o despertar de uma cidade - um grande amor nunca morre!

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O DESPERTAR DE UMA CIDADE É a história de um grande amor iniciado em 1895, entre um jovem paulistano e uma jovem inglesa que vem a São Paulo com sua família, pois seu pai seria o engenheiro responsável pelas obras da Nova Estação da Luz.. Neste romance ocorrido entre o final do século XIX e o começo do século XX, você vai se emocionar com uma linda história de amor entre Lucas, um jovem paulistano, e a jovem inglesa Elizabeth que se muda para São Paulo, pois seu pai é contratado pela São Paulo Railway para supervisar a construção da Nova Estação da Luz. As grandes diferenças sociais dificultam o início do namoro de Lucas e Elizabeth. Mas o periquito do realejo, tirando a sorte do casal, lhes entrega um bilhete com a mensagem: “Um grande amor nunca morre.”

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São Paulo 2012

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Copyright © 2012 by Editora Baraúna SE Ltda

CapaAF Capas

Projeto GráficoAline Benitez

Revisão Priscila Loiola

Parecer LiterárioAna Carolina Nonato

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

________________________________________________________________C321d Carvalho, Daniel de O despertar de uma cidade : um grande amor nunca morre / Daniel de Carvalho. - São Paulo : Baraúna, 2012. Índice ISBN 978-85-7923-485-9 1. Romance brasileiro. I. Título.

12-1398. CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3

09.03.12 15.03.12 033735 ________________________________________________________________

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua Januário Miraglia, 88CEP 04507-020 Vila Nova Conceição - São Paulo - SP

Tel.: 11 3167.4261

www.editorabarauna.com.brwww.livrariabarauna.com.br

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Dedico este romance, O Despertar de uma Cidade, à minha querida esposa Neusa.

Daniel de CarvalhoOutubro de 2011

Piracicaba - SP

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1O Cemitério Velho

Ano de 2010Cidade de São Paulo

Justino acordou durante a madru-gada e não conseguiu mais pegar no sono. Virou para um lado, virou para o outro, e nada. Como não con-seguiria mesmo voltar a dormir, decidiu levantar-se. O quarto estava escuro, mas isso não era problema para Justino. Depois de tantos anos dormindo naquele quartinho, ele não precisava enxergar para saber com precisão onde estava cada objeto e cada peça de roupa. Suspirou conformado com a perda do sono e levou a mão até o interruptor que ficava junto à cabeceira. Acendeu a luz.

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8 Daniel de Carvalho

Justino, um homem de oitenta anos que nunca vi-vera com a família, morava nesse quartinho localizado no fundo do cemitério, desde que, ainda jovem, fora admitido como coveiro. Era um homem que gozava de boa saúde e que normalmente dormia muito bem, em-bora vez ou outra perdesse o sono. Quando isso ocorria, costumava sair para dar uma volta pelo cemitério até que o sono voltasse.

Havia dez anos que Justino recebera a notícia de que o cemitério seria desativado e todos os funcionários dis-pensados. Entretanto, ele fora convidado a permanecer como zelador por mais alguns anos até que todos os cor-pos fossem exumados. Assim, Justino continuou cuidan-do de um cemitério desativado.

Durante a época em que o cemitério estivera fun-cionando, Justino tinha a companhia dos poucos fun-cionários que lá trabalhavam. Esses funcionários eram as únicas pessoas com quem ele conversava, e apenas por intermédio deles, Justino tomava conhecimento sobre o que se passava no mundo externo. Mas nos últimos dez anos, ele vivera inteiramente só. Seu único contato com o mundo dos vivos era o dono de uma padaria onde todas as manhãs ele ia tomar café e comprar pão e mortadela para o almoço e o jantar. Ocasionalmente, apareciam no cemitério pessoas que vinham conversar com Justino, às vezes durante o dia, às vezes durante a noite!

Depois de perder o sono, naquela madrugada, Jus-tino resolveu andar pelo cemitério, como era seu hábito.

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9O Despertar de uma Cidade

Havia muita cerração fazendo com que quase nada se enxergasse, mas isso não impediu que Justino caminhas-se. Ele conhecia perfeitamente cada ruela, cada túmulo, cada árvore, cada detalhe do velho cemitério. Mais que isso, Justino sabia o nome de todos os que lá estavam se-pultados, embora a maioria das plaquetas e adornos dos túmulos já tivesse sido roubada. Lembrava-se do funeral de cada um deles. Afinal, o cemitério tinha sido o seu trabalho e o seu lar durante a maior parte de sua vida.

Depois de uma hora de andança, Justino já estava voltando ao quarto quando, repentinamente, se deteve ao perceber um vulto sentado sobre uma das lápides. Forçou a vista, mas devido ao forte nevoeiro não o reconheceu. Aproximou-se mais um pouco e, então, pôde ver seu rosto.

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2A São Paulo Railway

O grande volume de produção de café e as crescentes exportações justificaram, em 1867, a construção de uma estrada de ferro ligando a cidade de Jundiaí, no interior paulista, ao Porto de Santos, passando pela peque-nina São Paulo. Com essa estrada de ferro construída pela São Paulo Railway, todas as regiões do Planalto Paulista ti-veram grande crescimento econômico e social. Mas, pouco tempo depois, a capacidade da ferrovia já não atendia mais às necessidades de carga e passageiros. Então, a São Paulo Railway decidiu aumentar a capacidade da estrada de ferro duplicando a linha no trecho da Serra do Mar e ampliando suas estações. A acanhada estaçãozinha de São Paulo seria demolida dando lugar à outra maior, que viria a ser conhe-cida como a Nova Estação da Luz.

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Em 1895, havia em São Paulo uma sala de tra-balho reservada a um grupo de engenheiros ingleses a serviço da São Paulo Railway. Esse grupo estava incum-bido da construção da Nova Estação da Luz, cujas obras seriam iniciadas dentro de pouco tempo.

Numa sexta-feira, ao final do dia, Mr. Ford, enge-nheiro-chefe do grupo de trabalho, deixou sua escriva-ninha e, antes de sair, deu uma informação aos rapazes:

— Na próxima segunda-feira, Mr. Thomas Rawcliffe e sua família chegarão ao Brasil, vindos de Londres. Como vocês já sabem, ele será o supervisor das obras da Nova Estação da Luz.

Dizendo isso, Mr. Ford dirigiu-se até o cabide, pe-gou sua bengala, vestiu sua capa de chuva e colocou o chapéu de coco. Antes de sair, voltou-se e completou a informação:

— Vou apanhar os Rawcliffe no Porto de Santos e deixá-los num hotel aqui em São Paulo. Na próxima se-mana, ele estará aqui para ser apresentado a vocês e assu-mir suas funções.

Assim, agasalhado com a pesada capa trazida da In-glaterra, com o chapéu de coco e com o largo cachecol de lã, lá se foi Mr. Ford fumando seu charuto através da fina garoa das ruas paulistanas.

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3O Aniversário de Lucas

Ano de 1895Cidade de São Paulo

Naquele domingo, o português Joaquim Caiado e sua mulher italiana, Carmela Campanelli, es-tavam comemorando o aniversário de seu único filho, Lucas, que completava vinte anos.

A família morava no bairro do Pary (atual Pari), numa das unidades de um conjunto de casas térreas e geminadas. Era uma construção muito antiga, em que a fachada frontal ficava no alinhamento da calçada. Havia uma porta de entrada muito alta, de duas folhas, ladeada por dois amplos janelões de madeira sólida com algumas poucas venezianas para ventilação. A rua era de terra e

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na larga calçada de cimento havia árvores frondosas que propiciavam sombra e uma agradável sensação de frescor.

O bairro era silencioso e tranquilo. Havia apenas uma casa aqui, outra acolá, e muitos terrenos vazios. Durante o dia, passavam por ali diversos carroceiros entregando pão, vendendo peixe, frutas e tudo mais que as donas de casa necessitavam. Às vezes, passavam tropeiros levando suas mulas e cavalos para beber água num bebedouro redondo de cimento que ficava numa esquina mais adiante. Todas as manhãs, muito cedo, passava um homem agitando pe-quenos sinos e conduzindo suas cabras para vender leite tirado na hora. Assim era o cotidiano dos bairros, numa São Paulo bucólica que timidamente começava a crescer.

Não eram sete da manhã e dona Carmela já estava no fundo do quintal estendendo a roupa que lavara du-rante a noite do dia anterior. Seu Joaquim também estava no quintal, acomodado num banquinho sob o frondoso abacateiro, conversando com a esposa, quando chegou o aniversariante.

— Bom dia, mãe! Bom dia, pai! — cumprimentou-os Lucas, bocejando e esfregando os olhos preguiçosamente.

— Bom dia, filho! — festejou seu Joaquim. — Vejo que tu ainda não acabaste de acordar totalmente...

Lucas sorriu e despreguiçou-se bocejando novamente.— O café tá pronto, mãe?— Já vamos pra cozinha tomar o café, Lucas. Só

falta eu estender mais três peças de roupa. Enquanto isso, você não quer ir lá dentro pegar um punhado de milho e jogar pras galinhas?

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15O Despertar de uma Cidade

Dessa vez, Lucas bocejou mais demoradamente. De-pois entrou e logo em seguida voltou com uma bacia e começou a jogar o milho. Num instante, o quintal esta-va tomado pelas galinhas e pintinhos que disputavam os grãos cacarejando e fazendo enorme estardalhaço.

Dez minutos depois, dona Carmela passava o café pelo coador de pano num grande bule de ferro esmaltado. Enquanto isso, conversava animadamente com o marido e com o filho que já aguardavam sen-tados à mesa.

— Vinte anos, hein, Lucas! Como passa o tempo, Dio mio! — comentou carinhosamente dona Carmela.

— Pois para mim — comentou seu Joaquim —, parece que ontem mesmo a parteira entrou afobada nesta cozinha perguntando por ti, Carmela!

— Se ela demorasse só mais um pouquinho, o Lucas tinha nascido aqui mesmo. E sem parteira! — lembrou--se dona Carmela enquanto despejava o café fumegante nas três xícaras de porcelana branca com florezinhas pin-tadas à mão.

Todos servidos, dona Carmela também se sentou à mesa e, como faziam todos os domingos, puseram-se a conversar sobre o dia a dia da família, da vizinhança, do bairro e da cidade.

Lucas, que ficara pensativo a respeito do comentário que seus pais haviam feito sobre seu nascimento, pergun-tou-lhes enquanto cortava mais uma fatia de pão:

— Quando eu nasci, vocês já moravam nesta casa há muito tempo, não é mesmo?