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Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Núcleo de Pesquisa e Estudos Sociolinguísticos, Dialetológicos e Discursivos NUPESDD-UEMS Mestrado em Letras UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 Volume 6 Número 17 Novembro 2015 NUPESDD UEMS Web-Revista SOCIODIALETO Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 6, nº 17, nov. 2015 228 O (DES)USO DO VERBO HAVER EXISTENCIAL Elyne Giselle de Santana Lima Aguiar Vitório (UFAL) 1 [email protected] RESUMO: Focalizamos as realizações das construções existenciais com ter e haver, a fim de observar o que de haver ainda encontramos na fala e como ocorre a sua recuperação na escrita. Para tanto, utilizamos um modelo de estudo da mudança linguística a Teoria da Variação e Mudança (LABOV, 2008[1972]), associado a estudos linguísticos sobre as construções existenciais no português brasileiro. Os resultados mostram que ter é o verbo existencial preferido na fala, mas, na escrita, há uma redução no seu percentual de uso, aumentando a frequência de haver, que é condicionado pelo verbo no tempo passado, quando o argumento interno é [+ abstrato], entre os falantes mais escolarizados e mais velhos. PALAVRAS-CHAVE: ter existencial; haver existencial; língua falada; língua escrita. ABSTRACT: We focus on the achievements of existential constructions wi th “ter” and “haver”, to observe what of “haver” we still find in the speech and how occurs his recovery in the writing. For this, we use a study model of linguistics change the Theory of Variation and Change (LABOV, 2008[1972]), joint to linguistics studies on existential constructions in the Brazilian Portuguese. The results show that “ter” is the prefered existential verb in the speaking, but, in the writing, there is a reduction in his percentage use, increasing the frequency of “haver”, which is conditioned by the verb in past tense, when the internal argument is [+ abstract], among the more educated and older speakers. KEYWORDS: existential “ter”; existential “haver”; speech language, writing language. 1. Introdução Tendo em vista que, no Brasil, fala e escrita não se diferenciam apenas pelo maior ou menor grau de planejamento, mas também por caracterizarem duas gramáticas: uma gramática da fala, que é “fruto do processo de aquisição da linguagem, com formas conservadoras e inovadoras, consequência de mudanças naturais na história das línguas” e uma gramática da escrita, que “é uma mistura de traços da gramática lusitana [...] somada a traços do português brasileiro que se implementam aos poucos na 1 Professora da Universidade Federal de Alagoas Campus Sertão. Doutora em Linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da Universidade Federal de Alagoas. [email protected].

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NUPESDD – UEMS – Web-Revista SOCIODIALETO – Mestrado – Letras – UEMS/Campo Grande, v. 6, nº 17, nov. 2015 228

O (DES)USO DO VERBO HAVER EXISTENCIAL

Elyne Giselle de Santana Lima Aguiar Vitório (UFAL)1

[email protected]

RESUMO: Focalizamos as realizações das construções existenciais com ter e haver, a fim de observar o

que de haver ainda encontramos na fala e como ocorre a sua recuperação na escrita. Para tanto, utilizamos

um modelo de estudo da mudança linguística – a Teoria da Variação e Mudança (LABOV, 2008[1972]),

associado a estudos linguísticos sobre as construções existenciais no português brasileiro. Os resultados

mostram que ter é o verbo existencial preferido na fala, mas, na escrita, há uma redução no seu percentual

de uso, aumentando a frequência de haver, que é condicionado pelo verbo no tempo passado, quando o

argumento interno é [+ abstrato], entre os falantes mais escolarizados e mais velhos.

PALAVRAS-CHAVE: ter existencial; haver existencial; língua falada; língua escrita.

ABSTRACT: We focus on the achievements of existential constructions with “ter” and “haver”, to

observe what of “haver” we still find in the speech and how occurs his recovery in the writing. For this,

we use a study model of linguistics change – the Theory of Variation and Change (LABOV, 2008[1972]),

joint to linguistics studies on existential constructions in the Brazilian Portuguese. The results show that

“ter” is the prefered existential verb in the speaking, but, in the writing, there is a reduction in his

percentage use, increasing the frequency of “haver”, which is conditioned by the verb in past tense, when

the internal argument is [+ abstract], among the more educated and older speakers.

KEYWORDS: existential “ter”; existential “haver”; speech language, writing language.

1. Introdução

Tendo em vista que, no Brasil, fala e escrita não se diferenciam apenas pelo

maior ou menor grau de planejamento, mas também por caracterizarem duas

gramáticas: uma gramática da fala, que é “fruto do processo de aquisição da linguagem,

com formas conservadoras e inovadoras, consequência de mudanças naturais na história

das línguas” e uma gramática da escrita, que “é uma mistura de traços da gramática

lusitana [...] somada a traços do português brasileiro que se implementam aos poucos na

1 Professora da Universidade Federal de Alagoas – Campus Sertão. Doutora em Linguística pelo

Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística da Universidade Federal de Alagoas.

[email protected].

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escrita” (DUARTE, 2013, p. 15), analisamos o uso de ter e haver em construções

existenciais em dados de fala e escrita.

Nosso intuito é não só observar como ter e haver em sentenças existenciais se

comportam em dados de língua falada e língua escrita produzidos por informantes

alagoanos dos ensinos fundamental, médio e superior, mas também buscar evidências

da implementação, na escrita, de mudanças observadas na fala e, ao mesmo tempo,

refletir sobre a forma como a língua escrita tende a recuperar formas gramaticais

ausentes no processo de aquisição da linguagem das crianças brasileiras, como é o caso,

por exemplo, do verbo haver em construções existenciais (Cf. AVELAR, 2006b;

VITÓRIO, 2010).

Para a descrição e análise dos dados, propomos as seguintes questões: qual a

frequência de uso de ter e haver na fala e na escrita aqui analisadas? Que fatores

linguísticos e/ou sociais motivam as realizações dessas construções na fala e na escrita?

Qual o papel da escrita na recuperação e manutenção de haver, tendo em vista que, no

português brasileiro falado, ter é o verbo existencial preferido? Nossa hipótese básica é

a de que ter seja o existencial da fala, mas, na escrita, haver seja o existencial

selecionado, mostrando, assim, que as normas convencionais da escrita reprimem as

inovações da fala e fazem o falante voltar às formas eliminadas, ou no limiar do

desaparecimento (Cf. KATO, 1996, 1999).

Nosso trabalho está organizado da seguinte forma: na seção 1, apresentamos os

pontos que serviram de base para o desenvolvimento deste estudo; em seguida, na seção

2, apresentamos o quadro teórico que norteia nossa análise; na seção 3, caracterizamos

os dados analisados e as amostras utilizadas neste trabalho; na seção 4, descrevemos e

analisamos os resultados obtidos para as realizações de ter e haver na fala e, por fim, na

seção 5, descrevemos e analisamos os dados obtidos para as realizações de ter e haver

na escrita.

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2. A supressão de haver em contextos existenciais

Estudos linguísticos mostram que, no português brasileiro, ter é o existencial

canônico (CALLOU; AVELAR, 2000; DUARTE, 2003; MARTINS; CALLOU, 2003,

VITÓRIO, 2011). Esses trabalhos apresentam que, apesar da preferência por ter na fala,

há fatores que ainda favorecem o uso de haver, a saber, argumento interno com traço [+

abstrato], verbo no tempo passado, falantes mais velhos e mais escolarizados. Na

escrita, devido à pressão normativa, haver é o existencial selecionado, mas estudos de

Callou e Duarte (2005), Avelar (2006b) e Vitório (2012; 2013) já mostram a

implementação de ter existencial.

No trabalho De verbo funcional a verbo substantivo: uma hipótese para a

supressão de haver no português brasileiro, Avelar (2006a), seguindo alguns

pressupostos da Morfologia Distribuída (HALLE; MARANTZ, 1994; EMBICK;

NOYER, 2004), argumenta que a baixa frequência de haver e as restrições ao uso em

alguns contextos existenciais, como Tem/*Há pão, decorrem de uma mudança na

funcionalidade desse verbo. O verbo haver teria deixado de compor o acervo de itens

funcionais e migrado sua matriz para o acervo de itens substantivos, residindo ao lado

de itens como existir, acontecer, ocorrer.

Tal mudança levou haver a alguma forma de especialização semântica, caso que

não ocorre com ter, que é um verbo semanticamente neutro, não sendo mais possível,

no português brasileiro, falar em variação ter e haver como competição entre duas

formas funcionais. A variação ter e haver seria “desencadeada pela ‘alimentação’ da

gramática periférica no processo de escolarização (em oposição à gramática nuclear,

construída no processo natural de aquisição da linguagem [...]” (AVELAR, 2006b, p.

101), não havendo, na gramática internalizada dos falantes, tal variação, com o verbo

ter ocupando o posto de existencial canônico.

[...] existem, de um lado, construções existenciais canônicas,

construídas com o verbo ter, de outro lado, aparecem construções

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existenciais mais gerais, de uso normalmente apresentacional, com

verbos como haver, aparecer, acontecer, surgir, etc. Assim, não

estamos diante de uma variação a ser capturada como um fato de

gramática interna do falante, a sua gramática nuclear, mas

simplesmente de um padrão frásico do português contemporâneo que

elege como a sua forma verbal prototípica o verbo ter. No âmbito da

gramática naturalmente internalizada, portanto, não existe variação

entre dois verbos existenciais no português brasileiro, mas entre um

padrão canônico de gerar uma sentença existencial, para qual se

recorre a um verbo funcional, e outros padrões diferenciados, com

valores semântico-pragmáticos diversos que se valem de verbos não-

funcionais. (AVELAR, 2006b, p. 116).

Outro fato apontado pelo autor diz respeito à razão de haver ter tido sua

condição alterada, levando-o a argumentar que a supressão de haver e a emergência de

ter em contextos existenciais se encaixam em um conjunto mais amplo de mudanças por

que vem passando o português brasileiro. A entrada do verbo ter em contextos

existenciais, que ocorreu em algum momento do século XIX, teve início entre os

chamados “contextos opacos”, ou seja, em construções interpretadas como existenciais

pelos falantes do português brasileiro contemporâneo, mas que, na verdade, consistem

em verdadeiras construções possessivas, conforme podemos observar na construção (1).

1) ...e asim diserão elles doadores que tinhão e em caza tres crianças emgeitadas que elles criarão

Manoel Jozeph Pascoal os quais emcomendão aos Religiozos seos herdeiros os tenhão debaixo

de sua propteção e os dotrinem como filhos juntamente com os mamalucos forros que em sua

caza tem, em fé do qual assim o outrogarão,... – 1632 (Extraído de Avelar, 2006a, p. 65)

Segundo o autor, para um falante do português europeu contemporâneo, essa

construção seria interpretada como possessiva, sendo possível indicar um sujeito para

ter – os Religiozos, mas para um falante do português brasileiro contemporâneo, a

interpretação preferencial e talvez a única seria existencial. O mesmo “equívoco” pode

ocorrer quando um falante do português brasileiro contemporâneo se defronta com uma

construção do tipo (2) pronunciada por um falante do português europeu

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contemporâneo, em que a sentença tinha uns bancos de madeira pode ter como sujeito

nulo correferente uma tasca ou aquela tasca.

2) e depois fomos para UMA TASCA, meu, que era espectacular. então é AQUELA TASCA que

eu já te contei, que era: tipo u[...], uma garagenzinha, estás a ver, e tinha uns bancos de madeira,

tipo, umas tábuas de madeira em cima de tijolos (Década de 90 / Faixa Etária 1 – Culto)

(Extraído de Avelar, 2006a, p. 67)

Tendo em vista esses dados, Avelar (2006a) defende a ideia de que tal

“equívoco” está relacionado às restrições ao sujeito nulo. Com a redução do paradigma

flexional no português brasileiro, o sistema perde a categoria pro-referencial, o que

impossibilita ao falante atribuir uma interpretação possessiva ao sujeito nulo das

sentenças formadas com ter pessoal, havendo, assim, uma reanálise das construções

possessivas em construções existenciais, uma vez que estas dispensam a instanciação de

um sujeito pleno e, em seguida, a perda de pro-expletivo contribui para a supressão de

haver.

O alto percentual de haver, na escrita, se justificaria não por ser “um reflexo de

procedimentos internos à gramática nuclear, mas do provimento da gramática periférica

por elementos de prestígio na língua escrita” (AVELAR, 2006b, p.118), com a

escolarização exercendo um papel fundamental na manutenção/recuperação de haver,

tendo em vista que “no processo de letramento, a escola procura recuperar as perdas

linguísticas, uma vez que as inovações são apropriadas para a fala, mas não para a

escrita” (KATO, 2005, p. 136). Haver seria um verbo existencial funcional da escrita,

ainda que não rechace o uso de ter.

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3. Aporte teórico

O quadro teórico que orienta esta pesquisa inclui um modelo de estudo da

mudança linguística – a Teoria da Variação e Mudança proposta por Weinreich, Labov

e Herzog (2006 [1968]) – associado a estudos linguísticos sobre as construções

existenciais no português brasileiro (CALLOU; AVELAR, 2000; CALLOU; DUARTE,

2005; AVELAR, 2006a; AVELAR; CALLOU, 2007; VITÓRIO, 2013), que permitem

explicar que a substituição de haver por ter se encaixa em um conjunto mais amplo de

mudanças por que vem passando o português brasileiro, o que teria levado ter a ser o

verbo existencial canônico na fala, mas, na escrita, devido à pressão normativa, haver é

o verbo existencial selecionado.

Do modelo de estudo da mudança, interessa-nos que toda mudança pressupõe

um período de variação e, quando consolidada, produz efeitos colaterais não casuais

associados ao processo de mudança – é a questão do encaixamento linguístico. Outro

ponto diz respeito aos fatores que favorecem e desfavorecem dada variante durante esse

processo. Dos trabalhos sobre as construções existenciais, consideramos que a

implementação de ter tem relação com a remarcação do Parâmetro do Sujeito Nulo,

ocasionando uma mudança no estatuto categorial de haver, que teria passado de verbo

existencial funcional a verbo existencial substantivo, o que justificaria sua baixa

frequência de uso e suas restrições em alguns contextos linguísticos.

Também consideramos a proposta de Kato (2005), que argumenta que, no

português brasileiro, há um descompasso entre a gramática adquirida durante o processo

de aquisição da linguagem e a gramática que orienta o ensino formal, gerando uma

enorme distância entre a gramática da fala e a “gramática” da escrita, e o trabalho de

Avelar (2006b) que aponta que haver seria uma forma gramatical aprendida mais

tardiamente, não fazendo parte da gramática internalizada dos falantes do português

brasileiro. Logo, a variação ter e haver seria “reflexo da competição entre duas

gramáticas, com motivações sociolinguísticas” (p. 99).

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4. Procedimentos metodológicos

O que propomos neste estudo é uma análise das realizações das construções

existenciais formadas com os verbos ter e haver produzidas por informantes alagoanos

dos ensinos fundamental, médio e superior, como podemos observar em (3), a fim de

observar o que de ter e haver encontramos em dados de língua falada e língua escrita,

tendo em vista que estudos linguísticos tendem a mostrar que, na fala, há uma

preferência pelo uso do verbo ter, mas, na escrita, haver é o verbo existencial preferido.

3) Tem / Há um menino na sala ao lado.

Para tanto, seguimos os pressupostos metodológicos da Teoria da Variação e

Mudança (CAMPOY; ALMEIDA, 2005; GUY; ZILLES, 2007) e analisamos duas

amostras diferenciadas. Para a análise da língua falada, consideramos uma amostra

sincrônica da fala alagoana composta de 72 informantes e estratificada segundo as

variáveis escolaridade, sexo e faixa etária (Cf. VITÓRIO, 2014), e, para a análise da

língua escrita, utilizamos uma amostra composta de 180 textos produzidos por alunos

do ensino fundamental, médio e superior da cidade de Maceió e estratificada de acordo

com as variáveis escolaridade e sexo.

Utilizamos, para a análise estatística dos dados, o programa computacional

GOLDVARB X (SANKOFF; TAGLIAMONTE; SMITH, 2005) e controlamos os

seguintes grupos de fatores – tempo verbal, traço semântico do argumento interno, tema

da produção textual, modalidade de uso da língua, escolaridade, faixa etária e sexo.

Nossa hipótese básica é a de que o verbo haver em construções existenciais será mais

frequente nos seguintes contextos: língua escrita, informantes mais velhos, mais

escolarizado e do sexo masculino, verbo no tempo passado e argumento interno com

traço [+ abstrato].

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5. Ter e haver na fala

Após a análise dos dados, contabilizamos 772 construções existenciais formadas

com os verbos ter e haver, que estão distribuídas da seguinte forma: 735 realizações

com o verbo ter e 37 realizações com o verbo haver. Esses dados representam

percentuais de 95% de ter contra apenas 5% de haver, conforme ilustramos no gráfico

1, o que indica que, na comunidade estudada, ter é o verbo existencial selecionado.

Gráfico 1. Percentuais de ter e haver na língua falada

Os dados obtidos não só mostram que, na fala alagoana, ter é o existencial

preferido, como também vão ao encontro das pesquisas sociolinguísticas (DUTRA,

2000; CALLOU; AVELAR, 2000; SILVA, 2001; DUARTE, 2003; VITÓRIO, 2011)

que mostram que, nas variedades do português brasileiro falado, ter é o verbo

existencial canônico. Diante desses dados, uma questão emerge para interpretação dos

dados: que fatores linguísticos e/ou sociais ainda condicionam o uso de haver na

comunidade estudada?

Após a análise e rodada dos dados, o programa GOLDVARB X selecionou as

seguintes variáveis independentes como estatisticamente significativas na variação em

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estudo, a saber, tempo verbal, traço semântico do argumento interno, escolaridade e

faixa etária. Nosso ponto de partida na análise desses grupos de fatores é o de que as

parcas realizações do verbo haver serão favorecidas nos seguintes contextos: verbo no

tempo passado, argumento interno com traço [+ abstrato], falantes mais escolarizados e

mais velhos.

5.1 Tempo verbal

O tempo verbal foi a primeira variável linguística selecionada pelo

GOLDVARB X como estatisticamente relevante na variação em estudo. Para a nossa

análise, trabalhamos com os fatores tempo passado e tempo presente e partimos do

pressuposto de que as formas verbais expressas no passado serão mais favoráveis às

realizações de haver (Cf. CALLOU; AVELAR, 2000; VITÓRIO, 2011), como

podemos observar em (4) e (5).

4) houve um imprevistozinho e num deu pra gente ir (L19L2797)

5) não havia necessidade de tirá de removê elas daí entendeu? (L4L6080)

Tempo verbal Ter

Aplic. / Total / % PR

Haver

Aplic. / Total / % PR

Passado 135 / 153 / 88% .23 18 / 153 / 12% .77

Presente 600 / 619 / 97% .57 19 / 619 / 3% .43

Tabela 1. Realizações de ter e haver na variável tempo verbal

De acordo com os resultados obtidos, verificamos que ter é o verbo existencial

preferido tanto no tempo passado quanto no tempo presente. Em relação às parcas

realizações de haver, obtivemos percentuais de 12% no tempo passado contra apenas

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3% no tempo presente, mostrando que o fator passado favorece mais as realizações de

construções existenciais formadas com o verbo haver na fala alagoana.

Os pesos relativos confirmam os resultados percentuais obtidos, mostrando que

enquanto o fator passado favorece a realização de haver – .77, o fator presente tende a

desfavorecê-la – .43. Esses resultados também confirmam a nossa hipótese e vão na

mesma direção dos estudos de Callou e Avelar (2000), Silva (2001) e Vitório (2011)

que mostram que o passado constitui um fator linguístico que ainda favorece a

realização do verbo haver.

5.2 Traço semântico do argumento interno

A segunda variável linguística estatisticamente significativa na variação ter e

haver na fala alagoana diz respeito ao traço semântico do argumento interno. Para a

análise dos dados, trabalhamos com os fatores argumento interno com traço [+

concreto] e argumento interno com traço [+ abstrato] e partimos do pressuposto de que

este fator é mais favorável ao uso de haver do que aquele (DUARTE, 2003; VITÓRIO,

2011), como observamos em (6) e (7).

6) por trás desse empreendimento há um interesse em capitá verbas (L58L7280)

7) ali há cultura sendo valorizada levada adiante (L70L8855)

Argumento interno Ter

Aplic. / Total / % PR

Haver

Aplic. / Total / % PR

[+ concreto] 363 / 373 / 97% .59 10 / 373 / 3% .41

[ + abstrato] 372 / 399 / 93% .40 27 / 399 / 7% .60

Tabela 2. Realizações de ter e haver na variável traço semântico do argumento interno

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De acordo com os resultados obtidos, verificamos que tanto no fator [+

concreto] quanto no fator [+ abstrato] ter é o verbo existencial selecionado. No entanto,

também observamos que as parcas realizações de haver estão distribuídas em 10

ocorrências no fator [+ concreto] e 27 ocorrências no fator [ + abstrato], mostrando,

assim, que o fator [+ abstrato] favorece mais as realizações dessa variante – 7% versus

3% no fator [+ concreto].

A análise dos pesos relativos mostra que enquanto o fator [+ concreto]

desfavorece a realização de haver – .41, o fator [+ abstrato] tende a favorecer a

realização dessa variante – .60. Esses dados confirmam os resultados apresentados por

Callou e Avelar (2000), Dutra (2000) e Vitório (2011), que mostram que argumentos

internos com traço [+ abstrato] são mais favoráveis à aplicação de haver em construções

existenciais.

O cruzamento das variáveis tempo verbal e traço semântico do argumento

interno mostra, conforme gráfico 2, a relevância dos fatores tempo passado e argumento

interno [+abstrato] na manutenção de haver na fala alagoana, pois essa variante

apresenta um percentual de 17% em construções existenciais formadas com o verbo no

tempo passado e quando o argumento interno é do tipo [+ abstrato], como observamos

em (8) e (9).

Gráfico 2. Percentuais de haver nas variáveis tempo verbal e traço semântico do argumento

interno

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8) – não havia nenhuma necessidade agora no momento (L4L6083)

9) eu acho que não houve tanta melhora não (L68L8352)

5.3 Escolaridade

Partindo do pressuposto de que “a escola gera mudanças na fala e na escrita das

pessoas que as frequentam e das comunidades discursivas” (VOTRE, 2003, p. 51),

analisamos a variável escolaridade com o intuito de verificar se com o aumento do nível

de escolarização dos falantes, há um aumento na aplicação do verbo haver. Para tanto,

consideramos três níveis de escolarização, a saber, ensino fundamental (EF), ensino

médio (EM) e ensino superior (ES), e acreditamos que são os falantes do ES que mais

utilizam o verbo haver.

Escolaridade Ter

Aplic. / Total / % PR

Haver

Aplic. / Total / % PR

EF 182 / 183 / 99% .88 1 / 183 / 1% .12

EM 239 / 245 / 98% .54 6 / 245 / 2% .46

ES 314 / 344 / 91% .23 30 / 344 / 9% .77

Tabela 3. Realizações de ter e haver na variável escolaridade

De acordo com os resultados obtidos, verificamos que os percentuais de ter nos

EF e EM são quase categóricos – 99% e 98%, respectivamente. Já no ES, ter apresenta

um percentual de 91%, mostrando, assim, que são os falantes desse nível de

escolarização que apresentam um percentual maior de realização de haver – 9% versus

1% e 2% para os falantes dos EF e EM, respectivamente. Analisando especificamente a

aplicação de haver, obtivemos pesos relativos de .12 para o EF, .46 para o EM e .77

para o ES, mostrando que os falantes mais escolarizados tendem a utilizar mais o verbo

haver em construções existenciais.

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Esses resultados não só confirmam a nossa hipótese de que quanto mais

escolarizado o falante maior é a probabilidade de realização do verbo haver, como

também corroboram as afirmações de Dutra (2000), Silva (2001) e Vitório (2011), que

mostram que com o aumento do nível de escolarização dos usuários da língua, há um

aumento no percentual de uso de haver, ou seja, quanto maior a escolarização, maior é a

realização da variante conservadora.

5.4 Faixa etária

Com o objetivo de verificar se a variação ter e haver na fala alagoana representa

um processo de variação estável ou de mudança em curso, consideramos a variável

faixa etária, tendo em vista que esta variável caracteriza-se como um grupo de fatores

de grande relevância para os estudos sociolinguísticos, pois torna possível o esboço do

estágio que uma regra variável desempenha, em tempo aparente, dentro do sistema

linguístico.

Dessa forma, se ter é existencial mais utilizado na fala alagoana, objetivamos

analisar se a aplicação desse verbo é maior entre os falantes mais jovens. Para tanto,

dividimos nossa variável em três fatores, a saber, F1 (15-29 anos), F2 (30-44 anos) e F3

(acima de 44 anos) e partimos do pressuposto de que a frequência de ter será maior

entre os falantes mais jovens, o que implica considerar que haver será mais frequente

entre os falantes mais velhos.

Faixa Etária Ter

Aplic. / Total / % PR

Haver

Aplic. / Total / % PR

F1 251 / 253 / 99% .80 2 / 253 / 1% . 20

F2 239 / 253 / 94% .35 14 / 253 / 6% .65

F3 245 / 266 / 92% .31 21 / 266 / 8% .69

Tabela 4. Realizações de ter e haver na variável faixa etária

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De acordo com os resultados obtidos, verificamos não só que são os falantes da

F1 que mais utilizam o verbo ter, apresentando, assim, um uso quase categórico – 99%,

como também que, com o aumento da faixa etária, há uma redução na aplicação dessa

variante. Em relação às parcas realizações de haver, obtivemos percentuais de 6% na F2

e 8% na F3, o que revelam que com o aumento da faixa etária dos falantes, há um

aumento no uso desse verbo.

Os percentuais de ter e haver em construções existenciais na fala alagoana

chamam a atenção para o fato de que todas as faixas etárias já atingiram um percentual

de 90% de uso de ter, mostrando que há uma preferência, em todas das faixas

analisadas, pela variante inovadora. No entanto, também verificamos que, com a

aumento da faixa etária, há uma redução no percentual de uso dessa variante,

mostrando, assim, de acordo com Labov (1996), que os falantes mais velhos favorecem

mais a manutenção da variante conservadora.

Ao analisarmos a aplicação de haver, obtivemos índices de .65 para a F2 e .69

para a F3, que mostram que, nessas faixas etárias, há um favorecimento no uso dessa

variante, ao passo que, na F1, temos um peso relativo de .20, desfavorecendo, assim, tal

uso. Esses dados indicam um processo de mudança em curso, pois se “o uso da variante

inovadora for mais frequente entre os jovens, decrescendo em relação à idade dos outros

informantes, você terá presenciado uma situação de mudança em progresso”

(TARALLO, 2003, p. 65).

Ainda com o objetivo de checar a atuação das variáveis extralinguísticas

escolaridade e faixa etária na variação ter e haver na fala alagoana, realizamos o

cruzamento desses dois grupos de fatores e constatamos, conforme gráfico 3, que são os

falantes das F2 e F3 que possuem o ensino superior (ES), que mais fazem uso do verbo

haver.

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Gráfico 3. Percentuais de haver nas variáveis escolaridade e faixa etária

Esses resultados também mostram que os falantes mais jovens (F1) dos três

níveis de escolarização usam categoricamente o verbo ter, apresentando uma

semelhança no comportamento linguístico. Na F2, atingimos um percentual de 11% de

haver entre os falantes mais escolarizados (ES) e, na F3, um percentual de 13%,

indicando que a escolarização é um fator social determinante na manutenção dessa

forma verbal. No entanto, também fica claro que, mesmo habilitados a usarem o verbo

haver, os falantes o empregam de forma parcimoniosa, utilizando com muito mais

frequência o verbo ter na fala.

6. Ter e haver na escrita

Com o levantamento dos dados, contabilizamos, na língua escrita, 186

construções existenciais formadas com os verbos ter e haver, que estão distribuídas da

seguinte forma: 89 realizações com o verbo ter e 97 realizações com o verbo haver.

Esses dados representam percentuais de 48% de ter e 52% de haver, conforme

ilustramos no gráfico 4, o que nos mostram uma competição acirrada entre ter e haver

em construções existenciais na escrita.

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Gráfico 4. Percentuais de ter e haver na língua escrita

Esses resultados mostram que a pressão normativa em favor de haver coloca

esse verbo como primeira opção, recuperando com êxito uma variante tão distante da

fala e revelando uma competição entre ter e haver na escrita, quase inexistente na fala, o

que nos levam a hipótese de Avelar (2006b) de que a variação ter e haver pode ser vista

como uma competição entre duas gramáticas: uma gramática da fala que seleciona ter

como verbo existencial e uma gramática da escrita que não só elege haver, mas também

implementa nos textos escritos uma forma linguística não prescrita pela tradição

gramatical.

Os dados não só sugerem que estamos diante de uma mudança linguística na fala

que causa efeitos na escrita, o que nos remetem a discussão de Duarte (2013), como

também que a realização de haver é percebida pelos letrados brasileiros como uma

variação estilística. Haver seria o verbo existencial funcional da escrita, ainda que essa

modalidade de uso da língua não rechace por completo o uso de ter. Resta-nos observa

que fatores linguísticos e/ou sociais condicionam o aumento da frequência de haver na

língua escrita.

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6.1 Traço semântico do argumento interno

Para a análise desta variável, consideramos os fatores argumento interno com

traço [+ concreto] e argumento interno com traço [+ abstrato] e partimos do

pressuposto, seguindo os trabalhos de Callou e Avelar (2000), Duarte (2003) e Vitório

(2011), de que argumentos internos com traço [+ abstrato] são mais favoráveis à

realização de haver em construções existenciais, constituindo, assim, um contexto

linguístico que influência na manutenção e recuperação dessa variante, como

observamos em (10) e (11).

10) Há necessidade de melhorias no ensino e aprendizado. (ESF)

11) quando ele chegou em casa houve uma recepção, então comemoramos o meu aniversário e a

recepção dele no mesmo dia. (EFF)

Argumento interno Ter

Aplic. / Total / % PR

Haver

Aplic. / Total / % PR

[+ concreto] 46 / 73 / 63% .64 27 / 73 / 37% .36

[ + abstrato] 43 / 113 / 38% .42 70 / 113 / 62% .58

Tabela 5. Realizações de ter e haver na traço semântico do argumento interno

De acordo com os resultados obtidos, verificamos que, na escrita, as frequências

de uso de ter e haver são diametralmente opostas em relação ao traço semântico do

argumento interno. Quando o argumento interno é do tipo [+ concreto], temos um

percentual maior de realização de ter – 63% versus 38% de haver, mas quando o

argumento interno é do tipo [+ abstrato], haver apresenta um percentual maior de

realização – 62% versus 37% de ter, o que confirma a nossa hipótese que este fator

tende a ser mais favorável a realização de haver.

Esses dados percentuais são confirmados pela análise dos pesos relativos que

mostram que enquanto o argumento interno com traço [+ concreto] tende a desfavorecer

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a realização de haver, com peso de .36, o argumento interno com traço [+ abstrato]

favorece a realização dessa variante, com peso de .58, corroborando as análise que

mostram ser este fator mais favorável à manutenção e recuperação do verbo haver em

construções existenciais.

6.2 Escolaridade

Para a análise da variável escolaridade, consideramos os fatores ensino

fundamental (EF), ensino médio (EM) e ensino superior (ES) e partimos do pressuposto

de que essa variável constitui um fator social significativo na manutenção ou exclusão

das formas linguísticas, mostrando, assim, que pessoas mais escolarizadas tendem a

usar mais as formas padrão de uso da língua, o que nos leva a seguinte correlação:

maior escolaridade, maior uso das formas padrão; menor escolaridade, menor uso das

formas padrão.

Escolaridade Ter

Aplic. / Total / % PR

Haver

Aplic. / Total / % PR

EF 38 / 50 / 76% .77 12 / 50 / 24% .23

EM 21 / 41 / 51% .54 20 / 41 / 49% .46

ES 30 / 95 / 32% .34 65 / 95 / 68% .66

Tabela 6. Realizações de ter e haver na variável escolaridade

De acordo com os resultados obtidos, confirmamos a nossa hipótese de que com

a aumento do nível de escolarização dos alunos, há uma diminuição na aplicação de uso

do verbo ter, aumentando, assim, o percentual de uso do verbo haver. Esses resultados

mostram que no EF ter é o verbo selecionado – 76% versus 24% de haver, no EM, há

uma competição acirrada entre ter e haver – 51% versus 49%, respectivamente, e no

ES, haver é o verbo existencial selecionado – 68% versus 32% de ter, dado confirmado

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pela análise dos pesos relativos que mostram que o fato ES é o único que favorece a

realização de haver – .66.

Esses resultados mostram que a variável escolaridade constitui um fator social

significativo na recuperação e manutenção do verbo haver, mostrando, assim, que, no

início do processo de escolarização, os alunos transferem o seu conhecimento

gramatical da fala para a escrita e é a submissão às regras gramaticais que faz com que o

verbo haver, quase ausente na fala, apareça na escrita e aumente o seu percentual de uso

à medida que aumenta o nível de escolarização dos alunos, chegando a superar o uso de

ter na escrita de alunos do ES.

Conclusão

Neste estudo, focalizamos as realizações dos verbos ter e haver em construções

existenciais em dados de fala e escrita e, de acordo com os resultados obtidos,

verificamos que, diferentemente do que ocorre na língua falada em que há um uso quase

categórico do verbo ter, na língua escrita, haver é o existencial preferido, o que nos leva

a argumentar que, em termos de frequência de uso, ter é o existencial preferido na fala,

mas, na escrita, haver é o verbo selecionado. No entanto, também verificamos que

apesar do aumento da aplicação do verbo haver na língua escrita, há um percentual alto

de uso do verbo ter.

Na escrita, temos uma competição acirrada entre ter e haver que pode ser

entendida como uma competição entre uma gramática inovadora e uma gramática

conservadora, que se relaciona a questões sociolinguísticas e à pressão social de uma

norma padrão, o que nos mostra que, na escrita, há um embate entre a gramática que

falamos e a gramática que nos serve de modelo no processo de ensino e aprendizagem,

ou seja, na escrita, diferentemente da fala, verificamos um conflito acirrado entre o que

se fala e o que se aprende na escola.

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Quanto aos fatores linguísticos e sociais que ainda condicionam as parcas

realizações de haver na língua falada, verificamos a influência dos contextos tempo

verbal no passado, argumento interno com traço [+ abstrato], falantes mais velhos e

mais escolarizados, na língua escrita, verificamos que os contextos argumento interno

com traço [+ abstrato] e alunos mais escolarizados são mais favoráveis à aplicação de

haver, confirmando que tanto na fala quanto na escrita os mesmos fatores linguísticos e

sociais tendem a favorecer a realização de haver.

Desejamos não só ter contribuído para esclarecer as restrições que se

correlacionam à variação dos verbos ter e haver em dados de fala e escrita, como

também esperamos que os resultados aqui expressos, aliados a outros sobre as

construções existenciais nas variedades do português brasileiros, possam contribuir para

os estudos na área de sociolinguística e auxiliar as pesquisas relacionadas a descrições e

análises do português brasileiro.

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Recebido Para Publicação em 17 de outubro de 2015.

Aprovado Para Publicação em 02 de fevereiro de 2015.