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01/02/2015 O Brasil conta gotas: entenda as causas e desafios da falta de água que se espalha pelo país Zero Hora http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/01/obrasilcontagotasentendaascausasedesafiosdafaltadeaguaqueseespalhapelopais469164… 1/7 Capa ZH Menu Notícias por Cadu Caldas 31/01/2015 | 16h06 Em São Paulo, garagens de condomínios agora recebem um visitante incomum, mas vital: o caminhão-pipa Foto: Diego Vara / Agencia RBS Crise da água O Brasil conta gotas: entenda as causas e desafios da falta de água que se espalha pelo país Escassez hídrica tem epicentro no Sudeste com efeitos como desabastecimento permanente, risco de apagão e alimentos mais caros Na virada do século, em 2001, o especialista em recursos hídricos Marcos Freitas, então diretor da Agência Nacional das Águas (ANA), foi convidado por uma revista a fazer projeções sobre o futuro do Brasil e como seria a vida dos brasileiros em 2015. À época, a resposta de Freitas pareceu um tanto esdrúxula: o país, mesmo tendo o maior volume de água doce do planeta, viveria uma grave crise hídrica. Efeitos da falta de água: resultados em queda e risco de demissões preocupam indústria Em São Paulo, a população já sofre com a pressão reduzida na rede, o que muitas vezes significa conviver com torneira seca por até 18 horas. E pior: pode ser obrigada em breve a enfrentar um rigoroso racionamento e ficar quatro ou até cinco dias por semana sem água. A medida drástica tem uma razão. Se a chuva não vier e o consumo não for reduzido, os reservatórios podem ficar sem água ainda no primeiro semestre. A previsão mais pessimista fala em desabastecimento completo em março. O cenário faz serem cogitadas possibilidades como antecipação das férias escolares de julho para maio, uma maneira de incentivar que muitas famílias deixem o Estado e, assim, diminuam o uso de água. Escassez hídrica deixa preço da luz e de alimentos ainda mais caros Mas se o problema era conhecido há tantos anos, por que não foi evitado? A resposta é complexa. O fato é que a previsão de Freitas mais de uma década atrás não tinha nada de sobrenatural. Estava baseada em números: – Entre 1998 e 2000, trabalhei na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), onde nos preocupávamos muito com a quantidade de

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  • 01/02/2015 OBrasilcontagotas:entendaascausasedesafiosdafaltadeguaqueseespalhapelopasZeroHora

    http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/01/obrasilcontagotasentendaascausasedesafiosdafaltadeaguaqueseespalhapelopais469164 1/7

    Capa ZHMenu Notcias

    porCadu Caldas 31/01/2015 | 16h06

    Em So Paulo, garagens de condomnios agora recebem um visitante incomum, mas vital: o caminho-pipaFoto: Diego Vara / Agencia RBS

    Crisedagua

    O Brasil conta gotas: entenda as causas edesafios da falta de gua que se espalha pelopasEscassezhdricatemepicentronoSudestecomefeitoscomodesabastecimentopermanente,riscodeapagoealimentosmaiscaros

    Na virada do sculo, em 2001, o especialista

    em recursos hdricos Marcos Freitas, ento

    diretor da Agncia Nacional das guas

    (ANA), foi convidado por uma revista a fazer

    projees sobre o futuro do Brasil e como

    seria a vida dos brasileiros em 2015. poca,

    a resposta de Freitas pareceu um tanto

    esdrxula: o pas, mesmo tendo o maior

    volume de gua doce do planeta, viveria uma

    grave crise hdrica.

    Efeitos da falta de gua: resultados em queda

    e risco de demisses preocupam indstria

    Em So Paulo, a populao j sofre com a

    presso reduzida na rede, o que muitas vezes

    significa conviver com torneira seca por at

    18 horas. E pior: pode ser obrigada em breve a enfrentar um rigoroso racionamento e ficar quatro ou at cinco dias por semana sem gua.

    A medida drstica tem uma razo. Se a chuva no vier e o consumo no for reduzido, os reservatrios podem ficar sem gua ainda no

    primeiro semestre. A previso mais pessimista fala em desabastecimento completo em maro. O cenrio faz serem cogitadas possibilidades

    como antecipao das frias escolares de julho para maio, uma maneira de incentivar que muitas famlias deixem o Estado e, assim,

    diminuam o uso de gua.

    Escassez hdrica deixa preo da luz e de alimentos ainda mais caros

    Mas se o problema era conhecido h tantos anos, por que no foi evitado? A resposta complexa. O fato que a previso de Freitas mais de

    uma dcada atrs no tinha nada de sobrenatural. Estava baseada em nmeros:

    Entre 1998 e 2000, trabalhei na Agncia Nacional de Energia Eltrica (Aneel), onde nos preocupvamos muito com a quantidade de

  • 01/02/2015 OBrasilcontagotas:entendaascausasedesafiosdafaltadeguaqueseespalhapelopasZeroHora

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    gua disponvel. Quando fui transferido para a ANA, em 2001, e comecei a prestar ateno na qualidade. Fiquei estarrecido com a poluio

    de rios e a falta de tratamento. Era questo de tempo.

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    Mesmo comunicados, governos no tomaram providncias

    Hoje professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o tcnico conta que a situao observada quase 15 anos atrs foi

    comunicada aos governos paulista e federal, mas no teve efeito. E atribui isso surdez pluripartidria, j que obra de saneamento no

    aparece e, por isso, no d voto.

    impressionante que, at hoje, a ANA no consegue exercer poder de polcia e cuidar dos mananciais observa Freitas.

    O alerta da agncia em 2001 no foi o nico. Em 2009, o prprio governo paulista, com base na anlise de mais de 200 especialistas,

    apontava risco de desabastecimento em 2015. E pior: a estiagem que afeta o Sudeste h pelo menos trs veres foi apenas um dos fatores

    que intensificaram o problema. No o gerou sozinho. preciso incluir na conta o descuido com as fontes de gua, a falta de investimento

    das empresas para evitar desperdcio e a gesto inadequada, que tratou a gua como fonte inesgotvel quando era cada vez mais escassa.

    Em So Paulo, desperdcio encontra o desespero na Rua Augusta

    Menor quantidade e pior qualidade elevam preo de hortalias e verduras em So Paulo 70% em um ms

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    Soma-se a isso outro ingrediente: a falta de dilogo com a populao. Em ano eleitoral, como foi 2014, candidatos tucanos e petistas

    fizeram malabarismos retricos para amenizar a dimenso do colapso e evitar a palavra racionamento. O resultado a pior crise hdrica da

    histria de So Paulo.

    Veja quanta gua necessria para fazer as coisas que voc consome

    Racionamento e guerra vista

    Mesmo que a falta de chuva se concentre no Sudeste, consenso que o impacto se espraiar pelo pas. Se no por dificuldades no

    abastecimento, na alta do preo da luz e da comida e no enfraquecimento da economia. Analistas projetam que o Brasil crescer 0,1% em

    2015, s que o ajuste fiscal do governo e a falta de gua podem levar a taxa para baixo de zero.

    Veja 12 solues para a crise da gua que desafia o Brasil

    Em Minas Gerais, aps sobretaxar o consumo, o governo sinalizou que pretende adotar racionamento para diminuir o uso em pelo menos

    30%. Eventos tradicionais, como o Carnaval em Ouro Preto, tero de ser adaptados. At as repblicas de estudantes, que costumam

    receber milhares de turistas durante o feriado, limitaro o tempo de banho.

    No vizinho Rio de Janeiro, pelo menos dois reservatrios que abastecem o Rio Paraba do Sul, principal fonte de gua do Estado, j

    atingiram o volume morto. Incapaz de evitar a escassez, o governo aventa a possibilidade de racionamento nos prximos meses.

    Saiba como funciona a usina hidreltrica de Furnas

    At onde a crise hdrica capaz de chegar? Difcil dizer. Mas especialistas indicam que o cenrio atual s o incio de uma guerra hdrica

    entre os Estados por rios que cortam o Sudeste do pas.

    Saiba como funciona o Sistema Cantareira em So Paulo

    A primeira trincheira j foi, inclusive, definida: o Paraba do Sul, que nasce em So Paulo, mas tambm corta Minas e o Rio, ao longo de

    1.137 quilmetros de extenso.

    Aos cariocas, o rio vital por abastecer 11 milhes de habitantes. Na sexta-feira, foi revelado o projeto da obra que interligar a Bacia do

    Paraba do Sul ao Sistema Cantareira, que s deve ficar pronta em 2016. O uso dessa gua gera divergncias desde novembro e parou no

    Supremo Tribunal Federal, que fixou prazo at 28 de fevereiro pouco antes do previsto para o colapso hdrico paulista para cada

    governo apresentar propostas para resolver a crise.

    uma escassez que se arrasta. E mesmo que chova muito acima da mdia durante cinco anos, e os reservatrios voltem a ficar

    totalmente cheios, nada vai ser como antes sentencia Roberto Kirchheim, gelogo especializado em recursos hdricos.

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