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1 40º Encontro Anual da ANPOCS ST 22 Pensamento social no Brasil: novos debates teórico-metodológicos O CONCEITO DE FORMAÇÃO ECONÔMICO-SOCIAL: UMA ANÁLISE COMPARATIVA À LUZ DE CAIO PRADO JR. E JOSÉ CARLOS MARIÁTEGUI. Janaina Freire dos Santos 1 Jórissa Danilla Aguiar do Nascimento 2 Caxambu 2016 1 Doutoranda do programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Campina Grande (PPGCS – UFCG) e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas Marxistas PRÁXIS, filiado à CAPES, pelo PPGCS – UFCG. 2 Doutoranda do programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Campina Grande (PPGCS – UFCG) e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas Marxistas PRÁXIS, filiado à CAPES, pelo PPGCS – UFCG.

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40º Encontro Anual da ANPOCS

ST 22

Pensamento social no Brasil: novos debates teórico-metodológicos

O CONCEITO DE FORMAÇÃO ECONÔMICO-SOCIAL:

UMA ANÁLISE COMPARATIVA À LUZ DE CAIO PRADO JR. E

JOSÉ CARLOS MARIÁTEGUI.

Janaina Freire dos Santos1

Jórissa Danilla Aguiar do Nascimento2

Caxambu

2016

1 Doutoranda do programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Campina Grande (PPGCS – UFCG) e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas Marxistas PRÁXIS, filiado à CAPES, pelo PPGCS – UFCG. 2 Doutoranda do programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Campina Grande (PPGCS – UFCG) e integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas Marxistas PRÁXIS, filiado à CAPES, pelo PPGCS – UFCG.

2

INTRODUÇÃO

A história da recepção do marxismo na América Latina, no século XX, vivenciou

uma polarização entre duas tendências, a saber, de um lado a ênfase nas leituras que se

centravam nas especificidades locais e, em oposição, as leituras da realidade a partir da

supremacia do caráter universal (típico das sociedades europeias) sobre o particular. As

análises que se aproximaram do nacional-popular, diluíram o conteúdo teórico das suas

leituras nas particularidades locais e, por outro lado, os analistas ligados aos partidos

comunistas integrantes da Internacional Comunista, negavam a realidade local. Esses

extremos resultaram em equívocos tanto teóricos, quanto políticos no que tange às

estratégias para a superação dos modelos de sociedade vigentes e a vitória internacional

do socialismo3, fato que demonstra o quanto o uso do conceito de formação econômico-

social tem implicações epistemológicas e políticas.

No afã de conceber uma política revolucionária, mas a partir de uma crítica tanto

ao economicismo (sem cair no essencialismo latino-americano), quanto ao mecanicismo,

alguns pensadores apareceram com leituras originais sobre no que tange a esse dilema

teórico. Caio Prado Jr. e José Carlos Mariátegui, com trajetórias diversas e suas devidas

diferenciações, são exemplos disso.

Desse modo, o presente artigo tem por objetivo demonstrar a atualidade e a

necessária recuperação das obras dos referidos autores, no que tange à compreensão do

conceito de formação econômico-social para o atual debate acerca dos limites das

propostas de desenvolvimento econômico para o Brasil e sobre o problema da aposta em

uma fração burguesa para alavancar o suposto desenvolvimento nacional, isso a partir da

análise das obras de Caio Prado Júnior e José Carlos Mariátegui.

O século XX serviu para provocar uma inversão na fórmula que concebia a

ocorrência das revoluções preferencialmente a partir de um proletariado fabril e em países

com alto grau de desenvolvimento das forças produtivas, afinal, a revolução triunfou

justamente em países cujas características iam de encontro a essa leitura. Essa realidade

trouxe à tona a problemática de pensar a revolução na periferia do mundo capitalista, fato

com qual o próprio Lênin se deparou ao tentar resolver a problemática das alianças

3 Sobre esse tema, nos apoiamos na periodização feita por Michael Lowy na introdução da obra Marxismo na América Latina, na qual o autor destaca os grandes momentos da organização político-partidária na América Latina, que impulsionaram a difusão e as diferentes visões do marxismo no subcontinente. (LOWY, 1999).

3

políticas na Rússia. Vale salientar que a visão hegemônica na II Internacional, não tinha

as alianças enquanto questão - posto que em países desenvolvidos à época (como a

Alemanha, por exemplo) a classe operária crescia ininterruptamente - fato que a fez trazer

à tona o conceito de Formação econômico-social num contexto ideológico dominado pelo

positivismo e pelo estruturalismo.

Mais tarde, a Internacional Comunista, capitaneada pela burocracia stalinista,

defende a impossibilidade de concretização do “caráter socialista” da revolução nos países

atrasados, que em face do incipiente desenvolvimento dos mesmos, onde velhas estruturas

pré-capitalistas perduravam, fazia-se mister a anterior revolução “democrático-burguesa”,

sob a direção das chamadas “burguesias nacionais”, que, em tese, abririam caminho para

o desenvolvimento das forças produtivas, possibilitando a realização de uma revolução

socialista.

Para uma atual recuperação do conceito de Formação econômico-social no

entendimento dos processos em curso no Brasil contemporâneo4, é imprescindível aponta-

lo a partir da sua diferença em relação ao conceito de “modo de produção”. Este último,

desde o Livro II de O Capital, Karl Marx apresenta-o como um conceito teórico, uma

espécie de abstração do real, que se faz presente na realidade, mas se localiza no tipo geral

do modelo, entendendo-o como uma unidade e totalidade do processo histórico, sem cair

no historicismo. Já no que diz respeito ao conceito de formação econômico social, pode-

se apontar como sendo um conceito teórico que designa diferentes relações de produção

complexas que se articulam sob a hegemonia de uma delas. Estamos, desse modo, de

acordo com o conceito tomado da introdução de Eric Hobsbawn ao escrito de Karl Marx

– Formações Econômicas pré-capitalistas - de 1964, que define a formação econômico-

social como uma combinação concreta de diferentes modos de produção organizados

sempre sob a dominação de um deles (HOBSBAWN e MARX, 2011).

Enquanto estudo comparativo de suas obras, tanto o peruano Mariátegui, que tratou

da questão indígena atrelada ao problema da terra, assim como Caio Prado Júnior, que

estudou especialmente a questão colonial no Brasil, demonstram (respeitando-se as suas

particularidades no que diz respeita à trajetória política e pessoal já explanadas por

4 Um claro exemplo desse processo foi a “ilusão desenvolvimentista” alimentada pelas concepções da economia-política do Estado brasileiro desde 2002, que pregava ser possível uma ruptura com a lógica dependente, mediante um “novo” desenvolvimento e que ocultava um conjunto de problemas não resolvidos sobre o caráter “neodesenvolvimentista” do Estado brasileiro.

4

interlocutores e divulgadores de suas referidas obras) a importância das análises

heterodoxas do marxismo, uma vez que o mesmo não fornecia as adequadas ferramentas

para a caracterização de sociedades que não foram produzidas pela evolução etapista do

feudalismo na direção do capitalismo.

Nesse cenário, para uma correta compreensão dos motivos que levaram à adoção

da estratégia desenvolvimentista, não há como se olvidar do entendimento dos projetos

societários em disputa à época, no campo do pensamento social brasileiro e que,

encimados em posicionamentos políticos, realizaram estudos para encontrar na formação

brasileira as raízes do atraso econômico e social do país e, assim, traçar metas para o

crescimento do mesmo. Nesse afã, três grupos efetuaram um balanço historiográfico do

Brasil: ISEB, CEPAL e PCB, desenvolvendo estudos para compreender as raízes

históricas brasileiras e os resquícios dessas arcaicas estruturas que atravancavam o avanço

do país.

Na tentativa de compreender o Brasil, os estudiosos pecebistas travaram um

intenso e profícuo debate em torno do caráter Feudal ou Capitalista da colonização do

Brasil. Divididos, os intelectuais ligados ao PCB5 ocuparam dois planos: os defensores da

posição oficial do partido, com a tese da sobrevivência de “restos feudais” ou semi-feudais

como traços marcantes da nossa colonização; E Caio Prado Jr., que se posicionou diferente

dos comunistas da sua época e defendeu em sua Formação do Brasil Contemporâneo:

Colônia (1942) a colonização brasileira como sendo uma vasta empresa colonial em favor

do comércio europeu e que, portanto, aqui aportaram os portugueses e o capitalismo.

Entretanto, Desde 1933, com Evolução Política do Brasil, seu primeiro livro, o autor já

dava mostras de sua leitura crítica da realidade brasileira, que encontrou na História o

ponto de partida para sua interpretação marxista do Brasil, encontrando as formas próprias

de articulação do nosso particular com as fórmulas universais.

Sua caracterização do “capitalismo colonial”, que aponta para um território, desde

o princípio, imerso nas engrenagens do comércio mundial capitalista, apontando para a

sua ideia de “sentido da colonização”, significou rejeitar a determinação, típica do

5 Etapismo e dualismo marcaram as teses oficiais do PCB, cujas visões, reeditando o evolucionismo vulgar que predominou na II Internacional, seguiam as diretrizes da III Internacional em sua fase de hegemonia da burocracia stalinista. Essa submissão do PCB à direção de Moscou lhe rendeu aqui no Brasil perseguição política, nos anos trinta, durante o governo Vargas e, posteriormente, após o Golpe de 1964.

5

economicismo, porém sem perder de vista o primado ontológico do modo de produção na

explicação da formação social.

Em relação à realidade peruana, o marxista José Carlos Mariátegui nos apresenta

em suas obras o papel a ser desenvolvido pelos povos originários em busca de uma

revolução social, levando em consideração as especificidades da América Latina, sem cair

no essencialismo cultural. Referência primeira pra a compreensão dos processos históricos

e políticos do subcontinente, aponta acertadamente como a desarticulação dos

mecanismos burgueses da questão nacional – como o próprio conceito de nação e de

democracia – se faz condição necessária para que avance a revolução socialista e

internacionalista. O marxismo de Mariátegui se firmou durante sua estadia na Europa,

onde, em um exílio forçado, e o contato com experiências do movimento operário nas

organizações sindicais e partidárias e os impactos da Revolução Russa, cenário que o fez

entender o Peru, em suas especificidades, mas dentro de uma condição de capitalismo

mundial. Apontou ainda, que a própria independência colonial do subcontinente só teria

sido possibilitada pelas necessidades de desenvolvimento da civilização Ocidental,

(MARIATEGUI, [1927] 2008).

O rompimento com o cientificismo positivista, bem como a recusa da ideia de

progresso eurocêntrico, foram fundamentais para formar seu marxismo crítico e

heterogêneo. É importante frisar que, ao contrário do romanticismo pelo qual o autor é

criticado, a sua perspectiva era revolucionária, não manifestando “um amor platônico ao

passado incaico” e sim uma “ativa e concreta solidariedade com o índio de hoje”.

Assim como Caio Prado, Mariátegui não atribuiu à alguma burguesia nacional

latino-americana a tarefa de uma revolução de qualquer tipo, burguesa ou nacionalista,

apoiado nos preceitos marxista, influenciado pelo debate na época e em consonância com

os quatro congressos da Internacional Comunista, onde, exatamente no quarto congresso,

foram aprovadas as “teses gerais sobre a questão do Oriente”, onde se discutiu a questão

da Frente única Proletária e a Frente Única Antiimperialista. Mariátegui era enfático ao

indicar a supremacia da luta socialista à luta anti-imperialista, alegando que o foco não

deveria ser apenas no “inimigo externo”, mas que se deveria transformar também as

estruturas internas e a realidade de cada país.

A partir da comparação dos limites e aproximações entre esses dois autores, no

que diz respeito a suas leituras a cerca da formação econômico-social latino-americana,

problematizaremos o processo de modernização do Estado brasileiro a partir da

6

recuperação das teses desenvolvimentistas, em um cenário de “inconclusa formação da

nação”. Essas originais interpretações do marxismo – passando pela unidade latino-

americana, tratando-se de compatibilizar uma atitude nacionalista progressista e o

internacionalismo – resultam pertinentes em um momento em que o nacional-

desenvolvimentismo reaviva discursos com fracassadas ilusões nacionalistas recobram o

alerta da inviabilidade das direções das frações burguesas no combate ao imperialismo.

1. A CERCA DO CONCEITO DE FORMAÇÃO ECONÔMICO-SOCIAL: DA

NECESSÁRIA RECUPERAÇÃO DE SUAS RAÍZES À SUA ATUALIDADE

NA COMPREENSÃO DAS QUESTÕES DO PRESENTE

Pode-se afirmar que o marxismo, a partir do materialismo histórico-dialético como

método, abre espaço para a compreensão de tipos específicos de sociedades. Isto porque,

ao tomar a evolução das sociedades enxergando-as a partir de uma visão que as reconhece

como parte de um movimento contraditório e de totalidade, de modo geral aponta para a

estrutura econômica de uma sociedade, ligada a uma base material (em última instância),

como sendo o que possibilita a sua reprodução. Temos aí o conceito de modo de produção,

que, ao também enfatizar as relações sociais específicas, travadas pelos homens entre si

para a produção material e reprodução de sua existência, forma o pressuposto analítico

que permiti a compreensão dessas sociedades históricas, afinal, tais relações sociais de

produção, correspondem a um determinado estágio (nível) de desenvolvimento das forças

produtivas6. São essas relações que ao se estruturam e integrarem, contribuirão para

formar, na expressão de Marx, “a síntese de numerosas determinações... a unidade na

diversidade”

Assim, dois são os aspectos indissociáveis para a compreensão do conceito de modo

de produção, a saber, as forças produtivas, posto que são a expressão da relação homem-

natureza, e as relações de produção, por expressarem a relação entre os homens. Ou seja,

o modo de produção corresponde, em definição, às relações sociais historicamente

6 Marx, em seu famoso Prólogo de 1859 da Contribuição da Crítica da Economia Política assim define: “Na produção social de sua existência, os homens entram em relações determinadas, indispensáveis e independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a um estágio determinado de desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. A totalidade dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base real, sobre a qual se ergue uma superestrutura legal e política e à qual correspondem formas determinadas de consciência social. O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, político e intelectual em geral. Não é a consciência do homem que determina seu ser, porém, ao contrário, é seu ser social que determina sua consciência.” (MARX, 2009. p. 47)

7

travadas no processo produtivo, pelos indivíduos entre si, e as forças produtivas

correspondentes a esse processo.

No entanto, a despeito do conceito de modo de produção ser de extrema importância

para a elucidação do caráter que as condições materiais da produção assumem num dado

instante histórico, há que se enfatizar que o conceito é uma produção teórica para a

compreensão da sociedade, é um modelo, uma abstração ideal. Em seu Livro II do O

Capital, Marx o localiza como um tipo geral do modelo estudado, posto que, na realidade

histórica, esse modelo não ocorre de maneira pura, de acordo como o pensamento o

idealiza. Sobre o fato de o conceito de modo de produção representar uma abstração,

encontramos embasamento nas palavras de Marx:

Em resumo: todas as épocas da produção têm determinados elementos comuns que o pensamento generaliza: porém, as chamadas condições gerais de toda a produção são elementos abstratos que não permitem compreender nenhuma das faces históricas reais da produção. (MARX, In: DANTAS; TONELO, 2016. p. 51)

Diante dessa condição, para somar-se ao conceito de modo de produção, o marxismo

lança mão, de maneira dialética, do conceito de formação econômico-social, enquanto

ferramenta que possibilite contemplar as especificidades de cada sociedade, bem como as

transformações porque passam, seu alinhamento ou diferença em relação ao modo de

produção vigente, que, enquanto produtor da vida material, “condiciona em geral o

processo da vida social, política e intelectual.” (MARX, 2009, p. 47).

Assim, para o marxismo, a base de qualquer formação econômico-social é o modo

de produção. Entretanto, partindo do pressuposto de que a sociedades são organismos, que

por seu desenvolvimento constante, encontram-se em atividade, o modo de produção

ganha formas determinadas, concretas e históricas em cada sociedade. Um processo que,

ao estar subordinado às leis objetivas da economia, faz com que haja a materialização da

unidade entre as forças produtivas e as relações de produção, que se somam a um conjunto

de instituições dessa sociedade (instituições políticas, jurídicas, religiosas, filosóficas,

culturais) que correspondem a essas relações de produção e as historifica.

O conceito de formação econômico-social diz respeito às diferentes relações de

produção. Corresponde às combinações complexas de diferentes modos de produção, que

se organizam sob a hegemonia de um deles, como apontam Perry Anderson (1999) e

também Nicos Poulantzas (1972). Sendo o conceito de “modo de produção” uma

abstração, um conceito relacionado a um “objeto abstrato-formal”; os “objetos reais-

concretos” correspondem, desse modo, à formação econômico-social (POULANTZAS.

8

1977, p. 14), que, quando unida a uma análise que leva em conta os atores sócio-políticos,

permite avançar no campo do materialismo histórico a cima do debate entre historicistas

e estruturalistas7.

A própria formação social constitui uma unidade complexa com dominância de um certo modo de produção sobre os outros que a compõe (...). A dominância de um modo de produção sobre os outros, em uma formação social, faz com que a matriz desse modo de produção, a saber, a reflexão particular da determinação (em última instância pelo econômico) que a especifica, marque o conjunto desta formação(...). Neste sentido, uma formação social historicamente determinada é especificada por uma articulação particular – (...) – dos seus diversos níveis ou instâncias, a qual é, regra geral, tendo em conta as defasagens que iremos encontrar, o modo de produção dominante. (POULNATZAS, 1977. p. 15)

Contemplar o conceito de formação econômico-social, permite uma maior

aproximação em relação às especificidades, sem perder de vista o conceito de modo de

produção, numa relação dialética.

Foi por meio da recuperação desse conceito, nos anos setenta, do século passado,

que se pode travar um importante debate - tanto do ponto de vista teórico, como político,

no que diz respeito às estratégias do movimento operário - no seio do marxismo, contra

as visões predominantemente mecanicistas e economicistas, presentes nas análises feitas

naquele instante, onde dominavam a corrente estruturalista e também o imperativo de um

certo positivismo, herdado da degeneração da Segunda Internacional.

Por meio do conceito de formação econômico-social, caminha-se em direção às

especificidades da sociedade, porque a articulação entre história e estrutura tem por

objetivo destacar tanto a pluralidade, quanto a heterogeneidade dos possíveis modos de

produção no interior de uma totalidade historicamente determinada.

Entretanto, é este um conceito que não encontra homogeneidade, uma vez que é

perpassado por uma diversidade terminológica, principalmente nos momentos em que o

próprio Marx o utilizou em suas obras: ou a partir do termo “formação social”; “formação

da sociedade”; “formas econômicas da sociedade”. Enfim, sem ter feito uma

sistematização, em termos de definição específica, do conceito, fato que nos faz, no

presente trabalho, para fugir às leituras estruturalistas, partir das palavras de Marx, naquilo

que é para nós uma das passagens mais claras do conceito em questão, quando o mesmo

7 Sobre as diferentes visões no tocante ao conceito de formação econômico-social, vide Césare Luporini e Emilio Sereni, nos Cadernos de Passado e Presente nº 39. Córdoba, 1973.

9

afirma, na sua Introdução à Crítica da Economia Política, um texto de 1957 e que está na

abertura dos Grundisse, que:

Em todas as formações sociais, existe uma produção determinada que estabelece os limites e a importância de todas as outras e cujas relações determinam, portanto, os limites e importância das outras todas. É a iluminação geral que banha todas as cores e modifica as suas tonalidades particulares, como um éter particular que determina o peso específico de todas as formas de existência que nele se salientam. (MARX, in TONELO; DANTAS, 2016. p. 72)

Nas obras marxianas, ao menos dois momentos são destacáveis no que tange à

formulação do conceito de formação econômicos-social. No Prefácio Para a Crítica da

Economia Política (MARX, 2008), originalmente publicado em janeiro de 1859, o autor

distingue o movimento das condições econômicas de produção das formas ideológicas,

para, em seguida, desenvolver dialeticamente o movimento ao expor as consequências,

num dado processo histórico, para sociedades específicas, demonstrando, assim que:

Uma formação social nunca perece antes que estejam desenvolvidas todas as forças produtivas para as quais ela é suficientemente desenvolvida, e novas relações de produção mais adiantadas jamais tomarão o seu lugar, antes que as suas condições materiais de existência tenham sido geradas no seio mesmo da velha sociedade. (...) Em grandes traços podem ser caracterizados, como épocas progressivas da formação econômica da sociedade, os modos de produção: asiático, feudal e burguês moderno (MARX, 2008. p. 48).

A passagem, aponta para o sentido concreto das relações de produção que, em seu

movimento, definem a estrutura econômica que historicamente compõem as sociedades.

Já no Prefácio da primeira edição de O Capital, (1867), depois de afirmar ser

“finalidade última da obra desvelar a lei econômica do movimento da sociedade

moderna”, no tocante ao conceito de “formação econômica da sociedade”, é possível

destacar que, ao explicar de que tipos de “pessoas” está falando - a saber aquelas que

compõem o tecido social a partir de suas “relações e interesses de classe” – Marx explica

como o conceito da “formação econômica da sociedade” faz parte de um “processo

histórico-natural”, sobre o qual pesam as condições materiais que são estabelecidas

socialmente e construídas historicamente e independem da representação ideal das

pessoas. Nas palavras de Marx:

Meu ponto de vista, que apreende o desenvolvimento da formação econômica da sociedade como um processo histórico-natural, pode menos do que qualquer outro responsabilizar o indivíduo por relações das quais ele continua a ser socialmente uma criatura, por mais que, subjetivamente, ele possa se colocar acima delas (MARX, 2013, p. 80).

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Assim, ao nos deter sobre essas duas passagens, é possível afirmar, que o conceito

de formação econômico-social já estava previamente dado em Marx, a partir da sua

concepção materialista da história.

Ademais, ao se preocupar com a dinâmica das formas pré-capitalistas, enquanto

condição previa para o surgimento do capitalismo na Europa, Marx escreve, de 1857 a

1858 seus famosos rascunhos, conhecidos sob o título de Formações Econômicas Pré-

Capitalistas8, cuja periodização histórica acerca da evolução de maneira geral da

humanidade exerce papel importante no sentido de completar as formulações já presentes

em obras precedentes, mas também enquanto fornecedora de elementos que ampliam a

compreensão do conceito de formação econômico-social.

Na introdução dessa obra, feita por Eric Hobsbawm, o historiador marxista ressalta

que “As FORMEN tentam formular o conteúdo da história na sua forma mais geral. Este

conteúdo é o progresso.” ( 2011. p. 15). Ou seja, Marx, neste texto, aponta para o

desenvolvimento histórico das formas econômicas das sociedades específicas enquanto

um movimento das relações de produção em toda a totalidade da vida material.

Valendo ressaltar que essa descrição não ocorre em Marx de maneira mecânica, posto que

ao reconhecer que há uma evolução diferenciada dos povos primitivos, as condições

materiais devem ser levadas em conta nesse processo, mas não de maneira fatalista,

historicamente pré-determinada.

Como o processo não é dado somente a partir da relação “forças produtivas” x

“relações de produção”, mas também pela totalidade da vida material, juntamente com

seus diferentes elementos que botam a girar as transformações sociais, o texto Formações

Econômicas Pré-capitalistas, faculta uma visão não etapista, não linear do processo

histórico, posto que as formas primitivas terminam por desdobrarem-se em formações

paralelas, que guardam em seu seio (a depender das condições específicas de vida material

e do processo histórico) o “gérmen” de possibilidade de criação de novas formações

sociais.

Também Lênin, ao definir, a necessidade do marxismo se pautar em “análise

concreta de situações concretas”9, também contribuiu com o conceito de formação

8 O texto citado, permaneceu inédito para o mudo ocidental até o início da década de 1950.

9 É na revista Kommunismus (uma revista teórica do comunismo internacional), p. 260, que, ao tecer crítica ao marxista húngaro Béla Kun - o fundador do Partido Comunista da Hungria (1918), que tinha fundado

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econômico-social, tomado-o também enquanto método, e que consiste em, a partir da

compreensão das situações concretas, evidenciar as contradições ocultas, com vistas à

transformação da realidade em análise.

Na verdade, a grande preocupação de Lênin e seu esforço nos primeiros anos da

luta revolucionária, bem como de sua análise estão voltados para a investigação da

realidade concreta, para, ao empregar o método de investigação do marxismo na

concreticidade russa, encontrar o capitalismo e a possível existência das “causas objetivas

de seu desenvolvimento” (GRUPPI, 1979, p. 4)

Em Lênin, há uma participação orgânica da superestrutura no conceito de

formação econômico-social. Um fato que fica evidente quando o autor, ao explicar como

Marx realiza a análise da realidade baseando-se no conceito, afirma:

Ao explicar a estrutura e o desenvolvimento do conceito de determinada formação social 'exclusivamente' pelas relações de produção, estudava porém — sempre e em toda parte — as superestruturas correspondentes a essas relações de produção; revestia de carne e sangue o esqueleto. (Lênin, v. 1, 1980, p. 96)

Ou seja, ao voltar sua atenção para a “sociedade real de um período histórico

determinado” (LÊNIN, v. 2, 1954, p.184 apud GRUPPI, 1979, p. 7), Lênin articula a sua

investigação sobre o material (econômico) com o método dialético para a compreensão da

realidade concreta russa. É nesse aspecto que, sobre o uso da análise da formação

econômico-social, é possível se dizer que, com Lênin:

Estamos no coração de um modo de raciocinar dialético, inteiramente voltado para o emprego de categorias científicas de abstrações determinadas, com o objetivo de captar o concreto em sua multiplicidade unitária, ou seja, de captar o caráter específico de um processo histórico determinado. (GRUPPI, 1979, p. 8)

É em seu artigo, cuja publicação é de 1894, Quem são os “amigos do povo”, que

Lênin, ao debater com a sociologia burguesa à época (que considerava a sociologia como

campo de estudo de “sociedades ideais”), expõe a concepção materialista da história e

contribui para o conceito de formação econômico-social.

Também, neste ensaio, expõe a face dos populistas, que na tarefa de arrefecer a

difusão do marxismo na Rússia, procuravam desqualificá-lo por meio de uma campanha

de difamação em seus jornais, para deformar as ideias dos marxistas russos em relação à

também em novembro de 1918 a publicação Vörös Ujság (“Notícias Roxa”), onde de maneira ácida criticava o governo de Mihály Károlyi (que havia aprovado a reforma agrária no país para acalmar os levantes populares) - que Lênin afirma, opondo-se à posição ultra esquerdista do mesmo, que: “Ignora o que é a própria essência, a alma viva do marxismo: a análise concreta da situação concreta”.

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questão dos camponeses. Ao fato, Lênin demonstra a importância da compreensão do

processo concreto do desenvolvimento do capitalismo russo, produtor do aumento

crescente do número de proletários naquele território, fato que os faria os verdadeiros

“coveiros”10 do capitalismo, e, assim, destaca os verdadeiros “amigos do povo” como

sendo os marxistas, que ao defenderem o fim da exploração e da opressão dos capitalista

e dos latifundiários e a destruição do regime do czar, eram contrário a toda estratégia

reformista. É pois neste texto que Lênin expõe, também, pela primeira vez, a ideia de

aliança operário-camponesa, que sob a hegemonia do proletariado, se constituiria um meio

fundamental para a tomada do poder. Com a classe operária, definida em sua missão de

força revolucionária e os camponeses, ao mesmo tempo, com a missão de aliados da classe

operária, Lênin tece uma “exata colocação do indivíduo e da sua função na sociedade”

(GRUPPI, 1979, Idem), que só é possível quando “se sai da noção de grupo [...] para

atingir a de classe” (Idem).

Lênin, realiza pois, uma importante ligação entre o conceito de formação

econômico-social e o de classes sociais, ou o conceito marxista de luta de classes,

demonstrando a passagem das análises do abstrato ao concreto, ou seja, à “unidade de

multiplicidade” que constitui o real, relação atestada no seguinte excerto:

[...] a teoria de luta de classes constitui uma imensa conquista da ciência social porque fixa com a máxima exatidão e precisão procedimentos capazes de reconduzir o indivíduo à sociedade. Em primeiro lugar, essa teoria elaborou o conceito de formação econômico-social. Tendo tomado como ponto de partida o fato fundamental de qualquer convivência humana, ou seja, o modo de obtenção dos meios de subsistência, ela ligou tal fato às relações entre os homens, que se formam sob a influência de determinados modos de obtenção dos meios de subsistência; e indicou no sistema dessas relações (‘relações de produção’, na terminologia de Marx) a base da sociedade, que se reveste de formas jurídico-políticas e de certas tendências do pensamento social. (Lênin, 1980, v.1, p. 422, Negritos nossos)

Temos, desse modo, a reafirmação do materialismo histórico-dialético enquanto

método capaz de evidenciar a materialidade de uma formação econômico-social

específica, do marxismo enquanto “método para compreender a realidade efetiva”

(GRUPPI, 1979, p. 15), evitando análises que transplantam, automaticamente, categorias

10 Alusão à passagem de Marx no Manifesto Comunista quando afirma: “A burguesia, porém, não se limitou a forjar as armas que lhe trarão a morte; produziu também os homens que empunharão essas armas – os operários modernos, os proletários” (MARX, 2010, p. 46)

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abstratas de análise, de uma realidade específica para todas as demais realidades sob a

égide do capitalismo:

Lênin não nega, antes afirma, que o método do marxismo pode ser empregado para a compreender outras formações sociais não capitalistas (e dá o exemplo da confirmação do método marxista pelas pesquisas etnológicas de Morgan); mas sublinha bastante que, nesse caso, trata-se de descobrir as categorias econômicas necessárias para entender essas outras formações determinadas, e que, em nenhum caso, pode se tratar de transferir para outras sociedades as leis definidas em função dessa específica sociedade capitalista. Em suma, temos aqui a recusa do marxismo como doutrina universal [...]. Temos, ao contrário, o apelo ao marxismo como método, sobre o qual construir a definição das leis das diversas formações econômico-sociais. (GRUPPI, 1979, p. 11)

É assim que, segundo o marxista italiano Luciano Gruppi (Idem), “precisamente

porque investiga uma realidade de história específica, Lênin nos dá o exemplo de um

método de validade geral”.

Logo, ao apontar para a necessidade de analisar as particularidades concretas em

cada situação histórica, Lênin, em sua teorização, abre espaço para que cada situação seja

tomada em sua particularidade, como “síntese de múltiplas determinações”. Desse modo,

também coloca o conceito de “situação”11, que se apresenta como sendo a expressão da

relação de forças entre as classes. Com Lênin se reafirma, pois, o conceito de formação

econômico social a partir da unidade e totalidade do processo histórico.

Quando analisamos a importância do conceito de formação econômico-social em

Lênin, indiscutivelmente se coloca como questão primeira a sua preocupação em

converter a teoria em “força revolucionária”, num contexto dado, que era a Rússia, com

toda a carga de particularidades que dispunha e no calor dos acontecimentos. (Cf. LÊNIN,

2008).

O triunfo do socialismo russo estava fadado a uma “inevitável” aliança com as

frações ditas mais progressistas da burguesia? Esta é uma pergunta a que responde Lênin

ao, por meio da análise da formação econômico-social russa, rejeitar a tese de falta de

condições objetivas para um regime socialista por conta da continuidade de resquícios

feudais no território. Contra esse etapismo, estratégia defendida pelos mencheviques, as

defesas de Lênin mostram-se coerentes com a sua leitura da realidade local:

Quando postas em perspectiva histórica, suas formulações insistirão no papel fundamental da classe operária como dínamo da revolução russa,

11 Em A falência da Segunda Internacional (1916), Lênin traz uma definição clássica dos conceitos de situação e crise revolucionária. (LÊNIN, 1979)

14

na necessidade de sua aliança estratégica com os camponeses pobres e, finalmente, após uma série de considerações, no desdobramento sui generis do processo revolucionário, o qual tende a encadear a revolução democrática com a revolução operária, vista como um momento decisivo da revolução socialista em escala internacional. (SAMPAIO JR. 2012, p. 28)

Logo, é possível constatar que uma estratégia política só se dá a partir de uma

coerente análise da realidade concreta, ou seja, por meio de um prévio conhecimento da

formação econômico-social e dos desdobramentos do capitalismo locais.

É, desse modo, que, se opondo também às análises dos populistas12 - que na Rússia

defendiam a realização do socialismo por meio dos camponeses, vistos por eles como base

do regime, fato que contribuía para o entorpecimento da organização da classe operária e

um entrave à difusão do marxismo naquele território - é possível se apontar a crítica feita

por Lênin à política de alianças, embasada em uma análise necessária e profunda da

realidade econômico-social da Rússia:

Lênin questiona a viabilidade histórica do projeto de transição para o socialismo baseado na comuna camponesa, de acordo com o qual caberia aos camponeses e pequenos agricultores um papel estratégico na revolução russa. (SAMPAIO JR, 2012 p. 22)

Diante dessa exposição das origens do conceito de formação econômico-social e

ao tentar demonstrar que há de existir uma coerente “análise concreta de uma situação

concreta” para a formulação de estratégias políticas e econômicas para realidades diversas,

como o caso da América Latina e, mais especificamente o Brasil.

É possível apontar um variado número de leituras sobre o Brasil, mas que, de uma

forma ou de outa, não se completaram em relação à evidenciação da realidade local e suas

múltiplas determinações, com vias a tornar completamente elucidadas as características

específicas da formação econômico-social brasileira e das especificidades do capitalismo

nesse espaço, onde, ao longo da história, o processo de modernização do Estado se deu

mediante a recuperação das teses desenvolvimentistas, em cenários de “inconclusa

formação da nação”.

12 A influência dos populistas entre os intelectuais e o pensamento russo foi um trabalho que se iniciou com Plekhanov (do primeiro grupo russo a divulgar as ideias de Marx e Engels, o "Emancipação do Trabalho"), mas que só se efetivou com Lênin. Nessa empreitada por combater essa corrente, vale salientar, dentre os vários equívocos teóricos no posicionamento político e estratégico dos populistas, o fato de que, depois do aniquilamento do partido "Vontade do Povo"(Sociedade populista clandestina, de ações, assassinatos e terror individuais), o grupo renegou a luta revolucionária contra o governo czarista e deu início à apregoação da reconciliação e da harmonia com o mesmo.

15

Logo, as estratégias que de tais leituras brotaram, se mostraram ineficientes para o

processo de superação dos limites locais e reforçaram a situação de dependência externa

e a extrema desigualdade entre as classes sociais (como foi o caso do

13desenvolvimentismo dos anos 40 e 50 do século passado); ou mesmo produziram uma

aprofundamento das estruturas do grande capital, em sua fase de “ofensiva neoliberal”,

como tem sido o caso do “neodesenvolvimentismo” decantado em pouco mais de uma

década de governos petista e que se caracteriza por reunir, a partir do empoderamento de

uma nova fração de classe14 no interior do bloco no poder, crescimento econômico

(baseado numa pauta de exportação altamente reprimarizadora da economia) com

concessões ao campo social por meio de políticas sociais com fins a impulsionar o

mercado consumidor interno; tudo isso sem abalar a hegemonia do capital financeiro.

É assim que podemos apontar ao menos uma tríade de leituras sobre o processo

de desenvolvimento do Brasil e que marcou a sua história: os defensores da

industrialização como impulsionadora dessa pretensa “autonomia”, que deu

fundamentação econômica à política de industrialização com participação ativa do Estado

– foi o caso da CEPAL - ; as discussões no interior do PCB, travadas por intelectuais de

visões não homogêneas sobre o processo de formação do Brasil e que teciam crítica ao

processo de desenvolvimento, mas que, dado ao momento e a ortodoxia partidária, em

alguma medida, tiveram as suas análises limitadas a um levantamento historiográfico e/ou

sociológico que, apesar de muito importantes, não conseguiram lograr o sucesso da

elaboração de uma estratégia adequada a formação econômico-social local capaz de

fomentar a superação dessas estruturas; e a leitura realizada pelo ISEB, que, a partir de

uma visão nacional-burguesa ou mesmo nacional-desenvolvimentista (BRESSER-

PEREIRA, 2005, p. 1) refletia sobre o pretenso processo de industrialização que estava

em curso no Brasil desde os anos 1930.

A crise contemporânea, que têm suas raízes instaladas em meados da década de

1970 e aprofundada nos anos 1980-1990 e retomada a partir de uma nova onda de crise

criada no coração do capitalismo em 2008 (se constituindo assim uma crise orgânica e não

13“O desenvolvimentismo foi, portanto, uma arma ideológica das forças econômicas e sociais que, no momento decisivo de cristalização das estruturas da economia e da sociedade burguesa, se batiam pela utopia de um capitalismo domesticado, subordinado aos desígnios da sociedade nacional. (SAMPAIO JR., 2012, p. 3) 14 A fração da burguesia que mudou a sua posição no interior do bloco no poder, durante os governos do PT, segundo Armando Boito Júnior (2008), foi a burguesia interna.

16

uma crise conjuntural), trouxe à tona – em um momento de singularidade15 do capital -

um conjunto de governos latino-americanos que, no auge dessa crise, emergiram

(advindos de bases populares) enquanto “alternativas” para o seu equacionamento e com

projetos, que discursiva e estrategicamente se apresentavam como nova propostas de

modernização. Claramente nos deparamos agora com um processo de fim de ciclo desses

governos, que no Brasil se evidencia pelo esgarçamento da política

“neodesenvolvimentista”, que, ante a crise, deixa à mostra os seus limites, e culmina com

o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Assim, o chamado “neodesenvolvimentismo”, mais precisamente o projeto

político-econômico encampado a partir dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-

2010), trouxe à tona uma mudança no processo de acumulação (sem mudar o padrão

de acumulação, que se manteve sob a hegemonia do capital financeiro) a partir do resgate

das teses do “antigo” desenvolvimento, mas com diferenças adaptadas ao momento atual

neoliberal. O que, no fundo, remete à dicotomia aparência e essência. Temos um antigo

modelo, reativado sob nova roupagem, adaptada aos padrões contemporâneos ou, nas

palavras de Plínio de Arruda Sampaio Jr. (2012) o que temos “não passa de um esforço

provinciano para dar roupa nova à velha teoria da modernização como solução para os

graves problemas das populações que vivem no elo fraco do sistema capitalista mundial”.

E continua:

Acima de suas diferenças e idiossincrasias de ordem teórica e prática, os economistas que reivindicam o novo desenvolvimentismo compartilham um denominador comum: procuram uma terceira via que evite o que consideram o grave problema do neoliberalismo — a cumplicidade com o rentismo — e o que atribuem como as inaceitáveis perversidades do velho desenvolvimentismo o nacionalismo anacrônico, a complacência com a inflação e o populismo fiscal. O desafio do neodesenvolvimentismo consiste, portanto, em conciliar os aspectos “positivos” do neoliberalismo —compromisso incondicional com a estabilidade da moeda, austeridade fiscal, busca de competitividade internacional, ausência de qualquer tipo de discriminação contra o capital internacional —com os aspectos “positivos” do velho desenvolvimentismo — comprometimento com o crescimento econômico, industrialização, papel regulador do Estado, sensibilidade social. (SAMPAIO JR, 20012, p. 8)

15 Esse contexto significou um fator de excepcionalidade onde, além da contestação dos efeitos nefastos do neoliberalismo, ocorreu um aumento da demanda por matérias-primas e gêneros primários, advindos da ascensão da China. Esse “boom das commodities” foi fator importante na abertura de possibilidades de subida ao poder desses governos.

17

No Brasil, o “neodesenvolvimentismo” retomou o intervencionismo estatal, a

partir de um fortalecimento e da expansão das empresas estatais e do serviço públicos,

durante os anos do governo PT; e deu origem a novos espaços institucionais com vias a

privilegiar o planejamento econômico e a negociação para com a área econômica

(empresariado). Foi o caso do CDES (Conselho de Desenvolvimento Econômico e

Social), o CNDI (Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial) e o FNT

(Fórum Nacional do Trabalho). Adotou também políticas de financiamento direto ou

indireto do setor produtivo. Num claro aprofundamento do neoliberalismo, fez destacadas

as PPP’s (parcerias público-privadas), as inversões crescentes realizadas pelo BNDES

(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para às empresas privadas,

os pacotes fiscais, o PAC I e o PAC II (Plano de Aceleração do Crescimento), o Plano

Nacional de Logística e Transporte, entre outras ações16.

Desse modo, “projeto neodesenvolvimentista” reativou uma “teoria da

modernização”17, sem tocar na ideia de “identidade nacional”, presente no antigo

nacional-desenvolvimentismo do período de Vargas, de Juscelino Kubitschek e da

Ditadura Militar, quando, em discurso, apontava para a ampliação da riqueza material

como fator preponderante para a inserção do país de maneira influente internacionalmente.

Desse ponto de vista “desenvolvimento e crescimento confundem‑se como fenômenos

indiferenciados.” (SAMPAIO JR, 2012, p. 679).

No entanto, os limites desse projeto “neodesenvolvimentista” - ao não questionar

nem a dependência externa, nem a segregação social, muito menos ainda os impactos

ecológicos culturais e sociais desse projeto (que se baseia, na sua expansão ao exterior,

nos investimentos em infraestrutura, feito por empresas brasileiras subsidiadas pelo

governo e pelo BNDES, em países com altos índices de pobreza mas com grande potencial

extrativista, como os vizinhos latino-americanos.) - confrontam-se com a concreta

realidade econômico-social brasileira, terminando por revelar-se um “ilusão”, visto que:

16 Vale salientar que o discurso político dos governos Lula foi também de uma “política externa mais independente”, com vistas a desenvolver uma espécie de “protagonismo regional” (a partir de relações do tipo sul-sul), onde o país fortalecesse suas relações econômicas e diplomáticas com países pobres e “emergentes” nas instâncias internacionais, evitando, em alguns momentos, o alinhamento automático com os países centrais. Um diferencial, desse governo tanto em relação ao antigo desenvolvimentismo, como em relação ao dito neoliberalismo em seus padrões clássicos. 17 Quanto à essa ideia de modernização e de desenvolvimento social, há todo um amplo debate já feito (O’DONNELL, 1972; SANTOS, 1998; RIBEIRO, 1994, 1996; OLIVEIRA, 2009; BARCELAR DE ARAÚJO, 1999).

18

[...] toda a reflexão neodesenvolvimentista enquadra‑se perfeitamente na pauta neoliberal. Na prática, a terceira via torna‑se uma espécie de versão ultra light da estratégia de ajuste da economia brasileira aos imperativos do capital financeiro. O diferencial do neodesenvolvimentismo se resume ao esforço de atenuar os efeitos mais deletérios da ordem global sobre o crescimento, o parque industrial nacional e a desigualdade social. Não se questiona a possibilidade de a igualdade social e a soberania nacional serem simplesmente antagônicas com a estabilidade da moeda, a austeridade fiscal, a disciplina monetária, a busca incessante da competitividade internacional, a liberalização da economia. Procura‑se o segredo da quadratura do círculo que permita conciliar crescimento e equidade. (SAMPAIO JR, 2012, p.680)

Tais fatos de insucesso das estratégias para países cuja a formação econômico-

social semicolonial18 não experimentou superação, nos mostram o quanto ainda é preciso

compreender as estruturas econômicas, sociais, políticas e as especificidades do

capitalismo para esses territórios, visto que, a implicação dessa falta de análise redunda

em estratégias tais como (tomando o exemplo do Brasil) a da aposta contemporânea de

crença na possibilidade de uma “frente19 neodesenvolvimentista”, que seria uma frente

“política ampla, policlassista e, de certo modo instável, como base de sustentação da

política de desenvolvimento” (BOITO, 2012b, p. 2) para o país durante os governos Lula

e Dilma Rousseff. A grande questão que fica é se, de fato, temos, a partir dos governos

petistas, uma “nova burguesia interna20” (BOITO; GALVÃO, 2012c, p.67), que tenha

18 O “semicolonialismo” foi uma caracterização dada aos países periféricos, atrasados, de industrialização tardia ou inconclusa feita assentada em velhas bases oligárquicas e/ou rurais, pela Terceira Internacional. Para tais países, Leon Trotsky, em seu “Programa de Transição da IV Internacional”, afirmava: “(...) estes países atrasados vivem nas condições da dominação mundial do capitalismo. É por isso que o seu desenvolvimento tem um caráter combinado: reúne em si as formas econômicas mais primitivas e a última palavra da técnica e da civilização capitalista.” (TROTSKY, 1936, p. 36) 19 Na história do movimento comunista, a trajetória das formulações no que diz respeito à ideia de frente remonta aos primeiros anos de funcionamento da Internacional Comunista (ou III Internacional, a famosa Kominter) e, em larga medida, foi adotada pelas Seções Nacionais de diversos países e em diversas conjunturas. A tática que apontava aos PC’s a necessidade de uma política que levasse o proletariado a se constituírem maioria no seio da classe operária, sob o dístico “às massas”, apareceu no III Congresso (1921). Tratava-se de uma tática apropriada a um período de relativa estabilização do capitalismo, e unia medidas defensivas e preparação da ofensiva revolucionária pela classe trabalhadora, tendo sido consagrada como frente única operária no IV Congresso (1922). Mais tarde, no VII congresso (1935), sob o processo de stalinização, surgiu a ideia de frente popular, defendendo a possibilidade de alianças amplas com os setores da chamada burguesia progressista, diretriz esta que passou a ser a tática privilegiada dos Pc’s durante a conjuntura de ascensão das ditaduras fascistas nos anos 30. 20 De acordo com Nicos Poulantas (1978), nas relações internacionais, a classe dominante assume divisões que não somente se relacionam às suas atividades no processo de produção, dividindo assim o sociólogo e cientista político grego francês a burguesia em nacional, compradora e interna. Assim, a burguesia compradora é a fração burguesa defensora dos interesses imperialista. Já a burguesia nacional é a fração da burguesia mais progressista e disposta a alianças. Entre essas duas frações, há a burguesia interna, que por possuir sua base de acumulação internamente, é dependente do processo de movimento ao exterior imposto pela dinâmica de acumulação do capital quando esta extrapola as possibilidades de acumulação interna.

19

desenvolvido algum grau de autonomia capaz de pôr freios à expansão do imperialismo e

com base própria de acumulação, uma vez que, o que se pode verificar é que os anos

desses governos ditos “pós neoliberais”, produziram não só uma continuidade da

hegemonia do capital financeiro, como um aprofundamento da política neoliberal21, assim

como, também, uma forte reprimarização da economia a partir de uma pauta de exportação

baseada em produtos primários e/ou com baixo nível de industrialização, ou seja, um

“reformismo” (SINGER, 2012). Não estaríamos vivendo, ainda, a partir desse projeto, sob

a crença na presença de uma ala da burguesia com a qual os subalternos possam se aliar

para dar cabo ao seu processo de evolução inconclusa?

Considerando que análises como esta abrem espaço para uma volta ao olhar que

privilegie o conceito de formação econômico-social para responder a demandas postas

pelo presente, passaremos então à compreensão de como autores marxistas, a partir de

uma heterodoxia, pensaram as suas realidades e que conclusões suas podem nos ser úteis

para a compreensão do status quo, que salienta, neste sentido, a importância também de

uma atual “crítica da economia política” (MARX, 2008), ou seja, da tríade economia,

sociedade e política como um conjunto que origina uma visão e um projeto de mundo.

2. O DEBATE DO MARXISMO SOBRE A AMÉRICA LATINA A AS

INTERPRETAÇÕES DE CAIO PRADO JR. JOSÉ CARLOS MARIÁTEGUI

SOBRE SUAS REALIDADES.

Em relação ao continente latino-americano, foi principalmente depois do triunfo

da Revolução Russa (1917) que questões políticas como organização, aliança de classe

e o interesse por problemas sociais por parte dos intelectuais da época no subcontinente

começaram a existir, abrindo espaço à difusão do pensamento marxista que, de acordo

com Löwy, teve inserção, de forma primária, por volta do século XIX, inspirado pela II

Internacional. Ressalta o autor, que “as primeiras tentativas significativas de analisar a

realidade latino-americana em termos marxistas e de estabelecer as bases para uma

orientação política revolucionária vieram com o surgimento da corrente comunista”,

uma corrente ainda tímida, que inspirou partidos e teve suas resoluções iniciais

pautadas na III Internacional (Cf.: LÖWY, 1999, p. 14), momento no qual o “atraso

colonial” do subcontinente foi pautado, fato que deu respaldo ao sentimento

antiimperialista que caracterizou a luta nesta sub-região em alguns períodos.

21

20

Fala-se genericamente de América Latina, principalmente pelo processo histórico

de consolidação dos Estados e da sociedade na região que, de acordo com o sociólogo

José Aricó (1989), faz com que os países que a compõem mantivessem pontos em comum,

principalmente, no que tange às suas evoluções históricas:

O caráter assumido pela colonização europeia e, em seguida, pela guerra de independência, a marca decisiva que as estruturas coloniais deixaram como herança para as repúblicas latino-americanas, sem que estas [...] tenham conseguido superá-la inteiramente; o fenômeno comum da inclusão maciça num mercado mundial, que as pôs numa situação de dependência econômica e financeira em relação às economias capitalistas dos países centrais; o papel excepcional desempenhado em nossos países pelos intelectuais enquanto portadores e organizadores de uma problemática ideológica e cultural comum; as lutas que as classes populares, com toda a carga de ambiguidade e diferenciações, empreenderam para conquistar um espaço “nacional” e “continental” próprio, uma independência nacional real e efetiva – tudo isto são elementos que contribuem para indicar a presença de uma matriz única. (ARICÓ, 1989, p. 420)

Desse modo, ao caracterizar a América Latina, fica fácil compreender a história da

recepção do marxismo no continente, no século XX, que é marcada por uma polarização

entre duas tendências, a saber, de um lado a ênfase nas leituras que se centravam nas

especificidades locais – ou seja, as leituras que priorizavam uma perspectiva nacional-

popular - e, em oposição, as leituras que vislumbravam a realidade a partir da supremacia

do caráter universal (típico das sociedades europeias) sobre o particular (Cf. LÖWY,

1999).

As análises que se aproximaram do nacional-popular, diluíram o conteúdo teórico

das suas leituras nas particularidades locais. Por outro lado, os analistas ligados aos

partidos comunistas integrantes da III Internacional (Internacional Comunista), em sua

apropriação específica do leninismo e consolidada e formalizada pelo stalinismo, negavam

a realidade local, caracterizando os países da América Latina como “países coloniais,

semicoloniais e dependentes”. Assim, igualavam os países do subcontinente às colônias

europeias na África e Ásia: Por sua independência formal, se diferenciavam, pois, das

colônias africanas e asiáticas; no entanto, estavam mais próximas das colônias asiáticas

por serem caracterizadas por formações sociais semifeudais e pela presença do

imperialismo estadunidense ou britânico no território.

A partir dessa associação entre semifeudalismo e imperialismo, a leitura dos

partidos comunistas indicava a necessidade de uma revolução burguesa aos moldes

21

clássicos22 posto que, sem ela, a revolução socialista proletária seria impossibilitada. Uma

leitura etapista da história, que nega a realidade local com a justificativa de uma fidelidade

a preceitos universais.

Esses extremos resultaram em equívocos tanto teóricos, quanto políticos no que

tange às estratégias para a superação dos modelos de sociedade vigentes e a vitória

internacional do socialismo, fato que demonstra o quanto o uso do conceito de formação

econômico-social tem implicações epistemológicas e políticas. Tratava-se de

compreender como o capitalismo se processava no subcontinente, ou seja, de caracterizá-

lo com vistas a escolher a melhor estratégia para a superação do capitalismo no continente.

Assim, compreender a formação econômico-social latino-americana se mostrou vital para

uma correta análise das especificidades locais.

A partir de uma visão que procurou superar a dita polarização de análises da

América Latina, fazendo uma síntese original entre as visões universal e particular, alguns

autores deram início, no campo do marxismo latino-americano, a uma leitura heterodoxa

da realidade, retomando, assim, e dando vitalidade a conceitos como o de formação

econômico-social.

2.1. Mariátegui e a análise da formação econômico-social latino-americana.

O marxismo de José Carlos Mariátegui destaca-se pela preocupação em

estabelecer uma dialética entre o nacional e internacional, marcada essencialmente pela

necessidade de compreensão da formação econômico e social peruana e do subcontinente,

que subsumia os indígenas – grande parte da população – à condição subalterna. Por essa

perspectiva, alinha-se ao maxismo-leninismo por buscar adaptar as concepções

revolucionárias às particularidades regionais, assim como Lênin fez na Rússia ao pautar

a diversidade nacional como primeiro plano, após a derrota da revolução socialista

internacional.

A tradução marxista de Mariátegui consistia, pois, em fundir teoria e realidade

local, em consonância com sua relação com o movimento operário mundial e a rejeição à

estalinização proposta na III Internacional. Cabe lembrar que o nosso “atraso colonial”

debatido também durante a III Internacional, deu respaldo ao sentimento antiimperialista

que caracterizou a luta nesta subcontinente em alguns períodos. Durante sua estadia na

22 Como o foi a Revolução Francesa (1789), por exemplo.

22

Europa, em um tipo de exílio forçado imposto pelo então governo peruano do general

Augusto Leguía, vivenciou as experiências do movimento operário nas organizações

sindicais e partidárias, acompanhou as greves nas fábricas italianas, assistiu ao XVII

Congresso do Partido Socialista em Livorno e à ascensão do fascismo, bem como os

impactos da Revolução Russa. Foi com esse vivo testemunho histórico que se firmou o

terreno onde se desenvolveu sua convicção no marxismo.

É fundamental entender a influência de Lênin no revolucionário peruano, evidente

diante da perspectiva pela qual abordou a questão indígena e a necessária união operário-

camponesa na luta de classes latino-americana partindo da análise das condições concretas

de formações sociais específicas, desde os tempos de instauração da República peruana:

(...) contratos serão rompidos e camponeses serão expulsos de suas terras, sendo obrigados, assim, a se proletarizar nos centros urbanos. Por sua vez, os núcleos da burguesia peruana, muito longe de constituir uma casta nacionalista e empreendedora que pudesse impulsionar um verdadeiro modelo de desenvolvimento “autônomo”, eram na prática dependentes ou sócios da burguesia industrial dos países de capitalismo avançado. O Estado oligárquico que se consolida nesse período, de caráter semicolonial e defensor das classes privilegiadas, portanto, ainda irá manter as características gamonalistas das elites rurais aristocráticas, continuando sua dependência dos interesses estrangeiros. (PÉRICAS, 2006, p. 178)

Ao analisar a situação econômica e social do seu país de origem, Mariátegui expõe

a premissa de que houve uma “ilusão da soberania nacional” quanto às burguesias da

América do Sul, visto que estas não possuíam nenhuma inclinação para lutar pela segunda

independência do Peru (MARIÁTEGUI, 2011, p. 130). Mas, se faz importante também

entender a trajetória política do amauta23. Antes do seu exílio europeu, que forneceu bases

para a maturação de seu pensamento desde uma perspectiva revolucionária, Mariátegui

esteve envolvido com a atividade de jornalista e com o movimento estudantil peruano, em

ebulição no início da década de 1920, influenciado pelo movimento estudantil argentino

e as reformas de Córdoba24. Em 1926, Mariátegui aceita o convite do também peruano

23 Palavra que em quéchua significa pensador, mestre e sábio, e que se tornou apelido de Mariátegui, sendo também o nome de uma revista dirigida por ele. 24 O movimento estudantil na América Latina, que se iniciou em 1918 com a luta dos estudantes de Córdoba pela reforma da universidade, assinala o nascimento da nova geração latino-americana. E fez com que a agitação posterior em outros países latino-americanos em suas respectivas universidades fosse crescente. Não se tratando de um movimento restrito à universidade, por partir da ideologia e inspiração revolucionária da revolução russa, a greve geral iniciada pelos estudantes da cidade argentina de Córdoba contra a aristocracia continha fundamentalmente três reivindicações: a participação dos estudantes no governo das universidades, a inserção dos povos latino-americanos e sua história na mesma, e a modernização do sistema universitário, onde o corpo docente não tinha representação, não se renovava e carecia de liberdade de

23

Haya de La Torre para participar da APRA, fundada em 1924 e concebida como uma

espécie de frente única antiimperialista. Foi também o ano de lançamento da revista

Amauta. De acordo com Alberto Flores Galindo, “Amauta acabou sendo mais que uma

revista: foi a antessala do partido”, conforme aconteceu com Lênin e a Iskra, Gramsci e

L’órdine Nuovo (1980, p. 69). Pelas páginas da revista podia-se encontrar escritos de

autores peruanos, latino-americanos e também textos de Lenin, Trotsky, Rosa

Luxemburgo, dentre outros.

A partir de sua participação no I Congresso Mundial Antiimperialista, em 1927,

em Bruxelas, Haya de la Torre define-se como avesso ao comunismo e transforma, em

1928, a APRA25 em um partido policlassista, sob a direção da pequena burguesia. O

“revolucionário da ordem” junto com o aprismo desenvolveu contradições que negavam

até mesmo suas promessas de não se submeter ao imperialismo norte-americano

(FERREIRA, 1971). Diante disto, Mariátegui publica na Amauta que guarda absoluta

independência em face de qualquer “partido nacionalista pequeno burguês e demagógico”:

[...] Somos antiimperialistas porque somos marxistas, porque somos revolucionários, porque opomos o socialismo ao capitalismo como sistema antagônico chamado a sucedê-lo, porque na luta contra os imperialismos estrangeiros cumprimos com nossos deveres de solidariedade com as massas revolucionárias da Europa. (MARIÁTEGUI apud ESCORSIM, 2006, p. 253)

A clareza de Mariátegui permite que este antecipe os riscos e as falácias do APRA

e de seu líder pela distância adquirida do proletário, do camponês índio em uma manobra

represantitiva-burguêsa. Em meio às polêmicas com os apristas, acelera o processo da

fundação do Partido Socialista do Peru, que se filia à Internacional Comunista. Ainda em

1928 lança Sete ensaios de interpretação da realidade peruana, sua obra mais conhecida e

difundida, rechaçando a ideia de que seria preciso passar por uma etapa de

desenvolvimento capitalista, da revolução de uma burguesia local para poder se chegar à

possibilidade de revolução socialista.

Faz-se necessário também ressaltar que a defesa da reconstrução peruana sobre a

base do índio nas ideias do autor não significam moralização ou voluntarismo romântico,

fato que comprova sua originalidade no trato da questão indígena em uma perspectiva

cátedra. Partia-se do pleno conhecimento da realidade local e regional, para se construir a partir de um vínculo dialético uma filosofia capaz de oferecer-se como arma intelectual ao proletariado. 25Concordando com Escorsim (2006), nos referiremos a APRA (Aliança Revolucionária Popular Americana) como partido e a APRA como movimento, lembrando que foi criado inicialmente como um movimento de frente única.

24

marxista, explicitada em sua – por vezes incompreendida – fé revolucionária. Contudo,

no texto Nacionalismo e vanguardismo, de 1925, Mariátegui denunciava que o

nacionalismo reacionário tinha suas raízes no mundo hispânico e latino, mas não no

Incário autóctone.

Os indigenistas revolucionários, em vez de um platônico amor ao passado incaico, manifestam uma ativa e concreta solidariedade com o índio de hoje. Este indigenismo não sonha com utópicas restaurações. Considera o passado como uma raiz, mas não como um programa. Sua concepção da história e de seus fenômenos é realista e moderna. Não ignora nem esquece nenhum dos fatos históricos que, nestes quatro séculos, modificaram, com a realidade do Peru, a realidade do mundo (MARIÁTEGUI,1925, tradução livre).

Sem deixar de lado a análise de classe, tampouco as particularidades do

subcontinente e das formas de organização social, política e econômica dos povos

autóctones, Mariátegui esmiúça em suas obras como verdadeiramente se deu a

subordinação indígena à colonização europeia. Clarifica a questão cultural, a relação

intrínseca do índio com a terra e a natureza, mas não subordina a diferenciação de “raças”

em relação à necessidade apontada por ele de construir uma organização econômica

coletiva, que viria a transformar-se numa “hegemonia da classe proletária”, em termos

marxistas em meio ao desenvolvimento da colonização como necessidade de expansão do

capitalismo (MARIÁTEGUI, 2011, p. 144). No capítulo nevrálgico dos Siete ensayos de

título “O problema da terra”, Mariátegui apontou a estreiteza da relação que o homem

índio possui com a terra e a natureza, demonstrando que foi através dessa relação e de sua

expropriação que se produziam as relações de exploração no trabalho, essa sim, condição

fundante para a desigualdade e que determinou as particularidades da formação

econômico social do Peru e da América Latina.

Os diferentes movimentos nacionalistas revolucionários expressavam diversos

níveis de transição, nas colônias e semicolônias, entre correlações feudais, feudais-

patriarcais e capitalistas e no Peru, estava claro para o amauta que as burguesias locais

incipientes viam na cooperação com o imperialismo uma melhor fonte de ganhos, sem

preocupar-se verdadeiramente com a soberania nacional. Vejamos as resoluções das

“Teses gerais sobre a questão do Oriente” que diziam que a frente única proletária seria

aplicável aos países imperialistas, enquanto a frente única antiimperialista seria adequada

aos demais, no IV Congresso da IC:

O progresso constante das forças produtivas autóctones nas colônias encontra-se em contradição irredutível com os interesses do capitalismo mundial, pois a essência do imperialismo implica a utilização da

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diferença de nível existente no desenvolvimento das forças produtivas dos diversos setores da economia mundial, com o objetivo de assegurar a totalidade da mais-valia monopolizada. (Los Cuatro Primeros Congresos De La Internacional Comunista, 1973, p. 224, tradução livre)

A própria revolução de independência do Peru, nas palavras de Mariátegui,

encontrou um país atrasado na formação de sua burguesia, não consistindo em um

movimento das massas indígenas e de suas reivindicações. Da esteira dessa reflexão,

indica que as consequências práticas dessa revolução só poderia ser, no que se relacionava

com a propriedade agrária, limitada aos interesses dos grandes proprietários

(MARIÁTEGUI, 2010, p. 83) Complementa:

A aristocracia latifundiária, se não em seus privilégios de princípio, conserva suas posições de fato. Continuava sendo a classe dominante no Peru. A revolução não tinha realmente elevado ao poder uma nova classe. A burguesia profissional e comerciante era muito fraca para governar. A abolição da servidão não passava, por isso, de uma declaração teórica, porque a evolução não tinha tocado no latifúndio. (Ibid. p. 84)

A questão fundamental seria, portanto, democratizar e socializar o acesso à terra,

a única condição para que o índio pudesse melhorar sua posição como um todo,

compreendida a partir da análise da formação econômico social latino-americana. Para

tanto, o norte mariateguista era a revolução socialista que aconteceria mediante uma frente

única de classes hegemonizadas pelo proletariado e que previa um largo e árduo trabalho

educativo de suas vanguardas, ao passo que forem superados os elementos dissolventes e

ultrapassadas as reivindicações imediatas.

Em um momento em que o nacional-desenvolvimentismo retorna como discurso

dos governos pós-neoliberais, e em que Chávez e Evo Morales reavivam velhas ilusões

no nacionalismo; as conclusões de Mariátegui sobre as experiências internacionais (como

a revolução chinesa) e sobre o desenrolar da Aliança Popular Revolucionária Americana

(APRA) trazem o alerta da inviabilidade das direções pequeno-burguesas ou de contar

com as burguesias autóctones – até mesmo como aliadas – no combate ao imperialismo.

Logo, a interpretação da formação econômico-social, contida nos Sete Ensaios de

Interpretação da Realidade Peruana, de Mariátegui evidenciaram o caráter dependente

do capitalismo local e do tipo de dominação autocrático-burguesa historicamente

implantada no território. Nesse sentido, Mariátegui ao demonstrar o caráter pró-

imperialista da chamada “burguesia nacional”, também aponta a continuidade estrutural

de formas pré-capitalistas de exploração, imbricadas nas modernas relações sociais de

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produção capitalistas, por conta da posição subordinada das formações nacionais de

origem colonial no cenário da divisão internacional do trabalho.

Tais conclusões teóricas, evidenciam a vitalidade e importância da análise que

toma como ponto de partida o conceito de formação econômico-social para compreender

o capitalismo local, principalmente quando, nesse horizonte teórico se encontra o anseio

por desenvolver as estratégia para a sua superação.

2. 2. A análise da formação econômico-social brasileira por Caio Prado Jr.

Tanto o grande debate que se deu no início dos anos 1950, em torno da questão do

desenvolvimento, quanto a sua posição de, naquele contexto, se diferenciar ao trazer para

o debate o ponto de vista teórico e metodológico do marxismo, representam as marcas da

construção do pensamento de Caio Prado Júnior. Como intelectual militante, esteve

envolvido politicamente com o Partido Democrático e com o processo revolucionário de

1930-1932, tendo aderido em 1931, ao PCB (IGLÉSIAS,1982).

Ao desenvolver o conceito de “sentido da colonização” em Formação do Brasil

Contemporâneo: Colônia, publicado em 1942, Caio Prado Júnior explicita um conceito

fundamental para a compreensão da formação econômico-social do Brasil. O marxista

filiado ao PCB - mas que mantinha em seu interior uma posição diferenciada, já que suas

leituras fugiam aquela embebida da stalinização que reinava sobre os PC’s à época –

define, a partir de sua pesquisa historiográfica que:

No seu conjunto, e vista no plano mundial e internacional, a colonização dos trópicos toma o aspecto de uma vasta empresa comercial, mais completa que a antiga feitoria, mas sempre com o mesmo caráter que ela, destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu. É este o verdadeiro sentido da colonização tropical, de que o Brasil é uma das resultantes: e ele explicará os elementos fundamentais, tanto no econômico como no social, da formação e evolução históricas dos trópicos americanos. [...] Se vamos à essência da nossa formação, veremos que na realidade nos constituímos para fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde ouro e diamantes; depois, algodão, e em seguida café, para o comércio europeu. Nada mais que isto. E com tal objetivo, objetivo exterior, voltado para fora do país e sem atenção a considerações que não fossem o interesse daquele comércio, que se organizarão a sociedade e a economia brasileiras. Tudo se disporá naquele sentido: a estrutura, bem como as atividades do país." (PRADO JÚNIOR,1981, p. 31-32).

Ao buscar entender a colonização portuguesa, bem como a presença e a

estruturação da empresa portuguesa na América - integradas ao contexto das grandes

transformações porque passava a Europa, cuja conquista e colonização do “Novo Mundo”

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são peça importante – a obra de Prado Jr., por sua originalidade pioneira de aplicar, para

a compreensão das especificidades e do papel do Brasil, o marxismo como instrumento

analítico, é reconhecida destacadamente no campo da história (RICUPERO, 2000;

SANTOS, 2001), pois, como importante pensador, desde diferentes áreas das ciências

sociais, contribuiu para a compreensão do conceito de formação econômico-social do

Brasil.

Pela compreensão de conjunto da realidade econômica brasileira, somada à sua

capacidade crítica permitiram Caio Prado Jr. - tecendo críticas explícitas ao modelo

cepalino de desenvolvimento para a América Latina e que na época encontrava na obra de

Celso Furtado (1954) um defensor da aplicabilidade dessas teses para o Brasil - detectar

que o desenvolvimento econômico não se resolvia com simples “substituição de

importações”; ou mesmo “difusão da técnica moderna”, ao que afirma o autor:

O problema de países periféricos de nosso tipo não consiste simplesmente em serem atendidos pela “propagação de técnica moderna”, e adotarem em consequência essa técnica, e sim de criarem as condições para isso, o que é bem diferente. E sobretudo, colocarem essa técnica a serviço de um objetivo de antemão determinado: determinação essa que constitui o ponto mais complexo da questão. De altíssimo nível técnico são as refinarias de petróleo da Venezuela e do Oriente, mas nem por isso elas significam muita coisa para esses países e suas populações. (PRADO JÚNIOR, 1954, p. 171).

Desse modo, sua crítica representa a compreensão da realidade econômica

considerada como totalidade complexa e contraditória que, ao buscar a raiz da sua

existência, evidencia os nexos e as determinações essenciais sobre a formação econômico-

social brasileira.

Mesmo ao desenvolver uma heterodoxia de pensamento e formulações teóricas

em relação ao PCB (ainda que tenha se mantido militante até o falecimento), a sua

caracterização do “sentido da colonização” do Brasil não se descola da dialética marxiana,

posto que mobiliza as suas categorias com os fatos em termos de relações, processos e

estruturas, localizando e explicando as desigualdades, as diversidades e também as

contradições sociais. Ele procura, em sua linha de investigação, o sentido estrutural, ou

seja, as relações sociais e o modo de produção capitalista. Demonstra, também, que os

eventos e iniciativas individuais ou coletivas ocultam um interesse de classe, que está

diretamente ligado à lógica geral de acumulação que caracteriza o modo de produção

capitalista.

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Desse modo, o manuseio do seu objeto, baseado na especificidade do tempo

histórico do Brasil (que não é, no interior do marxismo, outra coisa senão uma clara

relação com o conceito de formação econômico-social), permitiu a Caio Prado - sem cair

no essencialismo, nem tão pouco num reducionismo de aplicação de fórmulas teóricas

mecânicas - realizar uma síntese entre o que nos é particular e o que, de maneira universal,

se constitui o modo de produção capitalista como característica histórica fundante da

realidade brasileira.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento de estratégias com vistas à superar o capitalismo exige

conhecimento da realidade sobre a qual se vai atuar, daí a importância de compreensão

dos limites e das resistências que se impõem da história, em suas múltiplas relações, em

cada lugar.

É dessa preocupação que emana a centralidade de se manter no horizonte teórico

conceitos como o de formação econômico-social para conhecer a realidade e intervir sobre

ela mediante estratégias adequadas a cada situação concreta.

Foi precisamente essa preocupação que impulsionou (resguardadas as devidas

diferenças) tanto as formulações de Mariátegui, quanto as de Caio Prado Jr. sobre as suas

realidades; e os manteve ligados ao marxismo, pelo método materialista da história e pelo

fim revolucionário que buscavam, mas considerando de maneira privilegiada em suas

formulações, as relações dessas demandas presentes com o passado de suas sociedades.

No Brasil atual, por exemplo, a última década iniciou-se apresentando, a partir

da recuperação das teses desenvolvimentistas nos governos petistas (2003 -2016), uma

proposta de modernização do Estado brasileiro, cujos limites se evidenciam pelo curioso

paradoxo desses governos ditos “pós neoliberais” estarem, a um só tempo, como

caracteriza Giovanni Alves, comprometidos programaticamente tanto com o crescimento

da economia, como com a redistribuição de renda, o que os empurra a preservarem e

reforçarem os pilares do Estado neoliberal no Brasil (ALVES, 2013, s/nº de página).

Na verdade, a crença na possibilidade de aliança entre “burguesia interna” e

classes subalternas, é a base para a formulação teórica de uma ilusória estratégia de “frente

neodesenvolvimentista” (BOITO, 2012) e cujos limites se ressaltaram a partir de 2008,

quando a crise (que tendo se iniciado no coração do capitalismo) se espalhou para as

demais partes do mundo, continuando por se avolumar como uma “crise estrutural” do

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sistema capitalista. Logo, países da periferia do sistema - que desde o início dos anos 2000,

por conta de um processo de “excepcionalidade” aberto a partir do fenômeno do “boom

das commodities26”, vinham experimentando uma ascensão de governos vindo das bases

populares e que se apresentavam enquanto “alternativa” para o desenvolvimento de um

capitalismo não-dependente naquele momento histórico – passaram a amargar, agora no

momento em que se abate sobre seu conjunto os efeitos dessa crise, o fim de seus ciclos.

A ausência de caracterizações corretas sobre as concretas formações sociais

latino-americanas resulta em equívocos teóricos e estratégicos de aposta na política de

alianças. Diante dessa realidade, resgatar o pensamento de autores como Caio Prado

Júnior e Mariátegui, se coloca como importante reflexão do papel que ainda possui pensar

a partir de conceitos, tais como o de formação econômico-social, que se evidencia na

maneira e preocupação com que estes autores se debruçaram sobre as suas realidades, não

somente para compreendê-las, como também para revolucioná-las a partir da construção

de um outro mundo possível.

REFERÊNCIAS

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26 Este foi fator importante na abertura de possibilidades de subida ao poder desses governos, pois a rápida industrialização de países emergentes (como a China, em especial) fez com que mercadorias - principalmente minérios e gêneros agrícolas, que são produzidos em larga escala e comercializados em nível mundial e que têm preços baixos e definidos pelo mercado internacional (são produtos primários e que quase não passaram pelo processo de industrialização) - experimentassem grande elevação de preços. Esse fato impulsionou o crescimento de muitos países da América Latina como os grandes produtores de soja, petróleo, gás e minérios, que passaram a ter esse modelo de acumulação como coluna de sustentação das suas políticas “neodesenvolvimentista”.

30

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