o controle do corpo e a prisÃo da alma: mecanismos de ... · de que vivemos a era dos corpos...

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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X O CONTROLE DO CORPO E A PRISÃO DA ALMA: MECANISMOS DE PODER SOBRE A MULHER ... o que se questiona, com toda a certeza, é a língua mais precisamente, o idioma, a literalidade, a escrita que formam o elemento de qualquer revelação e de qualquer crença, um elemento, em última instância, irredutível e intraduzível mas um idioma indissociável, antes de mais nada, indissociável do vínculo social, político, familiar, ético, comunitário, da nação e do povo: autoctonia, solo e sangue, relação cada vez mais problemática à cidadania e ao Estado..” Jacques Derrida, A Religião. Mara Conceição Vieira de Oliveira 1 Monique Rodrigues Lopes 2 Resumo: A língua dita uma ordem; impõe um sistema de regras e valores. Parametrizando a vida e os costumes a língua serviu como instrumento para controle social e cultural do feminino. Logo, o objetivo deste estudo é analisar alguns episódios da obra O primo Basílio, de Eça de Queiroz, entorno das relações estabelecidas entre homens e mulheres, bem como episódios atuais em que o discurso é proferido de forma misógina e machista, envolvendo figuras públicas da política nacional e internacional. Estes episódios contemporâneos revelam resquícios de uma cultura patriarcal e autoritária, a qual tem violado os Direitos das mulheres. A partir da proposição de Michel Foucault de que vivemos a Era dos corpos disciplinados, analisaremos como os discursos social, religioso e jurídico, principalmente, tendem a disciplinar o feminino. Palavras-chave: Língua, poder, discurso, feminino, controle. Introdução A língua institui um padrão; dita uma ordem; impõe um sistema de regras e valores. Parametrizando a vida e os costumes, a língua serviu como instrumento para controle social e cultural do feminino. Logo, o objetivo deste estudo é analisar de que forma o discurso molda a vida das mulheres. Consubstanciado na noção teórica de que os mecanismos de poder na sociedade padronizam a atitude das mulheres, a proposição de Michael Foucault de que vivemos a Era dos corpos disciplinados nos parece bastante útil, bem como a de Roland Barthes, quando diz que a língua é fascista. A partir desta base teórica analisaremos dois discursos, de modo crítico e comparativo; alguns episódios da obra O primo Basílio, de Eça de Queiroz e outros episódios atuais, em que o discurso é proferido de forma misógina e machista. Assim, buscaremos fundamentar que - ainda hoje - as mulheres são excluídas e ceifadas socialmente. Eça de Queiroz retrata a sociedade portuguesa do final do século XIX e as relações mantidas entre homens e mulheres; a influência de uma moral cristã e do patriarcalismo que tendiam a disciplinar o feminino. Desse modo, a mulher que não correspondesse ao modelo ditado pela 1 Professora no Centro Universitário Estácio Juiz de Fora. Doutora em Letras pela Universidade Federal Fluminense/RJ. Brasil. 2 Professora na Rede Estadual de MG. Mestranda em Sociologia Jurídica pela Universidade Federal Fluminense e acadêmica do Curso de Direito no Centro Universitário Estácio Juiz de Fora. Brasil.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

O CONTROLE DO CORPO E A PRISÃO DA ALMA:

MECANISMOS DE PODER SOBRE A MULHER

... o que se questiona, com toda a certeza, é a língua – mais precisamente, o idioma, a literalidade, a

escrita que formam o elemento de qualquer revelação e de qualquer crença, um elemento, em última

instância, irredutível e intraduzível – mas um idioma indissociável, antes de mais nada, indissociável

do vínculo social, político, familiar, ético, comunitário, da nação e do povo: autoctonia, solo e

sangue, relação cada vez mais problemática à cidadania e ao Estado..” Jacques Derrida, A Religião.

Mara Conceição Vieira de Oliveira1

Monique Rodrigues Lopes2

Resumo: A língua dita uma ordem; impõe um sistema de regras e valores. Parametrizando a vida e

os costumes a língua serviu como instrumento para controle social e cultural do feminino. Logo, o

objetivo deste estudo é analisar alguns episódios da obra O primo Basílio, de Eça de Queiroz,

entorno das relações estabelecidas entre homens e mulheres, bem como episódios atuais em que o

discurso é proferido de forma misógina e machista, envolvendo figuras públicas da política nacional

e internacional. Estes episódios contemporâneos revelam resquícios de uma cultura patriarcal e

autoritária, a qual tem violado os Direitos das mulheres. A partir da proposição de Michel Foucault

de que vivemos a Era dos corpos disciplinados, analisaremos como os discursos social, religioso e

jurídico, principalmente, tendem a disciplinar o feminino.

Palavras-chave: Língua, poder, discurso, feminino, controle.

Introdução

A língua institui um padrão; dita uma ordem; impõe um sistema de regras e valores.

Parametrizando a vida e os costumes, a língua serviu como instrumento para controle social e

cultural do feminino. Logo, o objetivo deste estudo é analisar de que forma o discurso molda a vida

das mulheres. Consubstanciado na noção teórica de que os mecanismos de poder na sociedade

padronizam a atitude das mulheres, a proposição de Michael Foucault de que vivemos a Era dos

corpos disciplinados nos parece bastante útil, bem como a de Roland Barthes, quando diz que a

língua é fascista.

A partir desta base teórica analisaremos dois discursos, de modo crítico e comparativo;

alguns episódios da obra O primo Basílio, de Eça de Queiroz e outros episódios atuais, em que o

discurso é proferido de forma misógina e machista. Assim, buscaremos fundamentar que - ainda

hoje - as mulheres são excluídas e ceifadas socialmente.

Eça de Queiroz retrata a sociedade portuguesa do final do século XIX e as relações mantidas

entre homens e mulheres; a influência de uma moral cristã e do patriarcalismo que tendiam a

disciplinar o feminino. Desse modo, a mulher que não correspondesse ao modelo ditado pela

1 Professora no Centro Universitário Estácio Juiz de Fora. Doutora em Letras pela Universidade Federal Fluminense/RJ.

Brasil. 2 Professora na Rede Estadual de MG. Mestranda em Sociologia Jurídica pela Universidade Federal Fluminense e

acadêmica do Curso de Direito no Centro Universitário Estácio Juiz de Fora. Brasil.

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sociedade vigente estaria cometendo um crime ou um pecado. Entendemos que a manutenção desta

disciplina patriarcal encontrou respaldo nos discursos religiosos e jurídicos, tendo se projetado

ainda com relevante poder na sociedade e cultura brasileiras. Ao longo do século XX, no Brasil, o

direito das mulheres evoluiu e obteve muitas conquistas, mas nos últimos anos um resquício

autoritário da sociedade patriarcal persiste e configura cenas de forte desrespeito às mulheres.

A representação literária e a realidade experimentada pelo universo feminino

contemporâneo revelam a atemporalidade das práticas de controle e exclusão do feminino

determinadas pelo mecanismo de controle próprio dos discursos disciplinadores.

1. O poder do discurso não é impedir de dizer; é obrigar a dizer.

A produção do discurso não é neutra. Cada época e cada cultura conduz seu discurso

intencionando uma posição que tende a ser dominante sobre outra(s). Os discursos sociais

controlam e exercem poderes que muitas vezes se tornam nocivos. Embora o poder do discurso

possa ser observado em distintas modalidades, buscar-se-á, aqui, verificar de que modo o discurso

social e cultural se reveste de uma modalização reveladora do quanto a mulher foi ou tem sido

controlada.

Foucault descreve três procedimentos de controle e de delimitação do discurso: interdição,

loucura e a vontade de verdade, os quais se farão pertinentes a este estudo, na medida em que, tanto

na representação literária – Luísa -, quanto nos exemplos reais e atuais recortados, encontramos

esses procedimentos.

Mas o que seria a vontade de verdade? E como essa vontade se manifesta, ou não, nos

discursos? Há uma vontade de verdade por detrás do discurso da Instituição e essa vontade pode

não ser a mesma daquele que ouve o discurso proferido por esta Instituição. O discurso em função

de determinado interesse pode se manifestar como único e legítimo, assumindo sobre os outros

discursos um poder de coerção e interdição.

... essa vontade de verdade, como os outros sistemas de exclusão, apoia-se sobre

um suporte institucional: é ao mesmo tempo reforçado e reconduzida por todo um

compacto conjunto de práticas como a pedagogia (...) mas ela é também

reconduzida, mais profundamente sem dúvida, pelo modo como o saber é aplicado

em uma sociedade, como é valorizado, distribuído, repartido e de certo modo

atribuído. (FOUCAULT, 1996, p.17)

O discurso machista aparece apoiado em suportes institucionais que acabam lhe dando

legitimidade, seja a Religião, o Direito ou mesmo a Educação. Embora Foucault sinalize que a

educação - ou o modo como o saber é aplicado em determinada sociedade – possa fazer a diferença,

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ao longo do século XX, no Brasil, a educação não era privilégio de todas as mulheres. A “ordem do

discurso” criava algumas dificuldades para que a mulher continuasse seus estudos e o saber não lhe

era conferido.

O jurista Clóvis Beviláqua (1958) retratou no códex que os valores e a filosofia jurídica

estavam basicamente representados pelos valores cristãos católicos e pelo liberalismo econômico

vindo da Europa. A moral Católica fez com que o Código Civil de 1.916, mesmo sendo um projeto

gestado após a separação entre Estado e Igreja (promovida após a proclamação da República),

tivesse seu espaço reservado especialmente nas normas referentes ao Direito de Família, mascarado

de moral secular; porém, isso não era de tudo tão estranho, visto que grande parte da sociedade

brasileira era mesmo católica. O referido Código Civil privilegiou em diversos momentos a figura

do homem em detrimento à da mulher, especialmente na conformação da família:

Transformou a força física do homem em poder pessoal, em autoridade,

outorgando-lhe o comando exclusivo da família. Por isso, a mulher ao casar perdia

sua plena capacidade, tornando-se relativamente capaz, como os índios, os

pródigos e os menores. Para trabalhar precisava da autorização do marido. (DIAS,

2005, p. 1)

A língua veicula, assim, a crença de que o homem seja superior à mulher. Segundo Roland

Barthes, a língua implica uma relação fatal de alienação. Para o crítico, a língua não é objeto para se

comunicar, ao contrário disso é uma reição generalizada e por isso nela se inscreve o poder. Nessa

perspectiva, Barthes diz que a língua é “fascista; pois o fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a

dizer.” (BARTHES, 1977, p.14)

Obrigando a mulher a dizer ou mesmo agir de forma subordinada, os discursos sociais:

jurídico e/ou religioso ditaram a ordem. A representação literária escolhida, aqui, não apenas

antecipa a questão como, também, explica a origem de alguns traços da cultura machista brasileira

que tiveram sua base nas influencias portuguesas.

2. Pecados jurídicos ou crimes religiosos? A ficção encena a realidade.

O discurso das religiões, ao determinar suas verdades, elegendo-as como únicas e

inquestionáveis, serve-se, ainda, do outro quando ele não é um sujeito do conhecimento. Vale

ressaltar que essa estratégia de dominação pode ser associada ao impedimento de que muitas

mulheres, por exemplo, estudassem. Afastando-as do saber, os discursos dominadores são mais

eficazes e garantem a passividade. Na obra O Primo Basílio o discurso social-religioso tende a

controlar Luísa; e, ainda, que ela “traia” seu marido, a religião a condenará como pecadora. A

doutrina manifesta pela religião dita regras e ao controlar seus súditos, determina uma vontade de

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verdade, interditando o discurso do outro, ou seja, daquele que não comunga com a doutrina ou que

possa questioná-la. Assim sendo, reconhecer-se-iam dois tipos de discursos: o de quem fala e o de

quem é calado (interditado), permitindo dizer, com Foucault que os discursos que interditam

funcionam como sistemas de exclusão. A descrição de Luísa, feita pelas figuras masculinas, revela

essa doutrinação do discurso. Em determinado trecho da obra, Sebastião, amigo de Jorge, seu

marido, diz:

... a Luisinha saiu muito boa dona de casa; tinha cuidados muito simpáticos nos

seus arranjos; era asseada, alegre como um passarinho, como um passarinho amiga

do ninho e das carícias do macho: e aquele serzinho louro e meigo veio dar à sua

casa um encanto sério. (QUEIROZ, 1994, p.17)

Embora Luísa fosse emoldurada pelo discurso masculino da época e sua atitude, enquanto

amante do primo Basílio, contrarie essa descrição de esposa ideal; outros discursos descritivos sobre

ela naturalizavam seu comportamento “errante”, qualificando-a como pecadora ou louca. Isso não

deslegitima o poder masculino, mas desmerece e apaga a autenticidade feminina. Por isso, talvez

seja mais conveniente descrevê-la em delírios, haja vista ser a loucura um dos mecanismos de

exclusão social:

Vinham-lhe expressões torturadoras de terror, queria enterrar-se nos travesseiros e

nos colchões, fugindo a aspectos pavorosos: punha-se a apertar a cabeça

freneticamente, pedia que lha abrissem, que a tinha cheia de pedras, que tivessem

piedade dela!(...) Jorge falava-lhe com toda a sorte as palavras consoladoras e

suplicantes: pedia-lhe que sossegasse, que o conhecesse, mas de repente

desesperava-se, gritava pela carta, maldizia Juliana, ou então dizia palavras de amor,

enumerava somas de dinheiro... Jorge temia que aquele delírio revelasse tudo a

Julião, às criadas: tinha um suor à raiz dos cabelo- e quando ela, um momento,

julgando-se no paraíso e nas exaltações do adultério, chamou Basílio, pediu-lhe

champagne, teve palavras libertinas... (QUEIROZ, 1994, p.400. grifo nosso)

Esse tratamento dado à mulher não se restringe a um episódio ficcional literário. O Direito

Brasileiro revela historicamente essa interdição do feminino. Para tanto, trouxemos um breve

levantamento, pois entendemos que haja uma vontade de verdade por detrás também do discurso

jurídico. Embora, ao longo do século XX, registrem-se avanços legais que teoricamente davam à

mulher alguns direitos, a sociedade não os incorporava totalmente na prática; tais conquistas e o

modo de vida de muitas mulheres continuavam sendo controlados por uma cultura machista e

patriarcal.

A descrição jurídica cronológica ainda permite observar as incongruências das Leis, haja

vista, por exemplo, que o Decreto 21.076/1932 definia que a mulher solteira e com renda própria

poderia votar, mas apenas em 1962 a mulher “casada” foi considerada civilmente capaz. Logo,

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como poderia a mulher ter renda própria em 1932, sendo ainda considerada civilmente incapaz;

sobretudo, se ainda fosse solteira? Interpretamos, pois, que isso é uma das formas de

“encurralamento” para o casamento, o que não dava à mulher o direito de celebrar os atos da vida

Civil quando não fosse casada.

A desigualdade de gênero sempre foi uma característica no cenário Brasileiro. No século

XX, grande parte da sociedade mantinha costumes conservadores e a maioria das famílias prezava

para que a mulher tivesse um bom casamento, dentro do qual sua responsabilidade seria a

manutenção do lar, sem que houvesse outras pretensões. O dever de manter economicamente a casa

era destinado ao homem, e à mulher, dessa época, cabia a gestão doméstica, sendo, pois,

impossibilitada de outras escolhas tal como estudar e trabalhar.

As mulheres ao longo da história, e ao menos em nossa cultura, sempre foram preteridas em

seus direitos; na verdade nem sequer se podia falar em desrespeito aos seus direitos, já que os

mesmos, muitas vezes, não lhes eram concedidos. Há diversos fatores determinantes desta condição

e, em grande maioria, ligados às questões culturais; sendo, pois, o Direito um fenômeno cultural, o

mesmo revela os valores da sociedade em cada contexto histórico.

Em 1962, entra em vigor o Estatuto da mulher casada, regulamentado pela Lei Nº 4.121,

DE 27 DE AGOSTO, que reconhece a mulher casada como civilmente capaz. Conforme já

observamos, uma vez dado este direito apenas à mulher casada, a solteira ainda continua

discriminada. Conceder o direito à mulher casada significa entender que sua capacidade ainda está

ligada ou subordinada à figura masculina, tendo sido apenas transferida do pai para o marido.

Em 1977, entra em vigor a Lei do divórcio, regulamentado pela Lei 6.515, DE 26 DE

DEZEMBRO DE 1977, que embora represente conquista para o universo feminino, apresenta tom

subjetivo, havendo no texto modalizações discursivas que numa sociedade machista tendem a ser

interpretadas de modo desfavorável à mulher. No Art 5º, lê-se: “A separação judicial pode ser

pedida por um só dos cônjuges quando imputar ao outro conduta desonrosa ou qualquer ato que

importe em grave violação dos deveres do casamento e tornem insuportável a vida em comum.”. As

expressões “conduta desonrosa”, “grave violação dos deveres”, “insuportável à vida em comum”

são exemplos desta subjetividade.

A luta das mulheres pelos seus direitos é árdua até mesmo quando as leis parecem evoluir. A

Constituição Federal de 1934 inova ao assegurar a isonomia salarial entre homens e mulheres, mas

a carta de 1937 não repete essa garantia, gerando novos precedentes e apenas na Constituição

Federal de 1967 torna-se novamente expressa a proibição da diferenciação salarial.

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Em relação ao Direito Penal, interessante ressaltar o tom moralista e subjetivo da expressão

“mulher honesta”. O Código Penal de 1940 (que entrou em vigor no ano de 1942) trazia no artigo

215 – crimes contra os costumes – a expressão: “ter conjunção carnal com mulher honesta,

mediante fraude” que se configurava neste contexto de regulamentação de crimes de atentado ao

pudor. Embora doutrinadores tenham se dedicado a estudar a subjetividade e o tom preconceituoso

que recobre a expressão, ela perdura até 2009, quando feita alteração com a lei nº 12.015, a contar

pelo nome do bem jurídico tutelado: em vez de “costumes”, como era, passou a ser “contra a

dignidade sexual”. Finalmente o resquício deste traço cultural advindo de Portugal foi extinto do

Código Penal Brasileiro e, embora a lei continuasse a regular os crimes sexuais, não persistiu (no

artigo 215) uma construção linguística que fizesse referência à honestidade da mulher, passando o

artigo 215 à seguinte redação: “ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém,

mediante fraude ou qualquer outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da

vítima”. Destaca-se que o termo aparece desde as Ordenações Filipinas3 até o Código de 1940,

vigente ainda hoje, sendo o referido termo alterado apenas em 2009.

Transferir determinado discurso à instituição jurídica e/ou religiosa pode significar uma

estratégia para manutenção de “ordem” do discurso. Pedagogicamente, agem evitando e

controlando as grandes inquietações. Assim são construídos os discursos da humanidade: religioso,

jurídico, educacional e organizados de forma que possam afirmar seu poder, pois “em toda

sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e

redistribuída por certo número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e

perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade.”

(FOUCAULT, 1996, p. 8). Em contrapartida, a arte encena outra temível materialidade, porque dá voz

à mulher e revela suas angústias e insatisfações num mundo onde os privilégios são dos homens,

inclusive de cometer crimes. Luísa em conversa com amiga Leopoldina ilustra:

- E teu marido onde está? – perguntou Luísa (a Leopoldina) no corredor.

Fora para o Porto. Estavam à vontade, podiam cometer crimes!

E Leopoldina, no quarto, estirando-se no canapé, com o cigarrinho La Ferme na

boca, começou também a queixar-se.

Andava aborrecida há tempos; enfastiava-se, achava tudo secante; queria alguma

coisa de novo, de desusado! Sentia-se bocejar por todos os poros do seu corpo...

(QUEIROZ, 1994, p.331. grifo nosso)

3 - Ordenações Filipinas: As Ordenações Filipinas, ou Código Filipino, é uma compilação jurídica que resultou da

reforma do código manuelino, por Filipe II de Espanha (Felipe I de Portugal), durante o domínio castelhano. Ao fim

da União Ibérica (1580-1640), o Código Filipino foi confirmado para continuar vigendo em Portugal por D. João IV.

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Entendemos, pois, que tanto o “pecado”, quanto o “crime” cometido por Luísa são próprios

de uma discursividade que a desejava assim, por isso Luísa - antes mesmo de vir a ser “julgada”

pela sociedade da época, sofre “delírios” e morre pelo seu autojulgamento. A mulher adúltera

representada por Luísa morre por conter suas aflições, suas culpas, seus desejos e encena o corpo

disciplinado.

3. E quando o crime não é ficção?

Ainda sobre o entendimento de que a língua impõe um sistema de valores, este ensaio

analisa criticamente alguns episódios reais e bastante atuais, nos quais o tom discursivo é no

mínimo misógino para não dizer criminoso, quando fere, sobretudo, a dignidade da pessoa humana.

Durante o período de campanha que pedia a renuncia da presidenta do Brasil, Dilma

Rousseff, foi exibido em automóveis e em várias mídias, um adesivo que insinuava o estupro não

apenas da mulher, mas também da própria política vigente. A imagem da presidenta - com as pernas

abertas sobre a entrada do tanque de combustível - foi adesivada em alguns automóveis, sugerindo a

vulgaridade da pessoa, a violação de seus direitos, enquanto mulher, bem como uma vontade de que

a política, ou seja, sua gestão explodisse com a injeção da bomba de combustível em seu corpo, no

caso, na sua vagina. No entanto, quando alguma crítica política se dirige ao homem, não

verificamos os mesmo adjetivos misóginos ou pejorativos no sentido de ofender sua sexualidade.

Após a saída de Dilma, outros políticos: Temer, Cunha, Cabral, Aécio, Lula – todos homens -,

foram e vem sendo xingados, mas sem que as ofensas sejam pessoais ou de cunho sexual. Eles são,

pois, incompetentes, golpistas, ladrões, mas nunca vadios e/ou loucos.

Na esteira desta análise do discurso que deslegitima a mulher, em 28 de abril de 2017, o

presidente do Brasil, Michel Temer, concedeu entrevista ao apresentador de TV, Ratinho, dizendo

que governos sem marido quebram. No contexto, a discussão envolvia as reformas da Previdência e

Trabalhista.

Acho que os governos agora precisam passar a ter marido, viu, porque daí não vai

quebrar. Para não quebrar o País precisa fazer - país, estado, município -, você

precisa fazer isso que nós estamos fazendo. Por exemplo, reitero, o teto de gastos

públicos. Você não pode gastar mais do que arrecada. É fazer como se faz na sua

casa. (O Globo, 2017)

Essa fala nos faz entender que sem marido o governo não mantém a “ordem e o progresso”,

e, de acordo com o modelo arcaico do Código Civil de 1916, recoloca a mulher em posição de

desprestígio, devolvendo-lhe sua condição de dona de casa, praticamente. Temer reforça um

discurso machista e ultrapassado, revelando um comportamento próprio da cultura portuguesa do

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século XIX ou do Brasil em início do século XX; ademais, demonstra desconhecer as conquistas

jurídicas favoráveis às mulheres. Ele sustenta um discurso social e cultural obsoleto que não condiz

com a legislação e conjuntura atuais. Esse status definido por Temer sobre a necessidade de um

marido, fora bem retratado no século XIX por Eça de Queiroz, em episódio que Luísa receia perder

o marido: “Veio-lhe um terror alucinado: não queria perder o seu marido, o seu Jorge, o seu amor, a

sua casa, o seu homem!” (QUEIROZ, 1994, p.346).

Em 2017, na semana em que se comemorava o dia das mulheres, o presidente do Brasil

expõe mais uma atrofia de seu pensamento sobre as mulheres. Segundo ele, “...na economia

também a mulher tem uma grande participação, porque ninguém é mais capaz de indicar os

desajustes, por exemplo, de preços em supermercados do que a mulher.” (Folha de São Paulo,

2017). Nessa declaração o presidente devolve à mulher unicamente seu espaço privado – o lar – os

cuidados com a casa; enquanto ao homem são concedidos os privilégios de uma vida pública e bem

instruída.

Acerca desse embate entre vida pública e vida privada, Touraine (2011) esclarece que o

discurso como instrumento de poder estabelece papéis pré-dados para homens e mulheres. Eles, os

homens - estão presentes no espaço público como se fosse um lugar inato de sua ação, uma

evidência do curso natural da vida. Porém, às mulheres cabe o papel de cuidar do lar. O privado

cabe às mulheres: dar segurança ao marido, ser a educadora das crianças, tendo ainda sua vontade -

sua libido convertida no discurso que reconhece no seu desejo, simplesmente, uma função social;

portanto, até a libido da mulher é funcionalizada e naturalizada em termos de reprodução.

Assim, naturalizando a presença do homem no espaço público e determinando lugares

privados à mulher, o discurso contemporâneo apresenta um forte domínio machista. Os constantes

comentários sobre a aparência de mulheres nos cargos públicos são parte desse fenômeno, como se

fosse um lembrete de que a função das mulheres no mundo ainda é decorativa, haja vista a figura

das primeiras-damas. Também é comum comentários acerca da estabilidade emocional das

mulheres/políticas. Insinuar que a mulher é louca e por isso incapaz de gerir a Coisa pública chega a

ser anacrônico, já que se baseiam nos argumentos do passado, os mesmos que defendiam que a

mulher não deveria votar e ser votada por ser emocional demais. (KARAWEJCZYK, 2013). Isso

confere o referido mecanismo de controle citado por Foucault, que descreve a loucura como

procedimento de exclusão.

Se interpretarmos com Foucault a loucura feminina como modo de exclusão ou mesmo

preferirmos a expressão vigorosamente usada pelo senso comum de que as mulheres são

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“histéricas”4, percebemos mais uma estratégia do discurso atual para deslegitimar as mulheres. De

Luísa a Dilma assistimos mulheres no mundo inteiro receberem esse predicativo. A capa da Revista

IstoÉ (2016) ilustra essa condição de exclusão, quando atribui a Dilma uma “explosão” ou um

“ataque de nervos”, pretendendo sugerir aos leitores que ela não teria condições emocionais para

governar o país. Relatos da descompostura, agressividade e destemperos compõem matéria de capa.

Ora, a mulher, quando grita ou teatraliza uma vontade, é interpretada como histérica; o homem,

como forte.

A fim de fundamentar que as ofensas contra a mulher têm acontecido independente do lugar,

das ideologias políticas ou da cultura, trouxemos outros casos atuais para esta reflexão crítica acerca

do discurso do poder. A atitude de reforçar estereótipos machistas aparece na política em partidos

de direita ou de esquerda, em países ditos desenvolvidos ou não. A ex-presidenta argentina Cristina

Kirchner também foi alvo de montagens feitas pela mídia de seu país. Ela aparece nua em capa de

revista ao lado da manchete: “La reina está desnuda” (Revista Noticias de la semana, 2013). Além

disso, outra manchete da mesma revista dizia: “El Goce de Cristina” (2012), descrevendo que a

aproximação da presidenta com as massas funcionava-lhe como um erotizante.

Em tom discursivo de desrespeito à figura feminina, Hillary Clinton, candidata à presidência

dos EUA, nas últimas eleições americanas de 2016, enfrentou também esse tipo de ataque nos

debates com o candidato adversário Donald Trump, que a chamou de asquerosa. (Portal Vermelho,

2016). Não satisfeito, Donald Trump, em seu twitter comenta: “If Hillary Clinton can’t satisfy her

husband what makes her think she can satisty America?”5.

Nesse sentido, o discurso vai construindo uma figura destorcida da mulher, na qual ela

mesma não se reconhece. Isso encontra respaldo na análise de Touraine: “uma mulher se vê antes

de tudo como mulher” (2001, p.29); ou seja, as mulheres não podem continuar se definindo a partir

dos homens, e muitas já não se definem mais a partir dos homens ou dos discursos produzidos por

eles. Elas se definem antes de tudo como mulheres, independente do sexo, inclusive; porque elas se

definem a partir de si mesmas e por meio dos laços que constroem. Isso será refletido na teoria

4 -histérica: As duas formas sintomáticas mais bem identificadas são a histeria de conversão, em que o conflito psíquico

vem simbolizar-se nos sintomas corporais mais diversos, paroxísticos (exemplo: crise emocional com teatralidade) ou

mais duradouros (exemplo: anestesias, paralisias histéricas, sensação de “bola” faríngica, etc), e a histeria de angústia,

em que a angustia é fixada de modo mais ou menos estável neste ou naquele objeto exterior (fobias). Pretende-se

encontrar a especificidade da histeria na predominância de um certo tipo de identificação e de certos mecanismos

(particularmente o recalque, muitas vezes manifesto), e no aflorar do conflito edipiano que se desenrola principalmente

nos registros libidinais fálico e oral. 5 “Se Hillary Clinton não consegue satisfazer seu marido, o que a faz pensar que ela conseguirá satisfazer os EUA?”.

Tradução do Twitter @realDonaldTrump em 16 de março de 2015.

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sociojurídica feminista que tende a ser emancipatória na incorporação de seus próprios códigos,

experiências, expectativas e demandas.

Impedindo de dizer ou obrigando a dizer, a língua entra a serviço do poder, ou seja, daquele

que culturalmente elabora e representa signos pertencentes à determinada ideologia dominante. O

fascismo da língua se configura nesses discursos que impondo suas verdades culminam em dizer ou

“obrigar a dizer”, frequentemente, deslegitimando o discurso feminino. Segundo Foucault, esse

discurso mantém as sociedades de soberania/disciplinares, lança suas máximas absolutas e

engendram os mecanismos de poder:

O poder não pára de nos interrogar, de indagar, registrar e institucionalizar a busca

da verdade, profissionaliza-a e a recompensa. No fundo, temos que produzir a

verdade como temos que produzir riquezas. Por outro lado, estamos submetidos à

verdade também no sentido em que ela é lei e produz o discurso verdadeiro que

decide, transmite e reproduz, ao menos em parte, efeitos de poder.

(FOUCAULT, 1979, p.180)

Reforçando, pois, o mecanismo de poder do discurso, esta sessão buscou trazer episódios

reais que revelam o modo como - pela linguagem - a mulher vem sendo encarcerada e excluída dos

processos políticos e sociais, tendo sua valorização pessoal, inclusive, desmerecida e violada. Isso

representa uma forte tensão em torno da questão de gênero presente principalmente no espaço

público e social.

Considerações finais

A autoria dos discursos que interditam é plástica, porque ela se encobre nas entrelinhas de

uma cultura religiosa, jurídica, educacional; o texto permite isso, e seu autor - sabendo - joga a

favor de interesses não claramente anunciados. Então o texto anula a autenticidade feminina e

muitos ideais de realização são interditados como se naturalmente assim devesse acontecer. Um

estado de anima6 é impedido, e, para muitas gerações, nunca realizado, quando aprisionado nas

definições, por exemplo, de loucura, que encenam formas dos corpos disciplinados.

Objetivando, pois, analisar de que forma o discurso controla o feminino, esta pesquisa

observou a representação literária e a realidade, entendendo que a arte antecipa e denuncia questões

caras à sociedade. A sessão 1, O poder do discurso não é impedir de dizer; é obrigar a dizer,

buscou uma abordagem teórica sobre a ordem do discurso; a sessão 2, Pecados jurídicos ou crimes

religiosos? A ficção encena a realidade, realizou um levantamento da construção histórica jurídica

dos discursos disciplinadores e analisou algumas expressões encenadas pela arte. A sessão 3, E

6 - anima:do latim ânimo, aquele que tem alma e que está, por isso, animado, com vontade. Está vivo.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

quando o crime não é ficção?, apresentou, de modo crítico, episódios atuais, envolvendo figuras

públicas da política nacional e internacional, nos quais há ocorrência de violação dos Direitos das

mulheres e, sobretudo, efeitos de poder.

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Title: The control of the body to, the prison of the soul: the mechanisms of power over the woman.

Abstract: Language dictates an order; it imposes a system of rules and values. Parametrizing a life

and the costumes in the language served as instrument for social and cultural control of the

feminine. Therefore, the aim of this study is to analyze some episodes of the novel O primo Basílio,

by Eça de Queiroz, the surroundings of established relationships between men and women, as well

as current episodes in which the discourse is pronounced in a misogynistic and sexist way,

involving public figures of national and international policy. These contemporary episodes reveal

remnants of a patriarchal and authoritarian culture, which has been infringed the rights of women.

From Michel Foucault's proposition that we live the age of disciplined bodies, we will analyze how

social, religious and juridical discourses, mainly, tend to discipline the feminine.

Key words: Language, power, speech, female, control