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O Antepassado

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Paulo Lucas

O ANTEPASSADO Um Brasileiro no Ano 15.000 D.C 1ª Edição

Campinas Edição do Autor 2013

Paulo Lucas

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Copyright®2013 by Paulo Lucas

Todos os direitos reservados

Capa

Paulo Lucas

Revisão

Paulo Lucas

Editoração eletrônica

PerSe

Publicação

PerSe

www.perse.com.br

1ª Edição

272 Pgs

_________________________________________

Lucas, Paulo

O Antepassado / Paulo Lucas Campinas-SP

Perse 2013

1. Ficção científica. 2. Drama. 3. Futurismo

_________________________________________

Perse 2013

Esta é uma obra de ficção. Todos os personagens, organizações,

e eventos mostrados nesta novela são produtos da imaginação do

autor ou são usados de forma fictícia.

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Dedico este livro a todos aqueles que ousam sonhar com um mundo cheio de imaginação e fantasia.

Paulo Lucas

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Cap.1....................................................................................................06 Cap.2....................................................................................................17 Cap.3....................................................................................................32 Cap.4....................................................................................................46 Cap.5....................................................................................................62 Cap.6....................................................................................................70 Cap.7....................................................................................................81 Cap.8....................................................................................................90 Cap.9....................................................................................................97 Cap.10...............................................................................................113 Cap.11...............................................................................................124 Cap.12...............................................................................................136 Cap.13...............................................................................................145 Cap.14...............................................................................................154 Cap.15...............................................................................................157 Cap.16...............................................................................................166 Cap.17...............................................................................................176 Cap.18...............................................................................................184 Cap.19...............................................................................................192 Cap.20...............................................................................................199 Cap.21...............................................................................................208 Cap.22...............................................................................................216 Cap.23...............................................................................................226 Cap.24...............................................................................................237 Cap.25...............................................................................................244 Cap.26...............................................................................................247 Cap.27...............................................................................................251 Cap.28...............................................................................................258 Cap.29...............................................................................................267

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Capítulo 1 A noite não tinha sido boa e pelo jeito a manhã quente

mostrava que o dia seria uma bosta — Silvio pensou justamente isso enquanto abria os olhos. Irritado, sentou na cama e olhou para mulher que dormira ao seu lado. Uma mulher que deveria ser sua esposa. Mas ao contrário disso, passava a maioria do tempo dizendo que ele não passava de um merda inútil sem ambição. Nem se lembrava mais de quando tinha feito amor com ela. Todas as vezes que a procurava era a mesma coisa: estou com dor de cabeça vê se me deixa dormir. Inconscientemente, ele coçou a cabeça. Pensando em quem deveria estar com dor de cabeça seria ele, por causa daquele monte de galhas que ela estava lhe pondo. Ela nem tinha noção disso, mas ele sabia muito bem que ela andava lhe traindo. E como sabia.

Com um gesto cansado, ele olhou para o criado-mudo ao seu lado. O display do relógio gritava implacavelmente em vermelho. Aquela maldita máquina de marcar a passagem do tempo não tinha sentimentos. Não sabia o que era ter piedade. Era hora de levantar! Ao por os pés no chão Silvio gemeu. Pensando irritado em como aquela banha acumulada na barriga lhe atrapalhava. Antes de entrar no banheiro para tomar sua ducha matinal, se virou tornando a olhar para sua mulher. Uma pontada no peito lhe deu uma sensação de perda — o sentimento que aquele casamento fracassado deveria terminar ficou claro como o dia. Mas ele ainda amava aquela mulher — mesmo com todos os chifres que estava levando — mesmo assim ainda amava aquela desgraçada.

A água morna do chuveiro não conseguiu clarear sua mente exausta. Sua vida começou a passar diante dele como se fosse um filme B vagabundo. O ato de escovar os dentes tornou-se mecânico enquanto estava mergulhado em pensamentos

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profundos. Era filho de um casal de classe média que sempre tivera o sonho de ver o único filho ser um funcionário público. Ele tinha levado uma vida superprotegida onde seu único esforço era estudar. Seus pais lhe providenciaram tudo o que necessitava.

Apesar de ter sido um rapaz sem metas claras na vida, conseguiu terminar a faculdade e passou num concurso para trabalhar num banco estatal. Seus pais já bastante idosos sentiram que tinham realizado um grande sonho. O filho era empregado do governo. Um emprego onde teria estabilidade e consequentemente se aposentaria sem muitos transtornos na vida. Uma vida tranquila num emprego tranquilo. Por conta dessa proteção excessiva o filho deles tinha se tornado um fraco. Tinha se tornado um homem sem atitude diante dos desafios impostos pela vida diária.

Ao sentar a mesa para o desjejum, uma pontada de solidão aguilhoou sua mente já atormentada. Depois da morte de seus pais ele casara com a primeira mulher que namorara. Tinha feito isso porque sempre tivera o medo de ficar sozinho. Os pais lhe protegeram durante toda a vida. Para um homem como ele, ficar sozinho era a coisa mais horrível deste mundo.

“Merda de vida inútil! Isso precisa ter um fim. Tenho que tomar uma decisão de vida, o mais rápido possível. Preciso virar um homem!” — ele pensou irritado.

Ele se levantou sacudindo as migalhas de pão de cima da gravata e da camisa social. Novamente olhou entristecido em direção ao quarto. Sabia que não haveria um beijo ou até mesmo um bom dia meu amor. Da forma que sairia para o trabalho, seria a mesma coisa ao chegar de tarde. Ao entardecer, a volta teria a sutileza de um chute nos bagos. O casal em vias de separação passaria a noite quase sem se falar. A casa pequena, mas confortável era ocupada por um casal que praticamente já não se falava. Silvio sabia que sua mulher estava saindo com o patrão dela, que era o dono da agência de seguros Viva Bem.

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Ele se dirigiu ao portão para abri-lo para sair com o carro. Gemendo por causa do ventre volumoso, se abaixou para recolher o jornal diário o Estado de São Paulo embrulhado em sua embalagem de plástico. Com o rosto fechado pelos inúmeros pensamentos conflitantes, colocou o jornal debaixo do braço. Assim que trancou a porta, ele entrou em seu carro Gol geração cinco. O carro era a única coisa que ultimamente lhe dava certo prazer. Ao se sentar na direção do veículo, deu uma olhada na primeira página do jornal. Com um franzir de cenho, notou a matéria sobre buracos de minhocas, que os cientistas americanos diziam existir no universo.

— Tolice! — resmungou para si mesmo. De forma displicente jogou o jornal no banco do carona. Minutos mais tarde seu carro já rodava pela Avenida das Amoreiras na altura do bairro Vila Rica. Como que embrutecido pelo tédio matinal, engatou uma sucessão de marchas com o semblante fechado. Silvio não conseguia se conformar com a traição da esposa. O pior que ele a amava muito, nem fazia idéia em como poderia viver sem ela. Por causa da angústia e do nervosismo, sentiu uma terrível vontade de fumar. Num gesto mecânico acendeu um cigarro colocando-o nos lábios. Era melhor fumar aqui porque a porra da nova lei proibia fumar em ambientes fechados. Enquanto o carro parava nos inúmeros sinais na avenida, ele contemplou os olhares bovinos das pessoas indo para o trabalho. Os carros que passavam ao seu lado lhe davam uma visão privilegiada de idiotas bocejando. Alguns escarafunchavam os narizes numa limpeza nasal matinal.

Com olhos cansados, ele deu uma baforada enquanto esperava o sinal abrir. Com uma olhadela para o ponto de ônibus, observou um grupo de moças adolescentes com faces desgastadas pelos inúmeros vícios. Faces desbotadas pelas noitadas em claro nas baladas, e o uso indiscriminado de anticoncepcionais ou algum tipo de entorpecente. “Cadelas fodidas da porra! São todas iguais!” — ele pensou com revolta.

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Com certa irritação, notou que o trânsito não andava. Eram somente sete horas e quarenta minutos da manhã e o calor já transformava o interior do carro numa sauna. “Porra de trânsito que não anda!” — pensou irritado. Passou os dedos sobre a testa para tirar o excesso de suor que ameaçava cair em seus olhos. Já sentia a papada grudando no colarinho da camisa. Ele se virou para trás e deu uma olhada na fileira de carros em sua traseira. Um inferno de gente irritada, achando que o botão da buzina era a solução para a lentidão do trânsito.

Impaciente Silvio ligou o som do carro manipulando o dual do rádio FM a procura da rádio Antena1, mas foi somente chiadeira que o equipamento lhe deu. Ele socou o painel.

— Bosta de som! Deve ter quebrado alguma coisa. Só faltava uma merda dessas agora!

O caos sonoro das buzinas o rodeou deixando-o mais nervoso ainda. Para completar o quadro da manhã que já não estava muito boa, o motor do carro gaguejou e acabou morrendo de vez. Com a sofreguidão de um viciado, ele sentiu vontade de fumar outro cigarro. Com a avidez de um faminto acabou girando a chave no contato diversas vezes. Nada. Todavia, ele não tinha a mínima noção que os carros a sua frente e traseira estavam passando pelo mesmo problema técnico.

— Vamos... Vamos. Faça o meu dia! Pega droga! — ele girava a chave como um desesperado. Mas o carro não dava sinal de que iria atendê-lo.

De uma forma inesperada o vento morno lançou poeira no ar e lhe despertou a atenção. O engraçado era que o vento só estava esvoaçando em volta do seu carro e mais alguns outros. Que merda é essa agora? — disse enquanto olhava através do parabrisas.

Subitamente um ligeiro tremor balançou a carroceria do carro. Horrorizado, Silvio notou pequenos fogos-de-santelmo dançando sob o capô a sua frente. Uma caneta que estava sob o

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painel vibrou e acabou fazendo uma dança macabra. Agia como se estivesse impulsionada por um espírito. Até que finalmente foi parar no assoalho abaixo.

— Diabos, o que está acontecendo aqui? Assim que desviou a atenção da caneta e voltou a olhar para

fora através do parabrisas, ele viu algo que sua mente racional se recusou a acreditar. Notou uma estranha neblina luminosa começando a se formar em volta de seu carro. Transformando aquele trecho da Avenida das Amoreiras num cenário surreal de algum filme de horror. Mas o que veio em seguida deu um toque fantasmagórico ao que já estava acontecendo.

O gol bola de Silvio deu um solavanco e foi erguido do chão. A carroceria reverberou como um sino, fazendo com que seu motorista sentisse vontade de jogar o café da manhã no painel a sua frente. Quase colocando os bofes para fora, ele viu que a neblina tinha cedido e dera lugar a uma forte luminosidade.

Em ambas as calçadas da avenida, as pessoas passaram a observar a cena inusitada, quase não podendo acreditar no que seus olhos viam. Bem no centro das fileiras de carros parados por causa do congestionamento, surgira um vórtice impetuoso de vento arremessando detritos e papel em redemoinho. Pessoas foram arrastadas como se fossem meras figuras de papelão ao sabor das intempéries.

Subitamente um motoqueiro numa moto Honda CG 150 vinha no sentido centro bairro. O cara rodopiou e voou sobre os carros. Com a cabeça, o motoqueiro fez uma abertura no parabrisa traseiro de um automóvel Astra de cor perolada. A confusão se instalou em toda parte. Um observador externo teria visto o carro de Silvio tremular como um holograma defeituoso, que piscava ininterruptamente.

O carro encolheu sobre si mesmo e finalmente desapareceu como se fosse sugado para o nada. No ponto da Avenida das Amoreiras logo após a ladeira do bairro Vila Rica, carros

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explodiram numa terrível cascata de fogo. Suas estruturas moleculares metálicas foram desarranjadas e geraram um calor horrível. Colunas de fogo alimentadas por combustível subiram ao céu num inferno de fogo de cor vermelha amarelada. Um vento circular continuava inexplicavelmente girando no local. Para aumentar o horror de quem assistia ao fenômeno, as nuvens no céu logo acima rodopiaram rapidamente. Agindo como se estivessem sob o poder de uma força, que teimava em agir fora das leis da física.

Silvio se viu envolto por uma fortíssima luminosidade branco-azulada. Era como se tivessem acendido holofotes poderosos os apontando para dentro do carro. Ele sentiu como se milhares de agulhas incandescentes picassem por toda a superfície de sua pele. Seu crânio latejou como um farol infernal de dor. Depois de alguns segundos sentindo aquela tortura inimaginável, o funcionário do banco estatal perdeu a consciência. Ele se encurvou sobre a direção do veículo.

A floresta era fechada e fria. Demasiadamente fria, como se o

local fizesse parte de alguma região setentrional dos continentes da Terra. As árvores eram muito altas e parecidas com pinheiros. Em fileiras densas e cerradas elas cobriam grandes extensões de terra e colinas. Trechos cobertos de neve surgiam frequentemente por baixo dos troncos rugosos e centenários das árvores. Arbustos de uma estranha coloração azulada surgiam incólumes por cima dos trechos cobertos pela neve. Gerando uma visão exótica e ao mesmo tempo bonita de se ver. A gelada região florestal faria a delícia de um caçador da Terra. Principalmente ao ver os inúmeros animais pastando por entre a vegetação. Por cima da alta e gelada floresta, o céu era de um azul profundo. Mostrando que aquele mundo frio era muito rico em oxigênio. Nuvens tipicamente de friagem vagavam de leste para oeste. Tangidas por correntes frias de vento que vinham dos oceanos um pouco distante.

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Os animais eram muito parecidos com uma mistura de gamos e camelídeos. Saltitavam por toda parte mordiscando os fartos arbustos azulados. Dos troncos das árvores a muitos metros do solo úmido, outros tipos de animais achatados e peludos volitavam de uma parte a outra. Seus corpos eram parecidos com arraias. Tinham corpos aerodinâmicos, que lhes permitiam saltar e flutuar graciosamente com as correntes de ar.

Logo acima do horizonte coberto de vegetação escura e por detrás das nuvens, um corpo celestial gigantesco podia ser visto plenamente a luz do dia. Na verdade, aquele corpo era um planeta imenso. Isso acontecia, porque o mundo frio e coberto pelas densas florestas de pinheiros era uma lua daquele planeta, que aparecia no céu naquele momento.

Num súbito esplendor de luz, um gigantesco sol azulado se ergueu no horizonte. A estrela começou a espalhar uma forte luminosidade esbranquiçada sobre a paisagem florestal. O planeta gasoso gigante e sua lua cheia de vida muito parecida com a Terra. E estava na posição de quinto planeta daquele sistema solar desconhecido. Se não fosse assim, a energia e o calor gerado pela gigante azul não possibilitaria a vida na lua florestal. Assim que a intensidade da luz solar aumentou, as baixas temperaturas começaram a amenizar. As noites naquela lua costumavam ser severamente frias. Com temperaturas chegando facilmente a vinte graus abaixo de zero. A lua possuía um clima muito severo. Que poderia ser considerado hostil para um ser humano, acostumado com o clima temperado de muitas regiões da Terra.

Os animais voadores semelhantes às arraias terrestres começaram uma algazarra de pios e assobios estridentes. Indo e vindo à maneira dos morcegos. Eles arrebatavam frutos azulados do tamanho de pêssegos das copas das árvores. Logo abaixo, os riachos por entre as árvores emitiam uma sinfonia de murmúrios por entre seixos coloridos do tamanho de ovos. De onde peixes parecidos com lagartos saiam de vez em quando das águas

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cristalinas geladas. Os peixes ficavam a toa nas margens como se tivessem muita dificuldade para respirar aquele ar gelado. Aqueles peixes estavam evoluindo para formas reptilianas e ensaiavam os primeiros passos na terra seca.

Imediatamente um ruído semelhante a uma chapa de metal sendo rasgada foi ouvido por entre as árvores. Logo uma luz muito forte apareceu. Era como se um sol em miniatura surgisse do nada em meio à vegetação. Um vento quente acompanhado por um rugido surdo ecoou. Quase como se um trovão espocasse através dos inúmeros troncos das árvores. Animais, árvores e arbustos foram vaporizados em meio à estranha aberração energética. Logo o fogo energético cessou, e uma fumaça causticante da vegetação verde queimada pairou como uma neblina fantasmagórica. Bandos de animais conseguiram escapar do fogo energético inexplicável. Eles saíram desesperados correndo para todos os lados. Os bichos emitiam gritos e bramidos angustiados pelas vastidões geladas cobertas de árvores.

Assim que a fumaça amenizou um pouco, uma cratera havia surgido onde antes só havia arbustos e manchas de neve suja. No meio da cratera que soltava vapores, havia um carro parado de qualquer jeito. Era como se fosse um brinquedo que uma criança enjoa de brincar e o joga de qualquer jeito no chão. O veículo estava com diversos chamuscamentos na lataria, em muitos pontos a pintura se transformara em bolhas repugnantes como se fossem feridas malignas. Na direção do veículo havia um homem desacordado. Depois de alguns minutos o rapaz abriu os olhos e se deparou com a estranha realidade a sua volta.

Meio atordoado, o homem jovem saiu do veículo. Ele pôde sentir o bafo gelado da floresta agora mesclado com o cheiro de vegetação verde queimada. Como se fosse um bêbado ele olhou ao redor pela estranha floresta. Os exóticos sons da fauna chegaram aos ouvidos dele. Contribuindo para o atordoamento dos sentidos. Durante algum tempo Silvio se apoiou no capô.

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— Puta merda! Eu devo ter morrido em um acidente e essa porra deve ser algum tipo de vida após a morte. — disse para si mesmo.

Ele ficou observando os tipos de árvores que nunca vira na vida. A visão dos estranhos animais peludos alados em forma de arraias saltitando por entre os altos galhos numa algazarra de silvos e pios, contribuiu para que ele ficasse mais confuso ainda. Ele sentiu perfeitamente que o lugar era muito frio, frio demais para um brasileiro nascido e criado na cidade de Campinas. Tremendo, Silvio finalmente notou os vestígios de neve no solo escuro da floresta. Mesmo com a gigantesca estrela azulada aquecendo o dia, ainda havia neve não derretida em toda parte.

Sem saber o que fazer e confuso, ele tencionou voltar ao interior do veículo quando pôde ouvir um estranho silvo mecânico. Era como se alguma máquina estivesse se aproximando através do interior da floresta. A cada instante a maquinaria vinha em sua direção silvando como se estivesse usando poderosas turbinas. Ele não pretendia saber o que aquilo significava. Com os pés chapinhando no solo encharcado pela neve derretida, saiu correndo em meio aos arbustos embaixo das árvores. Sem uma direção certa foi correndo enquanto galhos e outras ramagens vinham de encontro ao seu rosto e peito. O açoite da vegetação acabou lhe causando ardores desagradáveis na pele já maltratada pelo frio. Mesmo em desabalada carreira a esmo para dentro da selva estranha, o brasileiro ouvia o silvo cada vez mais perto. Era como se aquilo que estava vindo ao seu encontro soubesse exatamente o que buscar e a posição exata.

Esgotado pelo frio e pela correria, ele parou. Encurvou-se com as mãos sobre os joelhos tentando desesperadamente respirar. Resfolegava como se fosse um asmático e sua respiração saia em haustos com condensação por causa do ar gelado.

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— Porra de cigarro que não me deixa correr! O que será isso que está vindo atrás de mim? E que maldito lugar é este? — disse enquanto tentava sugar o ar gelado.

Finalmente o silvo da turbina o alcançou, folhagens dos galhos mais elevados sobre a cabeça dele se remexeram. Com olhos esbugalhados de medo, ele viu uma espécie de plataforma redonda flutuante semelhante a um disco. E sobre o pequeno disco flutuante, um estranho jovem de cabelo ruivo cor de sangue observando-o com curiosidade!

Imobilizado pelo susto, Silvio absorveu os detalhes daquela visão inusitada. A pequena plataforma se parecia com um escudo metálico azulado. Possuía uma estrutura semelhante ao parapeito das antigas bigas romanas. O sujeito ruivo manobrava a estranha estrutura através de um painel a sua frente. O jovem ruivo tinha a pele escura e usava um tipo de uniforme cor de ferrugem com ombreiras que pareciam ter sido feitas de couro de algum réptil. Estranhas divisas tilintavam penduradas no peito do estranho uniforme.

O jovem ruivo parecia estar tão surpreso quanto Silvio. Parecia pensar calmamente no que faria em seguida. Finalmente disse algo numa língua estranha, que Silvio não entendeu patavina alguma. A plataforma flutuante parecida com uma biga sem cavalos balançava suavemente para todos os lados. Parecia que o nervosismo do piloto se manifestava através dos controles. Depois de algum tempo naquele impasse, outras bigas voadoras surgiram por entre as altas copas das árvores.

Silvio ficou observando os estranhos sem saber o que poderia fazer. Não tinha a mínima noção se aquelas pessoas morenas eram hostis. Logo um dos estranhos decidiu acabar com o nervoso impasse. Ele apontou um pequeno bastão metálico em direção ao brasileiro. A estranha arma chiou enquanto soltava um estranho raio avermelhado. O raio de energia bateu no peito de Silvio, fazendo com que ele sentisse vertigem e um grande formigamento