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2 | Ubirajara Emanuel Tavares de Melo

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Capivari-SP– 2015 –

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4 | Ubirajara Emanuel Tavares de Melo

Ficha catalográfica elaborada na editora

Melo, Ubirajara Emanuel Tavares de, 1940‑ Nunca morreremos / Ubirajara Emanuel Tavares de Melo – 1ª ed. jan. 2015 – Capivari, SP : Editora EME. 160 p. ISBN 978‑85‑66805‑50‑5

1. Espiritismo. 2. Reencarnação. 3. Provas científicas da imor‑talidade da alma. 4. Lembranças de existências passadas. I. TÍTULO.

CDD 133.9

© 2015 Ubirajara Emanuel Tavares de MeloOs direitos autorais desta obra são de exclusividade do autor.A Editora EME mantém o Centro Espírita “Mensagem de Esperança”, colabora na manutenção da Comunidade Psicossomática Nova Cons‑ciência (clínica masculina para tratamento da dependência química), e patrocina, junto com outras empresas, a Central de Educação e Atendi‑mento da Criança (Casa da Criança), em Capivari-SP.

CAPA | Victor Augusto BenattiDIAGRAMAÇÃO E DESIGn | Victor Augusto BenattiREvISÃO | Rubens Toledo

1ª edição – janeiro/2015 – 2.000 exemplares

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Dedicatória

DeDico este moDesto livro a todos aqueles que, como orientadores ou instrumentos da Provi‑dência Divina, contribuíram para que me apro‑fundasse no conhecimento da doutrina espíri‑ta; e, especialmente, aos meus pais, Antônio Tavares de Melo e nelcina Tavares de Melo.

Dedico ainda aos meus orientadores espiri‑tuais, com quem mantenho contato no Núcleo Espírita Investigadores da Luz, e aos meus filhos e netos.

Finalmente, dedico, em particular, à minha saudosa e inesquecível companheira, por mais de 50 anos, Ivete Araújo Tavares de Melo.

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Agradecimentos

... Agradeço aos amigos, citados nesta obra. Sem eles, não teria concluído o trabalho.

... Agradeço especialmente às minhas asses‑soras Alexsandra Ribeiro e Ângela Leão.

... À minha neta, Ana Carolina Lins.

... À minha estimada e muito querida nora, Maria de Fátima Gusmão Tavares de Melo.

... E ao meu querido amigo e irmão, Marcus Vinícius Ferraz Pacheco, que, atendendo meu pedido, elaborou o prefácio.

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Sumário

Prefácio ......................................................9 Apresentação ..........................................13I. A reencarnação na história ...................17II. na literatura universal ..........................31III. Reencarnação e cristianismo .................35Iv. Budismo e hinduísmo ............................49v. Reencarnação e espiritismo ..................59vI. Reencarnação e ciência ..........................77vII. Autores reencarnacionistas ...................89vIII. Crianças do passado ............................109IX. A física da alma ....................................113X. Salvo pela luz ........................................121XI. Os espíritos estão entre nós ................127

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XII. O amor me trouxe de volta .................131XIII. Transcomunicação ...............................135XIv. O feiticeiro do apogeu .........................139Xv. O cérebro espiritual .............................143XvI. Uma prova do céu ................................147XvII. Conclusão ..............................................151 Bibliografia ............................................157

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Prefácio

Antes De fAzer considerações acerca de Nunca morreremos, cabem algumas palavras em torno desta alma que conhecemos na presente existên‑cia com o nome de Ubirajara, ou, simplesmente, Bira. Desde que passei a atuar na chamada Sea-ra Espírita, tenho tido a oportunidade de estar com o Bira em diversos eventos. nos últimos anos, porém, a nossa convivência passou a ser mais estreita, e passei a conhecê-lo melhor.

Mais próximos no dia a dia, aos poucos o ad‑vogado bem‑sucedido, o dirigente espírita res‑ponsável, o pai de família dedicado, foi se reve‑lando um ser humano dotado de uma virtude que

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lhe é muito peculiar, ou seja, uma extrema boa vontade para servir a qualquer um que precise de sua ajuda, no sentido mais amplo da palavra.

Com um raro nível de atenção e carinho pelo próximo, Bira é um coração extremamen‑te sensível às necessidades dos seus semelhan‑tes. A sua disposição em ser útil, em auxiliar alguém é admirável.

Diante de tantos artigos publicados na colu‑na “Religiões” do Jornal do Commercio, de exce‑lente qualidade, eu estimulei o amigo a lançar um livro, considerando os vastos conhecimen‑tos doutrinários e a habilidade com a palavra escrita. Entre modesto e atarefado, Bira sempre relegou o projeto em segundo plano. Porém, nunca deixei de incentivá-lo.

E agora, para minha surpresa e emoção, tenho o privilégio de prefaciar o seu primeiro livro. Sem pestanejar, aceitei a honrosa distin‑ção e me coloquei a ler os seus escritos. Per‑correndo as melhores referências bibliográficas disponíveis em suas respectivas áreas, consta‑

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tei que o livro faz uma valiosa catalogação das principais obras que tratam da imortalidade da alma, as perquirições filosóficas do homem quanto ao seu destino e também sobre a natu‑reza do mundo espiritual.

Com efeito, transitando por diversos setores do conhecimento humano, o livro oferece uma reflexão sobre a vida e a morte, que vai da abor‑dagem científica à filosófica, passando pela lite‑ratura, pela cultura dos povos ancestrais, pelos ramos das principais religiões, até se deter na visão espírita sobre a existência.

Não apenas citando os melhores autores de todos os tempos, o livro comenta com clareza e, ao mesmo tempo, profundidade, o pensamen‑to de notáveis escritores que marcaram a his‑tória da Humanidade, cujas reflexões são ca‑minhos a percorrer por todos aqueles que têm consciência da finitude da vida material e, por isso, passam a se interessar pela existência infi‑nita do ser imortal, que denominamos espírito.

Em meio a tantas publicações sobre o tema,

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Nunca morreremos converte‑se em fonte de pesquisa indispensável quando se trata de de‑monstrar, com argumentos sólidos e inquestio‑náveis, que a reencarnação não é fruto da con‑cepção espírita sobre a vida. Ao espiritismo cabe o importante papel de tornar acessível a todas as inteligências aquilo que só os filóso‑fos da antiga Grécia, os iniciados do Oriente, os cientistas de vanguarda, representados pelos que se dedicam à física quântica, têm podido conhecer através dos tempos.

Bem, vamos ao livro, que é o que nos inte‑ressa neste momento!

recife, 17 de outubro de 2014.

Marcus Vinícius Ferraz Pacheco1

1 Marcus Vinícius Ferraz Pacheco. Advogado, empresário, palestrante espírita, fundador e ex‑presidente da Associação de Divulgadores do Espiritismo de Pernambuco (ADE‑PE), ex‑presidente e atual diretor de divulgação doutrinária do Grupo Espírita Djalma Farias, Maçom e Ex‑Venerável‑Mestre (presidente) da Loja União e Trabalho nº 12, jurisdicionada à Grande Loja Maçônica de Pernambuco – GLMPE.

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Apresentação

Um daqueles que você ama, vai morrer. Debruçado sobre

ele, o coração apertado, vê estender-se, lentamente, sobre

seus traços a sombra do Além. O fogo interior lança apenas

pálidas e trêmulas luzes; e eis que se enfraquece ainda mais,

depois se apaga. E agora, tudo que, nesse ser, atestava a

vida, esse olho que brilhava, essa boca que emitia sons, esses

membros que se agitavam, tudo está velado, silencioso, iner-

te. Sobre esse leito fúnebre, há somente um cadáver! Que

homem não se perguntou sobre a explicação desse mistério

e, durante o velório, nesse colóquio solene com a morte, pôde

não pensar no que o aguarda a si próprio? Este problema

nos interessa a todos, pois todos nos submeteremos à lei.

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Importa-nos saber se, a essa hora, tudo está terminado, se a

morte é apenas um melancólico repouso no aniquilamento

ou, ao contrário, a entrada numa outra esfera de sensações.

Léon denis, em Depois da morte.

Desde a criação do mundo o ser humano vem se perguntando por que existe. A vida, para muitos, tem sido um ponto de interrogação entre o berço e o túmulo. A religião, primeiramente, e em seguida a filosofia e a ciência tentam por vá‑rias maneiras explicar a origem do ser humano e o seu futuro. Uma das explicações sobre o se‑gredo da vida é a tese das existências sucessivas, ou a reencarnação, daí o porquê desta obra tratar deste assunto em vários aspectos e épocas.

O espiritismo – ciência que investiga, filo‑sofia que esclarece e religião que conduz – re‑velou à humanidade o mundo espiritual, real e permanente, onde residem os espíritos, e so‑mente foi codificado como doutrina em 1857. A tese das existências sucessivas, no entanto, já existia desde alguns milênios.

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Assim, o objetivo desta modesta obra é pos‑sibilitar, ao leitor interessado, uma visão uni‑versal sobre o tema, seja no campo da história, da filosofia, da religião, da ciência e da litera‑tura, a partir de obras sobre o assunto, escritas por cientistas que não professam a doutrina es‑pírita, as quais retratam experiências feitas ao longo de anos de observação, segundo os mé‑todos da prática científica.

Caberá ao leitor atento não somente tirar suas conclusões sobre o tema, mas também, se houver interesse, aprofundar a pesquisa.

Ubirajara Emanuel tavares de Melo

[email protected]

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A reencarnação na história

Quem se DebruçAr sobre a história da civiliza‑ção verá que a reencarnação sempre foi assun‑to tratado há milhares de anos, daí porque é um equívoco pensar que o espiritismo a insti‑tuiu, ainda que esta seja um postulado básico da doutrina espírita.

Uma das mais antigas referências à reencar‑nação está na religião védica, um dos ramos do hinduísmo. Os Vedas são coleções de textos re‑ligiosos dos Árias, emigrados para a Índia, cuja formação se estendeu por vários séculos com início por volta de 1000 a.C.

Da leitura dos textos dos Upanishads, do

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Código de Leis de Manu e dos Puranas, vê-se uma relação entre a doutrina da reencarnação e a teoria do carma. Hoje ainda, mais de um bilhão de indianos, que aceitam o hinduísmo como religião, adota a tese das existências su‑cessivas, naturalmente.

Também no budismo, que se baseia na aná‑lise do sofrimento, a reencarnação expressa tanto o sofrimento como também a chance de superá-lo. O próprio Buda é considerado como o perfeito que, depois de muitas reencarna‑ções, numa ascensão espiritual contínua, pode ingressar no nirvana.

Na Grécia antiga, por volta do século 16 a.C., textos fazem menção à reencarnação na doutrina órfica, tese defendida por Heródoto e Pitágoras. Segundo Pitágoras, as almas são imortais e percorrem forçosamente um ciclo que também compreende o reino animal, entre os vários e sucessivos renascimentos; flutuam pelo espaço até que ingressam noutro corpo. O parentesco entre todos os seres suscitou em Pi‑

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tágoras uma atitude gentil para com escravos, mulheres e todas as criaturas.

Os Egípcios

num artigo publicado em 1º de fevereiro de 1895 pela Revue des Deux Mondes, Edouard Schuré estudou as crenças egípcias relativas a outras existências. Após a morte a alma seria atraída para o alto por Hermes, seu gênio‑guia, e retida no mundo terrestre por sua sombra ainda ligada ao corpo material.

Se ela se decide a seguir Hermes, chega ao limite do mundo sublunar ou Amenti, limite chamado Muralha de Ferro. A saída desse mun‑do é vigiada por espíritos elementares, cuja flui‑dez pode fazê‑los representarem‑se sob todas as formas animais, que investem tanto contra o homem vivo que deseje penetrar no invisível pela magia quanto contra a alma defunta que deseje sair do Amenti para entrar na região celeste. Es‑

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tes guardiões são representados na mitologia egípcia pelos cinocéfalos, sendo Anúbis, com cabeça de chacal, seu chefe. na mitologia gre‑ga, o equivalente é Cérbero.

Quando a alma transpõe o Amenti, adqui‑re a recordação completa de suas existências precedentes, a qual havia retomado apenas parcialmente em sua saída do corpo. vê então suas faltas passadas e, iluminada pela experi‑ência, volta para a esfera e atração da Terra.

Aqueles que se endureceram no mal, até perderem todo o sentido da verdade, mataram neles próprios até mesmo a última recordação da vida celeste: romperam o laço com o espírito divino, pronunciaram seu próprio aniquilamento, isto é, a dispersão de sua consciência nos elementos. Aqueles em quem o desejo do bem subsiste, porém dominado pelo mal, condenaram‑se a uma nova e mais árdua encarnação.

Aqueles, ao contrário, em quem o amor à verdade e a vontade do bem se elevaram acima dos baixos instintos, estão aptos para a viagem

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celeste, apesar de seus erros e suas faltas passa‑geiras. nestes, então, o espírito divino recolhe tudo o que há de puro e de imortal adquirido nas experiências terrestres da alma, enquanto que, todo o falso, o impuro e o perecível dissol‑vem-se no Amenti com a sombra vã.

Assim a alma, através de uma série de pro‑vas e de encarnações, destrói-se ou imortaliza-se facultativamente.2

Os caldeus

A civilização caldeia é talvez mais antiga do que a egípcia. Os magos admitiam que a alma evolui em direção à perfeição, continuamente. Primeiro, inconsciente, ela atravessa sucessi‑vamente todos os reinos da Natureza antes de chegar ao mundo da humanidade, onde apa‑

2 Os egípcios acreditam na reencarnação e na imortalidade da alma, mas de uma forma diferente do que prega o espiritismo (Nota do editor).

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rece com faculdades intelectuais que adquiriu pouco a pouco no decorrer de suas existências passadas. Ela é destinada a ainda desenvolver-‑se e a experimentar milhares de degraus de inteligências mais elevadas.

Durante o período humano, as almas encar‑nadas são guiadas por férouers, almas dos defun‑tos notáveis por suas virtudes. E, para cada alma encarnada, cria‑se um envoltório mais ou menos sutil, chamado kerdar, mais ou menos luminoso, segundo suas ações (é o kharma dos hindus). Em cada existência ela esquece as anteriores, conser‑vando, porém, seu kerdar com as faculdades ad‑quiridas. Quando chega, após uma série de en‑carnações, a um grau suficiente de pureza, não mais reencarna, e seu kerdar tornado férouer re‑corda-se de todas as suas existências precedentes.

Em Roma

A ideia da reencarnação na cultura gre‑

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co‑romana esteve sempre associada à visão de que o homem pode unir-se a Deus. Cícero (106-43 a.C.), o grande orador e filósofo roma‑no, além de iniciado nos mistérios, lidava com naturalidade o tema das existências sucessi‑vas. Dizia que a facilidade com que as crianças aprendem assuntos difíceis podia ser conside‑rada um “forte indício de que o conhecimento do homem sobre os diversos assuntos é ante‑rior ao seu nascimento”. As crianças, escreveu, aprendem “tantas coisas” tão rápido que “pa‑rece que não estão aprendendo pela primeira vez, mas sim relembrando”.

Outros romanos ilustres acreditavam na re‑encarnação. virgílio, o grande poeta romano, que viveu no século I a.C., inclui a reencarna‑ção na sua Eneida. Ele descreveu como as almas, depois da morte, são purificadas dos seus peca‑dos, enviadas aos Campos Elíseos e, finalmente, levadas ao Rio Letes, “onde a memória é anula‑da e as almas se dispõem, mais uma vez, voltar para os corpos mortais”.

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Na Grécia

Franz Cardeal Konig e Hans Waldenfels, em sua histórica obra Léxico das religiões (Edito‑ra Vozes), narra o entendimento dos gregos so‑bre a tese das existências sucessivas. Heródoto (2123) afirmava erroneamente que a doutrina da reencarnação se teria originado do Egito. Os órficos ensinaram a doutrina da reencarnação, mas sabemos disto apenas através de fontes posteriores, que deixam perceber a influência de ideias platônicas e pitagóricas.3

Pitágoras (por volta de 500 a.C.) representa a fonte mais antiga de uma doutrina estrutura‑da sobre a reencarnação. As almas são imortais e percorrem forçosamente um ciclo que tam‑bém compreende o reino animal. Entre os vá‑rios e sucessivos renascimentos flutuam pelo espaço até que ingressam num outro corpo por

3 A tese de um número finito de almas não tem respaldo no espiritismo. Deus, a inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas, cria sem cessar. Nota do revisor.

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ocasião da concepção (ou nascimento?). Todo o universo está imbuído de alma, o que é motivo para a reencarnação.

A reencarnação justifica o vegetarianismo, mas também serve de argumento para os pita‑góricos justificarem o abate de animais: assim se aceleraria o ciclo e se precipitaria a reencar‑nação como ser humano. Pessoas excepcionais como Pitágoras podem recordar nascimentos anteriores. O número de almas sempre se man‑tém constante.

O parentesco entre todos os seres suscitou em Pitágoras uma atitude gentil para com es‑cravos, mulheres e todas as criaturas. Com esta noção de processo cíclico, já Píndaro (476 a.C.) associa a ideia de juízo, concebendo a reencarnação como castigo por uma culpa assumida pela alma: a alma se torna cativa no corpo, uma concepção que fundamenta o platonismo, mas é estranha a Pitágoras. Os pitagóricos tardios imaginam que as almas permaneçam no mundo subterrâneo e ocasio‑

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nalmente também reinterpretam as doutrinas de Pitágoras. Surgem dúvidas a respeito da imortalidade da alma.

Empédocles não propaga a ideia da re‑encarnação da alma, mas do daimon, a quem, contudo, está reservado o mesmo destino. Diz de si mesmo que já foi rapaz, moça, arbusto, ave e peixe (Fr 117). Acredita que também há reencarnação na flora, mantendo a concepção da unidade do mundo animado, que resulta de suas reflexões científicas.

Por um lado, a reencarnação é punição pela culpa do daimon, que é forçado a percorrer o ci‑clo de renascimentos para purificar-se no sen‑tido moral, a fim de que depois de 30.000 horas se assegure o retorno para a pátria celestial (Fr 115). Assim, se combinam contraditoriamen‑te a especulação numérica de Pitágoras com o convite para que se faça um esforço moral. Quem matar outro ser, este terá uma reencar‑nação ruim, razão pela qual se requer a prática do vegetarianismo.

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Platão

Supõe‑se que a injusta condenação à mor‑te de seu mestre, Sócrates, tenha levado Pla‑tão a defender a necessidade de uma justiça compensadora. Sua doutrina de reencarnação está esboçada em Górgias, fundamentada em Menon, a doutrina de anamnese, e se desenvol‑ve plenamente em Fédon, A República e Fedro, enquanto reaparece apenas de forma marginal nos diálogos posteriores.

Originalmente a alma permanece em esfe‑ras divinas, mas depois se emaranha em uma atitude espiritual equivocada e pecaminosa, quando então triunfa o desejo sensual sobre o pensamento puro, o que leva à encarnação. Dependendo do estado espiritual da respecti‑va alma, varia a sua primeira encarnação em um ser humano.

Ao contrário de Pitágoras, Píndaro e Em‑pédocles, segundo os quais há um ciclo de reencarnação que passa necessariamente tam‑

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bém pelo reino animal, Platão defende (Fédon 81) que se deva considerar a reencarnação se‑gundo critérios meramente morais: do mesmo modo como tiver sido a conduta, assim será o renascimento, isto é, quem tiver sido ganan‑cioso, retornará em forma de lobo ou urubu; quem tiver sido honesto, em forma de formiga, abelha ou também em forma humana, sem que necessariamente tenha que percorrer as formas animais inferiores.

Só a partir da existência humana, contudo, é possível ocorrer salvação, depois que a pes‑soa tiver passado três vezes por provações, isto é, se tiver vivido, sobretudo, com introspecção filosófica e frugalmente (Fedro 249). Os demais enfrentam o julgamento, cumprem suas sen‑tenças em estágios intermediários, para obte‑rem, depois de mil anos, de novo, uma chance para provarem o seu valor numa nova vida que podem escolher livremente.

No Timeu, a doutrina da reencarnação se vincula à cosmogonia, incorporando ideias

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pitagóricas: não há qualquer reino interme‑diário, mas passagem direta da condição animal, supondo‑se que quem buscar seria‑mente o bem alcançará a salvação mediante a reencarnação.