o conteúdo do saneamento do processo em portugal e no direito

28
Brasília a. 34 n. 134 abr./jun. 1997 137 O conteúdo do saneamento do processo em Portugal e no direito brasileiro anterior e vigente Eduardo Talamini é Advogado em Curitiba, Pro- fessor da Escola da Advocacia (OAB/PR-IAP), CA- EDI e IBEJ, Mestrando na Faculdade de Direito da USP. EDUARDO TALAMINI SUMÁRIO I - Introdução. II - Panorama geral do “sanea- mento” nos três regimes comparados – A termino- logia – Os contornos da fase saneadora. III - O saneamento do processo no direito português. III.1 - Mecanismos anteriores à criação do “despacho saneador”. III.2 - O “despacho saneador” portu- guês. IV - O saneamento do processo no direito bra- sileiro anterior a 1939. V - O “despacho sanea- dor” no Código de Processo Civil brasileiro de 1939. VI - O conteúdo do saneamento no processo civil brasileiro atual. VII - A reforma de 1994. VIII - Consideração final. I - Introdução 1. A existência de necessidades idênticas ou semelhantes em diversas sociedades e épo- cas faz com que em cada uma delas sejam esta- belecidos instrumentos jurídicos com funções similares – sem que haja necessária relação de influência, de inspiração entre uns e outros. Então, e sob o ponto de vista da história e da comparação jurídica, em distintas épocas e lo- cais, sempre haverá semelhantes institutos vol- tados para o mesmo fim, sem que um precise ter advindo do outro. Para que se possa consta- tar efetiva inter-relação entre esses institutos parecidos, mais do que a função de cada um (eventualmente igual diante da semelhança de necessidades), importa examinar sua estrutu- ra. É da constatação de marcantes traços de homogeneidade quanto a esta que se poderá qualificar um instituto como derivado de ou- tro. Essa advertência, aliás, tem sido reitera- damente destacada por J. Rogério Cruz e Tuc- ci, em exposições acerca da história do proces- so. E é algo que se há de ter em mente não só NOTAS AO FINAL DO TEXTO.

Upload: vucong

Post on 07-Jan-2017

212 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Brasília a. 34 n. 134 abr./jun. 1997 137

O conteúdo do saneamento do processoem Portugal e no direito brasileiroanterior e vigente

Eduardo Talamini é Advogado em Curitiba, Pro-fessor da Escola da Advocacia (OAB/PR-IAP), CA-EDI e IBEJ, Mestrando na Faculdade de Direito daUSP.

EDUARDO TALAMINI

SUMÁRIO

I - Introdução. II - Panorama geral do “sanea-mento” nos três regimes comparados – A termino-logia – Os contornos da fase saneadora. III - Osaneamento do processo no direito português. III.1- Mecanismos anteriores à criação do “despachosaneador”. III.2 - O “despacho saneador” portu-guês. IV - O saneamento do processo no direito bra-sileiro anterior a 1939. V - O “despacho sanea-dor” no Código de Processo Civil brasileiro de1939. VI - O conteúdo do saneamento no processocivil brasileiro atual. VII - A reforma de 1994. VIII- Consideração final.

I - Introdução

1. A existência de necessidades idênticasou semelhantes em diversas sociedades e épo-cas faz com que em cada uma delas sejam esta-belecidos instrumentos jurídicos com funçõessimilares – sem que haja necessária relação deinfluência, de inspiração entre uns e outros.Então, e sob o ponto de vista da história e dacomparação jurídica, em distintas épocas e lo-cais, sempre haverá semelhantes institutos vol-tados para o mesmo fim, sem que um preciseter advindo do outro. Para que se possa consta-tar efetiva inter-relação entre esses institutosparecidos, mais do que a função de cada um(eventualmente igual diante da semelhança denecessidades), importa examinar sua estrutu-ra. É da constatação de marcantes traços dehomogeneidade quanto a esta que se poderáqualificar um instituto como derivado de ou-tro. Essa advertência, aliás, tem sido reitera-damente destacada por J. Rogério Cruz e Tuc-ci, em exposições acerca da história do proces-so. E é algo que se há de ter em mente não só

NOTAS AO FINAL DO TEXTO.

Revista de Informação Legislativa138

quando se analisam os instrumentos jurídicosmais diretamente ligados às instituições políti-co-econômico-sociais (tais como o casamento,a compra e venda, a propriedade). Igualmenteno que tange a técnicas e princípios internosaos mecanismos jurídicos esse fenômeno é veri-ficável.

É o que se dá com as chamadas técnicas do“saneamento do processo”. Podem ser locali-zados inúmeros expedientes, em sistemas pro-cessuais atuais ou de outros tempos, com mai-or ou menor similitude quanto à finalidade: adivisão do processo civil romano em duas fa-ses (in iure e in iudicio); o poder que o pretordetinha de conceder ou denegar a actio; os pro-nunciamentos praeparatoria iudicii no proces-so medieval; a audiência preliminar austríaca(die erste Tagsatzung); o summons for directi-on no processo inglês; o pre trial conference(ou pre trial procedure) norte-americano; o“modelo de Stuttgart” alemão; o Código-tipopara a Ibero-América – e assim por diante. Emsuma, não são poucos os sistemas processuaismodernos que reservam uma fase às funções“saneadora em sentido estrito”, “esclarecedo-ra”, “instrutória” e “abreviadora” do processo1.

2. Não há como se afirmar que qualquerdesses outros mecanismos constitua a origemdo “despacho saneador” previsto no Código deProcesso Civil brasileiro de 1939 (nem do jul-gamento conforme o estado do processo, doCódigo de 1973). Trata-se de instituto criadodiretamente pelo direito português. As estru-turas e ligações históricas evidenciam a origi-nalidade da criação portuguesa e a indicamcomo matriz do “saneamento” brasileiro – ain-da que não se exclua alguma mediata interfe-rência de outros institutos, tanto na formaçãodo “despacho saneador” português quanto emsuas derivações no processo brasileiro2.

II - Panorama geral do “saneamento” nostrês regimes comparados – A terminologia

– Os contornos da fase saneadora3. No Código de Processo Civil português e

no brasileiro de 1939, a expressão “despachosaneador” é utilizada não apenas para desig-nar a decisão que tem por saneado o processoou a que determina suprimento de irregulari-dades. Mais do que isso, sob o título do “des-pacho saneador”, pode haver mesmo a extin-ção do processo (quanto aos motivos e limitespara tanto – seja visto adiante). Enfim, “des-

pacho saneador”, naqueles dois diplomas, de-signa globalmente a atividade concentrada de-senvolvida pelo juiz a fim de verificar, em dadomomento, se o processo precisa ir adiante – eas conseqüências a serem adotadas conformeesse juízo seja positivo ou negativo.

Já o Código brasileiro de 1973 reservou otítulo “Do Saneamento do Processo” (Seção III,Capítulo V, Título VIII, Livro I) para discipli-nar as providências que serão adotadas pelo juizquando ainda não é o caso de se extinguir oprocesso (ou seja, quando o juízo acima men-cionado é negativo) – proferindo-se então de-cisão interlocutória, que encaminha o feito adi-ante. Essa seção, na versão original do Códi-go, também recebera a denominação “Do Des-pacho Saneador”. O título, contudo, foi substi-tuído antes mesmo de o diploma entrar em vi-gor (Lei nº 5.925/73). Àquele leque maior deprovimentos possíveis encartados antes sob arubrica do “despacho saneador” o Código de73 reservou o termo “julgamento conforme oestado do processo” (capítulo, no diploma, doqual o “saneamento” é uma das seções). Ain-da, parte do que se faria por ocasião do “sane-ador” está disciplinada no capítulo imediata-mente antecedente, o “Das Providências Preli-minares”.

Daí que, para a comparação com o “despa-cho saneador” português e do direito brasileiroanterior, não se toma em conta apenas a seção“Do Saneamento do Processo” do Código de73, mas sim a disciplina global do “julgamen-to conforme o estado do processo” e algum dospontos constantes das “providências prelimi-nares”. Aliás, e conquanto outras críticas pos-sam ser feitas ao termo empregado em Portu-gal e no direito brasileiro anterior (v. a seguir),há, em certo sentido, mais acerto nele do quena terminologia atual do diploma processualcivil brasileiro.

Fase “saneadora”, precisamente, não é ape-nas aquela prevista no art. 331 do Código bra-sileiro em vigor. No momento ali previsto, maisnada se saneia: só se declara saneado. Verda-deiros saneamento e ajuste do processo já co-meçam a se dar com as providências prelimi-nares (arts. 323 a 328), quando: ouve-se o au-tor sobre defesas materiais indiretas e proces-suais; determina-se o suprimento de irregula-ridades e nulidades sanáveis; eventualmente,mediante demanda incidental, amplia-se o ob-jeto do processo para abranger declaração acer-ca de questão prejudicial; verifica-se se ocor-reu o efeito principal da revelia. “Saneamento

Brasília a. 34 n. 134 abr./jun. 1997 139

em sentido estrito” (enquanto extirpação dosdefeitos corrigíveis) está previsto precisamen-te na parte final do art. 227 e precede lógica ecronologicamente as providências previstas nocapítulo do “julgamento conforme o estado doprocesso”.

De mais a mais, também as hipóteses pre-vistas nos arts. 329 e 330 (extinção do proces-so, sem ou com julgamento do mérito) inte-gram a atividade concentrada de saneamentoem sentido amplo. De algum modo, podem sertidas como a “contraface” da declaração de sa-neamento prevista no art. 331. Põem-se trêscaminhos para o julgador: ou, diante de defei-tos insuperáveis, dá fim ao processo sem jul-gar o mérito; ou, não sendo assim, julga desdelogo o mérito, posto que dispensável instruçãoprobatória; ou, descartados os dois primeiroscaminhos, tem por saneado o processo e enca-minha a instrução probatória (não sem antes,diante da disciplina instaurada com a reformado final de 1994, tentar conciliar as partes, seo direito admitir transação). Enfim, no exameda continuidade ou não do processo, o juízonegativo impõe a disciplina dos arts. 329 e 330;o positivo, a do art. 331 (ainda que com issonão se queira dizer que a prática dos atos pre-vistos no art. 331 implique necessariamente odescarte das hipóteses de extinção de que tratao art. 329 – v. adiante).

Então, querer separar incisivamente “sane-amento do processo” e “julgamento conformeo estado do processo”3 equivale, por exemplo esob certo prisma, a pretender ver na sentençade procedência e na de improcedência dois “ins-titutos distintos”: são coisas diversas, sem dú-vida; mas compõem os dois caminhos de umabifurcação, duas alternativas por ocasião dedeterminado juízo.

Indo avante, algo da tarefa imposta ao le-gislador no art. 331 do atual Código brasileiro– a fixação dos pontos controvertidos e o enca-minhamento da instrução probatória – não está,no direito português, inserido propriamente nadisciplina do “despacho saneador”, mas nospreceitos imediatamente seguintes. Trata-se da“organização da especificação e questionário”:ato que, conquanto praticado no bojo do pró-prio “saneador”, constitui “realidade autôno-ma” perante ele4.

Por fim, e desde a Lei nº 8.952, de 13-12-94,o “saneamento do processo” brasileiro incluiainda audiência em que se tenta conciliação ediscutem-se a fixação dos pontos controverti-dos e as provas a serem produzidas. Nada ha-

via de similar no Código brasileiro de 39. Odireito português igualmente prevê, mais oumenos nesse ponto do procedimento ordinário,uma audiência. Essa, diferentemente do que sepassa no sistema brasileiro, precede o “sanea-dor” com todos os seus desdobramentos (pos-sibilidade de extinção; correção de vícios etc.).Além disso, possui fins em parte diversos dosvisados pela nova audiência prevista no Brasil(tentativa de conciliação e debates sobre o mé-rito, quando de tal se possa conhecer direta-mente, ou sobre exceções).

Em suma, a comparação entre os modelosde saneamento dos três sistemas envolve pre-cipuamente as previsões relativamente concen-tradas em uma mesma fase dos respectivos pro-cedimentos ordinários pelas quais, nessa ordem:(a) verifica-se a existência de vícios – suprin-do-os se sanáveis, extinguindo o processo emcaso negativo; (b) conhece-se diretamente domérito, se isso já é possível; (c) ou, não sendo,resolvem-se as questões processuais pendentes,definem-se os pontos controvertidos e encami-nha-se a instrução probatória.

Portanto, e mais do que ato isolado, o sane-amento constitui verdadeira “fase”. E isso, nostrês regimes: mesmo o “despacho saneador”português e o do Código brasileiro de 39 de-têm essa característica: são, quando menos, atoscomplexos5. E, se acima foi criticada a termi-nologia do atual diploma brasileiro, essa é umadas ressalvas que se pode fazer à expressão“despacho saneador”: dá a indicação inadequa-da de ato único (além do que, na série de pro-vimentos que podem compô-lo, os principaistêm conteúdo decisório – e não de simples des-pacho).

III -O saneamento do processo nodireito português

III-1. Mecanismos anteriores à criação do“despacho saneador”

4. As Ordenações Filipinas (Livro III, Tí-tulo XX, §16) disciplinavam hipótese que po-deria hoje, a grosso modo, ser aproximada àda argüição e apreciação das condições da açãoe ao reconhecimento de sua carência pelo au-tor. Ainda, as mesmas Ordenações (Livro III,Título LXVI, § 9º) traziam a previsão de que,em caso de confissão do réu, o juiz profeririadesde logo decisão, não equiparável à sentençaque é precedida de instrução completa. Tinha-se então um “preceito de solvendo” (que não

Revista de Informação Legislativa140

se confundia nem com a sentença definitivanem com a interlocutória), dotado de eficáciaexecutiva. A noção de confissão a que se refe-riam as Ordenações era igualável à atual de“reconhecimento do pedido”6.

Todavia – destaca reiteradamente a doutri-na –7, não há como se pretender ver em taishipóteses verdadeiros precedentes do “despa-cho saneador”, naquilo que esse mecanismotem de especial. Primeiro, porque tratavam desituações específicas – e não da conferênciagenérica de poderes ao juiz para zelar pela re-gularidade do processo. Depois, e como conse-qüência da primeira constatação, não se davaao juiz a possibilidade de inspecionar ex officioa regularidade do processo.

5. Ainda antes da criação do “despacho sa-neador”, noticiam-se atos administrativos doMinistério da Justiça e da Procuradoria Régiaportugueses advertindo os membros do minis-tério público de que deveriam procurar evitaras nulidades nos processos de que participas-sem, suprindo as sanáveis – sob pena de anota-ções na ficha funcional. Dessa providência ad-ministrativa teria surgido a prática de o órgãodo ministério público, nos processos em queatuasse, buscar junto ao juiz e com a concor-dância dos advogados a realização de audiên-cia posterior à fase postulatória, com o fim delocalizar e eliminar nulidades8.

Mas, ainda nesse caso, e deixando-se delado a abrangência concreta dessa prática, fal-ta o elemento essencial do “saneador” e de seusdesdobramentos no Brasil: a provocação parao exame dessas matérias era feita por sujeitodo processo que não o juiz.

III.2 - O “despacho saneador” português9

6. A criação do instituto deu-se, de fato, pormeio do Decreto nº 3, de 29-5-1907 (então como nome de “despacho regulador do processo”).Tratava-se de dispositivo inserido na discipli-na de processo sumário para as causas cíveis ecomerciais de pequeno valor. Concediam-sepoderes ao juiz para, por ocasião desse “despa-cho regulador”, conhecer e julgar matéria re-lativa às nulidades processuais.

Ainda em 1907 (30 de agosto), outro de-creto estendeu tal previsão – praticamente re-petindo-a – para o procedimento das ações dedespejo de prédios urbanos e rústicos. Nos anosseguintes, houve sucessivas regulamentações deprocedimentos das demandas atinentes a in-

quilinato, em que se manteve o “despacho re-gulador” (Decretos de 12-11-10; de 27-6-18 [nº4.499]; de 19-4-19 [nº 5.411]). Posteriormen-te, o Decreto nº 12.353, de 22-9-26 (que veicu-lou a “reforma do processo ordinário”), esten-deu os poderes do juiz ao exame, naquele mo-mento, da legitimidade das partes, de sua re-presentação em juízo e de outras questões pré-vias ou prejudiciais ao conhecimento do méri-to – passando o ato a ser denominado “despa-cho saneador”. A partir de então, desenvolveu-se tendência jurisprudencial de ampliação dashipóteses de julgamento direto do mérito já nafase saneadora. Com o Decreto nº 18.552, de3-7-30, passam a poder ser resolvidas no “sa-neador” todas as outras questões para cuja de-cisão o processo já reunisse elementos instru-tórios suficientes. Depois, o Decreto nº 21.287,de 26-5-32, consolidou a legislação processualcivil e comercial, mantendo as regras até entãovigentes sobre o “despacho saneador”, e criouo instituto do “questionário”.

Por fim, o Código de Processo Civil de 1939(Decreto nº 29.637), em seu art. 514, veio acomplementar o rol de atividades desenvolvi-das pelo juiz por ocasião do “saneador”, dan-do-lhe basicamente a feição que possui hoje emPortugal. Autorizou-se o conhecimento diretodo mérito (o que em alguns casos já era possí-vel antes – quer por expressa previsão dos tex-tos anteriores, quer por criação jurisprudenci-al). Previu-se audiência preparatória, a prece-der o “saneador”, a qual se destinaria à buscada conciliação e – frustada a tentativa ou in-cabível – à discussão das questões resolúveis pormeio daquele pronunciamento. Ainda, introdu-ziu-se a figura da “especificação”. (v. a seguir).

Em 1961, reformou-se o Código português(Decreto-Lei nº 44.129), com a disciplina ati-nente à fase de saneamento (que a doutrinaportuguesa usa designar “fase de condensação”)estendendo-se do art. 508 ao 512. Ainda, o“questionário” e a “especificação” passaram aocorrer formalmente também no “despachosaneador” (v. a seguir). Houve nova reformano processo português em 1967, sem maior al-teração da disciplina do “saneador”. Finalmen-te, também o Decreto nº 242 de 9-7-85 trouxealgumas mudanças, que, embora significativas,não chegaram a alterar a feição geral da fasede saneamento.

Elaborou-se anteprojeto de reforma do CPC,publicado ainda em 1988 pelo Ministério daJustiça, que traria algumas modificações paraessa fase do procedimento, sem alterá-lo subs-

Brasília a. 34 n. 134 abr./jun. 1997 141

tancialmente. Esse anteprojeto acabou sendodeixado de lado. Em fevereiro de 1995, o Mi-nistério da Justiça divulgou novo “Projecto deRevisão”, que não guarda relação com aquelepublicado em 1988 e também traz algumas al-terações em relação à disciplina vigente10.

7. O atual regime do “despacho saneador”pode ser descrito, em apertada síntese, nos se-guintes termos.

7.1. Finalizada a fase postulatória (“os ar-ticulados”), caso pareça possível ao juiz conhe-cer diretamente do mérito, ele poderá designaraudiência preparatória (art. 508, 1). Igual po-der o magistrado terá se reputar necessária adiscussão de exceções dilatórias ou peremptó-rias (art. 508, 3). Admitindo a causa transa-ção, as partes serão intimadas para, sob penade multa, participarem da audiência ou confe-rirem ao advogado poderes especiais para tran-sigir (art. 508, 2).

Até 1985, a audiência, no caso do art. 508,1, era obrigatória. Sua falta acarretava “nulida-de não principal”, nos termos do art. 201, 111 –ou seja, algo equivalente à anulabilidade emnosso sistema (não é conhecível de ofício, ésanável, convalidável, não argüível por quema deu causa etc.). Apenas na hipótese do art.508, 3, a designação de audiência era faculta-tiva. O Decreto nº 242/85, porém, tornou sem-pre facultativa.

Tenta-se primeiro a conciliação (art. 509,1). Não a obtendo, o juiz dirige os debates en-tre as partes (art. 509, 2). A falta de alguma ouambas as partes devidamente intimadas nãoadia a audiência (art. 509, 3).

7.2. Depois da audiência (quando nela nãose obtém conciliação) – ou, se não houve audi-ência, logo após a fase postulatória –, tem vezo “despacho saneador”, cujo objeto o exame(art. 510, 1):

(a - primeira parte) de exceções quelevem à “absolvição de instância” (emoutros termos: à extinção do processopela falta dos pressupostos para admis-sibilidade de julgamento do mérito);

(a - segunda parte) das nulidades(“principais” e “secundárias” – o equi-valente, a grosso modo, a nulidades ab-solutas e relativas);

(b) das “exceções peremptórias” (noque se incluem, além dos fatos impediti-vos e extintivos do direito do autor12, talcomo hoje concebidos em nosso sistema,o “caso julgado”);

(c) direto do pedido, se a questão demérito for só de direito e já puder serdecidida com “segurança” ou se o pro-cesso já possui elementos suficientes para“decisão conscienciosa”.

7.3. O exame das nulidades e das causasacarretadoras da “absolvição de instância” sópode deixar de se fazer no “saneador” se nessemomento faltarem elementos instrutórios sufi-cientes para tanto – cabendo ao juiz fundamen-tar a decisão que postergue tal tarefa (art. 510,2). Também as exceções peremptórias serãosempre julgadas quando dispensável maior ins-trução probatória (art. 510, 3). Apenas o julga-mento imediato do mérito não está expressa-mente imposto em termos cogentes. Mas, mes-mo nessa hipótese, a doutrina destaca não setratar de simples faculdade do juiz – e sim de-ver “inerente ao princípio geral da economiaprocessual”13 .

Entendia-se caber agravo da decisão quedeixa para depois o julgamento das questõesexamináveis no “saneador”14. A reforma de1985, contudo, estabeleceu expressamente que“não cabe recurso de ‘despacho saneador’ que,por falta de elementos, relegue para a sentençao reconhecimento das matérias que lhe cum-pre conhecer nos termos das alíneas a) a c) donº 1” do art. 510 (art. 510, 5).

7.4. Sendo conhecido diretamente o méritoou julgada procedente exceção peremptória, “odespacho fica tendo, para todos os efeitos, ovalor de uma sentença e como tal é designado”(art. 510, 4). O recurso cabível será então o deapelação (e não de agravo, como nas demaishipóteses, inclusive na de rejeição de exceçõesperemptórias).

7.5. Ainda não sendo o caso de encerramen-to do processo, o juiz selecionará os fatos queinteressam para a solução da causa. Especifi-cará os que reputa incontroversos e fará quesi-tos (“questionário”) daqueles que remanesçamcontrovertidos (art. 511, 1). Só ingressarão noquestionário ou na especificação “fatos articu-lados” (art. 664 do CPC)15 e que interessem àsolução da causa. Assim, para esses atos, assu-me extrema importância a distinção entre “ma-téria de fato” e “matéria de direito”16 e entre“fatos essenciais” e “irrelevantes”. Ainda, comotempero à limitação do questionário aos fatosarticulados, estabelece-se a diferença entre “fa-tos fundamentais” e “instrumentais”. Esses,conquanto não alegados pelas partes, podemser investigados pelo juiz (CPC, art. 264), namedida em que se prestam a indicar a ocorrên-

Revista de Informação Legislativa142

julgado em relação às questões concretas decompetência nele apreciadas. Essa norma se-ria extensível às demais matérias conhecíveisde ofício.

Ocorre que, no que tange à legitimidade daspartes, o Supremo Tribunal de Justiça reputouinaplicável por analogia a regra sobre a incom-petência absoluta – por reputá-la norma de na-tureza especial. Em conseqüência, editou-seassento pelo qual:

“É definitiva a declaração em termosgenéricos, no ‘despacho saneador’, tran-sitado relativamente à legitimidade, sal-vo a superveniência de fatos que nestarepercutam” (1-2-1963).

Em suma, afirmou-se a absoluta eficáciapreclusiva do “saneador”, no que tange à ques-tão da legitimidade – independentemente dequais tenham sido os chamados “fundamentosconcretos”.

Mas, o assento do STJ disse respeito só àlegitimidade. O assento, no direito português,tem eficácia vinculante. Vale como se lei fosse.Daí surge a dúvida. Para as demais questões deordem pública, aplica-se por analogia o dispo-sitivo sobre incompetência absoluta (que limi-ta a preclusão às questões concretamente deci-didas) ou aplica-se analogicamente o assento(estendendo-se a preclusão a todos possíveisdefeitos processuais que poderiam ter sido ar-güidos ou verificados de ofício)? Para a doutri-na que preconizava a posição menos rígida so-bre a preclusão, deve ser aplicado por analogianão esse assento , mas sim o preceito legal ati-nente à incompetência absoluta22. Ainda, Cas-tro Mendes, procurando mitigar o alcance doassento, ressalta que apenas a decisão “genéri-ca” é abrangida pelo regime previsto naqueleato do STJ – não a implícita23.

8.2. Outra questão de interesse para fins decomparação diz respeito à eficácia preclusivada especificação e do questionário dos fatosrelevantes. Já nesse caso, o posicionamentomajoritário é extremamente flexível.

Primeiro, considera-se possível a alteraçãoda especificação e do questionário em virtudede episódios supervenientes (ex.: declaração defalsidade de documento; anulação de confis-são; alegações das partes sobre fatos novos...).Além disso, independentemente de tais inci-dentes, admite-se que o presidente do colegia-do que proferirá a sentença final amplie o ques-tionário, incluindo novos quesitos que consi-dere necessários à solução da causa. Mais ain-

cia ou não daqueles.7.6. O questionário não apenas se presta a

limitar o âmbito da produção probatória, comoainda delimita “o poder jurisdicional do tribu-nal coletivo”, que julgará a causa17. O tribunalcoletivo “não se pronunciará sobre os fatos”contidos na especificação, e a instrução proba-tória se baseará no questionário18.

“Especificação e questionário” constituemtema diverso daquele originariamente contidono “despacho saneador”. Daí a preocupação emse destacar tratar-se de “peças diferenciadas”ou “realidades autônomas”19. Mas não se negaque integram formalmente o mesmo ato do“despacho saneador”. Igualmente, é indiscutí-vel que funcionalmente se enquadram na con-cepção ampla de saneamento (v. I e II, acima).

Nesse ponto do procedimento, é previstoprazo para “reclamações das partes” quanto à“especificação” e ao “questionário” (art. 511,2 e 3). Da decisão dessas reclamações cabe re-curso para a Relação (segundo grau de jurisdi-ção); “da decisão desta não há recurso” (art.511, 4). É sob esse aspecto que tem relevânciao destaque de que o “despacho saneador” e a“especificação e questionário” são peças autô-nomas: da especificação e questionário só sepode recorrer tendo havido prévia reclamação;mas “a reação contra o saneador não está con-dicionada à reclamação”20.

8. Das várias questões debatidas na doutri-na e jurisprudência acerca do “saneador”, trêspodem ser rapidamente indicadas, para fins decomparação.

8.1. A primeira diz respeito à eficácia pre-clusiva do “saneador” quanto às nulidades e àscausas que levariam à “absolvição da instân-cia”, quando não encerra o processo. Trata-sede saber, na terminologia empregada pelos pro-cessualistas portugueses, se há “caso julgadoformal”.

A respeito do tema, há duas correntes bemdefinidas. Para alguns, a declaração da ausên-cia de defeitos processuais – ainda que genéri-ca –, se irrecorrida ou depois de decidido o re-curso, faria “caso julgado”. Não se poderiammais suscitar tais matérias nem ser conhecidasde ofício. O segundo entendimento21 é o de quesó as questões concretamente apreciadas pelo“saneador” ficariam acobertadas pelo “casojulgado formal”. Para embasar tal posição, in-voca-se a aplicação analógica do dispositivo queregula a eficácia do “despacho” que decide aquestão da incompetência absoluta: só há caso

Brasília a. 34 n. 134 abr./jun. 1997 143

da: até de ofício, a Relação (órgão de segundograu) pode anular a sentença e determinar re-torno dos autos para a ampliação do questio-nário (e conseqüente nova produção de provas).Por fim, o próprio Supremo Tribunal de Justi-ça, julgando o recurso de revista (que só tempor objeto o exame da correta aplicação do di-reito), pode mandar baixar o processo ao se-gundo grau, para que se amplie a decisão acer-ca dos fatos (com a conseqüente alteração daespecificação e do questionário e eventual pro-dução probatória) – isso para que o Supremopossa então ter “base suficiente para a corretadecisão do direito”24.

O STJ veio a editar assento (de nº 14), em2-10-94, pelo qual

“... a especificação, tenha ou não havidoreclamações, tenha ou não havido impug-nação do despacho que as decidiu, podesempre ser alterada, mesmo na ausênciade causas supervenientes, até ao trânsitoem julgado da decisão final do litígio”.

8.3. Por fim, pode ser mencionada discus-são acerca da possibilidade de julgamento par-cial de mérito – com o restante ficando para asentença. O art. 510, ao tratar do “despachosaneador”, previu apenas a hipótese de julga-mento direto do pedido (nº 2) – sem menção àpossibilidade de julgamento parcial do méritonessa fase. Todavia, o art. 508, ao disciplinar aaudiência preparatória, estabeleceu que elaocorreria quando o juiz visse a chance de co-nhecer diretamente “do pedido ou de algum dospedidos principais, ou do pedido reconvencio-nal” (nº 2). Ou seja, indicou expressamente ahipótese de julgamento parcial do mérito.

Daí que parte minoritária da doutrina negaa possibilidade de julgamento parcial do méri-to. Isso quebraria a exigência de “unidade” dojulgamento (no “saneador”, quem decide é ojuiz isoladamente; na decisão final, é o colegi-ado – tribunal coletivo)25 .

Prevalece, porém, em doutrina e jurispru-dência, a admissão desse julgamento parcialde mérito – tanto por força de sua expressa pre-visão no art. 508, como em atenção à finalida-de do “saneador”, que é a de enxugar o máxi-mo possível a matéria a ser conhecida ao fi-nal26. Mesmo nesse caso, de julgamento parci-al de mérito, o recurso cabível é apelação27.

IV - O saneamento do processo no direitobrasileiro anterior a 193928

9. No que tange à verificação de nulidades,

o Regulamento 737 previa a possibilidade de ojuiz eliminar as nulidades acusadas pelas par-tes. Relativamente à extinção do processo, aConsolidação Ribas repetiu (nos arts. 251, § 3º,in fine, e 363) as duas normas constantes dasOrdenações Filipinas, acima mencionadas.

Entre os códigos processuais civis estadu-ais (pós-Constituição Federal de 1891), algunstraziam a previsão de, havendo a confissão doréu (vale dizer, o atual “reconhecimento dopedido”), ocorrer julgamento “no estado em quese achar o processo” (art. 271 do código dePernambuco; semelhante norma havia nos có-digos do Rio Grande do Sul e São Paulo). Vá-rios desses diplomas repetiram basicamente aprevisão de eliminação de nulidades noticia-das pela parte (SP, RS, DF, MG, PE, BA, ES,RJ, SC).

Permanecia afastado o exame ex officio devícios processuais pelo julgador.

Já para o Estado do Mato Grosso, em 1928,elaborou-se anteprojeto (jamais convertido emlei) que foi o primeiro a reproduzir o modeloportuguês de “despacho saneador” (com diretae confessa inspiração no Decreto português nº12.353/26 e na doutrina de J. A. dos Reis).Ainda outra tentativa frustrada de consagra-ção do “despacho saneador” no direito positi-vo brasileiro deu-se com o anteprojeto de 1934(de autoria de Pereira Braga e Filadelfo Aze-vedo), relativo à Justiça Federal.

Por fim, o Decreto-Lei nº 960, de 17-12-38(sobre cobrança de dívida pública), em seu art.19, além de providências saneadoras propria-mente ditas, do exame dos pressupostos pro-cessuais e condições da ação e da preparaçãoda instrução probatória da causa, previu a hi-pótese de julgamento de mérito no caso de fal-ta ou intempestividade da defesa.

V - O “despacho saneador” no Código deProcesso Civil brasileiro de 1939

10. O Código de 39 veio a estabelecer o“despacho saneador” como instituto geral noâmbito do “processo ordinário” (Decreto-Leinº 1.608/39 – posteriormente, o Decreto-Leinº 4.565/42 especificou melhor as funções dojuiz por ocasião do “saneador”29).

Assim, nos art. 293 a 296, previu-se caberaos juízes, encerrada a fase postulatória no pro-cedimento ordinário:

(a) ordenar o processo: (a.1) dando oportu-

Revista de Informação Legislativa144

nidade de ouvida do autor, quando houvessedefesa material indireta (art. 294, II); (a.2) ve-rificando se havia nulidades e suprindo as sa-náveis (art. 294, IV);

(b) verificar a presença dos pressupostosprocessuais e condições da ação, extinguindoo processo sem julgamento de mérito, se fosseo caso (“absolvição da instância” – art. 294, I,III e IV – v. a seguir);

(c) preparar a instrução probatória: (c.1)ordenando a realização de perícias (art. 294,V); (c.2) designando a audiência e determinan-do a produção de prova oral (art. 296, I e II).

Diferentemente do direito português e dosantecedentes no próprio direito brasileiro (De-creto-Lei nº 960 – v. acima), excluía-se, emprincípio, a possibilidade de conhecer-se dire-tamente do mérito nesse momento. Consagra-va-se a indispensabilidade da audiência, aindaque não houvesse provas a produzir (mas, acer-ca do tema, ver adiante).

Não havia expressa menção ao exame de“pressupostos processuais”. Eram consideradoscompreendidos não só no inciso I (de onde seextraía expressa menção à legitimidade ad pro-cessum e a representação), como também noinciso IV do art. 294 (interpretado como se dis-sesse respeito a defeitos processuais de todaespécie).

De qualquer modo, discutia-se acerca dapossibilidade de verificação de alguns dos pres-supostos por ocasião do “saneador”. Assim, porexemplo, Liebman, dando por “conforme aodireito brasileiro” lição de Chiovenda sobre odireito italiano, afastava a possibilidade deapreciação do tema da litispendência nessa fasedo processo: por força do art. 182, II, seu exa-me ficaria condicionado à interposição da res-pectiva exceção instrumental, processada emautos apartados, sem que o “despacho sanea-dor” pudesse nisso interferir30. Já Galeno La-cerda destacava a natureza de ordem públicada questão que, como tal, poderia ser conheci-da de ofício e a qualquer tempo pelo juiz: as-sim, e não interposta a exceção pela parte, ojuiz poderia examiná-la no “despacho sanea-dor”31 .

11. A grande inovação decorrente da ado-ção do “despacho saneado” – e que consisteem aspecto essencial do instituto, tanto no Bra-sil como em Portugal – foi a reserva de ummomento em que o juiz tem o poder de, exofficio, examinar e, se possível, eliminar pos-síveis vícios processuais. Antes do Código de39, só mediante provocação do interessado isso

podia ser feito. Daí que, antes de existir o “des-pacho saneador”, o interessado aguardava parasó apontar a nulidade (absoluta ou relativa: nãose falava em preclusão em relação a nenhumadas duas) quando lhe aprouvesse, eventualmen-te já no recurso contra a sentença que lhe foradesfavorável32. Todas as matérias que não esti-vessem na esfera de disponibilidade da parte, apartir do Código de 39, passaram a poder serconhecidas de ofício, nessa nova fase do pro-cesso.

A positivação da fase saneadora refletiu nãotanto a conscientização acerca do caráter pú-blico da relação processual e da função do juiz(que já antes disso, mesmo no Brasil, vinhasendo destacado), como a preocupação de tra-duzir em resultados concretos essa nova per-cepção do processo. Mais ainda, destinou-se apropiciar economia processual – quer com ojuiz encerrando o processo que não deveria irpara frente, quer eliminando a discussão dequestões processuais.

12. O Código de 39 não trazia exigênciaexpressa e genérica de motivação. O art. 280,II, estabelecia apenas a necessidade de funda-mentação da sentença. Em outros específicoscasos, existia ainda a exigência de motivação(art. 117: deferimento de provas; art. 118: ava-liação da prova; art. 119: declaração de suspei-ção) – mas não na disciplina do “despacho sa-neador”. De qualquer modo, não era incomumapontar-se a necessidade de o juiz embasar suadecisão, mesmo quando não encerrasse o pro-cesso. Tal se imporia como “imperativo técni-co” ou decorrência do sistema e dos princípiosgerais33.

13. O “despacho saneador” poderia assu-mir a forma de decisão interlocutória, decisãoterminativa (não julgava o mérito, sendo, nes-se caso, a ação renovável: hipóteses indicadasem, 10, b, acima) ou decisão definitiva (a açãonão seria renovável: quando do acolhimentode questões prejudiciais ao mérito ou do exa-me do próprio mérito – para aqueles que o con-cebiam nessa fase do processo – v. a seguir)34 .

14. Havia exigência expressa de julgamen-to positivo sobre condições da ação (art. 294, Ie III) e pressupostos processuais (art. 294, I eIV): “o juiz... decidirá...; examinará...; pronun-ciará...; mandará...” , etc.

Por isso, chegava-se a sustentar que, acer-ca desses assuntos, o juiz não era autorizado ajulgar de ofício em outros momentos35. Ignora-va-se, assim, aspecto quase que óbvio: eventu-

Brasília a. 34 n. 134 abr./jun. 1997 145

no “saneador”; (b) excetuariam-se dessa pre-clusão: incompetência absoluta, nulidade dacitação, impedimento, litispendência e coisajulgada; (c) quanto às condições da ação, só fica-ria precluso o exame das questões decididas39.

14.2. Conquanto em minoria, eram extre-mamente autorizadas as vozes que se pronun-ciavam em sentido diverso, afastando-se da ten-dência excessivamente “preclusionista”.

Assim, Amaral Santos admitia a reapreci-ação da matéria referente às condições da ação,quer na decisão final, quer em segunda instân-cia, sem necessidade formal de agravo no autodo processo. Igualmente Galeno Lacerda afas-tava a preclusão relativamente a todas as ques-tões alheias à esfera de disponibilidade da par-te – desde que a decisão não tivesse sido termi-nativa do processo (quando então se “esgota ajurisdição”). E, nessa esfera de indisponibili-dade incluía, entre outras matérias, as condi-ções da ação, os pressupostos processuais e asnulidades “absolutas” e “relativas” (que se con-traporiam às “anulabilidades”). Nessas hipó-teses, não se conceberia “decisão implícita”.Todavia, quando a matéria dissesse respeitoexclusivamente ao interesse da parte, não só o“saneador” teria eficácia preclusiva como acer-ca delas poderia ocorrer “decisão implícita”.Ainda, Bueno Vidigal, em suas aulas de 1959para os alunos do quarto ano da Faculdade doLargo São Francisco, transcritas e publicadaspelo C. A. XI de Agosto, negou a existência dequalquer eficácia preclusiva no “despacho sa-neador”, citando inclusive voto do MinistroFiladelfo de Azevedo, constante da RT nº 160/308. Inexistiria preceito proibindo o juiz dereapreciar, no curso do processo, as questões jádecididas. O art. 289 (de teor semelhante aoatual art. 471, caput) apenas proibiria o reexa-me, em outro processo, de “lide” (no sentidode “mérito”) já decidida40.

14.3. Seja como for, Liebman retratava oentendimento dominante ao afirmar que o “des-pacho saneador... tem sempre o efeito de deci-são preclusiva, explícita ou pelo menos implí-cita, das questões indicadas pela lei”41.

15. Discutia-se, ainda, acerca da possibili-dade de julgamento de mérito por ocasião do“saneador”. Já se viu que isso não foi previstoem termos expressos na disciplina do instituto.

Tomem-se em conta as atuais hipóteses dejulgamento de mérito (CPC/73, art. 269).

15.1. Quanto à homologação de atos de dis-posição das partes, não havia dúvidas de que

almente esses assuntos, especialmente as con-dições da ação, também dependeriam de ins-trução probatória – como destacava GalenoLacerda36. Outros, cientes dessa circunstância,mas convictos da impossibilidade de a matériaser deixada para a sentença final (salvo quan-do se confundisse com o próprio mérito), suge-riam instrução específica tendo por objeto asquestões preliminares (inclusive, e se necessá-rio, com audiência), dentro da própria fase sa-neadora. Nesses termos, manifestou-se Lieb-man – com ele concordando Frederico Mar-ques, ainda que destacando que não se proce-dia desse modo na prática. Essa posição foi fun-damentadamente criticada por G. Lacerda37.

14.1. Da exigência de pronunciamento ex-plícito, partiu-se para a tese da “decisão implí-cita”: só ficaria excluída a rejeição da alegaçãonão expressamente examinada caso se pudessedepreender, direta ou indiretamente, do teor dodespacho que a matéria seria apreciada na sen-tença (diante de alguma indicação de que erainadequada sua apreciação naquele momento).Foi dessa noção, correta ou não, de imprescin-dibilidade do exame das preliminares no “sa-neador” que se originou a Súmula 424 do Su-premo: “Transita em julgado o ‘despacho sa-neador’ de que não houve recurso, excluídasas questões deixadas, explícita ou implicita-mente, para a sentença”. Afirmava-se a pre-clusão da apreciação posterior, se o interessa-do não houvesse feito uso do agravo no auto doprocesso (expressamente previsto como recur-so cabível – art. 851, IV).

Mendonça Lima, escrevendo já sob a égidedo Código de 73, mas referindo-se ao que sepassava ao tempo do diploma anterior, traçouo seguinte quadro da preclusão das questõesapreciáveis no “despacho saneador”: se nãoargüidas ou se não verificadas de ofício, nãomais caberia levantá-las; se argüidas, poderiao juiz expressamente retardar sua apreciaçãona sentença38. Mendonça Lima não tratou dahipótese em que, argüida matéria a ser exami-nada no “saneador”, o juiz se omitia. Mas, tam-bém nesses casos, nos termos da Súmula 424,haveria preclusão, se não tivesse ocorrido res-salva (direta ou indireta) de que a questão se-ria apreciada na sentença.

Seguindo as linhas gerais da concepçãodominante, ainda que a mitigando em algunspontos, Frederico Marques afirmava que: (a)ficaria precluso o exame dos pressupostos pro-cessuais, tendo sido ou não decidida a matéria

Revista de Informação Legislativa146

pudesse ocorrer por ocasião do “saneador”. Issonão por expressa previsão na disciplina do ins-tituto, mas com base no estabelecido relativa-mente à “cessação de instância”: nos arts. 206e 207, indicavam-se a “transação” e “desistên-cia” (como renúncia ao direito em que se fun-da a ação) como hipóteses de encerramento doprocesso por ato da parte. Ainda, no art. 55,havia a menção à “confissão”, no sentido dereconhecimento do pedido (pois o regime quese lhe previa era diverso do estabelecido no art.118 para a “confissão” enquanto ato probató-rio)42. O juiz haveria de chancelar tais atos aqualquer tempo, inclusive no “saneador”.

15.2. Já relativamente à prescrição e à de-cadência, existia maior controvérsia doutriná-ria e jurisprudencial. Liebman, considerando-as integrantes do mérito e descartando qual-quer exame desse no “saneador” (v. a seguir),afastava sua apreciação em tal fase. No mesmosentido parece ser o pensamento de Buzaid43.Prevalecia o entendimento oposto, de que, comopreliminares de mérito, seria possível apreciá-las no “saneador”44.

15.3. Note-se que, quando parte da doutri-na e jurisprudência afirmava admitir julgamen-to de mérito no “despacho saneador”, muitasvezes tinha em vista a tão-só possibilidade deexame de condições da ação, na suposição deque tais matérias (ou, quando menos, a possi-bilidade jurídica e a legitimidade) integrariamo mérito – concepção essa que foi expressamen-te afastada pelo Código de 73: art. 267, VI.Assim, Galeno Lacerda reputava como sendode mérito, conquanto atinentes à relação pro-cessual, a possibilidade jurídica e a legitimida-de – sendo possível julgamento “de mérito”acerca delas quando do “saneador”. Lacerda,contudo, concebia ainda, em outras hipóteses,o julgamento do mérito nessa fase (v. a seguir).M. Lima tratava a legitimidade como questão“prejudicial” ao mérito. Liebman, pelo contrá-rio, destacava que as condições da ação só po-diam ser julgadas no “saneador” precisamentepor não integrarem o mérito45.

15.4. Todavia, o conhecimento direto domérito na fase de saneamento, tal como o auto-rizado pelo “julgamento antecipado da lide” doCódigo ora vigente, era descartado majoritari-amente por doutrina e jurisprudência46.

Segundo Liebman, o mérito não poderia serdecidido sem audiência de instrução e julga-mento. Suprimir a audiência equivaleria a su-primir a oralidade. Só dispositivo legal expres-

so, inexistente no Código de 39, autorizariaresposta no sentido contrário – tal como no di-reito português, em que, além de haver lei nes-se sentido, o julgamento do mérito no “sanea-dor” é precedido de discussão escrita mais am-pla e audiência preparatória. Igualmente Frede-rico Marques e Buzaid rejeitavam a possibilida-de de decisão sobre o mérito no “saneador”47 .

Galeno Lacerda, discordando desse enten-dimento, ponderava serem três as finalidadesda audiência: produção de provas, discussão ejulgamento. Em relação a nenhuma das três aaudiência seria essencial: nem toda prova emaudiência se produz; as partes podem renunci-ar ao debate; o juiz pode proferir a sentençadepois de encerrada a sessão. A oralidade, nosistema brasileiro, teria assim caráter relativo.A seguir, Lacerda lembrava que “jurisprudên-cia de tomo” vinha admitindo a decisão de pre-liminares de mérito no “saneador”. Mas a dis-tinção entre “mérito propriamente dito” e “pre-liminar de mérito” seria imprópria: haveria,isso sim, hierarquia quanto ao caráter prejudi-cial entre as várias questões de mérito. Daí que,por constituírem “questões prejudiciais”, deve-riam ser apreciados no “saneador” os fatos “ex-tintivos” (Lacerda incluía entre eles, além dosassim hoje reputados, a coisa julgada), os “im-peditivos” (indicava aqui as condições da ação)e os “suspensivos” (citava, entre outras hipóte-ses, o direito de retenção, o benefício da execu-ção). A condição para exame de tais matériasno “saneador” resumir-se-ia exclusivamente àdesnecessidade de produção probatória. Jáquanto ao fato “constitutivo do pedido”, só po-deria ser conhecido “por ocasião” do “sanea-dor” se, além de dispensável a produção pro-batória, os interessados aquiescessem com asupressão da audiência. Mas, ainda nesse últi-mo caso, Lacerda ressalvava as hipóteses deconfissão expressa e integral “do pedido” (sic)e de não-contestação da ação executiva, quan-do então estaria autorizado o julgamento ime-diato do pedido independentemente de consul-ta. De qualquer modo, a apreciação de todosesses temas, com exceção das condições daação, dar-se-ia apenas “por ocasião do sanea-dor”, mas não “no saneador”. Vidigal tambémpronunciou-se favoravelmente ao julgamentode mérito no “saneador”, vez que o Código nãoadotara, em seu entender, “o sistema da orali-dade em sua pureza”48.

Entretanto, reitere-se: ressalvado o caso da“preliminar de mérito”, não prevalecia o en-tendimento favorável ao julgamento do pedidoquando do “saneador”.

Brasília a. 34 n. 134 abr./jun. 1997 147

VI - O conteúdo do saneamento noprocesso civil brasileiro atual

16. O Código de 73 adicionou às hipótesesprevistas no diploma anterior a possibilidadede, em tal momento, o juiz já conhecer do mé-rito da causa – não só quando houver revelia(como era no Decreto-Lei nº 960/38), comotambém se os elementos constantes dos autos jálhe permitirem a formação de convencimento.

Essa inovação deu-se, mais uma vez e as-sumidamente, por influência do direito portu-guês49. A previsão do inciso I do art. 330 temteor bastante semelhante ao do dispositivo dodiploma português que autoriza o julgamentodo mérito por ocasião do “saneador”.

17. Examinem-se sumariamente essa e asdemais hipóteses de julgamento imediato domérito nessa fase do processo.

17.1. Questão unicamente de direito – a quese refere o art. 330, I, para autorizar o julga-mento “antecipado da lide” – não existe. Sem-pre haverá fato subjacente ao direito. A únicaexceção que normalmente se aponta está noexame direto de constitucionalidade. Mas, mes-mo nesse caso, pode haver maior ou menorcarga de questão fática a se verificar (pense-se,por exemplo, na argüição de inconstitucionali-dade por defeito formal – quando é possívelhaver investigação de fatos atinentes ao pro-cedimento de que resultou o ato). Então, ques-tão unicamente de direito é aquela em que osaspectos fáticos direta ou indiretamente rele-vantes são incontroversos, pacíficos e o juiz nãoverifica nenhum aspecto que objetivamente oleve a duvidar de sua veracidade a ponto deprecisar determinar provas de ofício – resumin-do-se a discussão entre as partes às decorrênci-as jurídicas de tais fatos.

Já a outra hipótese constante do inciso I doart. 330 (quando, a questão de mérito “sendode direito e fato, não houver necessidade deproduzir prova em audiência”), diz respeito aoscasos em que a prova já trazida para os autos(que, em regra, até esse momento, será apenasa documental) já é suficiente para o julgamen-to do mérito. Obviamente, havendo só a neces-sidade de perícia – embora esse meio probató-rio não se “produza em audiência” necessaria-mente –, do mesmo modo descaberá o “julga-mento antecipado”.

Assim, os dois casos constantes do inciso I(e, como se verá a seguir, também o do inciso

II) recaem em uma mesma hipótese: desneces-sidade de produção de novas provas. Por isso,não é de todo apropriado o nome “julgamentoantecipado” – como também não o é a expres-são “julgamento conforme o estado do proces-so”. Transmitem a falsa impressão de que oato decisório estaria ocorrendo antes de seumomento oportuno, “abortando a caminhadaem direção à sentença final”50. Não é o que sedá: decide-se porque não há mais o que ser fei-to; porque tudo o que era necessário para a for-mação da convicção do julgador já está nosautos.

17.2. A outra hipótese em que se autoriza ojulgamento direto do mérito (art. 330, II) con-cerne à revelia em que se produza seu efeitoprincipal (previsto no art. 319). É decorrênciadireta do regime estabelecido para a revelia, apartir do Código de 73 – com a regra geral dapresunção de veracidade dos fatos afirmadoscontra o revel. Então, não é mais do que espe-cificação da diretriz genérica estabelecida noinciso I do art. 330: julga-se nesse momentovez que não existem questões de fato contro-vertidas.

Bem por isso, a norma do inciso II do art.330 está diretamente relacionada com a “pro-vidência preliminar” do art. 324 do CPC, pelaqual, tendo havido revelia, cumpre ao juiz ve-rificar a ocorrência do seu efeito principal. Emcaso negativo, possibilitará ao autor a produ-ção de provas51.

Afinal, nem sempre à revelia correspondea produção de seu efeito principal. A ausênciade contestação do réu validamente citado nãogerará essa eficácia: (I) se litisconsorte passivocontestar e a defesa dele servir para o revel;(II) se o litígio versar sobre direitos indisponí-veis; (III) se a inicial não estiver acompanhadade instrumento “substancial” (art. 320). Ain-da, além das expressamente previstas no art.320 do CPC, há outras hipóteses sistematica-mente extraíveis em que não opera o efeito prin-cipal da revelia: assim, por exemplo, art. 9º,II, c/c art. 302, parágrafo único; art. 52, pará-grafo único; art. 129.

Em todos esses casos, só se autorizará jul-gamento imediato do mérito se, a despeito danão-ocorrência do efeito da revelia, o caso con-creto se enquadrar na hipótese genérica do in-ciso I do art. 330. Também não ficará afastada,obviamente, eventual extinção do processo nostermos do art. 329 (desde que o motivo que aenseje seja conhecível de ofício).

Revista de Informação Legislativa148

Além disso, não se pode esquecer que a re-velia tem por efeito a presunção relativa dosfatos afirmados pelo autor. A consideração defatos notórios, máximas da experiência, juízosde probabilidade podem derrubar essa presun-ção. Por isso, tem-se reconhecido que “nemmesmo a revelia impede a atividade probatóriado juiz”52.

Mas a revelia, mesmo quando não se ca-racterize uma das exceções à ocorrência de seuefeito principal, não impõe necessariamentejulgamento de mérito a favor do autor, se: (a)dos fatos narrados na inicial não resultam asconseqüências jurídicas pretendidas pelo autor;(b) os fatos alegados são manifestamente fal-sos ou impossíveis (repita-se: a presunção doart. 319 é relativa); (c) há matérias, contráriasao autor, que o juiz pode conhecer de ofício(pressupostos processuais e condições da açãoe, quanto ao mérito, as objeções: decadência,prescrição de direitos indisponíveis, pagamen-to etc.). Nesse último caso, tais matérias tantopodem estar de plano evidenciadas nos autos,quanto delas pode haver algum marcante ele-mento indicativo – justificando-se então atéprovidência probatória de ofício.

E – eis o que interessa para o presente texto– o julgamento de mérito contrário ao autorpode eventualmente até se dar na fase do jul-gamento conforme o estado do processo, nostermos do art. 329, c/c art. 269, IV (prescriçãoquanto a direitos indisponíveis e decadência emqualquer caso), ou do art. 330, I. As hipótesesindicadas em a e b, imediatamente acima, en-quadram-se exatamente no disposto no incisoI do art. 330. E o mesmo pode se dar no quetange ao mencionado em c, acima, quando des-necessária produção probatória.

Além disso, mesmo quando se produz o efei-to principal da revelia, o revel pode compare-cer tardiamente ao processo, recebendo-o nasituação em que se encontra e passando a serintimado de seus atos. E, desde que ingresseno processo antes de proferida a sentença, po-derá apresentar as defesas processuais e mate-riais que o juiz conheceria de ofício e fazer pro-va quanto a elas, bem como contrapor provaàquela produzida pelo autor. Portanto, e tam-bém nessa hipótese, eventualmente ficará afas-tado o julgamento imediato do mérito.

17.3. Em suma, o pressuposto geral e ina-fastável nas três hipóteses autorizadoras do jul-gamento antecipado é a desnecessidade da pro-dução de qualquer outra prova.

18. Precisamente por isso, há vasta juris-prudência dos tribunais de segundo grau de-clarando nula sentença proferida em “julga-mento antecipado”, por considerar que aindahavia a necessidade de produção de provas.Desse modo, não há que se falar em “discricio-nariedade” do julgador quanto a julgar ou nãoantecipadamente. Seu “livre convencimento”não serve de obstáculo ao reexame, pelo segun-do grau, dessa opção. Só poderá conhecer dire-tamente do mérito, nessa fase, se objetivamen-te estiverem presentes todos os elementos ins-trutórios necessários.

Mas, dessa constatação, nem sempre se ex-trai sua outra face. Se é objetivamente verificá-vel a impossibilidade do “julgamento anteci-pado” (com a cassação da sentença proferidaquando havia necessidade ainda de provas),também há de sê-lo o inverso – ou seja, quan-do, embora já não seja necessária qualquer pro-va, deixa-se de conhecer diretamente do méri-to nessa fase do processo53. Evidentemente, emtermos práticos, talvez nem sempre os litigan-tes consigam ou queiram valer-se do controlerecursal: o resultado do agravo de instrumentocontra a decisão que determinou proferir pro-vas pode vir a ocorrer só depois de finalizada afase probatória; a parte pode não querer insis-tir no “julgamento antecipado”, temendo queo resultado lhe desfavoreça etc. De qualquermodo, não se pode ignorar o aspecto ora des-tacado.

19. Também o art. 329, ao tratar “da extin-ção do processo” nessa fase do procedimento,prevê hipóteses em que tal ocorrerá “com jul-gamento de mérito” (art. 269, II a V). Nessescasos, todavia, não se tratou de especial inova-ção (v. item V, acima).

A exemplo do que já ocorria sob a égide doCódigo de 39, os atos de disposição das partes(art. 269, II, III e V), independentemente dequando ocorrem, hão de ser imediatamenteexaminados e, se perfeitos, chancelados. OCódigo atual expressamente previu que a ho-mologação se dará por meio de sentença (e,portanto, apelável) “de mérito”. Questão queescapa do objeto desse trabalho é examinar sea autoridade da coisa julgada acobertará essepronunciamento.

Já a previsão de extinção com base na pres-crição e decadência há de ser considerada emharmonia com o regime geral do “julgamentoconforme o estado do processo” – cuja tônicaestá na função (dever-poder) de o juiz decidir

Brasília a. 34 n. 134 abr./jun. 1997 149

nesse momento tudo o que, com base nos ele-mentos instrutórios já carreados, seja possível.Como a prescrição e a decadência são matériasgeralmente conhecíveis de plano, o art. 329indicou-as sem qualquer ressalva (não houves-se o preceito, se enquadrariam, na generalida-de dos casos, na hipótese do art. 330, I, primei-ra parte). Mas, ainda que raro, pode ser neces-sária investigação probatória para determinar-se, por exemplo, quando efetivamente se deu otermo inicial do prazo prescricional ou deca-dencial. Nesse caso, e por óbvio, afasta-se aextinção com amparo no art. 269, IV.

20. É possível “extinção parcial” do pro-cesso, com ou sem julgamento de mérito? Maisdo que resposta positiva ou negativa, a soluçãodo problema passa pela consideração acerca dequal seria a natureza da decisão, sua recorribi-lidade, eficácia e autoridade (coisa julgada,preclusão).

20.1. Moniz de Aragão afirma generica-mente que seria possível “extinção parcial”,tanto por força de causas previstas no art. 267,quanto no art. 269 (exemplifica com a prescri-ção de parte do crédito). Caberia recurso deagravo54. Não aborda o problema da autorida-de dessa decisão – problemática, sobretudo,quando por motivo de mérito.

Para Frederico Marques, quando houver“processo cumulativo” e o juiz declarar inad-missível (questão preliminar) algum(ns) dos“litígios” (sic), não se encerra nenhum proces-so. Invoca o art. 317 como argumento: o pre-visto para a reconvenção se aplica às demaiscumulações. Assim, tal decisão não será sen-tença. O recurso cabível é o de agravo. Agora,no “processo cumulativo”, o juiz não pode de-cidir antecipadamente um ou algum(ns) dos“litígios”, deixando os demais para a sentençaa ser proferida no final. Inclui nessa negativaaté a hipótese de “extinção parcial” por deca-dência ou prescrição: se isso fosse admissível,eventual apelação suspenderia o processo e “se-ria absurdo” entender-se que, nesse caso, o re-curso cabível é o agravo de instrumento. Talsituação, segundo Marques, contrariaria o prin-cípio da economia processual, em que se inspi-ra o art. 33055.

Pontes de Miranda parece não admitir ojulgamento imediato parcial do mérito56. Tam-bém nesse sentido, há pronunciamentos doSupremo Tribunal Federal (RTJ nº 119/1235,RTJ nº 75/274 – nesse segundo, consigna-seser “preferível” o julgamento não-fracionado).

Calmon de Passos vai além na rejeição dejulgamento parcial do mérito. Seria inadmissí-vel até mesmo decisão que repelisse por com-pleto a argüição de prescrição. Nenhum examefracionado de mérito seria possível nessa fasedo processo – o que aconteceria caso se rejei-tasse a alegação de prescrição, sem que se pros-seguisse no exame direto do pedido. Quanto aisso, para o processualista baiano, o atual di-ploma permitiria menos do que o anterior: noantigo “saneador”, eram examináveis todas aspreliminares (mesmo de mérito); no sistemaatual, “só se autoriza o julgamento antecipadode mérito ou a extinção sem julgamento domérito; não o exame de todas as prelimina-res”57.

20.2. O afirmado por Calmon de Passos nãoparece correto. Não bastasse a expressa previ-são da possibilidade de rejeição da prescriçãoou decadência nessa fase (art. 331, parte inici-al, c/c art. 329, c/c art. 269, IV), não se põe,em tal caso, nenhum dos óbices que se indi-cam ao provimento parcial do mérito nessa fase(quanto à eficácia do recurso e quanto à autori-dade da decisão).

Quanto à “extinção parcial” sem julgamentode mérito – como se viu –, não são postos mai-ores óbices à sua admissibilidade.

Ora, isso é o que basta para não se poderinvocar a letra da lei como argumento contrá-rio ao julgamento imediato parcial de mérito,em qualquer caso, no “saneador”. Afinal, se a“extinção parcial” sem julgar mérito é possí-vel, embora o art. 329 não a preveja expressa-mente (referindo-se apenas ao processo comoum todo), o exame direto de parte do mérito,nessa fase, também há de sê-lo, a despeito de oart. 330 não explicitar essa possibilidade. Nes-se ponto, é de se aproveitar a doutrina portu-guesa a respeito do tema: o objetivo da fasesaneadora é precisamente diminuir a matériaobjeto da cognição do juiz, na continuidade doprocesso, estritamente àquilo que ainda não seestá em condições de decidir (v. acima – III.2).Aliás, no Brasil nem mesmo existe o pro-blema apontado por Anselmo de Castro, parao processo português, de se diferenciarem osórgãos que julgariam o mérito (v. III.2): omesmo órgão que conduz o processo proferea sentença.

Aspectos atinentes à eficácia, recorribilida-de e autoridade não atrapalham tal conclusão.

A eficácia da decisão parcial de mérito nocurso do processo ficará condicionada à da

Revista de Informação Legislativa150

sentença final: até lá é possível o exame de ques-tões de ordem pública pertinentes inclusive aessa parte do objeto do processo.

Não há que se falar, desde logo, em coisajulgada do provimento relativo a parte do mé-rito. Afinal, a decisão não será sentença: o res-tante do processo prosseguirá. Vale aqui o mes-mo raciocínio pelo qual a decisão extintivaparcial sem julgamento de mérito não é sen-tença (vede, acima, as lições de F. Marques eM. de Aragão). Haverá apenas preclusão – e,ainda assim, limitada (v. adiante): não mais serápossível reexame do tema (salvo em recurso),a não ser que tenha sido desconsiderada ques-tão conhecível de ofício. Depois, com a sen-tença, desde que não abalada a anterior deci-são parcial do mérito, advirá a coisa julgada:nesse caso, o comando da sentença automati-camente incorpora o anterior decisum parcialsobre o mérito.

Quanto à recorribilidade da decisão parci-al do mérito, caberá agravo – que não tem, au-tomaticamente, efeito suspensivo. Não se põe,então, o óbice apontado por F. Marques, de queseria contrariada a economia processual, namedida em que a parte ainda não decidida doprocesso permaneceria suspensa enquanto pen-desse “apelação” (sic) referente à parcela deci-dida58. Afinal, repita-se, a solução ora aponta-da quanto ao problema recursal é exatamente amesma que concebe o próprio Marques quan-do trata da recorribilidade da decisão que “ex-tingue parcialmente” o processo sem julgar omérito: em ambos os casos, não será sentença– mas sim decisão interlocutória (o conteúdode mérito é irrelevante nos termos do art. 162do CPC). Note-se, de outra parte, que a faltade eficácia suspensiva do recurso de agravotampouco significa a possibilidade de imedia-ta execução da decisão. Como se expôs, suaeficácia fica condicionada à da sentença final.Agora, o que não se descarta é que, nesse mo-mento, conceda-se antecipação de tutela, sepresentes os requisitos (lembre-se que um de-les – o da grande plausibilidade do direito – jáestará mais do que satisfeito): daí sim, e dentrodos limites desse instituto, vai-se poder falarem eficácia imediata.

21. A extinção do processo sem julgamen-to de mérito, por falta de pressupostos proces-suais e condições da ação (art. 267, IV, V eVI), ou com o seu julgamento, mediante a chan-cela de atos de disposição (269, II, III e V) oupelo acolhimento de prescrição de direitos in-

disponíveis ou decadência (art. 269, IV), pode-se dar a qualquer tempo, antes ou depois dafase de “julgamento conforme o estado do pro-cesso”. Tirando a hipótese dos atos de disposi-ção (que as próprias partes haverão de noticiarao juiz), nas demais haverá exame ex officio(art. 267, § 3º, e art. 295, IV, c/c art. 219, § 5º,a contrario sensu).

O mesmo se diga quanto à verificação denulidades. O juiz exerce constante atividadesaneadora. As nulidades absolutas o juiz exa-minará de ofício e a qualquer tempo. Mas mes-mo as relativas, desde que alegadas na primei-ra oportunidade pela parte interessada, serãologo apreciadas pelo juiz – que não ficará limi-tado a tratar delas apenas na fase de saneamentoou na sentença.

Há, reitere-se, saneamento constante doprocesso. Eis aspecto essencial no sistema doCódigo de 73. Trata-se de concepção que nãoprevalecia na vigência do Código de 39, embo-ra preconizada por autorizada doutrina. Con-siderava-se geralmente o “despacho saneador”como o momento oportuno e único para o exa-me da regularidade do processo, excetuando-se, quando muito, a possibilidade de expressaindicação de que o tema seria tratado na sen-tença final (v. item 5, acima). Tal peculiarida-de, de certo modo, muda o perfil da fase sane-adora: essa é, no atual Código, a ocasião espe-cialmente reservada para a atividade de verifi-cação da validade formal do processo – masnão o único momento em que se autoriza essaatividade. Enfim, a fase saneadora, diferente-mente do que se entendia sob a égide do diplo-ma anterior, não é uma ilha de poderes do juizdentro de um mar de dispositividade.

22. Mas a ampla concessão de poderes aojuiz tem sua contrapartida: a exigência de “di-álogo com as partes”.

É por isso que, constatando o próprio juiz aeventual existência de vícios processuais ati-nentes a matéria de ordem pública ou “obje-ções materiais” (defesas materiais indiretasexamináveis de ofício), antes de decidir acercadelas, deverá propiciar o exercício do contra-ditório. Assim, parecendo-lhe ausente pressu-posto processual ou condição da ação ou exis-tente alguma objeção material, caberá ouvir oautor. Trata-se do “dever de diálogo” do juizpara com as partes, modernamente ressaltadocomo o próprio contraditório em sua dimensãomais plena: não se justifica que as partes sejamsurpreendidas por decisões de ofício acerca de

Brasília a. 34 n. 134 abr./jun. 1997 151

matéria sobre as quais, até então, não haviamdesenvolvido alegações59. Isso vale para qual-quer momento do processo, inclusive para suafase saneadora. Portanto, também nessas hipó-teses – e não só nos casos dos arts. 326 e 327(em que se cogita de matéria alegada pelo réu)– o juiz abrirá vista do processo para o autor. Écerto que, não se subsumindo exatamente àshipóteses dos arts. 326 e 327, o prazo para oautor falar não será automaticamente aquelede dez dias. O juiz fixará o termo para a mani-festação e, no seu silêncio, valerá o prazo geralde cinco dias (CPC, art. 185).

23. Aliás, outra hipótese de ouvida do au-tor, depois da contestação, haverá quando o réujuntar documentos com a contestação (art. 398– prazo de cinco dias).

De outra parte, e também por força do art.398, se o autor, nas manifestações de que tra-tam os arts. 326 e 327, traz novos documentos,ouve-se igualmente o réu.

Há o perigo, “teoricamente”, de haver uma“seqüência dialética indefinida”, em virtude desucessivas juntadas de documentos. Esse riscofoi destacado, já no início da vigência do Códi-go de 73, por Malachini – que apontava comoforma de evitá-lo a rigorosa observância dosmomentos próprios para a produção de provadocumental (a inicial e a contestação). Depoisdesses atos, só poderiam ser trazidos novosdocumentos aos autos nas hipóteses taxativasdo art. 397, ou seja, para realização de contra-prova ou prova de fatos novos60. Ocorre que, adespeito de a posição doutrinária restritiva àjuntada tardia de prova documental ter sido adominante de início (como então notava Mala-chini), não foi esse o entendimento que preva-leceu concretamente. Estabeleceu-se de formamarcante a tendência jurisprudencial de não-preclusão em virtude da falta de juntada aosautos da prova documental no momento opor-tuno. Inclusive, passou a se ter por “indispen-sável” – cuja ausência não-suprida acarretariao indeferimento da inicial (arts. 283 e 284) –apenas o documento “substancial” – ou seja,aquele que a própria lei prevê como essencial àforma do ato, a ponto de integrar-lhe a própriasubstância. Os outros vêm podendo ser apre-sentados depois, no curso do processo61. Ade-mais, também “teoricamente”, não fica afasta-da a hipótese de infinitas e sucessivas ouvidasdas partes mesmo que só admitida a juntadatardia de documentos nos limites estritos doart. 397: em tese, poderia haver reiteradas “con-traprovas” de parte a parte. Seja como for, a

prática desses mais de vinte anos evidenciounão ser comum a ocorrência dessa “seqüênciadialética indefinida” – de modo que o supostorisco acaba por não justificar a rejeição da “ten-dência não preclusiva” quanto aos documen-tos (de resto, amparada nas normas do livreconvencimento e dos poderes probatórios – arts.130 e 131). Mas, ainda assim, se, em situa-ções-limite e absolutamente excepcionais, sur-gir tal círculo vicioso, daí então o juiz haveráde fazer cessá-lo. E tal providência, nessa hi-pótese remota, não se dará tanto com base nasregras atinentes ao momento de produção daprova documental, mas por força do preceitoque impõe ao juiz o dever de zelar pela rápidasolução do processo (art. 125, II). Haverá de seponderar concretamente dois valores igualmen-te relevantes em abstrato – a pesquisa da ver-dade e a exigência de celeridade – para definiro que prevalecerá.

24. Discute-se, ainda, se o silêncio do au-tor, quando intimado para se manifestar sobredefesa indireta, acarretaria efeito semelhanteao da revelia, vale dizer, a presunção dos fatosafirmados pelo réu. Prevalece o entendimentode que não62. Até certo ponto, essa respostanegativa parece acertada: é inviável o estabe-lecimento dessa conseqüência desfavorável nafalta de expressa cominação.

Mas o silêncio do autor pode funcionarcomo fato indicativo, subsídio para a formaçãodo convencimento do juiz. É a consideração daconduta das partes no processo como elementoprobatório. Na Itália, há expressa previsão le-gal (CPC, art. 116, segunda parte). O Códigobrasileiro não explicita essa regra, mas ela éextraível do seu art. 131 (que, aliás, tem teorsemelhante ao da primeira parte do art. 116 dodiploma italiano)63. Assim, e na medida em quese relativiza o efeito principal da revelia (v.acima), aproximam-se as conseqüências em ume outro caso. A diferença básica está em que arevelia é presunção legal; a falta de réplica,presunção “comum” (que, ainda mais do queaquela estabelecida no art. 319, muito dependedas circunstâncias concretas). Ambas, de qual-quer forma, são presunções relativas. A isso,some-se a previsão de que “não dependem deprova os fatos admitidos, no processo, comoincontroversos” (art. 334, III) – no que se en-quadra a hipótese em exame. Seja como for,mesmo sob essa ótica, não fica excluído o “prin-cípio da livre e fundamentada apreciação dasprovas pelo juiz” (como concluiu o STF emrelação a outra das hipóteses previstas no art.

Revista de Informação Legislativa152

334 – RTJ 99/144). Em conclusão: o silênciodo autor, quando lhe é dada a oportunidade dereplicar a defesa material indireta, pode funci-onar como subsídio para a conclusão acerca daveracidade dos fatos que embasam tal defesa64

– se o contrário não for extraível dos autos ounotório (nos moldes acima apontados para oefeito da revelia). Mas, enquanto elemento in-dicativo autorizador de presunção, há de serinvocado pelo julgador só depois que esgota-dos meios mais diretos e idôneos para a forma-ção do convencimento sobre os fatos da causa.

25. Além disso, antes de cogitar da extin-ção do processo, tem de ser verificado se não ésanável o defeito existente. Por isso, obviamen-te, a imposição do art. 227, parte final, precedea da extinção (sem ou com julgamento de mé-rito). E isso vale igualmente para o “julgamen-to antecipado”, que também é antecedido peloexame da presença dos pressupostos de admis-sibilidade para pronunciamento sobre o méri-to. Assim, “verificando a existência de irregu-laridades ou nulidades sanáveis, o juiz manda-rá supri-las, fixando prazo nunca superior atrinta dias”.

Cabe rápido exame da natureza desse pra-zo e das conseqüências do descumprimento dasmedidas que nele deveriam ser tomadas.

No que tange ao autor, a falta de instru-mento de mandado para o advogado, não su-prida nos termos do art. 37, parágrafo único,acarreta a inexistência do(s) ato(s) praticado(s)pelo profissional. Sendo a própria inicial o atoque se praticou sem procuração (o mais prová-vel nesse momento do procedimento), reflexa-mente faltará pressuposto da própria existên-cia do processo: a demanda. Nas hipóteses deque trata o art. 13 do CPC65, em caso de inérciado autor, haverá “a nulidade do processo” (art.13, I) – vale dizer, a extinção do processo porfalta de pressuposto para seu regular desenvol-vimento66. Também o parágrafo único do art.47 traz regra expressa sobre o tema: extingue-se o processo quando não for promovida a cita-ção de litisconsorte necessário no prazo assi-nalado. Já os casos sem disciplina específica,em que o prosseguimento do processo dependada regularização do defeito, serão regidos di-retamente pelo art. 267, III, e §1º: intima-se oautor por meio do advogado; não se proceden-do à regularização no prazo ali mencionado(trinta dias – que não se confunde com o prazoque o juiz dará para regularizar a situação,eventualmente menor), a própria parte autora

será intimada para suprir a falta em 48 horas,sob pena de extinção do processo.

Ao réu, sua inércia, na hipótese de que tra-ta o art. 13 (corrigir defeito na representação ecapacidade), importará em revelia (art. 13, II).A inexistência de mandado para seu advoga-do, se não suprida nos termos do art. 37, pará-grafo único, acarretará a inexistência do atopraticado sem procuração (sendo a própria con-testação, haverá revelia).

A providência a se tomar, para a regulari-zação do processo, pode ainda incumbir ao pró-prio órgão judicial (ex.: verifica-se incompe-tência absoluta, com a necessidade de remessados autos ao juízo competente). Daí, então, nãohá prazo próprio, preclusivo. A demora no cum-primento da providência deverá trazer conse-qüências administrativas, e não processuais.

26. Moniz de Aragão descarta a “tese deque o juiz deve necessariamente pronunciar-se” sobre condições da ação e pressupostos pro-cessuais, por ocasião do saneamento. A seguir,contudo, destaca que, “se o tema... já estivermaduro”, o magistrado tem o dever de exami-ná-lo – e indica decisões nesse sentido (RT 548/89 e 507/147)67. Vale aqui o já exposto acima,ao se tratar da função que desempenha o juizao definir se julga ou não imediatamente omérito da causa na fase saneadora. Não há dis-cricionariedade: cabe ao juiz examiná-las, sepresentes os elementos instrutórios para tanto.

Adiante, vai-se tentar definir o conjunto deconseqüências dessa constatação.

27. Antes, tem de se tratar de problema re-lacionado com tais decorrências: a eficácia pre-clusiva da decisão que declara saneado o pro-cesso.

O próprio Moniz de Aragão, examinandoas diferenças da disciplina de saneamento doprocesso no Código de 73 em relação ao de 39,ressalta a inexigência de pronunciamento ex-presso acerca das condições da ação e pressu-postos processuais, senão quando o juiz consi-dere ser o caso de extinção do processo. Ade-mais, pressupostos processuais e condições daação são apreciáveis de ofício e em qualquergrau de jurisdição (CPC, art. 267, § 3º). Daíque é impossível adotarem-se os mesmos pa-drões de interpretação empregados sob a égidedo Código anterior68.

Mas se há, por um lado, a constatação dainviabilidade de simplesmente se adotarem ospadrões então majoritariamente aceitos, não sechega, por outro, a fácil conclusão sobre qual o

Brasília a. 34 n. 134 abr./jun. 1997 153

exato regime preclusivo da decisão de sanea-mento no sistema atual, no que concerne àsquestões de ordem pública. Faz prova dessadificuldade a imensa quantidade de opiniõesautorizadas sobre o tema. Confiram-se algu-mas delas, apresentadas, dentro do possível, naordem decrescente da extensão de preclusão quereputam advir da decisão declaratória de sane-amento.

27.1. Segundo Barbosa Moreira, o profe-rimento do “despacho saneador” significa que,independentemente de expressa menção, foramdescartadas as hipóteses de extinção do pro-cesso com ou sem julgamento do mérito e dejulgamento imediato do pedido. Em decorrên-cia, tal decisão, se não agravada, tem eficáciapreclusiva não só quanto aos temas expressa-mente abordados, mas quanto aos que, conhe-cíveis de ofício ou tendo sido suscitados, nãoforam decididos. E não há nisso nenhuma “de-cisão implícita”, mas a tão-só impossibilidadede apreciação posterior (ao que parece, Barbo-sa Moreira não concebe aí “preclusão consu-mativa”, mas “por fase do processo”). Excluí-das dessa preclusão ficam apenas a possibili-dade de deferimento de prova antes indeferida(por força do art. 130) e outras questões paraas quais haja autorização de resolução posteri-or (ex.: art. 113, caput, e parte final do pará-grafo único do art. 245)69.

Lauria Tucci consigna que, havendo deci-são expressa e não interposto agravo, não sepode redecidir. Em outra passagem, dá a en-tender que mesmo as questões não decididasexpressamente não poderiam mais ser analisa-das depois da declaração de saneamento70.

Para Calmon de Passos, havendo expressadecisão sobre o tema e não interposto o agra-vo, opera-se preclusão tanto para o juiz de pri-meiro grau quanto para o tribunal. Mas, “quan-do o juiz declara saneado o feito, sem resolverquestões, porque não provocado a decidir emface de controvérsias das partes”, não haverápreclusão apenas para o segundo grau. Contu-do, e a seguir, apresenta uma série tal de res-salvas e exceções que praticamente dizimam aregra geral proposta. Assim: em face dos pres-supostos de existência do processo, não se háde falar em preclusão; a incompetência abso-luta, se não suscitada nem expressamente abor-dada no “saneador”, não fica acobertada porpreclusão, em virtude de regra exceptuadoracontida no art. 113, § 1º; atos praticados noprocesso por pessoa sem capacidade postulató-

ria ou por advogado sem procuração, posto queinexistentes, também não são atingidos porqualquer eficácia preclusiva; idem quanto àinépcia da inicial por falta de pedido ou causade pedir e à intervenção do Ministério Público;a litispendência e a coisa julgada só ficam atin-gidas pela preclusão quando a decisão aborda-as expressamente – e por aí afora. Quanto àscondições da ação, expressamente as enquadrana sua formulação geral acerca da preclusão71.

Frederico Marques, por sua vez, diz que hápreclusão quando, suscitada ou não a questãopela parte, sobre ela explicitamente decidir ojuiz e não se agravar. O mesmo se dá se, embo-ra expressamente suscitada a matéria pela par-te, o juiz não a abordar, mas der por saneado oprocesso, e a parte não agravar: tratar-se-ia dedecisão implícita. Por outro lado, para Mar-ques não há preclusão quando, mesmo sendo afalta do pressuposto processual ou condição daação anterior ao saneamento, não é apontadapela parte nem pelo juiz72.

Malachini, conquanto antes condene o “au-tomatismo preclusionista” da antiga doutrina(expressão de Galeno Lacerda a que se repor-ta), afirma concordar integralmente com o en-tendimento de F. Marques, que – já se viu –acolhe a tese da “decisão implícita”, ainda quelhe dê extensão menor. De outra parte, adere,basicamente nos mesmos termos, à tese da de-cisão implícita no que tange à prescrição (emqualquer caso) e à decadência: havendo reque-rimento do réu a respeito, se o juiz silencia, hárejeição implícita – cabendo o agravo para quese afaste a preclusão73.

Segundo Bermudes, quando “o juiz simples-mente ignora a existência de questões proces-suais pendentes e, sem nada declarar quanto aelas ou quanto à regularidade do processo,”prepara a instrução probatória, não há decisãoimplícita – não se podendo falar em preclusão.Quando o juiz expressamente decide essas ques-tões, haveria “preclusão só para a parte”, casonão agravasse. Dá a entender que isso tambémocorreria quando, embora sem apreciar expres-samente as questões processuais, o juiz decla-rasse saneado o processo e a parte não interpu-sesse embargos de declaração nem agravo. Aseguir, contudo, destaca que essa preclusão nãose estende nem ao juiz nem ao tribunal, que,independentemente de recurso e por força doart. 267, § 3º, podem rever a decisão74.

Manoel Caetano Ferreira Filho consideraque, quanto às questões não abordadas na de-cisão, não haveria nenhuma preclusão. Não

Revista de Informação Legislativa154

existe decisão implícita. Tampouco o sanea-mento, em face do art. 267, § 3º, pode aindaser considerado a única ocasião em que o juiztem para decidir sobre pressupostos processu-ais e condições da ação. Já as decisões expres-samente decididas, não interposto o agravo, nãopoderiam ser redecididas pelo juiz de primeirograu. A autorização para decidir a qualquertempo não se poderia confundir com permis-são para redecidir – vedada, salvo expressa au-torização legal, pelo art. 471, caput. Mas a regrado art. 267, § 3º, serviria ainda para possibilitarao tribunal (inclusive os superiores) examinar amatéria, mesmo de ofício, por ocasião de julga-mento de recurso sobre outro tema da causa: nessecaso, não estaria havendo reexame, mas verifi-cação inédita em novo grau de jurisdição75.

Porém, parece prevalecer vertente mais fle-xível.

Moniz de Aragão escreve que, se já era dis-cutível a extensão que se deu ao efeito preclu-sivo do “saneador” no Código de 39, no novodiploma nem há o que se discutir. Não só ficadescartada a preclusão pela via implícita, comopode o juiz rever seu anterior juízo positivoacerca da presença dos pressupostos processu-ais e condições da ação, caso entenda haver-seequivocado no primeiro exame. Cita ainda de-cisão do Supremo, pela qual: “não há preclu-são para o juiz” quanto à matéria (RTJ 101/901). O juiz não fica na dependência do agra-vo para reexaminar o tema76.

Também para Cruz e Tucci, o juiz pode re-apreciar as questões cognoscíveis de ofício, in-dependentemente de agravo. Apresenta apa-nhado da doutrina e decisões retratando os vá-rios entendimentos acerca do tema e procuradestacar a tendência jurisprudencial no senti-do da negativa da preclusão77.

Negando o caráter preclusivo da decisãodeclaratória de saneamento, mesmo que expres-sa acerca das condições da ação e pressupostosprocessuais, podem ainda ser mencionados:Ovídio Baptista da Silva, Greco Filho e L. R.Wambier78. Ainda, no Simpósio de Curitiba em1975, concluiu-se que não preclui a decisão quedeixa de declarar extinto o processo (concl. XV,RT 482/271). Em termos mais amplos, no VIEncontro Nacional dos Tribunais de Alçada,foi aprovada a proposição de que, mesmo ha-vendo decisão explícita, no que tange às con-dições da ação, não há preclusão (concl. 9). Porfim, sejam vistas também as notas 11, ao art.331, e 55, ao art. 267, no CPC de Negrão – que

indicam diversas decisões também nesse sen-tido.

27.2. Conclui-se esse ponto do texto nosseguintes termos.

De uma parte, há de se rejeitar a tese dadecisão implícita. Em nenhuma hipótese, ques-tão não-examinada pela decisão declaratória desaneamento (ou por qualquer outra) pode-seconsiderar implicitamente rejeitada. A idéia dedecisão implícita é incompatível com a garan-tia constitucional de fundamentação das deci-sões (art. 93, IX). Se é absolutamente nula adecisão que não traz suas razões, o que dizerda rejeição de tema sem qualquer apreciação?E o argumento de Barbosa Moreira (de que nãose trataria de decisão implícita, mas apenasestaria vencida a possibilidade de exame dotema) em nada atenua o problema. Não impor-ta o nome que se dê ao fenômeno. Interessa éque, a valer a tese, ter-se-á a rejeição de alega-ção da parte sem sua efetiva apreciação. Ora, anulidade absoluta da decisão não-fundamenta-da não se convalida pela falta de recurso. Igual-mente, a falta de agravo não legitimaria a su-posta automática rejeição da questão não-exa-minada na decisão de saneamento.

Além disso, também parece acertado afir-mar que a questão sobre os pressupostos dadecisão de mérito (pressupostos processuais econdições da ação), ainda que expressamenteexaminada, pode tornar a ser decidida, inclu-sive no mesmo grau de jurisdição e indepen-dentemente de recurso. Não se pode extrair doart. 267, § 3º, regra que autorizaria apenas adecisão de ofício a qualquer tempo e em qual-quer grau, mas não a redecisão. Compare-seesse dispositivo com o do art. 130 (autorizadorda produção de provas de ofício) – que juris-prudência e doutrina (inclusive autores quenegam a possibilidade de redecisão das condi-ções da ação e pressupostos processuais – v. aseguir) entendem permitir ao juiz que decidanovamente acerca de prova antes indeferida.Também esse dispositivo não faz menção ex-pressa à autorização de nova decisão sobre otema, sem que se deixe de extrair-lhe tal senti-do. Tanto nessa hipótese como na dos pressu-postos processuais e condições da ação, está-sediante de matéria que diz respeito à própriaatividade jurisdicional – justificando-se igualtratamento.

O que se disse até aqui vale para todas asquestões processuais usualmente denominadas“de ordem pública” (os pressupostos de ad-

Brasília a. 34 n. 134 abr./jun. 1997 155

missibilidade para o julgamento do mérito –“pressupostos processuais” e “condições daação” – e as nulidades absolutas).

Já quanto às questões processuais atinentesao “interesse da parte”, não se põe em dúvidaque a decisão que expressamente as descarta,se irrecorrida, tem plena eficácia preclusiva.Na hipótese em que apenas se declara saneadoo processo, sem apreciação das questões de in-teresse da parte (ou ainda quando nem mesmohá tal declaração), pode-se estabelecer discus-são semelhante à acima noticiada. E, pelo quejá se expôs, há de se negar eficácia preclusivatambém nesse caso. Isso apesar de, então, nãose poder invocar o art. 267, § 3º. O problema éoutro. Reitere-se que a idéia de “decisão implí-cita” é inconciliável com a imposição constitu-cional de fundamentação das decisões (art. 93,IX). Daí que, ainda que houvesse nesse caso“decisão”, seria absolutamente nula por faltade fundamentação – nulidade essa que pode serconhecida a qualquer tempo e em qualquer graude jurisdição (art. 245, parágrafo único, doCPC, c/c art. 93, IX, da CF)79. Portanto, a ques-tão de interesse da parte não apreciada na de-cisão de saneamento poderá ser decidida de-pois, mesmo não tendo havido recurso.

28. Agora, a negação da eficácia preclusi-va em relação aos pressupostos de admissibili-dade para o julgamento de mérito – por reco-nhecer-se que a matéria deve ser decidida (ereexaminada) a qualquer tempo – não signifi-ca que não exista a imposição de que, sempreque possível, essas matérias sejam decididas jána fase saneadora. Reafirme-se o que acima seexpôs: examinar, ou não, essas questões no “jul-gamento conforme o estado do processo” nãose submete ao mero talante do juiz. Havendoelementos para a matéria ser decidida, cum-pre-lhe apreciá-la já na fase saneadora. Ausen-tes, não pode decidir nesse instante. Adiantese retorna ao tema (itens 7 e 8).

29. Quando vigorava o Código de 39, bas-tava o protesto genérico por produção de pro-vas, na inicial e na contestação. O Código de73 pretendeu alterar esse regime, dando-lhemaior rigidez. Em termos taxativos, estabele-ceu-se que a petição inicial e a contestação se-riam os momentos oportunos para a proposi-ção da prova (art. 282, VI, e 300). Os meiosprobatórios haveriam de estar indicados comprecisão já na inicial. Na prática, continuouhavendo apenas o protesto genérico na fasepostulatória (admitido inclusive pelo STF – RTJ

106/157, RT 580/260). Assim, e antes da de-claração de saneamento, tornou-se costume o“despacho de especificação de provas”. É cria-ção da vida forense. Não há sua previsão noCódigo. E a solução da praxe demonstrou ofe-recer maior mobilidade e racionalidade ao pro-cesso. Depois da fase postulatória, as partes têmmelhores condições de saber o que é precisoprovar, o que não está incontroverso – e assimpor diante.

Da admissão do protesto genérico têm-seextraído algumas decorrências. Assim, mesmopara quem não requereu nem genericamenteprovas na inicial ou contestação, admite-se queas requeira depois, por ocasião do “despachode especificação”. Quem já as especificou nainicial não precisa tornar a fazê-lo depois (se-não estaria sendo subvertido todo o procedi-mento fixado em lei: abrandá-lo é concebível;criar sistema que prejudique aquele que cum-pre a letra da lei não). Em suma, nota-se ate-nuação da preclusão em campo probatório80.

30. Por fim, resta examinar a relação entredeferimento e indeferimento de provas e pre-clusão. O juiz pode deferir a prova antes inde-ferida: as normas dos arts. 130 e 131 possibili-tam ao juiz, a qualquer tempo antes de julgar,determinar o desenvolvimento de instruçãoprobatória para que possa formar adequada-mente seu convencimento; mas não pode inde-ferir a prova antes deferida – o que afrontaria asegurança jurídica, que deve prevalecer no cur-so do processo81.

VII - A reforma de 1994

31. A reforma processual de dezembro de1994 inovou substancialmente o regime da fasede saneamento do processo ao incluir audiên-cia em seu bojo (Lei nº 8.952/94).

A audiência de saneamento no processo ci-vil brasileiro (art. 331) difere da preparatóriaportuguesa, bem como da vasta maioria dosmodelos adotados em outros sistemas – não sódaqueles que prevêem tal ato já na fase inicialdo processo, como dos que o estabelecem de-pois da fase postulatória82. Isso porque a audi-ência brasileira sucede ao exame da possibili-dade da extinção do processo e do “julgamentoantecipado”. Quanto a isso, o texto legal é cla-ro: “Se não se verificar qualquer das hipótesesprevistas nas seções precedentes...” (art. 331,caput, parte inicial)83.

Ademais – e em inter-relação com esse

Revista de Informação Legislativa156

primeiro aspecto –, o seu fim essencial é a ten-tativa de conciliação. Apenas secundariamen-te ela tem o escopo saneador e preparador dainstrução. Melhor dizendo: aproveita-se da au-diência, que se teve de realizar com o fito debuscar a conciliação, para discussão da maté-ria atinente ao saneamento (a de ordem públi-ca e a de interesse das partes, não exauridaantes).

Tanto é assim que, não sendo possível ne-nhuma transação em face do objeto do proces-so, a audiência não ocorrerá. Isso está estabe-lecido – ainda que não em termos de todo preci-sos – no texto legal. Na conversão do projeto emlei, excluiu-se o que constava no final do § 2º:“Proceder-se-á da mesma forma se a lide ver-sar sobre direitos indisponíveis”. Assim, só terávez a audiência prevista no art. 331 quando oobjeto do processo, no todo ou em parte, forpassível de transação. Repita-se, em termosprecisos: (a) cabe a audiência não só quando acausa envolve direitos “disponíveis” – o quesignificaria um âmbito mais restrito84; (b) mas,sendo causa que não tolere transação quanto anenhum aspecto seu, não haverá audiência85.O “Esboço de Anteprojeto” de nova reformatornará ainda mais clara a norma. Consignana proposta de nova redação para o caput: “Se...a causa versar sobre direitos que admitam tran-sação”. E cria-se o § 3º: “Caso o direito emlitígio não admita transação, o juiz procederádesde logo ao saneamento do processo na for-ma do parágrafo anterior”.

32. Nos casos em que cabe a audiência, seessa não for designada, ingressando-se direta-mente na fase probatória, ter-se-á: nulidadequanto à falta de tentativa da conciliação; anu-labilidade quanto à ausência de discussão oralpara a fixação de pontos controvertidos e de-terminação dos meios probatórios (defeito esseconvalidável, se não argüido)86. Afinal, essaúltima função da audiência é secundária e con-dicionada à primeira. Mas, mesmo a nulidadepela falta da tentativa de conciliação há de tersuas decorrências adequadamente delimitadas.Não argüida a anulabilidade decorrente da fal-ta dos debates e constatada a nulidade pela fal-ta de tentativa de conciliação, não se anularátudo o que já se fez até o momento no processo(por exemplo, prova pericial em curso): ape-nas se fará a audiência para tentar a concilia-ção. Ainda, se o defeito constata-se quando jáse está por realizar a audiência de instrução ejulgamento, não se designará audiência espe-cífica de tentativa de conciliação: a própria

audiência de instrução e julgamento já terá eta-pa destinada a satisfazer essa finalidade. Ade-mais, realizada a audiência de instrução e jul-gamento – e nela tendo existido a tentativa deconciliação –, não há mais como se invocar odefeito decorrente da falta da audiência pre-vista no art. 331.

33. Da parte inicial do art. 331 (“Se não severificar qualquer das hipóteses das seções pre-cedentes..., o juiz designará audiência...”) de-corre ainda outra questão relevante. Em prin-cípio, parece haver o pressuposto de ter sidonegativo o juízo acerca da extinção do proces-so com ou sem julgamento de mérito. Diantedisso, qual a eficácia preclusiva dessa decisãoque designa audiência e, conseqüentemente,não extingue o processo87?

Em primeiro lugar, a solução exige que seconjugue essa parte do artigo com o contido no§ 2º (“decidirá as questões processuais penden-tes”). Certamente esse dispositivo não está ape-nas a referir-se às questões surgidas entre adesignação da audiência e a própria audiência.Ou seja, há, nesse § 2º, a expressa autorizaçãopara a decisão, pelo menos, das questões pro-cessuais não-decididas. E note-se que inclusi-ve a própria definição acerca da possibilidadeou não de julgamento antecipado é questão pro-cessual (tanto que – e não se discute – é errorin procedendo o indevido julgamento anteci-pado): daí que, mesmo se realizando audiênciapreliminar, ainda não fica afastado o julgamen-to imediato do mérito. Ademais, e pelo que jáse expôs, não há como se conceber preclusãonesse caso, vez que não há “decisão implíci-ta”. Além disso, as questões de ordem públicapodem ser revistas mesmo que a decisão desig-nadora da audiência as tenha enfrentado ex-pressamente (v. VI, nº 27.2, acima).

34. As conseqüências da falta das partes e(ou) seus procuradores à audiência tambémvariam conforme as duas finalidades distintasdo ato.

34.1. Considere-se, antes, o escopo da ten-tativa de conciliação. Na falta da parte e deprocurador habilitado a transigir, considera-sefrustrada a tentativa conciliatória. Não decor-re disso nenhuma sanção – ainda que se pu-desse pensar em alguma, com base em expres-sa previsão legal, se a parte simplesmente fal-tasse ao ato sem peticionar antes indicando que,por não querer nenhum acordo, não compare-ceria (arcar com as despesas pela audiênciainútil, multa – como ocorre no direito português

Brasília a. 34 n. 134 abr./jun. 1997 157

[v. III.2, acima], agravamento de honoráriosem eventual sucumbência ao final etc.). Masnunca tal hipotética sanção poderia ser aquelade que, de uma leitura apressada do § 2º doart. 277 (que trata do procedimento sumário),extrair-se-ia: a presunção de veracidade de fa-tos afirmados pela outra parte. A valer essa con-cepção, haveria a distorção das finalidades dosmecanismos estabelecidos no processo: a con-sagração da ficção.

Faltando à audiência o advogado, mas pre-sente a parte, é possível a tentativa de concili-ação. Trata-se de ato a ser desempenhado pelaprópria parte – e não por seu advogado (sendoassim, é irrelevante para tanto a regra do art.36). Tanto é ato pessoal da parte que a delega-ção de poderes para sua prática – como a detodos os demais vinculados diretamente à par-te – exige específica menção no instrumentode mandato. A parte tem o direito de ser assis-tida pelo seu advogado quando da busca daautocomposição. A ausência deste, porém, nãoobsta o ato. Havendo prévia intimação e exce-tuado motivo de força maior, ter-se-á que ou aparte dispensou a presença de seu patrono ouele indevidamente faltou para com seu cliente(o que se resolverá no âmbito direto da respon-sabilidade profissional).

34.2. No que tange à discussão para fixa-ção dos pontos controvertidos e definição dasprovas, têm de ser analisadas as conseqüênci-as da ausência do advogado. A falta da parte éirrelevante. Essa sim é atividade cuja práticaexige capacidade postulatória. A previsão dodebate acerca da delimitação da atividade ins-trutória consiste em chance a mais que se dá,para as partes, de buscar influir no convenci-mento do juiz acerca desse tema. E, do ângulodo juiz, é oportunidade que se lhe confere paramelhor se esclarecer. O requerimento de pro-dução de provas já terá ocorrido em momentoanterior (v. acima, item 6). Daí que a ausênciado advogado não pode gerar conseqüência pre-clusiva quanto à faculdade de produzir provas– antes já pleiteadas. O juiz até poderá indeferira produção da prova requerida por quem nãocompareceu, mas não em virtude da pura e sim-ples ausência e, sim, como em qualquer outrocaso e fundamentadamente, porquanto a consi-dere desnecessária (e, nessa hipótese, talvez atéo procurador da parte, ao faltar à audiência, per-ca boa chance de convencer o juiz do contrário).

34.3. Enfim, ao se tratar das conseqüênciasque decorrem da ausência da parte e (ou) seu

patrono à audiência preliminar, há de se evitara supervalorização do meio diante do fim. Erraquem vê nesse novo momento destinado à ten-tativa de conciliação mero instrumento de “de-safogo” do Judiciário. Só a partir de tal pers-pectiva conseqüências como a presunção deveracidade dos fatos narrados pelo adversário(no caso do art. 277, § 2º) ou perda do direitode produzir provas (como têm decidido algunsmagistrados de primeiro grau, no que tange aoart. 331) seriam proporcionais e adequadas:afinal, por meio dessas sanções, também sechegaria à “diminuição de serviço”, mediantea dispensa da dilação probatória. Todavia, ten-tar a conciliação é só maneira de chegar a so-lução que mais se aproxime da pacificaçãosocial. Se isso gera mais rápida eliminação deprocessos, tanto melhor. Mas não deixa de serfator secundário. E decisão fundada em pre-sunção ou ficção – como a que se daria caso seconcebesse a presunção de veracidade dos fa-tos aduzidos contra o ausente; ou a perda dodireito de produzir provas, a despeito de já an-tes pleiteadas –, além de provavelmente nãosignificar correta atuação da vontade da lei, estábem longe de por si só pacificar socialmente.

34.4. Por outro lado, tendo havido intima-ções regulares e inexistindo qualquer motivode força maior, a ausência de alguma das par-tes e (ou) de seus advogados não obstará a rea-lização da audiência – com as conseqüências elimitações acima indicadas. Não é de se des-cartar, por exemplo, que, de todos os envolvi-dos, compareça apenas o advogado de uma daspartes. Então, mesmo nesse caso, o juiz fará aaudiência, debatendo as matérias indicadas noart. 331, § 2º, com esse único protagonista quese propôs a participar da sessão.

Se faltantes ambas as partes e seus procu-radores, não se designará nova data: proceder-se-á diretamente ao que determina o § 2º doart. 33188. Contudo, e mesmo nesses casos, ha-verá sempre a possibilidade de o juiz, a qual-quer momento, chamar as partes para tentar con-ciliá-las (art. 125, IV). Todavia, então não se es-tará mais diante do ato de que trata o art. 331.

35. A nova redação do art. 331 deixou cla-ro que, na decisão declaratória de saneamentodo processo, só se designará audiência de ins-trução e julgamento “se necessário”89. Não sedescarta que, mesmo não sendo o caso de “jul-gamento antecipado”, a instrução do processonão inclua provas orais (ou que essas já se te-nham produzido antecipadamente). Nessa hi-pótese, não requerendo as partes esclarecimen-

Revista de Informação Legislativa158

tos orais do perito, nem os reputando necessá-rios o juiz (arts. 435 e 452, I), não terá vez aaudiência de instrução e julgamento. É bemverdade que, em tal caso, só se saberá da des-necessidade dessa segunda audiência quando,entregue o laudo (assim como eventuais pare-ceres dos assistentes), nenhum dos sujeitos prin-cipais do processo sentir a necessidade de es-clarecimentos. Mas são imagináveis outras hi-póteses em que, mesmo havendo ainda a ne-cessidade de produção de prova depois da fasesaneadora, de antemão, ter-se-á certeza de quenão se precisará da audiência de instrução ejulgamento (por exemplo, quando for deferidaunicamente inspeção judicial). Seja como for,vale aqui ressalva (que já se depreenderia deoutras noções expostas acima): ainda que ini-cialmente tivesse reputado dispensável audiên-cia instrutória, surgindo a necessidade de qual-quer esclarecimento pericial ou prova oral, ojuiz poderá designá-la.

36. Ainda, o novo art. 331 reiterou o cará-ter cogente da determinação de desenvolvimen-to das atividades de saneamento: o juiz fixaráos pontos controvertidos; examinará as ques-tões processuais pendentes.

37. Quanto à eficácia preclusiva da parteda decisão que fixa os pontos controvertidos,vale o dito antes acerca de decisão que defereou indefere prova (v. VI, nº 30), eis que a fixa-ção de que ora se cuida é o antecedente lógicodo deferimento de uma prova. Assim, se o juizreputou irrelevante determinado ponto, dispen-sando atividade probatória que se lhe referisse,pode voltar atrás e, tendo-o por relevante, de-terminar as medidas instrutórias antes indefe-ridas ou nem mesmo cogitadas – isso, repita-se, por força dos arts. 130 e 131 do CPC. Ooposto não lhe é dado: havendo tomado umponto por relevante e controvertido, conven-cendo-se depois do contrário, não poderá res-tringir a atividade de instrução probatória an-tes deferida.

VIII - Consideração final

38. Diversas conclusões acerca do atual re-gime saneador brasileiro – que tomaram emconta os outros dois modelos examinados – jáse apresentaram no curso do texto e não serãoaqui repetidas. Cabe apenas observação finalacerca de tema nuclear para definir a exata fun-ção da fase saneadora: a relação entre a obri-gatoriedade do saneamento do processo e suaeficácia preclusiva.

Arruda Alvim compara o “saneador” de1939 com o “saneamento” de 1973. Lembraque no “saneador” o juiz decidia acerca dospressupostos processuais e condições da ação,“tudo com preclusão”. Com a eliminação daeficácia preclusiva do saneamento no Códigode 73, “hoje está diminuída a importância doinstituto”90. Também Calmon de Passos con-signa que, “ou se admite a preclusão, ou o sa-neamento do processo perde toda sua signifi-cação e operacionalidade91. Barbosa Moreirainclui entre as condições para o funcionamen-to eficaz da fase saneadora sua “real utiliza-ção” – apontando “a sensível inclinação pararelegar para a sentença final o exame de ques-tões que, de acordo com o sistema da lei, nãodevem sobreviver”. Menciona o Código portu-guês, incisivo na necessidade de julgamento detais questões por ocasião do “saneador”, salvoimpossibilidade (v. acima, III.2). Chega a su-gerir a responsabilização, de algum modo, dojuiz relapso (disciplinar; civil: arcar com ascustas do processo etc.). Fala, também, do usoda preclusão para evitar protraimentos, masdestaca não se dever utilizar tal mecanismo comexcessivo rigor92.

Dessa última consideração de Barbosa Mo-reira, parte-se para a conclusão. Tem de serreforçada a obrigatoriedade de o juiz desempe-nhar as atividades previstas para a fase sanea-dora do processo, salvo absoluta impossibili-dade diante da falta de elementos instrutórios.Como decorrência, há de se afirmar a contro-labilidade da conduta do juiz nesse momentodo processo. Lembre-se que, em Portugal, dehá muito a lei consigna expressamente o cará-ter cogente da imposição das tarefas saneado-ras. Todavia, a reforma empreendida em 1985veio a eliminar o cabimento de recurso para ocontrole dessa atividade (v. III.2). Ora, isso édar com uma mão e tirar com a outra: dizer-seque o juiz está obrigado, mas não concederinstrumentos para verificação do cumprimen-to desse dever, é inócuo.

Mas o realce desse caráter cogente não au-toriza o retorno à concepção reinante sob a égi-de do Código de 39, com a consagração do “pre-clusionismo” combatido por Galeno Lacerda.

Impõe-se a utilização racional da fase sa-neadora. E, para tanto, não se pode perder devista sua destinação: a de filtrar, depurar, en-xugar o processo – sem que se possa falar emnenhuma violação a garantias das partes. Háde se decidir, nesse momento, tudo o que já

Brasília a. 34 n. 134 abr./jun. 1997 159

pode ser decidido – em outros termos, tudo oque, se deixado para depois, estará sendo deci-dido tardiamente. A isso tem de se conjugar anatureza pública de diversas das matérias ob-jeto da atividade saneadora: essa mesma natu-reza, que propiciou historicamente a criaçãodo “despacho saneador” e seus desdobramen-tos, desautoriza severo regime de preclusão. Dequalquer modo, tais preocupações com as ga-rantias das partes e o correto desempenho dafunção jurisdicional – em nada desprezíveis –são perfeitamente satisfeitas com a constata-ção de que: (a) não há “discricionariedade”quanto ao exame das questões e à pratica dosatos reservados para essa fase do procedimen-to (presentes os elementos necessários, há dejulgar imediatamente o mérito, há de apreciaras questões processuais pendentes, há de defi-nir os pontos controversos e provas necessári-as...); (b) em conseqüência, é sempre controlá-vel a conduta do juiz (para definir se devia ounão julgar antecipadamente; se devia ou nãoapreciar nesse momento as questões processu-ais etc.); (c) contudo, da imposição da práticade tais atos, sempre que possível, não se podeextrair eficácia preclusiva automática do sane-amento do processo: as medidas destinadas afazer com que o juiz decida o que há de decidirnesse momento hão de ser outras que não apreclusão – sob pena de se estabelecer um con-tra-senso, uma sanção que vá contra o própriofim visado pela norma cuja eficácia ela visa apreservar.

poder judicial del Estado de México. Revista deProcesso, n. 3, 1976.

BRITO, W. F. de, SOARES, F. Luso, MESQUITA,D. Romeira. CPC actualizado e anotado. 2. ed.Coimbra : Almedina, 1981.

__________.__________. 9. ed. Coimbra : Almedina, 1994.BUZAID, A. Estudos de direito. São Paulo : Sarai-

va, 1972 : Do despacho saneador.__________. Do agravo de petição no sistema do CPC.

2. ed. São Paulo : Saraiva, 1956.

CASTRO, A. Anselmo de. Direito Processual CivilDeclaratório. Coimbra : Almedina, 1982. v. 3.

CHIOVENDA, G. Instituições de Direito Proces-sual Civil. notas de E. T. Liebman.Tradução da2. ed. italiana por G. Menegale; 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1965. v. 1-2.

DINAMARCO, Cândido R. A reforma do CPC. 3.ed. São Paulo : Malheiros, 1996.

__________. A instrumentalidade do processo. 3. ed. SãoPaulo : Malheiros, 1993.

FERREIRA FILHO, Manoel Caetano. A preclusãono Direito Processual Civil. Curitiba : Juruá,1991.

GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civilbrasileiro, 11. ed. São Paulo : Saraiva, 1996.

GRINOVER, Ada P. Direito Processual Civil. 2. ed.São Paulo : Bushatsky, 1975.

___________. Os princípios constitucionais do processoe o CPC. São Paulo : Bushatsky, 1975.

GUIMARÃES, L. Machado. Estudos de DireitoProcessual Civil, Rio de Janeiro : Ed. Jurídica eUniversitária, 1969: Carência de ação

LACERDA, Galeno. Despacho Saneador. Prólogoda 2. ed. de 1985, por Flávio Pâncaro da Silva.3. ed. Porto Alegre : Fabris, 1990. Fac-símileda 1. ed. de 1953.

LIEBMAN, E. T. Problemi di processo civile. Ná-polis : Morano, 1962 : Il nuovo código de pro-cesso civil brasiliano.

__________.__________. Nápolis : Morano, 1962 : Istituti delDiritto Comune nel processo civile brasiliano.

__________. Estudos sobre o processo civil brasileiro.Notas de Ada P. Grinover. 2. ed. São Paulo :Bushatsky, 1976. Novamente sobre a legitima-ção das partes.

__________.__________. 2. ed. São Paulo : Bushatsky, 1976:O despacho saneador e a legitimação das par-tes.

__________.__________. 2. ed. São Paulo : Bushatsky, 1976:O despacho saneador e o julgamento do mérito.

LIMA, Alcides Mendonça. As providências preli-minares no Código de Processo Civil brasileirode 1973. Revista de Processo, n. 1, 1976.

Bibliografia

ABÍLIO NETO. CPC anotado. 5. ed. Lisboa :Petrony, 1983.

ALVIM, J. Manoel de Arruda. Principios fundamen-tales y formativos del procedimiento civil brasi-leño. Revista de Processo, n. 38, 1985.

ARAGÃO, Egas D. Moniz. Julgamento conforme oestado do processo. Revista de Processo, n. 5,1977.

__________. Exegese do CPC. Rio de Janeiro : Aide,[198-] v. 4, t. 1.

BARBI, C. Agrícola. Comentários ao CPC. 7. ed.Rio de Janeiro : Forense, v. 1, 1992.

BEDAQUE, J. R. dos Santos. Poderes instrutóriosdo juiz. 2. ed. São Paulo : RT, 1994.

BRISEÑO SIERRA. Los anteproyectos del Códigode Procedimientos Civiles y ley orgánica del

Revista de Informação Legislativa160

__________. Do saneamento do processo. Revista deProcesso, n. 60, 1990.

MAGALHÃES, J. M. V. Barbosa de. Estudos sobreo novo CPC. Lisboa : Vitória, 1940. v. 1.

MALACHINI, Edson R. Do julgamento conforme oestado do processo. Revista de Processo, n. 6,1977.

MARQUES, J. Frederico. Instituições de DireitoProcessual Civil. 4. ed. Rio de Janeiro : Foren-se, 1972. v. 3.

__________. Manual de Direito Processual Civil. 5. ed.São Paulo : Saraiva, 1980.

MENDES, J. de Castro. Manual de processo civil.Lisboa : Coimbra Ed., 1963.

MIRANDA, F. C. Pontes de. Comentários ao CPC.Atualização e notas por Sérgio Bermudes. 3. ed.Rio de Janeiro : Forense, 1996. v. 4.

MOREIRA, J. C. Barbosa. Temas de direito pro-cessual : quarta série. São Paulo : Saraiva, 1989.Saneamento do processo e audiência preliminar.

___________. O novo processo civil brasileiro. 18. ed.Rio de Janeiro : Forense, 1996.

NEGRÃO, Theotonio. CPC e legislação processu-al em vigor. 27. ed. São Paulo : Malheiros, 1996.

OLIVEIRA, C. Alberto A. de. O juiz e o princípiodo contraditório. Revista de Processo, n. 71,1993.

PASSOS, J. J. Calmon de. Comentários ao CPC. 6.ed. Rio de Janeiro : Forense, 1991. v. 3.

____________. Inovações no CPC. 2. ed. Rio de Janeiro :Forense, 1995.

REIS, J. Alberto dos. CPC anotado. 3. ed. Coim-bra : Coimbra Ed. 1981. v. 3.

RIGHI, Ivan O. Eficácia probatória do comportamen-to das partes. Revista Brasileira de Direito Pro-cessual, n. 35, 1982.

SANTOS, M. Amaral. As condições da ação nodespacho saneador. São Paulo, [s.n], 1946.

SILVA, Ovídio B. da. Curso de processo civil. PortoAlegre : Fabris, 1987. v. 1.

SOARES, F. Luso. Processo civil de declaração.Coimbra : Almedina, 1985.

SOUSA, M. Teixeira de. Apreciação de alguns as-pectos da Revisão do Processo Civil : projecto.Revista da Ordem dos Advogados, Lisboa, jul.1995.

TARZIA, Giuseppe. O novo processo civil de cog-nição na Itália. Conferência pronunciada, em23/06/95, nas Jornadas de Direito Processual Ci-vil, realizadas em Curitiba. Reprodução escri-ta, autorizada pelo autor e fornecida pelos orga-nizadores.

TUCCI, José Rogério Cruz e. Sobre a eficácia pre-

clusiva da decisão declaratória de saneamento.Revista dos tribunais, n. 640, 1989.

TUCCI, Rogério Lauria. A reforma do CPC. SãoPaulo : Saraiva, 1996 : A nova fase saneadorado processo civil brasileiro.

__________. Do julgamento conforme o estado do pro-cesso. São Paulo : Bushatsky, 1975.

VARELA, Antunes. BEZERRA, J. Miguel, NORA,Sampaio E. Manual de processo civil. 2. ed.,Coimbra : Coimbra Ed. 1985.

VIDIGAL, L. E. de Bueno. Direito judiciário civil.São Paulo. C. A. XI de Agosto, 1959. Transcri-ção das aulas para o 4º ano do curso de Direito.

WAMBIER, L. Rodrigues. A nova audiência preli-minar : art. 331 do CPC. Revista de Processo, n.80, 1995.

WAMBIER, L. Rodrigues. Despacho saneador irre-corrido : comentário de jurisprudência. Revistado Processo, n. 67, 1992.

Notas de rodapé1 ARAGÃO, Egas Moniz de. Exegese, v. 4, t. 1,

p. 3-7, e Julgamento..., p. 197-198; TUCCI, Lauria.A nova fase..., p. 348-352, e Do julgamento, p. 9-31; MIRANDA, Pontes de. Comentários, v. 4, p.231; LACERDA, Galeno. Despacho saneador, p.13-32 e 43-54; BUZAID, Do despacho..., p. 1-30;REIS, J. A. dos. CPC, p. 182; LIEBMAN, O despa-cho saneador e o julgamento..., p. 99-101; VIDI-GAL, Direito judiciário, p. 363-365; MOREIRA,Barbosa. Saneamento..., p. 120-129 (são dele asexpressões entre aspas, acerca das várias funções –p. 132).

2 LACERDA, Galeno. op. cit., p. 36; BUZAID,op. cit., p. 15; LIMA, Mendonça. As providênci-as..., p. 27; TUCCI, Do julgamento, p. 14, e A novafase..., p. 352; ARAGÃO, Exegese, p. 4; PASSOS,Calmon de. Comentários, v. 2, p. 459; LIEBMAN,op. cit., p. 98; VIDIGAL, op. cit., p. 365. São fre-qüentes, na doutrina não luso-brasileira, as referên-cias à peculiaridade do “despacho saneador” (e deseus desdobramentos), em contraste com outras téc-nicas funcionalmente similares. V., p. ex., LIEB-MAN, Istituti del diritto comune..., p. 501-502; Ilnuovo código de processo civil brasiliano, p. 486-487; BRISEÑO SIERRA, Los anteproyectos..., p.65.

3 TUCCI, A nova fase..., p. 354-355.4 Expressão constante de acórdão da Relação de

Lisboa, de 3-4-68, citado por A. Varela e outros(Manual, p. 382, nota 1). Sobre seu sentido e corre-ção, vede adiante.

5 ARAGÃO, Exegese, v. 4, t. 1, p. 11 e 40-41;LIMA, Do saneamento..., p. 8; GRINOVER, Direi-to processual, p. 41-42.

6 ARAGÃO, Exegese, v. 4, t. 1, p. 7-8, e Julga-mento..., p. 198-200.

Brasília a. 34 n. 134 abr./jun. 1997 161

7 LACERDA, op. cit., p. 34; TUCCI, Do julga-mento, p. 14-15. Ver as referências na nota 2, acima.

8 SILVA, Pâncaro da. Prólogo. In: LACERDA,op. cit., p. 6-11.

9 Sobre o tema, inclusive as indicações históri-cas: REIS, op. cit., p. 164-237; MAGALHÃES, Bar-bosa de. Estudos, p. 44-66; MENDES, Castro. Ma-nual, p. 392-405; VARELA, Antunes. BEZERRA eNORA, Manual, p. 368-429; SOARES, Luso. Pro-cesso civil, p. 703-766; BRITO, SOARES, L. eMESQUITA, CPC, 2. ed. p. 320-327, e CPC, 9. ed.p. 343-349; DE CASTRO, Anselmo. Direito pro-cessual, p. 247-293; ABÍLIO NETO, CPC, p. 389-403; LACERDA, Despacho, p. 40-43; LIEBMAN,O despacho saneador e o julgamento..., p. 100-102;ARAGÃO, Exegese, v. 4, t. 1, p. 4; LIMA, As provi-dências..., p. 27; TUCCI, A nova fase..., p. 352-353,e Do julgamento, p. 15-18; MOREIRA, op. cit., p.112-113; SILVA, op. cit., p. 11-15; VIDIGAL, op.cit., p. 365-366.

10 SOUSA, Teixeira de. Apreciação..., esp. p.394-402.

11 REIS, op. cit., v. 3, p. 169. Cf. doutrina e ju-risprudência nesse sentido em Brito, Soares e Mes-quita (op. cit., p. 321-322).

12 O Código consagrou o ponto de vista de seuprincipal autor, J. A. dos Reis, no sentido de excluirdo “julgamento do mérito” o exame dos fatos queembasam as defesas materiais indiretas (REIS, op.cit., p. 189; MENDES, op. cit., p. 399-400).

13 VARELA, A. et al. op. cit., p. 386; no mesmosentido, CASTRO, op. cit., p. 254.

14 A. NETO, op. cit., p. 391, nota 5.15 Consagra-se “o princípio dispositivo em ma-

téria de factos” (VARELA et al. op. cit., p. 401).16 A. NETO, op. cit., p. 401-402, notas 45, 48 e

49.17 REIS, op. cit., p. 205.18 VARELA et al. op. cit., p. 400 e 402-403.19 Ibidem, p. 381-382; MENDES, op. cit., p. 392.20 Cf. ac. da Relação, apud A. NETO, op. cit., p.

399, nota 21.21 Sustentado por autorizada doutrina – inclusi-

ve a de J. A. dos Reis (op. cit., p. 199-200), queidealizou o “despacho saneador”.

22 VARELA et al. op. cit., p. 393-395.23 Op. cit., p. 398.24 VARELA et al. op. cit., p. 427-428; CASTRO,

op. cit., v. 2, p. 282-293; e, antes, REIS, op. cit., p.193.

25 Nesse sentido, opinam Anselmo de Castro (op.cit., p. 259-262) e Luso Soares (op. cit., p. 727-729).

26 Nesse sentido: REIS, op. cit., v. 3, p. 193;VARELA et al. op. cit., p. 384; v. ainda outras indi-cações, inclusive de jurisprudência, em BRITO,SOARES e MESQUITA, op. cit., p. 324, nota 5, eABÍLIO NETO, op. cit., p. 391, nota 2.

27 Cf. ac. da Relação apud A. NETO, op. cit., p.394, nota 22.

28 Sobre o contido nesse item, vede: LACER-DA, op. cit., p. 34-38; ARAGÃO, Julgamento..., p.

199, e Exegese, v. 4, t. 1, p. 8-10; LIMA, As provi-dências..., p. 27; MOREIRA, op. cit., p. 114-115.

29 Sobre esse Decreto-Lei de 1942, assim se pro-nunciou Liebman: “Em face do texto originário doart. 294, vários escritores e julgados entenderam quea ‘legitimidade das partes’, mencionada no nº 1 comoquestão a ser decidida no despacho saneador, fosseunicamente a legitimidade ad processum: a legiti-midade ad causam, como questão incluída no méri-to, deveria ser examinada na sentença...”. E menci-onou, a seguir, diversos autores que assim se havi-am pronunciado, inclusive ele mesmo (CHIOVEN-DA. Instituições, v. 1, p. 178, nota 11, e em O des-pacho saneador e a legitimação...). E prossegue:“Sobrevindo o decreto nº 4.565, de 1942, que in-cluiu, na matéria do despacho saneador, o requisitodo interesse, todo o problema precisou ser exami-nado ex-novo, admitindo-se, então, que o despachosaneador deve decidir também sobre a legitimidadead causam” (O despacho saneador e o julgamen-to..., p. 104, nota 7). VIDIGAL, op. cit., p. 353-354.

30 CHIOVENDA, op. cit., p. 283. nota 4.31 op. cit. p. 114-122. Lacerda noticiava, ainda,

a admissão pela jurisprudência da “oponibilidade eo reconhecimento de ofício da coisa julgada e daincompetência absoluta a qualquer tempo” – não obs-tante a paralela previsão de exceções instrumentais(Ibidem, p. 121). Aliás, quanto à incompetênciaabsoluta ratione materiae, havia expressa previsãolegal nesse sentido (art. 182, §1º).

32 ARAGÃO, Exegese v. 4, t. 1, p. 13-14; LA-CERDA, p. 107; op. cit., LIMA, Do saneamento...,p. 11.

33 Esses dois fundamentos são apresentados, res-pectivamente, por M. Lima (As providências..., p.30) e LACERDA (op. cit., p. 173). Jurisprudência arespeito do tema é relatada por Buzaid (p. 35).

34 Vede LIMA, As providências..., p. 31. Acercada classificação dos provimentos no Código de 39,v. BUZAID, Do agravo, p. 128-129.

35 ARAGÃO, Exegese, v. 4, t.1, p. 12-13 e 20,noticia essa corrente de entendimento.

36 op. cit., p. 134.37 LIEBMAN, Novamente..., p. 151-153; MAR-

QUES F., Instituições, v. 3, p. 225; LACERDA, op.cit., p. 131-139.

38 As providências..., p. 31.39 op. cit., p. 227-228.40 SANTOS A. As condições da ação, p. 105 e

106; LACERDA, p. 153-178; VIDIGAL, op. cit., p.369-371.

41 CHIOVENDA, Instituições, v. 1, p. 378, nota6.

42 A esse respeito, vede ARAGÃO, Exegese, v.4, t. 1, p. 20.

43 LIEBMAN, O despacho saneador e o julga-mento..., p. 134; Buzaid, op. cit., p. 36.

44 ARAGÃO, Exegese, v. 4, t. 1, p. 20; LIMA,As providências..., p. 30-31 – esse último dava por“quase pacífico” o entendimento doutrinário e ju-risprudencial favorável ao trato dessas matérias no

Revista de Informação Legislativa162

saneador – op. cit., p. 31.45 LACERDA, op. cit., p. 82-89; LIMA, As pro-

vidências..., p. 31); LIEBMAN, O despacho sanea-dor e o julgamento..., esp. p. 133. De considera-rem-se as condições da ação mérito, ou não, depen-dia a definição do recurso adequado contra o “des-pacho saneador” que encerrasse o processo por ca-rência de ação. Em se tratando de mérito – comopretendia Lacerda relativamente à possibilidade ju-rídica e à legitimidade –, caberia apelação (art. 820- op. cit., p. 179-180). Caso contrário, agravo depetição seria o recurso cabível, por força do art. 846(nesse sentido, BUZAID, Do agravo, p. 126-127 e132).

46 LIMA, As providências..., p. 31 – ao que esseautor se refere como exame do “mérito propriamen-te dito”). Amplo levantamento da jurisprudênciasobre o tema é apresentado por BUZAID,..., p. 36-37.

47 LIEBMAN, O despacho saneador e o julga-mento..., p. 105-112; MARQUES, op. cit., III, p. 229;BUZAID, Do despacho..., p. 36-38.

48 LACERDA, op. cit., p. 140-152; VIDIGAL,op. cit., p. 371-372.

49 Sejam vistas as palavras de Buzaid em pro-nunciamento na II Conferência Nacional da OAB,citadas por ARAGÃO, Exegese, v. 4, t. 1, p. 14 e28.

50 Ibidem, p. 16. V. também p. 15-17, 27 e 38. Oautor vê autorização para verdadeiro “julgamentoconforme o estado do processo” na parte final do §2º do art. 265 (Ibidem, p. 17, nota 29, e Julgamen-to..., p. 201).

51 Sobre o tema, vede interessantes considera-ções de ARAGÃO, Exegese, v. 4, t. 1, p. 35-38;MALACHINI, Do julgamento..., p. 97 e 105; GRI-NOVER, op. cit., p. 101-102.

52 BEDAQUE, Poderes instrutórios, p. 102, nota237. Há inúmeras decisões afirmando o caráter re-lativo da presunção estabelecida pela art. 319 e apossibilidade de produção de provas de ofício (v.nota 6 ao dispositivo no CPC, de Negrão, p. 227).

53 Para confirmar o quanto essa face da questãoé ignorada, basta o exame das notas aos arts. 130 e330 no CPC de Negrão: para uma imensa quantida-de de decisões, examinando a ocorrência ou não docerceamento por ocasião do julgamento antecipado,há uma única nota (com duas decisões – sendo umado STJ – no sentido favorável e uma contrária) apre-ciando a possibilidade de controle para imposiçãodo julgamento imediato (nota 1 ao art. 330).

54 Exegese, v. 4, t. 1, p. 25-26.55 Manual, v. 2, p. 155 e 161.56 op. cit. p. 229.57 op. cit., v. 3, p. 489-490. Mas, na p. 517, há

afirmação parcialmente colidente com essas.58 E – exclusivamente a título de argumentação

– pondere-se que, ainda que fosse o caso de apela-ção (e não é), essa não suspenderia todo o processo.A parte não abrangida pela decisão não se submete-ria à eficácia suspensiva dessa suposta apelação.

Proceder-se-ia da mesma forma que se procede quan-do a apelação é parcial (carta de sentença etc.). Essaé a solução adotada em Portugal, onde cabe apela-ção com efeito suspensivo contra o “saneador” quedecide parte do mérito (ABÍLIO NETO, op. cit., p.397, nota 4).

59 TARZIA, O novo processo, p. 6; DINAMAR-CO, A instrumentalidade, p. 132 e 249; OLIVEI-RA, C. A. de. O juiz..., p. 35.

60 op. cit., p. 81-83.61 A nota 1 ao art. 397, no CPC de Negrão, per-

mite clara constatação dessa tendência.62 LIMA - As providências..., p. 37; MIRANDA,

op. cit., p. 221; PASSOS, op. cit., p. 472. No senti-do de que sim: GRECO FILHO, v. 2, Direito pro-cessual, p. 162.

63 A esse respeito, confiram-se as lições de IvanRighi (Eficácia probatória..., p. 69) e ARAGÃO(Exegese, v. 4, t. 1, p. 74-76 e 100).

64 O próprio Calmon de Passos acaba por reco-nhecer essa circunstância (op. cit., p. 495).

65 Note-se que não há conflito entre a regra doart. 13, quando trata de representação, e a do art.37. A norma do art. 13 diz respeito às hipóteses ge-rais de mandato (ex.: a procuração de uma pessoa aoutra para que promova em seu nome um processo[e para tanto constitua inclusive um advogado emseu nome]), de representação de incapazes (art. 8º)e de presentação (art. 12).

66 BARBI, Comentários, v. 1, p. 97, item 152.67Exegese, v. 4, t. 1, p. 13, nota 22.68 Ibidem, p. 13 e 19.69 O novo processo, p. 62-63. O autor não escla-

rece se só o caput do art. 113 autoriza reexame – ouse também o § 3º do art. 267 (redigido em termossemelhantes ao art. 113) permite-o relativamente àsmatérias nele tratadas. Em caso positivo, a posturade Barbosa Moreira, em vez de preclusionista, esta-rá muito mais próxima daqueles que adotam posici-onamento flexível quanto ao tema – v. adiante. Emoutro escrito (Saneamento..., p. 142, nota 40), refe-re-se ao contraste entre a parte inicial do art. 331 eo § 3º do art. 267 – sem contudo posicionar-se.

70 Do julgamento, p. 162-163.71 op. cit., p. 517-523, esp. 522-529.72 Manual, v. 2 , p. 153, 167 e 171.73 op. cit., p. 107-108.74 Atualização dos Comentários de Pontes de

Miranda, p. 241-242.75 A preclusão, p. 104-115.76 Exegese, v. 4, t. 1, p. 20-21.77Sobre a eficácia..., passim.78 O. B. da Silva, Curso, I, p. 163; GRECO FI-

LHO, op. cit., p. 181; WAMBIER, L. R. Despachosaneador irrecorrido, p. 227-231.

79 Note-se que algumas das situações em que porvezes se afirma haver “decisão implícita” não seconfundem com a ora analisada. Assim, por exem-plo, a sentença que julga improcedente o mandadode segurança importa automática revogação da li-minar antes concedida, mesmo que nada diga a res-

Brasília a. 34 n. 134 abr./jun. 1997 163

peito. E isso não porque haja “decisão implícita” –mas sim diante de absoluta incompatibilidade lógi-ca entre a mantença da liminar, que pressupõe juízode plausibilidade acerca do direito do impetrante, ea sentença de improcedência, que descarta por com-pleto tal plausibilidade. Agora, veja-se que, mesmoem tal hipótese, terá sido observada a garantia dafundamentação das decisões: a razão pela qual a li-minar não pode mais vigorar estará retratada na pró-pria motivação da improcedência. Enfim, trata-sede algo em tudo diverso do que se examina no texto.

80 LIMA, Do saneamento..., p. 11 e, principal-mente, FERREIRA FILHO, op. cit., p. 88-89.

81 Endossando a primeira assertiva: Bermudes,Atualização aos Comentários de Pontes de Miran-da, p. 242-243. No sentido da segunda: Repro 5/366e 17/297. Nos termos integrais desse período: B.Moreira (O novo processo, p. 62-63) e M. CaetanoFerreira Filho (op. cit., p. 91-92). Para Calmon dePassos, em nenhum dos casos haveria preclusão,salvo quando já estabelecida situação incompatívelcom a redecisão (op. cit., p. 530). O Supremo, con-tudo, já se manifestou, reconhecendo que o deferi-mento da prova acarreta preclusão para o juiz (RTJ,n. 76, p. 305 e n. 95, p. 271).

82 Confrontem-se os vários modelos descritos porMOREIRA, Saneamento..., p. 120-129.

83 Não se está afirmando, entretanto, nenhumcaráter preclusivo da decisão que designa a audiên-

cia, nem a absoluta rigidez do procedimento. Confi-ra-se o exposto adiante.

84 Nesse sentido, entre outros: Bermudes (atua-lização dos Comentários de Pontes de Miranda, p.237); TUCCI, A nova fase..., p. 360; WAMBIER, Anova audiência..., p. 34-35.

85 Nesse sentido, entre outros: PASSOS, p. 113.Contra, admitindo-a sempre, v. por todos: DINA-MARCO, A reforma, p. 124-125; TUCCI, A novafase..., p. 362.

86 Dinamarco (A reforma, p. 126-127) e Tucci(A nova fase..., p. 360): falam apenas genericamen-te em nulidade absoluta – sem a distinção ora em-preendida quanto aos escopos da audiência.

87 Há problema semelhante a esse no direito por-tuguês. Lá, é prevista “audiência preparatória” quan-do parecer possível o julgamento imediato de méri-to (CPC português, art. 508, v. 1). Disso poderiaextrair-se a conclusão de que, designada a audiên-cia, o magistrado já decidiu possível o conhecimen-to direto do pedido? A lei dá expressa resposta ne-gativa (art. 508, 4).

88 Nesse sentido, expressamente a lei portugue-sa no que tange à audiência preparatória – v. III.2,acima.

89 Vede Bermudes, atualização aos Comentáriosde Pontes de Miranda, p. 243.

90 Principios fundamentales..., p. 96.91 op. cit., p. 522.92 Saneamento..., p. 138-139, 141-143.

Revista de Informação Legislativa164