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Dezembro 2006 | Relatório de Inflação | 119 Anexo Notas da 122ª Reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom) Data: 17 e 18/10/2006 Local: Sala de reuniões do 8º andar (17/10) e do 20º andar (18/10) do Edifício-Sede do Banco Central – Brasília – DF Horário de início: 16h (17/10) e 16h (18/10) Horário de término: 19h30 (17/10) e 18h30 (18/10) Presentes: Membros do Copom Henrique de Campos Meirelles – Presidente Afonso Sant’Anna Bevilaqua Alexandre Antonio Tombini Antonio Gustavo Matos do Vale João Antônio Fleury Teixeira Mário Magalhães Carvalho Mesquita Paulo Sérgio Cavalheiro Paulo Vieira da Cunha Rodrigo Telles da Rocha Azevedo Chefes de Departamento (presentes no dia 17) Altamir Lopes – Departamento Econômico Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo – Departamento de Estudos e Pesquisas (também presente no dia 18) Ivan Luís Gonçalves de Oliveira Lima – Departamento de Operações do Mercado Aberto José Antonio Marciano – Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos Márcio Barreira de Ayrosa Moreira – Departamento de Operações das Reservas Internacionais Renato Jansson Rosek – Gerência-Executiva de Relacionamento com Investidores Demais participantes (presentes no dia 17) Alexandre Pinheiro de Moraes Rego – Assessor Especial do Presidente Alexandre Pundek Rocha – Consultor da Diretoria André Minella – Chefe-Adjunto do Departamento de Estudos e Pesquisas Flávio Pinheiro de Melo – Consultor da Diretoria Jocimar Nastari – Assessor de Imprensa Katherine Hennings – Consultora da Diretoria Os membros do Copom analisaram a evolução recente e as perspectivas para a economia brasileira e para a economia internacional, no contexto do regime de política monetária, cujo objetivo é atingir as metas fixadas pelo governo para a inflação. Evolução recente da economia 1. Após variar apenas 0,05% em agosto, o IPCA apresentou inflação de 0,21% em setembro. Esse resultado foi superior às expectativas dos analistas do setor privado vigentes na véspera da divulgação do índice, mas inferior às que prevaleciam ao final do mês de agosto. Com os desenvolvimentos observados nos últimos meses, a inflação acumulada no ano de 2006 chegou a 2,0%, ou seja, pouco mais da metade dos 3,95% observados em igual período de 2005. Por sua vez, o valor acumulado em doze meses se reduziu de 5,70% em janeiro, para 3,70% em setembro, o menor nível desde que o regime de metas para a inflação foi introduzido em junho de 1999. A aceleração da inflação em setembro deveu-se ao comportamento tanto dos preços livres (alta de 0,21%, contra 0,09% em agosto) quanto dos preços

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Dezembro 2006 | Relatório de Inflação | 119

Anexo

Notas da 122ª Reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom)

Data: 17 e 18/10/2006Local: Sala de reuniões do 8º andar (17/10) e do 20º andar (18/10) do Edifício-Sede do Banco Central –Brasília – DF Horário de início: 16h (17/10) e 16h (18/10)Horário de término: 19h30 (17/10) e 18h30 (18/10) Presentes:Membros do CopomHenrique de Campos Meirelles – PresidenteAfonso Sant’Anna BevilaquaAlexandre Antonio TombiniAntonio Gustavo Matos do ValeJoão Antônio Fleury TeixeiraMário Magalhães Carvalho MesquitaPaulo Sérgio CavalheiroPaulo Vieira da CunhaRodrigo Telles da Rocha Azevedo Chefes de Departamento (presentes no dia 17)Altamir Lopes – Departamento EconômicoCarlos Hamilton Vasconcelos Araújo – Departamento de Estudos e Pesquisas (também presente no dia 18)Ivan Luís Gonçalves de Oliveira Lima – Departamento de Operações do Mercado AbertoJosé Antonio Marciano – Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de PagamentosMárcio Barreira de Ayrosa Moreira – Departamento de Operações das Reservas InternacionaisRenato Jansson Rosek – Gerência-Executiva de Relacionamento com Investidores

Demais participantes (presentes no dia 17)Alexandre Pinheiro de Moraes Rego – Assessor Especial do PresidenteAlexandre Pundek Rocha – Consultor da DiretoriaAndré Minella – Chefe-Adjunto do Departamento de Estudos e PesquisasFlávio Pinheiro de Melo – Consultor da Diretoria Jocimar Nastari – Assessor de ImprensaKatherine Hennings – Consultora da Diretoria Os membros do Copom analisaram a evolução recente e as perspectivas para a economia brasileira e para a economia internacional, no contexto do regime de política monetária, cujo objetivo é atingir as metas fi xadas pelo governo para a infl ação.

Evolução recente da economia 1. Após variar apenas 0,05% em agosto, o IPCA apresentou inflação de 0,21% em setembro. Esse resultado foi superior às expectativas dos analistas do setor privado vigentes na véspera da divulgação do índice, mas inferior às que prevaleciam ao fi nal do mês de agosto. Com os desenvolvimentos observados nos últimos meses, a infl ação acumulada no ano de 2006 chegou a 2,0%, ou seja, pouco mais da metade dos 3,95% observados em igual período de 2005. Por sua vez, o valor acumulado em doze meses se reduziu de 5,70% em janeiro, para 3,70% em setembro, o menor nível desde que o regime de metas para a infl ação foi introduzido em junho de 1999. A aceleração da infl ação em setembro deveu-se ao comportamento tanto dos preços livres (alta de 0,21%, contra 0,09% em agosto) quanto dos preços

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monitorados (alta de 0,22%, ante recuo de 0,03% em agosto). Dentro do conjunto de preços livres, a variação dos preços de itens comercializáveis passou de -0,04% em agosto para 0,16% em setembro, e a de itens não comercializáveis, de 0,21% para 0,25%. Já os preços dos serviços considerados no IPCA tiveram variação de 0,38% em setembro, ante 0,36% em agosto e 0,44% em setembro de 2005. Em que pese essa aceleração, continua se consolidando um cenário benigno para a infl ação, que deve continuar evoluindo segundo a trajetória das metas, com potenciais repercussões sobre o comportamento dos preços anos à frente. 2. A análise das medidas de inflação subjacente calculadas pelo Banco Central dá suporte ao cenário acima delineado. O núcleo por exclusão de monitorados e de alimentos no domicílio, que havia alcançado 0,14% em julho, situou-se no patamar de 0,13% em agosto e de 0,23% em setembro. O núcleo por médias aparadas com suavização de itens preestabelecidos mostrou pouca volatilidade no trimestre, com valores de 0,29%, 0,23% e 0,32% em julho, agosto e setembro, respectivamente. Por sua vez, depois de atingir 0,20% em julho, o núcleo por médias aparadas sem suavização de itens preestabelecidos mostrou estabilidade em agosto e alcançou 0,13% em setembro. Nos valores acumulados em doze meses, os núcleos continuam apresentando trajetórias decrescentes. De fato, em setembro, essas três medidas situaram-se em 3,64%, 5,17% e 3,39%, respectivamente, ante 6,44%, 7,15% e 5,78% observados no mesmo mês do ano passado. Note-se ainda que, a exemplo do índice pleno, tanto o núcleo por exclusão (3,64%) quanto o núcleo sem suavização (3,39%) registram valores acumulados em doze meses inferiores ao valor central da meta para este ano. O núcleo com suavização, por sua vez, mostra uma convergência mais lenta, alcançando o valor de 5,17% em setembro, contra 5,40% nos doze meses fi ndos em agosto. 3. Em contraste com os preços ao consumidor, o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) apresentou desaceleração em setembro, com a variação mensal caindo de 0,41% para 0,24%. A infl ação mensal média desse índice desacelerou-se de 0,35% no segundo trimestre para 0,27% no terceiro. Com isso, o índice acumulou variação positiva de 2,11% nos nove primeiros meses de 2006, ante 0,19% verifi cado no mesmo período do ano passado. Em

doze meses até setembro, o IGP-DI subiu 3,16%, ante 2,78% até agosto. A queda da infl ação mensal do IGP-DI em setembro resultou basicamente da acomodação dos preços industriais no atacado, auxiliada pela desaceleração dos custos da construção. O Índice de Preços por Atacado – Disponibilidade Interna (IPA-DI), após haver registrado defl ações no período fevereiro–abril, consolidou-se em território positivo nos últimos meses, com infl ação média de 0,33% no terceiro trimestre, sendo de 0,28% em setembro. Os preços agrícolas tiveram alta signifi cativa em agosto e setembro, de 1,2% em ambos os meses, continuando tendência iniciada no bimestre anterior, enquanto os preços industriais apresentaram menor variação, 0,34% em agosto e estabilidade em setembro. Com o expressivo avanço observado nos últimos três meses, os preços agrícolas passaram a mostrar infl ação de 2,0% na comparação de doze meses até setembro, ante defl ação de 2,4% em agosto e de 6,0% em julho. Por seu turno, a infl ação do IPA industrial caiu, no critério de comparação de doze meses, para 3,5% em setembro, contra 4,2% em agosto. Em que pese essa recuperação dos preços agrícolas, os preços no atacado poderão continuar contribuindo favoravelmente para a acomodação dos preços ao consumidor. Conforme destacado nas Notas de reuniões anteriores do Copom, a intensidade de tais efeitos, bem como sua própria continuidade, dependerá das condições prospectivas da demanda e das expectativas dos formadores de preços em relação à trajetória futura da infl ação. 4 . A produção industr ia l , segundo dados dessazonalizados do Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE), cresceu 0,7% em agosto, em relação ao mês anterior, repetindo a taxa observada em julho e atingindo novo recorde histórico. Dessa forma, as evidências sugerem que o desempenho da atividade industrial em junho foi um evento localizado, infl uenciado por diversos fatores pontuais, de natureza não-recorrente, conforme assinalam as Notas da última reunião do Copom e o Relatório de Infl ação de setembro. Pelo critério das médias móveis trimestrais, a produção industrial apresentou ligeiro acréscimo, situando-se próxima do recorde observado em julho. A produção da indústria em agosto se expandiu 3,2% em relação ao mesmo mês do ano anterior, depois de mostrar elevação de 3,5%, por esse critério, em julho. Dessa forma, o crescimento ao longo dos primeiros oito meses do ano, em comparação com o mesmo

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período do ano passado, alcançou 2,8%, ao passo que o crescimento em doze meses foi de 2,2%. Vale notar que o crescimento do produto industrial em agosto foi generalizado, atingindo 15 das 23 atividades com séries dessazonalizadas, ou 65% da indústria. Em média, entre janeiro e agosto apenas 53% dos segmentos apresentaram crescimento ante o mês imediatamente anterior. Para setembro, os indicadores antecedentes e coincidentes da produção industrial sinalizam redução em relação a agosto, na série ajustada para efeitos sazonais, mas crescimento da série mais estável de médias móveis trimestrais. Esses resultados deverão refl etir, em larga medida, o desempenho negativo esperado para a produção de autoveículos, em função das paralisações observadas durante o mês em algumas das principais montadoras. Os diversos fatores de estímulo, inclusive a flexibilização monetária já realizada, sugerem que a tendência de expansão da indústria deve continuar nos próximos meses. 5. Dados referentes às categorias de uso, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, mostram expansão de 7,4% no segmento de bens de capital, 3,4% na produção de bens intermediários e 2,1% na indústria de bens de consumo. Na comparação mês a mês com ajuste sazonal, o destaque positivo também fi cou para a categoria de bens de capital, que avançou 2,8%, após apresentar crescimento de 1,2% em julho. No ano, a expansão da atividade industrial vem sendo liderada pela produção de bens de consumo duráveis (6,4%) seguida da produção de bens de capital (5,8%). O crescimento da produção de bens de consumo duráveis refl ete, entre outros fatores, a recuperação da renda real e a expansão do volume de crédito na economia. Por sua vez, a expansão da produção de bens de capital decorre da consolidação das perspectivas favoráveis de continuidade do crescimento da demanda interna, bem como a influência de preços internacionais favoráveis para certos setores. 6. A taxa de desemprego foi de 10,6% em agosto, ante os 10,7% registrados em julho e 9,4% em igual mês do ano anterior. Com isso, a taxa média de desemprego nos primeiros oito meses do ano apresentou alta de 0,15 p.p. frente a igual período do ano anterior, apesar da expansão de 4,2% na População Economicamente Ativa (PEA), de agosto de 2005 a agosto de 2006. Por sua vez, o número de pessoas ocupadas subiu 2,8% nesse

período, indicando que o ritmo de criação de empregos permanece robusto. O poder de compra dos trabalhadores subiu 0,7% em agosto ante o mês anterior, e 3,5% em relação a agosto de 2005. No acumulado do ano, o poder de compra já se elevou 4,2%. Com isso, a massa salarial real aumentou 6,2% em 2006 frente ao mesmo período de 2005, constituindo-se fator importante de suporte ao crescimento da demanda agregada. O nível de emprego na indústria de transformação, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), dessazonalizados pelo Banco Central, cresceu 0,4% em julho e 0,3% em agosto. Ao se comparar com os mesmos meses do ano passado, o incremento alcança 1,9% e 2,3%, respectivamente, a trigésima primeira expansão nessa base de comparação. No que se refere ao emprego formal celetista, dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) indicam a continuidade do processo de expansão. Em agosto, houve crescimento de 0,3% em relação ao mês anterior, na série com ajuste sazonal. No ano, a expansão alcançou 4,9% (mesmo valor observado no período de doze meses), com destaque para a construção civil (com 9,9%) e para o comércio (com 6,1%). Com a criação de 128.915 postos de trabalho em agosto, o total acumulado em 2006 aumentou para 1.207.070. Nos últimos doze meses, foram criados 1.241.815 postos de trabalho. 7. Após recuarem no bimestre junho–julho, as vendas no comércio varejista cresceram fortemente em agosto (2,3%), na comparação mês a mês, segundo dados dessazonalizados do IBGE. Em relação a agosto de 2005, houve crescimento de 6,3%. Com esse resultado, a expansão das vendas nos oito primeiros meses de 2006 alcançou 5,3%, com destaque para os crescimentos observados nas vendas de móveis e eletrodomésticos (8,3%) e hiper e supermercados (7,2%). Dessa forma, o desempenho favorável das vendas no varejo não se restringe a itens mais sensíveis à renda e ao emprego, estendendo-se também àqueles cuja dinâmica é mais sensível ao crédito. Para o resto do ano, espera-se a continuidade do fortalecimento do comércio varejista, que deverá ser impulsionado pela expansão dos níveis de emprego e renda, pelo crescimento do crédito e pelo processo de flexibilização da política monetária, aliados à própria recuperação da confiança do consumidor.

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8. A Utilização da Capacidade Instalada (UCI) na indústria de transformação alcançou em julho o patamar de 81,8%, recuando para 81,7% em agosto, de acordo com a série da CNI dessazonalizada pelo Banco Central. Nos primeiros oito meses do ano, a taxa média de utilização da capacidade foi 0,6 p.p. inferior à registrada no mesmo período do ano passado, embora na margem essa diferença venha se reduzindo. Quando comparados aos valores registrados em iguais períodos de 2005, verifi ca-se elevação de 0,2 p.p. em julho e 0,3 p.p. em agosto. O menor nível médio de utilização da capacidade instalada em relação ao ano anterior refl ete, ao menos parcialmente, incrementos na capacidade produtiva. De fato, dados recentes relativos à produção e à absorção de bens de capital sugerem que o crescimento dos investimentos continua robusto. Nos primeiros oito meses do ano, a absorção de bens de capital apresentou signifi cativo aumento de 8,9%. Para esse resultado, contribuíram fortemente o aumento das importações de bens de capital, que registraram crescimento de 27,9% em volume, e a produção de bens de capital, que aumentou 5,8%, na mesma base de comparação. Por sua vez, no mesmo período a produção de insumos para a construção civil aumentou 5,3%. Dessa forma, a despeito da continuidade da expansão da demanda agregada, ainda não se antecipam descompassos relevantes no que se refere à evolução da oferta agregada ao longo dos próximos trimestres. Como ressaltado em Notas das reuniões do Copom, a trajetória da infl ação mantém estreita relação com os desenvolvimentos correntes e prospectivos no tocante à ampliação da oferta de bens e serviços para o adequado atendimento à demanda. 9. A balança comercial continua apresentando desempenho robusto em 2006, corroborando avaliações expressas em Notas de reuniões anteriores do Copom acerca de mudanças estruturais importantes no comércio exterior brasileiro. Nos primeiros nove meses do ano, o saldo da balança atingiu US$34,0 bilhões, cifra 4,1% superior àquela observada no mesmo período do ano passado. Esse resultado decorreu de exportações e importações recorde de US$100,7 bilhões e de US$66,7 bilhões, respectivamente. O superávit acumulado nos doze meses até setembro, US$46,1 bilhões, apresentou elevação em relação ao mês anterior, constituindo novo máximo histórico. Como esperado, em função da retomada da demanda doméstica, vem

ocorrendo na margem um crescimento mais robusto das importações, que registraram novo recorde nos doze meses fi ndos em setembro, quando atingiram US$86,2 bilhões. Ressalte-se a continuidade da expansão das exportações, que atingiram US$132,3 bilhões sob o mesmo critério, também um novo recorde para a série histórica. Dessa forma, espera-se para 2006 e 2007 a continuidade da geração de vultosos saldos comerciais. Já o saldo em transações correntes registrou superávit de US$2,1 bilhões em agosto, e de US$8,2 bilhões no ano, o equivalente a 1,38% do PIB. Nos doze meses terminados em agosto, esse superávit chegou a US$13,8 bilhões, 1,60% do PIB. 10. Com relação ao cenário externo, nos últimos meses se reduziu o grau de incerteza sobre a política monetária norte-americana. Ainda que não se possam descartar por completo novas elevações de taxas de juros, a avaliação dominante parece ser que a maior parte do ajuste da política monetária já teria ocorrido. Por outro lado, ganhou importância o temor de que o aperto monetário nos EUA possa ter sido excessivo e que, portanto, a economia estadunidense possa entrar em recessão, com potenciais implicações para nossa economia. Entretanto, cabe notar as limitadas repercussões internas do cenário externo menos favorável observado ao longo dos últimos meses, quando as preocupações descritas acima já vinham sendo manifestadas, em especial no que se refere ao aumento do grau de aversão ao risco e à menor liquidez externa. De fato, após a elevação registrada em maio, o risco soberano retornou a níveis historicamente baixos nos últimos meses. Esse fato corrobora avaliações recorrentes, expressas em Notas e Relatórios de Infl ação recentes, de que a economia brasileira está mais resistente a choques externos. Nesse contexto, o Copom reafi rma que a redução consistente da infl ação, os vultosos e persistentes superávits comerciais, a geração de superávits primários adequados, a recomposição das reservas internacionais, a melhora do perfil da dívida pública interna e a recompra de títulos soberanos no mercado internacional têm tornado o País cada vez mais resistente a choques externos. Dessa forma, o Copom continua atribuindo baixa probabilidade a um cenário de deterioração signifi cativa nos mercados fi nanceiros internacionais, ou seja, sufi ciente para comprometer as condições de fi nanciamento do País.

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11. Outra fonte sistemática de incerteza advinda do cenário internacional, o preço do petróleo também parece ter se reduzido. Apesar de ainda se manter em níveis nominais historicamente elevados, houve recuo importante das cotações desde a última reunião do Comitê. Ainda assim, esses preços continuam apresentando volatilidade, refl etindo, entre outros fatores, tensões geopolíticas. É importante reconhecer, contudo, que a dinâmica observada nos últimos anos refl ete, em grande parte, desequilíbrios estruturais no mercado de petróleo, sugerindo que houve uma mudança permanente de patamar nos preços do produto. As previsões sobre a trajetória futura dos preços do petróleo continuam marcadas por grande incerteza, porém o cenário central de trabalho adotado pelo Copom, que prevê preços domésticos da gasolina inalterados em 2006, tornou-se mais plausível, ou seja, diminuíram signifi cativamente os riscos à sua concretização.

Avaliação prospectiva das tendências da infl ação

12. Os choques identifi cados e seus impactos foram reavaliados de acordo com as novas informações disponíveis. O cenário considerado nas simulações contempla as seguintes hipóteses: a) Comparadas com os valores considerados na reunião do Copom de agosto, as projeções de reajustes nos preços da gasolina foram mantidas em 0% para o acumulado de 2006, e as do gás de bujão, em 0,1%; b) Foram modifi cadas, na comparação com a reunião do Copom de agosto, as projeções de preços da telefonia fi xa e da eletricidade para o acumulado de 2006: o reajuste esperado para eletricidade foi alterado de 2,7% para 2,5%, e o da telefonia fi xa passou de -0,9% para -0,8%; c) O Copom manteve a projeção de reajuste (4,4%) para o conjunto de preços administrados para o acumulado de 2006. Esse conjunto de preços, de acordo com os dados publicados pelo IBGE, correspondeu a 31,2% do total do IPCA de setembro; d) A projeção de reajustes dos itens administrados por contrato e monitorados para o ano de 2007 foi reduzida para 5,4%. Os itens dos quais se dispõe de maiores informações foram projetados individualmente. No

que se refere aos demais itens, as projeções continuam baseadas no modelo de determinação endógena de preços administrados, que considera componentes sazonais, variações cambiais, infl ação de preços livres e infl ação medida pelo Índice Geral de Preços (IGP); e) O modelo VAR, baseado nos níveis da taxa Selic e do swap de 180 dias, estima um spread, no cenário de referência, de -64 p.b. no quarto trimestre de 2006. A trajetória do swap indica, ainda, que os spreads atingem 57 p.b. no último trimestre de 2007. 13. Em relação à política fi scal, as projeções consideram o cumprimento da meta de superávit primário de 4,25% do PIB em 2006 e em 2007. As demais hipóteses consideradas na reunião anterior são mantidas. 14. Desde a reunião de agosto do Copom, houve signifi cativa redução na mediana das expectativas coletadas pela Gerência-Executiva de Relacionamento com Investidores (Gerin) para a variação do IPCA em 2006, que passou de 3,68% para 3,0%. A redução deve-se principalmente à incorporação da infl ação ocorrida em agosto e setembro de 2006, signifi cativamente menor do que a prevista por ocasião da reunião de agosto. As expectativas para doze meses à frente diminuíram de 4,43% para 4,06%. Para 2007, as expectativas de infl ação também recuaram, passando de 4,50% para 4,20%. Como mencionado em Notas de reuniões anteriores do Copom, esses desenvolvimentos sugerem a consolidação de um ambiente macroeconômico cada vez mais favorável, em horizontes mais longos. 15. Considerando-se as hipóteses do cenário de referência, que leva em conta a manutenção da taxa de câmbio em R$2,15 e da taxa Selic em 14,25%, em todo o horizonte de previsão, a projeção para o IPCA em 2006 reduziu-se em relação ao valor considerado na reunião do Copom de agosto, permanecendo abaixo dos 4,50% estipulados pelo CMN para este ano. No cenário de mercado, que leva em conta as trajetórias de câmbio e juros apuradas pela Gerin junto a analistas no período imediatamente anterior à reunião do Copom, a projeção de infl ação para 2006 também apresentou valor central abaixo do considerado na reunião do Copom de agosto e abaixo do valor central da meta de infl ação. Da mesma forma, as projeções de infl ação para 2007 também apresentaram redução em ambos os

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cenários, quando comparadas às projeções obtidas em agosto, com os valores permanecendo abaixo do valor central de 4,50% no cenário de referência e acima de 4,50% no cenário de mercado.

Implementação da política monetária 16. O Copom reafi rma o diagnóstico, expresso nas Notas das últimas reuniões, de que, além de conter as pressões infl acionárias de curto prazo, a política monetária tem contribuído de maneira importante para a consolidação de um ambiente macroeconômico favorável em horizontes mais longos. Os dados referentes à atividade econômica ainda sugerem expansão em ritmo condizente com as condições de oferta ao longo dos próximos trimestres, com baixa probabilidade de que observemos pressões signifi cativas sobre a infl ação. A expansão das importações tem contribuído de forma relevante para esse processo, complementando a produção doméstica e, assim, aumentando as perspectivas de que os efeitos infl acionários do crescimento sustentado da demanda agregada continuem sendo limitados.Além disso, a despeito da perspectiva de consolidação de um ambiente de menor liquidez global, em virtude da elevação das taxas de juros nas economias industrializadas, o cenário externo permanece favorável, particularmente no que diz respeito às perspectivas de fi nanciamento para a economia brasileira. Assim, ainda que se leve em conta que uma parcela dos resultados favoráveis para a infl ação de curto prazo tende a apresentar reversão no futuro, o cenário para a trajetória da inflação permanece benigno. Tal como na reunião de agosto, o Copom enfatiza que o principal desafi o da política monetária nesse contexto é garantir a consolidação dos desenvolvimentos favoráveis que se antecipam para o futuro. 17. A manutenção de taxas de infl ação consistentes com a trajetória de metas e a resultante consolidação de um cenário de estabilidade macroeconômica duradoura contribuirão para a continuidade do processo de redução progressiva da percepção de risco macroeconômico que vem ocorrendo nos últimos anos. O espaço para que observemos juros reais menores no futuro continuará se consolidando de forma natural, como conseqüência dessa melhora de percepção. O Copom avalia que a atuação cautelosa da política monetária tem sido fundamental para aumentar a probabilidade de que a infl ação siga evoluindo segundo a trajetória

de metas. Para que essa maior probabilidade continue se traduzindo em resultados efetivos, entretanto, é preciso que os indicadores prospectivos de infl ação sigam apresentando elementos compatíveis com o cenário benigno que tem se confi gurado nos últimos trimestres. 18. O Copom considera relevante ressaltar, uma vez mais, que há defasagens importantes entre a implementação da política monetária e seus efeitos sobre o nível de atividade e sobre a infl ação. Desde o início do ciclo de fl exibilização da política monetária, em setembro de 2005, a taxa de juros básica já foi reduzida em 550 p.b., com a maior parte da redução concentrada em 2006. Assim, uma parcela importante dos efeitos dos cortes de juros ainda não se refl etiu no nível de atividade, assim como os efeitos da atividade sobre a infl ação também não tiveram tempo de se materializar. 19. Ao longo dos próximos meses, a expansão do nível de emprego e da renda e o crescimento do crédito continuarão impulsionando a atividade econômica. Como mencionado nas Notas da reunião de agosto do Copom, a esses fatores devem ser acrescidos os efeitos da expansão das transferências em função do aumento do salário mínimo e dos impulsos fi scais ocorridos desde o último trimestre do ano passado. Dessa forma, os efeitos sobre a demanda agregada dos cortes de juros se somarão a outros fatores que continuarão contribuindo de maneira importante para a sua expansão. 20. À luz dessas considerações, o Copom voltou a avaliar a conveniência de reduzir a taxa Selic em 25 p.b. Apesar de entenderem que diversos fatores respaldariam tal decisão, e que a mesma contribuiria para aumentar a magnitude total do ajuste a ser implementado, os membros do Comitê concluíram que, neste momento, uma redução de 50 p.b. na taxa Selic resultaria em maior adequação das condições monetárias correntes à melhora signifi cativa no cenário prospectivo para a infl ação observada entre as reuniões de agosto e de outubro. Diante disso, o Copom decidiu, por unanimidade, dar continuidade ao processo de fl exibilização da política monetária iniciado na reunião de setembro de 2005 e reduzir a meta para a taxa Selic para 13,75% ao ano, sem viés, e acompanhar a evolução do cenário macroeconômico até a sua próxima reunião para, então, defi nir os próximos passos na sua estratégia de política monetária.

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21. Tendo em vista os estímulos já existentes para a expansão da demanda agregada, as incertezas que cercam os mecanismos de transmissão da política monetária e a menor distância entre a taxa básica de juros corrente e as taxas de juros que deverão vigorar em equilíbrio no médio prazo, o Copom entende que a preservação das importantes conquistas obtidas no combate à infl ação e na manutenção do crescimento econômico, com geração de empregos e aumento da renda real, poderá demandar que a fl exibilização adicional da política monetária seja conduzida com maior parcimônia. Essa ponderação se torna ainda mais relevante quando se leva em conta que as próximas decisões de política monetária terão impactos concentrados em 2007. 22. No regime de metas para a infl ação, a autoridade monetária orienta suas decisões de acordo com os valores futuros projetados para a infl ação, analisando diversos cenários alternativos para a evolução das principais variáveis que determinam a dinâmica dos preços. Mesmo levando-se em conta que houve redução de incertezas nos cenário internacional desde a última reunião do Copom, é forçoso reconhecer que várias das incertezas que geraram o aumento na volatilidade em meses anteriores persistem. Nesse ambiente, cabe à política monetária manter-se especialmente vigilante para evitar que a maior incerteza detectada em horizontes mais curtos se propague para horizontes mais longos. Evidentemente, na eventualidade de se verifi car uma exacerbação de riscos que implique alteração do cenário prospectivo traçado para a infl ação neste momento pelo Comitê, a estratégia de política monetária será prontamente adequada às circunstâncias. 23. Ao fi nal da reunião, foi registrado que o Comitê voltaria a se reunir em 28 de novembro de 2006, para as apresentações técnicas e, no dia seguinte, para deliberar sobre a política monetária, conforme estabelecido pelo Comunicado 13.821, de 31/10/2005.

Sumário dos dados analisados pelo Copom

Infl ação 24. O IPCA variou 0,21% em setembro, ante 0,05% no mês anterior. Quatro dos nove grupos pesquisados

apresentaram variação negativa no mês: artigos de residência, 0,14%; comunicação, 0,07%; transportes e educação, ambos com 0,01%. Os preços do grupo alimentação e bebidas aumentaram 0,08% no mês, sobretudo pelas altas nos preços das carnes bovina e de frango. Entre os grupos que registraram elevações de preços, destacou-se a variação de 0,89% em despesas pessoais, sobretudo pela elevação de 1,97% nos preços de empregado doméstico. Esse item gerou a maior contribuição individual para a composição da taxa do IPCA em setembro, com impacto de 0,06 p.p. Com o resultado de setembro, o IPCA acumulou aumentos de 2% no ano e de 3,7% nos últimos doze meses. 25. Os preços monitorados cresceram 0,22% em setembro e 6,41% nos últimos doze meses, e os preços livres, 0,21% e 2,45%, na mesma ordem. Entre os preços livres, os dos produtos comercializáveis aumentaram 0,16%, e os dos não comercializáveis, 0,25%. Consideradas as variações acumuladas em doze meses, os preços dos produtos comercializáveis e dos não comercializáveis subiram 0,78% e 4,36%, respectivamente. 26. O IGP-DI registrou alta de 0,24% em setembro, acumulando elevações de 2,11% no ano e de 3,16% nos últimos doze meses. Considerados os componentes do IGP-DI, o IPA, de maior peso, mostrou desaceleração em setembro, com taxa de 0,28% ante 0,53% em agosto, acumulando variações de 2,22% no ano e de 3,13% em doze meses. O Índice de Preços ao Consumidor – Brasil (IPC-Br) apresentou pequena aceleração em setembro, 0,19% no mês, ante 0,16% em agosto, sobretudo pelos aumentos dos preços da carne bovina e da taxa de água e esgoto. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) registrou desaceleração, ao variar 0,11% em setembro, ante 0,24% em agosto, refl etindo o menor impacto de dissídios salariais na construção civil e a menor elevação dos preços de materiais e serviços. 27. Em setembro, a desaceleração dos preços no atacado decorreu da menor variação dos preços industriais. O IPA industrial fi cou estável, ante alta de 0,34% no mês anterior, principalmente pelo recuo nos preços de açúcar, querosene, álcool hidratado e produtos da extrativa mineral, que contrabalançaram as elevações observadas nos preços de matérias plásticas, carnes e pescados, fumo e fertilizantes, entre outros. O IPA

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agrícola subiu 1,20% em setembro, mesma taxa registrada em agosto, destacando-se as altas nos preços de bovinos, milho, soja e legumes e frutas, e as quedas em cana-de-açúcar e feijão. Considerando o Índice de Preços por Atacado (IPA) segundo os três estágios de processamento, apenas os bens fi nais registraram variação negativa de preços, de 0,35%. Os preços dos bens intermediários subiram 0,20%, e os das matérias-primas brutas, 1,29% no mês, após elevações respectivas de 0,58% e 1,31% em agosto. 28. Em setembro, todas as medidas de núcleo do IPCA registraram elevação mensal, embora tenham mantido trajetória declinante na variação em doze meses. Pelo método das médias aparadas com suavização de itens preestabelecidos, o núcleo de infl ação atingiu 0,32% no mês, alcançando 5,17% em doze meses. O núcleo sem o procedimento de suavização atingiu 0,13% em setembro, com variação em doze meses de 3,39%. O núcleo calculado pela exclusão dos grupos de alimentação no domicílio e monitorados situou-se em 0,23%, acumulando 3,64% em doze meses. 29. O núcleo de infl ação para o IPC-Br, calculado pela FGV pelo método das médias aparadas simétricas, atingiu 0,24% em setembro, acumulando 2,05% no ano e 3,11% nos últimos doze meses. 30. O índice de difusão do IPCA, indicador da proporção de itens com variações positivas no resultado do mês, situou-se em 54,9% em setembro, ante 52,1% em agosto. Atividade econômica 31. De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, o volume de vendas do comércio varejista cresceu 2,3% em agosto, comparativamente ao mês anterior, na série com ajuste sazonal. Houve crescimento nas quatro atividades do comércio varejista com séries ajustadas sazonalmente, com destaque para a alta de 7,7% no segmento de móveis e eletrodomésticos. Na comparação com agosto de 2005, o volume de vendas do comércio varejista cresceu 6,3%, acumulando alta de 5,3% no ano e de 5,1% nos últimos 12 meses. 32. Os indicadores divulgados pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) apontaram recuo

na atividade do comércio varejista na capital paulista em setembro. O número de consultas ao Usecheque diminuiu 3%, e aquelas efetuadas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) caíram 0,2%, após ajuste sazonal efetuado pelo Banco Central. Nos primeiros nove meses do ano, esses indicadores registraram expansões de 6,2% e de 3,3%, respectivamente, ante mesmo período de 2005. 33. Em relação aos indicadores de investimento, a produção doméstica de bens de capital cresceu 2,8% em agosto, em comparação aos níveis observados no mês anterior, após ajuste sazonal. A produção de insumos da construção civil e as importações de bens de capital recuaram 0,5% e 9,3%, na mesma forma de comparação. No ano, até agosto, esses indicadores revelaram acréscimos respectivos de 5,8%, 5,3% e 27,9%, em relação aos de igual período do ano anterior. Nesse período, a produção de bens de capital para energia aumentou 36,9%, 13,7% para a construção e 9,5% para uso misto, enquanto a produção de bens de capital para a agricultura diminuiu 21,1%. Especifi camente para uso industrial, a fabricação de bens de capital cresceu abaixo da média, 1,7%, refl etindo, em parte, a elevada expansão das importações desses equipamentos no mesmo período. 34. Segundo dados dessazonalizados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE, a produção industrial brasileira cresceu 0,7% em agosto, em relação à do mês anterior, com o índice atingindo novo patamar recorde. A produção extrativa registrou queda de 0,2%, e a indústria de transformação cresceu 0,7%, na mesma base de comparação. No ano, até agosto, a expansão da produção industrial atingiu 2,8%, comparativamente à do mesmo período de 2005, sendo que a indústria de transformação cresceu 2,6%, e a extrativa, 7,8%. 35. Por categorias de uso, segundo dados dessazonalizados, a produção de bens de capital cresceu 2,8%, a de bens intermediários, 0,7%, e a de bens de consumo duráveis, 1,6%, enquanto a produção de bens de consumo semi e não duráveis recuou 0,9%, todos na comparação mensal. No acumulado do ano, até agosto, comparativamente ao mesmo período de 2005, todas as categorias apresentaram expansão, destacando-se as taxas de crescimento de 6,4% na produção de bens de consumo duráveis e de 5,8% na de bens de capital.

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36. A análise desagregada da atividade industrial revelou que, em agosto, das 23 atividades pesquisadas, passíveis de ajuste sazonal, a produção cresceu em 15, destacando-se as atividades “outros equipamentos de transporte”, “mobiliário” e “outros produtos químicos”, com crescimento de 10,9%, 5,2% e 3,7%, respectivamente. Destaque-se, ainda, a recuperação dos segmentos “vestuário e acessórios”, e “calçados e artigos de couro”, ambos com avanço de 3,2% no mês, segundo resultado positivo consecutivo após os recuos nos meses anteriores. No ano, o desempenho dessas duas atividades continua negativo, com quedas de 6,1% e 3,6%, nessa ordem. 37. Estatísticas da CNI registraram estabilidade das horas trabalhadas na produção e queda de 1,8% nas vendas industriais reais em agosto, em relação às do mês anterior, após ajuste sazonal efetuado pelo Banco Central. No ano, até agosto, esses dois indicadores da atividade industrial também mostraram evolução distinta, com as horas trabalhadas aumentando 1,1% e as vendas reais recuando 0,1%, ante as de igual período de 2005. O nível de utilização da capacidade instalada atingiu 81,7% em agosto, 0,1% inferior ao do mês anterior, após ajuste sazonal. Considerando os dados observados, o nível de utilização atingiu 82,5%, 0,3 p.p. acima do patamar de agosto de 2005. 38. Relativamente a indicadores para setembro, a produção de autoveículos diminuiu 10,5% ante a do mês anterior, conforme dados dessazonalizados pelo Banco Central, refl etindo, mesmo que parcialmente, a ocorrência de paralisações em algumas montadoras no decorrer do mês. Ainda com dados dessazonalizados, as vendas internas cresceram 2,8% e as externas registraram queda de 1,5%. Nos primeiros nove meses do ano, a produção de autoveículos acumulou expansão de 3,4%, as vendas internas subiram 9,2% e as vendas externas recuaram 5,7%, em relação às de igual período do ano anterior. Expectativas e sondagens 39. A pesquisa mensal da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio SP) registrou aumento de 2,3% no Índice de Confiança do Consumidor (ICC) em setembro, em comparação ao do mês anterior. No mês, houve acréscimo nos dois componentes do ICC: o Índice das Condições

Econômicas Atuais (Icea) subiu 4%, enquanto as expectativas, captadas pelo Índice de Expectativas do Consumidor (IEC), cresceram 1,3%. Na comparação com o nível de setembro de 2005, o ICC apresentou expansão de 20,2%. No Rio de Janeiro, conforme a pesquisa da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomercio RJ), o Índice de Expectativa do Consumidor (IEC) subiu 0,1% em setembro, em relação ao do mês anterior, e 6,8% ante o do mesmo mês de 2005. 40. A Sondagem de Expectativas do Consumidor da FGV, que abrangeu dois mil domicílios das sete principais capitais do País, mostrou que o ICC elevou-se 0,5% em setembro, em relação ao do mês anterior, registrando estabilidade na avaliação da situação presente e melhora de 0,8% nas expectativas em relação aos próximos seis meses. O Índice Nacional de Confi ança (INC) da pesquisa mensal Pulso Brasil, realizada pela Ipsos em 70 cidades brasileiras, aumentou 7% entre agosto e setembro. Em comparação com setembro de 2005, verifi cou-se aumento de 20,6%. Mercado de trabalho 41. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do MTE, referentes ao emprego formal, foram gerados 128.915 novos postos de trabalho em agosto, distribuídos em todos os grandes setores de atividade. Após a dessazonalização da série, o índice de emprego apresentou elevação mensal de 0,3%, com destaque para a expansão de 0,4% nas contratações da construção civil. No ano, até agosto, foram criados 1.207 mil postos de trabalho, comparativamente a 1.219 mil em igual período de 2005. 42. Pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), realizada pelo IBGE nas seis principais regiões metropolitanas, a taxa de desemprego aberto recuou de 10,7% em julho para 10,6% em agosto, situando-se 1,2 p.p. acima da observada em agosto de 2005. A média da taxa de desemprego em 2006, até agosto, situou-se em 10,3%, 0,15 p.p. acima do patamar observado no mesmo período de 2005. Esse aumento da taxa média de desemprego em 2006 pode ser explicado pela queda do desalento, isto é, pelo acréscimo do número de pessoas procurando emprego, estimuladas pelos sinais de melhora no mercado de trabalho, fenômeno típico

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do estágio atual do ciclo de expansão da economia. Outro aspecto positivo ressaltado pelas estatísticas da PME é a melhora no perfi l dos empregados do setor privado, com aumento da participação do número de trabalhadores com carteira assinada. 43. De acordo com a mesma pesquisa, o rendimento médio real habitual das pessoas ocupadas alcançou R$1.036,20 em agosto, com acréscimos de 0,7% em relação ao de julho e de 3,5% em comparação com agosto de 2005. A massa salarial real, definida pelo produto entre o rendimento médio real habitual e o número de ocupados, cresceu 1,8% em agosto, em relação à do mês anterior, e 6,4% ante a de agosto de 2005. No ano, até agosto, esses dois indicadores revelaram crescimentos respectivos de 4,2% e 6,2%. 44. No setor industrial, segundo a CNI, o contingente de pessoal empregado aumentou 0,3% em agosto, após ajuste sazonal efetuado pelo Banco Central, acumulando expansão de 1,6% no ano. Crédito e inadimplência 45. O saldo das operações de crédito referencial para taxas de juros com recursos livres cresceu 1,9% em setembro, acumulando variação de 21% em doze meses. Em relação às operações com pessoas físicas, as taxas de crescimento atingiram 1,6% no mês e 25,8% em doze meses. Em relação às carteiras de pessoas jurídicas, as operações com recursos domésticos aumentaram 2,1% no mês e 18,1% em doze meses, enquanto as lastreadas em recursos externos cresceram 2,4% no mês e 13,5% em doze meses. Ainda, em relação às operações com recursos livres, destaquem-se os acréscimos em doze meses, até agosto, de 82,4% nos saldos das operações de leasing com pessoas físicas e de 46,9%, nos com pessoas jurídicas. 46. A taxa média ativa de juros incidente sobre as operações de crédito recuou novamente em setembro, atingindo 41,5% a.a., 6,6 p.p. inferior ao patamar verifi cado em setembro de 2005. Nas operações com pessoas físicas, a taxa média atingiu 53,8% a.a., ante 62,1% a.a. no mesmo mês de 2005, enquanto nas contratadas com pessoas jurídicas registrou-se redução de 6 p.p., para 27,3% a.a., no mesmo período.

47. A taxa de inadimplência alcançou 5,1% em setembro, considerando-se as operações de crédito com recursos livres com atraso superior a noventa dias, registrando 2,7% nas operações com pessoas jurídicas e 7,8% no segmento de pessoas físicas. 48. A taxa líquida de inadimplência no comércio, calculada pela ACSP, recuou para 5,1% em setembro. No ano, até setembro, houve acréscimos de 5,7% no número de novos registros, como também no número de registros cancelados, enquanto a taxa média de inadimplência atingiu 5,9%, ante 5,8% no mesmo período de 2005. Ambiente externo 49. O cenário internacional continua benigno, decorrente das robustas taxas de crescimento da China e de taxas relativamente elevadas de crescimento no Japão, Europa e resto da Ásia. Nos Estados Unidos, as evidências indicam que a economia não registra desaceleração acentuada. O processo de desaceleração do mercado imobiliário norte-americano acontece de maneira ordenada e o sistema bancário é sólido. A economia continua a ser apoiada por gastos dos consumidores e expansão dos investimentos corporativos. No entanto, declarações recentes de autoridades do Federal Reserve Bank (Fed) apontam para os riscos da infl ação, que, em patamares elevados, poderia alimentar mais expectativas infl acionárias. 50. Na Área do Euro, há uma tendência de alta da infl ação no curto prazo, mesmo com a recente redução dos preços internacionais do petróleo para patamar abaixo de US$60,00 o barril. A pressão sobre os preços na Área do Euro e a evolução do nível de atividade na região, propiciada pelo avanço da demanda doméstica e das exportações, aumenta as chances de o Banco Central Europeu (BCE) ter de dar continuidade ao ciclo de aperto monetário. 51. No Japão, verifi ca-se crescimento balanceado da economia, tanto em produção quanto em preços, uma vez que a economia japonesa não apresenta mais defl ação. As expectativas são a continuidade de expansão da economia no quarto trimestre. As próximas decisões do Banco do Japão (BoJ) dependerão da confirmação das expectativas de atividade e preços e do peso que o BoJ confere a cada um desses fatores.

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52. O recente declínio nos preços do petróleo foi causado por: estoques elevados; demanda mais fraca do que a previamente esperada; minimização do risco de furacões; e alívio nas preocupações geopolíticas, embora os riscos continuem latentes. Nos próximos meses, além de fatores geopolíticos, a estreita capacidade de refi no e um eventual inverno rigoroso no hemisfério norte têm o potencial de gerar volatilidade nos preços, o que, associado ao recente anúncio da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de corte de produção de um milhão de barris/dia a partir do fi nal de outubro, indica que os riscos de curto prazo para os preços do produto são de elevação. Comércio exterior e reservas internacionais 53. O comércio exterior brasileiro prosseguiu em trajetória de expansão em setembro. A corrente de comércio atingiu US$20,7 bilhões, e o superávit comercial, US$4,4 bilhões. Todos os resultados para os nove primeiros meses do ano são recordes históricos: as exportações atingiram US$100,7 bilhões; as importações, US$66,7 bilhões; o saldo comercial, US$34 bilhões; e a corrente de comércio, US$167,4 bilhões. Em outubro, até a segunda semana (nove dias úteis), o saldo comercial atingiu US$2,1 bilhões, resultado de US$5,5 bilhões de exportações e US$3,4 bilhões de importações. 54. As exportações somaram US$12,5 bilhões em setembro. O valor médio diário atingiu US$627,4 milhões, 23,9% superior ao observado em setembro de 2005. As médias diárias das exportações de produtos manufaturados, semimanufaturados e bás icos a t ing i ram US$328 ,1 mi lhões , US$87,1 milhões e US$200,2 milhões, respectivamente, com acréscimos, na mesma ordem, de 17,2%, 46,8% e 29% na comparação com as médias de setembro do ano anterior. Os dois principais itens de exportação foram óleos brutos de petróleo, US$970 milhões, e minério de ferro, US$787 milhões, com acréscimos respectivos de 81,9% e 31,5% sobre os valores médios diários registrados em setembro de 2005. 55. Entre os produtos semimanufaturados, destacaram-se as vendas de açúcar em bruto, US$332 milhões, crescimento de 67,1% em relação a setembro de 2005; na pauta de produtos manufaturados, os principais itens foram automóveis de passageiros,

US$385 milhões, e aviões, US$328 milhões, com elevações de 5,8% e 2,8%, respectivamente, em igual base de comparação. O processo de diversifi cação da pauta de exportações brasileiras prosseguiu em setembro, com aumento generalizado nos embarques, particularmente de itens manufaturados com pequena participação na pauta, e ampliação do número de países de destino. 56. As importações atingiram US$8,1 bilhões em setembro, com valor médio diár io de US$406,1 milhões, 35% superior ao do mesmo mês de 2005. As compras externas, consideradas as médias diárias, registraram aumentos em todas as categorias de produtos: bens de consumo, 55,5%, destacando-se automóveis, com expansão de 179,5%; matérias-primas e bens intermediários, 36,7%; combustíveis e lubrificantes, 35%; e bens de capital, 20,4%. 57. Ao fi nal de setembro, as reservas internacionais situaram-se em US$73,4 bilhões, com aumento de US$19,6 bilhões no ano. Mercado monetário e operações de mercado aberto 58. Desde a última reunião do Copom, a curva de juros apresentou recuo em toda a sua extensão. A trajetória benigna da inflação corrente, o declínio das expectativas inflacionárias e a divulgação de indicadores de atividade econômica abaixo das estimativas do mercado propiciaram a queda das taxas de juros futuros. Esse movimento foi interrompido apenas de 19 a 21 de setembro, quando prevaleceram as preocupações quanto ao ritmo de desaceleração da economia norte-americana e ao cenário político em alguns países emergentes. Dissipados esses fatores de risco, as taxas futuras retomaram sua trajetória descendente, infl uenciadas também pela valorização do real e o recuo do risco-país. Entre 28 de agosto e 16 de outubro, as taxas de 1, de 3 e de 6 meses reduziram-se em 0,67 p.p., 0,71 p.p. e 0,83 p.p, respectivamente. As taxas de 1, de 2 e de 3 anos recuaram, respectivamente, 0,95 p.p., 1,00 p.p. e 1,00 p.p. A taxa real de juros medida pelo quociente entre a taxa nominal de um ano e a expectativa de infl ação (suavizada) para os próximos doze meses caiu de 9,31%, em 28 de agosto, para 8,88%, em 16 de outubro.

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59. Em 22 e 26 de setembro, o Banco Central realizou leilões de swap cambial reverso nos quais assumiu posição ativa em variação cambial e passiva em taxa de juros doméstica. Com essas duas operações, que totalizaram o equivalente a US$805,7 milhões, foi efetuada a rolagem parcial do vencimento de swap cambial reverso do dia 2 de outubro. Em 2006, o resgate líquido de instrumentos cambiais acumula US$10,4 bilhões. 60. Na administração da liquidez do mercado de reservas bancárias, além das operações compromissadas semanais de rentabilidade prefi xada e prazo de três e de cinco meses, o Banco Central passou a realizar, desde o fi nal de setembro, operações de mesma natureza com prazo de sete meses. O saldo diário médio dessas operações alcançou R$55,1 bilhões, sendo R$50,7 bilhões em operações de cinco meses. Além disso, entre 29 de agosto e 16 de outubro, o Banco Central atuou em 33 oportunidades por meio de operações compromissadas de curtíssimo prazo, todas destinadas a retirar recursos do mercado. No período, também realizou operações de nivelamento ao fi nal do dia, com prazo de até dois dias úteis. As operações de curtíssimo prazo, incluídas as de nivelamento, tiveram saldo diário médio tomador de R$33,8 bilhões. 61. Com o objetivo de reduzir o excesso de liquidez bancária previsto para o primeiro trimestre de 2007, o Banco Central realizou, entre 29 de agosto e 25 de setembro, quatro leilões de venda de Letras do Tesouro Nacional (LTN) de vencimento em abril de 2007, de sua carteira, conjugada a compra de LTN de

vencimento em janeiro de 2007. O volume fi nanceiro dessas operações totalizou R$3,7 bilhões.

62. Entre 29 de agosto e 16 de outubro, as emissões do Tesouro Nacional mediante leilões de venda de títulos públicos somaram R$53,3 bilhões. A colocação de títulos de remuneração prefixada alcançou R$37,8 bilhões, sendo R$33,2 bilhões em LTN de vencimento em 2007, 2008 e 2009 e R$4,6 bilhões em Notas do Tesouro Nacional – Série F (NTN-F) de vencimento em 2012 e 2014. Nos leilões de Letras Financeiras do Tesouro (LFT), foram vendidos R$7,3 bilhões em títulos de vencimento em 2009 e 2011, e nos de NTN-B, R$8,2 bilhões em títulos de vencimento em 2009, 2011, 2015, 2024, 2035 e 2045, dos quais R$2,9 bilhões com liquidação em moeda corrente e R$5,3 bilhões contra a entrega de outros títulos de responsabilidade do Tesouro Nacional. 63. No mesmo período, o Tesouro promoveu três leilões de venda de LTN de vencimento em abril e outubro de 2007 conjugada a compra de LTN de vencimento em janeiro de 2007 ou LFT de vencimento em 2006, com volume fi nanceiro total de R$4,9 bilhões. Realizou, ainda, leilões de venda de LFT de vencimento em 2009 e 2011, no montante de R$6,3 bilhões, aceitando como pagamento LFT de vencimento em 2006. 64. Também foram realizados pelo Tesouro leilões de compra de LTN de vencimento em 1º de janeiro de 2007 e de NTN-B de diversos vencimentos, cujos volumes alcançaram, respectivamente, R$4,6 bilhões e R$222 milhões.

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Notas da 123ª Reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom)

Data: 28 e 29/11/2006Local: Sala de reuniões do 8º andar (28/11) e do 20º andar (29/11) do Edifício-Sede do Banco Central –Brasília – DF Horário de início: 16h30 (28/11) e 16h30 (29/11)Horário de término: 19h40 (28/11) e 20h (29/11) Presentes:Membros do CopomHenrique de Campos Meirelles – PresidenteAfonso Sant’Anna BevilaquaAlexandre Antonio TombiniAntonio Gustavo Matos do ValeMário Magalhães Carvalho MesquitaPaulo Sérgio CavalheiroPaulo Vieira da CunhaRodrigo Telles da Rocha Azevedo Chefes de Departamento (presentes no dia 28)Altamir Lopes – Departamento EconômicoCarlos Hamilton Vasconcelos Araújo – Departamento de Estudos e Pesquisas (também presente no dia 29)Ivan Luís Gonçalves de Oliveira Lima – Departamento de Operações do Mercado AbertoJosé Antonio Marciano – Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de PagamentosMárcio Barreira de Ayrosa Moreira – Departamento de Operações das Reservas InternacionaisRenato Jansson Rosek – Gerência-Executiva de Relacionamento com Investidores Demais participantes (presentes no dia 28)Alexandre Pinheiro de Moraes Rego – Assessor Especial do PresidenteAlexandre Pundek Rocha – Consultor da DiretoriaFlávio Pinheiro de Melo – Consultor da Diretoria Jocimar Nastari – Assessor de ImprensaKatherine Hennings – Consultora da Diretoria Os membros do Copom analisaram a evolução recente e as perspectivas para a economia brasileira e para a economia internacional, no contexto do regime de

política monetária, cujo objetivo é atingir as metas fi xadas pelo governo para a infl ação.

Evolução recente da economia 1. A infl ação mensal medida pelo IPCA mostrou aceleração, tendo registrado taxas de 0,05% em agosto, 0,21% em setembro e 0,33% em outubro. Esse último resultado veio em linha com as expectativas dos analistas do setor privado vigentes na véspera da divulgação do índice e situou-se próximo às expectativas que prevaleciam ao fi nal do mês de setembro. Com os desenvolvimentos observados nos últimos meses, a infl ação acumulada em 2006 alcançou 2,33%,ou seja, pouco menos da metade dos 4,73% observados em igual período de 2005. Por sua vez, o valor acumulado em doze meses se reduziu de 5,70% em janeiro para 3,26% em outubro, o menor nível desde que o regime de metas para a infl ação foi introduzido, em junho de 1999. A aceleração da infl ação em outubro deveu-se à elevação dos preços livres (0,43% contra 0,21% em setembro), não compensada inteiramente pelo arrefecimento dos preços monitorados (taxa de 0,12% ante 0,22% em setembro). Dentro do conjunto de preços livres, a variação dos itens comercializáveis passou de 0,16% em setembro para 0,42% em outubro, enquanto a variação de itens não comercializáveis subiu de 0,25% para 0,44%. Os preços dos serviços considerados pelo IPCA variaram 0,43% frente a 0,38% em setembro e a 0,56% em outubro de 2005. Dados parciais referentes a novembro, já captados, por exemplo, pelo IPCA-15, sugerem que a variação do IPCA deverá ser ligeiramente superior às expectativas em vigor por ocasião da reunião de outubro do Copom. Em que pese a aceleração infl acionária dos últimos meses, continua se consolidando um cenário benigno para a infl ação, que deve permanecer evoluindo segundo a trajetória das metas, com potenciais repercussões sobre o comportamento dos preços nos anos à frente. 2. À semelhança do índice cheio, as medidas de infl ação subjacente calculadas pelo Banco Central também mostraram aumento em outubro. O núcleo por

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exclusão de monitorados e de alimentos no domicílio, que havia subido para 0,23% em setembro ante 0,13% em agosto, situou-se em 0,30% em outubro. O núcleo por médias aparadas com suavização de itens preestabelecidos repetiu o valor de 0,32% observado em setembro, e permanece oscilando por volta de 0,30% desde junho, mostrando a maior rigidez entre as três medidas de núcleo. Depois de registrar variação nula em agosto, o núcleo por médias aparadas sem suavização de itens preestabelecidos elevou-se para 0,13% em setembro e voltou a subir em outubro ao registrar 0,19%. A despeito dos aumentos recentes, os núcleos continuam apresentando trajetórias decrescentes na variação acumulada em doze meses. De fato, em outubro essas três medidas situaram-se em 3,56%, 4,93% e 3,21%, respectivamente, ante 6,25%, 7,13% e 5,72% observados no mesmo mês do ano passado. Note-se ainda que, a exemplo do índice pleno, tanto o núcleo por exclusão quanto o núcleo sem suavização registraram valores acumulados em doze meses inferiores ao valor central da meta para este ano. O núcleo com suavização, por sua vez, mostra uma convergência mais lenta, alcançando o valor de 4,93% em outubro, contra 5,21% nos doze meses fi ndos em setembro, um comportamento esperado tendo em vista a inércia implícita em sua construção. 3. A infl ação medida pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) elevou-se de maneira signifi cativa em outubro, para 0,81% frente a 0,24% em setembro e 0,63% em outubro de 2005. Com isso, o índice acumulou variação positiva de 2,93% após os dez primeiros meses de 2006, ante 0,82% verifi cados no mesmo período do ano passado. Em doze meses até outubro, o IGP-DI subiu 3,34%, ante 3,16% até setembro. A aceleração da infl ação mensal do IGP-DI em outubro resultou, basicamente, da forte alta dos preços agrícolas no atacado. O Índice de Preços por Atacado – Disponibilidade Interna (IPA-DI) teve infl ação de 1,16% em outubro, contra 0,28% em setembro, refl etindo o aumento de 5,18% nos preços agrícolas, a maior elevação desde novembro de 2002. Os preços agrícolas no atacado tiveram alta de 10,00% desde junho, sendo 7,72% apenas nos três meses até outubro. Com o expressivo avanço observado nesses cinco meses, os preços agrícolas passaram a mostrar infl ação de 6,4% na comparação de doze meses, ante defl ação de 6% em julho. Os preços industriais no atacado mostraram certa estabilidade nos últimos

meses, com as quedas de preços de combustíveis compensando as altas de alimentos elaborados. Com a alta dos preços agrícolas, os preços no atacado poderão deixar de contribuir favoravelmente para uma acomodação dos preços ao consumidor, sinalizando o esgotamento de um dos fatores determinantes da desinfl ação observada nos últimos trimestres. Conforme destacado nas Notas de reuniões anteriores do Copom, os efeitos do comportamento dos preços no atacado sobre a infl ação para os consumidores dependerão das condições prospectivas da demanda e das expectativas dos formadores de preços em relação à trajetória futura da infl ação. 4 . A produção indust r ia l , segundo dados dessazonalizados do Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística (IBGE), caiu 1,4% em setembro, em relação ao mês anterior, após dois meses de expansão. A contração era esperada, mas sua magnitude foi mais acentuada do que havia sido antecipado pelo mercado. A queda da atividade manufatureira em setembro alcançou doze das vinte e três atividades pesquisadas que têm séries sazonalmente ajustadas, com destaque para veículos automotores (-9,3%), cujo desempenho foi afetado pela greve em importantes montadoras. Pelo critério das médias móveis trimestrais, a produção industrial apresentou estabilidade, situando-se próxima do recorde observado em agosto deste ano. A produção da indústria em setembro se expandiu 1,3% em relação ao mesmo mês do ano anterior, depois de mostrar elevação de 3,2%, por esse critério, em agosto. Dessa forma, o crescimento ao longo dos primeiros oito meses do ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, alcançou 2,7%, ao passo que o crescimento em doze meses situou-se em 2,3%. Com o resultado de setembro, registrou-se variação de 0,4% no terceiro trimestre, em relação ao período imediatamente anterior, após variação de 0,7% no segundo trimestre, na série com ajuste sazonal. Para outubro, os indicadores antecedentes e coincidentes da produção industrial sinalizam retomada em relação a setembro, na série ajustada para efeitos sazonais, com crescimento da série mais estável de médias móveis trimestrais. Esses resultados deverão refl etir, entre outros fatores, a normalização da produção de autoveículos, em função do término das paralisações observadas durante o mês de setembro em algumas das principais montadoras. Os diversos fatores de

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estímulo, inclusive a fl exibilização monetária já realizada, sugerem que a tendência de expansão da indústria deve continuar nos próximos meses. 5. Dados referentes às categorias de uso, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, mostraram expansão de 2,6% no segmento de bens de consumo, 0,8% na produção de bens intermediários, e contração de 0,4% na indústria de bens de capital. Na comparação mês a mês com ajuste sazonal, houve contração em todos os segmentos, liderada pela indústria de bens de consumo duráveis (-4.4%). Por outro lado, esse setor tem liderado o crescimento da atividade industrial no ano (6,3%), seguido da produção de bens de capital (5%). O crescimento da produção de bens de consumo duráveis refl ete, entre outros fatores, a recuperação da renda real e a expansão do volume de crédito na economia. Por sua vez, a expansão da produção de bens de capital decorre da consolidação das perspectivas favoráveis de continuidade do crescimento da demanda interna, bem como da infl uência de preços internacionais favoráveis para certos setores. 6. O mercado de trabalho continua a mostrar dados positivos, com queda no desemprego, criação de postos de trabalho e elevação do poder de compra dos trabalhadores. A taxa de desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas situou-se em 9,8% em outubro, ante os 10,% registrados em setembro e 9,6% em igual mês do ano anterior. Na região metropolitana do Rio de Janeiro, a taxa de 7,3% foi a menor já observada no mês de outubro desde o início da série do IBGE. Com isso, a taxa média de desemprego nos primeiros dez meses do ano apresentou alta de 0,2 ponto percentual frente a igual período do ano anterior, a despeito da expansão de 2,4% na População Economicamente Ativa (PEA) no ano. O número de pessoas ocupadas subiu 2,2% tanto no acumulado do ano quanto nos últimos doze meses, indicando um ritmo saudável de criação de empregos. O poder de compra dos trabalhadores subiu 1,2% em outubro ante o mês anterior e 5,4% sobre outubro de 2005. No acumulado do ano, o poder de compra já se elevou 4,1%. Com isso, a massa salarial real aumentou 6,4% em 2006 frente ao mesmo período de 2005, constituindo-se fator importante de suporte ao crescimento da demanda agregada. O nível de emprego na indústria de transformação, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), dessazonalizados pelo Banco Central, cresceu

0,3% em setembro e 1,7% no acumulado do ano. Ao se comparar com o mesmo mês do ano passado, o incremento alcançou 2,7%. No que se refere ao emprego formal celetista, dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) indicam a continuidade do processo de expansão.Em outubro, houve crescimento de 0,5% do número de postos, em relação ao mês anterior, na série com ajuste sazonal. No ano, a expansão alcançou 4,9% (mesmo valor observado nos últimos doze meses), com destaque para a construção civil (com 9,6%) e para o comércio (com 6%). Com a criação de 129.795 postos de trabalho em outubro, o total acumulado em 2006 aumentou para 1.513.600. Nos últimos doze meses, foram criados 1.240.712 postos de trabalho. 7. Após recuarem no bimestre junho–julho, as vendas no comércio varejista mostraram forte recuperação no bimestre seguinte, com altas mensais de 2,7% em agosto e 2,1% em setembro, segundo dados dessazonalizados do IBGE. Em relação aos mesmos meses de 2005, houve crescimento de 10,1% em setembro e 6,3% em agosto. Em 2006, até setembro, a expansão alcançou 5,8%, com destaque para os crescimentos observados nas vendas de móveis e eletrodomésticos (9,6%) e híper e supermercados (7,7%). Dessa forma, o desempenho favorável das vendas no varejo não se restringe a itens mais sensíveis à renda e ao emprego, estendendo-se também àqueles cuja dinâmica é mais sensível ao crédito. Para o resto do ano, espera-se a continuidade do fortalecimento do comércio varejista, que deverá se manter impulsionado pela expansão dos níveis de emprego e da renda, pelo crescimento do crédito e pelo processo de fl exibilização da política monetária, aliados à própria recuperação da confi ança do consumidor. 8. A Utilização da Capacidade Instalada (UCI) na indústria de transformação alcançou em setembro o patamar de 82,1%, contra 81,9% em agosto, de acordo com a série da CNI dessazonalizada pelo Banco Central. Considerando a série sem ajuste sazonal, nos primeiros nove meses do ano, a taxa média de utilização da capacidade foi 0,4 p.p. inferior à registrada no mesmo período do ano passado, embora na margem essa diferença tenha se invertido. Assim, quando comparados aos valores registrados nos mesmos meses de 2005, verifi ca-se elevação de 0,6 p.p. em agosto e 0,8 p.p. em setembro, nas taxas

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de utilização da capacidade. O menor nível médio de utilização da capacidade instalada em relação ao ano anterior reflete, ao menos parcialmente, incrementos na capacidade produtiva. De fato, dados recentes relativos à produção e à absorção de bens de capital sugerem que o crescimento dos investimentos continua robusto. Nos primeiros nove meses do ano, a absorção de bens de capital apresentou aumento de 8,3%. Para esse resultado, contribuíram fortemente o aumento das importações de bens de capital, que registraram crescimento de 26,7%em volume, e a produção de bens de capital, que aumentou 5%, na mesma base de comparação. Por sua vez, no mesmo período, a produção de insumos para a construção civil aumentou também 5%. Dessa forma, a despeito da continuidade da expansão da demanda agregada, ainda não se antecipam descompassos relevantes no que se refere à evolução da oferta agregada ao longo dos próximos trimestres. Como ressaltado em Notas das reuniões do Copom, a trajetória da infl ação mantém estreita relação com os desenvolvimentos correntes e prospectivos no tocante à ampliação da oferta de bens e serviços para o adequado atendimento à demanda. 9. A balança comercial continua apresentando desempenho robusto em 2006, corroborando avaliações expressas em Notas de reuniões anteriores do Copom acerca de mudanças estruturais importantes no comércio exterior brasileiro. Nos primeiros dez meses do ano, o saldo da balança atingiu US$37,9 bilhões, cifra superior em 4,3% àquela observada no mesmo período do ano passado. Esse resultado decorreu de exportações e importações recordes de US$113,4 bilhões e de US$75,5 bilhões, respectivamente. O superávit acumulado nos doze meses a té ou tubro , US$46,3 bilhões, apresentou elevação em relação ao mês anterior, constituindo novo máximo histórico. Como esperado, em função da retomada da demanda doméstica, vem ocorrendo na margem um crescimento mais robusto das importações, que registraram novo recorde nos doze meses fi ndos em outubro, quando atingiram US$88,8 bilhões. Mesmo assim, deve-se ressaltar a continuidade da expansão das exportações, que atingiram US$135,1 bilhões sob o mesmo critério, um novo recorde para a série histórica. Dessa forma, espera-se para 2006 e 2007 a continuidade da geração de vultosos saldos comerciais. Já o saldo em transações correntes registrou superávit de US$ 1,5 bilhão em outubro e US$ 11,7 bilhões no ano, o equivalente

a 1,51% do PIB. Nos doze meses terminados em outubro, este superávit chegou a aproximadamente US$14 bilhões, ou 1,54% do PIB. 10. Com relação ao cenário externo, persistem as dúvidas nos mercados sobre os próximos passos da política monetária norte-americana. Ainda que não se possam descartar por completo novas elevações de taxas de juros, a avaliação dominante parece ser a de que a maior parte do ajuste da política monetária já teria ocorrido. Por outro lado, continua ganhando importância o temor de que o aperto monetário nos EUA possa ter sido excessivo e que, portanto, a economia estado-unidense possa entrar em recessão, com potenciais implicações para nossa economia. Entretanto, cabe notar as, até aqui, limitadas repercussões internas da maior incerteza do cenário externo observada ao longo dos últimos meses, quando as preocupações descritas acima já vinham sendo manifestadas, em especial no que se refere ao aumento do grau de aversão ao risco, e à menor liquidez externa. De fato, após a elevação registrada em maio, o risco soberano retornou a níveis historicamente baixos nos últimos meses, e manteve-se nesse patamar durante todo o processo eleitoral. Esse fato corrobora avaliações recorrentes, expressas em Notas e Relatórios de Inflação recentes, de que a economia brasileira está mais resistente a mudanças de sentimento nos mercados internacionais. Nesse contexto, o Copom reafi rma mais uma vez que a redução consistente da infl ação, os vultosos e persistentes superávits comerciais, a geração de superávits primários adequados, a recomposição das reservas internacionais, a melhora do perfi l da dívida pública interna e a recompra de títulos soberanos no mercado internacional têm tornado o País cada vez mais resistente a choques externos. Dessa forma, o Copom continua atribuindo baixa probabilidade a um cenário de deterioração signifi cativa nos mercados fi nanceiros internacionais, ou seja, sufi ciente para comprometer as condições de fi nanciamento do País. 11. Outra fonte sistemática de incerteza advinda do cenário internacional, o preço do petróleo, também parece ter se reduzido. Houve ligeiro recuo das cotações do petróleo desde a última reunião do Comitê, mas a mercadoria permanece com preços nominais em patamares historicamente elevados. Adicionalmente,

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esses preços continuam apresentando elevada volatilidade, refl etindo, ente outros fatores, tensões geopolíticas. É importante reconhecer, contudo, que a dinâmica observada nos últimos anos refl ete, em grande parte, desequilíbrios estruturais no mercado de petróleo, sugerindo que houve uma mudança permanente de patamar nos preços do produto. As previsões sobre a trajetória futura dos preços do petróleo continuam marcadas por grande incerteza, porém o cenário central de trabalho adotado pelo Copom, que prevê preços domésticos da gasolina inalterados em 2006, tornou-se mais plausível, ou seja, diminuíram signifi cativamente os riscos à sua concretização. A despeito da eventual estabilidade do preço interno da gasolina, deve-se reconhecer que variações nos preços internacionais do petróleo se transmitem inexoravelmente à economia doméstica, por exemplo, por meio de cadeias produtivas como a petroquímica, e também pelo impacto que terminam produzindo nas expectativas de infl ação dos agentes econômicos.

Avaliação prospectiva das tendências da infl ação

12. Os choques identifi cados e seus impactos foram reavaliados de acordo com as novas informações disponíveis. O cenário considerado nas simulações contempla as seguintes hipóteses: a) Comparadas com os valores considerados na reunião do Copom de outubro, as projeções de reajustes nos preços da gasolina foram mantidas em 0% para o acumulado de 2006; as do gás de bujão, em 0,1%, e as da telefonia fi xa, em -0,8%; b) Foi modifi cada, na comparação com a reunião do Copom de outubro, a projeção do preço da eletricidade para o acumulado de 2006: o reajuste esperado foi alterado de 2,5% para 0,3%; c) O Copom manteve a projeção de reajuste (4,4%) para o conjunto de preços administrados para o acumulado de 2006. Esse conjunto de preços, de acordo com os dados publicados pelo IBGE, correspondeu a 31,2% do total do IPCA de outubro; d) A projeção de reajustes dos itens administrados por contrato e monitorados para 2007 foi redimensionada, para 4,8%. Os itens dos quais se dispõe de maiores

informações foram projetados individualmente. No que se refere aos demais itens, as projeções continuam baseadas no modelo de determinação endógena de preços administrados, que considera componentes sazonais, variações cambiais, infl ação de preços livres e infl ação medida pelo Índice Geral de Preços (IGP); e) O modelo VAR, baseado nos níveis da taxa Selic e do swap de 180 dias, estima um spread, no cenário de referência, de -53 p.b. no quarto trimestre de 2006. A trajetória do swap indica, ainda, que o spread atinge 57 p.b. no último trimestre de 2007. 13. Em relação à política fi scal, as projeções consideram o cumprimento da meta de superávit primário de 4,25% do PIB em 2006 e em 2007. As demais hipóteses consideradas na reunião anterior são mantidas. 14. Desde a reunião de outubro do Copom, houve uma elevação na mediana das expectativas coletadas pela Gerência-Executiva de Relacionamento com Investidores (Gerin) para a variação do IPCA em 2006, que passou de 3,0% para 3,15%. A elevação deve-se à incorporação da inflação ocorrida em outubro e a um aumento das expectativas de infl ação para os demais meses do quarto trimestre de 2006. As expectativas para doze meses à frente aumentaram de 4,06% para 4,17%. Para 2007, as expectativas de infl ação recuaram, passando de 4,20% para 4,10%. Como mencionado em Notas de reuniões anteriores do Copom, esses desenvolvimentos sugerem a consolidação de um ambiente macroeconômico em horizontes mais longos cada vez mais favorável. 15. Considerando-se as hipóteses do cenário de referência, que leva em conta a manutenção da taxa de câmbio em R$2,15 e da taxa Selic em 13,75%, em todo o horizonte de previsão, a projeção para o IPCA em 2006 elevou-se em relação ao valor considerado na reunião do Copom de outubro, permanecendo abaixo do valor de 4,50% estipulado pelo CMN para o centro da meta deste ano. No cenário de mercado, que leva em conta as trajetórias de câmbio e juros apuradas pela Gerin junto a analistas no período imediatamente anterior à reunião do Copom, a projeção de infl ação para 2006 também apresentou valor central acima do considerado na reunião do Copom de outubro e abaixo do valor central da meta de infl ação. Por outro lado, as projeções de infl ação para 2007 apresentaram

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redução em ambos os cenários, quando comparadas às projeções obtidas em outubro, com os valores abaixo do valor central de 4,50% em ambos os cenários.

Implementação da política monetária 16. O Copom reafi rma o diagnóstico, expresso nas Notas das últimas reuniões, de que, além de conter as pressões infl acionárias de curto prazo, a política monetária tem contribuído de maneira importante para a consolidação de um ambiente macroeconômico favorável em horizontes mais longos. Os dados referentes à atividade econômica ainda sugerem uma baixa probabilidade de que observemos pressões significativas sobre a inflação. A expansão das importações tem contribuído de forma relevante para esse processo, complementando a produção doméstica e, assim, aumentando as perspectivas de que os efeitos inflacionários do crescimento sustentado da demanda agregada continuem sendo limitados.Além disso, a despeito da perspectiva de consolidação de um ambiente de menor liquidez global, em virtude da elevação das taxas de juros nas economias industrializadas, o cenário externo permanece favorável, particularmente no que diz respeito às perspectivas de financiamento para a economia brasileira. Assim, o cenário para a trajetória da infl ação permanece benigno. Tal como na reunião de outubro, o Copom enfatiza que o principal desafi o da política monetária nesse contexto é garantir a consolidação dos desenvolvimentos favoráveis que se antecipam para o futuro. 17. O Copom avalia que a elevação da inflação no curto prazo está sendo determinada em grande medida por uma esperada reversão da dinâmica favorável dos preços dos alimentos observada em meses recentes. Tendo em vista que esses efeitos ainda não se esgotaram, é provável que continuem sendo captados nos indicadores de infl ação a serem divulgados nas próximas semanas. Dada a natureza de tais pressões, espera-se que tenham caráter transitório, apresentando arrefecimento ao longo do tempo, sem que necessariamente observemos contaminação para horizontes mais longos. Entretanto, o Copom continuará conduzindo suas ações de forma a assegurar que os ganhos obtidos no combate à infl ação em anos recentes sejam permanentes. Para tanto, acompanhará atentamente, nos próximos meses, a

evolução da infl ação e das diferentes medidas do seu núcleo, discriminando entre reajustes pontuais e reajustes persistentes ou generalizados de preços e adequando prontamente a postura de política monetária às circunstâncias. 18. A manutenção de taxas de infl ação consistentes com a trajetória de metas e a resultante consolidação de um cenário de estabilidade macroeconômica duradoura contribuirão para a continuidade do processo de redução progressiva da percepção de risco macroeconômico que vem ocorrendo nos últimos anos. O espaço para que observemos juros reais menores no futuro continuará se consolidando de forma natural, como conseqüência dessa melhora de percepção. O Copom avalia que a atuação cautelosa da política monetária tem sido fundamental para aumentar a probabilidade de que a infl ação siga evoluindo segundo a trajetória de metas. Para que essa maior probabilidade continue se traduzindo em resultados efetivos, entretanto, é preciso que os indicadores prospectivos de inflação sigam apresentando elementos compatíveis com o cenário benigno que tem se confi gurado nos últimos trimestres. 19. O Copom considera relevante ressaltar, uma vez mais, que há defasagens importantes entre a implementação da política monetária e seus efeitos sobre o nível de atividade e sobre a infl ação. Desde o início do ciclo de fl exibilização da política monetária, em setembro de 2005, a taxa de juros básica já foi reduzida em 600 p.b., com a maior parte da redução concentrada em 2006. Assim, uma parcela importante dos efeitos dos cortes de juros ainda não se refl etiu no nível de atividade, assim como os efeitos da atividade sobre a infl ação também não tiveram tempo de se materializar. Dessa forma, a avaliação de decisões alternativas de política monetária deve concentrar-se necessariamente na análise do cenário prospectivo para a infl ação e nos riscos a ele associados, em vez de privilegiar os valores correntes observados para essa variável. 20. Ao longo dos próximos meses, a expansão do nível de emprego e da renda e o crescimento do crédito continuarão impulsionando a atividade econômica. Como mencionado nas Notas da reunião de outubro do Copom, a esses fatores devem ser acrescidos os efeitos da expansão das transferências governamentais

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e de outros impulsos fi scais ocorridos desde o último trimestre do ano passado e esperados para o próximo ano. Dessa forma, os efeitos sobre a demanda agregada dos cortes de juros se somarão a outros fatores que continuarão contribuindo de maneira importante para a sua expansão. 21. Tendo em vista os estímulos já existentes para a expansão da demanda agregada, as incertezas que cercam os mecanismos de transmissão da política monetária e a menor distância entre a taxa básica de juros corrente e as taxas de juros que deverão vigorar em equilíbrio no médio prazo, o Copom entende que a preservação das importantes conquistas obtidas no combate à infl ação e na manutenção do crescimento econômico, com geração de empregos e aumento da renda real, demandará que a partir de um determinado ponto a fl exibilização da política monetária passe a ser conduzida com maior parcimônia. Essa ponderação se torna ainda mais relevante quando se leva em conta que as próximas decisões de política monetária terão impactos concentrados em 2007. 22. À luz dessas considerações, o Copom voltou a avaliar a conveniência de reduzir a taxa Selic em 25 p.b. Houve consenso entre os membros do comitê de que diversos fatores respaldariam tal decisão e que esta contribuiria para aumentar a magnitude do ajuste total a ser implementado. Não houve consenso, entretanto, de que a redução no ritmo de fl exibilização da política monetária já deveria ocorrer a partir desta reunião. 23. Três membros do comitê votaram por uma redução de 0,25 p.p. na taxa de juros básica, entendendo que o balanço de riscos considerado justifi caria tal decisão. Já a maioria dos membros do Copom ressaltou que as informações disponíveis neste momento ainda não justificariam uma mudança de ritmo e que seria necessário aguardar a evolução do cenário macroeconômico até a próxima reunião do Comitê para, então, reavaliar a conveniência de reduzir a taxa Selic em 0,25 p.p. 24. Diante disso, o Copom decidiu, por cinco votos a três, reduzir a meta para a taxa Selic em 0,50 p.p., para 13,25% ao ano, sem viés. 25. No regime de metas para a infl ação, a autoridade monetária orienta suas decisões de acordo com os

valores futuros projetados para a infl ação, analisando diversos cenários alternativos para a evolução das principais variáveis que determinam a dinâmica dos preços. Mesmo levando-se em conta que houve redução de incertezas nos cenário internacional desde a última reunião do Copom, é forçoso reconhecer que várias das incertezas que geraram o aumento na volatilidade em meses anteriores persistem. Nesse ambiente, cabe à política monetária manter-se especialmente vigilante para evitar que a maior incerteza detectada em horizontes mais curtos se propague para horizontes mais longos. Evidentemente, na eventualidade de se verifi car uma exacerbação de riscos que implique alteração do cenário prospectivo traçado para a infl ação neste momento pelo Comitê, a estratégia de política monetária será prontamente adequada às circunstâncias. 26. Ao fi nal da reunião, foi registrado que o Comitê voltaria a se reunir em 23 de janeiro de 2007, para as apresentações técnicas, e no dia seguinte, para deliberar sobre a política monetária, conforme estabelecido pelo Comunicado 15.011, de 31/10/2006.

Sumário dos dados analisados pelo Copom

Infl ação 27. O IPCA variou 0,33% em outubro, ante 0,21% no mês anterior. Três dos nove grupos pesquisados apresentaram variação negativa no mês: artigos de residência, -0,41%; transportes, -0,13%, e comunicação, -0,01%. Entre os grupos que registraram elevações de preços, destacaram-se as altas de 0,88% em alimentação e bebidas, sobretudo pelos aumentos nos preços das carnes bovina e de frango, e de 0,87% em despesas pessoais, com destaque para o item empregado doméstico. O grupo alimentação contribuiu com 0,18 p.p. para o resultado geral do IPCA no mês. Com essa variação, o IPCA acumulou aumentos de 2,33% no ano e de 3,26% nos últimos doze meses. 28. Em outubro, houve aceleração na alta dos preços livres, 0,43%, ante 0,21% em setembro, acumulando 2,51% em doze meses. A variação dos preços monitorados desacelerou no período, ao registrar 0,12% ante 0,22% em setembro, totalizando 4,84% em doze

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meses. Entre os preços livres, o grupo dos produtos comercializáveis registrou taxa de 0,42%, e o dos não comercializáveis, de 0,44%. Consideradas as variações acumuladas em doze meses, os preços dos produtos comercializáveis e dos não comercializáveis subiram 0,77% e 4,49%, respectivamente. 29. O IGP-DI variou 0,81% em outubro, acumulando elevações de 2,93% no ano e de 3,34% nos últimos doze meses. Considerados os componentes do IGP-DI, o IPA, de maior peso, mostrou forte aceleração no mês, com taxa de 1,16% ante 0,28% em setembro, acumulando variações de 3,41% no ano e de 3,51% em doze meses. O Índice de Preços ao Consumidor – Brasil (IPC-Br) apresentou pequeno arrefecimento em outubro, 0,14% no mês, ante 0,19% no mês anterior, sobretudo pelos recuos nos preços do álcool combustível, da gasolina, dos legumes e frutas e do açúcar. O Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) variou 0,21%, ante 0,11% em setembro, refl etindo a maior elevação nos preços de materiais e serviços. 30. A aceleração dos preços no atacado em outubro decorreu do forte crescimento dos preços agrícolas, enquanto os preços industriais registraram recuo de 0,07%. O IPA agrícola variou 5,18%, ante alta de 1,20% em setembro, destacando-se as elevações nos preços da soja, milho, bovinos, aves, arroz, trigo e legumes e frutas, itens que conjuntamente contribuíram com 1,16 p.p. no IPA-DI e 0,69 p.p. no índice geral. Considerando o IPA segundo os três estágios de processamento, apenas os bens intermediários registraram variação negativa de preços, de 0,27%. Os preços dos bens fi nais aumentaram 0,39%, após queda de 0,35% em setembro. Os preços das matérias-primas brutas registraram forte aceleração, com alta de 5,10% no mês, após elevações de 1,31% em agosto e de 1,29% em setembro. 31. Duas das três medidas de núcleo do IPCA registraram elevação em outubro, relativamente ao mês anterior, embora todas tenham mantido a trajetória declinante na variação em doze meses. Pelo método das médias aparadas sem suavização de itens preestabelecidos, o núcleo registrou taxa de 0,19% no mês ante 0,13% em setembro, atingindo variação de 3,21% em doze meses. Adotando o critério de médias aparadas com suavização, o núcleo de

infl ação manteve, no mês, a mesma taxa observada em setembro, de 0,32%, alcançando 4,93% em doze meses. O núcleo calculado pela exclusão dos grupos de alimentação no domicílio e monitorados situou-se em 0,30% em outubro, ante 0,23% no mês anterior, acumulando 3,56% em doze meses. 32. O núcleo de infl ação para o IPC-Br, calculado pela FGV pelo método das médias aparadas simétricas, atingiu 0,17% em outubro, acumulando 2,23% no ano e 2,92% nos últimos doze meses. 33. O índice de difusão do IPCA, indicador da proporção de itens com variações positivas no resultado do mês, situou-se em 58,3% em outubro, ante 54,9% em setembro e 52,1% em agosto. Atividade econômica 34. De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE, o volume de vendas no segmento varejista do país aumentou 2,1% em setembro, comparativamente ao registrado no mês anterior, na série com ajuste sazonal. Três das quatro atividades do comércio varejista apresentaram variações positivas no mês: móveis e eletrodomésticos, 3,9%; tecidos, vestuário e calçados, 2,5%; e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, 1,3%. Apenas o segmento de combustíveis e lubrifi cantes registrou recuo na comparação mensal, de 0,6%. 35. Na comparação com setembro de 2005, o volume de vendas do comércio varejista expandiu 10,1%, sobretudo pelos acréscimos de 20,6% no segmento de móveis e eletrodomésticos e de 11% de híper e supermercados. No comércio varejista ampliado, que inclui as atividades material de construção e veículos, motos, partes e peças, observou-se crescimento de 10,3% na comparação anual. Os volumes de vendas desses segmentos aumentaram 13,8% e 10,1%, respectivamente, impulsionados, sobretudo, pelas condições favoráveis do crédito. O volume de vendas do comércio varejista cresceu 5,8% no acumulado do ano, até outubro, enquanto na atividade ampliada o crescimento atingiu 5,5%. 36. Os indicadores divulgados pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), referentes à atividade do comércio varejista na capital paulista, em

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outubro, apontaram aumentos de 6,1% no número de consultas ao Usecheque e de 0,5% naquelas efetuadas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), comparativamente às do mês anterior, após ajuste sazonal efetuado pelo Banco Central. No ano, até outubro, esses indicadores registraram expansões de 5,9% e de 3,4%, respectivamente, ante os do mesmo período de 2005. 37. Em relação aos indicadores de investimento, a produção doméstica de bens de capital e a produção de insumos da construção civil recuaram, respectivamente, 2,1% e 1,2% em setembro, em comparação aos níveis observados no mês anterior, após ajuste sazonal. As importações de bens de capital cresceram 9,5%, na mesma base de comparação. Nos primeiros nove meses do ano, esses indicadores revelaram acréscimos respectivos de 5%, 5% e 26,7%, em relação a igual período do ano anterior. Por setores de destinação, a produção de bens de capital para energia aumentou 31,8% no acumulado do ano, até setembro, 11,3% para a construção e 9,6% para uso misto, enquanto a produção de bens de capital para a agricultura diminuiu 20,5%. 38. Segundo dados dessazonalizados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE, a produção industrial brasileira diminuiu 1,4% em setembro, em relação à do mês anterior, como decorrência das quedas de 1,4% na produção da indústria de transformação e de 0,1% na produção extrativa. Nos primeiros nove meses do ano, a expansão da produção do setor atingiu 2,7%, comparativamente à do mesmo período de 2005, tendo o produto da indústria de transformação crescido 2,4%, e o da extrativa, 7,4%. 39. Por categorias de uso, todos os segmentos registraram variações mensais negativas, considerados dados dessazonalizados. A produção de bens de capital diminuiu 2,1%, a de bens intermediários, 2,1%, e a de bens de consumo, 1%, como resultado do recuo de 4,4% na produção de bens de consumo duráveis e de 0,2% na produção de produtos semi e não duráveis. No acumulado do ano, até setembro, comparativamente ao mesmo período de 2005, observa-se expansão generalizada entre as categorias, destacando-se as taxas de crescimento de 6,3% na produção de bens de consumo duráveis e de 5% na de bens de capital.

40. A análise desagregada da atividade industrial mostrou recuo da produção em doze das 23 atividades pesquisadas passíveis de ajuste sazonal, destacando-se o declínio de 9,3% na produção de veículos automotores, como reflexo das paralisações em importantes montadoras durante o mês. Entre as atividades que registraram crescimento, destacou-se a expansão de 10,8% no setor de material eletrônico e de equipamentos de comunicação. 41. Estatísticas da CNI registraram recuo de 0,1% nas horas trabalhadas na produção e aumento de 3% nas vendas industriais reais em setembro, em relação às do mês anterior, após ajuste sazonal efetuado pelo Banco Central. Nos primeiros nove meses do ano, esses dois indicadores da atividade industrial registraram acréscimos respectivos de 1,1% e 0,4%, comparativamente aos de igual período de 2005.O nível de utilização da capacidade instalada atingiu 82,1% em setembro, ante 81,9% no mês anterior, após ajuste sazonal. Considerando os dados observados, o nível de utilização atingiu 82,3%, 0,8 p.p. acima do patamar de setembro de 2005. 42. A produção de autoveículos atingiu 226,4 mil unidades em outubro, com aumento de 10,8% ante a do mês anterior, conforme dados dessazonalizados pelo Banco Central, refletindo, parcialmente, a normalização da atividade produtiva após as paralisações registradas em algumas montadoras em setembro. Ainda com dados dessazonalizados, as vendas internas cresceram 12,4%, e as externas, 0,2%. No ano, até outubro, a produção de autoveículos acumulou expansão de 4,5%, as vendas internas subiram 10,9% e as vendas externas recuaram 4,7%, em relação às de igual período de 2005. Expectativas e sondagens 43. A pesquisa mensal da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio SP) registrou expansão de 1,9% no Índice de Confi ança do Consumidor (ICC) em novembro, em comparação ao do mês anterior. No mês, houve acréscimo nos dois componentes do ICC: 1,7% no Índice das Condições Econômicas Atuais (Icea) e 2% no Índice de Expectativas do Consumidor (IEC). Na comparação com o nível de novembro de 2005, o ICC apresentou expansão de 14,6%.No Rio de

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Janeiro, conforme a pesquisa da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomercio RJ), o Índice de Expectativa do Consumidor (IEC) subiu 4,9% em outubro, em relação ao do mês anterior, e 10,1% ante o do mesmo mês de 2005. 44. O Índice Nacional de Confi ança elaborado pela Ipsos em parceria com a ACSP aumentou 4,3% em outubro, alcançando o patamar de 144 pontos de uma escala que varia de zero (pessimismo máximo) a duzentos (otimismo máximo). O indicador que mensura a confi ança e a segurança do indivíduo em relação a sua situação fi nanceira atingiu o seu nível mais elevado desde sua criação, em abril de 2005, e referenda as expectativas de continuidade de expansão do comércio. 45. A Sondagem de Expectativas do Consumidor da FGV, que abrangeu dois mil domicílios das sete principais capitais do País, mostrou que o ICC aumentou 5% em outubro, em relação ao do mês anterior, registrando aumentos de 6% na avaliação da situação presente e de 4,6% nas expectativas em relação aos próximos seis meses. 46. Ainda segundo a FGV, o Índice de Confi ança da Indústria (ICI), composto por seis quesitos contidos na Sondagem da Indústria de Transformação, diminuiu 2,2% em outubro, comparativamente ao de setembro, mantendo expansão de 5,2% em relação ao de outubro de 2005. Na comparação mensal, houve melhora nas avaliações sobre a situação presente e deterioração das expectativas em relação aos próximos meses. Mercado de trabalho 47. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do MTE, referentes ao emprego formal, foram gerados 129.795 novos postos de trabalho em outubro, distribuídos em todos os grandes setores de atividade Após a dessazonalização da série, o índice de emprego apresentou elevação mensal de 0,5%. Nos dez primeiros meses do ano, foram criados 1.514 mil postos de trabalho, com expansão de 4,9% em relação ao ocorrido em igual período de 2005, tendo se destacado a ampliação do emprego na construção civil, de 9,6%. 48. Pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), realizada pelo IBGE nas seis principais regiões

metropolitanas, a taxa de desemprego aberto recuou de 10% em setembro para 9,8% em outubro, situando-se 0,2 p.p. acima da observada em outubro de 2005.A média da taxa de desemprego em 2006, até outubro, situou-se em 10,2%, 0,2 p.p. acima do patamar observado no mesmo período de 2005. Nesse período, houve aumento de 2,2% no número de trabalhadores ocupados e de 4,2% no número de pessoas procurando emprego.De acordo com a pesquisa, o rendimento médio real habitual das pessoas ocupadas alcançou R$1.046,50 em outubro, com acréscimos de 1,2% em relação ao de setembro e de 5,4% em comparação com o de outubro de 2005. A massa salarial real, defi nida como o produto do rendimento médio real habitual e o número de ocupados, cresceu 1% em outubro, em relação à do mês anterior, e 8,4% ante a de outubro de 2005. No ano, até outubro, esses dois indicadores revelaram crescimentos respectivos de 4,1 e 6,4%. 49. No setor industrial, segundo a CNI, o contingente de pessoal empregado aumentou 0,3% em setembro, após ajuste sazonal efetuado pelo Banco Central, acumulando expansão de 1,7% no ano. Crédito e inadimplência 50. O saldo dos empréstimos do sistema fi nanceiro evoluiu 1,9% em outubro, acumulando expansão de 21,1% em doze meses. As operações com recursos livres registraram acréscimos de 2% no mês e de 23,3% em doze meses, enquanto aquelas com recursos direcionados cresceram 1,6% e 16,6%, na mesma ordem. 51. Nas operações de crédito referencial para taxas de juros com recursos livres observaram-se expansões de 1,3% no mês e de 20,1% em doze meses. Em relação às operações com pessoas físicas, as taxas de crescimento atingiram 1,3% no mês e 24,6% em doze meses. Em relação às carteiras de pessoas jurídicas, as operações com recursos domésticos aumentaram 1,4% no mês e 18,4% em doze meses, enquanto as lastreadas em recursos externos cresceram 1% e 10,5%, na mesma ordem. Ainda em relação às operações com recursos livres, destaquem-se os acréscimos em doze meses, até outubro, de 78,1% nos saldos das operações de leasing com pessoas físicas e de 44,7% nos saldos das operações com pessoas jurídicas.

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52. A taxa média ativa de juros incidente sobre as operações de crédito recuou novamente em outubro, atingindo 41,2% a.a., 7 p.p. inferior ao patamar verifi cado em outubro de 2005. Nas operações com pessoas físicas, a taxa média atingiu 53,1% a.a., ante 61,7% a.a. no mesmo mês de 2005, enquanto nas contratadas com pessoas jurídicas registrou-se redução de 6 p.p., para 27,4% a.a., no mesmo período. 53. A taxa de inadimplência alcançou 5% em outubro, consideradas as operações de crédito com recursos livres com atraso superior a noventa dias. A taxa referente às operações com pessoas jurídicas situou-se em 2,7%, e a referente às operações com pessoas físicas, em 7,6%. 54. A taxa líquida de inadimplência no comércio, calculada pela ACSP, subiu para 6,1% em outubro. No ano, até outubro, houve acréscimos de 5,6% no número de novos registros e de 4,7% no número de registros cancelados, enquanto a taxa média de inadimplência atingiu 5,9%, ante 5,7% no mesmo período de 2005. Ambiente externo 55. O cenário econômico internacional permanece favorável, a despeito de alguns sinais de desaceleração na produção industrial global. Nos Estados Unidos, observa-se retração do mercado imobiliário e crescimento da demanda em ritmo mais lento, em ambiente de ajuste na produção. No Japão, a produção industrial desacelerou em setembro, com aumento signifi cativo nos estoques, mas, no terceiro trimestre, o crescimento do PIB situou-se acima do previsto para o período, e as expectativas empresariais apontam crescimento moderado da economia. Na Área do Euro, o ritmo de expansão econômica recuou no terceiro trimestre, mas as expectativas empresariais apontam manutenção da tendência de crescimento moderado nos próximos trimestres, favorecido pela evolução positiva do mercado de trabalho e pela estabilização dos índices de preços. 56. A economia chinesa continuou com expansão robusta no terceiro trimestre, não obstante as medidas de contenção adotadas nos últimos meses. O PIB cresceu à taxa anualizada de 10,4%, ante a de 11,3% no

trimestre anterior. Em outubro, a produção industrial e a formação bruta de capital apresentaram arrefecimento comparativamente a outubro de 2005, mas ainda não se evidencia suspensão da tendência de crescimento acelerado. O consumo interno e o saldo da balança comercial continuaram em expansão. O excesso de liquidez (M2) renova as expectativas de que novas medidas de restrição monetária serão necessárias nos próximos meses. A infl ação ao consumidor manteve-se estável, acumulando variação anual de 1,4% em outubro, ante 1,5% no mês anterior.

57. Também nos Estados Unidos, a infl ação dá sinais e acomodação, principalmente pela redução dos custos de energia, que vem exercendo pressão baixista sobre os preços. No entanto, a diminuição do vigor dos ganhos de produtividade vem preocupando o mercado. No Reino Unido, a infl ação está acima da meta de 2%, o que levou o Banco da Inglaterra a elevar as taxas de juros básica em 25 p.b., para 5% a.a. 58. No mercado de commodities, observa-se relativa estabilidade nos preços das agrícolas, enquanto as metálicas continuam com preços em ascensão. O mercado de petróleo tem apresentado tendência de baixa nas cotações, apesar do anúncio de corte na produção da Opep. Abstraindo os efeitos de questões geopolíticas, outros fatores apontam para um cenário benigno dos preços do petróleo: desaceleração do crescimento da demanda global e o enfraquecimento da economia dos EUA, nível de estoques regulares, perspectiva de clima ameno para o inverno que se aproxima no hemisfério norte e maior produção dos países não integrantes da Opep. 59. Nos mercados fi nanceiros, os negócios prosseguem em clima de tranqüilidade. O índice Vix, que mede a volatilidade implícita do índice Standard & Poor´s 500 e é considerado um indicador da aversão ao risco, atingiu 9,9, aproximando-se de seu recorde histórico de baixa, de 9,31, registrado em dezembro de 1993. Outros indicadores também apontam para uma menor aversão ao risco, movimento que tende a benefi ciar ativos de países emergentes. O volume de negócios feitos no terceiro trimestre com títulos da dívida de países emergentes totalizou US$1,599 trilhão, apenas 4% abaixo do patamar recorde registrado no segundo trimestre do ano, de US$1,659 trilhão.

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Comércio exterior e reservas internacionais 60. O comércio exterior brasileiro continuou em expansão em outubro. A corrente de comércio atingiu US$21,4 bilhões no mês, e o superávit comercial, US$3,9 bilhões. Todos os resultados para o acumulado do ano, até outubro, são recordes históricos: as exportações atingiram US$113,4 bilhões; as importações, US$75,5 bilhões; o saldo comercial, US$37,9 bilhões. Em novembro, até a quarta semana (dezesseis dias úteis), o saldo comercial atingiu US$2,7 bilhões, resultado de US$9,7 bilhões de exportações e US$7 bilhões de importações. 61. As exportações atingiram US$12,7 bilhões em outubro. O valor médio diário de US$602,8 milhões superou em 21,7% o observado em outubro de 2005. As médias diárias das exportações de produtos manufaturados, semimanufaturados e básicos atingiram US$326,7 milhões, US$88,8 milhões e US$176,9 milhões, respectivamente, com acréscimos, na mesma ordem, de 17,8%, 39,5% e 23,8%, em comparação com as médias de outubro do ano anterior. Os dois principais itens de exportação foram minério de ferro, US$914 milhões, e óleos brutos de petróleo, US$536 milhões, com acréscimos respectivos de 24,2% e 168,9% sobre os valores médios diários registrados em outubro de 2005. 62. Entre os produtos semimanufaturados, destacaram-se as vendas de açúcar em bruto, US$452 milhões, crescimento de 128,8% em relação às de outubro de 2005. Na pauta de produtos manufaturados, observou-se recuo de 4,8% nas vendas do principal item, automóveis de passageiros, cujas exportações situaram-se em US$368 milhões. Destacaram-se, ainda, pelas taxas de expansão anual, as vendas de açúcar refi nado, 115,8%, e de álcool etílico, 198,5%, totalizando, respectivamente, US$305 milhões e US$276 milhões. O processo de diversifi cação da pauta de exportações brasileiras prosseguiu em outubro, com aumento generalizado nos embarques, particularmente de itens manufaturados com pequena participação na pauta, e ampliação do número de países de destino. 63. As importações somaram US$8,7 bilhões em outubro, registrando valor médio diário recorde de US$416,4 milhões, 33,7% superior ao do mesmo mês

de 2005.Consideradas as médias diárias, as compras externas registraram aumentos em todas as categorias de produtos: bens de consumo, 44,2%, destacando-se automóveis, com expansão de 128,6%; matérias-primas e bens intermediários, 34,3%; bens de capital, 29,9%; e combustíveis e lubrifi cantes, 29,2%. 64. Em outubro, o resultado em transações correntes foi superavitário em US$1,5 bilhão, maior valor para meses de outubro, acumulando superávit de US$11,7 bilhões no ano. No acumulado de doze meses, encerrado em outubro de 2006, o superávit em transações correntes atingiu US$14 bilhões, ou 1,54% do PIB. 65. Em outubro, as reservas internacionais aumentaram US$4,8 bilhões, totalizando US$78,2 bilhões no fi nal do mês. No ano, até outubro, as reservas cresceram US$24,4 bilhões. Mercado monetário e operações de mercado aberto 66. Após a reunião do Copom de 18 de outubro, a curva de juros futuro recuou em toda a sua extensão. A decisão do Copom e as indicações do governo de manutenção da austeridade da política econômica infl uenciaram o comportamento declinante dos juros. No front externo, a perspectiva de desaceleração suave da economia norte-americana e a divulgação de núcleos de infl ação nos EUA, em linha com as expectativas de mercado, favoreceram a aplicação em ativos de países emergentes e contribuíram para a continuidade do movimento de queda das taxas domésticas. No fi nal de novembro, o recuo da curva de juros também foi infl uenciado pelo arrefecimento dos índices de infl ação e pela perspectiva de reclassifi cação da dívida soberana do país. Entre 16 de outubro e 27 de novembro, as taxas de 1, de 3 e de 6 meses reduziram-se em 0,40 p.p., 0,34 p.p. e 0,32 p.p., respectivamente. As taxas de 1, de 2 e de 3 anos recuaram, respectivamente, 0,36 p.p., 0,30 p.p. e 0,24 p.p. A taxa real de juros medida pelo quociente entre a taxa nominal de um ano e a expectativa de infl ação (suavizada) para os próximos doze meses caiu de 8,88%, em 16 de outubro, para 8,41%, em 27 de novembro. 67. Em 20 de outubro e 22 de novembro, o Banco Central realizou leilões de swap cambial reverso, nos quais assumiu posição ativa em variação cambial e passiva

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em taxa de juros doméstica. Com essas operações, que totalizaram o equivalente a US$2,1 bilhões, foram efetuadas as rolagens parciais dos vencimentos de swap cambial reverso do dia 1º de novembro e 1º de dezembro. Em 2006, o resgate líquido de instrumentos cambiais acumula US$10,1 bilhões. 68. Na administração da liquidez do mercado de reservas bancárias, o Banco Central realizou, no período de 17 de outubro a 27 de novembro, operações compromissadas semanais de rentabilidade prefi xada de prazo de três, cinco e sete meses. O saldo diário médio do estoque dessas operações alcançou R$58,0 bilhões, sendo R$41,0 bilhões em operações de cinco meses. No mesmo período, atuou em 26 oportunidades por meio de operações compromissadas de curtíssimo prazo, sendo vinte destinadas a retirar recursos do sistema bancário. Também foram realizadas operações de nivelamento ao fi nal do dia, com prazo de até dois dias úteis. As operações de curtíssimo prazo, incluídas as de nivelamento, tiveram saldo diário médio tomador de R$27,7 bilhões. 69. Entre 17 de outubro e 27 de novembro, as emissões do Tesouro Nacional mediante leilões de venda tradicionais de títulos públicos somaram R$66,6 bilhões. A colocação de títulos de remuneração prefi xada alcançou R$41,5 bilhões, sendo R$28,5 bilhões em Letras do Tesouro Nacional (LTN) de vencimento em 2007, 2008 e 2009 e R$13,0 bi lhões em Notas do Tesouro Nacional – Série F (NTN-F) de vencimento em 2010, 2012 e 2014. Nos leilões

de Letras Financeiras do Tesouro (LFT), foram vendidos R$13,9 bilhões em títulos de vencimento em 2009, 2010, 2011 e 2012, e nos de Notas do Tesouro Nacional – Série B (NTN-B), R$9,7 bilhões em títulos de vencimento em 2009, 2011, 2015, 2024, 2035 e 2045, dos quais R$4,1 bilhões com liquidação em moeda corrente e R$5,6 bilhões contra a entrega de outros títulos de responsabilidade do Tesouro Nacional. Nos leilões de Notas do Tesouro Nacional – Série C (NTN-C) foi vendido R$ 1,5 bilhão em títulos de vencimento em 2021 e 2031, dos quais R$912 milhões com liquidação em moeda corrente e R$587 milhões contra a entrega de outros títulos de responsabilidade do Tesouro Nacional. 70. No mesmo período, o Tesouro promoveu seis leilões de venda de LTN de vencimento em abril e outubro de 2007 conjugada a compra de LTN de vencimento em janeiro de 2007 e de LFT de vencimento em 2006, com volume fi nanceiro total de R$12,5 bilhões. Realizou, ainda, leilões de venda de LFT de vencimento em 2010 e 2012, no montante de R$4,7 bilhões, aceitando como pagamento LFT de vencimento em 2006. 71. Também foram realizados pelo Tesouro leilões de compra de LTN de vencimento em 1º de janeiro de 2007 e de NTN-B de diversos vencimentos, cujos volumes alcançaram, respectivamente, R$1,2 bilhão e R$37 milhões.