o brasil em marcha: a visita de getúlio vargas a capital de mato

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O Brasil em Marcha: a visita de Getúlio Vargas a capital de Mato Grosso, imagens e representações Jéssica Santos Costa (UFMT/bolsista Fapemat) A República Federativa do Brasil, instaurada por um golpe militar em 1889, completará seus 120 anos de existência no corrente ano de 2009. No decorrer deste “breve” tempo histórico, a república, longe de constituir um regime marcado pela paz e harmonia social, foi palco de atuação de revoltas, “revoluções”, contra-revoluções, golpes e ditaduras, onde a multiplicidade de cenários políticos, culturais e sociais viriam compor a “trama” republicana. O presente estudo, embora não pretenda discutir o regime republicano, vem resgatar uma pequena porção singular dessa história, ao trazer considerações sobre o programa de Integração Nacional de Getúlio Vargas, durante o “Estado Novo”, à luz do diálogo com fontes iconográficas específicas que retratam a primeira visita presidencial á Cuiabá, no ano de 1941. Já no século XX, nos anos anteriores à subida de Getúlio Vargas ao poder, a política nacional constituía um reflexo de domínios oligárquicos regionais, onde as lutas pelo poder entre estados economicamente fortes, tais como Minas Gerais, São Paulo e Rio de janeiro, acabavam por decidir os destinos do Brasil e normalmente deixavam à margem das preocupações o restante do país. No campo econômico, a produção cafeeira, principal produto de exportação, seria gravemente abalada pela crise de 1929 o que viria a mudar os rumos não só da economia como também da política nacional. Nesse contexto, entra em cena em 1930, após uma campanha acirrada pela sucessão presidência, o golpe que levaria o candidato da Aliança Liberal, Getúlio Vargas ao poder. Este episódio ficou conhecido como “Revolução de 1930”; embora haja muita discussão entre os historiadores acerca da precisão desta definição, portanto, sobre o caráter revolucionário do movimento que levara Getúlio Vargas ao poder, ela será utilizada, pois não nos caberia discuti-la nesse texto.

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O Brasil em Marcha: a visita de Getúlio Vargas a capital de Mato Grosso, imagens e representações

Jéssica Santos Costa (UFMT/bolsista Fapemat)

A República Federativa do Brasil, instaurada por um golpe militar em 1889,

completará seus 120 anos de existência no corrente ano de 2009. No decorrer deste “breve”

tempo histórico, a república, longe de constituir um regime marcado pela paz e harmonia

social, foi palco de atuação de revoltas, “revoluções”, contra-revoluções, golpes e ditaduras,

onde a multiplicidade de cenários políticos, culturais e sociais viriam compor a “trama”

republicana. O presente estudo, embora não pretenda discutir o regime republicano, vem

resgatar uma pequena porção singular dessa história, ao trazer considerações sobre o

programa de Integração Nacional de Getúlio Vargas, durante o “Estado Novo”, à luz do

diálogo com fontes iconográficas específicas que retratam a primeira visita presidencial á

Cuiabá, no ano de 1941.

Já no século XX, nos anos anteriores à subida de Getúlio Vargas ao poder, a política

nacional constituía um reflexo de domínios oligárquicos regionais, onde as lutas pelo poder

entre estados economicamente fortes, tais como Minas Gerais, São Paulo e Rio de janeiro,

acabavam por decidir os destinos do Brasil e normalmente deixavam à margem das

preocupações o restante do país. No campo econômico, a produção cafeeira, principal

produto de exportação, seria gravemente abalada pela crise de 1929 o que viria a mudar os

rumos não só da economia como também da política nacional.

Nesse contexto, entra em cena em 1930, após uma campanha acirrada pela

sucessão presidência, o golpe que levaria o candidato da Aliança Liberal, Getúlio Vargas ao

poder. Este episódio ficou conhecido como “Revolução de 1930”; embora haja muita

discussão entre os historiadores acerca da precisão desta definição, portanto, sobre o

caráter revolucionário do movimento que levara Getúlio Vargas ao poder, ela será utilizada,

pois não nos caberia discuti-la nesse texto.

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Após a Revolução de 1930, a instabilidade política se instala, e o Brasil se viu

dividido, basicamente, entre os que defendiam medidas mais centralizadoras e autoritárias

e outros que pregavam medidas liberais e federativas e lutavam por autonomia regional. As

bases do liberalismo, vigente até aquele momento, entrariam em crise, e a irrupção de

regimes autoritários e radicalmente nacionalistas como o Fascismo e o Nazismo se faziam

sentir internacionalmente. Portanto, o impasse que caracterizaria os primeiros anos do

governo de Vargas seria “resolvido” com a instalação do Estado Novo em 1937, inicio de um

regime caracteristicamente autoritário, anti-democrático e centralizador.

Desde a subida de Getúlio Vargas ao poder, o Brasil se tornara vítima de um

verdadeiro ataque às liberdades civis. O Congresso Nacional e as assembléias estaduais

haviam sido fechadas; os partidos políticos foram extintos e se iniciou uma verdadeira

repressão e perseguição aos partidários do comunismo, visto como uma grande ameaça à

segurança nacional; foi elaborada uma nova constituição completamente antiliberal,

baseada no intervencionismo estatal e, os estados, agora, estavam a cargo dos

interventores, homens de confiança do governo.

Com o advento do “Estado Novo” uma verdadeira ditadura é instaurada e o poder se

concentra nas mãos de um só homem, o chefe do Estado. A força deste regime é explicada

e justificada por seus ideólogos, pela existência de oposição de classes no período anterior

e pelas constantes combates aos partidários do comunismo, ameaçadores da ordem do

regime. Nas “representações do Estado Novo, sem dúvidas, a ênfase no novo era

constante: o novo regime prometia criar o homem novo, a sociedade nova e o país novo.

(...) Havia promessas de um futuro glorioso.” (CAPELATO, 2003, p.123). Além disso, a

autora Helena Bomeny (1999, p. 151), esclarece que as diretrizes centrais do regime

iniciado em 1937 estaria nas proposições de construção da nacionalidade e de valorização

da verdadeira brasilidade, isto é, de uma identidade nacional.

Desse modo, em 1938, no plano das formulações simbólicas elaboradas para dar

sustentação ao regime estadonovista (1937-1945), é lançada a Marcha para o Oeste,

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programa político de intenções nacionalizantes, que tinha como objetivo crucial a diminuição

das distancias entre as regiões mais desenvolvidas do litoral brasileiro e o “sertão” ou

interior brasileiro “atrasado” e “incivilizado” – segundo os discursos da época – em busca

de uma definitiva Integração Nacional.

A proposta da ‘Marcha para o Oeste era de instalar ‘pontos avançados de colonização’ dirigidos pelo Estado. Vargas formulou diretrizes, administrativamente centralizadas, inspiradas na ótica nacionalista, com o objetivo de ocupar os ‘espaços vazios’ do Oeste e da Amazônia, para criar no ‘novo espaço’ a ‘nova ordem social’. Na sua visão, as fronteiras econômicas deveriam coincidir com as fronteiras políticas. ( LENHARO, 1986, apud SOUZA, 2001, p. 26 )

É à luz destas considerações que passaremos a seguir a reflexão acerca das

imagens fotográficas que registram a visita do presidente Getúlio Vargas á Cuiabá, entre os

dias 6 a 8 de agosto de 1941. Longe de tomarmos esse conjunto de imagens como fontes

portadoras de uma verdade e realismo inquestionáveis, procuramos estudá-las como um

suporte material e ideológico do regime acima exposto, ou seja, como um produto social

carregado de intencionalidades. A fotografia, juntamente com o rádio e o cinema

constituíram durante o Estado Novo em importante veículo de propaganda política. A

amplitude do uso de imagens fotográfica advém da suposta idéia de realismo atribuído a

estas imagens, concepção presente desde o surgimento da fotografia no século XIX e que

vigorava no período estudado. Mas, ao historiador importa saber:

“Para El espectador ingenuo La fotografia es, em efecto, una imagen de La realidad, por encima de cualquier convención o manipulación. Conviene desterrar este error común: la fotografia no es ‘la realidad’, sino solo uno de los muchos modos de representarla. La realidad exterior es más compleja, proteiforme y móvil de lo que la fotografia normar nos puede transmitir” (RAMÍREZ, 1997, apud LOPES, 2005, p. 18).

O Estado Novo detinha o controle dos meios de comunicação e de produção de

imagens do regime, conseguido através de organismos vinculados e apoiados pelo governo,

tais como o DIP, que exercia a censura aos meios de comunicação, e a Agencia Nacional,

que possuía um extenso arquivo fotográfico e atuava junto à imprensa nacional. Estes

organismos estatais ajudavam na construção de imagens legitimadoras do regime

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autoritário. Segundo Aline Lopes Lacerda (1994, p. 3), a propaganda estatal (...) passa a ser

vista como uma questão relacionada à própria defesa nacional, ligada à idéia de

manutenção da ordem e unidade da Nação, ao mesmo tempo em que desempenha uma

função educativa e coercitiva junto às massas. È nesse contexto que deveremos pensar as

imagens aqui estudadas.

A visita de Getúlio Vargas, tão esperada e aclamada pela sociedade cuiabana,

seguiu um roteiro de comemorações e ritos usualmente habituais e típicos para a época.

Getúlio Vargas, chega à Cuiabá no dia 6 de agosto de 1941. Ao desembarcar de seu avião

“Lockeed” às 10:45, no aeroporto da capital, toca o Hino Nacional, os militares perfilam em

continência e logo depois as autoridades locais fazem do devidos cumprimentos. Na saída

do aeroporto, a caminho da Praça da República, formou-se um cortejo de automóveis.

Estava, a partir de então, proibida a posse de armas a qualquer cidadão, durante a estada

do presidente na capital. Tendo chegado a Praça da República, ao lado do

“Interventor Julio Muller, do General Mario Pinto Guedes e demais autoridades, o presidente fez a pé o percurso até a residência dos governadores [...]. [Então] tomou lugar no palanque, para assistir o grande e imponente desfile das tropas do Exército e da Polícia, dos tiros de guerra, de todos os colégios e da incalculável massa popular. [...] a multidão [...] prorrompeu em entusiásticos vivas a S. Excia., vivas que eram seguidos , sempre, de gloriosos títulos como ‘o salvador do Brasil’, ‘descobridor do Oeste [sic], ‘Reconstrutor da nacionalidade’, etc.” (O Estado de Mato Grosso, 06 de Agosto de 1941, p. 01e 04).

Do palanque construído para esta ocasião, Getúlio Vargas assiste as diversas

homenagens e manifestações públicas de culto à sua personalidade. As imagens 1 e 2

retratam os desfiles cívicos, vemos a participação de jovens de escolas militares e crianças,

todos em seus respectivos uniformes, cada qual representando seu lugar e importante

função na construção do Estado Nacional, premissas do regime.

Os jovens das escolas militares como representantes de sua classe, simbolizam a

vibrante juventude construtora da pátria que não se desviará dos objetivos de defesa da

nação, a marcha que executam revela a coesão e disciplinas necessárias em momentos de

guerra contra estrangeirismos e, para a proteção da ordem interna, contra os subversivos

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ao regime; as crianças trazem a idéia de um tempo novo, de um presente que ainda se

constrói e que não pode ser vislumbrado sem estar vinculado a uma perspectiva de futuro,

que estas representam à Nação brasileira. Eles desempenham seu papel na construção da

nova sociedade. De acordo com as diretrizes do regime, temos então a verdadeira imagem

de uma sociedade unida e harmônica.

A massa de espectadores não são meros figurantes, mas também fazem parte da

cena, do rito, afinal o que seria de um espetáculo sem seus espectadores? estes, estão

entre os que vieram sacramentar as homenagens oferecidas, já que os que desfilam em

marcha, simbolicamente representam a sociedade da qual fazem parte.

Foto 1

Foto 2Foto 1 e 2 . Desfile Cívico em frente à residência dos governadores. Fonte: Arquivo

Público de Mato Grosso/ Fundo Agencia Nacional

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O espaço social destas fotografias é a rua, ou seja, um espaço público

onde, compreende-se, não há exclusões e todos, de um modo ou de outro, podem participar

das encenações. A utilização de imagens como estas pelos mecanismos de propaganda

são relevantes, pois, nas palavras do historiador Carlos A. Bertolini (2000, p. 21), a

organização das massas dentro da ordem, hierarquia e disciplina, despontavam como

necessidade imperiosa para a manutenção do projeto político estadonovista.

Nas próximas imagens apontadas para estudo, Getúlio Vargas

acompanhado de autoridades locais, inaugura uma série de obras realizadas em Cuiabá sob

a administração do interventor Julio Müller. A capital de Mato Grosso estava em momento

célebre de transformações urbanísticas executadas com apoio do presidente da república

durante o Estado Novo. A família Müller, nesta ocasião, demonstrava a todos

(principalmente aos seus adversários políticos) seu grande prestígio junto ao ditador, afinal,

o irmão do interventor do estado, Filinto Müller, chefe de polícia do distrito federal era peça

central na engrenagem do regime.

Foto 3.

Inauguração do 16º Batalhão de Caçadores. Fonte: APMT/ Fundo Agencia Nacional

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Foto 4: Visita de Getúlio Vargas à Caixa d’água ainda em construção. Fonte: APMT/ Fundo Agencia Nacional

Nas figuras 3, 4 e 5 podemos perceber as intenções de caráter

modernizadoras do regime, onde estão em pauta os feitos governamentais. A intenção

propagandística do regime, ao utilizar estas imagens, denota a idéia da presença constante

de Getúlio Vargas, através das realizações do Estado Novo, que se fazia sentir em todo o

território nacional, nos lugares mais afastados da “civilização”. Era o sentido da Marcha para

o Oeste. O progresso chega ao “sertão” e o retira de seu isolamento. Como exemplifica

Lacerda (1994, p. 7): é a idéia da presença de um estado moderno em todos os setores da

sociedade, desempenhando o duplo papel de construtor e unificador da Nação. A essa idéia

somava-se outra: a personificação desse estado na figura do presidente Getúlio Vargas, a

construção mítica do chefe da Nação como condutor e centro das decisões.

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Foto 5: Novo prédio da Secretaria Geral do Estado. Fonte APMT/ Fundo Agencia Nacional

A foto 3 foi retirada durante a inauguração do prédio do 16º BC no primeiro

dia da chegada do Sr. Presidente à Cuiabá. A bandeira esta hasteada e todos se encontram

à frente do prédio em ordem, com Getúlio à frente e na mesma linha temos um membro

oficial da classe militar, portando um papel em mãos, provavelmente um discurso elaborado

para ocasião. Embora não vejamos rostos olhando diretamente para a câmara, o que pode

ser explicado pelo fato do fotógrafo estar razoavelmente distante para a tomada do ângulo

que englobe a grandiosidade do prédio a ser registrado, todos, pela ordem em que se

encontram distribuídos, parecem posar para a foto.

Na quarta imagem temos o registro da visita de Getúlio Vargas, do

interventor do estado e “dos engenheiros Abelardo Coimbra Bueno e Cássio Veiga de Sá,

construtores” da Caixa d’água ao fundo, futura instalações da Estação de Tratamento, obra

de suma importância para a sociedade cuiabana que vivia um constante problema de

abastecimento de água. A posição dos fotografados indicam a idéia de movimento,

naturalidade e espontaneidade, o momento é interrompido pelo “clic” do fotógrafo. De

acordo com Lacerda (1994), esse tipo de fotografia, que introduz uma noção de movimento,

inaugurado durante o governo Vargas, só pôde ser desenvolvido graças às inovações

técnicas trazidas e difundidas por fotógrafos estrangeiros. A autora explica por meio do

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depoimento do fotógrafo Hess, que trabalhou para o Estado Novo: “Esse movimento de

reportagem com a máquina pequena (...) e o filme mais sensível instituiu esse gênero de

instantâneo, o fazer qualquer coisa a qualquer hora, de baixo, de cima, com luz fraca, com

luz forte.” Fotos assim tem um potencial de criar um clima de autenticidade, espontaneidade

e realismo, características essenciais para propaganda política.

A foto de número 5 é do prédio da Secretaria Geral ainda em construção,

obra inclusa no plano de metas oficiais do governo de Júlio Müller. Estas obras,

representativas de uma nova configuração de espaço moderno, buscavam a difusão de uma

imagem de crescimento econômico, mas também tinham sua função política. Ao equipar

melhor a cidade para sediar o aparelho do estado, a elite cuiabana poderia consolidar sua

hegemonia frente às pressões perpetradas por lideranças da região sul-mato-grossense,

que pleiteavam a mudança da capital para Campo Grande.

Foto: 06. Getúlio Vargas afagando uma menina no queixo. Fonte: APMT/Fundo Agencia Nacional

Saindo da ordem de manifestações cívicas e patrióticas das primeiras

imagens onde o culto à personalidade do presidente é efetivado, e passando pelos feitos do

regime, que tem na figura de seu condutor uma peça chave na construção da Nação, o

provedor do progresso e o “descobridor do oeste”, chegamos ao nível das imagens de

demonstração de carisma e de proximidade do Sr. Presidente com as pessoas anônimas,

num ambiente informal. Nesta imagem, a atenção que o presidente devota a menina cria um

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clima familiar, onde o chefe do estado é a continuidade da imagem do patriarca, o chefe da

família. A expressão das mulheres toma conta da cena, pois parecem vislumbradas pela

simpatia do presidente que lhes dispensa um discreto sorriso. As fotografias do presidente

sorrindo ou demonstrando apreço pelas crianças, são um exemplo precioso da tentativa de

criação de afinidades entre líder/carismático e massas, produzindo mais que sentido,

também sentimentos. O lugar não foi identificado, mas se torna secundário, pois o foco está

centrado na ação do presidente.

Gostaria de finalizar reiterando a importância da fotografia como fonte

inovadora às formas de produção de conhecimento histórico. Por isso:

“Há que se considerar a fotografia, simultaneamente como imagem/documento e como imagem/monumento. No primeiro caso ela é considerada como índice, como marca de uma materialidade passada, que nos informas sobre aspectos do passado (...). No segundo caso, a fotografia é um símbolo, aquilo que no passado a sociedade estabeleceu como a única imagem a ser perenizada para o futuro. Sem esquecer jamais que todo documento é monumento, se a fotografia informa, ela também conforma uma determinada visão de mundo.” (MAUAD, 1996, p. 8)

Em suma, a fotografia encontrou importante apoio durante o Estado Novo,

seus usos políticos estavam submetidos à construção de um discurso de poder legitimador

da ordem então estabelecida. Vislumbramos, em três etapas, às variadas formas de

representação do regime, que pretendia conquistar corações e mentes e retirar as massas

do esquecimento trazendo-as para o palco das participações políticas. No caso de Mato

Grosso, as imagens deste acontecimento político, exploradas pela imprensa regional,

serviram satisfatoriamente às intenções político-ideológicas da Marcha para Oeste. Somente

o belo merece destaque. Não há lugar para a miséria, e a adoção de um líder carismático se

sobrepõe ao forte esquema de censura, perseguições e tortura propagadas pelo regime.

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Fontes e Referencias Bibliográficas

Fonte Impressa

Jornal O Estado de Mato Grosso 1941, Prat. 01-A Caixa 006

Referencias Bibliográficas

BERTOLINI, Carlos Américo. Encenações patrióticas: a educação e o civismo a serviço do

Estado Novo (1937-1945). Dissertação de Mestrado. IE/UFMT, Cuiabá, 2000.

BOMENY, Helena M. B. Três decretos e um ministério: a propósito da educação no Estado

Novo. In: PANDOLFI, Dulce (org.). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: FGV, 1999.

CAPELATO, Maria Helena. O Estado Novo: o que trouxe de novo? In: DELGADO, Lucilia

de A . N. e FERREIRA, Jorge (orgs). O tempo do nacional estatismo: do inicio da década

de 1930 ao apogeu do Estado Novo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

LACERDA, Aline Lopez. “A obra getuliana” ou como as imagens comemoram o regime. In:

Estudos Históricos, Vl. , n. 14, Rio de Janeiro. 1994.

LÓPEZ, Emilio L. Lara. La fotografia como documento histórico-artístico y etnográfico: una

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MAUAD, Ana Maria. Através da imagem: fotografia e história interfaces. In: Tempo, Vl. 1,

n. 2, Rio de Janeiro, 1996.

SOUZA, Edson Antonio. Sinop: História, Imagens e Relatos. Um estudo sobre a colonização

de Sinop. Dissertação de Mestrado. ICHS/UFMT. Cuiabá, 2001.