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  • Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009,

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    O BRASIL NO MERCADO INTERNACIONAL DE LEITE EM P: PADRO, CRIAO E DESVIO DE COMRCIO NO MERCOSUL

    [email protected]

    Apresentao Oral-Comrcio Internacional CLAUDIA MARA OLIVEIRA; BARBARA FRANOISE CARDOSO; VIVIANI SILVA

    LRIO; ANTNIO CARLOS MIRANDA. UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIOSA, VIOSA - MG - BRASIL.

    O BRASIL NO MERCADO INTERNACIONAL DE LEITE EM P: PADRO, CRIAO E DESVIO DE COMRCIO NO MERCOSUL

    Grupo de Pesquisa: Comrcio Internacional. Resumo: A participao brasileira no mercado internacional de leite em p sempre foi a de um grande comprador. Mesmo considerando a importncia da atividade para a estrutura agrria nacional e o grande potencia produtivo, diferentes aspectos comerciais e tecnolgicos limitavam o aumento significativo da competitividade nacional nesse setor. Atualmente, a evoluo de uma base produtiva mais eficiente, aliada consolidao de um parque agroindustrial especializado, favoreceu a modificao do padro da insero brasileira no mercado internacional de leite em p, passando o Brasil a figurar como exportador lquido do produto. No caso do MERCOSUL, os efeitos de sua criao foram sentidos, desde o incio, pelos agentes da cadeia produtiva do leite no Brasil. As diferenas tecnolgicas e de custos de produo fomentaram a mudana nas estratgias domsticas e construram, aos poucos, novas possibilidades de expanso das vendas externas para os pases membros do bloco. Na inteno de melhor compreender essa realidade os objetivos dessa pesquisa foram, de forma seqenciada: analisar a evoluo e o perfil da insero brasileira no mercado (global e regional) de leite em p, e avaliar a criao e o desvio de comrcio existente. Utilizando como instrumentos de anlise dois indicadores Grubel e Lloyd e Criao e Desvio de Comrcio foi possvel avaliar as dimenses pretendidas. Concluiu-se, em sntese: a) pela constatao do ano de 2000 como ponto de inflexo da insero do Brasil (de importador a exportador lquido de leite em p); b) pela identificao de predomnio de comrcio inter-industrial, no mbito do MERCOSUL; e, pela predominncia do desvio de comrcio sobre a criao de comrcio, exceo dos ltimos quatro anos da anlise. Palavras-chave: criao e desvio de comrcio, comrcio inter-regional, comrcio intra-regional, leite em p, MERCOSUL Abstract:

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    The Brazilian participation in the international market for milk powder was always a big buyer. Currently, the development of a more efficient production base, combined with the consolidation of an agroindustrial park specialist, helped to change the pattern of insertion in the international market for Brazilian milk powder, through Brazil to appear as a net exporter of the product. In the case of MERCOSUR, the effects of its creation were felt from the beginning, by the chain of milk production in Brazil. The technological differences in production costs and bring about change in the domestic strategies and built, little by little, new opportunities for expansion of foreign sales for member countries of the bloc. In order to better understand this reality the objectives of this research were, in sequence: to analyze the evolution and profile of the Brazilian market integration (global and regional) of milk powder, and evaluate the trade creation and diversion of existing. Using as instruments of analysis two indicators - Grubel and Lloyd and Creation and Diversion of Trade - was to assess the dimensions required. It was, in short: a) the finding of 2000 as a point of inflection of the insertion of Brazil (the importer to net exporter of milk powder), b) identification of the predominance of trade inter-industrial within the MERCOSUR; and the predominance of the diversion of trade on the establishment of trade, with the exception of the last four years of analysis. Keywords: creation and diversion of trade, inter-regional trade, intra-regional trade, milk powder, MERCOSUR.

    1. INTRODUO

    As transaes comerciais externas sempre constituram, em maior ou menor grau, importante fator no desenvolvimento das naes. Seguindo a lgica do aprofundamento das regras comerciais e das exigncias do intercmbio no mercado internacional, o formato dos padres de comrcio modificou-se ao longo do tempo, tendo sido construda uma ampla gama de possibilidades para os arranjos comerciais entre os diferentes pases.

    Nesse sentido, e, sobretudo, a partir do perodo posterior Segunda Guerra Mundial, houve significativo aumento das intenes de integrao econmica, com a crescente realizao de acordos comerciais. Nesse ambiente, a Europa, principal modelo de integrao, j quela poca (fins da dcada de 1940) tomava decises conjuntas importantes acerca dos padres e regras estruturais de comrcio externo.

    Esse processo pressionou, em certa medida, os pases da Amrica Latina a se unirem em busca de aes coletivas e de fortalecimento comercial. Como resultado, emergiu a Associao Latino-Americana de Livre Comrcio (ALALC) em 1960, tendo como pases membros a Argentina, o Brasil, o Chile, o Mxico, o Paraguai, o Peru, e o Uruguai. Apesar do esforo intentado, esta foi uma tentativa relativamente frustrada de integrao. Apesar dos avanos de comunicao e do crescimento do fluxo de mercadorias, os intentos do bloco no foram plenamente alcanados, sobretudo em termos do cumprimento dos prazos para o aprofundamento das relaes comerciais dos pases do grupo.

    Mantendo as atenes para a necessidade de aglutinar esforos comuns, em sequncia ALALC foi criada a Associao Latino-Americana de Integrao (ALADI), que expandiu a lista dos pases com a entrada da Bolvia, Colmbia, Equador e Venezuela. Esta estrutura, ainda que com pequenos ajustes, permaneceu at 1999, quando Cuba passou a integrar o conjunto de naes signatrias. Os passos seguintes culminaram na percepo

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    de que a integrao, para fazer valer o aspecto da representatividade e da fora conjugada, precisaria ser mais profunda. Assim, para a criao de um espao ainda mais coeso, embora mais restrito do ponto de vista numrico, foi pensado, estruturado e efetivamente constitudo o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL).

    Desde ento, foram vrios os esforos analticos acerca dos efeitos dessa parceria para os diferentes pases envolvidos, e mesmo para os adjacentes ao processo. No caso especfico do Brasil, diferentes autores destacaram os benefcios do processo, identificando a deciso de integrar-se como muito vantajosa, principalmente ao longo dcada de 1990. Segundo Gonalves (2000, pg. 3), um dos defensores do processo, poca de sua constituio, a criao do MERCOSUL representou um ganho de cinco pontos de centsimo de percentagem no comrcio mundial e, portanto, funcionou como um freio queda de competitividade internacional do Brasil.

    De acordo com Lirio e Campos (2004), outra grande vantagem que o MERCOSUL representou para o mercado nacional derivou da possibilidade de crescimento na produo e exportao de produtos beneficiados, com maior valor agregado. Apesar de tratar-se de mercado em incio de estruturao, em virtude dos grandes desafios de harmonizao macroeconmica e de estabilidade poltica entre os pases membros, aps um perodo de retrao, as expectativas voltaram a configurarem-se otimistas

    Especificamente sobre a questo das exportaes de manufaturados, Jos Augusto de Castro, vice-presidente da Associao de Comrcio Exterior do Brasil (AEB, 2008), ressalta que as vantagens de operar em mercados consumidores com foco em produtos de maior valor agregado, deriva do fato de os mesmos possurem forte efeito multiplicador, no produto, no emprego e na renda. Para ter-se idia da importncia dessas vendas externas, segundo dados da AEB (2008), a cada US$ 1 bilho de manufaturados exportados eram gerados 50 mil empregos; no caso dos produtos bsicos, esse nmero no passa de 20 mil.

    Entretanto, os desafios do MERCOSUL, hoje, extrapolam as questes setoriais ou de perfil de produto transacionado. Apesar do avano dos fluxos de produtos e servios, a partir do final da dcada de 1990, o bloco passou por vrios problemas, sobretudo em decorrncia de crises internas aos pases membros.

    Nesse sentido, talvez o caso mais emblemtico seja o da Argentina. Em 1995, o pas sofreu significativo abalo devido aos efeitos da crise Mexicana. Em seguida, quando estava se recuperando, j no ano de 1997, os pases asiticos criaram instabilidades que acentuaram, ainda mais, a crise do pas. Para o Brasil, os efeitos da crise argentina no comrcio foram graves, e se acentuam pelo fato de aquele pas, principal parceiro comercial do bloco, ser grandemente dependente dos Estados Unidos.

    Para ter-se exemplo das dificuldades de autonomia enfrentadas, sobretudo em relao aos norte-americanos, cite-se que em meados de 2001, a Argentina, apesar de ter feito acordo com os demais participantes do MERCOSUL de que s entraria no proposto Acordo de Livre Comrcio das Amricas (ALCA) como bloco, terminou por assinar individualmente o Acordo. Esse procedimento, compreendido como quebra de acordo entre as partes, foi entendido, segundo diferentes autores e especialistas, como responsvel pela quase desintegrao do MERCOSUL.

    Apesar da melhoria relativa das questes macroeconmicas especficas, se comparado ao auge da crise Argentina, os demais pases pertencentes ao bloco se encontram, ainda hoje, com diferentes problemas de ordem poltica e econmica. A prpria

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    crise internacional, de ao mais fortemente percebida a partir da segunda metade do an