o demônio que se transformou em vermes”: a tradução da saúde pública no caribe britânico,...

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571 v. 13, n. 3, p. 571-89, jul.-set. 2006 “O Demônio que se transformou em vermes”: a tradução da saúde pública no Caribe Britânico, 1914-1920 “The demon that turned into worms”: the translation of public health in the British Caribbean, 1914-1920 Steven Palmer Departamento de História, Universidade de Windsor 401 Sunset Ave. – Windsor Canada N9B 3P4 [email protected] PALMER, S.: “O demônio que se transformou em vermes”: a tradução da saúde pública no Caribe Britânico, 1914-1920. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 13, n. 3, p. 571-89, jul-set. 2006. Os primeiros programas da International Health Commission – IHC – da Fundação Rockefeller eram projetos-piloto para o tratamento da ancilostomíase nas colônias britânicas do Caribe: Guiana e Trinidad e Tobago. Esses programas pioneiros na saúde pública internacional foram com freqüência descritos como guiados por rígidos princípios biomédicos. Sem contestar o fato de que pretendiam tornar inteligível a biomedicina no âmbito de sistemas médicos de populações vassalas, este artigo observa em que medida as exigências de tais programas de saúde pública se combinavam com os conhecimentos dos quadros locais da IHC, de origem indo-caribenha, de modo a gerar experiências fascinantes em tradução etno-médica. Um texto em particular, “The Demon that Turned Into Worms” [O demônio que se transformou em vermes], tem a intenção de mostrar como essas tentativas de tradução podem ter legitimado e promovido o pluralismo médico. PALAVRAS-CHAVE: ancilostomíase; Caribe Britânico; Fundação Rockefeller; pluralismo médico. PALMER, S.: “The demon that turned into worms”: the translation of public health in the British Caribbean, 1914-1920. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 13, n. 3, p. 571-89, July-Sept. 2006. English translation of text available at http://www.scielo.br/hcsm The earliest programs of the Rockefeller Foundation’s International Health Commission – IHC were pilot projects for the treatment of hookworm disease in the British colonies of British Guiana and Trinidad. These pioneering ventures into international health have often been portrayed as governed by rigid biomedical principles. In contrast to this view, the article emphasizes the degree to which the exigencies of a public health project that sought to make biomedicine intelligible within the medical systems of subject populations combined with the knowledge of local IHC staff members of Indo- Caribbean descent to generate some fascinating experiments in ethno-medical translation. One text in particular, “The Demon that Turned into Worms” is focused on to show how these efforts at medical translation may have legitimized and promoted medical pluralism. KEYWORDS: hookworm disease; Caribbean British colonies; Rockefeller Foundation; medical pluralism.

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Os primeiros programas da InternationalHealth Commission – IHC – da FundaçãoRockefeller eram projetos-piloto para otratamento da ancilostomíase nas colôniasbritânicas do Caribe: Guiana e Trinidad eTobago. Esses programas pioneiros na saúdepública internacional foram com freqüênciadescritos como guiados por rígidosprincípios biomédicos. Sem contestar o fatode que pretendiam tornar inteligível abiomedicina no âmbito de sistemas médicosde populações vassalas, este artigo observaem que medida as exigências de taisprogramas de saúde pública se combinavamcom os conhecimentos dos quadros locais daIHC, de origem indo-caribenha, de modo agerar experiências fascinantes em traduçãoetno-médica. Um texto em particular, “TheDemon that Turned Into Worms” [O demônioque se transformou em vermes], tem aintenção de mostrar como essas tentativas detradução podem ter legitimado e promovidoo pluralismo médico.

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  • v. 13, n. 3, p. 571-89, jul.-set. 2006 571

    O DEMNIO QUE SE TRANSFORMOU EM VERMES

    v. 13, n. 3, p. 571-89, jul.-set. 2006

    O Demnio que setransformou em

    vermes: a traduoda sade pblica no

    Caribe Britnico,1914-1920

    The demon that turnedinto worms: the

    translation of publichealth in the British

    Caribbean, 1914-1920

    Steven PalmerDepartamento de Histria,Universidade de Windsor401 Sunset Ave. Windsor

    Canada N9B [email protected]

    PALMER, S.: O demnio que setransformou em vermes: a traduo da sadepblica no Caribe Britnico, 1914-1920.Histria, Cincias, Sade Manguinhos,v. 13, n. 3, p. 571-89, jul-set. 2006.Os primeiros programas da InternationalHealth Commission IHC da FundaoRockefeller eram projetos-piloto para otratamento da ancilostomase nas colniasbritnicas do Caribe: Guiana e Trinidad eTobago. Esses programas pioneiros na sadepblica internacional foram com freqnciadescritos como guiados por rgidosprincpios biomdicos. Sem contestar o fatode que pretendiam tornar inteligvel abiomedicina no mbito de sistemas mdicosde populaes vassalas, este artigo observaem que medida as exigncias de taisprogramas de sade pblica se combinavamcom os conhecimentos dos quadros locais daIHC, de origem indo-caribenha, de modo agerar experincias fascinantes em traduoetno-mdica. Um texto em particular, TheDemon that Turned Into Worms [O demnioque se transformou em vermes], tem ainteno de mostrar como essas tentativas detraduo podem ter legitimado e promovidoo pluralismo mdico.PALAVRAS-CHAVE: ancilostomase; CaribeBritnico; Fundao Rockefeller; pluralismomdico.

    PALMER, S.: The demon that turned intoworms: the translation of public health in theBritish Caribbean, 1914-1920. Histria,Cincias, Sade Manguinhos,v. 13, n. 3, p. 571-89, July-Sept. 2006.English translation of text available athttp://www.scielo.br/hcsmThe earliest programs of the RockefellerFoundations International Health Commission IHC were pilot projects for the treatment ofhookworm disease in the British colonies of BritishGuiana and Trinidad. These pioneering venturesinto international health have often beenportrayed as governed by rigid biomedicalprinciples. In contrast to this view, the articleemphasizes the degree to which the exigencies of apublic health project that sought to makebiomedicine intelligible within the medicalsystems of subject populations combined with theknowledge of local IHC staff members of Indo-Caribbean descent to generate some fascinatingexperiments in ethno-medical translation. Onetext in particular, The Demon that Turned intoWorms is focused on to show how these efforts atmedical translation may have legitimized andpromoted medical pluralism.KEYWORDS: hookworm disease; CaribbeanBritish colonies; Rockefeller Foundation; medicalpluralism.

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    STEVEN PALMER

    Benjamin Washburn era um mdico perspicaz do interior, enga-jado no projeto de sade pblica da Fundao Rockefeller, em1913, quando a Comisso Sanitria dessa fundao desenvolvia umacampanha contra a ancilostomase no seu estado natal, a Carolinado Norte. Dois anos depois, Washburn encontrava-se em Trinidad,na poca colnia britnica, dirigindo uma misso de combate ancilostomase que era parte da primeira etapa de trabalho inter-nacional de sade pblica realizado pela ento recm-criada Fun-dao Rockefeller.1 Em suas memrias, Washburn pinta um qua-dro vvido das dificuldades encontradas para fazer funcionar a m-quina de sade pblica da Fundao Rockefeller em um meiomultitnico, relembrando quo complexa era, at mesmo, a reali-zao de uma palestra para o grande pblico (Washburn, 1960, p.69-70):

    Antes de comear, as pessoas eram reunidas em grupos. Osque falavam hindi ficavam sentados em uma parte do salo, osde fala crioula em outra parte, e se houvesse alguns que falas-sem somente castelhano, eram colocados em um terceiro gru-po. O intrprete de cada grupo recebia um pequeno sino, en-quanto nosso funcionrio principal ficava no palco com umsino maior. Um slide era projetado na tela e explicado em inglspelo palestrante. Quando a explanao terminava, o funcion-rio tocava seu sino e cada intrprete explicava para o seu grupoo que o mdico havia dito. Quando um intrprete terminava, elepor sua vez tocava seu sino, e quando todos os grupos haviamsido alcanados dessa maneira, o sino maior era tocado de novono palco. Ento, outro slide era projetado na tela e explicado,seguindo-se a mesma rotina. Lembro-me que uma vez umadessas palestras terminou perto da meia-noite.

    A campanha contra a ancilostomase da Comisso SanitriaInternacional da Fundao Rockefeller, iniciada em 1914 na AmricaCentral e no Caribe Britnico e logo expandida para dezenas deEstados e territrios coloniais em todo o mundo, estabeleceu aprimeira estrutura internacional moderna de sade pblica.2 Pelaprimeira vez, formaram-se equipes que, sob o comando de umaagncia no-governamental centralizada, atuando de acordo comum plano uniforme, implementaram simultaneamente o trabalhopreventivo de sade pblica e o tratamento mdico com uma am-pla variedade de planos de ao. Uma das grandes questes da sadepblica internacional que a Fundao Rockefeller assumiu ambi-ciosamente desde o incio foi, no tanto, como curar doenas eestabelecer estruturas sanitrias, mas principalmente como tornarhegemnicas a nova cultura de higiene e a teoria do germe. Ques-tes de linguagem e cultura eram centrais nesse caso. Entretanto,como alguns diretores de misses logo descobriram, em se tratandode hermenutica de cruzamentos culturais, a certeza, o progresso e

    * Traduo deAnnabella Blyth.Reviso tcnica deGilberto Hochman

    1 Uma boa anlise dasmltiplas campanhasno Caribe Britnicoencontra-se emPemberton (2003).

    2 A InternationalHealth Commissionteve seu nomemodificado em 1916para InternationalHealth Board, e em1927 para InternationalHealth Division. Opteipor evitar os diversosacrnimos utilizados,referindo-me instituiosimplesmente porSade Internacional(International Health).

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    O DEMNIO QUE SE TRANSFORMOU EM VERMES

    o sucesso no so to facilmente estabelecidos ou mensurados quantoo so no laboratrio de sade pblica.

    Uma grande variedade de experincias de traduo foi realizadaem dezenas de jurisdies onde a Comisso Sanitria Internacio-nal estabeleceu operaes aps 1914. A maioria dessas experinciastentava, de algum modo, apresentar uma concepo moderna daetiologia da doena em termos que pudessem ser inteligveis ouatraentes dentro da lgica de distintas culturas tnico-mdicas. Esteartigo focalizar um desses projetos, onde se adotaram alguns m-todos e materiais no usuais visando envolver a ampla populaooriginria da ndia, existente na Guiana Britnica e em Trinidad.Em sua grande maioria, essas pessoas eram de fala hindi e de fhindu, com razes nas plancies centrais da rea do rio Ganges, nocentro-norte da ndia. Seus membros, ou seus ancestrais, tinhamvindo para o Caribe como trabalhadores contratados, parte inte-grante de um grande sistema de migrao de trabalhadores estabe-lecido dentro do Imprio Britnico aps 1840, em seguida aboli-o da escravatura. Na tentativa de dar forma idia, adaptando-a mente indiana, conforme consta de um relatrio, os agentes desade pblica da Fundao Rockefeller viram-se impelidos a trilharcaminhos que os levaram da identificao de microrganismos aoestudo e adaptao de antigas parbolas, da medio de dosagensde timol participao em debates filosficos sobre o significado davida e da sade (em ao menos uma ocasio sob a influncia demaconha).3

    No seu recente trabalho sobre a histria da International HealthDivision, John Farley escreve que os diretores tinham uma visototalmente biomdica da sade pblica e seguiam um conceitodominante, do qual raramente divergiam: a doena era o fatordeterminante da m sade, e a sade somente poderia ser alcanadapelo controle ou eliminao de doenas transmissveis (Farley, 2004,p. 5). A histria da Comisso Sanitria Internacional em Trinidad ena Guiana Britnica mostra que temos de modificar essa viso.Embora os diretores talvez estivessem convencidos de que a visototalmente biomdica de sade pblica fosse a melhor, viram-seimpelidos pelas circunstncias a divergir dessa mensagem ortodoxaj nos primeiros anos do seu projeto de sade pblica global. Istofoi mais do que um simples incidente menor. No final, em vez dealcanar a converso das massas verdade cientfica e compreen-so puramente biomdica de higiene, esse aparato inicial de sadepblica fez profundas concesses s diferenas culturais e s prti-cas mdicas da populao-alvo de indianos e, em ltima instncia,legitimou e promoveu o pluralismo mdico. E isso nos leva ao cernede uma importante verdade sobre a sade pblica internacional:seu desejo de uniformidade e processamento biopoltico no se coa-duna facilmente com a necessidade de consentimento ativo pelo

    3 W. C. Hausheer,Work in Trinidad andTobago, 1914-1924.Record Group (a partirdaqui RG) 5, Srie (apartir daqui S) 2,encadernado, 2 vols.,nos. 36-37, Seo J,n.p., RockefellerFoundation Archives(a partir daqui RF),Rockefeller ArchiveCenter, SleepyHollow, New York (apartir daqui designadoRAC).

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    STEVEN PALMER

    sujeito da ao. Assim, para entender seu impacto histrico precisa-mos combinar nossa anlise do institucional, em que ideologias emtodos podem de fato parecer muito uniformes, com um estudocuidadoso das manifestaes locais em que a norma a verificao deresultados enormemente variados e fundamentalmente distintos.

    O mtodo americano

    Os estudiosos tm debatido genericamente os objetivos das cam-panhas internacionais contra a ancilostomase da FundaoRockefeller e sua filantropia mdica. As avaliaes hericas eenaltecedoras que prevaleceram nas dcadas de 1950 e 1960,direcionadas pela teoria da modernizao e por um novo aparatode sade internacional que ainda era otimista quanto perspectivada erradicao da doena, foram desafiadas nas dcadas de 1970 e1980 por alguns pesquisadores mais crticos que viam a Fundaocomo guardi avanada do imperialismo norte-americano. Elespropunham que a filantropia da Fundao Rockefeller seria dese-nhada para melhorar a sade da mo-de-obra do Terceiro Mundocom o interesse de aumentar os lucros do Primeiro Mundo, e noprocesso tornar esses pases e suas populaes dependentes de umabiomedicina ocidental com sede nos Estados Unidos.4 Nos anos 80e 90 surgiram tratamentos que realavam a complexidade dos en-contros entre uma instituio em desenvolvimento e uma varieda-de de configuraes polticas e culturais, fosse no sul dos EstadosUnidos ou em uma escola de medicina construda em estiloarquitetnico chins ao lado da Cidade Proibida.5 Os historiadorestambm esto agora mais propensos a tratar com simpatia os fun-cionrios norte-americanos da Diviso Internacional de Sade e aaceitar como verdadeiras as motivaes declaradas da Fundao.Isso no significa que os historiadores crticos no continuem vendoo projeto da Diviso Sanitria Internacional como parte do riscoimperial a maioria continua pensando assim. Entretanto, a nfa-se dos estudiosos atuais recai no papel da Fundao Rockefeller decriar um modelo institucional de poder biopoltico internacional;de desenvolver e reproduzir as suposies racistas da medicina tro-pical que desempenharam um papel crtico na justificativa da domi-nao ocidental sobre as sociedades coloniais e ps-coloniais; e deocupar o lugar da medicina popular com os modelos biomdicosde ateno sade.6

    Recentemente, John Farley levantou a questo de que, no inciodo projeto global, as misses de ancilostomase eram apenas ummeio para se atingir o verdadeiro fim: dar incio a departamentoslocais de sade pblica. Na viso de Farley, isso foi rapidamenteultrapassado pela mudana de objetivo da Diviso Sanitria In-ternacional, que se voltou para a erradicao de doenas, logo

    6 Fundamentais paraessa onda recente soHewa (1995),Anderson (2002;2003), Birn (2003) eFarley (1991; 2004).

    4 Um bom exemplo Brown (1976).

    5 Exemplos de altaqualidade dessastendncias so Ettling(1981) e Bullock(1979).

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    O DEMNIO QUE SE TRANSFORMOU EM VERMES

    compreendendo que essa meta no poderia ser alcanada atravsda ancilostomase, donde o recuo da ancilostomase iniciado em1920, e o crescente foco na febre amarela e na malria.7 A minhaviso sobre o tema atribui papel um tanto mais dramtico e centrala esses projetos iniciais em ancilostomase, em relao ao desenvol-vimento da sade internacional. O tratamento da ancilostomasedeveria ser um veculo para o casamento de dois objetivos ambici-osos: educar as massas globais em higiene e na teoria dos germes,como tambm, simultaneamente, alcanar a erradicao da doena.O mtodo desenvolvido na Amrica Central e no Caribe pelos agen-tes da Diviso Sanitria Internacional para alcanar esses objetivoscasados foi intitulado Mtodo Americano (mais tarde conhecidocomo Mtodo Intensivo). Era um mtodo sem precedentes, poisenvolvia a realizao sistemtica de testes em cada indivduo resi-dente nas reas designadas para a campanha o que no final in-clua cada metro quadrado habitado dos pases e territrios colo-niais envolvidos , e o tratamento de todos os que apresentassemresultado positivo, independentemente do grau de infeco. O M-todo Americano estabeleceu uma malha foucaultiana que permitiacompleta superviso biolgica, registro, exame e tratamento de umapopulao visando erradicar doenas e maximizar a vitalidade.Nesse sentido, os programas da Diviso Sanitria Internacionalconstituram expresses iniciais da biopoltica, que muitos estu-diosos entendem como caracterstica das estruturas da sade inter-nacional (Palmer, no prelo).

    O Mtodo Americano constituiu uma dupla Utopia da sadepblica: por um lado, visava Erradicao de Doenas; por outrolado, buscou alcanar um Processamento Biopoltico Total a su-jeio de cada indivduo ao registro biolgico, exame biomdico etratamento, e doutrinao pelos agentes de sade pblica nos princ-pios de higiene e na teoria dos germes. Na realidade, embora sendoum parasita e no uma bactria, a ancilostomase tinha um car-ter biolgico que lhe era atribudo para demonstrar a lgica e apromessa da microbiologia e da teoria microbiana das doenas.8 Overme era microscpico (embora os grandes fossem visveis a olhonu), mas parecia monstruoso quando ampliado. Geralmente, aspessoas identificavam vermes maiores por exemplo, a tnia comofonte de doenas em animais e seres humanos. O verme daancilostomase tambm deixava uma sensao de coceira no pontoonde, no estgio larval, passava atravs do tecido mole entre osdedos dos ps, e assim seu modo de entrar no corpo humano dei-xava uma marca tangvel. O verme da ancilostomase era uma fontede doena que no requeria o mesmo nvel de abstrao que abactria no requeria a mesma f (Palmer, 2003, p. 158).

    O verme e a doena da ancilostomase poderiam ento ser utili-zados para contrapor uma lgica bsica da medicina popular com

    7 Farley (2004, p.75-83); ver tambmSteven Palmer (2003,p. 155-81), Hewa(1995), e MarcosCueto (1994).

    8 O termo e oconceito so deCharles Rosenberg(1992), p. xx.

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    STEVEN PALMER

    uma noo bsica da teoria dos germes: a identidade de uma doenano era o conjunto de sintomas vivenciados pelo sofredor de umaenfermidade especfica (como cansancio, ou cansao, o nome dado condio em vrias partes da Amrica Latina); em vez disso, a iden-tidade de uma doena era o organismo invisvel que entrava nocorpo e provocava tais sintomas (ancilostomase).9 Havia tambma cura para a ancilostomase ou seja, um mtodo eficaz de pur-gar os vermes do corpo do hospedeiro atravs da ingesto de umvermfugo poderoso, porm simples e barato, seguido de um fortepurgativo. Assim, o tratamento do verme da ancilostomase tam-bm podia promover a idia de que a medicina cientfica ofereciacuras especficas. A expulso dos vermes do corpo aliviava em curtoperodo a exausto anmica que era o sintoma mais comum dadoena. O paciente sentia uma melhora perceptvel dentro de 24 a48 horas sentia-se curado e assim todo o procedimento erauma dramatizao eficaz das idias bsicas e das promessas da me-dicina moderna. Enquanto isso, a recorrncia da ancilostomasepodia ser facilmente prevenida pela adoo de certo nmero de hbi-tos sanitrios tecnicamente elementares, como o uso de privada ede calados (embora na prtica isso estivesse fora das possibilidadesfinanceiras das famlias pobres), o que tornava a doena ideal parapromover os princpios da sade pblica. Por isso, Wickliffe Rose,o primeiro chefe da Diviso Sanitria Internacional, declarou aancilostomase a perfeita porta de entrada das ambies globaisde filantropia em sade pblica da Fundao Rockefeller (Ettling,1981, p. 187-91).

    Conforme mostrou Anne Emanuelle Birn, mesmo no Mxico,onde a ancilostomase praticamente no poderia ser consideradacomo uma prioridade na sade pblica, diretores da misso daDiviso Sanitria Internacional consideravam o tratamento dessadoena uma maneira atraente de estabelecer a presena da institui-o no pas mesmo no incio dos anos 20, quando o interesseorganizacional mais amplo na ancilostomase estava comeando adiminuir (Birn, 2003). Empreender a batalha cientfica e de sadepblica contra a malria e a febre amarela poderia ser, do ponto devista cientfico, mais interessante do que tratar a ancilostomase,mas no requeria o grau macio de intruso corporal, amostrageme processamento, ou eliminao biomdica do agente patognico,propiciado pelo verme da ancilostomase. E isso era importanteporque o outro objetivo da Diviso Sanitria Internacional era ahegemonia biomdica. Ou seja, pela sua concepo, o programa deancilostomase da Diviso no pretendia impor modelos externos etratar coercitivamente as pessoas, mas sim educar os pases quea recebiam, e suas populaes, a consentirem em novas formas deregulamentao, organizao e conduta biomdica.

    9 Este um dosprincipais pontos deCunningham (1992).

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    O DEMNIO QUE SE TRANSFORMOU EM VERMES

    Esse modelo educador estava encapsulado no denominado Efei-to Demonstrao. De acordo com esse princpio da organizao, oEstado receptivo gradualmente assumiria o nus de financiar otrabalho (quando a operao tivesse servido de demonstrao dosbenefcios de tratar a ancilostomase). Enquanto isso, o cidado ousdito das classes populares incorporaria as verdades damicrobiologia, da sade pblica e da medicina moderna atravsdas demonstraes de microscpio realizadas pela equipe de cam-po, e da demonstrao oferecida pela cura, sua ou de membros desua famlia ou vizinhos, e a partir da manteria uma conduta cor-respondente.10 De acordo com a caracterizao feita por Lion Murarde Patrick Zylberman desse processo, tal filantropia corporativa perse-guia metas muito mais ambiciosas do que a erradicao daancilostomase ou a reduo da poluio do solo. Com o objetivode realizar completa transferncia de tecnologia (que os autoresvem como um processo envolvendo valores acima de tudo), pre-tendia nada menos do que refazer a civilizao de acordo com dire-trizes norte-americanas (Murard & Zylberman, 2000, p. 463, 465).

    Assim, o objetivo ltimo de um diretor de misso contra aancilostomase da Fundao Rockefeller era testar e, se necessrio,tratar sistematicamente a ancilostomase em cada um dos residen-tes do pas, ao mesmo tempo em que os convencia da existncia demicrorganismos cujos poderes patognicos poderiam ser supera-dos com moderno tratamento mdico e com a utilizao de prticasdirias compatveis com a cincia da higiene. Simultaneamente, eledeveria estabelecer as bases institucionais que pudessem ser rapi-damente adotadas pelo pas em foco. A questo de como realizarisso em uma regio multitnica como o Caribe tornou-se um dile-ma, levando-se em considerao que os diretores de misses eramenviados dos Estados Unidos sem nenhum treinamento culturalespecfico. Os diretores da Fundao Rockefeller tinham de, essen-cialmente, ter perspiccia para construir parcerias. Somente pode-riam montar um programa de sade pblica eficaz se conquistas-sem o apoio do governo local e de profissionais de sade, institui-es privadas (e religiosas), e personalidades com autoridade reco-nhecida. Em suas memrias sobre a inaugurao oficial do projetoem Tunapuna, em maio de 1915, Benjamin Washburn descreveu acoalizo construda para a campanha em Trinidad. O evento, reali-zado em uma escola governamental com a presena de mais deoitocentas pessoas, incluindo proprietrios e administradores dosetor aucareiro, e professores, foi agraciado com a presena nopalco de Sua Excelncia, o Governador de Trinidad; o Cirurgio-Chefe; Dr. Campbell Bennett Reid, Mdico Oficial do Distrito; oReverendo Abbott DeCaigny e Dom Ambrose Vinckier, doMonastrio Beneditino; Canon Allen e o Reverendo Sprigner e oReverendo Bourne da Igreja da Inglaterra; Reverendo Henry

    10 A importncia doEfeito Demonstrao bem explicada emAbel (1995, p. 342).

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    STEVEN PALMER

    Morton da Misso Presbiteriana Canadense para os Indianos; ebispos das religies hindu e maometana (Washburn, 1960, p. 83).

    Um fator certamente to importante quanto o anterior, e talvezat mais crucial, os diretores da Sade Internacional necessitavamcontratar funcionrios locais de qualidade, que pudessem comuni-car-se eficazmente com a massa popular. Com exceo da esposa,que freqentemente dava importante apoio ao trabalho de sadepblica, o diretor da misso da Fundao Rockefeller era o nicorepresentante direto da organizao, e tinha de constituir a equipedo projeto com pessoal local.11 O modelo, o oramento, o equipa-mento, as tcnicas e os objetivos bsicos vinham do escritrio cen-tral em Nova York; o restante tinha de ser modelado no campo, eadaptado s enormes complexidades locais das populaes e suasculturas, dos ciclos agrcolas, das condies geogrficas e climticas,e da poltica. Assim, na Guiana Britnica e em Trinidad as equipesde combate ancilostomase eram multitnicas, com microscopistase enfermeiros (como eram chamados os agentes que visitavam asresidncias) basicamente divididos em metade afro-antilhanos emetade indianos, existindo na Guiana Britnica tambm funcion-rios de origem portuguesa, e em Trinidad, pessoal que falava espa-nhol e francs (a composio das equipes era reformulada depen-dendo da conformao tnica da rea trabalhada).12 Revelando umclaro orientalismo, os diretores da Sade Internacional desenvol-veram um fascnio particular pelas populaes indianas das duascolnias, e direcionaram seus esforos mais intensos e elaborados traduo da mensagem da sade pblica voltada para elas. Espe-cialmente medida que os diretores comearam a encontrar resis-tncia ao tratamento dentro das comunidades indianas que po-deria tornar-se bastante intensa e mesmo violenta, dependendo deciclos de trabalho e de questes polticas, como o medo de alista-mento militar obrigatrio , passaram a buscar maneiras de expli-car sua mensagem cientfica com base em aspectos culturais e reli-giosos.13 O melhor exemplo disso e, de muitas maneiras, o auge doprocesso, foi o desenvolvimento, circulao e uso, em ambas ascolnias, de uma adaptao moderna de antiga lenda indiana, umprojeto realizado por Frederick Dershimer aps ser designado paradirigir a campanha de combate ancilostomase da Comisso Sani-tria Internacional na Guiana Britnica em 1916.

    O demnio que se transformou em vermes

    Trabalhadores indianos contratados comearam a chegar GuianaBritnica e a Trinidad no final da dcada de 1830, aps a emancipa-o dos escravos descendentes de africanos, para preencher cotasde trabalhadores nas plantaes de cana-de-acar de propriedade,sobretudo, de britnicos. A migrao continuou at que o programa

    12 F. E. Field,Preliminary Reporton the Ameliorationand Control ofAnkylostomiasis inthe Peters HallDistrict of BritishGuiana by theSupervising MedicalOfficer (May 1915),RG 5, S 3, B 170, F2093, p. 11, RF, RAC;para Trinidad, verWashburn (1960, p.72, 82).

    11 Sobre o importantepapel das esposas dediretores de misses,ver Palmer (2004, p.14-9).

    13 Sobre exemplos deresistncia, verFrederick Dershimer,Report on Work forthe Relief and Controlof HookwormDisease in BritishGuiana, from March1914 to December 31,1917, RG 5, S 3, B170, F 2095, p. 7, RF,RAC.

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    O DEMNIO QUE SE TRANSFORMOU EM VERMES

    foi finalizado pelo Conselho Legislativo Indiano em 1916, e o trficoterminou logo aps a guerra. A Guiana Britnica foi o destino demais da metade dos 430 mil imigrantes indianos levados para oCaribe entre 1838 e 1920, ao passo que 150 mil indianos foram paraTrinidad nesse perodo. A maioria dos indianos permaneceu nascolnias caribenhas aps o trmino do contrato de trabalho,freqentemente com crdito para adquirir terra disponibilizado peloestado colonial. Por volta de 1920, eles e seus descendentes perfa-ziam um tero da populao de Trinidad, e os indo-trinidadianospassaram a constituir o principal segmento popular do setor rural,mais atuante no trabalho agrcola, tanto na produo como nacomercializao, do que a populao afro-antilhana. No sculo XX,passaram a ter importante presena tambm nas cidades. Na GuianaBritnica, pelo censo de 1911, atribuiu-se pouco mais de 40 porcento da populao da colnia etnia indiana, e l tambm os india-nos continuaram como trabalhadores rurais e empresrios agrco-las em maior escala do que os portugueses ou chineses, ao trminodos seus contratos de trabalho. Tornaram-se o principal elementodas plantaes de cana-de-acar, como mo-de-obra contratada ecomo meeiros, bem como do cultivo de arroz e dos setores de agri-cultura de subsistncia. Entre 80 e 90 por cento dos imigrantes deambas as colnias eram provenientes da rea centro-norte das Pro-vncias Unidas das plancies do Rio Ganges, e o hindi tornou-se alngua predominante dos descendentes dos indianos. A proporode hindus para muulmanos era de cerca de 4 para 1 (entre a popu-lao hindu havia predominncia de uma seita ortodoxa), e a deri-vao de castas basicamente refletia aquela da ndia (Laurence, 1994;Ramesar, 1994; Barros, 2002, p. 21-2, 32; Brereton, 1974, p. 26).

    Hector Howard veio do Mississippi para a Guiana Britnica paratestar o mtodo intensivo no incio de 1914, e trouxe consigo al-guns fortes preconceitos contra pessoas de ascendncia africana.Imediatamente manifestou preferncia por trabalhar com os india-nos, considerando-os culturalmente mais interessantes e de maisfcil trato do que os tcnicos afro-guianeses (Farley, 2004, p. 63).Washburn tambm ficou fascinado com os indianos ao fazer suaprimeira viagem pelo interior de Trinidad: ao longo da estrada, asjoalherias, as casas brancas com bandeiras tremulando em postesde bambu indicando o nascimento de um filho, os homens comturbantes e tangas volumosas amarradas na altura da cintura,as mulheres com blusas de cores fortes que deixavam nua a cintura,saias alegremente coloridas, e carregadas de braceletes e tornozeleirasde ouro e prata. Ficou maravilhado com as mesquitas e templosatravs de cujas arcadas era possvel entrever imagens de Rama eSeta. Para um homem do sul da Amrica do Norte, esse exotismooriental era deslumbrante to impressionante para um recm-chegado, que as casas dos negros e as igrejas crists, embora em

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    igual nmero, passavam quase despercebidas (Washburn, 1960,p. 69-70).

    Mas foi Frederick Dershimer quem mergulhou mais fundo noestudo da cultura e da sociedade indiana. Dershimer era um jovemmdico tpico da Era Progressiva, produto da formao mdica ps-relatrio Flexner, que em 1916 deixou seu emprego no departa-mento de sade pblica da Filadlfia para projetar-se no novo uni-verso mdico que na poca estava sendo inventado pela FundaoRockefeller.14 A Guiana Britnica o desapontou. Sua esposa ficouinfeliz e logo retornou aos Estados Unidos para recuperar-se doque pode ter sido malria e tambm de depresso. O salrio no erato bom quanto ele havia imaginado uma sensao que seaprofundou na medida em que ele passou a comparar a sua situa-o com a das elites coloniais sua volta. Alm disso, de certa for-ma, ele suspeitava que, ao assumir aquela posio, havia ficadoprofissionalmente marginalizado. Embora a colnia tivesse servidode primeiro laboratrio para o trabalho internacional da Funda-o Rockefeller com a ancilostomase, e tivesse sido o nascedourodo Mtodo Americano, logo em seguida perdeu sua primazia. Aindaassim, a Guiana Britnica foi o lugar que havia inspirado seu chefe,Wickliffe Rose, a realizar seu programa inicial, e Dershimer sabiaque ainda podia obter a ateno do escritrio central se as circuns-tncias fossem apropriadas.15

    Em meio sua solido profissional e pessoal, Dershimer conhe-ceu o reverendo Henry Morton, da Misso Presbiteriana Canaden-se para os Indianos.16 A Misso Canadense, estabelecida pelo pai deMorton em Trinidad, na dcada de 1860, para evangelizar os traba-lhadores contratados da ndia, por volta de 1910 administrava maisde sessenta escolas primrias em Trinidad e na Guiana Britnica,alm de colgios separados para meninos e meninas, uma escola deformao de professores, um colgio noturno para adultos e umcentro de formao para catequistas e clrigos indianos. Embora osucesso da Misso Canadense na converso formal dos indianosao cristianismo fosse relativamente reduzido (apenas 10 por centodos indo-trinidadianos eram cristos, segundo o censo de 1921),sua influncia era muito mais ampla graas ao seu status quase-oficial, ao seu papel na educao e formao de um quadro depessoal bilnge, tanto indiano como canadense, que trabalhavana Misso, ou que havia passado pelas escolas da Misso. Os paisindianos entendiam que a educao envolvia evangelizao crist,e que as crianas no aprenderiam sobre as religies hindu e mu-ulmana, mas a nfase dessas escolas recaa na educao, e no naevangelizao. A converso no era um requisito para os estudan-tes. Os lderes mais influentes da elite poltica emergente dos indo-trinidadianos no incio do sculo XX, como por exemplo, os daAssociao Nacional Indiana e do Congresso Nacional Indiano,

    14 Biographies, RF,RAC.

    15 FrederickDershimer, Reporton Work for the Reliefand Control ofUncinariasis in BritishGuiana, from July 1st1916 to September30th 1916, RG 5, S 3,B 170, F 2094, n. p.,RF, RAC.

    16 Hausheer, Work inTrinidad and Tobago,1914-1924, Section J,n.p.

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    eram presbiterianos embora outras religies tambm tivessemrepresentao (Singh, 1974, p. 62). Havia claramente uma coinci-dncia entre os interesses dos indo-trinidadianos em seu prprioprogresso social, profissional e comercial, e a converso aopresbiterianismo ou a estreita associao com a Misso Canadense.Assim, a Misso produziu e atraiu um quadro de pessoal que tinhacondies de fazer a mediao entre a cultura colonial ocidental e acomunidade indiana (Brereton, 1974, p. 35; Mount, 1983, p. 118;Singh, 1974, p. 51, 72; Campbell, 1996).

    Era exatamente disso que necessitavam os diretores da Funda-o Rockefeller, como Dershimer. Em 1917, o jovem mdico ambi-cioso deu incio a algumas inovaes criativas nos materiaiseducativos impressos que vinham sendo utilizados nas campanhascontra a ancilostomase. Ele tambm comeou a apreciar o poderdos sacerdotes hindus. Em certa ocasio, na rea de Victoria, naGuiana Britnica, Dershimer estava enfrentando tamanha resis-tncia da comunidade indiana ao programa de combate ancilos-tomase que percebeu nela um risco para a campanha como umtodo. Decidiu apelar para o auxlio dos sacerdotes hindus locais eencontrou-se com eles na loja de um comerciante indiano. Eles con-cordaram em enviar um mensageiro para reunir o povo. Dershimerrecordou que enquanto esperavam, os sacerdotes, o comerciantee alguns outros de casta elevada sentaram-se num cmodo com omdico, e fumaram um cachimbo contendo uma mistura de maco-nha (Cannabis ndia ou Hemp Indiana) e um forte tabaco negro.Um dos sacerdotes observou que, se fumassem durante muito tem-po, falariam demais. O mdico, ento, disse a eles, quando lhe foioferecido, que no podia fumar aquele tipo de cachimbo. Dentrode meia hora havia uma grande aglomerao de moradores que,guiados por seus sacerdotes, pareciam contentes em reconsideraros mritos do trabalho contra a ancilostomase. Dershimer ficouimpressionado.17

    Em um relatrio escrito logo depois, Dershimer comparou osmtodos educativos que vinha usando at aquele momento s pres-cries dadas pelos antigos mdicos escrevamos textos paratodos em geral e para ningum em particular, e os distribuamos.Dershimer havia tomado conscincia de que seu projeto envolvia aeducao de quatro raas diferentes, cada uma delas com seus in-teresses, desejos e modos de vida e de pensamento diferentes dasoutras. Ele no tinha dvida de que a maior parte da literaturatinha sido desperdiada:

    Recentemente, comeamos a estudar esta questo, num esforo deadaptar nossos mtodos de educao s duas raas principaiscom as quais temos de lidar ... At tivemos a esperana de conse-guir escrever a histria do ancilstomo para cada uma delas, que

    17 FredereickDershimer, Reporton Relief and Controlof Uncinariasis in BG,Oct. 1 to Dec. 31,1916, RG 5, S 3, B170, F 2094, pp. 17-18,RF, RAC.

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    fosse suficientemente interessante a ponto de guardarem o materi-al pela histria em si. Assim, poderamos manter uma fora maisou menos permanente atuando para ensin-los sobre a necessida-de de adotarem medidas para prevenir a recorrncia da doena.18

    Ele j havia comeado a desenvolver materiais especiais para osafro-guianeses, mas os indianos mostraram-se mais complicados:Seu modo de pensar to imensamente diferente do nosso que,mesmo depois de estudar tradues de alguns de seus livros, deestudar artigos e livros sobre eles e sua filosofia ... o projeto foiabordado com temor e ansiedade. Entretanto, tnhamos desenvol-vido algumas histrias... (ibidem).

    O ns usado por Dershimer intrigante. Pode referir-se a umacolaborao com Morton, embora seja mais provvel que se refiraao desenvolvimento de histrias em conjunto com seu micros-copista-chefe, Wajidalli, que estava na equipe de combate ancilostomase desde o primeiro programa piloto, em 1914. Wajidalliera altamente respeitado e gozava de total confiana por parte dossucessivos diretores, inclusive Dershimer. A ele foi atribuda a au-toria de uma das histrias mais curtas direcionadas aos indianos,Vinhas de pssaros e fruta-po. Mas a histria que viria a obtermaior sucesso foi O demnio que se transformou em vermes, eDershimer assumiu a sua autoria integral. Baseava-se em uma dasmais populares colees de histrias na lngua hindi, Baital Pachisiou Vinte e cinco histrias de um demnio. Originalmente,Dershimer chamou-a a vigsima sexta histria ou seja, foi defato apresentada como uma extenso do clssico ciclo de textos,apesar da insistncia em sua autoria individual! O demnio quese transformou em vermes foi traduzido para hindi (ou, se minhateoria sobre Wajidalli estiver correta, foi criada de maneira biln-ge), e milhares de panfletos nas duas verses foram impressos edistribudos.19 Aconselhado por Henry Morton, da Misso Cana-dense, no incio de 1918, o diretor de Trinidad, George Payne, ado-tou a histria para seu uso (embora seu ttulo tivesse sido alteradopara A maldio do rei, e a esposa do diretor de Trinidad, FlorenceKing Payne, que tambm era mdica, tivesse decidido ilustrar opanfleto com uma srie de desenhos coloridos cujo estilo era base-ado no trabalho de artistas hindus e tambm nas imagens dasdivindades hindus usadas nos lares dos indianos).20

    As Baital Pachisi so narradas a um rei por um ser demonaco um diabo, ou vampiro; remontam a uma verso ainda mais antigaem snscrito que tambm a fonte de outros ciclos clssicos dehistrias, incluindo As mil e uma noites (Emeneau, 1934, p. ix-xxii). O Demnio de Dershimer, cuja verso em ingls continhacerca de 1.500 palavras, explicava a ancilostomase como o resulta-do de uma maldio mstica colocada sobre um prncipe que viria aser parricida, por seu pai, o Rei:

    18 FrederickDershimer, Reporton Work for the Reliefand Control ofUncinariasis in BritishGuiana, from October1st to December 31st1917, RG 5, S 3, B170, F 2095, n.p., RF,RAC.

    20 Hausheer, Work inTrinidad and Tobago,1914-1924, Section J,n.p.

    19 Ibidem; eDershimer, Reporton Relief and Controlof Uncinariasis in BG,Oct. 1 to Dec. 311916, RG 5, S 3, B170, F 2094, pp. 17-18,RF, RAC.

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    Que centenas de demnios se transformem em pequenos vermes, eque armem suas bocas com ganchos, e que entrem no seu intestinoe ataquem dentro do seu intestino por meio dos ganchos nas suasbocas, e que suguem seu sangue vital dia e noite ... e que sejam tofortes que possam atravessar a pele de qualquer pessoa que ponhaa mo ou o p no lugar onde eles estiverem; e que possam ficar tominsculos, a qualquer momento, para impedir que sejam vistos.

    A histria acompanha o prncipe quando este fica doente. Eleencontra a cura e uma vida saudvel atravs da interveno de umcurandeiro ou Devoto, que prepara um vermfugo especial. Ento,o Devoto diz que o prncipe deve construir uma latrina, usar cala-dos, e ouvir os agentes do rico homem norte-americano que veiocom tanto dinheiro para tratar deles. Tendo seguido esses conse-lhos, o prncipe, feliz, reencontra seu pai, e torna-se um lder abas-tado e respeitado.21

    desnecessrio dizer que O demnio que se transformou emvermes carece do poder e da sutileza das vinte e cinco lendas doBaital Pachisi, e seu didatismo mais instrumental. Entretanto, foilogo adicionada como parte integrante e fundamental do arsenal desade pblica dos missionrios no combate ancilostomase. Emum distrito de Trinidad composto por grande populao de india-nos, um homem que tinha boa formao em mtodos educativos ena lngua hindi foi retirado do quadro de enfermeiros e recebeu atarefa de ensinar as pessoas em suas casas. Recebeu instrues espe-ciais em microscopia e foi munido de um microscpio e da edio deA maldio do rei ilustrada em hindi, como bases para suas de-monstraes nos lares. George Payne comentou que infelizmente,esses argumentos geralmente tomavam um rumo mais filosfico doque prtico, e a impresso que ficava dos pontos prticos da histriaera muito menos profunda do que se desejava.22

    Mesmo assim, Payne continuou com seu programa aps ter lidoum livro amplamente distribudo sobre treinamento hindu damente. Ele colocou um sacerdote indiano, Ramcharita Maraj, umbrmane bastante conhecido, na folha de pagamento da FundaoRockefeller; deu-lhe instrues em toda a tcnica de laboratriousada no trabalho, e depois o enviou, munido de uma cpia de Amaldio do rei e de um microscpio, para fazer demonstraes,nos lares, do programa de combate ancilostomase, guisa domtodo caracterstico da educao hindu, antecipando-se campa-nha propriamente dita. Payne descreveu o mtodo desta maneira:

    um conselheiro espiritual visita cada famlia a intervalos, parainstruir crianas e adultos sobre como suas vidas devem serconduzidas de acordo com as tradies hindus; instruo feitaatravs da tcnica de contar histrias, com dois ou mais signifi-cados, e o professor deve habilmente levantar questes que le-vem discusso da histria de modo a atingir o ponto desejado.

    21 F. W. Dershimer,The Demon thatTurned into Worms,RG 5, S 2, B 42, F 253,RF, RAC.

    22 Hausheer, Work inTrinidad and Tobago,1914-1924, Section J,n.p.

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    (Da esquerda para a direita) Rampergass Maraj, Sipdial Sahddu, e Paterhat Maraj,sacerdotes e curadores que cooperaram com o International Health Board noconvencimento dos Hindu-Guianeses em fazer o tratamento para ancilostomase. December, 1916. From British Guiana - 423, Photographic Collection, RockefellerFoundation, RAC. Cortesia do Rockefeller Archive Center.

    Grupo de trabalho multitnico do International Health Board na Guiana Britnica em1916, provavelmente com Wajidalli sentado na primeira fila, o segundo da esquerda,microscpio na mo. From British Guiana - 423, Photographic Collection, RockefellerFoundation, RAC. Cortesia do Rockefeller Archive Center.

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    O DEMNIO QUE SE TRANSFORMOU EM VERMES

    Capa do The Demon that Became Worms, com ttulo e autoria adicionados, Folder 253, Series 2, RecordGroup 5, RF, RAC. Cortesia do Rockefeller Archive Center.

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    Com a cooperao de Morton e da Misso Canadense para osindianos, A maldio do rei tambm foi utilizada nas escolaspresbiterianas (ibidem).

    Infelizmente, nesse ponto o caminho termina. Payne foi foradoa demitir o sacerdote por causa de reclamaes dos funcionrios,embora no tenha explicado os motivos. Uma cpia de A maldi-o do rei foi enviada ao Ceilo para considerao dos diretoresdo elaborado programa de combate ancilostomase naquele pas,mas no encontrei evidncias de que tenha sido adotado. A campa-nha contra a ancilostomase na Guiana Britnica foi encerrada em1919, quando a Fundao Rockefeller no conseguiu negociar como governo colonial a extenso do seu mandato. A Diviso Sanit-ria Internacional deixou Trinidad e Tobago em 1924, embora o cernedo quadro de funcionrios locais tenha permanecido ativo paraformar o ncleo da unidade de controle da ancilostomase no con-texto do renovado servio colonial de sade pblica. Entrementes,ao menos dois membros do seu quadro o talentoso e poliglotachefe dos funcionrios, R. G. Marn, e o estimado microscopistachefe, Balbirsingh tiveram a oportunidade de estudar medicinano Canad e em seguida retornaram ilha como mdicos.Washburn retornou Carolina do Norte por alguns anos, e poste-riormente exerceu um longo mandato na Jamaica como chefe dacomisso de combate ancilostomase da Diviso nos anos 20 e 30.O International Health Board (aps 1927, Division) gradativamentedesmantelou seu cinturo global de programas de tratamento daancilostomase e redirecionou seu foco para outras abordagens decontrole e erradicao de doenas, especialmente febre amarela emalria, que eram altamente verticalizadas e tecno-cientficas. Par-te do recuo do combate ancilostomase pode ser explicado comouma reao ao movimento em direo traduo cultural que otratamento da ancilostomase parecia demandar, graas intensivanegociao casa-a-casa com pessoas de distintas crenas etno-m-dicas. possvel que a febre amarela e a malria, com sua nfasemaior no ataque ao vetor, surgissem aos olhos dos homens da sadepblica como mais livre da difcil dimenso da transao cultural.

    Bichos em traduo

    A histria do demnio que se transformou em vermes nos foraa perguntar: em que se transforma a biomedicina quando suasmensagens de patognicos microscpicos e de higiene preventivaso relacionadas a um diabo habitando um corpo? Historiadores eantroplogos da medicina so fascinados pelos conflitos entre sis-temas mdicos por boas razes e tendem a enfatizar a resistn-cia de etnias subordinadas a intruses biomdicas ocidentais, espe-cialmente quando expressa em termos de uma lgica etno-mdica

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    distinta. O poder biopoltico da medicina ocidental, e seu uso comouma arma de poder imperial, est com freqncia em primeiro pla-no nas pesquisas histricas e antropolgicas, e a popularizao dateoria dos germes vista como desdobramento de novas formas decontrole social. Tambm sabemos que, especialmente na AmricaLatina e no Caribe, a cultura mdica notoriamente pluralista, eos estudiosos freqentemente proclamam esse pluralismo mdicocomo um caminho para que os pacientes subalternos escolham oque querem entre os diferentes sistemas mdicos. O pluralismomdico tambm tende a ser apresentado como o resultado do fra-casso da biomedicina em alcanar a dominao seja pela resistn-cia bem-sucedida dos sistemas mdicos alternativos, seja porque aselites ocidentalizadas, em ltima instncia, somente estenderam osfrutos da biomedicina s classes populares no grau necessrio paramaximizar seu potencial de controle social.

    Entretanto, com base no relato histrico aqui exposto, pode-mos propor uma hiptese diferente: o pluralismo mdico da regio a forma de hegemonia biomdica em muitas partes da AmricaLatina e do Caribe e emergiu e foi forjada de modo importanteatravs de trocas entre culturas mdicas como as discutidas aqui.O antroplogo da medicina Arthur Kleinman identifica a distinoda biomedicina ocidental por sua crena de que a doena algomaterial que pode ser revelado na patologia mrbida por suainsistncia, como ele diz, de que existe doena sem sofrimento(Kleinman, 1993, v. I, p. 18). O encontro da Fundao Rockefeller,indubitavelmente a primeira a fazer proselitismo de massa dabiomedicina em escala global, com outros sistemas mdicos domundo forou seus agentes a considerar uma questo relacionada:existe doena sem a prtica de contar histrias?

    Esses casos do Caribe Britnico sugerem que quando a vontadede controle biopoltico o mtodo norte-americano ou intensivo admite ser necessrio o consentimento dos pacientes de modo quehaja eficcia de modo a realizar o efeito demonstrao , ento apureza biomdica deve ser quebrada, deve misturar-se com outrascrenas mdicas e outras narrativas mdicas de modo a solicitarcompreenso e consentimento. O resultado histrico, em longoprazo, desse compromisso , com certeza, algo que no pode serdefinido aqui. Dada a forma extraordinria e heterodoxa com quefoi servida s populaes indo-guianenses e indo-trinidadianas, edada a natureza religiosa e missionria das estruturas de doutrina-o na sade pblica, no seria surpreendente constatar que, pelomenos os hindus, incorporaram algumas idias da biomedicinacomo parte de prticas culturais pantestas enriquecidas. notvelque dois antroplogos atuantes nas comunidades indianas deTrinidad em 1954 verificaram que, embora a populao rural hinduconfiasse principalmente na medicina baseada na cultura afro-

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    STEVEN PALMER

    antilhana, que utiliza ervas, e prticas de magia (Obeah), caso hou-vesse suspeita de ancilostomase, era chamado o doutor formadono ocidente (Niehoff & Niehoff, 1960, p. 75, 171-80).

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