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O apoio daITAIPU BINACIONAL ao plantio direto

PLANTIO DIRETO

O Paraná enfrentava um terríveldilema no início da década de1970. Grandes extensões de ter-

ras férteis estavam ameaçadas pela ero-são. Um drama que poderia comprome-ter toda a cadeia produtiva do estado,com graves consequências para a eco-nomia. Filho de agricultores no Oeste doParaná, eu vivi o problema bem de per-to. Quando chovia forte, a enxurrada le-vava tudo pela frente: destruía as lavou-ras e carregava uma imensa quantidadede terra. Córregos e rios ficavam bar-rentos e avermelhados.

Era como se as veias da terra esti-vessem abertas, fazendo escorrer a prin-cipal riqueza da região: o solo fértil. Hoje,o Brasil bate recordes sucessivos de pro-dução e é um dos principais exportado-res de alimentos do mundo. O Paraná,especialmente a Região Oeste, onde estálocalizada a usina hidrelétrica de Itaipu,destaca-se como referência em produti-vidade e conservação. Mas o que acon-teceu neste intervalo de apenas 40 anos,que reverteu o processo de erosão, afas-tou o risco de desertificação de áreascultiváveis e transformou radicalmentea agricultura do estado e do País?

A resposta passa pela história de trêsagricultores paranaenses, pioneiros na

Jorge Samek, diretor-geral brasileiro de Itaipu Binacional

técnica do sistema de plantio direto: Her-bert Bartz, de Rolândia, Franke Dijkstra,de Castro, e Nonô Pereira, de PontaGrossa. Angustiado com o declínio ace-lerado das lavouras nacionais, Bartz vi-sitou a Europa e os Estados Unidos em1972. Queria saber como os produtoresde fora enfrentavam o problema. Logo,

A reversão do processo de erosãono Paraná passou pela história detrês agricultores paranaenses, ospioneiros na técnica de plantio

direto: Franke Dijkstra, de Castro;Herbert Bartz, de Rolândia; e Nonô

Pereira, de Ponta Grossa

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PLANTIO DIRETO

percebeu que as velhas técnicas agríco-las – queima da palha e revolvimento dosolo – estavam agravando o processo deerosão. Era preciso inverter a lógica equebrar paradigmas. Ou seja, cultivarsem revolver a terra, promover a rota-ção de culturas e manter a cobertura ve-getal do solo.

No começo, o novo método de culti-vo sofreu muita resistência. Nonô Perei-ra diverte-se ao lembrar que os pionei-ros da técnica eram chamados de “visi-onários, poetas, filósofos e até de lou-cos” pelos produtores da época. A armapara enfrentar a desconfiança e o pre-conceito era a informação. Em outraspalavras, mostrar aos agricultores que oplantio direto garantia resultados econô-micos, com redução dos custos de pro-dução e aumento da produtividade. Dequebra, apresentava ganhos ambientaisimportantes, com a preservação dos re-cursos naturais e a sustentabilidade daatividade agrícola.

Ao mesmo tempo, foi preciso adap-tar o velho maquinário agrícola para quepudesse ser utilizado no sistema de plan-tio direto. Técnicos e pesquisadores, emparceria com a indústria de implementosagrícolas, empenharam-se no trabalho.A família do gaúcho Roberto OtavianoRossato, da empresa Semeato, deu umacontribuição decisiva. Nascia uma novageração de semeadoras. Fundamentaltambém foi o envolvimento de todas asforças vivas do setor rural – instituiçõespúblicas de pesquisa e de assistência téc-nica, cooperativas, universidades, asso-

ciações de agricultores e indústrias de im-plementos agrícolas.

O esforço e a dedicação deram resul-tado. Hoje, o plantio direto está presenteem 95% das plantações de grãos do Para-ná e em cerca de 30 milhões de hectaresdo Brasil, quase a metade de toda a áreaplantada do País. E com potencial paracrescer ainda mais. Como afirma NonôPereira, o País tem “clima, tecnologia eextensão geográfica. Ninguém tem essehorizonte agrícola e sem precisar entrarna Amazônia. O certo é que temos 100milhões de hectares esperando a recupe-ração para matar a fome do mundo”.

Para Herbertz Bartz, “tivemos a opor-tunidade de provar que, quando ainda nemse falava de meio ambiente, muitos agri-cultores brasileiros já conservavam os so-los, zelavam pela preservação dos ma-nanciais hídricos, através de uma técni-ca que veio substituir outra que nos obri-gava a plantar três ou quatro vezes amesma safra. Isso hoje, felizmente, nãoexiste mais”. Impulsionados pelos pio-neiros, a modernização do campo e o de-senvolvimento da agroindústria abriramnovas frentes: a conversão da proteínavegetal em animal, por exemplo. No Oes-te do Paraná, não é exagero afirmar quese planta milho e colhe-se frango tempe-rado, embalado e pronto para consumo.

O envolvimento de Itaipu com a dis-seminação da tecnologia do plantio diretoé antigo. A empresa apoia e divulga a téc-nica desde a década de 1990, ao perce-ber que apenas a faixa de proteção do lagoseria insuficiente para garantir a qualida-de da água, recurso essencial para a vidae matéria-prima para geração de energia.O ano de 2003 foi um divisor de águas.Se antes o seu papel era essencialmente

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O Programa Cultivando Água Boa, daItaipu, foi reconhecido em março

pela ONU como a melhor prática degestão da água do planeta, o que

levou a comitiva da empresa a Nova Iorque

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gerar energia, naquele ano Itaipu abraçouuma nova missão empresarial, consubs-tanciada no seguinte enunciado: “Gerarenergia elétrica de qualidade, com res-ponsabilidade social e ambiental, impul-sionando o desenvolvimento econômico,turístico e tecnológico, sustentável, noBrasil e no Paraguai”.

Cultivando Água Boa — No ladobrasileiro, a área de atuação de Itaipufoi ampliada dos 16 municípios lindei-ros para os 29 municípios da Bacia doParaná 3 (BP3). Afinal, em toda essaregião, os rios e córregos existentesestão conectados ao reservatório de Itai-pu. Com o lançamento do ProgramaCultivando Água Boa (CAB), as açõesmultiplicaram-se. Uma das iniciativas foia criação de uma certificação do plantiodireto de qualidade, em parceria com aFederação Brasileira de Plantio Direto naPalha (Febrapdp). Esse projeto foi de-senvolvido de 2011 a 2013 em 226 pro-priedades BP3.

Na sequência, no final de maio desteano, em Cascavel, a Itaipu, a Febrapdpe a Fundação Parque Tecnológico Itaipu(FPTI) lançaram a Plataforma Web –Sistema Plantio Direto, uma ferramentaonline desenvolvida pelo Centro Inter-nacional de Hidroinformática (CIH). Olançamento ocorreu durante a 4ª Reu-nião Paranaense de Ciência do Solo, pro-movida pelo núcleo estadual da Socie-dade Brasileira da Ciência do Solo. Otrabalho tem como parceiros Embrapa,

Iapar, Emater,Universidade Es-tadual de Londri-na e Instituto RioGrandense doArroz (Irga).

Com a novaferramenta, serápossível calcular

o Índice de Qualidade do Plantio (IQP)de cada propriedade rural registrada,com base em um cadastro e parâmetrosde qualidade de manejo do solo. Ummapa interativo permitirá a visualizaçãogeográfica das informações. No futuro,a Plataforma Web poderá ser utilizadacomo apoio nas atividades de assistên-cia técnica e extensão rural (Ater). Asinformações relacionadas à plataforma eformas de acesso estão disponíveis naInternet (www.plantiodireto.org).

A Itaipu e a Embrapa também são par-ceiras no projeto Solo Vivo para avaliaro impacto do plantio direto (e outras me-didas conservacionistas, como a prote-ção de matas ciliares, adequação de es-tradas, terraceamento e práticas agroe-cológicas) em microbacias do Rio Grandedo Sul, do Paraná, de São Paulo, do MatoGrosso do Sul e de Goiás.

Aqui vale um parêntese: o ato de cria-ção da Embrapa e o Tratado de Itaipuforam assinados no mesmo dia, 26 deabril de 1973, quando o plantio diretoensaiava os primeiros passos no Brasil.É uma coincidência histórica, que refor-ça o compromisso das duas instituiçõesna promoção de boas práticas. A Itaipuainda mantém uma página em seu portalna Internet destacando o plantio diretocomo uma das prioridades do ProgramaDesenvolvimento Rural Sustentável, queintegra as ações do Cultivando Água Boa,com abrangência em toda a BP3. O en-dereço é www.itaipu.gov.br/meio-am-biente/plantio-direto.

No dia 30 de março, em Nova York,o Programa Cultivando Água Boa – queatua nos 29 municípios da BP3 – foi re-conhecido pela Organização das NaçõesUnidas (ONU) como a melhor prática degestão da água do planeta. Todas essasiniciativas mostram que ainda há muitosdesafios a serem superados no campo –e devemos estar preparados para enfren-tá-los. Nenhum desafio, porém, é maiordo que o poder transformador das pes-soas. Sempre digo: a gratidão é o senti-mento mais importante do ser humano.

São muitos os programas daItaipu Binacional em apoio atécnicas de conservação de

solo e água e plantio direto napalha, prática apoiada pela

empresa desde os anos 1990

Por isso, em fevereiro, durante o ShowRural Coopavel, em Cascavel, uma dasmaiores feiras de tecnologias agrícolas doBrasil, lançamos o livro “Plantio Direto: atecnologia que revolucionou a agriculturabrasileira”, pela Editora Parque Itaipu. Aobra resgata a história do plantio direto noBrasil e o papel decisivo dos pioneiros. Foiemocionante reunir Herbert Bartz, FrankeDijkstra e Nonô Pereira no mesmo eventopara homenageá-los. Os três ajudaram atransformar a agricultura brasileira e or-gulham o Paraná. Devemos, portanto,uma enorme gratidão a esses heróis pa-ranaenses.

Essa história precisa ser passada degeração para geração. Gosto de repetir quea terra, a água e o meio ambiente como umtodo nós não recebemos de herança dosnossos antepassados; nós tomamos em-prestados das gerações futuras e temos aobrigação moral de deixá-los em melhorescondições que aquelas que encontramos.Os três pioneiros do plantio direto entra-ram para o panteão da história como arau-tos da agricultura de conservação. Que sualição de audácia e obstinação nos encorajea fazer a nossa parte para salvar o planeta.As futuras gerações agradecem.