o desenvolvimento sustentável no discurso universitário em parnaíba-pi: desvendando mitos

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  • 7/26/2019 O desenvolvimento sustentvel no discurso universitrio em parnaba-PI: desvendando mitos

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    Turismo: Estudos & Prticas (RTEP/UERN), Mossor/RN, vol. 3 (Nmero Especial) 2014http://periodicos.uern.br/index.php/turismo [ISSN 2316-1493]

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    O DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL NO DISCURSOUNIVERSITRIO EM PARNABA-PI: DESVENDANDO MITOS

    Ricardo Rayan Nascimento Rocha1Pedro Lazaro dos Santos2

    RESUMO

    O objetivo deste artigo apresentar uma anlise sobre como o discurso dodesenvolvimento sustentvel se configura na fala dos estudantes e graduados de umcurso de Bacharelado em Turismo, evidenciando a produo discursiva e sua atividadeenquanto prtica social de construo da sociedade e a importncia de desconstruo dealguns mitos que giram em torno desse modelo econmico ambiental proposto peloRelatrio Brundtland. Para que a anlise do discurso fosse realizada, oito estudantes docurso de turismo e dois graduados do mesmo curso foram escolhidos para a composiode uma discusso em grupo focal. Dessa forma, para as anlises serem feitas, utilizou-seda abordagem terico-metodolgica faircloughiana e sua teoria social do discurso, quepercebe a lngua como parte associada vida social dialeticamente interconectada aoutros elementos sociais. Os dados foram analisados a partir da categoria analticaInterdiscursividade. A partir disso, percebeu-se que os discursos dos participantesexpressam concepes ideolgicas sobre desenvolvimento sustentvel por meio de

    negociaes de fala, ao ponto de um discurso fortalecer o(s) outro(s) e, ao aconteceremarticulaes como estas, os participantes priorizam um fator que consideram como ocerne das questes ambientais: o modo de produo capitalista. Por meio destecontexto, relevante o fortalecimento de um debate srio, histrico e crtico, comomtodos de anlise, ao ponto de compreender os conflitos que instabilizam o meioambiente.

    PALAVRAS-CHAVE: ANLISE DE DISCURSO CRTICA. DESENVOLVIMENTOSUSTENTVEL.BACHARELADO EM TURISMO. ATIVIDADE TURSTICA.

    1Bacharel em Turismo pela Universidade Federal do Piau UFPI. E-mail: [email protected] em Lingustica Aplicada (UNICAMP). Professor Assistente do curso de Bacharelado em Turismo UFPI campus Ministro Reis Velloso (Parnaba). E-mail: [email protected]

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    INTRODUO

    A explorao do homem sobre a natureza, refletida nas problemticas

    econmicas, sociais e ambientais, no existe somente a partir da realidade que o rodeia.

    Desde a antiguidade clssica, dentro de uma noo de degradao da natureza, Plato

    colocava o homem entre o que destri e corrompe, o mal e o bem, o que preserva e

    til, configurando a relao de conflito homem x natureza, mediante o seu trabalho de

    explorao dos recursos naturais existentes (ALMINO, 2003, p. 26).

    No decorrer da crise ambiental e no alarme do mundo sobre o meio ambiente, no

    qual pesquisadores, ambientalistas, governos e estados pesquisam e procuram uma

    frmula de continuar o desenvolvimento desenfreado, porm, de forma no destrutiva,

    surge o modelo desenvolvimento sustentvelpara conciliar a preservao ambiental e a

    contnua produo do sistema vigente o capitalismo. Criado no Relatrio Brundtland

    em 1987, esse termo foi definido como a prtica de atender as necessidades da atual

    gerao, sem comprometer a capacidade das futuras geraes em prover suas prprias

    demandas (VIZEU, MENEGHETTI e SEIFERT, 2013, p. 6).

    Nesse sentido, a globalizao desse conceito na sociedade atual evidencia a

    necessidade de ateno para com as problemticas ambientais, seja atravs da criao

    de polticas pblicas na sua conteno, ou atravs de iniciativas sustentveis para a

    proteo do meio ambiente, isto , o mundo atual antecedido por um vis anteposto nos

    discursos chamados de sustentabilidade.

    No contexto do turismo como atividade alternativa geradora de emprego e renda,

    existe uma discusso terica tambm alinhada com as noes da sustentabilidade, pois

    ao lidar com atrativos naturais ambientalmente frgeis, o turismo precisa se recriar

    nessa nova lgica de cuidado com o meio em que se reproduz, ou como afirma Galeno

    (2014, p. 11), importante frisar que o turismo no pode ser a alternativa para se

    chegar a um desenvolvimento a qualquer custo.

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    No entanto, atravs desse discurso globalizante que se tornou o desenvolvimento

    sustentvel, interessante refutar sua noo em termos prticos devido instvel

    discusso que se gera pela falta de materialidade de sua execuo na busca da proteo

    do meio ambiente atravs da trade ambiental, social e econmica. Isto ocorre em

    termos a-histricos, pois no existem anlises histricas (e sociais) sobre os processos

    produtivos que corroboram/corroboraram para as atuais problemticas ambientais.

    Todo esse processo de discusso ambiental na busca de se desenvolver o

    ambientalmente correto recai sobre as produes dos discursos da sociedade como

    forma de legitimao, que constri e desconstri na mesma intensidade que construda

    e desconstruda pela linguagem, ou seja, a forma dialtica da lngua enquanto

    instrumento de construo social. Como afirma Fairclough, este processo pode ser

    analisado atravs de uma dialtica entre a linguagem e a estrutura social (2001, p.91),

    ou seja, a globalizao do discurso do desenvolvimento sustentvel implcita e

    explicitamente constri os discursos reproduzidos na sociedade, assim como ela

    reconstri o desenvolvimento sustentvel, abrindo espao para novas possibilidades de

    seus ideais na prtica social.

    No local de estudo desta pesquisa, o curso de Bacharelado em Turismo da

    Universidade Federal do Piau Campus Ministro Reis Velloso, os discentes possuem

    uma grade curricular de ensino que comporta diversas reas e, dentre elas, o meio

    ambiente tratado por meio de vrios vieses (sustentabilidade, educao ambiental,

    desenvolvimento sustentvel, etc.). Por conta disso, os discursos dos estudantes esto

    incrustados de concepes acadmicas sobre o que representa o desenvolvimento

    sustentvel, at pelo fato de o curso ocorrer dentro do municpio de Parnaba/PI, cidade

    que est inserida na rea de Proteo Ambiental APA Delta do Parnaba, um dos

    maiores atrativos naturais da regio. Como iniciado, pontua-se que o objeto de estudo

    desse trabalho engloba o discurso dos estudantes e dos graduados do curso vigente na

    ocasio da pesquisa.

    Assim, como resultado das reflexes preliminares realizadas anteriormente,

    concebe-se pertinente questionar: Como o discurso do desenvolvimento sustentvel se

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    configura na fala dos estudantes do curso de Bacharelado em Turismo da UFPI-

    Parnaba?.

    A pesquisa de que trata este artigo, que muito mais extensa e abrangente,

    utilizou em sua metodologia o vis qualitativo de anlise do discurso crtica, conforme

    explanada por Resende e Ramalho (2009), e abarcou as categorias analticas

    Intertextualidade, Representao de Atores Sociais e Interdiscursividade. No entanto, o

    presente artigo representa apenas um recorte da pesquisa e teve como categoria

    analtica apenas a Interdiscursividade. Para a anlise dessa categoria, realizou-se um

    grupo focal com oito estudantes e dois graduados do curso de Bacharelado em Turismo

    referido (que tiveram seus nomes alterados), que foi registrado atravs de gravador

    digital e teve sua transcrio posteriormente realizada. As falas transcritas tiveram sua

    anlise complementada com pesquisas bibliogrficas/documentais sobre os temas

    propostos e sobre os assuntos mencionados pelos participantes. Para fim de ilustrao,

    algumas das falas esto reproduzidas adiante.

    O questionamento-guia da pesquisa aparece a partir das indagaes realizadas

    por conta dos equvocos do desenvolvimento sustentvel e como esse termo reflete-se

    na produo discursiva da sociedade. Salienta-se tambm a importncia de analisar

    como vem se propagando o termo do desenvolvimento sustentvel no meio acadmico,

    em especfico, no curso de Turismo no qual os estudantes esto inseridos. Finalmente, a

    motivao do trabalho tambm foi fruto do estudo e trabalho destes pesquisadores com

    o referido curso.

    HOMEM x NATUREZA

    A superao de uma sociedade pela outra constri as relaes do homem e a

    natureza atravs dos moldes de produo que os rege. Assim, de modo a fazer esse

    recorte histrico, obriga-se recorrer s contribuies filosficas de Karl Marx e Friedrich

    Engels, crticos do modo de produo capitalista e que, atravs de suas teorias,

    implicitamente, apresentam uma contribuio acerca da relao entre o homem e a

    natureza.

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    Para Marx e Engels (1999, p. 7), as sociedades construram-se a partir da luta de

    classes:

    Homem livre e escravo, patrcio e plebeu, baro e servo, mestre de corporao ecompanheiro, numa palavra, opressores e oprimidos em constante oposio,tem vivido em uma guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarada, uma guerraque terminou sempre, ou por uma transformao revolucionria, da sociedadeinteira, ou pela destruio das classes em luta.

    A decadncia do feudalismo refletiu no surgimento de novas relaes sociais

    dentro da moderna sociedade burguesa, dando novas formas de dominao classistas:burguesia e proletariado. Essa moderna sociedade burguesa, como fala Marx, resultado

    da ineficincia do modo de explorao feudal que no atendia mais aos anseios dos

    novos mercados (MARX; ENGELS, 1999, p. 9). Dessa forma, a busca pela consolidao do

    modo de produo capitalista no sculo XVIII na Revoluo Industrial, que se iniciou na

    Inglaterra, acarretou profundamente mudanas nas relaes entre o homem e a

    natureza, tendo aquele como dominador dos recursos naturais desta. Assim, superando

    a manufatura, o vapor e a maquinaria ganharam espao na produo industrial,provocando a diviso do trabalho e agregando-a para a lgica do capital.

    A partir da relao campo x cidade dentro do modo de produo capitalista, Marx

    (1996, p. 113 apudFREITAS, 2012, p. 42), discorre que:

    Com a preponderncia sempre crescente da populao urbana que amontoa emgrandes centros, a produo capitalista acumula, por um lado, a fora motrizhistrica da sociedade, mas perturba, por outro lado, o metabolismo entrehomem e terra, isto , o retorno dos componentes da terra consumidos pelo

    homem, sob forma de alimentos e vesturio, a terra, portanto, a eterna condionatural de fertilidade permanente do solo. Com isso, ela destrisimultaneamente a sade fsica dos trabalhadores urbanos e a vida espiritualdos trabalhadores rurais. [...] E cada progresso da agricultura capitalista no s um progresso na arte de saquear o trabalhador, mas ao mesmo tempo naarte de saquear o solo, pois cada progresso no aumento da fertilidade por certoperodo simultaneamente um progresso na runa das fontes permanentesdessa fertilidade.

    O distanciamento do homem sobre a natureza, dentro desse modo de produo,

    reflete-se em uma alienao metabolicamente insustentvel dentro da lgica do capital.

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    Freitas em A crtica marxista ao desenvolvimento (in)sustentvel recorre a outros

    autores, complementando da seguinte forma:

    Foster (2010) retoma o conceito marxiano de metabolismo homem-natureza(MARX, 1844) e salienta que, mediado pelo trabalho, o homem transforma anatureza e, nesse movimento, tambm se transforma. O trabalho um processoentre o homem e a natureza. Um processo em que o homem, por sua prpriaao, media seu metabolismo com a natureza. Ao mesmo tempo em que ohomem se diferencia da natureza pelo trabalho, torna-se alienado diante dotrabalho e em relao natureza (FREITAS, 2012, p. 43).

    Marx tambm afirma que a natureza o corpo no orgnico do homem:

    Dizer que a vida psquica e intelectual do homem est indissoluvelmente ligada natureza no significa outra coisa seno que a natureza estindissoluvelmente ligada com ela mesma, pois o homem uma parte danatureza (MARX, 1962, p. 62-81 apud LOWY, 2005, p. 21).

    A noo do homem como anexo natural da natureza contribui na busca pela

    superao dessa sociedade ao ponto de conceber assim, uma soluo para o

    antagonismo entre o homem e a natureza (LOWY, 2005, p. 21). Engels, em seu textosobre o Papel do trabalho na transformao do macaco em homem, faz uma crtica ao

    poder predatrio do homem sobre o meio ambiente:

    Ns no devemos nos vangloriar demais das nossas vitrias humanas sobre anatureza. Para cada uma destas vitrias, a natureza se vinga de ns. verdadeque cada vitria nos d, em primeira instncia, os resultados esperados, masem segunda e terceira instncias ela tem efeitos diferentes, inesperados, quemuito frequentemente anulam o primeiro. As pessoas que, na Mesopotmia,Grcia, sia Menor e alhures destruram as florestas para obter terra cultivvel,

    nunca imaginaram que eliminando junto com as florestas os centros de coleta eas reservas de umidade lanaram as bases para o atual estado desolador dessespases. Quando os italianos dos Alpes cortaram as florestas de pinheiros daencosta sul, to amadas na encosta norte, eles no tinham a menor ideia de queagindo assim cortavam as razes da indstria lctea de sua regio; previammenos ainda que pela sua prtica eles privavam de gua suas fontesmontanhesas durante a maior parte do ano (...). Os fatos nos lembram a todoinstante que ns no reinamos sobre a natureza do mesmo modo que umcolonizador reina sobre um povo estrangeiro, como algum que est fora danatureza, mas que ns lhe pertencemos com nossa carne, nosso sangue, nossocrebro, que ns estamos em seu seio e que toda a nossa dominao sobre elareside na vantagem que levamos sobre o conjunto das outras criaturas porconhecer suas leis e por podermos nos servir dela judiciosamente (ENGELS,1968, p. 180-191 apud LOWY, 2005, p. 22).

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    De tal forma, o homem est, umbilicalmente, associado natureza dentre as

    diversas formas de produo que as sociedades vivenciaram, porm, existe um

    distanciamento visceral, como fala Marx, da natureza na qual o prprio homem

    pertence.

    Justifica-se esse recorte, historicamente falando, do papel do homem mediado

    pelas relaes de produo em que se est inserido, para entender como se d seu

    entrave com o meio ambiente na sociedade atual e o quo equivocado pensar na sua

    relao harmoniosa com a natureza, proposta essa do desenvolvimento sustentvel, no

    contexto neoliberal do mundo contemporneo.

    A partir desse contexto apresentado e historicamente situado, importante

    conceber a conflituosa relao do homem com o meio ambiente dentro do capitalismo,

    devido aos contrastes gerados pela atividade de produo. Atravs dessas contradies

    que surgem em um determinado momento, as potncias mundiais viram-se em um

    alarme ambiental que precisava ser debatido enquanto problemtica a ser solucionada.

    Agora, o meio ambiente colocado em pauta e o capital precisou se reproduzir: Surge

    assim o desenvolvimento sustentvel.

    O MITO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL

    Nesta seo, apresentam-se algumas contribuies tericas com o propsito de

    expor as fragilidades e equvocos da materialidade do desenvolvimento sustentvel

    como aporte na salvao dos recursos naturais, na justia ambiental e na economia

    desenfreada do mundo atual.

    Embora existam variadas conceituaes de desenvolvimento sustentvel, a mais

    aceita e difundida a do Relatrio Brundtland, em que definido como [...] o

    desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes sem comprometer a capacidade

    das geraes futuras de suprirem suas prprias necessidades (CMMAD, 1991, p. 7 apud

    FREITAS, 2012, p. 44). No entanto, existem considerveis desacordos entre estudiosos a

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    respeito de como esse modelo ser operacionalizado e como a sustentabilidade pode ser

    mensurada (BANERJEE, 2003, p. 81).

    Falar de desenvolvimento sustentvel direta (ou indiretamente) remete

    desacelerao da economia. Entretanto, essa noo desenvolvimentista proposta

    atravs das abordagens economicistas que refletem nas polticas ambientais atuais

    defendidas por muitos pases detentores desse modelo (SILVA, 2010, p. 19).

    Banerjee (2003, p. 81) ainda complementa que essa definio de Brundtland no

    se trata propriamente de uma, mas sim de slogans: Ela um slogane slogans, embora

    bonitos, no fazem teoria:

    Os discursos sobre a sustentabilidade esto se tornando crescentementecorporativos. Por exemplo, a Dow Jones recentemente lanou o ndice doGrupo de Sustentabilidade, depois de uma pesquisa sobre a fortuna de 500companhias. Uma corporao sustentvel foi definida como sendo aquela quetem como objetivo um crescimento ao longo prazo capaz de integraroportunidades de crescimento econmico, ambiental e social em suas estratgiascorporativas e de negcios (Dow Jones Sustainability Group Index, 2000 apudBANERJEE, 2003, p. 82).

    A adequao do mercado mundial aos dogmas do desenvolvimento sustentvel

    em nada compactua com a proteo ambiental, mas sim como estratgia de ser mais

    uma meta a ser atingida, ou seja, mais um caminho ideolgico para o capitalismo se

    reproduzir. Fernandes e Guerra reforam essa apropriao mercadolgica da

    sustentabilidade com as seguintes contribuies:

    Apesar do enquadramento do Desenvolvimento Sustentvel, como uma

    descontinuidade estratgica, que transformaria os atuais fundamentoseconmicos, o discurso corporativo sobre este no surpreendentemente,promove a atividade empresarial na mesma linha, com exceo da produoverde, no sendo possvel observar nenhuma mudana radical nas vises demundo que a orientam. Como Robert Shapiro afirma, longe de ser uma questofundamentada na emoo ou na tica, o Desenvolvimento Sustentvel envolveuma lgica fria e uma racionalidade do mundo dos negcios (MAGRETTA, 1997apudFERNANDES e GUERRA, 2003, p. 83).

    Alm dessa realidade que coloca em questionamento os pressupostos do

    desenvolvimento sustentvel, faz-se necessrio recorrer a sua impossibilidade enquanto

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    termos concretos de existncia. Foladori afirma que as impossibilidades de reverso da

    crise ambiental esto nas relaes sociais e econmicas, historicamente contraditrias:

    No se trata de existir ou no limites fsicos; para a prtica humana, o problemano esse, mas de contradies sociais que provocam diferenas de acesso natureza e que podem conduzir eventualmente, a catstrofes ambientais.Colocar dessa forma o problema significa considerar que as solues para asquestes ambientais no so tcnicas, como seriam se o problema fosse delimites fsicos. Ao contrrio, as solues so, em primeira instncia, sociais.Somente depois de resolver as contradies sociais, as alternativas tcnicasganham sentido (FOLADORI, 2001, p. 137 apudSILVA, 2010, p. 23).

    Assim, pode-se traduzir que as catstrofes ambientais so tambm consequncias

    das desigualdades sociais que impossibilitam o acesso equitativo das classes sociais para

    com a natureza, tendo em vista que, a conduo dos recursos naturais advm do

    trabalho de um grupo dominante e, assim, sua ao, atribui-se o poder de explorar o

    meio ambiente.

    Banerjee (2003, p. 86) afirma que a abordagem de Brundtland ao

    desenvolvimento sustentvel, ao objetivar o crescimento econmico, a preservao

    ambiental e a equidade, simultaneamente, pretende conciliar o inconcilivel. As

    tomadas de decises dos ambientalistas, governos e organizaes internacionais buscam

    minimizar as externalidades do crescimento econmico do que apresentar m aneiras

    reais por qual o desenvolvimento deve acontecer.

    Assim, o vis economicista tratado como ponto crucial na aplicao do modelo

    de desenvolvimento sustentvel (conceito e operacionalizao), colocando em

    contradio essa apropriao da natureza na equivocada defesa do meio ambiente sem

    compromisso com a mudana nas crises ambientais atuais. Como pontua Banerjee

    (2003, p. 89):

    A apropriao da natureza e sua transformao em uma fonte de matrias-primas tem sido sempre parte da agenda ocidental de desenvolvimento. Aincorporao da natureza ao discurso da modernidade efetuou uma transiodesarticulada para os sistemas modernos de produo nos quais a natureza foiobjetivada e reinventada imagem do capital como um fator de produo(OCONNER, 1994) ou como produto nela mesma, para ser embalado, vendido econsumido, como pode ser visto na crescente popularidade do ecoturismo

    entre os consumidores ricos.

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    Nesse sentido, o turismo atravs do ecoturismo enquanto atividade econmica

    alternativa e ator responsvel na potencializao de sua atividade em ambientes

    naturais (e comunidades tradicionais), tambm reflete os preceitos do modelo de

    desenvolvimento sustentvel na medida em que a globalizao do alarme mundial a

    favor do meio ambiente implica em uma nova realidade em termos polticos, sociais,

    econmicos e ambientais.

    O DISCURSO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL ARTICULADO:

    INTERDISCURSIVIDADE

    Como um modo de observar como a conceituao do termo desenvolvimento

    sustentvel se configura no discurso dos envolvidos no estudo, mais especificamente,

    no mbito acadmico, fez-se um recorte de anlise com base na Teoria Social do

    Discurso (FAIRCLOUGH, 2001), utilizando-se da categoria analtica Interdiscursividade.

    As variadas concepes existentes nos discursos funcionam como a

    representao do mundo atravs de suas perspectivas. Nesse sentido, Resende e

    Ramalho (2009, p. 72, grifo no original) salientam que a heterogeneidade de um texto

    em termos da articulao de diferentes discursos chamada de interdiscursividade. A

    forma como o mundo significado nas falas, ou seja, nos momentos discursivos,

    possibilita entender que inmeras foras ideolgicas corroboram posicionamentos

    conceptivos de um texto.

    Continuando com as contribuies de Resende e Ramalho:

    A identificao de um discurso em um texto cumpre duas etapas: Aidentificao de que partes do mundo so representadas (os temas centrais) ea identificao da perspectiva particular pela qual so representadas. Asmaneiras particulares de representao de aspectos do mundo podem serespecificadas por meio de traos lingusticos, que podem ser vistos realizandoum discurso (2009, p. 72).

    Com isso, pode-se justificar a escolha dessa categoria analtica como ferramenta

    de anlise dos dados do objetivo do estudo desse trabalho, pois a partir da percepo de

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    como os discursos so negociados, liderados e suas representaes sobre o mundo que,

    inicialmente, a pesquisa ser direcionada.

    Nessa categoria analtica, a anlise do discurso dos participantes do grupo focal,

    de incio, reflete a dissociao entre o desenvolvimento sustentvel e o modo de

    produo capitalista, onde esse o vilo ao ponto de no perm itir a existncia na

    prtica daquele. Essa noo resultado, principalmente, da ausncia de uma proposta de

    ruptura com o atual sistema vigente, tal como Banerjee afirma que ao invs de

    representar a quebra de um paradigma terico, subsumido sob o paradigma

    economicista dominante (2003, p. 76). Questionados sobre suas concepes acerca do

    que representa desenvolvimento sustentvel, os discursos presentes convergem-se onde

    os participantes, Rafael e Felipe, apresentam claramente essa viso:

    Rafael: Da vem uma questo mais capitalista que se apodera da funo do desenvolvimento sustentvel que na verdade fazer com que as pessoas usemos recursos naturais existentes de uma forma que garanta que as futuras

    geraes possam tambm usufruir no futuro.Junior: De formas a garantir, como o Rafael falou, enfim, um mundo melhor para

    essas geraes futuras, s que vivemos em um modelo capitalista ondecirculam informaes muito rpido, onde existe um consumismoexacerbado, onde as pessoas pegam e consomem e no se importam com ooutro.Felipe: Como que falaram do capitalismo: O capitalismo um jogo demarketing, que ele sabe fazer o marketing para o desenvolvimento

    sustentvel no acontecer, pois ele induz a voc comprar, comprar, comprar ejogar fora e no saber reutilizar esse jogar fora e eu acho que esseconhecimento do marketing deveria fazer com que o desenvolvimento

    sustentvel exista.

    Percebe-se que na fala do participante Rafael, o desenvolvimento sustentvel

    vtima do capitalismo, sendo que o primeiro est inserido no segundo e que foi

    concordado pela fala do participante Junior, porm, contribuindo com a percepo do

    capitalismo no seu sentido de promover informaes ideolgicas (mdia) como fator de

    promoo do consumo exacerbado. Por fim, a fala do participante Felipe em consonncia

    com as falas anteriores, reforando a dissociao do capitalismo com o desenvolvimento

    sustentvel, afirmando sua credibilidade na mesma mdia para tornar o

    desenvolvimento sustentvel como algo tangvel e que, por conta do capitalismo, esse

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    modelo conciliatrio entre a contnua produo e o meio ambiente no existe na

    materialidade.

    No entanto, Fernandes e Guerra (2003) refutam essa ideia ao ponto que

    considera indissocivel a globalizao do desenvolvimento sustentvel dentro da noo

    hegemnica do capitalismo no seu fim estritamente econmico.

    Os ideais do desenvolvimento sustentvel, no sentido econmico, social e

    ambiental, apresentam polticas e posicionamentos que partem estritamente do vis

    econmico enquanto modelo desenvolvimentista e, por si s, equivoca-se ao ponto que

    prope um modelo econmico/ambiental dentro do mesmo sistema que ocasionou as

    atuais crises ambientais o modo de produo capitalista.

    Continuando as anlises, nas falas dos participantes Henrique, Junior e Cesar, o

    desenvolvimento sustentvel, embora seja apontado como um modelo de preservao

    do meio ambiente, entendido como polticas que no tm como findar a poluio:

    Henrique: Eu, s vezes, escuto as pessoas dizerem que no acreditam emdesenvolvimentosustentvel e eu at chego a dar um certo qu de razo a elas,

    porque o desenvolvimentosustentvel, na verdade, no acaba totalmentecom a poluio ou at qualquer problema que seja, ele apenas reduz.Junior: E hoje ns sentados aqui, com essa luz ligada, com o arcondicionadofuncionando, isso j gera um fato que no nenhum pouco

    sustentvel, ento no existe como eliminar totalmente os impactos.Cesar: Ento, se for analisar a palavra desenvolvimento, eu acho que algoque estpor vir ainda, est no campo das ideias, algum fala: Ah tem que ser

    justo para todos oslados, tem que ser ambientalmente correto, causar o mnimode impacto, mas eu acho que isso no vai acontecer nunca, o mximo que se

    pode acontecer desenvolver uma atividade que seja mais sustentvelconcordando com o Henrique que essa atividade pode minimizar o mximoque a atividade prope, que se for para preservar tudo, ningum existe,

    qualquer atividade vai denegrir o meio ambiente.

    Nas falas anteriores, os discursos dos participantes que contextualizaram sobre o

    que desenvolvimento sustentvel, entendem que embora seja um modelo sistmico

    que preserve o meio ambiente, ainda assim, ir gerar impacto negativo. Nesse contexto,

    existe concordncia entre as trs falas e principalmente, liderana da fala do Henrique

    sobre as outras.

    Silva situa-se nas contribuies de Montibeller (2004) e Foladori (2001) acerca

    das limitaes do desenvolvimento sustentvel da seguinte forma:

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    Montibeller (2004), por sua vez, assume a mesma posio de Foladori (2001)ao captar que o desenvolvimento sustentvel representa uma mudana radicalda relao sociedade/natureza que passa pela economia e pela forma de fazerpoltica. O seu entendimento que, a longo prazo, o problema poder seramenizado, mas no resolvido na sociedade capitalista (SILVA, 2010, p. 21).

    Ao se pensar na crise ambiental, percebe-se a carga de responsabilidade das

    principais potncias mundiais com esse processo de explorao dos recursos naturais.

    Nesse contexto, as falas dos participantes Sarah, Henrique, Felipe e Diego (Esses trechos

    de fala tambm iro exemplificar a categoria analtica Representao de Atores Sociais

    mais adiante) reforam a responsabilidade dos Estados Unidoscomo pas hegemnico e

    poluidor do meio ambiente:

    Sarah: O consumo de um cidado americano, j pensou se todas as pessoas domundoconsumissem como eles, como que seria, como a terra estaria?.Henrique: .O EUA e a China, os dois sozinhos so os maisresponsveis pormais de 50% dapoluio mundial.Felipe: Agora que chegou 2014, eles fizeram um plano de reduo deempresas queemitem gases de carbono, s por conta do processo da ECO92 del atrs.Diego: A ECO92 faz mais de 20 anos....

    Como se pode perceber, o questionamento da fala da participante Sarah

    corrobora as falas seguintes, tornando comum a noo de hegemonia americana sobre o

    mundo e seus impactos negativo-ambientais. Conforme aponta Giddens (1991, p. 69

    apudRESENDE e RAMALHO, 2009, p. 95), aglobalizao a intensificao das relaes

    sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que

    acontecimentos locais so modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas dedistncia e vice-versa.

    Nesse sentido, os EUA, historicamente, corroboram o papel de querer dominar o

    mundo atravs de seu imperialismo e isso se d nas tentativas de sustentar o seu poder

    hegemnico, por meio de guerras e/ou pela propagao da noo de progresso e

    desenvolvimento como aporte na invaso e tomada de pases em nome do poder e do

    capital. Como citado, os EUA se recusaram a assinar a Conveno da Biodiversidade que

    fez parte de um dos documentos mais relevantes do ECO-92, alm de refutar o acordo

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    que se referia a reduzir a emisso de poluentes na atmosfera. A China, por sua vez, ocupa

    o 2 lugar no sentido de abuso na poluio ambiental.

    importante evidenciar o esteretipo de poder sobre o mundo que o EUA detm

    nas concepes dos estudantes e graduados do curso de Turismo. Isso se d de uma

    forma negativa, principalmente pelas crises ambientais que indiretamente revelam os

    pases que se posicionam contra o alarme mundial sobre o meio ambiente. Porm,

    refora a legitimidade das noes do desenvolvimento sustentvel na salvao da

    natureza e, como j foi falada, essa noo est inclusa no mesmo sistema poltico-

    econmico que o pas citado, a todo o momento, sustenta e reproduz.

    Nos discursos seguintes, perceptvel como os participantes Diego e Joo

    recorrem a uma relao conflituosa Homem primitivo x Sociedade atual:

    Diego: Na minha viso de ecologicamente sustentvel, os ndios nativos do Brasiltinham umavida sustentvel, pois eles tinham tudo e viviam o dia a dia e nada deacumular.Joo: Ele tocou num ponto interessante... Ele disse que os ndios tinham uma aosustentvel, pois se for comparar com nossas aes hoje, eles eram sustentveis...

    Mas sabemos que os ndios eram nmades, certo? Produziam, matavam, faziamcolheitas e quando a terra no dava mais, eles faziam o qu? Migravam para umarea e produziam um novo desmatamento para suprir suas necessidades, s quea o que se diferencia, pois eles produziam por conta de uma necessidadealimentar....

    Historicamente, as tradies indgenas de uso da terra compreendem-se a partir

    de um modo de subsistncia que tinha como finalidade a sua sobrevivncia, de seus

    modos de vida e costumes locais e no possua um interesse de acmulo de recursos

    naturais e nem de uso mercantilista, caracterstica essa que no corresponde

    sociedade industrial capitalista, surgida em meados do sculo XVIII. As consideraes de

    Marx sobre essa relao homem x natureza salienta que:

    Dizer que a vida psquica e intelectual do homem est indissoluvelmente ligada natureza no significa outra coisa seno que a natureza estindissoluvelmente ligada com ela mesma, pois o homem uma parte danatureza (MARX, 1962, p. 62-81 apud LOWY, 2005, p. 21).

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    Ou seja, umbilicalmente o homem est associado natureza a partir do momento

    que a torna instrumento de trabalho, gerao de renda e fonte de realizao de seus

    desejos, porm, os interesses trabalham unicamente em nome do acmulo de capital,

    referenciando um dos dogmas das polticas neoliberais do capitalismo para com os

    recursos naturais do meio ambiente.

    Nesse sentido, os discursos dos participantes Diego e Joo representam o

    contrassenso entre o modo de apropriao da terra pelos ndios e pela sociedade

    industrial, onde este v o meio ambiente como fim de gerao de lucro e

    desenvolvimento (progresso), enquanto aquele entendia os recursos naturais como

    forma de sobrevivncia. Alm disso, um discurso concorda e reafirma o que o outro diz,

    apresentando exemplificaes que legitimam a fala do participante Joo.

    No decorrer da realizao do grupo focal, foi questionado sobre onde

    aprenderam as noes de desenvolvimento sustentvel que foram apresentadas

    anteriormente. Os discursos dos participantes, a todo o momento, refletem uma

    concordncia entre as falas e principalmente, contradies quanto aplicao do

    modelo de desenvolvimento sustentvel na preservao do meio ambiente.

    Nesse sentido, a fala do participante Rafael apresenta uma contradio quando

    opina sobre sua noo e aprendizado quanto ao desenvolvimento sustentvel:

    Rafael: Bom, primeiro contato que eu tive foi na academia, acho que com oProfessorX, foi ele quem abriu a porta de muitos para conhecer o termo e essetermo vem se acumulando esses vrios meses que eu tenha estudado e quandoentrei no PET/UFPI3, me aprofundei no termo, comecei a pesquisar e fazeralgumas produes de artigos que me levou a ver e adescrer nessa noo de

    desenvolvimento sustentvel.Porm, no trabalho, desenvolvemos algumaspesquisas e comprova que poderia sim, ser aplicada em algumas pequenascomunidades, de uma forma micro voc consegue implantar odesenvolvimento sustentvel. Recentemente, j desenvolvi duas outras

    pesquisas dentro dessa rea e uma coisa que no cremos, mas vemos que dcerto, mas quais so os embargos e empecilhos... A prpria organizao dasociedade, a prpria poltica de incentivo, a falta de profissionais que queiramoficializar e colocar em prtica tudo isso. No mais, acho que um termo quedeve mais ser direcionado a novas geraes que esto se iniciando no Brasile no mundo tambm, uma questo mais de tica de proporcionar educao

    3 O Programa de Educao Tutorial (PET) um programa do Governo Federal que mantm grupos deeducao tutorial em cursos de graduao de universidades pblicas de todo o Brasil. Esses grupos,

    chamados de "grupos PET" se orientam, no desenvolvimento de suas atividades, pelo princpio entreensino, pesquisa e extenso.

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    ambiental s crianas e aos jovens uma interao maior com acomunidade, com a natureza, afim de esse contato sirva de estmulo a eles

    mesmos, desenvolverem tcnicas produtivas mais sustentveis.

    Nos trechos que me levou a ver e a descrer nessa noo de desenvolvimento

    sustentvel e Porm, no trabalho, desenvolvemos algumas pesquisas e comprova que

    poderia sim, ser aplicada em algumas pequenas comunidades, de uma forma micro voc

    consegue implantar o desenvolvimento sustentvel, fala que com seus estudos comeou a

    perder a credibilidade quanto aesse modelo poltico-ambiental, mas que em uma viso

    micro, ele acontece e complementa essa linha de raciocnio com o trecho uma coisa

    que no cremos,mas vemos que d certo. Finalizando, no trechoNo mais, acho que um

    termo que deve mais ser direcionado a novas geraes que esto se iniciando no Brasil e no

    mundo tambm, uma questo mais de tica de proporcionar educao ambiental s

    crianas e aos jovens uma interao maior com a comunidade, com a natureza, afim de

    esse contato sirva de estmulo a eles mesmos, desenvolverem tcnicas produtivas mais

    sustentveis, o participante apresenta uma explanao geral de perspectiva do

    desenvolvimento sustentvel e que claramente, entra em contradio com os trechos

    anteriores, sendo que para o participante, ora existe, ora no existe.

    Nesse quesito, Fairclough pontua que:

    As origens e as motivaes imediatas da mudana no evento discursivorepousam na problematizao das convenes para os produtores ouintrpretes, que pode recorrer de vrias formas [...] Tais contradies, dilemas eentendimentos subjetivos dos problemas em situaes concretas tm suascondies sociais em contradies e lutas estruturais nos nveis institucional esocietrio (FAIRCLOUGH, 2001, p. 56).

    Tais contradies representadas no discurso do participante Rafael so resultado

    das contradies existentes no dilogo acadmico e social sobre desenvolvimento

    sustentvel, sendo que esses fatores partem principalmente da ausncia de empirismo

    do modelo econmico/ambiental discutido, corroborando na sua conflituosa

    explanao: ora positivo, ora negativo.

    No discurso da participante Juliana, existe uma concordncia com o discurso do

    participante Rafael, analisado anteriormente, no qual compactua o aprendizado sobre

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    desenvolvimento sustentvel dentro do meio acadmico, especificamente, no curso de

    Turismo:

    Juliana: Tambm, na universidade, ... Quando eu fiz o curso tcnico, eu nuncaestudei a fundo desenvolvimento sustentvel. J aqui eu vi essa questo deeducao ambiental, de unidades de conservao, preservao do meio ambiente,mas a questo de sustentabilidade em si eu no tinha visto, mas quando entrei naacademia, comecei a ter mais contato com a ideia de desenvolvimentosustentvel, antes disso no me recordo.

    Em especfico ao tema desenvolvimento sustentvel, discutido nesse trabalho, o

    curso de Bacharelado em Turismo do Campus Ministro Reis Velloso CMRV da

    Universidade Federal do Piau UFPI possui em sua grade curricular, as disciplinas

    Educao Ambiental e Desenvolvimento Sustentvel; e Biodiversidade Brasileira e

    Ecoturismo. Alm de projetos de pesquisa e extenso como o PET-TURISMO que atuam

    diretamente com noes de sustentabilidade associada ao turismo, difundidas pelo

    alarme mundial atravs das discusses que deram criao ao desenvolvimento

    sustentvel. Alm disso, apresenta outros campos de estudo que complementam e

    agregam noo de desenvolvimento sustentvel. Vemos isso nos trechos educao

    ambiental, de unidades de conservao, preservao do meio ambiente, embasando

    uma noo geral de sustentabilidade.

    Questionados sobre quem se beneficia com o desenvolvimento sustentvel, os

    discursos dos participantes entraram em discordncia, gerando variadas perspectivas

    sobre o termo. Junior: Eu acho que quem ganha muito com o desenvolvimento

    sustentvel so as prpriasempresas, as prprias corporaes.

    Em sua fala, o participante Junior afirma a apropriao desse termo pelas grandes

    empresas que administram o meio ambiente. Nesse quesito, a fala do participante Rafael

    discorda com a seguinte afirmao. Rafael: Mas isso o marketing sustentvel e no o

    desenvolvimento sustentvel.

    Essa discordncia parte do posicionamento no qual um discurso revela sua ideia

    onde as corporaes apropriam-se do discurso da sustentabilidade para empreender,

    enquanto que o outro entende essa apropriao como uma no definio do que de fato,

    beneficia o desenvolvimento sustentvel. importante salientar que o participante

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    Rafael, novamente, refora suas contradies na mudana discursiva sob a contradio

    existente quanto aplicao no mundo desse modelo de desenvolvimento.

    J os discursos dos participantes Cesar e Andre corroboram o pensamento de

    Junior, discurso anterior que apresenta o real compromisso economicista das grandes

    corporaes para com o meio ambiente:

    Cesar: Quem que mais d patrocnio em editais? Natura, Petrobrs, etc.. Andre: Quem ganha mais com essa bandeira de sustentabilidade so as empresasde grande porte como a CORTEZ, a empresa que fez a estrada para a Pedra do Sal

    tinha o ISO 14.001 (ISO da sustentabilidade), ganhou esse selo internacional porconta da MEGA (Empresa Alem) que a escolheu como a empresa maissustentvel para fazer o trabalho com a usina elica.

    Fernandes e Guerra (2003) destacam sobre a reproduo desse discurso

    corporativista do desenvolvimento sustentvel:

    Os discursos corporativistas sobre a sustentabilidade produzem uma eliso quedesloca o foco da sustentabilidade global planetria para a sustentabilidade dasestratgias de crescimento das corporaes. O que acontecer se os problemas

    sociais e do meio ambiente no resultarem em oportunidades de crescimentopermanece obscuro, se aceito o pressuposto de que a sustentabilidade globalpode ser alcanada atravs das trocas de mercado (BANERJEE, 2003, p. 83).

    Essa apropriao da classe dominante sobre o discurso da sustentabilidade

    recorre a uma problemtica da universalizao da noo de desenvolvimento

    sustentvel a nvel global ultrapassando as especificidades de cada localidade a ser

    inserido o modelo citado em nome da reproduo do capital. Alm disso, corporaes

    como a Petrobrs e Natura, empresas citadas pelo participante Cesar, ganham o ttulo

    sustentvel fortalecendo a noo economicista do termo e de como esse jargo

    difundido a nvel nacional e internacional, quanto ao poder pblico e privado.

    O slogan da sustentabilidade virou prefixo das empresas, questionando a real

    efetividade do desenvolvimento sustentvel na proteo do meio ambiente. A empresa

    mega Energia, citada na fala anterior, atua na contnua construo de uma Usina Elica

    na Praia da Pedra do Sal, que faz parte do municpio de Parnaba/PI e alvo de muitas

    controvrsias para com sua relao com os moradores da Praia, pois conforme a

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    vivncia e observao desse local, os moradores ainda no possuem energia eltrica em

    suas moradias. Da, faz-se o seguinte questionamento: Energia sustentvel para quem?

    Em consonncia com o discurso do participante Andr, a empresa Omega Energia

    discorre sobre seu compromisso socioambiental4:

    O compromisso com a excelncia e sustentabilidade nos negcios tambm progressivo e atinge a seleo de fornecedores da Omega. A empresadefinitivamente prioriza a contratao de empresas com nveis avanados deISO (International Organization for Standardization) e com programas desegurana do trabalho, governana corporativa e qualidade de vida para seus

    colaboradores, j que este contingente representa milhares de empregosgerados por seus empreendimentos pelo Pas.

    Importante destacar como essa relao da empresa com a sustentabilidade entra

    em conflito no discurso do participante a partir do momento em que essas grandes

    corporaes so tidas como sustentveis somente pelo fato de possurem a International

    Organization for Standardization - ISO da sustentabilidade, quando na verdade no

    existe praticidade quanto s melhorias da comunidade local e preservao do

    ambiente natural dos moradores da Pedra do Sal.Finalizando a categoria analtica Interdiscursividade, na qual existe reproduo e

    reafirmao de uma fala pela outra, os trechos seguintes do discurso do participante

    Joo apresentam uma opinio geral sobre quem se beneficia com o desenvolvimento

    sustentvel, sendo evidente a legitimao ideolgica atravs da racionalizao e

    universalizao, s quais Thompson afirma que relaes de dominao so

    apresentadas como justas e dignas de apoio (1995, pp. 81-9 apud RESENDE e

    RAMALHO, 2009, p. 50).

    Joo: S pegando um gancho com os meninos que falaram em relao a empresasque se beneficiam com o DS, a vem aquela questo, isso lei de compensao:Por exemplo, a Petrobrs financiou ONGs locais com projetos, e bemmelhor que eles colaborem e terem essa compensao, pois se for parar praver, centenas de empresas que no ligam para o meio ambiente.

    (Legitimao= Racionalizao).

    4 PRINCPIOS DA SUSTENTABILIDADE. Disponvel em:

    http://www.omegaenergia.com.br/sustentabilidade #sustentprincipios. Acesso em 19 de outubro de2014.

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    Joo: Com essa questo deganhos, temos que ver o seguinte, tem que pensar quetodomundo, independente de ser empresariado, aluno e setor pblico,pois quem

    ganha na verdade o ser humano e a natureza tambm. (Legitimao=Universalizao) .

    Na fala do participante, o exemplo citado tem como papel apresentar

    positivamente a participao de empresas/corporaes na luta pelo meio ambiente,

    sendo que, mesmo que ela polua, seus impactos negativos so naturalizados caso a

    empresa faa a justia ambiental atravs de financiamentos de projetos ambientais. No

    outro trecho, existe uma generalizao do desenvolvimento sustentvel e sua ao sobre

    o mundo, o ser humano e natureza.

    No trecho Por exemplo, a Petrobrs financiou ONGS locais com projetos, e bem

    melhor que eles colaborem e terem essa compensao, pois se for parar pra ver, centenas

    de empresas que no ligam para o meio ambiente, existe uma legitimao por

    racionalizao, que Thompson (1995, pp. 81-9 apud RESENDE e RAMALHO, 2009, p. 52)

    conceitua como uma cadeia de raciocnio que procura justificar um conjunto de

    relaes.

    E no trecho Pois quem ganha na verdade o ser humano e a natureza tambm, o

    participante universaliza os benefcios do desenvolvimento sustentvel. Thompson

    (1995, pp. 81-9 apud RESENDE e RAMALHO, 2009, p. 52), atravs da legitimao por

    universalizao fala em interesses especficos que so apresentados como interesses

    gerais.

    Nos discursos dos participantes Rafael e Cesar, existe uma discordncia sobre o

    englobamento do desenvolvimento sustentvel e sua relao com o turismo:

    Rafael: Desvincular o ambiente do desenvolvimento sustentvel, pois tem outrosaspectos.Por isso, o turismo um importante meio para regulamentar tudo isso etrazer ideias mais prticas.Cesar: Mas estamos inseridos no meio ambiente....

    Na divergncia discursiva onde se prope um distanciamento entre o ambiental e

    o social, Silva afirma que:

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    Se tratarmos os problemas ambientais separadamente dos problemas sociais,agimos de forma ingnua. As causas da crise no se encontram na natureza,

    mas nas relaes que a sociedade estabelece com ela, sendo, portanto, maisadequado pens-la em termos de questo socioambiental (2010, p. 20).

    Essa noo de dissociao do desenvolvimento sustentvel do seu sentido

    ambiental se d principalmente pelo fato de que o alarme ambiental do mundo concebe

    suas problemticas desvinculadas do contexto social e econmico. Importante destacar

    que o econmico, social e ambiental esto totalmente interligados de forma umbilical ao

    ponto que o desequilbrio ou tentativa de resolver os impactos negativos de um fator

    reflete nas mudanas dos outros.

    GUISA DE CONCLUSO

    Tem-se a necessidade de discusso do desenvolvimento sustentvel em nvel

    acadmico e, principalmente, nos cursos de Turismo, haja vista o quo ideolgico pode

    se construir um discurso com suas possibilidades, no fortalecimento de concepes.

    Alm disso, entende-se como relevante a desconstruo do discurso do desenvolvimento

    sustentvel enquanto aparelho ideolgico empresarial do mundo contemporneo e, em

    especfico, na atividade turstica para construir concepes discursivas que findem

    relaes de dominao, como por exemplo, comunidades tradicionais que recebem o

    turismo e, com o discurso sustentvel, tm seu modo de vida local impactado

    negativamente.

    Dessa forma, conceber a imaterialidade do desenvolvimento sustentvel e

    perceber que o cerne das problemticas ambientais advm do modo de produo

    vigente pode resultar, possivelmente, em uma construo de sociedade que se proponha

    a rupturas e transformaes, fator esse to distante da pauta ambientalista do mundo

    contemporneo. O papel da academia, nesse sentido, fortalece o pensamento crtico e

    transformador do pesquisador, para com sua responsabilidade social enquanto

    vanguarda.

    Embora o trabalho presente entenda a teoria social do discurso na sua

    funcionalidade social e lingustica, a pesquisa presente buscou uma maior ateno para

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    com as teorias sociais na sua articulao de anlise do discurso, enquanto a lingustica

    no foi to aproveitada. Porm, reitera-se a sua importncia na identificao do discurso

    enquanto linguagem que transforma e se constri socialmente.

    Na categoria analtica interdiscursividade, conclui-se que os discursos dos

    estudantes e graduados em Turismo participantes da presente pesquisa apresentam

    marcas ideolgicas acerca do desenvolvimento sustentvel, atravs de negociaes na

    fala, no qual um discurso lidera e corrobora na pronunciao dos outros. Ao acontecer

    esse tipo de articulao, existe uma prioridade em discorrer na crtica ao modo de

    produo capitalista, atravs da articulao de diversos pontos que problematizam o

    consumo exacerbado e a globalizao desse modelo econmico/ambiental. Alm disso,

    os discursos apresentados quando articulados, apresentam tangveis contradies ao

    ponto de concordar e discordar ao mesmo tempo do que representa o desenvolvimento

    sustentvel. Isso problemtico, pois reflete a prpria ausncia de materializao nos

    dias atuais dessa conciliao entre economia, sociedade e meio ambiente em um

    desenvolvimento s, como esse proposto.

    A fim de concluso, os discursos que foram articulados, intertextualizados e

    representados, possuem importncia no sentido de proporcionar uma reflexo geral

    sobre o desenvolvimento sustentvel como fator que precisa ser discutido seriamente

    na construo de polticas ambientalistas. necessrio que, de fato, se proponha barrar

    as crises ambientais, mas principalmente, que se parta de uma anlise materialista-

    histrica do que ocasionou/ocasiona os atuais mrtires do meio ambiente, ou seja, o

    modo de produo atual, pois s assim existe o fortalecimento de um debate srio,

    histrico e crtico para, assim, eliminar as contradies do capital, que a cada dia,

    ideolgica e hegemonicamente, mercantiliza os ideais da sustentabilidade.

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    Turismo: Estudos & Prticas (RTEP/UERN), Mossor/RN, vol. 3 (Nmero Especial) 2014http://periodicos.uern.br/index.php/turismo [ISSN 2316-1493]

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    SUSTAINBALE DEVELOPMENT IN ACADEMIC DISCOURSE IN PARNAIBA-PI: UNVEILINGMYTHS

    ABSTRACT

    The aim of this paper is to present an analysis on how discourse on sustainable development isrepresented in the speech of undergraduate students of a Bachelor of Science degree in Tourism,showing the discursive production and its activity as social practices in the construction ofsociety, and the importance of deconstructing some myths that surround such economical andenvironmental model as proposed by the Brundtland Report. In order to carry out a discourseanalysis, eight undergraduate students of the degree course and two already graduatedparticipants from the same course were chosen to make up a focus group discussion. In such away, Faircloughs theoretical and methodological approach alongside his social theory ofdiscourse was used so that language can be perceived as an associated part of social life and isdialectically interconnected to other social elements. Data were analyzed based on the categoryInterdiscursivity. After that, it was noticed that the discourses of the participants expressideological concepts about sustainable development through negotiating speech as much as onediscourse ends up strengthening other(s) and, when such articulations happen, participantsprioritize a factor that they consider as being central to environmental issues: the capitalistmode of production. Through such contexts, it is relevant to fortify serious, historical and criticaldebates as analysis methods so that conflicts that make environment unstable may be

    understood.

    KEYWORDS: CRITICAL DISCOURSE ANALYSIS. SUSTAINABLE DEVELOPMENT. BACHELORDEGREE IN TOURISM. TURISTIC ACTIVITY.

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