O CAMPO DAS RELAÇÕES

INTERNACIONAIS NO BRASIL. SITUAÇÃO,

DESAFIOS, POSSIBILIDADES.

Sebastião C. Velasco e CruzFilipe Mendonça

INTRODUÇÃO ÀS RELAÇÕES INTERNACIONAIS – UFPE 2014.2

AUTORES Sebastião C. Velasco e Cruz – professor titular de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor do Programa San Tiago Dantos de Pós-Graduação em Relações Internacionais (Unesp/Unicamp/PUC-SP) e pesquisador do Cedec e do INCT-INEU (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos).

Filipe Mendonça – doutorando em Ciência Política na Unicamp e pesquisador do Cedec e do INCT-INEU.

INTRODUÇÃO Introdução A formação do campo das relações internacionais no Brasil Reflexões sobre o campo das Relações Internacionais no Brasil e seus desafios O princípio da autonomia

INTRODUÇÃO A pertinência do tema – por que este capítulo em um livro sobre CP?O objeto das RI é o estudo da política mundialAutoridade legítima em territórios claramente delimitados x anarquia característica do sistema internacional: duas faces da mesma moeda

Âmbito doméstico x internacional.Quando tratamos de temas corriqueiros, nos damos ao luxo de ignorar esse fato

Em crises, impossível separar política interna e internacional

INTRODUÇÃO Escopo das Relações Internacionais: identidade própria. Associação com a Ciência Política, mas raízes também no Direito e na Economia

Neste artigo, Relações Internacionais no Brasil como campo do saber distinto, com sua história e modo próprio de conceber a realidade

INTRODUÇÃO Campos científicosO traçado das fronteiras não obedece a nenhum princípio rígido, mas sim resultado contingente e sempre mutável de processos que se dão no interior de cada campo e em seu intercâmbio com os demaisDomínios distintos que canalizam a atividade de seus participantes para a consecução de fins comuns, valores compartilhadosProximidade e assimetria entre campos. A autonomia nunca é uma condição dadaAuto-observação, autodescrição e autorreflexão

A FORMAÇÃO DO CAMPO DAS RI NO BRASIL Primórdios Campo das Relações Internacionais (quase?) constituído

A FORMAÇÃO DO CAMPO DAS RI NO BRASIL Quando se rompia o vínculo colonial, inevitável a reflexão sobre a inserção no sistema das RI De forma embrionária, nos fundadores do Império – José Bonifácio, Barão do Rio Branco A essa altura, tradição e atividade profissional diplomática já consolidada1945 - Instituto Rio BrancoAnos 1940-1950 - Obras pioneiras de docentes do IRB1954 – Criação do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais

A FORMAÇÃO DO CAMPO DAS RI NO BRASIL1958 – Criação do mais antigo periódico especializado em RI em circulação no país, a Revista Brasileira de Política Internacional

Regime militar – restrições, como censura à Política Externa Independente, mas também avanços, como:1974 - UnB estabelece uma Graduação em RI1979 - Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio1978 – Conselho Brasileiro de Relações Internacionais1980 – Criação do Núcleo de Estudos Estratégicos na Unicamp1981 – Constituição de um grupo permanente de trabalho no âmbito da Anpocs - Gripe

A FORMAÇÃO DO CAMPO DAS RI NO BRASIL O campo das Relações Internacionais (quase?) constituído2005 – Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI) - Dinamismo - crescimento dos estudos na área e processo de consolidação do campo.

Abertura econômica da década de 1990, inserida na globalização. Aumento da demanda de profissionais qualificados para trabalhar em agências do governo, no setor privado e no terceiro setor.

Internet

A FORMAÇÃO DO CAMPO DAS RI NO BRASIL

Disputa por vagas nos cursos de graduação em RI nas universidades públicas

Crescimento explosivo no setor privado. Em 2008, 85 cursos de RI no país, sendo 12 em públicas

Lei de Diretrizes e Bases (LDB)/1996: flexibilização das normas para criação de novos cursos.

Característica interdisciplinar do curso de RI.

A FORMAÇÃO DO CAMPO DAS RI NO BRASIL

1995 – 3 cursos de graduação em RI, formando 81 alunos

2008 – 85 cursos de graduação em RI, formando 1985 alunos

Qualidade?

Caráter eminentemente aplicado

Mais significativo observar a pós-graduação

A FORMAÇÃO DO CAMPO DAS RI NO BRASIL Programas de pós-graduação em RI:1984 - Primeiro programa de mestrado em RI no Brasil: UNB

1987 - Programa de mestrado em RI na PUC-Rio

Por quase 15 anos, apenas esses dois, fora professores interessados no tema, mas vinculados a outras disciplinas

2001 – Primeiro programa de doutorado em RI no Brasil: PUC-Rio

2002 - Doutorado em RI na UNB – docentes egressos de CP e História das RI

A FORMAÇÃO DO CAMPO DAS RI NO BRASILA partir daí, se multiplicam e em 2007-2008, são 27 programas em funcionamento em CP e RI, sendo 15 em CP e 12 em RI

8 de 12 programas estão na região Sudeste

Assimetria no grau de amadurecimento dos programas.

Programa San Tiago Dantas de Apoio ao Ensino de Relações Internacionais: MEC +MRE – fomento à pesquisa e estímulo à criação de novos programas de pós-graduação em RI.

A FORMAÇÃO DO CAMPO DAS RI NO BRASILEdital Pró-Defesa nº 1/2005: Ministério da Defesa + Capes – fomentar redes de cooperação acadêmica na área de Defesa Nacional.2006: Programa Renato Archer de Fomento à Pesquisa em Relações Internacionais – Minis. Ciên e Tec + Minis. Relaç Exteriores

A FORMAÇÃO DO CAMPO DAS RI NO BRASILSecretarias de RI em governos subnacionaisUnidades internacionais de entidades de classe. Ex: Secretaria de Relações Internacionais da Força Sindical.Campo partidário. Ex: Secretaria Internacional do Partido dos Trabalhadores.Mercado editorial de livros de RI

REFLEXÕES SOBRE O CAMPO DAS RI NO BRASIL E SEUS DESAFIOS Definição de Whitney: os campos científicos “constituem um tipo distinto de organização de trabalho e controle na qual a pesquisa é orientada para metas e propósitos coletivos, através da busca de reputação pública entre grupos de colegas-competidores” A necessidade de adquirir reputação positiva de grupos particulares de praticantes como meio de qualidade

REFLEXÕES SOBRE O CAMPO DAS RI NO BRASIL E SEUS DESAFIOSCampos precisam assegurar o prestígio social,

controlar o acesso a recompensas socialmente valoradas, estabelecer padrões de qualificação e excelência e dotar a si mesmo de um sistema de comunicação próprio.Relações estreitas entre o poder econômico e o campo das RI.Intercâmbio e importação de ideias

Endógeno: tentativa de lidar com problemas selecionados pelo próprio campo.

Exógeno: resultado do movimento expansivo de campos mais poderosos. (Ex: colonização da CP norte-americana)

REFLEXÕES SOBRE O CAMPO DAS RI NO BRASIL E SEUS DESAFIOS

Existência de hierarquias no campo das RIHegemonia global dos Estados Unidos no campo das RI. E daí, como ser significativo sem ser colonizado?Operar no contexto das hierarquias com o objetivo de, em alguma medida, alterá-las

“Disposição de suspender a validação de quaisquer contribuições, venham de onde vierem, enquanto não tenham passado pelo crivo da crítica interna”

O PRINCÍPIO DA AUTONOMIA Indicações:Deflacionar a importância dada aos debates teóricos. Análise crítica.

Explorar os pontos fortes do campo das RI no Brasil e as vantagens relativas (estudos sobre a região).

Diversificar fontes de suprimento teórico.Explorar sistematicamente o significado teórico dos fenômenos estudados, na busca por generalizações.

O PRINCÍPIO DA AUTONOMIA

Refuta-se a relação entre um domínio científico e sua localização espacial.Principal atributo das teorias é a objetividade.Resultados podem ser reproduzidos, testados e comprovados por qualquer um.

Nada diz sobre o bom ou o mal, desejável ou indesejável

RI e o conjunto das Ciências Humanas estão muito longe desse ideal.Amartya Sen: objetividade posicionada.

Diversificação da agenda e dos atores internacionais.