o currículo local como espaço de coexistência

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Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=76610103 Red de Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal Sistema de Información Científica José P. Castiano O Currículo Local como Espaço de Coexistência de Discursos: Estudo de caso nos Distritos de Báruè, de Sussundenga e da Cidade de Chimoio - Moçambique Revista e-Curriculum, vol. 1, núm. 1, dezembro, 2005, p. 0, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Brasil Como citar este artigo Fascículo completo Mais informações do artigo Site da revista Revista e-Curriculum, ISSN (Versão impressa): 1809-3876 [email protected] Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Brasil www.redalyc.org Projeto acadêmico não lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto

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Este artigo explora até que ponto, por meio do currículo local, na escola moçambicana institucionaliza-se um espaço social de diálogo entre os saberes de natureza local e os saberes de natureza universal. O currículo local, argumenta-se, não só como espaço de integração de saberes,valores e práticas locais no currículo nacional, mas sobretudo ele é potencialmente um espaço denegociação, avaliação e validação dos saberes de ambas naturezas. A comunicação explora a questão, até que ponto a introdução do Currículo Local no ensino básico abre possibilidades de transcender a “coexistência silenciosa” entre os saberes curriculares universais e locais. A argumentação funda-se em alicerces teóricos e empíricos. Na primeira parte explora-se a hipótesedo Currículo Local ser «um espaço social de coexistência de discursos» tornando frutíferos os conceitos de apropriação e de reapropriação hountondjianos.O alicerce empírico do argumento é baseado nos resultados do estudo realizado durante os meses de Outubro e Novembro de 2003nas escolas primárias que experimentaram o novo currículo para o ensino básico nos distritos deBáruè, Sussundenga e na cidade de Chimoio (Província de Manica, Moçambique).

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  • Disponvel em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=76610103

    Red de Revistas Cientficas de Amrica Latina, el Caribe, Espaa y Portugal

    Sistema de Informacin Cientfica

    Jos P. Castiano

    O Currculo Local como Espao de Coexistncia de Discursos: Estudo de caso nos Distritos de Bru, de

    Sussundenga e da Cidade de Chimoio - Moambique

    Revista e-Curriculum, vol. 1, nm. 1, dezembro, 2005, p. 0,

    Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo

    Brasil

    Como citar este artigo Fascculo completo Mais informaes do artigo Site da revista

    Revista e-Curriculum,

    ISSN (Verso impressa): 1809-3876

    [email protected]

    Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo

    Brasil

    www.redalyc.orgProjeto acadmico no lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto

    http://www.redalyc.orghttp://www.redalyc.org/comocitar.oa?id=76610103http://www.redalyc.org/fasciculo.oa?id=766&numero=6013http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=76610103http://www.redalyc.org/revista.oa?id=766http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=76610103http://www.redalyc.org/revista.oa?id=766http://www.redalyc.org/revista.oa?id=766http://www.redalyc.orghttp://www.redalyc.org/revista.oa?id=766

  • Revista E-Curriculum, So Paulo, v. 1, n. 1, dez. - jul. 2005-2006. http://www.pucsp.br/ecurriculum

    O CURRCULO LOCAL COMO ESPAO SOCIAL DE

    COEXISTNCIA DE DISCURSOS:

    ESTUDO DE CASO NOS DISTRITOS DE BRU, DE

    SUSSUNDENGA E DA CIDADE DE CHIMOIO - MOAMBIQUE

    THE LOCAL CURRICULUM AS A SOCIAL SPACE OF THE COEXISTENCE

    OF THE DISCOURSES - MOZAMBIQUE

    CASTIANO, Jos P. [email protected]

    [email protected]

    RESUMO Este artigo explora at que ponto, por meio do currculo local, na escola moambicana institucionaliza-se um espao social de dilogo entre os saberes de natureza local e os saberes de natureza universal. O currculo local, argumenta-se, no s como espao de integrao de saberes, valores e prticas locais no currculo nacional, mas sobretudo ele potencialmente um espao de negociao, avaliao e validao dos saberes de ambas naturezas. A comunicao explora a questo, at que ponto a introduo do Currculo Local no ensino bsico abre possibilidades de transcender a coexistncia silenciosa entre os saberes curriculares universais e locais. A argumentao funda-se em alicerces tericos e empricos. Na primeira parte explora-se a hiptese do Currculo Local ser um espao social de coexistncia de discursos tornando frutferos os conceitos de apropriao e de reapropriao hountondjianos.O alicerce emprico do argumento baseado nos resultados do estudo realizado durante os meses de Outubro e Novembro de 2003 nas escolas primrias que experimentaram o novo currculo para o ensino bsico nos distritos de Bru, Sussundenga e na cidade de Chimoio (Provncia de Manica, Moambique).

    Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo

    Programa de Ps-graduao Educao: Currculo

    Revista E-Curriculum

    http://www.pucsp.br/ecurriculum

  • Revista E-Curriculum, So Paulo, v. 1, n. 1, dez. - jul. 2005-2006.

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    Palavras-Chave: Currculo Local, Sistema Africano de Saberes Indgenas, Saber Local

    ABSTRACT The paper explores to which extent, trough the introduction of the Local Curriculum in Mozambican schools, a social space for dialog between local and universal knowledge is institutionalized. It is argued that the Local Curriculum is not only a space for the integration of both kinds of knowledge, of values and of local practices, but potentially it is a space of negotiation, evaluation and validation of both. The paper explores also the question of the possibility that Local Curriculum offers to overcome the silent coexistence between the universal and the local curriculum knowledge. The outlined arguments are theoretical and empirical. The theoretical argument, making fruitful the Hountondjean concepts of appropriation and of the reappropriation, explores the hypothesis of the Local Curriculum being a space of the coexistence of the discourses. The empirical argument is based on the field studies undertaken during October and November 2003 in primary schools in the districts of Bru, Sussundenga and in the city of Chimoio (province of Manica, Mozambique). Those were the first pilot-schools to introduce the Local Curriculum. Key words: Local Curriculum, African Indigenous Knowledge Systems, Local Knowledge

    INTRODUO

    No discurso moderno predomina a idia segundo a qual frica um continente

    composto por sociedades dicotmicas coexistentes: uma sociedade tradicional e outra

    moderna, sendo a primeira predominante no meio rural e segunda no meio urbano. Sob

    do ponto de vista do conhecimento, esta dicotomia expressa pela existncia conflituosa

    de saberes, valores e prticas de natureza local-tradicional e outro tipo de saberes, valores

    e prticas de natureza e validez universal.

    Na perspectiva econmica a dicotomia expressa explcita ou implicitamente

    com a pressuposio da (co) existncia de dois modelos econmicos paralelos: uma

    economia tradicional de subsistncia predominante nas zonas rurais e uma economia

    formal, industrial e moderna predominante nas zonas urbanas.

    No discurso educacional hodierno , por um lado, frequente o uso do termo

    educao formal para designar um tipo de educao que segue modelos

    epistemolgicos, morais e estruturais da modernidade mas, por outro, tambm frequente

    o uso do termo educao tradicional que procura designar modelos de educao que

    seguem um padro epistemolgico, tico-moral e estrutural baseado em tradies

    culturais dos povos locais.

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    Olhando o mesmo discurso numa perspectiva filosfica, e se ns emprestamos as

    palavras usadas por Lyotard (1984) na obra A Condio Ps-moderna, encontramos o

    termo como meta-narrativas que contrasta com o termo micro-narrativas; estes

    termos expressam o reconhecimento da existncia de dois tipos dicotmicos de discursos

    ou racionalidades, sendo a primeira expressando uma racionalidade tcnico-cientfica e a

    segunda designando narrativas ou racionalidades de validade local.

    Segundo Lyotard (1984), as micro-narrativas emergem no encalo do declnio do

    poder regulatrio do paradigma cientfico moderno e da descoberta dos limites desta (em

    termos de pressupostos e procedimentos de verificao) para resolver os problemas da

    humanidade tais como os riscos ambientais, a ameaa de guerras nucleares, a ameaa que

    pesa sobre as democracias modernas por haver srias de restrio das liberdades

    individuais, etc.

    A ideia da existncia de uma sociedade africana dotada de estruturas duais

    paralelas no nova na tradio do pensamento social e nem dirigida exclusivamente

    para expressar a condio de existncia no continente africano. Laclau (1978, p.19-45),

    por exemplo, demonstrou, para o caso latino-americano e a tomando uma perspectiva

    neomarxista, como este dualismo de concepes no desenvolvimento social tomou

    contornos no pensamento das elites liberais latino-americanas durante sculo XIX.

    No obstante s diferenas discursivas na apresentao da sociedade africana

    como sendo dicotmica, estes discursos levam como pressuposto, directa ou

    indirectamente, a existncia de uma dualidade social (tradicional e moderno) com

    saberes, prticas e valores aparentemente contraditrios e em conflito, no articulados ou

    at mesmo incompatveis entre si. nesta ordem de idias que Hountondji (2002, p. 225)

    chama-nos ateno pela necessidade de se transcender a coexistncia silenciosa entre

    os sabres, prticas e valores de natureza institucional-moderna e de natureza tradicional-

    local nos pases africanos.

    Este artigo foi escrito a partir do pressuposto de que existe um processo de

    procura de articulao ou integrao de ambos os mundos de vida. Defendo que a suposta

    existncia dos dois mundos que estejam em conflito de vida ou morte comea a dar

    lugar a processos de interaco e argumentao entre os diferentes saberes, prticas e

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    valores. Esta interaco vai ganhando contornos sociais, culturais e polticos prprios,

    isto , vai-se institucionalizando.

    O desafio terico social que deriva deste pressuposto o de reconhecer os novos

    contornos resultantes da interaco e apresent-los numa esteira discursiva. Porm, este

    desafio passa por identificar espaos sociais institucionalizados (ou reconhecer os

    processos de institucionalizao desta integrao) nos quais saberes, prticas e valores de

    natureza local coabitam, coexistam e se confrontam com os de natureza universal. Da

    mesma maneira seria necessrio identificar os potenciais actores ou agentes sociais que

    vo ganhando o papel social de ocupar estes espaos e portanto desempenham um papel

    activo para transcender a (co) existncia silenciosa entre ambos.

    Importa aqui equacionar como que o currculo local pode ser a plataforma

    institucional na educao para a negociao argumentativa e racional. Para mostrar este

    desafio a argumentao funda-se em alicerces tericos e empricos. Os alicerces de

    ordem terica, apresentados na primeira parte, partem das ideias de Hountondji sobre a

    necessidade da apropriao dos conhecimentos cientficos universais e a da reapropriao

    dos saberes que ele chama de endgenos. Os alicerces empricos da argumentao,

    apresentados na segunda parte, fundamentam-se numa pesquisa de campo realizada nos

    meses de Outubro e Novembro de 2003 na Provncia de Manica que visava analisar o

    processo de integrao das necessidades relevantes de aprendizagem na escola por via do

    currculo local.

    EXTROVERSO, APROPRIAO E REAPROPRIAO

    O primeiro termo que uso de extroverso. Este um termo usado por

    Hountondji para expressar o facto de a produo cientfica feita na frica estar, em

    primeira linha, orientada para a sua exportao e o seu consumo nos pases desenvolvidos

    fora do continente. No seu livro The Struggle for the Meaning, Hountondji (2002) explica

    que adoptara este termo do economista poltico neo-marxista Shamir Amin. Este havia

    usado o termo extroverso para caracterizar as economias dos pases da periferia,

    particularmente dos pases africanos, por estarem viradas para a exportao dos seus

    produtos e no em primeira linha para o consumo interno. Segundo o mesmo Shamir

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    Amin, esta situao, em vez de diminuir a dependncia, perpetua o subdesenvolvimento e

    a pobreza destes pases.

    Hountondji (ibidem) usa o mesmo termo para evidenciar o paralelismo entre os

    mecanismos existentes na diviso internacional da produo material capitalista com os

    existentes na diviso internacional da produo cientfica. Pois, segundo ele, no sistema

    internacional da produo capitalista, tanto no tempo colonial como na era ps-

    independncias africanas, os pases africanos esto ainda reduzidos a fornecedores de

    matria-prima e de produtos agrcolas que posteriormente so transformados e

    manufacturados nos pases do Ocidente. Igual lgica segue a produo cientfica: os

    pases da periferia transformaram-se em reservatrios de produo de dados empricos

    cujo tratamento terico e cientfico posteriormente feito nos laboratrios e centros de

    pesquisas ou universidades dos pases desenvolvidos.

    A descolonizao no conseguiu mudar esta lgica. Na diviso internacional da

    produo cientfica, as metrpoles parecem ser os teorizadores e inventores enquanto que

    os pases africanos so um grande reservatrio de factos e lugar de experincias para

    testar os resultados das invenes e teorias.

    Mesmo os laboratrios e instituies de pesquisas ou universidades, entretanto

    institudo(a)s nos pases africanos independentes, trabalham mais como instituies

    inclusas na lgica da produo cientfica das instituies congneres dos pases

    desenvolvidos. Com uma tnica, quanto a mim, de exagero, Hountondji diz que os

    investigadores africanos, que procuram trabalhar descrevendo os saberes locais, so uma

    espcie de informantes instrudos na cadeia de transferncia dos saberes para o

    Ocidente (HOUNTONDJI, 2002, p. 234).

    Na lgica da diviso internacional da produo cientfica o papel da educao tem

    sido o de facilitador da importao dos saberes ditos universais e exportao do

    saberes locais para os pases desenvolvidos. No tempo colonial, ela era um instrumento

    importante para transmitir o sentimento de inferioridade das populaes locais africanas e

    manter o mito da superioridade dos europeus e da sua civilizao.

    Como mostra efectivamente Mudimbe (1988), no livro The Invetion of Africa, a

    idia da frica foi moldada por um discurso dominado por missionrios, antroplogos e

    etnlogos europeus que faziam um inventrio da produo material e cultural que

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    encontraram em frica e depois moldaram os seus contornos para transmitir no Ocidente

    a imagem de um negro africano servil, pobre, enfim, inferior.

    J nos comeos do sculo XX, Blyden, um reformador eminente da educao na

    frica, notando que o resultado da educao colonial era uma criana meio europeia e

    meio africana (uma criana em dois mundos), props que se repensasse no currculo

    para que fosse mais relevante para as sociedades africanas. Ele props, assim, a

    introduo de disciplinas como Leis e Hbitos Indgenas, Religies africanas, Sistemas

    Polticos Indgenas, Msica africana, Mitologia africana assim como Histria, Geografia,

    Geologia e Botnica tambm de frica.

    A Histria interessou a Blyden em particular porque ele vira nela uma forma de

    defender a cultura africana contra a idia que a frica no teria Histria e nem cultura.

    Na sua ptica, a forma como a Histria tratada nas escolas (o africano entra na

    Histria Universal a partir da modernidade como escravo) tem efeitos negativos nos

    alunos africanos porque no lhes transmite o orgulho sobre o seu prprio passado. (Cf.

    AKIMPELU, 1981, p. 93).

    Da forma como a escola est concebida e estruturada hoje, no s facilita mas

    tambm incentiva a lgica da extroverso. Desde o tempo colonial at hoje o portugus

    o idioma oficial de ensino em Moambique. Ele garante a conexo entre elites

    econmicas, polticas e intelectuais moambicanas com o mundo internacional. S os

    falantes do portugus que at agora tiveram acesso mais facilitado para o mercado de

    trabalho e maiores possibilidades de ascenso social.

    O portugus tambm o meio de participao poltica: o idioma parlamentrio,

    o idioma no qual folhetos eleitorais mais circulam, etc. Dificilmente uma pessoa seria

    escolhida, para posies de cargos pblicos superiores, se ela no domina e no consegue

    articular-se bem no idioma oficial. O currculo local, com a possibilidade de aprender os

    saberes locais em idiomas locais, o primeiro e o mais importante passo dado na

    educao para subverter a extroverso, desmarginalizar e desmistificar os saberes locais.

    Os pases africanos, na procura do seu desenvolvimento, poderiam se basear no

    que parece ser mais simples e de um certo modo, sbio: imitar a cincia e as tecnologias

    do Ocidente. Imitar pode ter vrios sentidos. Um deles a reproduo fiel ou cpia

    integra dos conhecimentos e tcnicas, de expresses, conceitos e paradigmas cientficos.

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    Neste caso seria uma cpia ou reproduo ntegra dos padres cientfico-tcnicos do

    Ocidente.

    Um segundo sentido pode ser tico. Isto , tomar algum ou outros como modelo

    ou dolo dos modos de agir e pensar, do estilo de vida etc. Mas imitao tambm pode ter

    um sentido negativo de falsificao do original fazendo-o passar pelo verdadeiro. Neste

    caso seria uma simulao do verdadeiro. Neste sentido, estaramos todos de acordo, que

    procurar aparentar os mesmos modos, o mesmo comportamento e sobretudo seguir a

    mesma agenda cientfica e tecnolgica do ocidente seria no mnimo contraproducente

    para as nossas sociedades.

    Imitando, os cientistas e os intelectuais africanos bebem o cnon inteiro da cincia

    tal e qual ele praticado no ocidente, sem antes se preocuparem com a questo se as

    tecnologias e o saber cientfico respondem de modo apropriado aos problemas que os

    pases africanos enfrentam.

    Assim, o caminho da imitao da cincia e importao cega das tecnologias

    perpetuaria o nosso lugar na periferia da produo do conhecimento. Isto significaria

    perpetuar o papel de informador, colector de dados e local de experincia dos modelos

    exteriores, sem porm passar para uma fase de ler por trs do factos e dados, sem lhes

    dar uma dimenso terica. A imitao limita o nvel analtico que, por consequncia,

    condicionaria tambm a capacidade crtica nos dados e factos colectados.

    Da mesma maneira, importar cegamente algumas tecnologias (de ponta), para

    alm de ser oneroso, cairia no ridculo num meio onde ainda h problemas bsicos por

    resolver como sendo pobreza, falta de gua potvel, acesso limitado energia elctrica,

    etc.

    No entanto, evidente que no podemos virar completamente as costas ao corpo

    do conhecimento cientfico e prescindir das tecnologias do ocidente. Qual pois deve ser a

    nossa relao? Para responder a esta questo aproveito um segundo conceito tambm

    usado por Hountondji: o de apropriao. Ele escreve sobre a necessidade de uma

    apropriao da herana cientfica universal e desenvolv-la de modo selectivo e

    independente de acordo com nossas necessidades e programas de desenvolvimento

    (Idem, 2002, p. 243).

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    A idia da apropriao, no meu entender, pode ter dois sentidos. Um pode

    significar o acto de se apoderar de alguma coisa, de se tornar possuidor dela (apropriao

    de recursos, de bens, da herana etc.). Mas o outro sentido da apropriao seria a aco

    de adaptar alguma coisa, de a tornar adequada a um determinado fim ou uso. Neste

    ltimo sentido, por exemplo, seria necessrio apropriarmo-nos de algumas tecnologias

    para desenvolver a agricultura. Portanto, o que seria objecto da apropriao seria aquilo

    que tem qualidades ou condies de ser apropriado, isto , aplicado e adaptado s nossas

    condies. O fim da apropriao seria o de nos tornarmo-nos donos legtimos da coisa

    apropriada.

    O processo de se tornar o dono, quer dizer, de ser proprietrio de algo, leva

    assim implcito, um momento crtico ou de escrutnio dos saberes e tecnologias em

    funo das necessidades. Para o caso vertente, tornar-se dono ou proprietrio da herana

    cientfica universal significa, em primeiro lugar, desmistificar a idia que o universal

    igual ao ocidental.

    Pela lgica, o universal um local que se universaliza, ou seja, que passou por um

    processo de universalizao. Neste sentido, o universal tambm inclui o continente

    africano. Dito de outro modo, significa fazer um exerccio de reconhecimento da

    contribuio dos africanos nas diversas esferas daquilo que at aqui inapropriadamente

    chamei por corpo de cincia ocidental.

    Em segundo lugar, o movimento da apropriao leva implcita a idia de no

    aceitar tudo, mas aceitar ser dono somente daquilo que serve sociedade e que ser til

    para a soluo dos problemas endgenos. A apropriao implicaria, nesta ptica,

    submeter cincia universal e as tecnologias importadas ao tribunal da crtica, e ao

    escrutnio por meio de lentes locais. Essas lentes locais avaliam o universal em funo

    do desenvolvimento que as comunidades locais enfrentam.

    Mas, por outro lado, ningum deveria negar que exista hoje, nas nossas culturas

    orais, um corpo de conhecimento e de saberes sedimentados e que constantemente se

    enriquecem no processo de sua transmisso de gerao em gerao. H saberes ancestrais

    sobre plantas e animais, sobre as causas de certas doenas e procedimentos para o seu

    tratamento, sobre tcnicas de construo e de cultivo, saberes estes que so usados para

    resolver problemas concretos locais. Estes saberes subsistem, na maioria dos casos, lado

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    a lado com os saberes modernos, no necessariamente numa relao de excluso mtua.

    Alguns deles (por exemplo, relacionados com o uso de ervas e insectos para o tratamento

    de determinadas doenas), esto em perigo de desaparecer da memria colectiva das

    pessoas das aldeias.

    Infelizmente, em vez de estes saberes terem sido integrados num debate

    argumentativo e terem sido submetidos rigidez e exactido da tradio cientfica, eles

    continuam cobertos por um vu de certo misticismo. O vu do misticismo com que se

    cobrem certos saberes tradicionais afecta profundamente o processo de integrao,

    disseminao e validao dos saberes locais para a sua projeco num contexto mais

    universal da produo e circulao do conhecimento cientfico.

    Para preservar o conhecimento local e, mais do que isso, torn-los vivel e

    responsvel para com os problemas do mundo em permanente globalizao, necessrio

    submet-los ao escrutnio dos progressos cientficos modernos; por outras palavras,

    necessrio fazer o teste da sua capacidade de resposta aos problemas modernos. Assim,

    de acordo com Hountondji (2002, p. 243), o vasto movimento da apropriao deveria

    ser acompanhado para um movimento de reapropriao metodolgica e crtica dos

    saberes locais. A reapropriao seria, neste ponto de vista, uma condio bsica para a

    existncia e o desenvolvimento de uma cincia africana, ou seja, uma prtica cientfica

    que seja responsvel para os problemas especficos das sociedades africanas.

    Porm, a reapropriao traria problemas de carcter epistemolgico: Podemos

    reapropriar no seu sentido verdadeira usando lentes dos outros? Quer dizer usando o

    mesmo cnon metodolgico da Antropologia e da Etnologia do passado? Seriam

    necessrias lentes prprias centradas em pressupostos ou postulados epistemolgicos

    africanas.

    Os esforos de fundar lentes tericas e metodolgicas afrocntricas para a

    reapropriao ou o resgate dos saberes tradicionais/locais, ou por outra, para fazer

    descolar uma cincia africana baseada em valores africanos, vieram primeiramente das

    etnocincias, nascidas no tempo colonial na sua verso antropolgica. Por isso, no se

    pode negar uma certa ligao das etnocincias com os escritos da Antropologia e

    Etnografia do passado enquadrados no contexto do colonialismo.

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    Porm, se estes podiam contribuir em algo para o conhecimento na escala

    universal, era sob o ponto de vista de o colonizador conhecer melhor os costumes e

    hbitos dos povos colonizados. Este conhecimento servira para que os colonizadores

    pudessem melhorar os mecanismos de colonizao.

    Da mesma forma, o etnocientista actual aceita inconscientemente - no dizer de

    Hountondji (2002, p. 246) - o papel que o sistema reserva para ele: o de um colector de

    dados empricos sem ser a sua preocupao central criar espaos de confrontao crtica

    entre os saberes. No aceitando submeter-se a uma crtica terica, as etnocincias

    refugiam-se num punhado de para-teorias que tentam mistificar os resultados a que

    chegaram, considerando-os autnticos porque fomos ou fui ao campo e falei com as

    pessoas.

    Num tom de exagero, Hountondji (2002) fala de unanimismo da etnocincia,

    para mostrar que esta trata as comunidades africanas como se estivessem constitudas por

    pessoas que pensam, agem, comportam-se e adoram os ancestrais da mesma maneira.

    Que existe uma filosofia sem filsofos porque no h campo para uma reflexo crtica

    individual.

    Assim, para Hountondji (2002) o lugar que a etnofilosofia e das etnocincias

    ocupam na produo cientfica o de fazer um inventrio sobre os chamados saberes

    tradicionais e indgenas (ou locais) para a sua posterior exportao para os institutos de

    pesquisa e laboratrios localizados nos pases desenvolvidos.

    O inventrio escrito na terceira pessoa com os olhos postos nos centros de

    pesquisa no ocidente, espreitando as possibilidades de publicao em revistas cientficas

    daqueles pases, sem entretanto os donos dos saberes estarem presentes. o

    etnocientista que apresenta os dados daquilo que as pessoas nas comunidades africanas

    so suposto de saber.

    Na opinio de Hountondji (2002), a etnofilosofia e as etnocincias nasceram

    numa lgica de produo intelectual em que o investigador, seja ele europeu ou africano,

    sabe de antemo que seu pblico no-africano e que no corre riscos de ser contradito

    como porta-voz fiel da comunidade em assunto.

    A excluso do pblico africano no s evidente no idioma de publicao (ingls,

    francs, portugus), mas tambm no contedo do saber, na escolha dos temas, nos

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    mtodos e na forma como so tratados os problemas. Da que Hountondji liga o processo

    de extroverso da economia com a extroverso verificada no processo da produo

    intelectual (HOUNTONDJI, 2002, p. 224).

    Uma nova escola preocupada com a reapropriao comea a surgir em frica.

    Segundo Masolo (1995, p. 147), esta escola foi iniciada por Crahay, que publicou em

    1965 um artigo intitulado Le decollage conceptuel: conditions dune philosophie bantoue

    onde ele prope, para que os africanos possam produzir um sistema epistemolgico

    prprio, reconstruir o discurso africano em nvel especulativo (ao que chama de

    descolagem), primeiro identificando e depois empregando os esquemas conceptuais ou

    postulados bsicos do raciocnio indgena africano.

    O raciocnio de Crahay foi seguido por Eboussi-Boulanga, Towa, Hebga, assim

    como por Mudimbe. No obstante s suas diferenas, estes esto unidos pela sua crtica

    etnofilosofia e, por extenso, s etnocincias, que so vistas como sendo um produto na

    esteira da lgica do poder e conhecimento ocidental. Segundo Masolo, embora em

    diferentes caminhos, estes autores defendem que a etnofilosofia e as etnocincias

    expressam as razes epistemolgicas de uma profunda crise social, poltica e cultural do

    munthu (Eboussi-Boulanga), expressam uma continuidade da servido cultura ocidental

    dominante (Towa), expressam a dependncia africana da tutoria ocidental na cincia

    (Hebga) ou ainda expressam a inveno da frica margem do conhecimento ocidental

    (Mudimbe).

    Para Mudimbe, em particular, a etnometodologia no consegue libertar-se da

    marginalizao e da assimilao dos pensadores africanos; pior: ela produz e reproduz a

    marginalizao, refora a assimilao porque a imagem do africano por ela oferecida

    continua marginal.

    Masolo (1995, p.148) fala de deconstructive project (projecto de desconstruo),

    referindo-se ao projecto que esta gerao pretende levar a cabo. O seu objectivo seria

    concentrar-se na desconstruo dos laos existentes entre a prtica intelectual em frica e

    os esquemas conceptuais ou epistemes originais do ocidente.

    A estratgia proposta para se desligar do condo umbilical dos esquemas

    conceptuais e epistemes ocidentais advoga que, aquele que queira estudar o sistema do

    pensamento africano, deve abdicar de utilizar o mtodo analtico no estudo de aspectos

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    especficos do pensamento indgena. Ele deve examinar e sistematizar o pensamento tal e

    qual as pessoas o usam na prtica quotidiana. Esta seria a nica via de romper com as

    categorias europeias na pesquisa cientfica sobre os sistemas africanos de conhecimento.

    Uma pergunta se coloca: estar a educao, atravs do currculo local onde articula com

    os saberes indgenas, altura de responder a este desafio?

    CURRCULO LOCAL COM INSTITUCIONALIZAO DO ESPAO

    DE COEXISTNCIA

    Na primeira parte do artigo argumentei sobre a necessidade de transcender a

    coexistncia silenciosa de discursos e abrir um espao de reapropriao dos saberes,

    valores e prticas de natureza universal e local.

    Transcender a coexistncia silenciosa significa conceber coexistncia no como

    esttica mas como uma situao de constantes negociaes de saberes, valores e prticas

    nas comunidades expostas simultaneamente ao global e ao local.

    Nesta parte pretendo mostrar at que ponto que a introduo do currculo local

    no ensino primrio, institucionaliza na escola um espao de coexistncia dos saberes,

    prticas e valores. Isto far-se- tendo como base um estudo de campo na provncia de

    Manica, como foi referido.

    Imperativos para a Participao das Comunidades na Definio dos

    Contedos

    O imperativo para o envolvimento activo das comunidades na definio dos

    contedos de aprendizagem pode depender de vrios factores.

    O primeiro factor resulta do movimento internacional de Educao Bsica para

    Todos cuja meta alcanar uma escolarizao universal no ano de 2015. Devido ao

    programa do reajustamento estrutural das economias que comeou na dcada de 80, os

    recursos estatais disponveis para alcanar esta meta distante so poucos. Este facto fora

    aos Estados africanos, a comear a olhar as populaes locais de algum modo como sua

    tbua de salvao para ajud-los a cobrir parte dos custos da educao.

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    Como segundo factor, os governos africanos comearam a reprivatizar o ensino

    e a motivar a abertura de escolas de carcter privado, comunitrias, religiosas, etc. com o

    objectivo de alargar a coberta escolar e diminuir com isto a presso da demanda popular

    sobre servios educacionais oficiais.

    O terceiro factor prende-se com o facto de o desenvolvimento de organizaes da

    sociedade civil (associaes locais, organizaes no governamentais, fundaes e

    associaes cvicas etc.) ter encorajado uma srie de iniciativas locais para participao

    deles nos assuntos escolares, tais como o recrutamento de professores, com participao

    nas aces de formao de professores, participao nas actividades extra-escolares, etc.

    De facto, estas organizaes provocam a incluso de temas novos relacionados,

    por exemplo, com o gnero, HIV/SIDA, reduo da pobreza, etc. nos currculos

    escolares. So temas sobre os quais as estruturas estatais de educao ainda no tinham

    acumulado competncias pedaggicas.

    Em quarto lugar, ns assistimos, pela dcada de 90 adentro, a um processo de

    descentralizao da administrao estatal. Neste processo alguns poderes, entre eles os

    que esto relacionados com a administrao da escola primria, so colocados nas mos

    dos directores distritais e das escolas ou ainda dos conselhos das escolas. Esta

    descentralizao criou o espao organizacional esperado pelas organizaes da sociedade

    civil para a articulao dos seus interesses ao nvel das escolas.

    Por ltimo, com esta abertura, a prpria educao tradicional, seus contedos,

    valores e prticas, viu-se permanentemente desafiada pelos modelos, contedos e valores

    modernos. O desafio perante o qual a educao tradicional colocada agora, o de entrar

    oficialmente na escola, fora-a a repensar nas suas estratgias para sobreviver.

    O envolvimento das comunidades feito de trs formas: material-financeiro,

    administrativo e curricular (EASTON; CAPACCI; KANE, 2000, p. 3). O material-

    financeiro realiza-se em forma de contribuio da comunidade na construo e no

    apetrechamento das salas de aulas, ou nas despesas correntes e no pagamento salrio dos

    professores. O envolvimento administrativo resumido na participao dos pais e

    encarregados de educao em organismos semelhantes aos conselhos de escolas onde se

    tomam decises administrativas na aplicao dos meios disponveis.

  • Revista E-Curriculum, So Paulo, v. 1, n. 1, dez. - jul. 2005-2006.

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    A participao curricular constitui a porta principal aberta por onde vo entrar na

    escola os saberes locais. A participao da comunidade no desenho dos contedos

    assumiu formas como o uso dos idiomas maternos na instruo de certas disciplinas, o

    convite para os artesos locais (como pessoas de recursos) para ensinarem certos

    contedos por eles dominados, adopo de oficinas locais como centro de recursos para

    os alunos realizarem visitas/excurses, o ensino da histria local pelas pessoas mais

    velhas, o ensino de usos e costumes locais pelos habitantes idosos, etc.

    A IMPLEMENTAO DO CURRCULO LOCAL NA PROVNCIA DE

    MANICA

    O MINED comeou, em 2002, a introduzir o Novo Currculo para o Ensino

    Bsico de Moambique. O plano reformula o currculo que foi introduzido em 1983 pela

    lei n. 4/83, de 23 de Maro, e revoga a que foi reformulada em 1992 pela lei 6/92, de 6

    de Maio. O novo currculo foi experimentado em duas escolas seleccionadas em cada

    uma das provncias durante o ano lectivo 2003. Na provncia de Manica foram

    seleccionadas as Escolas Primrias Completas (EPC) Josina Machel, nos arredores da

    Cidade de Chimoio, e a EPC Nhampassa, no distrito de Bru a norte da provncia.

    No novo currculo foram introduzidas inovaes em relao ao currculo anterior,

    nomeadamente (i) os ciclos de aprendizagem, (ii) o ensino bsico integrado, (iii) a

    distribuio dos professores, (iv) a promoo semi-automtica, (v) a introduo dos

    idiomas moambicanos no ensino, (vi) a introduo do ingls, (vii) de ofcios, (viii) da

    educao musical e cvica e (ix) e do currculo local. (INDE 1999,26-36).

    O estudo foi realizado durante os meses de Setembro e Outubro de 2003 nas

    escolas experimentais representar o meio urbano, e de Nhampassa localizada a mais ou

    menos 16 KM da vila de Catandica para representar a amostra do meio rural. Para alm

    disso, o estudo abarcou as escolas primrias 1 de Junho e de Chidengue, ambas no

    distrito de Sussundenga. Na cidade de Chimoio o estudo incluiu as escolas primrias

    Centro Hpico e Nhamadjessa. Foram feitas entrevistas semi-estruturadas individuais

    e colectivas aos funcionrios de vrios intervenientes na implementao do currculo

    local.

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    Na provncia de Manica, de um total de 4.094 professores somente 24 professores

    estavam envolvidos na experimentao do novo currculo. Da mesma forma, de um total

    de 201.967 alunos em toda a provncia, somente 532 alunos estavam envolvidos. Estes

    dados levantam alguma suspeita na representatividade do processo de experimentao

    tendo em conta as condies para a transferncia dos saberes, competncias e

    experincias das duas escolas experimentais para as restantes 495 escolas do ensino

    bsico que comportam toda a provncia.

    A mesma suspeita tambm pode ser levantada em relao aos mecanismos e

    eficincia com que os 24 professores envolvidos na experimentao puderam transmitir

    as experincias aos restantes professores no envolvidos na experimentao. Tambm

    pareceu ser problemtico considerar EPC Josina Machel como sendo uma escola do

    meio urbano, porque ela localiza-se e serve uma comunidade suburbana; ora esta tem

    modos de vida diferente do urbano, principalmente se tivermos em conta os ecossistemas

    sociais a estrutura de ocupao profissional dos habitantes dos bairros que a escola

    serve (principalmente no sector informal).

    Antes da implementao do currculo local foram feitas auscultaes ao nvel de

    todos as provncias, inclusive na de Manica. Este processo de auscultao levou

    aproximadamente trs anos e foi orientado pelo INDE acompanhado por tcnicos das

    direces provinciais e distritais de educao. Nestas auscultaes diferentes grupos

    sociais expressaram da sua forma o imperativo de se mudar os contedos de ensino.

    Os pais e encarregados de educao estavam interessados em mudar a forma de

    ensinar porque, na sua ptica, quando os alunos terminavam o ensino bsico, no sabiam

    ler e nem escrever. Alguns apontaram como sendo a causa desta situao o facto de os

    professores no estarem convenientemente preparados e formados para darem as suas

    aulas.

    Outros consideravam que a poltica de educao seria a causa para o insucesso

    escolar: o sistema de avaliao era considerado como obsoleto e muitos alunos no

    conseguiam passar de classe, no porque fossem pouco inteligentes, mas porque os

    contedos que eram avaliados nada tinham a ver com a vivncia nas comunidades. O

    facto de os alunos, na sada do ensino primrio, no serem capazes de ler e escrever, foi

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    visto como resultado de uma extrema baixa de qualidade do sistema escolar em

    Moambique.

    Em comparao com os pases vizinhos de Moambique (Zimbabwe e Malawi)

    fazia-se notar que os alunos que terminavam o ensino primrio naqueles pases limtrofes

    eram capazes no s de escrever e ler, mas tambm de exercer uma certa profisso que,

    de acordo com o ponto de vista dos pais, um aluno finalista do ensino bsico em

    Moambique no seria capaz fazer.

    As congregaes religiosas preocuparam-se mais pelo facto de o ensino bsico

    decorrer em portugus lamentando o no uso das lnguas maternos escolas. Na opinio de

    um dos entrevistados, esta preocupao dos religiosos devia-se ao facto de que as

    congregaes religiosas estariam interessadas em tambm ver as crianas a poderem ler a

    Bblia, uma vez dominassem a leitura nas lnguas locais. Em todo o caso insistiam muito

    na introduo das lnguas locais no ensino das crianas.

    Os rgulos, por sua vez, apontaram a necessidade de o ensino poder explorar os

    recursos materiais e culturais locais. Por exemplo, eles apontaram o facto de a rea de

    Manica ser rica em bambu e barro. Estes so os recursos usados para a construo de

    casas. A partir deste material, as crianas poderiam aprender a construir casas. Tambm

    deveriam ser ensinadas a produzir cestos, mesas e outros utenslios como panelas de

    barro, cabos de enxadas etc.

    Os actores envolvidos, na implementao do currculo local no municpio de

    Manica, foram o INDE, o MINED/DNEB, a DPE, a DDE, as Zonas de Influncia

    Pedaggicas, as prprias Escolas, as comunidades e as organizaes bilaterais e

    multilaterais presentes na provncia.

    De entre todos os intervenientes na implementao nos interessa particularmente

    o INDE, a ZIPs, as escolas e as comunidades.

    O INDE concebeu o currculo e as estratgias de implementao, foi a instituio

    responsvel pela conduo de todo o processo de levantamento das necessidades

    educacionais com relevncia para as comunidades, organizou aces de capacitao dos

    professores, supervisou a implementao, orientou debates de transformao curricular

    em foros nacionais e internacional, produziu materiais pedaggicos para os alunos e para

    os professores entre outras actividades.

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    Por seu lado, o papel subscrito s ZIPs foi o de ser o organismo que deveria

    orientar as actividades pedaggicas do currculo local, quer dizer, agir como centro de

    recursos pedaggicos (planificao, monitorizao, superviso, dosificao dos

    contedos das necessidades de aprendizagem localmente etc.) e centro de recursos

    materiais (livros, textos de apoio, materiais para a aprendizagem de ofcios). Porm, as

    ZIPs por ns visitadas, pareceram no terem tido capacidade em termos de recursos

    humanos e materiais para estar altura desta tarefa.

    As Escolas organizaram a auscultao (usando entrevistas colectivas) das

    chamadas necessidades relevantes de aprendizagem. O questionrio foi distribudo pelo

    INDE para ser respondido separadamente pelos professores, alunos e comunidades.

    As comunidades foram consultadas nos contedos; a consulta s comunidades, de

    acordo com as orientaes de INDE, deveria abarcar os pais e encarregados de educao

    e diversas autoridades e estruturas tradicionais ao nvel local (representantes da oposio,

    mdicos tradicionais etc.).

    DISCURSOS SOBRE O CURRCULO LOCAL

    O INDE (2003, p.1) define currculo local como sendo:

    uma componente do Currculo Nacional correspondente a 20% do total do tempo previsto para a leccionao de cada disciplina. Esta componente constituda por contedos definidos localmente como sendo relevantes, para a integrao da criana na sua comunidade.

    Um documento anterior ao mencionado e elaborado pelo mesmo INDE (1999, p. 29) sublinhara que o objectivo da introduo do currculo local o de

    [...] formar cidados capazes de contribuir para a melhoria da sua vida, a vida da sua famlia, da comunidade e do pas, partindo da considerao dos saberes locais das comunidades onde a escola se situa.

    A idia de comunidade expressa detalhado mais tarde num documento de

    trabalho intitulado Currculo Local no Ensino Bsico elaborado em Julho de 2003. Aqui

    se considera como fazendo parte da comunidade todos os intervenientes na educao da

    criana nomeadamente professores, alunos, lderes e autoridades locais, pais e

    encarregados de educao, representantes das diferentes instituies (sade, cultura,

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    agricultura, ambiente, polcia etc.), representantes das diferentes confisses religiosas e

    organizaes comunitrias.

    A inteno com o currculo local, portanto, de abrir mais espao para os saberes

    locais entrarem na escola bsica. Em conformidade, cada escola dever prever no seu

    programa de ensino uma margem de tempo para que se tratem contedos locais

    relevantes. A sua validao porm estar a cargo de Conselhos criados para o efeito em

    nvel distrital cujas competncias seriam delegadas do Ministro de Educao.

    O documento referido adianta alguns mtodos que devem ser seguidos para a

    compilao dos contedos para o currculo local. Eles devem ser deduzidos sempre em

    conformidade com as aspiraes das comunidades, ou seja, estas devem propor aquilo

    que considerarem ser os contedos de aprendizagem relevantes para que as crianas

    aprendam na escola. (INDE Agosto 1999, p. 29). Aqui se nota que a legitimao dos

    saberes que a criana moambicana ir aprender na escola estar a cargo daquilo que se

    convencionou ser comunidade.

    O documento do INDE sobre o currculo local e estratgias de implementao, no

    seu captulo sobre Consideraes Pedaggicas, recomenda que a brochura o

    instrumento de base onde o professor poder encontrar contedos de interesse local.

    O professor, durante a planificao, consulta, para alm do programa

    centralmente definido, o Manual do Professor e a brochura sobre o currculo local.

    Alerta-se, para alm disso, que o currculo local no uma disciplina parte, seno um

    conjunto de contedos determinados como sendo relevantes para a aprendizagem

    aplicvel nas diferentes disciplinas do Currculo Nacional.

    Para conhecer as percepes dos professores sobre o currculo local foram

    lanados inquritos e estes cruzados por entrevistas colectivas e individuais semi-

    estruturadas. Em seguida transcrevem-se algumas respostas dadas por escrito ou

    oralmente pelos professores questo colocada o que currculo local?

    So matrias de interesse local no ensino centralmente definidos que aprofunda

    estes contedos visando o desenvolvimento de atitudes e prticas relevantes de e

    para a comunidade.

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    o currculo que beneficia aos alunos e crianas para poderem saber fazer

    alguns trabalhos aps os seus estudos.

    Aquilo que a comunidade acha que os seus filhos devem aprender e que

    importante dentro daquela comunidade.

    So contedos relevantes para a escola ou local onde a escola se encontra

    situada.

    uma componente do novo currculo a partir dos assuntos relevantes para a

    comunidade.

    Fazem parte as actividades mais frequentes da zona.

    mais ou menos falar da realidade da zona a partir das actividades at s suas

    tradies.

    Ensino que abrange os hbitos e costumes da regio onde est inserida a

    escola.

    a parte do ensino contido no novo programa e cujo estudo baseado nos

    assuntos locais.

    o aproveitamento de alguns aspectos locais que podem ser integrados no

    ensino educativo da criana, de modo a produzir efeitos posteriores na vida

    quotidiana.

    uma disciplina que garante a formao do aluno capaz de contribuir para a

    melhoria da sua vida, da sua famlia e da sociedade.

    aquele [contedo] que a comunidade pretende que seja ensinado.

    a transmisso da cultura, lngua e hbitos locais de cada zona onde estiver

    inserida a escola.

    um processo de mudana de um currculo para o outro que ocorre numa

    determinada comunidade.

    So aspectos culturais, econmicos e sociais predominantes na regio e que

    devem ser ensinados aos alunos.

    Entendo por currculo local como um critrio de ensino que facilitar ao aluno

    viver os seus usos e costumes, aprender a fazer e a conservar os ensinamentos que

    a sociedade oferece, sobretudo ajudar a obter prtica e aplicao.

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    Currculo local a introduo de alguns conceitos, hbitos, usos e costumes da

    regio no processo de ensino-aprendizagem.

    Se analisarmos as definies apresentadas pelos professores, nota-se que, com

    freqncia, eles usam termos como usos e costumes, contedos locais e insero da

    escola na comunidade. Mas tambm notamos que, enquanto uma parte de professores,

    nas suas definies, destaca mais o processo e a funo ou ainda o impacto que o

    currculo local pode ter para as comunidades, outra parte, em contrapartida, destaca mais

    os contedos nas suas definies.

    Uma segunda concluso que, tanto o INDE como os professores coincidem, no

    geral, na percepo do currculo local na perspectiva de integrao dos contedos e

    assuntos recolhidos nas disciplinas do currculo nacional.

    Uma outra constatao foi operacionalizao inconsistente do termo

    comunidade (s vezes permutvel pelo termo zona ou regio). Existe entre os professores

    uma clara convico que o currculo local deve ser legitimado a partir das necessidades

    de aprendizagem que as comunidades acharem relevantes. Porm, a operacionalizao

    deste conceito diferiu de escola para escola.

    Numa das escolas urbanas de Chimoio, por exemplo, foram inquiridos quase

    somente pais e encarregados de educao de uma turma para se determinarem as

    necessidades locais de aprendizagem, enquanto que em outras escolas o processo foi mais

    abrangente, incluindo as autoridades administrativas (administradores e representantes

    distritais de diversas reas), autoridades tradicionais (rgulos, mdicos tradicionais,

    mestres de cerimnias, etc.) assim como o grupo dos pais e os prprios professores.

    Por ltimo constatou-se que a noo de currculo local centraliza-se mais em

    actividades praticadas na comunidade; ou seja, a sua funcionalidade no saber fazer

    para que, como uma das definies destaca, o aluno ao sair da escola, saiba fazer algo

    para se sustentar.

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    O APURAMENTO DAS NECESSIDADES RELEVANTES DE

    APRENDIZAGEM

    O levantamento dos contedos que expressassem necessidades relevantes de

    aprendizagem em nvel local, contemplou, na primeira fase, o levantamento de temas ou

    assuntos de interesse local junto dos alunos, dos professores e das comunidades. Este

    levantamento foi feito na base do questionrio elaborado pelo INDE. Eis as questes:

    Para alm do que os professores ensinam, o que gostariam que as crianas

    aprendessem na escola?;

    Quais as actividades predominantes na sua comunidade?;

    Dessas actividades quais acha importantes para que sejam aprendidas na escola?;

    Existem na comunidade alguns aspectos sociais, culturais, histricos, etc. que pela

    sua importncia acha que deveriam ser ensinados na escola? se sim quais?;

    Havendo algumas actividades que os professores no dominam, como podemos

    nos organizar de modo que os pais e encarregados de educao e outras pessoas que

    as dominam possam ajudar a escola a ensinar as actividades? e

    O que que a escola pode fazer para incentivar a participao da comunidade na

    escola?.

    Na segunda fase, os temas recolhidos foram sistematizados pelos professores para

    o seu enquadramento pelas diferentes disciplinas e nas respectivas reas temticas do

    currculo centralmente definido. Este enquadramento foi feito com base do quadro que a

    seguir transcreve-se explicitado por um exemplo:

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    Quadro 1 - Modelo de Integrao dos Contedos Locais nas reas Temticas Tema do

    Currculo Local

    Disciplina Unidade Temtica

    Tema da Disciplina

    Contedo Interveniente no Processo de

    Ensino Canes

    da Regio Educao Musical

    Educao Vocal e

    Canto

    Canes e danas da

    regio

    Mapico, Makwaela, Marrabenta,

    etc.

    Professor /elementos da comunidade

    Fonte: INDE, Currculo Local, Estratgias de Implementao no Ensino Bsico, Julho 2003, p. 9. Na terceira fase elaboraram-se brochuras (denominadas por currculo local) que

    seriam o instrumento de base onde cada professor poderia recorrer para consultar

    contedos de interesse local para serem leccionados nas escolas.

    Finalmente, em quarto lugar, procedeu-se implementao do currculo local nas

    respectivas escolas, o que quer dizer leccionar matrias relacionadas. A integrao dos

    assuntos locais no currculo nacional pode ser feita por aprofundamento (quando o

    contedo j est programado no currculo central) ou por adio (quando a matria no

    est tratada no currculo nacional).

    A seguir irei expor aquilo que as comunidades onde este estudo se realizou

    consideraram ser suas necessidades relevantes de aprendizagem.

    Os temas para o currculo local apresentados pelos professores e alunos nas

    escolas da Cidade de Chimoio foram: aprender a Histria do bairro e da escola; aprender

    rudimentos sobre os primeiros socorros; saber cuidar e remendar roupa; aprender a

    confeccionar chapus, esteiras, tapetes, objectos de barro (ofcios); carpintaria;

    artesanato; muturi (dana local); confeccionar nipa (bebida alcolica local); horticultura.

    Os assuntos apresentados no Distrito de Bru que devem fazer parte do currculo

    local foram: agricultura, costura, artesanato, construo civil, carpintaria, olaria, msica,

    teatro, danas (njole, nhau, mafuie, esta ltima uma dana das cerimnias fnebres).

    Na escola de Nhampassa foi aberto, no mbito do currculo local, um horto escolar

    onde os alunos, no mbito das disciplinas de ofcios, plantaram vegetais (couve, alface,

    repolho e tomate). O horto serviu tambm como meio didctico para as diferentes

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    disciplinas; por exemplo, na matemtica foi usado como recurso para levar aos alunos a

    calcularem a sua superfcie.

    No Distrito de Sussundenga foram expressas como sendo as necessidades

    relevantes de aprendizagem a tecelagem, apicultura, agricultura, latoaria, carpintaria,

    construo civil, pesca e arte; eles tambm manifestaram o desejo de conhecer os eventos

    histricos do distrito, a geografia do local, aprender a lngua Chiut nas 1. e 2. classes;

    manifestaram o interesse de aprender sobre a origem dos nomes das zonas, das colinas,

    dos rios, das barragens, dos lagos e outros locais importantes na regio; apontaram a

    necessidade de aprender sobre a importncia dos rios, os danos causados pelo uso de

    plantas silvestres venenosas na captura de peixe, a importncia das plantas para a higiene

    pessoal, em particular o rupupo e o chifurro.

    Em nvel da comunidade de Posto Administrativo de Muhoa, Sussundenga-Sede e

    Rotanda foram da mesma forma apresentadas diversas necessidades. No posto

    Administrativo de Muhoa, foram: construo civil, carpintaria, mecnica, aprendizagem

    em lngua Shona, o Ingls (1. a 7. classe), olaria, feitura de cabos para machados, enxada,

    pilo, costura, tecelagem, agricultura, pecuria, locais histricos de Zinhamundanda,

    nascente de (rio) Rupisse (nascente com gua quente com cheiro de um ovo), local de

    cerimnias para chuvas Bombo Nhanguia, danas recreativas como o jezz machaera,

    manjozi, mukhongoyo, danas religiosas, Montanha Dendemora onde se atribui o poder

    aos chefes tradicionais, Chindanga (onde vive uma cobra grande), Tsetsera (floresta

    numa montanha que dando volta a pessoa muda de sexo).

    Por sua vez, no Posto de Sussundenga-Sede apresentaram-se como temas a agro-

    pacuria, comrcio, indstria, turismo, explorao de madeira, olaria, artesanato, esteira,

    cestaria, ecoturismo, criao de animais, carpintaria, construo civil, sapataria, latoaria,

    mecnica, pesca, sade e saneamento, aco ambiental, criao de animais, desporto,

    lngua local, formas de vestir em ambos os sexos, trabalhos domsticos, Histria e

    Geografia Local, Histria das infra-estruturas locais, danas tradicionais, organizao

    social das povoaes, visita a locais transfonteirios de Chimanimani, a locais histricos,

    culturais, sagrados e s pinturas rupestres de Sussundenga-Centro. Quase as mesmas

    preocupaes apresentaram os habitantes do Posto de Rotanda.

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    Uma concluso bvia que podemos retirar deste alistamento que o maior

    nmero dos saberes apresentados diz respeito ao saber fazer consubstanciado,

    majoritariamente, na exigncia para a aprendizagem de diferentes ofcios. Entretanto, os

    domnios do saber ser e do saber estar com os outros (DELLORS, 1996) referentes

    aos usos e costumes, assim como os saberes locais sobre as garantias metafsicas

    (religiosidade, formas de controlo social, smbolos identitrios etc.) so pouco ou menos

    referenciados como necessidades de aprendizagem.

    Assim tambm, o mundo da produo intelectual e espiritual ficou, de certa

    foram, ofuscados. Pode-se, sem muitos riscos de se enganar, inferir que a educao

    comunitria para o currculo local vai ser fundamentalmente profissional orientada para

    o mundo material do saber fazer relegando os outros saberes (tico-costumeiros,

    religiosos-ancestrais-espirituais) para uma fase posterior.

    Este facto parece, no mnimo paradoxal porque para as populaes locais o

    mundo espiritual exemplificado pelo nosso estudo pelo Mpfucua, Urroi ou ainda

    pelo Gamba, assim como pelo chamado Esprito Ndau, dependendo de cada localidade

    tem uma grande influncia na vida produtiva e social e afecta tambm a biografia escolar

    das crianas. Depoimentos sobre o esprito Gamba, por exemplo, indicam que h

    meninas que foram entregues ao esprito para casarem com ele.

    Desta forma, quando os rapazes soubessem, no se iriam aproximar dela porque

    seno o esprito vai destruir o casamento de diversas formas. Assim tambm uma

    criana que no ter sucesso na escola pode justificar isso porque a sua famlia teria sido

    obsequiada pelo esprito. A primeira tentao associar estas entidades metafsicas com

    um esprito mau e de vingana; mas em minha opinio e sob o ponto de vista

    sociolgico estes espritos so instncias do controlo social: as pessoas no devem

    cometer homicdios porque a pessoa morta regressar em forma de esprito para se

    vingar; realmente a tnica est em no deves matar porque sers castigado no s tu mas

    tambm toda a tua famlia. O castigo ser eterno. Sobretudo mais importante a idia de

    que ele no se limitar ao castigo corporal-material mas estende-se ao social (afecta a

    estrutura familiar) e espiritual (qualquer consulta que um membro da famlia fizer a um

    mdico tradicional, a sua doena ou infortnio [por exemplo, se no tem boa colheita]

    ser relacionada com o esprito).

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    Por outro lado, o levantamento das necessidades relevantes de aprendizagem

    ficou aqum da explorao dos smbolos de orgulho, que hipoteticamente podemos

    considerar como referncias colectivas identitrias. No distrito de Sussundenga, por

    exemplo, uma leitura diagonal s necessidades relevantes de aprendizagem em nvel

    local mostra um certo orgulho pelas montanhas Chimanimani. Possivelmente a

    montanha Cabea de Velho, a Barragem de Chicamba no rio Rivu, a fonte da gua

    Vumba, etc. tenham o papel de referncias identitrias metafsicas em nvel local ou

    ainda mesmo provincial.

    TIPOLOGIA DOS SABERES LOCAIS

    Com base nas necessidades de aprendizagem relevantes, expostas no ponto

    anterior, tentarei, em seguida, deduzir rudimentos de uma Tipologia de Saberes Locais

    (confinados ao saber fazer). O quadro abaixo foi inspirado pelas pesquisas de Lenhart

    (1993), desenvolvidas e adaptada por Castiano (1997). Neste quadro porm, incluem-se

    elementos novos resultantes da recolha feita nas escolas.

    Quadro 2 - Tipologia do Saber Fazer

    Sector Primrio Sector Secundrio Sector Tercirio Tradicional-Local

    Agricultura de subsistncia, pastorcia, pesca

    Ofcios (construo e cobertura de casas, olaria, artesanato, cestaria, pintura, etc.), tcnicas de aprovisionamento

    Cura por plantas medicinais locais, parteiras, administrao local, mestre de cerimnias,

    Informal tratamento e conservao dos produtos agrcolas

    carpintarias, latoarias, sapataria,

    comrcio nas bancas de venda, transportes

    Moderno agricultura empresarial

    indstrias locais servios, educao, sade, comercializao agrcola

    Fontes: Castiano 1997, p.164 inspirado por Lenhart 1993, p. 78.

    O quadro visualiza os saberes discriminados por sectores de economia e

    categoriza-os pelo tipo de formalizao e modernizao (tradicional-local, informal e

    moderno). Embora com fortes margens de impreciso, este quadro pode ser o ponto de

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    partida para sistematizar os saberes em termos de actividades atendendo basicamente aos

    ecossistemas de ocupao econmica circundantes. Por exemplo, para a EPC do Centro

    Hpico na cidade de Chimoio seriam os saberes mais aproximados ao sector informal.

    Porm, a tipologia especfica para cada escola teria de ser objecto de um estudo mais

    especializado.

    DA COEXISTNCIA SILENCIOSA PARA A COEXISTNCIA

    ARGUMENTATIVA

    Uma das concluses bsicas que h uma convico geral de que o ensino dos

    contedos relacionados com saberes locais, no s vantajoso para cada aluno dado que

    abre possibilidade de insero no sistema ocupacional local, mas acima de tudo a

    vantagem em relao comunidade local onde a escola est inserida. Os alunos

    aprendem na escola normas e valores semelhantes s transmitidas na socializao

    primria (familiar).

    Porm, uma das preocupaes que se colocam s reformas curriculares, a

    questo da diferena entre este movimento de africanizao do currculo com o do

    currculo indgena no tempo colonial (ensino rudimentar ou ensino indgena para o

    caso de Moambique, ou bantu education para o caso da frica do Sul), aplicado

    especificamente nas escolas dedicadas para os negros.

    Para mim a grande diferena est na sua inteno declarada e no

    necessariamente nos contedos dos programas de ensino, embora haja excepes. Pois,

    no tempo colonial, as diversas verses do currculo para as crianas negras ou indgenas

    eram desenhadas consciente e sistematicamente para responder ao projecto do

    imperialismo cultural, quer dizer, com a inteno declarada de dominar e inferiorizar

    saberes, valores e prticas de povos autctones.

    Assim, embora aqueles programas estivessem voltados, por exemplo, para a

    prtica da agricultura ou ainda para o domnio de alguns ofcios geralmente aplicveis

    nas localidades, o sistema nunca valorizou as cosmovises e tradies culturais locais.

    No havia espao para uma relao argumentativa entre os saberes.

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    A reforma curricular no ensino bsico em curso em Moambique tem,

    evidentemente, outras intenes declaradas. Como eu me referi acima, um objectivo da

    reforma o de quebrar com todo tipo de discriminao e desigualdades de acesso; o outro

    objectivo eliminar as barreiras institucionais que se punham contra a progresso das

    crianas negras vivendo no campo para atingirem nveis superiores de escolaridade; por

    isso, importante que o currculo local seja de tal forma implementado que seja ao

    mesmo tempo adaptado s necessidades locais sem, entretanto, fechar a estrada para a

    progresso escolar das crianas que vivem nas zonas rurais.

    A maior diferena est na legitimao dos conhecimentos, pois, diferentemente do

    tempo colonial, na reforma curricular em curso h formas institucionalizadas de garantir

    a participao comunitria na definio dos contedos a ensinar. O caso da provncia de

    Manica demonstra, claramente, o envolvimento das comunidades e de diversas

    autoridades locais na fase da concepo e na fase da implementao do currculo local.

    Nelas houve sesses de negociao e interaco entre os professores e os detentores dos

    saberes locais que sero usados como recursos para o ensino.

    Assim, ficou claro que currculo local est a se tornar o espao social

    institucionalmente criado com um enorme potencial de interaco e mesmo at de

    avaliao entre os saberes, prticas e valores locais e universais supostamente

    competitivos. Com a sua introduo o professor primrio ficou o actor social integrador

    de saberes, prticas, valores locais e o conhecimento universal.

    Por via do currculo local, os diversos tipos de saberes depositados nas aldeias

    entraro oficialmente na escola. Pela estratgia de integrao de saberes locais no

    Currculo Nacional, os professores faro esforo pelo casar saberes de natureza mais

    universal com os de natureza e origem local. A criana, para alm dos valores ticos

    universais derivados da cidadania e da economia do mercado capitalista, comea tambm

    a aprender valores e prticas locais tradicionais. Quer dizer, a criana ser inserida ao

    mesmo tempo em uma tradio universal e em uma tradio viva local.

    A escola ser o espao onde alunos, professores e a comunidade so confrontados,

    pela via argumentativa e racional (i.e. em funo dos problemas de comunidade) com

    dois modelos de produo, disseminao e de legitimao dos saberes. O Currculo Local

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    constitui o primeiro e o mais importante passo para a institucionalizao do debate de

    percepes diferente da realidade social.

    Porm, no podemos de forma nenhuma nem romantizar o tradicionalismo da

    comunidade e nem ser muito optimistas no sentido de que o currculo local recebido de

    mos abertas por professores e pelas comunidades.

    De facto, acho que seria um engano deduzir que a comunidade pode participar

    curricularmente s em assuntos que dizem respeito s tradies locais. Uma atitude

    romntica, tradicionalista e reduccionista deste gnero seriam simplistas em relao s

    potencialidades de desenvolvimento existentes nas comunidades. Um exemplo disso vem

    de Mali. O Instituto de Educao Popular em Kati daquele pas trabalhou longamente na

    elaborao do programa chamado CIWARA (palavra Bambara para designar a cabea do

    antlope, a identidade simblica no emblema de Mali).

    Este programa buscou desenvolver contedos especficos para a aquisio de

    habilidades de liderana em jovens que frequentavam as escolas elementares.

    Liderana neste caso significou habilidades para jogar um papel decisivo no

    desenvolvimento das suas comunidades.

    As culturas locais tambm demonstram capacidades importantes em lutar contra

    as desigualdades sociais na base do gnero ao participar na mobilizao para a

    escolarizao da rapariga, assim tambm a dita medicina tradicional demonstra

    capacidades de providenciar tratamentos alternativos (note-se que no digo cura) em

    infuses para minimizar as consequncias das doenas relacionadas com o SIDA ou

    mesmo para o combate no alastramento desta mesma doena. (Cf. EASTON; CAPACCI;

    KANE, 2000, p. 3)

    Por outro lado, olhando para as experincias at agora acumuladas nos vrios

    pases africano na introduo dos contedos locais nas escolas, notam-se dificuldades de

    vrias ordens. A mais sria reside no facto que os elementos do saber local tendem a ser

    aqueles ao qual menos ateno se presta por parte dos professores porque eles exigem

    muito tempo de pesquisa e sistematizao e alguns deles quebram normas e tradies

    existentes (EASTON; CAPACCI; KANE, 2000, p. 4).

    Uma das professoras entrevistadas queixava-se de que para incluir contedos de

    histria local foi para as bibliotecas que ficam muito longe e perde muito tempo a

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    procurar contedos. Nas entrevistas tambm encontrei muitos professores que no viam

    com bons olhos se ensinar na escola elementos espirituais que dizem respeito, por

    exemplo, ao esprito Gamba.

    Uma outra dificuldade prende-se com o facto de, no ensino formal, no haver

    ainda uma tradio longa experincia no tratamento de assuntos locais exigindo assim um

    tipo de conhecimento e competncias pedaggicas mas sobretudo de rudimentos de

    pesquisa que muitos professores primrios no tm.

    A atitude bsica de que o verdadeiro conhecimento s se encontra nos livros faz

    com que os professores se sintam de certa forma perdidos quando lhes exigido ensinar

    contedos locais, cuja fonte de conhecimento j no (somente) o tradicional manual do

    aluno ou o livro do professor, seno as entrevistas ou observao directa. A ele ter que

    ter as mnimas noes de pesquisa.

    O espao institucional argumentativo criado atravs do currculo local no s vai

    elevar a competncia argumentativa dos saberes tradicionais pela participao local nos

    assuntos escolares, como tambm o uso dos idiomas locais que vai inspirar mais

    confiana nas pessoas de recursos locais e nas autoridades comunitrias em colaborarem.

    Podero, por exemplo, gravar a histria local ou expressar assuntos delicados ligados

    moralidade e aos tabus em sua prpria lngua.

    Assim, se a escola como instituio estar perto das populaes locais, ento a

    possibilidade da reapropriao do saberes depositados nas comunidades ser cada vez

    maior e acurados. Igualmente as crianas vo ter a oportunidade e o direito de

    confrontarem com sua cultura de um modo racional e na base disto fazerem as suas

    opes de aco. A escola passa a ser a instncia racionalizante dos saberes, das prticas

    e dos valores locais.

    O facto de, nesta primeira fase de levantamento, as comunidades se terem

    concentrado em necessidades de aprendizagem mais viradas para o saber fazer (rea da

    produo material) e pouco para o mundo espiritual, deve ser visto como um incio

    normal, sobretudo quando se trata de um processo de integrao de dois mundos. Mas os

    planificadores de educao devem ser pr-activos, quer dizer, devem desde j

    desenvolver um programa de investigao que englobe duas vertentes de linhas de

    pesquisa: uma vertente para explorar aspectos que podem ter um impacto imediato na

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    melhoria da vida das populaes atravs da escola; a outra vertente para explorar da vida

    espiritual das comunidades.

    Em relao primeira vertente destacamos os seguintes assuntos: mtodos locais

    de aprovisionamento de alimentos; mtodos locais de construo de casas; formas locais

    de produo de utenslios e meios de trabalhos; sistematizao de plantas alimentares e

    medicinais da comunidade; prticas e cuidados primrios locais de sade (e saneamento);

    mtodos locais de preservao dos solos com vista a descortinar o discurso ambiental

    comunitrio; o papel da mulher na armazenagem e disseminao de conhecimentos sobre

    a natureza e a sociedade; formas locais de controle de epidemias (malria, diarrias,

    HIV/SIDA) etc. Estes contedos devem ser primeiro sofrer uma inventariao para

    depois coloc-los num discurso mais sistematizado.

    A segunda vertente, pesquisa do mundo espiritual, mais delicada mas

    igualmente necessria, porque tem muita relevncia para a vida da escola e das crianas.

    Aqui se incluem reas como: educao tradicional para o desenvolvimento fsico-

    corporal (jogos, competies); constrangimentos de ordem espiritual no seio das

    populaes (como Gamba, Mfucua etc.); instncias de controle sobre os desvios sociais;

    prticas de renovao e purificao moral; estudo sobre as prticas locais de

    regulao/resoluo de conflitos; o valor espiritual das plantas; conhecimentos sobre

    hbitos, valores e smbolos espirituais dos animais; as explicaes e tratamentos locais

    das doenas (psicolgicas), de desastres/calamidades naturais e sociais; contedos, meios

    e mtodos locais tradicionais de educao (p.e. ritos de iniciao), religies locais, etc.

    Estes contedos tero que ser tambm sistematizados e escritos de tal forma que sejam

    ensinveis e compreensveis para as crianas para poderem entrar na escola.

    O programa de pesquisa que descrevi nos pargrafos anteriores tem duas

    finalidades. A primeira evitar que a integrao dos contedos locais no currculo

    nacional no seja de facto um processo da assimilao do local pelo nacional ou pelo

    universal. Uma verdadeira integrao s se faz em condies de igualdade de

    oportunidades e numa atmosfera de tolerncia cultural, como referem Mkabela e Luthuli

    (1997, p. 21). Neste momento os saberes locais apresentam-se em desvantagem porque

    ainda no esto convenientemente sistematizados para entrarem num dilogo igual com o

    outro tipo de saberes e valores.

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    A segunda finalidade a ser alcanada o empoderamento dos alunos nas

    comunidades de modos a que eles possam ser crticos e analticos em relao aos saberes,

    s prticas e valores tanto tradicionais como modernos. Queremos que a escolha dos

    padres de vida tanto os oferecidos pelo moderno como pela tradio viva e concreta seja

    feita de uma forma consciente e racional.

    A escola deve tornar-se o espao desta coexistncia selectiva. S assim que o

    currculo local se vai tornar um espao integrador crtico e racional, e no um espao de

    assimilao cultural com novas roupagens. A coexistncia j no ser silenciosa, como

    nos sugere Hountondji, mas com ambas as vertentes a argumentarem, sero transcendidas

    para uma coexistncia activa.

    REFERNCIAS AKIMPELU, J.A. An Introduction to Philosophy of Education. Londres: Macmillan, 1981. CASTIANO, J. Towards a Community-Based-Research in Education: An African Approach. In: African Voices on Education, Pretria, 2003. CASTIANO, J. Das Bildungssystem in Mosambik (1974-1996): Entwicklungen, Probleme und Konsequenzen. Hanburg: Institut fr Afrika-Kunde (Bd.55), 1997. DELLORS, J. Educao: Um Tesouro a Descobrir. Relatrio da UNESCO para a Comisso Internacional sobre Educao para o sculo XXI. 2. ed. Lisboa: Edies ASA. Coleco Perspectivas Actuais, 1996. EASTON, P.; CAPACCI, C.; KANE,L. O Conhecimento Indgena vai Escola. 2000. Disponvel em: http://www.worldbank.org/afr/ik/pr/iknotes.htm > Acesso em: 20/ maio/ 2004. HOUNTONDJI, P. The Struggle for Meaning. Reflections on Philosophy, Culture and Democracy in Africa. Ohio: University Center for International Studies. Africa Series, n. 78, Athens, 2002. INDE/MINED: Plano Curricular do Ensino Bsico. Objectivos, Poltica, Estrutura, Planos de Estudos e Estratgias de Implementao. UNESCO, Maputo, 2002.

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    INDE: O Currculo Local no Ensino Bsico (Sntese do documento Estratgias de Implementao do CL). Memo, 02.09.2003 (documento de trabalho distribudo no seminrio da Beira), 2003. INDE: Currculo Local. Escola Primria de Nhazilo. Maputo, 2002. INDE: Currculo Local. Escola Primria de Guluza (1 e 2 Ciclos). Maputo, 2002. INDE: Currculo Local. Escola Primria Amlcar Cabral (1, 2 e 3 Ciclos). Maputo, 2002. INDE: Currculo Local. Escola Primria Completa de Mungoi (1, 2 e 3 Ciclos). Maputo, 2002. LACLAU, E. Poltica e Ideologia na Teoria Marxista. Capitalismo, Fascismo e Populismo. RJ: Editora Paz e Terra, Coleo Pensamento Crtico, v. 26, Brasil, 1978. LENHART, V. Bildung fr Alle. Zur Bildungskrise in der Dritten Welt. Darmstadt : Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1993. LYOTARD, J.F. A Condio Psmoderna. Lisboa: Ed. Gradiva, 1984. MASOLO, D. A. African Philosophy in Search of Identity. East African: Nairobi: Educational Publishers.1995. MKABELA, N.Q.; LUTHULI, P.C. Towards an African Philosophy of Education. Pretoria (RSA): Kagiso Terciary, 1997. MINED/INDE/UNESCO: Plano Curricular do Ensino Bsico. Objectivos, Poltica, Estrutura, Plano de Estudos e Estratgias de Implementao. (Este documento muitas vezes citado como sendo PCEB) Maputo, 1999. MINED: Plano Estratgico de Educao 2004-2008 (Esboo). Maputo, Agosto de 2003 (documento de trabalho para a reunio do RAR), 2003. MINED: Relatrio sobre a implementao da reforma do sector pblico 2001/2003. Maputo, Gabinete de Gesto da Mudana, 2003. MUDIMBE, V. I. The Invetion of Africa, Gnosis, Philosophy and the Order of Knowledge. Bloomington and Indianapolis: Indiana University Press, 1988.

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    Recebido em : maio de 2005 Aceito em : 05 de agosto de 2005. Para citar este artigo: CASTIANO, Jos P. O Currculo Local como Espao Social de Coexistncia de Discursos:Estudo de Caso nos Distritos de Bru, de Sussundenga e da Cidade de Chimoio Moambique. Revista E-Curriculum, So Paulo, v. 1, n. 1, dez. - jul. 2005-2006. Disponvel em:: http://www.pucsp.br/ecurriculum, acesso em: dd/mm/ano. Breve currculo do autor: Mestrado em Filosofia e Doutorado em Sociologia (Educao) pelas universidades de Greifswald e de Hamburg na Alemanha, respectivamente. Actualmente docente de Filosofia, de Filosofia de Educao e no mestrado em Educao e Currculo na Universidade Pedaggica; tambm docente de Teorias Sociolgicas Contemporneas na Universidade Eduardo Mondlane, ambas universidades em Maputo. Faz pesquisas sociolgicas e epistemolgicas na rea de Saber Local e Currculo. Seu interesse de pesquisa tambm nas reas de Polticas Pblicas e Educao nos pases da frica Austral.