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MESTRADO ECONOMIA E GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS Novas modalidades de tempo de trabalho - Flexibilidade temporal dos tempos de trabalho Cristina Cadima M 2018

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MESTRADO

ECONOMIA E GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS

Novas modalidades de tempo de

trabalho - Flexibilidade temporal dos

tempos de trabalho

Cristina Cadima

M 2018

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NOVAS MODALIDADES DE TEMPO DE TRABALHO -

FLEXIBILIDADE TEMPORAL DOS TEMPOS DE TRABALHO Cristina Manuela Oliveira Cadima

Dissertação

Mestrado em Economia e Gestão de Recursos Humanos

Orientado por Prof. Doutora Maria da Conceição Pereira Ramos

2018

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Resumo|

O aumento da competitividade no mercado de trabalho português exige dos gestores

de recursos humanos uma maior criatividade e procura por novas soluções que permitam

por um lado, aumentar a produtividade dos profissionais da organização e, por outro reduzir

o conflito do trabalho-vida possibilitando um maior bem-estar aos trabalhadores. Carlson

(2000) verificou que o tempo conjuntamente com a tensão/stress e atitudes/

comportamentos eram os três fatores principais que influenciavam o conflito trabalho-vida.

Esta investigação centrou-se na influência do fator tempo e como este poderia aumentar o

equilíbrio de bem-estar entre o trabalho e vida do profissional. Selecionando a modalidade

de flexibilidade de tempo laboral: “possibilidade de redução do tempo de trabalho, no

interesse do profissional (com respetiva redução do salário)” como hipótese para a redução

desse conflito. Aos resultados estatísticos recolhidos no inquérito realizado foram aplicadas

três hipóteses que permitiram viabilizar se esta flexibilidade era determinante. A primeira

testou se o fator tempo era determinante no trabalho-vida. A segunda hipótese se a

mentalidade portuguesa é uma limitação da hipótese anterior. A última hipótese validou se o

interesse efetivo dos trabalhadores era suficiente para gerar estudos adicionais na perspetiva

da empresa. A primeira hipótese foi refutada, no entanto verificou-se que esta modalidade

de flexibilidade de tempo já se torna determinante para a redução do conflito trabalho-vida.

A segunda e terceira hipótese foram validadas de tal modo que em média 31,5% dos

trabalhadores dependentes utilizaria com efetividade a medida procurando uma redução

média entre 4,5 e 5 horas semanais durante um período médio entre 11 e 18 meses.

Palavras chave: trabalho-vida, flexibilidade de horários, tempo de trabalho

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Abstract

Due to the increase of the Portuguese’s workforce market in the past years, the

human resources managers had to search more creative ideas, in order to increase the

workers’ productivity and also to reduce their work-life conflict. Understanding Carlson’s

research (2000) about the three main factors influencing the work-life conflict (time, along

with stress and attitudes / behaviors) was the first step to analyse the possibility of reducing

the work time, during a time (period) that would be worker’s choice. This possibility was

applied in an inquiry to the workforce living in Portugal aiming to analysed the worker’s

perspective. This research focused on the influence of time as a factor and how it could

improve the work-life balance. To validate whether this flexibility was meaningfull three

hypotheses were applied to this survey. The first one tested whether the factor time was

determinant in work-life. The second hypothesis evaluated the impact of portuguese society/

mentality in the previous hypothesis. At least, the third hypothesis validated that the savour

of the workers was sufficient to generate additional studies about the subject but from the

perspective of the company. Finally, the first hypothesis was refuted, however it was verified

that this modality of time flexibility already becomes determinant for the reduction of the

work-life conflict. The second and third hypotheses were validated in such a way that on

average 31.5% of the dependent workers would effectively use the measure seeking an

average reduction between 4.5 and 5 hours per week during a mean period between 11 and

18 months.

Key-words: work-life balance, work-time, time flexibility

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Índice

Introdução ......................................................................................................................... 1

Capítulo 1. Dados estatísticos relevantes ...................................................................... 3

Capítulo 2. Revisão de Literatura .................................................................................. 5

a) Conflito Trabalho-Vida .......................................................................................... 5

b) Enquadramento de Portugal no conflito Trabalho-Vida ....................................... 8

c) Enquadramento legal Português ............................................................................ 9

i. Caso específico do trabalho a tempo parcial .................................................... 10

ii. Caso específico do Trabalhador independente ................................................. 10

iii. Outras modalidades de flexibilidade de tempo de trabalho .............................. 11

d) Variáveis de segmentação ................................................................................... 11

i. Variável Género ............................................................................................... 12

ii. Variáveis Idade e Saúde ................................................................................... 12

iii. Variável: Trabalhador-Estudante ..................................................................... 13

iv. Variável Família ............................................................................................... 14

e) Conclusões da Revisão de Literatura ................................................................... 15

Capítulo 3. Metodologia .............................................................................................. 16

Capítulo 4. Dados estatísticos sobre a flexibilidade de tempo atual dos inquiridos no

mercado de trabalho ........................................................................................................ 17

a) Enquadramento .................................................................................................... 17

b) Análise às variáveis demográficas ....................................................................... 18

i. Género .............................................................................................................. 18

ii. Idade ................................................................................................................ 18

iii. Escolaridade .................................................................................................... 20

iv. Área Geográfica .............................................................................................. 21

c) Análise às variáveis da vida privada .................................................................... 22

i. Estrutura Familiar ............................................................................................. 22

ii. Análise em detalhe ao número de filhos .......................................................... 24

d) Variável bem-estar da vida privada ...................................................................... 27

e) Análise do tempo no conflito trabalho-vida na perspetiva da vida privada ......... 30

f) Análise à vida de estudante (Trabalhador-estudante) .......................................... 31

g) Análise e enquadramento do ambiente de trabalho .............................................. 32

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i. Forma contratual .............................................................................................. 32

ii. Descanso/Folgas ............................................................................................... 33

iii. Horas trabalhadas/dia ....................................................................................... 34

iv. Horas para além do estipulado contratualmente .............................................. 34

v. Posição hierárquica .......................................................................................... 35

vi. Setor da atividade profissional ......................................................................... 36

vii. Rendimento líquido anual ................................................................................ 37

viii. Outras variáveis com potencial ........................................................................ 38

ix. Variável Bem-estar no trabalho........................................................................ 39

x. Variável flexibilidade de tempo no trabalho .................................................... 46

h) Análise à qualidade de tempo entre a vida privada e profissional ....................... 50

i) Análise ao tempo livre ......................................................................................... 52

Capítulo 5. Análise à Hipótese: “Redução do tempo de trabalho (com redução

proporcional do salário)” ................................................................................................ 55

a) Enquadramento .................................................................................................... 55

b) Análise à estrutura da hipótese: “Possibilidade de redução do tempo de trabalho”

57

i. Amostra principal (N=594) .............................................................................. 57

ii. Amostras secundárias ....................................................................................... 62

c) Análise dos tempos dos inquiridos com interesse efetivo na hipótese ................ 66

d) Análise às razões dos profissionais que, embora concordem com a medida não a

utilizariam devido a razões económicas. .................................................................... 70

e) Análise à população desempregada ..................................................................... 73

f) Análises aos pontos fortes e fracos desta hipótese .............................................. 74

i. Perspetiva dos trabalhadores (N=594) ............................................................. 75

ii. Perspetiva dos donos de empresas/CEO ou similares (N=47) ......................... 77

Capítulo 6. Discussão de Resultados ........................................................................... 79

Conclusão ........................................................................................................................ 85

Bibliografia ..................................................................................................................... 87

Anexos ............................................................................................................................... i

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Índice de Figuras

Figura 4.1dade e variável dependente ............................................................................... 19

Figura 4.2 Nível de escolaridade e variável dependente .................................................... 21

Figura 4.3 Área geográfica e variável dependente ............................................................. 22

Figura 4.4Pais/Mães solteiros e variável dependente ........................................................ 24

Figura 4.5 Número filhos e variável dependente ............................................................... 25

Figura 4.6 Número de filhos e grau satisfação do tempo com os filhos ............................ 26

Figura 4.7 Qualidade do sono e variável dependente ........................................................ 28

Figura 4.8 Qualidade tempo família e variável dependente – Homem .............................. 29

Figura 4.9 Satisfação total dos filhos e bem-estar privado ................................................. 30

Figura 4.10 Avaliação qualitativa do tempo dedicado à vida privada ................................. 30

Figura 4.11Tempo da vida privada e Total bem-estar privado .......................................... 31

Figura 4.12Trabalhador estudante VS Trabalhador e variável dependente ........................ 32

Figura 4.13 Número folgas e total de horas de trabalho por semana ................................. 33

Figura 4.14 Número de horas trabalhadas diárias VS Número horas semanais ................. 34

Figura 4.15 Horas não remuneradas e horas totais de trabalho remunerado semanalmente

........................................................................................................................................ 35

Figura 4.16 Horas não remuneradas e horas diárias de trabalho remunerado .................... 35

Figura 4.17 Posição Hierárquica e variável dependente ..................................................... 36

Figura 4.18Posição hierárquica e rendimento líquido anual ............................................... 37

Figura 4.19 Rendimento líquido anual e variável dependente ............................................ 38

Figura 4.20 Bem-estar no trabalho e variável dependente ................................................. 44

Figura 4.21 Bem-estar no trabalho e satisfação tempo com os filhos ................................ 45

Figura 4.22 Bem-estar no trabalho e bem-estar privado .................................................... 45

Figura 4.23 Flexibilidade total tempo laboral - C8 ............................................................ 50

Figura 4.24Flexibilidade total tempo laboral - C9 ............................................................. 50

Figura 4.26 Avaliação qualitativa do tempo dedicado ao trabalho ..................................... 51

Figura 4.27 Avaliação qualitativa do tempo dedicado ao trabalho na perspetiva dos

profissionais que têm acessos (bons) de redução dos tempos de trabalho por sua iniciativa

........................................................................................................................................ 52

Figura 4.28 Avaliação qualitativa do tempo dedicado ao trabalho na perspetiva dos

profissionais que não têm acessos (ou muito pouco) de redução dos tempos de trabalho

por sua iniciativa .............................................................................................................. 52

Figura 4.29 Tempo Livre .................................................................................................. 53

Figura 4.30 Tempo livre (horas) e avaliação do tempo dedicado à vida privada ................ 54

Figura 4.31Tempo livre (horas) e avaliação tempo dedicado ao trabalho .......................... 54

Figura 5.1Rendimento líquido e aumento mínimo mensal ................................................ 71

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Índice de Hipóteses

Hipótese 2.a Tempo como fator determinante no conflito trabalho-vida ........................... 7

Hipótese 2.b Determinantes portugueses na implementação da modalidade de flexibilidade

estudada ........................................................................................................................... 11

Hipótese 2.c Interesse efetivo dos profissionais na modalidade de flexibilidade de tempo

analisada ........................................................................................................................... 15

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Índice de Tabelas

Tabela 4.a Estrutura familiar e variável dependente - Homem .......................................... 23

Tabela 4.b Estrutura familiar e variável dependente - Mulher ........................................... 23

Tabela 4.c Idades dos filhos e variável dependente ........................................................... 25

Tabela 4.d Filhos por faixa etária ...................................................................................... 25

Tabela 4.e Idade dos filhos por idade do trabalhador ....................................................... 25

Tabela 4.f Componentes do Bem-estar no Trabalho ........................................................ 40

Tabela 4.g Variável Bem-estar e variável dependente ........................................................ 44

Tabela 4.h Componentes da Flexibilidade tempo laboral .................................................. 47

Tabela 4.i Flexibilidade do tempo laboral e variável dependente ....................................... 50

Tabela 5.a Grupo A: N=594 ........................................................................................... 61

Tabela 5.b Grupo B: N=1025 ......................................................................................... 66

Tabela 5.c Hipótese - Redução Tempo/semana ............................................................... 69

Tabela 5.d Hipótese - Período de utilização/meses ........................................................ 70

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Índice de variáveis criadas

Variável criada 4.1 Qualidade de satisfação do tempo total com os filhos ......................... 26

Variável criada 4.2 Satisfação total de tempo com a vida privada ...................................... 29

Variável criada 4.3 Bem-estar no Trabalho ....................................................................... 39

Variável criada 4.4 Flexibilidade total de tempo laboral .................................................... 46

Variável criada 4.5 Tempo Livre ....................................................................................... 52

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Introdução

A vida social tem uma profunda influência sobre a forma como uma sociedade pensa,

como se comporta, o que faz ou a forma como deve usar o seu tempo estabelecendo os seus

limites e reestruturando-a. Nos últimos tempos, diversas mudanças têm ocorrido na

sociedade. Assiste-se a um aumento crescente de ambos os pais terem compromissos

profissionais e o tempo dedicado pelo casal à família é ainda mais acentuado pois, para além

dos filhos, com o aumento da idade média da população, o casal também garante mais apoio

aos seus pais (a denominada geração sandwich) (Neal & Hammer, 2007). Por outro lado, as

atividades académicas e científicas prolongam-se durante a idade ativa dos profissionais, e o

tempo dedicado ao lazer, atividades físicas, comunidade e socialização aumentam a um ritmo

muito elevado exigindo cada vez mais uma maior parte do dia.

No entanto, a revolução não é apenas no seio privado, mas também no mercado de

trabalho. Pois, com o desenvolvimento das novas tecnologias (telemóvel, computador,

internet) e devido ao efeito da globalização, a pressão, a competitividade e o stresse

aumentaram muito no indivíduo fazendo com que a lealdade dos profissionais seja cada vez

menor (Friedman, Christensen, & DeGroot, 1998). Ao mesmo tempo, os empregadores

acabam por exigir dos seus trabalhadores muito mais do que está nas normas e muito para

além das horas estabelecidas contratualmente.

No caso atento de Portugal verifica-se que para além da evolução percecionada no

campo da vida privada e profissional referida anteriormente, o país atravessa um ciclo

económico positivo, similar aos seus congéneres europeus, assistindo a um aumento da

oferta de trabalho superior à procura. Estas movimentações no mercado exigem às empresas

e aos gestores de recursos humanos a necessidade urgente de reavaliar e melhorar as

condições de trabalho (Chambel, Carvalho, Cesário, & Lopes, 2017).

Assim, como possível mecanismo de atração e retenção dos profissionais urge uma

modalidade de tempo de trabalho: a flexibilidade temporal dos horários de trabalho durante

um período pré-determinado e do interesse do profissional. Desta forma, partindo da

premissa que o tempo é um dos fatores decisivos para o bem-estar do indivíduo e afeta o

equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal, decidiu-se analisar a sua viabilidade e

consequências para uma maior difusão e utilização no mercado de trabalho português.

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A forma encontrada para desenvolver a investigação foi através da realização de um

questionário, cujo público-alvo foi a população ativa a residir em Portugal com mais de 18

anos com enfoque nos trabalhadores dependentes.

Como linhas orientadoras, este estudo encontra-se dividido em seis capítulos. No

primeiro capítulo foram apresentadas as relevâncias estatísticas que permitem perceber a

realidade portuguesa no momento em que o estudo foi realizado. No capítulo seguinte foi

realizado o enquadramento teórico e a apresentação das três hipóteses que serviram de

referência a todo o projeto de investigação. A terceira secção introduz e analisa a metodologia

utilizada na investigação bem como a sua estrutura e objetivos. A capítulo quatro foi

responsável pela apresentação dos dados recolhidos no inquérito e à análise do

posicionamento da modalidade de flexibilidade temporal deste estudo no mercado de

trabalho português. A unidade subsequente teve como principal objetivo analisar a hipótese

“possibilidade de redução do tempo de trabalho (com redução proporcional do salário)” e

compreender a partir de diversas análises estatísticas que segmentos da população ativa

procura este tipo de modalidade, qual o tempo de redução e período que gostariam de ter

acesso. Foram ainda analisados os pontos fortes e fracos desta hipótese tanto do ponto de

vista dos profissionais como por parte dos empregadores/ donos das empresas. O último

capítulo refere-se aos resultados da investigação.

Por fim, com base neste projeto de dissertação foi possível validar as hipóteses

apresentadas e o impacto que esta modalidade de flexibilidade de tempo teria no mercado de

trabalho português.

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Capítulo 1. Dados estatísticos relevantes

Nas últimas estatísticas anuais publicadas pela OCDE, um dos dados mais

importantes é referenciado no documento como o número médio anual de horas de trabalho

total em Portugal (no ano 2017: 1863H)1, o qual apresentou valores alarmantes,

corroborando que Portugal é um dos países em que mais horas se trabalha na OCDE (média

OCDE: ano 2017: 1759H), e apenas é ultrapassado pela Grécia, Polónia e Rússia (OCDE,

Hours worked, 2018). Estes dados têm servido como uma das principais justificações ao

facto de que Portugal não apresenta grande interesse em situações de redução temporária de

trabalho aos horários exercidos atualmente, pois os profissionais têm procurado situações

com maiores durações horárias de trabalho, sustentadas através de dados estatísticos como

a perda de peso relativa do tempo parcial em relação ao trabalho a tempo completo desde

2012 (Pordata, 2017).

Numa outra análise efetuada pela OCDE ao peso do part-time em Portugal, verifica-

se que se tem mantido estável nos últimos anos, tendo em 2017 apresentado uma taxa de

8,5%2, apresentando um claro contraste com a OCDE que tem uma média de 16,5%, ou a

Holanda onde esta prática é nitidamente difundida e que em 2017, 37.4% da população

empregada trabalhava em part-time. É também verificado, que embora se assista a um grande

peso de mulheres comparativamente aos homens a trabalhar em part-time (na OCDE, no ano

de 2017, a taxa nos homens era de 9.2% e nas mulheres de 25,5%), em Portugal, esta

diferença é relativamente pequena, a taxa de tempo parcial dos homens empregados é de

6.1% e a taxa de tempo parcial em mulheres empregadas é de 11% (OCDE, 2018).

Este panorama tem levantado diversas conjeturas, desde logo que possivelmente o

peso do tempo gasto com as outras atividades de vida e o tempo despendido com o trabalho

é relativamente homogéneo para ambos os géneros em Portugal, uma outra possibilidade

debatida é que a mulher em Portugal, devido aos salários baixos, também se vê obrigada a

trabalhar em full-time de forma a garantir um maior orçamento familiar. Por outro lado, é

também interessante verificar que embora o peso do trabalho parcial seja mais reduzido do

que nos restantes países, o mesmo já não acontece nos trabalhadores independentes, que

apesar de ter vindo a decrescer desde 2015, os valores ainda são muito elevados

1 Total de horas trabalhadas por ano dividido pelo número médio de pessoas a trabalhar. Part-time e outras formas sazonais/pontuais de trabalho também estão cobertas como full-time. 2 Emprego em part-time, refere-se aos profissionais que trabalham menos de 30 horas por semana no seu trabalho principal.

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representando em 2017, 16,5% do total da população empregada (Pordata, Trabalhador por

conta própria e por conta de outrem, 2018).

Um outro dado também verificado está relacionado com o número de

desempregados. Em 2013, devido à recessão económica, Portugal alcançou uma taxa de

desemprego de 16,5% (OECD, 2018). Nos dados mais recentes, no segundo trimestre de

2018, o valor do desemprego reduziu para 7,53% (OCDE, 2018). Esta redução a que se tem

assistido nos últimos anos em Portugal é congruente aos restantes países da União Europeia,

espelhando o ciclo económico positivo qua se atravessa, verificando-se no ano de 2017 uma

taxa de crescimento de 2.7% (Eurostat, 2018).

Um dos outros pontos que também tem interesse em analisar é o de população

inativa3 que poderá dar indícios sobre o panorama português de indivíduos que por não

conseguirem um trabalho que lhes permita conciliar com outras atividades pessoais como

estudar, cuidar dos filhos, dos idosos ou do lar, optam por fazer parte da população inativa

portuguesa. Num dos estudos publicados recentemente pela Pordata é possível verificar que

entre 2007 e 2016 assistiu-se a um aumento contínuo da população inativa em Portugal.

Marcando o ano de 2017, pela inversão desta tendência de 10 anos onde a taxa de inatividade

reduziu de 41,5%(em 2016) para 41% em 2017. Uma das outras constatações do estudo é

que o fator que mais tem contribuído para este aumento sistemático é a população

reformada, o que vem corroborar a ideia de um Portugal cada vez mais envelhecido, dado

que entre 2012 e 2017 a população reformada aumentou 7,9% em Portugal (Pordata, 2018).

Por outro lado, em 2017, a taxa de fertilidade em Portugal era de 1.37, uma das mais baixas

da Europa (Pordata, 2018). Sendo que quase 50% das famílias portuguesas opta por ter

apenas 1 filho, e menos de 10% das famílias optam por não ter qualquer filho (OECD, 2018).

De notar que tem havido esforços na aposta de medidas para contrariar esta situação por

parte do Governo Português demonstrado pelo ligeiro aumento da taxa de natalidade desde

2014 (aumento de 6,33% atingindo em 2017 uma taxa de 8,4%) (Pordata, 2018). No entanto,

esses esforços não têm sido suficientes e entre 2010 e 2017 a população portuguesa reduziu

2,74%, pois o número de idosos tem crescido a ritmos muito superiores ao número de jovens

(Pordata, 2018).

3 População inativa é composta pelo conjunto de indivíduos, com 15 ou mais anos, que num determinado período de referência não podem ser considerados economicamente ativos, não estando empregados, nem desempregados ou a cumprir serviço militar.

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Capítulo 2. Revisão de Literatura

O enquadramento teórico está dividido em cinco subcapítulos com o intuito de

melhorar a organização da literatura que servirá de apoio a toda a investigação. O primeiro

pretende explicar a evolução e a importância do fator tempo no conflito trabalho – outras

atividades de vida. O segundo subcapítulo aborda a estrutura portuguesa no âmbito da

flexibilidade de tempos laborais. O capítulo seguinte faz o enquadramento legal português,

bem como os formatos mais típicos utilizados pelos profissionais que procuram maior

flexibilidade de horários. O capítulo D sintetiza alguns dos segmentos (estruturais ou

demográficos) que poderão ter maior relevância para a investigação desta dissertação. E o

último capítulo releva considerações adicionais sobre o perfil do profissional que tem acesso

a este tipo de flexibilidades de tempo laboral.

a) Conflito Trabalho-Vida

Os primeiros estudos sobre a temática dos conflitos do trabalho-vida iniciaram-se

nos anos 80 (Goel, 2017). Em 1992, Frone focou-se sobre os conflitos entre trabalho-família

e família-trabalho. Mas foi com o modelo multidimensional de Carlson (Carlson, Kacmar, &

Williams, 2000), onde foram verificados três conflitos sobre este tema: o tempo, a

tensão/stress e atitudes/comportamentos que os estudos nesta área se tornaram populares

(Montgomery, Panagopoulou, Peeters, & Schaufeli, 2009). Com efeito, pode-se descrever os

conflitos da seguinte forma: tempo dedicado a ambas as esferas (pois se dedicar mais tempo

ao trabalho, ter-se-á menos tempo para a família, por exemplo); a tensão num dos pilares

acaba sempre por afetar também negativamente o outro (devido à sua subjetividade e lado

emocional não se consegue separar a 100% os papéis); comportamento e atitudes diferentes

nas duas esferas criam desequilíbrios nos papéis (o tipo de comportamento esperado com a

família é de apoio, amor, interajuda, e no trabalho são esperados maiores níveis de

competitividade, ambição e maior agressividade) (Dewe, O’Driscoll, & Cooper, 2010).

Ora, o conflito entre as novas exigências da vida particular e social, onde

naturalmente o tempo despendido tem tendência a aumentar e por outro as exigências e a

ambição da vida profissional, (progressão e desenvolvimento de carreira) que vão também

exigir mais horas de trabalho, irão criar no indivíduo um grave choque no equilíbrio destes

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dois pilares fundamentais para o Homem. Este conflito evidenciou diversos aspetos

negativos como a diminuição da satisfação no trabalho, na família e na vida em geral (Neal

& Hammer, 2007). Sendo o enfoque deste plano de dissertação sobre um desses conflitos: o

Tempo.

Devido à complexidade do tema e antes de avançar, convém ressalvar que embora

este estudo incida sobre a possibilidade de redução do conflito Trabalho-Vida (ou T-V)

através da flexibilização dos tempos de trabalho (fator tempo em evidência), é necessário

compreender que esta hipótese deverá ser sempre complementada com outros estudos do

mundo académico e profissional, sendo referenciado abaixo alguns dos mais importantes.

Um dos estudos mais conhecidos que pode afetar o conflito do trabalho-vida na sua

relação com a saúde e bem-estar são os modelos Job Demand-Control (JDC) (Karasek, 1979) e

o Job Demand-Control-Support (JDCS) (Johnson & Hall, 1988). O JDC foca-se nas

características do trabalho, e informa que quando estão presentes condições de trabalho mais

exigentes (maior quantidade de trabalho e esforço intelectual) e/ou menor autonomia (de

tomada de decisões) assiste-se a um menor bem-estar e a um maior stress (ansiedade,

problemas de saúde), sendo que maiores níveis de controlo podem ajudar a melhorar os

efeitos negativos. Não obstante, o modelo JDCS, mais recente, vem ainda afirmar que no

seguimento do panorama anterior, quanto maior for a ausência de suporte social, maiores

serão os resultados negativos causados no modelo JDC (Sayed, 2013).

Uma outra hipótese defendida por Friedman (1998) acredita que estas duas esferas

T-V não têm de ser contrárias, mas podem ser complementares se o indivíduo souber

balancear-se entre as duas. Vejamos como: através de atitudes como uma maior transparência

das prioridades dos negócios aos empregados e uma comunicação honesta dos interesses

reais destes à empresa; ou se os gestores e lideres reconhecerem e incentivarem a uma vida

fora do trabalho; ou ainda se os responsáveis da empresa tiverem a preocupação ativa de

buscarem sempre novas formas de melhorar o desempenho da empresa criando tempo para

as restantes atividades da vida dos seus empregados, este balanço pode trazer ganhos para os

dois lados e minimizar o conflito (Friedman, Christensen, & DeGroot, 1998).

Por outro lado, a perspetiva de OCB (organizational citizenship bahavior) por Organ

(1970) evidencia ferramentas para atenuar os conflitos de pressão no trabalho. Com efeito,

OCB é definido “como um comportamento individual que é discricionário, não reconhecido

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diretamente ou explicitamente pelo sistema formal de recompensas, e que, no conjunto,

promove o funcionamento efetivo da organização" (Bateman & Organ, 1983). Devido ao

desenvolvimento das carreiras e a uma maior ambiguidade das mesmas, Organ (1988) evoluiu

o seu modelo para cinco fatores essenciais a um comportamento OCB: altruísmo, cortesia,

consciência, civismo e desportivismo (Organ, 1988). Se o indivíduo se orientar pelos mesmos

fará com que aumente a sua produtividade, eficiência e redução de custos para a organização,

reduzindo assim os conflitos patentes no mesmo (Podsakoff, Whiting, Podsakoff, & Blume,

2009). Foi também evidenciado em diversos estudos que se a justiça percebida pelos

membros da organização for justa e com equidade os efeitos sobre o OCB serão maiores

(Rabenu, Tziner, & Sharoni, 2017). Ao mesmo tempo, ao analisar-se o nível de stress (quando

ameaça exceder as capacidades e recursos do indivíduo, ou com custos muito elevados para

o mesmo), verificam-se níveis de OCB muito elevados, com maiores riscos de stress e efeitos

negativos no equilíbrio com a vida pessoal (Bolino, Turnley, Gilstarp, & Suazo, 2010).

Mas a pressão continua a ser demasiado elevada seja pelo próprio trabalho em si

(características), seja criada pelo próprio indivíduo que tenta dar o seu máximo ao tentar

equilibrar e a alcançar o seu máximo potencial em ambas as esferas. (Chambel, Carvalho,

Cesário, & Lopes, 2017). Assim, como forma de complementar as lacunas que continuam a

persistir, pretende-se analisar se o conflito tempo (ou a falta de) é uma hipótese determinante

no conflito Trabalho-Vida, adaptado a partir do modelo de Carlson (2000).

Elaboração da 1ª Hipótese: O tempo é um fator determinante no conflito do

trabalho-vida.

Hipótese 2.a Tempo como fator determinante no conflito trabalho-vida

As seguintes hipóteses por simplificação do estudo assumirão a análise do conflito

sobre a perspetiva do tempo. Em diversos estudos mais antigos como em Frone (1992) os

termos utilizados para a separação do conflito T-V são trabalho e família, mas com as

profundas restruturações da sociedade e dado que o conflito se alargou a um campo muito

mais vasto que a família, a sua utilização não será a mais adequada para esta análise (Frone,

2003). Utilizaremos, portanto, a nomenclatura de Friedman (1998) e Dewe (2010) que

denominaram o conflito por trabalho-vida, assumindo, no entanto, que o objetivo desta

terminologia não é considerar que o trabalho pode não fazer parte da vida, pois um dos

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pressupostos básicos deste estudo é que o trabalho faz parte integral da vida em sociedade,

mas sim comparar o trabalho com toda as outras atividades da vida.

b) Enquadramento de Portugal no conflito Trabalho-Vida

Atualmente, o modelo do Homem branco de negócios (“white male career model”)

(Hewlett, 2007), pode ser equiparado à estrutura de trabalho mais comum em Portugal. Este

formato foi desenvolvido na década de 50 e 60 do século XX. Fazem parte da sua forma de

pensar, características como a divisão do trabalho entre homem e mulher (Eagly & Carli,

2008) e importância da burocracia (Bennett & Brewster, 2002). Onde há uma forte

preferência por carreiras cumulativas, fechadas/rígidas (Swiatkiewicz, 2014), e um historial

de emprego contínuo e linear (Hewlett, 2007) . Com um foco no emprego de full-time,

presença física no escritório e trabalho de 8 a 10h/dia (Bennett & Brewster, 2002). A

progressão e foco na carreira devem estar concentrados entre os 30 e 40 anos. Uma outra

assunção é que a principal motivação dos profissionais é o dinheiro (Hewlett, 2007). Embora

tenham passados muitos anos do auge deste modelo, e estejam a ser aplicadas mudanças no

sistema económico português, Portugal ainda tem uma cultura focada em trabalho de full-

time, rígida e presencial (Casaca, 2013), sendo esta cultura de “working long hours for show”

vista como um dos possíveis entraves ao desenvolvimento de novas formas de flexibilização

dos tempos de trabalho dos portugueses (Bennett & Brewster, 2002).

As principais mudanças e soluções que o mercado português tem vindo a dar à

necessidade de flexibilização e/ou redução horária laboral temporária poderão ocorrer sobre

duas perspetivas: a do indivíduo (para atenuar o conflito T-V o poder do tempo de trabalho

sobre o tempo total, e implicações da intensificação dos tempos de trabalho) ou do

empregador (pretende utilizar a flexibilidade temporal para gerir as variações das cargas de

trabalho). Em Portugal, os modelos de flexibilização mais comuns estão do lado do

empregador, sendo os bancos de horas e os horários flexíveis ao fim de semana os mais

utilizados (Casaca, 2013). Como já referido, a perspetiva a estudar será sobre o ponto de vista

do indivíduo, sendo, neste caso o trabalho em part-time ou o trabalho como independente

(juridicamente) os mecanismos de flexibilidade de tempo mais utilizados tradicionalmente

no país.

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c) Enquadramento legal Português

Por Portugal estar inserido numa sociedade democrática, a legislação e o suporte legal

poderão ser importantes como mecanismos preditores da cultura portuguesa atual. Ao

analisar a legislação portuguesa, as medidas colocadas para proteção do indivíduo são ainda

muito limitativas e não são suficientes para proteção dos trabalhadores, o que pode gerar por

parte dos profissionais ao solicitarem as mesmas, desconforto e medo perante o empregador,

fazendo com que a maioria das vezes as mesmas não avancem (Casaca, 2013). De acordo

com o Código de Trabalho (Código do Trabalho - Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro, 16ª

versão - a mais recente Retificação n.º 28/2017, de 02/10), a legalidade do estudo

apresentado pode ser feita recorrendo ao artigo 155.º nº1, onde “o trabalhador a tempo

parcial pode passar a trabalhar a tempo completo, ou o inverso, a título definitivo ou por

período determinado, mediante acordo escrito com o empregador”. E o nº 4, em que “a

passagem de trabalho a tempo completo para trabalho a tempo parcial, nos termos do nº1,

se verifique por período determinado, decorrido este, o trabalhador tem direito a retomar a

prestação de trabalho a tempo completo”, sem qualquer tipo de limite de tempo (Centro de

Estudos Judiciários, 2014). Atente ainda os artigos 156º e 54º, 55º, 56º, 57º e 58.º em relação

à proteção familiar.

Por outro lado, os mecanismos de apoio ao empregador, devido ao aumento da sua

flexibilização legal nos últimos anos quando comparada à legislação de proteção dos

indivíduos, serão possivelmente também um dos causadores da flexibilidade temporal em

Portugal ser maioritariamente utilizada em benefício dos empregadores. Algumas das ilações

retiradas relativamente aos pontos positivos da flexibilização dos tempos de trabalho dos

empregadores são: (a) o tempo de trabalho pode também ser analisado como “instrumento

para viabilizar empresas em situação de crise empresarial e assim evitar que se recorra ao

despedimento” (Lay-off), artigos 294.º a 308.º do Código de Trabalho; (b) flexibilidade de

tempo de trabalho sobretudo em situações de crise para as empresas com recorrência a

bancos de horas ou reduções temporárias dos tempos de trabalho; (c) mecanismo para

criação de emprego por via de mais pessoas estarem com horários menores e consequente

redução da taxa de desemprego; (d) aumentos de produtividade e competitividade das

empresas (Estevez, 2013).

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i. Caso específico do trabalho a tempo parcial

Do conceito de horários de trabalho e tendo em conta as delimitações temporais de

tempo de trabalho (Quéinnec, 2007), o termo trabalho a tempo parcial é ainda recente (o

início da sua regulação remonta ao ano de 1999). E é visto por parte dos profissionais como

uma das principais alternativas às necessidades de flexibilização horária. Para os devidos

efeitos deve considerar-se como definição o que se encontra presente no art.º 150 do Código

de Trabalho (Estevez, 2013). Embora a introdução do mesmo tenha servido para criar um

ambiente mais estimulante para o investimento na produtividade e na criação de emprego

(Conselho Económico e Social, 1996/1999), começaram a aparecer algumas preocupações

associadas à evolução não padronizada que tende a adaptar-se às mudanças económicas,

demográficas e sociais de forma muito mais rápida que o full-time (Chambel, Carvalho,

Cesário, & Lopes, 2017). Exigindo assim ritmos de trabalho mais intensos, especialização nas

tarefas, uma maior cadência de trabalho, um menor investimento em formação profissional

(Gonçalves, 2004) e poucas possibilidades de progressão de carreira (OECD, 1998). Sendo

que essas preocupações, hoje, quase 20 anos depois continuam a persistir sobretudo junto

dos jovens profissionais (15-24 anos) em todos os países da Europa, com especial incidência

em Portugal, Alemanha ou Espanha (Oliveira, Carvalho, & Veloso, 2011).

É também importante desmistificar um outro estereótipo: que o trabalho a part-time,

quando voluntário (e que é a parte que interessa a este estudo) não é necessariamente precário

(Lefteris Kretsos, 2016). Embora, para diversos estudos seja evidente que o conflito do

trabalho-vida seja inferior para os profissionais em part-time e até possa permitir às empresas

economizar custos e ter uma maior flexibilidade na programação dos horários dos seus

profissionais, os mesmos estudos também são congruentes com a ideia que o part-time,

quando comparado ao full-time conduz infelizmente a uma menor perceção de autonomia,

menor dedicação e envolvimento com a organização (Chambel, Carvalho, Cesário, & Lopes,

2017).

ii. Caso específico do Trabalhador independente

Uma resposta alternativa a esta falta de flexibilização horária e insatisfação com o

posto de trabalho nos part-times parece também ser dada com o aumento de empresas em

nome individual. Este mecanismo tem demonstrando nos últimos anos, que uma grande

parte dos seus profissionais optam por esta modalidade devido às limitações encontradas na

procura de emprego (por conta de outrem), na necessidade de um maior controlo dos seus

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horários ou na flexibilidade horária que precisavam para ter uma maior gestão da sua vida

pessoal e profissional (Pereira Â. M., 2009). Esta modalidade tem crescido substancialmente

em toda a Europa, principalmente nos países do Sul, e o seu crescimento poderá só não ser

maior devido às limitações dos seus direitos (nos quais se insere os acessos a melhores

cuidados de saúde no trabalho, subsídios de férias, apoios para baixas médicas, entre outros)

e dos seus deveres (como os impostos) (Pereira Â. M., 2009).

iii. Outras modalidades de flexibilidade de tempo de trabalho

Torna-se igualmente importante referir que outras modalidades de flexibilidade

laboral têm vindo a ser desenvolvidas a nível internacional, como o trabalho à distância, job-

sharing ou o teletrabalho (Silva, Santos, Brandão, Ruivo, & Lima, 2015) no entanto o seu uso

em Portugal ainda é residual. Na sequência da revisão de literatura apresentada nos dois

pontos anteriores, desenvolveu-se a 2ª hipótese que se pretende testar neste plano de

dissertação.

Elaboração da 2ª Hipótese: A cultura, as tradições e as condições de vida

portuguesas são uma limitação determinante na implementação da medida:

“possibilidade de redução dos tempos de trabalho por um período de tempo do

interesse do profissional”

Hipótese 2.b Determinantes portugueses na implementação da modalidade de flexibilidade estudada

d) Variáveis de segmentação

É indiscutível que o tempo de trabalho na sociedade portuguesa representa uma

grande parcela do tempo despendido ao longo do dia. E, embora existam algumas soluções

no mercado como o trabalho em part-time, trabalhado independente, job-sharing ou trabalho à

distância, as mesmas parecem não ser suficientes para reduzir o conflito trabalho-vida na

sociedade portuguesa. Assim torna-se crucial analisar a terceira e última hipótese deste

estudo, isto é, verificar a adesão e viabilidade da redução temporária dos horários de trabalho

aos profissionais que quisessem usufruir do mesmo, não obstante a eventual perda de

rendimentos com a redução de horário. De seguida, serão verificadas algumas das variáveis

demográficas e estruturais que poderão, de acordo com a literatura e investigações efetuadas

serem os segmentos do mercado de trabalho com maior impacto desta modalidade.

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i. Variável Género

O género, como já verificado em dados estatísticos acima indicados, a nível

internacional parece exercer um grande poder nos trabalhos a tempo parcial. Num estudo

nos Estados Unidos da América (EUA) em 2007, 2/3 das mulheres altamente qualificadas

tinham carreiras descontinuadas e não lineares (Eagly & Carli, 2008), mais de 30% das

mulheres decidiam fazer uma pausa nas suas carreiras de forma voluntária e outras 30%

procuravam uma redução de horas de trabalho e flexibilidade do mesmo (Hewlett, 2007).

No mercado português o trabalho parcial e outras formas precárias aumentaram as taxas de

emprego femininas (Casaca, 2013). As estatísticas do tempo parcial demonstram

homogeneidade entre géneros e valores percentuais muito mais baixos do que nos restantes

países da OCDE. Existe ainda uma segregação pelo tipo de trabalho associado à mulher,

tendo normalmente trabalhos menos qualificados (Novais, 2010) e menores condições que

o homem (Eagly & Carli, 2008). Mesmo para as posições de gestão e liderança onde exista

flexibilidade de tempos de trabalho, continua a existir muita discriminação de acordo com o

género (Formánková & Křížková, 2015) . Como já investigado anteriormente, o tipo de

cultura e tradições de um país parece afetar estruturalmente o conflito dos géneros entre o

TT-TFT. E embora Portugal ainda apresente um domínio do género masculino na sua

cultura, os pesos parecem estar a mudar (Chambel, Carvalho, Cesário, & Lopes, 2017). Com

essas possíveis mudanças a ocorrer torna-se essencial a procura e o desenvolvimento de

novas ferramentas que possam apoiar e dar condições à mulher que lhe permitam reduzir o

rótulo a precariedade e as menores condições de trabalho (Casaca, 2013).

ii. Variáveis Idade e Saúde

Uma das outras variáveis que tem vindo a ganhar peso dentro do TFT é a idade e a

forma como as crescentes preocupações com a saúde (corpo e mente) afetam os tempos do

trabalho. Portugal, tal como a maioria dos países desenvolvidos, tem vindo a debater-se com

um grave problema estrutural: o aumento da população envelhecida levando a um aumento

progressivo da idade da reforma. De acordo com diversos estudos internacionais, o aumento

da idade traduz-se, normalmente, em pessoas com mais problemas de saúde (Sabatier &

Legendre, 2017), levando normalmente à redução da produtividade e a aumentos das taxas

de absentismo e por essa razão a oferta de emprego (Sabatier & Legendre, 2017). Assim é de

extrema importância a necessidade de criar mais emprego com maiores flexibilidades de

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tempos de trabalho que previnam o isolamento social, combatam qualquer tipo de

descriminação, promovam igualdade de oportunidades e apoiem a inserção dos indivíduos

no mercado de trabalho, (Pagán, 2012).

iii. Variável: Trabalhador-Estudante

Como já referido anteriormente, uma das áreas onde este estudo poderia ter um

grande impacto seria como instrumento de facilitação na integração da vida académica e

profissional. Embora não existam muitos dados estatísticos nacionais, existem alguns

trabalhos já desenvolvidos em território português e outros internacionais que nos poderão

dar algumas orientações. Num desses estudos portugueses foi verificado que o tempo

despendido pelo estudante com a sua atividade profissional e deslocações entre trabalho-

residência-universidade era em média de 9H/dia, sobrando assim pouco tempo para as

restantes atividades letivas (Mendes, 2006). Verificou-se ainda que a maioria dos profissionais

trabalhavam em full-time (ao contrário de países como os EUA), evidências similares

relativamente ao número de horas trabalhadas são também verificadas em estudos brasileiros

(Comin & Barbosa, 2011). É também elucidativo que as profissões mais qualificadas e com

maior satisfação no trabalho estão nos trabalhos a full-time e a maioria dos trabalhadores a

part-time pretendem mudar de trabalho no fim do curso, ao invés da maioria dos trabalhadores

a tempo completo que pretendem continuar na mesma empresa (Mendes, 2006). Num outro

estudo americano realizado no Texas foi também possível retirar algumas informações

através de diversos testes de correlação, como o tempo de trabalho reduz o tempo de estudo

ou causa aumento de stresse e fadiga (Hawkins, Smith, & Grant, 2005). Na análise

multivariada e no estudo das suas correlações (variáveis demográficas) entre a carga horária

e os índices de GPA4, o género foi uma das variáveis com maior significância estatística

correlacionada com o GPA. A mesma indicou que em média os homens trabalham mais e

têm um aproveitamento inferior ao das mulheres. Foi também verificado que um estudante

com filhos (e um número de horas de trabalho semanal similar) tem um GPA superior a um

estudante sem filhos, possivelmente motivado por maiores responsabilidades e

compromissos familiares (Hawkins, Smith, & Grant, 2005). Num outro estudo americano

através de dados multivariados foi verificado que a intensidade do ambiente académico

(medida pelo número de horas de aulas/ estudo) tem uma forte influência negativa na taxa

4 GPA – Grade Point Average - é uma medida comum utilizada nos EUA para avaliar o potencial dos seus estudantes.

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de alunos empregados (Voloshin, 2007). Existem também estudos que indiciam que um

trabalho com duração de 20 ou mais horas tem consequências negativas como notas mais

baixas (Miller, Danner, & Staten, 2008), menor envolvimento com a universidade e maior

pressão de tempo (Furr & Elling, 2000) Verificou-se também que o tempo gasto com o

trabalho é inverso à medida que vai aumentando o grau académico e o ano curricular

(D’Alessandro & Volet, 2012). Levantando-se então questões de como é possível minimizar

o conflito do TT- TFT (que é dedicado ao tempo de estudante). Por outras palavras, como

responder às necessidades dos indivíduos que necessitam de trabalhar sobretudo por razões

económicas, mas ao mesmo tempo também querem ter tempo para estudar e para outras

atividades da sua vida privada (Swiatkiewicz, 2014).

iv. Variável Família

Tradicionalmente a família representa a maior parcela de tempo no TFT. No seio da

vida familiar, o conflito de tensão entre o balanço do trabalho e da família apresenta uma

relação positiva com o stress (Rabenu, Tziner, & Sharoni, 2017). No entanto, devido à sua

natureza estrutural e complexidade, ainda muitos estudos-soluções terão de ser

desenvolvidos nesta matéria (Goel, 2017). A mulher continua a ter a predominância do

trabalho doméstico e cuidar dos filhos (Eagly & Carli, 2008), em média mais duas horas que

os homens (Rocha & Debert-Ribeiro, 2001), tendo o homem um apoio mais de suporte e

por isso sentindo menos a tensão trabalho-família (Goel, 2017; Rabenu, et al., 2017).

Foi ainda constatado nestes estudos o aumento do peso do desemprego de longa

duração ou dos trabalhos mais precários associados aos profissionais que decidem fazer

pausas nas suas carreiras para tomar conta dos filhos, sobretudo visível a partir do segundo

filho (Novais, 2010). Num outro estudo foi constatado ainda que políticas que permitam a

flexibilidade horária (como o part-time ou trabalho a partir de casa) podem trazer grandes

benefícios à integração da vida familiar e profissional, servindo como medida de apoio à falta

de creches e maiores facilidades no retorno ao mercado de trabalho para aqueles que foram

temporariamente excluídos (Formánková & Křížková, 2015).

Por outro lado, mesmo profissionais com flexibilidade horária e que estejam em

cargos de responsabilidade e gestão continuam a ser discriminados e marginalizados no local

de trabalho (Formánková & Křížková, 2015). Assim, tendo em conta as ameaças à

sustentabilidade no médio e longo prazo da demografia portuguesa e do equilíbrio da vida

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familiar, para o equilíbrio do Homem é necessário ultrapassar estes estereótipos e apresentar

soluções que possam minimizar o conflito do TT-TFT. Desta forma, decidiu-se verificar a

validade da terceira hipótese apresentada abaixo.

Elaboração da 3ª Hipótese: “o interesse efetivo na modalidade de tempo apresentada na

hipótese 2b) é determinante para avançar com estudos adicionais para um maior suporte

e apoio na implementação/ investimento das empresas na medida.”

Hipótese 2.c Interesse efetivo dos profissionais na modalidade de flexibilidade de tempo analisada

e) Conclusões da Revisão de Literatura

Em estudos mais recentes, Chang (2010) argumentou a importância da relação entre

o trabalho e a família para o equilíbrio do trabalho no seio da vida. Por outro lado, Goel

(2017) evidencia a importância da cultura e religião de um País sobre a relação com o trabalho

profissional. Num outro estudo, também focado na cultura de domínio masculino por

Rabenu (2017) aparece uma forte relação entre stress no trabalho e o conflito do trabalho e

a família para as mulheres (que parece ser muito superior ao dos homens). Ou seja, todos

estes estudos são consistentes com a importância da cultura vivida pelo indivíduo, com o

domínio do género cultural nessa sociedade e com o impacto que poderá ter sobre o conflito

trabalho-vida.

Por último, estudos relacionados com a satisfação de trabalho sugerem que quando

os profissionais têm maior poder na seleção do horário (isto é, folgas, turnos), isto gera nos

seus profissionais uma maior satisfação e correspondente redução de absentismo (Rodrigues,

2008). Da mesma forma, a literatura também refere que os profissionais que conseguem ter

maior flexibilidade de horário são normalmente aqueles que têm melhores salários, maior

segurança, formação e progressão na carreira (Kovács & Casaca, 2008) . Acima de tudo

pretende-se com este estudo demonstrar a importância do equilíbrio de tempo na harmonia

entre o trabalho e as restantes atividades da vida pessoal. Assim, torna-se crucial realizar

estudos que possam dar novas visões e soluções alternativas às modalidades de tempos de

trabalho, surgindo assim a apresentação deste plano de dissertação.

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Capítulo 3. Metodologia

Pela inexistência de dados relevantes em Portugal relativos à matéria que se pretende

responder, achou-se que a metodologia que melhor se enquadra neste estudo experimental é

uma análise através da triangulação de dados (combinação de uma abordagem qualitativa e

quantitativa) (Patton, 1990), ou seja uma análise mista por dados seccionais (Ferreira &

Carmo, 2008). O principal meio utilizado será o inquérito por questionário aplicado a uma

amostra probabilística estratificada. Será realizada a partir de estratos demográficos

previamente identificados e que representem a população ativa, para a qual o trabalho

profissional possa ser uma realidade alcançável legalmente, a residir em Portugal, e com

idades entre os 18 e os 64 anos (Ferreira & Carmo, 2008). Os inquéritos foram difundidos

de forma eletrónica (email institucional, Linkedin e outras redes sociais). Nesta investigação

experimental, a verificação das hipóteses será realizada a partir de uma recolha rigorosa dos

dados que serão sujeitos a uma análise estatística e matemática para testar os mesmos de

forma a verificar (ou rejeitar) a sua veracidade. (Ferreira & Carmo, 2008).

O questionário, embora tenha apenas em conta a perspetiva e opinião de cada

profissional, devido ao número de questionários obtidos ser superior a 1000 (mil) num

espaço de 20 dias, optou-se por encerrar o acesso ao mesmo. Assim, foram recolhidos um

total de 1025 inquéritos, entre os dias 1 e 20 de março de 2018. Com o objetivo de não

rejeitar ou de criar enviesamentos no tipo de respostas, preferiu-se criar como barreiras

iniciais (e de conhecimento prévio dos participantes) a obrigação de fazer parte da população

ativa a residir em Portugal, com idade mínima de 18 anos, aplicando depois as respetivas

limitações que se achou pertinente, não obstante que ao longo do estudo sejam criadas outras

limitações para melhor compreensão desta medida de flexibilidade.

Como referido, este estudo está dividido em duas grandes análises. O primeiro bloco

pretendeu perceber a realidade atual e que tipo de profissionais têm acesso real nas suas

empresas à possibilidade de reduzir o tempo de trabalho de forma temporária, por sua

iniciativa. O segundo bloco quis compreender que tipo de profissionais utilizaria esta medida

de flexibilidade e de que forma. Após as duas análises foram discutidos os resultados obtidos

e apresentadas as conclusões deste projeto.

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Capítulo 4. Dados estatísticos sobre a

flexibilidade de tempo atual dos inquiridos no

mercado de trabalho

a) Enquadramento

Esta secção pretende primeiramente analisar a amostra central desta investigação

(doravante denominada N=594). Paralelamente também tentará perceber, através da relação

com uma variável específica (denominada variável dependente) que tipo de profissionais,

têm, em média, maior acesso a este tipo de flexibilidade. Neste capítulo será ainda realizada

uma abordagem qualitativa do equilíbrio vida-trabalho entre os profissionais que detêm

atualmente possibilidade de recorrer a este tipo de flexibilidade de tempo laboral e os que

não têm. E o último subcapítulo abordará também a variável equilíbrio trabalho-vida com a

perspetiva de perceber as diferenças de tempo-livre entre os profissionais com flexibilidade

de redução do seu tempo de trabalho daqueles que não têm a possibilidade.

Assim, por convenção e numa tentativa de trazer resultados com maior qualidade,

decidiu-se selecionar uma amostra principal mais homogénea para desenvolver todas as

análises ao longo deste capítulo. Uma das limitações aplicadas foi estudar apenas os

profissionais com um contrato de trabalho por conta de outrem no mercado de trabalho

(sendo excluídos da amostra principal os desempregados, estudantes, trabalhadores por

conta própria e empresários ou profissionais com cargos de direção). A principal razão desta

medida foi a tentativa de criar uma amostra principal mais concentrada na forma contratual

onde se encontram a maioria dos profissionais em Portugal e também onde possivelmente

será mais difícil a obtenção deste tipo de flexibilidade por iniciativa do trabalhador. A outra

limitação criada posteriormente foi a da idade, elevando a idade mínima para 25 anos. O

objetivo foi tentar alcançar uma amostra da população empregada de forma estável, e dado

que a entrada dos jovens é realizada cada vez mais tarde (devido por exemplo ao

prolongamento dos estudos académicos) e, na maioria das vezes, os primeiros anos

apresentam grande instabilidade no mercado de trabalho, optou-se por aplicar também esta

limitação. Assim os dados serão trabalhados numa amostra total válida com 594 respostas

que correspondem aos parâmetros supracitados.

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A variável dependente do estudo será “Qual o comportamento da empresa para

consigo relativamente a: possibilidade de redução dos tempos de trabalho por um período

de tempo do interesse do profissional”. As respostas variaram numa escala de 1 a 4, sendo o

nível 1 adequável para todos os profissionais em que esta situação não se aplicava, o nível 2

para quando existindo alguma possibilidade de redução dos tempos de trabalho esta

acontecia a um nível muito medíocre (mau), o nível 3 foi selecionado quando o profissional

considerasse que a empresa fornecia esta modalidade de flexibilidade de forma suficiente, e

o nível 4 para quando os profissionais concordavam que a empresa dava boas possibilidades

de flexibilidade de redução do tempo laboral com caráter temporário. Esta pergunta foi

obrigatória para todo o universo estudado. E será analisada tanto numa perspetiva da vida

privada como do ponto de vista profissional.

b) Análise às variáveis demográficas

i. Género

Das 594 respostas válidas, 299 são do género feminino e 295 do género masculino.

Dado que a amostra apresenta valores percentuais relativamente homogéneos por género,

não será realizada nenhuma adaptação dos dados. Num segundo momento, na relação dos

dados estruturais referidos com a variável dependente apurou-se que a mulher tem tendência

a ter menor flexibilidade temporal laboral que o homem. O valor médio5 da mulher foi de

1,826 e do homem foi de 2,03.

ii. Idade

Por outro lado, foram também observadas nas idades dos participantes, que 58,9%

têm entre os 25 e 34 anos, 30,5% entre os 35 e 44 anos, e 10,6% têm idades superiores ou

iguais a 45 anos. Estas diferenças devem-se sobretudo aos meios utilizados na recolha de

respostas unicamente por via web, exigindo o uso de aparelhos eletrónicos, acesso à internet

e conta nas redes sociais referidas acima, ou seja, o publico alcançado foi nitidamente com

níveis de escolaridade relevantes (superior ou igual ao 12.ºano) e/ou com bons

5 A medida estatística utilizada será a média aparada a 5%, que consiste na média de um valor corrigida

pela eliminação dos dados extremos ou outliers (2,5% dos valores maiores e 2,5% dos menores). 6 Os valores apresentados variarão numa escala entre 1 e 4. De tal modo que quanto mais próximo de 1 o

valor for, maior é o nível de inflexibilidade média. Neste caso, o valor da mulher por estar mais próximo

de 1, que o do homem, apresenta maiores níveis de inflexibilidade

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conhecimentos tecnológicos (tendência para públicos mais jovens), o que tem a ver com a

forma de distribuição dos inquéritos. Desta forma, para limitar os enviesamentos nas análises

ao longo de todo o estudo e minimizar o erro, os testes serão analisados a partir do ponto de

vista de diversas variáveis como o género, idade ou escolaridade.

Verificou-se também que foi entre os 35 e os 44 anos que, em média, os profissionais

têm trabalhos com maiores níveis de possibilidade de flexibilidade de tempo (sobretudo para

os profissionais que têm filhos e que residem com o conjugue). Mas se as diferenças entre

homem e mulher forem analisadas com maior detalhe os resultados são bastante

dissemelhantes. De tal forma que enquanto que a idade onde a mulher teve acesso a maior

flexibilidade de tempo de trabalho foi entre os 35 e 44 anos (1,988), o homem foi quando

atingiu uma idade igual ou superior a 45 anos (2,132). Em sentido oposto, a mulher enfrentou

maiores dificuldades de flexibilidade de tempo laboral a partir dos seus 45 anos (1,6),

enquanto que o homem apresentou o seu valor médio mais baixo entre os 35 e 44 anos

(2,04). Pode-se ainda realçar, que entre os 35 e 44 anos houve uma convergência das

flexibilidades de ambos os géneros, possivelmente explicado em parte nas razões de estrutura

familiar que irão ser abordadas mais abaixo. Convém ainda fazer uma leitura crítica aos dados

até agora analisados (género e idade), testemunhando-se a posição clara de inferioridade

(independentemente da idade) com que a sociedade em Portugal ainda trata a mulher

relativamente ao homem no acesso a trabalhos com possibilidades de redução temporal do

horário de trabalho. Figurando-se, como indicado na figura abaixo que, o pico máximo

médio de flexibilidade da mulher foi inferior ao valor mínimo médio observado no homem

(cf. Figura 4.1).

Figura 4.1dade e variável dependente

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Importa ainda referir que dados similares de género também se obtiveram nas médias

relativamente às outras duas variáveis de flexibilidade de alteração dos tempos de trabalho

também analisadas no estudo “Possibilidade de passar de full-time para part-time ou vice-

versa” (género feminino foi de 1,63 e no género masculino de 1,76) e “Possibilidade de

acumular horas de trabalho e depois usar o banco de horas no interesse do profissional” (a

mulher obteve 2,08 de média e o homem 2,11), onde a mulher sempre demonstrou uma

posição de trabalhos com maior inflexibilidade de tempo.

iii. Escolaridade

Similares discrepâncias à idade foram também sentidas na recolha de dados sobre a

escolaridade, onde se verificou uma concentração dos profissionais com mestrado (45,5%) e

licenciatura (34,7%). Seguindo-se os valores para os profissionais que completaram o 12ºano

(16%), com escolaridade igual ou inferior ao 9ºano (3,2%) e por último com doutoramento

(0,7%). Estes níveis de escolaridade não refletem corretamente o panorama português, como

referência poderemos utilizar as estatísticas da Pordata7 que no ano de 2017 contabilizavam

46% da população ativa portuguesa com um nível de escolaridade igual ou inferior ao 9ºano,

28% com 12ºano completo e apenas 26% com ensino superior terminado. Por isso,

igualmente conforme enunciado no ponto anterior (idade), estes dados serão sempre

analisados com alguma cautela e na perspetiva de outras variáveis (como o género) para maior

segurança e credibilidade da informação.

Foi demonstrado que com o aumento contínuo da escolaridade, a mulher consegue,

em média, empregos com maiores flexibilidades de tempo de trabalho (exceção da zona sul

de Portugal, analisada de seguida). No caso do homem, não se verificam alterações

significativas, embora, para o homem com 45 anos ou mais, tenha-se assistido a um salto

positivo na flexibilidade de tempo entre os que tinham o 9.ºano ou inferior ou os que tinham

o 12.ºano ou superior. No entanto, verificou-se que independentemente da idade e género,

7 Dados retirados de https://www.pordata.pt/Europa/Popula%C3%A7%C3%A3o+activa++dos+15+aos+64+anos+total+e+por+n%C3%ADvel+de+escolaridade+completo+mais+elevado-1592 a 14 de Julho2018

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em média os profissionais com maiores flexibilidades no emprego demonstram ser aqueles

com o doutoramento já concluído. (cf. figura 4.2).

Figura 4.2 Nível de escolaridade e variável dependente

iv. Área Geográfica

Ao analisar a área geográfica onde os participantes residem, constatou-se que 35,2%

são da grande área do Porto, 29% residiam na grande área de Lisboa, 19% viviam no norte

de Portugal (excetuando grande área metropolitana do Porto), 12,1% habitavam no centro

de Portugal, 3,5% residem no sul de Portugal e 1,2% nos arquipélagos da Madeira e dos

Açores.

Sendo que a zona sul de Portugal demonstrou os melhores resultados de flexibilidade

de tempo de trabalho a nível nacional para ambos os géneros8. No entanto os profissionais

com este tipo de flexibilidade têm em média níveis de escolaridade relativamente baixos (12.º

ano completo). Verificando-se, que nesta zona do País, contrariamente a todo o restante

território nacional, os profissionais com mestrado ou doutoramento concluídos têm

empregos com menores possibilidades de flexibilidade de tempo. Esta situação poderá estar

associada ao tipo de trabalho mais comum no Sul, que por tradição tem um grande foco na

área da hotelaria, restauração e turismo (áreas de trabalho que normalmente não necessitam

de grande especialização ou escolaridade elevada e estão associadas a maiores flexibilidades

8 De notar que embora o género feminino tenha demonstrado no quadro acima melhores níveis de flexibilidade que o Sul, devido ao número reduzido de inquéritos recebidos das ilhas, não incluiremos as ilhas na análise de forma a não criar enviesamentos.

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de tempo laboral). No restante país, os níveis verificados foram relativamente homogéneos,

não evidenciando nenhum outro dado relevante (cf. Figura 4.3)

Figura 4.3 Área geográfica e variável dependente

c) Análise às variáveis da vida privada

i. Estrutura Familiar

No que concerne à estrutura familiar, um dos resultados mais relevantes foi a

constatação das estruturas familiares dos participantes (com a mesma residência) que foram

bastante reduzidas. Com efeito, apenas 2,9% tinham um agregado com três gerações (avós,

pais, filhos). Por outro lado, 18,7% dos indivíduos residia sozinho; 30% morava apenas com

o conjugue; 24,7% vivia com o conjugue e os filhos; 11,6% habitava com os pais; 6,9% com

os pais e irmãos; 2,9% são pais ou mães solteiros e vivem apenas com os filhos; 0,8% vivia

apenas com os irmãos e 1.5% estão noutras situações.

Abaixo são apresentadas ainda duas tabelas que foram construídas no decorrer de

diversos testes realizados, tendo sempre como foco principal a variável dependente deste

estudo em relação à estrutura familiar, género e idade. As relações com a escolaridade e a

área geográfica não são apresentadas nos quadros pois obtiveram-se dados relativamente

constantes nessas duas variáveis.

Desta forma, ao realizar testes entre as diversas variáveis, foi verificado que nas

famílias em que os pais fazem parte do mesmo agregado da mulher participante do inquérito,

foram sentidas fortes inflexibilidades de tempo (independentemente da idade), atingindo o

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valor mínimo quando a profissional tem mais de 44 anos (1,333) (cf. Tabela 4.a). Embora

esta afirmação, não seja tão expressiva para o homem, foi também nesta variável (viver com

os pais) que o homem atingiu o seu mínimo (1,745), mas neste caso quando apresenta idades

entre os 25 e os 34 anos. Para os profissionais (homens) que residiam sozinhos, a presença

de trabalhos com possibilidades de maior flexibilidade de tempo de trabalho, apresentou o

valor médio de 2,386, sendo ainda mais intensa nos profissionais homens que viviam

sozinhos com idades entre os 35 e os 44 anos em que atinge o pico máximo de 2,615 (cf.

Tabela 4.a).

A existência de filhos no agregado para as mulheres profissionais parece demonstrar

grande influência na procura por trabalhos com maiores flexibilidades, atingindo os maiores

valores de flexibilidade quando fazem parte do agregado da mulher o conjugue e os filhos

(em todas as faixas etárias), e o seu máximo (2,125) entre as idades dos 25 e 34 anos (cf.

Tabela 4.b). Apesar da inflexibilidade apresentada para as mães solteiras (com mais de 45

anos), dado o número de casos ser reduzido, o mesmo deve ser analisado com cautela. No

invés, verificou-se que para o homem, contrariamente à mulher, a presença de um conjugue

e/ou filhos acarreta em média trabalhos com maior inflexibilidade laboral, sobretudo após

os 35 anos (os limites extremos variaram entre 1,873 e 1,92). A exceção é apenas sentida para

quando o homem é pai solteiro que apresentou níveis de flexibilidade superiores a 2,

demonstrando ainda numa lógica comparativa que em média o homem (pai solteiro) é muito

mais sensível a ter trabalhos com flexibilidade de tempo laboral que a mulher (cf. Figura 4.4).

Valores

Médios

Homem

Sozinho Conjugue

e outros

familiares

Conjugue

apenas

Filhos e

outros

familiares

Filhos

apenas*

Conjugue

e filhos

Pais e

outros

familiares

Irmãos e

outros

familiares*

3Gerações

(vertical)*

[25-34] 2,297 2,212 2,16 2,533 2 2,571 1,745 1,619 2

[35-44] 2,615 1,873 1,828 1,92 4 1,878 2,571 2,5 --

[45-65] 2,297 1,92 2 2,043 2,6 1,878 2,5 4 2

Tabela 4.a Estrutura familiar e variável dependente - Homem

Valores

Médios

Mulher

Sozinho Conjugue

e outros

familiares

Conjugue

apenas

Filhos e

outros

familiares

Filhos

apenas*

Conjugue

e filhos

Pais e

outros

familiares

Irmãos e

outros

familiares*

3Gerações

(vertical)*

[25-34] 1,774 1,979 1,973 2,111 2 2,125 1,769 1,939 1,75

[35-44] 2,059 2 1,636 2,059 2 2,093 1,6 --- 1,667

[45-65] 2 1,643 1,5 1,429 1 1,667 1,333 --- 1

Tabela 4.b Estrutura familiar e variável dependente - Mulher

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*Nº casos reduzidos por isso os dados deves ser analisados com cautela.

Figura 4.4Pais/Mães solteiros e variável dependente

ii. Análise em detalhe ao número de filhos

Numa análise em maior detalhe ao número de filhos, foi verificado que 32,2% dos

participantes tem filhos dependentes (cf. Tabela 4.d). Sendo que 53,9% tinham apenas 1

filho; 37,2% tinham 2 filhos e 8,9% tinham 3 filhos ou mais9 (cf. figura 4.5). Dos participantes

com apenas 1 filho, verificou-se que em 41,7% dos casos o filho tem idade igual ou inferior

a 5 anos. E em 34% os filhos tinham idades compreendidas entre os 6 e os 12 anos.

Relativamente aos inquiridos com 2 filhos dependentes constatou-se que em 23,9% dos

casos os dois filhos comportavam idades inferiores ou iguais a 5 anos, verificando-se ainda

que em 69% dos casos a idade de ambos os filhos era inferior a 13 anos. Demonstrando

assim que a nossa amostra está concentrada em pais/mães com filhos muito jovens (até aos

12 anos) (cf. Tabela 4.e).

No seguimento do quadro abaixo foi também apurado que, em média, com o

aumento do número de filhos, o homem foi quem teve trabalhos com maiores flexibilidades

de redução horária (ao contrário da mulher). Ao mesmo tempo foi também percetível que

9 Das 1025 respostas recebidas ao inquérito, apenas 2 delas indicavam que o profissional tinha 4 filhos e apenas em um dos casos, o profissional tinha 5 filhos. Devido ao número ser extremamente reduzido e de forma a não enviesar as análises, foi adaptado o campo de 3 filhos para 3 filhos ou mais e incluídos no mesmo estas três respostas.

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durante as idades dos filhos até aos 12 anos, o valor da flexibilidade tanto do homem como

da mulher convergiram para uma média similar (próxima de 2) (cf. Tabela 4.c).

Figura 4.5 Número filhos e variável dependente

Idades dos

filhos / Género

[0-5] anos [6-12] anos [13-18] anos [18-25] anos [>25] anos*

Homem 1,98 2,89 2,292 1,842 ---

Mulher 2 2 1,889 1,727 1,25

Tabela 4.c Idades dos filhos e variável dependente

*Nº casos reduzidos por isso deve ser analisado com cautela

Tem filhos? Sim (%)

[25-34] anos 10,28%

[35-44] anos 62,43%

>= 45 anos 66,6%

Tabela 4.d Filhos por faixa etária

Idades/ Filhos [0-5] anos [6-12] anos [13-18] anos [18-25] anos >25 anos

[25-34] anos 36% 9,2% 4,8% - -

[35-44] anos 61,8% 75,9% 47,6% 26,7% -

>= 45 anos 2,2% 14,9% 47,6% 73,3% 100%

Totais unitários 89 87 42 30 4

Tabela 4.e Idade dos filhos por idade do trabalhador

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No questionário decidiu-se ainda perceber a qualidade e o tempo médio de tempo

que os pais passam com os seus filhos por dia. A média do tempo dedicado por dia aos filhos

foi de 2,102 horas. Não foram demonstradas evidências significativas entre o tempo médio

passado com os filhos e a presença de trabalhos com flexibilidade de redução dos tempos de

trabalho (efetuados testes ao nível da correlação bivariável, graus de significância entre as

variáveis e evolução das médias aparadas a 5%).

Por outro lado ao avaliar o grau da qualidade de tempo passado com os filhos

verificou-se que 56% sentem-se insatisfeitos com o tempo dedicado a atividades fora dos

espaços habituais (fora de casa) com os filhos como em parques, festas ou viagens; 50,3%

dos pais sentem-se insatisfeitos com o tempo passado em atividades desportivas, físicas ou

outras brincadeiras; 38,7% estão insatisfeitos com o tempo dedicado ao apoio aos estudos

ou projetos escolares dos filhos; 27,7% estão descontentes com o período de tempo passado

em atividades na área tecnológica (redes sociais, videojogos, internet) e 23% sentem-se

insatisfeitos com o tempo dedicado a tarefas domésticas (cuidados de higiene, vestir, deitar

para dormir). Foi ainda criada uma nova variável denominada Qualidade de satisfação total com

os filhos que varia entre 5 e 15, sendo 5 equivalente ao máximo de insatisfação e 15 o máximo

de satisfação (cf. Variável criada 4.1).

Qualidade de satisfação

total com os filhos =

Apoio aos estudos + Tarefas domésticas + Atividades

desportivas + Tecnologias/Internet + Festas/viagens

Variável criada 4.1 - Qualidade de satisfação do tempo total com os filhos

Onde se verificou que em média, com o aumento do número de filhos, assistiu-se a

um aumento de insatisfação dos pais com o tempo dedicado aos filhos, não obstante, que

para a mulher, do 2º para o 3º filho, o nível de satisfação aumenta (cf. Figura 4.6).

Figura 4.6 Número de filhos e grau satisfação do tempo com os filhos

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Por último, ainda relativamente a este ponto dos filhos, nenhuma das 15 variáveis

relacionadas com os tempos dedicados aos filhos (em termos quantitativo ou qualitativo)

mostraram relevância ou um nível de significância relevante com a variável dependente. No

entanto numa análise separada por género, foi evidenciada uma relação para o pai(homem)

entre o parâmetro número de filhos e a variável dependente (correlação não paramétrica de

0,211 com significância no nível 0,05 (2 extremidades)). Para a mulher não foram observadas

variáveis com evidência relevante. Embora a variável mais próxima de obter relevância foi a

satisfação do tempo passado em atividades desportivas ou brincadeiras com os filhos que

demonstrou uma evolução negativa de flexibilidade com o aumento da satisfação.

d) Variável bem-estar da vida privada

Para além do tempo gasto com os filhos, iremos também analisar algumas das

variáveis onde possivelmente o profissional também investe uma grande parte do seu tempo.

Relativamente às variáveis tempo gasto com as refeições/ alimentação (média de 1,02h);

tempo utilizado para as tarefas domésticas como os cuidados de higiene ou limpeza da casa

(o tempo médio diário foi de 1,08h); transportes/estacionamento (tempo médio diário foi

de 0,9h) ou com o tempo dedicado ao sono/descanso (o valor médio diário foi de 6,87h)

não foram verificados níveis de correlação significativos10 (inferiores a 0,1) com a variável

dependente deste estudo.

Por outro lado, na análise qualitativa ao tempo livre, os parâmetros considerados

foram avaliados entre 1 e 3, sendo 1 o limite máximo de insatisfação, 2 o nível de satisfação

mínima suficiente e 3 o nível máximo de satisfação. O único parâmetro a ter um valor igual

ou superior a 2 (e por isso nível de satisfação suficiente) foi (a1) o tempo gasto com as redes

sociais, internet e jogos online (média de 2,16); (a2) o tempo gasto em shoppings, compras

também esteve extremamente próximo (média de 1,99). Seguiu-se por ordem decrescente de

satisfação para (a3) tempo gasto com animais, reciclagens, preocupações ambientas (1,81),

(a4) convívio com a família (1,75), (a5) sono/ relaxamento (1,72), (a6) convívio com os

10 Os testes de correlação são medidas indicativas do grau de relação/dependência de 2 variáveis, não obstante devem ser sempre realizados outros testes para melhor garantia das relações dos dados, dado que estes são apenas um indicativo. Neste caso, foram aplicados testes de correlação paramétricos, o coeficiente de Pearson, onde os valores podem variar entre -1 e 1. Estamos na presença de uma correlação perfeita positiva quando a mesma é igual a 1e correlação perfeita negativa quando igual a -1. Quando o coeficiente é 0 (zero) não existe nenhum tipo de correlação linear entre as variáveis. Neste caso, o valor situou-se entre 0 e 0,1, não demonstrando nenhum tipo de significância relevante.

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amigos (1,64), (a7) leitura/ autodidatismo (1,56), (a8) atividade física (1,57), (a9)

voluntariado/ comunidade/ religião (1,53) e por último as (a10) viagens/ festas/ artes (1,49).

Na relação com a variável possibilidade de redução temporal do tempo de trabalho verificou-

se que em testes de correlação paramétricos, os critérios sono/ descanso e leitura/

autodidatismo obtiveram correlações ligeiramente significativas no nível de 0,01 (2

extremidades), correspondendo os seus valores a 0,124 e 0,119 respetivamente. Nos testes

de correlação não paramétricos11 (Rô de Spearman) não foram obtidas correlações

significativas ao nível de 0,01, sendo que a satisfação do tempo dedicado ao sono/descanso

obteve o maior valor de correlação (0,1). O que nos permite constatar que embora o número

de horas dormidas (quantidade) não tenha demonstrado qualquer tipo de relação com a

variável dependente deste estudo, a qualidade do tempo de descanso demonstrou ser a

variável da vida privada com maior nível de significância média para ambos os géneros (cf.

Figura 4.7). No entanto, se realizada uma análise dividida por género, verifica-se que para o

homem a variável com maior relevância foi o nível de satisfação com o tempo dedicado à

família (correlação não paramétrica de 1,8, e correlação paramétrica de 0,209) (cf. Figura 4.8).

Para a mulher mais uma vez nenhuma das variáveis demonstrou uma correlação significativa,

não obstante que a satisfação do tempo dedicado ao sono na mulher obteve também os

valores mais relevantes (correlação não paramétrica de 0.90 e paramétrica de 0,112).

Figura 4.7 Qualidade do sono e variável dependente

11 Testes não paramétricos, são um outro tipo de testes de correlação e são interessantes quando aplicados a amostras que não seguem a distribuição normal (teste t ou testes paramétricos).

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Figura 4.8 Qualidade tempo família e variável dependente – Homem

Foi ainda criada uma nova variável denominada Bem-estar privado que varia entre 10 e

30 pontos, sendo 10 equivalente ao máximo de insatisfação e 30 o máximo de satisfação (cf.

Variável criada 4.2). Nos testes de correlação (não paramétricos) entre a satisfação total do

tempo dedicado aos filhos (cf. Variável criada 4.1) e a bem-estar privado atingiu-se um valor

excecionalmente elevado de 0,651 (correlação muito forte) demonstrando que em média com

o aumento da satisfação do tempo dedicado aos filhos, aumenta o bem-estar do indivíduo

(cf. Figura 4.9). Torna-se ainda importante referir que das 10 variáveis que compõem o bem-

estar privado, foi o convívio com a família que obteve os melhores níveis de correlação 12(de

0,405) e testes qualitativos, demonstrando que a família aparece como a principal variável

que afeta o bem-estar privado. De tal modo que quanto maior for a satisfação com o tempo

dedicado à família, maior será o bem-estar do indivíduo.

Bem-estar privado = a1 + a2 + a3 + a4 + a5 + a6 + a7 + a8 + a9 + a10

Variável criada 4.2Satisfação total de tempo com a vida privada

12 Não foram realizados testes paramétricos pois as variáveis não seguem uma distribuição normal

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Figura 4.9 Satisfação total dos filhos e bem-estar privado

e) Análise do tempo no conflito trabalho-vida na perspetiva da vida privada

Relativamente à vida privada foi solicitado aos participantes que autoavaliassem

qualitativamente o tempo que dedicam ao seio privado, sendo verificado que apenas 34,17%

acredita ter o tempo adequado para ficar satisfeito com a sua vida privada. Destaca-se ainda

que dos 65,83% dos profissionais que gostariam de ter mais tempo, 56,26% desses afirmou

que não consegue ter esse maior equilíbrio porque o tipo de trabalho que tem não o permite,

enquanto que as razões financeiras aparecem apenas em 2º lugar (29,66%) (cf. Figura 4.10).

Figura 4.10 Avaliação qualitativa do tempo dedicado à vida privada

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Ao analisar a qualidade do tempo dedicada à vida privada, verifica-se também que

esta apresenta uma correlação forte com o bem-estar privado (teste não paramétrico13 de -

0,447). Assim conclui-se que o tempo tem uma grande influência no bem-estar da vida

privada (ou satisfação total da vida privada), de tal modo que com a redução do tempo

dedicado à vida privada leva a uma forte redução do bem-estar com a vida privada (cf. Figura

4.11).

Figura 4.11Tempo da vida privada e Total bem-estar privado

f) Análise à vida de estudante (Trabalhador-estudante)

No estudo realizado obtiveram-se 35 respostas de trabalhadores-estudantes,

verificando-se que 31,9% tinham uma carga horária inferior a 10 horas semanais, 42,9% tem

uma carga horária semanal entre 10h e as 20h e 25,7% superior a 20 horas semanais. Nos

regimes de aulas constatou-se que 82,8% têm um regime de aulas noturno (após as 18 horas)

ou ao fim de semana. O tempo dedicado ao estudo semanalmente para 85% dos profissionais

é inferior a 10 horas por semana. Verificando-se ainda que em média com o aumento da

carga semanal maior é a probabilidade de ter aulas num regime diurno (correlação

significativa de -0.433 – teste não paramétrico). Nenhuma das variáveis analisadas

demonstrou relação significativa com a possibilidade de redução do tempo de trabalho. Não

obstante, foi verificado, que em média um trabalhador-estudante, independentemente do

13 Não foram realizados testes paramétricos pois as variáveis não seguem uma distribuição normal

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género (feminino e masculino) tem empregos com maiores possibilidades de redução

temporal do horário de trabalho (o valor médio dos profissionais que não estudam é de 1,968,

enquanto que para os trabalhadores que estudam o valor médio é de 2,2). Por último, como

se verifica no quadro abaixo, o género masculino parece ser mais sensível do que a mulher

na aquisição de empregos com maior flexibilidade de tempo laboral enquanto estuda tendo

um aumento de flexibilidade médio de 0,263 pontos (cf. Figura 4.12).

Figura 4.12Trabalhador estudante VS Trabalhador e variável dependente

g) Análise e enquadramento do ambiente de trabalho

Este foi o tópico que teve maior número de questões, pois partiu-se da premissa que

seria nesta área que se esperaria encontrar os dados mais relevantes na relação com a

possibilidade de redução dos horários de trabalho de forma temporária.

i. Forma contratual

No enquadramento do tipo de contrato de trabalho foi verificado que dos 594 casos

válidos analisados (profissionais apenas com contratos por conta de outrem, e com uma

posição hierárquica pertencente ao nível operacional, quadros médios/especializados ou com

responsabilidade por equipa/coordenação/gestor), 19,7% praticavam trabalho informal

(sem descontos ou contrato legal), verificando-se ainda que 63,25% destes trabalhavam

menos de 10h semanais nestes termos. Por outro lado, também se apurou que apenas 0,8%

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do total dos profissionais não tinha qualquer tipo de contrato legal de trabalho, evidenciando-

se que embora ainda exista muito trabalho não declarado, na amostra obtida, a maioria dos

profissionais que recorre a trabalho não declarado mantém paralelamente um outro trabalho

com contrato legal. Verificou-se ainda que são os profissionais com contratos de trabalho

legal entre as 35 e as 39 horas semanais que menos recorrem a trabalho informal (6,9%

informaram praticar trabalho informal regularmente). No outro extremo, encontram-se os

trabalhadores com contratos entre as 25 e as 34 horas semanais, onde quase metade mantém

paralelamente trabalho sem proteção legal (46,7%, têm para além de um contrato de trabalho

legal, trabalhos sem descontos).

ii. Descanso/Folgas

O número médio de folgas semanais são duas, sobretudo para os profissionais entre

as 35 e 40 horas semanais (88,9% dos profissionais têm contratos com esta duração). Ao

mesmo tempo também se verifica que, em média, com a redução de horas de trabalho

semanal, o tempo médio de folgas aumenta (correlação -0.192) sobretudo a partir do

momento em que o profissional já goza de uma folga (cf. Figura 4.13).

Figura 4.13 Número folgas e total de horas de trabalho por semana

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iii. Horas trabalhadas/dia

Foi também inquirido aos participantes o número médio de horas trabalhadas por

dia, onde se verificou uma correlação forte com o número de horas por semana trabalhadas

(0,442), de tal modo, que em média, com o aumento do número de horas de trabalho por

dia, aumenta o número de horas trabalhadas por semana (cf. Figura 4.14). Esta correlação é

ainda mais acentuada para os profissionais que têm contrato legal de trabalho. No invés, não

se registou nenhum tipo de relação entre o número de folgas e o número de horas de trabalho

por dia (apesar de existir uma boa correlação entre o número de folgas e o total de horas

trabalhadas semanalmente, o mesmo já não se aconteceu com o número de horas diárias).

Foi ainda verificado que 8,6% dos profissionais trabalha menos de 8 horas por dia, 58,8%

trabalha 8 horas por dia e 32,7% trabalha 9 horas ou mais diariamente. Numa outra

perspetiva constatou-se que 15,3% dos participantes trabalha menos de 40 horas semanais,

54,2% trabalha 40 horas por semana e 30,5% trabalha mais de 40 horas semanalmente14.

Figura 4.14 Número de horas trabalhadas diárias VS Número horas semanais

iv. Horas para além do estipulado contratualmente

No seguimento da análise das horas trabalhadas foi ainda analisado o número de

horas que os funcionários trabalham para além do horário estipulado (entenda-se para além

das horas contratualmente pagas). Foi verificado que apenas 29,3% cumprem os seus

horários de trabalho e não ficam para além do previsto no contrato; 47,3% trabalham entre

1 e 5 horas semanais a mais (sem contrapartidas); 17,8% trabalham entre 6 a 10 horas

semanais (sem contrapartidas); e por último, 5,6% trabalham mais de 10 horas a mais

14 O total de horas semanal tem em conta o número de horas protegidas por contrato legal, as horas

informais e as horas para além do estipulado (não remuneradas e analisadas no ponto seguinte – iv).

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35

semanalmente sem contrapartidas. Foram sentidas fortes correlações (não paramétricas) da

variável “horários realizados para além e não previstos no contrato de trabalho” com o

número total de horas trabalhadas por semana (0,208) (cf. Figura 4.15) e com o número de

horas trabalhadas por dia (0,305) (cf. Figura 4.16).

Figura 4.15 Horas não remuneradas e horas totais de trabalho remunerado semanalmente

Figura 4.16 Horas não remuneradas e horas diárias de trabalho remunerado

v. Posição hierárquica

A variável posição hierárquica também foi analisada neste estudo e teve como

principal objetivo tornar a amostra deste estudo experimental mais homogénea (supressão

no estudo dos profissionais com cargos na direção ou quadros superiores, donos de empresas

ou similares e dos trabalhadores por conta própria/ empreendedores). De tal modo, que

após a atualização das limitações, na amostra final válida estão apenas incluídos os

trabalhadores operacionais (25,4%), os quadros técnicos médios/ especializados (46,1%), e

os responsáveis por equipa/ coordenador/gestor (28,5%). Na relação com a variável

dependente verificou-se, em média, um aumento da modalidade de flexibilidade de tempo

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com o aumento da posição hierárquica para ambos os géneros. Nos testes correlacionais o

valor dos testes não paramétricos foi 0,112 que embora não seja uma correlação forte foi

uma das variáveis que demonstrou maior relevância (cf. Figura 4.17).

Figura 4.17 Posição Hierárquica e variável dependente

vi. Setor da atividade profissional

O setor da atividade profissional também foi solicitado aos participantes de modo a

averiguar a diversidade de respostas dos profissionais, ressalvando que embora se tenha

tentado enviar o questionário para um número de profissionais relevante de cada área,

existiram setores de atividade profissional com um maior grau de participação que outros.

Por outro lado, também se verificou que alguns dos setores perderam expressividade

relevante aquando da supressão dos profissionais liberais/independentes/recibos verdes da

amostra estudada (bastante típicas em alguns setores). Desta forma, da amostra final

analisada, tivemos profissionais das seguintes áreas; Atividades desportivas e recreativas

(0,2%); Pesca, agricultura e similares (0,3%); atividade imobiliária (0,7%); Higiene/ Segurança

e qualidade (1,5%); Serviços públicos (1,9%); construção (1,9%); Publicidade/ Marketing

(2,4%); Transportes e Logística (2,5%); atividade veterinária (2,9%); comercial/ call-centers

(3,2%); Formação/ Ensino e investigação (3%); Atividades de arquitetura, de engenharia,

técnicas e afins (3,2%); Alojamento e restauração (restaurantes e similares) (4%); Turismo

(4%); saúde e atividades médicas (5,6%); Informática e tecnologias (7,2%); comércio por

grosso e a retalho (7,4%); Indústria e manutenção/ armazém (7,7%); Economia/Gestão

(9,4%); Outras atividades profissionais (10,6%) e Recursos Humanos (20,4%).

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37

Os sectores que demonstraram maiores níveis médios de possibilidade de redução

dos tempos laborais de forma temporária foram o comércio por grosso e a retalho (2,42) e

o sector da informática e tecnologias (2,31). No sentido inverso os dois sectores com maior

inflexibilidade foram a indústria e manutenção/ armazém (1,57) e a construção (1,64). Nos

testes de correlação não foram obtidos valores relevantes.

vii. Rendimento líquido anual

A variável rendimento teve como principal objetivo analisar as diversidades dos

patamares salariais dos profissionais. De tal modo que na amostra 9,4% dos profissionais

tinham rendimentos líquidos anuais inferiores a 7.500€; 20,4% tinham rendimentos entre

7.500€ e 10.000€; 32,8% tinham rendimentos entre 10.001€ e 14.000€; 21,9% dos

trabalhadores auferiam entre 14.001€ e 20.000€; e 15,5% dos participantes tinham

rendimentos superiores a 20.000€. Não obstante que os valores médios por género e

hierarquia profissional demonstraram valores financeiros similares para uma posição de

operacional, no entanto com o aumento da categoria profissional , o homem demonstra uma

superioridade financeira relevante (cf. Figura 4.18).O nível médio de flexibilidade de tempo

laboral foram 1,75 para rendimentos inferiores a 7.500€/ano, 1,95 para valores entre os

7.500€ e os 10.000€, 1,81 para salários anuais entre os 10.001€ e os 14.000€, 1,98 para

rendimentos entre os 14.001€ e os 20.000€ e 2,15 para remunerações acima dos 20.000€.

Nos testes de correlação não foram observadas evidências significativas entre as variáveis,

no entanto verifica-se em média uma superioridade do homem em aceder à possibilidade de

redução do horário de trabalho para o mesmo rendimento financeiro. Para além disso a

mulher demonstra maior sensibilidade no acesso a este tipo de flexibilidade com o aumento

do salário (cf. Figura 4.19).

Figura 4.18Posição hierárquica e rendimento líquido anual

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Figura 4.19 Rendimento líquido anual e variável dependente

viii. Outras variáveis com potencial

Posteriormente, de modo a elucidar a versatilidade da amostra considerada foram

ainda verificados que 57,6% dos inquiridos tinham um horário standard de segunda a sexta

das 8h/9h às 17h/18h; 24,6% dos profissionais estava com isenção de horário; 8,9% dos

trabalhadores faziam horários noturnos; 17% trabalhavam regularmente aos fins de semana

ou feriados; 16% tem trabalhos com banco de horas ou horas extras regularmente solicitadas

pelas empresas; 12,6% tem horários rotativos; 2% realiza horários repartidos e 16,2% tem

horários flexíveis.

Na análise de correlações e relações das variáveis apresentadas acima com a variável

dependente deste estudo (possibilidade de redução temporal do horário de trabalho), apenas

a variável horário standard de segunda à sexta das 8h/9h às 17h/18h demonstrou ter uma corelação

significativa15. A correlação de Pearson (paramétrica) foi de -0.127; e uma correlação de Rô

de Spearman (não paramétrica) de -0,146. De tal modo, que em média os profissionais que

têm o típico horário de segunda a sexta das 8h/9h às 17h/18h tem menores acessos a

possibilidades de redução temporal do horário de trabalho que os restantes profissionais

(valor médio reduz de 2,09 para 1,80). De notar que esta foi a variável que se demonstrou

mais coerente nos resultados por género, idade, e escolaridade deste subcapítulo e) até agora

(e por isso com maior significância que a posição hierárquica na relação com a variável

dependente).

15 Correlação significativa no nível de 0,01 (2 extremidades)

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ix. Variável Bem-estar no trabalho

Após as análises mais quantitativas da vida profissional iremos debruçar-nos de

seguida sobre as variáveis qualitativas, onde foram analisadas as variáveis de bem-estar

profissional e de flexibilidade de tempo laboral.

A primeira foi construída a partir da soma aritmética (com a mesma ponderação) das

seguintes oito variáveis: “A maior parte dos dias sinto-me motivado para trabalhar” (b1);

“No geral, tenho bastante autonomia e poder de decisão sobre a organização do meu

trabalho”(b2); “ É comum não ter problemas em dormir/ de ansiedade por causa do

trabalho” (b3)16; “O meu local de trabalho tem boas condições (Higiene e Segurança no

Trabalho)” (b4); “Consigo facilmente cumprir os meus objetivos de trabalho dentro do

tempo estipulado” (b5); “Existe uma boa comunicação e apoio/suporte entre mim e os meus

colegas” (b6); “Os meus chefes/ superiores sabem reconhecer o meu trabalho e apoiam o

meu desenvolvimento” (b7) e “Sinto que o meu processo de recrutamento e seleção,

avaliação, progressão e compensação são normalmente justos e similares aos meus colegas”

(b8). Cada uma das variáveis teve uma ponderação entre 1 e 3, sendo 1 o extremo negativo

e 3 o extremo positivo. Dessa forma os resultados variaram entre 8 e 24 pontos, sendo 24

visto como o máximo de bem-estar sentido no trabalho pelo profissional. Cada uma das oito

variáveis foi construída tendo em conta os oito tópicos mais comummente aceites nos

estudos internacionais, e nos quais se acredita ter um impacto significativo no conceito de

bem-estar no trabalho (Dewe et al,2010; Johnson e Hall, 1988; Sayed, 2013; Friedman et al.,

1998; Rabenu et al,2017).

Bem-estar no trabalho = b1+ b2 + b3 + b4 + b5 + b6 + b7 + b8

Variável criada 4.3 Bem-estar no Trabalho

Na tabela 4.f, foi possível observar as percentagens obtidas individualmente para cada

variável. Como principais conclusões, podemos afirmar que as variáveis em que os

participantes deste estudo sentem maior efetividade na contribuição para o seu bem-estar

real atualmente são, em média, boas condições de higiene e segurança no trabalho (69,4%),

16 De notar que esta pergunta para maior facilidade de interpretação foi apresentada inicialmente aos participantes do seguinte modo “É comum ter problemas em dormir/ de ansiedade por causa do trabalho”. Na sua ponderação, “não concordo” (1) significava que não é comum ter problemas de ansiedade/dormir, e o “concordo” (3) significava que sim. Mas para maiores facilidades de interpretação no estudo, a variável foi convertida no oposto de tal modo que no quadro acima, os profissionais que responderam inicialmente “não concordo” (1), passaram a “concordo” (3) com a nova afirmação na negativa.

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uma boa comunicação e apoio/suporte entre o profissional e os seus colegas de trabalho

(69,2%) e um grau considerável de autonomia e poder de decisão (68,9%). Do lado oposto,

como maior influenciador negativo do bem-estar aparece o stresse no trabalho (abordado na

variável “É comum não ter problemas em dormir/ de ansiedade por causa do trabalho”),

demonstrando que um terço (33%) dos profissionais que participaram no estudo sofrem de

stresse. Em segundo lugar, como maior influenciador negativo aparece a variável b8. De tal

modo que mais de um quarto (26,4%) dos profissionais em Portugal não pressente um

ambiente de justiça no seu local de trabalho (nomeadamente no processo de recrutamento e

seleção, avaliação, progressão ou compensação). Na análise das médias foi ainda verificado

que a variável b3 apresenta o valor mais baixo (2,13). No extremo oposto aparece a variável

b6, que embora não tenha obtido o maior nível relativo de concordância, obteve o maior

valor médio geral (2,66), dado também ter sido a única variável, a ter uma não concordância

inferior a 10%, demonstrando assim maior consistência.

Análise às variáveis do bem-estar no trabalho = b1+ b2 + b3 + b4 + b5 + b6 + b7 + b8

Variável

Respostas (%)

Média

Correlação com a variável dependente

Não

concordo

Não sei/

Indeciso

Concordo

Correlação de Pearson

(paramétrica)

Rô de Spearman

(não paramétricas)

b1 20,7% 19,5% 59,8% 2,43 0,093* 0,052

b2 15,7% 15,5% 68,9% 2,59 0,097* 0,056

b3 33% 21,9% 45,1% 2,13 0,038 0,021

b4 13,5% 17,2% 69,4% 2,62 0,079 0,049

b5 17,7% 29% 53,4% 2,40 0,093* 0,074

b6 9,9% 20,9% 69,2% 2,66 0,104* 0,076

b7 24,7% 27,1% 48,1% 2,26 0,189** 0,151**

b8 26,4% 31,3% 42,3% 2,18 0,187** 0,154**

Tabela 4.f Componentes do Bem-estar no Trabalho

**. A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades)

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A variável b1, “A maior parte dos dias sinto-me motivado para trabalhar” teve um

comportamento médio positivo com a variável dependente do estudo (no entanto nos testes

de correlação os valores obtidos não foram significantes). A mesma demonstrou ter um

impacto excecionalmente relevante para o homem entre os 25 e 34 anos (os profissionais

homens menos motivados tiveram uma média de flexibilidade de 1,531, enquanto que os

profissionais homens mais motivados com o trabalho que têm, obtiveram uma média de

flexibilidade de 2,283). Não obstante, nos diversos estudos realizados, em média, o nível de

motivação com o trabalho não pareceu ser um grande influenciador da possibilidade de ter

trabalhos com redução temporal do horário de trabalho.

A variável b2, “No geral, tenho bastante autonomia e poder de decisão sobre a

organização do meu trabalho”, obteve valores de correlação similares à sua antecessora. O

maior impacto deu-se para os profissionais entre as idades dos 25 e 34 anos, com um

aumento médio consistente de acesso à modalidade de flexibilidade de tempo laboral de

0,307. Nos restantes casos, não se obtiveram conclusões mais significativas. Não

demonstrando ser também uma variável pertinente para a existência de trabalho com maior

flexibilidade na redução temporal do horário.

A variável b3, “É comum não ter problemas em dormir/ de ansiedade por causa do

trabalho” ou “stresse devido a trabalho”, como já referido anteriormente, foi a variável com

impacto negativo mais predominante para os profissionais (1/3 dos mesmos). Este risco

psicossocial, já provado em diversos estudos (Pereira C. I., 2017) pode no médio e longo

prazo originar problemas de saúde físicos e psicológicos graves para o profissional (Pinho,

2015). Assim, embora não seja a temática abordada neste estudo, é um tema complexo e que

necessitaria de maior aprofundamento. Por outro lado, o stresse na relação com a

possibilidade de maior flexibilidade na redução de tempo de trabalho temporariamente, não

demonstrou correlações significativas, nem se conseguiram extrair conclusões relevantes.

A variável b4, “O meu local de trabalho tem boas condições (Higiene e Segurança

no Trabalho)” apesar de não ter demonstrado níveis significativos de correlação obteve

maior consistência evolutiva para o género masculino que as variáveis anteriores, de tal modo

que com melhores condições de higiene e segurança no trabalho há uma maior probabilidade

de aceder a possibilidades de redução temporal do horário de trabalho independentemente

para o género masculino independentemente da idade ou escolaridade dos profissionais. O

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maior impacto dá-se após os 44 anos de idade (valor evolui de 1,333 para 2,286). Não foram

observados dados relevantes para o género feminino.

A variável b5, “Consigo facilmente cumprir os meus objetivos de trabalho dentro do

tempo estipulado” apesar de demonstrar alguma significância de correlação (ao nível 0,05),

verificou-se que não existe consistência no género, idades ou escolaridade obtendo-se

conclusões bastante díspares. Devido a estes desfasamentos também não foi considerada

uma variável sustentável para a relação com a variável que determina a possibilidade de

redução dos tempos de trabalho por um período de tempo do interesse do profissional.

A variável b6, “Existe uma boa comunicação e apoio/suporte entre mim e os meus

colegas” demonstrou resultados similares à variável b4. Uma relação relativamente linear

positiva para o género masculino. As diferenças foram sobretudo evidentes para os

profissionais a partir (inclusive) dos 45 anos. Desta forma, os profissionais que não sentem

uma boa comunicação/suporte apresentaram níveis de inflexibilidade de redução temporal

de tempo elevados (1,4), em contraste com os que têm uma boa relação com os colegas

(2,296). Para os profissionais entre os 25 e 34 anos o valor teve uma ascendência positiva de

1,545 para 2,179. Mas as inconsistências sentidas para o género feminino foram muito fortes.

Por estas razões não se considerou uma variável determinante para a possibilidade de ter

trabalho com redução temporal de horários.

A variável b7, “Os meus chefes/ superiores sabem reconhecer o meu trabalho e

apoiam o meu desenvolvimento” obteve o segundo maior nível de correlação (nos testes não

paramétricos) e o melhor no teste paramétrico17, sendo por isso uma das variáveis com

melhores indícios na relação com a variável dependente. Por outro lado, foram visíveis

algumas fragilidades nos resultados de flexibilidade após os 35 anos (sobretudo no género

feminino). Não obstante que para as idades inferiores aos 35 anos, tanto para o homem como

para a mulher, independentemente da escolaridade assistiu-se a uma relação crescente

positiva forte (as correlações observadas para a idade entre os 25 e 34 anos foram de 0,263

nos testes paramétricos e 0,227 nos testes não paramétricos). Demonstrando ser a variável

mais importante para esta faixa etária. No género masculino, foi também a variável a atingir

17 Como esta variável não segue uma distribuição normal, os testes não paramétricos são mais seguros para análise de correlação entre as variáveis.

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o maior grau de significância (teste paramétrico foi de 0,218 e no teste não paramétrico foi

de 195).

A última variável analisada foi a b8, “Sinto que o meu processo de recrutamento e

seleção, avaliação, progressão e compensação são normalmente justos e similares aos meus

colegas” apareceu com os testes de correlação mais consistentes. Ao realizar a análise por

género e idade, verifica-se que esta tem um impacto (positivo) muito maior para a mulher

em comparação ao homem, em qualquer das idades. Tendo sido a única variável do bem-

estar a apresentar uma correlação significativa com a variável dependente para a mulher (teste

paramétrico foi de 0,201 e teste não-paramétrico foi de 0,150). (Assim, a mulher que

pressente maiores níveis de justiça a transparência dentro da organização tem, em média,

trabalhos com maior possibilidade de redução temporal do horário de trabalho em 0.452 (o

valor aumenta de 1,688 para 2,14). Por outro lado, no homem o valor evolui positivamente

de 1,883 para 2,315. Esta variável também obteve níveis de correlação significantes (cf.

Tabela 4.f).

Assim, nas conclusões sobre estas duas últimas variáveis, embora se tenham obtidos

bons testes de correlação e os resultados mais consistentes na análise detalhada por género e

idade, ainda é precoce afirmar a ligação da b7 e b8 com a variável dependente.

De notar ainda que a escolaridade foi pouco abordada nas análises acima, dada a

pouca relevância dos resultados obtidos, onde se verificou que independentemente da

variável, o impacto era praticamente irrisório.

Por último, ao analisar a variável criada – bem-estar no trabalho – verificou-se que a

mesma obteve melhores níveis de correlação (do que cada uma das variáveis independentes

que a compõem) (cf. Tabela 4.g). O seguinte quadro deverá ser analisado com alguma cautela

e só deverá observar-se os dados a partir de um nível de bem-estar superior a onze (11), pois

os níveis inferiores não têm consistência suficiente (número de casos reduzido).

Entrementes, verifica-se que a partir do nível de bem-estar de 16 (dezasseis), a relação de

bem-estar com trabalhos que possibilitem a redução temporal do horário de trabalho é muito

forte. Convém ainda ressalvar que entre os níveis 16 e 24 de bem-estar concentram-se 81,5%

dos participantes, demonstrando a relevância dos dados a partir deste valor (cf. Figura 4.20).

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Não obstante, no geral, os níveis de bem-estar no trabalho (e suas variáveis) não

demonstraram uma relação forte com a variável dependente.

Apurou-se também que das oito variáveis que compõem o bem-estar, o

reconhecimento/apoio por parte das chefias (b7) apresentou uma correlação de 0,728 com

o bem-estar no trabalho (e os melhores testes qualitativos, demonstrando ser a variável mais

relevante para o cálculo do bem-estar no trabalho). Seguida pela variável b8 (perceção de

justiça e transparência) com uma correlação de 0,704. A variável motivação para trabalhar

aparece com a terceira maior correlação (0,695), em quarto lugar aparece o apoio e suporte

dos colegas (b6) e em quinto o grau de autonomia com 0,525 de correlação.

Variável Correlação com a variável dependente

Bem-estar no

trabalho

Correlação de Pearson

(paramétrica)

Rô de Spearman (não

paramétricas)

0,188** 0,154**

Tabela 4.g Variável Bem-estar e variável dependente

**. A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades)

Figura 4.20 Bem-estar no trabalho e variável dependente

Antes de avançar torna-se ainda pertinente analisar a relação do bem-estar no

trabalho com a satisfação do tempo dedicado aos filhos (cf. Capítulo 4 c), do bem-estar no

trabalho com o bem-estar privado (cf. Capítulo 4. d) e o bem-estar no trabalho com o tempo

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dedicado à vida privada (cf. Capítulo 4 e). Os testes não paramétricos indicaram uma

correlação de 0,521 com a satisfação de tempo dedicada aos filhos (cf. Figura 4.21). A

correlação entre o bem-estar privado e do trabalho foi de 0,354 (testes não paramétricos) (cf.

Figura 4.22). E, por último, obtiveram-se testes de correlação de 0,216 entre o tempo da vida

privada e o bem-estar no trabalho. Assim os três resultados obtidos demonstram uma relação

mais forte quando comparado à variável dependente (cf. Figura 4.20). Sendo que o bem-estar

no trabalho e da qualidade do tempo passado com os filhos atinge a correlação e os testes

mais fortes, de tal modo que um aumento do bem-estar no trabalho, verifica-se em média

um aumento da satisfação do tempo dedicada aos filhos.

Figura 4.21 Bem-estar no trabalho e satisfação tempo com os filhos

Figura 4.22 Bem-estar no trabalho e bem-estar privado

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x. Variável flexibilidade de tempo no trabalho

Esta variável foi também construída a partir da soma aritmética de sete (7) variáveis.

As mesmas foram enumeradas da seguinte forma: “flexibilidade dos horários (entradas e

saídas)” (c1); “possibilidade de trabalhar à distância (ex.: teletrabalho)” (c2); “mecanismos de

apoio para trabalhadores-estudantes (ex.: redução dos horários, folga adicionais, preferência

de horários, etc.)” (c3); “apoios aos pais/mães com crianças (ex.: redução dos horários,

preferência de horários, etc.)” (c4); “possibilidade de passar de full-time para part-time ou

vice-versa” (c5); “possibilidade de redução dos tempos de trabalho por um período de tempo

do interesse do profissional” (c6) e “possibilidade de acumular horas de trabalho e depois

usar o banco de horas no interesse do profissional” (c7). À semelhança da construção da

variável anterior, cada uma das variáveis que compõem a flexibilidade total laboral, teve uma

ponderação entre 1 e 4, sendo 1 o extremo negativo e 4 o extremo positivo. As sete variáveis

que compõem foram escolhidas tendo em conta diversos estudos internacionais e nacionais

realizados e adaptadas ao contexto do mercado português e ainda passíveis de comparação

com a variável dependente deste estudo (Bennett e Brewster, 2002; Casaca, 2013; OECD,

1998; Silva et al., 2015). Os resultados variaram entre 7 e 28, sendo 7 representante da máxima

inflexibilidade laboral e 28 o máximo de flexibilidade (cf. Variável criada 4.4).

Flexibilidade Total Tempo Laboral = c1+ c2 + c3 + c4 + c5 + c6 + c7

Variável criada 4.4 Flexibilidade total de tempo laboral

Numa primeira abordagem, em média, o tipo de flexibilidade mais evidente para o

trabalhador é a flexibilidade dos horários de entrada e saída do trabalho, onde 77,6% dos

profissionais considera ter acesso a esta flexibilidade em níveis minimamente aceitáveis. As

variáveis c3 e c4 também obtiveram mais nível de de 50% (53,1% e 51,9% respetivamente)

dos profissionais a considerar que na sua empresa existem maiores flexibilidades de tempo

para os trabalhadores-estudantes e para os pais/mães de crianças. Do lado contrário com

maior nível de inflexibilidade aparece a variável c5, demonstrando que para mais de 50% dos

profissionais este tipo de flexibilidade (passar de part-time para full-time ou vice-versa) nem

sequer existe e menos de 25% dos profissionais acredita existirem na sua empresa os mínimos

aceitáveis para uso deste tipo de flexibilidade. O tipo de flexibilidade que motivou este estudo

foi a variável c6, que aparece no segundo posto com os piores índices e maior inflexibilidade

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de tempo laboral, de tal modo, que para 69,2% dos profissionais este tipo de flexibilidade

está abaixo do nível mínimo aceitável.

Análise às variáveis da Flexibilidade Tempo Laboral = c1+ c2 + c3 + c4 + c5 + c6 + c7

Variável

Respostas (%)

Média

Correlação com a variável

dependente

Não

Aplicável

Mau Suficiente Bom Correlação de

Pearson

Rô de Spearman

c1 8,8% 12,8% 41,2% 37,2% 3,13 0,28718** 0.222**

c2 45,3% 19,2% 21,4% 14,1% 1,99 0,350** 0.312**

c3 30% 16,5% 32,5% 21% 2,44 0,281** 0.264**

c4 27,9% 19,9% 31,6% 20,5% 2,44 0,388** 0.361**

c5 53,2% 23,7% 15,3% 7,7% 1,70 0,593** 0.575**

c6 43,4% 26,4% 18,7% 11,4% 1,92 1 1

c7 37% 25,9% 23,2% 13,8% 2,10 0,354** 0.345**

Tabela 4.h Componentes da Flexibilidade tempo laboral

A variável c1, “flexibilidade dos horários (entradas e saídas)” na relação com a

variável dependente, embora tenha um nível de correlação relativamente significativo, das

diversas formas de flexibilidade de tempo foi a que obteve menor correlação (correlação não

paramétrica). Numa análise mais qualitativa verificou-se que esta relação positiva foi mais

forte para a mulher, ao longo da idade ou por nível de escolaridade, do que para o homem

(crescimento linear mais consistente), apesar de em ambos se verificar uma relação de

crescimento positiva.

A variável c2, “possibilidade de trabalhar à distância (ex.: teletrabalho)” tentou

compreender a flexibilidade que os profissionais consideram ter em relação a poderem ter a

oportunidade realizar uma parte do seu horário remotamente, à distância, por exemplo em

18 A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades)

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sua casa. Verificou-se que para 45,3% esta situação nem sequer pode ser ponderada, um valor

similar à variável dependente deste estudo (c6). Nos testes de correlação demonstrou um

desempenho melhor que c1, mas nos testes qualitativos os resultados não foram tão

positivos. Com efeito, embora se tenha sempre sentido um crescimento positivo na relação

dos dois extremos (de não aplicável/inexistente a bom), foram verificadas algumas

inconsistências nos níveis intermédios nos participantes com idade igual ou superior a 35

anos, independentemente do género ou escolaridade.

A variável c3, “mecanismos de apoio para trabalhadores-estudantes (ex.: redução dos

horários, folgas adicionais, preferência de horários, etc.)” embora tenha uma correlação forte

com c4 (0,473) demonstrando que em média as organizações que dão maiores níveis de

flexibilidade/apoios aos trabalhadores estudantes também o fazem com os pais/mães de

crianças; com a variável c6 os resultados não são tão positivos. Os testes de correlação são

similares a c1 e nos testes qualitativos os resultados tiveram algumas falhas. Ao nível da

escolaridade, assistiu-se a um melhor desempenho de c3. Mas nos testes por idade sentiram-

se algumas incongruências a partir dos 45 anos na mulher, e no homem em geral, em todas

as idades. Por estas razões também não consideramos uma variável relevante para a perceção

do tipo de profissionais que têm acessos a trabalhos com possibilidade de redução do tempo

de trabalho de forma temporária.

A variável c4, “apoios aos pais/mães com crianças (ex.: redução dos horários,

preferência de horários, etc.)”, apresentou os segundos melhores resultados nos testes de

correlação (correlação de 0,388 no teste paramétrico e 0,361 no teste não paramétrico). Nos

testes de qualidade, verificou-se que entre as idades de 25 e 44 anos, independentemente do

género ou escolaridade, existe uma relação direta positiva e há medida que há mais

flexibilidades de tempo/apoios aos pais maior é a possibilidade de acesso à redução de

tempos de trabalho. No entanto, a partir dos 45 anos esta relação não é tão linear, tornando-

se mesmo decrescente para a mulher com mais de 45 anos. Não obstante, foi de todas as

variáveis que compõem a flexibilidade, a segunda a obter melhores resultados de correlação.

A variável c5, “possibilidade de passar de full-time para part-time ou vice-versa”

permitiu entender se as organizações dão a oportunidade aos seus trabalhadores de terem

uma mudança definitiva no seu contrato no que concerne à quantidade de horas trabalhadas

por semana/mês. Esta variável obteve os melhores resultados qualitativos e de correlação

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entre as mais de 100 variáveis analisadas nesta primeira parte da investigação. Foi verificado

que independentemente da idade, escolaridade, género, área de residência, composição

agregado familiar ou estrutura contratual, tende a existir uma forte relação entre a

possibilidade de ter acesso a trabalhos que permitam a alteração da carga horária contratual

de forma definitiva e entre os trabalhos que permitem uma alteração para reduzir

temporariamente a carga horária do contrato (através por exemplo de uma adenda).

A variável c7, “possibilidade de acumular horas de trabalho e depois usar o banco de

horas no interesse do profissional” procurou perceber se um dos principais tipos de

flexibilidade de tempo laboral utilizados pelas empresas para se adaptarem às suas

necessidades laborais (e consequente redução de custos) também é uma medida

disponibilizada pelas empresas aos seus profissionais de modo a que os mesmos também

possam, sempre que necessário, adaptar o seu horário à sua vida privada. O tipo de resultados

obtidos demonstra que 62,9% dos profissionais não têm acesso a este tipo de flexibilidade

de tempo laboral ou então têm em condições muito reduzidas e insuficientes. Apresenta uma

correlação moderada coma variável c6e apesar dos testes de correlação serem inferiores aos

níveis obtidos em c4, os testes qualitativos foram melhores, onde se verificou uma relação

positiva independentemente da idade, escolaridade ou género. Posto isto, foi a segunda

variável com os melhores testes qualitativos (atrás apenas da variável c5).

A flexibilidade de tempo laboral foi medida de duas formas diferentes, a primeira

com a inclusão da variável c6 (a variável dependente do estudo), denominada c8 e a segunda

sem a variável c6, denominada c9. O objetivo foi perceber o real impacto de c6 sobre a

flexibilidade total de tempo e garantir maior qualidade na relação da flexibilidade total de

tempo. A variável c8 obteve os níveis de correlação mais fortes e a relação mais linear com

c6. No entanto, a variável c9 (que não inclui a variável c6) obteve resultados extremamente

positivos e relativamente próximos aos de c8. É ainda de realçar que a agregação dos sete

tipos de flexibilidade de tempo laboral (c8) ou da agregação das seis variáveis (c9) alcançaram

resultados extremamente relevantes (níveis de correlação superiores a 0,5) (cf. Tabela 4.i). C8

torna-se a variável com maior relação (nos diversos testes realizados) com a variável

dependente (cf. Figura 4.23). E c9 posiciona-se apenas atrás de c8 e c5, aparecendo como a

terceira variável com maior correlação e testes qualitativos excecionalmente bons (cf. Figura

4.24). Demonstrando que quanto maior a abertura da organização para possibilitar aos seus

profissionais diferentes mecanismos de flexibilidade de tempo maior é a probabilidade de

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permitir a possibilidade de flexibilidade através da redução do tempo de trabalho de forma

temporária.

Variáveis de flexibilidade de

tempo laboral

Correlação com a variável dependente (c6)

Correlação de Pearson Rô de Spearman

C8= c1+c2+c3+c4+c5+c6+c7 0,715 0,654

C9= c1+c2+c3+c4+c5 +c7 0,579 0,509

Tabela 4.i Flexibilidade do tempo laboral e variável dependente

Figura 4.23 Flexibilidade total tempo laboral - C8

Figura 4.24Flexibilidade total tempo laboral - C9

h) Análise à qualidade de tempo entre a vida privada e profissional

Antes de fechar a análise ao mercado laboral foi ainda solicitado uma outra avaliação

qualitativa do tempo dedicado ao trabalho pelos profissionais. Os resultados obtidos

evidenciaram que aproximadamente 50% dos profissionais gostariam de trabalhar menos

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horas, sendo que 70% dos mesmos afirmou que não consegue ter acesso a estas reduções de

tempo laboral porque a sua atividade profissional/empresa não o permite (cf. Figura 4.26).

De referir ainda que ao analisar a perspetiva do tempo no conflito trabalho-vida, as

variáveis comparativas “gostaria de ter mais tempo de forma a ter um maior equilíbrio entre

trabalho-vida, mas o trabalho não me permite” (cf. Figura 4.10) e “Gostaria de trabalhar

menos horas, mas na minha atividade profissional/ empresa não é possível” (cf. Figura 4.26)

obtiveram-se valores relativos muito próximos (37,04% e 35,35% respetivamente) o que

demonstra a coerência dos profissionais que responderam a ambas as questões e por isso

uma maior validade e qualidade dos resultados. Para além disso confirmou-se um grau de

correlação de 0,540 (teste não paramétrico) entre a qualidade do tempo dedicado à vida

privada e ao trabalho. Nos testes de correlação obtiveram-se ainda os valores de -0,487 na

relação da qualidade do tempo dedicado ao trabalho e satisfação do tempo despendido com

os filhos e o valor de correlação de -0,368 entre a qualidade do tempo dedicada ao trabalho

e o bem-estar privado.

Figura 4.25 Avaliação qualitativa do tempo dedicado ao trabalho

Para termos comparativos, foram ainda analisados os mesmos parâmetros entre os

profissionais que consideram que a sua empresa não tem um bom desempenho ao nível da

possibilidade de reduzir dos tempos de trabalho por um período de tempo do interesse do

profissional (cf. Figura 4.28) e aqueles que consideram que a empresa tem um bom

comportamento ao nível dessa flexibilidade (cf. Figura 4.27). A primeira elação que se tira é

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Figura 4.27 Avaliação qualitativa do tempo dedicado ao trabalho na perspetiva dos profissionais que não têm acessos (ou muito pouco) de redução dos tempos de

trabalho por sua iniciativa

Figura 4.26 Avaliação qualitativa do tempo dedicado ao trabalho na perspetiva dos profissionais que têm acessos (bons) de redução dos tempos de trabalho

por sua iniciativa

o aumento relativo do parâmetro “Tenho o tempo adequado e uma vida equilibrada/ feliz”

que pretendeu medir o índice de felicidade e bem-estar geral do profissional, onde o valor

evolui de 19,76% para 36,76% (assiste-se a um aumento da qualidade e bem-estar de 86%).

Foi também verificado que a presença desta possibilidade de flexibilidade dentro de uma

organização permite ainda minorar o interesse da redução de horários em quase 50%

(reduzindo por isso as taxas de absentismo). Pois no primeiro quadro 55% dos profissionais

gostaria de reduzir o seu tempo de trabalho, no segundo apenas 36,76% gostaria de reduzir

o seu horário).

i) Análise ao tempo livre

A última variável analisada neste capítulo foi o tempo livre que os profissionais

dispõem. Esta variável foi calculada tendo em conta os tempos que o profissional utilizou

no seu dia para trabalho, transporte, dormir, refeições, filhos e estudo/aulas (cf. Variável

criada 4.5). De referir que haverá outras variáveis que poderiam também influenciar o tempo

livre, no entanto, neste estudo, por simplicidade optou-se apenas por considerar estas

variáveis.

Tempo Livre = 24Horas – Tempo de trabalho – Tempo Transporte – Tempo Dormir –

Tempo Refeições – Tempo Filhos - Tempo Estudos/Aulas

Variável criada 4.5 Tempo Livre

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As principais ilações a retirar são o facto de 7,2% dos profissionais ter um período

de tempo livre inferior ou igual a zero (0). Ao aplicar o teste de Turkey para análise dos

percentis verificou-se que 25% dos profissionais tem um tempo livre médio igual ou inferior

a 2,5Horas/dia; 50% dos profissionais tem um tempo livre médio igual ou inferior a

4Horas/dia e 75% dos profissionais têm um tempo livre médio igual ou inferior a

5,5Horas/dia (cf. Figura 4.29).

Figura 4.28 Tempo Livre

Paralelamente foram ainda analisadas a relação qualitativa entre o tempo livre e as

avaliações dos participantes relativamente ao tempo dedicado à vida privada ou à vida

profissional. Os resultados qualitativos encontram-se nos quadros abaixo (cf. Figura 4.30 e

Figura 4.31). Uma das principais conclusões a retirar é que os profissionais que sentem ter o

tempo adequado no seu ambiente privado têm uma média diária de tempo livre entre as 4,25

e as 4,62 horas por dia. Por outro lado, foi também verificado que os profissionais que

gostariam de trabalhar menos horas, mas a empresa/atividade profissional não permitem

obtiveram uma média de tempo livre que varia entre as 3,36 e as 3,62 horas. Concluindo-se

que possivelmente, o aumento entre 0,6 e 1,26 horas/dia de tempo livre a partir de uma

redução do tempo de trabalho poderá permitir aos profissionais, que assim o desejarem,

alcançar um maior equilíbrio de tempo entre a vida privada e profissional.

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Nos testes do tempo livre com a variável dependente obtiveram-se níveis de

correlação inferiores a 0,1 (ou seja, irrelevantes).

Figura 4.29 Tempo livre (horas) e avaliação do tempo dedicado à vida privada

Figura 4.30Tempo livre (horas) e avaliação tempo dedicado ao trabalho

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Capítulo 5. Análise à Hipótese: “Redução do

tempo de trabalho (com redução proporcional do

salário)”

a) Enquadramento

Ao longo do capítulo 4 foi possível analisar os dados estatísticos da realidade atual

para uma determinada amostra (N=594), que por convenção, acreditou-se que seria o tipo

de profissionais mais relevante para uma aplicabilidade mais rápida e eficaz no mercado de

trabalho. Sendo o foco desta unidade perceber a realidade atual dessa mesma amostra, bem

como ainda a tentativa de perceber que tipo de profissionais têm mais acesso no seu trabalho

a possibilidades de redução do seu horário laboral de forma temporária.

Neste capítulo 5, o objetivo será perceber que tipo de profissionais procuram

efetivamente ter acesso a esta flexibilidade de tempo laboral (independentemente se já têm

ou não) e quais os contornos desse acesso. Para isso, iremos recorrer a 71 amostras

previamente selecionados e que procuram analisar a heterogeneidade do mercado português

sobre esta mesma hipótese. As mesmas foram dividas em 2 grupos. As amostras foram

denominadas pela letra N seguida do total de casos que preenchem o requisito estipulado.

O grupo A está responsável pela evidência e continuação dos dados analisados no

capítulo 4, sendo por isso o principal foco do estudo. Assim a amostra deste grupo é

encabeçada por N=594. Seguindo-se as restantes amostras que a compõem: N=299 (género

feminino); N=295 (género masculino); N=350 (idade entre os 25 e 34 anos); N=181 (idade

entre os 35 e 44 anos); N=63 (idade igual ou superior a 45 anos); N=19 (escolaridade

completa igual ou inferior ao 9.ºano); N=95 (12.º ano de escolaridade completo); N=206

(bacharelato/ licenciatura completa); N=270 (mestrado ou pós-graduação completa); N=191

(profissionais com filhos dependentes); N=35 (trabalhadores-estudantes com contrato por

conta de outrem); N=151 (cargo operacional); N=274 (cargos técnicos/especializados);

N=169 (cargos de responsabilidade por equipa/ coordenador/ gestor); N=56 (rendimento

liquido anual inferior a 7500€); N=121 ( rendimento liquido anual entre 7.500€ e 10.000€);

N=195 ( rendimento liquido anual entre 10.001 e 14.000); N=130 ( rendimento liquido anual

entre 14.001 e 20.000); N=92 (rendimento liquido anual superior a 20.000€). Para medição

do tempo livre, foram selecionadas as seguintes amostras N=43 (tempo livre = 0); N=55

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(tempo livre < 1); N=79 (tempo livre<1.5); N=107 (tempo livre < 2); N=139 (tempo livre

< 2.5); N=181 (tempo livre < 3); N=212 (tempo livre < 3.5); N=268 (tempo livre < 4);

N=399 (tempo livre < 5); N=494 (tempo livre < 6); N=548 (tempo livre < 7); N=578

(tempo livre < 8); N=587 (tempo livre <9); N=594 (tempo livre <11 = amostra total) (cf.

Figura 5.1).

Como referido ao longo de toda a investigação, o nosso foco é a amostra N=594.

No entanto, com o objetivo de enriquecer os dados deste mesmo estudo, decidiu-se ainda

realizar múltiplas análises que têm o objetivo de trazer uma visão global sobre a hipótese do

estudo. Assim este grupo B é iniciado com a amostra total que participou no estudo,

N=1025. Seguidas das análises às amostras N=510 (género feminino); N=515 (género

masculino); N=161 (jovens entre os 18 e 24 anos); N=435 (Idade entre os 25 e 34 anos);

N=293 (Idade entre os 35 e 44 anos); N=136 (Idade igual ou superior a 45 anos); N=23

(escolaridade completa igual ou inferior ao 9.ºano); N=175 (12.º ano de escolaridade

completo); N=405 (bacharelato/ licenciatura completa); N=409 (mestrado ou pós-

graduação completa); N=333 (População total com filhos dependentes); N=75

(trabalhadores-estudantes) N=140 (Donos de empresa/ CEO/ Diretores); N=89

(trabalhadores independentes/por conta própria); N=707 (trabalhadores dependentes);

N=205 (trabalhadores dependentes com cargos operacionais); N=323 (trabalhadores

dependentes com cargos técnicos/especializados); N=179 (trabalhadores dependentes com

cargos de responsabilidade por equipa/coordenador/gestor); N=39 (desempregados);

N=125 (rendimento liquido anual inferior a 7500€); N=193 ( rendimento liquido anual entre

7.500€ e 10.000€); N=262 ( rendimento liquido anual entre 10.001 e 14.000); N=169 (

rendimento liquido anual entre 14.001 e 20.000); N=194 (rendimento liquido anual superior

a 20.000€). Tal como no grupo A, foram também realizadas analises ao tempo livre, sendo

obtidas as seguintes amostras: N=43 (tempo livre = 0); N=55 (tempo livre < 1); N=79

(tempo livre<1.5); N=107 (tempo livre < 2); N=139 (tempo livre < 2.5); N=181 (tempo

livre < 3); N=212 (tempo livre < 3.5); N=268 (tempo livre < 4); N=399 (tempo livre < 5);

N=494 (tempo livre < 6); N=548 (tempo livre < 7); N=578 (tempo livre < 8); N=587

(tempo livre <9); N=594 (tempo livre <11 = amostra total) (cf. Tabela 5.b).

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b) Análise à estrutura da hipótese: “Possibilidade de redução do tempo de trabalho”

A questão que deu origem ao estudo e com a qual se inicia este bloco de projeções

foi a seguinte hipótese: “Possibilidade de redução do tempo de trabalho (com redução

proporcional do salário)”. As hipóteses consideradas foram enumeradas de d1 a d6. Assim

d1 refere-se a “Seria uma ideia com pouca relevância e pouco interesse para mim”; d2 a “Seria

uma ideia interessante, no entanto como tenho grandes necessidades financeiras

provavelmente não a iria usar”; d3 a “Seria uma ideia interessante e que usaria para poder

voltar a estudar ou conciliar com os estudos atuais”; d4 a “Seria muito importante e usaria

para dedicar mais tempo à família ( isto é, filhos ou pais)”; d5 a “Seria muito importante pois

devido a limitações de saúde (físicas ou psicológicas) sei que me poderia ajudar”; e d6 a “Seria

muito importante e usaria a oportunidade para ter um vida mais saudável e equilibrada”. No

quadro abaixo foram enumeradas, em termos percentuais, os resultados obtidos por cada

amostra.

i. Amostra principal (N=594)

Na amostra principal (N=594, cf. Tabela 5.a) e da qual fazem parte todos os

trabalhadores dependentes com mais de 25 anos, verificou-se que apesar de 41,1% dos

inquiridos não ver qualquer relevância na hipótese apresentada e por isso não a usariam,

31,5% dos profissionais que atualmente trabalham num contrato por conta de outrem

utilizaria a medida. Foi ainda verificado que a hipótese d6 (tempo para outras atividades da

vida que não família ou estudos) apresentou o maior percentual nas razões da utilização da

possibilidade de redução dos tempos de trabalho. Levantando fortes indícios que, hoje, cada

vez mais para o profissional em Portugal, a busca por mais tempo para a vida privada não se

prende tanto com razões familiares ou académicas, mas cada vez mais para outras atividades

da vida privada.

Na amostra por género, os resultados são bastante díspares, pois embora o homem

(N=295, d1=44,7%), apresente um valor percentual bastante superior ao da mulher (N=299,

d1=37,5%) no que concerne a não ver usabilidade na medida de flexibilidade; o número de

homens que usaria efetivamente a medida atualmente é bastante superior ao da mulher (35%

e 28,1% respetivamente). A principal razão parece estar relacionada com a hipótese d2

(motivações financeiras), o que tendo em conta a realidade portuguesa onde em média o

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homem ganha mais que a mulher, este tipo resultados não se torna tão inexplicável (cf.

Capítulo 4 f. vii).

Na análise das idades verifica-se que é entre os 25 e 34 anos que menos interesse tem

este tipo de flexibilidade (N=350, d1=45,1%), atingindo ainda um dos valores mais baixos

relativos de utilização efetiva da medida (28,5%). Por outro lado, foi entre os 35 e 44 anos

que se registou o maior interesse na possibilidade de obter, de forma temporária, horários de

trabalho inferiores ao normal que têm atualmente. A hipótese que parece ter uma maior

responsabilidade nesta situação é a d4 (preocupações familiares como filhos, pais, casa). A

idade entre os 35 e os 44 anos parece ter ainda uma relação extremamente forte com os

profissionais que têm filhos dependentes (N=191), dado que se atinge um máximo de 24,1%,

entre o total das 71 amostras). De tal modo que esta razão corresponde a 64,78% do total

dos profissionais que optaria por esta hipótese nesta amostra.

Nas idades após os 44 anos (N=63), embora a família ainda ocupe a posição mais

relevante nas razões pelas quais estes profissionais procuram aceder a esta modalidade de

flexibilidade, destaca-se ainda a relevância de d5 (questões de saúde) que obteve neste

primeiro grupo de amostras o valor mais alto de todos (3,2%). Ou seja, esta hipótese d4, nos

profissionais com contratos por conta de outrem, é sobretudo importante após os 44 anos.

Este dado é ainda mais pertinente devido à situação demográfica portuguesa (população

envelhecida). Assim, esta modalidade de flexibilidade demonstra efeitos positivos nas

populações mais enfraquecidas/sensíveis (reduções no horário para aqueles que assim o

entenderem poderão proporcionar melhor qualidade de vida para o profissional e maiores

índices de produtividade e consequente redução de custos para as empresas).

A escolaridade não demonstrou ter um grande impacto neste tipo de flexibilidades.

No entanto como se pode verificar no quadro, existe uma tendência para que os profissionais

com menores níveis de estudos procurem e demonstrem muito mais interesse nesta

modalidade (cf. d1 ao longo de todas as amostras de escolaridade), verificando-se que os

resultados de efetividade só não são mais expressivos devido a d2 (motivações financeiras).

Similares resultados foram também obtidos na análise das posições hierárquicas. De tal modo

que quanto menor for o nível hierárquico (poder dentro da empresa), maiores serão os

interesses e apoios a esta medida (cf. d1), não obstante a que as dificuldades financeiras que

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eles teriam não lhes permite, pelo menos por agora, demonstrar interesse efetivo na utilização

da medida.

Na amostra de estudantes, o dado mais interessante foi perceber que apenas 28,6%

(um dos valores mais baixos entre todas as amostras) não consideram a medida

relevante/importante e não a usariam. Verificando-se assim que embora apenas 34,3% dos

profissionais usasse a medida no momento em que o inquérito foi elaborado, 37,1% no

momento atual não a usaria por questões financeiras. Um outro dado relevante é perceber

as razões que levam à procura desta modalidade de flexibilidade, onde a maior parcela relativa

deve-se a outras atividades da vida para além da família e estudos (d6), em segundo aparecem

as questões familiares (d4), e apenas em último aparece a necessidade de mais tempo para

estudar.

Quando verificados os valores obtidos para os diferentes rendimentos líquidos

anuais, conseguem-se retirar duas grandes elações. O primeiro resultado alcançado são os

profissionais com maiores rendimentos (superiores a 20.000€/ano) que maior interesse

efetivo tem na utilização da medida (41,4%), sendo a principal razão desta, o tempo para

outras atividades da vida (que não família ou estudos). Mas o dado mais surpreendente que

se obteve, foram os profissionais com rendimentos inferiores a 7500€ por ano, que ocupam

a segunda posição com maior efetividade de aplicabilidade, sendo que d6 conjuntamente

com d3 (possibilidade de estudar ou voltar a estudar) tornam-se nas principais consequências

de usabilidade desta hipótese, contrariando os resultados obtidos por escolaridade ou posição

hierárquica. Poderão ser apontadas diversas razões para estes resultados, mas acredita-se que

as principais são o valor dado ao dinheiro, de tal modo que o valor quantitativo não é tão

importante como o valor qualitativo. Pois para alguns profissionais que aufiram até 535€

líquidos por mês (ponderação a 14 meses), mesmo assim estão dispostos a ganhar menos se

isso lhes permitir ter mais tempo para estudar de modo a aumentar eventualmente os seus

rendimentos futuros ou a um maior equilíbrio na sua vida privada ou familiar. Por outro

lado, apesar de tradicionalmente menores níveis de escolaridade corresponderem a posições

hierárquicas inferiores e consequentemente a menores salários, a realidade portuguesa

(entenda-se desta amostra N=594) não demonstrou este tipo de relações. Foi verificado que

dos profissionais como 12.º ano ou menos, apenas 50% se encontrava numa posição de

operacional, 27,2% numa posição de coordenação e 22,8% nos quadros

técnicos/especializados. Ao mesmo tempo, apenas 16,7% dos profissionais com o 12.º ano

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ou menos tinham salários inferiores a 7.500€ líquidos anualmente. Numa outra perspetiva,

de todos os profissionais com rendimentos inferiores a 7.500€/ano verificou-se que 66%

dos mesmos têm escolaridade igual ou superior à licenciatura. Estes dados demonstram que

a complexidade do mercado português é de tal forma elevada que independentemente da

escolaridade, rendimentos ou posição hierárquica existirão profissionais com interesse neste

tipo de flexibilidades (das diversas amostras realizadas nesta secção, o valor mais baixo obtido

foi de 28,1% nos profissionais com rendimentos entre os 10.001 e os 14.000€ líquidos por

ano). Estes indícios são ainda extremamente relevantes pois, ao contrário de quem pensasse

que por Portugal ser um país com ordenados relativamente baixos, este tipo de flexibilidades

não teria grande usabilidade, verifica-se exatamente o oposto. Assim, devido à

inconclusividade destes três grandes grupos de variáveis (escolaridade, posição hierárquica

ou rendimentos anuais), as mesmas, não são consideradas como bons indicadores do tipo de

profissionais que procura esta flexibilidade.

O último segmento de amostras analisadas foi o tempo livre médio diário19, que de

todos os grupos de variáveis analisados foi o que trouxe resultados mais relevantes. No

quadro, são apresentados os valores percentuais obtidos de acordo com o os segmentos de

tempo livre considerados (foram consideradas 14 segmentos de horas diferentes, que se

acredita serem o suficiente para retirar as conclusões da relação desta variável com a hipótese

descrita). É percetível pelo quadro que o pico de maior interesse dos profissionais por esta

modalidade acontece quando N=55 (que corresponde aos profissionais que têm um tempo

livre diário inferior a 1 hora); após a mesma o interesse do profissional por esta modalidade

começa a reduzir há medida que o tempo livre aumenta até atingir o seu ponto mínimo

quando o tempo livre é de até 6 horas, retomando o crescimento positivo a partir daí. Este

efeito parábola permite constatar que são os profissionais com menos tempo livre que

procuram ter maior acesso a este tipo de flexibilidade, mas até certo limite, pois

independentemente de o profissional ter um tempo livre considerável, existirão na mesma

diversos profissionais que quererão continuar a ter acesso à medida (valores sempre

superiores a 30% nas amostras).

19 Como referido no capítulo 4, o tempo livre médio diário tem em conta os tempos gastos com o trabalho, transporte, alimentação, sono, filhos e estudos académicos. Considerando-se assim tempo livre, todo o tempo restante.

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61

Áre

a

Am

ost

ras

Sele

cio

nad

as

Variáveis testadas na Hipótese – Grupo A: N=594

Totais com

interesse

efetivo na

hipótese d1 d2 d3 d4 d5 d6

TO

TA

L

N=594 41,1% 27,4% 6,7% 11,1% 1,2% 12,5% 31,5%

Gén

ero

N=299 37,5% 34,4% 4,3% 11,7% 1,7% 10,4% 28,1%

N=295 44,7% 20,3% 9,2% 10,5% 0,7% 14,6% 35,0%

Idad

e

N=350 45,1% 26,3% 7,4% 7,1% 1,1% 12,9% 28,5%

N=181 35,9% 27,6% 5,0% 18,2% 0,6% 12,7% 36,5%

N=63 33,3% 33,3% 7,9% 12,7% 3,2% 9,5% 33,3%

Esc

ola

rid

ad

e

N=19 36,8% 31,6% 15,8% - 15,8% 31,6%

N=95 38,9% 28,4% 9,5% 12,6% 1,1% 9,5% 32,7%

N=206 39,8% 28,6% 7,3% 12,6% 1,5% 10,2% 31,6%

N=270 42,9% 25,9% 4,8% 10,4% 1,1% 15,2% 31,5%

Fil

ho

s

N=191 34,0% 28,8% 4,7% 24,1% 8,4% 37,2%

Est

ud

an

tes

N=35 28,6% 37,1% 8,6% 11,4% 14,3% 34,3%

Hie

rarq

uia

N=151 36,4% 33,1% 7,9% 8,6% 2,0% 11,9% 30,4%

N=274 39,8% 28,1% 6,6% 12,4% 0,7% 12,4% 32,1%

N=169 47,3% 21,3% 5,9% 11,2% 1,2% 13,0% 31,3%

Ren

d.

Liq

. A

nu

al

N=56 44,6% 21,4% 14,3% 3,6% 1,8% 14,3% 34,0%

N=121 30,6% 39,7% 7,4% 9,9% 1,7% 10,7% 29,7%

N=195 41,5% 30,3% 4,6% 12,3% 1,5% 9,7% 28,1%

N=130 50,8% 19,2% 3,8% 13,8% 0,8% 11,5% 29,9%

N=92 38,0% 20,7% 9,8% 10,9% 20,7% 41,4%

TE

MP

O L

IVR

E

N=43 20,9% 39,5% 7,0% 11,6% 20,9% 39,5%

N=55 20,0% 34,5% 7,3% 14,5% 23,6% 45,4%

N=79 26,6% 31,6% 6,3% 17,7% 1,3% 16,5% 41,8%

N=107 31,8% 29,0% 7,5% 15,9% 0,9% 15,0% 39,3%

N=139 32,4% 30,2% 6,5% 16,5% 0,7% 13,7% 37,4%

N=181 32,6% 28,7% 6,6% 16,6% 2,2% 13,3% 38,7%

N=212 24,9% 29,2% 6,1% 16,5% 1,9% 11,3% 35,8%

N=268 36,2% 30,6% 5,2% 14,2% 1,9% 11,9% 33,2%

N=399 39,3% 29,3% 5,0% 13,5% 1,5% 11,3% 31,3%

N=494 39,9% 29,8% 5,7% 12,3% 1,2% 11,1% 30,3%

N=548 40,7% 29,0% 5,7% 11,5% 1,3% 11,9% 30,4%

N=578 41,3% 28,0% 6,1% 10,9% 1,2% 12,5% 30,7%

N=587 41,4% 27,8% 6,3% 10,9% 1,2% 12,4% 30,8%

N=594 41,1% 27,4% 6,7% 11,1% 1,2% 12,5% 31,5%

Tabela 5.a Grupo A: N=594

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62

ii. Amostras secundárias

Com a introdução de todos os outros segmentos suprimidos na amostra principal

(inserção dos jovens entre os 25 e 34 anos, trabalhadores independentes, CEO/donos de

empresas e diretores, estudantes e desempregados) na amostra N=1025 8(cf. Tabela 5.b),

assiste-se a um aumento no interesse efetivo e no acesso à possibilidade de redução do tempo

de trabalho em relação a N=594. Com efeito o valor cresceu de 31,5% para 34,9%.

Nas avaliações por género (N=510 e N=515) assiste-se a uma aproximação dos

resultados da mulher ao homem (quando comparado à amostra principal, N=299 e N=295),

embora os níveis de interesse efetivo na modalidade pela mulher continuem inferiores aos

do homem.

Para os jovens entre os 18 e 25 anos (N=161), 41,6% gostaria de ter acesso à medida,

sendo a principal razão (58,1%) a variável d6. Mais pertinente ainda é o facto de ter sido

neste segmento que a hipótese d6 atingiu maior relevância. Demonstrando que para a

população mais jovem que trabalha ou entrará em breve no mercado de trabalho, as razões

que se prendem a este tipo de flexibilidade não são tão pontais ou temporárias no tempo

como se poderia anteceder (assumindo que muitos dos jovens nesta idade ainda estudam ou

estão a iniciar a sua carreira profissional, e por isso fosse expectável que as hipóteses d2 e d3

tivessem um maior peso relativo). São sim, as razões de quem dá cada vez mais valor ao

equilíbrio entre o trabalho e as restantes atividades da vida (que não a família ou os estudos).

Abrindo desta forma caminhos para que no futuro estas novas gerações moldem o mercado

de trabalho e a oferta das empresas e este tipo de flexibilidades de tempo. Nos restantes

segmentos de idade, embora os valores percentuais sejam em média superiores aos da

amostra principal, as razões de variação são similares às explicadas no ponto anterior.

Quanto aos pais e mães, os valores relativos de utilização da medida são os mesmos

da amostra principal, evidenciando, que possivelmente este segmento é muito insensível ao

posicionamento do profissional no mercado de trabalho (independentemente se tem um

contrato por conta de outrem, se é trabalhador independente, estudante, desempregado,

idades ou rendimentos líquidos) há uma tendência clara pelo uso desta medida, sobretudo

para darem mais atenção à família (hipótese d4).

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Os níveis de escolaridade, à semelhança dos resultados obtidos na amostra principal

são inconclusivos.

No nível hierárquico o primeiro valor analisado refere-se à amostra representativa de

diretores/donos das empresas A mesma indicou que 50,7% dos mesmos não vê qualquer

sentido nesta modalidade de flexibilidade de tempo. Sendo o único a ultrapassar a barreira

dos 50%. Não obstante, 41,3% dos diretores/donos das empresas também afirmaram ser

adeptos desta modalidade. Evidenciando que mesmo ocupando posições à partida mais

privilegiadas (melhor remuneradas e com possibilidades de maior flexibilidade devido ao

cargo que ocupam), utilizariam a medida sendo a principal razão a obtenção de uma vida

mais saudável e equilibrada. Foram ainda efetuados alguns testes para perceber as razões

destes dois extremos, mas os mesmos foram inconclusivos, acreditando que possivelmente

as razões destas disparidades estarão fora do controlo deste estudo.

Para os trabalhadores independentes (N=89) e que à partida têm um maior poder na

gestão dos seus horários e tempos de trabalho quando comparados aos trabalhadores

dependentes (N=594), obtiveram um grau de efetividade de 33,7%. Quando analisado com

maior detalhe, as razões por detrás destes resultados poderão ser várias, mas dado não

fazerem parte do objetivo central desta investigação não foram aprofundadas. No entanto,

nas possíveis conjeturas algumas das razões para estes resultados serem tão similares à

população empregada com contrato por conta de outrem poderão ser a possibilidade de

estarem a recibos verdes, mas mantendo na mesma as características de um contrato de

trabalho (por exemplo, têm horários pré-definidos e um responsável/chefe, os chamados

falsos recibos verdes). Outra possível razão poderá também estar relacionada coma

expetativa futura destes profissionais deixarem de ser independentes e terem um contrato

por conta de outrem. As restantes amostras hierárquicas obtiveram valores similares aos da

amostra principal.

Para a amostra representativa dos estudantes (N=75) convém salientar que a mesma

é composta por todo o universo trabalhador-estudante (inclui-se os que trabalham a recibos

verdes ou independentes, e os trabalhadores com contrato por conta de outrem). Assim nos

resultados obtidos, 33,3% concordaram que dariam uso efetivo a este tipo de flexibilidade.

Dos inquiridos que apoiam a medida e a utilizariam 48% seria para razões de equilíbrio com

a vida privada. A hipótese d3 continuou a não obter um peso tão relevante como poderia ser

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expectável (aparecendo no segundo lugar das preferências e muito mais próximo do terceiro

lugar que do primeiro), dado apenas 28% dar preferência para este uso. De notar que quando

comparada apenas aos estudantes trabalhadores dependentes, o peso relativo do tempo para

estudos aumentou e ultrapassou d4. Não obstante, a principal conclusão que podemos retirar

é que o tempo adicional que os estudantes ganhariam com o acesso a este tipo de flexibilidade

seria mais para usos não académicos (para apoio à família ou para outras atividades da vida

privada).

A amostra dos desempregados (N= 39) exige alguma cautela a analisar os seus dados

pois o seu número de casos (N) não é muito expressivo. Por outro lado, para simplificação

da análise, a estes participantes, dado não trabalharem, foi proposto que assumissem uma

proposta inicial de contrato de 40Horas semanais. Assim foi verificado que neste segmento

da população ativa obtiveram-se os resultados mais encorajadores. Para além de 48,7% dos

participantes poder vir a utilizar a medida efetivamente (valor mais alto obtido para o total

de apoiantes ativos da hipótese apresentada); a hipótese d5 (limitações de saúde (física e

psicológica), que nas amostras anteriores tinha apresentado resultados muito pequenos e

irrelevantes, na população desempregada que utilizaria a medida, atingiu uma importância de

10,47% (ou 5%do total). Para além destes resultados, também foi verificado nesta amostra o

valor percentual mais baixo para a hipótese b1. Estes dados também são relevantes pois

permitem perceber que possivelmente muitos dos profissionais desempregados não têm

grande interesse num trabalho a full-time (ou de 40Horas semanais) seja por razões de saúde,

familiares, de estudo ou outras, prevendo que esta medida de flexibilidade poderá também

ajudar na reintegração de diversos desempregados no mercado de trabalho.

Os resultados obtidos com o tempo livre quando N=1025 foram muito similares aos

obtidos quando N=594 prevendo-se que esta variável, tal como a variável que representa os

filhos seja pouco sensível a outros fatores e por isso demonstre ser uma variável bastante

relevante no estudo e com uma grande relação com o interesse nesta modalidade de

flexibilidade de tempo laboral.

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65

Áre

a

Am

ost

ras

Sele

cio

nad

as

Variáveis testadas na Hipótese – Grupo B Totais com

interesse

na hipótese

d1 d2 d3 d4 d5 d6

TO

TA

L

N=1025 41,3% 23,7% 7,4% 10,4% 1,3% 15,8% 34,9%

Gén

ero

N=510 35,3% 31,4% 5,5% 11,2% 1,6% 15,1% 33,4%

N=515 47,4% 16,1% 9,3% 9,7% 1,0% 16,5% 36,5%

Idad

e

N=161 38,5% 19,9% 10,6% 6,2% 0,6% 24,2% 41,6%

N=435 43,9% 24,6% 8,5% 7,8% 1,4% 13,8% 31,5%

N=293 39,2% 23,2% 4,8% 16,4% 1,0% 15,4% 37,6%

N=136 41,2% 26,5% 5,9% 11,0% 2,2% 13,2% 32,3%

Esc

ola

rid

ad

e N=23 43,5% 30,4% 13,0% -- -- 13,0% 26,0%

N=175 38,9% 25,1% 9,1% 9,7% 2,9% 14,3% 36,0%

N=405 41,2% 24,4% 7,7% 11,9% 1,2% 13,6% 34,4%

N=409 42,1% 22,0% 6,4% 10,0% 0,7% 18,8% 35,9%

Fil

ho

s

N=333 38,1% 24,6% 4,5% 20,7% 0,6% 11,4% 37,2%

Est

ud

an

tes

N=75 41,3% 25,3% 9,3% 8% -- 16% 33,3%

Hie

rarq

uia

N=140 50,7% 7,9% 7,1% 12,1% 1,4% 20,7% 41,3%

N=89 41,6% 24,7% 4,5% 11,2% 1,1% 16,9% 33,7%

N=707 40,6% 26,7% 7,1% 10,3% 1,0% 14,3% 32,7%

N=205 36,1% 33,2% 7,8% 7,3% 1,5% 14,1% 30,7%

N=323 39,9% 26,3% 6,8% 11,5% 0,6% 14,9% 33,8%

N=179 46,9% 20,1% 6,7% 11,7% 1,1% 13,4% 32,9%

Dese

mp

reg

ad

o

N=39 25,6% 25,6% 10,3% 15,4% 5,1% 17,9% 48,7%

Ren

d.

Liq

. A

nu

al

N=125 46,4% 23,2% 9,6% 2,4% 0,8% 17,6% 30,4%

N=193 32,1% 33,2% 7,3% 11,9% 1,6% 14,0% 34,8%

N=262 40,1% 28,6% 6,5% 11,1% 1,1% 12,6% 31,3%

N=169 49,7% 20,1% 4,7% 12,4% 1,2% 11,8% 30,1%

N=194 45,4% 12,4% 7,2% 12,4% 0,5% 22,2% 42,3%

TE

MP

O L

IVR

E N=78 29,5% 30,8% 5,1% 14,1% 2,6% 17,9% 39,7%

N=108 27,8% 27,8% 5,6% 15,7% 1,9% 21,3% 44,5%

N=147 31,3% 25,9% 5,4% 17,0% 2,0% 18,4% 42,8%

N=191 34,6% 24,6% 6,3% 14,7% 1,6% 18,3% 40,9%

N=235 34,5% 25,5% 6,4% 15,3% 1,3% 17,0% 40,0%

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66

N=296 33,4% 25,3% 6,4% 15,5% 2,0% 17,2% 41,1%

N=356 36,2% 26,1% 5,9% 15,2% 1,7% 14,9% 37,7%

N=448 37,9% 26,3% 5,6% 13,4% 1,6% 15,2% 35,8%

N=649 39,8% 26,0% 5,9% 12,5% 1,4% 14,5% 34,3%

N=794 41,2% 25,8% 6,3% 11,6% 1,1% 14,0% 33,0%

N=889 41,8% 24,9% 6,4% 10,8% 1,1% 15,0% 33,3%

N=933 42,3% 24,3% 6,5% 10,3% 1,1% 15,4% 33,3%

N=961 42,1% 24,0% 6,7% 10,5% 1,0% 15,6% 33,8%

N=1025 41,4% 23,7% 7,4% 10,4% 1,3% 15,8% 34,9%

Tabela 5.b Grupo B: N=1025

Para concluir este tema verificou-se que independentemente das amostras analisadas,

e dos motivos que poderiam levar à utilização desta modalidade de flexibilidade de tempo

laboral, o valor relativo mais baixo obtido entre todas as amostras foi de 26% (para o universo

total) e de 28,1 para os profissionais com contrato dependente (ou por conta de outrem).

Assim pode-se dizer que pelo menos 25% dos profissionais em Portugal não só concorda

com a medida como a utilizaria, mesmo que isso trouxesse uma redução ao seu salário

(proporcionalmente e de acordo com as horas trabalhadas).

c) Análise dos tempos dos inquiridos com interesse efetivo na hipótese

Esta secção pretende analisar os tempos (cf. Tabela 5.c) e o período de tempo (cf.

Tabela 5.d) que os participantes ambicionavam ter no momento em que este inquérito foi

realizado. De notar que o valor 0 (zero) refere-se às respostas obtidas em que os profissionais

embora concordem com a medida e possam vir a utilizá-la, no momento não tinham interesse

em utilizá-la. Devido aos resultados obtidos no ponto anterior, e de acordo com a relevância

demonstrada, nesta secção serão apenas analisadas as seguintes amostras, N=594 (amostra

principal dos trabalhadores dependentes); N=299 e N=295 (amostra por género dos

trabalhadores dependentes); N=191 (profissionais com contratos dependentes e Filhos);

N=1025 (amostra global); N=161 (jovens entre os 18 e 24 anos); N=140 (Diretores/CEO);

N=89 (trabalhadores independentes); N=75 (trabalhadores estudantes com contrato por

conta de outrem); N=39 (desempregados). O tempo livre será ainda analisado utilizando

como base a amostra principal (N=594).

Na análise à amostra principal verificou-se que os profissionais procuram, em média,

uma redução ao seu tempo atual em 4,67 horas, verificando-se ainda que 34,2% procuram

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uma redução em 5 horas. Por outro lado, a média do período pelo qual procuram usufruir

desta redução do horário foi de 14,84 meses e o parâmetro que obteve maior peso relativo

foi o período de 12 meses. Os dados por género revelaram ainda que embora exista um maior

percentual de homens interessados efetivamente na hipótese e, em média seja o homem que

procure a maior redução do horário, foi a mulher que procurou ter maior acesso a esta

redução (16,81 meses). Este último dado é especialmente relevante dado que a mulher

buscou ter acesso, em média, a mais 3,6 meses que o homem. No quadro é ainda possível

verificar que mais de 10% das mulheres que procura por esta redução, não é apenas com

carácter temporário, mas sim de forma permanente.

Uma outra variável que demonstrou uma forte influência no ponto anterior foi a

existência de filhos dependentes, verificando-se que, em média, estes profissionais procuram

uma redução de 4,87 horas ao seu horário atual, e por um período médio de 15 meses.

No estudo ao tempo livre, foi apurado que, nos profissionais que tenham um tempo

livre inferior a 2 horas diárias, o quadrante com maior peso relativo foi o correspondente à

redução de 8 horas semanais. Sendo que com um tempo livre superior a 2 horas diárias, a

redução de tempo mais procurada passa para as 5 horas semanais.

Com a introdução dos outros grupos, verificou-se um aumento da redução do tempo

em horas em aproximadamente 20 minutos (0,33 horas) quando comparada ao grupo dos

trabalhadores dependentes. Nestas comparações foi ainda percetível que o tipo de

profissionais que procura uma redução permanente são essencialmente os trabalhadores

dependentes com mais de 25 anos.

O parâmetro dos diretores registou o maior valor médio de redução de tempo (6,82

horas) e um período médio de usufruto da hipótese de 14,35 meses. No sentido oposto

foram os trabalhadores estudantes que registaram o período de redução mais curto de toda

a análise (4,11) e o parâmetro de 6 meses foi o mais procurado (por 44% dos inquiridos nesta

situação). Valores similares foram também sentidos no parâmetro dos jovens entre os 18 e

24 anos. Demonstrando uma relação forte entre estes dois segmentos. Por seu turno, os

trabalhadores independentes, procuraram, em média, uma redução do seu período laboral

em 6 horas semanais por um período médio de 14 meses.

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O último segmento analisado foi o desemprego. Convém voltar a referir que este

grupo é composto por profissionais que no momento do inquérito não trabalhavam, e por

isso lhes foi proposto que considerassem uma proposta inicial de 40 horas semanais. Assim

é percetível que 36,8% dos profissionais procuram em média um horário de 35 horas

semanais. Mais marcante foi o facto de este segmento ter apresentado a procura por um

período mais longo de redução de horário (17,72 meses) entre todas as amostras realizadas.

Para além disso foram também observadas neste segmento uma procura por horários

inferiores a 40 horas semanais de forma permanente por mais de 10% dos desempregados.

Para concluir esta secção e como dados mais relevantes podemos afirmar que o valor

médio de tempo procurado na redução de horário é entre as 4,5 e as 5 horas semanais. Na

análise do período, verifica-se que os profissionais procuram em média acesso a esta redução

entre os 11 e 18 meses.

Áre

a

Am

ost

ras

Sele

cio

nad

as

Redução Tempo Laboral (em Horas por semana)

Média

(Apara

da 5%)

em

Horas

0 1 2 4 5 8 10 12 15 16 20

TO

TA

L N=594 5,9% 0,0% 20,3% 17,1% 34,2% 18,7% 0,5% 0,5% 0,0% 2,7% 0,0% 4,665

Gén

ero

N=299 3,6% 0,0% 22,6% 19,0% 35,7% 16,7% 0,0% 1,2% 0,0% 1,2% 0,0% 4,55

N=295 7,8% 0,0% 18,4% 15,5% 33,0% 20,4% 1,0% 0,0% 3,9% 0,0% 4,734

Fih

os

N=191 7,0% 0,0% 18,3% 18,3% 28,2% 22,5% 0,0% 1,4% 0,0% 4,2% 0,0% 4,873

TE

MP

O L

IVR

E

N=43 17,6% 0,0% 17,6% 5,9% 17,6% 35,3% 0,0% 0,0% 0,0% 5,9% 0,0% 4,928

N=55 12,0% 0,0% 24,0% 8,0% 20,0% 32,0% 0,0% 0,0% 0,0% 4,0% 0,0% 4,756

N=79 9,1% 0,0% 27,3% 9,1% 21,2% 27,3% 0,0% 3,0% 0,0% 3,0% 0,0% 4,754

N=107 11,9% 0,0% 23,8% 11,9% 21,4% 26,2% 0,0% 2,4% 0,0% 2,4% 0,0% 4,556

N=139 9,6% 0,0% 25,0% 11,5% 25,0% 23,1% 0,0% 1,9% 0,0% 3,8% 0,0% 4,611

N=181 7,1% 0,0% 21,4% 11,4% 27,1% 27,1% 0,0% 1,4% 0,0% 4,3% 0,0% 5

N=212 7,9% 0,0% 21,1% 10,5% 27,6% 27,6% 0,0% 1,3% 0,0% 3,9% 0,0% 4,962

N=268 6,7% 0,0% 19,1% 11,2% 33,7% 24,7% 0,0% 1,1% 0,0% 3,4% 0,0% 4,949

N=399 6,4% 0,0% 16,0% 12,8% 40,0% 21,6% 0,0% 0,8% 0,0% 2,4% 0,0% 4,907

N=494 5,3% 0,0% 18,0% 17,3% 36,7% 19,3% 0,0% 0,7% 0,0% 2,7% 0,0% 4,778

N=548 6,0% 0,0% 17,5% 16,9% 36,7% 19,3% 0,6% 0,6% 0,0% 2,4% 0,0% 4,77

N=578 6,2% 0,0% 18,6% 16,4% 35,6% 19,2% 0,6% 0,6% 0,0% 2,8% 0,0% 4,734

N=587 6,1% 0,0% 18,8% 17,1% 35,4% 18,8% 0,6% 0,6% 0,0% 2,8% 0,0% 4,712

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69

N=594 5,9% 0,0% 20,3% 17,1% 34,2% 18,7% 0,5% 0,5% 0,0% 2,7% 0,0% 4,665

TO

TA

L N=1025 4,2% 0,3% 19,6% 17,9% 33,0% 17,6% 0,8% 0,3% 0,3% 5,9% 0,3% 4,998

Joven

s

18-2

5

ano

s N=161 3,0% 0,0% 19,4% 23,9% 37,3% 11,9% 0,0% 0,0% 1,5% 3,0% 0,0% 4,536

CE

O

/

Dir

et

ore

s N=140 1,7% 0,0% 13,8% 13,8% 25,9% 29,3% 0,0% 0,0% 0,0% 15,5% 0,0% 6,817

Tra

b.

Ind

epen

den

tes

N=89 0,0% 0,0% 20,0% 20,0% 33,3% 6,7% 3,3% 0,0% 0,0% 13,3% 3,3% 6,111

Tra

b.

Est

ud

ante

s

N=75 4,0% 0,0% 36,0% 8,0% 36,0% 12,0% 0,0% 0,0% 0,0% 4,0% 0,0% 4,111

Des

e

mp

reg

ado

s

N=39 5,3% 5,3% 26,3% 10,5% 36,8% 5,3% 5,3% 0,0% 0,0% 5,3% 0,0% 4,257

Tabela 5.c Hipótese - Redução Tempo/semana

Áre

a

Am

ost

ras

Sele

cio

nad

as Período de utilização da medida (em meses)

Média em

Meses

(Média

Aparada

5%)

0 3 6 12 18 24 36 Sempre

TO

TA

L N=594 4,3% 0,0% 27,3% 36,4% 2,1% 21,4% 1,1% 7,5% 14,836

Gén

ero

N=299 2,4% 0,0% 28,6% 32,1% 2,4% 22,6% 1,2% 10,7% 16,810

N=295 5,8% 0,0% 26,2% 39,8% 1,9% 20,4% 1,0% 4,9% 13,210

Fih

os

N=191 5,6% 0,0% 26,8% 38,0% 0,0% 19,7% 1,4% 8,5% 14,977

TE

MP

O L

IVR

E

N=43 11,8% 0,0% 23,5% 41,2% 0,0% 17,6% 0,0% 5,9% 12,353

N=55 8,0% 0,0% 28,0% 40,0% 0,0% 16,0% 0,0% 8,0% 13,467

N=79 6,1% 0,0% 33,3% 36,4% 0,0% 15,2% 0,0% 9,1% 13,838

N=107 7,1% 0,0% 28,6% 38,1% 2,4% 11,9% 0,0% 11,9% 15,238

N=139 5,8% 0,0% 28,8% 38,5% 1,9% 13,5% 1,9% 9,6% 14,872

N=181 4,3% 0,0% 30,0% 40,0% 1,4% 15,7% 1,4% 7,1% 13,762

N=212 5,3% 0,0% 28,9% 38,2% 1,3% 17,1% 1,3% 7,9% 14,298

N=268 4,5% 0,0% 29,2% 40,4% 1,1% 16,9% 1,1% 6,7% 13,637

N=399 4,0% 0,0% 27,2% 39,2% 1,6% 16,8% 1,6% 9,6% 15,480

N=494 3,3% 0,0% 28,0% 36,7% 1,3% 20,0% 1,3% 9,3% 15,667

N=548 4,2% 0,0% 27,1% 36,7% 1,8% 20,5% 1,2% 8,4% 15,249

N=578 4,5% 0,0% 27,1% 36,7% 1,7% 20,9% 1,1% 7,9% 14,977

N=587 4,4% 0,0% 26,5% 37,6% 1,7% 21,0% 1,1% 7,7% 14,934

N=594 4,3% 0,0% 27,3% 36,4% 2,1% 21,4% 1,1% 7,5% 14,836

TO

T

AL

N=1025 3,4% 0,3% 30,5% 33,6% 2,8% 23,2% 0,8% 5,3% 13,738

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Jove

ns

18-2

5

an

os

N=161 3,0% 0,0% 44,8% 29,9% 4,5% 16,4% 1,5% 0,0% 11,169 C

EO

/

Dir

et

ore

s

N=140 1,8% 0,0% 31,6% 29,8% 1,8% 29,8% 0,0% 5,3% 14,345

Tra

b.

Ind

ep

e

nd

en

tes

N=89 0,0% 3,3% 26,7% 36,7% 33,3% 0,0% 0,0% 0,0% 14,111

Tra

b.

Est

u

dan

te

s N=75 4,0% 0,0% 44,0% 28,0% 4,0% 20,0% 0,0% 0,0% 11,400

Dese

mp

re

gad

os

N=39 5,3% 0,0% 15,8% 36,8% 5,3% 26,3% 0,0% 10,5% 17,719

Tabela 5.d Hipótese - Período de utilização/meses

d) Análise às razões dos profissionais que, embora concordem com a medida não a utilizariam devido a razões económicas.

Esta secção foi desenvolvida para primeiramente perceber (ou tentar) qual a situação

financeira que os profissionais procuram e as ações que tomarão numa tentativa de

melhorarem a sua vida financeira (e que lhes permita, melhorar a qualidade de vida deles).

Por outro lado, devido à expressividade que a hipótese d2 obteve no ponto 1 deste capítulo,

considerou-se importante perceber quais as ações que poderão ser tomadas no futuro para

que estes profissionais também possam ativamente usufruir desta modalidade de flexibilidade

de tempo laboral. Assim foi proposto a todos os inquiridos que selecionaram a opção d2

(“Seria uma ideia interessante, no entanto como tenho grandes necessidades financeiras

provavelmente não a iria usar”) a participar nesta secção à parte.

Para maior simplicidade de análise e tendo em conta a efetividade da mesma, como

são os trabalhadores com contrato por conta de outrem os mais sujeitos às imposições

salariais 20 da entidade empregadora decidiu-se nesta secção apenas abordar a amostra

N=594.

A primeira questão colocada tentou entender qual seria o aumento líquido mensal

que o profissional teria de ter para alcançar uma situação financeira minimamente aceitável

assumindo um horizonte temporal de 1 ano. Na amostra principal (N=594), entre as diversas

20 Quando comparados com os trabalhadores independentes ou com os diretores/CEO das empresas. Por outro lado, também não fazia sentido incluir nesta apresentação os dados dos profissionais desempregados ou dos jovens com menos de 25 anos pois iriam ser criados enviesamentos que tornariam a análise mais confusa.

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respostas obtidas verificou-se que 20,9% teria que ter um aumento igual ou inferior a 100€;

19% de 150€ e 60,1% de pelo menos 200€ ou mais por mês. Devido às elevadas necessidades

financeiras obtidas questionou-se ainda se o profissional mudaria de emprego, se a sua

entidade empregadora não alcançasse estes valores num espaço de 1 ano. 27,6% respondeu

afirmativamente, 22,7% afirmou que mesmo que não tivesse o aumento procurado não

mudaria de emprego, e 49,7% informou que ainda não sabia se mudaria se não tivesse o

aumento desejado. Foi ainda verificado que o rendimento líquido atual dos profissionais que

procuram os maiores aumentos situa-se, em média entre os 7.500€ e os 10.000€ líquidos

anualmente (cf. Figura 5.1). De notar ainda que a razão da procura de maiores aumentos com

um salário anual líquido inferior a 7500€ só não é a mais elevada pois a mulher demonstrou

neste segmento uma expetativa média de aumento mensal de 134€, muito abaixo da

expetativa do homem (200€ ou mais).

Figura 5.1Rendimento líquido e aumento mínimo mensal

Para compreensão deste enquadramento foi ainda questionado aos participantes

quais as razões que eles consideram existir para não ganharem o mínimo para terem uma

vida equilibrada financeiramente. A escolha com maior unanimidade (44% dos profissionais

selecionou esta opção) foi o facto de existirem outros profissionais no mercado disponíveis

para trabalhar por esses preços baixos. 36% ainda concorda que estes valores mais baixos do

que deveriam acontece, pois, as empresas similares (e onde a experiência do trabalhador

poderia ser um fator positivo) pagam o mesmo ou menos e por isso os profissionais vão

tentando aguentar-se. A terceira razão e que reuniu mais de 1/3 das opiniões (34.35%) foi

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72

que na perspetiva do empregado, a empresa considera o empregado apenas um custo e como

tal quer pagar o mínimo possível. Depois 14,11% ainda considera que para a empresa, o valor

do seu profissional é aquele que lhes pagam, não estando por isso predispostos a negociar

um aumento salarial. 13,5% acredita que a empresa se aproveita de debilidade dos

profissionais (do medo de ficarem desempregados) e por último 12,88% sente que a culpa

de não terem a melhoria financeira que procuram é por se terem conformado com a situação

e parado de lutar. Foi ainda adicionado um espaço para os profissionais escreverem outras

razões que não as enunciadas acima como as causas de não terem aumento. Algumas das

respostas fornecidas por estes trabalhadores foram “a empresa não tem capacidade financeira

para suportar esse aumento”; “os limites impostos pelos estágios do IEFP enviesaram os

baixos salários”; “trabalho na função pública e existe o congelamento de carreiras”,

“conjuntura atual”, “contrato celebrado há pouco tempo e os valores foram mal

negociados”, “falta de novos projetos” e “por questões legais os salários e aumentos estão

tabelados de acordo com os anos de casa”.

A última pergunta realizada tentou perceber o que estes profissionais iriam fazer de

diferente para alcançarem o equilíbrio financeiro que almejam. Das opções fornecidas

previamente 47% informou que vai começar/retomar a procura ativa de trabalho, 27,6% vai

procurar um trabalho num sector/ ramo diferente, 21,47% irá voltar a estudar e aumentar o

seu know-how, 16,56% como não acredita que seja possível inverter a situação, não tomará

nenhuma medida em particular, 12,88% vai procurar trabalho fora de Portugal, 11,65% irá

criar o seu próprio trabalho (trabalhador por conta própria), 9,2% irá arranjar outro part-

time/ trabalhar mais horas para suprir as necessidades financeiras e 7,36% vai procurar

trabalho fora da sua área de residência. Outras respostas dadas pelos profissionais foram “

vou ter calma e esperar algum tempo para perceber se a situação vai mudar”, “vou pedir um

aumento em breve”, “sinto-me bem onde trabalho e apesar de necessitar do aumento, o

dinheiro não é tudo”, “Não tenho alternativa devido à idade que buscam no mercado de

trabalho, por isso tenho de aguentar”, “Por agora não farei nada”, “vou andar em negociação

constante com os decisores para melhoria salarial” ou “estou há pouco tempo na empresa

para pedir aumento”.

Para concluir este capítulo, e tendo em conta o tipo de respostas fornecidas pelos

profissionais, pressente-se a existência de uma posição muito passiva (e de conformação)

pelos profissionais em Portugal na busca do salário que eles acreditam que valem. Pois em

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vez de tentarem negociar com a sua entidade empregadora ou perceber junto desta o que

poderão fazer para melhorar a sua situação salarial (em 163 inquiridos nesta secção, apenas

2 profissionais referiram que iriam tomar medidas de negociar e falar diretamente com o seu

empregador), a maioria demonstrou que não tomará nenhum tipo de atitude determinante e

muitos dos que iniciarem a procura ativa de trabalho, dão ainda preferência a uma localização

no estrangeiro antes de tentarem outras zonas geográficas do país onde residem atualmente.

e) Análise à população desempregada

A população desempregada faz parte da população ativa que apesar de ainda não se

encontrarem a trabalhar, poderão num futuro muito breve fazê-lo. Para além disso, a

relevância de análise a este segmento relaciona-se com os resultados expressivos obtidos nos

pontos anteriores.

Assim para a amostra N=39, verificou-se que 66,7% são do género feminino e 33,3%

do género masculino. Relativamente ao grau de habilitações académicas 17,9% têm o 12.º

ano, 46,2% a licenciatura e 35,9% o mestrado. A idade com maior concentração desta

população é entre os 35 e 44 anos (38,5%), seguidas pelos profissionais entre os 25 e 34 anos

(28,2%), depois os que possuem idade igual ou superior a 45 anos (17,9) e por último

encontram-se os desempregados com menos de 25 anos. Apurou-se ainda que 51% dos

desempregados tem filhos dependentes (e destes mais de 55% dos pais/mães desempregados

têm 2 filhos). Estas últimas estatísticas diferem largamente da amostra global (N=1025) e da

amostra principal (N=594), onde menos de 1/3 dos profissionais tem filhos e dos que têm,

mais de 50% tem apenas 1 filho. Um outro dado importante foi perceber que 51,8% dos

desempregados, mesmo não trabalhando, ainda não sente ter o tempo suficiente e gostariam

de ter mais tempo para a sua vida privada.

Na análise aos tempos de desemprego verificou-se que 41,1% está desempregado há

mais de 12 meses e 48,7% há menos de 6 meses.

Foi ainda solicitado e este segmento de participantes que avaliassem as causas de

ainda se encontrarem desempregados. As respostas variaram entre 1 e 3. Sendo que 1

corresponde a um nível de influência reduzido e 3 a que essa medida tem um impacto e

influência muito forte no facto de ainda estar desempregado. Assim a causa com maior

impacto no profissional em estar desempregado foi pela necessidade de não encontrar um

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trabalho com horários entre as 9h e as 18horas e de segunda a sexta (1,91 pontos); no

segundo posto aparece a causa dos pagamentos baixos em que não compensa ir trabalhar

(1,90 pontos); em terceiro, o facto do profissional não querer trabalhar em horários

rotativos/ noturnos/ fins de semana com 1,87 pontos; no quarto lugar o influenciador da

idade (“tenho uma idade superior ao que as empresas procuram”) com 1,84 pontos; depois

em sexto aparece com 1,63 pontos o facto de não estar muito interessada em voltar ao

mercado de trabalho ativo (a questão colocada foi “embora esteja desempregado/a, não

estou numa procura ativa de trabalho); em sétimo, o facto “ainda não encontrei um emprego

com um horário compatível às minhas exigências pessoais (como estudos, filhos ou outros

parentes, outras atividades pessoais) que reúne 1,61 pontos; no penúltimo posto vem a falta

de experiência profissional como causa de estar desempregado (1,58); e em último como a

causa menos importante aparecem as limitações de saúde (física ou psicológica) com 1,05

pontos.

Após este enquadramento, verifica-se que muitos dos profissionais desempregados,

estão nessa posição não por sentirem que não conseguem um trabalho, mas por outras

exigências às quais os mesmos dão muito valor, nomeadamente o horário ou os salários

baixos. Assim para muitos é preferível ficar em casa do que voltar ao mercado de trabalho

pois os custos que teriam de suportar seriam muito maiores (onde hipoteticamente

poderemos assumir os gastos de transportes ou em creches/ infantários para os filhos mais

pequenos 21 como algumas das possibilidades). Assim, percebe-se que esta maior exigência

de tempo e ações mais criteriosas vão no sentido de alcançar um maior equilíbrio entre a vida

privada e pessoal e onde o dinheiro não é o fator mais importante e que lhes faça aceitar

qualquer emprego que apareça.

f) Análises aos pontos fortes e fracos desta hipótese

A última secção que analisaremos na investigação e que foi solicitada a todos os

inquiridos foi a sua opinião no que concerne aos efeitos positivos e negativos desta medida,

bem como as principais razões que estão por trás desta modalidade ser pouco utilizada pelos

profissionais em Portugal. Mais uma vez a amostra utilizada para este enquadramento será

N=594, ou seja, a opinião dos trabalhadores dependentes e que mais dificuldade podem ter

21 Foi verificado que os profissionais com filhos, 45% têm filhos com idade igual ou inferior a 5 anos.

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no acesso à medida. No final deste ponto daremos ainda algum destaque à opinião de um

outro segmento dos profissionais – os patrões, CEO e donos das empresas.

i. Perspetiva dos trabalhadores (N=594)

Assim relativamente aos pontos positivos, o que demonstrou maior conformidade

foi “Ter mais tempo para outras atividades pessoais” ao qual 54,4% dos profissionais

selecionaram como uma das principais vantagens. A vantagem” Poder passar mais tempo

com a família” foi também escolhida por 50,3% dos trabalhadores como uma vantagem

relevante. No terceiro posto aparece a possibilidade de “Aumentos de produtividade horária

e maior empenho enquanto profissional” indicada como vantagem relevante por 37,4% da

amostra. Com 20,7% aparecem as hipóteses “Possibilidade de melhorar os resultados

académicos/ escolares ou voltar a estudar” e ainda “Para mim, não teria grandes

consequências positivas, nem teria interesse na medida (no curto ou médio prazo)”. A

vantagem de “Poder conciliar com outro trabalho” reuniu apenas 9,8% do interesse dos

trabalhadores. Em último lugar aparece “Maior facilidade e incentivo em voltar ao mercado

de trabalho legal” onde apenas 3,4% dos profissionais demonstrou ser uma vantagem

relevante para os mesmos. Esta medida foi ainda analisada junto da população

desempregada, e embora os valores tenham-se elevado para 15% de aprovação, esta hipótese

não parece ser uma vantagem desta flexibilidade de tempo para os profissionais. Foi ainda

dado espaço para que o profissional pudesse selecionar ou referir outras possíveis vantagens

desta modalidade de flexibilidade. Algumas das respostas dadas relacionam-se com “ter mais

tempo para se dedicar ao associativismo”, “ter uma maior sensação de felicidade por saber

que existia um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional”, “poder começar a desenvolver

projetos por conta própria (nomeadamente como empresário me nome individual)”;

“melhoria da saúde física e mental” ou “ter mais tempo para possíveis investimentos”.

Na análise das desvantagens desta flexibilidade de tempo laboral, na perspetiva dos

trabalhadores, a principal demonstrou ser a situação salarial devido à redução financeira no

orçamento que seria causado pela redução do tempo de trabalho (proporcionalmente),

reunindo um consenso de 55,5% dos mesmos. A segunda maior desvantagem com 39,7%

de aceitação são as maiores dificuldades de progressão na carreira. Em terceiro aparece a

possibilidade de ser discriminado ou marginalizado no local de trabalho com 22,9% de

aprovação. Por outro lado, 17,5% dos profissionais considerou que esta medida não teria

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grandes consequências negativas para eles e utilizá-la-iam sempre que precisassem. No

penúltimo lugar aparece como possível grande desvantagem a redução da produtividade e

menor empenho enquanto profissional, que reuniu o consenso de 12,1% dos trabalhadores.

A desvantagem menos importante parece ser “levar a uma desistência do emprego atual ou

a procurar novo trabalho” com apenas 8,8% de aprovação. Uma outra desvantagem proposta

por um dos inquiridos foi a maior dificuldade no não cumprimento de prazos/ planeamento

de atividades anteriormente acertadas com os seus clientes”.

A última questão do inquérito colocada aos profissionais teve como intuito descobrir

as razões desta modalidade de flexibilidade temporal ser pouco utilizada em Portugal. A razão

com maior consenso voltou a ser a situação financeira através da hipótese “Porque ganha-se

pouco e precisa-se do máximo de horas de trabalho possível “que foi selecionada como a

principal causa (ou uma das principais) da não utilização desta medida por 63,3% dos

trabalhadores. Em segundo a maior causa aparece a hipótese “Porque não é do interesse das

empresas. O nível de gestão seria muito complexo e com gastos adicionais para eles” com

51,9% de aprovação. Em terceiro aparece o medo de ser despedido ou prejudicado no

trabalho como uma das principais causas da não utilização para 36,9% dos profissionais. A

falta de legislação/ apoio legal para proteção dos trabalhadores aparece em último com uma

aceitação de 34,2%. Foi ainda possibilitado que os inquiridos pudessem partilhar outras

causas que considerem relevantes, sendo que a que a mais referenciada foi a mentalidade

portuguesa. Algumas das outras respostas obtidas são a resistência à mudança”, “não

encontro razões para a medida ser pouco utilizada”, “questões socioculturais (o poder do

hábito)”, “ não está enraizado na cultura empresarial portuguesa”, “ não faz parte da cultura

empresarial nacional, o trabalhador é bem visto se ficar ate mais tarde”, “politicamente e

culturalmente Portugal não está preparado”, “ porque de forma geral não somos produtivos

e o mind set é mais horas, mais trabalho”, “ por falta de criatividade dos gestores”, “porque

apesar de toda a evidência científica, a maioria dos empregadores portugueses continua a ter

dificuldade em ultrapassar antigas mentalidades”, “porque os gestores portugueses

consideram que trabalhar mais horas para além do horário é que é ser bom profissional e

produtivo” e “porque os europeus do sul da europa socializam no local de trabalho e por

isso esta medida não faz sentido”.

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ii. Perspetiva dos donos de empresas/CEO ou similares (N=47)

Estas mesmas questões foram ainda solicitadas aos donos de empresa/CEO ou

similares, no entanto não foi utilizado a amostra utilizada ao longo do estudo (N=14022), que

também incluía os diretores da empresa ou cargos de topo. Pretendeu-se apenas ter a

perspetiva limitadora dos donos das empresas, dado que em última instância são estes os

decisores supremos das empresas. Tendo-se assim obtido resultados muito mais pertinentes

e relevantes conforme exemplificado abaixo.

Relativamente às vantagens 38,3% acredita que a maior vantagem seria para outras

atividades pessoais (que não família ou estudos). 36,2% também vê o maior tempo

disponibilizado para a família como uma importante vantagem. Por outro lado, 34% acredita

que este tipo de flexibilidade de tempo laboral não traz grandes vantagens. E ainda 25,5%

dos empresários acredita que esta medida possibilitará aumentos de produtividade.

No que concerne às desvantagens, estranhamente ao esperado, a desvantagem com

maior consenso foi a de não existirem grandes desvantagens nesta medida (reuniu 44,7% de

aprovação), os problemas financeiros aparecem em segundo com 23,4% de aceitação, em

terceiro as maiores dificuldades de progressão na carreira são visualizadas pelos

empregadores como um obstáculo, mas apenas para 14,9% dos mesmos. A afetação da

produtividade e menor empenho aparece com também 14,9% de aprovação. As restantes

hipóteses tiveram uma aprovação relativamente baixa, próxima dos 7%.

No que respeita às causas, embora a principal continue a ser os baixos salários para

55,3% dos empresários. A causa “Porque não é do interesse das empresas. O nível de gestão

seria muito complexo e com gastos adicionais para eles” foi selecionada como uma das causas

principais por 31,9% dos donos de empresas (valor relativo abaixo do percecionado pelos

empregados). A falta de proteção legal reúne 23,4% das opiniões e como a causa menos

importante aparece a possibilidade prejudicar os trabalhadores ou despedir os que quiserem

recorrer à medida com apenas 21,3% de aprovação. Foram igualmente pertinentes algumas

outras causas referidas pelos empresários como “a má preparação dos gestores e lei laboral

obsoleta”, “ má gestão das empresas e o facto de culturalmente esta modalidade ser mal

22 Esta amostra fez sentido no ponto 1 e 2 do capítulo 5 pois os resultados obtidos entre os donos e diretores (que não são os donos das empresas) foram sempre similares.

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vista”, “ alguns donos referiram ainda que desconheciam este tipo de flexibilidade” e outros

ainda referiram que “este tipo de flexibilidade laboral já está a ser uma politica adotada por

algumas empresas pois poderá até trazer benefícios para as empresas como a possibilidade

desses profissionais voltarem a estudar e com isso tornarem-se mais eficientes e trazerem

novas ideias e novas formas de fazer as coisas”.

Uma das principais conclusões a retirar desta modalidade são as posições extremistas

sentidas. De um lado 44,7% dos donos das empresas só vê vantagens positivas na medida, e

do outro 34% está do lado exatamente oposto onde apenas vê desvantagens desta medida.

Existindo 21,3% que tanto vê vantagens como desvantagens da medida. Mais significativo

ainda é relevante é perceber que existe uma abertura razoável por parte dos empresários para

a implementação deste tipo de modalidade.

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Capítulo 6. Discussão de Resultados

A viabilidade da modalidade de flexibilidade de tempo laboral desta dissertação de

mestrado foi sustentada através da verificação de três hipóteses. As mesmas foram

apresentadas no capítulo dois. Pretende-se após validação das mesmas apurar se existe

mercado de trabalho que sustente o aprofundamento de estudos adicionais que suportem e

apoiem as empresas na implementação desta modalidade junto dos seus profissionais. O

capítulo três apresentou a metodologia utilizada na investigação sendo que as principais

conclusões do inquérito foram apresentadas nos capítulos quatro e cinco. Assim toda a

discussão de resultados no presente capítulo se centrará na validação das três hipóteses com

os dados fornecidos dos dois capítulos anteriores.

A primeira hipótese apresentada foi “o tempo é um fator determinante no conflito

do trabalho-vida” (hipótese 2.a). Para a verificação da hipótese recorreu-se à literatura de

modo a perceber o efeito do tempo no bem-estar do trabalho e no bem-estar da vida privada.

Dos diversos modelos apresentados (Johnson & Hall, 1988; Karasek, 1979; Neal & Hammer,

2007; Organ, 1988 e Friedman, 1998) apenas o modelo de Friedman demonstrou resultados

excecionalmente fortes. Com efeito, para este modelo, os principais indicativos da redução

do conflito trabalho-vida foram as variáveis que obtiveram os melhores resultados de

correlação e relação (qualitativa) com o bem-estar no trabalho nesta investigação. Assim, os

fatores mais significativos do bem-estar do trabalho foram o reconhecimento e apoio de

chefias (correlação de 0,728) e a maior transparência e perceção de justiça nos processos de

recrutamento e seleção, avaliação, progressão e compensação (correlação de 0,704) (cf.

Capítulo 4. g. ix). Portanto, no seguimento da proposta por Friedman estas duas variáveis

são as principais para a redução do conflito trabalho-vida.

Verificou-se ainda uma relação forte entre o bem-estar no trabalho e o bem-estar

privado. Esta complementaridade é ainda mais relevante ao nível familiar quando medido

pela satisfação do tempo dedicado aos filhos (correlação foi de 0,521). Verificando que

quanto maior o bem-estar no trabalho, maior é o bem-estar na vida privada, sobretudo na

satisfação do tempo dedicado aos filhos. No entanto, os resultados obtidos entre o bem-

estar no trabalho com o tempo dedicado à vida privada ou profissional não apresentaram

correlações muito significativas, obtendo-se inclusive diversas divergências entre géneros e

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idades dos profissionais. Assim, embora o tempo de trabalho apresente uma relação negativa

com o equilíbrio trabalho-vida, esta é pouco significativa.

Uma das causas para que o tempo de trabalho não seja considerado um fator

preditivo do equilíbrio do trabalho-vida na amostra estudada poderá estar relacionada com

o tipo de trabalho que existe num part-time. Na amostra dos profissionais com um horário

inferior a 30 horas semanais 83,3% auferia um rendimento líquido inferior a 7.500 líquidos

anuais e 72,22% encontravam-se numa posição operacional. Similaridades a estes resultados

são encontradas na literatura, dado que foram verificados em diversos estudos que o trabalho

a part-time em Portugal está associado a menores investimentos de formação, ritmos de

trabalho mais intensos e poucas possibilidades de progressão (Gonçalves, 2004; Oliveira et

al, 2011).

Por outro lado, nos testes realizados com a variável dependente do estudo

“possibilidade de redução dos tempos de trabalho por um período de tempo do interesse do

profissional”, o fator tempo obteve dados extremamente significativos. De tal modo que os

profissionais com acesso a esta modalidade de flexibilidade de tempo laboral tem um

aumento do equilíbrio trabalho-vida em 86% relativamente aos que não têm (ou têm em

condições muito precárias ou praticamente inexistentes)(cf. Capítulo 4. h).

Desta forma, concluiu-se que na amostra utilizada, o fator tempo torna-se

determinante no equilíbrio trabalho-vida quando os profissionais têm poder sobre a sua

redução/alteração, possibilitando desta forma a viabilidade da hipótese 2. a.

Tendo em conta o poder e a relevância que esta flexibilidade pode tomar no aumento

do bem-estar do trabalhador foi elaborada a segunda hipótese: A cultura, as tradições e as

condições de vida portuguesas são uma limitação determinante na implementação da medida:

“possibilidade de redução dos tempos de trabalho por um período de tempo do interesse do

profissional” (hipótese 2.b). Para validação desta segunda hipótese foram analisadas 103

variáveis ao longo do capítulo quatro. Na literatura investigada sobre Portugal e corroborada

nos testes realizados (cf. Capítulo 4. g i-iv), a ideia de um bom trabalho ainda está muito

associada ao conceito “working long hours for show”, ou seja, o profissional que tenha um

trabalho com contrato de 40 horas semanais, com presença física e uma média de 8 a 10

horas trabalhadas por dia é visto como um bom profissional (Bennet & Brewster, 2002;

Casaca, 2013). O domínio do género masculino ainda continua muito enraizado no típico

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bom profissional (Goel, 2017; Rabenu, 2017), assistindo-se a uma diferença salarial entre

géneros para o mesmo cargo/função muito expressiva (cf. Capítulo 4. g v-vii).

Porém, tem existido efetivamente uma adaptação do mercado português no que

concerne à flexibilidade temporal dos horários de trabalho, tanto na perspetiva do

empregador como do trabalhador (cf. Capítulo 2. c). Neste estudo comprovou-se que a

existência desta flexibilidade em benefício/na perspetiva do empregador faz parte do

trabalho de 60,9% dos profissionais a trabalhar (sendo as modalidades mais utilizadas a

isenção de horário, o trabalho aos fins de semana, bancos de horas e horários flexíveis) (cf.

Capítulo 4. g. viii). Do lado dos profissionais, analisando apenas a modalidade de redução do

tempo de trabalho por iniciativa do trabalhador, foi verificado que para 69,8% dos

trabalhadores esta medida não é aplicável na sua empresa ou então é em níveis muito

precários. E apenas 11,4% dos empregados por conta de outrem considerou que a sua

empresa tem uma boa abertura para uso desta flexibilidade de tempo laboral (cf. Tabela 4h).

Assim, construiu-se o perfil tipo do profissional que em Portugal tem acesso a este

tipo de flexibilidades no momento da realização do inquérito (cf. Capítulo 4). Constatando-

se ainda que dados similares também se encontraram na literatura (cf. Capítulo 2.e). O

profissional é do género masculino, com idade média entre os 35 e 44 anos, com filhos com

idades entre os seis e os doze anos. A nível académico possui as mais altas graduações, neste

caso, o doutoramento. Este profissional também se sente satisfeito com o tempo dedicado

ao descanso/sono. A nível empresarial encontra-se numa posição hierárquica elevada

(responsável por equipas, coordenador ou gestor). Os setores de atividade predominantes

são o comércio por grosso e a retalho ou o setor da informática e tecnologias. O seu salário

líquido anual é, em média acima dos 20.000€ e não tem “o típico horário de segunda a sexta

das 9 horas às 18 horas”. Por outro lado, quando na empresa em que trabalha existe abertura

da mesma para que os seus profissionais passem de contratos a full-time para part-time e

vice-versa de forma definitiva e/ ou permitam ao trabalhador acumular horas de trabalho e

depois usar o banco de horas de acordo com o seu interesse, a probabilidade da empresa

também possibilitar a redução do horário de trabalho, de acordo com o interesse do

trabalhador durante um determinado período de tempo é muito elevada. De tal modo que a

variável com maior correlação e relação (testes quantitativos e qualitativos) foi a variável

flexibilidade total dos tempos de trabalho (cf. Tabela 4.i e Tabela 4.j).

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Para concluir a análise à hipótese 2b), a cultura, tradições e condições de vida

portuguesas dificultam a penetração desta modalidade de flexibilidade de tempo de trabalho.

No entanto, como verificado, mais de 10% dos participantes do inquérito tinham acesso na

sua empresa à possibilidade de reduzir o seu horário de forma temporária. Posto isto, embora

a mentalidade portuguesa dificulte a entrada nas empresas desta modalidade, acredita-se que

não seja determinante para o insucesso da medida.

A terceira e última hipótese analisada neste estudo foi a seguinte: “o interesse efetivo

na modalidade de tempo apresentada na hipótese 2b) é determinante para avançar com

estudos adicionais para um maior suporte e apoio na implementação/ investimento das

empresas na medida.” (hipótese 2 c).

Para responder à hipótese 2.c) direcionou-se uma parte do questionário para

averiguar o interesse efetivo na medida (cf. Capítulo 5). Assim foi questionado a todos os

participantes do inquérito a sua posição face à seguinte pergunta: “Possibilidade de redução

do tempo de trabalho (com redução proporcional do salário)” (cf. Capítulo 5.b). Para uma

maior qualidade na averiguação dos resultados, foram analisadas 71 subamostras. A amostra

principal (constituídas por todos os trabalhadores dependentes com mais de 25 anos) obteve

uma efetividade de procura de 31,5%, constatando-se que 39,7% dos profissionais que

utilizariam a medida seria para alcançarem um maior equilíbrio entre o seu trabalho e vida

privada. Depois 35,3% seria para um maior apoio à família, 21,6% para fins

académicos/estudos e 3,8% para melhorar a qualidade de vida devido a problemas de saúde.

O género foi uma das amostras que demonstrou os dados mais pertinentes. O género

masculino apresentou um interesse efetivo na medida de 35% enquanto que a mulher apenas

de 28,1%. Pois, apesar da mulher ter uma percentagem relativa de concordância e pertinência

da modalidade superior ao homem, devido às limitações financeiras, uma percentagem das

trabalhadoras não utilizaria a medida (cf. capítulo 2 d.i e Tabela 5.a).

No que concerne à idade e saúde, apurou-se que os profissionais com 45 anos ou

mais foram o segmento da população que trabalha (por conta de outrem) a demonstrar maior

interesse na redução dos tempos de trabalho de forma temporária devido a limitações de

saúde (9,6% dos profissionais com interesse efetivo na medida) (cf. Capítulo 2 d.ii e Tabela

5.a). O segmento da população desempregada também ostentou que 10,47% das razões dos

profissionais para utilização da medida seria para minimizar os problemas/limitações de

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saúde (cf. Tabela 5.b). Dado serem estes os dois grupos mais sensíveis entre todas as amostras

requererão no futuro uma atenção extra devido ao crescimento da população envelhecida e

consequente aumento das idades da reforma (tendência para que esta causa aumente) mas

também possível utilização da medida pelo governo português para reintegração dos

desempregados no mercado de trabalho, pois como verificado 48,7% dos desempregados

não tem interesse em trabalhar as 40 horas e procuraria fazer um uso forte da modalidade de

flexibilidade.

Por outro lado, no segmento dos trabalhadores-estudantes (por conta de outrem)

verificou-se que apenas 28,6% dos estudantes não vê relevância na medida nem a utilizariam,

todavia, devido, mais uma vez, às limitações financeiras, apenas 34,3% usaria efetivamente a

medida. De facto, o dado mais pertinente desta amostra foi perceber que a principal causa

da procura deste tempo (41,7%) não seria para efeitos académicos/estudo, mas para outras

atividades da vida privada (que não família) (cf., tabela 5.a).

O segmento da população estudada que demonstrou ser o tempo para cuidar da

família (filhos ou pais por exemplo) a causa mais importante para utilização desta modalidade

de flexibilidade temporal foram os profissionais dependentes com filhos. De tal modo que

37,2% dos indivíduos com filhos procura efetivamente dar usabilidade à medida e destes

67,8% será para maior apoio à família. Não obstante nas diversas amostras analisadas a

família obteve sempre resultados muito relevantes, sendo apenas destronada pela causa

“Seria muito importante e usaria a oportunidade para ter uma vida mais saudável e

equilibrada” que foi o principal motivo para utilizar a redução do tempo de trabalho por um

período do interesse do trabalhador.

Assim, verificou-se uma média de procura desta modalidade superior a 30%, sendo

que o valor mais baixo verificado entre todas as amostras foi de 26%, mesmo que isso

trouxesse uma redução ao seu salário (proporcionalmente e de acordo com as horas

trabalhadas). Constatou-se ainda que os profissionais pretendem usufruir de uma redução

média entre as 4,5 e as 5 horas semanais, por um período médio entre os 11 e 18 meses.

Por último é ainda relevante perceber que 44,7% dos donos das empresas/CEO que

participaram do inquérito, indicou a existências de apenas vantagens positivas na medida

demonstrando abertura para a implementação deste tipo de modalidade.

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Assim, conclui-se que a hipótese 2 c) é válida, pois para além de um interesse efetivo

pelos profissionais ativos no mercado superior a 30%, também se verifica um interesse muito

elevado por parte dos empregadores. Assim para que a redução do tempo de trabalho por

iniciativa do trabalhador possa ser efetiva nas empresas maiores estudos deverão ser

realizados na área para dar suporte, proteção e apoiar na implementação da medida.

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Conclusão

A fase de crescimento ascendente em que se encontra o mercado de trabalho

português, neste presente ano 2018, conduziu-nos a um impacto macroeconómico no

desemprego. Ora, de acordo com as estatísticas apresentadas verificou-se que se está perante

bons resultados para os profissionais portugueses, pois invariavelmente este crescimento

positivo levou a um aumento do emprego, a um maior poder de compra e possivelmente a

um aumento do bem-estar dos trabalhadores portugueses e da população em geral. Contudo

numa segunda análise, sobre a perspetiva de um gestor de recursos humanos, esta situação

tornará as suas funções mais exigentes e com um impacto profundo dentro de uma

organização. Pois a redução do desemprego e consequente redução do número de candidatos

interessados, disponíveis e que cumpra os parâmetros que a organização procura poderá levar

ao desenvolvimento de processos de recrutamento mais exigentes e criativos. Por outro lado,

a capacidade de a empresa reter os seus profissionais adivinha-se como um outro grande

estímulo. Assim, surge a necessidade de perceber que benefícios uma empresa pode dar aos

seus trabalhadores no sentido de os reter e aumentar a cativação dos futuros funcionários.

Portanto, decidiu-se avaliar a viabilidade para as empresas da inclusão do seguinte

benefício “possibilidade de redução do tempo de trabalho, durante um período de tempo do

interesse do profissional (com respetiva redução do salário)”. Sendo esta avaliação medida

pela validade das três hipóteses apresentadas nesta dissertação. Assim, através da recolha dos

dados de um inquérito foi possível verificar a forte influência que a redução do tempo de

trabalho por iniciativa do trabalhador tem no conflito trabalho-vida em Portugal. Constatou-

se também que apesar da mentalidade e cultura portuguesas não apoiarem a difusão e

penetração desta modalidade de tempo, existe abertura do mercado português para uma

maior implementação e difusão da mesma dado que mais de 10% dos trabalhadores

dependentes que participaram no inquérito tinham acesso a este tipo de flexibilidade na sua

empresa. Por último, demonstrou-se que em média 30% dos profissionais portugueses

usariam a medida efetivamente se pudessem ter acesso à mesma. Um outro dado importante

foi a comprovação que apesar das limitações financeiras serem um grande entrave para a

utilização da medida por tantos outros profissionais, foi verificado que mesmo os

profissionais com salários baixos (inferiores a 7.500€ líquidos anuais) ou desempregados

teriam interesse efetivo no uso da medida e por isso o salário não demonstrou ser um fator

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determinante para a utilização da medida. Os tempos médios procurados para utilização

desta flexibilidade laboral foram uma redução média de 4,5 a 5 horas semanais por um

período médio entre 11 e 18 meses.

Não obstante aos resultados obtidos serem essencialmente na perspetiva do

trabalhador dependente, o estudo apresentou diversas limitações. A primeira grande

limitação foi a falta de investigações portuguesas ou sobre o mercado português nesta matéria

dificultando as comparações e resultados mais credíveis. Por outro lado, inicialmente optou-

se por uma amostra de 1025 profissionais pois considerou-se ser suficiente. No entanto dada

a aplicação exaustiva de testes estatísticos, para reduções dos enviesamentos provocados pela

ocorrência de um número de casos reduzido em algumas das análises, deve-se procurar

alcançar amostras superiores em estudos futuros. Mas a limitação mais evidente foi a análise

à perspetiva de apenas uma das partes, exigindo por isso novos estudos e investigações no

sentido de apurar o interesse efetivo médio e as limitações que os empresários teriam para

implementar esta modalidade. Assim como que tipo de empresas estariam dispostas a servir

como casos de estudo, ou projetos pilotos sobre a matéria em Portugal impulsionando a

penetração desta modalidade de flexibilidade de trabalho.

Em suma esta investigação apurou-se duas conclusões. A primeira refere que apesar

da fraca utilização desta modalidade de tempo de trabalho como mecanismo de redução do

conflito trabalho-vida existe um interesse efetivo de aproximadamente um terço da

população ativa residente em Portugal. A segunda conclusão permitiu verificar que apesar

do estudo não ter sido realizado com base na perspetiva dos empresários, verificou-se que

mais de 40% dos empregadores participantes do inquérito não apontaram nenhuma

desvantagem da modalidade de tempo e por isso demonstrando abertura para a integração

da mesma nas suas organizações. Aumentando desta forma a credibilidade e qualidade desta

investigação para a exigência de estudos futuros que apoiem a implementação e a propagação

desta modalidade de flexibilidade temporal no mercado de trabalho português.

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Anexos

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No seguimento desta dissertação, foi copiado para este anexo o questionário online

utilizado para recolha dos dados de investigação.

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