o direito a educacao

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1 O DIREITO A EDUCAÇÃO Sandra A. Riscal UFSCar O direito a ter direitos A concepção de cidadania, tal como a conhecemos, teve origem durante o período do iluminismo, no século XVIII, quando começaram a se constituir os direitos políticos como a liberdade de ir e vir, de expressão, religião, de reunião etc., em oposição aos direitos exclusivos das elites, tal como se caracterizam no antigo regime. A cidadaniaé um processo em constante construção e é o resultado das ações dos cidadãos que incorporam, em suas práticas sociais, os princípios de seu direito como sujeitos constituintes de um Estado. O cidadão é o indivíduo a quem a Constituição confere direitos e garantias – individuais, políticos, sociais, econômicos e culturais e lhe garante as condições para o seu efetivo exercício, além de garantir, por parte do poder público, os meios processuais eficientes e punição contra qualquer violação de seu direito de usufruir estes direitos. A construção da cidadania tem relação direta com as normas que instituem os direitos do cidadão como membro de uma comunidade política. A concepção atual de cidadania retirou seus fundamentos e bases da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, (DéclarationdesDroits de l’Homme et duCitoyen, de 1789), documento fundamental da revolução francesa. Em seu artigo VI é afirmado que a lei é a expressão da vontade geral e é igual para todos , seja para proteger ou para punir e todos os cidadãos são iguais aos olhos da lei . Além de tudo, a Declaração refere-se a ideia de que um dos atributos principais da cidadania é o direito que todos os membros do Estado têm de participar da vida política por si mesmo ou meio de seus representantes. Esta é uma concepção proveniente da concepção iluminista que contrapõe o direito de todos aos direitos da nobreza. Neste sentido, a cidadania refere-se ao próprio processo de constituição dos direitos por meio da elaboração de leis que cada vez mais garantam que todos tenham os mesmos direitos. Segundo Mateucci (1983) embora seja costume remontar remontar à DéclarationdesDroits de l’Homme et duCitoyen, votada pela Assembleia Nacional francesa em 1789 , que proclamava a igualdade e a liberdade como direito de todos os homens e por meio da qual reivindicavam-se seus direitos naturais e imprescritíveis à liberdade, a propriedade, a segurança, a resistência a opressão, em vista dos quais se constitui toda a associação política legitima, não teria sido este o primeiro documento a declarar os direitos fundamentais dos homens. Dois outros documentos teriam precedido a Declaração francesa: a carta de direitos norte americana, declaração das colônias americanas que se rebelam contra o domínio inglês e em 1776 proclamam a independência e a carta inglesa, os BillsofRights, proclamada durante a revolução gloriosa de 1689. Aproclamação destes direitos retiram seu fundamento do fato de serem considerados direitos naturais, isto é que fazem parte da própria essência humana e definem o homem enquanto homem. Nesta perspectiva constituem um limite para o poder soberano do Estado, que não pode mais ultrapassar esses direitos sem que isso signifique ferir a dignidade e os principio fundamentais da existência política humana. Constitucionalmente a noção de direitos naturais do homem fundamentam a inclusão destes direitos nas cartas magnas nacionais, na condição de direitos subjetivos, isto é direitos que cada indivíduo como sujeito político e cidadão de um Estado possui, reconhecidos e garantidos pelo Estado. Ver Mateucci (1983. p. 353,354) O processo que levou à constituição dos direitos humanos é histórico e o seu alcance é determinado pelas condições sociais, econômica, políticas e culturais do período e espaço onde se realiza. Isto significa que nem sempre a concepção de cidadania foi pensada da mesma forma e que desde a revolução francesa, muito se tem discutido, avançado e muitas vezes retrocedido neste campo. Por exemplo períodos de ditadura, como aquele que ocorreu no Brasil nos anos dos anos 1960 a 1980 constituem um retrocesso no processo de constituição de práticas sociais de cidadania. A medida que os direitos políticos são reconquistados, são incorporados novos espaços à esfera da ação da cidadania. Quando falamos em direitos humanos estamos nos referindo a direitos que são concebidos como universais, isto é válidos para todos os homens. Trata-se de um princípio geral de igualdade e liberdade que deve garantir a todos os membros da humanidade, tomada como um coletivo, os mesmos direitos. Isso significa que devem ser reconhecidas as diferenças, não como elemento de separação dos homens, mas como elemento de integração que reconhece na diversidade de possibilidades uma mesma essência humana.

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O DIREITO A EDUCAÇÃOSandra A. RiscalUFSCar

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  • 1

    O DIREITO A EDUCAO

    Sandra A. Riscal

    UFSCar

    O direito a ter direitos

    A concepo de cidadania, tal como a conhecemos, teve

    origem durante o perodo do iluminismo, no sculo XVIII,

    quando comearam a se constituir os direitos polticos

    como a liberdade de ir e vir, de expresso, religio, de

    reunio etc., em oposio aos direitos exclusivos das elites,

    tal como se caracterizam no antigo regime. A cidadania

    um processo em constante construo e o resultado das

    aes dos cidados que incorporam, em suas prticas

    sociais, os princpios de seu direito como sujeitos

    constituintes de um Estado.

    O cidado o indivduo a quem a Constituio confere

    direitos e garantias individuais, polticos, sociais,

    econmicos e culturais e lhe garante as condies para o

    seu efetivo exerccio, alm de garantir, por parte do poder

    pblico, os meios processuais eficientes e punio contra

    qualquer violao de seu direito de usufruir estes direitos.

    A construo da cidadania tem relao direta com as

    normas que instituem os direitos do cidado como membro

    de uma comunidade poltica. A concepo atual de

    cidadania retirou seus fundamentos e bases da Declarao

    dos Direitos do Homem e do Cidado,

    (DclarationdesDroits de lHomme et duCitoyen, de 1789),

    documento fundamental da revoluo francesa. Em seu

    artigo VI afirmado que a lei a expresso da vontade

    geral e igual para todos , seja para proteger ou para

    punir e todos os cidados so iguais aos olhos da lei .

    Alm de tudo, a Declarao refere-se a ideia de que um dos

    atributos principais da cidadania o direito que todos os

    membros do Estado tm de participar da vida poltica por si

    mesmo ou meio de seus representantes. Esta uma

    concepo proveniente da concepo iluminista que

    contrape o direito de todos aos direitos da nobreza. Neste

    sentido, a cidadania refere-se ao prprio processo de

    constituio dos direitos por meio da elaborao de leis que

    cada vez mais garantam que todos tenham os mesmos

    direitos.

    Segundo Mateucci (1983) embora seja costume remontar

    remontar DclarationdesDroits de lHomme et

    duCitoyen, votada pela Assembleia Nacional francesa em

    1789 , que proclamava a igualdade e a liberdade como

    direito de todos os homens e por meio da qual

    reivindicavam-se seus direitos naturais e imprescritveis

    liberdade, a propriedade, a segurana, a resistncia a

    opresso, em vista dos quais se constitui toda a associao

    poltica legitima, no teria sido este o primeiro documento

    a declarar os direitos fundamentais dos homens. Dois

    outros documentos teriam precedido a Declarao francesa:

    a carta de direitos norte americana, declarao das colnias

    americanas que se rebelam contra o domnio ingls e em

    1776 proclamam a independncia e a carta inglesa, os

    BillsofRights, proclamada durante a revoluo gloriosa de

    1689. Aproclamao destes direitos retiram seu fundamento

    do fato de serem considerados direitos naturais, isto que

    fazem parte da prpria essncia humana e definem o

    homem enquanto homem. Nesta perspectiva constituem

    um limite para o poder soberano do Estado, que no pode

    mais ultrapassar esses direitos sem que isso signifique ferir

    a dignidade e os principio fundamentais da existncia

    poltica humana. Constitucionalmente a noo de direitos

    naturais do homem fundamentam a incluso destes direitos

    nas cartas magnas nacionais, na condio de direitos

    subjetivos, isto direitos que cada indivduo como sujeito

    poltico e cidado de um Estado possui, reconhecidos e

    garantidos pelo Estado. Ver Mateucci (1983. p. 353,354)

    O processo que levou constituio dos direitos humanos

    histrico e o seu alcance determinado pelas condies

    sociais, econmica, polticas e culturais do perodo e

    espao onde se realiza. Isto significa que nem sempre a

    concepo de cidadania foi pensada da mesma forma e que

    desde a revoluo francesa, muito se tem discutido,

    avanado e muitas vezes retrocedido neste campo. Por

    exemplo perodos de ditadura, como aquele que ocorreu no

    Brasil nos anos dos anos 1960 a 1980 constituem um

    retrocesso no processo de constituio de prticas sociais

    de cidadania. A medida que os direitos polticos so

    reconquistados, so incorporados novos espaos esfera da

    ao da cidadania.

    Quando falamos em direitos humanos estamos nos

    referindo a direitos que so concebidos como universais,

    isto vlidos para todos os homens. Trata-se de um

    princpio geral de igualdade e liberdade que deve garantir a

    todos os membros da humanidade, tomada como um

    coletivo, os mesmos direitos. Isso significa que devem ser

    reconhecidas as diferenas, no como elemento de

    separao dos homens, mas como elemento de integrao

    que reconhece na diversidade de possibilidades uma mesma

    essncia humana.

  • 2

    De acordo com Mateucci (1983) os direitos humanos

    podem ser classificados em trs tipos, de acordo com a

    matria a que se refere:

    Direitos civis: so aqueles que se referem pessoa do

    indivduo, tais como direito liberdade individual, de

    expresso, pensamento, religio, reunio, econmica,

    propriedade etc. Estes direitos garantem a cada um espao

    pessoal de deciso, no qual tem o direito de decidir sobre

    essas matrias de acordo com o seu livre arbtrio. Estes

    diretos no podem ser impedidos e cumpre ao Estado

    garantir que nada se oponha ao exerccio deste direito.

    Direitos polticos: so direitos que referem-se ao direito de

    associao poltica, como o direito de votar e ser votado, de

    participar de associaes polticas, como os partidos

    polticos, e esto ligados concepo moderna de Estado

    democrtico representativo. Nesta forma de organizao

    estatal, a democracia se realizaria apenas se todos os

    cidado possuir o direito a liberdade de participao ativa,

    o que significa que todos os cidado tm o direto de

    participar da determinao dos objetivos polticos e das

    metas do Estado.

    Direitos sociais: so constitudos por direitos que vem

    sendo socialmente conquistados e cada vez mais adquirem

    contornos mais especficos, de acordo com o maior

    amadurecimento e refinamento da percepo relaes de

    desigualdade sociais, tnicas, econmicas e culturais.

    Referem-se ao direito ao trabalho, a assistncia social, a

    sade, a educao, a vida digna. A concepo de vida digna

    tem sido cada vez especificada por meio de concepes

    como a punio ao preconceito e discriminao. A

    medida que se alargam os espaos de direito, mais tem se

    tornado a capacidade de se perceber relaes sociais onde

    se desrespeita o direito a vida digna por meio do

    desrespeito a um direito individual que antes no era

    percebido como tal. Podemos incluir nestas esferas os

    direitos da mulher, dos homossexuais, da criana, dos

    idosos, ndios, negros, etc. Estes direitos exigem uma

    constante adaptao constitucional do Estado no

    acompanhamento e criao de mecanismos de garantias

    destes direitos.

    Mateucci (1983. p. 353,354)

    Os direitos humanos se consolidam aps o final da Segunda

    Guerra Mundial (1939-1945) quando se passa a julgar a

    necessidade de criar uma esfera internacional capaz de

    proteger os indivduos dos poderes absolutos dos Estados.

    O exemplo alemo teria aberto, ao menos em parte, trazido

    a tona a necessidade de se criar normas internacionais e

    acordos que protegessem os indivduos criando um sistema

    internacional de proteo (por meio de aes diplomticas

    ou em casos mais extremos por meio de boicotes polticos

    e econmicos), mediante o qual se tornaria possvel a

    responsabilizao do Estado na esfera internacional quando

    seu sistema interno de direito no forem capazes de

    proteger os direitos dos indivduos, na proteo desses

    mesmos direitos.

    Em 1948, a ONU (Organizao das Naes Unidas)

    proclama a Declarao Universal dos direitos do homem e

    dos cidados e abre espao para a constituio de uma

    concepo internacional de direitos humanos. A proteo

    internacional dos direitoshumanos foi conquistada atravs

    de incessantes lutas histricas como resultado de um lento e

    gradual processo de internacionalizao e universalizao

    desses direitos e foi consubstanciada em inmeros tratados

    entre as naes membros da ONU. Este processo permitiu a

    incorporao gradual dos direitos humanos nas

    constituies das diferentes naes o que permitiu a

    expanso da ideia de que os direitos humanos transcendem

    os interesses particulares de cada Estado, cuja finalidade

    passa a ser salvaguardar e proteger os interesses dos seres

    humanos. Isto significa que gradualmente,no campo

    internacional, os indivduos esto substituindo os Estados

    como sujeitos dos direitos internacionais.

    A partir do surgimento da ONU e da aprovao da

    Declarao Universal dos DireitosHumanos comeam

    gradualmente a ganhar corpo uma esfera de direitos

    humanos internacionais por meio da adoo de inmeros

    tratados internacionais destinados a proteger os direitos

    fundamentais dos indivduos. O homem acaba por tornar-

    se, assim, sujeito e a base sobre a qual se funda o direito

    internacional.

    Todos os direitoshumanos so universais, indivisveis,

    interdependentes e inter-relacionados e devem ser tratados

    de forma global, justa e eqitativamente. Isto significa que

    preservando as especificidades regionais, culturais, tnicas,

    religiosas, etc. dever do Estados promover, garantir e

    proteger todos os direitoshumanos e liberdades

    fundamentais, sejam quais forem seus sistemas polticos,

    econmicos e culturais. Isto significa que, em ltima

    instncia indivisvel e universal a dignidade humana e

    toda forma de violao desta dignidade deve ser

    considerada um crime.

  • 3

    Segundo Maria Victria Benevides, tradicionalmente, do

    ponto de vista histrico, o conjunto dos Direitos Humanos

    classificado em trs geraes. A concepo de gerao aqui

    deve ser tomada no sentido da evoluo histrica e no

    gerao no sentido biolgico, pois no so superados com a

    chegada de uma nova gerao, mas se superam

    dialeticamente, os novos direitos continuam incorporados

    na nova gerao.

    Inicialmente, os direitos abordaram as liberdades

    individuais, ou os chamados direitos civis. So as

    liberdades consagradas no sculo XVIII, com o advento do

    liberalismo, contra a opresso do Estado, contra o

    absolutismo, as perseguies religiosas e polticas, contra o

    medo avassalador em uma poca em que predominava o

    arbtrio e a distino rigorosssima, mais que em classes

    sociais, em castas sociais. Essas liberdade so os direitos de

    ir e vir, de propriedade, de segurana, de acesso justia,

    de opinio, de crena religiosa, de integridade fsica. Essas

    liberdades individuais, tambm chamadas direitos civis,

    foram consagradas em vrias declaraes e firmadas nas

    constituies de diversos pases.

    A segunda gerao a dos direitos sociais, do sculo XIX e

    meados do sculo XX. So todos aqueles direitos ligados

    ao mundo do trabalho. Como o direito ao salrio,

    seguridade social, a frias, a horrio, previdncia etc. E

    so tambm aqueles direitos que no esto vinculados ao

    mundo do trabalho, e que so, portanto, mais importantes

    ainda, porque so direitos de todos e no apenas para

    aqueles que esto empregados: so os direitos de carter

    social mais geral, como o direito a educao, sade,

    habitao. So direitos marcados pela lutas dos

    trabalhadores j no sculo XIX e acentuadas no sculo XX.

    As lutas dos socialistas e da social-democracia, que

    desembocaram no Estado de Bem-Estar Social.

    A terceira gerao aquela que se refere aos direitos

    coletivos da humanidade. Referem-se ao meio ambiente,

    defesa ecolgica, paz, ao desenvolvimento,

    autodeterminao dos povos, partilha do patrimnio

    cientfico, cultural e tecnolgico. Direitos sem fronteiras,

    direitos chamados de solidariedade planetria. por isso

    que ns tambm somos responsveis quando, por exemplo,

    a Frana realiza exploses nucleares no Pacfico. Porque o

    direito das geraes futuras a um meio ambiente no

    degradado j se incorporou conscincia internacional

    como um direito inalienvel. Essas trs geraes, de certa

    maneira, englobam e enfeixam os trs ideais da Revoluo

    Francesa: o da liberdade, o da igualdade e o da fraternidade,

    ou da solidariedade.

    BENEVIDES, Maria Victria. Cidadania e direitos

    Humanos . Disponvel em:

    http://www.iea.usp.br/iea/textos/benevidescidadaniaedireito

    shumanos.pdf acesso em 20/07/2009

    Um dos principais problemas que podem ser apontados a

    respeito da Declarao Universal dos Direitos do Homem,

    de 1948 relativo sua eficcia uma vez que no dispe de

    um aparato punitivo prprio que a faa valer. evidente a

    incapacidade da ONU na interveno de conflitos e guerras

    internacionais que violam os princpios fundamentais do

    direito a vida. Sua ao tem se limitado ao estabelecimento

    de pactos e convenes internacionais a fim de assegurar a

    proteo aos direitos fundamentais do homem. Alm disso

    tem patrocinado reunies com a finalidade de regular e

    implementar aes entre as naes na direo da adoo de

    leis e normas internas que probam e cobam a violao dos

    direitos humanos e promovam os direitos sociais.

    Em particular, a esfera educacional assistiu a um

    avano cada vez maior do papel das agenciasmultilaterias,

    como a ONU, na definio deu destino social. Segundo

    Sander (2003), as aes de agencias como a OEA,

    UNESCO, BID e Banco Mundial, na Amrica Latina se

    consolidaram nas dcadas de 50 e 60, acompanhando o

    crescimento de uma corrente desenvolvimentista de

    administrao do Estado e do poderoso movimento

    internacional da economia da educao, que se inspiravam

    em programas como o Plano Marshall e da Aliana para o

    Progresso, na esteira dos esforos de reconstruo impostos

    pelas conseqncias da II Guerra Mundial.

    Esta lgica econmica teria caracterizado a

    concepo de planejamento da educao, impulsionado

    pelos organismos internacionais de cooperao tcnica.

    Nesse contexto, a OEA (Organizao dos Estados

    Americanos) e a UNESCO (Organizao da ONU,

    Organizao das Naes Unidas para a educao, a cincia

    ea cultura, organizaram, em 1958, na cidade de

    Washington, uma reunio que fundou a concepo de

    planejamento educacional adotada nas dcadas seguintes.

    Quatro anos depois, os Ministros da Educao e do

    Planejamento dos pases do Continente, fizeram sua

    primeira reunio conjunta em Santiago, sob o patrocnio da

    UNESCO, da OEA e da CEPAL (Comisso Econmica

    para a Amrica Latinae Caribe), e nela consagraram o

    papel da educao como fator de desenvolvimento

    econmico, como instrumento de progresso tcnico e como

    meio de seleo e ascenso social (Sander 2003).

    A partir de 1970, a Organizao dos Estados

    Americanos patrocinou um extenso programa de formao

    de administradores e planejadores educacionais. Estes

    programas foram realizados em cooperao com

    universidades da Argentina, Brasil, Colmbia, Chile,

    Mxico, Panam, Per e Venezuela. Neste mesmo perodo,

    a OEA apoiou a implantao de unidades de planejamento

    educacional e de formao de recursos humanos. A

    influncia destas iniciativas pode ser constatada pela

  • 4

    adoo, pelos Ministrios de Economia e Planejamento, dos

    planos anuais, trienais, quinquenais e decenais de

    desenvolvimento econmico e, dentro deles, dos

    respectivos planos setoriais de

    A partir da dcada de 1990 os bancos

    internacionais, especialmente o Banco Mundial, passaram a

    investir maciamente em educao nos pases em

    desenvolvimento. Por causa do prprio sistema de votao

    do Banco Mundial, os Estados Unidos, acionista

    majoritrio do banco, passaram a ter um papel mais

    preponderante na formulao das agendas educacionais dos

    pases em processo de desenvolvimento. Os Estados

    Unidos passam a ocupar um papel central na conduo de

    polticas e prticas econmicas e sociais e as agncias

    multilaterais passaram a adotar a agenda neoliberal

    estabelecida pelo Banco Mundial.

    Nas ltimas dcadas, organizaes internacionais

    tais como a OECD (Organizao para a Cooperao e

    Desenvolvimento Econmico )e o Banco Mundial, cada

    vez mais exercem influncia nas polticas educacionais. A

    interveno dessas organizaes se d de vrias formas:

    orientaes e conselhos, exigncias financeiras restritivas,

    exames e avaliaes de desempenho, interferindo

    profundamente nos processos de tomada de deciso das

    polticas educacionais

    Em 1990 foi realizada a Conferncia Mundial de

    Educao para Todos, realizada em Jomtien, na Tailndia.

    Nesta reunio foram apresentadas propostas que

    enquadrariam a maioria dos pases da comunidade

    internacional em uma agenda educacional voltada para a

    formao para o trabalho de acordo com o modelo da

    sociedade globalizada. Este programa contou com

    substantivos recursos dos bancos internacionais,

    priorizando aspectos voltados para a eficincia e eficcia

    administrativa, a autonomia escolar e curricular e a

    articulao entre educao e poltica social para populaes

    mais carentes.

    As reformas educacionais nos diferentes pases

    da Amrica Latina iniciaram-se logo aps a Conferncia

    Mundial de Educao para Todos quando seus governos

    assumiram compromissos com organismos internacionais.

    Declarao Mundial sobre Educao para Todos:

    Satisfao das Necessidades Basicas de Aprendizagem

    ARTIGO 1 . SATISFAZER AS NECESSIDADES

    BSICAS DE APRENDIZAGEM

    1. Cada pessoa - criana, jovem ou adulto - deve estar em

    condies de aproveitar as oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas necessidades

    bsicas de aprendizagem. Essas necessidades compreendem

    tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem

    (como a leitura e a escrita, a expresso oral, o clculo, a

    soluo de problemas), quanto os contedos bsicos da

    aprendizagem (como conhecimentos, habilidades, valores e

    atitudes), necessrios para que os seres humanos possam

    sobreviver, desenvolver plenamente suas potencialidades,

    viver e trabalhar com dignidade, participar plenamente do

    desenvolvimento, melhorar a qualidade de vida, tomar

    decises fundamentadas e continuar aprendendo. A

    amplitude das necessidades bsicas de aprendizagem e a

    maneira de satisfaze-las variam segundo cada pas e cada

    cultura, e, inevitavelmente, mudam com o decorrer do

    tempo.

    2. A satisfao dessas necessidades confere aos membros

    de uma sociedade a possibilidade e, ao mesmo tempo, a

    responsabilidade de respeitar e desenvolver a sua herana

    cultural, lingustica e espiritual, de promover a educao de

    outros, de defender a causa da justia social, de proteger o

    meio-ambiente e de ser tolerante com os sistemas sociais,

    polticos e religiosos que difiram dos seus, assegurando

    respeito aos valores humanistas e aos direitos humanos

    comumente aceitos, bem como de trabalhar pela paz e pela

    solidariedade internacionais em um mundo

    interdependente.

    3. Outro objetivo, no menos fundamental, do

    desenvolvimento da educao. o enriquecimento dos

    valores culturais e morais comuns. nesses valores que os

    indivduos e a sociedade encontram sua identidade e sua

    dignidade.

    4. A educao bsica mais do que uma finalidade em si

    mesma. Ela a base para a aprendizagem e o

    desenvolvimento humano permanentes, sobre a qual os

    pases podem construir, sistematicamente, nveis e tipos

    mais adiantados de educao e capacitao.

    ARTIGO2 . EXPANDIR O ENFOQUE

    1. Lutar pela satisfao das necessidades bsicas de

    aprendizagem para todos exige mais do que a ratificao do

    compromisso pela educao bsica. necessrio um

    enfoque abrangente, capaz de ir alm dos nveis atuais de

    recursos, das estruturas institucionais; dos currculos e dos

    sistemas convencionais de ensino, para construir sobre a

    base do que h de melhor nas prticas correntes. Existem

    hoje novas possibilidades que resultam da convergncia do

    crescimento da informao e de uma capacidade de

    comunicao sem precedentes. Devemos trabalhar estas

    possibilidades com criatividade e com a determinao de

    aumentar a sua eficcia.

    2. Este enfoque abrangente, tal como exposto nos Artigos 3

    a 7 desta Declarao, compreende o seguinte:

  • 5

    universalizar o acesso educao e promover a equidade:

    concentrar a ateno na aprendizagem;

    ampliar os meios e o raio de ao da educao bsica;

    propiciar um ambiente adequado aprendizagem;

    fortalecer alianas.

    3. A concretizao do enorme potencial para o progresso

    humano depende do acesso das pessoas educao e da

    articulao entre o crescente conjunto de conhecimentos

    relevantes com os novos meios de difuso desses

    conhecimentos

    ARTIGO 3 UNIVERSALIZAR O ACESSO

    EDUCAO E PROMOVER A EQUIDADE

    1. A educao bsica deve ser proporcionada a todas as

    crianas, jovens e adultos. Para tanto, necessrio

    universaliz-la e melhorar sua qualidade, bem como tomar

    medidas efetivas para reduzir as desigualdades.

    2. Para que a educao bsica se torne equitativa, mister

    oferecer a todas as crianas, jovens e adultos, a

    oportunidade de alcanar e manter um padro mnimo de

    qualidade da aprendizagem.

    A prioridade mais urgente melhorar a qualidade e garantir

    o acesso educao para meninas e mulheres, e superar

    todos os obstculos que impedem sua participao ativa no

    processo educativo. Os preconceitos e esteretipos de

    qualquer natureza devem ser eliminados da educao.

    4. Um compromisso efetivo para superar as disparidades

    educacionais deve ser assumido. Os grupos excludos - os

    pobres: os meninos e meninas de rua ou trabalhadores; as

    populaes das periferias urbanas e zonas rurais os

    nmades e os trabalhadores migrantes; os povos indgenas;

    as minorias tnicas, raciais e lingusticas: os refugiados; os

    deslocados pela guerra; e os povos submetidos a um regime

    de ocupao - no devem sofrer qualquer tipo de

    discriminao no acesso s oportunidades educacionais.

    5. As necessidades bsicas de aprendizagem das pessoas

    portadoras de deficincias requerem ateno especial.

    preciso tomar medidas que garantam a igualdade de acesso

    educao aos portadores de todo e qualquer tipo de

    deficincia, como parte integrante do sistema educativo.

    ARTIGO 4 CONCENTRAR A ATENO NA

    APRENDIZAGEM

    1. A traduo das oportunidades ampliadas de educao em

    desenvolvimento efetivo - para o indivduo ou para a

    sociedade - depender, em ltima instncia, de, em razo

    dessas mesmas oportunidades, as pessoas aprenderem de

    fato, ou seja, apreenderem conhecimentos teis, habilidades

    de raciocnio, aptides e valores. Em consequncia, a

    educao bsica deve estar centrada na aquisio e nos

    resultados efetivos da aprendizagem, e no mais

    exclusivamente na matrcula. frequencia aos programas

    estabelecidos e preenchimento dos requisitos para a

    obteno do diploma. Abordagens ativas e participativas

    so particularmente valiosas no que diz respeito a garantir a

    aprendizagem e possibilitar aos educandos esgotar

    plenamente suas potencialidades. Da a necessidade de

    definir, nos programas educacionais, os nveis desejveis de

    aquisio de conhecimentos e implementar sistemas de

    avaliao de desempenho.

    ARTIGO 5 AMPLIAR OS MEIOS DE E O RAIO DE

    AO DA EDUCAO BSICA

    A diversidade, a complexidade e o carter mutvel das

    necessidades bsicas de aprendizagem das crianas, jovens

    e adultos, exigem que se amplie e se redefina

    continuamente o alcance da educao bsica, para que nela

    se incluam os seguintes elementos:

    A aprendizagem comea com o nascimento. Isto implica

    cuidados bsicos e educao inicial na infncia,

    proporcionados seja atravs de estratgias que envolvam as

    famlias e comunidades ou programas institucionais, como

    for mais apropriado.

    O principal sistema de promoo da educao bsica fora

    da esfera familiar a escola fundamental. A educao

    fundamental deve ser universal, garantir a satisfao das

    necessidades bsicas de aprendizagem de todas as crianas,

    e levar em considerao a cultura, as necessidades e as

    possibilidades da comunidade. Programas complementares

    alternativos podem ajudar a satisfazer as necessidades de

    aprendizagem das crianas cujo acesso escolaridade

    formal limitado ou inexistente, desde que observem os

    mesmos padres de aprendizagem adotados na escola e

    disponham de apoio adequado.

    As necessidades bsicas de aprendizagem de jovens e

    adultos so diversas, e devem ser atendidas mediante uma

    variedade de sistemas. Os programas de alfabetizao so

    indispensveis, dado que saber ler e escrever constitui-se

    uma capacidade necessria em si mesma, sendo ainda o

    fundamento de outras habilidades vitais. A alfabetizao na

    lngua materna fortalece a identidade e a herana cultural.

    Outras necessidades podem ser satisfeitas mediante a

    capacitao tcnica, a aprendizagem de ofcios e os

    programas de educao formal e no formal em matrias

    comosade, nutrio, populao, tcnicas agrcolas, meio-

    ambiente, cincia, tecnologia, vida familiar - incluindo-se

    a a questo da natalidade - e outros problemas sociais.

    ARTIGO 6 PROPICIAR UM AMBIENTE

    ADEQUADO APRENDIZAGEM

    A aprendizagem no ocorre em situao de isolamento.

    Portanto, as sociedades devem garantir a todos os

    educandos assistncia em nutrio, cuidados mdicos e o

    apoio fsico e emocional essencial para que participem

    ativamente de sua prpria educao e dela se beneficiem.

    Os conhecimentos e as habilidades necessrios ampliao

    das condies de aprendizagem das crianas devem estar

    integrados aos programas de educao comunitria para

    adultos. A educao das crianas e a de seus pais ou

    responsveis respaldam-se mutuamente, e esta interao

  • 6

    deve ser usada para criar, em benefcio de todos, um

    ambiente de aprendizagem onde haja calor humano e

    vibrao.

    ARTIGO 7 FORTALECER AS ALIANAS

    As autoridades responsveis pela educao aos nveis

    nacional, estadual e municipal tm a obrigao prioritria.

    de proporcionar educao bsica para todos. No se pode,

    todavia, esperar que elas supram a totalidade dos requisitos

    humanos, financeiros e organizacionais necessrios a esta

    tarefa. Novas e crescentes articulaes e alianas sero

    necessrias em todos os nveis: entre todos os subsetores e

    formas de educao, reconhecendo o papel especial dos

    professores, dos administradores e do pessoal que trabalha

    em educao; entre os rgos educacionais e demais rgos

    de governo, incluindo os de planejamento, finanas,

    trabalho, comunicaes, e outros setores sociais; entre as

    organizaes governamentais e nogovernamentais, com o

    setor privado, com as comunidades locais, com os grupos

    religiosos, com as famlias. particularmente importante

    reconhecer o papel vital dos educadores e das famlias.

    Neste contexto, as condies de trabalho e a situao social

    do pessoal docente, elementos decisivos no sentido de se

    implementar a educao para todos, devem ser

    urgentemente melhoradas em todos os pases signatrios da

    Recomendao Relativa Situao do Pessoal Docente

    OIT/UNESCO (1966). Alianas efetivas contribuem

    significativamente para o planejamento, implementao,

    administrao e avaliao dos programas de educao

    bsica. Quando nos referimos a "um enfoque abrangente e a

    um compromisso renovado", inclumos as alianas como

    parte fundamental.

    ARTIGO 8 DESENVOLVER UMA POLTICA

    CONTEXTUALIZADA DE APOIO

    1. Polticas de apoio nos setores social, cultural e

    econmico so necessrias concretizao da plena

    proviso e utilizao da educao bsica para a promoo

    individual e social. A educao bsica para todos depende

    de um compromisso poltico e de uma vontade poltica,

    respaldados por medidas fiscais adequadas e ratificados por

    reformas na poltica educacional e pelo fortalecimento

    institucional. Uma poltica adequada em matria de

    economia, comrcio, trabalho, emprego e sade incentiva o

    educando e contribui para o desenvolvimento da sociedade.

    2. A sociedade deve garantir tambm um slido ambiente

    intelectual e cientfico educao bsica, o que implica a

    melhoria do ensino superior e o desenvolvimento da

    pesquisa cientfica. Deve ser possvel estabelecer, em cada

    nvel da educao, um contato estreito com o conhecimento

    tecnolgico e cientfico contemporneo.

    ARTIGO 9 MOBILIZAR OS RECURSOS

    1. Para que as necessidades bsicas de aprendizagem para

    todos sejam satisfeitas mediante aes de alcance muito

    mais amplo, ser essencial mobilizar atuais e novos

    recursos financeiros e humanos, pblicos, privados ou

    voluntrios. Todos os membros da sociedade tm uma

    contribuio a dar, lembrando sempre que o tempo, a

    energia e os recursos dirigidos educao bsica

    constituem, certamente, o investimento mais importante

    que se pode fazer no povo e no futuro de um pas.

    2. Um apoio mais amplo por parte do setor pblico

    significa atrair recursos de todos os rgos governamentais

    responsveis pelo desenvolvimento humano, mediante o

    aumento em valores absolutos e relativos, das dotaes

    oramentrias aos servios de educao bsica. Significa,

    tambm, reconhecer a existncia de demandas concorrentes

    que pesam sobre os recursos nacionais, e que, embora a

    educao seja um setor importante, no o nico. Cuidar

    para que haja uma melhor utilizao dos recursos e

    programas disponveis para a educao resultar em um

    maior rendimento, e poder ainda atrair novos recursos. A

    urgente tarefa de satisfazer as necessidades bsicas de

    aprendizagem poder vir a exigir unia realocao dos

    recursos entre setores, como, por exemplo, uma

    transferncia de fundos dos gastos militares para a

    educao.

    Acima de tudo, necessria uma proteo especial para a

    educao bsica nos pases em processo de ajustes

    estruturais e que carregam o pesado fardo da dvida

    externa. Agora, mais do que nunca, a educao deve ser

    considerada uma dimenso fundamental de todo projeto

    social, cultural e econmico.

    ARTIGO 10 FORTALECER A SOLIDARIEDADE

    INTERNACIONAL

    1. Satisfazer as necessidades bsicas de aprendizagem

    constitui-se uma responsabilidade comum e universal a

    todos os povos, e implica solidariedade internacional e

    relaes econmicas honestas e equitativas, a fim de

    corrigir as atuais disparidades econmicas. Todas as naes

    tm valiosos conhecimentos e experincias a compartilhar,

    com vistas elaborao de polticas e programas

    educacionais eficazes.

    2. Ser necessrio um aumento substancial, a longo prazo,

    dos recursos destinados educao bsica. A comunidade

    mundial, incluindo os organismos e instituies

    intergovernamentais, tm a responsabilidade urgente de

    atenuar as limitaes que impedem algumas naes de

    alcanar a meta da educao para todos. Este esforo

    implicar, necessariamente, a adoo de medidas que

    aumentem os oramentos nacionais dos pases mais pobres,

    ou ajudem a aliviar o fardo das pesadas dvidas que os

    afligem. Credores e devedores devem procurar frmulas

    inovadoras e equitativas para reduzir este fardo, uma vez

    que a capacidade de muitos pases em desenvolvimento de

    responder efetivamente educao e a outras necessidades

    bsicas ser extremamente ampliada ao se resolver o

    problema da dvida.

  • 7

    3. As necessidades bsicas de aprendizagem dos adultos e

    das crianas devem ser atendidas onde quer que existam.

    Os pases menos desenvolvidos e com baixa renda

    apresentam necessidades especiais que exigiro ateno

    prioritria no quadro da cooperao internacional

    educao bsica, nos anos 90.

    4. Todas as naes devem agir conjuntamente para resolver

    conflitos e disputas, pr fim s ocupaes militares e

    assentar populaes deslocadas ou facilitar seu retorno a

    seus pases de origem, bem como garantir o atendimento de

    suas necessidades bsicas de aprendizagem. S um

    ambiente estvel e pacfico pode criar condies para que

    todos os seres humanos, crianas e adultos, venham a

    beneficiar-se das propostas desta declarao.

    Disponvel em

    http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ue0001

    08.pdf acesso 20/07/2009

    Essas reformas, entretanto, embora apontassem

    para os princpios de educao para todos e democratizao

    do ensino, apontaram para uma instrumentalizao das

    prticas educativas que agora se inscrevem em conjunto

    mais amplo de polticas educacionais subordinadas aos

    imperativos da racionalidade econmica dominante e s

    exigncias de produtividade, competitividade e

    empregabilidade. Esta nova realidade, decorrente do

    processo de globalizao, tem conduzido a uma concepo

    mercantil de educao, dentro de um comrcio mundial de

    servios educativos.

    A Constituio brasileira de 1988, rompendo com a

    organizao poltica autoritria do regime militar, que

    perdurou no Brasil de 1964 a 1985, instaurou a democracia

    no pas e institucionalizou os direitoshumanos acatando os

    princpios consagrados internacionalmente relativos a

    proteo dos direitos humanos. Este vnculo com os

    direitos humanos aparece j no seu primeiro artigo, que

    estabelece dentre os princpios fundamentais que regem as

    leis deste pas, a dignidade da pessoa humana.

    Ao atribuir a dignidade da pessoa humana o papel de

    princpio fundamental, a Constituio colocou este

    princpio como norteador de todo o ordenamento jurdico, e

    sua luz devem ser interpretadas todas as situaes reais

    que digam respeito a pessoa humana. Isto significa que a

    dignidade deve ser sempre considerada inerente a toda e

    qualquer pessoa, sendo vedada qualquer discriminao.

    Em seus artigos terceiro e quarto so estabelecidos os

    princpios de justia, solidariedade, equidade, justia social

    (erradicar a pobreza e a marginalizao e reduzir as

    desigualdades sociais e regionais) e igualdade (sem

    preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer

    outras formas de discriminao).

    Art. 3 Constituem objetivos fundamentais da Repblica

    Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre,

    justa e solidria;II - garantir o desenvolvimento

    nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalizao e

    reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover

    o bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo,

    cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao.

    Art. 4 A Repblica Federativa do Brasil rege-se nas

    suas relaes internacionais pelos seguintes princpios:I -

    independncia nacional;II - prevalncia dos direitos

    humanos; III - autodeterminao dos povos; IV - no-

    interveno; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da

    paz; VII - soluo pacfica dos conflitos; VIII - repdio ao

    terrorismo e ao racismo; IX - cooperao entre os povos

    para o progresso da humanidade; X - concesso de asilo

    poltico.

    Pargrafo nico. A Repblica Federativa do Brasil

    buscar a integrao econmica, poltica, social e cultural

    dos povos da Amrica Latina, visando formao de uma

    comunidade latino-americana de naes.

    A Constituio de 1988 inova ao apresentar pela primeira

    vez em uma Carta Constitucional brasileira, os direitos

    sociais dentro dos direitos fundamentais. Isto significa que

    explicitamente afirmado que os direitos sociais so

    direitos fundamentais, sendo pois inconcebvel separar o

    valor liberdade (direitos civis e polticos) do valor

    igualdade (direitos sociais, econmicos e culturais).

    no Ttulo II da constituio, entretanto, que encontramos

    expressos os direitos individuais e coletivos, que asseguram

    que todos so iguais perante a lei e asseguram a todos os

    cidados o direito a vida, liberdade, igualdade, segurana e

    propriedade. So assegurados os mesmos direitos, sob pena

    de punio legal, a todos independentes de sexo, raa, cor

    ou idade. assegurado, ainda o direito de ir e vir, de

    manifestao de opinio, o direito de crena religiosa, a

    inviolabilidade do lar e a inviolabilidade da

    correspondncia. assegurado tambm o direito livre

    escolha do ofcio, propriedade, o direito de propriedade e

    informao.

    TTULO II

    Dos Direitos e Garantias Fundamentais

    CAPTULO I

    DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E

    COLETIVOS

    Art. 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de

    qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

    estrangeiros residentes no Pas a inviolabilidade do direito

  • 8

    vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade,

    nos termos seguintes:

    I - homens e mulheres so iguais em direitos e

    obrigaes, nos termos desta Constituio;

    II - ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer

    alguma coisa seno em virtude de lei;

    III - ningum ser submetido a tortura nem a tratamento

    desumano ou degradante;

    IV - livre a manifestao do pensamento, sendo

    vedado o anonimato;

    V - assegurado o direito de resposta, proporcional ao

    agravo, alm da indenizao por dano material, moral ou

    imagem;

    VI - inviolvel a liberdade de conscincia e de crena,

    sendo assegurado o livre exerccio dos cultos religiosos e

    garantida, na forma da lei, a proteo aos locais de culto e a

    suas liturgias;

    VII - assegurada, nos termos da lei, a prestao de

    assistncia religiosa nas entidades civis e militares de

    internao coletiva;

    VIII - ningum ser privado de direitos por motivo de

    crena religiosa ou de convico filosfica ou poltica,

    salvo se as invocar para eximir-se de obrigao legal a

    todos imposta e recusar-se a cumprir prestao alternativa,

    fixada em lei;

    IX - livre a expresso da atividade intelectual,

    artstica, cientfica e de comunicao, independentemente

    de censura ou licena;

    X - so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra

    e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenizao

    pelo dano material ou moral decorrente de sua violao;

    XI - a casa asilo inviolvel do indivduo, ningum nela

    podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em

    caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro,

    ou, durante o dia, por determinao judicial;

    XII - inviolvel o sigilo da correspondncia e das

    comunicaes telegrficas, de dados e das comunicaes

    telefnicas, salvo, no ltimo caso, por ordem judicial, nas

    hipteses e na forma que a lei estabelecer para fins de

    investigao criminal ou instruo processual penal;

    XIII - livre o exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou

    profisso, atendidas as qualificaes profissionais que a lei

    estabelecer;

    XIV - assegurado a todos o acesso informao e

    resguardado o sigilo da fonte, quando necessrio ao

    exerccio profissional;

    XV - livre a locomoo no territrio nacional em

    tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei,

    nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

    XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas,

    em locais abertos ao pblico, independentemente de

    autorizao, desde que no frustrem outra reunio

    anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas

    exigido prvio aviso autoridade competente;

    XVII - plena a liberdade de associao para fins

    lcitos, vedada a de carter paramilitar;

    XVIII - a criao de associaes e, na forma da lei, a de

    cooperativas independem de autorizao, sendo vedada a

    interferncia estatal em seu funcionamento;

    XIX - as associaes s podero ser compulsoriamente

    dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por deciso

    judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trnsito em

    julgado;

    XX - ningum poder ser compelido a associar-se ou a

    permanecer associado;

    XXI - as entidades associativas, quando expressamente

    autorizadas, tm legitimidade para representar seus filiados

    judicial ou extrajudicialmente;

    XXII - garantido o direito de propriedade;

    XXIII - a propriedade atender a sua funo social;

    XXIV - a lei estabelecer o procedimento para

    desapropriao por necessidade ou utilidade pblica, ou por

    interesse social, mediante justa e prvia indenizao em

    dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituio;

    XXV - no caso de iminente perigo pblico, a autoridade

    competente poder usar de propriedade particular,

    assegurada ao proprietrio indenizao ulterior, se houver

    dano;

  • 9

    XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em

    lei, desde que trabalhada pela famlia, no ser objeto de

    penhora para pagamento de dbitos decorrentes de sua

    atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de

    financiar o seu desenvolvimento;

    XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de

    utilizao, publicao ou reproduo de suas obras,

    transmissvel aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;

    XXVIII - so assegurados, nos termos da lei:

    a) a proteo s participaes individuais em obras

    coletivas e reproduo da imagem e voz humanas,

    inclusive nas atividades desportivas;

    b) o direito de fiscalizao do aproveitamento

    econmico das obras que criarem ou de que participarem

    aos criadores, aos intrpretes e s respectivas

    representaes sindicais e associativas;

    XXIX - a lei assegurar aos autores de inventos

    industriais privilgio temporrio para sua utilizao, bem

    como proteo s criaes industriais, propriedade das

    marcas, aos nomes de empresas e a outros signos

    distintivos, tendo em vista o interesse social e o

    desenvolvimento tecnolgico e econmico do Pas;

    XXX - garantido o direito de herana;

    XXXI - a sucesso de bens de estrangeiros situados no

    Pas ser regulada pela lei brasileira em benefcio do

    cnjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que no lhes seja

    mais favorvel a lei pessoal do "de cujus";

    XXXII - o Estado promover, na forma da lei, a defesa

    do consumidor;

    XXXIII - todos tm direito a receber dos rgos

    pblicos informaes de seu interesse particular, ou de

    interesse coletivo ou geral, que sero prestadas no prazo da

    lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo

    sigilo seja imprescindvel segurana da sociedade e do

    Estado;

    Assim, ao ter incorporado no texto constitucional, esta srie

    de direitos humanos, esses assumem a figura de norma

    constitucional, passando a integrar o elenco dos direitos

    constitucionalmente protegidos.

    DECLARAO UNIVERSAL DOS DIREITOS

    HUMANOS

    Adotada e proclamada pela resoluo 217 A (III)da

    Assembleia Geral das Naes Unidas em 10 de dezembro

    de 1948.

    Prembulo

    Considerando que o reconhecimento da dignidade

    inerente a todos os membros da famlia humana e de seus

    direitos iguais e inalienveis o fundamento da liberdade,

    da justia e da paz no mundo,

    Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos

    direitos humanos resultaram em atos brbaros que

    ultrajaram a conscincia da Humanidade e que o advento de

    um mundo em que os homens gozem de liberdade de

    palavra, de crena e da liberdade de viverem a salvo do

    temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta

    aspirao do homem comum,

    Considerando essencial que os direitos humanos sejam

    protegidos pelo Estado de Direito, para que o homem no

    seja compelido, como ltimo recurso, rebelio contra

    tirania e a opresso, Considerando essencial promover o

    desenvolvimento de relaes amistosas entre as naes,

    Considerando que os povos das Naes Unidas

    reafirmaram, na Carta, sua f nos direitos humanos

    fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa humana e

    na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que

    decidiram promover o progresso social e melhores

    condies de vida em uma liberdade mais ampla.

    Considerando que os Estados-Membros se

    comprometeram a desenvolver, em cooperao com as

    Naes Unidas, o respeito universal aos direitos humanos e

    liberdades fundamentais e a observncia desses direitos e

    liberdades, considerando que uma compreenso comum

    desses direitos e liberdades da mis alta importncia para o

    pleno cumprimento desse compromisso.

    A Assembleia Geral proclama

    A presente Declarao Universal dos Diretos

    Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os

    povos e todas as naes, com o objetivo de que cada

    indivduo e cada rgo da sociedade, tendo sempre em

    mente esta Declarao, se esforce, atravs do ensino e da

    educao, por promover o respeito a esses direitos e

    liberdades, e, pela adoo de medidas progressivas de

    carter nacional e internacional, por assegurar o seu

    reconhecimento e a sua observncia universais e efetivos,

  • 10

    tanto entre os povos dos prprios Estados-Membros, quanto

    entre os povos dos territrios sob sua jurisdio.

    Artigo I - Todas as pessoas nascem livres e iguais em

    dignidade e direitos. So dotadas de razo e conscincia e

    devem agir em relao umas s outras com esprito de

    fraternidade.

    Artigo II - Toda pessoa tem capacidade para gozar os

    direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declarao, sem

    distino de qualquer espcie, seja de raa, cor, sexo,

    lngua, religio, opinio poltica ou de outra natureza,

    origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou

    qualquer outra condio.

    Artigo III - Toda pessoa tem direito vida, liberdade e

    segurana pessoal.

    Artigo IV- Ningum ser mantido em escravido ou

    servido, a escravido e o trfico de escravos sero

    proibidos em todas as suas formas.

    Artigo V- Ningum ser submetido tortura, nem a

    tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

    Artigo VI - Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os

    lugares, reconhecida como pessoa perante a lei.

    Artigo VII - Todos so iguais perante a lei e tm direito,

    sem qualquer distino, a igual proteo da lei. Todos tm

    direito a igual proteo contra qualquer discriminao que

    viole a presente Declarao e contra qualquer incitamento a

    tal discriminao.

    Artigo VIII - Toda pessoa tem direito a receber dos tributos

    nacionais competentes remdio efetivo para os atos que

    violem os direitos fundamentais que lhe sejam

    reconhecidos pela constituio ou pela lei.

    Artigo IX - Ningum ser arbitrariamente preso, detido ou

    exilado.

    Artigo X - Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a

    uma audincia justa e pblica por parte de um tribunal

    independente e imparcial, para decidir de seus direitos e

    deveres ou do fundamento de qualquer acusao criminal

    contra ele.

    Artigo XI 1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso

    tem o direito de ser presumida inocente at que a sua

    culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em

    julgamento pblico no qual lhe tenham sido asseguradas

    todas as garantias necessrias sua defesa. 2. Ningum

    poder ser culpado por qualquer ao ou omisso que, no

    momento, no constituam delito perante o direito nacional

    ou internacional. Tampouco ser imposta pena mais forte

    do que aquela que, no momento da prtica, era aplicvel ao

    ato delituoso.

    Artigo XII - Ningum ser sujeito a interferncias na sua

    vida privada, na sua famlia, no seu lar ou na sua

    correspondncia, nem a ataques sua honra e reputao.

    Toda pessoa tem direito proteo da lei contra tais

    interferncias ou ataques.

    Artigo XIII1. Toda pessoa tem direito liberdade de

    locomoo e residncia dentro das fronteiras de cada

    Estado. 2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer

    pas, inclusive o prprio, e a este regressar.

    Artigo XIV - 1.Toda pessoa, vtima de perseguio, tem o

    direito de procurar e de gozar asilo em outros pases.

    2. Este direito no pode ser invocado em caso de

    perseguio legitimamente motivada por crimes de direito

    comum ou por atos contrrios aos propsitos e princpios

    das Naes Unidas.

    Artigo XV - 1.Toda pessoa tem direito a uma

    nacionalidade. 2. Ningum ser arbitrariamente privado de

    sua nacionalidade, nem do direito de mudar de

    nacionalidade.

    Artigo XVI -. Os homens e mulheres de maior idade, sem

    qualquer restrio de raa, nacionalidade ou religio, tm o

    direito de contrair matrimnio e fundar uma famlia.

    Gozam de iguais direitos em relao ao casamento, sua

    durao e sua dissoluo.2. O casamento no ser vlido

    seno com o livre e pleno consentimento dos nubentes.

    Artigo XVII -1. Toda pessoa tem direito propriedade, s

    ou em sociedade com outros. 2.Ningum ser

    arbitrariamente privado de sua propriedade.

    Artigo XVIII -Toda pessoa tem direito liberdade de

    pensamento, conscincia e religio; este direito inclui a

    liberdade de mudar de religio ou crena e a liberdade de

    manifestar essa religio ou crena, pelo ensino, pela prtica,

    pelo culto e pela observncia, isolada ou coletivamente, em

    pblico ou em particular.

    Artigo XIX - Toda pessoa tem direito liberdade de

    opinio e expresso; este direito inclui a liberdade de, sem

    interferncia, ter opinies e de procurar, receber e transmitir

    informaes e ideias por quaisquer meios e

    independentemente de fronteiras.

  • 11

    Artigo XX -1. Toda pessoa tem direito liberdade de

    reunio e associao pacficas. 2. Ningum pode ser

    obrigado a fazer parte de uma associao.

    Artigo XXI -1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no

    governo de seu pas, diretamente ou por intermdio de

    representantes livremente escolhidos. 2. Toda pessoa tem

    igual direito de acesso ao servio pblico do seu pas. 3. A

    vontade do povo ser a base da autoridade do governo; esta

    vontade ser expressa em eleies peridicas e legtimas,

    por sufrgio universal, por voto secreto ou processo

    equivalente que assegure a liberdade de voto.

    Artigo XXII - Toda pessoa, como membro da sociedade,

    tem direito segurana social e realizao, pelo esforo

    nacional, pela cooperao internacional e de acordo com a

    organizao e recursos de cada Estado, dos direitos

    econmicos, sociais e culturais indispensveis sua

    dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

    Artigo XXIII - 1.Toda pessoa tem direito ao trabalho,

    livre escolha de emprego, a condies justas e favorveis

    de trabalho e proteo contra o desemprego. 2. Toda

    pessoa, sem qualquer distino, tem direito a igual

    remunerao por igual trabalho. 3. Toda pessoa que

    trabalhe tem direito a uma remunerao justa e satisfatria,

    que lhe assegure, assim como sua famlia, uma existncia

    compatvel com a dignidade humana, e a que se

    acrescentaro, se necessrio, outros meios de proteo

    social. 4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e

    neles ingressar para proteo de seus interesses.

    Artigo XXIV - Toda pessoa tem direito a repouso e lazer,

    inclusive a limitao razovel das horas de trabalho e frias

    peridicas remuneradas.

    Artigo XXV

    1. Toda pessoa tem direito a um padro de vida capaz

    de assegurar a si e a sua famlia sade e bem estar,

    inclusive alimentao, vesturio, habitao, cuidados

    mdicos e os servios sociais indispensveis, e direito

    segurana em caso de desemprego, doena, invalidez,

    viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de

    subsistncia fora de seu controle. 2. A maternidade e a

    infncia tm direito a cuidados e assistncia especiais.

    Todas as crianas nascidas dentro ou fora do matrimnio,

    gozaro da mesma proteo social.

    Artigo XXVI - 1. Toda pessoa tem direito instruo. A

    instruo ser gratuita, pelo menos nos graus elementares e

    fundamentais. A instruo elementar ser obrigatria. A

    instruo tcnico-profissional ser acessvel a todos, bem

    como a instruo superior, est baseada no mrito. 2. A

    instruo ser orientada no sentido do pleno

    desenvolvimento da personalidade humana e do

    fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas

    liberdades fundamentais. A instruo promover a

    compreenso, a tolerncia e a amizade entre todas as

    naes e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvar as

    atividades das Naes Unidas em prol da manuteno da

    paz. 3. Os pais tm prioridade de direito n escolha do

    gnero de instruo que ser ministrada a seus filhos.

    Artigo XXVII - 1. Toda pessoa tem o direito de participar

    livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes

    e de participar do processo cientfico e de seus

    benefcios. 2. Toda pessoa tem direito proteo dos

    interesses morais e materiais decorrentes de qualquer

    produo cientfica, literria ou artstica da qual seja autor.

    Artigo XVIII - Toda pessoa tem direito a uma ordem social

    e internacional em que os direitos e liberdades

    estabelecidos na presente Declarao possam ser

    plenamente realizados.

    Artigo XXIV - 1. Toda pessoa tem deveres para com a

    comunidade, em que o livre e pleno desenvolvimento de

    sua personalidade possvel. 2. No exerccio de seus

    direitos e liberdades, toda pessoa estar sujeita apenas s

    limitaes determinadas pela lei, exclusivamente com o fim

    de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos

    direitos e liberdades de outrem e de satisfazer s justas

    exigncias da moral, da ordem pblica e do bem-estar de

    uma sociedade democrtica. 3. Esses direitos e liberdades

    no podem, em hiptese alguma, ser exercidos

    contrariamente aos propsitos e princpios das Naes

    Unidas.

    Artigo XXX - Nenhuma disposio da presente Declarao

    pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer

    Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer

    atividade ou praticar qualquer ato destinado destruio de

    quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

    Acessvel in:

    http://www.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_u

    niversal.htm

    O direito educao ocupa um lugar central nos direitos do

    homem no apenas por ser considerado um direito humano

    fundamental mas porque sua realizao essencial e

    indispensvel para o exerccio de todos os outros direitos

    humanos. por meio dele que se tem acesso ao

    conhecimento dos demais direitos, cidadania e a

    participao poltica. Nenhum dos demais direitos, quer

  • 12

    sejam civis, polticos, econmicos ou sociais podem ser

    praticados por indivduos a no ser que se tenha deles

    conhecimento e isso tarefa da educao. Na Constituio

    de 1988 a educao definida como direito de todos e

    dever do Estado e da famlia, devendo ser incentivada e

    promovida com a colaborao da sociedade. garantida,

    ainda a igualdade de condies a todos para o acesso e

    permanncia na escola, a liberdade de ensino e

    aprendizagem e o pluralismo de ideias. A gratuidade do

    ensino garantida apenas para os estabelecimentos oficiais,

    isto mantida pelo poder pblico.

    CAPTULO III

    DA EDUCAO, DA CULTURA E DO DESPORTO

    Seo I

    DA EDUCAO

    Art. 205. A educao, direito de todos e dever do Estado

    e da famlia, ser promovida e incentivada com a

    colaborao da sociedade, visando ao pleno

    desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exerccio da

    cidadania e sua qualificao para o trabalho.

    Art. 206. O ensino ser ministrado com base nos

    seguintes princpios:

    I - igualdade de condies para o acesso e permanncia

    na escola;

    II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar

    o pensamento, a arte e o saber;

    III - pluralismo de idias e de concepes pedaggicas,

    e coexistncia de instituies pblicas e privadas de ensino;

    IV - gratuidade do ensino pblico em estabelecimentos

    oficiais;

    No artigo 208, entre outras coisas afirmado que dever

    do Estado oferecer o ensino fundamental que deve ser

    obrigatrio e gratuito, assegurando que mesmo aqueles que

    ingressarem nesta etapa do ensino fora da idade para ele

    indicada, tem direito ao ensino gratuito. Se a

    universalizao gratuita do ensino fundamental

    assegurada pela lei, para o ensino mdio gratuito

    apontada a universalizao gradual, que dever depender

    das metas estabelecidas nos planos nacionais de educao.

    garantido ainda, pela Constituio, o atendimento escolar

    especializado, de preferncia na rede regular, aos

    portadores de deficincias.

    Art. 208. O dever do Estado com a educao ser

    efetivado mediante a garantia de:

    I - ensino fundamental, obrigatrio e gratuito,

    assegurada, inclusive, sua oferta gratuita para todos os

    que a ele no tiveram acesso na idade prpria;

    II - progressiva universalizao do ensino mdio

    gratuito;

    III - atendimento educacional especializado aos

    portadores de deficincia, preferencialmente na rede

    regular de ensino;

    CasaMquina de escrever

    CasaMquina de escreverRISCAL, Sandra Aparecida. O Direito a Educao. UFSCAR 2014. Disponvel em: http://www.cfge.ufscar.br/file.php/372/Material_didatico/O_DIREITO_A_EDUCACAO_Sandra_Riscal.pdf. Acesso em: 5 mar. 2015

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