nota sobre o autismo no brasil

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  • 7/29/2019 Nota Sobre o Autismo No Brasil

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    Nota sobre o Autismo no BrasilMaria Noemi de Araujo

    Um Manual de 2011 elaborado por familiares, representantes doMovimento Pr Autistas e Defensoria Pblica de So Paulo situa, asconquistas brasileiras sobre o autismo no mbito social e jurdico.Segundo o Relato do Encontro Internacional sobre Autismo, essetema foi amplamente discutido no interior do Brasil, em janeiroltimo na Universidade Federal de So Carlos (UFSCar, 2012). Entreos trabalhos apresentados no campo da neurocincia, gentica eanlise do comportamento, chama ateno o resultado da pesquisapor amostragem que apontou um caso de autismo para cada 368

    crianas brasileiras entre 7 e 12 anos.

    Uma pesquisa transversal, que visou alcanar as polticas pblicas,trabalhou com uma amostragem de 1.470 crianas em idade escolar,de um bairro servido pelo Programa de Sade da Famlia em Atibaia-SP. Nesse estudo, o agente de sade teoricamente treinado paraidentificar problemas de sade, foi designado para reconhecer casosrelacionados ao autismo associado a modelos de aprendizagem e decomportamento, alm dos problemas clssicos de sade. A pesquisacontou ainda com uma campanha nas escolas de esclarecimento para

    identificar todos os alunos portadores de problemas decomportamento ou parecidos a Transtorno do Espectro Autista(TEA). Enfim, a realidade dessa populao de 20.000 pessoasresultou na generalizao da frequncia de 0,3% de portadores deTEA, entre os escolares.

    O prprio critrio de escolha do local, da noo de profissionaiscapacitados para reconhecer um escolar autista (pblico alvo dapesquisa) j indicativo de que seu objeto de estudo se alinha comuma posio educativa, adaptativa e comportamental. Por sua vez,nada tem a ver com o objeto de estudo da neurologia e nem mesmoda psicanlise.

    Do ponto de vista da indstria farmacutica, a escassez de polticaspblicas, ou de financiamento para pesquisa inviabiliza a produo demedicamentos para tratar do autismo.

    Como uma Clnica do um por um pode redesenhar a realidade doautismo, ou seja, caminhar na contra mo de pesquisas reveladorasde novas vises sobre o autismo?

    Numa perspectiva psicanaltica, o objeto o mesmo entre asdiferentes correntes tericas como a de Klein, Winicott e Lacan?

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    Alinhado ao pensamento de Lacan, existem os trabalhos de Mannoni(1977, 1979, 1987), Dolto (1972, 1985), Rosine e Robert Lefort(1984), Laurent (2009, 2011). Esses trabalhos tiveramconsequncias nas pesquisas, nas prticas educativas, na clnica enas instituies brasileiras.

    Nas dcadas de 80-90, por exemplo, era comum a rotatividadesignificativa de pesquisadores financiados pelo Governo brasileiroirem trabalhar ao lado de M. Mannoni, na cole ExprimentaleBonneuil cujo lema une cole pour les autistes pas comme lesautres. Outros tantos produziram suas pesquisas nas Universidadese Hospitais brasileiros. Porm, ainda h muito que investir sobre oautismo.

    Segundo Leny Magalhes, as investigaes contemporneas sobre

    esse tema tm se apoiado na ideia de que a enfermidade mentalseria um dficit de medicamento (CSP n 7, EBP). ric Laurent porsua vez, contesta essa viso cientfica prpria da Teoria daCompensao, ao mostrar que nenhuma enfermidade mental podeser tratada como um um desequilbrio qumico, ou alguma falta aser compensada. Talvez, por isso mesmo, a campanha desencadeadapela AMP severa em relao proposta poltica reducionista [doautismo] que exclui a Psicanlise.

    No lanamento do livro Autismo(s) e atualidade: uma leitura

    lacaniana (2012), na EBP-SP, Heloisa Telles destacou a importnciada disponibilidade de psicanalistas falarem da clnica contemporneacom os sujeitos autistas, na esteira do debate francs (CSP n 7).

    Na primeira parte deste livro, As novas consideraes sobre oautismo, Laurent contextualiza o tema politicamente e discute aquesto do tratamento com base na ideia do que As crianasautistas ensinam sobre o real. No real nada falta, no h buraco nadimenso do real (p. 28). Nesse debate, a vinheta do Caso Clnicoevocado no artigo Um certo saber-fazer com o lxico de Teresinhado Prado, provocou a plateia.

    No contexto do debate da EBP, em abril ltimo, a questo levantadapor Rmulo Ferreira da Silva, por exemplo, situa a questo dodiagnstico na clnica do autismo e na clnica da psicose, remetendo-se aos trabalhos dos franceses Rosine e Robert Lefort.

    Algumas passagens dos textos que compem este livro abordam odiagnstico de autismo como sendo distinto da psicose. Com isso,pode-se pensar que o autismo entraria como uma classificaodentro do diagnstico de psicose. H que diferenciar a psicose infantil

    do autismo, porm, esse ltimo no deixa de ser psicose. Ser que

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    estamos abordando o autismo como uma quartaestrutura? concluiu Rmulo.

    Nas suas Conferncias na Seo-SP (30-31/10/2012), Agns Aflaloprovocou o psicanalista a pensar e inventar uma poltica [da poltica]

    da psicanlise a partir da sua prtica na instituio ou na clnicaparticular (ver "O Assassinato da Psicanlise", 2012).