentes-compradores nem a usufrutuários.
2.2 Direito Potestativo
A maioria da doutrina analisa o direito de exoneração como um direito de
natureza claramente potestativa.4 Contrariamente, Daniela Baptista considera-o um
direito subjectivo comum5, justificando a sua posição no facto de a sociedade poder
alterar ou revogar a causa que originou o direito de exoneração e porque apenas
considera concretizado o direito de exoneração quando o sócio é ressarcido do valor da
sua participação social. Cura Mariano6, apresenta como objecção à qualificação do
direito de exoneração como um direito potestativo o facto deste só se efectivar com a
saída do sócio aquando da liquidação.
Ora vejamos. Embora apenas com a liquidação se torne efectiva o fim da relação
societária a verdade é que o direito de exoneração está na livre disponibilidade do sócio
desde que reunidas as condições que permitam a exoneração. A sociedade limita-se a
receber a declaração de intenção do sócio em quebrar o vínculo contratual com aquela.
Isto mais não é que um direito potestativo, tendo o poder de pôr fim àquela relação sem
necessidade de consentimento dos demais.
2.3 Renunciável a posteriori
Alguma doutrina tem-se debruçado sobre a questão da irrenunciabilidade deste
direito. Para alguns pode ser renunciável por cláusula estatutária, com ou sem
unanimidade.
4 No direito Português a doutrina tem sido praticamente unanime.
AMADEU FERREIRA, Amortização de quota e exoneração de sócio, Reflexões acerca das suas
Relações, Lisboa, 1991, pág.23-26
MENEZES CORDEIRO, Manual de Direito das Sociedades, II - Das Sociedades em Especial, 2ª edição,
Almedina, Coimbra, 2007, pág.323.
RAÚL VENTURA, Sociedades por quotas, Vol. II, artigo 240º a 251º, Comentário ao Código das
Sociedades Comerciais, 3ª reimpressão da 2ª edição de 1989, Almedina, Coimbra, 2004 pág.10. 5 DANIELA FARTO BAPTISTA, O Direito de Exoneração dos Accionistas Das Sua Causas, pág. 149-
151. 6 JOÃO CURA MARIANO: Direito de exoneração dos sócios nas sociedades por quotas, pág.27-29.
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À luz do direito Português vigente parece não ser possível a priori renunciar a
este direito, por um lado porque é um imperativo legal que não prevê discricionariedade
na sua aplicação e de outro modo ainda que se vislumbrasse essa possibilidade
desvirtuaria por completo tudo aquilo que o direito de exoneração visa proteger.
Contudo sendo um direito exclusivo do sócio, pertencente à sua, e apenas à sua
esfera jurídica, podendo este usar a faculdade do seu exercício ou não, isto torna este
direito renunciável, à posterior, perante uma concreta causa de exoneração já verificada.
2.4 Realização através de uma declaração receptícia. Direito unilateral.
Dada a natureza potestativa do direito de exoneração, como analisado supra, ele
realiza-se através de uma mera comunicação da pretensão do seu exercício pelo sócio à
sociedade. Esta questão é independente do momento da concretização da exoneração,
dado que a sociedade pode alterar ou revogar a causa que originou a pretensão do
direito de exoneração.
Pode até, porventura, o sócio, antes de reembolsado do valor da sua participação
social, alterar a sua vontade.
Contudo, todo o processo de exoneração tem início na vontade do sócio em
abandonar a sociedade, por não conseguir conceber a continuação daquele contrato,
quando se dirige à sociedade, a expressar o seu desejo, explicando claramente os seus
motivos e pedindo a efectivação daquele direito com o reembolso da sua participação.
Esta declaração não depende de qualquer acto ou mesmo de concordância da
sociedade, dos restantes sócios ou dos administradores.
2.5 Efectivação com o reembolso da capital
A primeira ilação após o envio da declaração de exoneração é a obrigação que
impende sobre a sociedade de fazer extinguir a relação societária.
A extinção desta relação pode acorrer através de diferentes instrumentos de que
a sociedade dispõe, porém todos se concluem no reembolso da participação ao sócio
exonerado.
Em termos gerais, sem prejuízo de análise mais aprofundada para cada tipo
societário, a sociedade pode extinguir a participação social amortizando, adquirindo ou
fazendo adquirir por sócios ou terceiros a participação social.
Em última análise pode a sociedade ser dissolvida, a requerimento de um
interessado, sendo este ressarcido do valor da sua participação social aquando da
dissolução da sociedade.
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Assim, o processo de exoneração apenas fica concluso quando a sociedade,
depois de seleccionado o processo de reembolso, o efectiva.
SEGUNDA PARTE
A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DE EXONERAÇÃO NO DIREITO
PORTUGUÊS
1. Das Ordenações Filipinas às Companhias Pombalinas
A previsão legal do Contrato Social7 e da Companhia verificou-se no
ordenamento jurídico nacional nas Ordenações Filipinas – 1595 a 1603 - (Livro IV,
Título XLIV (do contrato da Sociedade e Companhia), recolhido do Digesto de Justiano
(D., 17, 2: Pro socio).
Estabelecem-se aqui, pela primeira vez, o direito de renúncia. A renúncia de um
sócio impulsionava o termo da sociedade, isto porque conduzia, obrigatoriamente, à
dissolução da mesma.
Verifique-se, no entanto, que apesar da predita realidade algo destrutiva, a
verdade é que os demais sócios não se encontravam ao abrigo de uma penumbra de
completa desprotecção, na medida em que, sobre aquele que exercia o direito à renúncia
impendia o dever de indemnizar os demais sócios pelo prejuízo.
A este preceito, refira-se que, a temática da licitude da livre desvinculação do
sócio, no quadro supra descrito, era objecto de ponderação, assim, bifurcando-se a sua
admissibilidade em dois cenários distintos: (i) cenário das sociedades constituídas por
tempo ilimitado; (ii) cenário das sociedades constituídas com prazo de duração.
Com efeito, cumpre analisar, infra, os condicionalismos verificados em cada um
dos casos individualmente considerados.
Ora, no âmbito das sociedades constituídas por tempo indefinido, era permitida a
livre renúncia sem a verificação de quaisquer óbices ou consequências. Porém, de
contrário, nos casos em que a sociedade havia sido constituída por um determinado
período (com um termo, à priori, definido), existiam circunstâncias em que o direito de
indemnizar não era imposto ao sócio desvinculante, por razões que se reputavam
7 RUI MANUEL DE FIGUEIREDO MARCOS, As companhias pombalinas – Contributo para a
história das sociedades por acções em Portugal, Almedina, Coimbra, 1997, pág. 330.
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indubitavelmente justificativas da sua livre libertação, sem que sobre o mesmo
recaíssem ónus. E assim, os referidos casos concretos em que sócio que pretendia
desvincular-se em momento anterior ao fim do prazo de vigência, eram, habitualmente,
os seguintes: (i) Quando a manutenção da relação com outro sócio fosse impraticável
(incompatibilidades pessoais); (ii) Quando lhe fosse imposto o ingresso numa missão
oficial; (iii) Quando o mesmo tivesse violado alguma regra correlativa da sua condição
de carácter de permanência na sociedade; (iv) Quando lhe tivesse sido
embargado património, objecto de entrada para a sociedade.
Sucede que, posteriormente, no século XVII, nas Companhias Pombalinas,
constata-se uma evolução no que tange a exoneração do sócio, sendo que numa lógica
mais proteccionista dos direitos dos sócios e afastando-se da realidade algo redutora que
subjazia na consequência de dissolução imediata da sociedade com a saída de um sócio,
estabeleceu-se que a renúncia não dava lugar à imediata dissolução. Com esta alteração
acolheu-se a ideia de que se sucedessem modificações supervenientes, consideradas de
especial expressão das cartas da instituição ou caso se verificassem incumprimentos no
que tangia aos privilégios atribuídos pelo rei, não haveria a dissolução imediata.
Ora, a livre desvinculação, nestes dois panoramas, originava a possibilidade
àquele que renunciasse a ser ressarcido com o capital representativo das suas acções,
num cúmulo com os lucros que à data lhe fossem devidos. 8
2. Código Comercial de 1833 à Lei das Sociedades Anónimas de 1867
Em 1833, em Portugal, foi aprovado o primeiro Código Comercial Português,
com José Ferreira Borges (respectivo autor), não sendo de somenos importância referir
que o mesmo era uma réplica do Código Comercial Francês criado em 1807.
Neste código o direito de exoneração não tinha consagração autónoma, era
exercido de forma indirecta, através da possibilidade de dissolução da sociedade.
Assim, quando a sociedade não tivesse duração fixada previa o artigo CLXVIII
(N.º693) que qualquer sócio poderia requere a dissolução da sociedade, desde que
informasse os restantes sócios da sua intenção. Quando a duração da sociedade fosse
limitada qualquer sócio poderia requerer judicialmente a sua dissolução nos termos do
artigo CLXXI (N.º 696) mediante prova de um dos seguintes factos: mau
comportamento de um dos restantes sócios; impossibilidade de continuação da
8 RUI MANUEL DE FIGUEIREDO MARCOS, As companhias pombalinas, pág. 599, nota 1610
enuncia a título exemplificativo estas cláusulas.
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sociedade nos termos em que foi convencionada ou existindo abuso de boa-fé por parte
de qualquer um dos restantes sócios.
A saída do sócio efectivava-se através da dissolução da sociedade.
A lei de 22 de Junho de 1867, reguladora das Sociedades Anónimas, não
introduziu qualquer alteração ao regime em vigor da exoneração dos sócios.
3. Código Civil de 1867
No Código Seabra, a propósito do contrato de sociedade civil, o direito de renúncia
manteve as mesmas admissibilidades nos dois cenários, supra ilustrados, ou seja, no
caso das sociedades constituídas por tempo ilimitado e nos casos das sociedades
constituídas por tempo determinado.
4. Código Comercial de 1888 até ao Decreto-lei 262/86 de 2 de Setembro
A 28 de Junho de 1888 foi promulgado o novo Código Comercial Português,
produto dos esforços do então Ministro da Justiça, Veiga Beirão, através do qual se
atestou a tipificação mercantil, diferenciando-se tipos societários, tais como: as
sociedades em nome colectivo, as sociedades anónimas e as sociedades em comandita.
No âmbito deste código a temática da dissolução aplicava-se a qualquer uma das
tipologias mercantis, sendo que, a feição encerrada pelo mesmo que apontava no sentido
de admissibilidade da livre desvinculação apenas era aceite em casos atípicos, podendo,
desde que houvesse consensualidade, os estatutos regular esta realidade.9 E mais: as
regras do código civil não se aplicavam subsidiariamente ao direito de exoneração,
imbuído no novo Código Comercial Português.
No novo Código Comercial, no capítulo da dissolução, dentre várias formas de
dissolução, porém, na vertente ora em análise e que nos cumpre descortinar, consagrou-
se, a título pontual, a hipótese de dissolução pela vontade de um único sócio, no caso
das sociedades por tempo indeterminado, desde que se tratassem de sociedades em
nome colectivo. Todavia, esta regra era apenas de exclusiva aplicação às sociedades em
nome colectivo, não se aplicando às sociedades anónimas e às sociedades comanditas.
Acontece que, o Código Comercial de 1888, nas sociedades em comandita por
acções, estipulou que se na circunstância de em resultado de deliberação dos sócios
houvesse sido decidido a demissão de um gerente, concedia-se àqueles que eram os
9 RAÚL VENTURA, Sociedades Comerciais: dissolução e liquidação de sociedades, Comentário ao
Código das Sociedades Comerciais, Almedina, Coimbra, 1987, Pág. 453.
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sócios opositores daquela resolução, o recurso à prerrogativa de libertarem-se da
sociedade, usufruindo do benefício ao reembolso do respectivo capital, na
correspondente proporção que resultasse do último balanço de contas da sociedade.
A 11 de Abril de 1907, foi criada a Lei Reguladora das sociedades por quotas
procurando com a mesma instituir um regime de efectiva responsabilização dos sócios,
pela assunção das obrigações sociais.
A este propósito, para o tema sobre o qual nos debruçamos no presente estudo,
importa-nos, no que se referia ao direito de exoneração dos sócios, sublinhar que foram
contempladas, expressamente, regras das causas conducentes à exoneração e qual o
modus operandi para que tal ocorresse. Atentemos, então, aos casos em que tal
realidade era exequível: (i) quando o sócio se opusesse com a redução, reintegração ou
aumento do capital social; (ii) quando o sócio não concordasse com a procrastinação do
prazo de vigência da sociedade; (iii) quando o sócio não estivesse de acordo com a
fusão da sociedade. Nos casos ilustrados, verificava-se a diminuição do capital social
porquanto o sócio opositor era reembolsado no valor da sua quota.
O direito da livre exoneração dos sócios, nas sociedades constituídas por tempo
indefinido, sem que tal acto desse lugar à extinção da sociedade, apenas teve previsão
legal no Código Civil, criado em 1966.
Já nas sociedades constituídas por tempo limitado, a realidade era distinta, isto é,
o exercício do direito à exoneração apenas se admitia nos casos de justa causa ou ainda
quando pacto social assim o previsse.
Posteriormente, com o D.L. 583/73 de 8/11, surgiram novas regras para a livre
desvinculação dos sócios, desenhadas para os quadros de fusão da sociedade, nas quais
se determinado sócio não acolhesse tal decisão, poderia exonerar-se e, em consequência,
recebia da sociedade uma contrapartida pela absorção da sua participação social por
parte da sociedade.
Com o D.L. 262/86 de 2/9 aprovou-se o Código das Sociedades Comerciais, que
se encontra, presentemente em vigor, mediante o qual, finalmente, consignaram-se
regras concretas que permitem o direito de exoneração, extensível a todas as tipologias
societárias. 10
10
FERNANDO OLAVO, Alguns apontamentos sobre a reforma da legislação comercial, no B.M.J., n.º
293, pág.19-21.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
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TERCEIRA PARTE
O DIREITO DE EXONERAÇÃO NO DIREITO COMPARADO
1. O “diritto di recesso” no direito italiano
1.1. BREVE RESENHA HISTÓRICA DO DIREITO DE EXONERAÇÃO NO
DIREITO ITALIANO
CÓDIGO COMERCIAL DE 1882
A primeira referência legislativa ao direito de exoneração surgiu no Código de
Comércio Italiano de 1865. Mas foi o Codice di Commercio italiano de 1882 no seu
artigo 158.º a regular, pela primeira vez, um diritto di recesso para os accionistas em
desacordo11
.
Esta disposição legal visava o equilíbrio entre a vontade da maioria, quando esta
alterasse os estatutos, e o sócio discordante com essas mesmas alterações. As causas
eram: a fusão, a reintegração ou aumento do capital social, modificação do objecto da
sociedade e a prorrogação da sua duração para além do previsto na constituição da
sociedade.
Relativamente à fusão, o direito de exoneração poderia ser avaliado em dois
cenários distintos, vejamos:
(i) Num quadro em que se verificasse a fusão por via da incorporação, ao sócio da
sociedade incorporante não lhe deveria ser permitida a libertação da sociedade, dado
que, por princípio, não se dava a alteração do pacto social. Porém, neste cenário, a
exoneração era admitida, nos casos em que concomitantemente à fusão se deliberasse
no sentido da amplificação do capital social ou modificação do seu objecto social.
(ii) Já num quadro em que se verificasse uma fusão por via da conglobação de duas
sociedades distintas: neste, considerando que a ambas as sociedades seriam subtraídas
as suas identidades originárias (nos termos em que haviam sido concebidas), enquanto
sociedades individualmente consideradas, larga porção da doutrina comungava do
sentido de que qualquer um dos sócios, de uma das duas, poderia exonerar-se.
É importante dar nota que nesta modalidade as duas sociedades ter-se-iam que se
dissolver, admitindo-se ainda que, em virtude da dissolução, o sócio dissidente pudesse
exercer o seu direito à absorção da sua quota-parte da liquidação.
11
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração do sócio no código das sociedades
comerciais, Almedina, Coimbra,2008,pág. 95, nota 265.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
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Por outro lado, nos casos em que se desse a alteração do objecto social, era
sempre acolhida a possibilidade de exoneração, uma vez que estar-se-ia perante uma
outra sociedade que não a primariamente constituída12
. Todavia, existia uma dissidência
semântica que provocava discórdia no seio da doutrina e que se prendia com a própria
expressão “alteração do objecto social”. Ou seja, as hesitações eram suscitadas quando
não se estava face a uma modificação total do objecto social, sendo apenas uma parte da
mesma tema de alteração.
Apesar do referido, era consensual que o direito de exoneração era admitido
quando o objecto social era totalmente substituído por outro ou nos casos em que o
objecto social primordial era coarctado.13
No que concerne ao aumento do capital social que se corporalizava através da
subscrição de novas acções para os sócios, sendo que apenas tinha lugar quando havia
um incremento real e materializado - não se admitindo a exoneração com base na mera
expectativa da verificação desta realidade.14
Da leitura do Código Comercial Italiano de
1882, alguma doutrina15
detectava quanto a esta matéria uma lacuna, na medida em que
se entendia que a subscrição de novas acções não era uma figura de carácter imperativo
para os sócios e, por força desse entendimento, consequentemente, o direito de
exoneração não era reconhecido aos sócios dissidentes.
Ora, o alcance de tal raciocínio focalizava-se no facto de que o aumento do
capital social era visto como uma ocorrência trivial da boa gestão societária, condicio
sine quo non para êxito e manutenção do negócio. Ou seja, poder-se-ia entende-la como
um acto de visão estratégica visando o futuro, por parte dos sócios.
Ainda nesta senda, esta corrente preconizava que os sócios encontravam-se
amparados, num quadro de incremento do capital social através de entradas em
dinheiro, dada a admissibilidade legal do exercício do respectivo direito de preferência
de cada um.
Uma outra corrente16
contra a exoneração nos casos de aumento do capital social
defendia que uma deliberação nesse sentido apenas, e no limite, poderia ser nefasta para
a sociedade e nunca propriamente para os sócios. Pois vejamos, perfilhava-se que não se
estaria frente a uma modificação de especial expressão e importância dos estatutos e
12
Ac. Da CssIt de 17.10.1910, pg. 1135 a 1144. 13
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 103. 14
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 101, nota 290. 15
GIANCARLO FRÉ, Sul dirrito di recesso, riv. dir. comm., ano 31, Parte I, Milão, 1933, pág. 772-782. 16
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 101, nota 292.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
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ainda que tal acto enquadrava-se numa conduta que faria parte daquela que se concebe
como a prática de actos de gestão elementares de uma empresa. Contudo, apesar das
honrosas correntes supracitadas, era praticamente unânime que o exercício do direito de
exoneração encontrava-se excluído quando se trata-se de uma amplificação decorrente
de reservas, que se consubstanciava mediante uma repartição de novas acções,
desonerada custos, para os sócios.17
Mais ainda, no quadro ilustrado, o não exercício do direito de exoneração
acondicionava o afiançar do direito do sócio a preservar a sua participação social sem
que, em virtude do aumento do capital social, houvesse para o mesmo despesas de
carácter financeiro. Assim, o sócio assistiria a uma ampliação da sociedade, o que só
poderia ser benéfico para o sucesso do negócio, e caso se socorresse do direito de
exoneração, naturalmente que, numa perspectiva de racionalidade económica, sairia
prejudicado.
Relativamente à modificação do objecto social, quando se verificasse, a doutrina
era unanime na permissão e aplicação do direito de exoneração 18
. Contudo quando
apenas se verificasse a ampliação ou restrição do objecto social a doutrina já não
reconhecia aos sócios o direito de se exonerarem pois não se verificava uma verdadeira
alteração.
No que tange à procrastinação do tempo de vida da sociedade, a mesma
implicava, naturalmente, uma amplificação da durabilidade da assunção da qualidade de
qualquer sócio, assumida por estes aquando da respectiva constituição.
Contudo, havia opositores à ideia de que tal facto figurava condição bastante
para o desencadear da prerrogativa, aqui estudada, de exoneração, isto porque poder-se-
ia reputar que o tempo de vida da sociedade não conformava um elemento essencial. Tal
ideia encontrava-se respaldada na realidade do bom modelo de gestão societário, no
qual só se justificaria a prorrogação do prazo final num quadro em que se perspectivasse
a prossecução bem-sucedida do negócio. Todavia, sublinhe-se que, para grande parte da
doutrina, tal causa consubstanciava um fundamento justificativo bastante conducente ao
direito de exoneração do sócio dissidente.
Quanto as termos e condições a observar para o exercício do direito de
exoneração do sócio dissidente eram as seguintes:
(i) Direito de reembolso:
17
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 101, nota 294. 18
GIANCARLO FRÉ, Sul dirrito di recesso…pág. 788-789.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
16
Era líquido na doutrina que ao sócio dissidente que pretende-se exonerar-se,
assistia-lhe o direito a ser reembolsado pela monta correspondente à sua participação
social. Porém, as divergências da quantificação do valor do reembolso reconduziam-se à
determinação do parâmetro através do qual se calculava a monta a entregar. Isto é, as
dúvidas surgiam se deveria ter-se em linha de conta o último balanço aprovado (ainda
que extraordinário), ou se, por outra banda, se teria como parâmetro o balanço ordinário
aprovado19
. Seja como for, autonomamente da matriz a considerar para a correcta
determinação do reembolso, o sócio que julgasse que o mesmo lhe havia ser atribuído
incorrectamente, poderia recorrer às vias judiciais, impugnando tal acto.
(ii) Prazo para apresentação da declaração de exoneração:
Os sócios que não tivessem estado presente na assembleia geral na qual se
tivesse deliberado sobre qualquer uma das matérias supra descritas, dispunham do
prazo de um mês, para exercer o direito de exoneração, a partir da data da publicação da
decisão social.
Os sócios intervenientes na assembleia geral, dispunham de vinte quatro horas,
desde o momento em que a mesma tivesse sido encerrada e na qual se tivesse deliberado
sobre qualquer uma das matérias supra descritas.
(iii) Legitimidade
Grande parte da doutrina pugnava pelo entendimento em que se admitia que os
sócios que se tinham abstido podiam exonerar-se20
.
Por outro lado, estreita fracção da doutrina reputava que esse direito apenas
assistia àqueles que tivessem intervindo activamente na assembleia, votando
desfavoravelmente e ainda àqueles que não se encontravam presencialmente na mesma.
(iv) Forma da declaração
Existia no âmbito da legislação em apreço total liberdade de forma na
apresentação da declaração de exoneração.
CÓDIGO CIVIL ITALIANO DE 1942
O novo código civil de 1942 veio reforçar a tendência de excepcionalidade do
direito de exoneração que já vinha a ser usual desde 1915.
Dos principais aspectos sentidos ao nível do direito de exoneração com a
vigência do código civil italiano de 1942 destaca-se a exclusão do acesso ao direito de
19
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 104, nota 303. 20
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 104, nota 302.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
17
exoneração quando houvesse uma deliberação social que determinasse a fusão,
procrastinação do tempo de vida da empresa, incorporação e ainda aumento do capital
social. Esta limitação do acesso ao direito de exoneração implicou que o mesmo apenas
se pudesse desencadear no caso de determinada deliberação optasse por reavaliar o
valor das entradas, translação da sede para o estrangeiro e modificação do objecto
social.
No que tange à reavaliação do valor das entradas eram tidas em consideração
várias premissas, a saber:
(1.ª Premissa)
(i) Mitigou-se as facilidades dos actos que aparcassem as causas legais conducentes ao
direito de exoneração, sendo aliás nulas as medidas que contrariassem essa
possibilidade, pelo que, em consequência, enfatizou-se a índole pública do direito de
exoneração21
.
(ii) O direito de exoneração passou a conter um carácter excepcional22
.
(iii) No entanto, resultado de leis avulsas especiais fora aditado às causas legais de
admissibilidade outras três previsões, designadamente:
(1.º Caso) Quando se estivesse em causa acordos parassociais, celebrados com duração
indefinida, desde que mesmos versassem sobre o direito de voto e as partes contraentes
fossem sociedades cotadas.23
(2.º Caso) Quando se tratassem de sociedades cujo desígnio era privatiza-las, a
libertação da sociedade era permitida ao sócio que discordasse da deliberação que
determinasse a entrada do direito de veto do Estado.
(3.º Caso) Quando se estivesse perante uma deliberação de fusão de uma sociedade
contada em bolsa, isto desde que a sociedade a primitiva ou aquela que fosse a ser
constituída ao aquele que fosse objecto de fusão não fosse cotada na bolsa.24
Quanto as termos e condições a observar para o exercício do direito de exoneração do
sócio também aqui houve alterações:
21
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração… pág. 106. 22
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 106, nota 309. 23
Art. 128.º do Decreto-Lei n.º 58, de 24.02.1998, Texto Único em Matéria de Intermediação Financeira. 24
Art. 131.º do Decreto-Lei n.º 58, de 24.02.1998, Texto Único em Matéria de Intermediação Financeira,
que foi revogado pelo Decreto-Lei n.º 37 de 06.02.2004, pelo n.º 1 do art. 9.º.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
18
Legitimidade
A doutrina maioritária continuava a considerar que a legitimidade para o
exercício do direito de exoneração pertencia tanto ao sócio discordante como ao sócio
que se absteve.
Declaração e Prazos
Com a entrada em vigor do CCit de 1942 iniciou-se a exigência de forma da
declaração de exoneração, esta agora, deveria ser efectuada por carta registada.
No que aos prazos concerne passou a conceder-se uma extensão dos mesmos,
que passou de 24 horas para 3 dias para os sócios participantes na assembleia geral,
quanto aos sócios que nela não intervieram o prazo seria de 15 dias contados desde a
inscrição no registo da deliberação social. Findos estes prazos o direito ao exercício do
direito exoneração caducaria.
1.2 DIREITO VIGENTE
O decreto-legislativo n.º6, de 17 de Janeiro de 2003 transformou
pronunciadamente as regras legais disciplinadoras do direito de exoneração, com
especial enfoque nas sociedades anónimas, objecto do presente estudo.
Com a reforma legislativa o legislador tentou dirimir as divergências doutrinais
que até à data se verificavam, designadamente a tipicidade ou não das causas de
exoneração, a possibilidade de os estatutos preverem um reembolso pelo valor real das
acções, a obrigatoriedade ou não de proceder à redução do capital social por força do
reembolso, a admissibilidade de a sociedade revogar a deliberação que originou a causa
de exoneração, a legitimidade do exercício do direito de exoneração por parte dos sócios
que se abstiveram na assembleia geral.
A alteração legislativa reconduziu as causas de exoneração a três modalidades:
as causas legais obrigatórias, as causas legais não obrigatórias e as causas estatutárias.
As causas legais obrigatórias são as que não podem ser derrogadas pelos
estatutos. A sua verificação origina sempre o direito de exoneração do sócio.
Actualmente constituem causa legais de exoneração as seguintes situações:
a) Modificação da cláusula do objecto social: a modificação estatutária do objecto
social confere o direito de exoneração ao sócio dissidente. Esta modificação pode operar
por substituição, redução ou ampliação do objecto social mas é necessário que se
verifique uma alteração substancial das condições iniciais do risco de investimento;
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
19
b) Transformação da sociedade: na lei em vigor a alteração do tipo societário
constitui causa de exoneração;
c) Transferência da sede social para o estrangeiro;
d) Cessação da liquidação da sociedade;
e) Eliminação de causas estatutárias ou derrogáveis de exoneração: o legislador
previu esta norma de forma a proteger o princípio da confiança. Esta norma deve
também ser aplicada nos casos de alteração que dificultem o exercício de tais
cláusulas25
;
f) Alteração dos critérios de avaliação das acções em caso de exoneração;
g) Modificações relativas ao direito de voto ou participação.
h) Exoneração Ad nutum: a reforma de 2003 veio permitir a exoneração ad nutum
pelos sócios de sociedades constituídas por tempo indeterminado desde que não sejam
abertas ao mercado;
i) Exclusão da cotação de acções: esta norma visa assegurar o direito de
exoneração quando o princípio da livre transmissibilidade de acções não pode ser
aplicado;
j) Reavaliação das entradas em espécie ou de créditos;
k) Exoneração de sócio de sociedade sujeita a controlo e direcção de outra.
As cláusulas de exoneração legais não obrigatórias são as que a lei prevê mas
que os estatutos podem afastar. Actualmente, a legislação prevê, duas destas cláusulas:
a) Prorrogação do Termo da Sociedade;
b) Introdução ou Remoção de Limitações à circulação de acções.
No que concerne às cláusulas estatutárias estas surgiram com a reforça de 2003.
Esta possibilidade é admitida às sociedades que não tenham recorrido ao mercado do
capital de risco.
Principais linhas orientadoras do direito de exoneração actual
Há a possibilidade de a sociedade, se assim o entender, proceder à revogação da
deliberação que deu lugar ao direito de exoneração, ficando o mesmo sem qualquer
efeito.
O accionista dissidente, ou seja, aquele que se exonerou de forma legítima, tem
o direito ao reembolso correspondente ao valor das acções da sua titularidade. Quando
cabe à administração determinar esse valor são tidos em linha de conta critérios para
25
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 117, nota 349.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
20
que de forma justa se possa aferir a monta da liquidação; tais como: i) condição
patrimonial da empresa, ii) prospecções de futuro no que tange à liquidez da sociedade e
por fim, iii) o valor de mercado das acções. Porém, nos casos em que a sociedade se
encontra cotada em bolsa, “o valor da liquidação das acções é calculado de maneira
directa, através da média aritmética o seu preço de fecho nos seis meses anteriores à
publicação/ recepção da convocatória da assembleia geral que legitimou a
exoneração”26
. Nas situações em que há diferendos quanto aquele que foi o valor
atribuído às acções é nomeado um perito judicial para avaliar imparcialmente as
mesmas.
Consignou-se legalmente a possibilidade de compra por parte dos sócios que
permanecem na sociedade das acções do sócio que se exonerou, esta aquisição é feita
em proporção às acções da titularidade dos mesmos. Com esta introdução legal pugna-
se pelo equilíbrio e integridade da estrutura societária na medida em que é dada a
possibilidade aos sócios de manterem, ainda que em modos proporcionais, aquela que
era a sua quota-parte antes da exoneração. É possível também que as participações
sociais sejam vendidas a não sócios no caso das mesmas não serem adquiridas pelos
próprios. Mais ainda, face à inexistência de proponentes-compradores (accionistas ou
terceiros alheios à sociedade), o futuro que se dá às acções é o de que as mesmas são
absorvidas pela própria sociedade através das reservas existentes.
Ainda num cenário mais “negro” no qual nem as reservas são suficientes para
adquirir as acções do sócio que se exonerou, o reembolso é efectuado com recurso à
diminuição do capital social ou in extremis à própria dissolução da sociedade.
Para o exercício do direito de exoneração existem também regras de natureza
formal a observar, como por exemplo, a obrigação da existência de uma declaração de
exoneração mediante carta registada depois do registo da deliberação social, 15 dias
depois. O prazo pode ser dilatado para 30 dias quando estejamos face a causas
estatutárias, ou seja, quando não estamos perante causas legais obrigatórias ou causas
legais não obrigatórias. Da declaração de exoneração deverá fazer constar o sócio que se
pretende exonerar, a indicação das acções de que é titular e que serão objecto de
exoneração, dentre outras menções.
Quanto à legitimidade esta reforma solucionou também uma questão muito
importante, a legitimidade para o exercício do direito de exoneração pertence, quando
26
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…pág.126.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
21
estejamos perante deliberações sociais, aos sócios que não tenham contribuído para a
sua aprovação.
2. O “DROIT DE RETRAIT” NO DIREITO FRANCÊS
2.1. BREVE RESENHA HISTÓRICA DO DIREITO DE EXONERAÇÃO NO
DIREITO FRANCÊS
O direito de exoneração sempre teve parca expressão no direito francês, é
omisso na lei e por isso pouco discutido na doutrina. Pese embora esse facto existe
doutrina e jurisprudência que o admitem plasmado em cláusulas estatutárias27
.
Na versão primitiva do Código de Comércio Francês de 1807, não havia regras
focadas na dissolução da sociedade. João Espírito Santo, justifica tal omissão
socorrendo-se do facto de que o contrato de sociedade reger-se-ia pelo direito civil e
pelas convenções entre as partes28
. A feição do entendimento do autor tem lógica, dado
estarmos perante uma realidade que possibilitava a livre contratação sobre este aspecto,
tal poderia ter contribuído para que legislador não sentisse um especial apelo à
necessidade de ser debruçar sobre esta matéria.
No entanto, em momento anterior ao Código do Comércio Francês de 1807, nas
cartas de instituição das Companhias Coloniais, previa-se que aquele que pretendia
desvincular-se da companhia, só poderia fazê-lo depois de vendida a sua parte,
significando isto que, a despeito da cessão da correspondente participação social, a
companhia manter-se-ia a laborar, não conduzindo tal acto à dissolução da mesma.
2.2 DIREITO VIGENTE
Pese embora a parca expressão do direito de exoneração no direito francês, a sua
contemplação não é totalmente invisível, admitindo-se a possibilidade, sob alguns
entendimentos, que no âmbito do pacto social, tal prerrogativa poderá consignar-se.
Na senda do referido, actualmente, no ordenamento jurídico francês, no que
tange às sociedades anónimas, inexiste qualquer previsão legal sobre o direito de
libertação do sócio, baseando-se tal raciocínio, no primado da livre transmissão de
acções (princípio que também se verifica no direito português). Todavia, ainda assim, a
jurisprudência prevê a admissibilidade de um mecanismo de protecção dos sócios
27
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 65, nota 148. 28
JOÃO ESPIRÍTO SANTO, Exoneração do sócio no direito societário-mercantil português, Almedina,
Coimbra, 2014, pág. 110.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
22
minoritários, que se designa como “abuso da maioria”29
. Este quadro verifica-se nas
situações em que, consequência de determinada deliberação pela maioria dos sócios,
seja tomada qualquer determinada decisão que possa, no limite, afectar ou não ser
perfilhada pelo (s) sócio (s) minoritário (s). Ora, no cenário acima referido, o (s) sócio
(s) minoritário (s) pode (m) transmitir as acções, ao abrigo da tal previdência
proteccionista.
Ainda nas sociedades anónimas, designadamente nas sociedades cotadas em
bolsa ou em mercados secundários, o direito de exoneração surgiu por via da Lei 2.04
(1989); sendo que esta lei consagra o seguinte esquema: caso 95% dos direitos de voto
pertencerem ao mesmo accionista ou grupo de accionistas, assiste a possibilidade dos
accionistas minoritários poderem requerer ao Conselho dos Mercados Financeiros a
apresentação de uma oferta pública de exoneração. A mencionada oferta pública de
aquisição será, num primeira fase, objecto de estudo, para, ulteriormente, ser acolhida
ou rejeitada por parte do Conselho dos Mercados Financeiros.
Já no que se refere às sociedades por quotas, cuja abordagem se fará de forma
sumária, dado o tema não ser objecto nevrálgico do presente estudo, o direito de
exoneração é admitido quando se trate de uma cessão de quotas a terceiro e quando tal
acto seja rejeitado pelos demais sócios. No quadro descrito no precedente parágrafo, no
caso de repúdio pelos demais sócios, os mesmos dispõem de uma de duas soluções, nos
3 meses subsequentes contados do momento da rejeição:
(i) Os próprios absorvem para si a quota que se pretendem ceder; ou,
(ii) Os próprios obtêm um adquirente para as quotas que se pretendem ceder.
Por fim, nas sociedades em nome colectivo e em comandita simples, o direito de
exoneração é absolutamente imperceptível, vejamos o porquê:
Concretamente, nas sociedades em nome colectivo, considerando que nas
mesmas toda e qualquer decisão só poderá ser aprovada pela maioria, tal premissa
redunda na inelutável conclusão de que nenhum sócio minoritário com determinada
posição contrária à maioria, logrará sucesso num entendimento díspar do demais. 30
29
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 65, nota 153. 30
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…pág.65 a 66.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
23
3. O “DERECHO DE SEPARACIÓN” NO DIREITO ESPANHOL
3.1. BREVE RESENHA HISTÓRICA DO DIREITO DE EXONERAÇÃO NO
DIREITO ESPANHOL
A primeira referência legislativa ao direito de exoneração (derecho de
separación)31
no direito espanhol surgiu no código de comércio de 1829 no seu artigo
334 onde se dispunha que:”…socio que por su vonluntad se separa de la compañia(…)
no puede impedir que se concluam (…) las negociaciones pendientes…”. Pese embora
este normativo não dispusesse de regulamentação admitia-se a sua consagração e
regulamentação estatutária em todos os tipos societários.
Posteriormente, o real decreto de 15 de Abril de 1847 e a Ley sobre sociedades
mercantiles por Acciones de 28 de Enero de 1848 vieram impor um controlo
governativo sobre os estatutos das sociedades anónimas restringindo assim a
possibilidade de previsão estatutária do derecho de separación. Esta situação manteve-se
até à aprovação do decreto de 28 de Octubre de 1868 que derrogou a anterior legislação
e consequente necessidade de autorização governativa.
Com a Ley das Sociedades Anónimas de 1951 (LSA) o derecho de separación
para os accionistas foi efectivamente consagrado32
. A LSA consagrou, por influência da
legislação italiana, as mesmas causas de exoneração previstas no códice civile italiano, a
saber, a alteração do objecto social, a transformação e a fusão da sociedade anónima.
3.2 DIREITO VIGENTE
Após algumas reformas legislativas e integração de directivas comunitárias
surge o real decreto legislativo 1564/1989, de 22 de Diciembre, que aprovou o texto
refundido de la ley de sociedades anónimas (TRLSA) actualmente em vigor, que
permite o exercício do direito de exoneração dos accionistas em caso de alteração do
objecto social (artigo 147.º), transferência de sede para o estrangeiro (artigo 149.º) e em
caso de transformação de sociedade (artigo 225.º).
No que concerne ao regime, em termos de legitimidade, ela é atribuída a todos
os que votaram contra a deliberação social que originou o direito de exoneração.
Em termos de prazo para o exercício do direito de exoneração, os sócios que
pretendem exonerar-se devem emitir a declaração no prazo de um mês a contar da data
de registo da deliberação, isto quando a causa de exoneração seja a alteração do objecto
31
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 71, nota 163. 32
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 73, nota 169.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
24
social ou a transferência de sede para o estrangeiro. Quando a causa originária do direito
de exoneração for a transformação da sociedade esta efectua-se de forma automática
para os sócios que não tenham votado a favor da deliberação e que não a ratifiquem no
prazo de um mês.
Após a recepção da declaração de exoneração a sociedade deve proceder ao
reembolso das acções. O regime do reembolso será distinto consoante estejamos, ou
não, perante sociedades abertas. Na primeira hipótese o valor do reembolso resultará do
valor médio das acções apurado no último trimestre33
. Quando a sociedade não for
aberta ao mercado o cálculo do valor reembolsado será em primeira linha o acordado
entre o sócio que pretende exonerar-se e a sociedade, na falta de acordo o cálculo do
valor a reembolsar será aferido por auditor designado para o efeito, nomeado pelo
Conservador do registo comercial da sede social (artigo 147.º/2/LSA)34
.
O reembolso do valor das acções origina uma redução do capital social, pese
embora a doutrina já admita a possibilidade de as acções serem adquiridas por outro
sócio ou terceiro, evitando a redução do capital social35
.
Relativamente a cláusulas estatutárias de exoneração do accionista, tema do
nosso estudo, a doutrina espanhola tem-se pronunciado a favor da sua admissibilidade,
impondo como limites o respeito pela lei, pelos princípios gerais de direito e pelos
credores sociais. O fundamento legal invocado pela doutrina espanhola é o artigo 10.º
da LSA que permite a criação de cláusulas estatutárias para persecução dos interesses
dos accionistas36
.
QUARTA PARTE
O REGIME ACTUAL DO DIREITO DE EXONEÇÃO NO DIREITO PORTUGUÊS
CAPÍTULO I
Enquadramento Legal
1. Nas associações
O princípio da liberdade de associação requer também que o regime de saída da
mesma esteja na livre disponibilidade do associado.
33
Redacção da lei n.º 44/2002, de 22.11. 34
Redacção da lei n.º 44/2002, de 22.11. 35
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág. 91, nota 253. 36
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…,pág.93, nota 260.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
25
Nas associações a perda da qualidade de associado caracteriza-se pela vontade
do próprio aquando da decisão de saída ou pela vontade da associação, no caso de
decidir excluir o associado, conforme dispõe o artigo 167.º, n.º2 do C.C.37
. A lei
contudo não descurou a questão patrimonial, prevendo no artigo 181.º do C.C. os efeitos
da saída ou da exclusão.
Em ambas as situações o associado não obtém o direito de restituição das
quotizações já pagas e perde o direito ao património social, mantendo-se obrigado à
regularização de todas as prestações relativas ao tempo em que foi membro da
associação. Esta saída voluntária nas associações aproxima-se assim da figura do direito
de exoneração.
2. Nas sociedades civis
Nas sociedades civis dedicou o legislador o artigo 1002.º do C.C. a regular o
direito de exoneração. Caracterizando-o como a vontade de saída unilateral de um sócio
de uma sociedade.
Segundo Pires de Lima e Antunes Varela “exonera-se o sócio quando, por
vontade unilateral, dissolve os vínculos que o ligavam à sociedade e deixa de lhe
pertencer”38
. Nos termos do artigo supra referido “ Todo o sócio tem o direito de se
exonerar da sociedade, se a duração desta não tiver sido fixada no contrato; não se
considera para este efeito, fixada no contrato a duração da sociedade, se esta tiver sido
constituída por toda a vida de um sócio ou por período superior a trinta anos.” Estamos
aqui perante uma exoneração ad nutum, uma vez que não requer fundamento. Para Pires
de Lima e Antunes Varela só existirá um prazo mínimo se isso resultar do próprio
objecto da sociedade.
O n.º2 do artigo 1002.º do C.C. prevê um tipo de exoneração condicionada. Ora
condicionada pelo contrato, ora ocorrendo justa causa, isto sempre que o prazo da
sociedade esteja fixado.
O exercício do direito deve ser feito por declaração aos outros sócios.
Pese embora que independentemente do momento da comunicação nos termos
do n.º 3 do artigo 1002 do C.C. a exoneração só se torna efectiva no final do ano social
em que é declarada, mas nunca antes de decorridos três meses após a sua comunicação.
37
As condições de saída ou da exclusão podem ser determinadas pelos estatutos mas não podem ser de tal
forma penosas que inviabilizem o exercício do direito, MENEZES CORDEIRO, Tratado de Direito Civil,
Almedina, Coimbra, 2007, pág.726-730. 38
PIRES DE LIMA E ANTUNES VARELA, Código Civil Anotado, 4ª edicção, Coimbra Editora,
Coimbra,2010, pág.432.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
26
Ainda assim, a vinculação para o sócio é imediata uma vez que estamos perante
uma acto unilateral e irrevogável.
Não é permitida a supressão ou modificação das cláusulas legais de exoneração
e só por unanimidade podem ser supridas ou modificadas as cláusulas contratuais.
A exoneração não isenta o sócio de responsabilidade pelas dívidas sociais
contraídas até ao momento da exoneração nos termos do artigo 1006.º, n.º1 do C.C.
A liquidação da quota do sócio que se exonerar deve ser feita nos termos do
artigo 1021.º do C.C.
3. Nas sociedades comerciais
No direito vigente regula a questão o CSC, tendo o legislador comercial reunido
um pouco de toda a evolução histórica nesta matéria.
Dá-se ao sócio o direito se desvincular de uma situação que já não lhe é
favorável, “exoneração de sócio é a saída ou desvinculação deste, por sua iniciativa e com
fundamento na lei ou no estatuto, da sociedade”39
. Extingue-se, então, por vontade do sócio o
vínculo que o ligava à sociedade, extinguem-se os deveres e também os direitos, tal qual
de uma situação de resolução contratual se tratasse sem acarretar os demais.
Envolvem-se neste processo, unicamente, o sócio exonerado e a sociedade, ainda
que a quota seja adquirida por terceiros. Os fundamentos para que a exoneração seja
possível estarão previstos na lei ou no caso da sua admissibilidade nos estatutos
societários.
CAPÍTULO II
Causas Legais de Exoneração
SECÇÃO I
Causas Legais Aplicáveis a Todas as Sociedades Comerciais
1. Transferência da Sede da Sociedade para o Estrangeiro
Conforme estipula o artigo 3.º as sociedades têm como lei pessoal a lei do
Estado em que se encontre situada a sede principal e efectiva da administração.
A sede estatutária corresponde à sede que consta dos estatutos da sociedade. Esta
é a imposição legal que consta do artigo 9.º, n.º1, alínea e), tendo o seu desrespeito
39
J.M. COUTINHO DE ABREU, Curso de direito comercial …, pág. 418.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
27
como consequência a nulidade ou a invalidade do contrato de sociedade nos termos do
disposto nos artigos 42.º, n.º 1, alínea b) e 43.º, devendo a mesma ser estabelecida em
local concreto conforme artigo 12.º.
A sede efectiva corresponderá ao local de funcionamento dos órgãos de
administração da sociedade.
Regra geral a sede estatutária e a sede efectiva coincidirão.
A transferência de sede efectiva para o estrangeiro exige nos termos do artigo
3.º, ns.º 4 e 5 uma deliberação aprovada com pelo menos 75% dos votos
correspondentes ao capital social, podendo o pacto social exigir uma maioria ainda mais
qualificada mas nunca inferior.
Os sócios que não tenham votado favoravelmente na deliberação de
transferência de sede para o estrangeiro podem exonerar-se nos termos do disposto no
artigo 3.º, n.º 5.
O fundamento desta norma reside no facto de ser necessário tutelar o interesse de
um sócio que subscreveu uma sociedade com lei pessoal portuguesa e depois vê este
estatuto alterar-se por força da maioria. A transferência de sede implica alterações legais
e geográficas o que consequentemente implicará uma alteração ao exercício dos direitos
do sócio justificando a permissão do direito de exoneração.
A tutela desta norma é ampla e além de tutelar o interesse dos sócios que
votaram contra a deliberação da transferência também tutela os que se abstiveram e os
que não compareceram à assembleia geral40
.
2. Regresso à Actividade de Sociedade Dissolvida
A extinção de sociedades exige um processo. Processo esse que foi
cuidadosamente regulado pelo legislador e constituído por três fases, a primeira fase é a
dissolução, uma segunda que se concretiza na liquidação e por último a partilha entre
sócios.
É importante frisar que a sociedade mantém a sua personalidade jurídica durante
a fase da liquidação sendo por isso lícito aos sócios alterarem a decisão relativa à
dissolução da sociedade.
40
Neste sentido DANIELA FARTO BAPTISTA, O direito de exoneração dos accionistas …, pág. 166;
JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 67-68; MARIA AUGUSTA
FRANÇA, Direito à exoneração, Novas Perspectivas…, pág. 214; TIAGO SOARES DA FONSECA, O
direito de exoneração… pág. 208; RAÚL VENTURA, Sociedades por quotas, Vol. II…, pág.21.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
28
Quando ocorre uma deliberação de regresso à actividade finda-se o processo de
liquidação e consequentemente a partilha. É a esta deliberação que se reporta o artigo
161.º, n.º5 e pressupõe que esteja já encerrada a liquidação (artigo 161.º, n.º1 e n.º 3, al.
a) e artigo 156.º). Esta deliberação deve ser realizada com maioria igual à que foi
exigida para deliberação de dissolução de acordo com o artigo 161.º, n.º2 CSC.
Conclui-se, assim, de acordo com o estipulado na lei que a exoneração só será
possível depois de iniciada a partilha. Para que exista direito de exoneração do sócio
devem estar preenchidos, de acordo com a norma, pelo menos três requisitos
cumulativos: um primeiro e indiscutível, que haja sido aprovada a deliberação para
regresso à actividade, o segundo e também consensual, a data da deliberação supra
referida ter sido posterior ao início da partilha e por último que haja para o sócio uma
diminuição da participação social face ao que detinha anteriormente à liquidação.
Estarão assim a priori fora do propósito de protecção da norma os sócios que à data da
deliberação nada tenham recebido e aqueles que já tenham sido ressarcidos na totalidade
do valor da sua participação.
Um ponto controverso nesta matéria é o de saber se, além destes sócios
excluídos pela própria norma, o legislador terá tido a intenção de excluir mais algumas
situações, querendo unicamente proteger os sócios discordantes, com manifestação de
discórdia através do seu voto contra o regresso à actividade.
Para João Espírito Santo41
, a norma do artigo 161.º, n.º5 visou a protecção de
todos os sócios, quer daqueles que se manifestaram contra na deliberação, quer dos
ausentes, quer dos que se abstiveram e até mesmo daqueles que votaram favoravelmente
para o regresso à actividade. Raúl Ventura42
, Maria Augusta França, Daniela Farto
Baptista e João Mariano Cura entendem que a norma apenas deverá proteger os
ausentes, os que se abstiveram e que votaram desfavoravelmente.
Quanto a nós tendemos a acompanhar a posição de João Espírito Santo. Não há
exigência legal, contrariamente a outras disposições legais relativas ao direito de
exoneração, de que o sócio que pretenda exonerar-se tenha votado contra ou não tenha
votado a favor na deliberação de regresso à actividade de sociedade dissolvida.
41
JOÃO ESPIRÍTO SANTO, Exoneração do sócio…pág.225. 42
RAÚL VENTURA, Sociedades por quotas, Vol. II…, pág.27; MARIA AUGUSTA FRANÇA, Direito
à exoneração, Novas Perspectivas…, pág. 215; DANIELA FARTO BAPTISTA, O direito de exoneração
dos accionistas …, pág. 265; JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 87-
88.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
29
SECÇÃO II
Causas Legais de Exoneração Aplicáveis às Sociedades em Nome Colectivo e em
Comandita Simples
A lógica plasmada na introdução da presente dissertação de que os contratos não
devem ser eternos, nem vincular pessoas sem limite temporal, tem aqui, no âmbito das
sociedades em nome colectivo franca aplicabilidade.
“Todo o sócio tem o direito de se exonerar da sociedade nos casos previstos na
lei ou no contrato…” (artigo 185.º)
Da leitura do artigo 185.º retiramos desde logo que o sócio da sociedade em
nome colectivo pode exonerar-se com base em outro ponto da lei ou com fundamento
em cláusulas de exoneração previstas no contrato social.
1. O Direito de Exoneração Ad Nutum
A alínea a) do n.º1 do artigo 185.º prevê a hipótese de os sócios de uma
sociedade em nome colectivo, há mais de dez anos, se possam exonerar se não tiver sido
contratualmente fixada a duração da sociedade, ou se esta for constituída por toda a vida
de um sócio ou ainda se a duração da sociedade for superior a trinta anos. Estas
hipóteses não estão na dependência de uma causa, estão apenas na vontade do sócio,
cujo único requisito que lhe é exigido é que detenha aquela qualidade há mais de dez
anos.
Atendendo à letra da lei estaríamos, em princípio, perante dois requisitos
cumulativos. Mas assim não será, vejamos porquê. Comparativamente a outras causas
de exoneração ad nutum, ainda que para outros tipos societários, verificamos que a lei
não exige a cumulação destes dois requisitos. Veja-se a propósito das sociedades por
quotas, o artigo 229.º, n.º1, esta disposição legal prevê a possibilidade do exercício do
direito de exoneração do sócio desde que decorridos dez anos do seu ingresso na
sociedade e que haja uma proibição de cessão de quotas, não relevando para esta
exoneração ad nutum a duração da sociedade.
Ambas as normas visam evitar a perpetuação, que no entender do legislador,
acontecerá decorridos dez anos, do vínculo social. A lei não impede em ambos os casos
a criação e /ou manutenção de vínculos societários perpétuos43
, permite sim que o sócio
altere a sua decisão de manter esse vínculo. Visa proteger o sócio, que o seja há mais de
43
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração… pág. 218; PAULO ALBERTO
VIDEIRA HENRIQUES, A desvinculação unilateral ad nutum nos contratos civis de sociedade e de
mandato, Coimbra Editora, Coimbra, 2001, pág.50-51.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
30
dez anos, independentemente da duração da sociedade. Questão suscitada na doutrina, a
este propósito, é a de saber se os sócios podem contratualizar o direito de exoneração ad
nutum num período inferior a dez anos. Ou seja, a fixação do prazo legal de dez anos
terá carácter imperativo?
Para Paulo Videira Henriques44
, a norma é imperativa tanto para o mínimo como
para o máximo. O autor não vê na possibilidade da diminuição do prazo qualquer
justificação. Já Raúl Ventura45
, admite a supletividade relativamente ao prazo mínimo e
a imperatividade relativamente ao prazo máximo.
Face à evolução das sociedades comerciais, a muitos níveis, que nem sempre é
acompanhada da respectiva evolução legislativa, e ao carácter cada vez menos
duradouro das mesmas tendemos a acompanhar a posição de Raúl Ventura.
2. A Exoneração do Sócio fundada em Justa Causa
A justa causa foi a possibilidade elencada na alínea b) do n.º1 do artigo 185.º
para que o sócio possa exonerar-se.
O n.º2 do mesmo artigo veio concretizar esta previsão, enumerando situações de
justa causa, são elas:
a) As situações em que contra o voto expresso do sócio a sociedade não delibere
destituir um gerente havendo justa causa para tanto;
b) As situações em que contra o voto expresso do sócio a sociedade não delibere
excluem um sócio, ocorrendo justa causa de exclusão;
c) Quando o sócio for destituído da gerência da sociedade;
Estas três possibilidades têm em comum a exigência de um voto contra uma
deliberação social.
Releva aqui analisar a divergência doutrinária em relação à classificação como
taxativas ou enunciativas as hipóteses previstas no n.º 2 do artigo 185.º Considerando as
hipóteses como taxativas o sócio da sociedade em nome colectivo pode sair, exercendo
o direito de exoneração, sempre que uma daquelas se verifique. Admitindo, em
contrário, que as hipóteses previstas no n.º 2 do artigo 185.º são enunciativas torna-se
necessário delimitar o conceito de justa causa de exoneração para aferir quando
estaremos perante a possibilidade do exercício do direito de exoneração fundado em
justa causa.
44
PAULO ALBERTO VIDEIRA HENRIQUES, A desvinculação unilateral ad nutum …, pág.57-59. 45
RAÚL VENTURA, Sociedades por quotas, Vol. I…, pág.602.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
31
A doutrina46
que defende a tese de que as alíneas do n.º 2 do artigo 185.º são
enunciativas reconduz a sua opinião à letra da lei, alegando que a intenção do legislador
foi a de comtemplar a justa causa como causa autónoma, prevista no n.º1, alínea b) do
artigo 185.º e que no n.º 2 do mesmo artigo plasmou, apenas, alguns exemplos.
Fundamentam, estes mesmos autores, que se assim não fosse as hipóteses do n.º 2
estariam inseridas no n.º 1, ficando os sócios das sociedades em nome colectivo com
quatro possibilidades de exoneração.
Por sua vez, a doutrina47
defensora da tese da taxatividade das hipóteses do n.º 2
fundamenta s sua posição no facto de nas sociedades em nome colectivo existir a
possibilidade de cláusulas de exoneração estatutárias não sendo por isso necessário a
amplificação da enumeração legal, atendendo também alguns autores à predominância
do elemento pessoal neste tipo societário.
Continuando a aferir o conceito de justa causa, ora como sabemos trata-se de um
conceito indeterminado, sendo por isso necessário socorrermo-nos de conceitos de justa
causa de exoneração, assim definidos pelo legislador. É o caso do próprio artigo 185.º,
n.º 2 e do artigo 45.º, n.º 1. Em ambos os casos, considera o legislador, não ser legítimo
obrigar o sócio a manter a relação societária dada a importância que as duas alterações
podem ter na manutenção da qualidade de sócio. É a partir desta ideia que se deve
construir o conceito de justa causa, que existirá, sempre que perante uma situação crítica
haja uma quebra dos pilares da confiança da relação societária. Tiago Soares da Fonseca
chega mesmo a avançar alguns exemplos48
.
Em nosso entender, pese embora, a já ampla possibilidade concedida pelo
enunciado do artigo 185.º, n.º 1, alíneas a) e b) de os sócios poderem exonerar-se da
sociedade com fundamento na lei ou no contrato, se o legislador pretendesse a
taxatividade das situações elencadas no n.º 2 como justa causa teria descrito as mesmas
logo na alínea b) do n.º 1, prosseguindo a lógica usada para a alínea a) do mesmo
preceito onde comtemplou a exoneração ad nutum e simultaneamente os seus requisitos.
O n.º 2 do artigo 185.º constitui apenas alguns exemplos que deve ter como mote a
ajuda ao intérprete na definição do conceito de justa causa de exoneração. Expressou
46
MENEZES CORDEIRO, Manual de direito das sociedades II, pág. 214; MARIA AUGUSTA
FRANÇA, Direito à exoneração, Novas Perspectivas…, pág. 210; TIAGO SOARES DA FONSECA, O
direito de exoneração… pág. 220-221. 47
RAÚL VENTURA, Novos estudos sobre sociedades anónimas e sociedades em nome colectivo,
Comentário ao código das sociedades comerciais, reimpressão da edição de 1994, Almedina, Coimbra,
2003, pág.289-290; COUTINHO DE ABREU, Curso de direito comercial…, pág. 422. 48
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração… pág. 224.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
32
aqui, o legislador, a título de exemplo, algumas situações em que os pilares da relação
societária se podem tornar de tal forma frágeis que dificilmente poderia ser exigível ao
sócio titular do direito de exoneração a persecução dos interesses comuns que até à
verificação da justa causa de exoneração se mantinham.
SECÇÃO III
Causas Legais de Exoneração aplicáveis às Sociedades por Quotas
1. Vícios da Vontade no Ingresso para a Sociedade
O erro, o dolo, a coacção e a usura na celebração do contrato de sociedade são
motivos que constituem justa causa de exoneração nos termos do artigo 45.º, n.º1.
Aplica-se, também, o disposto neste artigo aos sócios supervenientes por força do artigo
48.º.
No que concerne à coacção o intuito do legislador seria apenas o de abranger a
coacção moral, uma vez que a coacção física não se consubstancia num vício de
vontade mas sim na ausência da mesma. Contudo alguns autores49
defendem a aplicação
por analogia à coacção física.
Por outro lado o artigo 45.º não comtemplou outros vícios da vontade como a
reserva mental, a incapacidade acidental e a simulação. Porquê? Haverá lacuna? Deve
fazer-se uma interpretação analógica para os outros vícios da vontade não descritos no
preceito?
Para João Cura Mariano50
, não existirá qualquer lacuna do legislador, houve sim
uma destrinça entre vícios da vontade não intencionais e aqueles que estariam feridos de
intencionalidade, não merecendo assim os últimos o mesmo tipo de protecção.
Numa posição intermédia encontramos a opinião de Menezes Cordeiro51
, que
apela a uma análise casuísta para que se possa avaliar a aplicabilidade da lei por
analogia.
Defendendo a aplicação por analogia de justa causa de exoneração aos vícios
omissos no artigo 45.º, Tiago Soares da Fonseca52
.
Inclinamo-nos a seguir a posição de Menezes Cordeiro, pese embora
concordemos, em parte com João Cura Mariano no sentido da pretensão do legislador
em fazer destrinça dos vícios da vontade intencionais e dos não intencionais, contudo
49
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração… pág. 225, nota 745. 50
JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 48. 51
MENEZES CORDEIRO, Manual de direito das sociedades I, pág. 517. 52
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração… pág. 226.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
33
por exemplo isso não será válido para a reserva mental ou a incapacidade acidental uma
vez que não serão vícios da vontade intencionais. Assim, propomos a solução
intermédia, de uma análise casuística, que conferirá mais justiça à análise de cada vício.
2. Direito de Exoneração com Fundamento em Interpelação para Pagamento
de Entrada Relativa a Nova Quota, Resultante de Aumento de Capital
“No aumento do capital social, através de novas entradas a subscrever por novos
sócios, ficam os restantes sócios solidariamente responsáveis com aquele pelo seu
pagamento.”53
Uma das formas, usuais, de aumento do capital social é a realização de novas
entradas por novos sócios, conduzindo ao aumento do património social.
Da necessidade de realização integral do capital social, nos termos do artigo
197.º, n.º 1, resulta a responsabilidade solidária, sendo os sócios solidariamente
responsáveis por todas as entradas. Estipula, também, o artigo 207.º, ns.º 1 e 2, nos
casos em que a sociedade não consiga obter o pagamento total ou parcial do valor da
entrada, ficam os restantes sócios obrigados ao seu pagamento.
Contudo o legislador decidiu estabelecer um mecanismo de protecção aos sócios
antigos, concedendo-lhes a possibilidade de “porem à disposição da sociedade a
quota”54
, aplicando-se o regime do artigo 240.º 55
.
O direito de exoneração aqui concedido não está dependente da sua posição
aquando da deliberação de aumento de capital social56
, apenas está dependente da
exigência ao sócio do pagamento das novas entradas e quando este tem a sua quota
liberada.
3. Direito de Exoneração por Existência de uma Proibição de Cessão de
Quotas
O instrumento da proibição de cessão de quotas visa essencialmente proteger a
sociedade da entrada de terceiros, corroborando na tese do carácter mais pessoal do que
patrimonial das sociedades por quotas.
O artigo 229.º, n.º1, admitindo a validade da proibição de cessão de quotas,
acautelou também o direito da livre iniciativa económica dos sócios, permitindo que,
53
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração … pág. 230. 54
JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 79. 55
JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 80. 56
Considerando que votando favoravelmente o aumento do capital social o sócio assume as inerentes
responsabilidades, entre as quais a possibilidade de interpelação para o pagamento de novas entradas,
JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 80.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
34
quando exista esta proibição, os mesmos se possam exonerar desde que tenham
decorrido dez anos após o seu ingresso na sociedade.
O prazo de dez anos deve contar-se da seguinte forma: quando a proibição for
posterior à constituição da sociedade, o prazo contar-se-á desde a introdução da
proibição para os sócios que já o eram; para os novos sócios a contagem do prazo deve
fazer-se desde o seu ingresso na sociedade; para os sócios supervenientes que tenham
adquirido a quota a título sucessório, o prazo conta-se desde o ingresso na sociedade do
sócio originário57
.
Relativamente ao prazo, surge ainda na doutrina a questão da sua imperatividade
ou supletividade. Para a maior parte da doutrina, a imperatividade opera em relação ao
prazo máximo, ou seja, não é possível à sociedade aumentar o prazo previsto na lei uma
vez que isso desvirtuaria por completo o sentido da norma, que será de impedir vínculos
perpétuos. No que respeita ao prazo mínimo a questão já não é tão pacífica. Videira
Henriques58
e João Cura Mariano59
pronunciaram-se contra a admissibilidade de reduzir
o prazo previsto no artigo 229.º, n.º 1, uma vez que isso se reconduziria à proibição de
exoneração com base na vontade arbitrária do sócio, proibida pelo artigo 240.º, n.º 8.
Em sentido contrário, admitindo a possibilidade de redução de prazo, pronunciou-se
Raúl Ventura60
.
Tendemos a concordar com a doutrina que entende o prazo como imperativo
tanto para o mínimo como para o máximo. O primeiro para não violar a norma do artigo
240.º, n.º 8 e o segundo para proteger os sócios, conforme intenção do legislador, de
vínculos perpétuos.
4. Direito de Exoneração por Oposição à Deliberação de Aumento de Capital a
Subscrever Total ou Parcialmente por Terceiros
Esta possibilidade de exoneração é a primeira a ser elencada no artigo 240.º,
n.º1, al. a).
A principal intenção desta norma é reservar ao sócio o direito de escolha quando
novos sócios entram na sociedade. É de salientar que o aumento de capital acarreta
perda do direito de voto e por conseguinte perda também na determinação dos destinos
da sociedade, assim como diminuirá a participação nos lucros.
Apenas os sócios discordantes podem exonerar-se.
57
RAÚL VENTURA, Sociedades por quotas, Vol. I…, pág.602. 58
PAULO ALBERTO VIDEIRA HENRIQUES, A desvinculação unilateral…, pág.57-59. 59
JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 45. 60
RAÚL VENTURA, Sociedades por quotas, Vol. I …, pág.602.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
35
5. Direito de Exoneração por Oposição à Deliberação de Modificação do
Objecto Social
O objecto social delimita a área de actuação da sociedade. A determinação do
objecto social prossegue vários interesses dos sócios na medida da sua decisão de
investimento em tal área, bem como define a actuação dos gerentes/administradores no
âmbito do mercado em que está inserido o objecto social61
.
Protegida pela determinação do objecto social fica também a sociedade uma vez
que o mesmo poderá ser determinante para a aplicação de legislação especial.
A sua alteração implica uma alteração aos estatutos societários, a qual só poderá
ser realizada com a concordância de uma maioria qualificada, isto se o pacto social não
exigir um número mais elevado ou mesmo a unanimidade (artigo 265.º, n.º1).
Também aqui, de acordo com o artigo 240.º, n.º 1, apenas os sócios que votaram
contra se podem exonerar, não sendo permitida a exoneração nem aos que se abstiveram
nem aos ausentes.
A alteração do objecto social, para que releve para efeitos do direito de
exoneração, deve ser uma alteração substancial, não bastando pequenas alterações62
.
6. Direito de Exoneração por Oposição à Prorrogação da Sociedade
O tempo de vida de uma sociedade pode ou não ser definido nos estatutos, não o
sendo esta terá, nos termos do artigo 15.º, n.º 1, duração por tempo indeterminado.
A sociedade pode, também, ter a sua duração sob termo certo ou incerto ou sob
condição resolutiva63
.
Quando, ainda que seja uma situação rara64
, por deliberação, nos termos do
artigo 265.º, n.º 1, o prazo da sociedade seja prorrogado, confere a lei, ao sócio
discordante, a possibilidade de se exonerar.
A prorrogação da sociedade só permite o direito de exoneração se esta for
realizada por deliberação social, ou seja, se for realizada automaticamente por cláusula
contratual não haverá lugar ao exercício deste direito65
.
Do mesmo modo, como para outras causas de exoneração, também para a
prorrogação da sociedade se exige que a mesma seja relevante66
.
61
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração… pág. 60, nota 65. 62
JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 62. 63
JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 63. 64
Porque geralmente têm duração indeterminada. 65
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração… pág. 243. 66
JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 65.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
36
7. Direito de Exoneração por Oposição à Transferência de Sede para o
Estrangeiro
Releva aqui a noção de sede supra referida.
Assim, estaremos perante causa de exoneração prevista no artigo 240.º, n.º1
quando a sociedade delibere a transferência de sede estatutária para o estrangeiro.
Quando a deliberação de transferência de sede se refira à sede efectiva estaremos,
também, perante uma causa de exoneração mas esta, nos termos do artigo 3.º, n.º 5.
Um problema surgirá quando haja uma deliberação que vise a transferência tanto
da sede estatutária como da sede efectiva para o estrangeiro. Qual das disposições será
aplicável?
Raúl Ventura67
e João Cura Mariano68
invocam a regra da especialidade segundo
a qual deverá aplicar-se o regime do artigo 240.º, n.º 1.
Por sua vez, Tiago Soares da Fonseca69
defende que caso estejamos perante
transferência de sede tanto estatutária como efectiva devemos aplicar o regime do artigo
3.º, n.º 5 porque confere maior protecção ao sócio. Acompanhamos a posição deste
autor pelos motivos supra citados.
8. Direito de Exoneração por Oposição ao Regresso à Actividade de Sociedade
Dissolvida
Retomando o tema, como já sabemos, só poderá relevar como causa de
exoneração a deliberação de regresso à actividade de sociedade dissolvida depois de
iniciada a partilha.
Como distingiremos, então, a causa de exoneração prevista no artigo 240.º, n.º 1,
al. a), da prevista no artigo 165.º, n.º 5?
Para João Cura Mariano, Coutinho de Abreu e Raúl Ventura70
estamos perante
causas de exoneração com diferentes fundamentos e âmbitos de aplicação distintos. Na
previsão do artigo 240.º, n.º 1, alínea a) não releva para a aplicação do direito de
exoneração a posição dos sócios na sociedade já dissolvida e /ou a retomar a actividade
nem a posição dos mesmos depois da partilha. Assim, dizem estes autores, ambas
podem ser utilizadas como causa de exoneração pelos sócios das sociedades por quotas.
67
RAÚL VENTURA, Sociedades por quotas, Vol. II…, pág.20-21. 68
JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 70. 69
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração… pág. 242. 70
JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 69, nota 106.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
37
Contra esta posição está Maria Augusta França71
que defende a aplicação em
exclusivo do artigo 240.º, n.º 1, alínea a) para os sócios das sociedades por quotas, uma
vez que para a autora este preceito afasta a norma geral do artigo 165.º, n.º 5.
Numa posição intermédia Brito Correia72
defende que se trata apenas de uma
repetição de preceitos legais, aplicáveis às mesmas situações.
Assim, como defendemos na situação anterior, também aqui devemos permitir a
aplicação da situação mais vantajosa para o sócio, sendo válido ao sócio da sociedade
por quotas escolher, perante o caso concreto, a disposição que lhe for mais favorável.
9. Direito de Exoneração com fundamento em Não Exclusão de um Sócio ou
pela Não Promoção da sua Exclusão
A possibilidade de exclusão do sócio é um direito da sociedade, porém quando a
mesma, por força de uma decisão da maioria, decida não existir fundamento ou pelo
menos não reconhecer a necessidade de afastar um sócio, havendo justa causa para tal,
atribuiu o legislador ao sócio que votou a favor da exclusão ou contra a não exclusão a
possibilidade de se exonerar nos termos do artigo 240.º, n.º 1, alínea b).
Para se verificar esta causa de exoneração é necessário que exista, em primeiro
lugar, justa causa de exclusão e, em segundo lugar, que haja uma deliberação de não
exclusão do sócio ou de não promoção da sua exclusão judicial.
Assim, assistirá ao sócio que votou a favor da exclusão ou da promoção judicial
de exclusão, bem como ao sócio que votou contra a não exclusão ou não promoção
judicial da exclusão, o direito de se exonerar.
SECÇÃO IV
Causas Legais de Exoneração aplicáveis às Sociedades Anónimas
1. Vícios da Vontade no Ingresso para a Sociedade. Remissão.
Por força da aplicação do artigo 45.º também às sociedades anónimas é válido
tudo o que foi referido supra sobre esta questão a propósito das sociedades por quotas.
2. Oposição à constituição de Sociedade Anónima Europeia por Fusão.
Estaremos perante uma sociedade anónima europeia constituída por fusão
quando duas das sociedades a fundir tenham lei pessoal de estados-membros distintos
(artigo 2.º n.º 1 e 17.º a 31.º do Reg. (CE) 2157/2001).
71
MARIA AUGUSTA FRANÇA, Direito à exoneração, Novas Perspectivas…, pág. 214-215. 72
LUÍS BRITO CORREIA, Direito comercial, 2.º vol., sociedades comerciais, A.A.F.D.L., Lisboa, 1989,
pág. 457.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
38
O mesmo regulamento admitiu a possibilidade de aquando a transposição para a
ordem jurídica interna o legislador contemplasse medidas de protecção dos sócios
minoritários (artigo 24.º do Reg. (CE) 2157/2001).
O legislador nacional agarrando essa possibilidade aquando a transposição
legislativa concedeu aos accionistas a possibilidade de exonerarem quando tenham
votado contra o processo de fusão, independentemente da existência ou não de
transferência de sede para o estrangeiro. Tudo o exposto encontra-se regulado pelo
artigo 7.º do Decreto-lei n.º 2/2015 (RJSE).
3. Transferência de Sede de Sociedade Anónima Europeia
O artigo 13.º do Decreto-lei n.º 2/2015 (RJSE) vem reconhecer o direito de
exoneração do sócio discordante em relação a transferência de sede de sociedade
anónima europeia para outro Estado-membro.
De acordo como Reg. (CE) 2157/2001 no seu artigo 7.º a sede estatutária e
efectiva das sociedades anónimas europeias devem coincidir pelo que acredito que o
artigo 13.º do Decreto-lei n.º 2/2015 (RJSE) deve aplicar-se em ambas as situações já
que a priori terão o mesmo local.
CAPÍTULO III
Causas Contratuais de Exoneração
Além das causas de exoneração legalmente previstas a lei concede aos sócios a
possibilidade de alargarem o leque de hipóteses de desvinculação nos estatutos
societários.
Para as sociedades em nome colectivo essa possibilidade encontra-se prevista no
artigo 185.º, não tendo a lei imposto limites à forma como os estatutos possam
consagrar o direito de exoneração.
Quanto às sociedades por quotas a previsão da possibilidade estatutária do
direito de exoneração está plasmada no artigo 240.º, n.º 1. Contudo aqui o legislador
instituiu um limite inultrapassável que proíbe a exoneração com fundamento na vontade
arbitrária do sócio nos termos do artigo 240.º, n.º 8 e sendo esta uma norma imperativa
todas as normas estatutárias que a violem padecem de nulidade73
.
73
JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 83.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
39
O pacto social não pode ainda, qualquer que seja o tipo societário, restringir o
uso do direito de exoneração quando previsto em norma legal.
Dentro das cláusulas contratuais cumprirá reparti-las em dois grupos. As
cláusulas contratuais típicas e as atípicas. É nestas últimas, a propósito das sociedades
anónimas, que se levantam as maiores questões.
SECÇÃO I
Típicas
1. Transformação de Sociedade
Todas as sociedades que tenham por objecto a prática de actos de comércio
devem adoptar um dos tipos societários previstos na lei, nos termos do artigo 1.º, n.º 2 e
3. Esta tipicidade é um elemento essencial para a aplicação de normas, que serão
distintas, consoante o tipo societário.
Não sendo porém, como sabemos, a economia uma disciplina estanque o
legislador permitiu que as sociedades comerciais se transformem, adoptando um outro
tipo previsto na lei (artigo 130.º). Condicionou, no entanto, o legislador, que esta
transformação de sociedade esteja dependente de uma permissão legal ou estatutária.
Não foi descurado, dada a relevância jurídica da transformação de sociedade,
todo um processo legalmente exigente, previsto e regulado nos artigos 132.º, 133.º e
134.º, sendo que o seu incumprimento é gerador de nulidade do processo de
transformação de sociedade. Além destes requisitos processuais legalmente exigentes o
legislador criou também mecanismos de protecção dos sócios.
Esta protecção repartiu-se em dois vectores, por um lado a transformação não
pode alterar as participações do montante nominal e da proporção do capital social,
salvo acordo por unanimidade, conforme dispõe o artigo 136.º, e de outro lado a
permissão do direito de exoneração para os sócios discordantes com o processo de
transformação.
Embora o artigo 137.º, n.º1 não atribua directamente um direito de exoneração
ao sócio discordante, admite que a lei o faça num outro ponto (que desconhecemos
existir) ou que o preveja o contrato de sociedade. Ora, como é fácil entender as
alterações que operam numa transformação de sociedade são profundas às quais não
deve a lei ou o contrato sujeitar os sócios discordantes, afirmando até, alguns autores,
que a transformação de sociedade deveria constituir causa legal de exoneração.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
40
São extensíveis à transformação, por força do artigo 137.º, n.º2, as regras
relativas à fusão.
2. A Fusão
“A fusão de sociedades é uma forma jurídica- por ventura a mais perfeita- que
permite dar corpo ao fenómeno da concentração económica.”74
A fusão é a união de duas ou mais sociedades em apenas uma. Existem duas
modalidades de fusão. A fusão por incorporação e a fusão por concentração. Ambas as
modalidades são descritas pelo legislador no artigo 97.º, n.º4, alíneas a) e b). Na
primeira modalidade uma sociedade mantendo-se em tudo inalterada absorve outra
sociedade. Na segunda modalidade uma ou mais sociedades transferem as suas posições
para uma nova entidade.
A fusão é uma operação transformadora de entidades já existentes que acarreta
alterações de fundo em ambas as entidades. Nomeadamente, alterações inevitáveis aos
estatutos qualquer que seja a modalidade da fusão, conforme artigo 98.º, n.º1, alínea f),
alterações ao capital social, podendo ainda envolver, operações de transformação de
sociedade de acordo com o disposto no artigo 97.º, n.º1.
Ora, é indiscutível o cariz transformador de uma operação de fusão, podendo a
mesma causar prejuízos para os sócios e inviabilizar a sua vontade de manter o vínculo
societário.
Por tudo isto, criou o legislador comercial uma norma de protecção, prevista no
artigo 105.º, admitindo a possibilidade de exoneração do sócio discordante com a
operação de fusão desde que tal direito esteja atribuído por lei ou por contrato.
Coloca-se aqui a questão de saber se a fusão será por si só uma causa legal de
exoneração. A doutrina maioritária tem-se pronunciado no sentido negativo.
Maria Augusta França75
não considera que o artigo 105.º atribua um direito de
exoneração. Na opinião da autora o legislador não considerou a fusão como causa
justificativa para o exercício do direito de exoneração mas permite que os estatutos o
façam.
74
MENEZES CORDEIRO, Direito das sociedades…vol. I, pág.959. 75
MARIA AUGUSTA FRANÇA, Direito à exoneração, Novas Perspectivas…, pág. 209.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
41
Raúl Ventura76
e João Cura Mariano77
interpretam a norma do artigo 105.º como
meramente reguladora do exercício do direito de exoneração caso o mesmo seja
atribuído pelo contrato de sociedade78
.
Existem porém autores que discordam desta posição e concluem que a norma
prevista no artigo 105.º se trata de uma previsão legal do direito de exoneração. No
sentido afirmativo da interpretação da norma do artigo 105.º como causa legal de
exoneração encontramos Brito Correia79
, Oliveira Ascensão80
e Videira Henriques81
.
Tendemos, embora com o mesmo desacordo no caso da transformação de
sociedades, a acompanhar os autores que interpretam o artigo 105.º como uma
regulamentação do direito de exoneração e não como uma causa. Fazemo-lo por dois
motivos, o primeiro é a letra da lei e o segundo prende-se com o facto de em mais
nenhuma parte do CSC o legislador atribuir um direito de exoneração com fundamento
na fusão, podendo tê-lo feito uma vez que abriu essa hipótese no artigo 105.º.
3. A Cisão
A cisão por seu turno também tem natureza transformadora mas, de modo
inverso, aqui cinde-se uma entidade para criar duas ou mais entidades.
Existem três modalidades de cisão previstas no artigo 118.º, n.º1. A alínea a)
prevê a modalidade de cisão simples, é o caso em que uma sociedade destaca parte do
seu património para com ele constituir uma nova sociedade. Na previsão da alínea b)
prevê-se a modalidade de cisão- dissolução, esta modalidade permite que uma sociedade
se dissolva ou divida para que com cada uma dessas partes constitua uma nova entidade.
Por fim, na previsão da alínea c), encontramos a última modalidade de fusão,
modalidade esta apelidada de cisão – fusão, onde se realizam duas operações, uma
primeira que consiste na dissolução ou destacamento do património de uma sociedade
em duas ou mais partes, a segunda operação consiste na utilização do património
destacado ou dissolvido para a realização de operações de fusão com outras sociedades.
Também no âmbito da cisão encontramos, na óptica do sócio, as mesmas
problemáticas supra referidas no regime da fusão. Deste modo, e por força do artigo
76
RAÚL VENTURA, Fusão, cisão e transformação de sociedades parte geral, Parte geral, artigos 97.º
a 140.º, Comentário ao código das sociedades comerciais, 3.ª reimpressão da edição de 1990, Almedina,
Coimbra, 2006, pág. 140. 77
JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 41. 78
No mesmo sentido DANIELA FARTO BAPTISTA, O direito de exoneração dos accionistas …, pág.
199-206. 79
LUÍS BRITO CORREIA, Direito comercial, 2.º vol., …, pág. 454. 80
JOSÉ DE OLIVEIRA ASCENSÃO, Direito comercial…, Vol. IV, pág.372. 81
PAULO ALBERTO VIDEIRA HENRIQUES, A desvinculação unilateral…, pág.35-36.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
42
120.º, com toda a relevância e lógica, também aqui tem aplicabilidade a possibilidade de
exoneração do sócio discordante.
SECÇÃO II
Atípicas
1. Cláusulas Contratuais Atípicas nas Sociedades Anónimas
Sendo a lei omissa na questão da admissibilidade de cláusulas estatutárias nas
sociedades anónimas cabe à doutrina e à jurisprudência analisar a questão.
Entre nós a doutrina já se pronunciou largamente sobre o assunto, existindo
autores que não concebem a sua admissibilidade e de outro lado autores que não
concebem a sua proibição.
De entre os vários autores daremos foco aos mais relevantes, contra a
admissibilidade de tais cláusulas, distinguimos:
Osório de Castro82
, diz suficientes os casos que a lei consagra para o direito de
exoneração nas sociedades anónimas, uma vez que são aplicáveis quando o princípio da
transmissibilidade de acções está restringido. Diz o autor “ …o accionista inconformado
tem sempre a possibilidade de alienar as sus acções, o que é uma solução bastante.”.
Paulo Olavo da Cunha83
, vai no mesmo sentido concluindo que a possibilidade
de transmitir acções faz com que o direito de exoneração assuma uma natureza
excepcional, não sendo assim admissíveis cláusulas que não as legalmente previstas.
Manuel Triunfante84
, entende que o silêncio do legislador foi intencional, no
sentido da proibição da exoneração por cláusulas estatutárias nas sociedades anónimas.
Para Menezes Cordeiro85
, não existe possibilidade de exoneração fora dos casos
previstos na lei, justificando a sua posição pela natureza jurídica das sociedades
anónimas em que os sócios só respondem pelo valor das suas entradas não devendo as
suas posições serem afectadas por decisões de outros sócios.
Como defensores da tese da admissibilidade de tais cláusulas, encontramos:
82
CARLOS OSÓRIO DE CASTRO, Da admissibilidade das chamadas “opas estatutárias” e dos seus
reflexos sobre a cotação das acções em bolsa, Almedina, Coimbra, 2002. 83
PAULO OLAVO DA CUNHA, Direito das sociedades comerciais, pág.311. 84
ARMANDO MANUEL TRIUNFANTE, A tutela das minorias nas sociedades anónimas, pág. 318-
320. 85
ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Direito das sociedades, das Sociedades em especial, pág.711-
712.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
43
Maria Augusta França86
, admite como válidas as cláusulas estatutárias de
exoneração baseando a sua posição no princípio da autonomia contratual, salientando
que tais cláusulas são válidas desde que não violem princípios ou preceitos legais.
Pais Vasconcelos87
, admite também a validade de tais cláusulas mas prevê a sua
maior frequência em acordos parassociais.
Coutinho de Abreu88
, considera também válidas as cláusulas contratuais de
exoneração nas sociedades anónimas desde que não colidam com normas legais
imperativas e não estejam na vontade arbitrária do sócio.
Raúl Ventura89
, a propósito das sociedades por quotas, defende a
admissibilidade de causas estatutárias fora dos casos previstos na lei com excepção para
a vontade arbitrária do sócio. Esta foi também a posição adoptada por João Cura
Mariano.
Como defensora acérrima da admissibilidade destas cláusulas temos Daniela
Baptista90
, justificando a sua posição no princípio da liberdade contratual, na existência
de regras legais que proíbam a criação destas cláusulas e na possibilidade de poder
existir dificuldade na transmissibilidade de acções.
João Espírito Santo91
, entende que a omissão do legislador foi intencional,
acolhendo a admissibilidade destas cláusulas e refutando todos os argumentos da
doutrina em sentido contrário. Este autor entende que o princípio da livre
transmissibilidade de acções poderá não ser exequível uma vez que podem haver
dificuldades por vários motivos nessa transmissão. O argumento do atentado ao
interesse público também é desmantelado por este autor uma vez que o direito
comercial se enquadra na esfera do direito privado e não na esfera do direito público.
Quanto à possível violação dos direitos dos credores na manutenção do património
social o autor afasta essa possibilidade uma vez que o direito de exoneração não tem
como consequência imediata, aliás é apenas o ultimo reduto, a dissolução, sendo que
primariamente a sociedade deve fazer adquirir a participação social por outro sócio ou
terceiro.
86
MARIA AUGUSTA FRANÇA, Direito à exoneração, Novas Perspectivas, pág.220. 87
PEDRO PAIS DE VASCONCELOS, A participação social nas sociedades comerciais, Almedina,
Coimbra, 2006, pág.384-386. 88
JORGE MANUEL COUTINHO DE ABREU, Curso de Direito Comercial…, pág. 424-425. 89
RAÚL VENTURA, Sociedades por quotas, Vol. II…, pág. 18 90
DANIELA FARTO BAPTISTA, O direito de exoneração dos accionistas…, pág. 327-328 e 480-483. 91
JOÃO ESPÍRITO SANTO, Exoneração do sócio…, pág.629.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
44
2. Direito Comparado
No direito italiano a questão também não é pacífica. A maior parte da doutrina92
tem negado a admissibilidade de cláusulas contratuais com base na interpretação
restritiva do artigo 2437 do CCit.
Os autores italianos que defendem esta posição fazem-no com fundamento na
excepcionalidade do diritto di recesso, na protecção de credores sociais e no interesse
público da manutenção societária. Consideram, estes autores, taxativas as causas de
exoneração previstas na lei. Em linha com posições de autores portugueses, supra
citados, estes autores reiteram a sua posição com base no princípio da livre
transmissibilidade de acções, afirmando que os sócios discordantes com determinada
deliberação social se podem facilmente desvincular da sociedade recebendo o valor das
suas acções.
Um sector mais diminuto da doutrina italiana reconhece autonomia ao diritto di
recesso, encarando-o também como um direito dos accionistas, não vendo estes autores
que uma interpretação ampliada da norma do artigo 2437 do CCit possa prejudicar
credores e/ou interesses públicos.
A questão ficou mais apaziguada aquando da reforma de 2003 o CCit veio
permitir através do n.º 4 do artigo 2437 cláusulas estatutárias de exoneração nas
sociedades anónimas.
Nuestros hermanos também não chegam a um consenso no que a esta questão
refere93
. Tal como no direito português e no direito italiano as questões que dividem a
doutrina espanhola são as mesmas.
No direito francês a legislação não confere direito de exoneração aos sócios de
sociedades anónimas, depositando a sua confiança na resolução de litígios através do
princípio da livre transmissibilidade de acções94
e nas ofertas públicas de aquisição.
3. Posição Adoptada
O silêncio do legislador foi, no nosso entender, o de quem não quis tomar
posição confiando por um lado na transmissibilidade de acções e por outro na vontade
dos sócios. A doutrina divide-se, como vimos, há autores para quem o silêncio significa
uma proibição, outros entendem-no como admissibilidade de tais cláusulas.
92
GIANCARLO FRÉ, Sul Dirrito di Recesso…pág. 811. 93
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…, pág. 272, nota 918. 94
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…, pág. 65, nota 148.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
45
Por entre as justificações de quem é contra a admissibilidade de tais cláusulas
podem destacar-se o princípio da livre transmissibilidade de acções, a lesão de
interesses dos outros sócios e credores sociais, a eventual dissolução da sociedade e a
natureza excepcional do direito de exoneração.
O principal argumento, o do princípio da livre transmissibilidade de acções, não
vence. Caso este princípio resolvesse os mesmos problemas que o direito de exoneração
visa resolver, então o legislador só teria previsto a exoneração em sociedades em que
este princípio não vigorasse, o que não é verdade pois como decorre da lei ele aplica-se
a todos os tipos de sociedade comerciais.
Ainda assim, partindo do princípio que admitíamos que essa era de facto a
intenção do legislador, seria questionar o que se faria no caso de se tratar de uma
sociedade anónima que não fosse aberta ao mercado. Ficaria o sócio refém da sociedade
ou da vontade da maioria? Esperaria até existir, a existir, uma cláusula legal de
exoneração? Qualquer destas soluções não fará qualquer sentido, estamos no domínio
do direito privado, vigora aqui o princípio da liberdade de estipulação, este deve primar
sempre, ainda mais no caso em apreço em que outras soluções não são aplicáveis.
Mesmo estando perante uma sociedade aberta ao mercado a transmissibilidade
de acções pode não ser exequível, ora porque o mercado não está favorável à sua
compra, ora porque o valor dessas mesmas acções em determinado momento por
qualquer motivo não é o justo valor. Não se pode assim sustentar a inaplicabilidade do
direito de exoneração por força do princípio da livre transmissibilidade de acções, que
nem sempre, como analisamos, é passível de ser utilizado.
Uma segunda ideia surge no facto de o direito de exoneração previsto em
cláusulas contratuais poder eventualmente lesar interesses de outros sócios ou credores
sociais. Se pode fazê-lo nas sociedade anónimas também pode fazê-lo nos outros tipos
societários, onde é permitido, mais uma vez existiria aqui uma descriminação face às
sociedades por quotas, discriminação essa, injustificada. Este argumento não pode,
igualmente, ser atendível. As cláusulas contratuais que dispusessem o direito de
exoneração seriam criadas pelos próprios sócios estando assim todos numa posição
igualitária em que ninguém teria, obviamente, interesse em agir conta os próprios
interesses. Ainda que a entrada na sociedade seja posterior à sua constituição os sócios
tem acesso ao estatutos e a na sua adesão já saberiam quais eram as possibilidades de
exoneração.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
46
O mesmo argumento a favor dos credores também não se aceita sendo que os
meios disponibilizados pelo CSC para sua protecção são os mesmos haja ou não
exoneração prevista em cláusulas estatutárias.
A única reserva que posso ter e que pode de facto sustentar esta posição é no
caso do exercício deste direito acarretar a dissolução da sociedade. Embora seja uma
possibilidade, a dissolução, não é uma consequência imediata ou necessária mas se tal
acontecer admito que lese interesses de outros sócios e credores sociais. Obviamente
que a continuação de uma sociedade não deve estar na liberdade de um sócio que exerce
o direito de exoneração mas ainda assim, quantas mais possibilidades de exoneração
mais possibilidades de dissolução, o que para a vida societária, sobretudo em momentos
de crise económica, pode acarretar alguns perigos.
No que concerne à natureza excepcional do direito de exoneração este
argumento refuta-se também. A deliberação para a criação de cláusulas contratuais de
exoneração está dependente da vontade da maioria. Mesmo que reconhecêssemos o
carácter excepcional do direito de exoneração isso apenas impediria os sócios de se
socorrerem do mesmo fora dos casos previstos na lei ou no contrato.
Por último há ainda quem sugira que o direito de exoneração estatutariamente
previsto pode lesar interesse público, ora, quanto a isto apenas cumpre salientar que o
direito comercial pertence à esfera do direito privado, não tendo natureza pública não
pode lesar tais interesses. Os interesses sociais são interesses privados na medida em se
reconduzem aos interesses particulares dos sócios95
.
Uma questão que surgiu aquando da elaboração da presente dissertação é a
violação do direito constitucional ao trabalho. O direito de exoneração no seu término
mais radical pode conduzir à dissolução da sociedade, quando pensamos em sociedades
elas não são apenas estruturas de capital, são também estruturas organizadas de pessoas,
estruturas essas que têm certamente trabalhadores, ora dissolvendo-se a sociedade todos
os postos de trabalho serão afectados. Neste prisma se já existe esta perigosidade
decorrente da lei que tenderá a aumentar com a maior consagração de cláusulas que
possibilitem a exoneração.
Face ao exposto, atendendo à intenção do legislador e corroborando as posições
doutrinais que aceitam a admissibilidade das cláusulas contratuais, também nós temos
de admiti-las. Não poderá ser de outra forma a protecção das minorias.
95
MENEZES CORDEIRO, Manual de direito das sociedades II, pág. 321.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
47
Quanto aos limites para o estabelecimento de cláusulas estatutárias de
exoneração propomos o recurso à analogia e concordamos com o bom senso do
legislador previsto no artigo 240.º, n.º 8. Assim, não devem os accionistas, introduzir
nos seus estatutos cláusulas contratuais de exoneração que esteja na pendência da
vontade arbitrária do sócio.
4. Cláusulas Contratuais de Exoneração por Justa Causa nas Sociedades
Anónimas
Como já referimos, anteriormente neste trabalho96
, a propósito da justa causa de
exoneração nas sociedades em nome colectivo, o conceito de justa causa é um conceito
indeterminado e por vezes subjectivo sendo por isso necessário identificar outras justas
causas, assim intituladas pelo legislador, para delimitar o conceito.
Concluímos que a justa causa ocorre sempre que não seja viável exigir ao sócio
que permaneça na sociedade.
Sabemos que não existe no CSC qualquer referência à exoneração por justa
causa nas sociedades anónimas contudo muitos são os autores que admitem tal
possibilidade.
Coutinho de Abreu97
, admite expressamente as cláusulas estatutárias de
exoneração com fundamento em justa causa socorrendo-se o autor do recurso à
analogia.
Brito Correia98
têm idêntica posição mas exige uma análise casuística.
Luís Menezes Leitão99
fundamenta a admissibilidade de tais cláusulas no facto
de a justa causa servir de fundamento a todas as cláusulas, sejam elas legais ou
contratuais.
A analogia a que estes autores recorrem será de acordo com o artigo 242.º, n.º 1,
a propósito das sociedades por quotas, o que obrigará a uma intervenção jurisdicional.
Para nós, arriscando ir mais longe a justa causa deve ser uma causa de
exoneração autónoma, independente de qualquer previsão legal ou estatutária, baseada
apenas nos princípios gerais do direito, da boa-fé, da justiça e da proibição do abuso do
direito. Isto porque assim como muitas das justificações da doutrina que não aceita a
96
Vide n.º 1, secção II, Capítulo II, da Quarta Parte. 97
COUTINHO DE ABREU, Curso de direito comercial …, pág. 438. 98
LUÍS BRITO CORREIA, Direito comercial, 2.º vol., …, pág. 467. 99
Luís Menezes Leitão, Pressupostos da exclusão de sócio nas sociedades comerciais, 1.ª reimpressão da
1.ª edição de 1988, A.A.F.D.L, Lisboa, 1995, pág. 92.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
48
admissibilidade das cláusulas contratuais nas sociedades anónimas, como foi exposto ao
longo deste trabalho, também aqui esses mesmos argumentos não vencem.
A natureza excepcional do direito de exoneração visa proteger minorias que
muitas vezes não dispõem de soluções justas para abandonarem a sociedade de uma
forma não pesarosa, ora a justa causa de exoneração protegerá esse mesmo fim.
Assim, concluímos, pela admissibilidade de cláusulas contratuais que
estabeleçam o direito à exoneração com justa causa, ainda que dependente do recurso à
intervenção jurisdicional.
5. Cláusulas Contratuais de Exoneração Ad nutum
A inserção nos contractos de sociedades de cláusulas de exoneração, embora
admitidas pela maior parte da doutrina, deve respeitar alguns limites.
Segundo Tiago Soares da Fonseca, autor que acompanhamos nesta matéria, os
limites serão três, a saber: i) a compatibilidade com normas legais imperativas, ii)
justificação causal e iii) adequação aos princípios caracterizadores de cada tipo
societário.
Admitir uma cláusula ad nutum é desrespeitar estes limites, admitindo o
desinvestimento puro sem dependência de uma causa.
Nas sociedades por quotas, regime aplicável e do qual nos devemos socorrer
para integração de lacunas nas sociedades anónimas, é expressamente proibido a
consagração de cláusulas contratuais que permitam a exoneração baseada na vontade
arbitrária do sócio, artigo 240.º, n.º8100
.
A razão maior para não serem admitidas é a protecção dos credores sociais na
manutenção do património social101
.
Tendemos, por razões de segurança jurídica, a seguir a posição da doutrina
maioritária, não admitindo pelos motivos supra expostos, cláusulas contratuais ad
nutum.
A exoneração ad nutum é ilícita sendo nulas todas as cláusulas contratuais que as
admitam, nos termos do artigo 294.º C.C.102
100
MARIA AUGUSTA FRANÇA, Direito à exoneração, Novas Perspectivas, pág. 220 e DANIELA
FARTO BAPTISTA, O direito de exoneração dos accionistas…, pág.460. 101
JOÃO ESPIRÍTO SANTO, Exoneração do Sócio…pág.794 102
JOÃO ESPIRÍTO SANTO, Exoneração do Sócio…pág.794 e DANIELA FARTO BAPTISTA, O
direito de exoneração dos accionistas, pág.460.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
49
CAPÍTULO III
Secção I
Direitos Especiais e o Direito de Exoneração
1. Direitos Especiais
Aquando da aquisição da qualidade de sócio ou accionista de uma sociedade,
independentemente do tipo societário, adquirem-se direitos e deveres, direitos esses que
devem ser acautelados e obrigações que devem ser cumpridas e assumidas, nos termos
dos artigos 20.º e 21.º do CSC.
Além destes direitos, ditos gerais, o legislador consagrou no artigo 24.º a
possibilidade de existirem também direitos especiais. Estes direitos conferem a
determinados sócios uma vantagem em relação aos demais.
Num primeiro momento estes direitos estariam em conflito com o princípio da
igualdade entre sócios, mas por força do artigo 405.º do C.C. impera o princípio da
liberdade contratual, uma vez que estes direitos são definidos e atribuídos pelo pacto
social.
Nas sociedades por quotas estes direitos são atribuídos a determinado sócio, tem
intuito personae, enquanto nas sociedades anónimas estes direitos são atribuídos a
categorias ou classes de acções, sem qualquer referência ao seu detentor.
Estes direitos são inderrogáveis pela maioria, ainda que qualificada para
alteração do pacto social, mas são renunciáveis a todo o tempo pelo seu titular nos
termos do artigo 24.º, n.º5.
2. Direitos Especiais e o Direito de Exoneração
Os direitos especiais coexistem no CSC com as várias previsões da possibilidade
de exercício do direito de exoneração.
Em alguns casos, até, a alteração substancial societária é condicionada à
demonstração da continuidade de respeito por esses direitos especiais. É o que
acontece no caso da fusão, nos termos do artigo 98.º, n.º 1, alínea j), que prevê
aquando a elaboração de um projecto de fusão se assegure a manutenção dos direitos
especiais dos sócios.
É contudo unânime que os sócios titulares de direitos especiais mantêm a
possibilidade de exercício do direito de exoneração, ainda que o fundamento deste
não prejudique tais direitos.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
50
A questão mais relevante, em nosso entender, será a de analisar (partindo da
admissibilidade do direito de exoneração em cláusulas contratuais) se os direitos
especiais podem consistir em direitos de exoneração. Será que o direito de
exoneração previsto em cláusulas contratuais pode ser um direito especial? Poderá
assistir apenas a alguns sócios certas possibilidades de exoneração?
De todos os autores que consultamos, no âmbito do presente trabalho, não
obtivemos resposta a estas questões. E também nós temos dificuldades em avaliar a
questão. Se por um lado, faz sentido e nada na lei impede que se atribua a
determinados sócios o direito de exoneração perante determinada situação, por outo
lado, esta ideia pode por em causa um dos principais fundamentos do direito de
exoneração, “o direito de resistência” à vontade imposta pela maioria.
Tornando a possibilidade de exoneração um direito especial estaremos a vedá-lo
aos restantes sócios, que podem coincidir com a minoria. Pode, assumimos, existir
nesta ideia alguma perigosidade. Porém nada, na nossa interpretação, no CSC
impede que tal possa acontecer.
Provavelmente, salvo melhor opinião, será necessário uma intervenção
legislativa nesta matéria de modo a delimitar a consagração de direitos de
exoneração enquanto direitos especiais.
CAPITULO IV
Exercício do Direito de Exoneração
Secção I
Da Legitimidade
1. Legitimidade
Enquanto figura do direito comercial o direito de exoneração é um direito reservado
aos sócios.
Apenas os sócios de sociedades unipessoais ou titulares de quotas/acções
próprias estão impedidos de exercer este direito.
Bem como quando a qualidade de sócio é adquirida posteriormente ao facto que
originou o direito de exoneração. A razão de ser desta premissa é simples, aquando a
entrada na sociedade o sócio já tinha conhecimento do facto sendo-lhe permitido
escolher não ingressar na sociedade.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
51
1.1. O usufruto de participações sociais
Quando existe usufruto de participações sociais releva aferir a posição do sócio e
a posição do usufrutuário.
O artigo 23.º, n.º2 tenta solucionar a questão remetendo para o artigo 1467.º do
C.C.. O artigo 1467.º do C.C. atribui por sua vez ao usufrutuário o direito aos lucros e
ao voto. Em relação ao direito de voto este é condicionado, necessitando também do
voto do sócio, quando estejam em causa deliberações que alterem os estatutos ou que
visem a dissolução da sociedade.
Sendo que nos restantes casos o direito de voto estará sempre na esfera do
usufrutuário e da sua posição dependerá sempre o direito do proprietário se exonerar.
Questão distinta será a quem pertence o direito de exoneração?
Só ao sócio poderá pertencer uma vez que é a propriedade que está em causa.
Ao usufrutuário que sejam defraudadas expectativas do uso e fruição da
participação social caberá somente o direito a ser indemnizado pelos prejuízos causados
pela não permanência na sociedade.
1.2. Contitularidade de Participações Sociais
Sempre que as participações sociais pertençam simultaneamente a duas ou mais
pessoas estamos perante uma situação de contitularidade ou compropriedade.
O CSC para solucionar eventuais questões que daí possam advir estabeleceu nos
seus artigos 222.º e 303.º que os contitulares devem exercer os seus direitos através de
um representante comum, bem como as comunicações e declarações da sociedade
devem ser feitas a esse mesmo representante e, na falta deste, a um dos contitulares.
Uma vez que a lei, no seu artigo 224.º, n.º 1, não permite que o representante
comum pratique actos que importem a extinção, alienação ou oneração da quota e tendo
o direito de exoneração como fim a extinção da relação societária deve ser exercido por
todos se estivermos perante uma causa de exoneração objectiva (que afectam todos os
titulares) ou subjectiva (que afecta apenas algum ou alguns dos titulares) que abranja
todos os contitulares.103104
Assim, os referidos actos, só podem ser praticados mediante
deliberação unânime de todos os contitulares105
.
103
Contra TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…pág. 97. 104
No mesmo sentido JOÃO CURA MARIANO aplicando por analogia o artigo 238.º, Direito de
exoneração dos sócios …,pág. 87. 105
RAÚL VENTURA, Sociedades por Quotas, Vol. I…, pág.524 e TIAGO SOARES DA FONSECA, O
Direito de Exoneração…pág. 296.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
52
O direito de exoneração implica a extinção da relação societária e alienação da
participação social, logo para o seu exercício, quando estejamos perante causas
objectivas de exoneração, terá de ser deliberado por unanimidade dos contitulares. O
desacordo de um dos contitulares impedirá a exoneração106
. Mas poderá não ser assim,
também nós, seguindo a doutrina mais recente107
, estamos em desacordo com esta
solução. Os contitulares não podem impedir o exercício de direitos que a lei visa
proteger.
Os contitulares devem, na falta de acordo, exercer o direito de exoneração com
autonomia, na medida em que é um direito singular, podendo exigir à sociedade que
adquira ou faça adquirir a parte que detém na participação social.
Já quando estejamos perante causas subjectivas de exoneração as mesmas não
devem ser objecto de deliberação dos contitulares nos termos do artigo 224.º, n.º1 uma
vez que não existe um direito de exoneração comum.
Se estivermos perante uma causa subjectiva que apenas fundamente o direito de
exoneração de um ou de alguns contitulares não podem todos os titulares da quota
exercer o direito, apenas aqueles que detenham fundamento para tal.
Assim:
- Se o fundamento da exoneração é a existência de vício da vontade na
assinatura do contrato de sociedade, apenas os sócios cuja vontade foi viciada podem
solicitar a sua exoneração.
- Quando o fundamento para a exoneração é a existência de uma proibição de
cessão de quotas apenas o sócio que completou dez anos de participação na sociedade se
pode exonerar.
- Se o fundamento para o exercício da exoneração é a transformação da
sociedade apenas os sócios que dela discordaram podem exonerar-se.
- Quando o fundamento da exoneração é a deliberação de regresso à actividade
da sociedade dissolvida apenas os sócios que tenham votado desfavoravelmente se
podem exonerar.
- Se estivermos perante transferência de sede para o estrangeiro, aumento de
capital a subscrever total ou parcialmente por terceiros, prorrogação da sociedade,
mudança do objecto social e não exclusão de sócio, apenas os sócios que votaram
vencido nessas deliberações tem legitimidade para requerer a exoneração.
106
Ac. STJ de 8 de Junho de 1995, in BMJ, 448, 1195, PÁG. 390-396. 107
JOÃO ESPIRÍTO SANTO, Exoneração do Sócio…pág.803.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
53
Pode, como analisado, o titular do direito de exoneração exonerar-se sem o
consentimento dos demais, exigindo à sociedade que aquira ou faça adquirir parte que
detém na participação social108
.
1.3. O penhor
O penhor, enquanto garantia real, coloca o credor pignoratício numa situação de
vantagem face aos demais credores, com vista à satisfação do seu crédito (artigo 666.º,
n.º 1 do CC).
Contudo sendo o direito de exoneração um direito que só pode ser exercido pelo
titular da participação social está vedado ao credor pignoratício o seu exercício.
Mariano Cura109
, considera necessário, para o exercício do direito de exoneração
de participações penhoradas, o consentimento do credor. Também nós acompanhamos
esta posição.
1.4 A penhora, o arresto, o arrolamento ou a apreensão em processo de
falência ou insolvência
Se a participação social se encontrar penhorada, arrestada, arrolada ou apreendida
em processo de falência ou insolvência o seu titular mantém o direito de se exonerar. O
destino do reembolso da participação social é que não será do sócio (artigo 235.º, n.º2
do CSC).
1.5 Os accionistas sem direito de voto e os sócios impedidos de votar
Uma questão bastante pertinente coloca-se quando estamos perante acções
preferenciais sem direito de voto (artigo 341.º a 344.º), accionistas sem direito de voto
por não possuírem o número mínimo de acções que lhes permita, nos termos dos
estatutos, votar (artigo 384.º, n.º2, alínea a)) e dos sócios impedidos de votar por
conflito de interesses (artigo 251.º, n.º12, 367.º, n.º2 e 384º, n.º6), ou por determinação
do Banco de Portugal.
Ora nestas situações a única vedação ao sócio é o direito de voto mantendo-se
todos os outros, incluindo o direito de exoneração110
.
108
Contra Tiago Soares da Fonseca, O direito de exoneração…pág. 297, para quem o exercício do direito
de exoneração quando existe contitularidade da participação social implica a extinção ou alienação
integral da participação. Razão pela qual o mesmo autor considera como solução no caso de desacordo
entre contitulares a acção de divisão de coisa comum. 109
JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 96. 110
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração… pág. 302.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
54
Secção II
Da Declaração
O exercício do direito de exoneração, sendo este um direito potestativo,
encontra-se na livre disponibilidade do sócio. Deve efectuar-se através de uma
declaração de exoneração, declaração essa que será unilateral e receptícia.
A produção de efeitos da declaração não depende de qualquer aceitação por
parte da sociedade.
A declaração de exoneração goza de liberdade de forma nos termos do artigo
219.º do CC, salvo quando estejamos perante as causas legais previstas no artigo 240.º
,n.º1 do CSC para as sociedades por quotas e nos artigos 7.º, n.º2, 11.º, n.º1 e 13.º, n.º2
do DL n.º2/2005, de 4.01, para a SE que é exigível a forma escrita sob pena de nulidade.
Quanto ao prazo para a emissão da declaração sempre que este esteja fixado não
pode ser afastado nem reduzido pelos sócios. Imperativamente sempre que haja prazo
para a emissão da declaração de exoneração esta deve ser emitida até ao seu termo sob
pena de caducidade do direito.
O conteúdo da declaração deverá compreender além da manifestação da
vontade, ainda que tácita, em abandonar a sociedade, a causa legal ou convencional
justificativa do direito de exoneração. A invocação da (s) causa (s) de exoneração é
essencial para que a sociedade possa aferir se estão ou não verificadas as condições para
o exercício do direito de exoneração.
CAPITULO VI
Efeitos do Exercício do Direito de Exoneração
Perda do Status Socii
A consequência mais importante do exercício do direito de exoneração é a perda
da qualidade de sócio. O exercício deste direito visa extinguir a relação societária
existente entre o sócio e a sociedade.
Questão de relevo e que tem ocupado a doutrina é o momento em que acontece a
perda da qualidade de sócio.
O CSC apenas tratou a questão para as sociedades em nome colectivo (artigo
185.º, n.º4) estabelecendo que a exoneração só se torna efectiva no fim do ano social em
que é feita a comunicação respectiva, mas nunca antes de decorridos três meses sobre
essa comunicação. Esta é também a solução do CC para as sociedades civis.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
55
No que aos outros tipos societários o legislador não se pronunciou deixando ao
intérprete essa tarefa. O tema tem dividido a doutrina.
Por um lado, há quem considere que o momento da perda da qualidade de sócio
acontece quando é recebida a declaração de exoneração, de outro lado, há quem defenda
que esse momento será apenas quando ocorre a amortização, transmissão ou o
reembolso da participação social. Ambas as hipóteses levantam alguns problemas,
nomeadamente na primeira posição o facto de a causa de exoneração poder não se
verificar e na segunda a posição jurídica do sócio desde o momento em que emite a
declaração de exoneração até à amortização, transmissão ou reembolso da participação
social.
Tentemos descortinar a questão.
Para o João Espírito Santo111
, existem três pontos cronológicos relevantes para
definir o momento da perda de qualidade de sócio; um primeiro momento será o da
produção de efeitos da declaração; um segundo momento será a realização do meio
técnico que executa o direito de exoneração (deliberação de amortização ou de
aquisição); por fim um último momento que será o pagamento da contrapartida.
A propósito das sociedades por quotas a maior parte da doutrina considera que o
momento da perda da qualidade de sócio será o da verificação da execução do
instrumento técnico.
Raúl Ventura112
, crê que o momento da perda da qualidade de sócio será o
momento da amortização ou aquisição da quota113
.
João Cura Mariano114
, defende que o momento da perda de qualidade de sócio
ocorrerá quando a sociedade comunica ao sócio a deliberação de amortização da sua
quota ou a data da celebração da escritura de aquisição da quota pela sociedade, outro
sócio ou terceiro.
Videira Henriques115
, por seu turno, defende a tese de que o momento da perda
de qualidade de sócio acontecerá aquando a recepção pela sociedade da declaração de
exoneração.
111
JOÃO ESPIRÍTO SANTO, Exoneração do sócio…pág.868. 112
RAÚL VENTURA, Sociedades por quotas, Vol. II…, cit. pág.33-34 113
No mesmo sentido e a favor da aplicação desta solução às sociedades anónimas MARIA AUGUSTA
FRANÇA, Direito à exoneração, Novas Perspectivas, pág.224 e JOÃO LABAREDA, Das acções das
sociedades Anónimas, A.A.F.D.L., Lisboa, 1998, pág. 317. 114
JOÃO CURA MARIANO, Direito de exoneração dos sócios …, pág. 142. 115
PAULO ALBERTO VIDEIRA HENRIQUES, A desvinculação unilateral…, pág.84.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
56
Tiago Soares da Fonseca116
, entende que a exoneração é um processo com início
na declaração de exoneração e culmina com o pagamento do valor da participação
social. Conclui este autor que o momento da exoneração será o momento da
amortização ou aquisição da participação social.
Acompanhamos a posição deste autor.
Questão distinta e também muito pertinente é a de saber o que acontecerá à
posição do sócio desde o momento da emissão da declaração até à amortização ou
aquisição da participação social.
João Espírito Santo117
, defende a ideia de que o exonerado deverá conservar
todos os direitos até à efectivação da exoneração com as limitações comuns do exercício
inadmissível de direitos.
Não podemos corroborar esta posição uma vez que o sócio quando emite a
declaração de exoneração está automaticamente a desvincular-se da pretensão do
exercício de direitos e obrigações sociais. Até porque no decorrer deste espaço de tempo
o sócio não poderá tomar isentamente decisões sobre a vida societária.
Tiago Soares da Fonseca118
defende a suspensão dos direitos e obrigações
sociais, com excepção dos poderes necessários para a concretização da sua pretensão de
saída.
Parece-nos mais razoável e lógica esta última posição que pelos mesmos
motivos acompanhamos.
CAPITULO VII
O Direito de Exoneração Exercido Através de Ofertas Públicas de Aquisição119
Obrigatórias
Secção I
As Ofertas Públicas de Aquisição
As ofertas públicas de aquisição consistem em propostas dirigidas aos titulares
de valores mobiliários com vista à aquisição dos mesmos. Apelam a uma decisão de
alienação da participação social ou de desinvestimento, ficando obviamente na
disponibilidade do titular aceitá-la ou não.
116
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…, pág. 319-323. 117
JOÃO ESPIRÍTO SANTO, Exoneração do sócio…pág. 933. 118
TIAGO SOARES DA FONSECA, O direito de exoneração…, pág. 323. 119
Neste capítulo qualquer artigo sem outra indicação pertence ao CVM.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
57
Qualquer valor mobiliário pode, nos termos do artigo 173.º, n.º 3, ser objecto de
uma oferta pública de aquisição.
Existem diversas modalidades de ofertas públicas de aquisição.
Paulo Câmara120
, distingue-as em função dos seguintes critérios:
- Em função da natureza da contrapartida, em que a OPA em sentido restrito
pressupõe uma contrapartida monetária e a OPA de troca que tem por contrapartida
outro (s) valor (es) mobiliário (s).
- Em função do objecto da oferta, as OPAS podem ser gerais (quando visam o
universo das acções e dos valores mobiliários que dêem direito à subscrição ou
aquisição) ou podem ser parciais (aqui o objecto é mais restrito).
- Por último, em função da obrigatoriedade, em que são obrigatórias as OPAS
por imposição legal (artigo 187.º) e voluntárias as que decorrem da vontade do oferente.
Para o nosso estudo releva, essencialmente, a modalidade de OPA obrigatória.
O Dever de Lançamento de uma OPA
“ O dever de lançamento de oferta pública de aquisição constitui-se quando alguém
ultrapasse uma de duas fasquias quantitativas, definidas pelo artigo 187.º, relacionadas
com a percentagem de direitos de voto detida, individual ou conjuntamente, em
sociedade aberta” 121
.
A oferta pública de aquisição prevista pelo CVM é sempre na modalidade de
subsequente à aquisição relevante de direitos de voto.
“O dever traduz a incidência de normas de conduta: impositivas ou proibitivas.
A pessoa adstrita a um dever encontra-se na necessidade jurídica de praticar ou não
praticar certo facto”122
.
Para Paulo Câmara123
, o dever de lançamento de uma OPA representa um dever
jurídico em sentido técnico. O autor formula a sua convicção no facto das OPA
obrigatórias surgirem de um imperativo legal à apresentação de uma proposta de
aquisição de valores mobiliários.
O autor considera que a OPA obrigatória visa proteger o interesse dos
accionistas minoritários e dos titulares dos valores mobiliários que atribuem direito à
120
PAULO CÂMARA, Manual de direito de valores mobiliários, 2ª edição, Almedina, Coimbra, pág.
575. 121
PAULO CÂMARA, Manual de direito …, pág. 617. 122
MENEZES CORDEIRO, Tratado de direito…, pág. 916. 123
PAULO CÂMARA, Manual de direito…, pág. 620.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
58
subscrição ou à aquisição de acções visadas124
. E pese embora reconheça o dever de
lançamento de OPA como uma situação jurídica absoluta mas que não assenta numa
relação jurídica o seu cumprimento, para o autor, não pode ser exercido coactivamente
pelos destinatários da oferta125
.
Por seu turno, Menezes Cordeiro126
e Pedro Pais de Vasconcelos127
, consideram
existir um direito subjectivo dos sócios minoritários que deveriam ser visados pela OPA
e que se configura como um direito de exoneração.
Não podemos deixar de concordar com Menezes Cordeiro que vislumbra e bem
uma relação jurídica entre o oferente obrigado, por lei, a uma OPA e os accionistas
minoritários que deveriam ser visados pela mesma. Para o autor “em um cenário de
OPA obrigatória, os accionistas minoritários podem exigir a retirada da sociedade
visada, mediante uma adequada compensação”128
.
Secção II
A OPA Obrigatória e o Direito de Exoneração
1. A OPA Obrigatória como Direito de Exoneração
É indiscutível que uma das razões da consagração legal das OPA obrigatórias é
conceder a possibilidade de saída aos sócios minoritários.
E é justamente neste ponto que se têm configurado as OPA obrigatórias como
um direito de exoneração.
Como já analisado, supra, Menezes Cordeiro e Pedro Pais de Vasconcelos
consideram existir a possibilidade de exoneração dos accionistas minoritários detentores
de valores mobiliários que deveriam ter sido visados por OPA obrigatória e não foram.
Para Paulo Câmara, a configuração das OPA obrigatórias como direito de
exoneração encontra algumas adversidades. A primeira consiste no facto de “a
exoneração define-se por consistir num direito à saída voluntária de um sócio perante a
sociedade, ao passo que o dever de lançamento de oferta se aplica e desenvolve como
124
PAULO CÂMARA, Manual de direito…, pág. 621. 125
PAULO CÂMARA, Manual de direito…, pág. 621. 126
MENEZES CORDEIRO, Manual de direito das sociedades II, pág. 972. 127
PEDRO PAIS VASCONCELOS, Concertação de accionistas, exoneração e opa obrigatória em
sociedades abertas, Direito das Sociedades em Revista - Ano 2 - Volume 3, Almedina, Coimbra, 2010,
pág. 57. 128
MENEZES CORDEIRO, Manual de direito das sociedades II, pág. 972.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
59
um dever constituído na esfera de um titular de uma participação qualificada em
sociedade aberta perante outro titular de valores mobiliários129
.”
Permitindo-me discordar com o autor esta primeira adversidade não o é, será
apenas uma distinção de figuras, que quanto a mim visam o mesmo objectivo
primordial, a protecção de titulares minoritários de participações sociais130
. Aqui a
diferença do sujeito passivo não é relevante uma vez que o resultado final é o mesmo.
A lei deve ser interpretada no sentido funcional e aqui a função de ambos os
regimes é a protecção de accionistas minoritários que viram alteradas as condições da
sociedade, para que estes possam dela sair sem perder o seu investimento. Assim, não
deve o direito de exoneração ser definido apenas pelo lado passivo mas sim pelo objecto
do direito que visa tutelar.
A outra adversidade apontada pelo autor é a de que “a contrapartida pode
consistir em valores mobiliários, o que aumenta a distância em relação à figura da
exoneração.”
Este argumento não pode ser interpretado na sua visão mais restrita uma vez que
a lei prevê que quando a contrapartida consiste em valores mobiliários estes devem ter
comprovada liquidez e devendo existir também uma alternativa monetária. Veja-se aqui
mais uma vez a protecção do direito de exoneração a funcionar.
Paulo Câmara131
, socorre-se também o princípio da livre transmissibilidade de
acções.
Como já analisado anteriormente este princípio nem sempre funciona em todas
as sociedades anónimas, e ainda que funcione, nem sempre será pelo justo valor (deve
aqui atender-se às variações de mercado, sendo que o mercado nem sempre estará
disponível para pagar o real valor das acções sobretudo quando a procura é inferior à
oferta).
As tomadas de controlo acarretam vários riscos para os sócios nomeadamente
riscos de: intervenção regulatória, financeiros e de má gestão sendo que as conclusões
de uma tomada de controlo são imprevisíveis, e é esta imprevisibilidade que justifica o
direito de exoneração.
129
PAULO CÂMARA, Manuel de Direito…, pág. 640. 130
Neste sentido, ANA PERESTRELO DE OLIVEIRA, Opa obrigatória e controlo indirecto in direito
das sociedades - ano iv (2012) número 3, pág.37, “ o direito de fazer cessar unilateralmente a qualidade
de sócio, com fundamento na inexigibilidade de permanência na sociedade, a hipótese consubstancia-se,
materialmente, num direito de exoneração, embora atípico, desde logo por ser exercido não contra a
sociedade da qual o sócio se exonera mas antes contra outro sócio.” 131
PAULO CÂMARA, Manual de direito …, pág. 642.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
60
2. Conclusões
Uma das mais importantes premissas do dever de lançar uma OPA é a protecção
das minorias, dos accionistas minoritários.
As OPAS obrigatórias visam conceder ao sócio, tal como o direito de
exoneração, a possibilidade de se desvincular de uma sociedade em que existiu uma
alteração profunda da titularidade das acções e que conduziu a uma tomada de controlo.
Em termos estruturais o direito dos accionista visados por OPAS obrigatórias é
igual ao direito de exoneração. Em ambos os casos existe um direito a que alguém (a
sociedade, outro sócio ou terceiro, no caso da OPA o accionista a quem incumbe esse
dever) adquira ou faça adquirir a sua participação social mediante o pagamento de um
valor cujo método de cálculo é determinado por lei.
A alteração do sujeito passivo não releva para a execução do âmbito de
protecção das normas, tanto da exoneração como da OPA obrigatória, que será a
protecção das minorias que se vêem confrontadas com alterações substanciais na
sociedade em que ingressaram e na qual podem já não rever-se, nem a si, nem às suas
intenções de investimento.
Face ao exposto apenas podemos concluir que o dever de lançamento de uma
OPA se consubstancia num verdadeiro direito de exoneração, atípico, pela característica
diferenciadora do sujeito passivo mas ainda assim com idêntico fim de tutela normativa.
CAPITULO VIII
Conclusões
1. O direito de exoneração é um direito exclusivo dos sócios, de natureza
potestativa, renunciável a posteriori, unilateral e que se efectiva com o reembolso do
capital.
2. Este direito surgiu nas Ordenações Filipinas com direito de renúncia e conduzia
directamente à dissolução da sociedade, ainda que, sobre aquele que exercesse o direito
de renúncia impedisse o dever de indemnizar os restantes sócios.
3. Nas Companhias Pombalinas houve uma evolução no que tange à exoneração
estabelecendo-se que a mesma não conduziria de imediato à dissolução da sociedade,
mas o sócio que renunciasse teria direito a ser ressarcido.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
61
4. O Código Comercial de 1833 seguiu, no que à exoneração concerne, o desígnio
das Ordenações Filipinas efectivando-se a saída do sócio através da dissolução da
sociedade.
5. A lei 22 de Junho de 1867, reguladora das sociedades anónimas, não se
pronunciou sobre esta matéria.
6. No Código Comercial de 1888 foi introduzida a tipificação mercantil,
diferenciando-se os tipos societários. O direito de desvinculação apenas seria aceite em
casos atípicos. A desvinculação apenas é abordada nesta senda a propósito das
sociedades em nome colectivo de duração indeterminada.
7. A 11 de Abril de 1907 foi criada a lei reguladora das sociedades por quotas. Esta
lei veio prever para aquelas sociedades a possibilidade de exoneração quando: (i)
quando o sócio se opusesse com a redução, reintegração ou aumento do capital social;
(ii) quando o sócio não concordasse com a procrastinação do prazo de vigência da
sociedade; (iii) quando o sócio não estivesse de acordo com a fusão da sociedade.
8. A previsão legal da possibilidade do exercício do direito de exoneração sem que
tal conduzisse à dissolução da sociedade teve consagração no Código Civil de 1966.
9. Com a entrada em vigor do Código Comercial actual regularam-se regras
concretas para o exercício do direito de exoneração em todos os tipos societários.
10. A primeira referência legislativa ao direito de exoneração foi feita no Código
Comercial Italiano de 1865. Contudo foi o Código de Comércio de 1882 no seu artigo
198.º a regular pela primeira vez o direito de exoneração. A referida disposição legal
consagrou como causas de exoneração a fusão, a reintegração ou aumento do capital
social, modificação do objecto social e prorrogação da duração da sociedade.
11. Em 1942, com a entrada em vigor do novo Código Civil italiano, foi reforçada a
tendência da excepcionalidade do direito de exoneração. Esta consagração mais não fez
que admitir o que vinha a tornar-se usual desde 1915. A evolução legislativa, natural,
traduziu-se em um retrocesso para o direito de exoneração. Esta possibilidade de saída
deixou de ser admitida nos casos de fusão, procrastinação do tempo de vida da
sociedade, incorporação e aumento do capital social. Ficaram como causas de
exoneração possíveis a reavaliação do valor das entradas, a transferência de sede para o
estrangeiro e a modificação do objecto social.
Com o CCit de 1942 passou também a ser exigida forma para a declaração de
exoneração, devendo esta passar a fazer-se por carta registada.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
62
12. Actualmente, o direito di ricesso, pode estar previsto em causas legais
obrigatórias, causas legais não obrigatórias e em causas estatutárias. As causas legais
obrigatórias não podem ser afastadas pelo pacto social, a sua verificação origina,
sempre, a possibilidade de saída do socio. As causas legais não obrigatórias de
exoneração estão previstas na lei mas podem ser derrogadas pelos estatutos. As
cláusulas estatutárias surgiram no âmbito da reforma de 2003 e são admitidas desde que
as sociedades não hajam recorrido ao mercado do capital de risco.
13. O direito de exoneração sempre foi omisso na lei e pouco discutido na doutrina.
Ainda assim, tende a ser admitido em cláusulas estatutárias, por alguma doutrina e
jurisprudência.
14. No regime actual, a lei francesa, é praticamente omissa em relação ao direito de
exoneração, sendo que para as sociedades anónimas vigora o princípio da livre
transmissibilidade de acções.
15. No direito espanhol, o direito de exoneração, apelidado de derecho de sepracíon,
surgiu no Código de Comércio de 1829. Era admitida, no âmbito desta legislação, a
consagração estatutária do direito de exoneração.
16. Mais tarde, a legislação, veio impedir a consagração do instituto nas sociedades
anónimas. Esta previsão manteve-se até 1868.
17. Em 1951, com a aprovação da ley das sociedades anonimas, foi derrogado o
impedimento anterior, podendo a partir daí consagrar-se nos estatutos causas de
exoneração nos casos de alteração do objecto social, transformação e fusão de
sociedades.
18. Na actualidade, vigora o texto refundido de la ley de sociedades anonimas,
permitindo o direito de exoneração nos causos de alteração do objecto social,
transferência de sede para o estrangeiro e perante transformação de sociedade.
19. Em Portugal, no âmbito da legislação em vigor e a propósito das associações, o
regime de saída esta na livre disponibilidade do associado contudo sem direito de
restituição das quotizações já pagas e com perda do direito ao património social. Este
regime, nas associações, aproxima-se da figura do direito de exoneração.
20. Nas sociedades civis contemplou o legislador num verdadeiro regime do direito
à exoneração. Tal acontecerá quando o sócio por sua vontade dissolve os vínculos
societários. O regime do código civil, para as sociedades civis, permite a desvinculação
do sócio ad nutum e fundada em justa causa.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
63
São especialidades da regulação, para o exercício do direito de exoneração, o prazo
imposto pelo artigo 1002.º, nº 3 do CC, a proibição de supressão ou modificação das
cláusulas legais e a necessidade de unanimidade para serem supridas ou modificadas
cláusulas contratuais.
21. Nas sociedades comerciais existem, além de outras, causas legais de exoneração
aplicáveis a todos os tipos societários. São elas: a transferência de sede para estrangeiro
e regresso à actividade de sociedade dissolvida.
22. A permissão de exoneração no caso de discórdia da transferência de sede para o
estrangeiro, reside no facto de não ser exigível ao sócio, perante tais alterações, tanto
legais como geográficas, que se mantenha em sociedade com lei pessoal diferente da
contratada inicialmente e impedir que os direitos societários fiquem desprotegidos na
medida do seu exercício face a tais alterações e consequentes implicações.
23. A exoneração com fundamento na deliberação de regresso à actividade de
sociedade dissolvida apenas é possível depois de iniciada a partilha, na vez que até ai a
sociedade mantém a sua personalidade jurídica podendo revogar a decisão de
dissolução.
24. Nas sociedades em nome colectivo e em comandita simples existem duas causas
legais, específicas, que permitem exercício do direito de exoneração. São elas a
exoneração ad nutum e a exoneração fundada em justa causa.
25. Existem dois requisitos para a exoneração ad nutum nas sociedades em nome
colectivo: i) a duração da sociedade não ter sido fixada, ter sido fixada uma duração por
toda a vida de um sócio ou ter sido fixada duração superior a trinta anos e ii) o vínculo
do sócio já durar há pelo menos dez anos. Este prazo é supletivo, no que respeita ao
mínimo, os sócios podem fixar outro prazo que não os dez anos. Já no que respeita ao
máximo este prazo é imperativo, não podendo os sócios aumentá-lo por via do pacto
social.
26. Se ainda não tiverem decorrido dez anos desde o ingresso na sociedade a
exoneração só será possível se houver justa causa ou estivermos perante uma causa
legal de exoneração. O artigo 185.º, nº 2 do CSC prevê situações de justa causa. As
hipóteses elencadas na lei têm carácter enunciativo e não taxativo.
27. São causas legais aplicáveis às sociedades por quotas: vícios da vontade no
ingresso para a sociedade, a interpelação para pagamento de entrada relativa a nova
quota resultante de aumento de capital; a proibição de cessão de quotas; oposição à
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
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deliberação de aumento de capital a subscrever total ou parcialmente por terceiros;
oposição à deliberação de modificação do objecto social; oposição à prorrogação da
sociedade; oposição à transferência de sede (estatutária) para o estrangeiro; oposição à
deliberação de regresso à actividade de sociedade dissolvida e não exclusão de um sócio
ou não promoção da sua exclusão.
28. O erro, o dolo, a coacção e a usura na celebração do contrato de sociedade são,
nos termos do artigo 45.º, n.º 1 do CSC, fundamentos do direito à exoneração. Para
aplicação analógica da norma a outros vícios da vontade deverá ser feita uma análise
casuística.
29. A solução encontrada pelo legislador para proteger os sócios antigos quando
estejamos perante interpelação para pagamento de entrada relativa a nova quota
resultante de aumento de capital foi possibilitar o direito de exoneração aos mesmos.
Esta possibilidade não esta dependente da posição do sócio na deliberação de aumento
de capital apenas é exigido para o exercício do direito que o sócio tenha a sua quota
liberada e que lhe haja sido exigido o pagamento relativo a novas entradas.
30. Quando exista uma proibição de cessão de quotas o sócio pode exonerar-se
desde que tenham decorrido dez anos após o seu ingresso na sociedade ou dez anos
desde a introdução da proibição. Este prazo é, em nosso entender, imperativo tanto para
o mínimo como para o máximo.
31. O direito de exoneração por oposição à deliberação de capital a subscrever total
ou parcialmente por terceiros visa proteger o carácter pessoal deste tipo societário assim
como o direito ao voto e aos lucros. Só podem exercer o direito de exoneração os sócios
discordantes.
32. A modificação do objecto social determina a possibilidade do sócio poder
exonerar-se. Esta modificação deve ser substancial, não sendo suficientes pequenas
alterações. Por força de normativo, artigo 240.º, n.º1do CSC apenas os sócios
discordantes se podem exonerar, não sendo admitida a exoneração aos sócios que se
abstiveram nem aos ausentes.
33. Quanto ao direito de exoneração por oposição à prorrogação da sociedade
apenas assiste aos sócios discordantes e desde que a mesma seja imposta por
deliberação social.
34. A oposição à transferência de sede (estatutária) para o estrangeiro, prevista no
artigo 240.º, nº1 do CSC, permite também a exoneração ao sócio discordante.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
65
35. O regresso à actividade de sociedade dissolvida, como anteriormente referido e
analisado, confere direito de exoneração. Contudo sendo esta uma causa legal aplicável
a todas as sociedades e uma causa legal específica aplicável às sociedades por quotas
cumpre saber de que preceito legal o sócio quotista deve socorrer-se. O sócio quotista
deve, depois de analisadas, as diferentes posições doutrinais, usar a disposição legal que
face ao caso concreto lhe for mais favorável.
36. Quando haja juta causa de exclusão de um sócio e a sociedade não reconhecer,
por decisão da maioria, esse facto pode o sócio discordante exonerar-se.
37. As causas legais aplicáveis, especificamente, às sociedades anónimas são: os
vícios da vontade no ingresso para a sociedade; a oposição à constituição de sociedade
anónima europeia por fusão e a transferência de sede de sociedade anónima europeia.
38. É válido para a exoneração baseada em vícios da vontade no ingresso para a
sociedade tudo o anteriormente exposto, a este respeito, a propósito das sociedades por
quotas.
39. Ainda, referente às sociedades anónimas, e no seguimento de transposição de
legislação comunitária, o legislador concedeu ao accionista a possibilidade de se
exonerar quando discorde de processo fusão para constituição de sociedade anónima
europeia.
40. A mesma possibilidade foi, igualmente, atribuída pelo Dec. Lei 2/2015 (RJSE),
quando o accionista discorde com a transferência de sede de sociedade anónima
europeia.
41. Além das causas de exoneração legalmente previstas a lei concede aos sócios a
possibilidade de alargarem o leque de hipóteses de desvinculação nos estatutos
societários.
42. O artigo 185.º do CSC vem permitir para as sociedades em nome colectivo, a
possibilidade de consagração de cláusulas contratuais de exoneração, contudo sem a
imposição de limites.
43. Para as sociedades por quotas previu o legislador, no artigo 240.º, n.º1, a
admissibilidade de tais cláusulas, desde que respeitem os limites estabelecidos no artigo
240.º, n.º 8.
44. De entre as cláusulas contratuais de exoneração cumpre dividi-las entre as
típicas e as atípicas.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
66
45. Como cláusulas contratuais típicas podemos encontrar na legislação portuguesa
a transformação de sociedade, a fusão e a cisão.
46. A transformação de sociedade será causa de exoneração se prevista nos
estatutos, conforme artigo 137.º, n.º1 do CSC.
47. Quanto à fusão, dada a sua natureza transformadora, é admitida como cláusula
contratual de exoneração no artigo 105.º do CSC que permite tal direito desde que
atribuído pela lei ou pelo contrato societário.
48. A doutrina tem-se debruçado sobre tal preceito, procurando avaliar se a fusão
será por si só uma causa de exoneração. A maioria da doutrina pronuncia-se em sentido
negativo.
49. Relativamente à cisão aplicar-se-ão as regras respeitantes à fusão, por força do
artigo 120.º do CSC.
50. A lei é omissa quanto à questão da admissibilidade de cláusulas contratuais nas
sociedades anónimas. As cláusulas contratuais de exoneração devem ser permitidas nas
sociedades anónimas. Estamos no domínio da autonomia privada. Existem autores que
defendem a inadmissibilidade de tais cláusulas baseando-se em argumentos que não
prevalecem. Concluiu-se pela admissibilidade de tais cláusulas nas sociedades
anónimas.
51. Não existe no CSC qualquer referência à exoneração por justa causa nas
sociedades anónimas. O tema divide a doutrina. Concluímos pela sua admissibilidade
enquanto causa de exoneração autónoma independente de causa legal ou contratual.
Esta, contudo, deverá sempre ser baseada nos princípios gerais do direito, da boa-fé, da
justiça e da proibição do abuso de direito.
52. Admitir uma cláusula contratual ad nutum é admitir o desinvestimento puro sem
dependência de uma causa. Concluímos pela ilicitude de tais cláusulas contratuais.
53. O legislador consagrou, no artigo 24.º do CSC, a admissibilidade de existirem,
no pacto social, direitos especiais que conferem a determinados sócios uma vantagem
em relação aos demais. Pode o direito de exoneração consagrar-se como direito
especial?
54. O exercício do direito de exoneração é reservado aos sócios.
55. O usufrutuário não pode exercer o direito de exoneração.
56. Perante uma situação de contitularidade de participações sociais o direito de
exoneração deve, quando estejamos perante uma causa objectiva ou subjectiva que
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
67
afecte todos os contitulares, ser exercido por decisão unânime de todos os contitulares.
Na falta de acordo, na senda das opiniões mais recentes, os contitulares podem exercer o
seu direito autonomamente.
57. O direito de exoneração está vedado ao credor pignoratício mas esteve deve
autorizar o seu exercício.
58. Quando uma participação social está penhorada, arrestada, arrolada ou
apreendida em processo de falência ou insolvência o seu titular mantém o direito de se
exonerar.
59. O accionista sem direito de voto e os sócios impedidos de votarem mantém o
direito a exonerar-se.
60. O exercício do direito de exoneração efectua-se através de uma declaração
unilateral e receptícia. É elemento essencial da declaração a invocação da (s) causa (s)
de exoneração.
61. O momento da perda da qualidade de sócio será o da amortização ou aquisição
da participação social.
62. Desde o momento da emissão da declaração até à amortização ou aquisição da
participação o sócio deverá ver suspensos os seus direitos e obrigações sociais, com
excepção dos poderes necessários para a concretização da sua pretensão de saída.
63. São obrigatórias as OPAS que decorrem de imposição legal (artigo 187.º do
CMVM).
64. Pactuamos com os autores que entendem existir um direito subjectivo dos sócios
minoritários que deveriam ser visados pela OPA obrigatória e que se configura como
um direito de exoneração.
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
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O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
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ÍNDICE GERAL
MODO DE CITAR………………………………………………………………………2
ÍNDICE DE ABREVIATURAS……………………………………………...…………3
INTRODUÇÃO………………………………………………………………………….4
PRIMEIRA PARTE
ENQUADRAMENTO GERAL
Noção e Principais Elementos Caracterizadores
1. Noção de direito de exoneração……………………………………….................6
2. Elementos Caracterizadores…………………………………………...................7
2.1 Direito Exclusivo dos Sócios……………………………………………………7
2.2 Direito Potestativo……………………………………………………………….7
2.3 Direito Renunciável à posteriori…………………………………………………7
2.4 Realização através de uma Declaração Receptícia. Direito Unilateral………….7
2.5 Efectivação com o Reembolso do Capital………………………….....................7
SEGUNDA PARTE
A EVOLUÇÃO HSITÓRICA DO DIREITO DE EXONERAÇÃO NO
DIRETO PORTUGUÊS
1. Das Ordenações Filipinas às Companhias Pombalinas………………………….9
2. Código Comercial de 1833 à Lei das Sociedades Anónimas de 1867………….10
3. Código Civil de 1867…………………………………………………………...11
4. Código Comercial de 1888 até ao Decreto-lei 262/86 de 2 de Setembro……....11
TERCEIRA PARTE
O DIREITO DE EXONERAÇÃO NO DIREITO COMPARADO
1. O “diritto di recesso” no direito italiano……………………………………….13
1.1. Breve resenha histórica do direito de exoneração no direito italiano………….13
1.2. Direito Vigente…………………………………………………………………18
2. O “droit de retrait” no direito francês………………………………………….21
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
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2.1. Breve resenha histórica do direito de exoneração no direito francês…………..21
2.2. Direito Vigente…………………………………………………………………21
3. O “derecho de separación” no direito espanhol………………………………...23
3.1. Breve resenha histórica do direito de exoneração no direito espanhol…………23
3.2. Direito Vigente………………………………………………………………....23
QUARTA PARTE
O REGIME ACTUAL DO DIREITO DE EXONERAÇÃO NO DIREITO
PORTUGUÊS
CAPÍTULO I
ENQUADRAMENTO GERAL
1. Nas Associações………….…………………………………………………….24
2. Nas Sociedades Civis…….…………………………………………………….25
3. Nas Sociedades Comerciais…………………………………………………….26
CAPÍTULO II
CAUSAS LEGAIS DE EXONERAÇÃO
SECCÇÃO I
Causas Legais Aplicáveis a Todas as Sociedade Comerciais
1. Transferência de Sede para o Estrangeiro………………………………………26
2. Regresso à Actividade de Sociedade Dissolvida……………………………….27
SECCÇÃO II
Causas Legais Aplicáveis às Sociedades em Nome Colectivo e em Comandita Simples
1. Direito de Exoneração Ad Nutum………………………………………………29
2. Exoneração do Sócio fundada em Justa Causa………………………………...30
SECCÇÃO III
Causas Legais Aplicáveis às Sociedades Por Quotas
1. Vícios da Vontade no Ingresso para a Sociedade………………………………32
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
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2. Direito de Exoneração com Fundamento em Interpelação para Pagamento de
Entrada Relativa a Nova Quota, Resultante de Aumento de Capital…………..33
3. Direito de Exoneração por Existência de uma Proibição de Cessão de Quotas..33
4. Direito de Exoneração por Oposição à Deliberação de Aumento de Capital a
Subscrever Total ou Parcialmente por Terceiros………………………………34
5. Direito de Exoneração por Oposição à Deliberação de Modificação do Objecto
Social…………………………………………………………………………...35
6. Direito de Exoneração por Oposição à Prorrogação da Sociedade…………….35
7. Direito de Exoneração por Oposição à Transferência de Sede para o
Estrangeiro…………………………………………………….……………….36
8. Direito de Exoneração por Oposição ao Regresso à Actividade de Sociedade
Dissolvida………………………………………………………………………36
9. Direito de Exoneração com fundamento em Não Exclusão de um Sócio ou pela
Não Promoção da sua Exclusão………………………………………………..37
SECCÇÃO IV
Causas Legais Aplicáveis às Sociedades Anónimas
1. Vícios da Vontade no Ingresso para a Sociedade. Remissão………………….37
2. Oposição à Constituição de Sociedade Anónima Europeia por Fusão………..37
3. Transferência de Sede de Sociedade Anónima Europeia………………………38
CAPÍTULO III
CAUSAS CONTRATUAIS DE EXONERAÇÃO
SECCÇÃO I
Típicas
1. Transformação de Sociedade…………………………………………………...39
2. A Fusão…………………………………………………………………………40
3. A Cisão………………………………………………………………………....41
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
75
SECCÇÃO II
Atípicas
1. Cláusulas Contratuais Atípicas nas Sociedades Anónimas…………………….42
2. Direito Comparado……………………………………………………………..44
3. Posição Adoptada………………………………………………………………44
4. Cláusulas Contratuais de Exoneração por Justa Causa nas Sociedades
Anónimas……………………………………………………………………….47
5. Cláusulas Contratuais de Exoneração Ad Nutum………………………………48
CAPÍTULO IV
DIREITOS ESPECIAIS E DIREITO DE EXONERAÇÃO
1. Direitos Especiais………………………………………………………………49
2. Direitos Especiais e o Direito de Exoneração…………………………………..49
CAPÍTULO V
EXERCÍCIO DO DIREITO DE EXONERAÇÃO
Secção I
Da Legitimidade
1. Legitimidade……………………………………………………………………50
1.1. O Usufruto de Participações Sociais……………………………………………51
1.2. Contitularidade de Participações Sociais……………………………………….51
1.3. O Penhor………………………………………………………………………..53
1.4. A penhora, o arresto, o arrolamento ou a apreensão em processo de falência ou
insolvência……………………………………………………………………..53
1.5. Os accionistas sem direito de voto e os sócios impedidos de votar…………….53
O DIREITO DE EXONERAÇÃO PREVISTO EM CLÁUSULAS CONTRATUAIS – EM ESPECIAL NAS SOCIEDADES ANÓNIMAS
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Secção II
Da Declaração
Da declaração…………………………………………………………………...54
CAPÍTULO VI
EFEITOS DO EXERCÍCIO DO DIREITO DE EXONERAÇÃO
Perda do Status Socii……………………………………………………………54
CAPÍTULO VII
O DIREITO DE EXONERAÇÃO EXERCIDO ATRAVÉS DE OFERTAS
PÚBLICAS DE AQUISIÇÃO OBRIGATÓRIAS
Secção I
As Ofertas Públicas de Aquisição………………………………………………56
O Dever de Lançamento de uma OPA………………………………………….57
Secção II
A OPA Obrigatória e o Direito de Exoneração
1. A OPA Obrigatória como Direito de Exoneração……………………………58
2. Conclusões……………………………………………………………………60
CAPÍTULO VIII
CONCLUSÕES
1. Conclusões……………………………………………………………………...60
2. Bibliografia……………………………………………………………………..68