novos rurais e novos urbanos

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58 O Instalador Out'15 www.oinstalador.com Texto_João Paulo Soares [Consultor] Novos Rurais e Novos Urbanos “Desde que o Homem tenha comida na sua boca, terá resolvido todas as suas questões, por algum tempo”. Franz Kafka Opinião | Falas da Terra AMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS 1. Os abutres são extremamente impor- tantes para manter a sanidade dos ecos- sistemas porque, ao consumirem carne morta, limpam os campos de carcaças e diminuem o risco de propagação de doenças. Metade das espécies de abutres existentes no mundo estão ameaçadas de extinção. As populações do sul da Ásia diminuíram drasticamente devido ao enve- nenamento massivo com o anti-inflamatório Diclofenac. As principais ameaças para os abutres incluem: a perda ou perturbação do seu habitat natural, em particular dos locais de nidificação; a mortalidade por acção humana, em resultado do uso ilegal de venenos, da colisão e electrocussão em linhas eléctricas, da presença de con- taminantes nos alimentos que ingerem, ou mesmo, nalgumas regiões do mundo, do seu abate propositado e a diminuição de alimento disponível. 2. Nada mais normal que ir à praia e pas- sar o protector solar para se proteger dos raios ultra violetas (UV) que podem causar cancro. Porém, sabia que pode prejudicar - e muito - o ecossistema marítimo? Um novo estudo, realizado por cientistas das Universidades de Ilhas Baleares e Rio San Pedro, na Espanha, publicado na revista ACS EnvironmentalScience&Technology, acredita que a loção protectora possa ser responsável pela morte de inúmeros seres vivos do mar. Isto porque, quando alguns ingredientes do filtro, como o dióxido de titânio e o óxido de zinco, reagem com os raios solares, elas formam novos compos- tos tóxicos, como o peróxido de hidrogénio, prejudicial a alguns habitantes minúsculos do oceano, como o fitoplâncton - algas microscópicas que são importante fonte alimentar de muitos outros seres vivos ao seu redor. Se o plâncton é morto, o im- pacto pode ser enorme, porque eles são a principal fonte de alimento para os animais marinhos de maiores dimensões. Trouxe estes dois estudos para demons- trar que tanto a nível rural e urbano preci- samos de novos rurais e novos urbanos. A estratégia dos 3R deve ser horizontal, bem estruturada e os alimentos tendencialmen- te obtidos com o menor impacte ambiental possível. Os produtores e os consumidores andam a várias velocidades e raramente são “ou- vidos” pelos governos. É crónico no nosso País o divórcio entre a sociedade civil (cada vez mais actuante) e a “inércia” do Governo e estruturas que representam o País na União Europeia e no limite máximo os países que fazem negócios com Portugal. Na ruralidade é importante a divulgação e promoção da agricultura sustentável, uma gestão transparente dos baldios, a garantia de emprego justo, uma economia agro-pecuária menos dependente da artifi- cialização. O respeito da RAN e da REN o mais estritamente possível. No global, uma agricultura mais adequada aos solos e em que se dê relevo a aspectos etnobotânicos que urge garantir para um uso mais amiga do Planeta. Nas escolas curiosamente o ambien- talismo começa com a questão como comemos? Quanta água é despendida e que fontes de energia são utilizadas na produção agrícola? Os transgénicos, o uso de pesticidas…E temos os primeiros acti- vistas ambientais muitas vezes etiquetados como animalistas e vegetarianos “radicais”, quando por vezes basta o diálogo de gerações e mais dinâmicas sociais que publicitem métodos agrícolas como o método (Masanobu) Fukuoka. O seu méto- do de agricultura natural é cada vez mais valorizado à volta do mundo. Ele criou um sistema de cultivo que reproduz e respeita os processos naturais da terra. Em termos científicos e de clarificação da agricultura é de louvar o trabalho excelso da AgroBio na tentativa de promover a cer- tificação e a sustentabilidade da agricultura nacional e regional.É importante também divulgar e apoiar formas de incentivo eco- nómico e financeiro aos produtores locais, como as AMAC ou AMAP ou AMAR (Asso- ciações para a Manutenção da Agricultura Camponesa ou de Proximidade ou Rural), a AAC (Agricultura Apoiada pela Comunida- de, em inglês CSA – Community Supported Agriculture), e outras formas de apoio. O que é pretendido é que se multipliquem soluções de integração de urbanismo com ruralismo, como o bairro de Genebra, Suíça que criou uma horta comunitária e cada morador planta um alimento para compartilhar com outros ou em Vancou- ver, no Canadá, onde diversas formas de cultivo de vegetais (hortas urbanas, jardins agrícolas) estão envolvidas na agricultura biológica, orgânica, ecológica, natural e agroecológica. Algumas cidades estão a integrar concei- tos inovadores como a permacultura e a recuperação de quintas históricas (evitando o destino habitual como a venda para os bancos ou destruição dessa área arboriza- da para habitação), as hortas comunitárias, no cumprimento da pegada alimentar. Finalmente não poderemos ignorar o tra- balho fantástico do combate ao desperdício alimentar que tem sido feito por diversas instituições de apoio social, mas também da sociedade civil como a Re-Food.

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Page 1: Novos Rurais E Novos Urbanos

58 O Instalador Out'15 www.oinstalador.com

Texto_João Paulo Soares [Consultor]

Novos Rurais e Novos Urbanos“Desde que o Homem tenha com ida na s u a boca, t e rá

re so l v i do toda s a s s u a s que s tõe s, po r a l g um tempo”.

Franz Kafka

Opinião | Falas da TerraAMBIENTE E ENERGIAS RENOVÁVEIS

1. Os abutres são extremamente impor-tantes para manter a sanidade dos ecos-sistemas porque, ao consumirem carne morta, limpam os campos de carcaças e diminuem o risco de propagação de doenças. Metade das espécies de abutres existentes no mundo estão ameaçadas de extinção. As populações do sul da Ásia diminuíram drasticamente devido ao enve-nenamento massivo com o anti-inflamatório Diclofenac. As principais ameaças para os abutres incluem: a perda ou perturbação do seu habitat natural, em particular dos locais de nidificação; a mortalidade por acção humana, em resultado do uso ilegal de venenos, da colisão e electrocussão em linhas eléctricas, da presença de con-taminantes nos alimentos que ingerem, ou mesmo, nalgumas regiões do mundo, do seu abate propositado e a diminuição de alimento disponível.

2. Nada mais normal que ir à praia e pas-sar o protector solar para se proteger dos raios ultra violetas (UV) que podem causar cancro. Porém, sabia que pode prejudicar - e muito - o ecossistema marítimo? Um novo estudo, realizado por cientistas das Universidades de Ilhas Baleares e Rio San Pedro, na Espanha, publicado na revista ACS EnvironmentalScience&Technology, acredita que a loção protectora possa ser responsável pela morte de inúmeros seres vivos do mar. Isto porque, quando alguns ingredientes do filtro, como o dióxido de titânio e o óxido de zinco, reagem com os raios solares, elas formam novos compos-tos tóxicos, como o peróxido de hidrogénio, prejudicial a alguns habitantes minúsculos do oceano, como o fitoplâncton - algas microscópicas que são importante fonte alimentar de muitos outros seres vivos ao

seu redor. Se o plâncton é morto, o im-pacto pode ser enorme, porque eles são a principal fonte de alimento para os animais marinhos de maiores dimensões.

Trouxe estes dois estudos para demons-trar que tanto a nível rural e urbano preci-samos de novos rurais e novos urbanos. A estratégia dos 3R deve ser horizontal, bem estruturada e os alimentos tendencialmen-te obtidos com o menor impacte ambiental possível.

Os produtores e os consumidores andam a várias velocidades e raramente são “ou-vidos” pelos governos. É crónico no nosso País o divórcio entre a sociedade civil (cada vez mais actuante) e a “inércia” do Governo e estruturas que representam o País na União Europeia e no limite máximo os países que fazem negócios com Portugal.

Na ruralidade é importante a divulgação e promoção da agricultura sustentável, uma gestão transparente dos baldios, a garantia de emprego justo, uma economia agro-pecuária menos dependente da artifi-cialização. O respeito da RAN e da REN o mais estritamente possível. No global, uma agricultura mais adequada aos solos e em que se dê relevo a aspectos etnobotânicos que urge garantir para um uso mais amiga do Planeta.

Nas escolas curiosamente o ambien-talismo começa com a questão como comemos? Quanta água é despendida e que fontes de energia são utilizadas na produção agrícola? Os transgénicos, o uso de pesticidas…E temos os primeiros acti-vistas ambientais muitas vezes etiquetados como animalistas e vegetarianos “radicais”, quando por vezes basta o diálogo de gerações e mais dinâmicas sociais que publicitem métodos agrícolas como o

método (Masanobu) Fukuoka. O seu méto-do de agricultura natural é cada vez mais valorizado à volta do mundo. Ele criou um sistema de cultivo que reproduz e respeita os processos naturais da terra.

Em termos científicos e de clarificação da agricultura é de louvar o trabalho excelso da AgroBio na tentativa de promover a cer-tificação e a sustentabilidade da agricultura nacional e regional.É importante também divulgar e apoiar formas de incentivo eco-nómico e financeiro aos produtores locais, como as AMAC ou AMAP ou AMAR (Asso-ciações para a Manutenção da Agricultura Camponesa ou de Proximidade ou Rural), a AAC (Agricultura Apoiada pela Comunida-de, em inglês CSA – Community Supported Agriculture), e outras formas de apoio.

O que é pretendido é que se multipliquem soluções de integração de urbanismo com ruralismo, como o bairro de Genebra, Suíça que criou uma horta comunitária e cada morador planta um alimento para compartilhar com outros ou em Vancou-ver, no Canadá, onde diversas formas de cultivo de vegetais (hortas urbanas, jardins agrícolas) estão envolvidas na agricultura biológica, orgânica, ecológica, natural e agroecológica.

Algumas cidades estão a integrar concei-tos inovadores como a permacultura e a recuperação de quintas históricas (evitando o destino habitual como a venda para os bancos ou destruição dessa área arboriza-da para habitação), as hortas comunitárias, no cumprimento da pegada alimentar.

Finalmente não poderemos ignorar o tra-balho fantástico do combate ao desperdício alimentar que tem sido feito por diversas instituições de apoio social, mas também da sociedade civil como a Re-Food.