o debate científico sobre o aquecimento global antropogênico

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O debate científico sobre o aquecimento global antropogênico – Parte II Alexandre L. Junges – Doutorando em Ensino de Física- IF-UFRGS [email protected] Neste texto são discutidos mais alguns aspectos sobre o tema do aquecimento global, complementando alguns pontos já abordados anteriormente. Em primeiro lugar uma observação de caráter epistemológico. Como já observara Platão no diálogo Teeteto, conhecimento (episteme) e opinião (doxa) são coisas distintas. A opinião é um palpite, uma aposta (eu acho que o número 50 sairá na loteria), mas o conhecimento é a opinião acompanhada de razões. Pessoas podem ter opiniões sobre muitos assuntos, mas para uma opinião constituir conhecimento ela deve vir acompanhada de razões, evidências, etc., que a justifiquem. No nosso cotidiano formamos opiniões a partir de diversas fontes incluindo a memória, experiências individuais, testemunhos de colegas, notícias de jornais, vídeos da internet, etc. Contudo, nem sempre nos damos o trabalho de checar a confiabilidade das fontes de informação, muitas vezes nos satisfazemos com informações que se alinham com a nossa forma de pensar. Isso constitui um problema, especialmente quando tomamos em consideração um tema complexo como o aquecimento global, onde muitas das notícias circulantes na mídia carecem de confiabilidade. Além disso, a opinião de um cientista individual também não constitui uma fonte de informação livre de prejuízos, especialmente quando este fala ao público leigo, pois cientistas individuais também têm suas preferências subjetivas, interesses e visões de mundo. Na ciência, felizmente, as coias são um pouco diferentes. Quando cientistas individuais apresentam suas hipóteses (ou uma alegada descoberta) para a comunidade científica, eles precisam fazê-lo apresentando publicamente as razões, evidências e argumentos que justificam tal hipótese. Após essa exposição pública da hipótese inicia um processo de escrutínio da comunidade científica competente que não é nem um pouco tolerante com hipóteses sem fundamento. Cientistas são ávidos em criticar os trabalhos de outros grupos “rivais”, buscando cada qual seu espaço de destaque e reconhecimento, cujo prêmio maior é o de ser o responsável por uma descoberta, uma nova hipótese ou teoria que resista ao crivo da comunidade científica. Meras opiniões simplesmente não sobrevivem na ciência. Assim, quando uma teoria vem recebendo atenção, envolvimento e reconhecimento durante décadas por parte da grande comunidade de especialistas da área, pode-se considerar que aí está uma questão com considerável status epistêmico. A teoria do aquecimento global antropogênico (ver também a teoria do dióxido

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O debate científico sobre o aquecimento global antropogênico – Parte II

Alexandre L. Junges – Doutorando em Ensino de Física- IF-UFRGS

[email protected]

Neste texto são discutidos mais alguns aspectos sobre o tema do aquecimento global, complementando alguns pontos já abordados anteriormente.

Em primeiro lugar uma observação de caráter epistemológico. Como já observara Platão no diálogo Teeteto, conhecimento (episteme) e opinião (doxa) são coisas distintas. A opinião é um palpite, uma aposta (eu acho que o número 50 sairá na loteria), mas o conhecimento é a opinião acompanhada de razões. Pessoas podem ter opiniões sobre muitos assuntos, mas para uma opinião constituir conhecimento ela deve vir acompanhada de razões, evidências, etc., que a justifiquem.

No nosso cotidiano formamos opiniões a partir de diversas fontes incluindo a memória, experiências individuais, testemunhos de colegas, notícias de jornais, vídeos da internet, etc. Contudo, nem sempre nos damos o trabalho de checar a confiabilidade das fontes de informação, muitas vezes nos satisfazemos com informações que se alinham com a nossa forma de pensar.

Isso constitui um problema, especialmente quando tomamos em consideração um tema complexo como o aquecimento global, onde muitas das notícias circulantes na mídia carecem de confiabilidade. Além disso, a opinião de um cientista individual também não constitui uma fonte de informação livre de prejuízos, especialmente quando este fala ao público leigo, pois cientistas individuais também têm suas preferências subjetivas, interesses e visões de mundo.

Na ciência, felizmente, as coias são um pouco diferentes. Quando cientistas individuais apresentam suas hipóteses (ou uma alegada descoberta) para a comunidade científica, eles precisam fazê-lo apresentando publicamente as razões, evidências e argumentos que justificam tal hipótese. Após essa exposição pública da hipótese inicia um processo de escrutínio da comunidade científica competente que não é nem um pouco tolerante com hipóteses sem fundamento. Cientistas são ávidos em criticar os trabalhos de outros grupos “rivais”, buscando cada qual seu espaço de destaque e reconhecimento, cujo prêmio maior é o de ser o responsável por uma descoberta, uma nova hipótese ou teoria que resista ao crivo da comunidade científica. Meras opiniões simplesmente não sobrevivem na ciência. Assim, quando uma teoria vem recebendo atenção, envolvimento e reconhecimento durante décadas por parte da grande comunidade de especialistas da área, pode-se considerar que aí está uma questão com considerável status epistêmico.

A teoria do aquecimento global antropogênico (ver também a teoria do dióxido

de carbono das mudanças climáticas) não é uma teoria que surgiu a pouco tempo. Como veremos em seguida, esta é uma teoria que vem recebendo atenção crescente de um número cada vez maior de cientistas desde a década de 1950. Assim, se a grande comunidade de especialistas está envolvida com a questão, há boas razões para considerar que se trata de algo sério.

Tratar do tema do aquecimento global requer que nos ocupemos do que é razoável, como diria Stephen Toulmin. Milhares de cientistas pelo mundo, trabalhando em grupos de pesquisa de alto prestígio científico, estão dedicados no esforço comum de buscar uma compreensão cada vez melhor do planeta Terra, nossa casa comum. A constatação científica de que o ser humano está afetando o equilíbrio climático dos últimos 10.000 anos não é, de fato, uma notícia agradável e coloca a humanidade num dilema moral. Por outro, lado não é uma notícia apocalíptica definitiva. Existem caminhos alternativos e temos o conhecimento e a tecnologia para isso. Mas mais do que conhecimento e tecnologia é preciso que tenhamos sabedoria, de uma postura investigativa e de mente aberta do verdadeiro cético.

A postura do negacionista do aquecimento global antropogênico não é uma opção razoável. A posição negacionista é similar a posição do fumante que vai ao médico, recebe o diagnóstico de que se continuar fumando vai morrer de câncer, mas ao invés de parar de fumar, rejeita a opinião médica e continua fumando. É uma aposta possível, talvez o médico possa estar mesmo enganado, mas o risco é grande e não deixa de existir.

Tratar da questão climática é tratar da questão do risco. Cientistas não podem nos fornecer uma certeza sobre o que vai acontecer com o clima, mas os melhores modelos climáticos dão indicativos de que há um risco real de que a continuidade das emissões humanas terá sérias consequências para o equilíbrio climático. O tema do aquecimento global não é um tema para ser simplesmente negado, é um tema que requer que todos nós nos informamos a respeito, pois assim como no caso do fumante, o risco existe, e precisamos saber o que está acontecendo.

Abaixo são apresentadas algumas questões relacionadas ao tema do aquecimento global, discutidas de forma resumida, mas cujo intuito principal é fornecer mais algumas referências sobre a temática.

1. Aquecimento global é uma invenção da mídia?

A ideia de que o aquecimento global é uma invenção da mídia (ou da China como diz Donald Trump), ou uma invenção de Al Gore, é facilmente descartada se olharmos para a história da ciência do clima. Neste caso o site do físico e historiador da ciência Spencer Weart do American Institute of Physics (https://en.wikipedia.org/wiki/Spencer_R._Weart) é uma ótima fonte. Podemos verificar em seu livro online (http://history.aip.org/climate/co2.htm) que a história sobre o que se pode chamar de “Teoria do dióxido de carbono das mudanças climáticas” remonta ao século XIX com a publicação de trabalhos de

cientistas como John Tyndal (1859), Svante Ahrenius (1896), Guy Stewart Callendar (1938), Gilbert Plass (1955), Charles Keeling (1958) e Roger Revelle (http://history.aip.org/climate/co2.htm). Destes Svante Ahrenius é inclusive um prêmio Nobel de Química https://pt.wikipedia.org/wiki/Svante_Arrhenius. Charles Keeling (1958) ficou famoso pelas suas medições no monte Mauna Loa Havaii gerando famosa curva de carbono de Keelling. http://en.wikipedia.org/wiki/Keeling_Curve

O físico Gilbert Plass merece destaque pelo seu trabalho sobre a “Teoria do dióxido carbono das mudanças climáticas” (1956).

https://en.wikipedia.org/wiki/Gilbert_Plass

http://cvining.com/system/files/Plass-Tellus-1956.pdf

Comentários recentes ao trabalho de Plass por parte do historiador da meteorologia James Fleming e do climatologista da NASA Gavin Schmidt podem ser acessados aqui:

http://www.americanscientist.org/issues/pub/2010/1/carbon-dioxide-and-the-climate/11 http://www.americanscientist.org/issues/pub/2010/1/carbon-dioxide-and-the-climate/12

De fato, como relata Spencer Weart, entre 1900 e 1950 a maioria dos cientistas eram céticos com relação a “Teoria do dióxido de carbono das mudanças climáticas”. Porém, as coisas começaram a mudar a partir da década de 1960, especialmente com os trabalhos de Roger Revelle (http://history.aip.org/climate/Revelle.htm). Como observa Spencer Weart em torno de 1950 a maioria dos cientistas acreditava que qualquer excesso de CO2 que fosse emitido pelas atividades humanas, era rapidamente absorvido pelos oceanos. Contudo, Roger Revelle, que era oceanógrafo, descobriu que os oceanos tinham uma capacidade limitada de absorver CO2, de modo que o excesso de emissões poderia sim afetar a composição atmosférica. Revelle foi o autor da frase: "Human beings are now carrying out a large scale geophysical experiment of a kind that could not have happened in the past nor be reproduced in the future."

Após os trabalhos de Revelle muitos outros cientistas começaram a levar a sério a possibilidade das emissões humanas afetarem o clima. Mais detalhes no livro de Weart.

Apenas para citar um exemplo, em 1981 o astrofísico e climatologista da NASA James Hansen e seus colegas publicaram um artigo em que fizeram as seguintes previsões:

https://pt.wikipedia.org/wiki/James_Hansen http://pubs.giss.nasa.gov/docs/1981/1981_Hansen_ha04600x.pdf :

“Potential effects on climate in the 21st century include the creation of drought-prone regions in North America and central Asia as part of a shifting of climatic zones, erosion of the West Antarctic ice sheet with a consequent

worldwide rise in sea level, and opening of the fabled Northwest Passage." (Hansen, et al., 1981)

Todas estas previsões foram essencialmente confirmadas:

http://www.skepticalscience.com/lessons-from-past-predictions-hansen-1981.html

Uma das previsões mais impressionantes do trabalho de Hansen, et al. (1981) é a de que o aquecimento global levaria a abertura da Passagem do Noroeste. Previsão que atualmente se confirmou.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Passagem_do_Noroeste

Carl Sagan também estava entre aqueles cientistas preocupados com a questão. Na sua série Cosmos ele aborda a questão em diversos momentos. Um exemplo é o episódio 4 “Heaven and Hell”, onde ele discute o efeito estufa comparando o planeta Vênus (com uma alta concentração de CO2) com o Planeta Terra. Ao final ele também aborda a questão do aquecimento global.

https://www.youtube.com/watch?v=e2CQfewghyU

Por fim, é interessante notar que a própria gigante do petróleo Exxon Mobil (que como veremos mais adiante financia muitos dos céticos negacionistas), já sabia no final da década de 1970 que o aumento das emissões do CO2 seria um problema para o equilíbrio climático.

https://www.desmogblog.com/2016/04/26/there-no-doubt-exxon-knew-co2-pollution-was-global-threat-late-1970s

Possivelmente, e de forma lamentável, a alegação de que o aquecimento global é uma invenção da mídia vai voltar a ganhar força nos próximos anos com o negacionista Donal Trump como presidente dos EUA. Por isso, é importante que nos informamos a respeito deste tema.

2. A ciência do aquecimento global constitui uma área de pesquisa consolidada?

Como visto anteriormente, cientistas vem estudando o clima a mais de um século. A “Teoria do dióxido carbono das mudanças climáticas” começou a ser levada a sério após os trabalho de Gilbert Plass, Charles Keeling, Roger Revelle, etc., nas décadas de 1950 e 1960. Pode-se perceber, então, que temos no mínimo 60 anos de pesquisa científica séria sobre o papel do CO2 na atmosfera e clima da Terra.

Atualmente a área do estudo do clima possui dezenas de revistas consolidadas (http://archive.sciencewatch.com/ana/st/climate/journals/) e inúmeras publicações de livros especializados e livros textos para cursos de graduação em geociências, etc., envolvendo temas como efeito estufa, aquecimento global, mudanças climáticas. Apenas alguns exemplos:

ANDREWS, D. An Introduction to Atmospheric Physics. Cambridge University

Press, 2010.

AMBAUM, M. Thermal Physics of the Atmosphere. John Willey & Sons, 2010.

ARCHER, D. Global warming: understanding the forecast. John Willey & Sons, 2012.

HOUGTHON, J. Global warming: the complete briefing. Cambridge University Press, 2009.

CHRISTOPHERSON, R. Geossistemas: uma introdução a geografia física. Porto Alegre: Bookman, 2012.

Como já destacado, a ciência do aquecimento global têm predições confirmadas como no trabalho de Hanson, et al (1981). Para mais discussão sobre previsões usando modelos climáticos:

http://www.skepticalscience.com/climate-models-intermediate.htm

Max Planck Institute für Meteorologie:

https://www.mpg.de/8925360/climate-change-global-warming-slowdown

https://www.mpg.de/7274624/climate_change_global_warming

Um vídeo bem interessante que apresenta os meandros da pesquisa climática é:

Thin Ice:

http://thiniceclimate.org/

3. O IPCC é confiável?

Como já destacado o IPCC (https://www.ipcc.ch/) é um órgão criado em 1988 pela ONU e pela Organização Meteorológica Mundial (http://public.wmo.int/en) para avaliar o status do conhecimento científico na área. Importante lembrar que o IPCC não faz ciência, mas apenas reuni e sumariza as publicações de revistas especializadas na área para compor seus relatórios. Os relatórios do IPCC são divididos em 3 grupos de trabalho (Working Group I: The Physical Science Basis; Working Group II: Impacts, Adaptation and Vulnerability; Working Group III: Mitigation of Climate Change).

Para se ter uma ideia, o primeiro grupo de trabalho (Working Group I: The Physical Science Basis) no 1ª relatório (1990) contou com a contribuição de 170 cientistas de 25 países e mais 200 cientistas envolvidos no processo de peer review (Houghton, 2009). No 4ª relatório (2007): o número cresceu para 152 autores principais e 500 autores contribuidores e mais de 600 autores envolvidos em dois estágios de peer review (Houghton, 2009, p.264). No 5ª e último relatório de (2013) o número cresceu para 259 autores principais de 39 países e mais de 50.000 comentários no processo de peer review (http://www.climatechange2013.org/).

Vê-se, assim, que inúmeros cientistas competentes de diversos países

participam do IPCC. Pode-se consultar pelo nomes dos autores do Grupo de Trabalho I: “The physical science basis” (2013). http://www.climatechange2013.org/images/report/WG1AR5_SPM_FINAL.pdf.

A listas de cientistas que participaram do IPCC – 2007:

https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_authors_of_Climate_Change_2007:_The_Physical_Science_Basis

Inclusive cientistas brasileiros importantes participam dos relatórios do IPCC. Alguns deles são o físico Paulo Artaxo da USP que é especialista em física atmosférica e pesquisadores do Inpe como Carlos Nobre e José Marengo, todos entre os cientistas mais respeitados do Brasil, basta consultar seus currículos para verificar.

No Brasil também temos o Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) que fornece relatórios científicos sobre o tema. O PBMC foi criado em 2009 pelos Ministérios da Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente.

http://www.pbmc.coppe.ufrj.br/pt/

Além disso, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) também fornece relatórios científicos sobre mudanças climáticas que podem ser consultados no site.

http://mudancasclimaticas.cptec.inpe.br/

Vídeos educacionais do INPE:

http://videoseducacionais.cptec.inpe.br/

4. O clima sempre mudou no passado, então por que se preocupar?

O fato de o clima ter mudado no passado é algo conhecido por todos os cientistas, mas isso em nada muda o cenário atual de aquecimento devido as emissões humanas de gases estufas. Sabe-se que o CO2 (junto com o Sol, etc.) sempre esteve associado as entradas e saídas de eras do gelo no passado. Colocar mais CO2 na atmosfera, como estamos fazendo, trará consequências para o clima, a física é clara a esse respeito. Mesmo que as medições de CO2 e da temperatura sejam de pouco mais de um século, o que surpreende os cientistas é a rapidez com que estamos aumentando a quantidade de CO2 e a temperatura. Por exemplo, passamos de 280 ppm para 400 ppm de CO2 em pouco mais de um século, resultando num aumento de cerca de 0.7 graus na temperatura. Pode parecer pouco, mas a diferença entre uma era de gelo e um período interglacial é de apenas 4 a 7 graus, sendo que uma saída de era do gelo levava um tempo de 5.000 anos.

http://earthobservatory.nasa.gov/Features/GlobalWarming/page3.php

http://www.skepticalscience.com/climate-change-little-ice-age-medieval-warm-period-intermediate.htm

De fato, houve também mudanças abruptas no clima do passado.

http://www.skepticalscience.com/Rapid-climate-change-deadlier-than-

asteroid-impacts.html

O que preocupa os cientistas hoje é a rapidez do aquecimento global. Isso por que possivelmente mudanças abruptas no clima do passado levaram a grandes extinções de espécies, não dando tempo para que as espécies se adaptassem a mudança. Sem alarmismos demasiados, mas atualmente há, de fato, um risco considerável de que a mudança climática em curso possa levar a extinção massiva de espécies. Novamente, vale lembrar, lidar com a questão climática é lidar com a questão do RISCO.

5. O Sol é o principal fator que afeta o clima?

De fato, todos os cientistas reconhecem que o Sol é um fator importante na regulação do clima global. Contudo o Sol não é o único fator, outros fatores como erupções vulcânicas e a presença de gases estufa na atmosfera, etc. também devem ser considerados.

A logica de considerar que apenas o Sol afeta o clima não é razoável. Como já dizia o climatologista Stephen Schneider, se aceitamos que o clima é sensível a variações na intensidade da radiação solar, então também precisamos aceitar que o clima é sensível em variações no efeito estufa gerado pelo aumento de gases estufa.

https://en.wikipedia.org/wiki/Stephen_Schneider

Um comentário interessante sobre o papel do Sol no clima é feito no texto abaixo do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas

http://www.pbmc.coppe.ufrj.br/en/news/471-a-falacia-da-qmini-era-do-geloq

Outras referências sobre o tema do Sol e mudança climática pode-se consultar:

http://www.skepticalscience.com/solar-activity-sunspots-global-warming-intermediate.htm

http://www.skepticalscience.com/grand-solar-minimum-mini-ice-age.htm

https://www.youtube.com/watch?v=IQHqgdvXTxE#t=337

https://www.scientificamerican.com/article/global-warming-reverses-arctic-cooling/

6. As emissões naturais de CO2 são muito maiores que as humanas, por que se preocupar?

O fato de que as emissões humanas serem muito menores do que as emissões naturais não constitui um argumento contra as conclusões do IPCC. É preciso lembrar que se trata do ciclo de carbono, onde há emissão de carbono, mas também há absorção. Se a natureza emite essa grande quantidade de carbono (cerca de 776 bilhões de toneladas anuais) é preciso lembrar que a natureza também reabsorve essa enorme quantidade de carbono a cada ano. Assim, o ponto é justamente que antes da intervenção humana a quantidade de emissão natural de carbono e a

quantidade de absorção por parte do sistema natural era praticamente igual. Contudo, com o acréscimo da emissão humana, começou a ter mais emissão do que absorção, pois as plantas e os oceanos não conseguem absorver todo o carbono, ficando o excesso acumulado, por exemplo, na atmosfera. Sabe-se hoje que a quantidade natural de carbono (antes da revolução industrial) era da ordem de 280 ppm, as emissões humanas nos últimos 150 anos elevaram esse valor para os atuais 400 ppm, ocasionando o aumento do efeito estufa atmosférico.

http://www.skepticalscience.com/human-co2-smaller-than-natural-emissions-intermediate.htm

http://www.skepticalscience.com/docs/Guide_Skepticism_Portuguese.pdf

https://en.wikipedia.org/wiki/Carbon_dioxide_in_Earth%27s_atmosphere

7. Mas se a Antártica está ganhando gelo, como fica o aquecimento global?

Num estudo recente pesquisadores da NASA concluem que a Antártica oriental está ganhando mais gelo do que as perdas de gelo da Antártica ocidental.

Zwally, et al. Mass gains of the Antarctic ice exceed losses. Journal of Glaciology, 2015.

http://www.ingentaconnect.com/content/igsoc/jog/2015/00000061/00000230/art00001?crawler=true

Seria então esse estudo evidência de que o aquecimento global não está acontecendo?

Como pode ser verificado no artigo de Zwally, não há nenhum questionamento a este respeito. Pelo contrário, o próprio Zwally, em entrevista a Nature, reconhece que no longo prazo o aquecimento poderá levar a maiores perdas de gelo novamente. Ou seja, com o aquecimento global é provável que a Antártica vai voltar a perder mais gelo do que ganhar. Ele escreve:

“The findings do not mean that Antarctica is not in trouble”, Zwally notes. “I know some of the climate deniers will jump on this, and say this means we don’t have to worry as much as some people have been making out,” he says. “It should not take away from the concern about climate warming.” As global temperatures rise, Antarctica is expected to contribute more to sea-level rise, though when exactly that effect will kick in, and to what extent, remains unclear”.

http://www.nature.com/news/gains-in-antarctic-ice-might-offset-losses-1.18486

Mais depoimentos de Zwally podem ser acessados em:

http://mediamatters.org/research/2015/11/04/nasa-scientist-warned-deniers-would-distort-his/206612

https://www.nasa.gov/feature/goddard/nasa-study-mass-gains-of-antarctic-ice-sheet-greater-than-losses

Além disso, é importante observar que as próprias conclusões do estudo de Zwally e colegas ainda é debatida pelos cientistas, ou seja, ainda não está confirmado que a Antártica realmente está ganhando mais gelo do que perdendo. Para essas discussões do significado do estudo de Zwally pode-se acessar:

http://www.realclimate.org/index.php/archives/2015/11/so-what-is-really-happening-in-antarctica/

http://sitn.hms.harvard.edu/flash/2016/why-is-antarcticas-ice-sheet-growing-in-a-warming-world/

http://www.skepticalscience.com/antarctica-gaining-ice.htm

Como podemos ver, a controvérsia aqui é sobre a perda e ganho de gelo na Antártica e sobre quais as melhores técnicas (radar, laser e tipo de satélite) para medir o gelo na Antártica. Em nenhum momento estes cientistas, inclusive Zwally, discordam ou descartam o aquecimento global. As diferenças entre os estudos de Zwally e outros cientistas, apenas demostram como o sistema Antártico é complexo, onde a perda ou ganho de gelo é afetada por diversos fatores como padrões de vento, neve, temperatura do oceano, etc. Mas os cientistas estão no caminho certo para compreender esses mecanismos.

Sobre a complexidade do funcionamento do clima da Antártica pode-se acessar o link abaixo, embora seja anterior ao artigo de Zwally:

http://www.skepticalscience.com/translation.php?a=21&l=10

Pode-se também acessar a matéria da NASA abaixo, onde pode ser verificado que no nível global (juntando hemisfério sul e norte) o gelo no planeta está diminuindo.

https://www.nasa.gov/content/goddard/nasa-study-shows-global-sea-ice-diminishing-despite-antarctic-gains

8. É possível medir a temperatura média do Planeta?

Tratar da temperatura média do Planeta não é uma tarefa fácil. Contudo, cientistas desenvolveram técnicas de análise de dados para lidar com a questão. Uma breve descrição do processo pode ser acessada em:

https://www.acs.org/content/acs/en/climatescience/energybalance/earthtemperature.html

http://data.giss.nasa.gov/gistemp/

Sobre o problema das ilhas de calor das cidades:

http://www.skepticalscience.com/surface-temperature-measurements-intermediate.htm

É importante observar que os relatórios do IPCC consideram os dados de pelo menos 5 grandes grupos de pesquisa independentes que fazem esse tipo de análise da temperatura. Entre esses grupos estão a NASA, a National Oceanic and

Atmosferic Administration (NOOA), o Climate Research Unit (CRU) da Inglaterra, a Agência Meteorológica Japonesa e um grupo de Berkeley. Como pode ser verificado no gráfico abaixo (e no primeiro link acima), todos esses grupos apesar de usarem técnicas de análise distintas chegaram essencialmente aos mesmo resultados.

http://climate365.tumblr.com/search/temperature

Mais detalhe desse gráfico pode ser acessado em:

http://earthobservatory.nasa.gov/Features/WorldOfChange/decadaltemp.php

A NASA, por exemplo, utiliza dados de 6,300 estações meteorológicas espalhadas pelo mundo, inclusive na Antártica.

Pode-se verificar que os grupos de pesquisa acima são grupos de grande prestígio científico. Os dados desses grupos são todos públicos e quem tiver a habilidade científica para analisá-los pode fazê-lo. Veja os dados no link da NASA http://climate.nasa.gov/vital-signs/global-temperature/.

Por fim, mesmo que hipoteticamente não seja possível “medir” essa temperatura média é importante observar que ela não é a única evidência do aquecimento global. Cientistas chamam a atenção para diferentes linhas de evidência como: o balanço de energia da Terra medido por satélites, a expansão dos oceanos, o resfriamento da estratosfera e o aquecimento da baixa troposfera, etc. Nos links abaixo pode-se verificar que há pelo menos 7 linhas de evidência que convergem para a conclusão de que está havendo uma elevação da temperatura do Planeta.

http://www.skepticalscience.com/docs/Guide_Skepticism_Portuguese.pdf

http://www.skepticalscience.com/big-picture.html

9. Mas não há cientistas que dizem que o aquecimento global não é um problema?

De fato, há aqueles cientistas para os quais o aquecimento global antropogênico não constitui um problema para a humanidade. Entre eles temos inclusive alguns prêmios Nobel como Ivar Giaever e Freeman Dyson. Contudo, é importante observar que Ivar Giaever e Freeman Dyson são dois físicos cujas áreas de especialização não são as mudanças climáticas, mas áreas da física como a supercondutividade e física teórica. Outros céticos de destaque são o físico Fred Singer e o climatologista do MIT Richard Lindzen. Estes possuem ampla especialização na área climática, contudo são cientistas com opiniões polêmicas sobre diversos temas como veremos abaixo.

Ivar Giaever

Um vídeo em que Giaver questiona o aquecimento global antropogênico pode ser acessado em:

https://www.youtube.com/watch?v=Dk60CUkf3Kw

Uma resposta e análise detalhada da fala de Giaever é feita aqui:

http://www.skepticalscience.com/ivar-giaever-nobel-physicist-climate-pseudoscientist.html

Apenas para comentar alguns pontos do vídeo acima. Giaever afirma que aquecimento global foi uma invenção de Al Gore. Como visto anteriormente, basta olhar para a história da ciência do clima para ver que essa é uma alegação sem fundamento. Giaever também afirma que o CO2 não é um poluente. Ora, mesmo que o aumento do CO2 não tivesse nenhum impacto sobre o clima global, ainda teríamos um outro problema que é a “acidificação dos oceanos” (devido ao aumento de CO2 dissolvido na água) e que pode levar a morte de várias espécies marinhas como os recifes de corais. Ou seja, o CO2 em excesso é sim um poluente.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Acidifica%C3%A7%C3%A3o_oce%C3%A2nica

http://www.pmel.noaa.gov/co2/story/What+is+Ocean+Acidification%3F

Freeman Dyson

Um vídeo em que Dyson questiona o aquecimento global antropogênico pode ser acessado em:

https://www.youtube.com/watch?v=BiKfWdXXfIs

Um comentário sobre Dyson pode ser acessado em:

http://www.realclimate.org/index.php/archives/2008/05/freeman-dysons-selective-vision/

https://blogs.scientificamerican.com/cross-check/freeman-dyson-global-warming-esp-and-the-fun-of-being-bunkrapt/

http://www.skepticalscience.com/climate-models.htm

No vídeo acima, Dyson reconhece que existe aquecimento global, mas argumenta que será uma coisa boa e que os cientista não estão levando isso em conta. Contudo, pode-se verificar em diversas fontes, como os relatórios do IPCC, que os cientistas consideram sim o balanço entre prejuízos e benefícios. O que os cientistas dizem é que muito provavelmente os prejuízos serão maiores que os ganhos. Novamente estamos lidando com a questão do risco. Sobre este tema pode-se consultar:

http://www.ipcc.ch/pdf/assessment-report/ar5/wg2/ar5_wgII_spm_en.pdf

http://climate.nasa.gov/effects/

No contexto brasileiro:

http://www.pbmc.coppe.ufrj.br/en/news/458-os-reais-impactos-das-mudancas-climaticas-no-brasil-segundo-o-painel-brasileiro

http://www.pbmc.coppe.ufrj.br/documentos/GT2_sumario_portugues_v2.pdf

Richard Lidzen

Um vídeo em que Lindzen questiona o aquecimento global antropogênico pode ser acessado em:

https://www.youtube.com/watch?v=-sHg3ZztDAw

Para discussão dos argumentos de Lidzen veja-se:

http://www.skepticalscience.com/skeptic_Richard_Lindzen.htm

Um dos argumentos muito utilizados por Lindzen é de que devido as incertezas sobre diversos mecanismos de feedback (das nuvens, etc.), cientistas ainda são ignorantes sobre o funcionamento e possibilidade de previsão do clima. De fato, os cientistas reconhecem que tais incertezas existem, contudo, enfatizam que muitos aspectos do clima já são conhecidos. Incerteza não é o mesmo que ignorância. Veja-se:

http://www.skepticalscience.com/climate-scientists-take-on-Richard-Lindzen.html

No vídeo acima Lidzen também apresenta algumas citações do livro de Mike Hulme. Why we disagree about climate change (2009). Como eu tenho o livro tomei a liberdade de comparar as citações. Lidzen apresenta as citações de Hulme parecendo sugerir que “climate change” é uma invenção, um mito. Contudo, é preciso observar que Lidzen não menciona que Hulme distingue entre dois significados de “climate change”. Ou seja, Hulme (2009, p. 327) distingue entre “climate change” como “transformação física” (objeto de estudo das ciências naturais) e “climate change” como “ideia” (onde aspectos culturais, sociais, antropológicos, psicológicos são considerados). Nas citações que Lidzen usa de Hulme (2009, p.341), Hulme está se referindo a “climate change” como “ideia”. Em nenhum momento Hulme está questionando o primeiro sentido de “climate change”, ou seja, de transformação do mundo físico. Além disso, a última citação que Lidzen faz de Hulme também não está completa. A frase completa é: “Indeed, myths in this anthropological sense transcend the scientific categories of “true” and “false” (Hulme, 2009, p.341).

Ricahrd Lindzen, além de negar o problema do aquecimento global, também está entre aqueles cientistas que argumentavam em décadas anteriores que o tabagismo não traria risco para a saúde humana.

http://www.sourcewatch.org/index.php?title=Richard_S._Lindzen&redirect=no#On_Tobacco

Fred Singer:

Um vídeo em que Singer questiona o aquecimento global antropogênico pode ser acessado em:

https://www.youtube.com/watch?v=mLM82B7rgy8

Comentário sobre Singer pode ser acessado em:

http://www.skepticalscience.com/fred-singer-debunks-and-denies.html

O físico Fred Singer é um dos principais céticos do aquecimento global antropogênico, sendo o principal autor do NIPCC (Nongovernmental International Panel on Climate Change) fundado pelo Heartland Institute (um “think thank” conservador). Além do aquecimento global, Singer também esteve envolvido com temas como a chuva ácida, CFCs e a camada de ozônio, tabaco e câncer, em todos esses casos questionando a opinião da comunidade científica (Oreskes & Conway. Merchants of Doubt. 2010).

https://en.wikipedia.org/wiki/Fred_Singer

Por exemplo, em 1995 Singer atesta no congresso americano questionando a relação entre os CFCs e o buraco de ozônio. Interessante notar que no mesmo ano de 1995, Paul Crutzen, Mario Molina e Sherwood Rowland receberam o Prêmio Nobel de Química pela sua descoberta de que o CFC, ao alcançar a estratosfera, libera o cloro, que reage com o ozônio destruindo a molécula.

Também em 1995 Singer e Baliunas (outra cética das mudanças climáticas) atestaram no congresso americano de que o buraco de ozônio não traria risco para a incidência de câncer de pele. Essa posição de Singer encontra-se já num artigo de 1987, onde escreve: “But there is no reliable evidence that the total amount of ozone has decreased, and any increase in the incidence of melanoma, the most serious type of skin cancer, must therefore involve other causes”(http://www.fortfreedom.org/s13.htm). Tais testemunhos são completamente contrários à American Academy of Dermatology.

Também podemos encontrar defesas de Singer que contestam a relação entre o tabaco e o câncer https://www.industrydocumentslibrary.ucsf.edu/tobacco/docs/#id=kxjj0132

Há também uma controvérsia envolvendo Fred Singer, Roger Revelle e Al Gore, sobre isso pode-se consultar Oreskes & Conway. Merchants of Doubt, 2010, bem como:

https://en.wikipedia.org/wiki/Roger_Revelle

http://ossfoundation.us/projects/environment/global-warming/myths/revelle-gore-singer-lindzen/carolyn-revelle

http://media.hoover.org/sites/default/files/documents/0817939326_283.pdf

http://www.uscentrist.org/platform/positions/environment/context-environment/john_coleman/the-revelle-gore-story

http://ruby.fgcu.edu/courses/twimberley/envirophilo/lookbeforeyouleap.pdf

10. Há alguma ligação entre céticos e a indústria do Petróleo e Carvão?

De fato, muitos dos céticos, inclusive entre os acima mencionados, são membros de “think thanks” financiados pela indústria do petróleo. Pode-se verificar isso consultando:

http://www.exxonsecrets.org/html/index.php

http://www.sourcewatch.org/index.php/Climate_Change_Deniers

http://www.desmogblog.com/ivar-giaever

http://www.sourcewatch.org/index.php/S._Fred_Singer

http://www.desmogblog.com/s-fred-singer

http://www.desmogblog.com/richard-lindzen

http://www.sourcewatch.org/index.php?title=Richard_S._Lindzen&redirect=no#On_Tobacco

Vídeos sobre o tema:

Merchants of Doubt

https://www.youtube.com/watch?v=pRenGy0cg5s

PBS Frontline 2012 Climate of Doubt:

https://www.youtube.com/watch?v=J8te6eAZSlc

É interessante verificar também que não são muitos artigos publicados por céticos (negacionistas), em revistas com processo de peer review, em que os autores negam ou põe em dúvida o aquecimento global antropogênico.

http://www.skepticalscience.com/peerreviewedskeptics.php

A respeito das origens do movimento cético (negacionista) do aquecimento global pode-se consultar os trabalhos de historiadores e sociólogos como:

Jacques, P., Dunlap, R. & Freeman, M. “The organization of denial: conservative think thanks and environmental scepticism”. Environmental Politics, 2008. http://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/09644010802055576

Dunlap, R. & Jacques, P. “Climate Change Denial Books and Conservative Think Tanks”. The American Behavioral Scientist, 2013.

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3787818/

Jamieson, D. & Herrick, C. Junk Science and Environmental Policy: Obscuring Public Debate With Misleading Discourse. 2001.

http://environment.as.nyu.edu/docs/IO/1192/JunkScienceEnvironmentalPolicy.pdf

Oreskes, N. & Conway, E. Merchants of Doubt. 2010.

Jacques, Dunlap & Freeman (2008) analisaram 141 livros “céticos” (de língua inglesa) publicados entre 1972-2005. Os autores verificaram que 92 % dos livros possuem ligações com instituições (“think thanks”) conservadores. Jamieson & Herrick (2001) concluiram em sua análise que os artigos negacionistas que empregam o termo “junk science” baseiam-se em argumentos políticos e ideológicos e não em argumentos científicos.

Os autores acima argumentam que a principal estratégia cética (negacionista) contra o consenso científico existente é a “disseminação da dúvida” através do desacordo, promovendo controvérsias cientificas artificiais. Este é com certeza um problema considerável, afinal, como pode o público leigo distinguir entre uma controvérsia artificial e uma controvérsia científica legítima? É por esse motivo que, quando consideramos e avaliamos a controvérsia das mudanças climáticas, fornecer um diagnóstico adequado deverá envolver um conhecimento dos fatores circunstanciais envolvidos, conhecer os protagonistas envolvidos, seus argumentos e suas motivações. Isso, é claro, requer um trabalho e tanto. Felizmente, em grande parte este trabalho já foi feito por historiadores e sociólogos da ciência como Naomi Oreskes, Spencer Weart, James Fleming, Peter Jacques, Riley, Dunlap, entre outros.

11. A controvérsia climategate revelou fraude por parte dos cientistas?

O polêmico caso climategate iniciou em 2009 envolvendo o vazamento de e-mails de um dos grandes centros de pesquisas sobre mudanças climáticas na Inglatera, o Climate Research Unit (CRU). Segundo os céticos, evidência da farsa do aquecimento global seria a ocorrência das expressões “trick” e “hide the decline” que aparecem num dos e-mails de Philip Jones, diretor do CRU. No centro dessas alegações está a controvérsia sobre o gráfico de reconstrução de temperaturas conhecido por Hockey Stick, que foi publicado pela primeira por Michael Mann et al. (1998).

Como já observado na postagem anterior, na época comissões independentes de cientistas foram encarregadas de analisar a acusação de fraude. Abaixo destaco três grupos de comissões independentes que analisaram o caso, os primeiros dois se ocuparam com o conteúdo dos e-mails. O terceiro de Lord Oxburgh se dedicou exclusivamente a analisar a replicar os dados científicos. Pode-se verificar que nenhuma comissão encontrou fraude. O que ficou dessa história foram recomendações para que os cientistas adotassem medidas de transparência disponibilizando todos os dados publicamente. Desde então essas medidas vem sendo tomadas.

House of Commons Science and Technology Committee. The disclosure of climate data from the Climate Research Unit at the University of East Anglia. (2010). Disponível em: http://www.publications.parliament.uk/pa/cm200910/cmselect/cmsctech/387/387i.pdf>.

MUIR RUSSEL A. The Independent Climate Change E-mails Review. (2010). Disponível em: http://www.cce-review.org/pdf/FINAL%20REPORT.pdf

OXBURGH, Ron (Lord). Science Assessment Panel. (2010). Disponível em: http://www.uea.ac.uk/mac/comm/media/press/CRUstatements/SAP

Um livro que já mencionei e que vai a fundo na questão é:

PEARCE, Fred. The climate files: the battle for the truth about global warming. (2010).

Um texto sobre Michael Mann antes da controvérsia:

https://www.scientificamerican.com/article/behind-the-hockey-stick/

Importante observar que o gráfico de Michael Mann é um gráfico cujos dados posteriormente foram analisados por 11 grupos de pesquisa independentes ao redor do mundo. Pode-se consultar:

http://history.aip.org/history/climate/xmillenia.htm

http://history.aip.org/climate/20ctrend.htm#hockey

12. Existem mesmo 30 mil cientistas que discordam do aquecimento global antropogênico?

Nesse caso trata-se da Oregon Petition. É uma petição organizada em 1998 e novamente em 2007 em que céticos alegam que há 17 mil (1998) e 30 mil (2008) cientistas contra o AGA.

https://en.wikipedia.org/wiki/Oregon_Petition

http://yournewswire.com/tens-of-thousands-of-scientists-declare-climate-change-a-hoax/

Em primeiro lugar, pode-se observar que o critério adotado pelo Instituto Oregon para definir o que é ser cientista é bem amplo: “Signatories are approved for inclusion in the Petition Project list if they have obtained formal educational degrees at the level of Bachelor of Science or higher in appropriate scientific fields”.

http://www.petitionproject.org/qualifications_of_signers.php

Uma análise da petição é feita em:

http://www.skepticalscience.com/OISM-Petition-Project-intermediate.htm

A petição de 1998 foi analisada pela Scientific American. Cuja análise concluiu que uma minoria, cerca de 200, são cientistas do clima.

https://web.archive.org/web/20060823125025/http://www.sciam.com/page.cfm?section=sidebar&articleID=0004F43C-DC1A-1C6E-84A9809EC588EF21

Além disso, entre os nomes que assinaram a petição foram inclusive encontrados personagens de ficção do Star Wars e membros das Spice Girls. Mais detalhes em:

http://www.desmogblog.com/oregon-petition

http://www.skepticalscience.com/news.php?n=158

13. Há petições que atestam a realidade dos riscos das Mudanças Climáticas?

Vale lembrar que este ano 376 cientistas membros da National Academy of

Sciences, incluindo 30 prêmios Nobel, assinaram uma carta alertando para os riscos das mudanças climáticas. Entre eles há também nomes de físicos como Stephen Hawking e Kip Thorne.

http://responsiblescientists.org/

Também pode-se mencionar a declaração do encontro de Prêmios Nobel de Lindau na Alemanha, com a assinatura de 36 Prêmios Nobel. É interessante notar que foi neste encontro que Ivar Giaever proferiu a sua fala negacionista.

http://time.com/3945630/lindau-nobel-laureates-meetings/

http://qz.com/444787/a-group-of-nobel-laureates-have-signed-a-declaration-calling-for-urgent-action-on-climate-change/

De fato, ainda entre os Físicos, a American Physical Society apoia o consenso científico:

https://www.aps.org/policy/statements/15_3.cfm

Por fim, espero que este texto e as referências sugeridas possam contribuir mais um pouco para divulgação de informação e diálogo sobre o tema do aquecimento global e das mudanças climáticas. Novamente gostaria de agradecer ao CREF e seus idealizadores, em especial ao prof. Fernando Lang, pela promoção do diálogo sobre o tema.