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Futuro Não esperamos o futuro acontecer! Edição 2015 magazine voestalpine Novos caminhos da indústria Desenvolvimento econômico, mais-valia social Cinco países, um futuro? Modelo de sucesso Vale do Silício — o que Bangalore, Chile, Londres e Ruanda querem aprender dos californianos Ciência e ficção Da imaginação para a realidade www.voestalpine.com

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FuturoNão esperamos o futuro acontecer!

Edição 2015magazine voestalpine

Novos caminhos da indústriaDesenvolvimento econômico, mais-valia social

Cinco países, um futuro?Modelo de sucesso Vale do Silício — o que Bangalore, Chile, Londres e Ruanda querem aprender dos californianos

Ciência e ficçãoDa imaginação para a realidade

www.voestalpine.com

voestalpine AGvoestalpine-Strasse 1 4020 Linz, Austria T. +43/50304/15-0 F. +43/50304/55-0 www.voestalpine.com

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“Não esperamos o futuro acontecer.”

Informação voestalpine

Wolfgang Eder, CEO da voestalpine AG

Sob o mote “Não esperamos o futuro acontecer”, nossa nova campanha insti-tucional 2014 ilustra o que nos diferencia: nós, as funcionárias e os funcionários da voestalpine, com os pontos fortes de cada um! Nosso empenho diário, nosso amor pelo detalhe e nosso prazer em enfrentar um desafio, seja na vida profissional ou pessoal, são o que nos torna tão versáteis.

Conheça mais de perto os “protagonistas” da nossa campanha e participe por um momento de suas vidas através do DVD em anexo, contendo todos os doze filmes em doze línguas. Compartilhe conosco momentos autênticos e tocantes de seu dia a dia, e descubra temas surpreendentes e inesperados do nosso Grupo.

Cara leitora, caro leitor!

Quando foi a última vez que se sentiram feli-zes por estar aprendendo ou ter acabado de aprender algo novo? “Aprender é como remar contra a corrente. Quando se para, anda-se para trás”, disse o filósofo chinês Lao-Tsé. Quem aprende algo, muitas vezes o faz para a comu nidade, mas sempre, e muito mais, para si mesmo, porque a vontade de aprender é parente do desejo de autorrealização. Cada vez mais pessoas querem se desenvolver para além de sua formação profissional original. Em que medida isso também se aplica à nossa socie-dade? Por que, por vezes, ela demonstra uma grande capacidade de aprender, ao passo que, por outras, retrocede a velhos padrões de com-portamento, que se acreditava estarem ultra-passados há muito? Onde está a chave da ca-pacidade de aprender? Essas e outras questões são levantadas pelos autores desta nossa edi-ção. Mas já posso ir adiantando: ainda estamos longe de esgotar nossas capacidades.

“Faça hoje algo pelo que será grato a si mesmo amanhã“ – foi a resposta dada por Dimakatso Matehbula, funcionária da voestalpine na África do Sul, quando lhe perguntamos que conselho gostaria de dar a gerações futuras. Uma re-comendação que os jovens retratados no artigo

“Jovens Inventores” já estão seguindo. Com suas ideias frescas, eles conseguem impressio-nar até mesmo especialistas tarimbados.Precisamos continuar aprendendo sempre, também, se quisermos garantir um abasteci-mento de energia seguro para gerações futu-ras. Na área da exploração de petróleo e gás estão acontecendo desenvolvimentos novos e promissores, como mostra Antje Ellwanger. E, se quiserem saber o que andamos fazendo nas áreas de energia e mobilidade, deem uma olhada no DVD anexo, com filmes sobre his-tórias de sucesso do nosso Grupo em doze idiomas diferentes.O mundo da economia é marcado por cons-tantes – e, em parte, dolorosos – processos de

aprendizagem: assim, é hoje um fato incontes-tado que, especialmente em momentos con-junturais difíceis, um país, uma região que tem uma indústria forte é bem menos vulnerável. Mas, em que direção está rumando a indústria do futuro? Petra Hannen busca respostas para essa questão.Não há dúvida que uma indústria do século 21 bem-sucedida também precisa de mais e novas dimensões na tecnologia da informação. As em-presas na área da Baía de São Francisco mos-traram como se faz. E até hoje o resto do mundo está tentando copiar esse modelo de sucesso. Nossos repórteres foram a cinco países para investigar em qual deles está nascendo o novo Vale do Silício.Espero que a leitura desses e de outros artigos interessantes desta edição de Futuro lhes pro-porcione momentos de prazer – e talvez os ins-pire a aprender um pouco mais sobre alguns de seus temas.

Cordialmente

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12 “Tem que ser pessoal” Entrevista com Alex Hunter sobre a ciência do marketing

14 Nosso futuro O que as pessoas da voestalpine esperam do amanhã

16 Boas ideias unem O fenômeno das conferências TED

20 Jovens inventores Talentos perspicazes que mudam o mundo

Estar sempre presente Antecipar o futuro

28 Novos caminhos da indústria Desenvolvimento econômico, mais-valia social

34 Mobilidade no futuro As formas como já poderíamos nos locomover nas estradas, nos trilhos e no ar em um futuro próximo

36 Cinco países, um futuro? Modelo de sucesso Vale do Silício — o que Bangalore, Chile, Londres e Ruanda querem aprender dos californianos

46 Recursos naturais para a  próxima geração Avanços na exploração de petróleo e gás

52 Novas mercadorias por velhos caminhos Visitamos três localidades na recém- redescoberta Rota da Seda

Nunca perder a curiosidade

60 Criatividade coletiva Como as mídias sociais estão revolucionando a arte

64 Voando para o futuro Novos caminhos na aviação

70 A casa inteligente Como vamos morar amanhã

72 Ciência e ficção Da imaginação para a realidade

ÍndiceEdição 2015

Como assegurar os

recursos naturais para

as gerações futuras?

— Página 46

Ligação entre

a China e a Europa:

a Rota da Seda

— Página 52

Arte coletiva: como

a internet estimula

a criatividade

— Página 60

6 Nosso mundo Como será o mundo de amanhã?

8 Colaboradores As pessoas que fizeram esta revista

8 Expediente

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Londres, Grã-Bretanha Mesmo sem ajuda estatal, a cena da TI floresceu no East End londrino Cinco países, um futuro? — Página 36

Serra Leoa A necessidade é a mãe da invenção: Kelvin Doe constrói geradores e sua própria esta-ção de rádio com sucata Jovens inventores — Página 20

Johanesburgo, África do Sul Dimakatso Mathebula aconselha: “Faça hoje algo pelo que será grato a si mesmo amanhã.” Nosso futuro — Página 14

Bangalore, Índia Os indianos querem sair da sombra do Vale do Silício Cinco países, um futuro? — Página 36

Dostyk, Cazaquistão A ligação ferroviária entre a China e a Europa impulsiona a economia local Novas mercadorias por velhos caminhos

— Página 52

Xi’an, China Como a cidade se conectou com sucesso à nova Rota da Seda Novas mercadorias por velhos caminhos

— Página 52

Nosso mundo

Como será nosso

mundo amanhã? Estes

são os lugares onde

pro curamos a resposta

nesta edição

Victoria, Canadá Aos 15 anos, Ann Makosinski inventou uma lanterna portátil que funciona com o calor da mão Jovens inventores — Página 20

Nova York, EUA Man Bartlett transformou um terminal de ônibus em plataforma de arte interativa Criatividade coletiva — Página 60

México Um nível salarial estável, impostos baixos e uma moeda confiável fazem do país uma localização atraente para as indústrias Novos caminhos da indústria — Página 28

Bolívia “Hoje em dia, um país que não fabrica produtos tecnológicos é passado para trás em pouco tempo.” Novos caminhos da indústria — Página 28

Chile O Chilecon Valley será o novo Vale do Silício? Com o Start-up Chile, o país quer se posicionar como um dos maiores polos industriais da região Cinco países, um futuro? — Página 36

Victoria

Nova York

Londres

Dostyk

Xi’an

Bangalore

Johanesburgo

Serra Leoa

Chile

Bolívia

México

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Expediente Colaboradores

André Uhl Redator (Alemanha)

Desde o começo, André Uhl é corresponsável pela concepção e edição de Futuro. Geógrafo formado,

ele se dedica a questões ligadas ao desenvolvi-mento da sociedade. André vive e trabalha como

redator e jornalista freelance em Berlim.– Página 32 –

Dinara Nurusheva e Nurtas Janibekov Pesquisadores (Cazaquistão)

Os principais temas de Dinara Nurusheva são a economia política e os interesses regionais do

Cazaquistão. Os de Nurtas Janibekov, que é especialista em geografia política e econômica, são

a  história e política mundial.– Página 52 –

Mathis Rekowski Ilustrador (Alemanha)

Depois de se formar, Mathis Rekowski inicialmente trabalhou em várias produções cinematográficas e agências de publicidade. Hoje, cria ilustrações

fantasiosas e vibrantes de cores para clientes como Mercedes, Delta Airlines ou voestalpine.

– Página 36 –

Petra Hannen Jornalista (Alemanha)

Petra Hannen escreve principalmente sobre os temas recursos naturais, energia e consumo. Para

esta edição, ela procura “Novos caminhos da indústria”. Petra vive e trabalha como jornalista e

repórter investigativa freelance em Berlim.– Página 28 –

Pessoas por detrás de “Futuro”

Prever como será o futuro é impossível. Mas é com as ideias que temos hoje que criamos o mundo de amanhã – e, desta forma, nos prepa-

ramos para um futuro que desejamos.

Pedimos a pessoas no mundo inteiro que nos fizessem um relato sobre suas ideias, no-vos desenvolvimentos e inovações pioneiras:

da  Índia ao Chile, e da Grã-Bretanha a Ruanda. Nestas páginas, queremos apresentar-lhes algumas das pessoas que contribuíram com

esta  edição de Futuro.

Expediente

Proprietário e titular da mídia:voestalpine AG

voestalpine-Strasse 1 4020 Linz, Áustria

Editor:Peter Felsbach

Chefe de redação:Maria Reibenberger

T. +43/50304/15-5432 [email protected]

Concepção, edição e design:Commandante Berlin GmbH Proprietário: Toni Kappesz

Schröderstrasse 11 10115 Berlin, Alemanha

Impressão:Kontext Druckerei GmbH

Spaunstrasse 3 a 4020 Linz, Áustria

Colaboradores

Ellen Lee Jornalista (EUA)

Ellen Lee é jornalista econômica e tecnológica, e trabalha para o jornal Washington Post e o canal CNBC, entre outros. Ela foi ao Vale do Silício para nós, investigar quais são os fatores que fazem da

meca da TI que ela é hoje.– Página 36 –

Jesko Johannsen Jornalista e treinador de mídia (Ruanda)

Jesko Johannsen procura, para estações de rádio e televisão alemãs, histórias que possibilitem uma

outra visão da África. Ele nos explica como Ruanda quer se tornar o polo de TI africano. Além disso, é autor da série de livros infantis Simon em Ruanda.

– Página 36 –

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12 “Tem que ser pessoal”

Entrevista com Alex Hunter sobre a ciência do marketing

14 Nosso futuro

O que as pessoas da voestalpine esperam do amanhã

16 Boas ideias unem

O fenômeno das conferências TED

20 Jovens inventores

Talentos perspicazes que mudam o mundo

Estar sempre presenteDar firmeza e segurança

Nossa estrutura descentralizada nos permite agir e reagir mais depressa. Assim, estamos sempre presentes para todos os nossos stakeholders e buscamos

atender suas necessidades com um máximo de flexibilidade e dinâmica. Atacamos problemas pela raiz e não desistimos, porque vale a

pena lutar pelo futuro.

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Estar sempre presente Estar sempre presente

O senhor uma vez disse que acha a ciência do marketing fascinante. Em que princípios ela se baseia?Sim, é verdade. O foco da minha filosofia está no equilíbrio da razão e da emoção, da técnica e do humano. As pessoas muitas vezes não se dão conta de que o marketing e a rea-ção a ele são, no fundo, uma coisa bastante emocional. Nossas decisões nem sempre são uma reação lógica a fatos como, por exemplo, as carac-terísticas do produto, ou seu preço. Tomamos uma decisão com base na sensação com a qual reagimos a uma experiência – ao processo de decisão de compra, a um serviço ou a um anúncio. Após uma experiên-cia que nos causou uma sensação desagradável, a probabilidade de que voltemos a comprar o mesmo produto é pequena, mas isso vale ao contrário também.

Como funciona, hoje, uma comuni-cação bem-sucedida?Até agora, nos limitamos pura e sim-plesmente a otimizar nossos proces-sos digitais: procuramos espremer até o último centavo de cada clique, cada busca e cada e-mail. Mas eu pessoalmente acredito que, muitas vezes, isso acontece às custas do componente humano. Tendemos a nos esquecer de que do outro lado do clique está uma pessoa, que sempre vai preferir interagir com uma outra pessoa. Principalmente no caso de algo dar errado. Logo, o que temos de conseguir é continuar otimizando tão bem os processos digitais, mas dando-lhes aquele toque pessoal que conhecemos de antigamente. Eu diria até mesmo que devemos voltar a escrever cartas à mão, para cau-sar uma boa sensação ao consumi-dor. Eu acho que grandes empresas receiam não ter condições de fazer isso com milhões de clientes. Pode até ser que elas estejam certas, mas enquanto pudermos conferir um to-que pessoal aos nossos processos,

estaremos sempre um passo à frente da concorrência que aposta só em automação. O que vale na comuni-cação não é mais o business-to-con-sumer, ou o business-to-business, é o people-to-people.

O senhor pode nos traçar um cená-rio de como será o mundo da comu-nicação e do branding no futuro?Eu acredito que ele vai continuar se democratizando. Cinco ou dez anos atrás, havia vozes que diziam que as marcas não mais pertencerão às empresas, e sim aos clientes. É o que está acontecendo atualmente. As marcas, naturalmente, continuam sendo definidas pelas empresas, mas da mesma forma também pelo que os consumidores dizem sobre elas on-line e off-line. Além disso, acre-dito que as empresas vão apostar cada vez menos em publicidade tra-dicional e passar a trabalhar com uma comunicação ultradirecionada, rele-vante. A foto de um automóvel, com uma logomarca embaixo, esse tipo de publicidade não vai mais funcionar. Para vender um mesmo produto, é preciso promovê-lo de forma direcio-nada a diferentes perfis de clientes.

Como, então, as empresas devem se comunicar com os consumidores? As empresas bem-sucedidas serão aquelas que conseguirem encontrar um equilíbrio entre o que elas sa-bem sobre um cliente e a experiên-cia que elas criam para esse cliente pessoalmente. Essas duas coisas nem sempre são o mesmo, e nós frequen-temente tendemos a nos apoiar por demais na técnica, quando, na rea-lidade, deveríamos utilizá-la para tornar mais agradável a experiência para o consumidor. Não deixa de ser uma coisa formidável poder reativar um cliente lembrando-o de uma tran-sação não concluída, ou enviando-lhe um e-mail relacionado com um pro-duto que ele comprou tempos atrás. Mas uma grande parte da população lá fora acha isso desagradável, ou até mesmo maçante. O cliente não deve-ria ficar sabendo nada sobre os pro-cessos complicados que ocorrem por trás dos bastidores. A essência de um bom atendimento ao cliente é a ilu-são de magia: as coisas simplesmente funcionam.

“Tem que ser pessoal”

Texto Björn Lüdtke

Entrevista com Alex Hunter sobre a ciência

do marketing

Descrever em apenas uma palavra o que, exatamente, Alex Hunter faz, é impossí-

vel. Antigamente, ele se autodenomi-nava um Independent Digital Ninja. Deixou de fazê-lo porque, esclarece ele, as pessoas nunca entendiam ao certo o que ele queria dizer com isso e ficavam confusas.Hunter diz de si mesmo que gosta de vagabundear pelo mundo digi-tal. “Sou fascinado por esse mundo e como ele está mudando tudo. Gosto de observar o que instiga o interesse das pessoas, e então converso com elas sobre essas coisas”, explica.Mas, afinal, o que ele faz o dia in-teiro? Alex Hunter é public speaker,

investe em startups e realiza todo tipo de produto na rede – da primeira ideia em um pedacinho de papel até o produto pronto.

Apesar de ser considerado um espe-cialista em branding e comunicação, ele afirma de si mesmo que, na vida privada e no dia a dia, não se comu-nica melhor do que qualquer outra

pessoa; a única diferença, segundo ele, é que presta mais atenção na publicidade na TV. E esse olhar ana-lítico sobre o marketing é a razão pela qual seus clientes procuram seus serviços.Antes de passar a trabalhar por conta própria, Hunter foi o responsá-vel pela estratégia digital global da Virgin Group, e ajudou seu fundador Richard Branson a transformar sua companhia aérea no que ela é hoje. Nesta entrevista, Hunter nos conta o que acha tão fascinante no marke-ting e porque não devemos nos es-quecer de que do outro lado do cli-que do mouse está uma pessoa.

“No fundo, marke-

ting é uma coisa

bastante emocional”

Alex Hunter, especialista em branding e comunicação

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Estar sempre presente Estar sempre presente

Nosso futuroTexto Björn Lüdtke

O que as pessoas da voestalpine esperam do amanhã

1. O que o próximo ano vai trazer de bom para você pessoalmente?2. Que sonhos você ainda quer concretizar?3. Que conselho gostaria de dar às gerações futuras?4. Como e para onde vamos viajar no futuro?

DIMAKATSO MATHEBULA (29) Planejadora de materiais

Johanesburgo, África do Sul

“Faça hoje algo pelo que será grato a si mesmo amanhã.”

1. Meu curso de gestão de logística. O passado não me interessa muito. Prefiro me concentrar no que vai acon-tecer no próximo ano. 2. Quero alcançar meus objeti-vos. Existem pessoas que não conhecem limites! Eu me considero uma delas. Meus sonhos me revelam segre-dos e o  futuro me promete força, realização e sucesso. 3. Faça hoje algo pelo que será grato a si mesmo amanhã. Só porque o passado não foi como você queria, isto não quer dizer que o seu futuro não poderá ser melhor do que você jamais imaginou. 4. Se pensarmos como o progresso

tecnológico está mudando nossas vidas, pode ser que em breve nos teletransportemos para o nosso próximo des-tino de férias.

“A vida é bela! Curtam-na!”

1. Pretendo passar férias maravilhosas na África do Sul. 2. Eu gostaria de fazer uma viagem de volta ao mundo. 3. A vida é bela e cheia de surpresas. Curtam-na! 4. No  futuro, viajaremos à velocidade da luz, para onde quisermos.

HELENE EGARTNER (26) Gerente de vendas

Bruck an der Mur, Áustria

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“Tecnologia demais faz mal ao cérebro.”

WILL DONOVAN (16) Estudante

Missouri City (Texas), EUA

1. A temporada de beisebol, não vejo a hora de jogar pelo time da minha escola. 2. Quero ser jogador da MLB (Major League Baseball, a principal liga de beisebol americana), ficar milionário e me casar. 3. Tecnologia demais faz mal ao cérebro. 4. Em foguetes modernos, até as profundezas do sistema solar.

1. Eu gostaria de ganhar um irmãozinho. 2. Quero ser professora. 3. Amem seus pais. 4. Eu gostaria de visitar a Disneylândia.

“Amem seus pais.”

ZHU YI QIAN (5) Aluna de jardim da infância

Suzhou, China

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Estar sempre presente Estar sempre presente

Saber é poder – reza uma frase do filósofo inglês Francis Bacon que conti-

nua tendo validade. O que mudou radicalmente nos últimos anos é a forma como chegamos às infor-mações e como passamos conhe-cimentos adiante, graças à World Wide Web. A interligação global através da internet aumentou tanto a geração de informações como sua propagação.A conferência de ideias TED é uma instituição que tem a meta de tornar o acesso ao conhecimento livre para todos. Organizada originalmente como conferência anual em Monte-rey, na Califórnia, a TED disponibi-liza um enorme leque de informa-ções em seu próprio site, no qual se pode ver, gratuitamente, as melhores palestras como vídeo. Informações que, antes da revolução digital, eram mantidas restritas, acessíveis somente a um pequeno grupo elitista.

Por trás da TED, que é a abrevia-tura de Technology, Entertainment, Design, encontra-se uma organiza-ção americana sem fins lucrativos, que tem o objetivo de difundir ideias

inovadoras e torná-las acessíveis a um amplo público, em todo o mundo. Sob o lema “Ideas Worth Spreading”, ou seja, “ideias que merecem ser divulgadas”, inventores engenhosos,

músicos virtuosos, pensadores polí-ticos e outras figuras proeminentes apresentam suas ideias em forma de discussões ao vivo com 18 minu-tos de duração – e, em seguida, em vídeos de acesso livre.A lista dos palestrantes famosos é longa, abrangendo personalidades como o astrofísico britânico Stephen Hawking, que falou sobre o surgi-mento do universo, o fundador da Microsoft Bill Gates, que palestrou sobre a emissão de CO2 e seus efeitos sobre as alterações climáticas, ou os fundadores da Google Larry Page e Sergey Brin.E a repercussão é grande: os vídeos das palestras, traduzidos por inú-meros voluntários para mais de 100 idiomas, já foram assistidos no site ted.com vários bilhões de vezes. “As palestras são muito mais pessoais, mais curtas e mais focadas em uma determinada ideia do que outros for-matos. Nossa cultura de comunicação

Boas ideias unemTexto Anne Kammerzelt

O fenômeno das conferências TED

O que começou

como um experi-

mento em pequena

escala, tornou-se

um movimento

mundial

Dr. Brené Brown na TEDxHouston 2010 © T

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Estar sempre presente Estar sempre presente

está passando por uma forte transfor-mação – hoje em dia, liderar significa, mais e mais, saber se comunicar de forma inspiradora”, explica Stephan Balzer, curador dos eventos TEDx na Alemanha.A primeira conferência foi realizada em 1984, na Califórnia. Hoje, em uma retrospectiva, fica claro o quanto os eventos de então apontavam para o futuro: em uma palestra, foi apre-sentado o primeiro computador Mac. Naquela época, ninguém podia ainda imaginar o sucesso inacreditável que a Apple viria a ter com ele. Do ponto de vista financeiro, porém, esse primeiro evento foi um fracasso, o que fez com que a conferência seguinte acon-tecesse apenas seis anos mais tarde.Desde 1990, as conferências TED são realizadas anualmente. O que começou como um experimento em pequena escala, tornou-se um movi-

mento mundial. Além da conferên-cia original, há hoje diversos outros formatos com diferentes referências, focos e tamanhos.

Em primeiro plano encontram-se os eventos TEDx, que são conferên-cias independentes, realizadas com base nas regras do evento original. O “x” significa “independently or-ganized event”, por assim dizer a

variante franchise desse formato; são eventos organizados de forma largamente autônoma, em todas as partes do mundo. As TEDx oferecem a possibilidade de realizar eventos locais com a mesma perspectiva glo-bal. Qualquer um que tenha uma boa ideia para uma conferência pode organizá-la por conta própria. Sem-pre fiel ao lema da TED “Ideias que merecem ser divulgadas”, as TEDx também contribuem para a propaga-ção de boas ideias e sua colocação gratuita à disposição de um amplo público, em todo o mundo. Apesar de não terem a participação de per-sonalidades famosas como as TED, as conferências TEDx, realizadas em mais de 130 países com um enorme leque temático, promovem discussões fervorosas e proporcionam uma visão fascinante das coisas e novas formas de ver a realidade.

O sucesso extraordinário das TEDx é, em sua maior parte, mérito de uma comunidade fiel, que, em todo o mundo, se deixa entusiasmar pela causa, investindo seu trabalho e seu tempo. À semelhança das TED, todas as palestras são gravadas em vídeo e disponibilizadas livremente aos interessados. Isso não significa somente que conhecimentos e infor-mações internacionais são agrupados, mas também que as ideias, desejos e visões de futuro de pessoas enga-jadas se tornam conhecidas e são acompanhadas até mesmo do outro lado do planeta. Assim, por exemplo, a palestra “Sca-ling up technical education”, feita por Kamau Gachigi na TEDxNairobi, no Quênia, passou uma ideia da impor-tância crescente da formação técnica em Nairobi. Sangeetha Isvaran pales-trou na TEDxSairam sobre inovações sociais na Índia. E quem quiser saber algo sobre a possibilidade de modifi-car desejos e sonhos, deveria dar uma

olhada no evento da TEDxCazuca “Sueños que transforman”, do colom-biano Jhon Bucurú. Essas informações podem ser rece-bidas em todo o mundo “de primeira mão”, não da forma tradicional, pelo jornal diário, mas diretamente dos palestrantes da respectiva comuni-dade. Para obter a licença para rea-lizar um evento TEDx, os organiza-dores passam por um processo de

seleção minucioso, no qual são veri-ficados seus temas e locais desejados, além de sua motivação pessoal. Eles se comprometem a respeitar regras obrigatórias, que protegem o caráter democrático e comunitário da ideia.

“Na verdade, não é possível desta-car uma palestra em especial”, diz Lara Stein, uma das iniciadoras das TEDx, “mas a palestra na TEDxHous-ton ‘O poder da vulnerabilidade’, de Brené Brown, é uma prova do que a comunidade é capaz. A palestra so-bre o autoquestionamento como mo-tor para sucesso, criatividade e amor é extraordinariamente inspiradora e terminou sendo umas das mais vis-tas no site ted.com.” Com certeza, o melhor é simples-mente visitar o site e clicar, entre as inúmeras palestras, naquelas que despertem seu interesse. Ou talvez até mesmo organizar seu próprio evento TEDx, porque a comunidade é composta de gente que acredita fir-memente que grandes ideias  podem

mudar o mundo. E para isso é neces-sário iniciativa própria. Quem – seja ao vivo em um dos eventos reali-zados em todo o globo ou por vídeo on-line – quiser incentivar outros a refletir e inspirá-los a agir, deveria aproveitar suas chances e divulgar sua ideia mundo afora.

O sucesso extraor-

dinário das TEDx é,

em sua maior parte,

mérito de uma

comunidade fiel

O objetivo é difun-

dir ideias inova-

doras e torná-las

acessíveis a um

amplo público em

todo o mundo

Número de países nos quais já foram realizadas

conferências TEDx

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Craig Venter e Chris Anderson, curador da TED, discutindo sobre a vida artificial

A TEDxNairobi 2013 no Centro Mundial de Agro-Silvicultura (ICRAF)

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Estar sempre presente Estar sempre presente

Jovens inventores

Texto Kathrin Gemein

Pessoas que impulsionam inovações são caracte-

rizadas por uma enorme curiosidade e a capacidade

de olhar de uma forma nova para coisas rotineiras.

Perícia e experiência profissional também são

importantes — pelo menos na maioria dos casos.

Mas muitas vezes são os jovens que têm ideias

capazes de mudar um pouco um mundo, o que

combina, já que o futuro pertence a eles

Mar sem plástico — Boyan Slat Boyan Slat tinha 16 anos quando mergulhou na costa da Grécia não conseguiu ver mais nenhum peixe, de tanto lixo

plástico. E ele se perguntou: “Por que simplesmente não arrumamos isso?” Com uma equipe de cem pessoas, Boyan Slat realizou um estudo que resultou em uma ideia relativamente simples – uma instalação de cem quilômetros de barreiras flutuantes. As correntes marítimas naturais transportariam o lixo plástico para os dois braços da barreira, dispostos em um ângulo de 120 graus. O lixo seria então recolhido por um navio oito vezes por ano, e os animais poderiam passar nadando, desviando da barreira, sem sofrer nenhum dano. Ainda se está trabalhando na concretização dessa ideia.P

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Rendering digital de uma barreira flutuante do projeto The Ocean Cleanup

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Estar sempre presente Estar sempre presente

Carro feito de Lego e movido a ar — Raul OaidaMontar um carro de peças de Lego e simplesmente sair rodando com ele: com certeza, o sonho de muitas crianças.

Aos 20 anos de idade, Raul Oaida construiu um carro em tamanho real, utilizando 500.000 peças de Lego. Somente as rodas e as partes portantes foram feitas de plástico. O motor é movido a ar – e o veículo realmente funciona. Antes disso, o  inventor romeno já havia criado uma nave espacial que subiu 35 quilômetros com ajuda de um balão de hélio. E em

seu portfólio encontra-se ainda uma bicicleta a jato. Sua autodescrição acerta em cheio: ele mesmo se define como “ maker of things”, criador de coisas.

Estação de rádio feita de sucata elétrica — Kelvin DoeA necessidade é a mãe da invenção. Kelvin Doe interiorizou esse lema. Em sua terra natal, Serra Leoa, onde só há energia elétrica algumas horas por dia, o autodidata, que na época tinha 15 anos, começou a juntar sucata elétrica

e  ficou mexendo e aparafusando até que conseguiu construir um gerador. Como se não bastasse tamanha proeza, Kelvin Doe criou com sucata também uma emissora de rádio e transmite diariamente seu programa sob o pseudônimo DJ Focus. Biografias como essa raramente passam despercebidas – e assim, um pesquisador do famoso Massachusetts Institute of

Technology (MIT) convidou o jovem para um estágio. O senso de missão do adolescente valeu a pena! © S

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Estar sempre presente Estar sempre presente

Comunicação por respiração — Arsh Shah DilbagiQuando pessoas que sofrem de paralisia perdem a voz, um contato com o mundo à sua volta torna-se praticamente impossível para elas. Mas Arsh Shah Dilbagi devolveu-lhes a voz. O estudante de 16 anos inventou um aparelho de comunicação que funciona utilizando unicamente o ar respirado. Para cada letra, o ar tem de ser expirado em outro

intervalo de tempo. O pequeno aparelho transforma esses sinais em uma voz artificial, que pode ser adaptada ao sexo e à idade da pessoa. O aparelhinho poderia ser adquirido futuramente por 100 euros – caso venha a ser produzido em

série, o que desejamos de todo coração a Arsh Shah Dilbagi.

Luz a partir do calor do corpo — Ann MakosinskiInteressar-se por armazenamento elétrico aos 15 anos de idade é algo relativamente incomum. A canadense Ann

Makosinski refletiu sobre o ser humano como fonte de calor até então não aproveitada, questionando se não haveria uma forma de evitar que essa energia seja simplesmente desperdiçada. Ela desenvolveu então a Hollow Flashlight,

uma lanterna que funciona com energia térmica do corpo humano. Para isso, é necessário que estejam presentes algu-mas condições. A temperatura externa tem que ser de, no máximo, 16 graus e a temperatura do corpo de, no mínimo,

36 graus. Essa diferença cria uma tensão elétrica, que realmente consegue acender a Hollow Flashlight por 20 minutos. © S

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Antecipar o futuroCriar movimento e fornecer energia

28 Novos caminhos da indústria

Desenvolvimento econômico, mais-valia social

34 Mobilidade no futuro

As formas como já poderíamos nos locomover nas estradas, nos trilhos e no ar em um futuro próximo

36 Cinco países, um futuro? Modelo de sucesso Vale do Silício —

o que Bangalore, Chile, Londres e Ruanda querem aprender dos californianos

46 Recursos naturais para a  próxima geração

Avanços na exploração de petróleo e gás

52 Novas mercadorias por velhos caminhos

Visitamos três localidades na recém- redescoberta Rota da Seda

Nós promovemos mudanças – abertos para o novo e com a curiosidade do pesquisador, pensamos de forma visionária e muito além do presente.

Riqueza de ideias caracteriza tanto nossos produtos e processos como o rela -cionamento com nossos semelhantes. Porque nada é tão bom

que não possa ser melhorado.

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Antecipar o futuro Antecipar o futuro

Luis Arce Catacora tem um grande objetivo. Os bolivia-nos não devem se limitar a

explorar suas próprias reservas da matéria-prima lítio, e sim dominar e controlar toda a cadeia de criação de valor, incluindo a produção de baterias para smartphones ou carros elétricos. O ministro da economia boliviano aposta tudo na industriali-zação do país andino: “Hoje em dia, um país que não fabrica produtos tecnológicos é passado para trás em pouco tempo.”Dez anos atrás, essa tese de Catacora teria colhido apenas um balançar in-crédulo da cabeça em muitos países industrializados. Para vários políticos, cientistas e empresários, a força in-dustrial deixara de ser desejável, e o passo seguinte no desenvolvimento

seria uma sociedade baseada em conhecimento, informação e presta-ção de serviços. Apenas uma crise econômica e financeira mais tarde, no

entanto, as prioridades se inverteram: em países com uma indústria forte, a maioria dos habitantes está, pelo me-nos até agora, claramente melhor do

que em outros países. A indústria não só serve de plataforma econômica, porque as empresas fazem pedidos a subfornecedores e prestadores de ser-viços, e desta forma sustentam a eco-nomia, como também gera know-how e empregos atraentes nos locais onde se estabelece: não só os gastos com pesquisa e desenvolvimento são mais altos do que em muitos outros setores, mas também os salários e ordenados. E a industrialização não mais é con-siderada um conceito histórico, e sim um conceito para o futuro.Um olhar para a Grã-Bretanha mostra que centros industriais ricos em histó-ria também fazem parte desse futuro. Londres acaba de ultrapassar Hong--Kong como a cidade com os aluguéis e custo de vida mais altos do mundo. Ao mesmo tempo, a Grã-Bretanha

é, segundo os números da Boston Consulting Group (BCG), o país que tem os menores custos de produção da Europa Ocidental, e também não precisa recear a comparação com a Polônia e a República Checa, ou a China. Justamente a indústria auto-mobilística, tão propensa à interna-cionalização, investiu dez bilhões de libras esterlinas e criou milhares de novos empregos no país desde 2010. E pretende criar ainda mais. Onde, há vinte anos, uma empresa atrás da outra foi à falência e dezenas de mi-lhares perderam seu emprego, hoje se fabricam desde brinquedos até têxteis.Mas o que é que torna um país ou uma região atraente para indústrias? Um nível salarial estável, uma carga de impostos relativamente baixa e

uma moeda confiável ajudam, mas não bastam. Nos Estados Unidos, pre-ços de energia baixos levaram a um renascimento da indústria. Graças, entre outros, ao fracking, os custos de produção nos EUA são atualmente os mais baixos dentre o rol dos países industrializados. A exploração do gás de xisto não só mantém o preço do gás nitidamente abaixo do nível em outros países, como também a tarifa elétrica – um argumento convincente em favor do país para empresas gran-des consumidoras de energia dos setores petroquímico, do vidro ou do aço. O vizinho México faz concor-rência à China em matéria de preços, e ainda leva vantagem por ter um acordo de livre comércio com 45 paí-ses. Como consequência, já foram

criados nesse país emergente vários clusters industriais, para hardware de computadores pessoais, tecnologia

biomédica e tecnologia automotiva, entre outros.Outra vantagem são recursos huma-nos qualificados. Porque a indústria

Novos caminhos da indústria

Texto Petra Hannen

Desenvolvimento econômico, mais-valia social

A industrialização

não mais é um

conceito histórico,

e sim um conceito

para o futuro

“Um país que não

fabrica produtos

tecnológicos é

passado para trás

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Braço de robô na produção automatizada

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Antecipar o futuro Antecipar o futuro

está passando por uma nova revo-lução – depois da máquina a vapor, da fabricação em massa em linhas de montagem e da automação, a

Internet das Coisas está se tornando parte da produção. A ideia por trás deste conceito, também conhecido por Indústria 4.0, é que sistemas de produção e produtos se comuni-quem uns com os outros através de interfaces de TI e se interconectem. O objetivo é uma produção inteli-gente e poupadora de recursos na-turais. Para processos de produção complexos como esses, as empresas precisam de empregados com boa formação profissional, desejosos de aprender e motivados.A China já não é mais a resposta automática à questão onde construir uma fábrica. Com custos salariais baixos, um mercado interno forte e em rápido crescimento, bem como incentivos governamentais conside-ráveis para investidores estrangei-ros, ela permanece atraente – mas a existência de centros de produção atrativos em todas as regiões do mundo tem uma grande vantagem para a indústria: a proximidade ao

mercado. Nos países emergentes e em desenvolvimento, em regra to-dos os setores industriais estão cres-cendo. Nos próximos dez anos, dois

bilhões de pessoas vão se juntar à classe global de consumidores. Mas suas necessidades se desenvolvem de uma forma diferente da ocorrida nos velhos países industriais – elas pulam a fase do computador pes-soal e da rede fixa, por exemplo, e procuram diretamente por soluções móveis de internet e comunicação. Por outro lado, vários países alta-mente industrializados apresentam um crescimento relativamente fraco da economia como um todo. Em com-pensação, registram um aumento significativo em segmentos especiali-zados, como produtos médicos, meios de transporte, energia e eletrotécnica, o que se deve em grande medida ao maior número de habitantes idosos. Ou seja, não são necessárias apenas indústrias grandes e centralizadas – a produção descentralizada e adaptada à região está se tornando cada vez mais importante.Outros dois aspectos, até agora de caráter mais regional, também estão

ganhando em importância: os preços da energia e as normas ambientais. Os países da União Europeia formula-ram metas de sustentabilidade signi-ficativamente mais ambiciosas do que, por exemplo, os Estados Unidos ou a China. Bom para o clima, mas um de-senvolvimento difícil para a indústria europeia, porque acarreta para as em-presas custos para investimentos em tecnologias mais ecológicas ou medi-das de compensação ambiental que seus concorrentes fora da Europa não têm de suportar. Isto não só prejudica o balanço, como também envolve um perigo. Sobretudo as indústrias gran-des consumidoras de energia pode-riam deslocalizar sua produção, com a consequente perda de know-how e de empregos para a economia eu-ropeia. Na Conferência do Clima da ONU em Paris, no fim de 2015, de-verá ser assinado um acordo climático com metas vinculativas para todas as nações do mundo. É uma chance de repartir de uma forma mais justa os custos ecológicos, como proteção do clima e eficiência energética – e uma chance de fortalecer a indústria na Eurozona, que continua em crise.

Hoje em dia, não só se espera das empresas que elas ofereçam produ-tos para os diferentes mercados do mundo. Como sempre mais pessoas consomem cada vez mais, o manejo eficiente de recursos tornou-se um tema central para cada indústria. Isto inclui o manejo e, portanto, a disponi-bilização de recursos em ciclos. E ao menos o ministro da economia boli-viano, Luis Arce Catacora, na certa vai acrescentar este elo à sua cadeia de criação de valor do lítio.

Em Xangai, desenvolvemos perfis e tubos especiais para o segmento automotivo

Aço leve em uma linha de produção de automóveis

O que torna um

país atraente para

indústrias?

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Antecipar o futuro Antecipar o futuro

Entrevista Wolfgang Eder

Texto André Uhl

Quais são, em sua opinião, os desa-fios globais com que a indústria se depara atualmente?O maior desafio provavelmente con-siste em criar, ao menos no longo prazo, um ambiente mais ou me-nos comparável, ou seja, um Level Playing Field, para todas as regiões econômicas importantes. Existe uma série de temas globais igualmente urgentes, que também só podem ser solucionados globalmente, como proteção do clima, acesso ao mercado, padrões sociais e legais mínimos, e muitos outros mais.Em minha opinião, aliás, “a indústria” com tendências uniformes já não existe mais faz tempo. Por isso, acho que deveríamos questionar de forma fundamental o conceito de indústria.

Já é mais do que hora de adaptarmos à realidade moderna a imagem tra-dicional que temos dela como sendo setores separados, e deixar de pen-sar de forma compartimentalizada. A prestação de serviços, por exemplo, há muito já é parte integral de uma empresa industrial moderna. Sem indústria, muitos serviços hoje ou não existiriam, ou só existiriam de forma muito limitada.

Está havendo uma reindustrializa-ção? Onde estão as chances, onde os limites?No ano de 2000, a indústria na Europa ainda respondia por 18 por cento do PIB total, hoje mal são 14 por cento – com tendência para baixo. É bom lembrar que o objetivo – totalmente

Wolfgang EderWolfgang Eder é presidente e CEO da voestalpine AG

irrealista – estabelecido pela Comis-são Europeia para 2020 são 20 por cento. Não é por acaso que, com a desindustrialização, muitos países estejam registrando níveis recorde de desemprego, sobretudo entre os jo-vens, que a Europa esteja ameaçada de ficar definitivamente para trás da China e dos Estados Unidos no campo da pesquisa e desenvolvimento, e que o crescimento esteja estagnando. Portanto, deveríamos conversar so-bre os limites da desindustrialização, antes de falar sobre a questão da reindustrialização – e sobre que pers-pectivas um continente outrora orgu-lhoso e que já desempenhou um pa-pel de liderança ainda tem hoje, em termos políticos, sociais e econômicos, no cenário global. Isto não tem nada a ver com o chamado “UE-bashing“ – mesmo que a mídia se esforce por sugeri-lo. Indústrias são assim, elas produzem onde encontram as melho-res condições em termos de custos e de mercado, e não onde são produzi-das as maiores montanhas de papel com declarações de intenções sempre iguais e nunca realizadas. Nem pa-lavras bonitas, nem romantismo são uma categoria.

Que efeitos essas tendências têm sobre as empresas europeias?As empresas europeias já estão defi-nitivamente no limite do suportável, em muitos sentidos. Para isso tam-bém contribui o fato de os governos nacionais estarem se furtando cada vez mais à sua responsabilidade mais intrínseca, que é a responsabilidade para com seus eleitores, ou melhor, para com as pessoas, na medida em que estão norteando suas prioridades mais pelas datas de eleições do que pelas questões existenciais no longo prazo. O que a política e a sociedade

não conseguem ou não querem solu-cionar, muitas vezes é transformado em novos regulamentos e leis e dele-gado à economia – no mais das vezes, em forma de novos encargos, e não apenas de natureza monetária. Isso não pode funcionar. Assim, a política conduz a si mesma ad absurdum, ela não pode se livrar de sua responsabi-lidade às custas de terceiros.

Em que medida esses desenvolvi-mentos afetam a indústria do aço?A bem da verdade, é preciso admi-tir que a culpa de muitos problemas é do próprio setor. Até agora, ele não conseguiu – com poucas exceções – dar a si mesmo uma imagem mo-derna, comunicar sua importância e a importância do aço como material. Em vez disso, ele continua, como um todo, apostando demasiado em quantidade em vez de qualidade, ou seja, o setor produz, em termos mundiais, aço de massa demais, em quantidades das quais o mercado não precisa mais.

As tendências no mercado e na tecnologia não são o problema – pelo contrário, elas oferecem grandes oportunidades, mas é preciso que a indústria do aço também saiba apro-veitá-las. De um modo geral, porém, ela tem de enfrentar um desafio muito mais complexo, que é tornar claro que ela não é parte do pro-blema, e sim parte da solução. Ela precisa se desenvolver de impelida para impulsionadora.

Como o senhor vê o futuro da in-dústria? Na Europa e no mundo? O que é preciso já, para que o futuro da indústria seja positivo? O futuro da indústria não me causa preocupação. A economia real, produ-tiva, vai continuar existindo sempre, já pela simples razão que o homem não consegue viver sem o que ela produz. E ela vai continuar contribuindo per-manentemente de forma decisiva para um mundo mais moderno, eficiente e no qual vale a pena viver. A questão é só onde isso vai acontecer.

Na voestalpine, desenvolvemos produtos para exigências extremas

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Antecipar o futuro Antecipar o futuro

Com o elevador para o espaço

Entrar simplesmente em um elevador e subir para a Lua soa como se fosse uma ideia de filmes de ficção cientí-fica. Mas isso realmente está sendo planejado: a empresa LiftPort trabalha atualmente – com apoio de um crowd-fun ding – em um primeiro estudo. Nos próximos oito anos, será projetado um modelo de teste. Esse elevador robóti- co com o nome Lunar Space Elevator Infrastructure de-verá transportar pessoas para o espaço, vencendo a força de gravidade através de um sistema de trilhos.

Transporte aerodinâmico de cargas

Às vezes, basta mudar a perspectiva. Josh Shercliff vê caminhões do ponto de vista aerodinâmico e criou um design que permite percorrer trechos longos com menor consumo de combustível. Algo na verdade bem lógico: um caminhão retangular apresenta uma maior resistên-cia aerodinâmica que um veículo desenhado para uma maior eficiência no consumo de combustível. Inspirados em carros de corrida, como da Fórmula 1, foram criados modelos que, além de ter uma forma bonita e futurística, poderiam ser uma alternativa mais ecológica nas estra-das do mundo.

Transmissão de energia sem contato

Como será o transporte ferroviário no futuro? É nisso que estão trabalhando atualmente cientistas do centro aero-espacial alemão Deutsches Zentrum für Luft- und Raum-fahrt. O projeto Next Generation Train ocupa-se, além dos aspectos velocidade e economia de energia, também com as catenárias, já que elas requerem muita manuten-ção e sofrem muitas falhas, sendo muitas vezes a causa de atrasos. Portanto, o Next Generation Train deverá fun-cionar sem catenárias, com uma transmissão de energia sem contato, através de laços de indução.

Dirigindo na cidade com um joystick

Especialmente em cidades grandes, procurar uma vaga para estacionar pode custar muito tempo e nervos. O de-signer de produtos Sanu K R criou um veículo para so-mente uma pessoa, com o qual a procura por estaciona-mento é coisa do passado: esse meio de transporte tem a forma redonda e duas rodas adicionais que, com seu ân-gulo de cambagem especial, contribuem para o equilíbrio e suportam o peso. Propulsionado por dois motores, esse veículo funciona sem volante – em vez disso, é guiado por meio de um joystick. Uma variante muito divertida de lo-comoção, que ainda por cima economiza espaço.

Água salgada ao invés de gasolina

Substituir a gasolina de automóveis por combustíveis pra-ticamente inesgotáveis e baratos não é mais nenhuma uto-pia: a limusine QUANT deverá funcionar unicamente com água salgada. A nanoFLOWCELL AG desenvolveu, com esse modelo, o primeiro carro elétrico que gera energia a partir de uma solução eletrolítica, o que lhe dá um alcance de até 600 quilômetros. Essa forma inovadora de propul-são e de armazenamento de energia é possível graças à tecnologia de células de fluxo: o veículo é abastecido com dois diferentes líquidos salinos, que geram energia elé-trica. Mas até que esse modelo possa realmente ser produ-zido em série demorará ainda alguns anos.

Mobilidade no futuro

Texto Kathrin Gemein

As formas como já poderíamos nos locomover nas

estradas, nos trilhos e no ar em um futuro próximo

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Antecipar o futuro Antecipar o futuro

Cinco países, um futuro?

Texto Björn Lüdtke, Ellen Lee, Jaideep Sen, Gwendolyn Ledger, David Nicholson, Jesko Johannsen Ilustração Mathis Rekowski

No mundo inteiro, o Vale do Silício é con si-

derado modelo de sucesso em matéria de TI.

O que podemos aprender dos motores de

inovação na Califórnia? É o que fomos saber em

Bangalore, no Chile, em Londres e Ruanda

Vista do Santa Clara Valley, que está localizado no centro geográfico do Vale do Silício © K

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Manchetes como “Banga-lore, o Vale do Silício in-diano”, ou “As tentações

do Chilecon Valley” são bastante frequentes. Quando se trata de no-vos polos para empresas de tecnolo-gia da informação, ou TI, os olhares do mundo inteiro se voltam para o vale ao sul de São Francisco. E não é sem razão: na Califórnia, o setor mostra, sempre de novo, como se faz para ganhar milhões e bilhões de dólares com TI.Motivo suficiente, portanto, para examinar mais de perto o fenômeno Vale do Silício. Inicialmente, nossa autora Ellen Lee investiga, no vale original, quais são os fatores de su-cesso que preparam o terreno fértil para sempre novas ideias e startups bem-sucedidas. Além disso, enviamos mais quatro re-pórteres mundo afora, para descobrir se esse sucesso pode ser repetido em outros lugares, e se os fatores iden-tificados por Lee desempenham um papel nesse processo.Iniciamos nossa viagem em maté-ria de tecnologia da informação em Bangalore: a cidade é um dos “novos Vales” mais conhecidos. Nosso co-laborador Jaideep Sen constata que isto se deu mais por acidente geo-gráfico do que de propósito, mas que estão sendo feitos grandes esforços para sair da sombra do original.No Chile, até pouco tempo atrás, fracassar em um empreendimento era considerado uma vergonha. Mas aos poucos está se desenvolvendo uma cultura de empreendedorismo que corresponde à norte-americana. A jornalista Gwendolyn Ledger relata que, mais e mais, o fracasso é visto como chance para um recomeço.Enquanto no Chile o Estado procura impulsionar o setor, o East End de Londres se transformou num polo de TI sem nenhuma ajuda do governo. David Nicholson foi até a “Rotatória do Silício” e arredores para nós.E nosso repórter Jesko Johannsen

encontra grandes visões no pequeno Ruanda, onde o governo quer pular uma etapa da industrialização com a ajuda de tecnologias da informação, e passar diretamente de uma econo-mia agrária para uma economia de prestação de serviços.

Vale do Silício— Círculo virtuoso

O Vale do Silício – berço de gigan-tes da indústria da tecnologia, como Google e Yahoo – é famoso por uma cultura da inovação que o mundo in-teiro tenta copiar. Mas o vale ao sul de São Francisco está longe de abdicar de seu status como o endereço para empreendedores com grandes sonhos.Michele Colucci é uma empreen-dedora que sonha grande. Quando teve a ideia para sua startup, morava na Califórnia do Sul. Como advogada, seus amigos frequentemente lhe pediam conselhos em assuntos legais, e isso lhe deu a ideia de criar uma plataforma que ajuda a encontrar as-sistência jurídica.Já em uma fase bastante inicial da criação de sua empresa Justiquity, Michele reconheceu que teria de se mudar para ser bem-sucedida. Sua nova localização no Silicon Valley ajudou-a a estabelecer contatos com parceiros, investidores e consultores.

“Aqui existe energia e entusiasmo por novas ideias”, diz. “Empreendedo-rismo é um processo coletivo. O legal é que aqui há especialistas de todas as áreas. Gerir uma startup, marke-ting, acesso a capital – para tudo isso, você precisa de especialistas, se qui-ser ter sucesso.”Não é à toa que o Vale do Silício tem a fama de ser a capital mun-dial das empresas de tecnologia:

é aqui que elas nascem e crescem. Em 1939, dois estudantes da Univer-sidade de Stanford, Bill Hewlett e Dave Packard, fundaram a HP em uma garagem em Palo Alto. Em 1998, Larry Page e Sergey Brin começa-ram a desenvolver o Google na gara-gem de um amigo. Mark Zuckerberg se mudou para cá quando resolveu expandir o Facebook. E muito pro-vavelmente alguém, neste momento, está criando o próximo gigante da tecnologia em sua casa, em algum lugar da Baía de São Francisco. Como isso foi, e continua sendo, pos-sível? A resposta é simples: devido às pessoas que se encontram aqui. To-dos os anos, centenas de engenheiros talentosos se formam em Stanford e na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e futuros empreendedores se desenvolvem em grandes empre-sas de tecnologia. O fundador do LinkedIn, Reid Hoffman, por exem-plo, iniciou sua carreira na Apple.Outro fator importante é a presença de empresários de sucesso, que in-vestem no futuro, prestando con-sultoria a startups, colocando capital à sua disposição ou simplesmente criando-as eles mesmos. Um exem-plo notável disso é o grupo formado por fundadores e ex-funcionários do PayPal, conhecido como PayPal Mafia, ou a “Máfia do Paypal”. Dele fazem parte, entre outros, Peter Thiel, que mais tarde investiu no Facebook, Elon Musk, presidente da Tesla, e os fundadores do YouTube, Chad Hurley e Steve Chen.Por fim, e não por último, a cultura única do Vale do Silício se deve ao grande número de imigrantes que se estabelecem no Vale, trazendo no-vas ideias e nova energia.

“Tudo isso junto forma um círculo virtuoso”, diz Vivek Wadwha, pro-fessor da Standford Law School.

“Quanto maior é o potencial de criati-vidade e produtividade reunido aqui, tanto mais pessoas seguem sendo atraídas para cá.”

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Antecipar o futuro Antecipar o futuro

Outro ponto a favor do Vale do Silício é sua infraestrutura propícia ao de-senvolvimento de empresas. Jovens empreendedores são apoiados por incubadoras de alta tecnologia e aceleradores de negócios. A ave-nida Sand Hill Road é célebre pela sua concentração de investidores de capital de risco. Um estudo mostra que aproximadamente 40 por cento do valor total em dólares de capital de risco investidos anualmente nos Estados Unidos fluem para a área da Baía de São Francisco. Não raro, esse dinheiro é confiado a empresá-rios jovens e inexperientes, ou que até mesmo viram sua última empresa naufragar. Na meca da alta tecno-logia, o fracasso é considerado um passo no caminho da inovação.

“Aqui, quem pensa fora da caixa é aplaudido”, diz Wadwha. “É per-mitido ser diferente. É permitido externalizar uma opinião forte. É permitido fracassar. E é permitido experimentar-se. Esta é a magia do Vale do Silício.”Mesmo assim, nem tudo são rosas no vale da inovação. As leis de imi-gração dificultam o estabelecimento de jovens empreendedores. Habi-tação a preços acessíveis é escassa. A distância entre ricos e pobres é cada vez maior. E, apesar de o Vale do Silício se orgulhar de sua socie-dade competitiva, na qual se parte do princípio que as melhores ideias vingam, as empresas recentemente se viram obrigadas a admitir que a inclusão de mulheres e minorias ainda deixa muito a desejar.Mas, provavelmente, estes são ape-nas obstáculos menores. Não sur-preende que tenha sido rapidamente implementada uma série de progra-mas para enfrentar os problemas nas áreas da habitação, pobreza, imigra-ção e diversidade. Porque o fracasso, no Vale do Silício, é apenas um mo-tivo para se levantar de novo e tentar mais uma vez.

Bangalore— Cidade das

oportunidades

Na virada do ano de 2015, Bangalore, ou Bengaluru, como é chamada, em sua forma não anglicizada, a cidade situada no estado indiano de Karna-taka, oferece um quadro de extremos, típico de uma metrópole em expan-são: por um lado, é considerada a

“cidade com a mais alta qualidade de vida da Índia”, e, por outro, está se afogando em uma crise de lixo que já vem de longe. Independentemente disso, Bangalore é um dos maiores empregadores da indústria da tecnologia da informa-ção, e atrai tanto jovens universitários

recém-formados de toda a Índia, como talentos altamente qualifica-dos de todo o mundo. E embora pa-reça estar em constante mutação, a infraestrutura da cidade é uma das melhores do país.A transformação da cidade em um fenômeno de TI tornou-se possível, de um lado, devido a fatores “sua-ves”: o clima cosmopolita, as possi-bilidades de pesquisa (o Indian Institute of Science foi fundado em Bangalore, em 1909) e uma longa tradição de inglês falado. O flores-cimento das universidades de enge-nharia locais nas décadas de 1980 e 1990 contribuiu de forma significativa, atraindo estudantes já em uma época em que a disciplina Software ainda não se encontrava entre as preferi-das. De outro lado, fatores “duros”, como isenção temporária de impostos,

simplificação dos processos de aqui-sição de terrenos para a construção de parques tecnológicos e uma redu-ção de direitos trabalhistas também contribuem para esse desenvolvi-mento, explica Sunil Abraham, dire-tor do grupo de pesquisas Centre for Internet and Society. “Esses incen-tivos foram costurados sob medida para as multinacionais”, afirma. “É relativamente difícil encontrar esse tipo de política em outros países.”A ascensão de Bangalore como cen-tro de TI teria se dado “mais por um acidente geográfico”, diz Abraham. Quando todos vão dormir em Nova York, o dia de trabalho está apenas começando na Índia. E assim, a re-gião tornou-se uma espécie de “turno da noite” do Ocidente. Sobretudo os chamados cyber-coolies, como são denominados os auxiliares de TI pouco qualificados e mal remunera-dos, seriam um indício de um modelo de negócio baseado em vantagens em custos de mão de obra, no qual muitas empresas de TI continuam a apostar. Abraham acredita que o termo “coo-lie” diz muito sobre os inícios da indústria e sobre as regras que são a chave do seu sucesso. Segundo ele, a questão decisiva seriam os direitos

de propriedade intelectual, cujos donos, no fim das contas, seriam os clientes no mundo ocidental. “Os en-genheiros aqui inovam, mas os direi-tos do seu trabalho estão em perigo.” Por isso, Abraham não con sidera real-mente adequado o rótulo de “novo Vale do Silício” para Bangalore; em sua opinião, ele seria, antes, o resul-tado de campanhas políticas e rebu-liço midiático.Mas o mundo da TI em Bangalore também tem um outro lado – um lado autônomo, independente do mundo ocidental. O número de empresas fundadas cresce. Notícias sobre em-preendimentos que fazem a alegria dos investidores, como a empresa de comércio eletrônico Flipkart, startups que produzem aplicativos e, não por último, a crescente indústria da ani-mação, contribuem muito para des-fazer impressões negativas da cidade-como uma mera retaguarda barata.Abraham chama a atenção para o fato de que, nos últimos tempos, o acesso a recursos open-source foi decisivo para que desenvolvedores e programadores pudessem criar produtos próprios, originais. O pró-ximo grande desenvolvimento pode-ria ser o surgimento de uma onda de

empreendedores autônomos indivi-duais, que não precisam estar ligados a um dos parques de TI existentes.O sonho de Bangalore poderia ser atrair investidores estrangeiros e

“vender aos Facebooks deste mundo”. E nisto está a esperança para o fu-turo: estabelecer Bangalore como um centro onde se fomentam talen-tos nacionais, e assim confirmar sua proposta de ser uma incubadora de inovações em tecnologia da informa-ção. É a chance de transpor o abismo entre a Baía de São Francisco e a região entre o Lago de Bellandur e o Iblur Village.

Chile— Febre

empresarial

O equatoriano Miguel Torres teve a ideia para sua startup tecnoló-gica  ESCAPESwithYOU, que oferece soluções de logística B2B desde 2010, enquanto ainda estudava na universi-dade norte-americana de Georgetown. Realizou-a com o apoio da Start-up Chile, uma incubadora governamental com a qual o Chile quer se posicio-nar como um dos maiores polos em-presariais da região. “Deram-nos um visto, 40.000 dólares e acesso a um ambiente em que a política apoia e fo-menta o empreendedorismo”, diz ele.Sua startup é uma das quase 1.000 empresas fundadas com a ajuda desse programa desde 2010. Nesse ano, o Estado começou a oferecer incentivos para talentos e investido-res internacionais. Desde então, o Chile oferece o que os EUA, de uns tempos para cá, estão concedendo com parcimônia: vistos de trabalho para imigrantes. O programa atraiu empresários influentes do mundo inteiro – dos Estados Unidos, da Índia ou Grã-Bretanha.

Chilecon Valley: vista sobre Santiago

Nova tendência em Bangalore: makerspaces, ou espaços de criação

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Antecipar o futuro Antecipar o futuro

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Antecipar o futuro Antecipar o futuro

Para Eduardo Amadeo, co-fundador da Nazca Ventures, a força de atra-ção do Chile sobre talentos interna-cionais é um fato: “Ainda não há uma verdadeira cultura empreendedora, mas é só uma questão de tempo. Os chilenos são otimistas e abertos para tendências e inovação”, diz.Diferentemente da cultura nos Esta-dos Unidos, antes do Start-up Chile o fracasso empresarial era motivo de vergonha social – por isso, a criação de novas empresas era relativamente incomum. O ponto de vista de que se pode fracassar em um negócio e voltar a tentar é novo tanto para em-preendedores jovens como para em-presários estabelecidos de longa data, investidores e funcionários públicos.O programa, apelidado de “Chilecon Valley”, tem obtido reconhecimento

na Europa, Ásia e Estados Unidos, e isso também se reflete na atitude com relação à criação de empresas no pró-prio país: o Chile vive um verdadeiro boom de fundações. Empreendedo-rismo e inovação têm espaço fixo em jornais e revistas.Mas, como o principal objetivo de todo negócio é o sucesso, Torres fun-dou outras empresas em Belo Ho-rizonte. Lá, ele trabalha com o pro-grama de aceleração de startups do Estado mineiro SEED, inspirado no Start-up Chile. Segundo ele, lá é ainda mais fácil se internacionalizar.

“No Chile, os financiamentos vêm quase que exclusivamente do Estado. O país é um dos mais bem concei-tuados da América Latina, mas as chances de encontrar smart money – investidores que também estejam

dispostos a compartilhar sua rede de contatos com você – é bem maior no Brasil, no México e, ultimamente, também na Colômbia”, explica Diego Izquierdo, diretor de tecno-logia e co-fundador da Fundacity.O governo chileno está consciente desse ponto fraco. Por isso, está ampli ando sua política, para segu-rar as startups no Chile para além dos seis meses obrigatórios e criar um mercado mais amplo para investidores.O desenvolvimento, portanto, se-gue em frente. Graças ao exemplo do Start-up Chile, outras incuba-doras e aceleradores de empresas estão atuando com grande sucesso. Empreendedores são vistos como fortes impulsionadores de mudanças sociais, e, no palco internacional,

o país ganha autoconfiança em sua capacidade de inovação. Quem talvez saiba resumir melhor a nova situação é Mario Mora. O cria-dor da bolsa de empregos Firstjob, que, como muitos outros empreen-dedores locais, recebe incentivos, diz que é a primeira vez que vê “muita gente jovem largando seu emprego em tempo integral para abrir sua própria empresa. Antes do Start-up Chile, não se via isso.”Quais são, portanto, as chances de o Chilecon Valley se tornar o próximo Vale do Silício? “Se você procurar o próximo Twitter por aqui, talvez não ache”, conjetura Amadeo. “Mas se você procurar uma equipe para de-senvolver com você ferramentas de primeira para resolver problemas financeiros de pequenas e médias empresas latino-americanas, você provavelmente vai dar sorte.”

Londres— Tech City

No século 20, o East End londrino foi frequentemente esquecido em ma-téria de investimentos. Tanto melhor que tenha podido iniciar o século 21 com novas forças: superada uma curta má fase em virtude do estouro da bolha dot.com, o bairro voltou à cena em 2005. De olho no sucesso da Google e do Facebook no Vale do Silício, dezenas de startups de inter-net se estabeleceram nas proximi-dades da rotatória existente na Old Street – o que, em 2008, lhe rendeu o apelido de Silicon Roundabout, a

“Rotatória do Silício”.A mistura colorida de empresas das áreas de telecomunicações, mídia, filmes, serviços na Web, design, edi-toração e videogames beneficiou-se da proximidade do centro financeiro de Londres, da existência de espaços de habitação e escritórios a preços

razoáveis (em comparação com o res-tante de Londres), e das conexões in-formais com as muitas universidades.

Na época, o Silicone Roundabout não era uma comunidade concreta, pal-pável – mas isto mudaria na década seguinte. O governo criou incentivos fiscais e cunhou o termo “East Lon-don Tech City”, para aumentar a cre-dibilidade internacional da área e tor-ná-la mais atraente para investidores.Essas medidas não tardaram a ser coroadas de sucesso. Em 2012, já ha-via mais de 5.000 empresas de tecno-logia nas vizinhanças, e em março do mesmo ano a Google inaugurava seu Google Campus. Estimativas apon-tam que, em Londres e no sudeste da Inglaterra, quase 750.000 pessoas trabalham no setor.Segundo uma pesquisa da Boston Consulting Group, os negócios basea-dos na Internet contribuem com cerca de 8,3 por cento para o PIB britânico – nenhuma outra nação do G20 atinge um valor superior a esse. Essa partici-pação deverá aumentar para 12,4 por cento até 2016, quando um quarto de todas as vendas será realizado on-line. O presidente da Google, Eric

Schmidt, felicitou a cidade durante um discurso no Museu da Ciência em Londres: “Com isso, vocês são

um dos líderes, senão o líder mundial, desse mercado.”Paralelamente, o governo prometeu investir outros 50 milhões de libras esterlinas (64 milhões de euros) para melhorar a infraestrutura. Microsoft, Amazon e Cisco anunciaram grandes projetos, alguns deles em colabora-ção com universidades londrinas.

“Este é o grande momento de Lon-dres”, diz Saul Klein, sócio da Index Ventures, uma empresa especializada em investimentos de risco. “Fazem 100 ou 200 anos que não desempe-nhamos globalmente um papel com-parável. Na atual era da Internet, o inglês é o idioma mais importante. Penso que estamos otimamente pre-parados para o futuro.” Esses fatores – apoio do governo, estabelecimento de multinacionais e o mais rápido crescimento da eco-nomia britânica em muitos anos – significam que o futuro da Silicone Roundabout já está garantido?Não necessariamente. Os preços dos imóveis aumentaram mais de

O Silicon Roundabout no East End de LondresMais de 5.000 empresas de TI se estabeleceram nas imediações da Old Street

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Antecipar o futuro Antecipar o futuro

60 por cento na última década; mui-tas pequenas empresas não têm mais condições de pagá-los. Em outras

metrópoles concorrentes europeias, como Berlim, por exemplo, os pre-ços são muito mais acessíveis. Além disso, a atual postura negativa do governo britânico em relação a imi-grantes dificulta a obtenção de vistos de trabalho para talentos do exterior. E muitos desconfiam das priorida-des do governo: “Eles podem gos-tar de se adornar com um portfólio de empresas grandes, conhecidas e bem-sucedidas”, diz Cory Doctorow, que conhece bem o bairro. “Mas não com milhares de planos malu-cos, que muito provavelmente não vão dar certo.”Seja como for, com mais empresas de TI do que no resto da Europa, uma participação do setor de TI no PIB mais alta do que em qualquer ou-tro lugar do mundo, e a combinação única de empresas de design, soft-ware, videogames e pesquisa aca-dêmica, o Silicone Roundabout em Londres está cheio de vida e energia. Se um número suficiente de empre-sas conseguirem passar da fase de

startup e forem bem-sucedidas o bas-tante para pagar o aluguel, vai conti-nuar sendo assim no futuro.

Ruanda— Investimentos

em vez de ajuda

Nas profundezas da Floresta de Nyungwe, no sudoeste de Ruanda, não mora ninguém. Só pequenos co-nes de plástico amarelo com os dize-res “Fibre Optic Cable” margeiam a estrada a intervalos de alguns quilô-metros. Cerca de 2.500 quilômetros de cabo de fibra ótica conectam o país centro-africano à rede interna-cional de dados. País acidentado sem saída para o mar, pobre em matérias-primas, Ruanda não tem reais perspectivas de uma agricultura ou indústria extensas. Não obstante, já quer alcançar em 2020 o status de país emergente. Para chegar lá, o presidente Paul Kagame aposta sobretudo em tecnologias da informação: “Queremos que o maior número possível de pessoas esteja

em condições de ter acesso à rede de banda larga.” O governo está inves-tindo milhões na instalação de cabos de fibra de vidro, 3G e, mais recente-mente, também 4G LTE.Mas as tecnologias da informação es-tão longe de ser comuns em Ruanda. Menos de nove por cento dos ruande-ses utilizam a internet, e dois terços da população são extremamente po-bres. Por isso, para muitos desenvol-vedores não existe ainda um mercado nesse país de cerca de onze milhões de habitantes.O programa do governo Vision 2020 quer mudar isso: Ruanda tem agora um ministro da Tecnologia da Informação e Comunicação, está fomentando a educação tecnológica com computadores já nas primeiras séries do ensino básico e criando lugares de trabalho gratuitos para desenvolvedores.No sexto andar do prédio da Tele-kom, com vista sobre as colinas da capital ruandesa, encontra-se o coração dessa estratégia: o kLab (Know ledge Lab). “É o único polo de inovação em Kigali, onde se trocam muitas ideias que podem, realmente, resultar em algo”, diz sua diretora, Claudette Irere.Desde 2012, talentos em computação podem trabalhar no kLab sem pagar aluguel, têm acesso à internet e re-cebem sobretudo uma coisa: ajuda motivacional. Além disso, o laborató-rio oferece orientadores, possibilida-des de aperfeiçoamento profissional e demo nights, nas quais os empreen-dedores expõem suas ideias a críticas. Pode ser um aplicativo que permite pagar multas de trânsito com crédito do celular, ou um software com o qual fazendeiros podem pedir conse-lhos a especialistas sobre seus proble-mas do dia a dia.Mas no caminho para um país emer-gente o setor é, antes de tudo, um meio para atingir um fim, explica Irere: “A utilidade das tecnologias da informação e comunicação está

Vale do Silício

A. Profissionais

formados pelas re-

nomadas universi-

dades de Stanford e

Berkeley, talentos de

todo o mundo

B. Investidores não

temem investimentos

de alto risco

C. Fracasso não im-

pede que empreen-

dedores recebam

capital para sua pró-

xima startup

Bangalore

A. Fartura de

recém-formados que

apostam em talen-

tos de todo o mundo

como mentores

B. Cada vez mais

investidores aplicam

seu capital nas start-

ups locais

C. Mais e mais fun-

cionários de multi-

nacionais deixam

o emprego e viram

empreendedores

Chile

A. Três vezes por

ano, o Estado esco-

lhe e fomenta quase

100 projetos de todo

o mundo

B. O Estado criou um

fundo de capital de

risco para startups,

visando atrair investi-

dores privados

C. Empreende-

dorismo agora

é disciplina nas

universidades

Londres

A. Bom nas faixas

de remuneração mais

altas, com salários

competitivos interna-

cionalmente; fraco nas

faixas inferiores, de-

vido a aluguéis altos

B. Muitos investi-

dores

C. Menos tolerância

ao fracasso do que

nos EUA, mesmo as-

sim muita inovação

Ruanda

A. A Universidade de

Carnegie Mellon abriu

um campus em Kigali

B. 300 milhões de dó-

lares do exterior foram

investidos no setor de

TI e em infraestrutura

de TI em 2013

C. kLab e The Office

buscam preparar a

cena da TI para en-

frentar revezes

Muito populares em Ruanda: coworkingspaces, ou espaços compartilhados

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sobretudo em sua capacidade de encontrar soluções para os problemas dos cidadãos. Elas capacitam as pes-soas, que ao mesmo tempo também se transformam em recurso.” Muitos desenvolvedores também costumam se encontrar no escritório coletivo do americano Jon Stever, o The Office, que se tornou o centro de networking de Ruanda: “Em nosso espaço coworking, constatamos sem-pre de novo que, muitas vezes, inova-ção resulta simplesmente do encontro de grupos diferentes de pessoas”, diz Stever.Ele está convencido que o olhar de fora sobre o país vai mudar. “Aqui existem incontáveis possibilidades de criar empresas bem-sucedidas, de inovar e de mudar vidas. As pessoas deveriam parar de querer ajudar, elas devem vir para investir.”Como mentora do jovem setor, uma das tarefas de Claudette Irere con-siste em evitar que os empreendedo-res desistam: “Bons empreendedo-res estão sempre à procura de boas

ideias. E uma ideia falhada cria espaço para outra melhor. O feedback da coletividade do kLab sempre foi muito útil para eles.”Em 2017, deverá estar funcionando nos arredores de Kigali um parque tecnológico, onde o kLab terá um es-paço maior à sua disposição. No mais tardar então, Ruanda pretende ser o incontestado Vale do Silício africano.

Perguntamos, no início desta edição, se o sucesso do Vale do Silício pode ser repetido em outros lugares deste planeta. Se isso é possível ou não, muito provavelmente depende, en-tre outros, dos três fatores de sucesso que identificamos na Califórnia.Por um lado, depende da relativa facilidade de acesso a capital, e, por outro, da existência de uma cultura de empreendedorismo que encoraje a inovação, sem que seja preciso ter demasiado medo de fracassar. Mas o

sucesso depende, sobretudo, de um fator: as pessoas. Enquanto os californianos se en-contram informalmente no coffee shop, a cidade de Bangalore está aprendendo a fomentar seus pró-prios habitantes. Ao passo que no Chile talentos de todo o mundo são recebidos de braços abertos, em Londres é preciso ter cuidado para não afugentá-los com uma política de imigração restritiva e aluguéis es-tratosféricos. Enquanto isso, Ruanda continua apostando na experiência de que a inovação resulta, sobretudo, do intercâmbio entre as pessoas mais diversas.Se um dos quatro candidatos vai con-seguir sair da sombra do original, só o futuro dirá.

A. Reservatório de talentos

B. Acesso a capital

C. Cultura de empreendedorismo

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Antecipar o futuro Antecipar o futuro

Recursos naturais para a próxima geração

Texto Antje Ellwanger Ilustração Jan Erlinghagen

Avanços na exploração de petróleo e gás

Nas próximas décadas, abastecer o mundo de energia vai nos colocar diante de sempre novos desafios

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Antecipar o futuro Antecipar o futuro

Hoje em dia, o petróleo e o gás são indispensáveis como fontes de energia para

uma geração segura de energia elé-trica, como combustível para nossa mobilidade ou como matéria-prima para muitos produtos de nosso dia a dia. Portanto, é muito importante que o petróleo e o gás ainda estejam dis-poníveis por longo tempo – pelo me-nos até que a indústria química tenha desenvolvido novas matérias-primas ou as energias renováveis possam substituir essas duas fontes. De acordo com os cálculos do BP Sta-tistical Review of World Energy 2014, as reservas mundiais de petróleo e gás são suficientes até aproxima-damente o ano de 2060. Mas a boa

notícia é: os recursos são bem mais amplos. O engenheiro Karl Rose, professor na Universidade Técnica de Graz e especialista em desen-volvimento de cenários globais de energia, descreve as perspectivas: “A concorrência internacional e o com-portamento dos preços do petróleo impulsionam inovações que ampliam os limites do tecnicamente possível. Logo, ainda estamos longe do fim da era do petróleo”. Em todo o mundo, empresas trabalham em soluções que permitam explorar melhor as reser-vas já encontradas, descobrir novas reservas e aperfeiçoar as técnicas de perfuração.Regiões que até agora eram difíceis de serem alcançadas têm se tor-nado, nos últimos anos, em áreas de

exploração bastante cobiçadas. For-mulando de maneira simples: o gelo descongela, liberando os tesouros. Mas, diferentemente das áreas clás-sicas de exploração, essas regiões afastadas, com condições climáticas severas, impõem desafios totalmente novos às pessoas, aos materiais e aos equipamentos. Isso já começa na sondagem das jazidas. Perfurações de amostragem são difíceis de serem realizadas no gelo polar. As empre-sas utilizam então uma sondagem por radar, via satélite, para identi-ficar estruturas geológicas adequa-das. “Antes de ser possível explorar petróleo e gás nesses locais de uma forma rentável, precisamos resolver ainda uma série de problemas”, cons-tata Karl Rose. Por exemplo: Como é que seres humanos poderão viver e trabalhar com temperaturas que chegam a ser sentidas como 70 °C negativos? Experiências feitas nas estações de pesquisa no Polo Sul po-dem ser de grande ajuda. Mas tam-bém os equipamentos de perfuração

que ficam na superfície necessitam de um grande impulso de inovação, pois o aço comum fica quebradiço

sob essas temperaturas, e o mesmo se dá com as vedações. Além disso, sob tempera turas tão baixas, o petró-leo torna-se extremamente viscoso e pode coagular ao ser transportado para cima. O caminho ainda será longo, até que a exploração de gás e petróleo na região polar venha a valer realmente a pena. Mais simples e mais rentável já é hoje a exploração offshore de gás. O avanço técnico permite alcançar maiores profundidades. Desde há alguns anos, já se pode atingir até 4.000 metros. Robôs submarinos

permitem perfurações com uma exa-tidão de 30 centímetros, indepen-dentemente das condições climáticas. E as novas técnicas de perfuração tornam possível penetrar mais e mais em rochas. Em profundidades de até 6.000 metros, a tecnologia Snake Sword permite seguir a estru-tura geológica da camada – o que é possível graças a aplicações al-tamente automatizadas e sensores ultramodernos.

Encontrar novas reservas é um dos possíveis caminhos. Já um outro visa um melhor aproveitamento das reser-vas já encontradas. Por isso, a explo-ração de jazidas de petróleo ocorre hoje em três fases. Na primeira delas, o petróleo sobe para a super-fície através da própria pressão, na

segunda, ele é transportado para cima por técnicas convencionais de bombeamento. Até aqui é possível retirar 30 a 40 por cento do petróleo de uma jazida. Na terceira fase, são utilizados métodos de Enhanced Oil Recovery (EOR, recuperação avan-çada de petróleo): são injetados va-por de água e líquidos especiais no poço, que liberam mais petróleo da rocha. A desvantagem desses mé-todos: o alto consumo de energia e a poluição do meio ambiente pelos produtos químicos empregados. Por esse motivo, o produtor de óleo e gás Wintershall pesquisa uma nova so-lução que foi observada na natureza: ao invés de usar produtos químicos, a empresa utiliza um fungo chamado de Schizophyllum commune. A subs-tância gelatinosa esquizofilano dele resultante engrossa a água injetada, o que permite extrair o petróleo dos poros da rocha. A Wintershall testa atualmente esquizofilano em um projeto piloto. “Conhecemos diversas jazidas que seriam adequadas para tal aplicação”, realça o presidente da Wintershall, Rainer Seele. “Mas a física impõe limites. Ensaios em la-boratório mostram que o máximo são

80 por cento. Dentro do tecnicamente possível e economicamente viável, atingiremos no futuro uma extração de aproximadamente 60 por cento”, afirma Karl Rose. Também em jazidas menos conven-cionais, as empresas investem cons-tantemente em inovações. Areia e xisto betuminosos complementam as reservas convencionais. Para extrair petróleo dessas jazidas, a rocha é aquecida, o que libera as substâncias semelhantes ao petróleo bruto. Esse método in situ requer muita energia, já que a rocha tem que ser aquecida por um período longo, às vezes até por anos. Normalmente, injeta-se vapor ou líquidos aquecidos no poço. Em seguida, tenta-se aquecer a ro-cha sob a terra, por eletricidade – o princípio é semelhante ao de um fervedor de água elétrico. Nesse setor, o espírito inovador é focalizado

nos equipamentos, pois para a extra-ção de petróleo em profundidades de vários milhares de metros são neces-sários equipamentos especiais para a per furação de grande profundidade, como aparelhos especiais não mag-néticos. Gerald Grohmann, CEO da Schoeller-Bleckmann, empresa for-necedora de equipamentos de per-furação, explicou em uma entrevista ao Wall Street Journal: “Para o mé-todo in situ, são necessárias sondas e ferramentas de perfuração direcional feitas de aço não magnético, já que a direção de perfuração ainda é de-terminada por uma bússola. Com equipamentos de aço comum, os ins-trumentos, que permitem perfurações profundas direcionadas, simples-mente não funcionariam.”

“Ainda estamos

longe do fim da

era do petróleo”

Em todo o mundo,

empresas traba-

lham em soluções

para explorar

melhor as reservas

O avanço téc-

nico permite

alcançar maiores

pro fundidades

As exigências para os equipamentos e materiais de exploração aumentam

Extração de petróleo e gás com tubulações de até 7.000 metros

Pesquisadores

buscam soluções

na natureza

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Antecipar o futuro Antecipar o futuro

— As três fases da

exploração de petróleo

Primeira faseNa primeira fase da pro-

dução, a extração primá-

ria, o petróleo flui prati-

camente sozinho para a

superfície, devido à sua

pressão natural – mas são

apenas cerca de dez por

cento. Com técnicas tradi-

cionais de bombeamento,

como as bombas “cabeça de cavalo”, é possível ex-

trair mais cinco a dez por

cento do petróleo, a de-

pender das características

da jazida.

Segunda faseEm seguida, a produção

entra na segunda fase.

Durante a extração secun-

dária, é injetada normal-

mente água na jazida atra-

vés de furos de injeção,

visando a manter a pres-

são natural, que cai gra-

dualmente. Dessa maneira,

podem ser extraídos mais

10 a 20 por cento do petró-

leo. Em regra, a extração

para em cerca de 30 a

40 por cento, com o petró-

leo restante ficando preso

nos poros da rocha.

Terceira fasePara extrair ainda mais petró-

leo da jazida, são aplicados

na terceira fase, a fase ter-

ciária, métodos da chamada

Enhanced Oil Recovery (EOR,

recuperação avançada de

petróleo), dos quais fazem

parte, por exemplo, a injeção

de vapor ou de polímeros.

Esses polímeros podem ser

sintéticos ou mesmo orgâni-cos, como o esquizofilano.

Esquizofilano

A trama esbranquiçada

do fungo Schizophyllum

commune contém o polímero

orgânico que permitirá uma

melhor extração de petróleo

no futuro.

A América do Norte é pioneira na produção de gás de xisto, gás em formações pouco permeáveis (tight gas) e metano de leito de carvão, assim como de areia betuminosa. Lá, as empresas são motores de inovação

para os mais diversos tipos de explo-ração. No Hydraulic Fracturing (ou simplesmente: fracking), o gás é libe-rado da rocha. Líquidos de fracking injetados no poço quebram a rocha sob a terra, ao longo de uma perfu-ração horizontal, fazendo com que o gás saia. Empresas como, por exem-plo, a Packers Plus Energy Services Inc., revolucionaram a extração com seus novos métodos: os novos pro-cessos economizam tempo e reduzem a quantidade de líquido e o número

de perfurações necessários. Novas técnicas de perfuração subterrânea fazem o resto. Especialistas atestam ao fracking um altíssimo potencial no futuro. Já nos próximos dez anos, 40 a 50 por cento do petróleo e do gás extraídos poderiam vir desse tipo de produção.Uma fonte de gás até agora não ex-plorada tem atraído a atenção de cientistas de todo mundo já há al-guns anos: os hidratos de metano. Explicando de forma simplificada, o hidrato de metano nada mais é que gás natural encerrado no gelo. Se-gundo estimativas atuais, sua reserva total pode superar em muito todas as reservas de petróleo, gás e carvão atualmente conhecidas. O hidrato de metano é formado a baixas tem-peraturas e alta pressão – condições predominantes nos taludes continen-tais, a partir de uma profundidade da água de 500 metros. Mas também na terra há enormes reservas, sob a camada de centenas de metros de solo permanentemente congelado no Canadá, no Alasca, na Rússia e no oeste da China. O problema a ser solucionado se encontra na extração propriamente dita. Uma pequena redução da pressão já provoca a fuga

do gás do gelo. A questão é, portanto, a seguinte: como seria possível re-duzir a pressão de forma controlada em uma perfuração convencional, de modo que o gás saia do gelo e flua para cima? Esse desafio ainda ocu-pará cientistas em todo o mundo por um bom tempo.Apesar de todas as inovações e pro-gressos no setor, fica a questão: por quanto tempo bastarão ainda nossas reservas? Desde que petróleo e gás se tornaram indispensáveis para nossa vida, os especialistas especu-lam sobre o esgotamento das fontes de petróleo. Há poucas décadas, dizia-se que essa fonte de energia já seria escassa hoje. Mas, na ver-dade, as reservas atuais comprovadas atingem quase o dobro de 1945. A concorrência e as mudanças políticas nas regiões produtoras continuarão a impulsionar as empresas a investirem em inovações. Avanços tecnológicos na técnica de perfuração, acesso a novas jazidas e ampliação da explo-ração não convencional – esses são os fatores que asseguram a disponibili-dade dos recursos naturais finitos pe-tróleo e gás ainda por várias gerações.

A concorrência nos

mercados conti-

nuará a impulsionar

empresas a investi-

rem em inovações

Profundidade máxima que pode ser atingida com a tecnologia Snake Sword

6.000 m

Navio-tanque de transporte de gás líquido no Ártico

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Antecipar o futuro Antecipar o futuro

Novas mercadorias por velhos caminhos

Texto Björn Lüdtke, Zoe Tian, Dinara Nurusheva, Nurtas Janibekov, Lukas Plewnia

Três localidades ao longo da recém-redescoberta

Rota da Seda — e o que a ligação entre a China e

a Europa significa para elas

Em Dostyk, um maquinista espera pelo desembaraço aduaneiro da documentação antes de continuar a viagem

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Antecipar o futuro Antecipar o futuro

Despacho dos trens como nos tempos da União Soviética Controle de segurança no terminal de Dostyk

Uma das muitas coisas que vale a pena ver em Xi’an: a muralha da cidade

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Ligar a China à Europa por via férrea não é exatamente uma opção que salte aos olhos.

Existem rotas marítimas tradicionais para mercadorias, e além disso não há meio de transporte mais veloz do que o avião. Mas, na China, a eco-nomia está se desenvolvendo para cada vez mais longe dos portos, em direção ao interior. Por que então não  optar logo pela via terrestre?Em regra, o transporte por trilhos é duas vezes mais veloz do que por navio, e custa só a metade do aéreo. E assim, um velho caminho foi ressuscitado: a Rota da Seda. Desde 2012, o trem cargueiro da Yuxinou liga Chongqing a Duisburg, na Alemanha, várias vezes por se-mana. O trem, com 650 metros de

comprimento, leva de 16 a 20 dias para percorrer a distância de quase 11.200 quilômetros.No ponto inicial e no ponto final do trajeto, que passa pelo Cazaquistão, Rússia, Belarus e Polônia, espera-se sobretudo crescimento econômico. Que efeitos, porém, esta conexão tem sobre lugares que ficam no percurso?Nossa primeira estação é Xi’an, a cerca de 700 quilômetros de Chong-qing. Devido ao sucesso imediato da linha, os trens já passavam por lá totalmente carregados. Diante disso, a cidade resolveu conectar-se à nova Estrada da Seda com sua própria fer-rovia, a Chang’an.Na China e na Europa Ocidental, as bitolas são mais estreitas do que na Rússia. Isto significa que os contêi-neres do Yuxinou precisam ser bal-deados duas vezes: em Dostyk, no Cazaquistão, e em Małaszewicze, na Polônia.

Xi’an— Carga inusitada

Zhao Jianjun é gerente de uma firma de logística no Parque Internacional de Comércio e Logística de Xi’an. Segundo ele, a maioria das empre-sas de logística se beneficiou com o início da operação do trem de carga Chang’an, em novembro de 2013:

“Nos primeiros seis meses, seis trens partiram da estação. Hoje, é um trem por semana.” Na cidade e arredores en contram-se fabricantes de máqui-nas para geração de energia e para exploração de petróleo. A entrada em operação da linha ajudou as empre-sas com parceiros comerciais tradicio-nalmente estabelecidos na Ásia Cen-tral a estender seus negócios para o Ocidente.O modelo para o Chang’an foi o trem cargueiro Yuxinou, que parte de Chongqing. Ele passa por Xi’an sem

parar, e por um bom motivo, já que na maioria das vezes seus vagões estão cheios até o teto: a Europa é o maior mercado para os gigantescos fabricantes de produtos eletrônicos em Chongqing. E nisso está a chance para o Chang’an – na ligação de Xi’an à nova Rota da Seda.Mas também existe um porém: as mercadorias dos fabricantes locais, sozinhas, não são suficientes para en-cher o trem que sai semanalmente – é preciso carga adicional. Até agora, ela vem dos portos distantes de Zhe-jiang e Guangdong. “O que motiva os fabricantes de lá a transportar suas mercadorias por terra até nossa esta-ção? Eles fazem isso porque nossos preços são extremamente competi-tivos”, explica Zhao. Preços que são subvencionados pela cidade de Xi’an.Nos últimos seis meses, contudo, ele tem notado uma “mudança bastante inusitada da carga”. Por razões con-junturais, os pedidos de além-mar, sobretudo as encomendas de grandes

máquinas, diminuíram. A lacuna é preenchida por produtos da indús-tria leve, uma vez que o mercado para produtos de consumo diário está menos atingido do que o de produtos mais “dispensáveis”, como equipa-mentos para exploração de petró-leo. “Nosso objetivo a curto prazo é fazer com que a linha se torne eco-nomicamente viável; no longo prazo, ela deverá ativar a economia local”, diz Zhao.Mas a cidade, que é famosa por seu exército de guerreiros de terracota e palácios imperiais, tem outros planos além desses: fazer renascer a opulên-cia do passado da Rota da Seda. Em tempos nos quais a China procura harmonizar economia, cultura e his-tória, e se empenha em formar laços

fortes com as nações ao longo da lendária rota, os moradores de Xi’an estão confiantes de que serão bene-ficiados com esse desenvolvimento.Por ora, os planos para esticar a fer-rovia até o centro da Europa perma-necem na gaveta, devido à situa-ção atual da economia. Mas, espere aí – quem disse que um trem só pode

transportar carga? “Com todas as atra-ções turísticas históricas que temos na cidade, uma conexão direta de trem da Europa até Xi’an sem dúvida atrai-ria turistas estrangeiros”, opina Zhao.

“Também é possível vir de avião, claro. Mas uma viagem de trem é outra coisa – é mais uma viagem de pere-grinação moderna para uma cidade que abriga o tesouro dos tesouros.” Os guerreiros de terracota confirmam silenciosamente com a cabeça.

Dostyk— Ponto de

interseção

A estação ferroviária de Dostyk, no Cazaquistão, é um dos pontos de interseção da linha férrea Yuxinou, onde, por causa da diferença na lar-gura das bitolas, os contêineres têm de ser transferidos de um trem para o outro. A estação foi construída na década de 1950, ainda nos tempos da antiga União Soviética. Porém, só

adquiriu importância como estação de trânsito depois da independência do Cazaquistão, nos anos 1990.Os cazaques dão muito valor ao de-senvolvimento dessa estação. A am-pliação da sua capacidade através de um programa implementado espe-cialmente para esse fim resultou em uma melhora considerável da situa-ção socioeconômica da região. Em 1991, Dostyk tinha algumas dezenas de habitantes, agora já são quase 10.000, e a maioria deles trabalha na estação. Muitos jovens profissio-nais foram atraídos para cá, vindos de todas as partes do país, e hoje Dostyk possui uma escola, um hospi-tal e um hotel.Os empregados da estação têm gran-des planos para o futuro. Alguns

vieram de outras regiões do país, outros já planejam sua ascensão pro-fissional na capital, Astana. Todos eles estão convencidos de que a es-tação é o melhor lugar para adquirir experiência valiosa para sua carreira profissional. Alguns dos trabalhado-res até mesmo aprenderam chinês, para poder trabalhar melhor com os

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Antecipar o futuro Antecipar o futuro

Um maquinista, pouco antes de prosseguir a viagem

A vastidão da estepe cazaque

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colegas do outro lado da fronteira. Para eles, o trabalho significa mais do que apenas dinheiro ou uma carreira profissional – ele oferece uma oportu-nidade de aprender e continuar a se desenvolver.A vida na estação não é fácil. Aqui, os trabalhos exigem aptidões es-peciais e um elevado senso de res-ponsabilidade. A estação fica aberta 24 horas por dia e 365 dias por ano, e a maior parte dos empregados tra-balha, no mínimo, doze horas por dia. Jovens especialistas trabalham com profissionais experientes, e assim os mais velhos compartilham seus conhe cimentos com os mais novos.O mais importante é o respeito mútuo. O fato de a maioria dos que traba-lham nos escritórios também terem experiência com o trabalho duro “lá fora” ajuda. Muitos dos que inicia-ram sua carreira aqui agora ocupam cargos elevados em outras partes do país. Eles acreditam que a estação de Dostyk foi a chave para seu sucesso.

Ruslan Tulepov, um jovem especia-lista em equipamentos técnicos de segurança, conta sua história: “Tra-balho aqui há mais ou menos um ano. Venho de uma outra parte da região de Almaty. Me formei em advocacia na universidade em Taldykorgan, mas não conseguia encontrar em-prego. Meu irmão sugeriu que eu me candidatasse aqui. Neste meio tempo, me interesso muito pelo transporte ferroviário, e prefiro este emprego a trabalhar como advogado.”Ruslan também conta que a ferro-via ajudou a melhorar as condições de vida em Dostyk. Diz que ela ofe-rece possibilidades de renda aos seus habitantes. E que o fato de as pessoas se mudarem para cá para trabalhar e viver mostra o potencial da estação para a economia local. Os moradores da estação ferroviária de Dostyk e arredores esperam que o comércio crescente entre a China e a  Europa siga tendo efeitos positi-vos sobre suas vidas.

Mała sze­wicze— Entre dois

mundos

“Não, não tenho medo de perder meu emprego”, diz um trabalhador po-lonês, de semblante marcado pelo trabalho duro, ao falar sobre um dos maiores portos secos da Europa. Ele já trabalha aqui há muitos anos e diz estar feliz com seu trabalho – só o sa-lário poderia ser um pouco melhor.Há muita poeira, o vento é forte e o ar é seco. Mesmo com o sol brilhando,

sente-se o clima áspero do Leste. Es-tamos em Małaszewicze, uma pacata cidadezinha de 4.000 habitantes na fronteira da União Europeia, a poucos quilômetros da Bielorrússia. Aqui se está bem perto de um outro mundo, e é exatamente isso que torna este lugar tão especial – ele é um interme-diador entre os dois mundos. A estação de carga de Małaszewicze se desenvolveu para um ponto estra-tégico internacional no transporte de mercadorias. Sua posição se deve ao fato de aqui serem colmatadas as di-ferenças de bitola dos trilhos russos e ocidentais. Também por esse motivo, a PKP CARGO, uma ex-subsidiária da companhia ferroviária estatal e a segunda maior empresa europeia de transporte de carga, tem aqui qua-tro terminais. O terminal central de contêineres, que foi modernizado em 2010 e é operado por cerca de 20 empregados em regime de quatro turnos, destina-se ao transbordo de carga da linha ferroviária Yuxinou.

Nos contêineres são transportadas, entre outras coisas, peças da Foxconn e laptops da Hewlett Packard, vindas das fábricas em Chongqing.Além disso, o transbordo de carga geral e a granel representa uma parte significativa dos serviços executados na estação. A maior parte desse ma-terial é transportada para o Ocidente, fazendo, por exemplo, com que no mercado polonês o carvão da Sibé-ria seja um concorrente forte para o “ouro negro” da Silésia. A quanti-dade de matéria-prima e mercadorias transportadas no sentido oposto ainda é extremamente pequena. Porém, o acentuado crescimento econômico da China promete um maior poten-cial. Está planejada uma ampliação sucessiva da estação, como informa

Mirosław Kuk, assessor de imprensa da PKP CARGO. Isso traz mais chances de cresci-mento para Małaszewicze. O luga-rejo vai bem, como podemos ver em todo canto. Os caminhos e ruas estão em bom estado, as fachadas foram renovadas, foi construída uma nova quadra de esportes para os jovens e as casas dos moradores mais abas-tados poderiam se encontrar em qualquer bairro de classe média de qualquer lugar do mundo. Também os prédios municipais foram moder-nizados e, onde a aparência ainda não foi melhorada, as reformas estão em andamento. Tudo isso não é algo natural na Polônia, uma democra-cia ainda relativamente jovem, que passou por mudanças profundas

que atingiram principalmente o leste do país. Duas mulheres em uma pequena mercearia na rua principal contam:

“Nos últimos anos, muitos jovens emigraram para a Irlanda ou para a Inglaterra. Mesmo assim, esperamos que nosso lugarejo irá se desenvol-ver.” O trabalhador do porto seco olha para o futuro com otimismo.

“Através de meu trabalho na esta-ção de transbordo de Małaszewicze, pude propiciar à minha filha uma boa formação. Agora mesmo ela está na Irlanda, fazendo suas primeiras experiências no exterior”, diz ele. E se despede dizendo: “Mas logo ela voltará e espero que fique por aqui, neste lugar maravilhoso”.

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Nunca perder a curiosidadeTransformar ideias em realidade

Como rede global de especialistas independentes, agregamos as cabeças e competências certas para cada projeto e oferecemos um máximo de

experiência e know-how. Dessa forma, promovemos de várias maneiras a evolução e o progresso, e ao mesmo tempo asseguramos o sucesso

do nosso Grupo.

60 Criatividade coletiva Como as mídias sociais estão

revolucionando a arte

64 Voando para o futuro

Novos caminhos na aviação

70 A casa inteligente

Como vamos morar amanhã

72 Ciência e ficção

Da imaginação para a realidade

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Nunca perder a curiosidade Nunca perder a curiosidade

Na maioria das vezes, arte é criada no isolamento do artista – quase sempre, po-

rém, ela tem em vista um possível espectador. De um modo geral, po-der-se-ia dizer que o artista procura estabelecer uma ligação, seja por meio de corporeidade, inspiração, efeitos chocantes ou até mesmo tática de intimidação. Não é à toa que se diz em música: “Sem público, uma composição é apenas um monte de papel cheio de notas.”Existem artistas que, ao longo de muitas décadas, diluíram ou até mesmo eliminaram as fronteiras entre criador e espectador, através da criação de “arte participativa” – arte que só se completa com o es-pectador. Esse conceito se impôs cada vez mais, já desde o Dadaísmo,

há cerca de 100 anos (como na obra de Marcel Duchamp, por exemplo). Nos tempos que se seguiram, ele foi ampliado e reforçado por artistas como o diretor de teatro brasileiro

Augusto Boal – que, em seu Teatro dos Oprimidos, incorporava os es-pectadores como atores –, ou tam-bém pelo pintor estadunidense Allan Kaprow, que encenava seus happe-nings como um jogo, uma aventura, uma série de atividades das quais

os espectadores  podiam participar espontaneamente. Especialmente nas últimas décadas, artistas de renome têm procurado, sempre de novo, fazer com que o pú-blico participe ativamente de sua arte, das gigantescas obras de arte am-biental de Christo e Jeanne-Claude como, por exemplo, o empacota-mento da Pont Neuf em Paris, em 1995, ou do prédio do Reichstag em Berlim, embrulhado com a ajuda de 100.000 metros quadrados de tecido e alumínio –, até os “Nus Vivos“ do fotógrafo Spencer Tunick, em que verdadeiras multidões de voluntá-rios posaram nus para fotos em locais públicos como a Grand Central Sta-tion de Nova York, a loja de departa-mentos londrina Selfridges, ou a ga-leria de arte Lowrys, em Manchester.

As fronteiras entre

artista e público es-

tão se dissolvendo

Criatividade coletiva

Texto Paul Sullivan

Como as mídias sociais estão

revolucionando a arte

O astronauta canadense Chris Hadfield canta Space Oddity, de David Bowie, durante sua missão espacial © M

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Nunca perder a curiosidade Nunca perder a curiosidade

Neste meio tempo, as variações para a interação entre artista e público parecem quase infinitas, e se desen-volvem sempre mais. Mas de alguns anos para cá, um impulso verdadei-ramente revolucionário parte das mídias sociais, na medida em que o mundo tradicional da arte (frequen-temente percebido como elitista) se torna, de repente, cada vez mais acessível, e isso graças ao caráter de-mocrático e interativo de plataformas como Twitter, Facebook ou Tumblr.Ao passo que até agora arte partici pa-tiva, via de regra, acontecia off-line, as mídias sociais proporcionam à arte um maior alcance e um novo potencial, razão pela qual toda uma geração de novos artistas está fa-zendo arte na internet como parte de um novo movimento, a “arte das mídias sociais”. Esse termo genérico engloba, por exemplo, poesias cria-das coletivamente no Twitter, retratos inspirados em perfis no Facebook, ou videoclipes coletivos, montados a par-tir de contribuições de usuários.

Interessantemente, essa arte nas mí-dias sociais não só está conjugando performance e participação, como também se expandindo e penetrando em outros campos da arte. Para citar alguns exemplos: em 2009, o relati-vamente desconhecido artista Matt

Held transformou-se em uma cele-bridade na internet, utilizando perfis no Facebook para pintar seus retra-tos a óleo. Em 2011, Man Bartlett, de Brooklyn, transformou o terminal de ônibus nova-iorquino Port Authority em uma plataforma on-line intera-tiva, convertendo tweets em escultu-ras. Em 24 horas, Bartlett recebeu cerca de 1.500 mensagens, leu todas em voz alta e, para cada tweet, colou

uma pluma em um manequim de vitrine (que, mais tarde, vendeu a um colecionador).A música é, sem dúvida, a forma de arte que mais intensamente tem ex-plorado o potencial viral das mídias sociais virtuais. Assim, a maioria dos conteúdos utilizados nos últi-mos anos vem de videoclipes, como, por exemplo, The Fox (What Does The Fox Say?), da dupla norue-guesa  Ylvis, o famoso Harlem Shake ou ainda a música Space Oddity, de David Bowie, gravada pelo astro-nau ta canadense Chris Hadfield enquanto navegava em gravidade zero pelo espaço sideral, dentro da Estação Espacial Internacional. Um projeto particularmente espeta-cular no campo da música é um clipe musical criado via crowdsourcing, isto é, coletivamente, para a faixa Ain’t No Grave do álbum póstumo do cantor Johnny Cash. Em uma plata-forma digital, os fãs podiam acres-centar ao clipe uma ilustração feita por eles mesmos, desenhando sobre um frame já existente ou adicionando uma versão totalmente nova ou di-ferente. Em seguida, as ilustrações criadas pelos fãs foram montadas em sequência, formando um clipe fascinante em stop-motion.Desta forma, as mídias sociais per-mitem sublinhar os aspectos artís-ticos nesse jogo interativo – princi-palmente o aspecto de art (arte) na participação – algo que a arte tradi-cional, pelo menos até agora, ainda não conseguiu. Mas talvez seja só uma questão de tempo até que sur-jam, em nossa era digital, artistas que deixem para trás o sistema atual de galerias de arte e casas de leilão e se tornem uma espécie de versão inter-net de celebridades como Damien Hirst e Jeff Koons. Certo é que, no futuro, um número sempre crescente de artistas e o seu público vão apro-veitar a oportunidade para conjugar sua criatividade e trabalhar juntos para criar algo grande.

O mundo tradicional

da arte torna-se cada

vez mais acessível

Pessoas com o corpo pintado em uma instalação de Spencer Tunick

Harlem Shake diante da O2 World em Berlim

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Nunca perder a curiosidade Nunca perder a curiosidade

Muita gente tem a sensa-ção de que o mundo está ficando cada dia menor,

porque cada vez mais pessoas têm condições de superar até mesmo grandes distâncias dentro de algumas horas, com o avião. A previsão é a de que três bilhões e meio de passa-geiros viajarão de avião em 2015, em todo o mundo. Quase 100.000 voos circulam hoje pelo planeta – por dia! Estatisticamente, o tráfego aéreo mundial dobra a cada 15 anos. Do ponto de vista estatístico, então, den-tro de duas décadas quase toda a população do mundo irá viajar de avião. Para 2032, a Airbus já prevê

6,7  bilhões de passageiros. Enquanto que o número de aviões de passa-geiros no mundo era de aproximada-mente 16.000 em 2012, o fabricante europeu de aeronaves estima que esse número seja mais que duplicado até o ano de 2032, atingindo 33.000.Esse crescimento constante repre-senta enormes desafios para a avia-ção, porque crescimento, hoje em dia, só é concebível de forma susten-tável. Cada vez mais gente tem que ser transportada de uma forma cada vez mais eficiente e ecológica. Isso significa uma pressão extraordinária de inovação para todos os setores da aviação, tanto para os aeroportos

e fabricantes de aeronaves como para os órgãos de controle do es-paço aéreo. Existem várias ideias interessantes para tornar a aviação mais sustentável no futuro: aviões que buscam sua rota no céu pratica-mente sozinhos. Turbinas que fun-cionam com combustível orgânico. Construção de aeronaves com mate-riais mais firmes, mais leves e, além disso, recicláveis. E é claro que tudo isso tem que atender aos mais altos requisitos de segurança. A seguir, apresentamos algumas ideias espe-taculares, que mostram como o se-tor de aviação vê seu roteiro de voo para o futuro.

Voando para o futuro

Texto Andreas Spaeth

Não irá demorar muito para que três bilhões e

meio de passageiros viajem de avião pelo mundo.

Veja como esse desafio será vencido

O maior avião comercial civil do mundo: o Airbus A380

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Nunca perder a curiosidade Nunca perder a curiosidade

Ordem no céu e no solo

De nada adiantam os melhores aviões se não puderem ser usados de forma eficiente devido a vias aéreas e aero-portos congestionados. O gerenciamento do tráfego aéreo tem um papel-chave, e é tarefa dos órgãos de controle do espaço aéreo. No futuro, entretanto, o papel dos con-troladores de tráfego mudará. Enquanto hoje as aero na-ves são guiadas por radar e rádio a partir do solo, no fu-turo o gerenciamento do tráfego aéreo será realizado de forma sempre mais autônoma, por sistemas apoiados por satélites. Com uma navegação altamente precisa e uma comunicação automática entre si, as aeronaves buscarão elas mesmas o melhor caminho, reduzindo os riscos de colisão e aproveitando as limitadas capacidades de forma bem mais eficiente.

O tráfego aéreo é controlado a partir do solo

Segurança em primeiro lugar

Nenhum meio de transporte é tão seguro como o avião. Apesar do aumento constante de passageiros nos últimos anos, o número de vítimas de acidentes caiu para valores recordes. Em 2013 morreram, no mundo inteiro, 210 pas-sageiros de voos comerciais, o que representa um acidente por cada 2,4 milhões de voos. Os requisitos de segurança no tráfego aéreo são extremamente rigorosos, as tripula-ções treinam regulamente o comportamento correto em casos de emergência. Mas o setor quer ainda muito mais: a meta estipulada para o futuro é a de nenhum acidente fatal no transporte de passageiros. Para isso, há diversas iniciativas, como dispositivos aperfeiçoados de alerta de colisão e de aproximação do solo no avião, e detectores de tesouras de vento perigosas no solo. Ou equipamentos mais resistentes da cabine, que facilitam eventuais eva-cuações. Mas também normas de certificação mais severas para companhias aéreas e seus padrões de segurança são importantes, da mesma forma que critérios mais uniformes para a formação de pilotos.

Treino de evacuação de emergência por rampa inflável

Displays no cockpit do A380

Número de aviões que decolam hoje por dia

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Testando até o limite

Antes da homologação da série, um novo tipo de avião é submetido a testes extremos, sob condições que vão muito além daquelas que ocorrem no transporte de passageiros. Nesses ensaios, os pilotos de testes decolam, por exem-plo, de forma tão inclinada que a cauda da aeronave toca na pista, produzindo fagulhas. São realizados testes de queda de raio, voos em queda livre, decolagem com água na pista ou testes de funcionamento dos freios até que eles fiquem incandescentes. A fuselagem é exposta a tempera-turas extremas no deserto árabe ou no Ártico. É claro que não há passageiros de verdade a bordo durante essas con-dições extremas. Mas seu peso é simulado através de tan-ques cheios de água na cabine, como nos testes do novo A350, que, como o Boeing 787, é uma aeronave pioneira, pois é construída em grande parte de material composto, ao invés de alumínio. Em cerca de 15 meses, cinco aviões passaram por um total de 2.500 horas de voos de teste.

Número de passageiros previstos somente pela Airbus para o ano de 2032

6,7 bilhõesPor ora, são tanques de água, em breve serão passageiros

O local de trabalho do piloto

Hoje já seria tecnicamente possível que os aviões voassem sem pilotos, sendo controlados a partir do solo. Fato é que, mesmo no futuro, vamos continuar tendo capitães a bordo. Somente o ser humano é capaz de reagir a todos os tipos de desafio de forma totalmente flexível. E provavelmente nenhum passageiro entraria em um avião sem ninguém sentado no cockpit, que está sendo modernizado em cada nova geração de aeronaves, como no caso do A380. Todos os dados importantes podem ser consultados em grandes displays. Câmeras na cauda e sob a fuselagem do avião facilitam as manobras no solo. A alavanca de comando foi substituída no Airbus por joysticks. Os dados de voo mais importantes podem até ser projetados em um display transparente no para-brisa do cockpit.

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Nunca perder a curiosidade Nunca perder a curiosidade

Quais os produtos fabricados por sua empresa para a indústria aeronáutica?Somos um dos fabricantes líderes na produção de peças estruturais para aviões. Produzimos, por exem-plo, suportes de turbina e os com-ponentes para a nacela do motor, o  chamado pilão, um suporte mon-tado na asa de uma aeronave, no qual a turbina é fixada. Fabricamos também discos de turbina, e esses são somente alguns produtos de nossa linha de produção.

Quais as inovações que mais o entu-siasmaram ao longo de sua carreira?Continuo a achar fascinante como aero naves podem ser desenvolvidas em um computador, e como é pos-sível dimensionar processos com a ajuda da simulação. É incrível o que ocorreu nessa área nos últimos anos.

Como imagina um avião daqui a 20 anos? Consigo imaginar aviões com asas ajustáveis, e também asas voadoras, ou seja, aviões com a fuselagem in-tegrada de forma aerodinâmica nas asas. E no futuro poderão existir tam-bém aeronaves movidas a eletrici-dade, os chamados aviões E-Fan.

O senhor tem um produto predileto e, caso sim, por que esse produto é assim tão especial?Meu favorito absoluto são os supor-tes de turbina, que unem a turbina à asa, e têm que resistir até mesmo aos esforços mais extremos com 100 por cento de segurança. Os materiais e as geometrias complexas representam um grande desafio no processo de produção. E todo tempo vale: as al-tas exigências do cliente têm que ser atendidas.

O que o fascina na aviação? O avião transformou em realidade o sonho de voar do ser humano. Sinto realmente muito orgulho de contri-buir com meu trabalho para que as pessoas possam vencer rapidamente grandes distâncias.

Em sua opinião, quais são os gran-des desafios para a aviação de amanhã?O crescimento do número de passa-geiros coloca a indústria aeronáutica diante de desafios totalmente novos. Também no futuro, cada viajante deverá continuar a ser transportado com rapidez e segurança de um lu-gar para o outro. Com o aumento da quantidade de passageiros, aumenta

o número de voos e por consequên-cia o consumo de combustível. Tenho certeza de que no futuro serão apon-tadas soluções para uma redução de ruídos e poluentes.

Entrevista Hans Freudenthaler

Texto Anne Kammerzelt

Hans FreudenthalerHans Freudenthaler é chefe de Engenharia da Böhler Schmiede-technik GmbH & Co KG, o maior fornecedor das indústrias aero-náutica e de energia. A princi pal competência da empresa encon-tra-se na fabricação de peças for-jadas de aço, titânio e ligas à base de níquel.

Um avião que aprende dos pássaros

Segundo a Airbus, viajar de avião, no futuro, pode ser assim

Uma coisa parece clara: os aviões do futuro não terão mais a mesma aparência de hoje, com fuselagem, asas e cauda. Não é possível construir um avião muito maior que o A380 que seja fisicamente estável. Uma ideia que existe há muito tempo é a asa voadora. A fuselagem é ao mesmo tempo asa, aumentando a flutuabilidade. Uma ideia fasci-nante, mas com muitos problemas ainda não resolvidos. Recentemente, a Airbus apresentou um modelo de avião revolucionário, cuja construção baseia-se no princípio

da biônica do esqueleto dos pássaros. Uma estrutura só existe onde ela é necessária para a estabilidade. Isso ofe-rece possibilidades até agora inimagináveis – por exem-plo, o envolvimento com uma pele que poderia tornar-se transparente apertando-se um botão, proporcionando aos passageiros uma experiência incrível. Já outros desen-volvedores veem o fim das janelas – para uma maior esta-bilidade –, que seriam substituídas por vistas virtuais em monitores no interior da aeronave. ©

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Nunca perder a curiosidade Nunca perder a curiosidade

A casa inteligenteTexto Anne Kammerzelt Ilustração Alf Ruge

Como vamos morar amanhã

1 Smart GridOs aparelhos domésticos recebem do

fornecedor de energia elétrica informa-

ções sobre o preço atual da energia.

Com o auxílio de um programa, os apa-

relhos calculam como a curva de preço

da energia elétrica se comportará nas

próximas horas e ligam-se no momento

em que ela é mais barata.

2 GeladeiraEla indica o melhor lugar para guardar

os alimentos e controla sua data de

validade. Um display informa sobre as

quantidades dos alimentos e comu-

nica por smartphone o que tem que ser

comprado. Além de sugestões de recei-

tas, o gestor de alimentos também per-

mite receber mensagens e participar de

redes sociais.

3 Nest LabsTermostatos inteligentes adequam-se

à temperatura do ambiente, à tempe-

ratura externa e aos hábitos dos mora-

dores. A temperatura é ajustada por

sensores – mesmo que não haja nin-

guém em casa. Essa programação auto-

matizada reduz os custos com energia

de forma duradoura.

4 CafeteiraQuem tem preguiça de se levantar de

manhã nem precisa mais ter o trabalho

de escolher seu café predileto no menu

da cafeteira. O aparelho reconhece a

impressão digital da pessoa e prepara

a bebida de acordo com suas preferên-

cias salvas.

5 Medical DispenserO Medical Dispenser cuida do acompa-

nhamento médico ideal. Esse aparelho

lê o estado de saúde dos moradores

da casa e decide sobre a quantidade

de medicamentos necessária naquele

dia. Para isso, basta colocar a mão no

espelho do banheiro para que ela seja

escaneada.

6 Papel de parede de LEDO papel de parede eletrônico serve,

ao mesmo tempo, como iluminação

harmônica do ambiente e como área

de projeção de diferentes imagens,

podendo-se selecionar por app entre

diversas estampas, que são então exi-

bidas na parede.

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Nunca perder a curiosidade Nunca perder a curiosidade

Ciência e ficçãoTexto Alma Faber Ilustração Mathis Rekowski

Da imaginação para a realidade

É quarta-feira, 21 de outu-bro de 2015. Marty McFly está tendo um dia estres-

sante. Seu amigo, Doc Brown, ca-tapultou-o trinta anos para o futuro com seu carro esporte DeLorean. No mundo com que Marty se de-para, carros voadores são movidos a lixo, os consumidores são acossados por hologramas publicitários tridi-mensionais e os sapatos amarram o cadarço sozinhos. Uma curiosidade provavelmente ficou gravada de

uma forma especial na memória de todos os que viram o filme De Volta para o Futuro II, lançado em 1989: o hoverboard, uma espécie de skate flutuante, com o qual Michael J. Fox, o Marty McFly, voa à toda pe-los ares procurando escapar de seus perseguidores.O ano de 2015, no qual a história do filme se passa, já não é mais o futuro, e sim o presente. O hoverboard, a en-genhoca do filme preferida de muitos inventores amadores, encontra-se na última fase de desenvolvimento, e poderia ser lançado no mercado ainda este ano. E não seria esta a primeira tecnologia de ficção cien-tífica que consegue dar o salto para

o mundo real. Quando invenções de livros ou filmes se tornam reali-dade, pode surgir a impressão de que seus criadores estariam dotados de capacidades proféticas. É claro que essa impressão engana. Mas a fic-ção científica proporciona a tela de projeção ideal para dar vida a visões tecnológicas. É precisamente isso que a torna tão fascinante e inspira-dora para cientistas, engenheiros e desenvolvedores de produtos.O amor recíproco entre a ficção científica e a ciência tem uma longa tradição, a começar pelos contos de Júlio Verne, que é considerado um dos fundadores da literatura de ficção científica e, por exemplo, antecipou o desenvolvimento técnico do sub-marino com sua obra 20.000 Léguas Submarinas, passando por Isaac Asimov, que utilizou pela primeira vez o termo “robótica” em seu conto Círculo Vicioso, publicado em 1942, até Gene Roddenberry, o criador de Jornada nas Estrelas que deixou os cientistas atordoados com uma série inteira de ideias. E se até mesmo o astrofísico Stephen Hawking, um dos mais consagrados cientistas da atua-lidade, pede para fazer uma ponta em um episódio de Jornada nas Estre-las, então não existe prova melhor da sua fascinação pelo gênero.Jornada nas Estrelas tem uma im-portância toda especial no mundo da ficção científica. Em nenhuma outra obra, a lista de tecnologias fantásticas que acabaram virando realidade e hoje fazem parte do nosso cotidiano é tão extensa como nas histórias sobre Kirk, Picard e companhia. Enquanto que, nos anos 60, os comunicadores com flip usados na série ainda provo-cavam um sorriso incrédulo de muitos espectadores, hoje eles já são reali-dade há muito – em forma de celula-res. “Ponha na tela”, rezava a ordem, quando o Capitão Kirk queria se comunicar por imagem a longas dis-tâncias – no fundo, o conceito é exa-tamente o mesmo da videotelefonia,

disseminada mundialmente desde o lançamento do Skype, em 2003. Ou os auriculares Bluetooth, introduzidos na série já em 1966, e de fato desenvolvi-dos nos anos 1990. O comando de voz, utilizado em muitos episódios, hoje é padrão em tablets e smartphones, e até mesmo geladeiras e televisores já possuem tais sistemas. E os óculos de episódios mais recentes, com os quais se podia assistir filmes, receber infor-mações ou ler notícias, são mais do que apenas parecidos com o Google Glass. Assim, causa pouca surpresa o fato de os tablets utilizados pela tri-pulação da Enterprise também terem se tornado realidade e um produto de consumo em massa.Uma tecnologia que desempenha um papel decisivo não só em Jornada nas Estrelas, mas também em nume-rosas outras histórias de ficção cien-tífica, é o raio trator, utilizado para deslocar grandes objetos, como por exemplo naves espaciais, na direção desejada. A ideia se baseia em um princípio de gravitação fictício, seme-lhante a uma gravidade gerada artifi-cialmente, ou a um ímã. O que ainda há pouco tempo soava como o sonho

acordado de um roteirista, hoje é um cenário tecnológico plausível. Já em 2010, físicos australianos desenvol-veram um laser no qual deslocaram minúsculas partículas. Em 2011, uma equipe da NASA, sob a direção de Paul Stysley, apresentou logo três abordagens: uma espécie de laser, um feixe laser em forma de espiral, e uma pinça óptica formada por dois feixes laser. A ideia original era usar os raios

Uma tela de pro-

jeção ideal para

dar vida a visões

tecnológicas

O amor mútuo

entre ficção cientí-

fica e ciência tem

uma longa tradição

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Nunca perder a curiosidade

tratores para remover o lixo espacial em órbita em redor da Terra. “Mas, no momento, ainda seria impossível deslocar algo tão grande. Então, tive-mos a ideia de usar a tecnologia para coletar amostras”, explica Stysley. Vai demorar algum tempo ainda, por-tanto, até que seja possível deslocar espaçonaves. Mas a direção está certa.

Algumas aventuras de ficção cientí-fica têm um charme especial por se passarem em um futuro distante, ou em mundos exóticos. Outras, por sua vez, fascinam precisamente por já serem imagináveis no presente, e por isso parecerem tão realistas. Um filme desta última categoria é Minority Re-port. Com uma mescla inteligente de tecnologias futuristas, que já existem em rudimentos, e ideias fantásticas, ele cria uma visão do futuro particu-larmente autêntica. Uma das razões porque o diretor Steven Spielberg foi tão bem-sucedido nisso é que foi as-sessorado por um grupo de cientistas e futurólogos especialmente contra-tados. Insetos-robôs voam pelos ares, painéis publicitários identificam con-sumidores em potencial por meio de scanners oculares, existe papel eletrô-nico e os automóveis andam sozinhos. Uma imagem, porém, continua ex-tremamente impressionante até hoje: a forma como Tom Cruise, com uma velocidade incrível, arrasta dados de um lado para o outro com as mãos. Também nisso a realidade alcançou a ficção. Desde o lançamento do filme, existem um grande número de abor-dagens para o desenvolvimento de interfaces gestuais.

Um dos que apostam, por motivos profissionais, no poder das histórias de ficção científica, é Brian David

Johnson, futurólogo da Intel. Mas ele não se limita a histórias de livros e filmes. Antes de tudo, incentiva pes-soas a escrever suas próprias histó-rias sobre o futuro, e utilizá-las como base para inovações. Johnson chama esta metodologia de Science Fiction Protoyping, ou seja, prototipagem

através de ficção científica. Ela con-siste em produzir um conto, um filme ou uma história em quadrinhos, que se baseia em uma nova tecnologia e descreve a influência que essa tec-nologia poderia ter sobre o indivíduo ou sobre a sociedade. O protótipo, portanto, não corresponde ao exato

produto; é apenas uma representação dele. “O essencial é que as tecnolo-gias estejam inseridas em histórias

sobre pessoas, suas vidas, seus con-flitos. As tecnologias não são o mais importante da história, e sim apenas uma parte dela”, explica Johnson. Isto permite que as pessoas se identi-fiquem com a história e torna a tec-nologia compreensível. É assim, tam-bém, que funcionam as histórias de Hollywood.E o suspense continua. Que tecno-logias fantásticas ainda vão ser ima-ginadas por escritores e roteiristas? E quais delas vão virar realidade um dia? Ninguém sabe o que o futuro vai trazer. Uma coisa, porém, é certa: não é preciso ter medo que as ideias dos pesquisadores e desenvolvedores se esgotem, ou que os inventores ama-dores parem de se por à procura de inspirações geniais. A propósito, uma empresa está captando recursos atra-vés da plataforma de financiamento Kickstarter, para trazer o hoverboard de Marty McFly para o presente. E a entrega do primeiro skate flutuante já tem data prevista: quarta-feira, 21 de outubro de 2015.

O comando de

voz hoje é padrão

em smartphones

e  tablets

O essencial é que as

tecnologias estejam

inseridas em histó-

rias sobre pessoas

Sobretudo na perfuração de poços de petróleo e gás de longo alcance e dire-

cio nais, é essencial evitar interferências do campo magnético da Terra. Por

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FuturoNão esperamos o futuro acontecer!

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Cinco países, um futuro?Modelo de sucesso Vale do Silício — o que Bangalore, Chile, Londres e Ruanda querem aprender dos californianos

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