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1842 O COLÉGIO TÉCNICO INDUSTRIAL DE SANTA MARIA NO CONTEXTO DA CHAMADA REDEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL Profª Drª Roselene Gomes Pommer Professora de História do CTISM/UFSM [email protected] Mestrd. Bruna Lima Bolsista CAPES - PPGH/UFSM [email protected] Introdução Os últimos anos da década de 1970 e os da primeira metade da década 1980 foram marcados, no Brasil, por movimentos sociais de luta pela redemocratização política do país 1 . O esgotamento dos modelos político e econômico impostos pelos governos ditatoriais autoinstituídos a partir de 1964, decorrente da crise do sistema capitalista mundial, tornou visível a dificuldade de os governos manterem o controle sobre os movimentos de contestação, frequentes durante toda a ditadura. Disso decorreu a reordenação política do país, o que trouxe implicações, inclusive, nas relações pedagógicas escolares por meio da criação de novos espaços para ações educativas. O Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (CTISM), vinculado a Universidade Federal homônima, desde a sua implantação em 1967, teve como objetivo a profissionalização técnica de nível médio de seus alunos como indica a sua denominação. Mesmo mantendo essa forma de apresentação nos seus 45 anos de atuação, a cultura pedagógica do CTISM produziu identificações diferentes, relativas a quatro fases: a primeira, a fase de implantação, período de 1963, quando começou a ser discutida a fundação do Colégio, até 1969, ano da formação da primeira turma; a segunda, a fase de afirmação, de 1970, quando o mercado de trabalho recebeu os primeiros técnicos em Mecânica e Eletrotécnica, até 1985, época do início das primeiras alterações pedagógicas e administrativas; a terceira, fase de revisão, de 1986 quando os efeitos da fase anterior começaram a ser sentidos, até 2005, época em que teve início a ampliação que deu origem a quarta e atual fase, a de renovação 2 . Analisando os contextos históricos próprios de cada fase, podemos localizar as condicionantes que contribuíram para a produção daquelas 1 Ditadura civil-militar 1964-1985. Não se quer dizer que desde 1964 não houvesse oposição ao modelo imposto pela ditadura, mas tão somente que a partir deste período, pelas contradições inerentes a este tipo de regime, fragilidade política e repressão, houve uma intensificação da luta pela redemocratização do Brasil. 2 Este texto é parte de um estudo mais amplo relativo ao Processo Histórico do CTISM, por isso a refer- Este texto é parte de um estudo mais amplo relativo ao Processo Histórico do CTISM, por isso a refer- ência a outros períodos de sua existência.

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O COLÉGIO TÉCNICO INDUSTRIAL DE SANTA MARIA NO CONTEXTO DA CHAMADA REDEMOCRATIZAÇÃO DO BRASIL

Profª Drª Roselene Gomes PommerProfessora de História do CTISM/UFSM

[email protected]

Mestrd. Bruna LimaBolsista CAPES - PPGH/UFSM

[email protected]

IntroduçãoOs últimos anos da década de 1970 e os da primeira metade da década 1980 foram

marcados, no Brasil, por movimentos sociais de luta pela redemocratização política do país1. O esgotamento dos modelos político e econômico impostos pelos governos ditatoriais autoinstituídos a partir de 1964, decorrente da crise do sistema capitalista mundial, tornou visível a dificuldade de os governos manterem o controle sobre os movimentos de contestação, frequentes durante toda a ditadura. Disso decorreu a reordenação política do país, o que trouxe implicações, inclusive, nas relações pedagógicas escolares por meio da criação de novos espaços para ações educativas.

O Colégio Técnico Industrial de Santa Maria (CTISM), vinculado a Universidade Federal homônima, desde a sua implantação em 1967, teve como objetivo a profissionalização técnica de nível médio de seus alunos como indica a sua denominação. Mesmo mantendo essa forma de apresentação nos seus 45 anos de atuação, a cultura pedagógica do CTISM produziu identificações diferentes, relativas a quatro fases: a primeira, a fase de implantação, período de 1963, quando começou a ser discutida a fundação do Colégio, até 1969, ano da formação da primeira turma; a segunda, a fase de afirmação, de 1970, quando o mercado de trabalho recebeu os primeiros técnicos em Mecânica e Eletrotécnica, até 1985, época do início das primeiras alterações pedagógicas e administrativas; a terceira, fase de revisão, de 1986 quando os efeitos da fase anterior começaram a ser sentidos, até 2005, época em que teve início a ampliação que deu origem a quarta e atual fase, a de renovação2. Analisando os contextos históricos próprios de cada fase, podemos localizar as condicionantes que contribuíram para a produção daquelas

1 Ditadura civil-militar 1964-1985. Não se quer dizer que desde 1964 não houvesse oposição ao modelo imposto pela ditadura, mas tão somente que a partir deste período, pelas contradições inerentes a este tipo de regime, fragilidade política e repressão, houve uma intensificação da luta pela redemocratização do Brasil.2 Este texto é parte de um estudo mais amplo relativo ao Processo Histórico do CTISM, por isso a refer- Este texto é parte de um estudo mais amplo relativo ao Processo Histórico do CTISM, por isso a refer-ência a outros períodos de sua existência.

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diferenças de identificações na cultura pedagógica do CTISM. Uma dessas análises, a da segunda fase, demonstrou as consequências de duas

situações políticas que influíram nas experiências pedagógico-administrativas da escola: a do Milagre Econômico Brasileiro3 e a da Redemocratização do País. Com apoio em relatos orais, reportagens de jornais, fotografias e documentos escolares, pretende-se analisar as consequências da reordenação política do Brasil para o CTISM, a fim de que se possa refletir sobre as suas experiências pedagógicas durante a transição da fase de afirmação para a de revisão, quando novas alternativas pedagógicas se configuraram em tomadas de posições diferentes daquelas experimentadas desde a sua implantação, em 1967.

Este trabalho integra uma pesquisa mais ampla, a qual foi provisoriamente dividida nas quatro fases anteriormente citadas. O método utilizado é o histórico-crítico: toma o trabalho como mediação ontocriativa do homem e questiona a mera formação de mão-de-obra para um mercado dado como sendo alguma entidade supra-histórica ou metafísica. O método implica pensamento crítico o que por sua vez implica uma crítica de dentro da história; racional e documentalmente fundamentada, cujos pressupostos e resultados são, portanto, publicamente justificáveis.

1. O Esgotamento da Ditadura Civil-Militar e a redemocratização do Brasil

Em A Era dos Extremos, Eric Hobsbawm analisa o processo histórico mundial ocorrido durante o século XX a partir de referenciais econômicos e políticos. Para o autor, este século se constituiu de três “Eras” contrastantes entre si: a era da Catástrofe, seguida da era do Ouro e por fim, a era do Desmoronamento. Esta última, gerada por fatores que começaram a ser produzidos no início da década de 1970, se caracterizou por mais uma crise econômica do capitalismo mundial e por consequências significativas dela decorrentes nos campos da economia, da política, das relações sociais entre as classes e no âmbito da cultura. Isso fez da história das décadas de 1970, 1980 e 1990, a história de “um mundo que perdeu suas referências e resvalou para a instabilidade e a crise” (Hobsbawm: 2008, p. 393).

O Brasil, de sua parte, após a Segunda Guerra Mundial apresentou momentos de prosperidade econômica que podem ser sistematizados em ciclos de acumulação de capitais, que integraram o que Hobsbawm chamou de “Era do Ouro”. O último deste período ocorreu entre 1969 a 1974, durante o governo do General Emílio Garrastazu

3 Informações a respeito do trabalho que envolve essa fase estão disponíveis em: http://www.esocite.org.br/eventos/tecsoc2011/cd-anais/arquivos/pdfs/artigos/gt002-asexperiencias.pdf.

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Médici e ficou conhecido como milagre econômico brasileiro. Administrada pelo então ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto, integrante da extrema direita civil, a economia brasileira cresceu em torno de 10% ao ano, causando euforia desenvolvimentista nos meios econômicos. Mesmo assim, já eram sentidos, naquele período, os efeitos sociais do esgotamento da capacidade de acumulação do modelo financeiro-industrial, devido ao arrocho salarial imposto. Aliás, foi a redução significativa dos salários dos trabalhadores que subsidiou o relativo crescimento econômico brasileiro até aquele momento, fazendo do Brasil, na análise de Hobsbawm, o “monumento da injustiça social” (2008, p. 397).

Porém, à crise não podem ser atribuídas apenas causas internas, pois como afirmamos anteriormente, ela foi mundial, ou pelo menos da parte industrializada do mundo ocidental. Por isso, devemos relacioná-la às próprias contradições internas do capitalismo monopolista mundial cujo ápice ocorreu na crise de 1929, com a quebra das bolsas de valores dos Estados Unidos, o que ocasionou o fenômeno conhecido como a grande depressão, cujas consequências perduraram até o fim da segunda grande guerra mundial, em 1945. O modelo anterior a 1929 se alicerçava no liberalismo clássico, isto é, na liberdade de mercado. Como o modelo entrou em colapso, a partir de 1944 os chamados países aliados estabeleceram um acordo de regulamentação da economia conhecido por Bretton Woods, baseado no controle de câmbio atrelado ao dólar e o dólar ao ouro, cujo valor foi determinado independentemente do mercado e seu preço passou a ser de 35 dólares a onça Troy. Em 1971, o presidente americano Richard Nixon suspendeu unilateralmente a paridade ouro-dólar, o que significou um verdadeiro calote mundial nos demais países que repentinamente tiveram suas moedas submetidas ao que se chamou, desde 1973, de taxas flutuantes de câmbio. Desde então o câmbio é operado tendo o dólar como referência. As causas desta decisão estão no profundo endividamento dos EUA decorrentes, além das contradições internas de seu sistema econômico, da sua participação em guerras sucessivas depois de 1945, especialmente a do Vietnã cujos custos foram imensos.

Esse exemplo ilustra que, desde o final dos anos 60, o capitalismo internacional apresentava sinais de esgotamento da capacidade de acumulação de capitais. Ocorre que a burguesia internacional valeu-se do suporte econômico e estratégico dado pelos Estados por intermédio de políticas intervencionistas, ou seja, da transferência de dinheiro público para a iniciativa privada, o que caracterizou o quadro econômico mundial desde a depressão de 1929 e acentuou-se no período do pós II Guerra. No pós-guerra a mesma burguesia valeu-se do apoio dos trabalhadores e dos partidos de esquerda no esforço de reconstrução dos países destruídos pela guerra, descartando-os depois que o objetivo foi alcançado. Ou seja, depois que houve uma grande transferência de capitais públicos para a

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iniciativa privada, depois que os comunistas, socialistas e trabalhadores em geral ajudaram com as suas ideias inovadoras e transferência de mais-valia em esforço concentrado, eles foram excluídos da cena econômica e política, sendo milhares deles presos e, inclusive, eliminados fisicamente, especialmente nos Estados Unidos e no Japão.

O esforço concentrado dos trabalhadores e partidos de esquerda na recuperação da Europa e Japão foi pago, conforme Hobsbawm, muitas vezes com a morte. Porém, foi este esforço que fez surgir a Era de Ouro que durou até o início da década de 1970, cuja crise foi consequência justamente da exclusão da partição aludida e pela desumana e absurda acumulação privada de capital. O remédio sugerido para a crise foi o da volta ao liberalismo clássico a partir da convicção da autorregulamentação do mercado. Este movimento de volta ao conservadorismo econômico fez com que as décadas de 1970 e 1980 fossem marcadas pela perda de poder de intervenção dos Estados nacionais na economia. O período foi denominado de “a era em que os Estados nacionais perderam seus poderes econômicos” (Hobsbawm, 2008, p. 398). O pensamento que passou a predominar é destacado por Otávio Conceição (1990, p. 21): a profunda crise que assolou o sistema capitalista mundial demonstrou o esgotamento de todas as formas institucionais de estrutura que sustentavam seu modo de regulação. Como decorrência se fazia necessárias transformações na organização dos Estados, nos valores e referências monetárias, nas relações capitalistas internacionais e nas relações de produção interna, especialmente de trabalho. Ora, isso significa a volta ao liberalismo clássico, cujo resultado é o enfraquecimento dos Estados nacionais e o aniquilamento da atividade sindical.

A este quadro mundial, somaram-se, a partir de outubro de 1973, os efeitos da guerra do Yom Kippur entre uma coalizão de Estados árabes liderada pelo Egito e pela Síria contra o Estado de Israel. Mesmo de curta duração (06 a 26/10/1973), o conflito produziu consequências mundiais extensas, advindas do uso que os países árabes fizeram do petróleo como arma política, quando os grandes exportadores do produto no Oriente Médio elevaram abruptamente o preço do barril e estabeleceram cotas para a sua produção. As principais economias capitalistas do mundo e, também, os principais importadores e consumidores do produto, Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão, foram os maiores atingidos (OLIC, 1993, p. 65-69). Na verdade, o aumento do preço do petróleo também foi decorrente da ação dos países ocidentais em aumentar exageradamente o preço de produtos agrícolas e industrializados exportados para os países produtores de petróleo. O trigo chegou a ser vendido com um ágio de 300 por cento.

O Brasil foi afetado diretamente tendo que pagar mais pelo petróleo importado, e indiretamente com a retração do comércio internacional. Em função disso, o país passou

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a exportar menos e a gastar mais com as importações, aumentando o déficit na balança comercial, justificando-se a necessidade de se desenvolverem políticas governamentais de incentivo à produção agrícola, na tentativa de equilibrar as reservas cambiais do país. Evidentemente aquela decisão governamental mais uma vez foi equivocada, pois, a agricultura dependia e depende exageradamente do petróleo, ou seja, ela necessita de combustível, pneus, lubrificantes, de transporte e de fertilizantes. Além do que, trata-se de atividade primária com pouco valor agregado.

Este contexto externo de crise ocasionou, inevitavelmente, o aumento dos juros do sistema financeiro internacional, o que elevou a dívida externa brasileira. Para pagar seus compromissos, o governo tomava novos empréstimos, aumentando ainda mais a dívida com instituições financeiras internacionais. A inflação elevou-se, diminuindo o poder de compra dos trabalhadores.

O aumento vertiginoso do preço do petróleo no final de 1973 atingiu o Brasil em cheio, não apenas em suas contas externas, mas no próprio cerne do projeto de desenvolvimento. (...) Além do aumento do preço do petróleo encarecer as importações brasileiras, produzira uma forte recessão nos países industrializados, o que gerou uma queda nos investimentos externos e nas importações de produtos brasileiros por parte destes e de países em desenvolvimento não produtores de petróleo. No plano interno, o mercado consumidor também se reduzia, colocando a produção e o comércio brasileiros em sérias dificuldades (VIZENTINI, 2000, p. 28).

Ainda, conforme Otávio Conceição existe uma clara associação entre a diminuição dos investimentos e a crise do final dos anos 70. No Brasil, a retração dos investimentos foi consequência tanto da redução da poupança interna, pois, a elevação dos juros da dívida externa levava a transferência cada vez maior, de recursos para o exterior, quanto do desequilíbrio das finanças públicas, tornando o Estado cada vez mais endividado. Porém, não se pode esquecer que a crise decorreu, sobretudo, do esgotamento do modelo de desenvolvimento do país, experimentado na passagem da década de 1960 para a de 1970 e que, em verdade, era frágil e superficial, pois estava baseado na capacidade do Estado em atrair financiamentos externos, o que promovia o aumento da dívida pública. “As consequências desse quadro persistente foram a explosão do processo inflacionário – que conduziu o país à beira da hiperinflação – e o total descontrole do ‘déficit’ público” (CONCEIÇÃO, 1990, p. 24/25).

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Para combater a crescente inflação, o governo aumentou os juros, diminuiu os créditos e manteve uma política de arrocho salarial, provocando recessão e queda nas atividades econômicas e na geração de empregos. Os custos com as importações superavam cada vez mais os ganhos com as exportações. Em 1979, o cenário econômico de recessão mundial agravou-se com novo salto dos juros no sistema financeiro norte-americano.

A situação econômica e política mundial tornou-se dramaticamente adversa para o Brasil com o Segundo Choque Petrolífero (devido à Revolução no Irã e à guerra com o Iraque) (...) em 1981 Reagan promoveu uma violenta elevação da taxa de juros, tendo como um dos objetivos aumentar a dívida externa dos países do sul. Assim a crise da dívida constituía um instrumento de pressão contra a política econômica dos mesmos e um golpe mortal no projeto de desenvolvimento de nações como o Brasil (VIZENTINI, 2000, p. 32/33).

Como o Brasil tomava empréstimos nos bancos estrangeiros, explica-se a elevação da dívida externa. Some-se a isso a ocorrência de nova crise do petróleo, desta vez, provocada pela Revolução Iraniana em 1979 (OLIC 1993, p. 39-42). O preço do barril de petróleo atingiu níveis recordes agravando a recessão econômica do final da década de 1970 e do início dos anos 80, diminuindo os investimentos estrangeiros na América Latina, e colocando em risco os alicerces do tripé Capital Privado Nacional, Capital Estrangeiro e Capital Estatal que até então haviam embasado o chamado Milagre Econômico Brasileiro (CONCEIÇÃO, 1990, p.17).

A crescente dificuldade de o governo subsidiar a produção provocou queda nas exportações, fazendo diminuir o fluxo de capital estrangeiro. Este fato, somado ao aumento da dívida externa, provocou uma severa recessão no início dos anos 80. Neste período o ministro Delfim Netto voltava a ocupar a pasta da Fazenda, sendo o responsável pelas negociações brasileiras com o Fundo Monetário Internacional. O sistema financeiro internacional passou então a exigir do país um programa rígido de controle das finanças públicas como condição para a liberação de novos empréstimos. A saída encontrada pelo governo foi adotar medidas paliativas que buscavam ganhar tempo, mas que não alteravam o projeto de desenvolvimento, que, obsoleto, mergulhava em um processo de desagregação (VIZENTINI, 2000, p. 34).

A partir de então, as transformações políticas foram inevitáveis. Conforme Coggiola (2001, p.94), a crise do capitalismo mundial colocou em xeque a legitimidade dos modelos políticos impostos pelas ditaduras militares, contribuindo para a substituição delas por

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governos considerados democráticos. Diante de forte pressão social, especialmente a partir do surgimento do sindicalismo combativo4, o governo acelerou o processo de abertura política, pois “as greves de 1978 e 79 foram prenúncios da inviabilidade de conter as pressões sociais existentes, no sentido de clamarem pela redemocratização do país” (GOHN, 1995, p.119).

A chamada abertura política teve início com a reordenação partidária do Brasil. Em agosto de 1979, com a assinatura da Lei de Anistia5, foi permitido o retorno ao país dos exilados e, em novembro do mesmo ano, efetivada a Reforma Partidária, extinguindo o bipartidarismo, polarizado no Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e na Aliança Renovadora Nacional (ARENA), abrindo caminho para a criação de novos partidos políticos nos primeiros meses de 1980. No final daquele ano, também foi aprovada a Emenda Constitucional que autorizava eleições diretas para governadores dos Estados.

A chamada redemocratização política significou, pura e simplesmente, a saída do grupo de militares do controle administrativo direto do Brasil, com a entrega do governo a civis. Essa alteração não resultou em qualquer mudança na estrutura social ou de modelo econômico, pois os mesmos grupos compostos por empresários e tecnocratas nacionais ligados aos interesses do capital externo se mantiveram no poder.

Apesar de discutível, a chamada abertura política, expressada inicialmente pelo pluripartidarismo, pela possibilidade de eleições diretas para governadores de Estados e pelo retorno de exilados, teve certa influência na organização das instituições federais, de todos os níveis. Com o Colégio Técnico Industrial da UFSM não foi diferente.

2. O CTISM no Contexto da Redemocratização

O CTISM iniciou suas atividades em abril de 1967 e apesar das carências e dificuldades estruturais e humanas presentes no seu processo de instalação6, em 17 de

4 Sindicalismo combativo significou a reorientação política das representações classistas. Até o período, as preocupações dos dirigentes sindicais se centravam em atividades assistencialistas e recreativas, como herança do atrelamento dos sindicatos ao Estado. Porém nesse momento, as ações sindicais assumiram efetivamente um viés político oposicionista, pautando-se nas relações de trabalho e no combate ao governo ditatorial que havia comprometido o poder de compra dos trabalhadores através das políticas de arrochos salariais anteriores. Conforme Maria da Glória Gonh (1995, 113-114), “a retomada do sindicalismo crítico, não pelego foi o grande elemento transformador [e articulador] (...) da adesão em massa das greves de 1978, expressão máxima desse processo”.5 Lei 6.683, de 28/08/1979. Na verdade essa lei beneficiou mais os agentes da repressão do que os que lutaram contra a ditadura.6 Para maiores informações, ver POMMER, Roselene M. Gomes. LIMA, Bruna. O Processo Histórico de Instalação do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria. In: www.eeh2010.anpuh-rs.org.br/resources/

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dezembro de 1969 formavam-se as primeiras turmas de técnicos em Eletrotécnica e Mecânica. Ainda no ano de sua fundação, o Colégio foi administrado por três diretores. O terceiro deles, Ênio Cureau, permaneceu no cargo por 11 anos consecutivos. Aquele período diretivo é lembrado por ex-alunos e ex-professores como de estagnação da Escola que, estando vinculada ao Centro de Tecnologia (CT), tinha dificuldades para aprovar projetos que lhe possibilitassem o aparelhamento dos espaços pedagógicos e a expansão da oferta de cursos. Dentre as impressões desta época, destaca-se a do professor Anilo José Wattier (2012, p. 03), integrante da primeira turma do Curso Técnico em Mecânica

Permaneceu [Ênio Cureau] por dez anos na direção. Um período de quase estagnação. Era uma dependência do Centro de Tecnologia ao qual o colégio era hierarquicamente vinculado, que dificultava a aplicação de verbas do Centro no CTISM por pouca valorização que se dava ao Colégio naquela época, e também ao precário prestígio da pessoa do dirigente.

Embora na citação uma única pessoa seja responsabilizada pelas dificuldades do CTISM, é necessário considerar todo o contexto político e econômico do período. Possivelmente outro dirigente também não lograsse maior êxito. A década da direção Cureau coincide, historicamente, ao período que Hobsbawm identificou como o do final da concentração de poderes e de decisões nas mãos dos Estados nacionais e de transferência das decisões econômicas para as empresas privadas, bem como a transferência de alguns serviços como os de telefonia, distribuição de energia e outros. Mesmo assim, muitos Estados nacionais mantiveram o controle de setores estratégicos como correios, educação, exército, assistência social, policiamento, sistema prisional e de saúde pública. Nos Estados democráticos a administração da justiça também permaneceu mantida pelo Estado, mesmo que constitucionalmente reconhecida como um poder independente.

No Brasil, as intervenções do Estado ocorreram em diversos setores, principalmente na organização da estrutura econômica visando a sua industrialização a partir de 1930. Paulatinamente a educação também passou a ser financiada pelo Estado, criando-se um sistema de educação pública, mesmo que precário. Porém, como os objetivos da educação privilegiaram a instrução para o mercado de trabalho das classes pobres e a formação de dirigentes entre os ricos, foi esquecida a pesquisa científica que só recentemente passou a ter alguma relevância. Isso significa que, no fundo, o Estado brasileiro sempre se preocupou em transferir recursos públicos para a iniciativa privada, o que continua ocorrendo mesmo com a propalada substituição do modelo preconizado como regulador da economia pelo neoliberal, o qual Hobsbawm chamou de “teologia de livre mercado”, que força a “transferência de empregos para formas empresariais de maximização de lucros” (2008, p. 404). Na verdade, no Brasil não são somente postos de trabalho, mas

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no governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso foram transferidos para a iniciativa privada bancos públicos, a empresa estatal Vale do Rio Doce, serviços de telefonia e boa parte do sistema educacional através da permissão da abertura indiscriminada de cursos técnicos e superiores. Foi reforçado o chamado Sistema S, um sistema de ensino cujo princípio é a pura e simples formação de mão de obra e que é alimentado com o dinheiro dos trabalhadores, isto é, 2,5% sobre a folha de pagamento das empresas.

Evidentemente todas estas alterações econômicas e políticas influíram no CTISM. As consequências deste contexto foram percebidas através da reorientação de sua identificação pedagógica: de um modelo de adestramento político e moral de trabalhadores para o mercado, típico do auge da ditadura civil-militar, para um modelo de acentuada qualificação técnica de trabalhadores para um mercado estruturado com base em outras relações de trabalho, através das quais o interesse do capital intensificou a apropriação do conhecimento e da qualidade de produção operária. A escola, que anteriormente exercia uma função orientada pelas condições políticas do país, tendo o Estado como intermediário das relações capital/trabalho, assumiu as funções determinadas diretamente pelos interesses empresariais que continuaram sendo protegidos pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, cujo escopo é o de limitar a ação sindical dos trabalhadores.

As alterações iniciaram com as mudanças na estrutura gestora da Escola. A partir de 1978, um tímido processo de participação dos professores e dos funcionários na escolha da equipe diretiva começou a se desenvolver. Através da formação de uma lista tríplice de candidatos, o reitor da Universidade escolhia o novo diretor, que passou a ter um mandato definido de quatro anos. Seguindo esse processo, Zeferino Gilberto da Silva assumiu a direção em 1978, pondo fim a era Cureau.

Um dos primeiros problemas que a nova direção enfrentou foi o da regulamentação da Escola junto ao Departamento de Ensino Médio do MEC. Disso dependia o reconhecimento dos dois cursos ofertados (Eletrotécnica e Mecânica) e a expedição dos diplomas, que até então não eram fornecidos para os alunos. Porém, para obter o reconhecimento enquanto Instituição de Ensino Técnico de Nível Médio foi necessário organizar o Regimento Escolar, o que começou a ser feito no final da direção de Ênio Cureau. O professor Claudio Círio (2010, p. 04) lembra que:

a escola foi criada e não tinha seu regimento interno, aí começaram os problemas de certificação com relação aos profissionais, então o diretor da escola, o professor Ênio Cureau, nomeou uma comissão da qual eu fiz parte. Nós nos reuníamos à noite, na casa de um dos participantes e elaboramos o regimento interno da escola.

O problema da falta de certificação ficou evidente quando os técnicos formados no CTISM necessitaram comprovar sua formação junto às empresas em que atuavam, a fim de serem promovidos de função. A respeito disso, o professor Zeferino Gilberto da Silva

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(2012, p. 9) afirma que

os alunos formados no CTISM não tinham diploma, e não é só isso, a partir de setenta e oito, de setenta e sete muitos alunos começaram a perder promoções das empresas, principalmente nas empresas estatais que exigiam para a promoção, o diploma de técnico, então esses alunos estavam pressionando a escola.

Essa questão pode ser compreendida no contexto do início da Revolução Tecnológica no Brasil, na passagem da década de 1970 para a de 1980, quando a automatização industrial conquistou maiores espaços nas indústrias do país. É neste momento que a comprovação da especialização técnica passou a ser exigida, pois, em geral, os equipamentos utilizados no processo de industrialização passaram a ter uma capacidade maior de produção, o que implicou na necessidade de trabalhadores melhor qualificados. Nesse caso, a certificação técnica se tornou um elemento de diferenciação entre o técnico e os demais trabalhadores fabris. Isso justifica as pressões feitas pelos alunos formados no CTISM para que a direção resolvesse aquele problema. A situação tomou proporções ao ponto de, “no início de setenta e oito um grupo de alunos [ameaçar] entrar na justiça exigindo o diploma, porque eles estavam perdendo dinheiro, estavam perdendo promoção” (SILVA, 2012, p.09).

A questão da certificação também estava relacionada à necessidade de os alunos egressos comprovarem a formação técnica necessária para a manutenção do emprego. Na época, as demissões eram constantes devido à nova ordem do capitalismo mundial, como explica Hobsbawm: “A tragédia histórica das Décadas de Crise foi a de que a produção agora dispensava visivelmente seres humanos mais rapidamente do que a economia de mercado gerava novos empregos para eles” (2008, p. 404).

Em junho de 1978 o Regimento interno do CTISM foi aprovado e em agosto do mesmo ano, uma comissão do Ministério da Educação e Cultura realizou a inspeção in loco. Essa visita, conforme lembra o professor Claudio Círio (2010, p. 04), foi recebida com apreensão no CTISM, pois “naquela época nós tínhamos um resquício de autoritarismo no país. Então, na realidade, nós recebemos essas pessoas que eram fiscais, que vinham para fiscalizar a escola. Isso causou certo temor interno”. A própria denominação “Comissão de Inspeção” contribuía para produção do clima de apreensão, típico do contexto de repressão política, tendo em vista que, em 1978, o país ainda vivia sob o controle da ditadura civil-militar. Não se tratava, consequentemente, de “um resquício de autoritarismo”, mas de uma situação de muita repressão autoritárias: em outubro de 1975, Vladimir Herzog fora morto no DOI-CODI, onde estavam presos, no dia de sua morte, os jornalistas Jorge Benigno Duque Estrada e Rodolfo Konder. Em janeiro de 1976 foi morto em condições idênticas, o operário Manoel Fiel Filho. Portanto, em 1978 não poderiam existir apenas “resquícios” de repressão.

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A impressão do diretor da época corrobora a apreensão dos professores: “veio a inspeção, essa inspeção minuciosa. A Comissão foi minuciosa, foi exigente, decretou os determinados ajustes. Uma vez pronto os ajustes, ela deu o aval. Daí que saiu a portaria, credenciando para a emissão dos diplomas” (SILVA, 2012, p. 08). Com a aprovação da Comissão de Inspeção, o CTISM pode realizar a certificação dos egressos, inclusive dos professores formados pela escola.

Naquele mesmo ano, após a regulamentação da escola, houve a oferta do Curso Técnico em Eletrotécnica pós 2º Grau, o primeiro a ser ofertado nesta modalidade à noite. Conforme lembra o diretor da época, “havia uma demanda (...) muito grande, que é o pessoal que estava dentro da empresa e queria ter um curso técnico para evoluir dentro da empresa...” (SILVA, 2012, p. 12). Essa demanda era originária de trabalhadores de órgãos públicos e empresas privadas que, não dispondo de horários diurnos, necessitavam que a escola disponibilizasse cursos técnicos noturnos. De outra parte, também em 1978, com o surgimento da Coordenadoria do Ensino de 2º Grau da UFSM, o CTISM deixou de estar vinculado ao CT, passando a integrar, juntamente com outras escolas vinculadas, esta Coordenadoria.

Outra questão importante para a reflexão sobre as modificações das relações capital/trabalho está nas disputas entre os Técnicos e os Engenheiros pela reserva de mercado de mão-de-obra. O problema foi apresentado para discussão no I Seminário de Técnicos do CTISM, ocorrido entre 01 e 03 de maio de 1980. Na oportunidade, a palestra de abertura, proferida pelo Professor João Manoel Peil abordou o tema “A Profissionalização de Nível Médio na Atual Legislação Brasileira”. Outras falas versaram sobre qualificação técnica de nível médio e exigências do mercado brasileiro, problemas que envolviam a manutenção industrial no cotidiano empresarial, além de espaços para a discussão sobre a “formação de uma Associação de Técnicos ex-alunos do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria” (A Razão, 03/05/80, p. 03).

Os interesses que envolveram a realização do I Seminário de Técnicos, evento que ainda hoje é promovido anualmente pelo CTISM, devem ser compreendidos a partir dos aspectos políticos presentes nas alterações das relações de trabalho, verificadas no período. Aquelas alterações, ligadas ao aprimoramento do conhecimento técnico, estiveram no bojo da chamada Revolução da Automação Industrial, como expressão da Revolução Tecnológica nos espaços fabris.

Até a década de 50 do século passado, o problema das técnicas para gerar e transmitir energia e os grandes processos básicos já haviam sido resolvidos, assim como, as grandes questões fundamentais da Elétrica, Química, Mecânica e Metalurgia. No entanto, apesar de equacionadas, não se conseguia controlar os processos industriais na velocidade e na intensidade que a nova demanda apresentava.Nesse momento, deflagra-se “a revolução da Automação Industrial” através

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do uso de controladores locais, equipamentos de instrumentação mecânica, hidráulica e pneumática para, em seguida, ser totalmente dominada pela eletrônica analógica. A partir de 1980, com o microcontrolador, a automação se estabeleceu de forma soberana (QUEIROZ, 2010, p.13).

A partir de meados da década de 1980, a intensidade do processo de automação das plantas industriais teve repercussões políticas e sociais. Com grandes grupos transnacionais controlando os aparatos burocráticos do Estado, este passou a agir no sentido de suprimir o poder político das organizações de trabalhadores (sindicatos) com o objetivo de enfraquecer a representatividade dos mesmos. Do sindicalismo combativo (político), emerge o sindicalismo de resultados, aquele que não se opõe ao patrão, e sim, dialoga com a classe patronal para evitar demissões e conseguir pequenas vantagens salariais. Conforme Boito Jr. (1996, p. 85) a Corrente autodenominada sindicalismo de resultados foi fundada, em 1987, por Luís Antônio de Medeiros e Antônio Rogério Magri7.

Em âmbito nacional, a problemática acima exposta esteve presente, entre outras ações, na discussão do anteprojeto de lei que previa a regulamentação da lei 5524/68. Em nível local, os engenheiros e os estudantes dos cursos de engenharia da UFSM se posicionaram contra a aprovação do anteprojeto, pois entendiam que o mesmo daria “função de engenheiro aos técnicos de nível médio” (A Razão, 31/08/80, p.02). Por isso, paralisaram as atividades entre os dias 08 e 09 de agosto de 1980, em repúdio a “intromissão descabida de profissionais sem formação adequada nas atividades normais do engenheiro” (A Razão, 30/08/80, p. 12).

Essa disputa entre as duas categorias profissionais por reserva de espaços de atuação se manteve na pauta das discussões durante o final de 1980. Naquele ano ocorreu a fundação da Associação Profissional dos Técnicos Industriais e Agrícolas do Estado do Rio Grande do Sul (ATERGS). Na oportunidade o Diretor do CTISM, Zeferino Gilberto da Silva, foi o Secretário da Assembleia Geral de criação da entidade. Conforme Ata nº 01, a Comissão organizadora da Assembleia e do 1º Estatuto foi escolhida em setembro, em reunião realizada no CTISM. O professor Zeferino Gilberto da Silva (2012, p. 15) lembra que recebeu uma ligação telefônica de Técnicos de Porto Alegre que, sabedores do I Seminário de Técnicos do CTISM, estavam interessados em convidar os professores da Escola para fazerem parte de uma associação de técnicos com o objetivo de lutar pela regulamentação da profissão.

existia um dos técnicos da CEE em Porto Alegre que liderava o movimento pela regulamentação da profissão de técnico, mas eles estavam todos meio perdidos (...) Isso aí tem que ser bem discutido, uma andorinha só não faz

7 BOITO JR., Armando. Hegemonia Neoliberal e Sindicalismo no Brasil, (1996, p 85). Disponível em: www.unicamp.br/cemarx/criticamarxista/3_Boito.pdf. Acesso em: 23/07/12.

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verão, você sabe disso. Ah, mas nós não temos onde fazer porque aqui a gente tem medo! Medo coisa nenhuma, a sala 219 está à disposição, vamos fazer esse encontro, tu convida as lideranças dos agrícolas também porque eles são fortes e faz um grupo grande. Chama gente de empresa. Tinha mais de oitenta pessoas na primeira reunião, se não me falha a memória foi no dia dezoito de setembro aqui, um sábado, a gente programou para um sábado [para] que todo mundo pudesse vir.

Porém, não foi somente da fundação da ATERGS que os docentes do CTISM participaram. Em 1984 o contexto político de redemocratização do país abriu espaços para a organização de outras entidades, como Associação dos Docentes do Colégio Técnico Industrial (ADETI) e da Federação Nacional dos Servidores Federais das Escolas Técnicas (FENASEF). Em nível local, a ADETI surgiu a partir da necessidade de representação dos professores do Ensino de 2º Grau, junto aos demais órgãos da Universidade.

Como consequência do contexto econômico, aquele foi também um período de aparelhamento dos laboratórios do CTISM que, ainda em 1979 recebia, da parte de duas empresas privadas de Santa Maria, a título de doação, dois motores para integrarem o Pavilhão de Mecânica, como parte do Programa de Incentivo ao Ensino Tecnológico (A Razão, 15/07/79, p. 03) (O Expresso, 05/07/79, p. 15 e 14/07/79, p. 05). O aparelhamento dos laboratórios da Escola permitiu a assinatura de Termo de Cooperação entre a UFSM e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), com o objetivo de “apoiar as micro-empresas locais e melhorar os níveis de ensino por intermédio do desenvolvimento de ações conjuntas” (A Razão, 08/11/85, p. 05). Através do acordo ocorreu a oferta de cursos de formação rápida, como o de operadores de torno. Com isso, segundo um jornal local, o CTISM prestava “uma contribuição à comunidade santa-mariense, mais especificamente às indústrias locais, atingindo o [seu] objetivo (...), pois alguns alunos do curso já foram contratados por indústrias locais” (A Razão, 08/11/85, p. 05).

Considerações Finais

O período de transição entre a Era do Ouro e a Era do Desmoronamento, analisado por Hobsbawm correspondeu, no CTISM, a uma maior apropriação de recursos públicos por parte de interesses privados. Tendo em vista as transformações ocorridas entre 1978 e 1986, podemos inferir também que os acontecimentos políticos da transição da ditadura civil-militar para a chamada Nova República, permitiram uma relativa participação de parte dos grupos sociais envolvidos nas questões educativas do CTISM. Porém, isso não significa que aquelas ações tenham resultado em autonomia política ou reorientação pedagógica. Antes, a Escola reafirmou o seu objetivo inicial de qualificação de mão de obra técnica destinada ao mercado, sem se perguntar pelas razões de tal procedimento e sem procurar saber o que é esse mercado do qual tanto se fala.

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BIBLIOGRAFIA

BOITO JR., Armando. Hegemonia Neoliberal e Sindicalismo no Brasil, (1996, p 85). Disponível em: www.unicamp.br/cemarx/criticamarxista/3_Boito.pdf. Acesso em: 23/07/12.

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CONCEIÇÃO, Octávio A. C. Os Anos 80: A Complexa Dimensão de uma Crise. In. A Economia Gaúcha e os Anos 80. Tomo 01. Porto Alegre, FEE, 1990, p. 21.

GONH, Maria da Glória. História dos Movimentos e Lutas Sociais. A construção da Cidadania dos Brasileiros. São Paulo: Loyola, 1995

HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: o breve século XX. São Paulo: Cia das Letras, 2008.

QUEIROZ, Roberto Jeferson Nunes. Implantação de um centro de operação em tempo real de um agente de transmissão do sistema interligado nacional. 2010. Graduação em Engenharia Elétrica. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2010.

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POMMER, Roselene M. Gomes. LIMA, Bruna. O Processo Histórico de Instalação do Colégio Técnico Industrial de Santa Maria. In: www.eeh2010.anpuh-rs.org.br/resources/anais.

Periódicos

Jornal A RAZÃO. Técnicos Analisam Exigências do Mercado de Trabalho. Santa Maria, 03/05/80.

Jornal A RAZÃO. Engenheiros protestam contra intromissão de técnicos de nível médio na construção civil. Santa Maria, 30/08/80.

Jornal A RAZÃO. UFSM promove curso de operador de torno. Santa Maria, 08/11/85.

Jornal A RAZÃO. Motores da GM para a Universidade. Santa Maria, 15/07/79.

Jornal O EXPRESSO. CTI recebe doação da Ford do Brasil. Santa Maria, 05/07/79.

Jornal O EXPRESSO. UFSM Recebe Doação de Motores da GM. Santa Maria, 14/07/79.