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Revista Virtual Direito Brasil – Volume 2 – nº 2 - 2008 1 O Contrato de Arrendamento Mercantil ou Leasing Maria Bernadete Miranda Fernando Silveira Melo Plentz Miranda Mestre em Direito das Relações Sociais, sub-área Direito Empresarial, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Coordenadora e Professora do Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Direito de Itu e Professora de Direito Empresarial, Direito do Consumidor e Mediação e Arbitragem da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque. Advogada. Especialista em Direito Empresarial pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor de Ciência Política e Teoria Geral do Estado e de Direito Processual Civil na Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque – Advogado e Administrador de Empresas. 1. Introdução Embora no Brasil o instituto tenha se consagrado sob a denominação arrendamento mercantil, seu nome histórico e natural é leasing, acompanhando as diversas expressões usadas nos países onde se originou. Os contratos de arrendamento mercantil, ou simplesmente leasing, formaram- se ao longo da história da humanidade, na busca de uma forma para que os empreendedores obtivessem condições de exercerem as suas atividades, multiplicando assim o potencial humano e a riqueza da sociedade. O contrato de leasing, como atualmente conhecemos, começou a ser concebido na segunda metade do século XX nos países capitalistas, inclusive no Brasil, sendo uma das formas de se fomentar a atividade industrial e comercial da época. Os contratos de leasing sempre foram e continuam sendo uma das formas que os empreendedores encontraram, para adquirir bens, geralmente destinados a produção. Mas, nos últimos anos, os contratos de leasing perderam espaço para os contratos de financiamentos com garantia de alienação fiduciária, muito em função da influência das instituições financeiras que facilitaram o financiamento de bens. Porém, com o fim da cobrança do imposto da CPMF em 31 de dezembro de 2007, o Governo Federal com receio de perder parte da sua arrecadação com impostos, aumentou a alíquota do imposto do IOF (imposto sobre operações

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Revista Virtual Direito Brasil – Volume 2 – nº 2 - 2008

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O Contrato de Arrendamento Mercantil ou Leasing

Maria Bernadete Miranda Fernando Silveira Melo Plentz Miranda

Mestre em Direito das Relações Sociais, sub-área Direito Empresarial, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Coordenadora e Professora do Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Direito de Itu e Professora de Direito Empresarial, Direito do Consumidor e Mediação e Arbitragem da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque. Advogada. Especialista em Direito Empresarial pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor de Ciência Política e Teoria Geral do Estado e de Direito Processual Civil na Faculdade de Administração e Ciências Contábeis de São Roque – Advogado e Administrador de Empresas.

1. Introdução

Embora no Brasil o instituto tenha se consagrado sob a denominação

arrendamento mercantil, seu nome histórico e natural é leasing, acompanhando as

diversas expressões usadas nos países onde se originou.

Os contratos de arrendamento mercantil, ou simplesmente leasing, formaram-

se ao longo da história da humanidade, na busca de uma forma para que os

empreendedores obtivessem condições de exercerem as suas atividades,

multiplicando assim o potencial humano e a riqueza da sociedade.

O contrato de leasing, como atualmente conhecemos, começou a ser

concebido na segunda metade do século XX nos países capitalistas, inclusive no

Brasil, sendo uma das formas de se fomentar a atividade industrial e comercial da

época.

Os contratos de leasing sempre foram e continuam sendo uma das formas que

os empreendedores encontraram, para adquirir bens, geralmente destinados a

produção. Mas, nos últimos anos, os contratos de leasing perderam espaço para os

contratos de financiamentos com garantia de alienação fiduciária, muito em função da

influência das instituições financeiras que facilitaram o financiamento de bens.

Porém, com o fim da cobrança do imposto da CPMF em 31 de dezembro de

2007, o Governo Federal com receio de perder parte da sua arrecadação com

impostos, aumentou a alíquota do imposto do IOF (imposto sobre operações

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financeiras) nos contratos de financiamentos. Ocorre que o IOF não incide sobre os

contratos de leasing, motivo que levou as instituições financeiras brasileiras a

oferecerem cada vez mais às pessoas, físicas ou jurídicas, os contratos de leasing,

como forma de não pagamento do imposto.

O arrendamento mercantil ou leasing aparece como uma modalidade de

financiamento ao arrendatário, facilitando-lhe o uso e gozo de um bem de sua

necessidade, sem ter que desembolsar inicialmente o valor desse bem, e com a

opção no final do contrato, de tornar-se proprietário do bem, pagando nessa ocasião

o valor residual.

Assim, mais uma vez, os contratos de leasing estão em expansão no montante

das realizações financeiras, motivo pelo qual deve-se entender e estudar este

instituto.

2. Origem Histórica

Operações com características de leasing podem ser encontradas na

antiguidade, praticadas por centenas de anos. Apesar de vaga e escassa a literatura

acerca de seu histórico, uma forma de leasing já era utilizada pelo governo ateniense

sobre as minas de propriedade do Estado: determinada quantia de dinheiro era paga

pelo Estado como garantia de exploração e uma renda anual estabelecida como

percentagem dos lucros, o arrendatário podia vender o minério ou subarrendar o

direito de exploração.

As minas de ouro e prata em Thaos e Laurium, cidades gregas antigas, eram

exploradas dessa forma. Leasing perpétuo em terras aráveis na península da Ática e

era mencionada em listas de propriedade por oradores gregos, aproximadamente 500

anos antes de Cristo.

Na Inglaterra, os primeiros barões eliminaram de suas terras uma forma de

leasing, a fim de manterem o direito de posse sobre elas.

O arrendamento mercantil ou leasing foi introduzido nos Estados Unidos por

volta de 1700, pelos colonos ingleses. Entretanto, sua real expansão ocorreu em

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março de 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, com a promulgação da Lend and

Lease Act, pelo então presidente Roosevelt. O governo americano efetuava

empréstimos de equipamentos bélicos aos países aliados, sob a condição de finda a

guerra, serem eles adquiridos ou devolvidos.

Na década de 1950, a experiência consolidou-se junto ao setor empresarial,

quando Boothe Jr., proprietário de uma fábrica de alimentos na Califórnia,

necessitando atender um importante contrato de fornecimento firmado com o exército,

e não possuindo equipamentos e disponibilidades suficientes para adquiri-los,

resolveu alugá-los.

Tempos mais tarde, este mesmo industrial constituiu a US Leasing Company e

a Boothe Leasing Corporation, empresas americanas destinadas ao aluguel de

equipamentos. No Brasil, na década de 60, empresas locadoras realizaram

operações assemelhadas ao leasing. Os primeiros contratos foram efetivados pela

Rent-a-Maq, uma pequena empresa independente, localizada em São Paulo.

Todavia, pela inexistência de regulamentação específica, notadamente quanto aos

aspectos fiscais, houve dificuldade de expansão do setor. Outros fatores inibidores à

implantação da nova idéia foram os altos custos financeiros e a aplicação de técnicas

rudimentares. A partir da Revolução de 1964, em função da crescente expansão

industrial e comercial, aliada a uma apurada técnica financeira, foi possível obter-se

uma maior participação do leasing no mercado nacional.

Em 12 de setembro de 1974, com a promulgação da Lei nº 6.099, que dispõe

sobre o tratamento tributário das operações de arrendamento mercantil e dá outras

providências, este tipo de operação foi regulamentada, obedecendo as normas

estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, com controle e fiscalização

exercidos pelo Banco Central do Brasil. A partir deste momento passou a ser

praticado oficialmente no mercado financeiro, tornando-se uma excelente alternativa

para financiamentos de longo prazo e de alta flexibilidade, adequando-se ao fluxo de

caixa e de investimentos, inclusive com carência.

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Em 28 de agosto de 1996, a Resolução do Banco Central nº 2.309, passa a

disciplinar e consolida as normas relativas às operações de arrendamento mercantil.

3. O Leasing no Direito Comparado

Leasing nos Estados Unidos. O leasing surgiu nos Estados Unidos. O seu

precursor foi o Lend na Lease Act, Lei norte americana de empréstimo e

arrendamento, pela qual o congresso norte americano autorizava o presidente

Roosevelt a “emprestar” material bélico aos aliados. Este material, escoado o prazo

ou findas as hostilidades, deveria ser devolvido e pago pelo país que o receberá.

É, todavia, na década de 50 que nasce o leasing nos Estados Unidos. É

conhecido o caso de Boothe Jr., que inventou a técnica de leasing. Proprietário de

uma grande empresa na Califórnia, e tendo recebido enorme encomenda, engendrou

um sistema de arrendamento de bens de equipamentos, de maquinaria. Sem o

dispêndio de capital, criou-se em 1952, uma sociedade com capital de 20 mil dólares,

e o seu sucesso foi grande e imediato com o prestígio e crédito bancário que

conseguiu.

Leasing na Inglaterra. . . . A Inglaterra foi o primeiro país europeu a praticar o

leasing em 1960. A forma primitiva do leasing na Grã-Bretanha foi a locação de

compra, que data o fim do século XIX. Este hire purchase (locação de compra),

desenvolveu-se muito depois da ultima guerra. A locação de compra ou hire purchare

foi muito utilizado para automóveis, artigos eletrodomésticos, máquinas de costuras,

etc. Iniciou-se tão somente com a intervenção de duas partes: o fornecedor e o

cliente, aparecendo, depois, com a maior necessidade de recursos para o fornecedor,

a financeira.

Leasing na Alemanha. O leasing vem sendo praticado desde 1965, na

Alemanha, sob duas formas principais: o operacional Operate-Leasing-Verträge e o

financeiro Finanzierungs-Leasing. No operacional, há um contrato de locação normal

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que pode ser dissolvido por ambas as partes, imediatamente, sob a observância de

prazo de dissolução relativamente curto e sem o pagamento de multas convencionais.

No contrato de leasing financeiro há prazos maiores. Para o tratamento fiscal é

decisiva a destinação jurídica do objeto de leasing após o prazo básico de aluguel.

Dentro destes limites, são cogitáveis as seguintes possibilidades: a)

Finanzierungs_Leasing sem opção de compra – trata-se de um contrato normal de

locação. A opção de compra como se sabe, é irrelevante na operação; b) O contrato

com opção de compra – o tratamento contábil dependerá de seu conteúdo; c) O

contrato com opção de prorrogação – neste caso, o aluguel sucessivo é, em regra,

um percentual do aluguel básico 5% (cinco por cento).

É interessante notar que na Alemanha estabelece-se percentuais variando de

40% (quarenta por cento) à 90% (noventa por cento) do uso sobre a duração normal

do objeto leasing com importantíssimas conseqüências jurídicas e econômicas para o

arrendador e para o arrendatário.

Leasing na França. Muito embora as primeiras operações de leasing tivessem

sido tratadas já em 1961 na França, somente em 1966 surge a Lei que tratou do

crédit-bail. Esta lei veio apenas estabelecer, e fixar o seu campo de incidência, nada

dispondo no concernente aos aspectos tributários.

Na França existem os termos de leasing crédit-bail. O leasing é o conjunto de

operações que permite colocar certo material à disposição de um arrendatário contra

o pagamento de um aluguel e, para alguns, com uma opção de compra ao final do

contrato. O crédit-bail é a parte do Leasing.

Leasing na Bélgica. Na Bélgica o leasing foi implantado em 1963 e seu

desenvolvimento muito moroso. Isto, em virtude da forte imposição fiscal. A legislação

daquele país estabelecia uma taxa de transmissão de 7% (sete por cento) sobre o

custo do material quando de sua compra pela sociedade de leasing. A isto se

acrescia uma alíquota de 7% (sete por cento) sobre os aluguéis mobiliários.

Leasing na Itália. A primeira sociedade de leasing aparece na península

italiana em 1963 e em Roma.

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Embora inexista lei sobre o leasing naquele país, espera-se lá grande

expansão e desenvolvimento da instituição.

4. Conceito de Arrendamento Mercantil ou Leasing

Arrendamento mercantil ou leasing é o contrato pelo qual uma das partes, a

arrendadora concede à outra parte a arrendatária, por um longo prazo, o direito de

utilizar uma determinada coisa, cobrando aluguel por esse uso temporário, e

admitindo que a certo tempo do contrato, a parte que vem utilizando aquela coisa

declare sua opção de compra, pagando o preço residual, que será, o valor total da

coisa, menos o valor pago pelo aluguel.

Além da opção de compra no final do contrato, o arrendatário poderá optar pela

prorrogação do aluguel, ou pela devolução da coisa.

A Lei nº 6.099, de 12 de setembro de 1974, em seu artigo 1º, parágrafo único,

definiu o arrendamento mercantil sendo "o negócio jurídico realizado entre pessoa

jurídica, na qualidade de arrendadora, e pessoa física ou jurídica na qualidade de

arrendatária e que tenha por objeto o arrendamento de bens adquiridos pela

arrendadora, segundo especificações da arrendatária e para uso próprio desta”.

Para Maria Helena Diniz "o financial leasing norte americano, crédit-bail dos

franceses, hire-purchase dos ingleses, locazione finanziaria dos italianos, traduzido

por arrendamento mercantil, é o contrato pela qual uma pessoa jurídica ou física,

pretendendo utilizar determinado equipamento, comercial ou industrial, ou um certo

imóvel, consegue que uma instituição financeira o adquira, arrendando-o ao

interessado por tempo determinado, possibilitando-se ao arrendatário, findo tal prazo,

optar entre a devolução do bem, a renovação do arrendamento, ou a aquisição do

bem arrendado mediante um preço residual previamente fixado no contrato, isto é, o

que fica após a dedução das prestações até então pagas". 1

Segundo Stephen A. Ross, arrendamento mercantil é “um acordo entre

arrendatário e um arrendador. O acordo estipula que o arrendatário tem o direito de

1 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1995, 431.

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usar um ativo e, em troca, deve fazer pagamentos periódicos ao arrendador, ou seja,

o proprietário do ativo. O arrendador pode ser o fabricante do ativo ou uma

companhia de arrendamento independente. Se o arrendador for uma companhia de

arrendamento independente, deverá comprar o ativo ao arrendatário, e o acordo

entrará em vigor.” 2

Assevera Fran Martins que “entende-se por arrendamento mercantil ou leasing

o contrato segundo o qual uma pessoa jurídica arrenda a uma pessoa física ou

jurídica, por tempo determinado, um bem comprado pela primeira de acordo com as

indicações da segunda, cabendo ao arrendatário a opção de adquirir o bem

arrendado findo o contrato, mediante um preço residual previamente fixado”. 3

O contrato de leasing em sua forma tradicional envolve três figuras, o

arrendante ou arrendador, o arrendatário e o fornecedor do bem.

As operações de leasing prevêem um fluxo de pagamento periódico de

contraprestações (amortização do valor do bem, mais encargos e impostos e a

remuneração da arrendadora).

É um negócio jurídico bilateral, pois é realizado entre instituição financeira e

cliente, no propósito de oferecer recursos para aquisição de bens, sem que o

arrendatário tenha que dispor de capital. Portanto, trata-se de uma operação em que

o cliente pode fazer uso de um bem sem necessariamente tê-lo comprado. O bem,

neste caso, deve ser entendido em seu sentido mais amplo, tais como, imóveis,

automóveis, máquinas, equipamentos, enfim, qualquer produto cuja utilização seja

capaz de gerar rendas e seja para uso próprio do arrendatário (cliente). Ao final do

contrato, o cliente pode adquirir definitivamente o bem arrendado mediante o

pagamento de um valor residual, definido no contrato.

Citaremos por exemplo, uma empresa aérea que necessita de um determinado

avião para fazer seus vôos, mas não deseja disponibilizar um capital tão alto para

tanto. Neste caso, a empresa aérea irá procurar uma empresa de arrendamento

mercantil, que irá comprar o avião em seu próprio nome, e o alugará para a empresa

2 ROSS, Stephen A. Administração financeira. São Paulo: Atlas, 2000, p. 537. 3 MARTINS, Fran. Curso de direto comercial. Rio de Janeiro: Forense. 2002, p. 449.

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aérea, por um determinado período. Ao final deste período, a empresa aérea poderá

prorrogar a locação, comprar o jato pelo preço residual, ou simplesmente devolvê-lo à

empresa de arrendamento mercantil.

5. Pessoas Intervenientes no contrato de Leasing

São pessoas intervenientes no contrato de arrendamento mercantil ou leasing:

a) arrendante ou arrendadora – é a empresa de leasing, a financeira, com o objetivo

social expresso nos estatutos sociais; é ela que vai arrendar o bem de que a

arrendatária precisa, se já o tem, ou vai adquiri-lo, atendendo especificações e nome

do fornecedor; b) arrendatária – é considerada a figura principal do contrato, porque

dela é a idéia; a iniciativa é resultante da necessidade de um bem móvel ou imóvel

para atender a sua atividade, por não ter ou não querer descapitalizar parte de seu

patrimônio na aquisição daquele bem; c) fornecedor do bem – é a terceira pessoa; é o

vendedor do bem encomendado pela arrendatária para a arrendante. Somente

aparecerá no contrato por interesses das partes, quando se trata de bem importado

ou de bem de alta tecnologia. Não se envolvendo de nenhuma forma com o que foi

pactuado entre arrendante e arrendatária

6. Características dos Contratos de Leasing

O contrato de leasing tem como característica essencial, a possibilidade do

arrendatário optar em adquirir o bem pelo valor residual previamente determinado,

restituí-lo ou renovar o contrato. O leasing possui contratante específico pelo qual

depende a existência do negócio jurídico e tempo determinado, pela força do artigo 5º

da Lei 6.099/74, que dispõe: “Os contratos de arrendamento mercantil conterão as

seguintes disposições: a) prazo do contrato; b) valor de cada contraprestação por

períodos determinados, não superiores a 1 (um) semestre; c) opção de compra ou

renovação de contrato, como faculdade do arrendatário; d) preço para opção de

compra ou critério para sua fixação, quando for estipulada esta cláusula”.

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7. Classificação do Contrato de leasing

O contrato de leasing classifica-se em: a) bilateral ou sinalagmático, pois gera

direitos, e obrigações para os contratantes; b) consensual, pois se perfaz pela simples

anuência das partes; c) oneroso, porque traz vantagens para ambos os contratantes,

que sofrem um sacrifício patrimonial, correspondente a um proveito desejado; d)

comutativo, porque cada contratante, além de receber do outro prestação

relativamente equivalente à sua, pode verificar, de imediato, essa equivalência; e) por

tempo determinado, pois a lei determina prazo para o contrato; f) de adesão, pois

exclui a possibilidade de qualquer debate e transigência entre as partes; g) típico e

nominado, pois está previsto em lei; h) intuitu personae, pois deve ser executado

pelas partes contratantes sem que haja permissão de serem substituídas na relação

contratual.

8. Modalidades de Leasing

As modalidades mais comuns de arrendamento mercantil ou leasing são três:

leasing financeiro, lease back e leasing operacional.

O leasing financeiro ou clássico necessita do envolvimento de três agentes, os

quais são: o arrendador o arrendatário e o fornecedor. Ainda, para a caracterização

deste instituto, é necessária a existência de cláusula contratual a qual forneça ao

locatário a opção de adquirir o bem pelo valor residual, renovar o contrato ou restituir

a coisa.

Esta é uma das formas mais utilizadas dos contratos de leasing no nosso País,

cuja finalidade é o financiamento. Seu funcionamento é simples: determinada

instituição financeira adquire um bem específico e o cede, para uso e por lapso

temporal limitado, mantendo-se como proprietário daquele. Ao seu término, o contrato

ensejará na tríplice escolha ao arrendatário.

As despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à

operacionalidade do bem arrendado serão de responsabilidade da arrendatária, e o

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preço para o exercício da opção de compra será livremente pactuado, podendo ser,

inclusive, o valor de mercado do bem arrendado.

Salienta Marcelo M. Bertoldi que “nessa espécie de contrato todas as

prestações deverão ser pagas, mesmo que o arrendatário pretenda finalizar o

contrato com a devolução do bem arrendado antes do prazo ajustado”. 4

Dispõe a Resolução do Banco Central nº 2.309, de 28 de agosto de 1996, em

seu artigo 5º, que: “Considera-se arrendamento mercantil financeiro a modalidade

que:

I – as contraprestações e demais pagamentos previstos no contrato, devidos

pela arrendatária, sejam normalmente suficientes para que a arrendadora recupere o

custo do bem arrendado durante o prazo contratual da operação e, adicionalmente,

obtenha um retorno sobre os recursos investidos;

II – as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à

operacionalidade do bem arrendado sejam de responsabilidade da arrendatária;

III – o preço para o exercício da opção de compra seja livremente pactuado,

podendo ser, inclusive, o valor de mercado do bem arrendado”.

O lease back possui o mesmo mecanismo de funcionamento do leasing

tradicional, entretanto, sem a presença do fornecedor, visto que o bem, objeto da

relação, é pertencente do ativo da arrendatária. Nesta modalidade, o objetivo é

permitir aos empresários a transformação de seus ativos fixos em capital de giro,

obtendo dinheiro efetivo para desenvolver sua atividade e através da produção, obter

uma renda que lhes permita a aquisição desses ativos novamente.

O leasing operacional é uma operação privativa dos bancos múltiplos com

carteira de arrendamento mercantil e das sociedades de arrendamento mercantil.

Nele as contraprestações a serem pagas pela arrendatária devem completar o custo

de arrendamento do bem e os serviços inerentes a sua colocação a disposição da

arrendatária, não podendo o valor presente dos pagamentos ultrapassar 90%

(noventa por cento) do custo do bem. Neste contrato não há previsão de pagamento

4 BERTOLDI, Marcelo M. Curso avançado de direito comercial. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2006, p.751.

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de valor residual garantido e pode ser realizado por pessoa física ou jurídica, na

qualidade de arrendatária.

Quanto ao prazo contratual deverá ser inferior a 75% (setenta e cinco por

cento) do prazo de vida útil econômica do bem.

O preço para o exercício da opção de compra será o valor de mercado do bem

arrendado e não haverá previsão de pagamento de valor residual garantido.

A manutenção, a assistência técnica e os serviços correlatos a

operacionalidade do bem arrendado podem ser de responsabilidade da arrendadora

ou da arendatária.

Assevera Arnaldo Rizzardo que esta modalidade de arrendamento mercantil é

“conhecido também como renting, expressa uma locação de instrumentos ou material,

com cláusula de prestação de serviços, prevendo a opção de compra e a

possibilidade de rescisão a qualquer tempo, desde que manifestada esta intenção

com uma antecedência mínima razoável, em geral fixada em trinta dias”. 5

Dispõe a Resolução do Banco Central nº 2.309, de 28 de agosto de 1996, em

seu artigo 6º, que: “Considera-se arrendamento mercantil operacional a modalidade

que:

I – as contraprestações a serem pagas pela arrendatária contemplem o custo

de arrendamento mercantil do bem e os serviços inerentes a sua colocação a

disposição da arrendatária, não podendo o total dos pagamentos das espécies

ultrapassar 75% (setenta e cinco por cento) do custo do bem arrendado;

II – as despesas de manutenção, assistência técnica e serviços correlatos à

operacionalidade do bem arrendado sejam de responsabilidade da arrendadora ou da

arrendatária;

III – o preço para o exercício da opção de compra seja o valor de mercado do

bem arrendado”.

9. Natureza Jurídica do Contrato de Leasing

5 RIZZARDO, Arnaldo. Contratos. Rio de Janeiro: Forense. 2006, p.1243.

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A natureza jurídica do contrato de leasing é bastante controvertida, com isso,

parte da doutrina admite ser o leasing contrato atípico, o qual aglomera caracteres

dos contratos de locação, de financiamento e de compra e venda.

No entanto, outra parte da doutrina entende ser de natureza mista como

Waldirio Bulgarelli que defende a idéia de que o leasing possui estruturalmente as

seqüências das obrigações decorrentes deste contrato, caracterizando-se muito mais

misto do que complexo.

Por fim, Fran Martins explica que o contrato em voga é de natureza complexa

"compreendendo uma locação, uma promessa unilateral de venda (em virtude de dar

o arrendador opção de aquisição do bem pelo arrendatário) e, às vezes, um mandato,

quando é o próprio arrendatário quem trata com o vendedor na escolha do bem". 6

10. Leasing Imobiliário

O leasing imobiliário consiste numa forma de financiamento a médio e longo

prazo, em que a empresa arrendadora, durante um determinado prazo, coloca à

disposição do arrendatário, mediante o pagamento periódico de um determinado

montante, o uso temporário de um imóvel, construído ou a construir escolhido pelo

locatário. No final do contrato, existe opção de compra, por um valor pré-estabelecido

chamado de valor residual.

Há alguns tipos básicos de arrendamento imobiliário, todos com pessoa

jurídica, pois o imóvel deve, obrigatoriamente, destinar-se à atividade da empresa.

O arrendamento imobiliário normal consiste na compra de um imóvel inteiro,

pronto e acabado. A arrendadora adquire o imóvel especificado pela arrendatária, à

atividade da compra, pré-determinada em contrato.

O cliente pagará, no prazo contratado (em média oito anos), uma

contraprestação equivalente à parcela do principal mais juro (taxa de compromisso).

Ao término do contrato, restará um valor residual do total do financiamento.

6 MARTINS, Fran. Contatos e obrigações comerciais. Rio de Janeiro: Forense. 2002, p.459.

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No arrendamento imobiliário de construção de edifícios, o terreno pode ser

comprado de terceiros ou ser feito o lease back do terreno da arrendatária. Durante a

fase de construção, a operação fica sob o regime de pré-leasing. Neste período, a

arrendatária paga à arrendadora apenas a taxa de compromisso, que incidirá sobre

as importâncias desembolsadas no decorrer da construção. Essa fase de cálculo de

juros é cumulativa.

O acerto de contas entre arrendadora e contratante ocorre, geralmente, uma

vez por mês. A arrendatária examina estes números e o pagamento só é liberado

depois de sua autorização. Quando a obra termina, inicia-se o contrato de Leasing

propriamente dito, calculado sobre o valor da obra concluída.

O lease back imobiliário normalmente, é utilizado por empresas que desejam

mudar o perfil de seu passivo com uma operação saneadora.

Em síntese, consiste na venda do imóvel pela empresa proprietária à empresa

de leasing. A ex-proprietária contratada recompra o imóvel, através do arrendamento

mercantil. O próprio imóvel é dado em garantia de pagamento.

Para a arrendatária, a vantagem é grande, pois continua na posse do bem e

pode abater integralmente do imposto de renda as contraprestações referentes ao

arrendamento, como despesas operacionais.

11. Leasing de Aviões

O avião é espécie de gênero aeronave. Movendo-se de per si ou por força

alheia, arrola-se entre os bens móveis. Tem uma situação jurídica que se assemelha

ao do navio. Não a imobiliza a circunstância de ser tratada, no concorrente às

mudanças de sua situação jurídica, como se imóvel fosse. Tampouco a de estar

sujeita a hipoteca, direito real de garantia, imobiliário por excelência. É bem móvel,

por natureza e por finalidade.

No leasing, o equipamento é alugado pela sociedade financeira. Em se

tratando de aeronaves, a instituição financeira, sendo de nacionalidade brasileira,

adquirindo uma aeronave para alugá-la por certo tempo a uma empresa de transporte

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aéreo, será ela proprietária da referida aeronave, e, conseqüentemente, a aeronave

será em seu nome matriculada no Registro Aeronáutico, e não na da empresa de

transporte aéreo, mera locatária. O contrato de leasing será averbado no Registro

Aeronáutico Brasileiro, ficando desse modo a aeronave como destinada à exploração

pela empresa arrendatária, conforme dispõe o artigo 1º do Registro Aeronáutico

Brasileiro e o artigo 15, parágrafo único, do Código Brasileiro de Aeronáutica.

O contrato de arrendamento mercantil de aeronaves deve ser inscrito no

Registro Aeronáutico e para tal deve conter cláusulas de opção de compra ou de

renovação contratual, com faculdade do arrendatário.

12. Extinção dos Contratos de Leasing

O contrato de arrendamento mercantil ou leasing extingue-se sem maiores

peculiaridades, conforme os contratos em geral.

Logo, poderá o contrato de Leasing extinguir-se pela morte das partes, visto

ser este contrato intuiu personae. Pelo decurso do lapso temporal, ou seja, pelo fim

natural. Ainda, extingue-se pela rescisão, por inadimplemento de qualquer das partes,

dependendo de intervenção judicial, ou nas hipóteses em que as partes entenderem

por bem fazer a resilição unilateral.

Sem dúvida, a maioria dos contratos se extingue pelo decurso do lapso

temporal. Mas, a rescisão por inadimplemento da arrendatária é muito comum, motivo

pelo qual esta forma de extinção deva ter o seu estudo mais aprofundado.

Uma vez realizado o contrato de leasing, a arrendatária deverá realizar o

pagamento das contraprestações à arrendante, para que o contrato de leasing seja

integralmente cumprido, extinguindo-se este ao final do pagamento da última

contraprestação. Se, por algum motivo, houver o inadimplemento da arrendatária, a

arrendante deverá constituir aquela em mora, realizando para tal a devida notificação,

seja judicial ou extrajudicial.

No momento em que a arrendatária for constituída em mora, passará a ser

considerada devedora e estará sujeita as penalidades da lei. Tendo em vista que o

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contrato de leasing fora realizado para que a arrendante concedesse à arrendatária

um determinado bem, para que esta a utilizasse por um período de tempo mediante o

pagamento de um aluguel, este bem é propriedade da arrendante, tendo a

arrendatária apenas a sua posse. Assim, quando há o inadimplemento da

arrendatária e, sendo esta considerada devedora, poderá a arrendante ingressar com

a devida ação de reintegração de posse, no juízo competente, solicitando ao juiz que

defira a tutela antecipada de reintegração de posse, para que o bem descrito no

contrato de leasing seja retirado da posse da arrendatária e devolvido à posse da

arrendante. Neste caso, a rescisão do contrato dependerá da intervenção judicial e

será decretada por sentença, condenando a devedora aos ônus sucumbenciais.

13. Jurisprudências sobre os Contratos de Leasing

Após o êxito do Plano Real, em 1994, que consolidou a moeda brasileira de

forma estável, consistente e duradoura, o Poder Judiciário começou a receber

inúmeras demandas judiciais de arrendatárias que questionavam a validade dos

contratos de leasing, solicitando ao Judiciário que decretasse a sua nulidade,

descaracterizando-os para compra e venda. Argumentavam e defendiam a tese que

a cobrança antecipada do valor residual garantido junto às contraprestações

periódicas, descaracterizava o contrato de leasing, posto que ao término do contrato e

paga a última contraprestação, a arrendatária não poderia exercer as opções que

caracterizam o contrato de leasing.

Esta tese começou a ser difundida e aceita, em vários Tribunais estaduais e,

inclusive, no Superior Tribunal de Justiça (vide REsp 181095 RS; REsp 172432 RS;

REsp 255628 SP; REsp 196209 RS; REsp 196873 RS; REsp 302448 SP). Desta

forma, em julgamento realizado pela Segunda Seção, no dia 08 de maio de 2002, o

Superior Tribunal de Justiça julgou, aprovou e publicou a súmula 263, redigida com o

seguinte enunciado: “A cobrança antecipada do valor residual (VRG) descaracteriza o

contrato de arrendamento mercantil, transformando-o em compra e venda a

prestação”.

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Ocorre que este posicionamento, muito embora sumulado, não era totalmente

aceito pelos senhores Ministros do Superior Tribunal de Justiça, motivo pelo qual

houve decisões do próprio STJ, em sentido contrário a sumula 263, mesmo após a

sua publicação (vide REsp 163845 RS; REsp 164918 RS; REsp 280833 RO; REsp

213828 RS; REsp 443143 GO; REsp 470632 SP). Alem disto, argumentavam os

críticos da súmula 263, que esta gerava uma enorme insegurança jurídica, tendo em

vista que milhões de contratos de leasing em todo o território nacional poderiam ser

questionados a qualquer momento, uma vez que praticamente, a totalidade dos

contratos de leasing, realizados por instituições financeiras, tinham o valor residual

garantido cobrado de forma antecipada.

Diante da divergência de interpretações dentro da Corte Superior, a própria

Segunda Seção do STJ, reunida, deliberou pelo cancelamento da súmula 263 no dia

27 de agosto de 2003.

Para unificar o posicionamento, o Superior Tribunal de Justiça reuniu-se em

sua Corte Especial, julgando e aprovando no dia 05 de maio de 2004, a súmula 293,

redigida com o seguinte enunciado: “A cobrança antecipada do valor residual

garantido (VRG) não descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil”.

Deve-se salientar que a súmula 293 do Superior Tribunal de Justiça veio

pacificar o assunto, assentando o posicionamento de que, mesmo que o valor

residual garantido seja cobrado de forma antecipada, durante a vigência do contrato,

este fato não descaracteriza o contrato de leasing.

14. Considerações Finais

Ao se concluir este breve estudo sobre leasing, nota-se que este contrato

possui um caráter de fomento da atividade empresarial, de forma a auxiliar o

empreendedor a explorar as potencialidades da sua atividade.

Verifica-se que o contrato de leasing possui inúmeras particularidades, que

devem ser respeitadas, para a correta aplicação dos variados tipos de contratos de

leasing possíveis a realidade de cada situação particular. Por este motivo, cabe

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àqueles que forem se utilizar, do contrato de leasing, que procurem conhecê-lo, e

indicar a sua contratação de acordo com a necessidade do caso concreto.

No Brasil, o arrendamento mercantil não pode ser encarado como uma

operação financeira justamente porque o financiamento para a compra é

simplesmente uma das modalidades de opção do arrendatário e, além do mais, uma

opção que somente pode ser levada a efeito no final do contrato. O impasse que se

observa, no momento, é que o mercado vem tendendo no sentido de transformar o

arrendamento mercantil em simples operação de financiamento para a compra do

bem. É evidente que, dentro dessa filosofia, surgirá uma função que não é própria das

empresas de arrendamento mercantil, qual seja, a atividade de intermediação, já que

a sociedade começará a calcular o valor do arrendamento sob o ângulo da captação

de recursos.

Por fim, o arrendamento mercantil ou leasing é contrato específico, muito

utilizado em vários setores, contribuindo para a ampliação dos respectivos mercados,

a nível local e nacional, com a possibilidade de obtenção de recursos no exterior para

a sua efetivação.

Recebe nomes diversos no exterior, por exemplo, crédit-bail, hire purchase,

arrendamiento, locazione finanziaria, location financement e outros, prevalecendo, no

geral, a designação leasing, e acentuada, em cada sistema, a característica

fundamental de mecanismo de financiamento, a adquirentes de bens móveis

duráveis, apontados pelo interessado e comprados pela arrendadora para a

operação.

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