o brasil precisa de uma segunda...

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Introdução: Esses textos compõem o programa nacional do PSTU é a base da formação de nossas propostas para o Rio de Janeiro. O PSTU se apresenta nas eleições para dialogar com a classe trabalhadora e o povo pobre do Brasil e de nosso estado. Explicando que as mazelas da sociedade que se abatem sob os menos favorecidos é responsabilidade do sistema capitalista. Queremos convencer os mais pobres que só com a transformação social e a construção do socialismo será possível resolver a desigualdade social em nosso estado e pais. O Brasil precisa de uma segunda independência! O FMI dita os planos econômicos, as multinacionais controlam diretamente os setores mais dinâmicos da economia e as principais instituições do país estão nas mãos do imperialismo, que impede a soberania nacional. O PSTU afirma que sem romper com o imperialismo, não existe nenhuma possibilidade de acabar com o desemprego, com o arrocho salarial, avançar na reforma agrária, combater a fome e garantir melhores condições de vida. Para que o país possa retomar seu crescimento é preciso deixar de pagar a dívida pública e romper com o FMI, que impõe um controle despótico e anti-operário da economia nacional. O que o Brasil precisa é de uma segunda independência! Não pagar a dívida para garantir emprego, salário, terra, moradia, educação e saúde pública e de qualidade para todos. O pagamento da dívida externa e de seus juros é um verdadeiro crime contra o povo e o país. É preciso deixar de pagá-la imediatamente para que se possa redirecionar os investimentos, garantindo emprego, salário, moradia, educação, saúde e a reforma agrária. Os partidos burgueses, que representam os interesses do grande capital e a grande imprensa, dizem que não é justo deixar de pagar a dívida. Afirmam que “quem deve tem de pagar”. Até mesmo PT, agora no governo, repete esta ladainha. Dessa forma, parecem esquecer que essa dívida não foi feita pelo povo brasileiro. Ele nunca foi consultado. Tampouco se beneficiou desse dinheiro. Ao contrário, enquanto a dívida aumentava, os salários e emprego diminuíam e a estrutura produtiva do país retrocedia. Essa é, portanto, uma dívida ilegítima. Além do mais não querem ver que essa dívida já foi paga diversas vezes. Sem mais argumentos, ameaçam dizendo que a ruptura com o FMI levaria o país ao caos, com o fim dos financiamentos externos e o fechamento do mercado internacional. Frente a um fato como esse, a resposta de um governo dos trabalhadores deve ser enérgica: todo aquele que boicotar a economia do país deve ter seus bens imediatamente confiscados e suas empresas nacionalizadas, colocando-os a serviço do país e da população. Para enfrentar o bloqueio externo devemos fazer um chamado aos demais países devedores para a formação de uma frente continental pela suspensão do pagamento da dívida. Essa frente estabeleceria um comércio comum baseado no princípio da solidariedade dos povos e não da concorrência e do lucro capitalista. Seus países realizariam uma auditoria para mostrar ao mundo inteiro que essas dívidas já foram mais do que pagas às custas da fome do povo. Uma atitude como essa receberia o apoio e mobilizaria milhões em todo o mundo e inclusive nos EUA. Tributar as grandes fortunas e combater a sonegação fiscal! Além de suspender o pagamento da dívida e reorientar os gastos para garantir os direitos e necessidades sociais da maioria da população, é preciso mudar radicalmente a política de arrecadação do governo. Os tributos no Brasil são regressivos, quem tem mais paga menos. Além disso, a burguesia se utiliza de vários artifícios, inclusive legais, para sonegar e pagar menos impostos. Os desempregados e os trabalhadores de baixa renda devem ser isentos do pagamento de impostos. Os tributos devem recair sobre as grandes empresas, bancos e os mais ricos. É necessária uma forte taxação progressiva sobre rendas, lucros e patrimônios, particularmente sobre as grandes fortunas. Ao mesmo tempo os sonegadores deverão ser punidos progressivamente, até que seus bens sejam definitivamente confiscados. Reajuste mensal de salários! Salário mínimo do DIEESE!

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Introdução:

Esses textos compõem o programa nacional do PSTU é a base da formação de nossas propostas para

o Rio de Janeiro. O PSTU se apresenta nas eleições para dialogar com a classe trabalhadora e o povo

pobre do Brasil e de nosso estado. Explicando que as mazelas da sociedade que se abatem sob os

menos favorecidos é responsabilidade do sistema capitalista. Queremos convencer os mais pobres que

só com a transformação social e a construção do socialismo será possível resolver a desigualdade

social em nosso estado e pais.

O Brasil precisa de uma segunda independência!

O FMI dita os planos econômicos, as multinacionais controlam diretamente os setores mais dinâmicos da

economia e as principais instituições do país estão nas mãos do imperialismo, que impede a soberania nacional.

O PSTU afirma que sem romper com o imperialismo, não existe nenhuma possibilidade de acabar com o

desemprego, com o arrocho salarial, avançar na reforma agrária, combater a fome e garantir melhores condições

de vida.

Para que o país possa retomar seu crescimento é preciso deixar de pagar a dívida pública e romper com o FMI,

que impõe um controle despótico e anti-operário da economia nacional.

O que o Brasil precisa é de uma segunda independência! Não pagar a dívida para garantir emprego, salário,

terra, moradia, educação e saúde pública e de qualidade para todos.

O pagamento da dívida externa e de seus juros é um verdadeiro crime contra o povo e o país. É preciso deixar

de pagá-la imediatamente para que se possa redirecionar os investimentos, garantindo emprego, salário,

moradia, educação, saúde e a reforma agrária.

Os partidos burgueses, que representam os interesses do grande capital e a grande imprensa, dizem que não é

justo deixar de pagar a dívida. Afirmam que “quem deve tem de pagar”. Até mesmo PT, agora no governo,

repete esta ladainha.

Dessa forma, parecem esquecer que essa dívida não foi feita pelo povo brasileiro. Ele nunca foi consultado.

Tampouco se beneficiou desse dinheiro. Ao contrário, enquanto a dívida aumentava, os salários e emprego

diminuíam e a estrutura produtiva do país retrocedia. Essa é, portanto, uma dívida ilegítima. Além do mais não

querem ver que essa dívida já foi paga diversas vezes.

Sem mais argumentos, ameaçam dizendo que a ruptura com o FMI levaria o país ao caos, com o fim dos

financiamentos externos e o fechamento do mercado internacional. Frente a um fato como esse, a resposta de

um governo dos trabalhadores deve ser enérgica: todo aquele que boicotar a economia do país deve ter seus

bens imediatamente confiscados e suas empresas nacionalizadas, colocando-os a serviço do país e da população.

Para enfrentar o bloqueio externo devemos fazer um chamado aos demais países devedores para a formação de

uma frente continental pela suspensão do pagamento da dívida. Essa frente estabeleceria um comércio comum

baseado no princípio da solidariedade dos povos e não da concorrência e do lucro capitalista. Seus países

realizariam uma auditoria para mostrar ao mundo inteiro que essas dívidas já foram mais do que pagas às custas

da fome do povo.

Uma atitude como essa receberia o apoio e mobilizaria milhões em todo o mundo e inclusive nos EUA.

Tributar as grandes fortunas e combater a sonegação fiscal!

Além de suspender o pagamento da dívida e reorientar os gastos para garantir os direitos e necessidades sociais

da maioria da população, é preciso mudar radicalmente a política de arrecadação do governo.

Os tributos no Brasil são regressivos, quem tem mais paga menos. Além disso, a burguesia se utiliza de vários

artifícios, inclusive legais, para sonegar e pagar menos impostos.

Os desempregados e os trabalhadores de baixa renda devem ser isentos do pagamento de impostos. Os tributos

devem recair sobre as grandes empresas, bancos e os mais ricos. É necessária uma forte taxação progressiva

sobre rendas, lucros e patrimônios, particularmente sobre as grandes fortunas.

Ao mesmo tempo os sonegadores deverão ser punidos progressivamente, até que seus bens sejam

definitivamente confiscados.

Reajuste mensal de salários! Salário mínimo do DIEESE!

Congelamento dos preços, tarifas e mensalidades escolares!

Sem uma modificação da política salarial não existe possibilidade de combater a fome e a miséria. Para

justificar o arrocho salarial se afirma que os reajustes são inflacionários. Se isso fosse verdade não existiria mais

inflação no Brasil tão forte foi o arrocho em todos os governos anteriores.

Defendemos um reajuste que garanta reposição das perdas salariais. Como menor salário defendemos o mínimo

do DIEESE, visando atender as necessidades básicas como alimentação, habitação, vestuário e saúde.

Para impedir o repasse desse aumento, defendemos o congelamento dos preços, tarifas e mensalidades

escolares.

Combater o desemprego: por um plano de obras públicas e redução da jornada de trabalho sem redução dos

salários!

Para combater o desemprego propomos um plano de obras públicas que tenha como objetivo a construção

massiva de casas populares, hospitais, creches, escolas e universidades, estradas, ferrovias, meios de transportes

públicos e portos. Este plano incorporaria milhões de desempregados num grande mutirão nacional de

reconstrução do país.

A luta contra o desemprego não será completa se não responder a ameaça imediata e constante de demissões. A

burguesia coloca os avanços tecnológicos a serviço do lucro gerando um desemprego crescente. Propomos

colocar esses avanços a serviço do bem-estar dos trabalhadores. Defendemos a redução da jornada de trabalho

sem redução de salários, para garantir mais postos de trabalho e deixar o tempo livre para o descanso junto à

família, a cultura e o lazer.

Realizar uma reforma agrária ampla e radical sob controle dos trabalhadores!

Não há como buscar uma solução para a situação do país sem que seja resolvido o problema do campo, ou seja,

sem se realizar uma ampla, profunda e radical reforma agrária. Mas isso só será possível se enfrentar os

interesses dos latifundiários e do grande capital financeiro a eles associados.

Defendemos a expropriação sem indenização dos latifúndios. Propomos que todas as terras do país sejam

propriedade do Estado, mas garantindo o pedaço de terra para quem nela queira trabalhar. Haverá um

redirecionamento da produção de forma a atender às necessidades da população e não do mercado. O Estado

deve garantir os investimentos necessários para a produção de máquinas e implementos agrícolas; deve garantir

crédito barato para os pequenos agricultores; e por fim, o Estado deve também garantir a distribuição e o

escoamento da produção, bem como o preço mínimo dos produtos.

Estatização do sistema financeiro!

Os bancos não passam de instituições parasitárias e altamente lucrativas. Voltados para a especulação e o lucro

fácil, não servem para financiar a produção. Não existe nenhuma possibilidade de financiar um plano

econômico com as finanças nas mãos de sabotadores e especuladores.

Defendemos a expropriação e a estatização dos bancos utilizando seus enormes recursos para garantir o

investimento nas áreas sociais e na infraestrutura do país. Aos pequenos comerciantes e pequenos produtores

seriam garantidos créditos baratos.

A estatização do sistema financeiro garantirá o controle e a centralização do câmbio, impedindo a especulação,

a fuga de dólares e a remessa de lucros para fora do país.

Expropriação das grandes empresas e reestatização das empresas privatizadas!

As grandes empresas nacionais e estrangeiras dominam os principais ramos de produção e impõem o retrocesso

ao país. Defendemos a expropriação sem indenização dessas grandes empresas. A nacionalização é vital para

impedir as crises, controlar os preços e orientar a produção segundo os interesses da maioria da população.

Ao mesmo tempo propomos a reestatização sem indenização das empresas estatais privatizadas. É preciso

reincorporá-las ao patrimônio público e colocá-las a serviço do país e dos trabalhadores.

Pelo monopólio do comércio exterior!

O comércio entre as nações não deve atender às necessidades dos grandes grupos econômicos internacionais

sempre disposto a tirar vantagens através de uma troca desigual. É preciso o mais rigoroso controle do comércio

exterior, impedindo o livre trânsito do capital internacional. O Estado deve controlar o comércio exterior do

país, definindo uma política de exportação e importação que esteja a serviço das necessidades dos trabalhadores

e do povo explorado.

A política de um governo dos trabalhadores deve seguir o princípio da solidariedade entre os povos.

Por um governo dos trabalhadores da cidade e do campo

Curvando-se perante o capital internacional, preferindo se tornar seus sócios menores ao invés de enfrentá-los, a

burguesia nacional é incapaz de defender a soberania nacional ou fazer a reforma agrária.

Fiel representante da burguesia nacional e do grande capital internacional, o governo Lula governa contra os

interesses do povo. Colocou seus representantes em postos-chaves do governo: José Alencar, um dos maiores

empresários da tecelagem, tornou-se vice-presidente; Henrique Meirelles, ex-presidente do Bank Boston,

verdadeiro representante dos banqueiros internacionais, foi promovido para a presidência do Banco Central.

Somente a aliança dos trabalhadores da cidade e do campo, junto com os demais setores oprimidos da

população, poderá atender às necessidades básicas da população como emprego, salário e terra. Para isso, é

necessário trilhar por um caminho independente da burguesia e construir seu próprio governo: “a libertação dos

trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”, como já dizia Engels.

Na Europa, se abre um novo momento da crise econômica mundial

Escrito por Alejandro Iturbe

A Europa é hoje o epicentro da situação política e econômica internacional. Especialmente na Grécia, mas

outros países estão indo numa direção parecida, como Portugal, Espanha e Grã Bretanha.

A Europa é hoje o epicentro da situação política e econômica internacional. Especialmente na Grécia, mas

outros países estão indo numa direção parecida, como Portugal, Espanha e Grã Bretanha. Essa situação mostra,

por um lado, que a União Europeia e a chamada Zona do Euro (os 16 países que adotaram o Euro como moeda

comum) são hoje o elo mais frágil da cadeia imperialista. Por outro lado, possivelmente, entramos num novo

momento da crise econômica mundial.

Os momentos ou fases da crise

A primeira manifestação aberta da crise econômica mundial aconteceu no segundo semestre de 2007, com o

estouro da bolha especulativa existente no mercado imobiliário nos Estados Unidos. Desde então, começou a se

expandir em nível internacional.

Apesar de ter estourado nesse setor, não se tratava somente de uma crise financeira, mas expressava um dos

problemas mais profundos do sistema capitalista, analisados por Marx em “O Capital”: a queda da taxa de

lucros. Este embrião da crise se agravava e se potencializava pela hipertrofia do sistema financeiro mundial, nas

últimas décadas, como assinalamos em vários artigos e trabalhos. Outro fator central atuou, por sua vez, como

desencadeador e agravante da crise: a derrota do projeto de Bush do Novo Século Americano, especialmente na

guerra do Iraque.

Desde o início, economistas burgueses muito sérios, como Stiglitz e Krugman, afirmaram que se tratava da pior

crise do capitalismo desde a de 1929. Neste momento, concordamos com este diagnóstico que se confirmou

com a quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008, acompanhado por situações muito críticas em

outros grandes bancos estadunidenses e europeus. A crise se aprofundava e dava um salto: houve dois semestres

(o último de 2008 e o primeiro de 2009) de grande queda dos PIBs doa EUA e da Europa, a pior em várias

décadas). Por outro lado, o sistema bancário-financeiro mundial estava a um passo de quebrar.

Um segundo momento ou fase começa com os megapacotes de ajuda aos bancos e aos mercados financeiros

lançados pelos governos dos países imperialistas e outros países de peso como China e Brasil. Os estados

imperialistas, da mesma forma que antes tinham impulsionado o processo especulativo, agora atuavam como

companhias de seguro do setor financeiro e se endividaram para injetar, diretamente, ou assumir pacotes que

somaram quase 24 bilhões de dólares, mais de 40% do PIB mundial. Assim, conseguiram salvar os bancos e

evitar uma quebradeira generalizada do sistema financeiro mundial. Esses megapacotes conseguiram, também,

frear a dinâmica de queda livre da economia mundial e iniciar uma frágil recuperação a partir do segundo

semestre de 2009.

Porém este grande endividamento dos estados imperialistas começa a pender para o lado mais fraco: os países

imperialistas mais frágeis, como Grécia e Portugal, não podem sustentar a dívida que contraíram e entram em

moratória ou próximo disso. Apesar de serem países pequenos, eles são parte de um dos principais polos

imperialistas. Por isso, sua situação econômica e política volta como um bumerangue sobre toda a Europa e o

conjunto da economia mundial. Abre-se, assim, um novo momento ou fase da crise cuja dinâmica vai se definir

no terreno da luta de classes.

O salto nos déficits públicos

Os megapacotes de ajuda geraram um grande endividamento dos países imperialistas, tanto nos EUA quanto na

Europa, atingindo recordes em sua relação com os PIBs nacionais. Nos EUA, a dívida pública chega a 15

bilhões de dólares, 100% do PIB, enquanto o déficit fiscal anual já é de 11% do PIB. Na Europa, é um pouco

menos: a dívida pública representa 76,3% do PIB, e o déficit fiscal anual é de 6,8%.

Porém, em vários países, as relações percentuais entre dívida pública e PIB e/ou déficit anual e PIB superam,

proporcionalmente, os EUA: Grã Bretanha, 79,1% e 11,5%; Espanha, 64,9% e 11,2%; etc. no caso da Grécia,

124,9% e mais de 13%, ainda que a origem dessa dívida seja um pouco diferente, como analisaremos mais

adiante. Em todos os casos, os países europeus superam várias vezes o déficit máximo de 3%, definido pelo

Tratado de Maastricht que deu origem à União Europeia e à Zona do Euro.

A maior fragilidade europeia

Mais do que os percentuais, existem diferenças entre os EUA e a Europa que explicam a piora da situação atual

da UE. Comecemos por duas principais debilidades europeias.

Em primeiro lugar, apesar da criação da UE e da Zona do Euro como polo imperialista para defender um espaço

frente aos EUA, a Europa não é um único país, mas vários. Existe um Banco Central Europeu (BCE) que

administra o Euro, mas as burguesias europeias não avançaram rumo à criação dos Estados Unidos da Europa.

Esse passo nunca se dará no marco do capitalismo, porque essas fronteiras nacionais delimitam o espaço

próprio de cada burguesia para explorar seus trabalhadores.

Por isso, a existência do Euro como moeda comum sem unificação dos países apresenta contradições

insuperáveis que, agora, na crise, mostram sua face negativa. Ao ser controlado por uma superestrutura

internacional, o BCE, o Euro impõe uma rigidez de políticas monetárias nacionais. Por exemplo, as burguesias

gregas e portuguesas não podem emitir nem desvalorizar sua moeda e, dessa forma, realizar um ataque indireto

aos salários e no nível das massas. Nem o BCE pode atuar frente à crise de um país da Zona do Euro como faria

um Estado federal ante a crise de uma região (por exemplo, Brasil diante de uma crise em Minas Gerais).

O que vimos é que os pacotes de ajuda ao setor financeiro foram lançados com um critério nacional e não do

conjunto da região. Cada burguesia imperialista, especialmente a dos países mais fortes, Alemanha e França,

estava muito mais preocupada em salvar a própria casa do que com o que aconteceria com os outros países. Ao

mesmo tempo, a existência de uma moeda comum faz com que os problemas dos países mais débeis se

estendam ou afetem todos os integrantes da Zona do Euro.

Mesmo agora, quando todo o projeto da UE e a própria existência do Euro estão em risco, foi lançado um

pacote conjunto de quase um bilhão de dólares para sutentar a moeda comum, já em meio a uma queda contínua

de sua cotização internacional. Nesse sentido, o Financial Times criticou as burguesias e os governos europeus,

em particular a alemã Angela Merkel, por deixar correr a situação para pressionar condições mais duras para

Grécia, assinalando que ela “estava brincando com fogo”. Na mesma direção, Joseph Stiglitz (um dos gurus

econômicos da atualidade) afirmou que a queda da UE e do Euro seria uma “catástrofe”.

Além de não ser um único país, tanto na UE quanto na Zona do Euro, se uniram países de desenvolvimentos

econômicos e produtivos muito desiguais. Como exemplos extremos, Alemanha e Grécia. No caso dos países

mais frágeis, como Grécia, Portugal ou a própria Espanha, essa integração significou, além disso, um processo

de desindustrialização e o crescimento de ramos econômicos muito mais sujeitos aos vaivens conjunturais,

como o turismo (e a construção associada), o comércio e o transporte, e portanto, são muito mais frágeis ante a

crise.

Durante os recentes anos de ascenso econômico mundial (2003-2007), isso gerou a impressão de maior riqueza.

Mas a crise econômica desfez esta ilusão e mostrou que o saldo do processo foi de empobrecimento. No caso

grego, por sua menor produtividade, o país se endividou para sustentar a permanência na Zona do Euro e a

importação de produtos industriais. Enquanto o ingresso de euros pelo turismo e o comércio era sustentado, o

ciclo funcionava. Porém a crise diminuiu essas entradas já não era possível pagar os empréstimos, os juros

pagos sobre os refinanciamentos ficaram cada vez mais altos e a dívida foi crescendo até chegar ao nível

insustentável atual.

Alemanha e França obrigaram os países menores a se superendividarem para defender seus próprios setores

financeiros: mais de 40% da dívida pública grega está nas mãos de bancos franceses e alemães, e o resto em

mãos de outros bancos, alguns de aparência grega, mas controlados por capitais franceses, alemães e norte-

americanos.

A outra grande debilidade das burguesias imperialistas europeias é a sua relação com o movimento operário.

Em primeiro lugar, depois da Segunda Guerra Mundial, se viram obrigadas a reconhecer importantes conquistas

sociais e trabalhistas para evitar a ampliação da revolução socialista que avançava a partir do Leste europeu.

Baste ver, por exemplo, a diferença entre os sistemas de saúde pública ou os mecanismos de demissões na

Europa e nos Estados Unidos. Soma-se a isso, por sua longa história e tradição, que o movimento operário

europeu é muito mais organizado, consciente e mais capaz de lutar do que a classe operária norte-americana.

Por isso, as burguesias europeias tiveram de atuar, até agora, com pés de chumbo frente a suas classes operárias:

junto a fortes ataques aos setores mais fracos (os imigrantes), fortaleceram certas medidas amortecedoras (como

a ampliação dos prazos do seguro desemprego), que adiaram os choques frontais com os setores mais fortes.

Mesmo com este objetivo sendo cumprido, (com grande ajuda das burocracias sindicais), isso desiludiu a

confiança investida e atrasou a recuperação.

Uma dinâmica negativa

Como resultado combinado de todos estes fatores, a economia da UE caiu 4% em 2009 (pior queda desde a

Segunda Guerra Mundial) e sua produção industrial caiu 20% (um retrocesso que leva aos níveis de meados da

década de 1990). Por outra lado, sua recuperação nos últimos trimestres foi praticamente nula, ainda que

comparada com os +3,2% dos EUA. Por exemplo, depois da grande queda, a produção industrial cresceu, em

março (um mês teoricamente bom), na UE e na Zona do Euro, 1,2 e 1,3% respectivamente.

Neste marco, como reflexo também da luta de classes, o salvamento à Grécia teve um efeito nulo nos mercados

(uma expressão distorcida da confiança dos capitalistas) e o impulso ascendente gerado pelo respaldo ao Euro

apenas durou um par de dias.

Não é por acaso, então, que o estado de ânimo dos dirigentes burgueses europeus esteja um pouco deprimido. O

presidente do BCE, Jean Claude Trichet, declarou numa entrevista ao semanário alemão Der Spiegel que a

Europa está “sem dúvidas, em sua situação mais difícil desde a Segunda Guerra Mundial, talvez desde a

Primeira. Vivemos tempos verdadeiramente dramáticos”. Com surpreendente sinceridade, acrescentou que o

pacote de apoio ao Euro era “somente para ganhar um pouco de tempo”.

A situação dos EUA

Por que os EUA conseguiram uma maior recuperação? Uma das razões, já começamos a analisar: é um un

único país e, portanto, o megapacote de ajuda ao setor financeiro atuou globalmente e não parcialmente.

Ao mesmo tempo, uma das questões centrais é que continua sendo o imperialismo hegemônico possuidor da

moeda mundial (o dólar). Isso lhe permite emitir moeda sem controle, que logo é aceita nos mercados mundiais,

e também seguir atuando como um gigantesco aspirador de mais-valia produzida em todo o mundo. Voltaremos

a isso mais adiante.

Finalmente, diferentemente das europeias, a burguesia estadunidense conseguiu infligir uma derrota de fato a

sua classe operária. Nos últimos trimestres, a massa salarial total (ou seja, o total de salários pagos no país)

diminuiu 5%, enquanto o PIB crescia 3,2%. Isso significa que a produtividade da força de trabalho (e com ela a

massa de mais-valia) cresceu quase 9%.

Isso foi alcançado pela dupla via do aumento do desemprego e do arrocho salarial. Um exemplo extremo deste

processo foi o caso da GM, que reduziu de 60 mil para 40 mil o número de seus trabalhadores e impôs salários

mais baixos aos que continuaram na empresa. Ainda que de modo mais sutil, o mesmo se deu no conjunto dos

setores econômicos. É necessário esclarecer que não se trata de uma derrota histórica, das que determinam

relações de força por muitos anos, mas parcial e limitada. Porém, neste aspecto, a burguesia dos EUA

avançaram mais que as europeias.

Isso não significa que a economia norte-americana esteja numa fase florescente. Pelo contrário, todos os

analistas ressaltam que sua recuperação é muito frágil e está sendo impulsionada, principalmente, pela

intervenção estatal.

O investimento privado, apesar de vir aumentando, ainda é insuficiente, o que expressa que a recuperação da

taxa de lucros ainda é débil para impulsionar um fluxo de investimentos que determine uma onda ascendente

sustentável. Por exemplo, em março, o uso da capacidade industrial instalada cresceu de 73,1% para 73,7%. Ou

seja, está em ascensão, mas ainda muito abaixo de seu potencial.

Por outro lado, a burguesia imperialista norte-americana mantém seus olhos no curso da situação europeia, tanto

na luta de classes quanto em seu reflexo na economia. Um dos elementos a se levar em conta é que os cinco

principais bancos de investimentos dos EUA têm investimentos globais de trilhões de dólares nas dívidas

públicas, bancárias e privadas europeias (na Alemanha, Espanha, França e outros países). Em outras palavras,

ao contrário do que ocorreu em 2007, nesta fase da crise, os problemas da Europa podem contagiar os EUA. O

que já se expressa no fato de que, junto com a atual situação europeia, também sofre quedas a Bolsa de Nova

Iorque.

Uma hipótese equivocada

Por outro lado, ficou demonstrado que estava totalmente equivocada a hipótese de fim da hegemonia

econômico-financeira estadunidense. O que vivemos é uma crise econômica global do capitalismo imperialista,

mas, nesse marco, essa hegemonia, longe de se debilitar, se fortaleceu frente aos outros imperialismos, em

particular frente aos europeus.

Dois fatos mostram isso com clareza. O primeiro é que foi necessária a intervenção do FMI (e, através dele, dos

EUA, país que controla este organismo) no pacote grego e na sustentação do Euro. Em outras palavras, a UE e a

Zona do Euro vão permanecer, mas com muito menos autonomia e com a supervisão do grande irmão.

O segundo é que, como expressão desta hegemonia, o dólar se fortaleceu como moeda mundial. Enquanto o

Euro sofre constante desvalorização, o dólar (apesar de que, no último ano, foram injetadas quantidades

recordes nos mercados) fortalece sua cotização.

Um ataque especulativo?

No processo de negociação do pacote grego, as empresas qualificadoras de risco, como Standard & Poor, foram

baixando a nota de avaliação de títulos da dívida grega até chegar ao mesmo nível dos títulos podres. O mesmo

está acontecendo com a dívida portuguesa.

As empresas como Standard & Poor não são neutras nem imparciais em sua avaliação de risco. Pelo contrário,

são um instrumento do capital financeiro especulativo. Por exemplo, durante 2006-2007, ajudaram a encobrir

com boas qualificações os títulos podres baseados nas hipotecas dos EUA, quando o colapso de suas cotizações

já era inevitável. E, no ano passado, fizeram vista grossa aos títulos dos países europeus que se

superendividaram para salvar os bancos.

Agora, ao rebaixar a qualificação dos títulos gregos ou portugueses, no só contribuíram para elevar os juros de

refinanciamento dessas dívidas, mas também empurraram a desvalorização do Euro e a consequente alta da

cotização do dólar. Quem conhecia este fato de antemão, pode vender os Euros por um preço mais caro e

comprar dólares mais baratos, conseguindo um grande lucro em pouco tempo, numa típica jogada especulativa.

Não podemos saber se foi uma ação totalmente arquitetada ou só de um ataque especulativo sobre o Euro, que

aproveita habilmente a conjuntura.

Em qualquer dos casos, esta especulação monetária põe mais lenha na fogueira que começa a incendiar a

Europa, mesmo que o fogo possa terminar, finalmente, queimando os próprios especuladores. Porém, como diz

a conhecida fábula do escorpião e da rã, está em sua natureza. Até a própria chanceler alemã, Angela Merkel,

reclamou da “perfídia” dos bancos que são salvos com dinheiro dos estados e aproveitam esse dinheiro para

especular contra o Euro.

Começam duros ataques aos trabalhadores

Para a maioria das burguesias imperialistas européias, só resta um caminho: por fim às medidas amortecedoras

que buscavam evitar choques frontais com o conjunto da classe operária, reduzir drasticamente seus déficits

públicos e lançar fortíssimos ataques diretos a seus trabalhadores.

Este é o significado do feroz ajuste lançado por Yorgos Papandreus na Grécia; por Zapatero na Espanha; por

Sócrates em Portugal; e o que está sendo preparado na Grã-Bretanha, enquanto termina de se formar o novo

governo conservador-liberal. Todos contêm medidas similares: arrocho salarial dos funcionários públicos,

aumento da idade para se aposentar, redução do montante das pensões, eliminação de salários indiretos (como

adicionais por filho) etc.

Porém os trabalhadores gregos estão respondendo com uma dura luta e é iminente uma perspectiva parecida em

Portugal e na Espanha. Isso provocou o rápido desgaste do governo de Papandreus, poucos meses depois de ter

assumido. Uma crise política que, junto com as lutas, começa a se ampliar pelo conjunto da Europa. Isso se

expressa no “voto-castigo” contra Gordon Brown, nas eleições gerais na Grã-Bretanha, e nas eleições regionais

contra Sarkozy e Merkel. Também na decadência dos governos de Sócrates e Zapatero.

Neste sentido, na Grécia se está jogando uma partida cuja importância excede o caráter nacional. Como vimos,

a situação grega expressa, de modo mais agudo, a do conjunto da Europa. Seus resultados repercutirão sobre o

conjunto da situação política e econômica mundial, incluindo a dos EUA.

É um jogo cujo resultado ainda está aberto e, portanto, apresenta várias hipóteses possíveis. Um triunfo dos

trabalhadores gregos, derrotando ou empantanando o ajuste de Papandreu, porá seu governo à beira da extinção.

Ao mesmo tempo, alentará e fortalecerá a luta dos trabalhadores de outros países contra os ajustes de seus

próprios governos, dificultando sua aplicação. Neste marco, é muito possível que se enfraqueça ainda mais a

confiança dos investidores das burguesias e se aprofunde uma nova fase descendente da economia.

Pelo contrário, uma derrota dos trabalhadores gregos fortalecerá os ataques em outros países europeus. Se essa

derrota se estender, sobre a base de um avanço dos níveis de exploração e da taxa de lucro, haverá uma

recuperação da confiança dos investidores e uma fase ascendente da economia que pode alcançar seu auge em

um ou dois anos. Uma terceira hipótese possível é que o resultado dos processos de luta não seja claro, digamos

que ocorra um “empate”, e haja tendências contraditórias que definam uma dinâmica de semiestancamento.

O que não deixa dúvidas é que na luta de classes na Grécia e na Europa, está em jogo, hoje, a dinâmica da crise

econômica mundial. E tal como temos dito, o resultado está aberto. De nossa parte, damos todo nosso apoio e

nossa solidariedade aos trabalhadores gregos e europeus.

A crise econômica vai atingir o Brasil? É possível evitar?

A crise econômica europeia está gerando uma nova situação política nesse continente. Como vimos em outros

artigos, se trata de uma continuidade da crise que começou em 2007. Existe a possibilidade de que ela se

estenda ao conjunto do planeta, caracterizando o chamado “duplo mergulho”.

Mas para os trabalhadores que acreditam no que o governo lhes diz, o Brasil não vai ser atingido pela crise.

Existe uma base material para essa postura. Em primeiro lugar, a economia brasileira segue crescendo. O PIB

de 2010 pode ultrapassar 5% de crescimento. A indústria automobilística deve bater, mais uma vez, seus

recordes de produção e vendas.

Em segundo lugar, o país saiu relativamente rápido da crise em 2009. Isso foi atribuído, pelos trabalhadores, à

ação do governo, o que fortaleceu ainda mais Lula.

Mas nós temos a obrigação de alertar os trabalhadores de que a crise virá, embora possa não chegar aqui

rapidamente. É provável que atinja diretamente o país durante o mandato de qualquer um dos candidatos eleito

em outubro. Além disso, por mais que se escondam, já existem reflexos da crise européia hoje no Brasil.

O alerta tem importância porque essa discussão não vai estar presente nas campanhas eleitorais de Dilma

Roussef, José Serra ou Marina Silva.

Como o Brasil saiu da crise em 2009

O Brasil viveu uma recessão entre o último trimestre de 2008 e o primeiro de 2009. Nesse período, o país

acompanhou a queda livre da produção industrial que existia no mundo, retrocedendo 16,7%. As grandes

empresas frearam a produção bruscamente, para ver o que se passaria no mundo.

Foi o momento em que os trabalhadores sentiram a crise e a ameaça de desemprego, simbolizada na demissão

de 4200 operários da Embraer.

O país saiu da recessão no segundo trimestre de 2009, acompanhando a tendência de recuperação que existia na

economia mundial. Muitas outras grandes empresas, como a Embraer, discutiram a possibilidade de novas levas

de demissões, mas acabaram apostando na recuperação, que já se dava em todo o mundo.

A primeira lição que isso nos traz é que, ao contrário do que o governo afirma, o Brasil está muito, muitíssimo

exposto às variações do mercado mundial, e sofre diretamente com as possibilidades de crise. Se não, seria

impossível explicar como o país acompanhou diretamente a evolução da economia mundial, tanto na queda

brutal da produção mundial no último trimestre de 2008 como na recuperação do segundo trimestre de 2009.

Isso é assim porque a economia brasileira é completamente dominada pelas empresas multinacionais. Elas

controlam a indústria automobilística, química, farmacêutica e alimentícia, entre outras. Controlam o

agronegócio e penetraram fortemente no setor de supermercados e na construção civil.

Além disso, as fronteiras econômicas foram abertas completamente – incluindo as baixas taxas de importação

de produtos estrangeiros e a possibilidade de investimentos externos – com os governos Collor e FHC e

mantidas assim por Lula. Por último, o mercado acionário brasileiro está estreitamente ligado à dinâmica dos

capitais especulativos de todo o mundo, acompanhando dia a dia o mesmo ritmo da Bolsa de Nova Iorque.

O primeiro motivo pelo qual o Brasil saiu da recessão em 2009 foi porque as grandes multinacionais decidiram

seguir investindo no país. O país tem um mercado interno importante, ao contrário de outros países dominados.

Além disso, é uma plataforma de exportação de produtos industriais (automóveis, eletrodomésticos) para a

América Latina; do agronegócio (carne, soja, sucos cítricos etc.) para todo o mundo e de minérios (em

particular ferro, para a China).

As grandes empresas estrangeiras aqui instaladas, ao caracterizar a recuperação internacional, decidiram seguir

investindo no país para continuar ocupando este espaço. Foi assim com a indústria automobilística que está

investindo fortemente em todo o país. Foi assim com a Vale, hoje uma multinacional, controlada por fundos

estrangeiros.

Esse é o primeiro e principal motivo pelo qual o país não seguiu em recessão: as grandes empresas estrangeiras

assim o decidiram. Algumas delas, como as automobilísticas, conseguiram mais lucros aqui do que em suas

matrizes nos EUA ou Europa. Foi uma decisão em defesa de seus lucros, não teve nada a ver com os interesses

nacionais ou preocupação com o país.

Mas poderia não ser assim, caso essas mesmas empresas achassem que a crise internacional se aprofundaria e

não teriam como seguir exportando. Somente o mercado interno não bastaria para essas multinacionais.

Qual foi o papel do governo Lula

O papel do governo nessa história é importante, mas não foi o que determinou o curso da crise. O governo

brasileiro se comportou como mandaram as multinacionais e os bancos. Injetou 300 bilhões de dinheiro público

nas empresas, acompanhando o mesmo figurino dos governos imperialistas. Reduziu o IPI de automóveis e

eletrodomésticos (ajudando mais uma vez as multinacionais) e liberou mais de R$100 bilhões para os

banqueiros. Tudo para seguir atraindo as grandes empresas.

Os reflexos dessa postura sobre o endividamento do país são graves. A soma das dívidas externa e interna do

país, que compõem a dívida pública se ampliou. E junto com isso, o pagamento dos juros também aumentou

muito. Em 2009 o governo Lula pagou aos banqueiros R$ 380 bilhões (dados da Auditoria Cidadã da Dívida).

Isso significa 36% de todo o orçamento geral do país. Ou seja, mais que um terço de tudo o que se arrecadado

no país é entregue aos banqueiros para pagar a dívida.

Já os gastos com saúde foram de 4,64% e com a educação 2,88%. Isso significa que o governo Lula pagou aos

banqueiros quase cinco vezes mais do que gastou com saúde e educação juntas.

A crise deixou reflexos na economia. As exportações caíram de 197 bilhões de dólares em 2008 para 152

bilhões em 2009. O superávit comercial em 2009 foi de US$ 24,6 bilhões, o menor desde 2002. As previsões

para 2010, indicam uma redução ainda maior, para US$ 11 ou 12 bilhões.

O resultado é que ao país deve ter em 2010 o maior déficit em contas correntes desde 1947. As contas correntes

incluem a balança comercial, serviços (fretes, seguros, viagens internacionais) e transferências unilaterais

(remessa de lucros das multinacionais em particular). Com a queda do superávit comercial e o aumento das

remessas de lucros das multinacionais (2,5 bilhões de dólares entre janeiro e março) houve um déficit nas contas

correntes do país no primeiro trimestre de US$ 12,1 bilhões de dólares, o que projeta um déficit anual de 50

bilhões de dólares.

Ou seja, para ajudar as multinacionais e os banqueiros, o governo endividou mais o país, agravando as

contradições já existentes. O país depende cada vez mais da entrada de capitais estrangeiros para manter a

economia.

Para os trabalhadores, nada. Nenhuma medida de garanti do emprego. Nem sequer defendeu os demitidos da

Embraer, mesmo podendo fazê-lo legalmente pelo peso do estado na empresa.

Mas não foi Lula – ao contrário do que pensam os trabalhadores – que impediu que a crise seguisse. Foram as

grandes multinacionais que controlam a economia do país que decidiram. Junto com isso, também impuseram

um ritmo de trabalho ainda maior, ampliando a superexploração dos trabalhadores, como se sente hoje nas

fábricas. Ou seja, são os trabalhadores que estão pagando hoje os custos da crise de 2008-2009.

Uma nova crise pode ser diferente

Caso exista uma nova crise, ou mais precisamente um novo momento da crise, a evolução da economia

brasileira pode ser completamente diferente. Tudo vai depender da gravidade da mesma e da disposição das

empresas multinacionais.

Caso exista uma crise grave, que afete não só a Europa, mas a China e os EUA, com uma dinâmica de

aprofundamento maior, as multinacionais podem decidir parar de investir no país. Nesse caso, a crise brasileira

seria muito maior do que a ocorrida em 2008-2009.

Não existe a possibilidade de uma evolução semelhante á ocorrida na década de 1930, em que ainda existia um

espaço para o crescimento nacional mesmo no meio da crise internacional. O grau de internacionalização da

produção e controle das multinacionais é muito maior.

A avaliação que temos da economia internacional é que entramos em um longo período recessivo, que vai

perdurar por muitos anos. Pode haver ciclos de crescimento anêmico seguidos de novas crises. Não veremos um

ascenso econômico como aconteceu na década de 1990 ou no início desse século por algum tempo.

A crise europeia pode se generalizar ou não, o que vai depender também da evolução da luta de classes naquele

continente. Mas a crise atual já é uma demonstração de que toda a propaganda de que a crise acabou não era

mais que isso: propaganda e muito bem paga.

A situação atual da economia brasileira (ainda crescendo fortemente) e dos EUA e China (também crescendo)

indicam a possibilidade mais provável que a crise não atinja o país antes das eleições.

Mas também podemos dizer que é bastante provável que uma nova crise atinja o Brasil durante o mandato do

novo governo eleito em outubro. E aí teremos uma situação para os trabalhadores que pode ser muito mais

grave que na crise passada. Se os governos europeus da Espanha, Portugal e Grécia estão impondo cortes entre

5 e 30% dos salários dos trabalhadores, arrebentando as aposentadorias e cortando os gastos sociais, imaginem

o que podem fazer Dilma Rousseff ou José Serra.

Os reflexos atuais da crise: o governo ataca os trabalhadores

Estamos discutindo a perspectiva futura de uma nova crise no país. Mas já existem reflexos neste momento da

crise européia. O governo brasileiro se endividou para entregar 300 bilhões às grandes empresas no período

anterior. Agora quer fazer os trabalhadores pagarem esse dinheiro, já prevendo uma nova agudização da crise.

No início do ano, o governo cortou R$ 21 bilhões do orçamento federal e agora anunciou mais cortes, R$ 10

bilhões. Declarou, também, que não permitirá qualquer reajuste salarial para o funcionalismo e anunciou a

perspectiva de vetar o fim do fator previdenciário, votado no congresso.

São claros sinais de que Lula quer descarregar os custos da crise sobre os aposentados, funcionários públicos e

trabalhadores em geral (que serão afetados pelos cortes nos gastos sociais).

Os aposentados devem receber como uma bofetada o compromisso do governo de entregar 10 bilhões de

dólares ao FMI, enquanto deve vetar o fim do fator previdenciário. Lula se dispôs a enviar quase 300 milhões

de dólares para supostamente ajudar a Grécia (leia-se os bancos desse país), e ao mesmo tempo quer congelar os

salários do funcionalismo.

Isso é mais uma mostra do que seria possível em um futuro governo Dilma ou Serra, quando ocorra uma nova

crise. Os ataques aos salários e empregos dos trabalhadores serão muito maiores.

Para evitar os efeitos de uma nova crise é preciso romper com o imperialismo

As crises econômicas não são produtos da natureza, como os terremotos ou inundações. São frutos do

capitalismo, que faz a sociedade trabalhar para garantir altos lucros para as grandes empresas. Não existe

maneira de terminar com as crises sem romper com o capitalismo.

É possível evitar uma nova crise no Brasil. Podemos evitar que os salários sejam reduzidos e milhares e

milhares de empregos perdidos. Ao contrário, podemos melhorar qualitativamente nossos salários e garantir

emprego para todos, alimentar nosso povo, educar a juventude, morar com dignidade.

Mas para isso, será fundamental acabar com a dominação imperialista do país. Temos de deixar de pagar as

dívidas externa e interna.

E temos que avançar para estatizar, sob controle dos trabalhadores, os bancos e as grandes empresas

multinacionais que controlam o país. Só assim a decisão sobre investir ou não no país poderá ser feita aqui e

não nas matrizes dessas empresas. Só assim poderemos reinvestir os enormes lucros conseguidos por essas

empresas.

O que poderia ser feito com o dinheiro das dívidas

Deixar de pagar a dívida aos banqueiros possibilitaria ter dinheiro para investir em um plano de obras públicas

para a construção das seis milhões de casas populares necessárias para resolver o déficit habitacional do país.

(custo total de R$ 72 bilhões). Esse plano de obras públicas poderia absorver os desempregados do país.

Teríamos também condições de financiar a reforma agrária, com assentamento de seis milhões de famílias

(apoio de vinte mil reais cada) e um gasto total de 120 bilhões. Mais 160 bilhões poderiam ser utilizados para

triplicar os gastos de Saúde e Educação do governo em 2009.

Basta pensar no impacto social desses planos no desemprego, reforma agrária, habitação, saúde e educação,

para se ter certeza da necessidade de deixar de pagar essas dívidas.

Um programa socialista para a saúde

A saúde será um dos temas centrais da campanha eleitoral de 2010.

A saúde será um dos temas centrais da campanha eleitoral de 2010. Afirmamos isso com base em pesquisas que

comprovam que a saúde é uma das maiores preocupações da classe trabalhadora brasileira. Para 24,2% da

população, a saúde é o maior problema enfrentado no dia-a-dia, seguido por desemprego (22,8%), situação

financeira (15,9%) e violência (14%). Ou, ainda, o pior dos problemas nacionais, junto com a violência, como

relatam 21% dos brasileiros, seguido do desemprego 18%. Além disso, a saúde representa um peso no

orçamento familiar, pois devido ao sucateamento intencional da saúde pública estatal, as famílias são obrigadas

a recorrer a serviços privados, comprometendo 6,49% do orçamento familiar, após habitação (35,5%),

alimentação (20,75 %) e transporte (18,44%).

Contudo, apesar dessa importância, o cenário da saúde pública brasileira é de descaso e caos, exemplificado

pelas epidemias de dengue, no verão, e gripe suína no inverno. Por exemplo, em 2010, houve na Baixada

Santista e em Ribeirão Preto (SP), uma nova epidemia de dengue com mais de 20 mil casos em cada um dos

municípios. Situação previsível, se considerarmos que o ciclo natural da dengue apresenta um aumento no

número de casos, em geral, a cada três anos. Seriam necessárias medidas de prevenção e controle, tais como,

educação da população e eliminação do inseto transmissor. No caso da gripe suína, vale recordar que, em 2009,

o Brasil foi um dos recordistas mundiais em mortes evitáveis causadas pela doença, com mais de 1.630 mortos

no ano 2009.

Além disso, a realidade das unidades de saúde pública apresentam filas sem garantia de atendimento, consultas

e exames que demoram meses para serem marcados e realizados (obrigando as pessoas a recorrerem aos

serviços privados), privatização, desmonte dos hospitais universitários, terceirização de serviços e da força de

trabalho, subfinanciamento, péssimas condições de infraestrutura (camas quebradas e/ou enferrujadas, goteiras,

infiltrações, fungos etc.). Faltam desde recursos como remédios aos mais simples, como gaze, luvas, lençóis,

material de escritório. Em boa parte dos serviços privados, a qualidade também é péssima, com economia de

materiais, consultas relâmpago e, consequentemente, diagnósticos e tratamentos errados.

A partir destas preocupações, propomos algumas questões para reflexão:

De quem é a responsabilidade pela saúde da população?

Quanto se deve gastar com saúde?

De onde deve vir o dinheiro?

A quem interessa o sucateamento do sistema público estatal?

Por que, diante de tantos avanços científicos e tecnológicos, as pessoas ainda adoecem e morrem de

doenças de séculos passados?

A burguesia e a classe trabalhadora adoecem das mesmas doenças e da mesma forma?

Quem dita os investimentos em pesquisa e tecnologia: o perfil epidemiológico da população (causas

que fazem as pessoas adoecer e morrer) ou a demanda do mercado?

Qual a relação de determinadas doenças com o tipo e o ambiente de trabalho e de moradia?

Qual a relação entre as modificações ambientais e a saúde?

A saúde, na prática, é um direito universal dos brasileiros?

Além de ser uma necessidade sentida pela classe trabalhadora e um direito conquistado, o setor da Saúde tem

um peso importante na economia do país, envolvendo em torno de 7,9% do PIB, com um contingente

proporcional de trabalhadores empregados. Segundo dados do Ipea, atualmente, o Sistema Único de Saúde

(SUS) emprega quase dois milhões de trabalhadores (1.966.715), incluindo a rede privada conveniada ao SUS.

É um número significativo e mostra o peso relativo que o setor tem hoje dentro da classe trabalhadora brasileira

e na economia. Neste percentual, estamos incluindo não apenas o setor de serviços público e privado, mas

também o ramo produtivo e de distribuição (indústria farmacêutica e de vendas de remédios).

Um breve balanço sobre o SUS

No Brasil, vivemos um momento de transição epidemiológica, ou seja, a população está envelhecendo e, com

isso, cresce o impacto das doenças observadas em países centrais do capitalismo (cardiovasculares, cânceres

etc.). Contudo, os indicadores de saúde apontam que ainda não se deu respostas para problemas de saúde que

aqueles países resolveram há 50 anos, tais como mortalidade infantil, mortalidade neonatal, recém-nascidos

com baixo peso e expectativa de vida ao nascer, altos índices de tuberculose e hanseníase. Outro grave

problema de saúde pública é a violência urbana que tem interrompido vidas de jovens pobres, principalmente

negros, moradores das comunidades pobres.

A organização de sistemas nacionais de saúde é uma preocupação mundial. O SUS foi criado pela Constituição

de 1988 (artigos 196; 197; 198 e 200). O sistema foi uma conquista da classe trabalhadora, fruto de grandes

lutas populares desde o final dos anos 1970 e dos anos 1980, articuladas ao movimento da reforma sanitária

brasileira. A conquista do SUS estava alinhada a um processo de lutas e de mobilizações mais amplas pelo qual

passava a sociedade brasileira, que combatia a ditadura militar e exigia a redemocratização. Um momento

histórico de ascenso da luta de classes no país.

O SUS foi idealizado como um sistema de saúde nacional e público, e seus princípios incluem: Universalidade

(todos têm direito a acessar o SUS); Integralidade (o cuidado com a saúde é composto por ações preventivas e

curativas, que deve tratar dos indivíduos e a coletividade); Descentralização (as políticas de saúde precisam ser

mais democráticas construídas a partir da realidade dos locais); e Participação Popular (a sociedade deve atuar

ativamente na formulação e execução das políticas de saúde).

O sistema de saúde brasileiro, desde a década de 1980 até os dias atuais, passou por um processo de

reorganização inédito na história das políticas sociais no Brasil. Processo este expresso pelos princípios do SUS

no texto constitucional e na lei 8080/90. Princípios que são conquistas democráticas, como a universalidade.

Basta comparar com os Estados Unidos, país imperialista mais importante do mundo, que até hoje não garante a

universalidade. Mesmo com a aprovação da reforma de saúde de Obama, milhões de americanos continuarão

sem garantia de acesso aos serviços de saúde.

Contudo, a viabilidade prática desses princípios tem limites importantes na operacionalização do SUS e 20 anos

depois o que se vê é um constante processo de retrocesso da proposta original, prova disso, é que milhares de

portarias foram editadas pelo Ministério da Saúde e leis aprovadas pelo Congresso Nacional que alteram

substancialmente o texto constitucional e a lei orgânica do SUS (8080/90). Outro grande problema na

consolidação do SUS foram os sucessivos ataques dos governos neoliberais e atualmente da frente popular, que

cooptou muitos movimentos e ativistas que até então reivindicavam o direito à saúde. Hoje alguns dos nomes da

reforma sanitária brasileira, estão dentro do governo semeando ilusões com táticas como gestões participativas,

conselhos e conferências de saúde. Assim como seguem formulando políticas como as Fundações Estatais de

Direito Privado, mais um duro golpe no direito à saúde.

O SUS apresenta, portanto, inúmeras contradições, pois por um lado o SUS público e gratuito é capaz de

garantir programas que são verdadeiros patrimônios, tais como: Programa da AIDS, que é uma referência

mundial, tratamento totalmente gratuito para qualquer pessoa, não existe nada igual em vários países ditos de

primeiro mundo; Programa de transplantes de órgãos que é um dos maiores do mundo; Programa de

imunizações (vacinação); Distribuição gratuita de medicações de alto custo. Fatos que demonstram que o que é

publico e estatal pode ser de boa qualidade. Porém o mesmo SUS, não é capaz de responder às necessidades

mais sentidas de saúde pela população no geral, o que nos prova que existe um corte de classe na saúde que

determina onde são investidos recursos e tecnologias.

A conquista que é o SUS tem sido destruída dia a dia, pelos sucessivos governos (Collor, Itamar Franco, FHC e

Lula) que permitiram a abertura do SUS ao setor privado, negaram os investimentos e destinação de verbas

necessárias e com isso, sabotaram o direito universal à saúde para os brasileiros. Diante disso, destacamos dois

graves ataques ao SUS: a privatização e o financiamento.

Privatização

A promíscua relação entre o público e o privado no setor saúde brasileiro é histórica. Se por um lado o SUS

demandou a ampliação da presença do Estado na saúde, por outro, não estatizou e nem coibiu a atuação do

sistema privado, nem os filantrópicos e não governamentais. Formou-se um sistema que por um lado aponta a

necessidade da presença do Estado e por outro, também garante o espaço de atuação da iniciativa privada, que

inclusive pode ser complementar ao sistema público de saúde.

A hegemonia privada na oferta de serviços médico-hospitalares e a ênfase nas atividades de assistência, com

baixo investimento na prevenção e na educação em saúde, foram uma constante ao longo da história do país. No

Brasil, em que pesem o crescimento da rede pública e a queda em número dos leitos hospitalares privados desde

1984, o setor privado permanece majoritário. Em 2005, do total de leitos existentes no país, 68% eram privados

e tinham seu serviço comprado pelo SUS, no caso de serviços de apoio diagnóstico e terapia esse percentual é

de 63,2% 9.

A saúde, do ponto de vista capitalista, representa um grande negócio. Os empresários da saúde, além de se

alimentarem da venda de leitos e procedimentos para o setor público, também vendem insumos e tecnologia e

assim influenciam fortemente na realização de pesquisas e dos programas de saúde implementados pelo

Ministério da Saúde. Ou seja, o processo produtivo da saúde num contexto mais amplo no Brasil, é

essencialmente privado.

A implementação do SUS começou a se efetivar durante o governo de Collor de Mello, que teve como umas das

marcas a abertura do país às políticas neoliberais. Contudo já era expressa na Constituição de 1988 no artigo de

no. 199 6 a autorização para a existência de um sistema suplementar de natureza privada, ou seja, a iniciativa

privada ficou livre para atuar em serviços já cobertos pelo sistema público, e com isso o setor privado tornou-se

concorrente do setor público. A lei no. 8080/90 7 fortaleceu o setor privado, que por um lado, foi incluído na

organização do SUS, ao ganhar status de complementar (completa o acesso a serviços não prestados pelo SUS)

por outro, ao permitir esse vender livremente seus serviços ao mercado.

Com isso, o SUS herda a privatização, principalmente na média e alta complexidade. É justamente explorando

esta possibilidade que os planos de saúde privados florescem, na marcação de consultas e exames mais

especializados, que com freqüência não são resolvidos nas unidades básicas de saúde ou pelas equipes de saúde

da família. Parte dos planos de saúde oferece serviços com boa aparência física, recepcionistas bem vestidas e

alguma facilidade para marcar consultas especializadas ou exames laboratoriais. Só quando a pessoa fica

efetivamente doente descobre que o convênio não cobre uma série de situações. Conforme a pessoa fica mais

velha é que ela percebe que o preço de seu plano de saúde privado é maior do que sua aposentadoria, o que

levam muitos a não terem condições de pagar, justamente numa das fases da vida que mais se precisa de acesso

a serviços de saúde, e aí voltam para o SUS.

A privatização no setor saúde também se expressa pelas terceirizações que submetem esses trabalhadores a

remuneração e condições de trabalho de trabalho diferenciadas, e por vezes, inferiores, como por exemplo,

salário, cor dos uniformes e uso de alas diferentes nos restaurantes. Medidas que ao criarem diferenciações

confundem e dificultam a convivência social e a criação de identidade de classe entre os trabalhadores,

fortalecendo assim medidas corporativas em oposição à identidade de classe.

Outra forma de privatização do SUS acontece na contratação da força de trabalho. Os concursos públicos são

cada vez mais raros, e com isso o funcionalismo público é substituído pelos trabalhadores terceirizados,

contratados por prestadores privados. Com isso, surgem os “modernos” gestores da administração pública:

ONGs, Organizações Sociais (OS), as Fundações Estatais de Direito Privado (FEDP) ,as Organizações da

Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPS), o SSA (Serviço Social Autônomo) e que em comum, tem a

transferência de funções da administração pública estatal para o setor privado, e o aumento da exploração da

classe trabalhadora brasileira, ao por fim à estabilidade e levar para dentro do setor a lógica empresarial, guiada

não por valores sociais, mas de mercado. Sendo as OS a modalidade de gestão da Estratégia de Saúde da

Família em municípios como o Rio de Janeiro e São Paulo.

Esses entes diferem entre si no que se refere a normas do interesse público, principalmente no âmbito da

prestação de contas, e no cumprimento de licitações e contratos administrativos, onde as FEDP do governo Lula

são uma versão “juridicamente aprimorada”, contudo, embora tenham o termo “estatal” para confundir a

consciência dos trabalhadores e da população são tão privatizantes quanto as O.S, OSCIPS entre outras, pois

transferem responsabilidades do Estado à iniciativa privada.

Financiamento

Outra forma de destruição progressiva do SUS é através da deficiência de verbas para o setor. O Brasil gasta

aproximadamente 7,9% do PIB com saúde, sendo 3,5% do PIB com gasto público (Ministério da Saúde 1,7%;

governos estaduais 0,9% e municípios 0,9%). Os 4,4% do PIB restantes englobam os gastos com saúde privada

(convênios, consultas particulares, medicação etc.). Para simplificar, podemos afirmar que o Estado brasileiro

de conjunto está gastando pouco mais da metade do mínimo preconizado pela Organização Mundial de Saúde,

que é 6% do PIB em saúde pública para países com saúde universalizada 4. Embora mais de 90% da população

seja usuária do SUS, apenas 28,6% utilizam exclusivamente o sistema público o que é pouco para um sistema

de acesso universal. A maioria (61,5%) utiliza o SUS e outros serviços (plano de saúde, pagamento direto)

inclusive a população mais pobre, que recorre a clinicas e planos populares de qualidade questionável. Não

usuários são apenas 8,7% 1.

A não definição de uma fonte e percentual de financiamento para saúde das três esferas de governo leva ao

subfinanciamento, ao sucateamento da saúde pública e ao fortalecimento do setor privado. Vale lembrar que os

artigos na lei 8080/90 que propunham um mecanismo de financiamento foram todos vetados. Para tentar “tapar

esse buraco” durante o governo FHC em 1997 foi criada a CPMF (Contribuição Provisória sobre

Movimentação Financeira), contudo parte desse recurso foi desviado para o pagamento de dívida interna e

externa, através da DRU (Desvinculação de Recursos da União), que “libera” 20% da arrecadação de impostos

e contribuições para livre investimento.

Com o fim da CPMF em dezembro de 2007 a saúde perdeu uma fonte importante de financiamento, e meses

depois o Governo Lula tentou ressuscitar a CPMF com o nome de “Contribuição Social para a Saúde (CSS)”.

Enquanto isso, segue engavetada a regulamentação efetiva da Emenda Constitucional 29, votada em 2000, que

fixa percentuais minimos de recursos por parte dos 3 entes federativos: união 10% da receita corrente bruta,

estados 12% do orçamento estadual e municipios 15% do orçamento municipal. A Emenda Constitucional 29 já

vale para estados e municípios, porém não foi regulamentada a nível federal. Contudo, mesmo regulamentada

no âmbito dos estados boa parte desses não cumprem a EC 29 (figura a seguir). E os que “dizem cumprir”

como no caso do tucano Serra, em São Paulo, incluem na conta da saúde gastos como o programa de

distribuição de leite para crianças como programa de saúde. Outros estados contabilizam ainda gastos em obras

de infra-estrutura, alimentação de presidiários, fardas para guardas, entre outras preciosidades.

Outro ataque feito ao financiamento público da saúde foi a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Esta lei

limitou o teto de gastos com salários do funcionalismo público a porcentagens do orçamento (varia para

federal/estadual/municipal). Se o admnistrador ultrapassar este teto tem de responder judicialmente, podendo

ser até preso. Isso dificulta as contratações para expansão dos serviços, imviabiliza reajustes salariais, planos de

carreira, etc... Nos anos em que a economia está em recessão fica ainda pior, pois a arrecadação cai e o peso

relativo dos salários no orçamento sobe. Vale dizer que esta lei ataca não só a saúde, mas o conjunto dos

serviços públicos. Para “escapar” da LRF, as administrações apelam para mecanismos privatizantes, como as

terceirizações, pois o salário dos terceirizados não contam neste teto.

É fundamental destacar que o governo gasta muito mais com o pagamento dos juros das dívidas externa e

interna do que com saúde. Para se ter uma idéia, em 2007 o governo Lula pagou 160 bilhões de reais em juros

da dívida, valor três vezes maior do que todo o orçamento do Ministério da saúde! Desde 1995 com FHC e seu

governo reconhecidamente neoliberal até 2008 com Lula e seu governo dito “democrático e popular” a

porcentagem do PIB gasta pelo Ministério da Saúde flutua entre 1,5 e 1,7% do PIB 4. O que demonstra que o

governo de frente popular está a serviço do grande capital, que transforma o direito á saúde em mercadoria

acessível aos poucos que podem pagar.

Esse fato também pode ser constatado pelos bilhões emprestados aos grandes capitalistas no auge da crise

econômica (2008/2009) para evitar uma falência generalizada. Estes bilhões poderiam ter sido canalizados para

a área social, melhorando a qualidade de vida da classe trabalhadora brasileira (melhora da saúde, previdência,

saneamento básico, segurança pública) e gerando empregos através de um plano de obras públicas que

corrigisse as enormes deficiências que temos nestes setores.

Para sintetizar,nosso programa estratégico para a saúde parte da defesa da reversão de todas as privatizações,

estatização dos hospitais e empresas de saúde falidas rumo a um SUS verdadeiramente único, público, estatal,

adequadamente financiado e sob controle dos trabalhadores. Para dar início a este projeto é preciso duplicar as

verbas para a saúde pública de imediato.

Na parte 2, abordaremos a temática de saúde do trabalhador, assim como, destacaremos elementos necessários

para um programa socialista e revolucionário para a saúde.

Saúde do trabalhador

As doenças e acidentes de trabalho que atingem a classe trabalhadora são provocadas pela superexploração

característica do modo de produção capitalista. Para obter lucro, a burguesia imprime um ritmo produtivo

alucinante, que associado a políticas de redução de custos fazem com que a saúde e a segurança no trabalho,

sejam colocadas como necessidades secundárias.

Vale ressaltar que a recente reestruturação produtiva impactou de maneira importante a saúde do trabalhador,

pois os desprotegeu ainda mais ao introduzir as novas formas de gestão, o aumento dos ritmos de produção, os

programas de qualidade, as metas de produção, os avanços das terceirizações e a desregulamentação de direitos

trabalhistas. Todas essas transformações afetaram inclusive na organização política da classe de conjunto. Essa

situação ainda foi agravada pelo desmonte neoliberal do Estado que promoveu o sucateamento de serviços

públicos relacionados ao Ministério do Trabalho, como as Delegacias Regionais do Trabalho e o INSS. Por

exemplo, com o desmonte do INSS não existe mais pessoal disponível para fazer a perícia no local de trabalho,

o que dificulta o estabelecimento do nexo causal.

Vale destacar ainda os ataques à previdência social promovido pelo governo FHC no que diz respeito à

legislação trabalhista, como por exemplo, a alta programada, ou seja, o trabalhador tem tempo pré-determinado

para se recuperar e retomar ao trabalho. Mesmo sendo Lula um ex- trabalhador vítima de acidente de trabalho,

seu governo manteve e aprofundou as alterações promovidas por FHC.

No Brasil, acidentes e doenças de trabalho representam uma epidemia e um grave problema de saúde pública.

Segundo a OIT em 2007 o Brasil ocupou o nada honroso quarto lugar em relação ao número de mortes

provocadas por acidentes no local de trabalho, com 2.503 óbitos, perdendo apenas para a China (14.924),

Estados Unidos (5.764) e Rússia (3.090). Desde que começaram as estatísticas em 1970 até 2005, os acidentes

de trabalho mataram 139.046 trabalhadores.

A notificação dos acidentes do trabalho é uma exigência legal, pois através dela são fornecidos dados relativos

ao número e distribuição dos acidentes, as características das ocorrências e das vítimas. No entanto, existe a

subnotificação destes acidentes, que tem como causas desde a desinformação em relação aos riscos e aos

aspectos epidemiológicos e jurídicos que envolvem este tipo de acidente até a submissão dos trabalhadores às

condições de trabalho impostas pelo empregador, principalmente no setor privado, por medo de perder o

emprego.

Com a crise capitalista iniciada no segundo semestre de 2008, os índices de exploração atingiram limites muito

superiores, o que trouxe consequências à saúde do trabalhador. O Governo Lula logo se apressou em emprestar

dinheiro às grandes empresas e promover medidas de estímulo ao consumo como a redução de impostos para

que essas se salvassem da falência. Por outro lado, não editou nenhuma medida de proteção e estabilidade dos

empregos e assistiu ao aumento da exploração, com intensificação do ritmo e da jornada de trabalho

promovidos pela burguesia para garantir seus lucros e compensar as demissões. O caso emblemático foi o da

Embraer, que demitiu 4270 trabalhadores. Acrescido a isso, os sindicatos e centrais sindicais governistas

assinaram acordos rebaixados de ajuste salarial, boicotavam greves e mantiveram as CIPAS articuladas aos

interesses da patronal.

Embora existam especificidades, o setor público também sofreu com essas transformações e sofre no cotidiano

com problemas concretos, como: terceirizações, precarização das relações de trabalho, péssimas condições de

infra-estrutura, falta de material básico para trabalho, assédio moral das chefias e a pressão de ter que responder

a demandas como os programas de controle de qualidade que estabelecem metas absurdas e condicionam o

recebimento de benefícios ao cumprimento de tais metas. Esse conjunto de elementos tem levado inúmeros

trabalhadores a adoecer.

Os Dort (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho), conhecidos como LER (Lesão por Esforço

Repetitivo), são os principais problemas relacionados ao trabalho. Segundo dados do Ministério da Previdência

Social no Brasil os casos de LER/DORT cresceram 512% em 2007. Contudo, hoje as doenças de ordem

psíquica tem aumentado devido a políticas de gestão baseadas na produtividade, nos programas de qualidade

total, no assédio moral e por vezes, sexual e na flexibilização das leis do trabalho. Por exemplo, numa pesquisa

realizada pelo Sinsprev-SP constatou-se que 32% dos trabalhadores de saúde entrevistados sofrem de LER. Em

segundo lugar com 30% estão os problemas de depressão e ansiedade. A terceira causa de doença entre os

trabalhadores de saúde é o alcoolismo, um índice altíssimo, de 20%, que é muito maior que na população em

geral, especialmente entre os trabalhadores da Funasa.

Um grave problema enfrentado pelos trabalhadores é o assédio moral. Uma conduta abusiva, adotada por

palavras, gestos ou atitudes, que, intencional e frequentemente, atinge a dignidade e a integridade física e/ou

psíquica da vítima, ameaçando seu emprego e degradando o ambiente de trabalho. Inúmeros trabalhadores

sofrem com o assédio moral, frequentemente: servidores públicos como um instrumento de coerção devido a

estabilidade, trabalhadores com mais idade, trabalhadores que sofrem perseguição política e os acometidos de

doença ou que sejam vitimas de acidente de trabalho. Estes últimos geralmente são assediados também por

colegas quando retornam ao trabalho. No setor privado é comum a perseguição política, com a demissão dos

trabalhadores que se organizam sindicalmente para reivindicar seus direitos.

As mulheres são vitimas frequentes de assédio moral. Historicamente oprimidas e discriminadas no mercado de

trabalho, tendem a receber menores salários, serem as primeiras a ser demitidas, e por vezes excluídas de cargos

de chefia e processos de qualificação profissional, por exemplo. Além disso, as mulheres deparam-se com

exigências relativas à aparência física e a realização de exames desnecessários, inclusive para saber se estão

grávidas. O assédio moral pode causar ou contribuir para o desencadeamento de doenças psicológicas,

psicossomáticas e de comportamento. O assédio moral não afeta as vítimas apenas na sua auto-estima

profissional, mas também nas relações sociais, pois as vítimas geralmente ficam confusas, com medo, vergonha,

inseguras e constrangidas. O assédio moral é uma marca que afeta todos os campos da vida. Muitas

trabalhadoras ainda sofrem com o assédio sexual, onde o agressor usa seu poder de empregador para ameaçar e

coagir a vítima para obter favores sexuais.

Outro agravante à saúde do trabalhador é, além dos baixos salários, a extensa jornada de trabalho (uma das

maiores do mundo) e que ainda é acrescida pelas horas extras que são de difícil ou nenhum controle. A redução

do valor real dos salários faz com que muitos trabalhadores não só aumentem suas jornadas médias semanais,

como também no número de trabalhadores que possuem um trabalho adicional e/ou são obrigados a cumprir

horas extras e política de banco de horas. Por isso, a redução da jornada de trabalho é fundamental para

promover melhores condições de saúde, combater o desemprego e aumentar postos de trabalho.

Muitas são as lutas necessárias para se assegurar uma melhora na qualidade de vida dos trabalhadores. São

necessários ambientes de trabalho sadios, sem riscos, onde acidentes sejam frutos do acaso; existe tecnologia

para isso, mas os patrões não investem, preferem o lucro e tratar os trabalhadores como mercadorias

descartáveis, até porque existe um enorme exercito de reserva para “peças de reposição”. Ao pensarmos em

saúde e qualidade de vida desse trabalhador é fundamental que possamos ter organizações nos locais de trabalho

para lutar por saúde e segurança do trabalhador. Comissões de saúde e segurança dentro de todas as „unidades,

eleitas somente pelos trabalhadores. Por tudo isso, é fundamental os trabalhadores se organizarem em seus

sindicatos, disputarem as CIPAS como um instrumento para promover melhores condições de trabalho com

minimização de riscos. Organizarem associações de lesionados e lesionáveis. Lutar pelo fim da alta

programada, entre outras.

Por fim, destacar-se que a saúde do trabalhador está incluída entre os campos de atuação do Sistema Único de

Saúde (SUS), onde este é responsável por promover ações de vigilância epidemiológica e sanitária, promoção e

proteção da saúde dos trabalhadores, assim como, recuperar e reabilitar a saúde dos trabalhadores submetidos

aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho. Entretanto, o SUS não tem a categoria “trabalho”

como algo central para formulação e implementação das políticas de saúde.

Esse fato pode ser explicado uma vez que tratar a saúde do trabalhador implica em ir além da identificação e

controle de riscos, significa trazer à tona a necessidade de mudanças de processo de trabalho, mais ainda traz

questionamentos ao modo de produção capitalista e de como inúmeras doenças, sofrimentos e mesmo causa de

morte estão condicionadas a ele. Ou seja, valorizar o adoecimento e o sofrimento ocasionados pelo trabalho

implica em enfrentar grandes interesses da burguesia, inclusive dos grandes empresários que dão sustentação ao

governo. Se por um lado, o governo Lula semeia ilusões na classe trabalhadora através de medidas

compensatórias como, por exemplo, o PAC e o Bolsa Família, por outro não faz nada para reduzir os números

referentes a acidentes de trabalho, que se mantém desde o governo FHC, demonstrando assim, para quem Lula

governa.

Reivindicações de um programa para saúde

1. Saúde é direito de todos e dever do Estado! Pela saúde como direito social conquistado pela classe

trabalhadora e não mercadoria para os que podem comprar. Exigimos um sistema de saúde público, estatal,

gratuito e de qualidade para todos. Pela implementação dos princípios do SUS.

2. Dobrar as verbas para a saúde pública! Pelo financiamento mínimo de 6% do PIB para a saúde pública

“estatal”. Que as verbas para a saúde venham de impostos sobre a burguesia, como o imposto sobre grandes

fortunas, até hoje emperrado no congresso. Contra medidas “tapa-buraco” como a CSS (substituta da CPMF).

Não à renúncia fiscal na saúde para hospitais filantrópicos!

3. Contra as privatizações! Que se revertam às privatizações no setor público. Pela estatização dos hospitais

privados. Nenhuma verba pública para os hospitais privados ou filantrópicos.

4. Contra a DRU (Desvinculação de Recursos da União), que permite que 20% dos recursos sociais sejam

desviados para outros setores, como o pagamento da divida interna e externa.

5. Contra a Lei de Responsabilidade Fiscal! Contra o limite à expansão do funcionalismo público e a

terceirização e privatização dos setores públicos.

6. Luta por conselhos populares de saúde sob controle dos trabalhadores!

7. Concursos públicos já! Contra as terceirizações e privatização das relações de trabalho seja na forma de

contratos, cooperativas, ONGs, Organizações Sociais (OS), as Organizações da Sociedade Civil de Interesse

Público (OSCIPS), o SSA (Serviço Social Autônomo) e Fundações Estatais de Direito Privado (FEDP).

8. Pela construção e implementação de planos de cargos e salários construídos pelas categorias profissionais!

Piso nacional com isonomia salarial para trabalhadores de mesma função e mesma escolaridade, independente

da categoria profissional ou do vínculo empregatício.

9. Redução da jornada de trabalho! Carga horária de no máximo 30 horas semanais, sem redução de salário para

todos os trabalhadores do setor saúde;

10. Em defesa dos trabalhadores terceirizados! Que os trabalhadores terceirizados possam prestar concursos

com uma pontuação maior, que facilite sua absorção no serviço público! Pela incorporação dos trabalhadores

terceirizados aos sindicatos, pela unificação dos trabalhadores de saúde.

11. Por um plano de obras públicas de grande impacto: saneamento, esgoto e água de qualidade para toda a

população! Que as verbas para este plano venham da suspensão do pagamento das dívidas externa e interna!

12. Por uma saúde pública, estatal e laica! Pela legalização e regulamentação do aborto.

13. Acesso universal a medicamentos! Criação de laboratórios públicos de produção de medicamentos; quebra

de patentes, expropriação e estatização dos laboratórios existentes e das farmácias sob o controle da classe

trabalhadora;

14. Pela independência na formulação e aplicação de políticas de saúde! Contra a interferência dos empresários

da saúde e de agências internacionais, como o Banco Mundial, representantes dos interesses imperialistas no

setor saúde, que difundem a idéia do mínimo para as políticas sociais.

15. Saúde não é apenas ausência de doença! Investimentos maciços em prevenção e educação em saúde de

qualidade.

16. Organização de base nas empresas e no setor público para combater as doenças e acidentes decorrentes do

trabalho! Contra o abuso patronal na imposição de ritmos de trabalho alucinantes, que induzem ao aumento

destas doenças e acidentes. Redução da jornada de trabalho sem redução salarial para o conjunto da classe

trabalhadora!

Referências

CONASS. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. A saúde na opinião dos brasileiros. Brasília: CONASS,

2003.

DATAFOLHA. Instituto de Pesquisa. Opinião Pública: Saúde divide posto de principal problema do país com

violência e desemprego, 2007.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2002-2003.

Brasília: IBGE, 2004.

MENDES, A.; MARQUES, R.M. Crônica de uma crise anunciada: o financiamento do SUS sob a dominância

do capital financeiro, 2009.

IPEA- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Presença do Estado no Brasil: Federação, suas Unidades e

Municipalidades. Brasília: IPEA, 2009.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.

BRASIL. Lei n. 8080, de 19 de setembro de 1990. Diário Oficial da União. Brasília, DF.

BRASIL. Ministério da Saúde. Informe Epidemiológico Pandêmica Influenza H1N1. Brasília: Ministério da

Saúde: 2009 Dez.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas da Saúde e Assistência Médico-Sanitário.

Brasília: IBGE; 2005.

NETO. Acidentes do Trabalho e Doenças Profissionais no Marco da Nova Realidade Econômica. Caderno de

Textos do I Seminário Programático de Saúde do PSTU, 2009.

BRASIL. Ministério da Previdência Social. Anuário Estatístico da Previdência Social 2008. Brasília: Ministério

da Previdência Social/ DATAPREV, 2009.

SINSPREV. Sindicatos dos Trabalhadores em Saúde e Previdência no Estado de São Paulo. Saúde do

Trabalhador: Psicóloga fala sobre as condições de trabalho. São Paulo: SINSPREV, 2006.

DIEESE. Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos. Boletim Trabalho na Saúde.

São Paulo: DIEESE, 2009.

Saneamento básico

O governo Lula e a burocracia sindical desenvolvem uma intensa campanha, tentando criar ilusões de que os

problemas do saneamento básico são levados a sério. Porém os dados revelam outra realidade. Em sete anos de

governo Lula, os indicadores sociais do saneamento básico nos mostram uma cruel realidade. Dados do próprio

Ministério das Cidades reconhecem que 40 milhões de pessoas não têm acesso à água potável; 80 milhões

pagam pela água tratada, mas não podem bebê-la; 40% da água tratada é desperdiçada.

A ONU indica que o uso racional da água por pessoa deve ser de 110 litros diários. Esse número está distante da

realidade das grandes regiões industrializadas. Por exemplo, nos EUA gasta-se 300 litros/dia; São Paulo, 270

litros/dia. No Brasil a média gira em torno de 220 litros/dia. Por outro lado, nas regiões mais pobres somam-se

mais de um bilhão de pessoas que não têm acesso à água potável.

O Brasil não investe suficientemente em tecnologia de drenagem urbana capaz de possibilitar o maior

aproveitamento das águas pluviais para o uso e é muito débil na tecnologia de reuso. 80% da água usada se

transforma em esgoto. Além da legislação ambiental ser insuficiente e obediente à lógica do mercado nos

deparamos com uma profunda irresponsabilidade no planejamento urbano por parte dos governantes: 18

milhões de brasileiros não têm sequer banheiros, o Brasil é o sétimo no ranking na lista dos piores no mundo.

49,9% da população não têm acesso à rede de esgoto. De todo o esgoto coletado só é tratado 36%, com

insuficiência na tecnologia (separação dos dejetos, dos resíduos sólidos, etc.). Ou seja, o Brasil produz 8,4

bilhões de litros de esgoto diários, deste total 5,4 bilhões são despejados in natura nas praias, rios, no ambiente.

Esses dados correspondem a uma pesquisa realizada nas 79 maiores cidades do Brasil, encomendada pelo

Instituto Tratar Brasil.

Porque este quadro?

Os investimentos em saneamento nos últimos 40 anos não acompanharam o ritmo de crescimento das cidades

demonstrando uma brutal irresponsabilidade dos governantes com as questões ambientais, capazes de assegurar

melhores condições de vida para a população. Além do mais, vale destacar a farra da corrupção e as

terceirizações, bem como o sucateamento dos operadores públicos estaduais, transferência de responsabilidade

da FUNASA para os operadores municipais (SAAEs), passando a responsabilidade para os municípios. Vale

lembrar que a ONU reconhece que para cada US$ 2,00 investidos em saneamento básico (água tratada, esgoto,

coleta de lixo, drenagem e resíduos sólidos) economiza-se US$ 4,00 em saúde pública.

O resultado deste quadro tem relação direta com a agressão ao meio ambiente e ampliação de enfermidades:

poluição do nosso litoral e rios, destruição de várias espécies de seres vivos da cadeia aquática, ampliando a

escassez de alimentos e da própria água potável. Neste sentido, já existem estudos que demonstram que a cada 1

hora vai a óbito 10 crianças por falta de saneamento básico. 60% das internações hospitalares infantis têm

relação com a inexistência de saneamento básico. Os adultos também padecem com doenças sanitárias, as

conhecidas como "doenças da pobreza". No geral são 800 internações diárias em função desta problemática.

Qual a saída tomada pelo governo Lula e a burguesia?

Constituir uma lógica de mercado para os serviços de saneamento básico, ou seja, eficiência na operação do

sistema ao invés de ser sustentado pelo financiamento público passa a ser de responsabilidade dos ditos

consumidores, através da cobrança de taxas e tarifas. E, para assegurar a tranquilidade dos investimentos

privados em localidades pobres poderá ser utilizado do recurso do subsídio.

Dessa forma, foi necessário assegurar a regulamentação do setor, com uma legislação que permita a

participação da iniciativa privada de forma direta através dos operadores privados, ou indireta por meio da

parceria público privado (PPPs), ou mesmo das terceirizações convencionais.

Neste aspecto, foi fundamental a aprovação da Lei 11.445 de janeiro de 2007, que assegura a regulamentação

do setor. Aprovada por Lula e o Congresso Nacional, sob orientação do Banco Mundial (BM) e apoio da

burocracia sindical cutista (Federação Nacional dos Urbanitários – FNU).

Destaca-se na essência da lei, uma visão neoliberal, mercantilista, transformando um serviço público essencial

para a vida humana, em mercadoria, para ampliar o lucro dos capitalistas, criando uma consciência de

consumidores e clientes ao invés de usuários de um serviço público.

Para a burocracia sindical cutista, o novo marco regulatório – a lei 11.445/2007 – é a redenção dos problemas

do saneamento básico no Brasil. No entanto, deveriam entender que uma lei que assegura a participação de

operadores privados, a municipalização, a constituição de consórcios e as parcerias público/privado, além de

não evitar a precarização dos serviços através das terceirizações, nos deixa bem claro a que veio: sem dúvida

favorecer o capital privado.

Mesmo assegurando a possibilidade de subsídios governamentais, está longe de encarar os serviços de

saneamento básico como política de Estado, buscando garantir financiamento público para concretizar a

universalização dos serviços.

Para além disso, a burocracia sindical, juntamente com o governo tenta convencer que o PAC (Programa de

Aceleração do Crescimento) é o financiamento público. Isto é cômico. O PAC do saneamento lançado em 2007

com investimentos na ordem de 40 bilhões, sem dúvida alguma um volume de recursos substancial e que

poderia garantir de 2007 a 2010 a ampliação significativa dos serviços de saneamento básico, estendendo o

acesso a mais de 20 milhões de pessoas.

O trágico é que a burocracia cutista deveria dizer que o total desses recursos vem do Fundo de Amparo ao

Trabalhador (FAT) e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), via crédito através da Caixa

Econômica Federal (CEF). Dinheiro dos trabalhadores, utilizado para ampliar os lucros das empreiteiras.

Portanto, não se trata do financiamento público assegurado no orçamento da União para investimentos em obras

de infra-estruturas no setor de saneamento.

O governo utiliza dinheiro dos trabalhadores, cede para as empreiteiras mesmo que seja através de um operador

público, com o recurso das PPP's, fazendo com que os empresários obtenham o lucro e deixem a conta para os

usuários. Não é a toa que já existem publicações, fazendo apologia ao novo marco regulatório e ensinando os

empresários a viabilizarem recursos através da CEF e BNDES, bem como orientando a abertura de concessões

municipais seguras para os investimentos.

Qual o resultado do PAC 2007 a 2010?

Especialistas avaliam que, com investimentos de 10 bilhões de reais por ano seriam necessários 27 anos para

universalizar os serviços de saneamento básico no Brasil. Outra informação importante traz o Instituto Tratar

Brasil afirmando que apenas 12% dos recursos do PAC para o saneamento foram executados, na ordem de 4,5

bilhões/ano. Neste ritmo o país levará, no mínimo, 60 anos para universalizar os serviços de saneamento básico.

O ministro das cidades tornou público que dos 40 bilhões de reais disponíveis para crédito, já foram

selecionados projetos equivalentes a 34,3 bilhões. Deste total 25,8 bilhões já estão contratados e foram liberados

5,4 bilhões. No entanto, o governo pretende executar, em 2010, 73% dos recursos previstos com a realização de

86% dos projetos selecionados. É importante destacar que parte das operadoras públicas não têm garantias para

oferecer em troca do financiamento bancário.

Por fim, aos trabalhadores e trabalhadoras do setor de saneamento só resta alavancar uma mobilização,

juntamente com os demais setores explorados e oprimidos, na luta pelo financiamento público para o

saneamento básico, pois esta é a melhor forma para garantir a universalização e que poderá se dar através dos

recursos do não pagamento da dívida externa e outros.

Defender a constituição de um sistema nacional que possa transformar o saneamento básico em política de

Estado, com ministério e um sistema que unifique os operadores públicos, cabendo ao governo federal os

recursos para infra-estrutura e aos estados a tarefa de administrar operacionalizar os serviços de saneamento

básico, assegurando boas condições salariais e de trabalho para os trabalhadores do saneamento, a

democratização e moralização dos operadores públicos, garantindo o controle pelos trabalhadores e

trabalhadoras, assim como formas de fiscalização por parte dos usuários.

Finalizando, é preciso construir uma concepção de saneamento básico por fora da lógica de mercado, buscar

entender que saneamento básico é a utilização de um conjunto de técnicas (tecnologias) operadas por seres

humanos (trabalhadores), no sentido de assegurar o uso da água de forma racional sem prejudicar o seu ciclo

natural (natureza geo-hídrica), devolvendo-a depois de usada ao meio ambiente, separada de todas as

substâncias nocivas à natureza. Este é o desafio. Portanto, o saneamento não pode e nem deve ser tratado como

mercadoria. Mas, sim como um serviço público essencial para a qualidade de vida.

Recursos hídricos

Precisamos fazer um levantamento das riquezas hídricas existentes em nosso país, nos mananciais subterrâneos

e de superfícies, tendo um enfoque privilegiado para a Região Amazônica e do Guarani. Elaborarmos uma

política de proteção nacional, com controle público sobre as nossas águas, bem como construir condições de

proteção ambiental e uso racional tanto doméstico, como industrial. Lembrar sempre que a água é um líquido

precioso a todos os seres e que devemos respeitar o seu ciclo natural, pois já está comprovado que um ser

humano consegue sobreviver até quarenta dias sem se alimentar, porém, suporta no máximo 72 horas sem

ingerir água.

Só no socialismo será possível constituir o uso racional da água, com a possibilidade de planejarmos o uso dos

recursos naturais, para assegurar melhores condições de vida humana com respeito ao meio ambiente.

Ambientalistas que não rompem com o capitalismo são simplesmente falaciosos. No entanto, os socialistas não

esperam a revolução para fazerem a defesa do meio ambiente.

EDUCAÇÃO

Menos pobre e menos atrasado, mas não menos injusto: diminuição do papel da educação como fator de

mobilidade social

Escrito por Valério Arcary

Das nuvens mais negras cai água límpida e fecunda.

Sabedoria popular chinesa

Não importa o tamanho da montanha, ela não pode tapar o sol.

Sabedoria popular portuguesa

É pelo rastro que se conhece o tamanho da onça.

Sabedoria popular brasileira

O aumento do consumo das famílias em 2009, apesar da crise econômica mundial e da estagnação com um

recuo do PIB de 0,2%, foi comemorado pelo governo como a sinalização de uma tendência consolidada de

redução da pobreza e até de maior justiça social. A desigualdade entre os que vivem de salários veio sendo

reduzida, de fato, no Brasil. O processo, porém, não é recente. Há pelo menos duas décadas se verifica esta

tendência como expressão de uma mudança de longa duração que acompanhou os ritmos da crescente

urbanização. Esse indicador confirma que a elevação do piso da remuneração do trabalho manual, ou colarinho

azul, veio acompanhada, também, pelas quedas do piso dos funcionários em funções de rotina, ou colarinho

branco e, mais acentuadamente, pela queda do salário médio dos assalariados com nível superior. Em outras

palavras, a maior escolaridade veio perdendo estímulos materiais.

Estudo do IPEA de novembro de 2008 confirma que diminuiu a desigualdade pessoal da renda, um indicador

que considera somente as disparidades que ocorrem no interior do conjunto do rendimento do trabalho, mas

piorou a distribuição funcional da renda, um indicador que afere a participação relativa do trabalho na renda

nacional, considerada a apropriação realizada pela renda do capital, ou seja, da propriedade que deriva de ativos

como terrenos e unidades de produção econômica, ou aplicações financeiras e, também, a parcela absorvida

pelo Estado na forma de impostos [1]. A parcela do trabalho na renda nacional era, em 1990, somente de 45,4%.

Não obstante, ainda piorou e caiu abaixo de 40%, entre 2003 e 2004, para atingir 41,7% em 2008.

Na Espanha, por exemplo, em 1999, era de 50,13% [2]. Em geral, a participação do trabalho em países

urbanizados se mantém acima de 50%, mas na Argentina em 1990 era, incrivelmente, abaixo de 40% [3]. Em

outras palavras, nos últimos vinte anos, os trabalhadores ficaram com uma parcela menor da riqueza nacional, e

o capital com uma parcela maior, mas entre os assalariados diminuiu a disparidade salarial porque, ao mesmo

tempo, aumentou o piso do salário manual e caiu o piso do salário de alta escolaridade.

No caso da distribuição funcional da renda nacional, existiram quatro fases que indicam uma trajetória

oscilante, porém, na longa duração, regressiva. A primeira fase ocorreu entre 1990 e 1996, quando o rendimento

do trabalho perdeu participação relativa no total da renda do país (-15,2%), enquanto a segunda fase houve

elevação da parcela do trabalho entre 1996 e 2001 (+5,4%). A terceira fase expressa nova queda relativa na

participação do rendimento do trabalho (-3,1%). Aconteceu entre 2001 e 2004. A partir de 2005, iniciou-se a

quarta fase, com a expansão da parcela do trabalho na renda nacional (+4% entre 2005 e 2006). Somente nos

períodos de 1996-2001, e 2004-2008 se confirma uma convergência no sentido de queda nas desigualdades

pessoal e aumento da participação funcional do trabalho na renda nacional. Entre os anos de 1996 e 2001, por

exemplo, a desigualdade pessoal da renda caiu 2,4% e a parcela relativa do trabalho na renda nacional subiu

5,4%, enquanto no período pós 2004, a desigualdade pessoal caiu 1,1% e a participação do trabalho na renda

nacional aumentou 6% [4].

A situação de desigualdade social no Brasil revela dinâmicas econômico-sociais contraditórias, embora não

sejam inusitadas: a elevação do piso da remuneração do trabalho manual parece consistente, confirmando uma

maior demanda por mão de obra, e as pressões indiretas do aumento do salário mínimo – e mesmo do Bolsa-

família – que desestimula a contratação por salários inferiores ao salário-mínimo, ainda que sem carteira

assinada.

É um fenômeno progressivo, mas seu pleno significado só pode ser analisado quando considerado em

perspectiva histórica, ou seja, na relação que o aumento do consumo popular mantém com o endividamento das

famílias e, também, com a redução do desemprego. A primeira conclusão é que a maioria dos novos empregos

se concentrou em atividades que exigem pouca escolaridade e oferecem baixos salários. A pesquisa mensal de

emprego do IBGE na região metropolitana de São Paulo indica uma evolução muito lenta e próxima somente da

recuperação da inflação. O salário médio nominal da população ocupada de R$1.483,50 em fevereiro de 2009

(R$1.350,90 no setor privado e R$1.891,50 no setor público), passou para R$1.535,40 (R$1.443,60 no setor

privado e R$2.013,90 no setor público) em fevereiro de 2010. O salário médio no setor privado com carteira

assinada foi de R$ 1.515,90, e sem carteira assinada foi de R$ 1.174,40. Importante considerar, também, que os

salários em outras regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE são inferiores aos de São Paulo, confirmando

que as dimensões continentais do Brasil inibem a formação de um mercado de trabalho nacional homogêneo

[5].

A queda do piso dos assalariados com elevada escolaridade merece ser considerada decepcionante ou até

regressiva, porque desestimula a busca de escolarização, sinalizando pressões deflacionárias que derivam da

estagnação econômica, portanto, do desemprego, associadas ao aumento da oferta da mão de obra com titulação

superior. A queda do salário médio dos assalariados com nível universitário desencoraja, necessariamente, o

esforço de uma escolaridade superior. Em um Brasil ainda intensamente desigual, com predomínio de ensino

privatizado, o caminho de uma maior escolaridade será mais difícil, sem o estímulo de uma recompensa

material adequada.

A análise comparativa deve calibrar com minúcia essa disparidade salarial. As informações disponíveis são

contraditórias porque sinalizam tendências, aparentemente, antagônicas. Mas, na realidade, não são. A questão

de fundo que deve organizar o debate sobre a mobilidade social é a estagnação de longa duração do capitalismo

periférico. É verdade que os assalariados têm uma remuneração menos heterogênea que uma geração atrás. Mas

essa evolução não autoriza a conclusão de que o Brasil seria hoje, socialmente, menos injusto que há trinta anos,

porque a participação do trabalho sobre a renda nacional diminuiu.

O aumento do consumo popular nos últimos anos permite uma redução da pobreza, porém, repousa em um

maior endividamento das famílias. O aumento da escolaridade dos trabalhadores manuais confirma uma

dinâmica positiva, porém, muito lenta para poder ser comemorada. Mantido o ritmo atual, antes de meados do

século XXI não atingiremos a escolaridade dos países europeus do Mediterrâneo, o que não é muito animador.

Os avanços na escolaridade média exigem um intervalo de, pelo menos, uma geração, ou vinte e cinco anos.

Dobrar a escolaridade em um país das dimensões demográficas do Brasil é um desafio colossal.

A recuperação econômica, entre 2004 e 2008, teve efeitos positivos sobre a renda média das famílias. O

Relatório Mundial sobre Salários 2008/2009 da OIT informa que, se considerarmos o aumento do nível salarial

médio, a América Latina e Caribe foi a região que registrou a média mais baixa de aumento, 0,3% ao ano,

mesmo percentual registrado no Brasil no mesmo período. Segundo a diretora do escritório da Organização

internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Laís Abramo, entre 2001 e 2007 a chamada distribuição funcional da

renda, ou seja, a proporção do PIB composta pela remuneração ao trabalho caiu na maioria (70%) dos países

analisados no período de 1995 a 2007. O relatório informa, também, que em 70% dos países foi registrada uma

piora na distribuição da renda entre os trabalhadores, o que mostra o aumento nas desigualdades salariais de

uma forma geral. O nível salarial médio dos trabalhadores cresceu, todavia, no mundo todo, mas o índice ainda

pode ser considerado pequeno: menos de 2% na maior parte dos países [6].

A explicação para a redução das desigualdades entre os assalariados parece estar na diminuição do desemprego

entre 2004/08, e nos programas de distribuição de renda como, por exemplo, a valorização do salário mínimo, a

cobertura mais universal da aposentadoria do INSS, e o Bolsa-Família. Estes foram os fatores objetivos que

explicariam a estabilidade social a partir dos anos noventa, em contraste com a radicalização social dos anos

oitenta. Os fatores subjetivos, talvez, não menos importantes, remetem à integração da defesa do regime

democrático e sua institucionalidade das organizações sindicais e políticas mais influentes entre os

trabalhadores, que culminou com a eleição de Lula à presidência e a cooptação da CUT.

Mas, ainda assim, o tema permanece controverso, porque existem outras três variáveis a serem consideradas,

quando pensamos as pressões objetivas que condicionam a maior ou menor desigualdade social: em primeiro

lugar, a permanência de uma taxa de desemprego, estruturalmente, alta (acima de 5% da PEA) e com uma

parcela ainda significativa de trabalhadores sem carteira assinada (por exemplo, 20% de 1 milhão de

trabalhadores do comércio na cidade de São Paulo, em 2008). Segundo a pesquisa mensal de emprego do IBGE,

de fevereiro de 2010, a taxa de desocupação, nas seis regiões metropolitanas estudadas (Recife, Salvador, Belo

Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre), ficou estável em relação a janeiro (7,2%), e recuou 1,1

ponto percentual em relação a fevereiro de 2009 (8,5%). A população desocupada (1,7 milhão) não variou na

comparação mensal e recuou (-11,3%) em relação a fevereiro de 2009 (menos 220 mil pessoas). A população

ocupada (21,7 milhões) ficou estável em relação a janeiro e cresceu 3,5% (mais 725 mil postos de trabalho) em

relação a fevereiro de 2009. O número de trabalhadores com carteira assinada (10 milhões) subiu 1,6% em

relação a janeiro (mais 156 mil empregos com carteira assinada). Em relação a fevereiro de 2009, houve alta de

6,4% (mais 598 mil empregos com carteiras assinadas) [7].

Em segundo lugar, a elevadíssima rotatividade da mão de obra – entre 10 e 15 milhões de demissões por ano –

que sugere uma exigência de maior escolaridade e especialização da mão de obra do trabalho manual Uma

manifestação da elevada rotatividade está na grande percentagem de trabalhadores que não chega a acumular

dois anos de tempo de serviço na mesma empresa. Mesmo considerando apenas os trabalhadores com carteira

de trabalho assinada, a média dessa percentagem no Brasil foi de 48,6%, no período 1990-2000, segundo as

informações disponíveis na Relação Anual de Informações Sociais (Rais). Alguns dados relativos aos países da

Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) fornecem um referencial para

comparações. Esses dados revelam que, entre os países europeus desenvolvidos, essa percentagem era de

apenas 21,5%, em média, no início dos anos 1980. Além disso, mesmo nos Estados Unidos, cujas leis de

proteção ao emprego são as menos severas dentre os países da OCDE, essa percentagem não chega a 40% [8].

Em terceiro lugar, uma subnotificação da renda da riqueza: rendimentos financeiros no Brasil e no exterior, ou

aluguéis, por exemplo [9].

A ascensão social por via da mobilização coletiva pela extensão de direitos, a luta de classes, foi mantida em

níveis baixos de conflitividade enquanto a mobilidade social individual se manteve alta. Em contrapartida,

sociedades urbanizadas com grande rigidez social foram, politicamente, instáveis, porque a crise social assumiu

formas crônicas e potencializou uma luta de classes radicalizada. Uma situação revolucionária só foi possível

quando a indignação dos setores médios se uniu à disposição de luta dos trabalhadores e provocou a divisão da

burguesia. A mobilidade social relativa foi um dos fatores objetivos da estabilidade dos regimes democráticos.

A mobilidade social relativa através da educação foi um fator de coesão social do capitalismo brasileiro. A

coesão social dependeu, essencialmente, do crescimento econômico que levou a formação da moderna classe

trabalhadora urbana. O lugar da educação como instrumento de ascensão social foi, entretanto, muito valorizado

pela classe média brasileira, que se destacou pelo esforço de garantir a elevação da escolaridade para seus

filhos. Durante meio século, entre 1930/80, o aumento da escolaridade foi um importante fator de ascensão

social. A educação era um dos elevadores para aceder á classe média. Os incentivos materiais para buscar uma

educação superior foram muito importantes. A recompensa econômica na forma de salários, pelo menos, dez

vezes maiores do que o salário mínimo, era suficiente para justificar os sacrifícios.

Formou-se uma vibrante nova classe média – em muitos casos sem herança patrimonial significativa – de

engenheiros, médicos, advogados, arquitetos e, também, professores, administradores públicos e privados, etc.

No Brasil, este esforço social de aumento da escolaridade foi financiado tanto pelas famílias como pelo Estado.

As famílias assumiram os gastos da educação básica e o Estado, pelo critério meritocrático, da educação

superior, porque as melhores universidades continuaram sendo públicas e gratuitas. Desde o século XIX, as

sociedades urbanizadas secundarizaram o papel das Igrejas, portanto, da caridade na educação, e os custos de

uma maior escolaridade foram divididos entre o Estado e as famílias. Segundo os dados divulgados pela

Unesco, para o ano de referência de 2005, existem as mais díspares situações. De um lado a Dinamarca, por

exemplo, os investimentos públicos para a educação universitária correspondem 96,7 e gastos das famílias a

3,29%%. No outro extremo, o Chile, os números são, respectivamente, 15,46% e 83,67%. Em Portugal, os

custos são divididos entre 86% para o Estado e 14% para as famílias. Nos Estados Unidos as proporções são

35,38% e 35,14%, e outros 29,47% são os custos absorvidos por outras entidades privadas, como variadas

fundações. No México 68,87% e 30,64% [10].

Os investimentos públicos em educação, proporcionalmente ao PIB, continuaram, contudo, modestos, mesmo

quando comparados com outros países periféricos. Esse quadro desolador não se alterou com o fim da ditadura,

embora tenha ocorrido uma pequena melhora nos últimos anos. O percentual do investimento público total na

educação em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) aumentou nesta década, mas teve grandes oscilações,

porque entre 2000 e 2005 caiu de 4,7% para 4,5% e, a partir de 2006, subiu para 5,1%. Segundo o estudo

Education at a Glance, da Unesco, publicado em 2009, Portugal investe 5,6%, acima da Espanha, com 4,7%. A

média da OCDE é de 5,7%. A Islândia gasta 8% do PIB na educação. Dinamarca, Coréia e Estados Unidos

também ultrapassam os 7% [11].

Os sacrifícios da classe média para garantir uma educação superior de qualidade para os seus filhos foram muito

grandes, porque significaram financiar o ensino básico em escolas particulares, em função do funil seletivo dos

exames de acesso às universidades públicas. O setor de educação privada expandiu e passou a ter uma

expressão significativa sobre o PIB, a partir dos anos setenta e oitenta do século XX [12].

A classe trabalhadora, contudo, teve muito mais dificuldades para se beneficiar do aumento da escolaridade,

portanto, da mobilidade social relativa. O orçamento doméstico da maioria das famílias proletárias não podia

garantir as mensalidades do ensino privado. Permaneceu atendida pela matrícula de seus filhos na escola

pública primária e secundária, porque a maioria da geração adulta já considerava uma vitória o simples aumento

de escolaridade além daquela que tinham tido oportunidade. Essas expectativas parecem estar se alterando,

talvez, se invertendo.

A exigência de escolaridade mais elevada para fugir do desemprego explica o esforço de garantir, entre os

trabalhadores, o acesso aos cursos pós-secundários de tecnologias ou mesmo universitários para a geração mais

jovem. O desemprego passou a ser um incentivo para os filhos dos trabalhadores não abandonarem a escola

quando entram no mercado de trabalho, aumentando a demanda de ensino noturno e, também, a demanda de

vagas no ensino superior. Mas a esperança entre a classe média de que uma escolaridade superior poderia ser

um impulso para ocupações melhor remuneradas, parece estar diminuindo. Esse desânimo não é infundado: há

algumas décadas o salário médio dos assalariados com nível superior vem em queda lenta. Não fosse isso o

bastante, cerca de 80% dos brasileiros com cursos superiores completos trabalham em atividades diferentes, e

até, distantes, de sua formação profissional.

O salário médio nacional permaneceu estagnado no Brasil entre 2002 a setembro de 2008. A evolução histórica

do salário médio das ocupações com nível superior, quando não permaneceu estacionária, veio declinando. A

pesquisa mensal de emprego do IBGE de março de 2009 nas seis maiores regiões metropolitanas revelou que o

salário médio da população que se autodeclarou como branca, com escolaridade de 9,1 anos, foi de

aproximadamente R$1.600,00. O da população que se autodeclarou como parda ou negra, com escolaridade

média de 7,6, foi de R$800,00. A média nacional foi de R$1,200,00. As curvas evolutivas dos salários médios

entre 2002/2009 foram muito semelhantes [13].

O paradoxo parece intrigante. O crescente desalento da classe média sugere que as recompensas materiais pelo

aumento da escolaridade já não compensariam os sacrifícios para garantir uma escolaridade superior. Dois

fenômenos muito regressivos, socialmente, dos últimos vinte e cinco anos – que correspondem à estagnação

econômica de longa duração e, paradoxalmente, à estabilização democrática, estiveram associados: a emigração

para o exterior e o aumento da população carcerária.

O Brasil possui a oitava maior população carcerária do mundo por habitante. Estima-se que em 2010 a

população carcerária esteja próxima de meio milhão. O número de presos aumentou consideravelmente nos

últimos quinze anos. Dados revelados pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen) mostram que, em

1995, eram 148.760 mil presos no país. Segundo os dados consolidados, até junho de 2007, havia 419.551 mil

detidos em penitenciárias e delegacias. Em 1995, a proporção era de 95 presos para cada 100 mil habitantes.

Hoje, esse número aumentou e chega a 227 presos para cada 100 mil habitantes. Os dados da Secretaria

Nacional de Segurança Pública apontam que cerca de 500 mil mandados não foram cumpridos, o que dobraria a

população carcerária [14].

A emigração de alguns milhões de brasileiros para os países centrais – entre eles, uma maioria com escolaridade

acima da média nacional – parece confirmar esta tendência. Os principais países de destino da emigração

brasileira são os EUA, o Paraguai (sobretudo nos anos 70 e 80), a União Européia e o Japão. Embora não

existam números confiáveis, sobretudo pela intensa migração irregular, os dados do Ministério das Relações

Exteriores estimam em 3 ou 4 milhões. O peso demográfico da emigração pode ter alcançado uma dimensão

entre 3% e até 5% da PEA, uma proporção inferior à maioria dos países sul-americanos, mas inusitada na

história do Brasil. A grandeza deste processo pode ser aferida pelo significado econômico das remessas dos

brasileiros para as suas famílias, e pelo peso da entrada das divisas sobre o balanço de pagamentos do país [15].

As taxas de mobilidade social absoluta e relativa diminuíram, se compararmos o período histórico 1980/2010

como o período anterior 1930/1980. Durante meio século, entre 1930 e 1980, o Brasil conheceu uma

mobilidade social absoluta significativa, comparativamente, à situação atual. Esse processo foi possível em

função da acelerada urbanização que permitia a absorção massiva de mão de obra analfabeta ou semi-

alfabetizada pela indústria. A mobilidade social relativa foi menor que a absoluta, mas foi, também, expressiva,

entre 1930/80, embora, essencialmente, restringida à classe média.

Esse processo dos anos 1930/80 é chave para compreendermos a crise atual, porque foi excepcional. O padrão

histórico dominante na história do Brasil foi outro. O Brasil agrário era uma sociedade de desenvolvimento

econômico lento, grande rigidez social e espantosa inércia política. Durante muitas gerações os antepassados da

maioria esmagadora do povo brasileiro foram vítimas da imobilidade social e da divisão hereditária do trabalho.

Os que nasciam filhos de escravos, não tinham muitas esperanças sobre qual seria o seu destino. Os filhos dos

sapateiros já sabiam que seriam sapateiros. Os filhos dos médicos, ou engenheiros, ou advogados, mesmo se

não tivessem propriedades, poderiam, em contrapartida, aspirar uma inclusão nos meios burgueses.

No entanto, a memória histórica que o período 1930/80 deixou como repertório cultural de experiência de duas

gerações de brasileiros permanece viva na mentalidade da geração adulta atual. É compreensível que a

expectativa de que ainda sejam possíveis, mesmo nos limites do capitalismo, reformas distribuidoras de renda,

sem conflitos sociais agudos, seja tão poderosa. Não deveria surpreender, portanto, que as esperanças

reformistas – a expectativa, incontáveis vezes frustrada, mas renovada, de uma concertação social que garanta

pleno emprego, reforma agrária, aumento da escolaridade com expansão da rede pública, elevação do salário

médio etc. – sejam tão resistentes.

Na avaliação do sentido histórico da evolução social não há lugar para inocentes políticos. Se a mobilidade

social absoluta e relativa voltasse a ser significativa, a perspectiva de ascensão social pelo esforço individual,

sem maior luta de classes, ganharia maior credibilidade. Se a aspiração de uma recompensa pessoal do esforço

pela via meritocrática do aumento da escolaridade tivesse confirmação, a perspectiva de uma mudança pela

mobilização coletiva ficaria mais desacreditada.

Não parece ser esse o processo que estamos vivendo. A mobilidade social absoluta, à exceção de fenômenos

regionais muito localizados, se perdeu com a estagnação econômica. A ampliação dos benefícios da assistência

social permitiu a redução da miséria, mas a oferta de empregos, mesmo durante o último ciclo de expansão, não

aumentou o salário médio, nem reduziu a rotatividade da mão de obra, nem inverteu a tendência emigratória,

nem reduziu a criminalidade. A mobilidade relativa através da educação ficou mais difícil, porque o salário em

ocupações de nível superior mantém o ritmo de queda lenta. Não está surgindo uma pujante nova classe média.

O que está ocorrendo é a proletarização da classe média assalariada.

Valerio Arcary, professor do IFSP (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia), e militante do PSTU

NOTAS:

[1] Em 2006, por exemplo, o Produto Interno Bruto (PIB) de 2,370 trilhões de reais equivaleu a R$12.688,00

em média per capita. O conjunto dos trabalhadores absorveu 40,9% do total, enquanto os proprietários

apropriaram-se de 43,8%. A parte restante (15,3%) refere-se aos impostos arrecadados pelo Estado. Mais dados

disponíveis no site do IPEA:

http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/comunicado_presidencia/08_11_11_DistribuicaoFuncional.pdf (Consulta

em 12/04/2010)

[2] Estudo mais completo sobre o tema está disponível em: http://www.eumed.net/cursecon/7/Lorenz-Gini.htm

(Consulta em 13/04/2010)

[3] Disponível em:

http://www.econ.uba.ar/www/institutos/economia/Ceped/publicaciones/dts/DT4_Lindenboim_Grana_Kennedy.

pdf (Consulta em 13/04/2010)

[4] Estudo mais completo sobre o tema está disponível em:

http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/comunicado_presidencia/08_11_11_DistribuicaoFuncional.pdf (Consulta

em 12/04/2010)

[5] Disponível em:

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/pme_201002sp_03.shtm

(Consulta em 12/04/2010)

[6] Disponível em: http://www.guiame.com.br/v4/11193-1462-Sal-rios-m-dios-cresceram-no-mundo-mas-n-o-

o-suficiente-diz-OIT-.html (Consulta em 26/03/2010)

[7] Disponível em:

http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1576&id_pagina=1

(Consulta em 30/03/2010)

[8] Um estudo sobre o tema está disponível em:

http://ppe.ipea.gov.br/index.php/ppe/article/viewFile/27/7.(Consulta em 31/10/2010)

[9]

Conferirem:http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindi

csociais2008/default.shtm Consulta em 20/03/2010.

[10] Dados comparativos sobre os investimentos públicos de outras nações podem ser procurados no site da

UNESCO: http://stats.uis.unesco.org/unesco/ReportFolders/ReportFolders.aspx Consulta em 23/03/2010

[11] As pesquisas podem ser feitas no site do INEP (Instituto Nacional de pesquisas e estudos Educacionais

Anísio Teixeira):

http://www.inep.gov.br/estatisticas/gastoseducacao/indicadores_financeiros/P.T.I._dependencia_administrativa.

htm (Consulta em 23/03/2010)

[12] Segundo estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a atividade educacional desenvolvida pelo setor

privado – inclusive as instituições sem fins lucrativos – era responsável por 1.184.126 ocupações em 2006,

conforme dados do IBGE. Este número correspondia a 1,27% do total da PEA (População Economicamente

Ativa), estimada em pouco mais que 93 milhões de pessoas.Também havia, em 2005, 19.940 fundações

privadas e associações sem fins lucrativos dedicadas às atividades de educação e pesquisa. Estas entidades

empregavam 509.265 pessoas. A escolaridade média dos profissionais que atuam no setor é de 12,6 anos de

estudo, bem acima dos 7,4 correspondentes à totalidade da força de trabalho. A educação privada superou uma

movimentação de R$50 bilhões em 2006, ou seja, alcançou 1,5% do PIB. O PIB é um indicador do valor dos

bens e serviços realizados durante um ano, portanto, é uma medida da produção, consumo e poupança nacional.

O estudo pode ser encontrado no site: http://www.fenep.com.br/arquivos/setor_educacional.pdf (Consulta em

23/03/2010)

[13] O salário mínimo obteve aumentos reais nos últimos quinze anos. Dados

disponíveisem:http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/marco2009

.pdf (Consulta em 21/03/2010)

[14] A taxa da população carcerária do Brasil por habitante está bem acima da média da América do Sul, que é

de 165,5 por 100 mil. Disponível em: http://www.infoseg.gov.br/infoseg/destaques-01/brasil-e-oitavo-do-

mundo-em-populacao-de-detentos (Consulta em 31/03/2010)

[15] Desde os meados dos anos 80, o país começou a se tornar “country of emigration”, como reconhece o

World Economic and Social Survey – 2004, da ONU. A emigração para os EUA, Grã-Bretanha, Espanha,

Portugal e Japão, entre outros destinos. São fontes sérias sobre a emigração latino-americana o World Economic

and Social Survey – 2004 da ONU – DEPARTMENT OF ECONOMIC AND SOCIAL AFFAIRS. Disponível

em: http://www.un.org/esa/analysis/wess e um relatório sobre os dados fornecidos pelo MRE pode ser

encontrado em: MARINUCCI, Roberto. “Brasileiros e brasileiras no exterior. Apresentação de dados recentes

do Ministério das Relações Exteriores”. Disponível em:

http://www.csem.org.br/2008/roberto_marinucci_brasileiros_e_brasileiras_no_exterior_segundo_dados_do_mr

e_junho2008.pdf (Consulta em 31/03/2010)

Transportes para os trabalhadores

Superlotação, horas perdidas em filas e deslocamentos, tarifas caras, trânsito. Estes são alguns dos problemas

enfrentados cotidianamente por milhões trabalhadores que dependem de transporte público no país.

Além de precário, o transporte público no país é caro. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

(Ipea) mostrou que, entre 1995 e 2008, as tarifas de ônibus urbanos tiveram um aumento de cerca de 60% acima

da inflação.

Ocorre que o setor de transporte é controlado por verdadeiras máfias que financiam as campanhas eleitorais dos

grandes partidos e, depois que os políticos são eleitos, obtêm contratos de serviços com as prefeituras. As

companhias estatais de transporte público (tanto as de ônibus como as ferrovias) foram privatizadas e entregues

a essas máfias, que conseguem lucros fabulosos.

Há poucos dias, a prefeitura de Florianópolis, ao lado dos empresários de transporte da região, impôs um novo

reajuste da tarifa dos ônibus, que passou a custar R$ 2,38 no cartão e R$ 2,95 em dinheiro. Foi o maior aumento

desde 2005, quando houve uma revolta contra o preço da tarifa. Se um trabalhador que recebe o salário mínimo

de R$ 510 tiver que pagar duas passagens para ir e duas para voltar, vai gastar por mês mais de R$ 270 em

condução, ou seja, mais de 50% de seu salário.

Por isso, em pleno século 21, muitos trabalhadores não têm condições de pagar as tarifas e se locomovem a pé.

Segundo o IPEA, cerca de 37 milhões de brasileiros estavam nesta situação em 2006. Outra pesquisa realizada

em 2007 mostrava que 640 mil viagens por mês são realizadas a pé devido ao custo da condução.

Transporte público ou particular? O caos no transporte é fruto de vários fatores. O problema começa com a falta de prioridade por parte dos

governos para investir em transporte público. Como consequência, cresce de forma desordenada o uso de

veículo individual, fruto da ampliação de crédito para a compra de automóveis.

Segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), há dez anos circulavam no país 18,8 milhões de

carros, três milhões de motocicletas e 243 mil ônibus. Hoje a situação é bem diferente. São 33 milhões de

carros, 11 milhões de motocicletas e apenas 407 mil ônibus. Enquanto houve um aumento de 74% para

automóveis e de 280% para motos, o número de ônibus cresceu apenas 67%.

Isso se agrava ainda mais devido ao crescimento acelerado e desordenado das grandes cidades. Os setores mais

pobres da população são empurrados cada vez mais para as grandes periferias, o que dificulta a mobilidade

urbana.

Enquanto pouco se investe na melhoria do transporte coletivo, são gastos bilhões em dinheiro público para

favorecer as montadoras. Durante a crise econômica, os bancos operados pelas montadoras receberam pelo

menos R$ 4 bilhões com o objetivo de garantir crédito para o financiamento de veículos. Como se não bastasse,

os governos Lula e José Serra (SP) concederam generosas isenções fiscais às montadoras.

Repete-se assim uma velha opção da burguesia brasileira. Desde a “Era JK”, nos anos 1950, a política de

transporte prioriza os interesses das multinacionais automobilísticas. Em vez de ferrovias e hidrovias, soluções

muito mais baratas e eficientes para o transporte de pessoas e cargas entre os estados, a burguesia privilegiou

um modelo de fabricação de carros, ônibus e caminhões. No lugar de investir em transporte coletivo de

qualidade, os governos continuam fomentando o transporte individual com a realização de grandes obras

viárias.

Essa solução não apenas gera benefícios para a indústria automobilística, mas também para os grandes partidos

políticos, como PT e PSDB, e seus candidatos, cujas campanhas eleitorais são sustentadas pelo dinheiro de

empreiteiras e montadoras.

Falta de investimentos e privatização São Paulo é retrato do caos do transporte no país. Com 11 milhões de habitantes e uma área metropolitana que

reúne quase 20 milhões de pessoas, a frota de veículos da cidade é de mais de 6 milhões.

Nos trens, ônibus e metrô, é preciso ter paciência para enfrentar a superlotação e a demora nas viagens.

Segundo um levantamento da Comunidade de Metrôs (CoMET, sigla em inglês), organização que reúne os 11

principais sistemas de transporte sobre trilhos no mundo, o metrô da capital paulista é o mais lotado do mundo.

Para “amenizar” a situação, o Metrô e a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) lançaram o

programa “Embarque Melhor”. Trata-se de uma piada de mau gosto, que busca inutilmente controlar o acesso

de passageiros nas plataformas nos horários de pico em estações de grande movimento.

Desde a década de 1970, quando o metrô foi inaugurado, os governos construíram pouco mais de 60

quilômetros de extensão das linhas, absolutamente insuficiente para atender a demanda diária de 3,3 milhões de

passageiros. A capital paulista perde até de cidades menores, como Santiago do Chile, que tem à disposição

mais de 83 quilômetros de linhas. Como se não bastasse, o transporte em São Paulo é um dos mais caros da

América Latina. Enquanto a tarifa do metrô na Cidade do México é de R$ 0,28, e em Santiago de R$ 1,58, em

São Paulo se cobra R$ 2,65.

Recentemente, o governo do PSDB inaugurou uma nova linha construída através da chamada parceria público-

privada. Pelo contrato, o consórcio de empresas privadas poderá explorar a linha por 30 anos, o que vai

encarecer ainda mais o transporte.

Já no Rio de Janeiro, o caos do transporte mostra o resultado da entrega do serviço público à iniciativa privada.

A privatização dos serviços prometia uma suposta melhoria, mas o resultado é bem diferente das promessas

feitas pelos governos.

Na manhã do dia 16 de abril, um trem da Supervia lotado de trabalhadores, que seguia de Santa Cruz, na Zona

Oeste, para a Central do Brasil, descarrilou. Mais de 60 pessoas ficaram feridas. Poucos meses antes, imagens

na TV mostravam trabalhadores sendo chicoteados por seguranças da mesma Supervia, empresa concessionária

dos serviços de trens urbanos do Rio.

Em abril do ano passado, os passageiros que dependem das barcas para fazer a travessia entre Rio e Niterói se

revoltaram com o sufoco das longas filas e o serviço precário. As barcas que ligam o Rio a Niterói e à Ilha de

Paquetá são administradas pela concessionária privada Barcas S/A.

Apesar das barbaridades cometidas pelas empresas privadas, todas continuam operando normalmente. Pelas

chicotadas, a Supervia foi condenada a pagar uma multa ridícula, correspondente a 0,05% do faturamento de

2008.

Como mudar os transportes em beneficio dos trabalhadores? Em primeiro lugar, é preciso estatizar e reestatizar as empresas que foram privatizadas, acabando com a máfia

dos transportes. Nas mãos dos empresários, as planilhas de custo são manipuladas, os trabalhadores do setor são

superexplorados e possuem jornadas estafantes – levando ainda mais risco à população.

Sem essa medida, nenhuma alternativa real é possível. A estatização vai garantir tarifas mais baixas, pois o

estado poderá subsidiá-las sem repassar milhões para as empresas privadas. Com isto, é possível oferecer passe

livre para estudantes e trabalhadores desempregados. Também é preciso reduzir já em 60% as tarifas, índice em

que elas subiram em comparação com o salário mínimo.

O Estado precisa ocupar seu papel. O transporte precisa ser estatal e controlado pelos trabalhadores do setor e

pelos usuários. Essa medida deve ser estendida as ferrovias foram privatizadas pelo governo tucano. Dessa

forma, teríamos soluções muito mais baratas e eficientes para o transporte de pessoas e cargas.

Por outro lado, é preciso para de pagar as dívidas e destinar parte deste dinheiro ao investimento maciço em

ampliação de transportes coletivos. Os governos priorizam obras viárias (beneficiando as empreiteiras) e

concedem subsídios fiscais as montadoras. É preciso seguir outro caminho e priorizar o transporte público ao

invés do particular. Para isso, é fundamental que o Estado amplie novas linhas de metrô e trens, amplie a frota

de ônibus principalmente nas periferias das grandes cidades. Só assim será possível ter meios de transportes

para atender milhões de pessoas, com conforto, eficiência, segurança e rapidez.

Estatizar as empresas que foram privatizadas, acabando com a máfia dos transportes. O transporte

precisa ser estatal e controlado pelos trabalhadores do setor e pelos usuários.

Reduzir já em 60% as tarifas.

Fim do pagamento das dívidas e do subsídios fiscais às montadoras. É preciso destinar parte deste

dinheiro ao investimento maciço em ampliação de transportes coletivos.

Habitação e planejamento urbano

A pobreza é uma das faces da exclusão social, aquela que nega aos trabalhadores as condições materiais

necessárias para sua sobrevivência. No Brasil, a pobreza não é uma etapa provisória da vida das pessoas, pois

não são dadas oportunidades para que os trabalhadores e seus filhos superem o nível socioeconômico em que

vivem.

Ainda que seja um problema histórico, a pobreza não é natural. Ela existe em razão do sistema capitalista,

baseado na exploração da mão-de-obra, das riquezas naturais, da terra, em benefício de uns poucos, que só

visam o lucro. Esse sistema perverso retira da maioria da população a possibilidade de ter acesso à terra e à

moradia, ou mesmo aos serviços públicos básicos de saneamento e eletrificação.

Embora a pobreza se manifeste em diversos aspectos, sua forma mais concreta e visível é a condição de

habitação, isto é, a infraestrutura, localização, material e forma de construção da moradia, e mesmo a legalidade

da terra onde esta edificada. Os trabalhadores são empurrados para a periferia, para fora do centro das cidades,

onde nem sempre contam com serviços de água, esgoto, eletricidade e coleta de lixo, onde há precariedade de

serviços de consumo coletivo como supermercados, padarias e farmácias, geralmente distantes dos postos de

saúde e das escolas, fato agravado pela escassez de transporte público.

Os anos de neoliberalismo, com o desemprego, a redução dos gastos com serviços públicos e com os programas

sociais, só agravaram a pobreza, levando um grande número de trabalhadores a viver em condições subumanas.

Impossibilitados sequer de residir na periferia, esses trabalhadores mais pobres, que vivem de bicos ou estão

desempregados, são segregados em áreas até então não ocupadas, áreas ao redor da cidade, sem infraestrutura e

sujeitas a riscos ambientais, como desmoronamento, enchentes etc.

No Brasil, o desempenho econômico representou poucos benefícios para uma enorme parcela da população, que

vive em situação de extrema pobreza. De acordo com o Seade, em 1998, no estado de São Paulo, 5% das

famílias mais ricas tinham um rendimento médio pelo menos 28 vezes maior que 5% das famílias mais pobres.

Em algumas cidades mais ricas, esse índice se eleva ainda mais, chegando a uma renda 50 vezes maior para as

famílias mais ricas. Ou seja, riqueza nas cidades não significa qualidade de vida para todos.

Além disso, o Mapa da Pobreza Urbana do Brasil, que se baseou em dados do censo de 2000 do IBGE, aponta

que, no Brasil, 15,85% dos chefes de família têm renda de até um salário mínimo; 6,57% da população vive em

situação crítica no que tange ao saneamento básico, isto é, sem água encanada, rede de esgoto ou coleta de lixo

domiciliar. Estes trabalhadores vivem principalmente em favelas e em loteamentos clandestinos concentrados

em áreas distantes dos centros.

Esses loteamentos são chamados clandestinos porque não tiveram autorização do poder público para serem

comercializados. Mas os trabalhadores que lá residem pagaram pelos terrenos. As vendas dos terrenos foram

feitas a céu aberto. O loteamento, na verdade, só é clandestino para as prefeituras, que não fiscalizaram os

loteadores, não cobraram qualquer multa nem puniram estes empresários fraudadores. Para nós, são bairros

irregulares, que só dependem de vontade política pra regularização.

Programas habitacionais Todos os programas habitacionais, tanto do governo federal quanto dos governos estaduais, não são projetados

para beneficiar a população sem moradia. Eles visam, na verdade, dar lucros a grandes construtoras. O projeto

“Minha casa, Minha vida” é um bom exemplo. Veio na esteira da crise econômica mundial e tem como objetivo

alavancar a economia.

Os moradores que ocupações que já construíram suas casas, embora precariamente, com suor e muita

dificuldade, não podem se beneficiar de nenhum programa habitacional. Pelos programas até hoje apresentados,

é necessário destruir o construído para se construir desde o alicerce pelas empresas de construção. Além disso,

os programas habitacionais são insuficientes e precários.

Isso sem falar no grau de corrupção das empresas da construção civil. As casas construídas pelo programas

populares são muito pequenas, e as construtoras não respeitam especificações mínimas de segurança. O

resultado são casas e apartamentos que, em poucos anos, estão cheios de rachaduras e vazamentos. São obras de

má qualidade, justamente visando o lucro. O valor real gasto na construção é muito inferior ao recebido pelas

empreiteiras, que, por sua vez, dividem o fruto da corrupção entre os governos e políticos facilitadores.

Muitas áreas urbanas são mantidas sem nenhuma função social para especulação imobiliária. Não raramente, os

donos dessas áreas não pagam impostos.

Higienização social Muitas vezes, os governos aplicam uma política de higienização social, que expulsa os pobres dos centros

urbanos, deixando-os sem acesso ao trabalho e confinados na periferia. Trata-se de uma política para maquiar as

cidades, esconder a miséria debaixo do tapete.

Nas cidades, o planejamento urbano é feito para beneficiar as empreiteiras e não as necessidades e a qualidade

de vida da população, sobretudo da população pobre. Essa situação não raro leva a desastres como alagamentos,

deslizes de morros etc. Os casos mais divulgados, ultimamente, são o do Jardim Pantanal em são Paulo e o do

Morro do Bumba, no Rio, mais são milhares de casos, pelo país afora.

As grandes vítimas são sempre a população mais pobre. Mas a classe média, o meio ambiente e o patrimônio

histórico também são prejudicados. A ocupação e verticalização do centro afeta os prédios históricos que estão

sendo destruídos para que sejam erguidos edifícios.

Todas as cidades deveriam ter um plano diretor que englobasse transporte, planejamento da mobilidade urbana,

construção de ruas e avenidas, tipos de transporte, modelo de transporte de massa, para poder determinar a

qualidade de vida nas cidades. Nos planos diretores, na maioria das vezes, quem dá as cartas é o setor

imobiliário, pois ao financiar as campanhas eleitorais cobram a fatura. As cidades passam a ter a cara que

interessa aos grupos econômicos. estes grupos econômicos através de lobby e corrupção possuem informações

privilegiadas repassadas pelos governos.

Não é raro a farra ter financiamento de organismo internacionais, como o BID. Além de promover a exclusão,

ainda aumenta a dívida dos governos com os organismos financeiros internacionais, para que seja paga pelos

contribuintes, ou seja, a população trabalhadora.

É preciso mudar radicalmente esta situação. A riqueza das cidades deve trazer benefícios à população

trabalhadora, sobretudo àqueles que vivem em condições subumanas.

Saneamento básico e tratamento de esgoto Segundo a Fundação Getúlio Vargas – Instituto Trata Brasil –, diariamente, 5,4 bilhões de litros de esgotos sem

tratamento são jogados na natureza no Brasil de um total de 8,4 bilhões recolhidos, contaminando solo, rios,

praias e mananciais, trazendo impactos diretos na saúde da população brasileira. Apenas 36% do esgoto gerado

recebe algum tipo de tratamento. Isso nas grandes cidades, pois nas cidades de pequeno porte, a situação é ainda

pior.

Somente 50,9% da população, segundo a mesma pesquisa, têm acesso a saneamento básico. Isso significa que,

em pleno século 21, boa parte da população brasileira ainda vive no século 19, exatamente igual aos tempos em

que desembarcou por aqui a família real. Cerca de 18 milhões de brasileiros não tem sequer banheiro.

O grande problema é que este tipo de construção não aparece, não é um bom mote eleitoral. Mas tem influência

direta na saúde pública.

Conurbação As grandes cidades vivem o fenômeno das conurbações, sem dúvida prejudicando a qualidade de vida das

pessoas. Pensamos que deveria existir um combate às conurbações, onde elas ainda ainda não existem, e uma

proposta para minimizá-las onde já existem.

O PSTU propõe:

1. Plano Emergencial Regularização de todos os assentamentos urbanos, tais como ocupações, favelas e loteamentos clandestinos,

através da criação de Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis), previstas no Estatuto das Cidades.

2. Plano de Moradias Populares Plano de obras públicas para construção de moradias populares, sobretudo para as famílias com renda de até três

salários mínimos, postos de saúde, escolas, praças de esporte e lazer.

Desapropriação de áreas para construção de moradias populares, especialmente daquelas que se destinam à

especulação imobiliária, visando o fim do déficit habitacional.

Extensão à toda população os serviços de saneamento básico, água, tratamento do esgoto doméstico e coleta

seletiva de lixo, que serão realizados de forma integral.

Remanejamento das populações que vivem em áreas de risco, como topo de morros, encostas e margem de rios,

através de um plano de expropriação de áreas urbanas, rurais e edificações que não estejam cumprindo seu fim

social.

3. Planejamento Urbano Análise dos impactos ambientais e sociais de todas as novas construções e empreendimentos, inclusive no

fornecimento de água, serviço de esgoto e trânsito das regiões, como condição para autorização das obras.

Realização de Plano Diretor, com efetiva participação popular, que estabeleça os planos e formas para

crescimento urbano, a partir do pressuposto de manutenção da população onde reside, da preservação do meio

ambiente e do patrimônio histórico, e também do acesso das populações dos bairros mais distantes do centro aos

serviços públicos e privados de interesse social.

Criação de uma frota federal de transportes coletivos urbanos e interurbanos, com passagens a preço de custo e

passe-livre a idosos, estudantes e desempregados.

Construção e implementação de Centros Culturais e Esportivos nos municípios que ainda não os tenham.

Criação de um programa de integração entre a zona rural e urbana dos municípios, através do incentivo à

agricultura de policulturas e a implementação de uma rede federal de restaurantes populares, que serão

abastecidos com a produção local e fornecerão alimentos a preço de custo.

Revisão da rede de distribuição de água das cidades, a fim de detectar e reparar eventuais vazamentos.

Programas rígidos de proteção e recuperação de mananciais, reciclagem de águas, captação e aproveitamento de

águas pluviais.

Proibição de construções nas divisas entre cidades, com determinação de distância mínima para, com isso,

construir um corredor ecológico.

4. Conselho Federal Popular de Habitação Formado pelos representantes dos sem-teto e das ocupações, pela população trabalhadora e pela juventude, sem

participação de empresas privadas, para deliberar sobre obras e planejamento urbano.

O papel dos aparatos de repressão

Os últimos acontecimentos da luta de classes recolocaram em debate qual o verdadeiro papel das policias e dos

aparatos de repressão dentro do Estado burguês mesmo quando este se apresenta na forma de um “Estado

Democrático de Direito”.

Engels nos ensinou que o Estado existe por que existem as classes sociais e, como sua consequência, a luta de

classes. Então, para que esses antagonismos de classe não destruam o organismo social ergue-se um poder que

se coloca, aparentemente, acima da sociedade, para atenuar e manter os conflitos de classe nos limites da

“ordem”.

O Estado é um poder para a dominação da classe economicamente mais forte, um instrumento de opressão de

uma classe por outra, criador de uma ordem legalizadora e consolidadora da opressão [1]. Um instrumento que

permite a classe dominante efetivamente dominar, mantendo submetidas as classes exploradas.

Sua principal característica é a existência de uma força pública militar em contraposição a população

organizada espontaneamente enquanto poder armado. Essa força militar é composta por destacamentos de

homens armados: exército permanente e polícia, tendo à sua disposição prisões, tribunais e institutos penais de

coerção.

Por isso ele e Marx saudaram o primeiro decreto da Comuna de Paris que suprimiu o exército permanente e o

substituiu pelo povo armado. A polícia perdeu suas atribuições político-burguesas e transformou-se em um

instrumento da Comuna, sendo o mandato de seus membros revogáveis a qualquer tempo. Juizes, procuradores

e demais funcionários judiciários passavam a ser eleitos, estando seus mandatos sujeitos à revogação a qualquer

tempo. Nesse quadro de absoluta elegibilidade e revogabilidade a qualquer momento de todos os funcionários

communards, sem qualquer exceção, todos os cargos do serviço público haviam de ser prestados na base dos

salários dos operários.

Por isso, Lenin chegou a afirmar: “Apenas o comunismo torna o Estado absolutamente desnecessário, porque

não existe ninguém para ser suprimido, „ninguém‟ no sentido de classe.(...)

Não somos utopistas e não negamos minimamente a possibilidade da inevitabilidade de excessos da parte de

pessoas individuais ou a necessidade de deter tais excessos.

Em primeiro lugar, contudo, não se necessita de nenhuma máquina especial, de nenhum aparato especial de

supressão.

Isso será feito pelo próprio povo armado, tão simplesmente e tão prontamente como qualquer massa de povo

civilizado, até mesmo na sociedade moderna, interfere para deter uma pancadaria ou impedir que uma mulher

seja atacada.

E, em segundo lugar, sabemos que a causa social fundamental dos excessos, que consistem na violação das

regras do intercurso social, é a exploração do povo, suas necessidades e sua pobreza.

Com a remoção da principal causa, os excessos começaram, inevitavelmente, a „perecer‟.

Não sabemos quão rapidamente e em que sucessão, porém, sabemos que perecerão. Com o seu perecimento, o

Estado também perecerá” [2].

Como se ve então nossos mestres trabalhavam claramente com o conceito que o aparato de repressão policial

existe para reprimir e agir de maneira coercitiva contra o povo pobre. E no caso do Brasil o povo pobre negro

que vive nas favelas e nos bairros operários.

O combate a criminalidade é somente um subproduto desta tarefa principal ou até mesmo um disfarce para a

implementação de sua tarefa fundamental.

Não se trata somente de policiais bons ou maus, mas sim de um Estado que é o maior impulsionador da

violência e da criminalidade. São as próprias instituições do Estado, corruptas e decadentes que promovem um

circulo vicioso de repressão e crime.

Por isso violencia, prisão e mortes nas favelas do Rio de Janeiro, brutalidade na ação policial em ocupações,

como a do Pinheirinho, grosserias e agressões contra jovens, negros e desempregados. Criminalização de

trabalhadores e dirigentes sindicais quando realizam suas mobilizações. Enquando do outro lado sorrisos nas

bocas de criminosos como Salvador Cacciola, e rapida passagens pelas grades de Pitta, Naji Nahas, Daniel

Dantas.

Sem duvida a policia e os tribunais em nosso pais tem classe. A classe burguesa, e a clara determinação de

repressão do povo pobre.

Com Lula, aumentou a criminalização Atualmente, no Brasil, nos vendem a imagem que vivemos em um Estado Democrático, cumpridor das leis,

com uma polícia e um judiciário neutro, e que agora, com o governo Lula, os trabalhadores tem mais espaço

para conquistar suas reivindicações. Mas a vida e a realidade não são bem assim.

Apesar da aparência democrática há um aumento da criminalização dos movimentos sociais e cada vez mais os

trabalhadores estão sendo impedidos de utilizar suas formas de luta.

Por exemplo, o MST sofreu por parte do Ministério Público do Rio Grande do Sul e Federal ações judiciais que

visa colocá-los fora da lei e criminalizar as ocupações de terra como sendo atos de terrorismo.

Segundo os promotores, o MST é uma organização paramilitar, treinado pelas FARCs e que ameaça a

segurança nacional. Por isso o Conselho do MP gaúcho decidiu iniciar uma série de medidas para “dissolução

do MST e declaração de sua ilegalidade”. Proibiu qualquer deslocamento de sem-terra, como marchas ou

caminhadas e passou a investigar acampamentos e lideranças por “práticas criminosas” e uso de verbas

públicas. Pressionado, o Ministério Público recuou, mas acusou oito trabalhadores rurais em Carazinho de

crimes contra a Lei de Segurança Nacional.

Além disso a Justiça Federal de Marabá, no Pará, multou três líderes sem-terra em R$ 5,2 milhões por terem

participado de manifestações que interditou a Estrada de Ferro de Carajás (PA), que pertence à Vale do Rio

Doce.

A maior ocupação urbana do Brasil, o Pinheirinho, em São José dos Campos, também sofre constantes blitz da

polícia de maneira truculenta e com a imprensa dando sensacionalismo a qualquer crime que ocorre na

ocupação, como os mesmos crimes não ocorressem em quaisquer bairros de São Paulo ou Rio de Janeiro.

No movimento sindical, recentemente a Apeoesp, filiada a CUT, recebeu uma multa de 1999 de 700 mil reais

que esta sendo executada agora e uma de 2005 de 4 milhões de reais e a terceira 2008 de 500 mil e que levou ao

bloqueamento provisório da conta, por realizar uma manifestação na Paulista, com isso sua conta foi bloqueada.

Os rodoviários do Amapá foram acusados por toda imprensa do estado, em conluio com a patronal, de terem

sequestrado os ônibus na greve e terem cobrado passagens mais baratas para arrecada dinheiro para o Fundo de

Greve. Neste caso tentam identificar uma ação dos trabalhadores com um crime inafiançável, preparando uma

denuncia juntamente com o Ministério Publico do estado, para intimidar e, se não houver reação, colocar os

dirigentes sindicais na cadeia.

Os petroleiros da FNP estão sendo acusados criminalmente por atentado violento ao pudor pela manifestação

realizada pelos aposentados na porta do Edise, Rio de Janeiro, onde estes tiraram a roupa para criar um fato

político. O Sindicato de Alagoas e Sergipe já recebeu cerca de 4 Interditos Proibitórios para que não possa mais

realizar manifestações e uma multa de 750 mil reais. E na recente greve de 5 dias a Petrobras também conseguiu

um Interdito para evitar a paralisação da refinaria da Bahia e para desocupar as plataformas ocupadas pelos

grevistas na Bacia de Campos, que foram acusados de motim.

Na Revap em São José dos Campos a Petrobras buscou criminalizar os dirigentes do movimento através de um

inquérito policial, pelos danos ocorridos na refinaria no confronto entre policia e grevistas. Tentando esconder

suas responsabilidade por ter autorizado a entrada da Tropa de Choque dentro da refinaria, a noite, sem

nenhuma ordem judicial e sem nenhum preparo para a ação. A direção da Petrobras é quem deveria ser

criminalizada se ocorresse algum incidente grave.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, recebeu quase uma centena de Interditos Proibitórios,

somente da Embraer, que ganhou em multas sobre o sindicato mais de 5 milhões de reais, para os quais são

descontados 30% da arrecadação mensal (90 mil reais). Latequer e Hitachi também tem Interditos contra o

sindicato. A GM também, recebeu Interditos Proibitórios que buscam impedir que o sindicato faça trabalho com

os terceirizados e trabalhadores das empreiteiras e recentemente conseguiu uma Notificação Judicial para

penalizar civil e criminalmente o sindicato e seus diretores, se estes realizarem atividades em outras bases, a

exemplo da GM de Gravataí e São Caetano.

Como disse o dirigente da Conlutas, Atnagoras Lopes, “se realizamos greve fora da fábrica, recebemos

Interditos e somos multados, se realizamos greve dentro da fábrica somos criminalizados, se realizamos

passeatas somos punidos e também multados. Então que diabo de direito de greve é este que o trabalhador não

pode ficar dentro, nem fora da fábrica e nem fazer manifestação”.

O PSTU assume o compromisso publico em seu programa eleitoral de combater a criminalização dos

movimentos sociais e de assumir para si as bandeiras do Seminário Nacional contra a criminalização dos

movimentos sociais realizado nos dias 21 e 22 de outubro, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB,

em Brasília (DF) e sua carta manifesto.

Mulher trabalhadora precisa de uma candidatura trabalhadora

O programa de governo apresentado aqui traz um conjunto de propostas para as mulheres da classe

trabalhadora, a partir do acúmulo das experiências adquiridas no seio da luta de classes. É fruto da elaboração

coletiva da militância do PSTU e tem como objetivo estabelecer as principais bandeiras que serão defendidas

por nossos candidatos nas eleições de 2010.

Por não acreditarmos que as eleições burguesas podem garantir as mudanças necessárias à sociedade, mais do

que um amontoado de proposições, apresentamos um programa para a ação, tendo em vista que a construção

uma sociedade socialista só se concretizará a partir da luta direta dos trabalhadores e trabalhadoras.

Exploração e opressão A exploração, na sociedade capitalista, manifesta-se pela apropriação dos frutos do trabalho produzido pelos

trabalhadores, por proprietários dos meios de produção (fábricas, terras, minas etc.). Em outras palavras, os

patrões obtêm seus lucros a partir da exploração do trabalho de outros. Já a opressão significa a transformação

de diferenças em desigualdade social e cultural. É uma atitude de se aproveitar das diferenças que existem entre

os seres humanos para colocar uns em desvantagem em relação aos outros. A opressão às mulheres chama-se

machismo.

As mulheres burguesas, apesar de serem vítimas da opressão, não sofrem a exploração capitalista. Ao contrário,

ajudam a sustentar um sistema excludente e contribuem com a exploração de outras mulheres. Não querem

mudanças que as façam perder os privilégios garantidos pelo capitalismo. Por isso, nenhuma mulher burguesa,

mesmo que seja mulher, não é capaz garantir os direitos dos trabalhadores. As mulheres trabalhadoras, por sua

vez, estão submetidas à opressão e também à exploração, numa relação combinada. A opressão justifica a

exploração, enquanto a exploração ajuda a manter a opressão.

É através da opressão que se cria a ideologia de que as mulheres são responsáveis pelos cuidados domésticos e

pela criação dos filhos. É a através da diferença de gênero que o capitalismo justifica as diferenças salariais

entre homens e mulheres.

Um programa que visa atender aos trabalhadores tem de ter um caráter classista, ou seja, de defesa da mulher

trabalhadora, pois é ela quem sofre as maiores consequências do sistema e são aliadas no processo de

transformação social. Além disso, é preciso ser contundente no combate ao machismo, já que ele é um

componente fundamental para sustentar o capitalismo e dividir os trabalhadores.

A situação das mulheres trabalhadoras Hoje, as mulheres são a metade da população mundial e correspondem a 41% da população economicamente

ativa. Apesar disso, ainda ocupam os postos de trabalhos menos especializados e ganham até 40% menos que os

homens, são a maioria entre as mais pobres do mundo (70% do total). No Brasil, a situação não é diferente. As

estatísticas demonstram a mesma lógica: de que as mulheres trabalhadoras são as que ganham menos, estão nas

funções menos especializadas (das empregadas domésticas, em São Paulo, 97% são mulheres). Estima-se que

um terço das famílias são sustentadas unicamente pelas mulheres, mas elas ainda ganham menos que os homens

para exercerem uma mesma função. Em se tratando das mulheres negras, a situação é ainda pior. Essas

diferenciações não são decorrentes da “inferioridade feminina”, mas parte de uma ação do sistema que utiliza a

diferença de gênero para ampliar a exploração e transformar a mão-de-obra feminina num exército de reserva,

ajudando a diminuir, de maneira global, o valor pago pelas horas trabalhadas ao conjunto da classe.

Apesar dos avanços conquistados pelas lutas das mulheres ao longo do tempo, a democracia burguesa ainda as

responsabiliza pelos afazeres domésticos e pelos cuidados dos filhos. Continuam obedecendo a uma dupla

jornada de trabalho, no emprego e em suas casas. O expediente termina quando terminam as chamadas tarefas

do lar, quando a última criança vai dormir. Isso isenta o Estado de suas responsabilidades, que deveria criar

políticas públicas como restaurantes e lavanderias públicas, para libertar as mulheres da escravidão do trabalho

doméstico não-remunerado, bem como, creches para todas as crianças.

Os índices de violência doméstica e sexual são escandalosos. O turismo sexual e a prostituição são destaque

negativo do país em nível internacional. A cada 4 minutos, uma mulher sofre uma agressão física, onde o

agressor é geralmente o homem com quem ela vive ou viveu. Isso se intensifica ainda mais nas camadas

pauperizadas da população. A violência acaba sendo permissiva pela ideologia de que “em briga de marido e

mulher não se mete a colher”.

Cerca de 6 mil mulheres morrem por ano, somente na América Latina, em função de abortos clandestinos. No

Brasil, de acordo com pesquisa publicada pela Folha de São Paulo, em maio de 2010, de cada sete mulheres

entre 18 a 39 anos, cerca de 40% declaram já terem feito aborto. Por não terem dinheiro para realizá-lo nas

clínicas particulares, muitas morrem (cerca de 150 mil) ou ficam com sequelas, além de correrem o risco de ser

presas. Um problema de saúde pública e de vida para as mulheres da classe trabalhadora.

A mulheres jovens sofrem mais com a imposição de comportamentos, moralismos, ideologias, repressão a

atitudes, por ser justamente, mais dependente econômica e juridicamente da família, por falta de emprego e

educação gratuita, laica e de qualidade. A mulher lésbica e bissexual não tem controle sobre questões relativas a

sua sexualidade e ao direito de decidir livremente sobre tal, sem sofrer coerção, discriminação ou violência.

Lula não trouxe benefícios às trabalhadoras Após quase oito anos do governo Lula, um governo de Frente Popular eleito a partir das ilusões da classe num

ex-operário metalúrgico, não trouxe avanços às mulheres trabalhadoras. Em essência, elaborou políticas de

cunho assistencialista, mas não atacou o que era essencial: as diferenças sociais e econômicas entre os mais

ricos e os trabalhadores. Continuou a aplicar a política de FHC.

No início do mandato, criou a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, mas pouco as efetivou.

Sancionou, em 2004, a Lei Maria da Penha, que teria como objetivo principal ajudar no combate à violência

contra a mulher. Em seguida, cortou em 42% o orçamento destinado a esse fim. O resultado é que a lei sequer

foi efetivada em sua totalidade. A garantia da proteção à mulher vítima de violência permanece apenas na letra

morta da lei, já que as casas-abrigo e os centros de atendimento às mulheres são ainda um projeto. O resultado é

que algumas, ao denunciarem os maridos, acabam sendo vitimadas pelos próprios denunciados, sendo que o

caso recente de maior notoriedade foi da cabeleireira mineira, Crislayne, assassinada em seu próprio local de

trabalho, após denunciar as inúmeras ameaças sofridas.

O SUAS (Sistema Único de Assistência Social), sancionado em 2004, prevê, como parte da rede da assistência

social (proteção especial), a política de atendimento às vítimas de maus tratos físicos e psicológicos (incluindo

as mulheres), através da criação dos centros de referência de atendimento (CREAS), em parceria com os estados

e municípios. A realidade, ao contrário do modelo, é que tais centros são pouco implementados pelos

municípios e quase sempre funcionam através de parcerias público-privadas, contribuindo para a privatização

do serviço público.

A Lei 11.770, sancionada em 2008, prevê a ampliação da licença-maternidade para seis meses apenas para as

empresas que aderirem ao programa “SIMPLES” e como ato facultativo ao empregador que tem isenção fiscal.

Em alguns municípios a lei foi implementada, mas da mesma maneira é facultada ao gestor. A licença-

maternidade ainda não se transformou em um direito.

Em 2009, o governo cortou cerca de 10 bilhões de reais dos orçamentos das áreas de saúde e educação, para

ajudar as empresas a saírem da crise. As mulheres, novamente, foram as mais afetadas. Com menos recursos

nessas áreas, menos políticas específicas para a saúde da mulher, menos creches construídas. Isso sem falar

naquelas que perderam seus postos de trabalho, sem qualquer preocupação do governo em assinar um projeto

que impedia as demissões imotivadas.

No início de 2010, atendendo à pressão dos setores conservadores, o governo retirou do Plano Nacional de

Direitos Humanos, a medida que possibilitava as condições para descriminalização do aborto em nosso país,

fechando os olhos para as inúmeras mulheres que morrem vítimas de intervenções mal sucedidas e contribuindo

com os lucrativos negócios do aborto clandestino.

Recentemente, retirou do Estatuto Racial as políticas de cotas, que beneficiariam as mulheres negras, e vetou o

fim do fator previdenciário, que atinge principalmente as mulheres, pois amplia consideravelmente o tempo

requerido de trabalho para a aposentadoria.

Dilma e Marina não representam as trabalhadoras Pelo menos duas candidatas se apresentam à presidência da república, Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva

(PV), ambas ex-ministras do governo. A primeira é sucessora escolhida pelo PT para dar continuidade ao que

Lula vem desenvolvendo, a segunda é uma tentativa de “terceira via”, mas que em essência mantém o mesmo

projeto do PT, que dá continuidade ao projeto de FHC.

Os setores governistas e parte da mídia iniciam uma campanha sobre a necessidade e eleger uma mulher para

melhorar o Brasil, pois elas teriam sensibilidade feminina e amor no coração. Essa ideologia, que atribui às

mulheres condições criadas culturalmente para oprimi-las, ajuda a perpetuar no poder a elite branca e machista

que sempre governou nosso país. Nenhuma mulher é capaz de ser sensível às demandas dos trabalhadores se

não tiver um programa voltado à defensa dos interesses dessa classe.

Não basta ser mulher para defender as mulheres. Antes do gênero do candidato (homem ou mulher) está sua

condição de classe: se vai defender os ricos ou a população trabalhadora? As candidatas dos partidos de

oposição de direita ao governo (PSDB e DEM), bem como, Dilma Rousseff (PT) ou Marina Silva (PV), apesar

de mulheres, não são capazes de defender as mulheres trabalhadoras. Suas campanhas obedecem aos interesses

de quem as financiam (grandes empresários) e não propõem rupturas com esse sistema de exploração e opressão

capitalista. Em poucas palavras, não beneficiam os trabalhadores.

A ex-ministra da casa civil e natural sucessora de Lula em 2011, quando ainda estava no governo, não se

manifestou em favor de nenhuma medida para as mulheres. Pelo contrário, foi a favor do corte no orçamento da

Secretaria Nacional de Combate à Violência, em 2007. Apoiou a iniciativa do governo em retirar do plano

nacional de direitos humanos, em 2010, a emenda que tratava da legalização do aborto. Em relação à ocupação

militar no Haiti, pelo exército brasileiro, apóia a utilização das forças armadas brasileira para oprimir e ajudar

na exploração dos trabalhadores e trabalhadoras naquele país, bem como, silenciou-se frente às inúmeras

denúncias de mulheres violadas pelas tropas. A sensibilidade feminina, diante dos fatos, torna-se mero discurso

eleitoreiro.

É preciso candidatos e candidatas que defendam um governo dos trabalhadores, um programa classista.

Mulher trabalhadora precisa de uma candidatura trabalhadora Nessas eleições de 2010, nós, do PSTU, apresentamos candidatas mulheres em vários estados, fruto de uma

concepção de que elas são sujeitos políticos e devem ocupar esse papel. Mas não defendemos a ”sensibilidade”

das mulheres burguesas. Defendemos um programa, construído e levado a frente por homens e mulheres

trabalhadores, para combater a exploração, o machismo e o capitalismo. Zé Maria (presidente) e Claudia Durans

(vice-presidente), nossos candidatos, são trabalhadores e defenderão as mulheres, os negros e todos os setores

oprimidos, porque nossa unidade é a unidade da classe trabalhadora.

Um programa para as mulheres trabalhadoras

Direito ao trabalho As mulheres, de maneira geral, estão nos serviços mais precarizados, sem carteira assinada e sem direitos como

férias, 13º salário, licença-maternidade entre outros. Ganham os menores salários (dos que ganham salário

mínimo, 53% são mulheres). Sua hora de trabalho custa em média 14,3% a menos do valor pago a um homem,

além de figurarem entre os maiores índices de desemprego.

Emprego pleno a todas as mulheres

Igualdade salarial entre homens e mulheres

Redução da jornada de trabalho para 36h sem redução de salários

Estabilidade no emprego para todas, especialmente às vítimas de doenças profissionais (LER/DORT)

Punição às empresas, órgãos públicos e responsáveis por práticas de assédio moral e sexual no trabalho

Punição às empresas, órgãos públicos e responsáveis por demitirem mulheres que engravidam e que

realizam revistas íntimas

Pelo reconhecimento da profissional do campo (camponesa) como trabalhadora

Pelo fim da dupla jornada e do trabalho doméstico. Criação de lavanderias e restaurantes públicos

Pela anulação da reforma da Previdência promovida pelo governo Lula: por uma previdência universal,

pública, solidária, única e integral para todos e controlada democraticamente pelos trabalhadores

Pelo fim do fator previdenciário, que afeta principalmente as mulheres

Direito à maternidade A luta pela garantia e ampliação da licença maternidade é uma bandeira histórica das mulheres trabalhadoras,

pois sabemos que o direito á maternidade, na realidade, é negado às mulheres pobres, pois o estado não nos

garante o mínimo necessário como assistência médica, licença maternidade e creches em período integral. Cerca

de 80% (9 milhões) de crianças em idade de zero a três anos não têm acesso a creches. Defendemos:

Garantia de acesso à saúde pública de boa qualidade, financiada pelo Estado, a todas as mulheres que

desejarem ser mãe e aos seus filhos

Aplicação imediata da licença-maternidade para seis meses para todas as trabalhadoras e estudantes,

sem isenção fiscal, buscando ampliar para um ano

Aumento da licença-paternidade para 01 mês

Salário-família (por dependente) baseado no índice do Dieese

Creches em tempo integral, para todas as trabalhadoras e estudantes, de boa qualidade, com

profissionais capacitados, nos locais de trabalho, moradia e estudo, financiada pelo Estado

Defesa da adoção de filhos por casais homossexuais (mulheres lésbicas)

Direito à saúde, a decidir sobre seu corpo e à sexualidade As mulheres, ao longo da história, têm sido vistas como destinadas a serem mães, como se este fosse o destino

obrigatório delas. Ao mesmo tempo, não são oferecidas as condições adequadas para a maternidade ou para

decidir se querem realmente ter filhos. Nesse sentido, é preciso:

Políticas de saúde pública com atendimento digno e integral às necessidades da mulher em todas as

fases de sua vida e não apenas na fase reprodutiva, que dêem conta de sua diversidade (negra, jovem,

lésbica, idosa, portadora de necessidades especiais)

Educação Sexual nas escolas, de forma laica, e que ajude as mulheres as compreenderem seu corpo e

sua sexualidade

Contraceptivos gratuitos nas Unidades Básicas de Saúde como DIU, pílula anticoncepcional, pílula do

dia seguinte, camisinha feminina e masculina, sem burocracia

Atendimento ao aborto legal (em casos de estupro ou risco de vida da mãe) em todos os hospitais

imediatamente, sem necessidade de apresentação do boletim de ocorrência;

Descriminalização e legalização plena do aborto no país

Direito à livre expressão e manifestação sexual das mulheres, contra a homofobia

Direito à vida e à liberdade sem violência A violência sofrida pelas mulheres faz com que a cada quatro minutos uma mulher seja agredida. O estupro, a

agressão física e psicológica, a tortura e a morte acontecem, em sua maior parte, no interior dos lares. É preciso

combater a violência.

Denúncia e punição dos agressores de mulheres

Imediata construção de casas-abrigo, com orientação e formação profissional e infraestrutura

necessária para abrigar e assistir mulheres e filhos em situação de violência

Implementação dos Centros de Referência da Mulher, financiados pelo Estado, como parte do sistema

de assistência social, visando garantir apoio jurídico e psicológico às mulheres vítimas de violência

Para defender os interesses das mulheres pobres, criação de uma polícia civil unificada com estrutura

interna e democrática, com eleição dos superiores e direito à sindicalização e realização de greves em

defesa de suas reivindicações

Grupos comunitários de autodefesa encarregados de controlar e trabalhar conjuntamente com policiais

nos bairros, subordinados aos conselhos populares de segurança, formados por associações de bairros,

sindicatos, organizações populares e de mulheres. Todos e todas devem receber treinamento militar, de

combate a incêndio, enfermagem e estarem preparados para intervir nas agressões sofridas pelas

mulheres dentro dos lares.

Direito à moradia e à educação

Iluminação pública em todas as ruas

Saneamento básico em todos os bairros

Construção de casas a todas as mulheres que necessitem

Escola pública, financiada pelo Estado, laica e de qualidade

Cotas nas universidades para as mulheres negras

Direito à juventude

Pelo fim da violência contra as mulheres pobres que vivem nas periferias

Pelo fim da exploração sexual e comércio de prostituição de adolescentes

Pelo direito ao estudo e garantias de creches nas escolas e universidades para as estudantes que têm

filhos

Pelo reconhecimento da licença-maternidade pelas escolas e universidades, para que as jovens não

tenham de abandonar os estudos

Direito a participar das decisões políticas A educação opressora em nossa sociedade não estimula a participação das mulheres nas decisões políticas da

sociedade. Apesar de maioria, ainda decidem muito pouco. É preciso radicalizar a democracia e estimular a

participação das mulheres em todos os seguimentos da sociedade.

Criação de uma Secretaria Nacional de Mulheres que vise elaborar políticas para as mulheres

trabalhadoras

Adoção das cotas para participação das mulheres nas eleições burguesas e demais espaços de

representação política da classe

Criação de conselhos populares, no bairros, com a participação das mulheres, de entidades sindicais e

organismos da classe

Pelo direito às organizações de mulheres

Contra o racismo, a homofobia e o machismo A opressão expressa através do racismo, da homofobia e do machismo são elementos que ajudam a sustentar o

capitalismo e sua exploração, e por vezes dividem a classe. Para avançarmos na construção de uma sociedade

socialista, precisamos:

Criar políticas de combate ao racismo, que vitimiza as mulheres negras

Criar políticas de combate e punição à homofobia, que subjuga as mulheres lésbicas

Criar políticas de combate e punição ao machismo que afeta a todas as mulheres, equiparando-as a

cervejas, anúncios de cigarro, propaganda sinônimo de objeto sexual

Pela criminalização do racismo, da homofobia e do machismo

Em defesa da construção de uma sociedade socialista

A libertação das mulheres de sua opressão e exploração só terá fim em uma sociedade sem classes, onde

todos têm os mesmos direitos e deveres. Por isso, a luta não é somente em defesa de uma candidatura dos

trabalhadores, mas principalmente de uma mudança social, na qual as mulheres possam ser parte

constituinte das decisões, junto aos setores explorados e oprimidos. Qualquer outra saída não é capaz de

resolver os problemas das trabalhadoras. Precisamos ter a preocupação de organizar as mulheres para

construir uma sociedade socialista.

Um programa para o meio ambiente

Vivemos em uma barbárie ambiental. A temperatura média do planeta subiu assustadoramente a partir da

Revolução Industrial, levando a alterações climáticas profundas, que, por sua vez, estão causando doenças,

secas, grandes inundações e transformando habitats.

Para o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas da ONU, até o fim deste século a temperatura

média na Terra deve subir entre 1,8º e 4ºC. Se essa elevação atingir 5ºC a Floresta Amazônica pode reduzir-se

em mais de 50%. As emissões de gás carbônico (CO2) são a principal causa do aquecimento global. A região

que mais tem sofrido com o aquecimento é o Ártico. A quantidade de gelo (em extensão e espessura) nesta

região já diminuiu em mais de 42%. O mesmo acontece com as geleiras formadas nas cordilheiras (cadeias de

montanhas) do planeta e com a Antardita. O derretimento do gelo elevará o nível dos oceanos, desalojando

populações moradoras das áreas litorâneas mais baixas, conformando e ampliando os refugiados ambientais.

Por conta deste e de outro fatores inúmeras espécies animais e vegetais estão desaparecendo do planeta: corais,

florestas, mamíferos, peixes e aves, além dos insetos. Um em cada quatro mamíferos corre o risco de extinção,

70% das plantas também estão sob essa ameaça.

Qual a razão de fundo dos problemas ambientais? Por não disporem dos meios de produção, os trabalhadores, para não morrerem de fome, têm de vender sua

força de trabalho e receber em troca apenas uma pequena parte da riqueza por eles produzida. Isso possibilita o

lucro ao capitalista e a miséria para a ampla maioria da população mundial. Ademais, para permanecer no

mercado e aumentar a acumulação de capital, o capitalista tem que inovar sua produção incorporando mais

máquinas e tecnologia (capital constante), que manipulam uma proporção crescente de matérias-primas. A

substituição do homem pela máquina reduz o número de trabalhadores contratados, aumentando o exército

industrial de reserva e a miséria. Com o aumento da miséria a população mais pobre tem que ocupar áreas

impróprias para a sobrevivência humana: lagos, encostas de morros etc.

Para elevar seus lucros, a burguesia aumenta acentuadamente sua produção e faz com que as pessoas consumam

cada dia mais. Por isso, um investimento crescente em propaganda. A busca de lucros crescentes provoca a

universalização acelerada das necessidades, que se traduz em forte consumo e apropriação intensa da natureza,

reduzindo a disponibilidade de recursos naturais, fontes de energia, água e espécies animais e vegetais. O

resultado é a fragilização dos ecossistemas, pois ficam mais homogêneos, perdendo sua riqueza, complexidade

e, por conseguinte, capacidade de proteção e auto-recomposição.

A produção capitalista está sustentada em uma matriz energética resultante da Revolução Industrial da segunda

metade do século XIX, os combustíveis fósseis, petróleo, gás e carvão vegetal. A produção de energia elétrica

mundial se sustenta no carvão vegetal (40,8%), gás natural (20%) e petróleo (5,8%), somando 66,6% de queima

de combustíveis fósseis. Além disso, os automóveis são majoritariamente movidos pelos derivados do petróleo.

A queima desses combustíveis, junto a outras causas, aumenta a temperatura da Terra, provocando o

aquecimento global. Mudar essa matriz implica em enormes custos para estas empresas, além do enfrentamento

com o setor petrolífero. Além disso, seria necessária uma mudança radical no planejamento urbano, onde em

destaque o transporte público teria que ser expandido, modernizado e melhorado para desestimular o transporte

individual – o transporte automotivo é um dos maiores consumidores de combustíveis fósseis (gasolina, óleo

diesel etc.). Evidentemente, isso não seria feito pelas empresas privadas, por isso ele teria que ser estatizado. Os

grandes interesses capitalistas predominam sobre o interesse social e ambiental.

Em resumo, o consumo crescente de mercadorias, estimulado pela acumulação capitalista, faz com que o ritmo

da produção supere em muito o ritmo da natureza em recompor-se. Esta diferença de ritmos gera os problemas

ambientais no capitalismo contemporâneo. Quanto mais intenso o ritmo da apropriação capitalista maior,

inclusive, a possibilidade de acidentes com grandes proporções de danos ambientais. Em 20 de abril deste ano,

uma plataforma de petróleo da British Petroleum explodiu no Golfo do México, causando o maior

derramamento de petróleo do mundo. Até hoje o petróleo continua sendo despejado no oceano, comprometendo

todo o ecossistema da região.

Mas não é apenas a natureza em si que sofre. A burguesia saqueia não apenas o meio ambiente como também

seu principal componente, o trabalhador. É por isso 862 milhões de pessoas passam fome constantemente,

aumentando a dois bilhões durante as crises econômicas. Assim como animais e plantas, a vida humana está em

risco. Comunidades inteiras vivem à beira da extinção: índios, esquimós, tribos africanas, comunidades

tradicionais, etc: são os refugiados do capitalismo e dos problemas ambientais.

Desenvolvimento sustentável só com o socialismo! Dezenas de encontros internacionais já se realizaram. O Protocolo de Kyoto (1997) foi firmado objetivando

reduzir a emissão de gases poluentes. Propostas e acordos totalmente insuficientes para resolver o desequilíbrio

ecológico mundial. Kyoto sequer foi aceito pelos Estados Unidos, nação que consome 25% do petróleo mundial

e emite mais de 30% de todo o carbono despejado na atmosfera. O maior encontro de chefes de Estados para

debater os problemas ambientais, a Conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas, COP-15 (2009), ocorrida

na Dinamarca, acabou em fracasso, por que EUA e outros importantes governos se negaram a firmar um acordo

internacional substituindo o Protocolo de Kyoto que expirará em 2012. Em comum, havia o discurso sobre a

falta de recursos monetários por causa da crise econômica.

Até o início de 2010, mais de US$ 24 trilhões de recursos públicos foram injetados no sistema financeiro e em

grandes empresas para evitar que quebrassem em decorrência da crise que eles mesmos produziram. Para o

capital há urgência, para os demais problemas não. Como encarar esta questão então? Com propostas de

desenvolvimento sustentável? Não, até porque o capitalismo já provou que é insustentável ecológico e

socialmente. Neste sentido, não nos satisfaz fazer a defesa da preservação pela preservação. O apelo pela

proteção de uma espécie vegetal ou animal perde o sentido se não tomarmos como central a necessidade da

solidariedade com os trabalhadores que sofrem e são explorados e vivem na miséria mundo afora.

Mais de dois bilhões de pessoas moram em favelas, três bilhões vivem na pobreza. 80% das doenças em países

subdesenvolvidos relacionam-se à qualidade da água, provocando 3 milhões de morte ao dia. De acordo com o

Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), menos da metade da população mundial tem acesso à esgoto

sanitário e água potável. Segundo estimativas do Water Magenement Institute, em 2025 um total de 1,8 bilhões

de pessoas viverão em absoluta falta d‟água no mundo.

A fome mata mais de 25 mil pessoas a cada dia no mundo. Para a Organização das Nações Unidas para

Alimentação e Agricultura (FAO), US$ 30 bilhões anuais seria o investimento necessário para evitar conflitos

futuros em torno de alimentos. Isso levaria alimentos a quase 900 milhões de pessoas.

Estima-se também que US$ 1,3 trilhão seria suficiente para proteger os mais importantes ecossistemas mundiais

pelos próximos 30 anos. Segundo o relatório da Agência Internacional de Energia, a redução à metade das

emissões mundiais do gás carbônico exigira um investimento de US$ 45 trilhões até 2050, ou seja, US$ 1,1

trilhão por ano. Para a organização Clean Energy, a mudança da matriz de geração de energia elátrica

sustentada no carvão e petróleo demandaria um total de recursos de US$ 4,4 trilhões distribuídos durante 22

anos. Muito? Depende. Comparemos com o interesse social e o volume gasto para salvar os bancos.

A problemática ambiental também está relacionada com a distribuição de riqueza no mundo. Na África a média

de consumo diário de água fica entre 10 a 15 litros. Em Nova Iorque este número cresce para 2 mil litros.

Segundo Paulo Nogueira Neto, ex-secretário nacional do meio ambinente do Brasil, se o padrão de consumo

dos EUA fosse estendido aos 7 bilhões de habitantes do planeta, faltaria energia e alimentação. De acordo com

o relatório da ONG WWF (2008), mantido o atual nível de consumo e degradação ambiental os recursos

naturais do planeta entrarão em colapso já a partir de 2030.

O resultado da excessiva dominância econômica sobre a natureza é a aceleração das catastrofes ambientais.

Aproximadamente 90% das vítimas destes desastres vivem em países subdesenvolvidos. Estes fenômenos estão

cada vez mais relacionados à produção do lucro capitalista dominado pelas nações imperialistas. Mas os

diversos governos e países imperialistas culpam a natureza ou mesmo a população afetada. No Haiti o terremoto

que matou mais de 200 mil pessoas foi tido como produto de uma praga de deus. A realidade é que o enorme

número de mortos foi decorrente das sucessivas politicas de ocupação militar e saque daquele país que fizeram

com que a população passasse a viver nas piores condições possíveis, ficando mais vulnerável ao terremoto. No

Rio de Janeiro neste ano uma forte chuva provocou a morte de centenas de pessoas. Imprensa e governo

culparam os mortos por terem ocupado as encostas dos morros, tirando as responsabilidades dos verdadeiros

culpados que não investem em moradia decente para a população pobre, que é obrigada a optar entre morar em

favelas ou na rua.

Muitas alternativas estão sendo propostas. Algumas, diferentemente do discurso apresentado, trazem muitos

problemas. O etanol, produzido a partir da cana de açucar e outros produtos, além de queimar grandes volumes

das sobras (folhas e restos vegetais), provocando também aquecimento, ainda gera problemas sociais em

decorrência da enorme exploração dos trabalhadores empregados nesta produção. Ele se tornou mais uma fonte

de enriquecimento aos donos do agronegócio. As hidréletricas desalojam populações inteiras, inudam milhares

de hectares de florestas (matando a biodiversidade presente) e, ainda que menores, emitem gases que provocam

o efeito estufa. Dependendo do projeto e da área inudada, uma hidrelétrica pode ser muito degradadora. É o

caso da hidrelétrica de Balbina no Amazonas, que emite mais carbono que um usina termelétrica (que consume

diesel).

Não basta buscar “tecnologias limpas”, sem discutir quem controla as tecnologias e os meios de produção. As

ações pontuais e localizadas são insuficientes para resolver os problemas ambientais. Isso significa que o PSTU

é contra as pessoas buscarem mercadorias menos degradantes da natureza? Que somos contra a coleta seletiva

do lixo? Que substituamos as sacolas plásticas por outras sacolas nas compras de supermercados? Não. Apenas

temos claro que essas atitudes, ainda que louváveis, não resolverão nossos problemas.

Ademais, reformas parciais são totalmente insuficientes, mesmo do ponto de vista ambiental. A catástrofe do

meio ambiente e social não será detida por propostas de um “capitalismo ecológico”, com rosto humano como

propõe Marina Silva no Brasil. O sistema não pode superar a crise que provocou, pois isso significaria colocar

limites à acumulação capitalista. É preciso travar uma luta sem tréguas contra o capital e as nações

imperialistas. Para deter a destruição ecológica, faz-se necessário construir um programa socialista de defesa do

meio ambiente, tomando o trabalhador como central, mas numa relação não conflituosa com a natureza.

O dilema entre socialismo ou barbárie vale também para a problemática ambiental. O fim da exploração

irracional dos recursos do planeta só pode ser alcançado por um mundo socialista, baseado na propriedade

social dos meios de produção e no planejamento econômico estatal que garanta a racionalização da exploração

dos recursos do planeta. Evidentemente, nosso modelo não pode ser aquele aplicado pelas ditaduras estalinistas

no Leste Europeu que destruíram a natureza tanto quando os países capitalistas.

A revolução socialista não é nossa única possibilidade, mas é a chance de salvar a vida humana e o meio

ambiente. Mais do que isso: a mundialização da problemática ambiental exige uma resposta à altura: revolução

socialista mundial. A permanência do capitalismo em qualquer parte do planeta significa a continuidade das

ameaças ao meio ambiente e à vida humana.

Programa ecológico classista Antes de elaborar qualquer ação ou programa ambiental, afirmamos que a luta ambiental deve se juntar às

demais lutas dos trabalhadores. Ela deve ser parte ativa do movimento classista, cuja tarefa básica é garantir o

livre acesso dos recursos naturais às pessoas que deles necessitam para viver dignamente.

Propomos:

Imediata aprovação de um tratado de redução significativa da emissão dos gases de efeito estufa.

Sanções econômicas e políticas àqueles que se negarem a assinar.

Mudança progressiva e acelerada da matriz energética, substituindo os combustíveis fósseis por fontes

alternativas. Essa nova matriz deve ser financiada e controlada pelo Estado.

Transporte público estatal, eficiente, moderno e barato à população, utilizando combustíveis menos

degradantes da natureza.

Reforma urbana e planejamento urbano para acabar com a especulação imobiliária e melhorar as

condições sociais e ambientais das cidades.

Não às compensações ambientais, que permitem que empresas continuem poluindo desde que criem

ações que compensem essa poluição (o que na realidade não acontece).

Defender a Amazônia e os ecossistemas brasileiros No Brasil, a riquíssima floresta que cobria a grande maioria de seu litoral, a Mata Atlântica, está quase

desaparecida: 93% já foi devastada. Processo que também ocorre com a caatinga e com o bioma dos pampas

gaúchos. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, 80% de um bioma muito rico, o cerrado brasileiro, já foi

alterado pela atividade humana. Apenas 1% deste bioma conta com unidades de proteção integral. É neste

ecossistema que mais cresce o agronegócio.

É possível haver desenvolvimento sustentável no capitalismo como propõe Marina Silva ou mesmo cinicamente

Dilma Rouseff e José Serra? Mais que isso, pode haver solidariedade verdadeira entre países imperialistas e

subdesenvolvidos, como propõe Lula e o PT? Respondamos essas questões visualizando os interesses em torno

da Floresta Amazônica.

A Amazônia Legal brasileira corresponde 61% do território nacional, possui a maior bacia de água doce do

planeta, um recurso cada vez mais escasso e que, segundo a ONU, será a principal fonte de conflitos mundiais

nas próximas décadas. Além disso, região também é a principal reserva biogenética do mundo e também conta

com a maior província mineral da Terra: Carajás, dispondo de ferro, cobre, manganês, ouro e etc. Estes são os

motivos principais da “preocupação” dos governos imperialista com a Amazônia. Al Gore, vice-presidente dos

EUA no governo Clinton e prêmio Nobel da Paz por ter financiado um documentário sobre o meio ambiente,

afirmou que “ao contrário do que pensam os brasileiros, a Amazônia pertence a todos nós”. Já o jornal inglês

“The Indepedent “ afirmou que a Amazônia “é muito importante para ser deixada com os brasileiros”.

De FHC/Serra a Lula/Dilma: continuísmo e entreguismo Na Amazônia, uma área equivalente ao território francês já foi desmatada. Alguns cientistas acreditam que

neste ritmo a floresta pode desaparecer em 30 ou 40 anos. O relatório do Sistema de Detecção de

Desmatamento em Tempo Real (Deter) constatou que entre novembro de 2008 e janeiro de 2009 a Amazônia

perdeu 754 km² em desmatamento, o que corresponde a metade do município de São Paulo.

Durante o governo FHC, do qual José Serra foi um dos principais ministros, aprovou-se uma série de reformas

neoliberais que aprofundaram o saque internacional das riquezas naturais do Brasil e da Amazônia em

particular. Citamos duas. A primeira foi o fim do monopólio brasileiro sobre o subsolo nacional, ampliando do

domínio das multinacionais na exploração de nossos minerais.

A segunda foi a Lei das Patentes. Com ela, se quisermos produzir determinado produto patenteado (registrado)

por uma multinacional teremos que pagar a mesma (royalty), ainda que não utilizemos nenhum recurso dela.

Deste modo, se os recursos da biotecnologia da Amazônia forem patenteados por empresas estrangeiras teremos

que pagar por sua utilização. Pensando nisso, elas já patentearam o açaí e o cupuaçu, frutas amazônicas. Essas

patentes originarão processos jurídicos internacionais para sua derrubada. As multinacionais estão se

apropriando do conhecimento das populações. Com isso, uma planta usada para combater a dor é levada a

laboratório, separada sua substância ativa nesse uso, e registrada. Feito isso, a população a multinacional pode,

inclusive, cobrar pela utilização da planta para aquele fim específico. Isso é biopirataria.

Ainda com FHC foi aprovada a Lei Kandir que exonera do ICMS a exportação mineral brasileira, tornando

estes produtos mais baratos para as multinacionais e aumentando sua exportação. O resultado foi o saque a

arrecadação pública e o aumento da exploração mineral na Amazônia. Nossas riquezas estão sendo vendidas a

preços de banana.

Não bastasse o entreguismo até aí, FHC contratou uma empresa estadunidense, a Raytheon Company, por R$

1,4 bilhão para montar um Serviço de Vigilância da Amazônia (SIVAM). Recorrendo a satélites, aeronaves e

etc., a empresa, entre outros, faz o levantamento de nossas riquezas. Foi por isso que parte dos recursos ao

projeto foi emprestada pela própria Raytheon e pelo Exibank.

Com a eleição de Lula se alimentou a expectativa de isso tudo iria mudar, mas não foi o que aconteceu. O

presidente não apenas não reestatizou a Vale do Rio Doce como injetou dinheiro público numa empresa que

hoje conta com a maior parte de seu capital nas mãos estrangeiras. Em 2008 o BNDES abriu a maior linha de

crédito de sua história para uma única empresa: mais de R$ 7 bilhões para a Vale intensificar a extração de

riquezas e comprar outros empreendimentos no exterior.

Além disso, Lula não mexeu no SIVAM, na lei de patentes e em outros mecanismos que mantêm o saque sobre

as riquezas minerais e florestais da Amazônia. Nossos minérios continuam indo para os países imperialistas,

assim como a madeira nobre extraída da floresta. Sob os olhos do governo permanece o desmatamento.

Enquanto o governo sucateia o Ibama e outros órgãos de fiscalização e pesquisa o que se vê é aumento do

contrabando de sua riqueza biogenética, mineral (denuncia-se contrabando de urânio do Amapá) e até mesmo

de água, pois há notícias de que navios cargueiros ao desembarcar suas mercadorias na região retornam aos seus

países de origem cheios de água do Amazonas.

As grandes multinacionais da mineração estão explorando em ritmo assustador as imensas reservas minerais da

região e os principais laboratórios farmacêuticos mundiais extraem a biodiversidade amazônica para produzir

seus produtos. Apesar do discurso contra o desmatamento, o governo do PT continua apoiando financeiramente

o agronegócio e as multinacionais mineradoras.

Buscando impulsionar mais a produção mineral na Amazônia e diminuir o custo energético de grandes

empresas instaladas em outras regiões, o governo petista objetiva construir dezenas de mega-hidrelétricas nos

rios amazônicos, algumas já em implementação como é o caso das localizadas no rio Madeira (Rondônia) e a

hidrelétrica de Belo Monte (rio Xingu, Pará), cujas estimativas de custo da construção chegam a R$ 30 bilhões

– é a farra das construtoras. Além disso, no PAC 2, o governo anunciou a construção de 5 hidrelétricas apenas

no rio Tapajós. Na prática, a região vai se tornar uma colônia energético-mineral. O problema é que os rios

amazônicos distribuem-se numa planície, de modo que o barramento dos mesmos provoca imenso alagamento

florestal, destruindo significativa riqueza natural e expulsando diversas populações tradicionais da área afetada,

como é o caso dos índios do Xingu.

Especialistas têm afirmado que um investimento nas atuais hidrelétricas existentes, fazendo sua repontenciação

e modernizando a transmissão, seria suficiente para alcançar os objetivos de ampliação da capacidade

energética que o governo planeja alcançar com a construção das novas hidrelétricas. A diferença é que o custo,

comparado a construção de novas usinas, seria algo em torno de 1/3 do que o governo hoje estima gastar.

Lula segue o mesmo modelo de FHC e mesmo dos governos militares. A hidrelétrica de Tucuruí foi construída

durante a ditadura militar para gerar energia elétrica para que duas empresas transformassem a bauxita, extraída

na Amazônia, em alumínio, eram elas a Albras-Alunorte (Vale do Rio Doce), no Pará, e a Alcoa-Billington no

Maranhão. Até pouco tempo, ainda no atual governo petista, elas recebiam energia subsidiada, cujos subsídios

totalizavam US$ 200 milhões por ano.

Política do governo a serviço do latifúndio e do agronegócio A balança comercial brasileira tem se sustentado na exportação de minérios e do agronegócio. É por isso que o

governo tem agraciado este setor com créditos a juros baixíssimos. Como esta produção está voltada para o

mercado internacional, quanto maior a demanda externa, maior o preço destas mercadorias dentro do Brasil. É

por isso que o preço da carne bovina e das aves só cai quando Europa ou um outro grande país resolve

suspender a compra destes produtos brasileiros. Além disso, o cultivo do agronegócio é feito com a utilização

de uma alta quantidade de agrotóxicos e outros produtos que contaminam o solo e os lençóis freáticos.

As atividades que mais desmatam são aquelas relacionadas com pecuária, soja e madeireiras. Elas têm avançado

muito. Em São Félix do Xingu, Sul do Pará, havia 30 mil cabeças de gado em 1997. Em 2007 este rebanho

saltou para 1,7 milhões de bois. Nesse ano o rebanho bovino na Amazônia Legal totalizou 70.158.241 cabeças,

são mais de três bois para cada habitante.

O aumento das exportações de soja, estimulado pelo governo brasileiro, têm produzido uma corrida por novas

terras, de modo que o agronegócio tem avanço do Mato Grosso para o Pará e Rondônia, particularmente no

sentido da BR 163 (Santarém-Cuiabá). Qual o destino dessa produção? O gado amazônico, além de abastecer o

mercado regional, também é vendido para o Sul-Sudeste do Brasil e para o exterior. A soja plantada no norte do

Mato Grosso, Rondônia e no Pará via para a China e para a Europa, onde serve de ração para o gado.

A política do governo Lula é consolidar a posição do Brasil como maior exportador de carnes do mundo. Em

função disso, em 2008, de toda a linha de crédito industrial do BNDES, metade foi destinada a financiar os

grandes frigoríficos brasileiros, entre eles o JBS Friboi, o maior do mundo. Estes frigoríficos já estão instalados

na Amazônia, principalmente no Mato Grosso e no Pará.

O aumento do rebanho bovino na região, fortemente estimulada com recursos públicos desde os governos

militares e mantida no governo petista, derruba a floresta para formar pastos. Em 2006 a Amazônia contava

61.602.240 hectares ocupados com pastagens.

Daniel Dantas, o banqueiro megaespeculador, envolvido em diversas denúncias de negócios fraudulentos,

inclusive de financiamento de campanhas eleitorais governistas e tucanas, tem compradas dezenas de fazendas

na Amazônia. Para algumas pessoas elas servem como um esquema de lavagem de dinheiro: com o dinheiro

ilícito compra-se terras e gado. A venda do rebanho limpa contabilmente o dinheiro sujo. Além disso, no Pará

estas terras estão localizadas na região de maior incidência de descobertas minerais.

Por conta da legislação brasileiras, as propriedades na floresta amazônica podem derrubar apenas 20% da mata,

80% tem que ficar como reserva legal. Os proprietários que desmataram mais do que isso deverão recompor o

excedente destruído. O governo paraense (Ana Júlia – PT), com apoio federal, está propondo que esta

recomposição seja feita com espécies florestais não amazônicas: Eucalipto e Dendê, para exploração comercial.

Defende, inclusive, que isso seja feito com financiamento público. O que se propõe não é a recomposição da

floresta, mas a abertura de uma nova frente de exploração ao agronegócio.

No ano passado, Lula editou a medida provisória 458 (MP da grilagem), regularizando 400 mil propriedades

irregulares na Amazônia com até 1.500 hectares. Isso corresponde a 67,4 milhões de hectares de terras públicas

da União, avaliados em R$ 70 bilhões. Rapidamente aprovada no Congresso Nacional ela foi festejada pela

bancada ruralista. Agora, seguindo os interesses dos latifundiários, Aldo Rebelo (PCdoB) propõem a revisão do

Código Florestal Brasileiro, para flexibilizar a legislação ambiental, ceder ainda mais florestas nacionais à

exploração do grande capital nacional e internacional e ampliar a área legal a ser desmatada na Amazônia.

O mesmo empenho governamental não ocorre quando o interesse é dos trabalhadores. É o que acontece com a

impunidade no campo. Entre 1982 e 2008 foram assassinados 687 trabalhadores rurais no Pará, dos quais

apenas 33,6% deram origem a inquéritos. Também nesse ano o estado paraense concentrou 46,4% do total de

assassinatos no país. Afora isso, entre 1995 e setembro de 2008 foram libertados 20.438 trabalhadores em

situação de escravidão na Amazônia Legal (sem contar dados do Amapá e Roraima).

Marina Silva: discurso verde, programa de direita

Seguindo lógica do lucro e diante do apelo ambiental que envolve um grande número de pessoas, diversas

empresas e bancos adotam o discurso do desenvolvimento sustentável e até realizam algumas ações de proteção

ambiental, para o qual contam o apoio de centenas de ONGs. A questão é que fazem isso, buscando

consumidores que têm a preocupação de preservar a natureza.

Os investimentos nestas ações são insignificantes perto do capital destas empresas, demonstrando que não

passam de campanha de markentig. Outras, usando o discurso da responsabilidade ambiental, contratam

populações tradicionais para coletarem produtos das florestas que servem de matérias-primas para suas

mercadorias. Pagam um preço irrisório e ganham muito ao transformá-los em cosméticos, remédios, etc. É o

caso da Natura, cujo principal executivo é o atual candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva (PV).

Para nós, do PSTU, o desenvolvimento sustentável não pode ser obtido defendendo uma programa que

responda aos interesses dos grandes capitais. Lucro e responsabilidade socioambiental são coisas que não

andam juntas. A proposta de desenvolvimento sustentável de Marina Silva não se sustenta. Mas isso sequer é

uma novidade. Sua gestão à frente do Ministério do Meio Ambiente foi marcada por episódios perversos no

tocante a questão ambiental.

A atual candidata do PV não se contrapôs ao programa de governo de Lula, justamente aquele que privilegiou o

grande capital, o agronegócio e manteve a exploração dos trabalhadores a favor dos lucros da burguesia

nacional e internacional. Em plena campanha presidencial, Marina ainda consegue reivindicar o programa de

Lula e até mesmo o de FHC, exaltando seus avanços.

Enquanto era ministra, a Amazônia registrou recordes de desmatamento e formação de pastagens, houve a

concessão de florestas nacionais para o grande capital privado, que, independente de sua origem, pode extrair

madeira e outros recursos da biodiversidade pagando o mínimo por este privilégio. Ademais, as reservas

ambientais existentes ou criadas em muitos casos existem apenas no papel, pois não contam com recursos e

fiscalização.

Aceitando a pressão do agronegócio e das multinacionais o Ministério do Meio Ambiente e o governo Lula

liberaram a produção de trangênicos no Brasil, o que pode trazer danos irreparáveis aos meio ambiente e à

saúde humana, pois eles são produtos de manipulação genética e, na ampla maioria, não existe pesquisas

confiáveis sobre os efeitos de seu consumo.

Também em seu mandato aprovou-se e se iniciou a transposição do rio São Francisco. As inúmeras

manifestações contrárias de ecologistas e movimentos sociais não foram suficientes para sensibilizar a então

responsável pela pasta ambiental do governo Lula. A obra, orçada em R$ 4,5 bilhões, pode alcançar R$ 20

bilhões e responde, antes de tudo, aos interesses dos latifundiários e do agronegócio, irrigando as grandes

plantações frutíferas e de produção de “biocombustíveis”.

Cortando o semiárido nordestino, a transposição do rio São Francisco trará impactos sobre populações

tradicionais, algumas provavelmente sendo expulsas pelo latifúndio. Pode ocorrer, ainda, erosão e a

fragmentação de áreas de vegetação nativa e de ecossistemas locais.

Por fim, a trajetória do PV não nos leva a gerar expectativas em torno de um verdadeiro e coerente programa

ambiental. No Rio de Janeiro vive de namoros com o Democratas, partido herdeiro da ditadura militar. César

Maia, então prefeito carioca, apoiou publicamente Fernando Gabeira (PV) na última disputa pela prefeitura da

cidade. No Pará o PSDB se manteve 12 anos seguidos à frente do governo estadual, período em que contou com

o apoio e participação direta do PV, inclusive durante o massacre dos trabalhadores e na implementação da

política da política que estimulou o agronegócio a avançar sobre a floresta.

NOSSAS PROPOSTAS

Defesa da Amazônia, junto aos demais países amazônicos. Não aceitamos nenhuma interferência

imperialista.

Defesa do cerrado e dos outros ecossistemas brasileiros.

Fim da Lei Kandir. Reestatização da Companhia Vale do Rio Doce. Estabelecimento do monopólio da

União sobre a exploração econômica de recursos florestais e minerais.

Fim do contrato com a Raytheon.

Fim da Lei de Patentes. Abaixo a biopirataria.

Não à construção de Belo Monte e outras grandes hidrelétricas na Amazônia.

Não à transposição do rio São Francisco.

Remanejamento das populações que moram em áreas de risco e de preservação permanente,

expropriando terras e terrenos urbanos, para assentá-las em habitações com infraestrutura digna.

Suspensão do cultivo e comercialização de produtos trangênicos.

Repudiamos a lei nº 9.433/97 em seu artigo 1º que estabelece que a “água é um recurso com valor

econômico”, colocando-a, assim, nas possibilidades de exploração pelo grande capital.

Criação de um novo sistema de licenciamento ambiental, onde toda e qualquer obra que possa causar

grandes alterações físicas, químicas e/ou biológicas no meio ambiente, bem como afetar a vida e a

cultura das comunidades, devam ser aprovadas pelas mesmas, após a análise técnica e científica do

projeto. Atualmente, a participação popular é meramente consultiva.

Revogação de todas as concessões e outorgas para a exploração econômica de fontes de água potável.

Estatização, sob o controle dos trabalhadores, dos sistemas de captação, engarrafamento e distribuição.

Redução dos limites de tolerância para lançamento de efluentes em corpos d‟água, visando a

preservação dos ecossistemas e, consequentemente, da vida e saúde humanas.

Imediata criação do “COPAM – Conselho Popular Ambiental”, um órgão de participação popular

direta, com membros eleitos pela população, com poder para destituí-los a qualquer momento. Esse

órgão será responsável por avaliar e deliberar sobre todas as questões ambientais do país, com poder de

veto a qualquer empreendimento que possa comprometer recursos naturais ou o livre acesso aos

mesmos.