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    Para a Histria do Socialismo

    Documentos

    www.hist-socialismo.net

    Traduo do russo e edio por CN, 27.02.2015

    (original em: http://cccp-kpss.narod.ru/arhiv/soprobes/stali/stalinizm-li.htm)

    _____________________________

    O culpado ser o stalinismo? (Definir correctamente, sem preconceitos e artificialismos,

    a natureza do actual mecanismo de travagem)

    Carta aberta a Mikhail Gorbatchov

    secretrio-geral do PCUS

    Tatiana Khabarova1

    1987

    Penso ser oportuno tecer algumas consideraes sobre o programa, por vs pro-posto, de superao da prolongada travagem social e econmica do desenvolvi-mento da nossa sociedade.

    1. Numa das vossas recentes intervenes falastes da clebre lei, descoberta por K.

    Marx e F. Engels,2 a lei da correspondncia das relaes de produo ao carcter e nvel de desenvolvimento das foras produtivas. Esta uma lei efectivamente c-lebre, uma vez que constitui a construo portante conceptual da anlise socio-lgica marxista em todos os seus ngulos e em qualquer direco. No entanto, tam-bm o seu destino (desta lei) no perodo de estagnao foi bastante conturbado. No tereis porventura notado a curiosa circunstncia de que nos trinta e tal anos transcorridos at vossa chegada, o ltimo alto dirigente do partido e do Estado que analisou os problemas econmicos e sociais, sob o ponto de vista do princpio da correspondncia como fora propulsora da contradio dialctica da nossa for-mao, foi I.V. Stline?3

    1 O presente texto foi escrito em Moscovo, em Outubro de 1987. 2 Pravda, de 11 de Abril de 1987, p. 2. 3 Refiro-me ao trabalho Problemas Econmicos do Socialismo na URSS (1952) [ver tra-

    duo portuguesa em http://www.hist-socialismo.com/docs/ProblemasEconomicosSocia-lismo.pdf. (N. Ed)].

  • 2

    A partir de meados dos anos 50, os resultados da discusso sobre Economia de 1951-1952 (que culminou com o surgimento do referido trabalho de Stline) comea-ram a ser alvo de um enrgico revisionismo, e de longe no a favor da clebre lei, mas precisamente a favor da posio bukharinista que se lhe opunha, a qual foi na altura defendida solitariamente por L.D. Iarochenko.

    Do ponto de vista marxista, a lei da correspondncia constitui a representao da contradio fundamental (ou essencial) do modo de produo, constituindo la-dos equitativos desta contradio as foras produtivas e as relaes de produo (de base). A sua interaco cclica, e precisamente na fronteira entre ciclos de base vizinhos que se forma a linha divisria que marca o salto qualitativo no desenvol-vimento da sociedade, o momento da transio do todo econmico e social de um nvel qualitativo para outro mais elevado.

    Na sua essncia esta transio no outra coisa seno a peridica colocao em correspondncia dos elementos opostos objectivos dialcticos (a base e as foras produtivas), a eliminao da dissonncia que inevitavelmente surge entre eles no final de cada ciclo. A dissonncia manifesta-se no facto de as relaes de base en-velhecerem, e de principal motor do desenvolvimento das foras produtivas se transformarem no seu travo; no interior do complexo scioprodutivo desenvolve-se o que hoje chamamos de mecanismo de travagem. No momento do salto qualita-tivo social dialctico o mecanismo de travagem destrudo, e a base reorganizada regressa novamente durante algum tempo (at ao prximo envelhecimento) ao seu papel activo de liderana em relao s foras produtivas. Abre-se um novo espao estrutural de desenvolvimento, para o qual as foras produtivas se precipitam, fortemente atradas pela renovao das relaes de produo que so o seu rebo-cador objectivo-dialctico.

    Um avano entre ciclos das relaes de produo s pode realizar-se mediante a mais decidida ingerncia da superstrutura poltica progressista revolucionria: isto porque as alteraes na base econmica da sociedade so sempre a introduo de correces, por vezes bastante radicais, nas formas dominantes de propriedade, na distribuio do poder, e estas coisas no mudam espontaneamente, por si prprias. Por isso, hoje, justamente se lembra que o funcionamento da lei da correspondncia tem a aparncia exterior da democratizao, da deselitizao da organizao social (na sociedade antagnica a revoluo poltica). Alis, mesmo no nosso regime no antagnico, justifica-se classificar uma to grande transforma-o deste tipo como uma revoluo, que no entanto se realiza sob uma forma so-cialmente controlada, institucional.

    Todavia, como j referimos, a partir de 1953, todos estes conceitos marxistas (re-flectidos em maior ou menor medida no trabalho de Stline Problemas Econmicos do Socialismo na URSS, bem como na sua obra Sobre o Materialismo Histrico e o Materialismo Dialctico, includo como captulo terico-filosfico no manual Hist-ria do Partido Comunista da URSS (bolchevique) Breve Curso, que teve na altura uma divulgao massiva) todos estes conceitos marxistas foram rapidamente erra-dicados com o triunfo do iarochenkismo (apesar de o nome desta pessoa, objecti-vamente equivocada, mas subjectivamente merecedora de meno, nunca mais ter sido referido a este propsito.)

    Aqui chegados na nossa anlise, seguramente que j evidente para vs a questo principal que vos dirijo e a ideia-chave da minha missiva: extremamente difcil in-

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    tuir qual o contedo cientfico marxista que atribuis afirmao de que, alegada-mente, os conceitos tericos sobre o socialismo (e sobre o desenvolvimento da for-mao em geral), prevalecentes na sociologia sovitica nas ltimas duas ou trs d-cadas, permanecem ao nvel dos anos 30 e 40,4 e que isso ter sido precisamente uma das causas pelas quais, entre 1982 e 1985, se criou na prtica uma situao de crise na economia nacional e noutras esferas da vida social do pas.

    Como sabido, o XIX Congresso do PCUS tomou a deciso de reelaborar o Pro-grama do Partido e deliberou guiar-se pelas teses principais dos Problemas Econmi-cos de Stline;5 trabalho este que deu corpo ao conjunto de concepes de peso sobre o desenvolvimento do organismo scioprodutivo (incluindo a poca da construo do comunismo), que se sedimentou em resultado de tensos debates terico-ideolgicos e investigaes entre os anos 30 e o incio dos anos 50. Logo na segunda metade dos anos 30 e at ao incio dos anos 50, a orientao, digamos, oficial do partido e a expo-sio resumida e geral dos avanos obtidos neste domnio estavam contidos no j re-ferido captulo terico do Breve Curso da Histria do PC da URSS (b).

    Ser ento que, na vossa opinio, o desenvolvimento terico-ideolgico no nosso pas, da segunda metade dos anos 50 at aos nossos dias, seguiu a linha do Breve Curso e dos Problemas Econmicos do Socialismo na URSS? Afirmar tal coisa parece-me simplesmente ridculo. E absolutamente inadmissvel, segundo a minha firme con-vico, que estes entorses e distores da verdade histrica (anedticos se, com grande lstima, no fossem proferidos por eminncias partidrias to impressivas), abso-lutamente inadmissvel que tudo isto sirva para fundamentar aces e passos reais de grande escala no sentido de corrigir o curso de crise dos acontecimentos.

    Regressemos rapidamente a L.D. Iarochenko.

    O erro principal do camarada Iarochenko, segundo o ponto de vista de Stline, consiste no facto de se afastar do marxismo na questo do papel das foras produ-tivas e das relaes de produo no desenvolvimento da sociedade, de exagerar des-mesuradamente o papel das foras produtivas, bem como de subestimar desmesura-damente o papel das relaes de produo e de arrematar a questo declarando que, no socialismo, as relaes de produo fazem parte das foras produtivas. ()

    No que respeita ao regime socialista, onde j no existem contradies anta-gnicas de classe e onde as relaes de produo j no esto em contradio com o desenvolvimento das foras produtivas, o camarada Iarochenko considera que aqui as relaes de produo deixam de ter qualquer papel autnomo, deixam de ser um factor importante do desenvolvimento e so absorvidas pelas foras produ-tivas, tal como a parte absorvida pelo todo. ()

    O camarada Iarochenko () reduz o problema da economia poltica do socia-lismo organizao racional das foras produtivas, pondo de lado as relaes de produo, isto as relaes econmicas, e dissociando-as das foras produtivas.

    Portanto, em vez de economia poltica marxista, o camarada Iarochenko pro-pe-nos algo parecido com a Cincia Universal da Organizao de Bogdnov () algo no gnero da tcnica da organizao social de Bukhrine. ()

    4 Pravda, de 28 de Janeiro de 1987, p. 1. 5 O PCUS nas suas Resolues e Decises dos Congressos, Conferncias e Plenrios t. III.,

    Gospolitizdat, Moscovo, 1954, pp. 594-595.

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    isto que explica em rigor o facto de o camarada Iarochenko no se interessar por questes econmicas do regime socialista, como a presena de diversas formas de propriedade na nossa economia, a circulao mercantil, a lei do valor, etc., consi-derando-as questes secundrias, que apenas suscitam controvrsias escolsticas. ()

    O camarada Iarochenko pensa que suficiente arranjar uma organizao ra-cional das foras produtivas para passar do socialismo ao comunismo sem dificul-dades particulares.6

    A resoluo do XIX Congresso do PCUS sobre a reelaborao do Programa do Par-tido, na base das concepes traadas de modo geral nos Problemas Econmicos do Socialismo na URSS, no foi cumprida. Tereis porventura algo a objectar contra este facto indiscutvel? A maior parte dos elementos que integravam a respectiva Comis-so foi alvo de represses, com excepo de alguns nossos socilogos insubmers-veis, dispostos a escrever qualquer programa, sob orientaes de quem quer que fosse, desde que se tratasse do Programa do Partido governante e desde que isso lhes garantisse a participao nos assuntos da direco do partido e do Estado, com todas as vantagens da decorrentes.

    Assinalo a propsito (apesar de mais adiante falarmos em particular da transpa-rncia7) que a c