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O Brasil Real: A Desigualdade para além dos Indicadores Pesquisa Christian Aid/CEBRAP Alexandre de Freitas Barbosa Coordenador da Pesquisa e Professor IEB/USP São Paulo, Escola de Governo, 16 de setembro de 2013

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O Brasil Real:

A Desigualdade para além dos Indicadores

Pesquisa Christian Aid/CEBRAP

Alexandre de Freitas Barbosa

Coordenador da Pesquisa e Professor IEB/USP

São Paulo, Escola de Governo, 16 de setembro de 2013

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Estrutura da Apresentação

Objetivos da Pesquisa

Ponto de Partida: Que País É Este?

A Desigualdade como Alicerce do Capitalismo no Brasil

O Debate Recente sobre a Desigualdade no Brasil

A Metodologia

O que Dizem os Dados?

Desenvolvimento e Desigualdade no Brasil: Os Desafios

Algumas Perguntas Incômodas

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Objetivos da Pesquisa

Compreender a desigualdade como um processo histórico e complexo,

mostrando as tendências do período recente;

Superar a visão “estatística” e economicista sobre pobreza e desigualdade;

Situar o Brasil como um caso de redução da pobreza absoluta, mas que segue

sendo uma das sociedade mais desiguais do planeta.

Contribuir para o debate sobre o tema, de modo a interferir na agenda das

políticas públicas, incorporando a perspectiva dos movimentos sociais;

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Ponto de Partida

sociedade escravista → sociedade capitalista;

Estrutura social específica: “classes do privilégio” X ralé;

ausências estratégicas: estatuto coletivo do trabalho e políticas sociais universais;

Manutenção de monopólios: acesso ao poder político, à riqueza e à informação;

“Ativos” importantes: Constituição de 1988, sociedade civil vibrante e qualidade de segmentos importantes da burocracia;

3 períodos-chave: elevado crescimento com desigualdade (1930-1980); baixo crescimento com manutenção da desigualdade (anos 90); recuperação do crescimento com redução da pobreza e da desigualdade (anos 2000); até quando?

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Etapas históricas do desenvolvimento no

Brasil: Colônia

Sentido da colonização: produção para o exterior;

Escasso “mercado interno”;

Expansão econômica sem alterações estruturais;

Trabalho escravo predominante;

Grupo social cada vez maior: homens livres pobres, “desclassificados”.

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Etapas históricas do desenvolvimento no Brasil:

Expansão Cafeeira e Desigualdades Regionais

Abolição da escravidão: expansão externa gera mercado interno no centro

dinâmico (Furtado);

Desigualdade social: margens de lucros elevadas para os cafeicultores com

estabilidade salarial;

São Paulo: colonato no campo e emergência do operariado na capital + “exército

industrial de reserva” composto de imigrantes, negros ex-escravos e caipiras;

Nordeste: fora de SP, muda “apenas” juridicamente a condição escrava.

Reciclagem das formas pré-capitalistas (“moradores de condição”);

Várias combinações regionais entre territorialização e assalariamento

(predominância de formas não-capitalistas) levam a distintos horizontes de

oportunidades econômicas.

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Etapas históricas do desenvolvimento no

Brasil: A Transição para o Trabalho “Livre”

Como criar um mercado de trabalho com escravos e agregados?

Soluções parciais: comércio inter-regional de escravos, regime de parceria e proposta de trazer coolies chineses;

Solução final: o Estado subsidia a formação do mercado de trabalho – regional, e incompleto - no centro dinâmico. Cumpre o papel de “super-Gato”;

O Brasil importa os trabalhadores expropriados pela Revolução Industrial na Europa;

Várias transições regionais: do sub ao quase assalariamento; mercados de trabalho regionais e incompletos (uso de formas pré-capitalistas);

Desigualdades regionais: relacionadas com os processos de transição para o trabalho “livre” que acompanham o dinamismo do capital ainda preso à região;

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Etapas históricas do desenvolvimento no

Brasil: Industrialização

Elevado dinamismo: entre 1930 e 1980, crescimento médio do PIB de 6%;

Diversificação produtiva: setores de bens de consumo duráveis e bens de capital;

Investimentos autônomos: multinacionais e estatais;

A partir de 70: extroversão econômica, gastos do Estado, diversificação industrial, multinacionais, agrobusiness e dependência financeira;

Preços do capital e do trabalho subsidiados;

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Etapas históricas do desenvolvimento no

Brasil: Industrialização

“Nacionalização do mercado de trabalho”: migrações internas, regulamentação parcial do fator trabalho (CLT) e criação endógena do exército de reserva;

“Cidadania regulada”: só é cidadão quem tem carteira de trabalho assinada;

Classe trabalhadora pouco uniforme, mas aos poucos uniformizada pelo capital (assalariados de vários tipos);

Legislação trabalhista não chega ao campo;

presença marcante de trabalhadores informais (setor não tipicamente capitalista);

Mesmo nos períodos de elevação do salário mínimo, eles não acompanham os níveis de produtividade;

Expansão de uma classe média assalariada;

Elevação da concentração pessoal e funcional da renda. Desigualdade regional assume novas formas;

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A Variedade de Capitalismo no Brasil

Papel seletivo do Estado e restrito à esfera econômica;

Presença das multinacionais nos setores mais dinâmicos; dependência financeira e tecnológica

“Burguesias nacionais”: atuantes nos setores agrícola, comercial, financeiro, de infra-estrutura e nos setores industriais subsidiários do capital internacional;

Sociedade rapidamente urbanizada sem reforma agrária: campesinato marginal e amplo setor informal urbano; o pleno emprego como impossibilidade prática e teórica;

Abertura de fronteiras internas e desigualdades regionais permite fantásticas taxas de rentabilidade para o capital nacional e transnacional;

Classe operária crescentemente importante em termos absolutos e relativos, mas segmentada espacial e setorialmente, coartada politicamente, e incapaz de acompanhar os ganhos de produtividade;

Classe média assalariada com altos níveis de renda e de escolaridade;

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Existe uma variedade de capitalismo no

Brasil?

O Que Define Uma Variedade de Capitalismo?

Padrão de Inserção internacional;

Forma de relacionamento entre Estado e a economia;

Estrutura do mercado de trabalho e modo de regulação do trabalho;

Acesso a bens sociais;

Perfil da desigualdades inter e intra-regionais;

Certa continuidade histórica.

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Brasil - Evolução do índice de variação do Produto Interno Bruto per capita

e o valor real do salário mínimo (1949 = 100)

202,9

72,268,9146,4163,3

182,9

391,7

349,2364,9

140,4100

0

50

100

150

200

250

300

350

400

1949 1959 1970 1980 1990 2004

Poder aquisitivo do SM PIB per capita

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Participação dos 10% Mais Ricos e dos 10% mais Pobres na Renda Nacional

e Razão entre a Renda dos 2 Grupos

1,9 1,2 1,1

39,6

46,7

51,0

0

10

20

30

40

50

60

1960 1970 1980

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

10% mais pobres 10% mais ricos razão renda ricos/pobres

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Diagrama de Classe (Darcy Ribeiro)

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O Debate Recente sobre a Desigualdade no

Brasil

Reconhecimento da queda simultânea da pobreza e da desigualdade no

Governo Lula;

Foco no “Brasil sem Miséria” - importante mas insuficiente!; A pobreza não se resume à insuficiência de renda;

Agenda focada nas políticas de transferência de renda, que pouco impacto têm sobre a desigualdade, e na elevação do poder de compra do salário (aumento do salário da base da pirâmide do mercado de trabalho);

Necessidade de reformas estruturais (reforma tributária, agrária, urbana, e nas relações de trabalho, universalização das políticas sociais), acompanhadas de um novo padrão de desenvolvimento, com conjuntos de políticas específicas para as várias realidades regionais.

Condição: novas coalizões de classe com agenda de desenvolvimento para além do curto-prazismo econômico e do social-assistencialismo.

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Medidas de desigualdade e Hipóteses Coeficiente de Gini: Índice que varia de 0 a 1, em que 0 é a igualdade

perfeita (todos recebem a mesma renda) e 1 é a completa desigualdade (toda

a renda existente na sociedade está plenamente concentrada nas mãos de um

indivíduo).

Diferença entre a renda dos 10% mais ricos e 10% mais pobres

Fonte: Dados da PNAD/IBGE – 1995-2009 para o Brasil, grandes regiões, UF’s e áreas censitárias (rural, RM’s e urbano não-metropolitano);

Índice capta apenas a renda: a desigualdade é um fenômeno mais amplo!

Necessidade do enfoque espacial: a média no Brasil não diz nada!

Existem vários padrões de desigualdade no Brasil que convivem entre si, e muitas vezes se reforçam!

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Apresentação dos dados

• Primeiro, a

pobreza

(várias linhas,

o Brasil não

tem uma

linha de

pobreza

oficial).

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

40,0%

45,0%

50,0%

1995 1996 1997 1998 1999 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

IPEA Pobres IPEA Pobres Extremos FGV Pobres MDS Pobres

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Apresentação dos dados

• O Gini “oficial” é

calculado a partir da

renda de todos os

trabalhos.

• No entanto, a renda

familiar per capita tem

uma distribuição mais

desigual que as duas

medidas de renda do

trabalho (pobres têm

famílias maiores).

0,460

0,480

0,500

0,520

0,540

0,560

0,580

0,600

0,620

Renda Familiar Per CapitaRenda de todos os trabalhosRenda do Trabalho Principal

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Apresentação dos dados

• O Bolsa Família não

traz um impacto

expressivo em termos

de redução da

desigualdade

0,490

0,510

0,530

0,550

0,570

0,590

0,610

19

95

19

96

19

97

19

98

19

99

20

00

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

Renda familiar per capita Renda familiar per capita (sem benefícios)

1995-2009 2003-2009

RFCP 9,72% RFCP 6,91%

RFPC sem benefícios 9,32% RFPC sem benefícios 6,60%

Comparação da queda das desigualdades

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Apresentação dos dados

Razão 20% mais

ricos/20% mais

pobres

Razão 10% mais

ricos/10% mais

pobres

2003 23,01 51,95

2004 21,37 47,53

2005 20,85 46,47

2006 20,35 46,02

2007 19,37 43,21

2008 18,32 40,16

2009 17,99 40,02

Brasil

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Apresentação dos dados

0,00

20,00

40,00

60,00

80,00

100,00

120,00

140,00

160,00

180,00

40,95

74,08

101,88 106,03

120,62 122,4

165,79173,17

178,15•As várias pobrezas ao

longo do espaço.

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Apresentação dos dados

0,440

0,460

0,480

0,500

0,520

0,540

0,560

0,580

0,600

19

95

19

96

19

97

19

98

19

99

20

00

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

Urbano

Rural

• A desigualdades de renda

nos meios urbanos é maior

do que nos meios rurais.

• Há que se considerar que

no meio rural há um

elevado o número de

pessoas com “renda zero”

ou com complementos do

salário em espécie. Num

meio, onde a pobreza

ainda é generalizada, “é

menor a desigualdade de

renda”.

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Apresentação dos dados

0,480

0,500

0,520

0,540

0,560

0,580

0,600

Não metropolitano Metropolitano

1995-2009 2003-2009

Não metropolitana 10,35

% Não metropolitana 8,34%

Metropolitana 4,98% Metropolitana 5,35%

Comparação da queda das desigualdades

• A

importância

das áreas não-

metropolitana

s na queda da

desigualdade.

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Apresentação dos dados

0,400

0,450

0,500

0,550

0,600

0,650

norte

nordeste

sudeste

sul

centro-oeste

•A queda da

desigualdade é

maior nas regiões

mais ricas.

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Apresentação dos dados

• A desigualdade

nas regiões

metropolitanas.

Ricos e

Pobres

10%

(2009)**

Ricos e

Pobres

20%

(2009)** 1995-

2009

2003-

2009

Belém -11,8% -7,0% 33,38 15,6

São Paulo -4,7% -7,3% 38,81 16,6

Porto Alegre -11,3% -6,7% 38,19 16,9

Belo

Horizonte -9,2% -6,3% 39,70 17,6

Curitiba -11,0% -6,0% 34,87 17,0

Salvador -7,4% -4,8% 42,45 20,8

Fortaleza -6,7% -4,5% 37,82 17,6

Recife -2,5% -4,3% 44,69 19,3

Rio de Janeiro -2,9% -1,3% 41,48 19,0

Brasília 7,6% -0,9% 48,08 24,7

Índice de Gini por RM

Brasília 0,614

Salvador 0,578

Recife 0,564

Fortaleza 0,554

Rio de Janeiro 0,551

Belo Horizonte 0,527

Belém 0,511

Porto Alegre 0,509

São Paulo 0,507

Curitiba 0,498

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Apresentação dos dados

Estados (ordem crescente de mudança no Gini) 1995-2009 2003-2009

São Paulo -9,0% -10,1%

Amapá -1,8% -10,1%

Paraná -14,5% -9,6%

Mato Grosso -9,8% -8,6%

Piauí -4,5% -8,0%

Amazonas -10,3% -7,5%

Rio Grande do Sul -11,3% -7,4%

Alagoas -11,7% -7,3%

Maranhão -7,9% -7,0%

Tocantins -14,3% -6,9%

Minas Gerais -12,9% -6,8%

Pernambuco -3,6% -5,9%

Bahia -7,3% -5,7%

Espírito Santo -12,3% -4,9%

Santa Catarina -14,9% -4,7%

Ceará -11,3% -4,2%

Goiás -8,3% -3,6%

Mato Grosso do Sul -5,0% -3,6%

Rio de Janeiro -5,8% -3,1%

Pará -10,0% -2,0%

Roraima 20,7% -2,0%

Rio Grande do Norte -5,9% -0,8%

Sergipe -0,8% -0,8%

Distrito Federal 7,0% -0,7%

Rondônia -12,6% -0,6%

Paraíba -4,5% 2,6%

Acre 4,6% 2,7%

• A queda da

desigualdade

nas UF’s.

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Apresentação dos dados

Gini

da UF

(2009)

Dif. 10 %

ricos e

pobres

Dif. 20 %

ricos e

pobres

Renda

média da

UF

Taxa de

pobreza

Número de

pessoas

pobres

Distrito Federal 0,617 48,1 24,7 1348,47 11,3 272.652

Acre 0,607 46,8 22,3 603,93 32,4 224.345

Paraíba 0,588 50 21,9 433,09 40,6 1.542.919

Sergipe 0,573 42,6 20,2 467,11 37,6 765.272

Alagoas 0,565 40,1 19,4 348,78 47,7 1.515.188

Rio Grande do

Norte 0,561 42,5 19,1 468,07 34,3 1.088.596

Piauí 0,558 37,8 18,8 400,48 38,6 1.205.435

Bahia 0,555 41,1 19,1 421,72 38,5 5.512.234

Pernambuco 0,551 45 19,8 399,22 42,2 3.594.917

Ceará 0,545 39 19,2 392,08 36,6 3.085.040

Rio de Janeiro 0,537 40,2 17,8 847,8 13,5 1.982.933

Maranhão 0,535 46,9 18,7 350,88 41,6 2.666.266

Tocantins 0,524 40,6 16,7 521,62 26,1 340.396

Espírito Santo 0,524 35,6 16,4 646,65 12,6 435.309

Amapá 0,52 27,6 14,9 481,29 32,4 206.168

Roraima 0,52 31,3 15,2 508,2 27,8 118.337

Mato Grosso do

Sul 0,517 34,9 16,6 672,12 10,1 240.178

Amazonas 0,513 35,6 16,2 444,89 30,9 1.051.497

Pará 0,51 34,8 16,0 396,97 36,7 2.631.946

Minas Gerais 0,509 37,1 16,4 640,32 12,1 2.356.776

Rondônia 0,508 36,2 15,6 564,44 23,5 351.858

Goiás 0,502 42,2 16,5 639,69 11,9 689.425

Rio Grande do

Sul 0,496 36 15,8 782,38 13,7 1.456.403

Mato Grosso 0,494 37,1 15,9 632,77 12,4 371.824

Paraná 0,49 35,3 16,0 746,13 12,4 1.304.080

São Paulo 0,481 36,3 15,4 817,25 11 4.241.855

Santa Catarina 0,454 33,3 14,7 873,61 6,4 379.701

• Quadro-

síntese.

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Síntese dos dados Forte queda da pobreza absoluta, e bem menos pronunciada da desigualdade;

Queda da desigualdade acontece em quase todas as regiões, concentrada nos anos 2000;

Ela tende a ser mais forte nas áreas urbanas (especialmente nas não-metropolitanas) do que nas áreas rurais, e no Sul/Sudeste em comparação com as demais regiões do país;

Estas áreas são distintamente afetadas pela geração de empregos formais, aumento do salário mínimo e transferências;

As transferências de renda têm mais impacto sobre a redução da pobreza absoluta do que sobre a desigualdade; A renda do trabalho ainda é mais importante em todas as regiões.

Dois processos possivelmente interligados: a renda dos mais pobres da regiões ricas é puxada pela dinâmica do mercado de trabalho, que se espraia para as regiões mais pobres, afetando, entretanto, os “mais ricos”; Aqui os mais pobres tendem a receber menos que o mínimo, em virtude da maior presença dos segmentos informais;

O enfrentamento da desigualdade nos vários espaços do território nacional deve ser feito a partir de diferentes pacotes de políticas, implantados de maneira integrada.

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Desenvolvimento e Combate à Desigualdade

no Brasil

O Brasil ainda é o Brasil!;

O Brasil pode ser mais que o Brasil!;

Desigualdade fora da agenda nacional;

Slogans conservadores: “nação desenvolvida”, “país rico é país sem pobres”, “nova classe média”, “estamos no limite do pleno emprego”.

O ciclo expansivo dos anos 2000 assegurou crescimento econômico com elevação do emprego e financiamento das políticas de transferência da renda;

Não permite atuar de forma consistente sobre as várias desigualdades;

Novo padrão de desenvolvimento é pré-condição para mudanças mais substantivas na estrutura ocupacional, ampliação da políticas públicas universais e políticas estruturantes de inserção social adaptadas aos vários espaços regionais.

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Evolução dos vários segmentos da PEA – 2003 a 2008

2003 2008 2004-2008

N. em % N. em % Saldo (N.) Saldo (em%)

empregados registrados 29.264.358 33,0 38.069.128 38,9 8.804.770 95,5

sem carteira 14.268.559 16,1 15.607.386 16,0 1.338.827 14,5

conta-própria 17.863.720 20,2 18.183.833 18,6 320.113 3,5

domésticos 6.147.143 6,9 6.568.765 6,7 421.622 4,6

não-remunerados 5.642.387 6,4 4.258.549 4,4 -1.383.838 -15,0

subsistência 3.400.905 3,8 3.946.310 4,0 545.405 5,9

empregadores 3.359.867 3,8 4.096.075 4,2 736.208 8,0

desempregados 8.637.122 9,8 7.070.432 7,2 -1.566.690 -17,0

total 88.584.061 100,0 97.800.478 100,0 9.216.417 100,0

PNAD/IBGE

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As Posições de Classe Destituídas

Brasil Sudeste Nordeste

trabalhador elementar 9,4 9,4 14,2

empregado doméstico 6,8 5,3 4,5

autônomo precário 7,6 7,8 10,3

produtor agrícola precário 1,5 0,5 6,2

trabalhador de subsistência 4,0 1,4 4,5

trabalhador excedente 11,1 6,0 7,0

total de destituídos 40,3 30,6 46,7

trabalhador ampliado 38,5 42,3 27,4

autônomo com ativos 10,4 11,6 17,1

empregador 4,0 6,2 4,4

gerente e especialista 6,8 9,2 4,5

total de posições 100,0 100,0 100,0

Jose Alcides Figueiredo Santos, in: Jessé Souza, UFMG, 2009

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Algumas Perguntas Incômodas

Pode-se dizer que o Brasil a partir de 2004 engatou num novo padrão de desenvolvimento?

Pode-se dizer que o Brasil vivenciou uma reestruturação do mercado de trabalho, superando a conformação predominante nos anos 70 e a desestruturação sofrida nos anos 90?

Pode-se dizer houve uma transformação substantiva na estrutura de classes no Brasil?

Pode-se dizer que o Brasil está próximo do pleno emprego?

Acredito que a resposta seja não para todas as questões!

Se o Brasil quiser instaurar um novo padrão de desenvolvimento inclusivo, terá que enfrentar a desigualdade a partir de um amplo leque de políticas, dinamizando a acumulação rumo aos setores mais intensivos em capital, e ampliando a agricultura camponesa e a pequena produção urbana; a partir de um enfoque territorial capaz de criar novos nexos de solidariedade intra e inter-regionais;

Sem um Estado reformado, ancorado num projeto nacional, com ampla participação social, crescimento e desigualdade continuarão avançando em direções distintas, ou apenas se associando em breves períodos de tempo, devido a fatores conjunturais.