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E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, NOVEMBRO/2015 - ANO XVIII - N o 226 O ESTAFETA Reprodução O desrespeito ao meio ambiente é uma prática observada por todo o país. Con- sequentemente, quando um grave acidente ambiental decorrente desse descaso acon- tece, a opinião pública se faz ouvir. A popu- lação se mobiliza, buscam-se responsáveis. Pressionadas, as autoridades procuram ex- plicar, mas não convencem, principalmente quando dizem que fizeram sua parte. O que acontece, na verdade, é que nossos órgãos fiscalizadores estão sempre sucateados. Faltam-lhes profissionais capacitados, infraestrutura, investimentos em novos co- nhecimentos e aparelhamento com tec- nologia moderna. No país o improviso im- pera. Não se trabalha com prevenção. O in- vestimento governamental nesse setor é ínfimo. Além disso, muitos cargos em ór- gãos de licenciamento e fiscalização são ocupados por indicação política, em detri- mento do técnico especialista. Portanto, quando ocorre uma tragédia como essa de Mariana, já considerada o maior desastre ambiental da história do país, uma comoção toma conta das ruas. A todo o momento a mídia noticia o fato, todos se sensibilizam. Passado algum tempo, os olhos se voltam para outro desastre: já não se fala, por exem- plo, da tragédia que se abateu sobre a re- gião serrana de Petrópolis e Teresópolis há poucos anos, quando escorregamentos se- pultaram mais de mil pessoas. As copiosas chuvas de verão foram responsabilizadas. Após esse desastre que mobilizou o país, o investimento feito na região foi pouco, pela proporção do desastre. Muitas famílias ain- da esperam por suas casas e indenizações. O meio ambiente aguarda por reparação. Agora, a tragédia aconteceu em Minas Gerais. O rompimento das barragens de mi- neração provocou uma avalanche de rejeitos e causou danos ambientais imen- suráveis e irreversíveis. São mortos, feridos, desabrigados, córregos entupidos de lama, patrimônio histórico soterrado, gado sem vida à beira de estradas, peixes boiando iner- tes na lama. À medida que a lama desce rio abaixo, os estragos se somam. São muitas as consequências do rompimento dessa barragem; e a população, perplexa, ainda se pergunta: quem vai pagar por isso? E tem dinheiro que pague vidas, a história e a cul- tura de uma comunidade? Recompor as localidades soterradas é impossível. Qual a dimensão da responsa- bilidade? Os valores dos danos são incal- culáveis. A dimensão desse desastre é ta- manha, que ganhou manchetes nos gran- des jornais do mundo. Quem sabe, assim o governo se mexa e passe a ver com outros olhos a questão ambiental no Brasil. Fala- se em elaborar novas leis. Mais legislação para não ser cumprida. Nossas autoridades deveriam se envergonhar frente a esses de- sastres evitáveis. Quando questionadas a respeito, tentam justificar com a falta de infraestrutura. Respostas vazias para pro- blemas de fundamental importância. A partir do final de novembro o mun- do se volta para o encontro mundial so- bre o clima que acontecerá em Paris. A atenção da sociedade para essa Confe- rência ocorre pela necessidade que te- mos de frear o aquecimento global consequente do efeito estufa. Nas últimas décadas, cada vez mais desastres ambientais decorrentes das al- terações climáticas são observados em todo o mundo: tornados, chuvas torren- ciais, nevascas, enchentes, além de ex- tremos do clima impactam a vida de mi- lhões de pessoas. O número de mortos e desabrigados cresce a cada evento. O prejuízo é incalculável. O encontro de Paris visa a atrair a atenção da sociedade mundial para even- tos apocalípticos previstos para acon- tecer se nada for feito para evitá-los. Um pacto entre os países se faz ne- cessário: o planeta se encontra no limi- te, pois foi explorado de maneira irracio- nal. As mudanças climáticas são decor- rentes do descaso e do desrespeito com a natureza. Se não houver um acordo mundial visando a diminuir a produção de CO 2 , corre-se o risco de se ver torna- da irreversível a já crítica situação atual. Como exemplo, constata-se que há muito a natureza vem sinalizando para o esgotamento das reservas hídricas. A al- teração do ciclo das chuvas vem cau- sando secas e desertificação em vários lugares do mundo. Consequentemente, os reservatórios que abastecem as gran- des cidades encontram-se em situação crítica. Esse fenômeno ocorre atualmen- te no Sudeste Brasileiro. Para solucio- nar essa grave questão, a única maneira possível de se produzir água é preser- vando e recuperando os mananciais. Em nossa região a ausência de ma- tas provocou grandes erosões cuja se- dimentação vem assoreando nossos rios e ribeirões condenando-os à morte lenta. Em Piquete, a exemplo de outras cidades, seus rios tiveram o volume d’água drasticamente reduzido. As grandes voçorocas na região do Pom- pílio concorrem para esse fenômeno: é o retrato do abandono e do desrespei- to com a natureza. O município não tem condição de resolver sem apoio governamental es- ses graves problemas. A recuperação dessa área erodida, bem como das nas- centes do município, faz-se necessária. Que nossos governantes aproveitem e ocasião e se voltem para esses proble- mas no momento em que são discutidas em Paris as mudanças climáticas e suas repercussões mundiais. São muitas as consequências do rompimento das barragens em Mariana/MG. A população se pergunta: quem vai pagar por isso? E tem dinheiro que pague pelas vidas, pela história e pela cultura perdidas de uma comunidade? Um amargo réquiem para o Rio Doce

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Edição 226, de novembro de 2015, do informativo O ESTAFETA, órgão da Fundação Christiano Rosa, de Piquete/SP.

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Page 1: NOVEMBRO 2015

E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, NOVEMBRO/2015 - ANO XVIII - No 226

O ESTAFETAReprodução

O desrespeito ao meio ambiente é umaprática observada por todo o país. Con-sequentemente, quando um grave acidenteambiental decorrente desse descaso acon-tece, a opinião pública se faz ouvir. A popu-lação se mobiliza, buscam-se responsáveis.Pressionadas, as autoridades procuram ex-plicar, mas não convencem, principalmentequando dizem que fizeram sua parte. O queacontece, na verdade, é que nossos órgãosfiscalizadores estão sempre sucateados.Faltam-lhes profissionais capacitados,infraestrutura, investimentos em novos co-nhecimentos e aparelhamento com tec-nologia moderna. No país o improviso im-pera. Não se trabalha com prevenção. O in-vestimento governamental nesse setor éínfimo. Além disso, muitos cargos em ór-gãos de licenciamento e fiscalização sãoocupados por indicação política, em detri-mento do técnico especialista. Portanto,quando ocorre uma tragédia como essa deMariana, já considerada o maior desastreambiental da história do país, uma comoçãotoma conta das ruas. A todo o momento amídia noticia o fato, todos se sensibilizam.Passado algum tempo, os olhos se voltampara outro desastre: já não se fala, por exem-plo, da tragédia que se abateu sobre a re-gião serrana de Petrópolis e Teresópolis hápoucos anos, quando escorregamentos se-pultaram mais de mil pessoas. As copiosaschuvas de verão foram responsabilizadas.Após esse desastre que mobilizou o país, o

investimento feito na região foi pouco, pelaproporção do desastre. Muitas famílias ain-da esperam por suas casas e indenizações.O meio ambiente aguarda por reparação.

Agora, a tragédia aconteceu em MinasGerais. O rompimento das barragens de mi-neração provocou uma avalanche derejeitos e causou danos ambientais imen-suráveis e irreversíveis. São mortos, feridos,desabrigados, córregos entupidos de lama,patrimônio histórico soterrado, gado semvida à beira de estradas, peixes boiando iner-tes na lama. À medida que a lama desce rioabaixo, os estragos se somam. São muitasas consequências do rompimento dessabarragem; e a população, perplexa, ainda sepergunta: quem vai pagar por isso? E temdinheiro que pague vidas, a história e a cul-tura de uma comunidade?

Recompor as localidades soterradas éimpossível. Qual a dimensão da responsa-bilidade? Os valores dos danos são incal-culáveis. A dimensão desse desastre é ta-manha, que ganhou manchetes nos gran-des jornais do mundo. Quem sabe, assim ogoverno se mexa e passe a ver com outrosolhos a questão ambiental no Brasil. Fala-se em elaborar novas leis. Mais legislaçãopara não ser cumprida. Nossas autoridadesdeveriam se envergonhar frente a esses de-sastres evitáveis. Quando questionadas arespeito, tentam justificar com a falta deinfraestrutura. Respostas vazias para pro-blemas de fundamental importância.

A partir do final de novembro o mun-do se volta para o encontro mundial so-bre o clima que acontecerá em Paris. Aatenção da sociedade para essa Confe-rência ocorre pela necessidade que te-mos de frear o aquecimento globalconsequente do efeito estufa.

Nas últimas décadas, cada vez maisdesastres ambientais decorrentes das al-terações climáticas são observados emtodo o mundo: tornados, chuvas torren-ciais, nevascas, enchentes, além de ex-tremos do clima impactam a vida de mi-lhões de pessoas. O número de mortose desabrigados cresce a cada evento. Oprejuízo é incalculável.

O encontro de Paris visa a atrair aatenção da sociedade mundial para even-tos apocalípticos previstos para acon-tecer se nada for feito para evitá-los.

Um pacto entre os países se faz ne-cessário: o planeta se encontra no limi-te, pois foi explorado de maneira irracio-nal. As mudanças climáticas são decor-rentes do descaso e do desrespeito coma natureza. Se não houver um acordomundial visando a diminuir a produçãode CO

2, corre-se o risco de se ver torna-

da irreversível a já crítica situação atual.Como exemplo, constata-se que há

muito a natureza vem sinalizando para oesgotamento das reservas hídricas. A al-teração do ciclo das chuvas vem cau-sando secas e desertificação em várioslugares do mundo. Consequentemente,os reservatórios que abastecem as gran-des cidades encontram-se em situaçãocrítica. Esse fenômeno ocorre atualmen-te no Sudeste Brasileiro. Para solucio-nar essa grave questão, a única maneirapossível de se produzir água é preser-vando e recuperando os mananciais.

Em nossa região a ausência de ma-tas provocou grandes erosões cuja se-dimentação vem assoreando nossosrios e ribeirões condenando-os à mortelenta. Em Piquete, a exemplo de outrascidades, seus rios tiveram o volumed’água drasticamente reduzido. Asgrandes voçorocas na região do Pom-pílio concorrem para esse fenômeno: éo retrato do abandono e do desrespei-to com a natureza.

O município não tem condição deresolver sem apoio governamental es-ses graves problemas. A recuperaçãodessa área erodida, bem como das nas-centes do município, faz-se necessária.

Que nossos governantes aproveiteme ocasião e se voltem para esses proble-mas no momento em que são discutidasem Paris as mudanças climáticas e suasrepercussões mundiais.

São muitas as consequências do rompimento das barragens em Mariana/MG. A população sepergunta: quem vai pagar por isso? E tem dinheiro que pague pelas vidas, pela história e pelacultura perdidas de uma comunidade?

Um amargo réquiem para o Rio Doce

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Página 2 Piquete, novembro de 2015

Fotos Arquivo Pró-Memória

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira Netto

Redação:Rua Professor Luiz de Castro Pinto, 22Tels.: (12) 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues RamosLaurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETA

Fundado em fevereiro / 1997

Imagem - Memória

O ESTAFETA

Quando se discute a necessidade de setrabalhar para a inclusão social dos cida-dãos e o combate ao preconceito e racismono Brasil, constata-se que, em Piquete, coma construção, há mais de cem anos, de umafábrica de pólvora sem fumaça pelo Exérci-to, isso já era uma prática comum.

No livro de registro dos primeiros ope-rários contratados para trabalhar nessa in-dústria, observa-se um número significati-vo de imigrantes: portugueses, italianos,suecos... Todos estavam em busca de opor-tunidades. Aqui constituíram família e fixa-ram raízes. Entre esses operários pioneiroshavia, também, muitos negros, alguns delesex-escravos que havia pouco mais de dezanos experimentavam a liberdade.

A escolha de Piquete para instalação deuma fábrica gerou grande expectativa entreos moradores. De economia agrária, cujoprincipal produto ainda era o café, lavouraque, apesar de pouco produzir, utilizavamuita mão de obra. Se para o cidadão bran-co a situação econômica era difícil, para onegro, então, muito mais. Os ecos do trezede maio eram recentes. O fim da escravidãodeixou centenas de ex-escravos às margensda sociedade. Os recém-libertos passavampor muitas dificuldades. Abandonados àprópria sorte, não houve preocupação porparte do governo em ampará-los por leis quepossibilitassem assistência e formas de in-serção do negro na sociedade.

Sem acesso à terra e sem qualquer tipode indenização por tanto tempo de trabalhoforçado, geralmente analfabetos, vítimas detodo tipo de preconceito, muitos ex-escra-vos permaneceram nas fazendas em que tra-balharam vendendo seu trabalho em trocade sobrevivência. Aos que migraram paraas cidades só restaram os subempregos e aeconomia informal. Com isso, aumentou demodo significativo o número de ambulan-tes, empregadas domésticas, quituteiras elavadeiras, sem qualquer tipo de assistên-cia e garantia. Os negros que não moravamnas ruas passaram a morar, quando muito,em cortiços miseráveis. O preconceito, a dis-criminação e a ideia de que o negro só ser-via para trabalhos duros, ou seja, serviçospesados, deixaram sequelas desde a aboli-ção da escravatura até os dias atuais.

Nos anos que se seguiram à abolição,os sonhos dos libertos converteram-se, mui-tas vezes, em pesadelo em virtude das con-dições adversas que tiveram de enfrentar.Eles não tardaram em reconhecer que sualuta não chegara ao fim. Caberia a eles pró-prios se organizarem para alcançar seusobjetivos. A emancipação fora apenas o pri-meiro passo para a liberdade. Para muitosnegros de Piquete, a construção da Fábricade Pólvora foi a oportunidade de se empre-garem com o status de funcionários públi-cos federais. A partir de então, assim comoos imigrantes ou qualquer outro operário,

A Fábrica de Piquete e a inclusão socialpuderam se qualificar para as mais diferen-tes funções dentro daquela indústria béli-ca. A Fábrica foi para eles um espaço privi-legiado de socialização. O salário fixo men-sal permitiu-lhes se organizar, proporcionan-do melhor qualidade de vida a eles e às fa-mílias. Também com os mesmos deveres,coube a eles se empenhar e buscar promo-ções e melhores cargos. Muitos chegaram àposição de Mestre e se tornaram referênciana história dessa indústria.

No final da década de 1930, com a cria-ção, pela Fábrica, de cursos profissiona-lizantes e, posteriormente, de escolas indus-triais, os filhos e netos desses pioneiros,brancos ou negros, puderam se qualificartecnicamente. Completava-se o processo deinclusão social.

***************

A fotografia registra um instante interrompido do trabalho de operários da então Fábrica de Pólvora sem Fumaça, no primeiros anos do século 20. Entre osprimeiros operários contratados havia muitos imigrantes e negros, que conquistaram, ombro a ombro, espaço significativo nessa indústria bélica piquetense.

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O ESTAFETA Página 3Piquete, novembro de 2015

Márcia ChavesGENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Ela é uma das pioneiras no bairro da Cai-xa D’Água. Desde que se casou mora namesma casa nesse tradicional bairro pique-tense. “Isso aqui era um barreiro que Deusme livre...”, lembra, sorrindo...

Márcia de Oliveira Chaves da Silva éfilha do casal Benedicto Monteiro Chavese Eva de Oliveira Chaves. Mineira deItajubá, Márcia conta que, quando tinhatrês meses de idade, os pais se mudaramcom a família para Piquete, pois “seu Dito”iria trabalhar na Fábrica de Pólvoras. Aquino estado de São Paulo nasceriam maisdois irmãos, completando os oito filhos docasal Dito e Eva Chaves. A família, quandochegou, foi morar à rua Major Carlos Ribei-ro. Logo depois, se mudaram para próximoda antiga Matriz de São Miguel.

Iniciou os estudos no Antônio João.Depois, foi para o Grupo da Fábrica e, emseguida, para o Ginásio Industrial. “Não meformei professora porque me casei...”, con-ta. O casamento com Geraldo Rufino da Sil-va Filho, o “Rapinha”, aconteceu em 20 dejulho de 1958, após cinco anos de namoro,iniciados quando ela tinha quinze anos... Àsvésperas do casamento, Márcia descobriuque em seu registro de batizado constavaoutro nome... “Minha mãe, em função de di-ficuldades no pré-parto, fez uma promessaao padre mineiro recém-beatificado Francis-co de Paula Victor: se tudo corresse bem, acriança receberia o nome Victor de algumaforma. Era, portanto, pra eu me chamar Már-cia Victor. Meu pai, porém, me registrou semo Victor. Já no batizado, minha mãe infor-mou o nome que desejara para sua filha”,explica dando risadas... “Mamãe não cum-priu a promessa”, complementa.

Após o casamento, mudou-se com omarido para o bairro da Caixa D’Água, ondevive até hoje. “Aquele tempo era muitobom... Hoje também é, mas antes era dife-rente: todos eram amigos, amigos verdadei-ros”, afirma Márcia. Os vizinhos eram as fa-mílias da Maria da Onça, do Sérgio Antunes,Zézinho e Carmem Duarte, Armênio Arioste,Toninho Capistrano, Zé Alckimim... “Asnossas festas juninas eram muito boas, as-sim como os fogos do fim de ano e a bagun-ça do Boi de Carnaval... Aqui em casa quesurgiu o Bloco da Folia, que depois se trans-formou em escola de samba... Tinha, ainda,

o orfanato Maria Mazzarello: o catecismoaos domingos, as aulas de datilografia comas irmãs salesianas Irene e Ana Maria... Oroseiral... Era tudo muito bom...”, conta,emocionada com as recordações...

Quando perguntada sobre sua relaçãocom a Igreja Católica, se entusiasma: “Fuicriada na Igreja, graças a Deus”. Márcia in-gressou na Irmandade de São José aos quin-ze anos, quando a presidente era D. Nica doZizinho (Ana Eulália da Encarnação). “A Ir-mandade é muito especial para mim, poistemos como principal objetivo promover asvocações sacerdotais: o aumento e asantificação do clero – uma missão difícilnos dias de hoje”. Márcia está pela quintavez como Presidente da Irmandade SãoJosé, que conta, hoje, com cerca de quaren-ta pessoas. “As pessoas não querem assu-mir a presidência...”, lamenta.

Além da Irmandade, Márcia fez parte,junto com as irmãs e o irmão José Theóphilo,do tradicional Coral Santa Cecília. “Mamãee papai eram muito religiosos e nos educa-ram sob esses valores”, destaca.

No início da década de 1980, o maridofoi transferido para o Rio de Janeiro. Lá fica-ram por cerca de um ano. “Era um local mui-

to gostoso. Morávamosnuma casa imensa. Eu tinhaaté medo...”, conta, sorrin-do. Algum tempo depoisque retornaram a Piquete,Márcia ficou viúva. Termi-nou de criar os seis filhosna mesma casa adquiridapelo marido e hoje aprovei-ta a vida para ajudar a cui-dar dos onze netos e doisbisnetos.

Noção de família, raí-zes, tradição, fé... MárciaChaves, ou Márcia VictorChaves, é guardiã dessesvalores que fazem gran-de diferença nos atribu-lados dias atuais.

Não há nada pior para a educação dopaís do que encerrar 2015 com duassituações críticas na base da educação,entre tantas outras.

A primeira situação diz respeito aonível de alfabetização das criançasbrasileiras. Dados divulgados pelo MEC,em setembro deste ano, mostram, emsíntese, que na leitura, na escrita e namatemática, alunos de oito anos, noterceiro ano do ensino fundamental,apresentam apenas 10% de resultadoideal. Trata-se de um resultado ve-xaminoso.

A população que hoje tem mais de 30anos, com certeza, recorda-se de ter sidoalfabetizada, aos seis ou sete anos, na“primeira série”. Os recursos, na maioriadas escolas, era apenas lousa, giz e umacartilha sumária, mas o fato é que ascrianças aprendiam a ler e escrever. Oque aconteceu de lá para cá? O tempopassou e, com tantos avanços nasdiferentes áreas, retrocedemos na baseda educação? A história de constru-tivismo, letramento e tantas outras queviraram moda não deram certo?

Sim, não deram certo porque emeducação costuma-se dar mais ouvidos aopiniões do que à Ciência. O que sepratica na escola é um amontoado deexperiências baseadas no achismo,negando-se aquilo que as pesquisas eexperiências sérias têm mostrado. Nocaso da alfabetização, em especial, apolítica de alfabetização na idade certa(oito anos) é mais um grave equívoco.

Dito isso, o leitor (agora assustado)deve estar se perguntando qual é asegunda situação? A segunda situação éa resposta do MEC diante dos resultados.O Ministério da Educação só vai fazer umanova avaliação sobre a alfabetização noBrasil no ano que vem. Disse que não épor falta de recursos, mas porque asmudanças de um ano para outro não sãosignificativas. Socorro! A questão éurgente! Medidas emergenciais precisamser tomadas; afinal, trata-se de umatragédia.

Laura Chaves

Mestre em Educação

É dramática aalfabetização no Brasil

Membros do Coral Santa Cecília

“A boa educação

é uma moeda de ouro:

em todo lugar tem muito

valor!

Padre Antônio Vieira

Page 4: NOVEMBRO 2015

O ESTAFETA Piquete, novembro de 2015Página 4

Há comentaristas da mídia impressa quequalificam o mundo em áreas de ordem e dedesordem. Os países incluídos nas áreas deordem são os ricos, desenvolvidos e bemsucedidos, e das áreas da desordem são ospobres, dependentes, em geral herdeiros dosistema imperialista. São, pois, os pós-im-perialistas, pós-coloniais marcados profun-damente. As fronteiras são marcadoras doslimites dos territórios, hoje sedes de Esta-dos constituídos a partir dos domínios co-loniais estabelecidos pelos impérios na dis-puta da conquista, sob a força da luta.

O processo atual é dramatizado pela mi-gração, como refúgio de povos à busca demelhores condições de vida. As fronteirasdos países fortes são consideradas reais epropostas sob controle árduo para quemqueira ultrapassá-lo de forma ilegal. Enquan-to que as fronteiras artificiais criadas a fer-ro, fogo e diplomacias de interessesgeopolíticos são alteradas e ultrapassadas,pois sempre estiveram dispostas pelos queas criaram com linhas retas sobre os mapas,sem respeitar tribos, comunidades religio-sas, etnias, povos enfim de variedades cul-turais. Apenas como áreas de exploração deriquezas, matérias-primas e mão de obra. Asáreas da desordem desde que se implantouo regime de força externa.

Decorridos os períodos da ocupaçãoimperialista, as ideias de liberdade, identi-dade, fraternidade e soberania passaram acircular. Daí os processos de independên-cia. O que custou muitas lutas. Principal-mente afetadas pela ameaça externa e ascontingências internas. Uma longa e sofri-da comunidade em busca de um futuro pro-missor, mas, incerto. A Declaração dos Di-reitos do Homem, importante documento deTom Paine, apontava para a liberdade, foicitado e usado na independência norte-ame-ricana (1776) e na redação de sua primeiraconstituição – que até hoje vigora. A Revo-lução Francesa (1789) com as ideias de li-berdade, igualdade e fraternidade, a gran-de tríade dos chamados iluministas do sé-culo XVIII inflamava os povos colonizados.E estes a tomaram como ideal a ser atingido.As chamadas guerras pela independênciase desenvolviam. Os franceses, inclusive,forneceram soldados para lutar ao lado dosnorte-americanos pela independência, que,afinal, foi conseguida. A estátua da Liber-dade na proximidade da ilha de Ellis, na baíado Hudson, em Nova York, celebra esse even-to, e a estátua é uma homenagem dos fran-ceses aos americanos. No Brasil, reprodu-zem-na iconicamente. Referência a NovaYork (o “umbigo do mundo”), copiada sim-bolicamente, mas já aqui destituída da sig-nificação máxima. Muitos não parecem sa-ber dessa significação. Apenas aceitam debom grado pela referência nova-iorquina.Lorena tem uma frente a um grande centro

A ordem e a desordemde compras. Empunhando a tocha simbóli-ca, lá está, totalmente copiada. Significan-do a liberdade e a igualdade. Esta, principal-mente, existe? Aqui, como lá? Mas, mesmolá a desqualificação dos negros omite essafilosofia. Ou será apenas uma retórica paraas expressões liberdade, igualdade efraternidade num mundo de diferenças emchoque, desentendimentos e para, os dife-rentes, a invisibilidade?

Samuel Huntington escreveu já há algumtempo um livro que se tornou clássico, “Ochoque das civilizações” para investigar,analisar e prever, entre outras motivações,o que ocorre hoje, um presente sempre re-novado e cada vez mais pleno de conflitos.

Fronteiras anteriores à colonizaçãoeuropeia sempre foram constituídas em co-munidades de parentesco, origens, etnias,linguagem, cultos, e religiões. Não respeita-das sob imposição de novas culturas, gera-ram rupturas e conflitos que mais se acirra-ram na pós-independência com o chamadopós-colonialismo. A insatisfação, os cho-ques culturais, fizeram pulverizar os cultosreligiosos em subdivisões, lutas e guerrasque hoje dramatizam o mundo. São muitosos exemplos. Grupos extremistas procuramdominar a ferro e fogo. Assim é a guerra naSíria desde 2011. As interferências norte-americanas na Síria, Iraque e Afeganistãosomente geraram mais conflitos. Esta foimais uma oportunidade para o desenvolvi-mento da polarização Estados Unidosversus Rússia no fornecimento de armassofisticadas e forças militares, respectiva-mente para a área invadida pelos jihadistasdo Estado Islâmico, particularmente a Síria,em guerra civil entre cristãos e muçulmanossunitas e xiitas sob o regime autocrático deBashar Al-Assad, enquanto este, apoiadopor Putin e os russos, mantém a Síria emestado de guerra. A ameaça da expansão dedomínio do Estado Islâmico por grande par-te do Oriente Médio faz Israel propor aObama e aos americanos manter a luta, semtrégua, embora Obama tenha dito váriasvezes que, no geral, deveria ser evitado oconfronto armado.

Entretanto, o estado da guerra e as con-quistas islâmicas empurram milhares de exi-lados à procura da União Europeia. A dra-mática morte de Aylam Kurdi, o menino detrês anos vítima de afogamento, reacendeua disputa entre oferecer asilos aos refugia-dos ou impedi-los por cercas e muros de semovimentarem em grandes blocos pelospaíses europeus ocidentais. A mídia estam-pa comentários da tragédia como marcaaflitiva desse nosso século. O Papa Fran-cisco invocou a paz. E nós, atônitos, assis-timos impotentes.

***************

Dóli de Castro Ferreira

A sociedade está sempre em constan-tes transformações. Camões, já no século17 refletia sobre o assunto: “Mudam-se ostempos, mudam-se as vontades, muda-seo ser, muda-se a confiança (...)”. E, emboracompreendamos a necessidade das trans-formações sociais para melhoria da vidadas pessoas, nem sempre estas são tãopositivas. É o que temos assistido frequen-temente nos modelos comportamentais dasfamílias, com reflexo imediato na educação.

Há quinze anos leciono na Escola Es-tadual Darwin Félix, depois 12 anos mo-rando e trabalhando em São Paulo. As mu-danças por mim observadas nesta comu-nidade escolar são imensas. Naquela épo-ca, a maior parte dos alunos frequentava oOratório São Domingos Sávio, onde rece-biam todo suporte, desde o alimento até aformação religiosa, moral e cultural. Quan-do os recebíamos na escola, ficava paten-te o trabalho desta entidade e desenvolví-amos o pedagógico com mais tranquilidadee certeza do sucesso.

Quando chamávamos os pais para asreuniões pedagógicas, estas eram nume-rosas e todos ansiavam conversar comos professores para entender uma ou ou-tra notinha vermelha que, porventura,apareciam nos boletins dos jovens. Omau comportamento era resolvido na es-fera familiar, sem envolvimento do Con-selho Tutelar ou Promotoria.

Muito diferente deste cenário, hoje aeducação está falida. Grande parte dosjovens está desinteressada dos estudose a participação da família na vida escolaré rara. As reuniões pedagógicas esvazia-ram-se e os jovens estão cada vez maisdesorientados.

Está difícil para os profissionais da edu-cação vislumbrar algo diferente do apre-sentado, pois as mudanças de que preci-samos vão além da implementação de novocurrículo, da reorganização da escola re-centemente apregoada pela Secretaria daEducação e sem reflexo em nosso municí-pio. O problema é social. A responsabili-dade, portanto, é de todos os cidadãos:passa por Igrejas, Conselhos, Segurançapública, Promotoria e o Executivo e oLegislativo do município. É precisoenvolvimento de todos no auxílio às famí-lias que educam os jovens.

Sabemos que o problema com jovens,o qual envolve a escola e a violência ur-bana, é um fenômeno que ultrapassa oslimites de nossa cidade. Aliás, muitos ain-da dizem que lecionar em Piquete é o pa-raíso. Nem por isso, porém, podemos fi-car alheios ao nosso atual contexto soci-al. Estamos perdendo nossos jovens paraas drogas e a desesperança. É o que maisassistimos ultimamente. E tememos o pior– a banalização.

Precisamos nos ajudar, parar de apon-tar o dedo, de nos acusar. Nossa socieda-de precisa ter maturidade para perceber queestamos doentes e que precisamos de tra-tamento. É hora de união e comprometi-mento, pois, caso contrário, todos corre-remos riscos. Este seria o primeiro passopara sanar os problemas da violência e daeducação em Piquete.

Sociedade, família,educação... Violência

Prof. Evelize Monteiro Chaves

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O ESTAFETA Página 5Piquete, novembro de 2015

A rua era de terra batida. Muita poeirafina no tempo de inverno. Um pó que gru-dava nos pés descalços quando jogávamosbola até tarde da noite. Invariavelmente odedão vivia machucado ou sem unha. Noverão havia a lama e tínhamos que ficar tran-cados dentro de casa. De quando em vezfazíamos barquinhos de papel e os colocá-vamos na enchurrada. Televisão só em 1972.ABC Canário, preto e branco. Atrás era umaprofusão de válvulas acesas que podíamosver através dos furinhos da tampa. Tambémxeretávamos nas inúmeras vezes em quepapai tinha que trocar uma delas. Era fácilconsertar as coisas. Válvula apagada era odefeito. Era comprar no ‘Seu Munir’ e pron-to. Lá estava a televisão acendendo de vol-ta. Sempre a imagem estava correndo. Éra-mos obrigados a levantar para ajustar umpequeno botão na traseira e parar a imagem.Na tela Roy Rogers, Rin-tin-tin, Laredo,Zorro, Batman, Tarzan. Quem não queria terum cão como o Rin-tin-tin, uma pistola comoa de Roy ou viver na selva com a Chita, comoo Tarzan?

O ribeirão Benfica era quase todo lim-po. Tinha muita água. No verão fazíamospoço e nadávamos. Andávamos pelos mor-ros e matas como desbravadores. Éramosguerreiros com nossos estilingues infalí-veis (em acertar a unha do polegar) e nos-sa munição de mamona. No Natal nossaarma de espoleta em um coldre de napa. Amunição durava pouco. Mas depois fingí-amos os tiros. Fazíamos cadeias de bambuno quintal para prender os facínoras. Brin-cávamos de forte apache com cavalinhos,cowboys e índios de plástico. Não me lem-bro de nenhum amigo ter ficado violentoou bandido depois de adulto. Mas fomos

Eram os dias das criançasmuito disso quando crianças.

Ia comprar cigarro – Continental sem fil-tro, viu? – no bar do Aloni. Às vezes, comautorização de alguma guloseima extra.Dadinho, chiclé ploc (que minha mãe cha-mava de “bubs”), cigarrinho de chocolate,moeda de chocolate, doce de goma de trêscores, sorvete de maria-mole ou mesmo amaria-mole colorida. Mas eu gostava mes-mo da de coco. Não havia muitas escolhas.Tinha ainda algumas balas diferentes.Juquinha, soft. Tudo era muito simples. Bas-tava uma meia velha para se encher de panoe fazer uma bola de queimada. Algumas pe-nas e um saquinho com areia e lá estavauma peteca. Duas latas e um barbante e cri-ávamos um telefone. Umas varetas, papel ecola de arroz e no céu subia uma pipa. Umabarbatana de guarda-chuva, um barbante eo arco estava pronto. Outra barbatana e aflecha já podia voar em direção ao alvo. Cer-ta vez acertei o dedo de meu irmão e a flechaatravessou-o de um lado ao outro.

Não havia supermercado ou lojas sofis-ticadas. Eram as vendas, padarias e lojaspequenas que mandavam no pedaço. Ven-da do Neco, do Valdemar, do Abel. O arroznas caixas ao lado das caixas do feijão. Erapreciso escolher muito cada um deles poiseram cheios de pedra, gorgulhos, besouros,etc. Os sacos só de papel, nada de bolsasde plástico. Garrafas de vidro para o leiteentregues à porta de casa pelas carroças.Bebidas só em garrafas. Os cascos retor-náveis. Até o Toddy era no vidro. A varieda-de era pequena. Guaraná Antártica ouBrahma. Fanta, Coca, Crush, Grapette. E ti-nha os guaranás das redondezas. Passa-Quatro, Gatinho, etc. Nada de comida con-gelada, pré-cozida ou desidratada. Tudo ti-

nha que ser feito na hora. E era simples: ar-roz, feijão, legume, salada e - quando dava -uma carne. Geralmente a carne oriunda dealguma fazenda da cidade. A carne vinhasomente dos açougues e eram embrulhadasem jornais. Na maioria das vezes sem ne-nhum plástico. Não era incomum alguma fotodo jornal ficar colada na carne. Carne comrosto.

Médicos não eram no plural. Íamos aoDr. Amoroso ou ele vinha até em casa. Osremédios eram simples e comprados na Far-mácia do Seu Joãozinho ou Seu Galvão. Asprateleiras organizadas cheias de potinhose vidros. Me lembro de ir comprar absor-vente íntimo que o Seu Joãozinho embru-lhava em um papel cor de rosa, pois haviaum certo pudor com relação a muita coisa.Fraldas? Só as de pano feitas em casa. Ovaral cheio de bandeirinhas brancas. No caféda manhã pão com manteiga e café com lei-te. Café do bule e feito com coador de pano.Leite da fazenda do Nhôzinho. Gordo. De-pois do almoço sentávamos na calçada doquintal para comer um doce que minha mãesempre fez. Goiaba de casa, banana de casaou algum outro que era trocado na gentilezaentre vizinhos. Ali ficávamos lagarteandono solzinho antes de fazer outras estripulias.

Não havia dia dos pais, das mães, dascrianças, disso ou daquilo. Havia o Natal eo aniversário. Uma pequena lembrança e umbolo no aniversário e um presente especialno Natal. Comprado com muito sacrifício.Mas hoje existe o dia das crianças para melembrar (como adulto) o quanto era felizquando não havia o dia das crianças. To-dos os dias eram das crianças.

Luiz Flávio Rodrigues

No final de setembro, o governo Alckminanunciou que fecharia 94 escolas no estadode São Paulo. Sob o nome pomposo de “re-organização escolar”, a proposta se justifi-caria por manter apenas um ciclo de ensino(Fundamental I ou Fundamental II ou Ensi-no Médio) em cada escola, o que ofereceriavantagens pedagógicas a professores econvívio mais fraterno entre alunos. No en-tanto, discordando do governador e de seusecretário de educação, Herman Voorwald,alunos e professores não apreciaram o pro-jeto e decidiram ocupar as escolas que ogoverno prometera fechar.

Não é preciso muita inteligência paranotar que há, no mínimo, algo de contradi-tório na proposta de Alckmin: Promete-semelhorar a educação fazendo exatamente ooposto do recomendado – não se abrem,mas fecham-se escolas. Ao não criar novasinstituições e acabar com as já existentes, adita “reorganização”, dentre outras coisas,deve enviar alunos para estudarem em lo-cais mais distantes de suas casas e forçarprofessores a se deslocarem ainda mais ve-zes entre diferentes escolas. Mesmo assim,

Alckmin e Voorwald, do alto da arrogânciade quem julga saber mais da realidade dealunos e professores do que estes própri-os, decretaram, sem nenhum debate ou pon-te democrática, que sua proposta de “reor-ganização” vigoraria e ponto final.

Uma, dentre as muitas coisas que faltama Alckmin e à extensa maioria dos gover-nantes, é a humildade de reconhecer que nãosão donos da verdade e que é o povo – den-tre esse, os estudantes, trabalhadores e ci-dadãos – os mais capazes de falar sobre osproblemas por que passam e sobre as solu-ções que podem ser encaminhadas. Não setrata, de maneira nenhuma, de esvaziar as res-ponsabilidades de quem governa. O que sedeve, na verdade, é aprimorar a democraciaatravés do diálogo com a população e doouvido sensível às suas expressões.

Pressionado pelo movimento legítimodos alunos, o Secretário de Educação tenta,agora, “estabelecer o diálogo”, propondoexplicar à comunidade escolar as razões eas vantagens do plano. No entanto, a pos-tura do Secretário soa como nada mais doque uma tentativa de desmobilizar os estu-

Os palácios não são donos da democraciadantes sem fazer aquilo que deveria ter sidoa primeira medida antes de qualquer deci-são: consultar e debater com alunos, pais eprofessores acerca do plano. Quando afir-ma que quer explicar a proposta à comuni-dade escolar, mas não suspende a medidatomada nos gabinetes do Palácio dos Ban-deirantes, o secretário só atesta que nãoaprendeu nada da lição democrática dosalunos e que segue na toada autoritária dequem acha que o governo é um mirante deiluminados.

Em sociedades modernas, nas quais apluralidade de opiniões é uma característi-ca essencial, qualquer decisão que toquediretamente o povo e que venha a ser to-mada de maneira unilateral por um governoserá autoritária e ineficaz. Os governantes,estejam eles em Brasília ou em qualquer ci-dadela da nação, devem compreender queo governo é parte do povo, e que suas de-cisões não podem, de modo algum, fecharos ouvidos aos cidadãos. Democracia segoverna não só dos palácios, mas também,e essencialmente, a partir das ruas.

Rafael Domingues de Lima

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Crônicas Pitorescas

Palmyro Masiero

O comedor de terra

Casadinhos há quase três anos, o casalde jovens tem um robusto garotinho de unsdois anos, que é o encantamento da casa.Desculpem-me pelo “encantamento dacasa”, mas já li isso tantas vezes, que termi-nei batendo igualzinho. Coisas da vida...

O marido trabalha de dia na Embraer e, ànoite, faz a Faculdade de Engenharia. É oque dá. Arranjou encrenca logo cedo e ago-ra tem que se virar para futuramente provera família de condições à altura do amor àsua gatinha e para o fruto de noites bemdormidas – o fofinho do lar. Tinha que apro-veitar enquanto jovem para lançar o alicer-ce para um amanhã melhor. Afinal, a famíliapoderia aumentar...

A esposa, ainda quase menina, tinha nofilhinho uma boneca andante e mais ou me-nos falante. Era sua diversão. Passava o diaem casa. Estava concluindo o segundo grauquando enfrentou o altar e, por enquanto,ficaria nessa escolaridade. Mas tarde pode-ria até voltar aos estudos, mas, por ora suamissão consistia em cuidar do maridinho edo filhotinho. Que bonitinho!

Montar casa hoje em dia é coisa pareci-da com pegar um cubo mágico pela primeiravez e deixar os quadradinhos da mesma cornos mesmos lados! Conseguiram uma pe-quena, apenas quatro dependências e quin-tal de terra. Ganhando razoável, pagandoaluguel, o sustento do lar e mais a faculda-de, qualquer sonho algo ambicioso teria quepermanecer em banho-maria até o momentode pôr pra ferver no duro. Mas sentiam-sefelizes. O amor é como a primavera: estápouco se lixando com os problemas doshumanos: quer é abrir flores.

O esposo saía do serviço e nem ia paracasa. Direto para a faculdade. Ao final daaula, enfrentar o famigerado bondão. Desegunda à sexta, madrugava e chegava qua-se à meia-noite. Vida dura. Via pouco o filhoe a mulher. Sábados, à tarde, e aos domin-

gos, curtiam-se integralmente.Final de ano, semanas decisivas, ele ini-

ciou as provas trimestrais. No dia da primei-ra refrega, chegou pouco mais cedo em casa.Questões quentes. Mal entrou a mulher,após os beijinhos, deu-lhe o relatório famili-ar do dia. O bicho com a cabeça ainda fer-vendo da prova, ouviu:

– Bem... O Júnior hoje cedo estava co-mendo terra. Tem algum perigo?

– Tem... O cocozinho dele sair feitotijolinhos...

Ela zangou-se pelo desinteresse deleante o fato. Desculpou-se e tudo terminouem paz. Mas no dia seguinte a história serepetiu:

– Bem... Quando saí procurando o Júnior,estava ele no quintal outra vez comendoterra. Dei-lhe bastante água para beber...Será preciso dar mais alguma coisa?

– Qualquer coisa pode, menos cimento– secamente respondeu o cara com a caraenfiada num livro de Cálculo. Outra broncada gatinha. Dessa vez nem se lembrou dasdesculpas, pois estava emaranhada a solu-ção de um exercício que estudava para aprova seguinte.

Quinta-feira, e o molequinho aprontoude novo. Que mania de minhoca, meu! Em-bora já por duas vezes o esposo se encheracom esse tipo de problema familiar, era oúnico a quem a mulher poderia recorrer:

– Bem... O Júnior estava novamente co-mendo terra hoje. Será que está faltando al-guma coisa pra ele?

– Evidente que está! – Respondeu zan-gado o bem dela. Está faltando mais aten-ção e vigilância sobre ele!

Ela começou a chorar. Trocaram duraspalavras. A primeira rusga em três anos decasados. O clima continua ruim no lar.

Convenhamos, também, que esse Júniorestá muito precoce para tentar uma reformaagrária que seja por todos bem digerível...

Este poema é dedicado à Rosinha e àJuju, às quais devo minha sobrevivênciapor terem me amamentado quando à minhamãe faltava o leite necessário. Elas, comfilhos na minha idade, repartiram com seusbebês o alimento que me proporcionaram.E a toda essa gente boa do Piquete antigo,familiares e amigos que me cumularam debons ensinamentos, carinho, amizade eatenção. São focos de luz para sinalizarcaminhos e opções. Vida, enfim.

Ah! Em tempo: Juju era dona Juliana,casada com o sr. Antônio da Encarnaçãoda antiga “elite” piquetense, quando nomefamiliar era documento, como numasociedade de classes. Rosinha eradescendente de escravos, uma “excluída”como dizemos agora, que trabalhou pormuito tempo na cozinha do Hotel dasPalmeiras de Dona Maria Eufrásia, damareferencial da velha estrutura urbanapiquetense. Estou me referindo a um tempomuito antigo, lá na primeira metade doséculo XX. Gostaria também de lembrar osque, com suas presenças e motivações,enriqueceram nosso imaginário.

Dóli de Castro Ferreira

InefávelInefável é a vidaQue nos foi levada.A qual cultivamosCom todas as forças,Empenhados em retê-laO máximo possível.Limitados por nossas vicissitudes,Animados por nossos sonhos,Esperançosos, como é nossoPeculiar modo de entenderO mistério que se ocultaNos nossos modos de definirA vida, o vital elo que aos humanosRepresenta uma exclusividade.Critério do que se considera humanoÀ exaustão pelo sofrimentoQue nos irmana e assemelha.Inebriados pelo que se chama amor,Transcendentados pelo divino,Fonte, origem, destino e fim.

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“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”

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O nosso “Elefante Branco”O Ginásio de Esportes Duque de Caxias, conhecido como “Elefante Branco”, faz

parte de um conjunto de edificações que se tornaram referência arquitetônica napaisagem de Piquete. São marcos culturais e afetivos de todos que, em diferentesépocas, puderam usufruir desses imóveis que desempenharam importante papel socialem nossa cidade. Segundo a arquiteta Célia Aparecida Rosa, “Um imóvel não precisa

ser suntuoso ou excepcional para setornar patrimônio da sociedade. O quelegitima um bem cultural é suaparticipação na história”.

Em 19/11/2014, por meio do DecretoMunicipal 4.062, o “Ginásio de EsportesDuque de Caxias”, foi tombado peloCOMDEPHAAPPI como patrimôniohistórico, referendando sua importânciahistórico-cultural para Piquete.

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Ao chegarem à entradada cidade de Piquete, pou-quíssimos piquetenses têmlembranças de como era esselocal em décadas passadas,e outros só têm informaçõesrepassadas por seus ante-passados.

Nas primeiras décadas doséculo passado, a área do tre-vo de entrada e em frente aoposto de combustível era co-nhecida como Largo da Pri-mavera. Nesse local havia umcampo de futebol de uso co-mum da população, mas man-tido pelo Piquetense Futebol Clube, quechegou até a ter jogos com o E.C. Estrela.

No início da década de 1940, o asfalta-mento da BR 459 (Lorena-Itajubá) exigiunovo traçado da estrada que ocupou quasetotalmente o campo. Não se tem dados so-bre a fundação do Piquetense Futebol Clu-be, mas, através de relatos coletados deamigos que foram atletas e diretores do clu-be naquela época – Luiz Vieira, João Vieira,Carlos Vieira Soares, Ismael Marques e osirmãos Jansen – presume-se que a práticado futebol naquele local já acontecia porvolta de 1910. Uma foto sem identificaçãode data traz a diretoria da entidade compos-ta pelos senhores Guilherme Jansen, LuizArantes (Zizinho), professor Gonçalves,Zequinha Meireles, Durval Perdigão, JoséCorrêa e Genário Coelho (Vidinho). Guilher-me Jansen foi um dos fundadores do E.C.Estrela, em 1914.

Desde a desativação do Piquetense Fu-tebol Clube, seus ex-diretores e atletas sen-tiram necessidade de encontrar um novolocal para a prática do futebol, e então, poriniciativa de Luis e Carlos Vieira Soares, como apoio dos senhores Oswaldo CoelhoNunes, Juracy Faury, Paulino Felicidade,Manoel Rosa, Esbertisto Vieira, João Gomesde Souza e outros, em 19 de setembro de1956 fundou-se a Associação AtléticaPiquetense.

O primeiro compromisso da direção daPiquetense foi a procura de um local para onovo campo. Na Vila Cristiano havia umaárea disponível, mas difícil de ser usada paraprática do futebol por se tratar de local, em

Associação Atlética Piquetense

sua maior parte, de brejo. Não havia, porém,melhor opção. Para obtenção de recursospara a aquisição desse terreno, fez-se a di-visão do local em quadras que foramcoteadas entre os patrocinadores. A drena-gem do terreno foi a missão seguinte da di-retoria da A.A. Piquetense e a opção menosonerosa e mais viável seria a utilização debambus, que foram doados e trazidos dapropriedade de Oswaldo Coelho Nunes. Osserviços de nivelamento e drenagem do ter-reno, além de obras complementares, foramexecutados pelos próprios diretores, atle-tas e voluntários. Com o campo em condi-ções de uso, formou-se a equipe e cresceuo entusiasmo dos amantes do futebol. A po-pulação passou a apoiar o empreendimentoa partir de uma contribuição mensal obten-do já de início mais de 150 sócios colabora-dores que garantiram a estruturação da en-tidade para aquisição de materiais, equipa-mentos e uniformes.

A partir da inauguração do estádio daPiquetense, em 3 de maio de 1959, a VilaCristiana e adjacências ganharam nova vida,pois, durante a semana, os jogos recreati-vos e os treinos eram concorridos e, princi-palmente aos finais de semana, os amisto-sos e os campeonatos municipais e regio-nais atraíam considerável público. Para asdisputas de campeonatos oficiais, a Pique-tense teve que se filiar à Federação Paulistade Futebol, e o primeiro jogo oficial da A.A.Piquetense aconteceu na noite de 23 de ju-lho de 1960, às 20h45min, contra o Cachoei-ra Futebol Clube, no estádio do E.C. Estrela,pelo campeonato amador da FPF. Atuaram

os jogadores Tico-Tico, Se-bastião, Bene, Elísio, Pauli-nho, Vítor, Toschini, Edson,Guido, Paganine, Oscar, Da-mas, Ismael, Zezinho, Ra-pinha, Marinho e Capora. Otécnico era Manoel Rosa.Desse campeonato amador,além da Piquetense partici-param as equipes E.C. Es-trela, Cachoeira F.C., Sil-veiras F.C., Ferroviário (Ca-choeira Paulista).

No torneio-início desseprimeiro campeonato daPiquetense patrocinado

pela Federação Paulista de Futebol, aPiquetense venceu o E.C. Estrela.

Em 1961, a Fábrica Presidente Vargaspatrocinou uma olimpíada envolvendo asentidades piquetenses e a Piquetense con-quistou vários troféus e medalhas nas cate-gorias tênis de mesa, voleibol, natação efutebol de salão.

Nos anos 70, auge de suas conquistasesportivas, com a equipe fazendo amisto-sos e disputando campeonatos em diver-sas cidades, a diretoria da Piquetense iden-tificou a necessidade de regularizar a es-critura do terreno que fora feita com basena confiança entre as partes. Um impasse,então, minou e destruiu muitas aspiraçõesdos piquetenses que usufruíram dos even-tos no campo da Piquetense. O proprietá-rio do terreno apresentou óbices para atransferência oficial do terreno e, dianteda morosidade para resolver a questão,diretores, colaboradores e atletas foramse afastando da entidade e o quadro soci-al foi extinto. Essa incômoda situação pas-sou a ser de conhecimento público e, pararemediar a situação, criou-se o Vila Cris-tiana Futebol Clube, a quem foi transferidaa escritura.

Sem a posse definitiva do terreno e nãotendo mais direito de administrar o campo,a A.A. Piquetense teve dificuldades emcontinuar seu brilhante caminho no fute-bol e encerrou suas atividades. Também oVila Cristiana não conseguiu manter os en-cargos para a administração das ativida-des e o terreno passou a ser propriedademunicipal. Leonel Gomes de Souza

“Acima de sermos negros, brancos, árabes, judeus, americanos, somos uma única

espécie. Quem almeja ver dias felizes precisa aprender a amar a sua espécie (...) Se

você amar profundamente a espécie humana, estará contribuindo para provocar a

maior revolução social da história”.Augusto Cury

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Até pouco tempo o mundo era cercadopor perigos, a desgraça nos rondava dia enoite... Havia um encanto nisso. “O cachor-ro está cavando no quintal, quem será quehá de se ir?” dizia tia Tina. Durante a noite,quem mal agourava era a temida coruja; delacristão nenhum conseguia escapar. Sapo,besouro, gavião a piar, uivo de cão, galocantando fora de hora – eram todos mauspresságios. Hoje não se temem mais essessinais, exceto os que, como eu, fazem ques-tão de não abrir mão desses temores.

Havia também graças e desgraças atri-buídas aos santos. Ainda podemos ouvirtestemunhos sobre essas coisas nas comu-nidades mais distantes, pouco urbanizadas.Disse-me Maria do Prado: “Padre, o velhoque mora nessa fazenda fez um desaforopara os festeiros do Divino. O pouso che-gou a cantar em sua casa, ele mandou matarum porco doente e serviu à folia. Os foliõescomeram e foram embora obrando. No ou-tro dia, a porcada toda começou a morrer,não ficou um só leitão vivo. A morte ceifoutambém o gado miúdo, fez estrago no gali-nheiro e só parou de agir quando ele ofere-ceu um garrote criado, de valia, para a festado Divino. Com o Divino não se brinca!”concluiu ela. Acho isso fantástico.

Noutra ocasião ouvi dizer que, pelasbandas de Cunha, uma moça muito bonita

Faço gosto em acreditar nessas coisas em que ninguém acreditahavia conseguido um noivo rico e já estavade casamento marcado. Ela se recusou adançar em homenagem a São Gonçalo, emseu festejo. No dia seguinte foi ver seu noi-vo. Estava acometida de forte flatulência esoltava gases tão malcheirosos que nãosobrou outra opção ao rapaz senão deixá-la. Sua desventura durou exatamente umano. Quando chegou novamente o dia deSão Gonçalo, ela se ofereceu para dançarem honra do santo. Sua desgraça foi supe-rada, mas seu noivo já havia se casado comoutra. Disseram que ela se tornou devotado santo e até hoje costuma cozinhar emsuas festas. Nunca se casou, mas se tornouuma boa cristã e dedicou sua vida à práticada caridade aos pobres.

São Benedito também é muito milagro-so. Dona Teresinha da Mariazinha,“tomadora de conta” da capela do santonestas bandas por mais de quarenta anos,contou-me que há algum tempo atearamfogo ao pasto de São Benedito. Ela compoucos companheiros foram tentar apagaro incêndio. Parecia impossível. Aproximou-se um fazendeiro acompanhado de cincoempregados. Vendo a sua labuta contra ofogo, fez pouco caso e disse: “Vou fazer umaceiro em minha fazenda para que esse fogonão chegue até lá”. Ela fez uma prece aoSanto Negro pedindo a ele que guardasse

sua capela. Na mesma hora, o vento virou esoprou forte para o outro lado. O fogo quei-mou da cerca para fora e não entrou na terrado santo, mas rapidamente atingiu as terrasdo fazendeiro e, segundo ela, queimou oquanto quis por lá. Ela sempre repete: “Nãofaçam pouco caso de São Benedito”.

Acho uma pena que esse riquíssimopatrimônio cultural imaterial de nossa regiãová se esvaindo, se perdendo sem que nin-guém o registre. São os alicerces de nossacultura valeparaibana. Essas histórias nãosão fictícias, são vividas por nossa gente.Manter viva essa memória é manter viva afé, os medos, as alegrias, as crenças e asdescrenças, as raízes que nos mantêm empé, que nos identificam como gente daBocaina, do Vale do Paraíba, da Mantiqueira.Tenho feito minha parte: quando pia umacoruja, não hesito em dizer: “Quem será opróximo?”. Quando cantam as cigarras, falo:“Hoje não passa sem chuva.” No dia de SãoLourenço, não deixo de, prontamente, re-cordar que é dia de plantar abóboras. Fre-quentemente peço à minha cozinheira quedeixe um pouco de casca de alho no tempe-ro socado. Assim o saci não cospe no pilão.Faço gosto em acreditar nessas coisas emque ninguém mais acredita, de contar o queo que ninguém mais conta.

Pe. Fabrício Beckmann

O Elefante Branco está sendo reformadoParte importante das memórias de mui-

tos piquetenses está sendo recuperada: oGinásio de Esportes “Duque de Caxias”,carinhosamente conhecido como “Elefan-te Branco”, está passando por uma grandereforma que promete recuperar suas carac-terísticas originais devolvendo à cidade umdos mais signficativos marcos referenciaisda historia de Piquete.

Inaugurado em 8 de novembro de 1952,juntamente com a Praça Duque de Caxias, o

“Elefante Branco” foi, por muitas décadas,essencial para o desenvolvimento dos es-portes municipais: foram inúmeros os cam-peonatos de vôlei, basquete e futebol desalão lá disputados por alunos do Departa-mento Educacional da FPV. Gerações de jo-vens piquetenses tiveram estimulado o sen-so de disciplina, ordem e civismo por meioda prática das modalidades esportivas dis-poníveis. Outros eventos memoráveis foramos bailes de formatura, exposições, como a

do Cinquentenário da FPV, em 1959, festasjuninas e o almoço do “Piquetense Ausen-te”, ocorrido quando do centenário do mu-nicípio, em junho de 1991.

O retorno do Elefante Branco enche dealegria a comunidade piquetense e a Fun-dação Christiano Rosa, empenhada no res-gate e na divulgação da cultura e da históriapiquetenses, parabeniza a administraçãomunicipal pela iniciativa.

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Fotos Laurentino Gonçalves Dias Jr.

“Os valores simbólicos de nossa cidade devem ser vistos, pois a reverência ao passado não é nostalgia e muito menos

saudosismo, mas antes de tudo o direito à preservação do que o engenho e a arte criaram como obras humanas,

atestados de uma época e referências de homenagem ao futuro. São estas referências que nos garantem o

direito de cidadania”.Dóli de Castro Ferreira