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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ GERALDO DE LUCENA MILITÃO NETO O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO RESPOSTA À CRISE AMBIENTAL GLOBAL: REFLEXÕES CONTEMPORÂNEAS ILHÉUS – BAHIA 2009

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

GERALDO DE LUCENA MILITÃO NETO

O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO RESPOSTA À CRISE AMBIENTAL GLOBAL: REFLEXÕES CONTEMPORÂNEAS

ILHÉUS – BAHIA 2009

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GERALDO DE LUCENA MILITÃO NETO

O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO RESPOSTA À CRISE AMBIENTAL GLOBAL: REFLEXÕES CONTEMPORÂNEAS

Monografia apresentada, para obtenção de título de bacharel em Línguas Estrangeiras Aplicadas às Negociações Internacionais, à Universidade Estadual de Santa Cruz.

Área de concentração: Economia dos Recursos Naturais

Orientadora: Profª. Drª. Lessí Inês Farias Pinheiro

ILHÉUS – BAHIA 2009

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GERALDO DE LUCENA MILITÃO NETO

O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO RESPOSTA À CRISE AMBIENTAL GLOBAL: REFLEXÕES CONTEMPORÂNEAS

Ilhéus-BA, 15/06/2009

______________________________________________ Profª. Drª. Lessí Inês Farias Pinheiro

(Orientadora)

______________________________________________ Prof. Dr. Eduardo Jorge Costa Mielke

(Parecerista)

______________________________________________ Prof. Ms. João Carlos de Pádua Andrade

(Parecerista)

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DEDICATÓRIA

A dedicatória deste trabalho vai em especial à memória de minha querida mãe, Geny Cansanção de Lucena, meu grande amor, que vive hoje apenas dentro do meu coração e memória, ela quem me guiou por toda a minha trajetória, e continua me guiando, mesmo não estando mais presente entre nós. Mãe, não me restam dúvidas, que sem os seus ensinamentos maternais e todo o seu amor eu não teria conseguido chegar aqui, por isso este trabalho não poderia ser dedicado a outra pessoa. Mãe, muito obrigado por me ajudar a superar todas as dificuldades, você continua sendo a razão do meu viver! Dedico este trabalho também aos meus irmãos e familiares, amigos e colegas, professores e todos aqueles que me ajudaram de alguma forma ao longo desta trajetória, muito obrigado!

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SUMÁRIO

Resumo..................................................................................................................... v Abstract.................................................................................................................... vi 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 07 2. A CRISE AMBIENTAL GLOBAL E SUAS IMPLICAÇÕES................................. 08 3. PANORAMA DO DEBATE INTERNACIONAL SOBRE POLÍTICA AMBIENTAL 3.1 A Rio 92 e o Protocolo de Quioto: algumas considerações................................ 15 4. O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM DIFERENTES PERSPECTIVAS 16 5. UM NOVO PARADIGMA: A VISÃO SISTÊMICA DE MUNDO............................ 20 6. A QUESTÃO SOCIOAMBIENTAL....................................................................... 23 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 25 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................... 29

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O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO RESPOSTA À CRISE

AMBIENTAL GLOBAL: REFLEXÕES CONTEMPORÂNEAS

RESUMO

O presente trabalho faz uma análise da discussão sobre o desenvolvimento sustentável, enquanto resposta à crise ambiental global da contemporaneidade, abordando questões chaves que interligam os dois temas. A presente problemática já existe há algumas décadas, entretanto com o agravamento da crise ambiental global, além de novas questões político, econômicas, sociais e culturais surgindo, o debate internacional foi intensificado, assim como nas esferas municipais, regionais e nacionais. Este trabalho não constitui um fim em si mesmo, apenas contribui com diferentes reflexões para as discussões já em curso.

Palavras-chave: desenvolvimento sustentável; crise ambiental global; questões

político-econômicas-sociais-culturais internacionais.

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O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO RESPOSTA À CRISE

AMBIENTAL GLOBAL: REFLEXÕES CONTEMPORÂNEAS

ABSTRACT

The present paper analyses the discussion of the sustainable development as an alternative for the contemporary global environmental crisis, approaching key points of both themes. Since last decades the present discussion exists, however, the aggravation of the environmental crisis, plus new international political-economic-social and cultural matters, turned this debate more intensified in municipal, regional, national and international scale. This paper does not intend to finish up the discussions, it aims to contribute with different reflections to them.

Key-words: sustainable development; environmental global crisis; international

political-economic-social and cultural matters.

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1. INTRODUÇÃO

Com a intensificação das conseqüências da crise ambiental global, os

debates acerca da sustentabilidade nos diversos meios tornaram-se mais

frequentes. A partir destes debates, novos paradigmas surgiram, a exemplo da

necessidade de mais conhecimentos interdisciplinares e planejamentos intersetoriais

do desenvolvimento, traçando paralelos entre questões ambientais, sociais,

econômicas, políticas e científicas. Eixo que permeia a sustentabilidade.

A expressão “desenvolvimento sustentável” remete a uma corrente de

reflexões que perdura há mais de vinte anos. Segundo Godard (1997), entretanto,

estes longos anos de reflexões não conseguiram produzir um consenso ainda sobre

o conceito do que viria a ser o desenvolvimento sustentável. São variadas as suas

definições, e dentre estas, algumas se contradizem.

Neste sentido, a sustentabilidade fundamenta-se nas premissas de que as

fontes de energia em utilização são finitas, as formas de vida são interdependentes

e somente será possível implementar novo modelo de desenvolvimento por meio da

cooperação, da parceria e da proteção ao meio ambiente, buscando padrões de

produção e consumo mais racionais (SARTÓRIO, 2004).

De acordo com Capra (1997), o êxito da sustentabilidade depende de

cooperação, parcerias e formação de redes. Este autor propõe ainda a necessidade

da quebra do paradigma vigente, já que segundo ele quase todas as crises

contemporâneas derivam de um mesmo fator – a crise de percepção. Esta nova

visão da realidade se contrapõe à tradicional visão mecanicista cartesiana, que para

Capra (ibidem), é uma visão restrita e obsoleta.

A problemática acerca do desenvolvimento sustentável enquanto resposta à

crise ambiental global, tanto na esfera macro, quanto na esfera micro, caracteriza-se

por ser um conhecimento ainda em formação. Assim sendo o objetivo desta

pesquisa, insere-se na categoria de estudos denominados formuladores ou

exploratórios.

A adoção desta opção teórico-metodológica se justifica por não haver um

modelo conceitual ou prático, que possa ser utilizado como referência para a

modelagem desta pesquisa, o que, inclusive, constitui um dos principais critérios

para a escolha deste tema. Para fundamentar o referencial teórico será realizada

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uma pesquisa bibliográfica que permitirá a sistematização dos principais conceitos

relacionados ao problema de investigação, a saber, a literatura que verse sobre o

tema proposto, tanto na abordagem global, quanto em abordagem regional e local.

Nesta perspectiva, este trabalho tem como objetivo analisar a relação

“desenvolvimento sustentável como resposta à crise ambiental global”, já que o

desenvolvimento sustentável parte do princípio de que existe uma crise ambiental

global, elevando alguns aspectos onde os temas se cruzam e se complementam, e

respeitando os limites do que se foi discutido até os dias atuais.

2. A CRISE AMBIENTAL GLOBAL E SUAS IMPLICAÇÕES

O relatório de Brundtland trouxe em 1987, entre outras coisas, uma exaustiva

lista de ameaças ao equilíbrio do meio ambiente planetário, dentre elas: o

desflorestamento, a erosão do solo, o efeito-estufa, o buraco na camada de ozônio,

a questão da demografia, a cadeia alimentar, os recursos hídricos, a energia,

aspectos ligados ao processo de urbanização, a extinção de espécies animais, o

armazenamento de armas, a proteção dos oceanos e do espaço (GUERRA et al.,

2007).

Este relatório, fruto dos estudos da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento, englobou de forma pioneira o meio ambiente e o

desenvolvimento, e mostrou que a humanidade e o mundo natural encontravam-se

em rota de colisão.

Segundo Giddens (2000), o relatório de Brundtland evidenciou uma situação

em que os recursos da Terra estavam sendo consumidos numa taxa assustadora,

enquanto a poluição estava destruindo o equilíbrio ecológico de que a continuidade

da natureza depende.

A partir de então, no âmbito internacional, forma-se a idéia de que esta crise,

até então sem precedentes, constitui um problema público que transcende os limites

nacionais e que deve ser debatido no seio da comunidade internacional (JESUS,

2004).

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Como conseqüência disto, a busca por alternativas viáveis e soluções

apaziguadoras para a crise ambiental global transformou-se em um assunto

relevante nas agendas dos governos nacionais e nos fóruns de debate em âmbito

internacional. Neste ponto vale ressaltar que a construção da idéia de uma situação

limite do ecossistema mundial somente foi possível graças ao fornecimento de uma

base de caráter científico (GUERRA et al., 2007).

Diante do cenário de crise, já em 1989, a Holanda adotou critérios ecológicos

na rotina de todos os departamentos de governo, o que o tornou em um dos países

com os melhores indicadores ambientais do mundo (GIDDENS, 2000).

A Alemanha, seguindo o mesmo caminho, hoje é um dos mais destacados

países do mundo em termos de medidas ambientais como: eficiência energética1 ou

emissões per capita de poluentes como o dióxido de carbono ou dióxido de enxofre

(GIDDENS, ibidem).

Estes são resultados pontuais diante da complexa situação global, contudo

relevantes, pois são ações que resultaram de fóruns de debates realizados a partir

das três últimas décadas do Século XX. Período este, em que o capital humano

passou a ser um recurso abundante, enquanto o natural passou a ser escasso, em

uma situação de meio ambiente degradado, o inverso da situação que tínhamos no

começo da revolução industrial. Nesta perspectiva, Giddens (2000), afirma que

enfrentar o risco ecológico será uma questão problemática para um futuro previsível.

Desde então, percebe-se a necessidade da incorporação da variável

ambiental nas políticas setoriais para o avanço de um desenvolvimento sustentável

e conseqüente apaziguamento da crise ambiental global.

Em consórcio com isto, é ávida a necessidade de um rompimento com a

concepção desenvolvimentista ou economicista mais tradicional, tendo em vista que

a maioria dos projetos que causam graves danos ambientais prioriza questões de

caráter estritamente econômico.

Além de problemas ambientais já conhecidos como: o desflorestamento, a

extinção de espécies animais e vegetais, a poluição, as alterações climáticas, a

desertificação e a escassez de água potável, o crescimento populacional

desregulado, a nível global, e, sobretudo nos países periféricos, vem causando

1 Quantidade de energia gasta para produzir uma unidade do produto nacional.

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sérios impactos no meio ambiente, como ocupação de áreas mananciais, aumento

do desflorestamento e a conseqüente degradação do meio ambiente (JESUS, 2004).

Problemas estes que possuem estreita ligação entre si, e fazem parte da

complexa crise ambiental global, em que as ações, ou simplesmente a inércia no

plano nacional, impactam diretamente no todo, ou seja, no âmbito global.

De acordo com Moreira & Giometti (2008), os países desenvolvidos, na sua

maioria localizados no hemisfério norte, maiores responsáveis históricos pelas

emissões de GEEs2 na atmosfera, devem ser alvos das ações mais radicais e

imediatas, para amenizar alguns problemas, como no caso do aquecimento global.

Entretanto, é necessária a compreensão das formas pelas quais as pessoas e

as sociedades se relacionam com o meio ambiente, de forma a estabelecer, de

maneira mais razoável, a responsabilidade diferenciada pela produção da totalidade

da crise ambiental global e as tarefas correspondentes necessárias para a solução

ou apaziguamento.

Neste caso, de forma mais radical, Guerra et al. (2007), afirma que se faz

necessária a adoção de uma visão desafiadora dos modelos simplistas de análises

das relações entre o meio ambiente e a esfera econômica. Inclusive, considerando a

localização histórico cultural do conceito de desenvolvimento, o que segundo ele,

conduz ao reconhecimento do seu caráter ocidental, além dos mecanismos de

enriquecimento e de exclusão que o mesmo historicamente envolveu.

Um grande passo alcançado no âmbito global foi a elaboração da Carta da

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,

realizada no Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992, em que o princípio 15

explicita:

Principle 153: the Precautionary Approach: “In order to protect the environment, the precautionary approach shall be widely applied by states according of their capabilities where there are threats of serious or irreversible, lack of full scientifically certainty shall not be used as a reason for postponing cost-effective measures to prevent environmental degradation (MACHADO; DIAS; apud JESUS, 2004).

2 Gases de efeito estufa. 3 Princípio 15: Princípio da Precaução: “Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades, quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental” (tradução própria).

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Entretanto, de acordo com Chaves & Rodrigues (2006), para a efetivação

deste princípio, é necessário o estabelecimento de regras que possam garantir uma

aplicação sensata e previsível, o que ainda constitui um desafio a ser superado.

As questões pertinentes ao futuro do meio ambiente e à solução da crise

ambiental dependem da evolução do conteúdo global dos modos de

desenvolvimento no norte como no sul (modos de consumo, escolha de tecnologias,

organização do espaço, gestão dos recursos e dos resíduos). Além de atentar para

o fato de que reintegrar as políticas de meio ambiente numa perspectiva de

desenvolvimento econômico vem a confirmar um consenso político internacional de

manter o desenvolvimento econômico no centro das decisões e da sociedade, indo

de encontro a toda decisão pautada na conservação da natureza (GODARD, 1997).

Conforme Hawken et al. (2000), os fatores limitadores do desenvolvimento

econômico futuro são a redução da disponibilidade e da funcionalidade do capital

natural, em particular dos serviços de sustentação da vida que não têm substitutos e

atualmente carecem de valor de mercado, já que nem mesmo o avanço tecnológico

tem como repor esses serviços, e as máquinas se mostram igualmente incapazes de

substituir a inteligência humana, o conhecimento, o saber, a capacidade

organizacional e a cultura. Ressaltando ainda que problemas como o aquecimento

global podem ter conseqüências sérias para o planeta e para a sua população,

como, por exemplo, mudança nos padrões climáticos mundiais.

Por conseguinte, as implicações sobre a regulação do meio ambiente e a

solução da crise ambiental global são transversais e devem ser consideradas na sua

interdisciplinaridade, incluindo aspectos históricos, geográficos, sociológicos, éticos,

econômicos, de ciência e tecnologia além de interesses de políticas públicas, ciência

política e relações internacionais.

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3. PANORAMA DO DEBATE INTERNACIONAL SOBRE POLÍTICA AMBIENTAL

Os problemas ambientais começaram de fato a fazer parte da agenda

internacional com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente

Humano, realizada em Estocolmo, Suécia, no ano de 1972, da qual resultou a

Declaração de Estocolmo, essa que introduziu na agenda política internacional a

dimensão ambiental como condicionadora e limitadora do modelo tradicional de

crescimento econômico e uso dos recursos naturais.

Num contexto de reconhecida interdependência crescente, o tema do meio

ambiente tornou-se paradigmático por naturalmente ter sido tratado, desde o

princípio, em sua particularidade transnacional.

Particularidade esta que, para Tostes (2006), implicou diretamente nos rumos

dos debates a seu respeito, os quais veem levando à reflexão sobre a convergência

de questões econômicas, sociais, culturais e políticas, estas que não mais se

dissecam e nem se resolvem em espaços territoriais delimitados por uma nação ou

por uma burocracia política, e sim no âmbito internacional.

Nesta perspectiva, ficou implícita a necessidade de construir uma agenda

comum entre as diversas esferas de poder, o que constituiu e ainda constitui um

grande desafio a ser superado.

Atualmente uma nova concepção de política de meio ambiente começa a

forjar-se em plena aceleração da globalização, bem como o debate sobre a

emergência de uma sociedade civil global.

Entretanto, segundo Kransner apud Tostes (2006), o principal fator de um

regime internacional, o qual proponha uma política ambiental global, é a

convergência dos atores participantes em relação às normas, regras, princípios e

procedimentos de tomada de decisão.

Levando em consideração que no começo da década de 1990, se consolidam

o princípio e o valor de que a conservação do planeta é um interesse social e não

apenas estatal e tem caráter universal (TOSTES, 2006).

Diante desse cenário, contudo, vale ressaltar que em respeito a temas

particulares da crise ambiental, como a mudança climática, se faz necessária uma

política internacional, afastando assim a decisão do cidadão comum, prerrogativa

essa que, segundo Jordan apud Azevedo et al. (2007), tornaria a regulação mais

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eficiente, a saber, decisão tomada em outras instâncias e com critérios mais

técnicos.

No tocante às esferas de aplicação e legislação ambiental, de acordo com

Azevedo et al. (2007), é interessante considerar que os governos locais e estaduais,

em todo mundo, são freqüentemente os níveis mais corruptos da administração,

porque as redes pessoais mantêm-se com mais força do que no nível federal.

Situação esta que de alguma forma implica na descentralização da política

ambiental.

Além disso, este autor ainda externaliza que, constata-se, em escala mundial,

que os governos locais, em sua maioria, não têm exercido adequadamente o seu

dever de zelar pelo meio ambiente sadio e equilibrado, e por vezes, são autores da

própria contravenção.

Nesta perspectiva, pode-se analisar o caso do Brasil, onde existe a

necessidade da descentralização da gestão ambiental do país. Entretanto, é de

suma importância atentar para a capacidade de governança dos subníveis estadual

e local, já que isto está ligado diretamente à necessidade de um aparato institucional

para os municípios e estados praticarem uma política ambiental efetiva.

Outro aspecto relevante do debate contemporâneo é o papel da informação

científica na formação dos acordos e políticas internacionais, ou do conhecimento

derivado da pesquisa científica na condução da ação coletiva em matéria de meio

ambiente, em que os estudos ressaltam a necessidade do debate sobre a relação

entre conhecimento, interesse e poder na política internacional (ANDRESEN &

OSTRENG; JASANOFF; HAAS; LITFIN; ANDRESEN ET AL.; PARSON; apud

TOSTES, 2006).

Tendo em vista que, até então, os estudos que exploram essa relação, entre

ciência e política na arena internacional, ainda não chegaram a conclusões

completamente coerentes. Porém, em muitos casos analisados tem-se verificado

que a informação e o conhecimento científico são levados em conta nos debates e

acordos internacionais, mas que ao final do processo de tomada de decisão, estes

não são os principais determinantes dos “outcomes” (DIMITROV apud TOSTES,

2006).

Por outro lado, segundo a autora, as instâncias onde ocorrem os debates

contemporâneos permitem, através de amplos veículos de comunicação, que

conhecimento e valores científicos sejam divulgados através de informação.

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Nesta perspectiva, vislumbra-se que o tema do meio ambiente facilita uma

reflexão preliminar sobre a relação entre o aumento de poder de influência de atores

não-estatais no aumento da busca de regulação internacional, mas, por outro lado

também é capaz de revelar as dificuldades da substituição da luta por poder pelo

diálogo racional ou científico entre grandes potências. Nestes debates, é de

fundamental importância, destacar o papel chave assumido pelas ONGs em suas

participações em eventos internacionais e conferencias: o papel dos especialistas.

Conforme Tostes (ibidem), a mudança de perspectiva sobre o “pertencimento”

do meio ambiente e sobre a idéia de patrimônio comum da humanidade, logo, sobre

a responsabilidade de sua defesa, traz uma quebra de legitimidade sobre qualquer

argumento de poder e tem levado grandes potências ao diálogo ou respeito a

direitos mínimos. Nesta área, a autora afirma que o debate e a pressão de grupos de

interesses e setores da sociedade civil levaram a uma revisão sobre o âmbito de

atuação e a esfera de pertencimento do poder sobre o destino de bens considerados

da humanidade.

Segundo Keck & Sikkink, apud Tostes (2006), o que há no mundo

interdependente contemporâneo é a emergência de uma sociedade civil que

interage em uma fragmentada arena de disputas no campo das relações

internacionais, uma sociedade civil transnacional, além de outros atores importantes,

como ONGs, o meio acadêmico-científico, organismos internacionais e outros.

No caso Brasil, no tocante à legislação ambiental, Azevedo et al. (2007),

propõe que poderíamos imaginar o Estado federal brasileiro participando como

coordenador das políticas e ações ambientais e não como comandante, diante do

complexo panorama geográfico, social, econômico e cultural do país. Ainda de

acordo com este autor, um grande avanço, neste caso foi a formulação da Política

Nacional de Meio Ambiente - PNMA, de 1981, que abriu caminho para a

descentralização da gestão e a participação social institucionalizada e a implantação

do Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA, o qual integra as três esferas

do governo.

Desta forma, ele afirma que o processo de descentralização política envolve a

transferência de autoridade e as respectivas competências legais e administrativas

para outra instância de governo, sem o Estado federal se eximir do papel de

coordenador/supervisor dessas políticas, além de transferir poder e recursos aos

níveis mais próximos dos cidadãos e de seus problemas. Salientando, que

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descentralizar, neste caso, possui o sentido de estabelecer novas relações entre os

diversos níveis de poder, limitando as zonas de responsabilidade exclusiva e

ampliando-se as de responsabilidade conjunta, tanto em níveis supranacional como

subnacional.

Entretanto, este mesmo autor ainda afirma que é preponderante ressaltar que

o processo de descentralização implica na necessidade de uma sustentabilidade

institucional, para a formulação de um planejamento integrado aliado a políticas

ambientais transversais.

3.1 A Rio 92 e o Protocolo de Quioto: algumas considerações

No âmbito das relações internacionais, deve-se destacar a importância, talvez

mais simbólica que efetiva, da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente

e Desenvolvimento - UNCED, conhecida também como Rio 92, onde apesar dos

conflitos de interesse entre o norte e o sul, se estabeleceram compromissos, e onde

também foi proposto e acordado que fossem realizadas conferências freqüentes

sobre o clima.

Segundo Rodrigues, apud Moreira & Giometti (2008), a Rio 92 se caracterizou

por oferecer um objetivo bem sedimentado que tem que ser cumprido, mas não

determina o modo de implementação, ou seja, ela possibilita que ao longo do tempo

vários caminhos possam ser tomados para se alcançar o objetivo final, a saber, a

busca da sustentabilidade através do apaziguamento do aquecimento global e da

diminuição na emissão de poluentes por parte dos países participantes da

convenção.

De acordo com Tostes (2006), a Conferência das Nações Unidas sobre o

Meio ambiente e Desenvolvimento – UNCED, no Rio em 92, é o marco para a

aceleração da feitura de acordos internacionais sobre meio ambiente e

aparecimento de fóruns paralelos às conferencias internacionais em que só os

Estados têm representação.

Desde a Rio 92, o Brasil vem exercendo papel de destaque nas negociações

internacionais relacionadas ao meio ambiente, o que ficou ainda mais evidente

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durante as negociações para a adoção do Protocolo de Quioto4. Além disso, o Brasil

possui ainda uma relevante característica, a de possuir uma matriz energética

majoritariamente limpa.

Para Moreira & Giometti (2008), o Protocolo de Quioto, foi também um marco

de suma importância no âmbito internacional, pois este estabeleceu o “Princípio das

responsabilidades comuns, porém diferenciadas”, concluindo ainda que somente por

meio da cooperação internacional poderia ser resolvido um problema da magnitude

do aquecimento global.

Entretanto, o Protocolo de Quioto precisa formar-se como um acordo

internacional de cumprimento legal no longo prazo, o que provavelmente só será

possível com a adesão de todos os países, e necessariamente dos Estados Unidos

da América.

É válido salientar ainda que e um aspecto fundamental no processo de

cooperação internacional, costurado por fóruns de debate internacional, seria a

canalização de recursos financeiros e a transferência tecnológica do norte para o sul

no sentido de que os países desenvolvidos ajudassem os países em via de

desenvolvimento a saltarem algumas etapas neste processo, o que até então ainda

não foi alcançado.

4. O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM DIFERENTES PERSPECTIVAS

No início da década de 1970, sob a direção do PNUMA5, encontra-se a

primeira corrente de pensamento para promover o que ficou conhecido como

“estratégias de ecodesenvolvimento” (SACHS, 2002).

Estas estratégias seriam concebidas como uma nova abordagem do

desenvolvimento, em que as cada uma delas teria sua base fundada no

“atendimento das necessidades fundamentais” (aspas do autor) – habitação,

alimentação, meios energéticos de preparação de alimentos, água, condições

4 O Protocolo de Quioto é um acordo internacional para reduzir as emissões de gases de efeito estufa dos países industrializados e para garantir um modelo de desenvolvimento limpo aos países em desenvolvimento. 5 Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

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sanitárias, saúde e decisões nas participações – das populações menos favorecidas,

prioritariamente nos países em desenvolvimento, na adaptação das tecnologias e

dos modos de vida às potencialidades e dificuldades específicas de cada ecozona,

na valorização dos resíduos e na organização da exploração dos recursos

renováveis pela concepção de sistemas cíclicos de produção, sistematizando os

ciclos ecológicos.

Nesta mesma linha, seguem Chaves & Rodrigues (2006) quando afirmam que

para discutir o ecodesenvolvimento fazem-se necessárias algumas mudanças

políticas nacionais, além de uma reestruturação das relações norte-sul. Isto

significaria uma mudança de postura, nos modos de vida e desenvolvimento dos

países industriais, considerada condição fundamental para a harmonização dos

direitos ao desenvolvimento, não só de alguns países, mas de todos, bem como a

preservação do meio ambiente do Planeta. Desde o princípio, esta proposta foi

rotulada como radical porquanto não agradou a muitos, motivo pelo qual foi logo

marginalizada.

Para Sachs (2002), o desenvolvimento sustentável é um enfoque de

desenvolvimento sócio-econômico orientado: para atender a satisfação de

necessidades básicas; para reconher o papel fundamental que a autonomia cultural

desempenha nesse processo de mudança e; para elencar um conjunto de critérios a

fim de se poder avaliar a pertinência de ações mais específicas. O referido autor

afirma ainda que existem três pilares básicos para este novo modelo de

desenvolvimento, a saber: a relevância social; a prudência ecológica e; a viabilidade

econômica.

Esta proposta de desenvolvimento funda-se na crescente exigência, em

escala global, de um modelo equilibrado como forma alternativa do aproveitamento

racional e sustentável da natureza em benefício das populações, entendido como

“prudência ecológica”, no sentido de que elas possam incorporar a importância da

conservação como componente estratégico de desenvolvimento (SACHS, ibidem).

Neste ponto o autor entende o desenvolvimento sustentável como vantagem

competitiva para os países que participam do comércio internacional.

Segundo Godard apud Chaves & Rodrigues (2006), foi após a década de

1970 que se começou a estabelecer a consciência de que a raiz dos problemas

ambientais, vivenciados até então, estariam nas formas de desenvolvimento

tecnológico e econômicos empregados.

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A partir de então, o complexo e controverso tema do “desenvolvimento

sustentável” começou gradativamente a ocupar os debates políticos, científicos e

sociais, ao passo que as evidencias científicas apontavam uma estreita ligação entre

o crescimento global da produção e do consumo, com a degradação dos recursos

naturais e desequilíbrios ecológicos que ameaçam o desenvolvimento sustentável e

equitativo da humanidade.

Conforme Godard apud Chaves & Rodrigues (2006), ainda nesta mesma

década, discutiu-se também o grau de compatibilidade entre o desenvolvimento

econômico e a conservação do meio ambiente, colocando em descrédito esta nova

proposta de desenvolvimento, além de sugerir que não se poderiam tomar decisões

políticas baseadas em um cenário de incertezas e onde os saberes ainda não

estavam estabilizados. Esta retórica perdurou até os primórdios do Século XXI, e foi

utilizada por alguns líderes políticos, a exemplo do então Presidente dos Estados

Unidos da América, George W. Bush, no seu primeiro mandato.

Para Godard (1997), uma das primeiras possibilidades a fim de chegar a um

desenvolvimento sustentável e a uma melhor qualidade de vida para os povos, seria

a de que os Estados reduzissem e eliminassem os modos de produção e consumo

não viáveis alem de promover políticas demográficas apropriadas, este que constitui

o Princípio 8 da Declaração do Rio Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento6.

A Declaração do Rio, no Princípio 4, ainda rege que “para chegar a um

desenvolvimento sustentável, a proteção do meio ambiente deve fazer parte

integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada

isoladamente”.

Segundo Leff apud Sartório (2004), se faz necessário também, desenvolver

as potencialidades da autogestão em práticas produtivas ecologicamente

adequadas, promovendo a ecoeficiência7, melhorando as condições de existência e

aumentando a qualidade de vida.

6Documento formulado pela Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, tendo se reunido no Rio de Janeiro, de 3 a 14 de junho de 1992, reafirmando a Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, adotada em Estocolmo em 16 de junho de 1972. Disponível em: http://www.mma.gov.br/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=18&idConteudo=576 [Capturado em: 12.08.08] 7 Aperfeiçoamento do uso do material e redução do impacto ambiental (HAWKEN; LOVINS, A.; LOVINS, L. H., 2000).

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Segundo o relatório Brundtland8 apud GODARD (1997, p. 113), o

desenvolvimento sustentável “é o que responde às necessidades do presente sem

comprometer a capacidade das gerações futuras de responder às suas próprias

necessidades”. Esta definição apesar de ser a mais difundida midiaticamente, é

bastante controversa, logo criticada, já que permite várias interpretações.

Nesta perspectiva, Dencker e Kursch apud Sartório (2004) afirmam que o

meio ambiente deve integrar-se ao desenvolvimento para alcançar a

sustentabilidade que preencha as necessidades do presente, sem comprometer as

gerações futuras quanto à satisfação de suas próprias necessidades.

Numa outra perspectiva, esta mais desenvolvimentista, o desenvolvimento

sustentável significa que o desenvolvimento deve alcançar um ritmo o mais

sustentável possível até que ele se torne irreversível, onde a sustentabilidade é

entendida como durabilidade (GUERRA et al., 2007).

Em contrapartida os ecologistas entendem o desenvolvimento sustentável

como uma proposta de limitação do desenvolvimento ao ritmo que o ecossistema

pode suportar, o que pode, por conseguinte, garantir sua manutenção a longo prazo

(GUERRA et al., 2007).

Segundo Chaves & Rodrigues (2006), parte destas perspectivas apontam

para a exigência da sustentabilidade como valor normativo e que permita formulação

de objetivos coletivos, aspecto que tem sido até certo ponto alcançado timidamente

em nível global.

Para alguns autores a noção de desenvolvimento sustentável ainda é incerta,

uma vez que se encontra no cruzamento de várias tradições intelectuais, mas que,

atualmente, na sua maioria, serve para expressar um desejo de conciliação entre

desenvolvimento econômico e a conservação do meio ambiente a longo prazo.

A análise destas distintas abordagens do desenvolvimento sustentável

permite vislumbrar, em grande parte, que existem limites e possibilidades nas

diferentes interpretações do que constitui este modelo paradigmático de

desenvolvimento.

8 Também conhecido como “Nosso futuro comum” é o relatório final dos estudos da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, chefiado pela então primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland.

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5. UM NOVO PARADIGMA: A VISÃO SISTÊMICA DE MUNDO

A relação meio ambiente x Global Environment Politics9 (GEP) defende a

idéia de que não há mais a possibilidade de uma abordagem efetiva sobre meio

ambiente sem a consideração das conexões globais e do processo de

interdependência. Sendo assim, os novos enfoques de pesquisa sobre o meio

ambiente relacionam mais fortemente o local-global, quando reconhecem que as

implicações sobre o meio ambiente são transversais e que percorrem múltiplas

esferas (TOSTES, 2006).

Para a referida autora, as mudanças do meio ambiente e as relações entre

forças políticas globais devem incluir o papel dos Estados, dos atores multilaterais,

do direito internacional, das corporações, dos movimentos sociais de caráter

transnacional, das organizações não governamentais de alcance internacional, do

desenvolvimento tecnológico e da ciência.

Nesta perspectiva, surge um novo paradigma, o paradigma ecológico, que

conforme Capra (1997) constitui uma nova visão da realidade, a visão sistêmica, e

esta se baseia na consciência do estado de inter-relação e interdependência

essencial de todos os fenômenos físicos, biológicos, psicológicos, sociais e culturais.

Este autor, ainda afirma que esta nova visão transcende as fronteiras disciplinares e

conceituais da contemporaneidade, pois, a concepção sistêmica vê o mundo em

termos de relações e de integração, se contrapondo à visão mecanicista-

reducionista cartesiana.

O pensamento sistêmico é um pensamento de processo, onde a forma torna-

se associada ao processo, à inter-relação e à interação, sendo que os opostos são

unificados através da oscilação. Nesta perspectiva, Capra (ibidem), afirma que a

totalidade da biosfera - nosso ecossistema planetário - é uma teia dinâmica e

altamente integrada de formas vivas e não-vivas, e que embora essa teia possua

múltiplos níveis, as transações e interdependências existem em todos os seus

níveis.

Para Leff apud Sartório (2004), a superação do padrão de conhecimento

fragmentado dominante, vai depender da nossa capacidade de perceber e discutir a

9 Política Global de Meio Ambiente.

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problemática em toda a sua complexidade e totalidade, não centrando as análises

na separação, mas buscando a construção de enfoques mais integrados e

democráticos de percepção de questões ambientais.

Nesta mesma linha, Capra (1997, p. 260) afirma que “embora possamos

discernir partes individuais em qualquer sistema, a natureza do todo é sempre

diferente da mera soma das suas partes”. Para o referido autor, em virtude da

natureza não-linear dos percursos e interligações dentro de um ecossistema,

qualquer perturbação séria não estará limitada a um único efeito, mas poderá

propagar-se a todo o sistema e até ser ampliada por seus mecanismos internos de

realimentação, daí a necessidade de uma abordagem sistêmica e global da crise

ambiental contemporânea.

O estudo detalhado dos ecossistemas nestas últimas décadas mostrou com

muita clareza que a maioria das relações entre organismos vivos são

essencialmente cooperativas, caracterizadas pela coexistência e a

interdependência, e em caráter de simbiose10 em vários graus. Onde, embora haja

competição, esta ocorre usualmente num contexto mais amplo de cooperação, de

modo que o sistema maior é mantido em equilíbrio (CAPRA, ibidem).

Esta perspectiva contrasta com a dos darwinistas sociais que veem a vida

exclusivamente em termos de competição, luta e destruição. Pois a concepção que

eles tinham da natureza ajudou a criar uma filosofia que legitima a exploração e o

impacto desastroso de nossa tecnologia sobre o meio ambiente natural.

Conforme Capra (ibidem), a agressão excessiva, a competição e o

comportamento destrutivo são aspectos predominantes apenas dentro da espécie

humana, e eles têm que ser tratados em termos de valores culturais, em vez de se

procurar explicá-los pseudo-cientificamente como fenômenos intrisicamente

naturais.

Ainda de acordo com este mesmo autor, em nossas interações com o meio

ambiente há uma continua permuta e influência mútua entre o mundo exterior e o

nosso mundo interior. Esta idéia fundamenta-se na Hipótese Gaia: em que o planeta

é visto como um único organismo vivo, um ser próprio e independente, um

organismo Gaia, um ser planetário vivo.

10 Associação benéfica de dois organismos que vivem em comum.

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Sendo assim, a teoria dos sistemas considera que o meio ambiente é, em si

mesmo, um sistema vivo capaz de adaptação, dentro do seu equilíbrio, e evolução.

Ou seja, esta teoria afirma que existe aí um processo de co-evolução de organismos

mais meio ambiente (CAPRA, 1997), em que o meio ambiente e o ser humano

evoluem juntos, sendo o Planeta, o ser total contido, de algum modo, em cada uma

das suas partes.

Conforme Guerra et al. (2007), este paradigma sistêmico é a matriz principal

da formulação do debate sobre a crise ambiental global, e desdobra-se na iminência

da necessidade de uma maior interdisciplinaridade e diálogo entre as ciências. Num

panorama que exige a necessidade de conhecimentos interdisciplinares e

planejamento intersetorial do desenvolvimento que trace paralelo entre as questões

ambientais, sociais, econômicas, políticas e cientificas.

O sistemismo também roga a necessidade de uma responsabilidade de

coletiva, porém diferenciada, perspectiva esta já vislumbrada na Carta da

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,

realizada no Rio de Janeiro em 1992, pelo enfrentamento dos problemas atuais do

ecossistema planetário e dos previstos para um futuro próximo.

A concretização dessa visão sistêmica da realidade, na relação sociedade

meio-ambiente, permitiria a reconciliação entre seres humanos e os sistemas vivos.

Num ambiente em que a ação conjunta, mesmo descentralizada nas suas

competências, poderia promover um processo sinergético dos poderes e esferas

envolvidas.

Esta necessidade de se favorecer a eliminação das barreiras entre as

diferentes disciplinas e tradições de pensamento, busca a construção da

interdisciplinaridade, que ainda se articula com certa dificuldade, tendo em vista os

rumos construídos pelo próprio conhecimento científico.

Entretanto, segundo Godard (1997), esta interdisciplinaridade permitiria

estabelecer ligações entre as ciências da natureza no interior das análises

econômicas, promovendo uma interlocução fecunda entre as diferentes tradições de

pensamento.

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6. A QUESTÃO SOCIOAMBIENTAL

A construção da interdisciplinaridade, com bases fundadas na visão sistêmica

da realidade, permitiria trazer para o debate ambiental questões cruciais tais como; a

pobreza em que vivem amplos setores da população mundial, o

subdesenvolvimento, o acesso a níveis dignos de qualidade de vida entre outros

problemas sociais que dizem respeito à coletividade do planeta, mas que por si só

não conseguiram promover uma mobilização internacional para solucioná-los.

Para Chaves & Rodrigues (2006), a proposta de desenvolvimento sustentável

abrange, ao mesmo tempo, aspectos econômicos, sociais, culturais, políticos,

tecnológicos e ecológicos, buscando uma integração entre estes vários fatores.

Nesta perspectiva, Sartório (2004), propõe que o desenvolvimento sustentável

possa servir de via para a redistribuição de poder e riqueza, do acesso e da

apropriação dos recursos naturais, já que os bens ambientais são públicos e todos

deveriam ter direitos iguais sobre eles.

Sendo assim, Guerra et al. (2007), conclui que se faz necessária uma

intervenção, nas áreas com potencial e pobreza, de um desenvolvimento capaz de

harmonizar a eficiência econômica, a preservação ecológica e a equidade social,

sendo respeitados os interesses das comunidades locais e alcançadas as metas do

desenvolvimento regional, partindo do princípio que a exigência de sustentabilidade

não torna homogênea as diferentes realidades socioeconômicas e culturais que

constituem o planeta.

Nesta perspectiva, para Sartório (2004), a idéia de um desenvolvimento

sustentável estaria relacionada à de um “capitalismo sócio-natural”, já que se

evidencia que algumas questões sociais precárias possuem séria implicação na

questão ambiental global, além de correlacionar à concentração de danos

ambientais aos locais onde vivem populações pobres.

Neste contexto, Castells apud Sartório (2004), propõe que poderiam se

promover as potencialidades de autogestão em práticas produtivas ecologicamente

adequadas, melhorando as condições de existência e aumentando a qualidade de

vida, através da transformação dos meios de produção e de consumo, gerando uma

nova organização social.

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Para Hawken et al. (2000), a sustentabilidade econômica e ambiental

depende diretamente da superação das desigualdades globais de renda e bem-estar

material, pois o modelo de desenvolvimento econômico calcado no crescimento a

qualquer custo conduziu a maioria das sociedades ao estabelecimento de padrões

insustentáveis de consumo, além de provocar em escala mundial, distorções, tais

como a concentração de renda, o aumento do nível de pobreza e o crescimento

populacional, o que constituem sérios obstáculos à implementação de uma política

ambiental global.

Sendo assim, Chaves & Rodrigues (2006), concluem que existe uma ávida

necessidade de se constituir uma estrutura capaz de unir o talento empresarial para

solucionar os profundos problemas ambientais e sociais do mundo. Entretanto, se

evidencia que as políticas de meio ambiente não podem ser tratadas às margens

dos processos de ação coletiva sinérgica e de organização econômica.

Além disso, para Jesus (2004), é importante ressaltar também o papel da

educação ambiental como instrumento de promoção da sustentabilidade, a qual

permite formar um ambiente mais favorável para que a sociedade seja mais

equânime e informada sobre os seus direitos e deveres relativos ao meio ambiente.

Situação esta que favorece a eclosão de uma maior pressão social por políticas

ambientais efetivas.

Por fim, segundo Guerra et al. (2007), deve-se levar em consideração ainda

que para as populações pobres, as noções de conservação e proteção ambiental

são contestáveis, pois para eles é menos uma questão de qualidade de vida e sim

de sobrevivência, o que até então nas linhas gerais de discussão a respeito da

problemática ambiental global tem sido secundarizado.

Neste panorama, as linhas de debates externam que as estratégias e políticas

derivadas destes fóruns vem manifestando um alto poder de concretização sobre

realidades sociais, sem que alcacem modificações efetivas nos níveis de

desenvolvimento econômico, social ou humano (GUERRA et al., ibidem).

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho procurou analisar questões contemporâneas no que

tange ao desenvolvimento sustentável enquanto resposta à crise ambiental global,

temas esses diretamente ligados, já que o desenvolvimento sustentável parte do

princípio que existe uma crise ambiental global. Este novo paradigma econômico

poderia ser a alternativa de substituição ou complementação do atual modelo

capitalista, o qual nos conduziu à uma situação de exaustão dos recursos naturais,

dentre outras distorções, causando danos, muitos deles, talvez, irreversíveis ao meio

ambiente como um todo.

Numa breve análise panorâmica do debate internacional acerca da crise

ambiental global, é importante destacar o papel fundamental de alguns atores deste

cenário, como a contribuição cientifica para a fundamentação do debate entre

Estados, além do papel de novos atores do cenário internacional, como as ONGs e

a sociedade civil organizada que estão atuando de forma contundente neste âmbito.

Em adição a isso, foram analisados alguns aspectos da política ambiental

brasileira que segue uma tendência à descentralização, devido às muitas

deficiências na sua aplicabilidade. Mas, entendendo descentralização das políticas,

no sentido de atribuir competências e coordenar ações, além de proporcionar um

ambiente favorável para a sua aplicabilidade.

Nesta ótica, foram analisadas diferentes perspectivas acerca do

desenvolvimento sustentável, algumas complexas e outras até contraditórias, onde

ao menos forma-se um consenso quase unânime de que não podemos recorrer ao

mercado para resolver questões pertinentes ao meio ambiente.

Neste novo modelo desenvolvimentista, prevaleceria o princípio de gerar o

bem estar humano sem a paradoxal destruição do meio ambiente, considerando a

interdependência fundamental entre a produção e o uso do capital produzido pelo

homem, por um lado, e a conservação e o fornecimento do capital natural por outro.

Entretanto, é sabido, também, que a sustentabilidade deveria ter diferentes

estruturas a partir das diferentes escalas de organização na qual se encontre

inserida.

Dentro desta linha, analisou-se uma nova proposta de visão da realidade, a

visão sistêmica, esta que é a matriz fundamental do debate acerca da crise

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ambiental global e que fornece as bases para a proposta de uma política ambiental

global, onde os contextos sociais, econômicos e culturais seriam levados em

consideração de acordo com a sua aplicabilidade.

Em uma análise mais superficial foram abordados aspectos relevantes da Rio

92 e do Protocolo de Quioto, estes que constituem eventos de suma importância no

contexto global da crise ambiental e que abrem caminho para novos acordos

internacionais e um maior diálogo internacional.

Aliado a isso, a questão socioambiental também foi analisada, já que baseado

na perspectiva sistêmica é sabido que existe uma intima relação entre questões

sociais e ambientais, a exemplo do crescimento populacional desregulado e a

conseqüente ocupação de áreas mananciais, e que a proposta de desenvolvimento

sustentável poderia servir de via para um debate mais amplo a respeito dos muitos

problemas sociais contemporâneos.

É pertinente destacar que apesar de tratarmos aqui a crise ambiental na sua

amplitude, as conseqüências de algumas de suas vertentes não estão longe do

nosso cotidiano, como por exemplo, no que tange as mudanças climáticas, onde já

se percebem alterações climáticas na nossa região, com um período de chuvas mais

curto, porém mais intenso e noites mais quentes, como foi revelado por pesquisas

feitas pelo Instituto de Gestão de Águas e Clima-INGÁ.

Além disso, outras possíveis conseqüências podem nos afetar, como com o

aquecimento global e o conseqüente aumento nos níveis dos oceanos, este que

afeta diretamente as cidades costeiras, como Ilhéus, que correm o risco de sofrerem

inúmeros problemas com isso.

Sendo assim, percebemos que a crise ambiental global afeta o mundo como

um todo, onde as conseqüências mais graves infelizmente serão sofridas pelos

países periféricos e suas populações logo, nós, como sociedade civil organizada

junto com outras instâncias públicas, privadas e do terceiro setor devemos começar

a agir.

É válido ainda destacar outros aspectos relevantes do debate internacional:

Para Guerra et al. (2007), é necessária cautela ao abordar os eventuais

efeitos do discurso que defende o globalismo ecológico, ou da constituição da crise

ambiental enquanto fenômeno planetário, em termos da construção da licença

política para a intervenção de países capitalistas desenvolvidos em áreas internas

de países subdesenvolvidos e em via de desenvolvimento, desde que classificadas

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como patrimônio mundial, devido à atribuição que lhes é feita de um papel

significativo na salvação do planeta. Pois, esta retórica já foi utilizada por algumas

lideranças políticas de países ricos e que sem dúvida constitui um discurso hipócrita,

egoísta e perigoso para os interesses gerais e dos países periféricos.

Este autor, destaca ainda o perigo da rápida aceitação e disseminação do

conceito e das propostas de intervenções concretas na Amazônia brasileira e em

outras áreas do país, delas resultantes tanto por parte da tecnocracia

governamental, quanto por parte de intelectuais, ONGs e outras entidades da

sociedade civil, sugerindo que esta proposta deva ser analisada minuciosamente,

pois outros interesses, dentro das relações de poder deste cenário, podem estar

sendo veiculados sob o rótulo de desenvolvimento sustentável ou conservação

ambiental.

É importante ainda refletir sobre as proposições de países capitalistas

desenvolvidos, em relação aos países pobres e em desenvolvimento, que implicam,

em grande medida, a revisão dos modelos de produção e de consumo de recursos

naturais nas áreas definidas como nichos ecológicos, enquanto eles continuam a

desfrutar de altos padrões de vida, inclusive somente possibilitados pelas

austeridades das nações pobres ou indivíduos pobres.

Guerra et al. (2007) destaca que a crise ambiental global e a proposta do

desenvolvimento sustentável poderiam estar se transformando em estratégias

funcionalizadas no sentido de criar condições para uma gestão internacionalizada

dos recursos naturais, pensada de forma a favorecer os interesses das forças

político-econômicas dominantes, o que sem dúvida vai de encontro aos anseios dos

países periféricos e suas populações.

Desta forma, todas as propostas apresentadas devem ser analisadas, pois é

sabido que no cenário do debate internacional estão presentes muitos interesses e

alguns que não são visam um beneficio geral e sim particular de um determinado

grupo de interesse.

Por fim é válido salientar que a promoção de um desenvolvimento sustentável

global tem um preço, e esse é muito elevado, agora resta saber quem vai pagar esta

conta ou como vamos dividir o valor: se entre os países já desenvolvidos, ricos e

maiores poluidores históricos, ou se entre os países em desenvolvimento, os quais

precisariam poluir bastante para chegar ao patamar de desenvolvimento dos países

ricos.

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É em torno desta questão que os grandes debates hoje devem ser

formulados, a fim de chegar a mais avanços na aplicabilidade do que já foi discutido

até então, já que o desenvolvimento sustentável deve ser entendido como caminho

e não como um fim em si mesmo.

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