nunca antes neste paÍs - oglobo.globo.com · dias depois, em entrevista à revista “veja”,...

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Nelson Jobim (Saiu no dia 5 de agosto) Alfredo Nascimento (Saiu no dia 6 de julho) Pedro Novais (Saiu ontem) OS QUE SAÍRAM POR ESCÂNDALOS Wagner Rossi (Saiu no dia 17 de agosto) A crise na Agricultura começou quando Oscar Jucá Neto, o Jucazinho, nomeado em junho para a direção da Conab, autorizou um pagamento para uma suposta empresa de fachada. Irmão de Romero Jucá, líder do governo no Senado, ele foi demitido. Dias depois, em entrevista à revista “Veja”, Jucazinho disse que na Conab “só tem bandido” e acusou o então ministro da Agricultura, Wagner Rossi, de envolvimento em irregularidades. Rossi, indicado pelo vice-presidente Michel Temer, negou as acusações. No dia 7 agosto, a “Veja” publicou matéria sobre o lobista Júlio Fróes, que seria amigo de Rossi e próximo de Milton Ortolan, então secretário-executivo da pasta e que teria aberto as portas do ministério para Fróes. O lobista teria um escritório clandestino na Agricultura. Ortolan caiu no fim de semana em que as denúncias foram publicadas. Reportagem do jornal “Correio Braziliense” mostrou que Rossi e o seu filho, o deputado estadual Baleia Rossi (PMDB-SP), pegaram carona no jatinho da empresa Ourofino Agronegócio, que obteve do ministério licença para fabricar vacina conta a febre aftosa. O ministro disse ter usado o avião “raras vezes”. No dia 17 de agosto, em meio a denúncias de irregularidades, Rossi deixou o governo Dilma. Antonio Palocci (Saiu no dia 7 de junho) As denúncias de irregularidades que derrubaram Pedro Novais envolvem contratos milionários, regalias como passagens aéreas bancadas por organizações não governamentais (ONGs), assinaturas de atestados falsos e lanches no valor de R$ 4 milhões. Se não bastassem as suspeitas envolvendo o Ministério do Turismo, o titular da pasta foi o pivô de novas denúncias envolvendo práticas ilícitas desde quando era deputado federal. Desta vez, ele teria utilizado serviços de funcionários públicos para fins particulares. Novais teria pago uma governanta com dinheiro público e sua mulher, Maria Helena de Melo, usado um servidor da Câmara como motorista particular. No início do governo, foi divulgado que o ex-ministro havia pedido à Câmara o ressarcimento de R$ 2.156, dinheiro usado para pagar a conta de um motel em São Luís (MA), onde Novais alugou uma suíte para uma festa. Em 9 de agosto, a Polícia Federal prendeu 36 pessoas suspeitas de desviar recursos destinados ao Ministério do Turismo por meio de emendas parlamentares. A Operação Voucher foi realizada depois da descoberta de desvio de verbas no investimento de “qualificação de profissionais” de uma entidade do Amapá. O secretário-executivo da pasta, Frederico Silva da Costa, número 2 do ministério, foi um dos detidos. Mário Moysés, ex-secretário executivo e ex-presidente da Embratur, e o secretário nacional de Desenvolvimento de Programas de Turismo, Colbert Martins, filiado ao PMDB, também foram presos. Depois, 12 presos foram libertados. CAIU PORQUE FALOU DEMAIS O ex-ministro-chefe da Casa Civil deixou o cargo no dia 7 de junho em meio a enorme pressão para explicar como seu patrimônio foi multiplicado por 20 entre 2006 e 2010. No dia anterior, a Procuradoria Geral da República tinha arquivado o processo contra o ministro, afirmando que não havia indícios de ilegalidades. A crise envolvendo Palocci (PT-SP) dividiu a base aliada, que não conseguiu aprovar o Código Florestal como o Planalto desejava. Além disso, as suspeitas de enriquecimento ilícito fizeram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retornar a Brasília para tentar articular a aliança PT-PMDB, abalada pela crise. Outras quedas no 2º escalão dos Transportes Chegam a 30 os demitidos no Ministério dos Transportes, a maioria deles indicados pelo PR. A faxina de Dilma derrubou Luiz Antonio Pagot (foto), diretor-geral do Dnit, afilhado político do senador Blairo Maggi (PR-MT), e José Francisco das Neves, o Juquinha, homem de confiança do deputado Valdemar da Costa Neto (PR-SP), secretário-geral do partido. Caíram ainda Hideraldo Caron, diretor de Infraestrutura Rodoviária do Dnit, único da cota do PT no ministério, e José Henrique Sadok de Sá, indicado como interino de Pagot. NUNCA ANTES NESTE PAÍS Após reportagem do GLOBO sobre o crescimento de 86.500% do patrimônio do filho de Alfredo Nascimento, ele foi demitido por Dilma em 6 de julho, mesmo dia também em que a revista “IstoÉ” mostrou que ele e o deputado Valdemar Costa Neto, do PR, usavam dinheiro público para atrair deputados ao partido. Dias antes, a “Veja” mostrara esquema de superfaturamento e propina nos Transportes. No primeiro discurso de Nascimento no Senado após deixar o ministério, ele atirou no atual titular dos Transportes, Paulo Passos, e afirmou que não teve o apoio de Dilma: “Eu não sou lixo, o meu partido não é lixo!”, chegou a dizer então. O desconforto causado por Jobim ao Planalto começou quando, no fim de junho, em homenagem aos 80 anos de FH, ex-ministro disse que era obrigado a conviver com idiotas; depois, afirmou que se referia a jornalistas. Jobim voltou a provocar mais polêmica ao dizer que tinha votado no tucano José Serra em 2010. Em entrevista à revista “Piauí”, o ex-ministro disse que Ideli Salvatti (Relações Institucionais) é “muito fraquinha” e que Gleisi Hoffmann (Casa Civil) “nem sequer conhece Brasília”. Na mesma entrevista, ele atacou o governo no debate sobre o fim do sigilo eterno: “É muita trapalhada”. Mas o que mais teria incomodado Dilma foi a informação sobre a conversa que tiveram sobre a ida de José Genoino para a Defesa: “Quem sabe se ele pode ou não ser útil sou eu”, teria dito Jobim.

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Page 1: NUNCA ANTES NESTE PAÍS - oglobo.globo.com · Dias depois, em entrevista à revista “Veja”, Jucazinho disse que na Conab “só tem bandido” e acusou o então ministro da Agricultura,

Nelson Jobim(Saiu no dia 5 de agosto)

AlfredoNascimento(Saiu no dia 6 de julho)

Pedro Novais(Saiu ontem)

OS QUE SAÍRAM POR ESCÂNDALOS

Wagner Rossi(Saiu no dia 17 de agosto)A crise na Agricultura começou quando Oscar Jucá Neto, o Jucazinho, nomeado em junho para a direção da Conab, autorizou um pagamento para uma suposta empresa de fachada. Irmão de Romero Jucá, líder do governo no Senado, ele foi demitido. Dias depois, em entrevista à revista “Veja”, Jucazinho disse que na Conab “só tem bandido” e acusou o então ministro da Agricultura, Wagner Rossi, de envolvimento

em irregularidades. Rossi, indicado pelo vice-presidente Michel

Temer, negou as acusações.

No dia 7 agosto, a “Veja” publicou matéria sobre o lobista

Júlio Fróes, que seria amigo de Rossi e próximo de Milton

Ortolan, então secretário-executivo da pasta e que teria aberto as portas

do ministério para Fróes.O lobista teria um escritório clandestino na

Agricultura. Ortolan caiu no fim de semana em que as denúncias foram publicadas.

Reportagem do jornal “Correio Braziliense” mostrou que Rossi e o seu filho, o deputado estadual Baleia

Rossi (PMDB-SP), pegaram carona no jatinho da empresa Ourofino Agronegócio, que obteve do

ministério licença para fabricar vacina conta a febre aftosa. O ministro disse ter usado o avião “raras vezes”.

No dia 17 de agosto, em meio a denúncias de irregularidades, Rossi deixou o governo Dilma.

Antonio Palocci(Saiu no dia 7 de junho)

As denúncias de irregularidades que derrubaram Pedro Novais envolvem contratos milionários, regalias como passagens aéreas bancadas por organizações não governamentais (ONGs), assinaturas de atestados falsos e lanches no valor de R$ 4 milhões. Se não bastassem as suspeitas envolvendo o Ministério do Turismo, o titular da pasta foi o pivô de novas denúncias envolvendo práticas ilícitas desde quando era deputado federal. Desta vez, ele teria utilizado serviços de funcionários públicos para fins particulares. Novais teria pago uma governanta com dinheiro público e sua mulher, Maria Helena de Melo, usado um servidor da Câmara como motorista particular. No início do governo, foi divulgado que o ex-ministro havia pedido à Câmara o ressarcimento de R$ 2.156, dinheiro usado para pagar a conta de um motel em São Luís (MA), onde Novais alugou uma suíte para uma festa.

Em 9 de agosto, a Polícia Federal prendeu 36 pessoas suspeitas de desviar recursos destinados ao Ministério do Turismo por meio de emendas parlamentares. A Operação Voucher foi realizada depois da descoberta de desvio de verbas no investimento de “qualificação de profissionais” de uma entidade do Amapá. O secretário-executivo da pasta, Frederico Silva da Costa, número 2 do ministério, foi um dos detidos. Mário Moysés, ex-secretário executivo e ex-presidente da Embratur, e o secretário nacional de Desenvolvimento de Programas de Turismo, Colbert Martins, filiado ao PMDB, também foram presos. Depois, 12 presos foram libertados.

CAIU PORQUE FALOU DEMAIS

O ex-ministro-chefe da Casa Civil deixou o cargo no dia 7 de junho em meio a enorme pressão para explicar como seu patrimônio foi multiplicado por 20 entre 2006 e 2010. No dia anterior, a Procuradoria Geral da República tinha arquivado o processo contra o ministro, afirmando que não havia indícios de ilegalidades. A crise envolvendo Palocci (PT-SP) dividiu a base aliada, que não conseguiu aprovar o Código Florestal como o Planalto desejava. Além disso, as suspeitas de enriquecimento ilícito fizeram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva retornar a Brasília para tentar articular a aliança PT-PMDB, abalada pela crise.

Outras quedas no2º escalão dos Transportes

Chegam a 30 os demitidos no Ministério dos Transportes, a maioria deles indicados pelo PR. A faxina de Dilma derrubou Luiz Antonio Pagot (foto), diretor-geral do Dnit, afilhado político do senador Blairo Maggi (PR-MT), e José Francisco das Neves, o Juquinha,

homem de confiança do deputado Valdemar da Costa Neto (PR-SP), secretário-geral do partido. Caíram ainda

Hideraldo Caron, diretor de Infraestrutura Rodoviária do Dnit, único da cota do PT no ministério, e José Henrique Sadok

de Sá, indicado como interino de Pagot.

NUNCA ANTES NESTE PAÍS

Após reportagem do GLOBO sobre o

crescimento de 86.500% do patrimônio do filho de Alfredo

Nascimento, ele foi demitido por Dilma em 6 de julho, mesmo dia

também em que a revista “IstoÉ” mostrou que ele e o deputado Valdemar Costa Neto, do PR, usavam dinheiro público para atrair deputados ao partido. Dias antes, a “Veja” mostrara esquema

de superfaturamento e propina nos Transportes. No primeiro discurso de

Nascimento no Senado após deixar o ministério, ele atirou no atual titular dos

Transportes, Paulo Passos, e afirmou que não teve o apoio de Dilma: “Eu não sou lixo, o meu

partido não é lixo!”, chegou a dizer então.

O desconforto causado por Jobim ao Planalto começou quando, no fim de junho, em homenagem aos 80 anos de FH, ex-ministro disse que era obrigado a conviver com idiotas; depois, afirmou que se referia a jornalistas. Jobim voltou a provocar mais polêmica ao dizer que tinha votado no tucano José Serra em 2010. Em entrevista à revista “Piauí”, o ex-ministro disse que Ideli Salvatti (Relações Institucionais) é “muito fraquinha” e que Gleisi Hoffmann (Casa Civil) “nem sequer conhece Brasília”. Na mesma entrevista, ele atacou o governo no debate sobre o fim do sigilo eterno:“É muita trapalhada”. Mas o que mais teria incomodado Dilma foi a informação sobre a conversa que tiveram sobre a ida de José Genoino para a Defesa: “Quem sabe se ele pode ou não ser útil sou eu”, teria dito Jobim.