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NOVIDADES Produção de soja com adubo orgânico ao lado de área de Reserva Legal em Castro (PR) VALTRA JOVEM Com a votação do Código Florestal na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, a produção sustentável de alimentos entrou em pauta no Brasil no ano passado. O assunto foi amplamente debatido e seguirá em discussão durante 2012, quando em junho ocorrerá no Rio de Janeiro (RJ) a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio+20, pelo fato de ocorrer duas décadas depois da Rio 92. n O uso adequado das terras é o primeiro passo para a preservação e conservação dos recursos naturais e para a sustentabilidade da agricultura; deve, portanto, ser planejado de acordo com a sua aptidão, capacidade de sustentação e produtividade econômica, de tal forma que o potencial de uso dos recursos naturais seja otimizado, ao mesmo tempo em que sua disponibilidade seja garantida para as gerações futuras. Assim começa o documento com as contribuições para o debate do Código Florestal da Academia Brasileira de Ciências e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. A sustentabilidade da agricultura esteve no centro das discussões no Congresso Nacional. E também aparece na proposta brasileira para a Rio+20, onde se lê: n Absolutamente dependente das condições ambientais, a agropecuária é essencial para o desenvolvimento dos países, ao mesmo tempo em que contribui para o combate à mudança do clima. É possível garantir segurança alimentar e nutricional, promover a mitigação das emissões e o aumento da produtividade agropecuária, reduzir os custos de produção, melhorar a eficiência no uso de recursos naturais, especialmente da água, aumentar a resiliência de sistemas produtivos, promover o desenvolvimento sustentável de comunidades rurais e possibilitar a adaptação do setor agropecuário à mudança do clima. SUSTENTABILIDADE NO CAMPO Roberto Villar Belmonte

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Page 1: Novidades susteNtabilidade No campoBruna Andreosi, 24 anos, que participou do grupo Projetando Agricultura Compromissada em Sustentabilidade (Paces). “O trabalho que desenvolvemos

Novidades

Produção de soja com adubo orgânico ao lado de área de Reserva Legal em Castro (PR)

VALTRA JOVEM

Com a votação do Código Florestal na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, a produção sustentável de alimentos entrou em pauta no Brasil no ano passado. O assunto foi amplamente debatido e seguirá em discussão durante 2012, quando em junho ocorrerá no Rio de Janeiro (RJ) a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio+20, pelo fato de ocorrer duas décadas depois da Rio 92.

n O uso adequado das terras é o primeiro passo para a preservação e conservação dos recursos naturais e para a sustentabilidade da agricultura; deve, portanto, ser planejado de acordo com a sua aptidão, capacidade de sustentação e produtividade econômica, de tal forma que o potencial de uso dos recursos naturais seja otimizado, ao mesmo tempo em que sua disponibilidade seja garantida para as gerações futuras.

Assim começa o documento com as contribuições para o debate do Código Florestal da Academia Brasileira de Ciências e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. A sustentabilidade da agricultura esteve no centro das discussões no Congresso Nacional. E também aparece na proposta brasileira para a Rio+20, onde se lê:

n Absolutamente dependente das condições ambientais, a agropecuária é essencial para o desenvolvimento dos países, ao mesmo tempo em que contribui para o combate à mudança do clima. É possível garantir segurança alimentar e nutricional, promover a mitigação das emissões e o aumento da produtividade agropecuária, reduzir os custos de produção, melhorar a eficiência no uso de recursos naturais, especialmente da água, aumentar a resiliência de sistemas produtivos, promover o desenvolvimento sustentável de comunidades rurais e possibilitar a adaptação do setor agropecuário à mudança do clima.

susteNtabilidade No campo

Roberto Villar Belmonte

Page 2: Novidades susteNtabilidade No campoBruna Andreosi, 24 anos, que participou do grupo Projetando Agricultura Compromissada em Sustentabilidade (Paces). “O trabalho que desenvolvemos

os estudantes de agronomia estão atentos aos novos desafios da sustentabilidade

no campo? “Está aumentando o interesse

desde que entrei na universidade”, informa Michele Reusch

de Quadros, 26 anos, aluna do 5º semestre do curso de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria.

“Para mim, é o tema mais importante no curso, estudar uma forma de ter uma produção suficiente, mas sem deixar de lado nossos recursos naturais, como a qualidade do solo, que é nosso principal foco de estudo. Ele é um recurso renovável, mas de muito longo prazo”, destaca Michele Quadros.

e os professores, estão preocupados com a sustentabilidade agrícola? “A maioria já se preocupa em passar essas informações para os alunos, mas os alunos também têm que se preocupar mais em buscar por conta própria essas informações. Muitos professores nos ajudam a ter autonomia”, constata a estudante de 5º semestre da UFSM.

NOVO CURRÍCULO

QUALIDADE DO SOLO

Professores, alunos e ex-alunos do Centro de Ciências Rurais da Universidade Federal de Santa Maria foram consultados durante o processo de reformulação curricular. Nas pesquisas, surgiu a necessidade de incluir com mais veemência a questão socioambiental. No currículo novo, que entrou em vigor há cerca de cinco anos, a preocupação com a sustentabilidade do campo aparece no objetivo geral e no perfil profissional. Esse novo enfoque é indicado também nas Diretrizes Curriculares do Ministério da Educação.

“Anos atrás não víamos tantos professores manifestarem interesse em relação a esse tema. Atualmente boa parte dos docentes está se dando conta que terá que assumir esse compromisso na formação profissional.

Vislumbro a universidade como exemplo de produção sustentável, levando em consideração as questões econômicas, sociais e ecológicas”, afirma a pedagoga Venice Grings, 52 anos, coordenadora do Programa de Educação Socioambiental Multicentros, criado em 2011 na UFSM.

COMO A NOVA GERAÇÃO DE AGRÔNOMOS SE PREPARA PARA ENFRENTAR OS GRANDES DESAFIOS DA

SUSTENTABILIDADE NO CAMPO?

VALTRA JOVEM

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E na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo, considerado o melhor centro de formação do setor no Brasil, como o tema da sustentabilidade no campo é tratado? “Acredito ser uma preocupação crescente, mas que precisa ainda amadurecer por parte dos alunos. Quanto aos professores, já existem projetos específicos nesse sentido e que nos próximos anos tendem a aumentar”, constata a formanda Bruna Andreosi, 24 anos, que participou do grupo Projetando Agricultura Compromissada em Sustentabilidade (Paces).

“O trabalho que desenvolvemos dentro do grupo Paces ao longo desses anos foi tentar viabilizar um manejo diferencial de solo, que gere um melhor aproveitamento das propriedades químicas, físicas e biológicas a fim de criar um solo supressivo, ou seja, livre de doenças permitindo assim um cultivo de determinada cultura por um longo período”, informa Bruna Andreosi.

A alternativa criada, relata ela, foi o uso do preparo profundo de solo, que tem por objetivo principal romper a camada compactada e promover melhor aeração e drenagem, aumentando também a população de microorganismos benéficos e também sendo possível a correção química do solo em profundidade, o que permite que em longos períodos de estresse a planta obtenha melhor desempenho. O trabalho inicial do grupo e que já tem sido feito há mais de cinco anos é com a cultura da batata, que se trata de uma cultura com grandes problemas de migração de área de cultivo por doenças, além de ser exigente quanto à adubação e pulverizações de agroquímicos.

“Observamos que é possível uma agricultura sustentável desde que a visão do produtor seja mais holística e não tão imediatista, pois se não houver essa preocupação num período de 50 anos a área agriculturável do mundo diminuirá drasticamente e com o crescimento contínuo da população a demanda por alimentos só tende a aumentar”, alerta a formanda da Esalq/USP, Bruna Andreosi.

bruNa aNdreosi, 24 anos, formanda na Esalq/USP de Piracicaba (SP)

Laranja orgânica produzida em Monte Azul Paulista (SP)

agricultura compromissada

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A SUSTENTABILIDADE

NA PRÁTICA

espaço do

estudaNte

Os nossos solos estão em boa parte impermeabilizados. Desse modo, a água que infiltra no solo é cada vez menor, consequentemente as secas são mais frequentes e o nível dos aquíferos está diminuindo. Nossos rios estão transformados em “latrinas” a céu aberto, o que aumenta os custos com tratamento de água e os gastos com saúde pública. Da mesma maneira, o nosso ar encontra-se saturado dos mais diversos poluentes químicos, gases e poeiras em suspensão.

Um verdadeiro desenvolvimento sustentável deve levar em conta a qualidade de vida do ser humano e solucionar os principais problemas atuais: o crescimento desorganizado das grandes cidades; o energético atrelado a produção industrial (e a sua obsolescência programada) e a imensa geração de lixo; o da produção de alimentos (quanto à segurança e a soberania alimentar); do mercado financeiro (o dinheiro virtual x o dinheiro real) e talvez o mais importante de todos: o da existência, ou seja, as pessoas precisam se encontrar a si mesmas e reafirmar os seus valores éticos, morais e sobretudo espirituais.

O supérfluo, o materialismo e o consumismo devem ser profundamente repensados, em detrimento da sustentabilidade. Esta não pode apenas ser entendida como a conservação dos recursos para as gerações futuras, mas sim como o próprio modo de viver do ser humano, onde cada um viva em conformidade com aquilo que os outros irmãos podem ter.

O ensino agronômico precisa ser esclarecedor quanto a legislação ambiental, profissional e trabalhista, mostrando e aplicando a sustentabilidade no exercício da profissão via gestão adequada da produção e do capital, dos recursos ambientais e principalmente das pessoas (a autoestima e motivação dos trabalhadores), pois toda a mudança na realidade passa primeiro pela mudança de consciência.

roberto gottardi, 23 anos, natural de Pouso Novo (RS) e formando do curso de Agronomia da Ufrgs, onde estudou Gestão Ambiental no 5º semestre do curso com o professor Gustavo Tornquist

roberto gottardi

Aluno de iniciação científica do Laboratório de Pós-Colheita de Grãos da Faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

E-mail: [email protected]