"o bandeirante" - nº 248 - julho 2013

8
248 248 248 248 248 JULHO 2013 O Bandeirante Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional S. Paulo Signo do Sol Mamãe finge que um dia afogou os igarapés na poça d’água do quintal, onde o cheiro dos cajus embriaga o sol. E lá criou os particípios passados para que ninguém a visse soletrar S-a-u-d-a-d-e. Havia um barulho de flores no cio e o mês de abril partindo a galope.” Leia o conto de LUIZ JORGE FERREIRA na p. 5 Limeriques CIÚME CIÚME CIÚME CIÚME CIÚME O ciúme não é um bom sentimento Pois a possessividade é o seu elemento Afeta a razão Destrói a emoção Abala qualquer relacionamento Este e outros versos de ROBERTO CAETANO MIRAGLIA na p. 3 Viagem de ônibus “Lá pelas tantas, paramos num posto de abastecimento e uma funcionária do restaurante anunciou que haveria um sorteio e seria oferecido um café da manhã de cortesia para o passageiro da poltrona indicada.” O relato de EVANDRO GUIMARÃES DE SOUSA está na p. 6 Saiba tudo sobre a XII Jornada Médico-Literária Paulista - p.7 SÉRGIO P. MARUN está na p.3 EVANIL P.CAMPOS está na p. 6 MANLIO M.M.NAPOLI está na p.4 NELSON JACINTHO está na p.4

Upload: marcos-gimenes-salun

Post on 11-Jul-2015

97 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: "O Bandeirante" - nº 248 - julho 2013

248248248248248JULHO

2013O Bandeirante

Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional S. Paulo

Signo do Sol“Mamãe finge que um dia afogou os igarapés napoça d’água do quintal, onde o cheiro dos cajus

embriaga o sol. E lá criou os particípios passadospara que ninguém a visse soletrar S-a-u-d-a-d-e.

Havia um barulho de flores no cio e o mêsde abril partindo a galope.”

Leia o conto de LUIZ JORGE FERREIRA na p. 5

LimeriquesCIÚMECIÚMECIÚMECIÚMECIÚMEO ciúme não é um bom sentimentoPois a possessividade é o seu elemento Afeta a razão Destrói a emoçãoAbala qualquer relacionamento

Este e outros versos de ROBERTO CAETANO MIRAGLIA na p. 3

Viagem de ônibus“Lá pelas tantas, paramos num posto de

abastecimento e uma funcionária do restauranteanunciou que haveria um sorteio e

seria oferecido um café da manhã de cortesiapara o passageiro da poltrona indicada.”

O relato de EVANDRO GUIMARÃES DE SOUSA está na p. 6

Saiba tudo sobre a XII Jornada Médico-Literária Paulista - p.7

SÉRGIO P. MARUNestá na p.3

EVANIL P.CAMPOSestá na p. 6

MANLIO M.M.NAPOLIestá na p.4

NELSON JACINTHOestá na p.4

Page 2: "O Bandeirante" - nº 248 - julho 2013

2 O Bandeirante - Julho 2013

Jornal O Bandeirante

ANO XXII - nº. 248 -

JuLho 2013

Publicação mensal da Sociedade

Brasileira de Médicos Escritores -

Regional do Estado de São Paulo

SOBRAMES-SP. Sede: Rua Alves

Guimarães, 251 - CEP 05410-000 - Pinheiros - São Paulo - SPTelefax: (11) 3062-9887 / 3062-3604

Editores: Josyanne Rita de Arruda Franco e Marcos Gimenes

Salun (MTb 20.405-SP)

Jornalista Responsável e Revisora: Ligia Terezinha Pezzuto

(MTb 17.671-SP).Redação e Correspondência: Rua Francisco Pereira

Coutinho, 290, ap. 121 A – V. Municipal – CEP 13201-100 –

Jundiaí – SP E-mail: [email protected]

Tels.: (11) 4521-6484 Celular (11) 99937-6342.

Colaboradores desta edição (textos literários): Antonio

Carlos Lima Pompeo, Evandro Guimarães de Sousa, Evanil Pires

de Campos, Luiz Jorge Ferreira, Manlio Mario Marco Napoli,

Nelson Jacintho, Roberto Caetano Miraglia e Sérgio Pelegrini

Marun.

Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de

1.000 exemplares PDF enviados por e-mail.

Diretoria - Gestão 2013/2014 - Presidente: Josyanne Rita

de Arruda Franco. Vice-Presidente: Carlos Augusto FerreiraGalvão. Primeiro-Secretário: Márcia Etelli Coelho. Segundo-Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. Primeiro-Tesoureiro: José Alberto Vieira. Segundo-Tesoureiro: Aida

Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini. Conselho FiscalEfetivos:Hélio Begliomini, Luiz Jorge Ferreira e MarcosGimenes Salun. Conselho Fiscal Suplentes: José Jucovsky,

Rodolpho Civile e José Rodrigues Louzã.

.

Matérias assinadas são de responsabilidade de seusautores e não representam, necessariamente, a opinião

da Sobrames-SP

Editores de O BandeiranteFlerts Nebó - novembro a dezembro de 1992Flerts Nebó e Walter Whitton Harris - 1993-1994

Carlos Luis Campana e Hélio Celso Ferraz Najar - 1995-1996Flerts Nebó e Walter Whitton Harris - 1996-2000

Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun - 2001 a abril de 2009

Helio Begliomini - maio a dezembro de 2009Roberto A.Aniche e Carlos Augusto F. Galvão - 2010

Josyanne R.A.Franco e Carlos Augusto F.Galvão - 2011-2012Josyanne R.A.Franco e Marcos Gimenes Salun - janeiro 2013

Presidentes da Sobrames SP1º. Flerts Nebó (1988-1990)

2º. Flerts Nebó (1990-1992)3º. Helio Begliomini (1992-1994)

4º. Carlos Luiz Campana (1994-1996)

5º. Paulo Adolpho Leierer (1996-1998)6º. Walter Whitton Harris (1999-2000)

7º. Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)8º. Luiz Giovani (2003-2004)

9º. Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005)

10º. Flerts Nebó (out/2005 a dez/2006)11º. Helio Begliomini (2007-2008)

12º. Helio Begliomini (2009-2010)13º.Josyanne Rita de Arruda Franco (2011-2012)

14º.Josyanne Rita de Arruda Franco (2013-2014)

Editores: Josyanne R.A.Franco e Marcos Gimenes Salun

Revisão: Ligia Terezinha PezzutoDiagramação Marcos Gimenes Salun

Impressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica

Expediente Editorial

Josyanne Rita de Arruda FrancoMédica Pediatra Presidente da Sobrames-SP

As Pizzas Literárias da SOBRAMES-SP acontecem naterceira quinta-feira de cada mês, a partir das 19h00

na PIZZARIA BONDE PAULISTARua Oscar Freire, 1.597 - Pinheiros - S.Paulo

NESTA DATA QUERIDA,NOSSOS PARABÉNS!

O clamor das ruas ardendo São Paulo e dentro da Pizzaria Bonde Paulistaa intimidade e o aconchego abrasavam corações no consagrado encontroliterário mensal da Sobrames-SP. Sem alienação, é claro, pois o temados manifestos foi conversado em clima de pacífica exposição de ideias,respeito e seriedade, como tem sido a marca registrada da sociedade.Participaram visitas ilustres e afetivas, poetas e prosadores queridos eadmirados; algumas ausências, circunstanciais, foram reclamadas. E oassunto Jornada irmanando aqueles brasileiros sensíveis e solidáriosno pensamento de que se faz necessário estreitar laços para construirgrandezas. Portanto, seja bem-vindo: aguardamos sua presença emBotucatu!

Primeira reunião na nova sedeA diretoria da Sobrames-SP reuniu-se pela primeira vez, no dia 06 dejunho de 2013, em sua nova sede na Associação Paulista de Medicina,para onde será transferido, em breve, todo seu acervo que até então vemsendo guardado esparsamente na residência de diretores e ex-diretores.O endereço é: Av. Brigadeiro Luis Antonio, 278 - 7º. andar - sala 1. Embreve, muitas novidades.

01/07 – Jacyra da Costa Funfas Nelson Jacintho11/07 – Luiz Jorge Ferreira12/07 – Ligia Terezinha Pezzuto17/07 – Mario Name19/07 – Roberto Caetano Miraglia

Page 3: "O Bandeirante" - nº 248 - julho 2013

O Bandeirante - Julho 2013 3

Roberto Caetano Miraglia

Limeriques

TEx

VIDAEntender a vida parece ser complicadoMas no fundo tudo pode ser explicado Viva sempre com amor Tenha Deus como SenhorTrabalhe, tenha fé e tudo o mais lhe será dado

AMORO amor é um sentimento inexplicávelNos torna forte e ao mesmo tempo vulnerável Desperta a emoção Acelera o coraçãoProporciona à vida uma felicidade incomparável

FÉTer fé não é só uma questão de inteligênciaÉ algo mais que temos que ter consciência Nos faz acreditar Incentiva a perseverarA conquistar objetivos por nossa própria competência

CIÚMEO ciúme não é um bom sentimentoPois a possessividade é o seu elemento Afeta a razão Destrói a emoçãoAbala qualquer relacionamento

TRABALHOO trabalho é uma dádiva divinaEnobrece o homem e o seu caminho ilumina Progresso pessoal Inclusão socialO futuro é você quem determina

PACIÊNCIAA paciência tem que ser exercitadaDiante das contrariedades, aplicada Aja com calma

Serene a almaPense bem para não decidir de forma precipitada

INVEJAA inveja é um pecado capitalSentimento negativo que faz muito mal Melhor se esforçar Para tentar superarCom trabalho e perseverança atingir o ideal

MORTEA morte não é o fim da vidaEssa tese precisa ser esclarecida O espírito permanece

A renovação acontecePrepara-se para uma nova jornada a ser cumprida

E então, olhando aquele momento mágico, em que o Sol seescondia no horizonte voltei, voltei o tempo, sonhei com a vida quevivi, e através daquela luz colorida que se apagava, revi amores, elembrei-me de momentos e tempos felizes. Oh, quanto sonho eencantamento trouxeram aquele pôr de sol. Vi através da luz que partiaa vida também partindo, e com ela, levando mágoas e tristezas, masdeixando vivos, bem vivos, os melhores momentos, os mais felizesamores, as lembranças mais doces de grandes amigos que ainda hojesinto perto da vida.

Este pôr de sol me fez feliz, como fui feliz com você! Estepôr de sol, me põe a pensar em carícias e beijos. Oh, pôr de sol, prenúnciodo fim de mais um dia, que me leva a tentar também não ir atrás denovos dias, pois que estes certamente virão e com eles, você, presente,viva, trazendo a grande felicidade e a alegria do sorriso que me encanta,em um tempo, sempre. Não, não vá embora, fique aí, mantenha sua luzviva, ilumina o horizonte e tudo aquilo que ainda resta da vida, dossonhos e dos encantamentos. Permita mais, que eu sonhe e mantenhavocê aqui bem pertinho, pertinho destes raios que me mantêm iluminado.

Fiquem ai, raios iluminados, não partam, não me deixem só,que a escuridão da noite me assusta, põe medo, já que com ela nãoconsigo ver você com a clareza que gosto, podendo perdê-la e nãomais viver os sonhos. O clarão vermelho que aos poucos se apaga é osinal de um fim, mas ainda, como que por encanto, com a força dosseus últimos raios forma linda coroa, e emoldura você.

Triste com aquele entardecer percebo, que a noite não serátão assustadora, pois que o céu aos poucos vai sendo iluminado porradiosa e brilhante Lua que surge inteira, enorme, mas enciumada, pornossas loas ao Sol, veste-se de suas mais lindas cores e coloca-se logoali, bem a nossa frente, trazendo ainda consigo lindos e incríveis acordesde uma sonata, só sua, feita para aquele momento, por mestre da artedo amor, do encantamento, Beethoven.

O clarão do luar, e aquela sonata que ouço vinda do infinitome transformam, olho e ao longe a vejo resplandecente toda de branco,na ponta dos pés, como não querendo fazer ruídos e incomodar, maslevando a um sonho que envolve, comove e conduz às longas distânciaspercorridas pela vida. Que encantamento, quanta vida e amor este seubrilho desperta, não, não vá embora fique aqui comigo agora e sempre,mantenha este sorriso ou me leve com você, pois que a cada instante émais clara sua presença e mais sinto apesar das distâncias.

E quando você, lua cheia, também insensível aos nossos apeloscomeça fugir, fugir para o horizonte, quase em pânico sentimos perdê-la, vendo seu brilho se apagar, aos poucos, na imensidão do céu. Essebrilho, esse encantamento, será eternamente seu.

O nostálgico e lento pôr do sol, o radioso surgimento daenorme e encantadora lua que depois de envolver e transtornar corações,também furtiva, lentamente vai embora, deixando espaço para osprimeiros clarões do amanhecer de um dia, que terá e trará outrosencantos, mas não conseguirá, por mais encantos que tenha ou traga,apagar o que foi marcado nas lembranças dos momentos de amorsonhados e vividos, em um tempo, de algum lugar.

O pôr do sol,o clarão

do luar, você

Sérgio Pelegrini Marun

Page 4: "O Bandeirante" - nº 248 - julho 2013

4 O Bandeirante - Julho 2013

Manlio M. M. Napoli

Saudade, idiotismo da língua portuguesa

O vocábulo saudade sempre nos chamou aatenção, notadamente pela dificuldade em defini-lo.Durante o curso ginasial, o Professor Rangel, nossomestre em português, nos ensinou que, diante de qualquerdúvida quanto à escrita ou significado de uma palavra,devíamos recorrer ao velho “pai dos burros”.

Assim pensando, partimos para a pesquisa dotermo saudade. Começamos pelo Pequeno dicionário dalíngua portuguesa de Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira– 11ª. edição, de 1968; o dicionarista assim definiu o termo:saudade – substantivo feminino; lembrança triste e suavede pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhadado desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; pesar, pelaausência de alguém que nos é querido; nostalgia.

Vejamos o mesmo vocábulo no Dicionário escolarda língua portuguesa, de autoria de Francisco da SilveiraBueno e editado pelo Ministério da Educação e Cultura –11ª. edição, de 1978: saudade – substantivo feminino;recordação ao mesmo tempo triste e suave de pessoasou coisas distantes ou extintas do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las; pesar pela ausência de alguém que nosé querido. As definições são semelhantes; teria havidoplágio de um pelo outro, ou ambos teriam copiado de umdicionarista mais antigo?

Não contente com os achados bibliográficosanteriores, buscamos o vocábulo no Novo dicionário dalíngua portuguesa do próprio Aurélio – 2ª. edição, de 1968:saudade – do latim solitate, através do arcaico soydade,suydade; substantivo feminino; lembrança nostálgica e,ao mesmo tempo, suave, de pessoas ou coisas distantesou extintas, acompanhada do desejo de tornar a vê-las oupossuí-las; nostalgia.

Ainda não satisfeito, voltamos ao Silveira Bueno,abeberamo-nos de seus ensinamentos sobre o vocábulo,no Grande dicionário etimológico-prosódico da línguaportuguesa – 1ª. edição, de 1964: saudade – substantivo,misto de tristeza e esperança causada pela ausência deuma pessoa, de um país, dos quais se está distante, privado,mas com a esperança de ainda revê-los. Latim – solitatem,com a forma arcaica e clássica soidade, soydade, passandodepois a saudade sob a influência de saudar. A seguir,

Silveira Bueno acrescenta a nota: de comum sentir dequantos falam a língua portuguesa, esta palavra é a maisbela do nosso vocabulário porque mais de acordo comnosso temperamento afetivo. Costuma-se dizer quenenhuma língua possui vocábulo que corresponda asaudade. É necessário pensar que somente os indivíduosde tal ou tal língua materna podem avaliar o significadointensamente afetivo das palavras de seu idioma natal.Não é possível que somente o povo português e o brasileirosintam, experimentem esse sentimento misto de tristeza ede esperança que traduzem por saudade.

Todos os demais povos o sentem, experimentam--no e o traduzem por outras palavras que, para eles, terãoo mesmo valor afetivo que para nós possui o nosso belovocábulo. E por falar em idiotismo. No mesmo dicionárioetimológico-prosódico, Silveira Bueno escreve: idiotismo– substantivo masculino, fato linguístico ou gramaticalpróprio de uma determinada língua. Na origem era apenasuma forma de linguagem do vulgo que depois entrou naexpressão geral. Era, portanto, uma forma errada, atribuídaà ignorância do povo. Latim – idiotismos; grego –

idiotosmòs.Em conclusão, o vocábulo saudade, embora seja

um idiotismo de nossa língua, podemos e devemos usá-loe dele abusar quando nos referimos a lembranças oupensamentos relativos a nossa alma.

A magia do poeta

Ele vive vestido de magia,Seu andar, recheado de bonança,Da terra faz brotar a esperançaE o azul da manhã de cada dia...

Seu olhar de ternura inebria,O afago de seu braço a tudo alcança,O seu gesto de amor nunca nos cansa,A oração, frente a Deus, nos extasia...

Ele vive de magia e de encanto,Tudo vê, tudo sabe, tudo inventa,Tudo encobre com seu divino manto...

Su’alma não tem nada de avarenta,Nos dá joias a cada novo canto,É o elixir da vida que apascenta...

Nelson Jacintho

Page 5: "O Bandeirante" - nº 248 - julho 2013

O Bandeirante - Julho 2013 5

Signo do SolLuiz Jorge Ferreira

Após arrumar o fado, as photos, e a música deChico Buarque na estante ao lado, mamãe deita paramorrer. Eu fui buscar o mar, puxando-o pela janelaapodrecida da sala e o coloquei ao seu lado. O cheiro depeixe pregou-se em nós depois de cirandar entre UrsaMaior e Plutão, quero dizer, avenida Ernestino Borges eOdilardo Silva.

Mamãe finge que um dia afogou os igarapés napoça d’água do quintal, onde o cheiro dos cajus embriagao sol. E lá criou os particípios passados para que ninguém

a visse soletrar S-a-u-d-a-d-e. Havia um barulho de floresno cio e o mês de abril partindo a galope.

Hoje durmo nu sob o Equador. Corro anão sob océu de Macapá, onde a ruminar com os potros, minh’almasorri. Quero juntar-me aos tuíras e tuins. Um mar tolofoge pelo ontem. Ao longe a chuva chicoteia nos telhados.Em mim o que chicoteia eu engulo com saliva e afim.

À noite a noite molha minha pele negra com coisasda noite, sob a luz vesga da lua. Ela uma tola que seacocora com Cora Coralina. E se intimida com o portuguêsde Pessoa. Sabe que o mar é um punhado de água comsal. E conta para as gaivotas que contam para minha mãeque grita: “A bombordo, com o sol!”

Amargo até o último mel, eu dou nó nos nós. Corropara o pôr do sol cego como um pássaro cego em um voocego. Minha mãe salga o olhar no mar, simplesmente só.Os olhos dos gatos que sobem sobre os escuros a espiam.

Enquanto cansada, cheira o mar que eu trouxe,ainda sujo de areia. Ela conversa com sereias e outros,outros. Eu sou para ela a canoa talhada em ossos que elafala que deixou na orla das horas, lá atrás. Fadigado poroutros tantos anos. Tantos.

Ouço pisadas espaçadas do tempo na areia deoutrora. São 18h45 e chove, como se fosse a única coisatão próxima. Réquiem. 2012, Osasco, tanto de tanto de2008.

Sétimo Dia. O rastro que o mar deixou espalhadoatraiu as estrelas translúcidas. E os cães abandonados.Eu fechei as mãos com força e o sangue voltou ao coraçãocomo se de lá nunca houvesse saído.

Esta história aconteceu no início dos anos 1960, época em que frequentávamos o curso científico (atualcolegial) em Mogi-Mirim. Nossa classe tinha aproximadamente trinta alunos, sendo apenas quatro de Mogi-Guaçu. Um desses conterrâneos, meu vizinho Ty (Tai), pertencia a uma família tradicional de nossa cidade e eraextremamente criativo. É lamentável que usasse tanto talento quase sempre para brincadeiras – nunca foi dosprimeiros alunos, por absoluto desperdício ou mesmo desinteresse. Recordo-me que quando ainda éramospequenos, chegaram os primeiros ônibus e caminhões com freios a ar, que faziam um barulho característico

cada vez que os motoristas freavam. O Ty apressou-se a adaptar um freio a ar em seu carrinho de rolimã, que era empurrado ou semovimentava com velocidade quando descia a íngreme rua da capela. O freio constava de uma bomba de encher pneus debicicleta que, quando acionado, fazia um ruído semelhante ao dos ônibus, sem, porém, exercer nenhum efeito. Apesar de nãodiminuir a velocidade do pequeno veículo, fez grande sucesso pela inovação.

Voltando àquela fase colegial, esse amigo tinha o hábito de dormir tarde e ficava até altas horas conversando com outros“boêmios tradicionais” na praça da matriz, onde todos se divertiam e se atualizavam com as mais recentes notícias e fofocas. Numadessas noites quentes de final de ano, época em que chovia muito, Ty teve a ideia de fazer chover “excrementos” na cidade. Paraisso, colheu latas de “material” no cano de esgoto principal da cidade (o “bosteiro”, como era conhecido), que desembocava norio Graçu, no prolongamento da rua do grupo escolar. Teve um exaustivo trabalho, durante horas daquela noite, para colocar fezesatrás das maçanetas dos carros (poucos guardavam os veículos em garagens), nas residências e no balcão do açougue (portascom vãos), nos estofados dos carros e de bares e nos bancos de jardins que, logo pela manhã, estavam cheios de pessoasaguardando o que fazer. Recolheu-se esperando os acontecimentos...

A cidade amanheceu com um mau cheiro inesquecível. As pessoas ficaram possessas, revoltadas, com suas mãos ouroupas cheias de excrementos. A investigação para a descoberta do autor ou autores foi exaustiva, e chegou-se à conclusão quesomente alguém como o Ty seria capaz de imaginar e pôr em prática tal brincadeira. Foi intimado a comparecer à delegacia, onde,sob proteção da família e dos políticos da época, negou sob juramento a autoria do fato. Sua argumentação era simples: “Nãotenho culpa se choveu m... em Guaçu”. Decorridas poucas semanas, inclusive compôs “estrofes” que fizeram sucesso na época:“Mogi-Guaçu / terra que todo mundo gosta / de dia chove água / de noite chove bosta”. Jamais deixou esta terra. De vez emquando o encontro, sempre com as mesmas vestes e costumes da época que o transformaram em um “tipo inesquecível”.

O dia que choveu m... em GuaçuAntonio Carlos Lima Pompeo

Page 6: "O Bandeirante" - nº 248 - julho 2013

6 O Bandeirante - Julho 2013

Viagem de ônibusEvandro Guimarães de Sousa

SorrisoEvanil Pires de Campos

Viajar de ônibus pelo interior de Minas Gerais é muitobom, pois há um clima amistoso entre os passageiros e osdiálogos são muito interessantes.

Na viagem da semana passada, rumo a uma cidadelocalizada no Sul de Minas, embarquei em um ônibus do tipoexecutivo que apresenta filmes a bordo e oferece fones deouvido. Uma das passageiras, antes da partida, dirigiu-se aomotorista e disse: “Não tô ouvindo nada. Tem esse negóciopra coisá?” Cuja tradução do mineirês significa: “Dá paratrocar este fone de ouvido”?

Na saída o agradável motorista anunciou: “Bom dia atodos. Tem água, café e sanitário lá trás.” O que ele nãoexplicou era que a água estava quente e o café frio. Além disto,a entrada no WC dependia da força do passageiro, muitaperseverança e controle mental para não sujar as roupasíntimas, porque a porta estava emperrada. Além disto, não haviagarantia que o angustiado usuário conseguisse sair de lá semajuda externa para abrir a porta. Outro fato curioso é que estemotorista, ciente de suas responsabilidades, após desejar boaviagem a todos, recomendou: “O uso de cinto de segurança éobrigatório” e completou: “Quem quiser, pode usar!” E láfomos nós, envolvidos por aquela camaradagem entre os

passageiros, pois se escuta as conversas entre eles e noscelulares que tocam o tempo todo. Lá pelas tantas, paramosnum posto de abastecimento e uma funcionária do restauranteanunciou que haveria um sorteio e seria oferecido um café damanhã de cortesia para o passageiro da poltrona indicada. Logofoi anunciado: “Poltrona 20”. Aquela senhora do fone deouvido afirmou: “Tô sentada aqui, mais o meu lugar é no 21”.“Não tem importância”, respondeu a funcionária. “A senhorafoi escolhida”. Aí ela disse: “Viajo nesta viação há mais devinte anos e nunca ganhei nada e agora só um café da manhã!”Parece que a senhora ficou decepcionada com o convite, poisdeve ter pensado que seria uma simples xícara de café. Porém,devo registrar que deve ter mudado de ideia, pois quando voltoupara o veículo carregava diversas sacolas com salgadinhos,refrigerantes, balas e chocolates.

O retorno para São Paulo foi mais tranquilo, poucaspessoas embarcadas, poucas paradas, silêncio a bordopermitindo um longo cochilo. Despertei assustado quando umapassageira berrou no celular: “Mãeee, tô chegando em SãoPaulo. Tô passando por baixo do túnel!”

Será que embarquei num ônibus tipo tatuzão? Aqueleequipamento usado para abrir buraco de metrô? Nada disso,apenas uma questão de interpretação, pois ela queria dizer éque estava atravessando um túnel. Felizmente, nada maisaconteceu.

No sentido de evitar problemas, algumasrecomendações são muito importantes durante estas viagens.Ir ao sanitário antes da partida e um pipibreak na paradaobrigatória, pois não é fácil usar o WC a bordo. Você costumaacertar tudo, menos o vaso sanitário. Não coma nada durante otrajeto. Alguns alimentos associados aos solavancos, duranteo percurso, podem gerar reações intestinais incontroláveis. Levelivro, revista ou jornal e mergulhe na leitura, assim você evitaráo interrogatório interminável do simpático passageiro ao seulado. Boa viagem e que São Cristovão nos proteja. Saudaçõesrodoviárias.

Ato alegre, afetivo e espontâneoQue emerge e flui de uma almaAo sentir e ao encerrar gesto puroAbre um rico e florido coraçãoDesperta nas tenras cordas, o amorPousa nosso ardor e no sublimeIncita nosso ser à pura nostalgiaArrebata a ânsia do imo fervorosoInvoca o desejo de acalentarAcorda nosso ser no sonharDeita nossa esperança no porvirDesabrocha nosso ser no sorrirExalta na face uma suave alegriaAfoga na vida a ferida tristezaAo contrair poucas fibras faciaisLiberta na expressão um ar serenoAquece o fervor do peito silenteRevela no sorriso o seu rico olharCanta e palpita feliz nosso pensarDerrama em nossa vida dócil emoçãoE o sorrir tonifica e clareia a menteAo deixar a alma aberta para a visão

Emana no rosto um jeito só natural.

Page 7: "O Bandeirante" - nº 248 - julho 2013

O Bandeirante - Julho 2013 7

Sua participação contempla:

* Três diárias no Primar Plaza Hotel.* Refeições durante a Jornada (bebidas à parte).

* Coffee Break

* Transporte dentro da cidade* Passeio Eclusa Barra Bonita com almoço a bordo.

* Sessões Literárias dinâmicas com apresentaçãodos trabalhos inscritos.

* Intercâmbio cultural com a Academia Botucatuense deLetras e Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP).

* Um exemplar dos Anais da Jornada.*Um exemplar da IX Antologia Paulista

* Certificado de participação

Passeios Opcionais:

* Três Pedras: conjunto de elevações rochosasque, vistas de longe, assemelham-se a um

“Gigante Adormecido”.* Museu do Café: preserva a memória da

cultura cafeeira.* Fazenda Lajeado: remonta ao período dos

coronéis e dos escravos.

Custo do Pacote:

R$1.200,00 por pessoa (cada acompanhante deveráse inscrever com taxa de idêntico valor)

Forma de Pagamento:

DUAS parcelas de R$ 600,00 (cheques pré-datados para 30/07 e 30/08 de 2013).

SOLICITE HOJE MESMO SUA FICHA DEINSCRIÇÃO DE PARTICIPE DESTEGRANDE EVENTO DA SOBRAMES

Solicite por e-mail: [email protected]

Dia 26/09/2013 - QUINTA -FEIRA14h00 - início do Check- in no Primar Plaza Hotel19h00 - Recepção aos participantes e convidados19h30 - Abertura Oficial: Presidente da Sobrames - Dr. Sérgio Augusto de Munhoz Pitaki Presidente da Sobrames São Paulo – Dra. Josyanne Rita de Arruda Franco Apresentação das autoridades presentes/ Discurso20h15- Apresentação do Coral da Prefeitura21h00- Coquetel no Teatro Municipal de Botucatu

Dia 27/09/2013 - SEXTA -FEIRA 08h15 - Início da 1ª. Sessão Literária: Apresentação dos textos em Prosa e Poesia10h15 -10h45 - Coffee Break Lançamento da IX Antologia Paulista11h00- Início da 2ª. Sessão Literária: Apresentação dos textos em Prosa e Poesia12h30- Almoço no Primar Plaza Hotel13h45- Início da 3ª. Sessão Literária: Apresentação de textos em Prosa e Poesia15h15: Coffee Break16h00: Início da 4ª. Sessão Literária: Apresentação de trabalhos em Prosa e Poesia17h30: Encerramento das sessõesATIVIDADE NOTURNA:19h15- Saída para o Teatro Municipal20h00- Apresentação da Orquestra Sinfônica de Botucatu21h15- Saída para o restaurante Celeiro21h30- Jantar no restaurante Celeiro

Dia 28/09/2013 - SÁBADO08h15 – Fórum da Academia Brasileira de Médicos Escritores(ABRAMES).10h00 - Coffee Break10h30 - Saída para Barra Bonita: Passeio Eclusa com almoço a bordo.

Confira a programação prévia das Jornadas de Botucatu

ATIVIDADE NOTURNA:19h45- Saída para o restaurante Sinhô Sinhá20h15- Apresentação de Conjunto Folclórico Regional Premiação: entrega do Troféu O Bandeirante aos vencedoresem Prosa e Poesia.21h00 – Jantar de Confraternização e Encerramento23h30 – Retorno ao Hotel

Dia 29/09/2013 – DOMINGOCheck-out e translado de Botucatu para o aeroporto de Viracopos(Campinas) após o café da manhã, de acordo com o interesse e númerode participantes.

CONCURSO LITERÁRIO EM PROSA E POESIAJulgadores:Acadêmico Antonio Evaldo Klar (Presidente da AcademiaBotucatuense de Letras);Acadêmico Evanil Pires de Campos;Acadêmica Maria Amélia Blasi Toledo Pizza eAcadêmico Sebastião Avelar Pires.

TROFÉUS:Serão confeccionados pela artista plástica Eleonora Yoshino.

Embora ainda possam existir ajustes e alterações neste programa básico, o evento está repleto deatrações imperdíveis. Confira a seguir o que acontecerá nas Jornadas de Botucatu entre 26 e 29

de setembro de 2013.

Page 8: "O Bandeirante" - nº 248 - julho 2013

FATOS & OLHARESMárcia Etelli Coelho

*Homenagem a autores consagrados:Pizza Literária de julho

*Jubileu de Prata“SOBRAMES-SP 25 ANOS”:Pizza Literária de setembro

*XII Jornada Médico-Literária Paulistae Jornada Nacional

da Sobrames: dias 26, 27, 28 e29 de setembro, em Botucatu-SP.

*Lançamento da 9a. AntologiaPaulista: Jornada de Botucatu.

*Pizza Literária de Natal:dia 19 de dezembro.

TATIANA BELINKY, IN MEMORIAMDurante a Pizza Literária, prestamos uma homenagem à grande escritorade livros infanto-juvenis e crítica literária Tatiana Belinky, falecida no dia

15 de junho. Ela era Sócia Honorária e engrandecia o quadro deassociados da Sobrames-SP com o

prestígio de seu nome e talento.“ Sou antiga, mas não sou velha, porque dentro de mim continua

vivinha a criança que fui e isto me permite estar em sintonia com

crianças e jovens, com quem procuro repartir minhas curtições de

ontem e de hoje. Meu prêmio maior é saber que meus livros irão para

as mãos das crianças e, se elas sorrirem ou se emocionarem ou ficarem

pensativas, eu ficarei feliz”. (Tatiana Belinky)

“QUEM é QUEM”

Resposta na próxima edição.Participe desta seção enviando uma

foto sua bem antiga para a redação.

PITAKI EM SAMPAAlguns sobramistas não conseguiram driblar a manifestação

pública reivindicatória que atravancou a cidade de São Paulo nanoite de 20 de junho, dia da última Pizza Literária.

Mesmo assim, a agradável reunião acolheu Sérgio Pitaki,presidente da Sobrames Nacional, que relatou com

entusiasmo sua viagem às diversas regionais.

FEIRA DO LIVRO EM RIBEIRÃO PRETONelson Jacintho foi o Autor da Terra homenageado na Feira Nacional doLivro de Ribeirão Preto 2013 realizado no período de 6 a 16 de junho. Alémde excelente escritor, palestrante e membro de diversas Academias eEntidades Literárias, Nelson é também diretor de Patrimônio da OrquestraSinfônica de Ribeirão Preto, autor da letra do Hino da Orquestra que foibrilhantemente tocado no encerramento do evento. Detalhes no site:

www.feiradolivroribeirao.com.br

ROBERTO ANTONIOANICHE

era o jovem tímidoda edição de JUNHO.

DESAFIO DO MÊSDiga-nos quem é esta criança,

que hoje tornou-se uma dedicadae premiada escritora.