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Nossas Ilhas, Nossa História

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Page 1: Nossas Ilhas, Nossa História

Nossas Ilhas, Nossa História

Page 2: Nossas Ilhas, Nossa História

O QUE SÃO AS ILHAS FALKLAND? Quem são os habitantes das Ilhas Falkland e o que significa ser um cidadão do nosso país? Essas são perguntas feitas com frequência aos habitantes das Ilhas Falkland, para as quais não há respostas simples. A nossa história deve ser levada em conta para que se entenda o que significa ser um cidadão das Ilhas Falkland. Trata-se de uma história bastante curta. A povoção e relativamente recente: começou no século XVIII, mas passou a ocorrer de forma contínua apenas a partir do início do século XIX. Diferentemente do que os impérios espanhol e português encontraram quando colonizaram a América do Sul, as Ilhas Falkland nunca tiveram uma população indígena, motivo pelo qual não temos monumentos antigos nem mitologias românticas que definam a nossa identidade de habitante das Ilhas Falkland. Outras pessoas teceram, por conta própria, alguns mitos acerca da nossa história, o que explica as várias concepções errôneas referentes a quem somos e ao nosso direito de chamar as Ilhas Falkland de nosso lar.

A série de eventos que serve como base sobre a qual as Ilhas Falkland foram construídas constitui o objetivo do livreto “Nossas Ilhas, Nossa História”. A nossa história testemunhou longos períodos de tranquilidade, interrompidos por surtos de atividade intensa. Os eventos ocorridos nas décadas de 1760 e 1770 são confusos, mas, com o auxílio da linha cronológica que se estende pelas páginas desta publicação, esperamos que sejam esclarecidos. O período que vai de 1820 a 1833 também é complexo, complicado ainda mais pela tendência a encher a narrativa básica de mitos nacionalistas.Embora não se trate de um documento de referência definitivo, este livreto pretende explicar ao leitor interessado como a nossa comunidade diversificada amadureceu, absorvendo influências de várias nações através dos navegadores que visitaram o nosso litoral ou que se estabeleceram nas Ilhas, desenvolvendo uma identidade cultural própria, embora sempre mantendo laços estreitos com o Reino Unido. Essa afinidade com o Reino Unido, assim como a lealdade para com a Coroa, ainda existe atualmente; talvez não esteja muito na moda em comparação com o resto do mundo moderno, mas é um elemento genuíno da nossa identidade nacional.Este livreto não é mais um histórico dos eventos de 1982, pois vários desses registros já foram publicados. Todavia, seremos eternamente gratos às forças britânicas que libertaram as nossas Ilhas da ocupação dolorosa, embora breve, das forças argentinas; o sacrifício deles restaurou a nossa liberdade e garantiu o nosso futuro, e jamais será esquecido. Os habitantes das Ilhas Falkland são mais que apenas o produto de um conjunto de datas e eventos históricos. São famílias cujos membros já compõem com orgulho a nona geração nascida nas Ilhas. Somos um povo verdadeiramente distinto e independente; orgulhamo-nos de ser o povo Kelper, apelido adotado pelos nossos ancestrais há várias gerações, inspirado pelos vastos bancos de alga marinha (“kelp”, em inglês) que cercam o nosso litoral.O que este livreto não será capaz de explicar, entretanto, é o fator impalpável que nos une de forma inextricável a esta terra de beleza tão sutil. Para entender melhor esse fator, o leitor deve ler o livreto Nossas Ilhas, Nosso Lar ou, melhor ainda, visitar as Ilhas Falkland e ver com seus próprios olhos...

Leona RobertsDIRETORA, FUNDO NACIONAL E MUSEU DAS ILHAS FALKLAND

FA

L

KL A N D I S L A

ND

S

Page 3: Nossas Ilhas, Nossa História

O Comandante Byron toma posse das Ilhas em nome da Coroa britânica.

PRINCIPALES ACONTECIMIENTOS EN LA HISTORIA DE LAS ISLAS FALKLAND

O Capitão John Strong atraca pela primeira vez registrada nas ilhas inabitadas.

ORIGENSO mar e as Ilhas

1592

1690

1764

1765

As Ilhas Falkland são avistadas pelo navio inglês Desire, comandado pelo Capitão John Davis.

Louis-Antoine de Bougainville estabelece uma colônia francesa em Port Louis, na East Falkland.

AS ILHAS FALKLAND, localizadas a aproximadamente 300 milhas náuticas (560km) de distância do continente sul-americano, englobam duas grandes ilhas, a West Falkland e a East Falkland, além de várias outras, que vão de ilhas de tamanho considerável, perto da costa oeste da West Falkland, a ilhotas e recifes menores, espalhados por todo o litoral.

A identidade dos primeiros descobridores das Ilhas permanece um mistério. Grupos indígenas provenientes da Patagônia podem ser trazidos do continente pelo vento. Além disso, algumas ferramentas de pedra foram encontradas no litoral das Ilhas Falkland. Há dois mapas do início do século XVI nos arquivos de Paris e Istambul que parecem ilustrar uma conexão das Ilhas com Portugal. Entretanto, a primeira referência às Ilhas Falkland foi publicada após a viagem do explorador inglês John Davis, que, em agosto de 1592, foi carregado por uma tempestade até “certas Ilhas nunca antes descobertas”. O registro de Davis foi publicado em 1600 por Richard Hakluyt, em Londres.

A visita de Davis foi sucedida pelas visitas do navegador inglês Richard Hawkins, em 1594, e do explorador holandês Sebald de Weert, em janeiro de 1600. O primeiro desembarque registrado nas Ilhas ainda inabitadas ocorreu na West Falkland, em 27 de janeiro de 1690, com a chegada do capitão inglês John Strong. Strong deu o nome de “Canal de Falkland” à passagem entre as duas Ilhas, mas, posteriormente, o nome do Visconde de Falkland passou a ser usado em referência ao conjunto formado pelas ilhas principais. No início do século XVIII, navegadores franceses do porto de Saint-Malo batizaram as ilhas com o nome de “Les Îles Malouines” (veja a caixa de texto ao lado).

A década de 1760: os primeiros povoadosMais de meio século depois, na década de 1760, dois povoados foram estabelecidos quase simultaneamente nas ilhas East Falkland e West Falkland por dois países diferentes. O nobre francês Louis Antoine de Bougainville, durante um breve capítulo de sua incrível biografia, trouxe para Port Louis, na East Falkland, colonos que haviam deixado a Nova Escócia após a conquista britânica da parte francesa do Canadá, em 1764. Em janeiro de 1765, o Comandante Byron atracou na Ilha de Saunders, ao norte da West Falkland, e reivindicou as ilhas para a coroa britânica. Uma segunda expedição britânica voltou a Saunders em 1766 e batizou o povoado de Port Egmont.

1766

1767

Os britânicos estabelecem um povoado em Port Egmont, na West Falkland.

A França entrega Port Louis para a Espanha. Nome alterado para Puerto de la Soledad.

Esboço da Ilha de Saunders feito por Thomas Boutflower, pesquisador inglês que visitou a West Falkland em 1766 e desenhou os colonos enquanto caçavam e pescavam. O sul está no topo do mapa. O povoado inglês, Port Egmont, está à esquerda (leste) do mapa.

DE ONDE VEM O NOME?UM ViscONDE iNglês OU UM saNtO galês.

Em 1690, o primeiro capitão a atracar nas Ilhas, John Strong, nomeado o som entre eles de um patocinador inglês, o Visconde de Falkland, que havia investido bastante em sua expedição de caça ao tesouro. O nome Falkland permaneceu fortemente ligado às Ilhas como um todo desde então. Anos depois, as Ilhas receberam o seu nome francês: mercadores da cidade francesa de Saint-Malo (nome do santo galês Melu, o “apóstolo dos bretões”, que fundou a cidade no século VII d.C.) passaram pelas Ilhas em sua rota comercial rumo aos portos do Chile. Um mapa francês traçado pelo explorador Frezier em 1716 descreve-as como “as Novas Ilhas descobertas pelas embarcações de Saint-Malo em 1700, cuja parte ocidental ainda é desconhecida”. Posteriormente, os cartógrafos passaram a preferir o nome “Îles Malouines” por ser mais elegante, e os espanhóis traduziram-no como “Islas Maluinas”, que acabou virando “Islas Malvinas”.

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esfera de influência. Os espanhóis tomaram Port Louis e mudaram o nome do povoado para Puerto de la Soledad. A fim de afirmar sua autoridade, uma frota espanhola chegou à Ilha de Saunders em 1770 e expulsou a ínfima tropa britânica. Seguiu-se uma crise internacional, resolvida somente em 1771, quando a Espanha concordou que o povoado britânico deveria ser restaurado; então, em setembro de 1771, três navios partiram para restabelecer a autoridade britânica. A empreitada durou pouco tempo, pois, em 1774, o governo britânico decidiu desfazer o povoado por motivos econômicos. A tropa partiu em maio do mesmo ano, deixando para trás uma placa de chumbo com o intuito de manter a soberania britânica. A tropa espanhola permaneceu na East Falkland até 1811, quando, devido à invasão francesa na Espanha e às revoluções no seu império sul-americano, a Coroa espanhola retirou suas forças das Ilhas Falkland, embora também tenha deixado uma placa para affirmar sua soberania.

1833 e tudo o que ocorreuNo fim do século XVIII e no começo do século

XIX, as Ilhas constituíam o centro de um comércio lucrativo de baleias e focas, realizado por navegadores da Nova Inglaterra, da Grã-Bretanha e da França. Os baleeiros acampavam nas ilhas mais afastadas, muitos deles em New Island, alimentando-se de gansos e outras aves, e às vezes de gado na East Falkland, consertando seus navios e extraindo óleo de carcaças de focas, leões marinhos, baleias e pinguins.

Em 1820, atracou em Port Louis um navio particular vindo de Buenos Aires, sob o comando de David Jewett, estadunidense de origem, mas cedido como coronel à marinha de Buenos Aires. Jewett, por iniciativa própria, pois jamais foram encontradas quaisquer instruções, reivindicou as Ilhas em nome das Províncias Unidas (de Buenos Aires). Não estabeleceu um povoado e não revelou que havia reivindicado as Ilhas; foi apenas em 1821 que o governo de Buenos Aires descobriu o ocorrido por meio de reportagens em jornais estrangeiros.

No meio da década de 1820, Louis Vernet, membro de uma família huguenote francesa, nascido em Hamburgo e criado em Buenos Aires (veja a caixa de texto ao lado), organizou

a RaPOsa WaRRaHO único mamífero terrestre nativo das Ilhas Falkland era a raposa (ou lobo) Warrah, Dusicyon antarcticus, que se aproximou dos primeiros exploradores com inocente curiosidade. Não se sabe como os seus ancestrais chegaram às Ilhas; pesquisas recentes parecem refutar a teoria de que eram originalmente cães de caça que foram arrastados por tempestades até as Ilhas nas canoas dos índios da Patagônia. As raposas Warrah foram exterminadas pelos caçadores de focas e fazendeiros; a última delas provavelmente morreu na década de 1870. Um exemplar empalhado ainda existe no museu de Bruxelas, tendo visitado as Ilhas em 1989.

A Espanha retira seus colonos da East Falkland, mantendo a posse das terras. As Ilhas ficam sem população e sem administração.

1774

1811

1820

A Grã-Bretanha retira os colonos de Port Egmont por motivos econômicos, mas mantém a posse das terras.

O Coronel David Jewett, a serviço do governo de Buenos Aires, mas agindo sem autoridade, toma posse das Ilhas em nome de Buenos Aires. Porém, não estabelece uma colônia após sua visita; logo, a Ilha permanece sem governo. As notícias acerca das ações de Jewett chegam a Buenos Aires um ano depois, por meio de jornais estrangeiros.

Os colonos construíram casas pre-fabricadas de bloco de construcção, e também plantaram jardins. Embora os colonos britânicos e franceses soubessem das atividades uns dos outros, as relações eram cordiais, sem dúvidas graças à distância entre Port Louis e a Ilha de Saunders. No entanto, em 1767, Bougainville foi forçado a entregar o seu povoado à Coroa espanhola, que não aceitava o fato de haver uma colônia estrangeira dentro do que considerava ser sua

expedições às Ilhas. A primeira, realizada em 1824, foi um desastre, mas a segunda, em 1826, foi melhor organizada, resultando na fundação de um povoado em Port Louis, no mesmo local da antiga colônia espanhola. Em 1829, ele foi nomeado comandante do povoado pelo governo de Buenos Aires. Porém, Vernet foi longe demais quando confiscou navios pertencentes a caçadores de focas dos Estados Unidos, alegando que estavam caçando ilegalmente. Como já havia caçadores de focas e baleias norte-americanos nas águas das Ilhas Falkland desde a década de 1770, os donos dos navios confiscados indignaram-se, o que resultou na chegada da USS Lexington a Port Louis, em dezembro de 1831, uma fragata que derrubou as defesas de Vernet e retirou a maioria dos colonos europeus. Dez meses depois, em outubro de 1832, o governo argentino enviou uma tropa a Port Louis, que logo em seguida rebelou-se e assassinou o seu comandante.

Os britânicos apenas assistiam aos eventos à medida que Vernet estabelecia sua colônia, sendo que a missão diplomática britânica em Buenos Aires protestara contra a nomeação de

Após uma tentativa fracassada em 1824, Louis Vernet lidera uma expedição às Ilhas e funda Port Louis.

1826

lOUis VERNEt o pioneiro ambíguo

Vernet deixou as Ilhas em novembro de 1831, em um dos navios americanos que havia capturado, e nunca mais retornou. Tentou obter uma compensação dos governos norte-americano e britânico. Os americanos recusaram completamente o seu pedido. Os britânicos rejeitaram os pedidos de edifícios e terras, mas acabaram concedendo-lhe £2.400 pelos cavalos que deixara no povoado. É evidente que Vernet era um homem habilidoso, mas seus objetivos eram essencialmente pessoais, pois ele preferia colonos do norte da Europa e dos EUA a colonos argentinos. Ele teria aceitado a proteção da Grã-Bretanha, mas o governo britânico não estava disposto a reconhecer as propriedades que ele detinha sob permissão argentina.

Morreu em 1871, em Buenos Aires. Seus dois filhos insistiram nos pedidos referentes às Ilhas Falkland e à Terra Staten (Isla de los Estados), e o seu interesse pode ter levado o Presidente da Argentina Roca a ressuscitar a reivindicação nacional na década de 1880, depois de mais de trinta anos após a Convenção de Conciliação (Tratado Arana-Southern) ter acabado com todas as disputas.

Nos anos recentes, os descendentes de Louis Vernet uniram-se à delegação argentina nas Nações Unidas para conferir uma justificativa histórica ao lado argentino da causa. No entanto, o papel de seus ancestrais na fundação do povoado de Port Louis é mais ambíguo que o que alegam.

Nascido em Hamburgo, em 1791, Louis (ou Lewis, Luis ou Ludwig) Vernet veio de uma família de protestantes franceses que se mudou para a Filadélfia e, posteriormente, para Buenos Aires. Em 1823, recebeu permissão do governo de Buenos Aires para abater gado nas Ilhas Falkland, realizando uma expedição mal sucedida naquele ano. Em 1828, Vernet recebeu do governo argentino uma licença que abrangia quase toda a East Falkland. O representante britânico encontrou-se com Vernet em 1829 e descreveu-o como “um homem muito inteligente... (que), creio eu, ficaria muito feliz se o governo de Sua Majestade oferecesse proteção ao seu povoado”. A Grã-Bretanha protestou contra a quebra de soberania por parte da Argentina em novembro daquele ano, após Vernet ter recebido o título oficial de comandante.

O povoado de Vernet foi estabelecido com colonos da Argentina, da Grã-Bretanha e da América do Norte. Porém, em uma tentativa de evitar que caçadores de focas exercessem sua atividade sem permissão, Vernet prendeu várias embarcações dos Estados Unidos e provocou um ataque dos norte-americanos ao seu povoado em 1831. Em 1832, o governo argentino posicionou uma tropa em Port Louis por um breve período, após o qual o governo britânico reassumiu a administração, expulsando a tropa em 1833.

1770 -1771

Quatro navios de guerra espanhóis chegam a Port Egmont e forçam os colonos britânicos a partir, deixando a Espanha e a Grã-Bretanha prestes a declarar guerra. Em seguida, Madri nega responsabilidade pelas ações do comandante local e devolve Port Egmont à Grã-Bretanha.

Port Louis em 1833, por Conrad Martens

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aNtONiNa ROXa a princesa entre os gaúchosNinguém sabe onde nem quando nasceu Antonina Roxa, mas ela é uma das personagens mais célebres da história das Ilhas Falkland. Supostamente uma “princesa”, filha de um líder indígena dos territórios do Rio Prata, chegou a Port Louis por volta de 1831, durante o governo de Louis Vernet. Durante os assassinatos de 1833, escapou de Antonio Rivero e seus seguidores e refugiou-se com outros colonos em uma pequena ilha. Em 1834, o oficial da marinha britânica que estava no comando permitiu que ela se apossasse de um a cada dois bezerros selvagens que conseguisse domar. Posteriormente, um outro comandante descreveu-a como sendo “muito bondosa e de bom caráter, bastante útil como professora e parteira”.

Foi a primeira pessoa a fazer um juramento de lealdade à Coroa britânica, em 1841, e possuía terras, gado e rebanho em Port Louis. Mudou-se para a nova capital, Stanley, onde possuía um terreno. Casou-se com um marinheiro norte-americano chamado Kenney na década de 1830, mas divorciou-se em 1838. Na década de 1850, casou-se com um gaúcho de Montevidéu chamado Pedro Varela e, em 1866, arrendou 6.000 acres (2.450 hectares) de terra em seu próprio nome no litoral oeste da East Falkland. Morreu em 1869 e foi enterrada no cemitério de Stanley.

Antonina deixou uma impressão vívida, sendo reconhecida como uma mulher independente por todos com quem cruzasse. Foi uma das personalidades mais fascinantes dos primeiros dias da colônia.

1831

O navio de guerra norte-americano Lexington destrói propriedades em Port Louis, como retaliação pela prisão de três embarcações americanas feitas por Vernet. Seu capitão, Silas Duncan, remove os colonos europeus de Vernet e declara que não há soberania nas ilhas.

1832

Uma tentativa de fundar uma colônia penal nas Ilhas falha quando o comandante recém-nomeado por Buenos Aires é assassinado pelos seus próprios soldados.

Vernet, bem como a do comandante da tropa que se rebelou em 1832.

Em Londres, o governo britânico temia que as Ilhas Falkland fossem tomadas pela anarquia e se tornassem uma base para piratas. Em 1832, o Capitão Onslow do navio HMS Clio recebeu instruções para rafirmar a soberania britânica das Ilhas, mas sem expulsar a população civil. Chegou a Port Louis em 2 de janeiro de 1833. Na manhã seguinte, Onslow instruiu com firmeza, embora também com cordialidade, que a escuna argentina, cujo capitão havia assumido o controle de Port Louis, partisse. Não houve tiros; não houve qualquer tipo de violência. Quatro civis optaram por partir com a tropa rebelde na escuna, mas grande parte das duas dúzias de colonos trazidas por Vernet, gaúchos em sua maioria, permaneceu sob a guarda da bandeira britânica.

Onslow não forneceu recursos à administração das Ilhas, exceto uma bandeira britânica e 45 metros de corda para hasteá-la, que presenteou ao mercador irlandês. Charles Darwin, que, em março de 1833, visitou as Ilhas com o Capitão Fitzroy a bordo do Beagle, descreveu o mercador como “o residente inglês”. Vernet, que ainda administrava sua propriedade sem sair de Buenos Aires, foi, sem saber, o motivo de acontecimentos terríveis em agosto de 1833, quando os gaúchos, liderados por Antonio Rivero, atacaram e mataram os representantes de Vernet em Port Louis (incluindo o mercador), como forma de protesto contra a decisão de Vernet de não lhes pagar em moeda de valor real. Um pequeno grupo britânico, liderado pelo Tenente Henry Smith, atracou em janeiro de 1834, restaurando a ordem e prendendo os assassinos. Foram enviados para julgamento

Charles Darwin visitou as Ilhas em 1833 e em 1834, a bordo do Beagle.

Gaúchos trabalhando: aquarela de uma série feita por Will Dale (1826-1870).

Sir James Clark Ross, “o homem mais bonito da Marinha”, passou um inverno em Port Louis com a Expedição Antártica, em 1842.

1829

O governo de Buenos Aires emite um decreto detalhando os seus direitos, supostamente derivados das autoridades coloniais espanholas, e concede a Louis Vernet o título de comandante. A Grã-Bretanha protesta formalmente, alegando que o decreto infringe sua soberania. O representante britânico em Buenos Aires relata a Londres que Vernet ficaria satisfeito se a Grã-Bretanha oferecesse proteção ao seu povoado.

Page 6: Nossas Ilhas, Nossa História

JacK sOllis marinheiroJack nasceu em Darwin, em 1915, e passou sua infância nos povoados de Goose Green e Port Louis. Enquanto criança, desenvolveu um fascínio por barcos e, quando tinha 15 anos, juntou-se à tripulação do Perfecto Garcia, que pertencia a Jack “Cracker” Davis, popularmente conhecido como o último pirata das Ilhas Falkland. Durante a década de 1930, arranjou um emprego mais convencional, na Companhia das Ilhas Falkland, cujos navios a vapor, o Fitzroy e o Lafonia, coletavam e transportavam lã de todo o litoral das Ilhas até Montevidéu. Durante a Segunda Guerra Mundial, Jack serviu como piloto da embarcação Alert, pertencente ao governo, sendo condecorado com uma Medalha do Império Britânico por seus serviços de entrega de mercadorias e correspondências para os vários postos de observação distantes, espalhados por todo o litoral das Falklands, durante a guerra. Em 1940, casou-se com Maude Duffin. Em 1949, tornou-se capitão da nova embarcação do governo, a Philomel, e, quando ela foi substituída pelo pequeno cargueiro Forrest, em 1967, Jack passou a comandá-lo, o que fez até o fim de sua carreira. Em 1982, ele manteve o Forrest fora de

Stanley, rastreando a força invasora da Argentina por meio do radar do cargueiro. Aposentou-se em 1983.

Em 1977, Jack Sollis recebeu os agradecimentos do comandante da pequena missão da Marinha Real nas Ilhas por seu serviço inestimável, e há registros de que, mesmo após sua aposentadoria, investigadores navais visitavam-no em sua casa para discutir seus programas de trabalho. Morreu em 1985 e foi enterrado no cemitério de Stanley. Sollis Rock, perto da Ilha Sedge (ao norte da West Falkland), recebeu seu nome em homenagem a ele.

Stanley continuou a depender das ligações marítimas com Montevidéu e com o Reino Unido. Após a Segunda Guerra Mundial, os navios da Companhia das Ilhas Falkland (FIC – Falkland Islands Company) passaram a navegar de Stanley a Montevidéu, o que permitia que os passageiros viajassem de navio ou avião para a Europa. As embarcações da FIC também atracavam em portos menores ao redor das Ilhas, para entregar

mercadorias e coletar rolos de lã para exportação. Em 1971, quando a FIC decidiu que seu último navio, o muito amado Darwin, não era muito econômico e preparou-se para vendê-lo, os habitantes das Ilhas perderam sua conexão com o mundo externo.

Assim, abriu-se uma porta para que o governo argentino entrasse com a oferta de uma conexão aérea para as Ilhas (veja “A reivindicação argentina”).

a iNsÍgNia VERMElHa

Em 1859, o Governo das Ilhas Falkland inaugurou o seu próprio registro de navios com o registro da escuna Victor, de propriedade de “John Phillips de Stanley”. Em julho de 1864, o governo britânico havia preparado a Insígnia Vermelha, utilizada apenas pela Marinha Real até então, para que fosse usada por embarcações mercantes de posse privada provenientes da Grã-Bretanha e de suas colônias.

Em 15 de setembro de 2003, o registro único original foi substituído por um registro quádruplo, similar ao utilizado no Reino Unido quando as Ilhas Falkland adotaram partes modificadas da Lei da Marinha Mercante do Reino Unido, de 1995.

O Registro das Falklands é normalmente restrito a embarcações mercantes que não excedam 150 toneladas de peso bruto, embarcações de pesca e navios pequenos, cujos proprietários ou locatários tenham uma ligação com as Ilhas Falkland. Com exceção dos pequenos navios de posse privada com menos de 24 metros de comprimento, todas as solicitações de registro devem ser aprovadas pelo governador (após consultar o Conselho Executivo). As embarcações mercantes que ultrapassem a restrição de registro de 150 toneladas de peso bruto também devem ser aprovadas pela Secretaria de Transporte do Reino Unido.

A frota mercante das Ilhas Falkland inclui dois navios britânicos do conselho de pesquisa do Reino Unido na Antártida (o British Antarctic Survey), uma conexão estabelecida em 1925 com o registro do navio Discovery.

na Inglaterra, mas, como somente cidadãos britânicos podiam ser julgados na Grã-Bretanha por crimes cometidos fora do país, eles foram voltados a Montevidéu.

Nos oitos anos que se seguiram, as Ilhas foram administradas por uma sucessão de tenentes subordinados à Marinha Real, que mantinham registros dos acontecimentos como se estivessem em seus navios, lembrando-se sempre de registrar os eventos climáticos. A população de Port Louis cresceu lentamente durante a administração britânica. Um navio britânico realizou o primeiro estudo cuidadoso do litoral das Falklands. Em 1841, o governo britânico decidiu regularizar a situação e enviou o jovem engenheiro Richard Moody às Ilhas como tenente-governador (veja a seção “Administração e governo”).

O mar e as FalklandsO mar continuou a dominar a vida nas Ilhas. Com a chegada de Moody em 1842, a expedição antártica de James Clark Ross atracou em Port Louis para passar o inverno. O grande explorador sugeriu a Moody que movesse sua pequena capital para um porto que fosse mais acessível para os navios, e Moody acatou a sugestão, fundando Stanley logo em seguida. A nova cidade cresceu de forma constante durante a segunda metade do século XIX, em grande parte devido ao comércio e às necessidades dos navios que passavam pelo movimentado porto. À medida que novos colonos chegavam e se mudavam para os pastos da East Falkland e da West Falkland, seus povoados distribuíam-se naturalmente, de acordo com os portos ou baías que os navios utilizavam para entregar mercadorias e levar rolos de lã.

A essa época, as Ilhas situavam-se em uma das

É nomeado o primeiro tenente-governador britânico, Richard Moody: atraca em Port Louis em janeiro de 1842.

1841

A administração civil é estabelecida por uma Lei Parlamentar. Moody é promovido a governador pleno.

1843

1845

A sede do governo é transferida de Port Louis para Stanley. Os Conselhos Executivo e Legislativo são instituídos.

1833

O Capitão Onslow retoma o controle das Ilhas em nome da Grã-Bretanha. Charles Darwin visita as Ilhas no Beagle.

principais rotas comerciais do mundo, que partiam da Austrália e da Nova Zelândia, ou do litoral oeste das Américas, dando a volta no Cabo de Hornos, e seguiam na direção da Europa ou do litoral leste das Américas. Em 1854, foi construído um farol com placas de ferro fundido feitas na Inglaterra, ainda de pé atualmente, e Stanley tornou-se um porto de refúgio para os navios danificados durante a passagem pelo Cabo de Hornos. O comércio de consertos de navio floresceu, e os mercadores utilizavam os navios que não eram capazes de consertar como depósitos de carga ou píeres. Foi assim que Stanley adquiriu os cascos de navios de madeira que fazem do porto da cidade um lugar singular hoje em dia. Em 1859, foi inaugurado o registro oficial de navios de Stanley, ainda em funcionamento (veja a caixa de texto dereito).

No início do século XX, o cenário começou a mudar: os novos navios eram mais resistentes, muitos deles feitos de ferro e, em sua grande maioria, movidos a vapor, de modo que o conserto de navios tornou-se um negócio menos necessário ou lucrativo. Em 1914, foi aberto o Canal do Panamá, fazendo desaparecer grande parte do tráfego ao redor do Cabo de Hornos.

Os caçadores de baleias e focas continuaram com suas atividades nas águas das Falklands, bem como no maior sul do Atlântico. O governo tentou controlar ambos os grupos, com o intuito de proteger principalmente as colônias de acasalamento de focas e leões marinhos, que quase foram exterminados pelos caçadores. Os baleeiros construíram uma estação de caça na West Falkland nos primeiros anos do século XX, mas a estação durou pouco tempo, pois a indústria acabou centralizando-se na Ilha Geórgia do Sul.

aNtONiO RiVERO gaúcho e assassinoAntonio Rivero estava entre os gaúchos trazidos da Argentina por Louis Vernet para trabalhar em Port Louis. A lista de habitantes de Port Louis feita pelo Capitão Onslow especifica que Rivero tinha 26 anos de idade (em 1833) e nacido em Buenos Aires. Antes de partir das Ilhas, Onslow percebeu que os gaúchos estavam insatisfeitos com seus salários e, de fato, Vernet pagava seus homens com notas impressas por conta própria.

Em 26 de agosto de 1833, Rivero liderou dois fazendeiros e cinco índios em um ataque contra um dos agentes de Vernet, Mathew Brisbane, matando o agente e mais quatro colonos. Os demais colonos fugiram para outra ilha, e seis meses passaram-se até que um grupo de marinheiros britânicos e gaúchos fiéis encontrasse Rivero e seus seguidores. Em março de 1834, Rivero entregou os seus próprios seguidores aos britânicos, que os prenderam e enviaram à Inglaterra para julgamento. Porém, os juízes concluíram que não sabiam ao certo se Rivero e seus homens eram cidadãos britânicos à época dos assassinatos, e decidiram enviá-los de volta à América do Sul. Rivero foi solto em Montevidéu.

Rivero tem sido retratado como um rebelde patriota desde a década de 1950, após a publicação de um registro fictício dos assassinatos em um livro, enquanto o Presidente da Argentina Perón promovia a reivindicação das Ilhas Falkland. Em 1982, após a invasão argentina, Stanley teve seu nome brevemente alterado para Puerto Rivero, até que perceberam que Rivero era um exemplo questionável de conduta. Historiadores argentinos de grande reputação não se iludem com Rivero nem com seus motivos: ele já foi descrito como criminoso, ao invés de herói patriota, em um relatório aprovado unanimemente pela Academia Nacional de História da Argentina, em 1966, mas continua a ser elogiado esporadicamente por políticos menos esclarecidos.

Page 7: Nossas Ilhas, Nossa História

ADMINISTRAÇÃO E GOVERNO

Page 8: Nossas Ilhas, Nossa História

A tripulação do HMS Good Hope retornando após uma visita a Stanley, em outubro de 1914. No dia 1 de novembro, o navio foi afundado na Batalha de Coronel. Não houve sobreviventes.

1850

O governo britânico e a República da Argentina ratificam a Convenção de Conciliação (Tratado Arana-Southern), resolvendo as diferenças existentes e estabelecendo a “amizade perfeita”. Os protestos da Argentina em relação às Falklands cessam pelos próximos noventa anos (com exceção de 1888).

QUANDO O TENENTE MOODY atracou em Port Louis, em janeiro de 1842, vários colonos britânicos já se encontravam no povoado, além dos sobreviventes da colônia de Vernet e da população itinerante de caçadores de baleias e focas. Moody estabeleceu uma administração rudimentar, sugerindo que as Ilhas fossem colonizadas. Pediu um médico e um padre, que lhe foram enviados, bem como um juiz de direito. Foi esse o grupo que se mudou para Stanley em 1845, quando Moody transferiu a sede do governo.

Os registros do governo de Moody ainda são mantidos em volumosos tomos nos Arquivos Nacionais Jane Cameron, em Stanley. A diligência de sua administração é impressionante. Seu governo contou com a criação de leis, a coleta de impostos e a aplicação da lei e da ordem pública. Além disso, vários censos demográficos foram realizados periodicamente; as visitas de

navios foram listadas; e os nascimentos, óbitos e casamentos foram registrados.

Moody recebeu instruções de Londres para organizar um conselho executivo e um conselho legislativo, o que concretizou em 1845. Os primeiros conselheiros foram o próprio Moody e seus oficiais mais antigos; posteriormente, alguns proprietários de terra e mercadores foram adicionados aos conselhos. Era uma administração representativa, mas não democrática. Os primeiros membros eleitos tomaram posse somente em 1949.

A defesa e as Guerras MundiaisA defesa das Ilhas era uma preocupação contínua para os governadores. Embora pudessem contar com a Marinha Real, raramente havia navios dedicados à defesa das Ilhas Falkland, o que as deixava vulneráveis a revoltas ocorridas no

continente sul-americano. Em 1845, no Rio Prata, as hostilidades entre as frotas britânica e francesa e o governo argentino do General Rosas levou o Governador Moody a pedir armas e reunir uma tropa, utilizando os seus próprios engenheiros militares, que não somavam sequer uma dúzia, como treinadores e oficiais não comissionados. As armas finalmente chegaram, vindas da Inglaterra. A ameaça desapareceu e a tropa foi dispensada, não sendo restituída até 1891, quando o Governador Goldsworthy se deparou com a chegada inesperada de navios chilenos

O governo britânico assina um acordo de venda de grande parte da East Falkland para os Irmãos Lafone de Montevidéu e Londres. Os empregados dos Lafone chegam em maio de 1847.

1846

A Companhia das Ilhas Falkland (FIC) é fundada em Londres: adquire os investimentos dos Irmãos Lafone, tornando-se a maior proprietária de terras das Ilhas.

Uma frota espanhola, liderada pelo Almirante Pinzón y Álvarez, visita Stanley, saúda a bandeira britânica e trata o governador com as cortesias de praxe.

Toda a área da West Falkland é aberta para fazendas: todas as terras são arrendadas até 1869.

1851

1863

1866

cheios de revolucionários nas águas das Falklands. A tropa recebeu o nome de Força Voluntária das Ilhas Falkland, e ainda existe atualmente, com o nome de Força de Defesa das Ilhas Falkland. Foi mobilizada durante ambas as Guerras Mundiais, e também durante a invasão argentina de 1982.

RicHaRD clEMENt MOODY o primeiro governador

Stanley fosse a sede do governo, ao invés de Port Louis; planejou a nova cidade e supervisionou a mudança, em 1845.

O governo britânico não estava disposto a subsidiar a emigração, mas alguns colonos vieram por iniciativa própria. Os irmãos anglo-uruguaios Lafone investiram em grandes terrenos, tornando-se precursores da Companhia das Ilhas Falkland. Moody estabeleceu uma administração regular e, em 1845, nomeou os membros do conselho legislativo e do conselho executivo; estabeleceu uma corte jurídica; construiu uma igreja e uma prisão; e organizou uma tropa.

Como governador, a principal falha de Moody foi não conseguir se relacionar bem com seus subordinados (incluindo o seu irmão desequilibrado James, o padre da colônia) e com os oficiais navais que visitavam as Ilhas. Entretanto, estabeleceu os alicerces para os governadores seguintes. Deixou as Ilhas em 1848 e voltou a servir na Grã-Bretanha. Casou-se em 1852 e, em 1858, foi promovido a coronel e nomeado tenente-governador da Colúmbia Britânica, onde serviu até 1863. Aposentou-se em 1866 e morreu em 1887, em Bournemouth.

Moody Brook, a oeste de Stanley, foi nomeado em homenagem a ele, mas o seu legado real são os 180 anos de administração britânica e a cidade de Stanley.

Richard Moody nasceu em Barbados, em 1813, filho de um Engenheiro Real que havia ingressado na administração colonial. Moody seguiu o pai na área de engenharia militar, que englobava levantamentos topográficos. Em 1841, quando era apenas um tenente de 28 anos, foi enviado às Ilhas Falkland como tenente-governador, para determinar o que o governo britânico deveria fazer com as Ilhas. Moody preparou um “relatório geral” completo acerca das Ilhas, recomendando que o governo encorajasse a colonização e propondo a utilização de grandes fazendas para criação de ovelhas. Recomendou, também, que

Mesmo com sua localização remota, as Ilhas foram afetadas por ambas as Guerras Mundiais. Em 1914, ocorreu a Batalha das Ilhas Falkland, em que o de navio esquadrão alemão do Almirante Von Spee, animado com a vitória sobre o esquadrão britânico na Batalha de Coronel, confrontou os

navios de guerra britânicos sob o comando do Almirante Sturdee nas proximidades de Stanley. A frota de Von Spee foi destruída, e a vitória tornou-se um feriado público nas Ilhas: o Dia da Batalha é comemorado em 8 de dezembro, no memorial localizado na orla de Stanley.

cÔNsUlEs EM staNlEY

William H. Smyley foi o primeiro representante estrangeiro nas Ilhas Falkland, após ter sido nomeado agente comercial dos Estados Unidos, em 1851, quando visitou o governador trajando o seu novo uniforme consular. Foi sucedido por vários cônsules profissionais (de carreira) norte-americanos até 1908, quando partiu o último deles. Outras nações nomearam cidadãos ilustres de Stanley como cônsules honorários no século XIX. Em 1936, havia representantes do Chile, da França, da Itália, da Noruega e do Uruguai.

A placa do consulado uruguaio em Stanley.

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“O sElO Mais BONitO DO MUNDO”

de postagem, cartas aéreas e outros materiais postais foram somados às primeiras edições, para o deleite dos colecionadores tanto locais quanto internacionais. Cada design é cuidadosamente examinado e impresso. Dentre os mais belos,

destacam-se os “divididos” de 1891, selos cortados ao meio para substituir os que haviam sido encomendados, mas que se perderam em um naufrágio.A filatelia teve um papel importante na economia das Falklands, e os selos das Ilhas ainda mantêm o seu estado e a sua popularidade entre colecionadores de todo o mundo, sendo que algumas dessas coleções de selos das Ilhas Falkland já ganharam

medalhas de ouro em competições internacionais. Os selos das Falklands têm sido ótimos embaixadores das Ilhas há mais de 130 anos. Hoje, as edições mais recentes podem ser obtidas a partir da Agência de Filatelia de Stanley.

Os primeiros selos das Ilhas Falkland foram lançados em 19 de junho de 1878. Com novos valores, papel com marca d’água e novas impressões, o conjunto cresceu para oito valores, além dos selos de valor alto, de 2/6d e 5/-. Aliás, o selo com o retrato da Rainha Victoria, de valor equivalente a meia coroa (2/6d), ganhou uma competição internacional contemporânea, sendo declarado o selo mais bonito do mundo. Todos esses selos foram substituídos em 1904, assim que o Rei Edward VII assumiu o trono.Em 1933, foi lançada a edição Centenária icônica e ilustrada, um magnífico conjunto comemorativo em homenagem aos cem anos de administração britânica. A Argentina não gostou nem um pouco, e desde então suas autoridades postais atrasam, taxam e interrompem aleatoriamente as correspondências das Falklands que entram em seu território. Novas edições, selos definitivos, comemorativos ou

O governador da província argentina de Santa Cruz, Carlos Moyano, visita as Falklands para recrutar colonos. Encontra para si próprio uma noiva.

Visita de Sua Alteza, o Príncipe Alfred, Duque de Edimburgo, segundo filho da Rainha Victoria.

A Catedral de Stanley é consagrada pelo Bispo Stirling.

1885

1871

1892

A correspondência entre os governos britânico e argentino sobre um mapa proposto pela Argentina, que incluía as Falklands, é concluída com um protesto formal por parte da Embaixada Britânica em Buenos Aires.

1884 - 1885

Durante a Segunda Guerra Mundial, as Ilhas testemunharam as consequências da batalha do Rio Prata, após a qual os navios britânicos, muito danificados apesar de vitoriosos, seguiram até Stanley para reparos. Posteriormente, quando o Japão entrou na guerra, a tropa foi reforçada por um batalhão britânico, que protegeu as Ilhas até o fim da guerra. Durante as Guerras Mundiais, foram arrecadados fundos nas Ilhas, o que

resultou na doação de uma aeronave Pusher e dois caças Bristol ao Corpo Aéreo Real, em 1914-18, e dez caças Spitfire à Força Aérea Real durante a Segunda Guerra Mundial.

A busca por diversidadeOutra preocupação recorrente do governo era a economia das Falklands. O sucesso da indústria de lã no século XIX produziu de forma eficaz uma

economia monocultural. No início do século XX, surgiu uma fonte alternativa de emprego, a caça à baleia, mas a estação baleeira estabelecida em New Island não durou muito, e a indústria concentrou-se na ilha Geórgia do Sul. Na década de 1950, o governo britânico investiu bastante na usina de processamento de carnes, localizada em Ajax Bay, o que resultou em uma falha onerosa, compensada somente quando as ruínas da usina foram transformadas em um hospital militar, a “máquina de vida vermelha e verde”, durante o conflito de 1982.

A diversificação de fato chegou apenas no fim das décadas de 1980 e 1990, com a pesca, um novo abatedouro e a descoberta de petróleo (veja a seção “Conquistando a paz”).

A estação de rádio é inaugurada.

Na Batalha das Ilhas Falkland, a Marinha Real destrói a frota alemã do Almirante Graf von Spee e mantém o controle do Atlântico Sul.

1912

1914

WilliaM allaRDYcE governador e conservacionista

exagerada das reservas de acasalamento de focas ao redor das Falkland. Acima de tudo, ele queria garantir que a renda oriunda das novas indústrias fosse investida de modo que protegesse as Ilhas contra um possível colapso da indústria baleeira. Infelizmente, as regras introduzidas foram suspensas em 1914, devido ao início da Primeira Guerra Mundial e à pressão da demanda por óleo de baleia, necessário para a fabricação de

Allardyce nasceu na Índia, em 1861, e ingressou no serviço colonial aos 18 anos de idade. Serviu por 25 anos em Fiji, tornando-se um grande conhecedor da cultura fijiana e batizando suas duas filhas com nomes fijianos. Foi nomeado governador das Ilhas Falkland em 1904, sendo que o seu mandato de 11 anos coincidiu com o advento da indústria baleeira no sul, o estabelecimento das Dependências das Ilhas Falkland e o início da Primeira Guerra Mundial. Em 1904, os noruegueses estabeleceram estações baleeiras na Geórgia do Sul, e Allardyce introduziu leis para licenciar embarcações baleeiras e estabelecer um regime de conservação. A Geórgia do Sul e os territórios britânicos na Antártida foram denominados Dependências das Ilhas Falkland, e uma administração básica foi introduzida. Allardyce preocupou-se igualmente com a exploração

explosivos.A Guerra não demorou a afetar diretamente as

Ilhas Falkland. Após afundar dois navios britânicos no litoral do Chile, a frota alemã vitoriosa, liderada por Graf von Spee, seguiu em direção às Falkland. Allardyce e as Ilhas foram salvos pela chegada oportuna de uma frota britânica de navios de guerra, que venceu os alemães após um dia inteiro de combate no litoral de Stanley. A estação de rádio inaugurada por Allardyce em 1912 foi crucial para a proteção das Ilhas Falkland.

Allardyce foi provavelmente o governador mais impressionante de toda a história das Ilhas. Durante o seu mandato, o Hospital Memorial Rei Edward VII foi inaugurado, bem como a prefeitura, que incluía uma biblioteca e um museu, e também uma escola secundária. Ele foi transferido em 1915, servindo posteriormente nas Bahamas, na Tasmânia e em Newfoundland. Allardyce morreu na Inglaterra, em 1930.

Darwin, 1902

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STANLEYA capital das Ilhas Falkland

ORissa DEaN benfeitoraEm 1888, George Dean morreu, e a empresa da família, com exceção das fazendas, foi vendida para a Companhia das Ilhas Falkland.

Orissa Dean não teve filhos, mas adotou a família de William Luxton, um marinheiro, quando ele morreu. Providenciou treinamento para os filhos do marinheiro e organizou o casamento da filha. A geração seguinte também era intimamente ligada a Orissa, sendo que, quando ela morreu, deixou sua fazenda em Chartres para o jovem William Luxton, cujos descendentes ainda moram lá. Ela tocava órgão na igreja do Edifício do Comércio, até que a igreja foi destruída pelo deslizamento de turfa de 1886. Posteriormente, tornou-se uma grande benfeitora da nova Catedral, arcando com os custos da janela oeste, o relógio da torre e cinco sinos.

A generosidade de Orissa para com as pessoas

Nascida em Orissa, na Índia, em 1840, Orissa Watton casou-se com George Markham Dean em 1862 e mudou-se com ele para as Ilhas no ano seguinte. Compraram a Stanley Cottage, supostamente a primeira casa construída em Stanley, um bela mansão na beira da praia.

George e seu irmão Charles administravam a empresa muito bem sucedida fundada pelo pai, JM Dean, na década de 1840. Além disso, George foi cônsul da Dinamarca e vice-agente comercial Stanley Edstados Unidos. Quando a West Falkland foi aberta para colonização, em 1866, os irmãos Dean arrendaram duas fazendas do governo, e mais uma em 1874. Em 1887, para celebrar o jubileu de ouro da Rainha Victoria, os irmãos construíram as Mansões do Jubileu (Jubilee Villas), casas de tijolo construídas perto do píer de Stanley.

foi marcada pelo conjunto de louças e talheres de prata folheados a ouro presenteado a Orissa pelos colonos, que ainda se encontra no Museu de Stanley. Morreu em 1920 e foi enterrada no cemitério de Stanley. Durante várias gerações, Orissa era um dos nomes mais populares entre as meninas das Falklands.

POR SER UM ENGENHEIRO MILITAR, O GOVERNADOR Moody foi capaz de estudar e planejar a nova capital, Stanley, com auxílio de seu pequeno grupo de soldados, todos eles sapadores habilidosos, que realizaram grande parte do trabalho de construção.

A cidade foi planejada seguindo um padrão de grade ao longo da orla, pois todas as mercadorias seriam importadas por meio de navios e descarregadas onde fossem necessárias. Voltada para o norte, na direção do sol do meio dia, a cidade começa no litoral, subindo levemente até os bancos de turfa no topo da colina; nos invernos mais severos, as crianças ainda podem esquiar de trenó pelas ruas cruzadas até a Ross Road, que se estende pela orla.

Stanley desenvolveu-se rapidamente, contando com o governo e o porto para sobreviver. Além das cargas destinadas tanto

à cidade quanto aos povoados no Campo (o interior das Ilhas), havia também um comércio considerável de conserto de navios. A população de Stanley cresceu de forma significativa em 1849, quando um grupo de ex-soldados, os chamados “pensionistas militares”, estabeleceram-se nas Ilhas para possibilitar a criação de uma tropa. Com os pensionistas, em sua maioria irlandeses, vieram suas famílias e um conjunto de casas de madeira pré-fabricadas. Muitos dos pensionistas deixaram as Ilhas após o fim de seus contratos, mas os que ficaram desempenharam um papel importante na vida de Stanley. Suas casas ainda podem ser vistas na Pioneer Row: uma delas foi transformada em museu, para ilustrar a vida em Stanley à época vitoriana.

Com o passar do século, foram construídos em Stanley os edifícios necessários para uma capital em miniatura. A Casa do Governo (Government

House), projetada pelo Governador Moody, foi finalizada apenas no fim da década de 1850. O segundo governador, George Rennie, era escultor e designer industrial, e projetou o Edifício do Comércio (Exchange Building) em 1850, incluindo uma torre nos moldes italianos. O Edifício do Comércio tinha um espaço para reuniões públicas e cerimônias religiosas. Em 1854, foi construído um quarteirão de casas para os soldados; em 1873, foram construídas uma delegacia e uma prisão. Já em 1878, a Companhia das Ilhas Falkland construiu uma grande mansão de tijolos para o seu gerente, a Stanley House, atualmente um albergue para crianças do Campo que estudam em Stanley.

Por fim, nos últimos anos do século XIX, três edifícios religiosos foram finalizados. A catedral anglicana, uma igreja gótica de tijolos vermelhos, foi consagrada em 1892; a igreja católica romana era uma estrutura de madeira inaugurada em 1873,

Stanley em 1866: aquarela feita por um artista italiano que visitou a cidade, E. de Martino. A torre do Edifício do Comércio destaca-se na paisagem.

Ellaline Terriss, estrela dos teatros do West End, nasceu em Stanley, em 1871.

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a tURFa E Os DEsliZaMENtOs DE tURFa

A turfa, um combustível formado por matéria vegetal não decomposta e comprimida, é muito comum nas Ilhas, tendo fornecido aquecimento para quase todos os lares durante o primeiro século de administração britânica. Embora seja um combustível gratuito, cortar turfa é, na verdade, uma tarefa trabalhosa, pois a turfa perde sua eficácia como combustível quando seca. Em Stanley, foi declarado um feriado público dedicado a esse trabalho. Desde o conflito de 1982, a turfa foi substituída majoritariamente por petróleo.

Havia um vasto banco de turfa na colina acima de Stanley que, embora conveniente para a cidade, não drenava bem. No século XIX, houve dois deslizamentos de turfa encharcada, da colina até o porto. No primeiro deslizamento, em 1878, ninguém se feriu, mas algumas casas foram danificadas. O segundo, porém, foi muito mais destrutivo; duas pessoas morreram e várias casas foram destruídas, e o Edifício do Comércio, com sua bela torre, teve suas bases tão abaladas que precisou ser demolido. Após os deslizamentos, foi introduzido um sistema efetivo de drenagem, acabando com o risco de novos deslizamentos. É introduzido o sufrágio universal

como forma de eleição de membros do Conselho Legislativo.

1949

Após a batalha do Rio Prata, o esquadrão britânico vitorioso chega a Port Stanley para reparos.

1939

HENRY FEltON patriarca, pioneiro e pensionistaHenry Felton nasceu em Londres, em 1798, e ingressou num regimento da Cavalaria (Os Life Guards) em 1820. Aposentou-se do exército em 1844, com documentos de dispensa que o descrevem como sendo um homem exemplar, honesto e sério, que mantinha suas tropas em ótimas condições. Casou-se com Martha Ann Staples em 1838 e, por 1849, já tinha sete filhos.

Nos primeiros anos da colônia, o governador das Falklands foi recrutar de homens de bom caráter com treinamento militar: a solução foi encontrar ex-soldados, os pensionistas militares, tornando Henry Felton o candidato ideal. Ele recebeu o título de sargento-mor, sendo responsável, sob o comando de um capitão, por outros 30 pensionistas, e chegou a Stanley em outubro de 1849. Uma de suas funções era supervisionar a construção de casas pré-fabricadas, enviadas especialmente para os pensionistas (e que ainda existem em Stanley), sendo que o próprio Henry mudou-se para uma delas com sua família.

Martha deu à luz mais sete filhos em Stanley; quando sua casa ficou pequena demais, Felton adquiriu o bar Queen’s Arms. Ele continuou no comando dos pensionistas e, mais tarde, da tropa inteira, tendo servido também como juiz de paz e como membro do conselho executivo.

Morreu em Stanley, em 1876, seguido por sua esposa, em 1880. Seus filhos tiveram vidas prósperas: dois deles tornaram-se fazendeiros de sucesso, outro tornou-se membro do conselho executivo e outro ingressou no conselho legislativo. Em 1994, para comemorar o aniversário de 150 anos de Stanley, foi lançado um selo com o retrato de Henry Felton, e ainda há membros da família Felton em Stanley atualmente.

ópera. A transmissão de rádio foi introduzida em 1929, pelo Governador Hodson (que também era um ávido produtor de performances amadoras). Os programas eram transmitidos por meio de linhas telefônicas para Stanley e arredores.

A introdução da comunicação via radiotelefone com o Campo, em 1950, representou um grande passo no sentido de reduzir o isolamento das famílias no interior.

mas foi movida para uma edifício maior em 1899, onde se encontra atualmente; a comunidade não conformista adquiriu uma capela pré-fabricada da Inglaterra, o Tabernáculo (Tabernacle), montado em 1891.

As casas residenciais eram geralmente feitas de madeira, mas algumas das primeiras habitações eram de pedra (e foram essas as casas utilizadas como abrigo para civis durante o conflito de 1982). O comércio era dominado por duas empresas, a Companhia das Ilhas Falkland e sua rival, a empresa de JM Dean, com sua loja West Store. Em 1888, a FIC adquiriu a empresa de Dean, incluindo a loja, duas tavernas, um hotel, um clube, casas para os empregados, uma frota de navios, uma empresa de conserto de navios e serviços bancários para a maioria dos fazendeiros. A FIC dominou a vida comercial de Stanley no século seguinte, dificultando o de outros empresários aspirando desafia-los.

O conserto de navios era uma área em expansão, de modo que os poucos técnicos de Stanley podiam cobrar preços altos. Os capitães dos navios ficavam surpresos com os preços de Stanley, mas os governadores garantiam a Londres que os colonos estavam longe da linha de pobreza.

O lazer em Stanley era similar ao da Inglaterra vitoriana: jardinagem, futebol, bares, dardos e tiro ao alvo (regularmente equipas das Ilhas competiam com distinção nas reuniões anuais em Bisley, na Inglaterra). O primeiro cinema foi inaugurado pelo padre da igreja católica, em 1913. Havia uma certa tradição de entretenimento que envolvia performances amadoras de teatro e

Primeira incursão por parte de uma aeronave leve da Argentina.

1964

Visita do Duque de Edimburgo como parte de uma viagem pela Comunidade de Nações no iate real Britannia.

1957

Catedral da Igreja de Cristo antes de 1902

Mansões do Jubileu, construídas em 1887

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Pista de pouso temporária construída pela força-tarefa argentina em Stanley, para uso por parte de aeronaves civis argentinas.

1972

A visita do Ministro Chalfont é marcada por protestos. Terceira incursão aérea.

1968

Os EsPORtEs DE staNlEY

O hipódromo de Stanley é reto e mede 900 jardas, com duas arquibancadas pequenas em ambos os lados da pista, na linha de chegada. Em 1957, durante sua visita às Ilhas, o Príncipe Philip, Duque de Edimburgo, participou de um evento desportivo especial; a Sailors Race (Corrida de Marujos), competição que venceu montando o cavalo Itata.

Em 1966, o hipódromo sobreviveu a aterrissagem (e decolagem) de um avião DC4 argentino sequestrado. Durante a ocupação argentina de 1982, o campo foi usado como depósito de munições e heliporto, sendo necessária uma operação de limpeza de grande porte para preparar a pista para o tradicional evento de dezembro.

Outro evento social são os Esportes de Natal, que tradicionalmente unem os habitantes das Ilhas. O evento não conta com a participação de tantos cavalos e jóqueis hoje em dia, em comparação com os números de 30, 40 ou 50 anos atrás, mas ainda tem o seu charme e uma atmosfera animada, que atrai gente de todas as idades.

Os operadores em Stanley eram essenciais para a sociedade das Falklands, distribuindo notícias, conselhos e conforto a quem necessitasse.

O grande evento desportivo do ano era o Stanley Sports, no dia seguinte ao Natal, que atraía cavalos e cavaleiros dos lados ocidental e oriental, contando com a participação da cidade inteira. A pesca da tainha local e da truta marinha, introduzidas com sucesso nos rios das Falklands na década de 1950, também era bastante popular.

Os serviços sociais eram modestos. O primeiro médico mudou-se para as Ilhas em 1843, mas o Hospital Memorial King Edward VII foi aberto apenas em 1914. Uma escola primária foi fundada na década de 1840 para oferecer educação básica, sendo que a igreja católica romana também possuía uma escola, em que o ensino era feito por freiras. Porém, até 1910, as crianças paravam de ir à escola aos 12 anos. Para que obtivessem educação secundária ou terciária, os jovens eram enviados à Grã-Bretanha ou ao Uruguai, mas havia poucas oportunidades nas Ilhas, sendo que os principais cargos no governo eram reservados para oficiais do serviço colonial vindos do Reino Unido.

Contudo, após quase 140 anos de prosperidade relativa, Stanley tornou-se uma cidade em declínio antes da invasão argentina. O acesso às Falklands era controlado pela LADE, a divisão comercial da força aérea argentina, que fornecia a única conexão regular com o mundo externo. A empresa de petróleo da Argentina, a YPF, fornecia todo o combustível das Ilhas. Parecia que as Falklands estavam caindo nas mãos da Argentina. A emigração, tanto para o Reino Unido ou para a Nova Zelândia, aumentou, enquanto

que a taxa de natalidade caiu. A população das Ilhas foi reduzida para 1.800. Essa tendência foi revertida somente após os eventos de 1982.

Grupo extremista sequestra um DC4 das Aerolíneas Argentinas, que pousa no hipódromo de Stanley.

1966

Stanley Cottage

Baile na prefeitura de Stanley, na década de 1950.

Embora os primeiros colonos tenham competido na Copa do Governador, no fim da década de 1840, foi apenas em 1907, cerca de 63 anos após a fundação da cidade, que se formou um comitê para organizar um dia dedicado a competições desportivas na capital. A Associação Desportiva de Stanley foi formada oficialmente em 1908.

Decidiu-se que o dia seguinte ao Natal, 26 de dezembro, era o mais adequado para o evento, mas sua grande popularidade rapidamente levou a um segundo dia de jogos, sendo que, atualmente, o evento dura três dias.

As corridas de cavalo sempre tiveram um lugar de destaque, mas eventos de atletismo e gincanas também encontraram seguidores. A Copa do Governador é a corrida de maior prestígio do evento. Três cavalos já ganharam essa corrida cinco vezes cada, sendo Dashing Dancer, de Maurice Davis, o mais recente campeão, tendo vencido em 2006, 2007, 2009, 2010 e 2011. As apostas podem ser feitas por meio do totalizador, administrado sob os auspícios da Associação Desportiva de Stanley.

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O CAMPOO interior das Ilhas Falkland

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EliZa JaNE McasKill a Sra. MacA Sra. Mac nasceu em Leicester Creek, na West Falkland, em 1889. O pai dela, o escocês George McKay, era um “pastor remoto”, vivendo e trabalhando longe da colônia principal. Casou-se com Jack McAskill em 1911, mudando-se com ele para a Goring House, perto de Chartres. Ficou conhecida por ser uma mulher de baixa estatura, enérgica e hospitaleira, além de ser uma excelente dona de casa e fabricante de manteiga. Contudo, seu maior talento revelou-se quando, em 1918, a estação de rádio de Fox Bay foi instalada, e os outros povoados foram ligados ao centro através das linhas telefônicas. Todas as quatro linhas passavam pela Goring House; assim, foi instalado um painel de controle na casa, que acabou sendo

assumido pela Sra. Mac. Ela virou a operadora não oficial das linhas telefônicas, ajudando as pessoas dia e noite, ou quando surgissem emergências médicas.

A Goring House ficava na principal rota norte-sul da West Falkland, e todos que passavam por ela entravam para um “smoko” (chá e bolos), viajando a cavalo nos velhos tempos ou de Land Rover ou motocicleta mais recentemente. Em 1961, seu serviço à comunidade foi reconhecido por um prêmio entregue pelo governador, que foi pessoalmente até a Goring House, já que a Sra. Mac achava desnecessário ir a Stanley.

No entanto, após a morte de marido no ano de 1968, a Sra. Mac mudou-se para Stanley em

A missão de Shackleton visita as Ilhas. Em seu relatório, ele conclui que as Ilhas podem se tornar economicamente viáveis.

1976

Um aeroporto permanente é construído em Stanley, financiado pelo Departamento Britânico de Desenvolvimento Internacional.

1977

PARA OS HABITANTES DAS ILHAS FALKLAND, ‘“Campo” é o mesmo que interior, ou seja, tudo exceto a cidade de Stanley. Foi adotada a palavra “campo” uma adaptação da língua espanhola. O clima das Ilhas é temperado, com precipitação moderada (cerca de 25 polegadas por ano, ou 635mm, em Stanley), ideal para pastos. Porém, os ventos fortes dificultam o crescimento das árvores, a menos que sejam cuidadosamente protegidas.Os primeiros agricultores das Ilhas foram os navegadores (caçadores de focas ou baleias), que trouxeram porcos ou coelhos, acreditando que iriam se multiplicar e fornecer carne fresca para as suas próximas visitas nos verões seguintes, o que realmente aconteceu. Além disso, os cavalos abandonados pelas tropas francesas e espanholas formaram várias manadas selvagens na East

Falkland. O gado, estimado por Richard Moody, o primeiro governador britânico, em 40.000 cabeças no ano de 1842, foi a grande atração para os primeiros colonos. Louis Vernet planejou o abate de grandes números para obter couro e carne, assim como fizeram os irmãos Lafone, que, em 1846, assinaram um contrato com o governo britânico envolvendo uma grande porção de terra. O gado selvagem só podia ser domado e explorado por gaúchos sul-americanos; logo, os irmãos Lafone trouxeram grandes quantidades de gaúchos do Uruguai quando estabeleceram suas fazendas de gado na East Falkland, na década de 1850. Contudo, esse tipo de fazenda não era sustentável: na realidade, ao abater sem procriar o gado, os gaúchos estavam consumindo um recurso finito.

O Campo tradicional: ovelhas e lãO Governador Moody recomendou a criação de rebanhos de ovelha como a melhor opção para as Ilhas, com animais de boa qualidade vindos da Grã-Bretanha e cruzados com as raças locais do continente sul-americano. Essa fórmula funcionou bem, e os futuros colonos decidiram adotá-la. No princípio, a colonização das terras ocorreu lentamente, mas, no fim da década de 1860, a East Falkland já havia sido completamente ocupada, e, entre 1866 e 1869, a West Falkland foi oferecida a pioneiros, sendo rapidamente colonizada.

As “estações” de rebanho eram compostas por áreas extensas de terra pobre em nutrientes, em que cada ovelha necessitava, em média, cinco acres de pasto. Foram estabelecidas no litoral, geralmente próximas a portos naturais, pois as mercadorias só podiam ser importadas e a lã só podia ser exportada por vias marítimas. Cada povoado possuía um galpão grande para a tosa de ovelhas e o empacotamento de velo, um casarão para o proprietário e sua família, casas menores para as outras famílias e um alojamento para os fazendeiros solteiros. No Campo, a maior parte do ano era dedicada às ovelhas, culminando no trabalho exaustivo de tosa e empacotamento da lã em janeiro. Assim que a lã era levada pelos navios, os fazendeiros tinham tempo livre para esportes e festas. Durante o ano inteiro, também havia tarefas de corte e empilhamento de turfa, conserto de cercas e manutenção da infra-estrutura. As grandes empresas construíram escolas para as crianças, geralmente empregando seus contadores como professores durante uma porção do dia. No maior povoado, Goose Green, a Companhia das Ilhas Falkland providenciou um

Auster, também foram adaptados para a forma de hidroavião. Os Canadian Beaver foram usados por mais de 20 anos, mas sua operação era onerosa e sua superfície, devido ao contato com a água do mar, ficava sujeita a corrosão. Quando o aeroporto de Stanley foi finalizado, o FIGAS decidiu que era a hora certa de reintroduzir uma aeronave para uso em solo comum e adquiriu um avião Islander da Britten Norman, de nove assentos, entregue em 1979.

Desde então, a frota de aviões Islander tem prestado um serviço eficiente a quase todos os povoados das Falklands. Durante o conflito de 1982, um desses aviões foi destruído quando o aeroporto de Stanley foi bombardeado. Atualmente, existem três aviões para passageiros, além do avião que monitora os pescadores. Com a construção das estradas no Campo e a introdução de um serviço regular de balsa, as demandas relativas ao FIGAS diminuíram. Porém, seus pilotos continuam a fornecer um serviço inigualável aos turistas e habitantes das Ilhas em pistas de pouso feitas na grama, independentemente do clima e do vento.

1973, levando consigo suas duas vacas prediletas e seu velho cachorro. Morreu em 1979.

Figas O Serviço Aéreo do Governo das Ilhas Falkland (FIGAS – The Falkland Islands Government Air Service) foi fundado em 1948, quando o Governador Clifford comprou dois aviões Auster de uso militar por £700 ($2.800) cada e enviou-os à cidade de Stanley. O primeiro voo foi realizado na véspera do Natal de 1948, quando um dos aviões voou até North Arm para

transportar uma menina que sofria de apendicite até Stanley. Foi uma demonstração marcante do valor da aeronave.

Após alguns anos, um dos aviões foi adaptado, tornando-se um hidroavião, já que todos os povoados encontravam-se perto do litoral. Na década de 1950, quando os aviões Canadian Beaver foram comprados para substituir os

Uma soberania compartilhada é estabelecida, a fim de permitir a realização de transações comerciais entre as Ilhas Falkland e a Argentina. É assinado um acordo referente ao fornecimento de combustível pela empresa estatal de petróleo da Argentina, a YPF.

1974

Um dos aviões Auster originais

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HOWaRD WicKHaM (Wick) clEMENt agricultorWick Clement nasceu na Inglaterra, em 1903, mas foi batizado na Catedral de Stanley. Cresceu em Roy Cove, na West Falkland, gozando da liberdade das crianças do Campo, andando a cavalo, atirando e velejando em barcos de pequeno porte. Após ter estudado na Inglaterra, regressou a Roy Cove para ajudar o pai a administrar a fazenda. Tornou-se inspetor de gado do governo em 1933, cavalgando grandes distâncias para supervisionar a quarentena de ovelhas importadas e os programas de imersão.

Em 1934, tornou-se gerente da Packe Brothers, sediada em Fox Bay East, sendo responsável por três fazendas separadas entre si por vários quilômetros de campo. Os primeiros anos foram difíceis, pois não havia capital de investimento e as ovelhas produziam lã áspera. Por fim, acabaram importando ovelhas Merino da Nova Zelândia, que formaram a base das excelentes ovelhas criadas na estação. Em 1960, com uma certa nostalgia, Clement afirmou: “gostaria de voltar no tempo e começar de novo com as ovelhas que tenho hoje”.

Em 1950, ingressou no Conselho Executivo por quatro anos e, em 1968, após se mudar para Stanley, entrou no Conselho Legislativo. Casou-se com Viola (Babs) Luxton e teve duas filhas, que ainda vivem em Stanley. Morreu em 1979

A visita do ministro Nicholas Ridley termina sem um acordo por parte dos habitantes das Ilhas em relação às negociações com a Argentina.

1980

clérigo para os pastores escoceses.Havia cerca de 35 propietários substanciais

de terra, sendo o maior deles a Companhia das Ilhas Falkland, que adquiriu as posses dos irmãos Lafone em 1851 e expandiu-as no anos seguintes. Em 1964, quando estava em seu ápice, a FIC possuía quase metade das fazendas das Ilhas.

A produção de lã floresceu, assim como as Falklands em geral. As Ilhas tornaram-se autossuficientes financeiramente em meados de 1885, e o número de ovelhas atingiu o pico de 807.000 em 1898, em contraste com os 2.000 habitantes humanos. Porém, havia um problema: os governadores mais esclarecidos preocupavam-se com o fato de que a economia das Ilhas era, na realidade, uma monocultura, e a qualidade do rebanho diminuía à medida que as quantidades aumentavam. Além disso, a colonização da West Falkland não deixou terras disponíveis; assim, muitos dos habitantes das Ilhas que tinham ambições de melhorar de vida foram obrigados a emigrar para a Patagônia, como fizeram vários deles no fim do século XIX, levando consigo capital e rebanho das Ilhas.

Vários especialistas vieram estudar agricultura nas Falklands durante o século XX, mas suas recomendações não encontraram muito respaldo entre os fazendeiros conservadores. À mesma época, uma fazenda experimental fundada pelo Governador Middleton em 1925 foi fechada por seu sucessor. Não houve progresso em relação à subdivisão das grandes propriedades até que a missão de Shackleton às Ilhas, em 1976, recomendou fortemente que as propriedades fossem repartidas. O processo acabara de começar quando ocorreu a invasão argentina, em 1982.

A modernização afetou a estrutura das

Em 2 de abril, as forças armadas argentinas invadem as Ilhas e ocupam-nas ilegalmente por 74 dias. Uma força-tarefa britânica atraca em 21 de maio, forçando a rendição argentina em 14 de junho.

1982

fazendas de rebanho e o formato dos povoados. A primeira máquina de prensar lã chegou em 1872, enquanto que os tosquiadores mecânicos foram introduzidas na década de 1920. No início da década de 1960, a chegada dos tosquiadores elétricos possibilitou a redução do número de trabalhadores empregados nas fazendas, pois grupos itinerantes de tosquiadores dominaram o ramo.

Os lucros oriundos do comércio de lã dependiam bastante do preço mundial do material, que, por sua vez, dependia da demanda. Os preços subiam quando a demanda por uniformes crescia, apesar de os preços da lã terem sido controlados pelo Ministério do Abastecimento em Londres até 1953. Grande parte do investimento nas estações do Campo foi feita durante as duas Guerras Mundiais e a Guerra da Coréia. Tanto o governo quanto a Companhia das Ilhas Falkland tentaram encontrar alternativas para a produção exclusiva de lã: durante a Primeira Guerra Mundial, a FIC produziu latas de gordura animal e carne em Goose Green, mas a produção foi interrompida quando a situação voltou ao normal. No início da década de 1950, o governo britânico investiu bastante na usina de processamento de carne de Ajax Bay, perto de San Carlos, mas o investimento falhou após dois anos.

A vida no CampoA vida nas estações do Campo era difícil, fisicamente exaustiva e isolada, com uma cultura de trabalho pesado e montaria árdua. Os serviços de saúde eram precários: havia um médico em Fox Bay que viajava para visitar pacientes, mas mesmo um simples pedido de ajuda podia demorar várias horas de cavalgada. A introdução da rede de rádio

no Campo, em 1950, reduziu o isolamento, e as consultas médicas passaram a ser feitas via rádio. Em 1948, a inauguração do FIGAS, o serviço aéreo do governo, possibilitou a evacuação médica, e o primeiro voo realizado serviu para transportar uma menina com apendicite de North Arm até Stanley.

Para a maioria das estações e casas isoladas, o governo fornecia professores itinerantes. Cada professor era responsável por três ou quatro famílias. Cavalgavam de fazenda a fazenda, sendo abrigados pelas famílias e ensinando as crianças, deixando tarefas de casa sob a responsabilidade dos pais. Em 1950, assim que a rede de rádio do Campo foi estabelecida, introduziu-se um serviço de ensino via rádio.

Até mesmo o dentista viajava de estação a estação a cavalo, levando consigo sua broca operada por pedal. O advento do Land Rover, no fim da década de 1950, facilitou muito tanto a vida do médico quanto a do dentista.

A vida no Campo crescia em espírito de pragmatismo, camaradagem e hospitalidade. No Campo, quando precisavam se mudar, as pessoas colocavam suas casas em trenós e utilizavam tratores para carregá-las pela ilha. Nada era jogado fora; tudo podia ser reutilizado por alguém algum dia, em algum lugar. Os eventos desportivos no Campo, como as corridas de cavalo, os eventos de atletismo, as competições de cães e os torneios de tosa, serviam como justificativa para grandes festas organizadas pelas colônias, das quais toda a comunidade participava. Muitos habitantes das Ilhas sentem saudades dos velhos tempos no Campo. Para eles, o Campo era o coração das Ilhas, sua fonte de riqueza, tradição e identidade.

SYDNEY MILLER administrador, conselheiro e escritorSyd Miller nasceu em Hill Cove, na West Falkland, em 1905. Após ter estudado na Inglaterra, retornou a Hill Cove. Em 1925, mudou-se para a estância San Julian, na Patagônia, de propriedade da família Blake, a mesma família que fundou Hill Cove. Quando voltou da Patagônia, administrou Hill Cove por um breve período, mudando-se, em seguida, para Roy Cove, onde ficou conhecido por introduzir um rebanho novo e reconhecer a importância do gramado para melhorar a produção.

Miller participou do Conselho Legislativo da West Falkland de 1956 a 1960 e de 1964 a 1971. Participou do Conselho Executivo em 1968, quando, junto com outros três membros do conselho, quebrou o voto de sigilo para fazer um apelo direto à Câmara dos Comuns, em Londres, acerca das conversas secretas entre o governo britânico e a Argentina, concluído com um memorando de entendimento (que nunca foi assinado). Deu seguimento a esse apelo indo a Londres, onde tentou defender a autodeterminação das Falklands perante os membros do parlamento.

Miller aposentou-se em 1970, representando Stanley no Conselho Legislativo de 1971 a 1976. De 1975 a 1990, foi editor do Falkland Islands Journal, uma publicação acadêmica de estudos relacionados às Falkland, e, em 1990, publicou o livro A life of our choice, uma retrospectiva das experiências pelas quais havia passado. Morreu em Stanley, em 1992, deixando sua esposa Betty, que morreu em 2004. Os seus quatro filhos têm sido muito participativos na vida das Falklands.

Competição de tosa de ovelhas no Campo

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A REIVINDICAÇÃO ARGENTINA A REIVINDICAÇÃO DA ARGENTINA EM RELAÇÃO ÀS ILHAS foi feita por meio de canais diplomáticos por 17 anos após 1833, mas foi abandonada completamente após a assinatura da Convenção de Conciliação (Tratado Arana-Southern), um tratado de paz detalhado que resolveu todas as diferenças e estabeleceu a “amizade perfeita” entre o Reino Unido e a Argentina, em maio de 1850.Posteriormente, em 1865, o Presidente Mitre declarou ao Congresso Argentino que não havia “nada que pudesse evitar a consolidação das relações amigáveis entre este país e aqueles governos (o britânico e o francês)”. No ano seguinte, o Vice-Presidente Marcos Paz disse ao Congresso que restava apenas uma questão a ser resolvida entre o Reino Unido e a Argentina: os pedidos de ressarcimento pelos danos sofridos por cidadãos britânicos em 1845. É evidente que as Falklands haviam deixado de ser um problema entre os dois governos. Pouco tempo antes dessas declarações, em fevereiro de 1863, duas fragatas espanholas, durante uma expedição científica oficial, haviam atracado em Stanley, onde passaram seis semanas sob os cuidados do Governador Mackenzie,

A nova constituição entra em vigor. O aeroporto de Mount Pleasant é inaugurado.

1985

A Primeira-Ministra Margaret Thatcher visita as Ilhas e recebe a Liberdade das Ilhas Falkland.

É estabelecida a Zona Provisória de Conservação de Pesca.

A soberania compartilhada é restabelecida, com o intuito de facilitar a retomada de relações diplomáticas entre o Reino Unido e a Argentina.

1983

1986

1989

reconhecendo a autoridade britânica nas Falklands. Obviamente, as intenções do governo espanhol de exercer sua soberania nas Ilhas haviam desaparecido desde a partida de suas tropas, em 1811, e o almirante espanhol estava preparado para reconhecer a administração britânica.Na década de 1880, dois mapas argentinos revelaram visões conflitantes em relação à soberania nas Falklands. O mapa de Latzina (abaixo), produzido em 1882 pelo Instituto Nacional de Estatística da Argentina, sob direção de Francisco Latzina, mostra as Falklands e o Chile em uma tonalidade diferente da Argentina. Entretanto, em 1884, o Governo Argentino comissionou um mapa que incluía as Falklands e informou o representante britânico em Buenos Aires que a Argentina pretendia ressuscitar sua reivindicação. Em dezembro de 1884, o governo britânico fez um protesto formal, mas a resposta recebida foi a de que a Argentina não assumiria

qualquer responsabilidade por esse mapa, que ainda não havia sido publicado.

A volta da reivindicação A disputa permaneceu adormecida, com algumas exceções, até a Segunda Guerra Mundial e a chegada do militar Geral Perón como Presidente da Argentina. As políticas de Perón eram nacionalistas e anti-britânicas, de modo que a reivindicação referente às Falklands tornou-se um tópico de propaganda doméstica, bem como uma preocupação crescente no campo da política externa da Argentina. A Argentina resolveu explorar o crescimento de um sentimento anti-colonial perante as Nações Unidas, enfatizando o status de colônia das Falklands, mas ignorando o princípio básico do anti-colonialismo: o direito do povo de determinar o seu próprio futuro. O discurso da Argentina no Comitê de Descolonização da ONU, em 1964, foi marcado

Visita do Ministro Chalfont, em 1968

O mapa de Latzina, 1882O sequestro do DC4, em 1966

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ag (Barty) BaRtON administrador e conselheiro

AG Barton nasceu na Inglaterra, em 1901. Foi recrutado para trabalhar como cadete em Chartres, na West Falkland, em 1921. Em 1923, passou a trabalhar para a Companhia das Ilhas Falkland, em Lafonia, como gerente-assistente. Por 17 anos, administrou as propriedades da família Dean nas ilhas próximas à West Falkland (Pebble, Keppel e as Ilhas Jason), mudando-se, em seguida, para Teal Inlet, na East Falkland. Em 1950, tornou-se gerente colonial da FIC, sendo responsável pelas propriedades da empresa espalhadas pelas Ilhas, além do abastecimento das fazendas, transporte e comércio geral.

De 1947 a 1974, Barton foi membro dos Conselhos Legislativo e Executivo, desempenhando um papel de liderança na sociedade de Stanley, presidindo a Associação

Desportiva de Stanley, a Associação dos Proprietários de Ovelhas e a Associação dos Horticultores. Durante a crise causada pelo sequestro do avião DC4 argentino, o governador da época consultou Barton, que fez uma série de cinco transmissões para manter o público informado. Fez o comentário final via rádio assim que o DC4 partiu do hipódromo, em 4 de outubro de 1966.

Em fevereiro de 1968, Barton liderou os outros três conselheiros em um apelo direto aos membros do Parlamento Britânico contra o Memorando de Entendimento assinado entre os governos britânico e argentino. Isso constituiu uma quebra da promessa de sigilo que fizera, mas Barton julgou que o apelo era extremamente necessário. A partir daí,

seguiram-se algumas negociações difíceis com o Parlamento e a imprensa em Londres, mas o governo acabou aceitando a supremacia da vontade dos habitantes das Ilhas.

Barton aposentou-se da Exco em 1974 e morreu no mesmo ano. John Barton, seu neto, é o atual Diretor de Recursos Naturais.

por várias asserções historicamente incorretas que foram reproduzidas durante todos esses anos: de que o Reino Unido havia expulsado a população argentina em 1833; de que os habitantes das Ilhas Falkland podiam ser ignorados, pois compunham uma população “temporária”; e assim por diante.

Em 1965, a Assembleia Geral da ONU convidou o Reino Unido e a Argentina para resolver a disputa, sendo que as negociações continuaram por 17 anos de vez em quando sem que fosse encontrada uma solução aceitável para os habitantes das Ilhas, mesmo com a insistência dos governos britânicos seguintes de que a população local devia ser respeitada. Chegou-se a um acordo para a LADE, a divisão comercial da força aérea argentina, referente à abertura de uma rota para Stanley; para tanto, foi construída uma pista de pouso de metal. Em 1974, introduziu-se uma “soberania compartilhada” para proteger todas

as transações comerciais possíveis e, por meio da soberania compartilhada, o fornecimento de combustível para as Ilhas foi concedido em forma de monopólio à empresa estatal argentina YPF. Essas duas soluções proporcionaram benefícios práticos aos habitantes das Ilhas, mas não foram suficientes para combater o medo de que o governo britânico desistisse de sua soberania sobre as Ilhas. Os ministros britânicos que vieram oferecer soluções específicas aos habitantes das Ilhas foram recebidos de forma hostil. Ao mesmo tempo, os defensores das Falklands no Reino Unido certificavam-se de que o Parlamento Britânico estava ciente das preocupações da população das Falklands, cobrando do governo uma promessa de que os desejos do povo fossem tratados como sendo de suprema importância.

Em conjunto com a pressão oficial por parte da Argentina, houve uma série de intrusões

aéreas independentes, que causaram alarde e induziram o governo britânico a providenciar uma tropa mínima de Marinheiros Reais (um pelotão composto por 37 homens).

Em 1964, um piloto particular argentino, Miguel Fitzgerald, pousou no hipódromo de Stanley, hasteou uma bandeira argentina e tornou a decolar. Um episódio ainda mais perigoso ocorreu em 1966, quando membros de um grupo extremista armado sequestraram um avião comercial e realizaram um pouso forçado, também no hipódromo. Os passageiros foram mantidos reféns, sendo necessários vários dias de negociação até que os sequestradores fossem enviados de volta à Argentina e o avião pudesse fazer uma decolagem de risco para retornar ao continente. Finalmente, em 1968, durante a visita do Ministro das Relações Externas, o Ministro Chalfont, outro avião realizou um pouso forçado

REX MastERMaN HUNt governador

Rex Hunt nasceu em Yorkshire, em 1926, e ingressou na Força Aérea Real assim que terminou os estudos. Pilotou aviões de guerra na Índia e na Alemanha até 1948. Quando terminou os estudos, entrou no serviço colonial e passou doze anos na Uganda. Em 1951, casou-se com Mavis Buckland, que o acompanhou em todas as suas missões; o casal teve dois filhos. Ingressou no Ministério da Comunidade de Nações, posteriormente renomeado Ministério das Relações Externas e da Comunidade de Nações, onde desempenhou vários cargos. No início de 1980, foi enviado a Stanley para assumir o cargo de governador e alto-comissário dos Territórios Britânicos na Antártida.

Quando chegou, Hunt encontrou-se em uma posição delicada. O governo britânico esperava que o novo governador promovesse sua política entre os habitantes das Ilhas, mas ele também sabia que a população local desconfiava do governo em Londres e abominava a possibilidade de uma dominação argentina. Apesar das relações difíceis com a Argentina, a invasão de 1982 não deixou de ser um choque. Com uma tropa ínfima de marinheiros, Hunt defendeu a sede do governo, a Government House, até que a chegada de tropas

perto de Stanley. Os dois últimos incidentes foram inspirados por um jornalista argentino, Hector Garcia, que preferia criar notícias a simplesmente relatá-las. Essas aventuras perturbaram a paz dos habitantes das Ilhas, e as atividades dos jornalistas nacionalistas independentes continuaram a atormentar as relações com a Argentina, mesmo após o conflito de 1982.

As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas pela depressão crescente dos habitantes das Ilhas. O governo britânico, que tinha a obrigação de protegê-los, parecia enxergá-los apenas como um problema a ser resolvido, não estando preparado para investir muito dinheiro na autossuficiência das Falklands. Para os conselheiros eleitos das Ilhas, as pressões pessoais agravaram-se. Esperava-se que representassem a população por um lado, mas que seguissem a política britânica oficial por outro. Em 1968, foram informados pelo governador que um Memorando de Entendimento havia sido assinado pelo Reino Unido e pela Argentina em relação ao futuro das Ilhas. Os quatro conselheiros eleitos quebraram sua promessa de sigilo e escreveram diretamente a todos os membros do Parlamento Britânico, relatando o que estava ocorrendo. O protesto parlamentar resultante garantiu que os governos britânicos seguintes levassem em conta os desejos da população das Ilhas. O Memorando nunca foi assinado.

À medida que as complexas negociações entre os dois governos eram feitas, as suspeitas dos habitantes das Ilhas em relação à Argentina apenas aumentavam. O governo militar que tomou o poder em 1976 seguiu uma política impiedosa de supressão interna, a “guerra suja”, que não tornou mais atraente a perspectiva de uma dominação argentina, e a população das Ilhas sabia muito bem que o acesso às Falklands e

em tanques blindados forçaram-no a desistir. Quando retornou à Inglaterra, foi recebido como personalidade pública, sendo bastante admirado por sua coragem e firmeza na defesa das Falklands.

Após a libertação, Hunt recebeu o título de cavaleiro e retornou às Ilhas. Auxiliado pela assistência generosa do governo britânico, supervisionou a recuperação da sociedade das Falklands e cuidou das relações com as tropas, além de administrar a construção da nova base e do novo campo de pouso em Mount Pleasant. Aposentou-se no fim de 1985; a zona de pesca, que defendera com tanta persistência, foi introduzida no ano seguinte.

Hunt retornou às Ilhas em várias ocasiões, surpreendendo-se com a nova atmosfera de confiança que havia se instaurado. Sua autobiografia, My Falkland Days, é um excelente registro de sua época nas Ilhas, de sua energia ilimitada e de sua empatia em relação às Ilhas e seus habitantes. Quando a invasão ocorreu, Hunt era o homem certo, no local certo e na hora certa. Morreu no Dia dos Veteranos, 11 de novembro de 2012.

Definição das áreas de exploração de petróleo.

É estabelecida a Zona Externa de Conservação das Falklands. A Comissão Bilateral de Áreas de Pesca no Atlântico Sul é fundada, iniciando a cooperação no setor de pesca entre a Argentina e o Reino Unido, com envolvimento das Falklands. Uma conexão aérea com o Chile é aberta.

1991

1990

As pesquisas sísmicas são iniciadas.

1993

Page 18: Nossas Ilhas, Nossa História

o fornecimento de combustível estavam nas mãos do governo argentino.

As Ilhas pareciam estar deslizando de forma inevitável na direção da Argentina.

A invasão de 1982De qualquer forma, a invasão de abril de 1982 foi uma surpresa. A facção argentina já estava planejando um ataque para um momento posterior do mesmo ano, mas sua falta de popularidade na Argentina levou-os a apressar os preparativos, o que foi recebido com entusiasmo pelas multidões em Buenos Aires.

A resistência britânica foi rapidamente derrotada no dia 2 de abril, e os habitantes das Ilhas foram sujeitados a 74 dias traumáticos de ocupação estrangeira. Stanley foi ocupada por tropas argentinas e, em vários povoados no Campo, os habitantes foram detidos por várias semanas, sendo libertados somente após a chegada das tropas britânicas.

Embora a conduta do exército argentino tenha sido correta em termos gerais, não melhorou a imagem da Argentina para os habitantes das Ilhas, que ficaram chocados com a brutalidade dos oficiais argentinos para com os soldados, bem como com a pilhagem e a devastação deixada pelo exército derrotado. Nas últimas fases da campanha no interior das Ilhas, vários fazendeiros auxiliaram o exército britânico, levando provisões para os soldados com tratores e carroças, além dos inúmeros atos de resistência em pequena escala por parte dos habitantes das Ilhas. A vida em Stanley ficou difícil e assustadora, pois havia várias armas navais apontadas para as tropas argentinas, localizadas nos arredores da capital, e, embora a cidade tenha sido poupada de batalhas, três civis morreram devido ao bombardeamento nos

Os governos britânico e argentino assinam a Declaração Conjunta de exploração de hidrocarbonetos na parte sudoeste do Atlântico.

A conexão aérea com o Chile é suspensa, sendo retomada após o acordo de 14 de julho, firmado entre o Reino Unido e a Argentina.

1995

1999

A primeira plataforma de perfuração para exploração de petróleo começa a funcionar.

1998

últimos dias da guerra.Quando as forças argentinas se renderam,

em 14 de junho, que acabou se tornando o Dia da Libertação, houve muita alegria, alívio e profunda gratidão às forças armadas britânicas, que perderam 255 soldados nas batalhas; porém,

também surgiu uma grande preocupação em relação à escala do trabalho de reconstrução que se tornou necessário nas Ilhas.

No fim das contas, a recuperação acabou sendo mais rápida e bem sucedida que o que se previa em 1982.

CANÇANDO A PAZDe 1982 até o presente

Última reunião plenária da Comissão de Áreas de Pesca do Atlântico Sul.

2005

Fotografia icônica do Conflito de 1982: Marinheiros Reais chegando a Stanley.

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Os aRQUiVOs NaciONais JaNE caMERONO edifício dos Arquivos do Governo das Ilhas Falkland foi construído de modo a satisfazer as exigências do Padrão de Arquivos Nacionais relativo ao Depósito de Registros, sendo inaugurado no fim de 1998 com a finalidade de abrigar os registros do governo. A arquivista do governo, Jane Cameron, era fascinada pela história das Ilhas, tendo coletado uma grande variedade de registros não governamentais; após sua morte trágica, em 2009, seus arquivos foram transformados nos arquivos nacionais, batizados em sua homenagem.

Desde então, a nova arquivista nacional, Tansy Bishop, deu continuidade à expansão das coleções, e, para garantir a preservação e a acessibilidade dos registros, limitou sua utilização. Os arquivos atraem pesquisadores do mundo inteiro e recebem uma grande variedade de pedidos de pesquisa todos os anos, além de oferecer uma sala de leitura para quem quiser visitar o edifício pessoalmente.

FUNDO NaciONal E MUsEU Das ilHas FalKlaND

Embora tenham existido vários museus de tipos diferentes desde o início do século XX, o Fundo Nacional e Museu das Ilhas Falkland foi criado apenas em 1991, com o propósito de abrigar grande parte da herança cultural das Ilhas. Atualmente, é uma fundação registrada localmente e apoiada pelo Governo das Ilhas Falkland.

O objetivo maior do Fundo é promover a conscientização e o reconhecimento da herança das Falklands e, sempre que possível, preservá-la para gerações futuras. O museu possui uma vasta coleção de mais de 4.000 itens, guardados e exibidos para fins educativos, bem como para estudo e entretenimento. As outras funções e responsabilidades do museu variam, mas incluem trabalhos relacionados a navios naufragados e cascos, locais de importância histórica e projetos diversos, como estudos arqueológicos e história oral.

A Argentina repudia o acordo de cooperação de 1995, referente à exploração de petróleo

Segunda rodada de perfurações para exploração de petróleo.

A nova Constituição das Ilhas Falkland é adotada.

A pressão da Argentina aumenta com a aproximação do trigésimo aniversário do Conflito; visita do Príncipe William a Mount Pleasant e à fragata moderna, a HMS Dauntless. A Rockhopper Exploration anuncia a descoberta de petróleo comercial e firma uma parceria com a Premier Oil para explorá-lo. Estima-se que o petróleo comece a jorrar em 2017.

2007

2010

2009

2012

A LIBERTAÇÃO, EM 14 DE JUNHO DE 1982, gerou diversos problemas para as Ilhas: danos resultantes das batalhas em Stanley e, em menor grau, no Campo; uma grande tropa acomodada principalmente em casas particulares ou em navios no porto; nenhuma perspectiva certa de obtenção de uma renda adequada; a necessidade contínua e onerosa de defesa; e uma população aliviada por estar livre novamente, mas abalada pela invasão e ocupação.

Antes do fim do conflito, a Primeira-Ministra Margaret Thatcher dera permissão a Shackleton, que havia apresentado o seu relatório relativo à economia das Ilhas em 1976, para produzir um estudo mais aprofundado, levando em consideração a nova situação. Shackleton apresentou um plano para o futuro da economia das Ilhas, sendo que a maioria de suas recomendações foram implementadas nos anos seguintes.

Defendendo as nossas IlhasO primeiro requerimento era projetar

uma estrutura de defesa das Ilhas que fosse relativamente econômica, mas que também oferecesse a possibilidade de defesa contra possíveis ataques. A solução escolhida foi um aeroporto estratégico, construído em Mount Pleasant, a cerca de 56km de Stanley, com capacidade de abrigar uma tropa. A primeira pista de pouso foi inaugurada em maio de 1985, possibilitando um serviço aéreo regular operado pela Força Aérea Real para fins militares, mas também para transportar civis. Isso permitiu que o número de tropas nas Ilhas fosse minimizado, pois as tropas poderiam ser rapidamente reforçadas em épocas de tensão. O custo da construção da base de Mount Pleasant havia sido orçado

em £400 milhões, mas, uma vez finalizada, os custos de manutenção da tropa foram reduzidos, permitindo que o número de soldados e a quantidade de equipamentos diminuíssem com o passar dos anos, não havendo incidentes. Duas vezes por ano, eram realizados testes das defesas antiaéreas, que envolviam o lançamento de mísseis de curto alcance. Esses testes tornaram-se rotineiros, sempre precedidos pela publicação de avisos. De repente, em 2010, a Presidente da Argentina Cristina Fernández de Kirchner declarou que esses mísseis (com alcance de pouco mais de seis quilômetros) constituíam uma ameaça à Argentina, bem como aos seus vizinhos. As acusações argentinas de que o Atlântico Sul está sendo militarizado ignoram a redução progressiva de forças britânicas nas Ilhas desde 1982.

Demorou um bom tempo até que as relações com a Argentina melhorassem após o Conflito, pois Buenos Aires continuava a reivindicar as Ilhas, insistindo que o futuro das Falklands fosse negociado com o Reino Unido. Porém, a eleição do Presidente Menem, em 1989, possibilitou a discussão acerca da retomada das relações diplomáticas (finalmente realizada em 1990) e a abertura de conversas acerca de assuntos técnicos, como a pesca e a exploração de petróleo.

A ConstituiçãoUma nova Constituição foi introduzida em

1985, garantindo o direito de autodeterminação dos habitantes das Ilhas, restaurando o cargo de governador (que havia sido trocado temporariamente por “comissário civil”, aparentemente um título menos “colonial”) e instituindo a eleição de oito conselheiros, que, por sua vez, seriam responsáveis por eleger mais três conselheiros cada, formando o conselho executivo;

instituiu-se, portanto, um gabinete de fato. A Constituição sofreu algumas alterações, atribuindo mais responsabilidades aos conselheiros. Em 2002, o governador renunciou o cargo de presidente do conselho legislativo, e o novo presidente foi eleito pelos conselheiros. Com a nova Constituição de 2009, os conselheiros passaram a ser designados

falharam, de modo que o Reino Unido declarou uma zona unilateral de pesca em volta das Ilhas. Em 29 de outubro de 1986, foi introduzida a Zona Provisória de Conservação das Ilhas Falkland (FICZ – Falklands Interim Conservation Zone), estendendo-se por um raio de 240km a partir das Ilhas, exceto no lado sudoeste, onde foi levado em conta o litoral argentino.

Apesar da desconfiança geral e da oposição direta da Argentina e de outros países, a Zona foi um grande sucesso. A demanda por licenças para pesca de lulas ultrapassou a oferta e a renda proveniente dessa atividade era abundante. A renda total do Governo das Ilhas Falkland subiu de £6 milhões, em 1985/1986, para £35 milhões, em 1988/1989. Uma administração rigorosa e com bases científicas garantiu que as licenças fossem concedidas por um número limitado de dias, e o governo não hesitava em fechar a área de pesca se os cardumes entrassem em risco de sobrepesca.

Mais que qualquer outro evento, a introdução da FICZ transformou as Ilhas, mas não teria sido possível introduzi-la sem a segurança militar garantida pela tropa britânica. O programa de auxílio britânico foi concluído, e os habitantes das Ilhas passaram a desfrutar da autoconfiança resultante de um extrato bancário saudável. A população entrou na indústria, primeiro como agentes de empresas estrangeiras, depois em parceria com essas empresas, e, por fim, como proprietários independentes dos barcos de pesca.

Durante um certo período, a Argentina cooperou com o Departamento de Pesca das Ilhas Falkland em um programa de pesquisa conjunta e troca de informações sobre a pesca. Obviamente, isso foi vantajoso para ambos os lados, pois o principal cardume de lulas flutuava do mar aberto para as águas da Argentina e das Ilhas Falkland, de modo que a sobrepesca em uma área afetaria os dois lados. Infelizmente, em 2005, o governo do Presidente Nestor Kirchner desfez essa parceria, em protesto contra uma nova estrutura legal para as empresas de pesca

introduzida pelo governo das Ilhas.

Finanças e economiaNos anos posteriores à Libertação, foram concedidos vários fundos de desenvolvimento pelo auxílio oficial do Reino Unido, administrados parcialmente pela Cooperativa de Desenvolvimento das Ilhas Falkland, estabelecida segundo as recomendações de Shackleton. Contudo, a situação foi transformada pela renda oriunda da pesca, sendo criado, consequentemente, um programa de investimento de capital. Foi construída a nova Escola Comunitária, capaz de proporcionar ensino para crianças e jovens de até 16 anos. Uma estação de telecomunicação via satélite foi estabelecida, funcionando por meio da empresa Cable and Wireless. O governo das Ilhas

“Membros da Assembleia Legislativa”. Suas obrigações incluem a decisão de questões e problemas locais de significância para as Falklands como um todo. No entanto, eles também podem representar as Ilhas perante as Nações Unidas, em Nova York, bem como nas principais conferências de partidos políticos da Inglaterra e nas diversas reuniões da Associação Parlamentar da Comunidade de Nações.

Agricultura: terras para o povoO primeiro relatório de Shackleton recomendava que as mais grandes propriedades, principalmente as que pertenciam à Companhia das Ilhas Falkland, fossem subdivididas e vendidas ou arrendadas para outros proprietários. Esse processo havia acabado de começar quando ocorreu o Conflito, sendo retomado logo após a Libertação.

Antes do Conflito de 1982, quase 90% das terras pertencia a pessoas que nem moravam nas Ilhas: até 2003, 95% das terras pertencia a habitantes das Ilhas. O Governo das Ilhas Falkland esforçou-se tremendamente para melhorar a qualidade da lã das Falklands, importando rebanhos da Tasmânia e fundando o Criadouro Nacional. Como ocorreu em todo o decorrer da história das Falklands, os fazendeiros ficaram expostos às flutuações do preço da lã, que, por sua vez, era definido pelas condições globais. Porém, uma fonte alternativa de renda foi estabelecida no fim da década de 1990, quando um novo abatedouro foi construído segundo os mais altos padrões europeus. Isso permitiu que os fazendeiros criassem ovelhas com duas finalidades distintas, produzindo carne de alta qualidade para exportação.

A pesca nas FalklandsShackleton recomendara o estabelecimento de uma área de pesca, mas o governo britânico ficou mais cauteloso após o Conflito, evitando provocar a Argentina e prevendo que os custos de policiamento da área de pesca excederiam a renda gerada pela atividade. Todavia, as tentativas de cooperar com a Argentina no setor de pesca

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fundou a rede de saúde e começou a financiar estudos no Reino Unido.

Um programa de construção de estradas reduziu drasticamente o tempo de viagem entre os diversos povoados. Os salários aproximaram-se dos níveis britânicos.

Agora, o Governo das Ilhas Falkland possui uma grande quantia de dinheiro distribuída entre vários investimentos globais; em junho de 2011, o valor total desses investimentos chegou a £183 milhões. A perspectiva de exploração de petróleo aumenta a possibilidade de renda em uma escala que supera as expectativas anteriores, uma vez que a renda proveniente dos bancos de petróleo das Falklands não irá para Londres, mas para o Governo das Ilhas Falkland. Os habitantes das Ilhas pretendem usar essa renda de forma prudente,

contribuindo para a sua própria defesa.

Petróleo e mineraisMuitas pessoas acreditam erroneamente que

a perspectiva de exploração de petróleo nas águas das Falklands seja o motivo por trás do Conflito de 1982. Embora algumas pesquisas tenham sido realizadas antes de 1982 ao redor das Ilhas, não geraram resultados positivos. Porém, a segurança proporcionada pela tropa e o sucesso da zona de pesca (a FICZ) encorajaram o Governo das Ilhas Falkland a investir na exploração de petróleo. Graças à consultoria do Instituto Britânico de Estudos Geológicos (o British Geological Survey), começou-se a pensar no regime de taxação, nas condições de exploração e extração e nas questões de proteção ambiental. Em espírito

de cooperação cultivado pelo governo das Ilhas Falkland com todos os seus vizinhos, foram assinadas, após negociações, várias cartas entre os governos britânico e argentino, definindo uma zona compartilhada de exploração na área sudoeste das Ilhas, no ponto mais próximo entre os litorais da Argentina e das Falklands (uma Área Especial de Cooperação). Em 1998, em outra área de exploração de petróleo não relacionada ao acordo com a Argentina, a primeira plataforma de extração de petróleo realizou uma temporada de perfuração, no norte das Ilhas. Embora não tenha sido descoberto petróleo comercial, foram encontrados traços de hidrocarbonetos, o que torna os resultados promissores. Uma segunda plataforma chegou em 2010, mas o cenário internacional já havia escurecido. Em 2007, a

JOHN cHEEK conselheiro e empresárioJohn Cheek pertenceu à quarta geração de habitantes das Falklands, nascido em 1939, em Hill Cove. Passou quatro anos de formação trabalhando na Antártida, inicialmente como observador meteorológico/operador de rádio e, posteriormente, como guia de trenós puxados por cães para a equipe de pesquisa das Dependências das Ilhas Falkland. Usou o dinheiro que juntou para obter algumas qualificações formais, voltando às Ilhas em 1966. Quando foi eleito para o Conselho Legislativo, em 1981, trabalhava para a empresa Cable and Wireless como engenheiro sênior.

Acabara de completar um curso de gestão no Reino Unido quando as Ilhas foram invadidas pela Argentina. Cheek tornou-se o porta-voz oficial das Ilhas, atuando na área de imprensa da Associação das Ilhas Falkland, fazendo campanhas e obtendo informações e contatos para o Ministério da Defesa, além de compartilhar as poucas informações que saíam das Ilhas. Fez uma viagem a Nova York, onde um representante britânico na ONU organizou uma conferência de imprensa e deixou que Cheek

demonstrasse aos EUA que a guerra envolvia pessoas, e não apenas territórios. As respostas abertas e honestas de Cheek foram muito bem recebidas, pois ele combinou inteligência com sabedoria diplomática e política. Isso ajudou muito nas várias ocasiões em que representou as Ilhas, tanto no Quarto Comitê e quanto no Comitê de Descolonização da ONU.

Após 1982, Cheek tornou-se um conselheiro ativo e visionário. Lutou para que o auxílio britânico investisse em educação. A nova Escola Comunitária foi construída e o financiamento de estudos no exterior foi estendido a todos os que satisfizessem as exigências. Hoje, muitos desses estudantes dos anos 80 e 90 têm um papel de grande importância na vida das Ilhas.

Quando foi criada a área de pesca, em 1986, Cheek e um amigo, Stuart Wallace, perceberam que grande parte da renda, exceto as taxas de licença do governo, poderiam ir para o exterior. Abandonaram a segurança de seus empregos e viajaram pelo mundo todo, aprendendo como a

HaROlD ROWlaNDs secretário financeiroHarold Rowlands nasceu em Stanley, em 1931, e viveu sua vida inteira em uma casa na beira do mar construída pelo seu avô, um navegador sueco que naufragou nas Ilhas Falkland, em 1860. Ingressou no banco estatal de Tesouro e Poupança em 1948, chegando, por meio de muito trabalho, além de sua aptidão para a área de contabilidade, ao cargo máximo de secretário financeiro e comissário de impostos. A partir de 1974, todas as notas vinham com a sua assinatura; inclusive, conta-se que, certa vez, foi preso sem seu passaporte na Argentina durante o governo da junta, mas convenceu a polícia de que era quem alegava ser autografando uma nota de cinco libras.

Durante a invasão argentina de 1982, Rowlands tornou-se o funcionário público mais antigo após a expulsão dos funcionários britânicos. Ajudou a guiar os habitantes das Ilhas pelos perigos da ocupação e resistiu várias tentativas de intrusão no tesouro e na poupança. Obstruiu a introdução do Peso, inflacionado à época (com taxa de câmbio de 20.000 pesos para

Argentina não honrou o compromisso feito por meio das cartas de 1995, introduzindo uma série de medidas feitas para interromper a exploração das Falklands e intimidar as empresas que pudessem estar interessadas em participar da exploração de petróleo.

De qualquer modo, a exploração continuou, e, em 2012, uma empresa que estava pesquisando a parte norte das Ilhas, a Rockhopper Exploration, anunciou que havia encontrado petróleo em quantidades comerciais. A empresa firmou uma parceria com outra grande empresa britânica de igual importância, a Premier Oil, que estava preparada para investir £600 milhões na exploração comercial. Atualmente, o plano é armazenar o petróleo extraído do mar em um navio-tanque de grandes proporções, que atuará como tanque flutuante a partir do qual navios-tanques menores transportarão as cargas para o mercado internacional. Espera-se que o “primeiro petróleo” seja obtido em 2017.

Enquanto isso, nos bancos mais profundos do sul, a empresa de exploração Falkland Oil and Gas havia firmado um acordo não convencional com a Noble Energy para fundar um programa promissor de perfuração e exploração sísmica.

Comunicações e turismoAs ligações das Ilhas com o mundo externo

foram transformadas pelo Conflito. A abertura do aeroporto de Mount Pleasant, em 1985, possibilitou o acesso de aviões de grande porte às Ilhas, de modo que, embora os primeiros voos tenham sido realizados por aviões Tristar da Força Aérea Real, com capacidade limitada para civis, os voos passaram a ser operados por companhias charter recentemente. Além disso, existe uma conexão aérea com o sul do Chile há mais de vinte anos, operado semanalmente pela empresa aérea nacional do Chile, a LAN.

Após a década de 1970, quando toda a rede de transporte aéreo estava nas mãos da Argentina e os habitantes das Ilhas não tinham permissão para viajar com seus passaportes britânicos,

na cidade de Rio Gallegos, no sul da Argentina.O turismo ainda é uma indústria recente nas

Ilhas. O número de turistas que pernoitam nas Falklands ainda é relativamente pequeno: cerca de 1.500 por ano. As acomodações são limitadas e os fazendeiros do Campo trabalham bastante durante o verão. Ainda assim, para esses turistas “do continente”, as Falklands representam uma experiência inesquecível. Sua beleza natural, com céus, mares e pastos abertos, é intensificada pela claridade da luz e a pureza das cores, resultantes de uma atmosfera sem poluição. A vida selvagem é excepcional, a pesca é excelente e a hospitalidade dos habitantes das Ilhas é calorosa e genuína.

A maioria dos turistas chega às Ilhas em navios;

surgiu uma relutância compreensível em relação a depender da Argentina como fonte de conexão com o mundo externo. Em 2003, a Argentina proibiu que aeronaves privadas viajando rumo às Ilhas sobrevoassem o seu território, o que tornou praticamente impossível o transporte de passageiros para Stanley por parte das empresas aéreas comerciais. Vez ou outra, a Argentina solta ameaças referentes aos voos que passam pelo Chile, motivo pelo qual, em 1999, após a prisão do General Pinochet no ano anterior, o serviço foi temporariamente suspenso. Porém, o serviço foi retomado quando a crise passou, após um acordo anglo-argentino de acesso aéreo, assinado em julho de 1999, que previa uma conferência mensal

uma libra), dizendo aos argentinos que estava “velho demais para começar a pensar em tantos zeros”.

Após o conflito, foi escolhido para conceder a Liberdade das Ilhas Falkland à Primeira-Ministra Margaret Thatcher durante sua visita, em 1983. O orçamento das Falklands, de pouco mais de meio milhão de libras quando assumiu o cargo, aumentou para mais de £30 milhões quando se aposentou, em 1989. Em seguida, foi eleito para o conselho legislativo, servindo por mais quatro anos. Reconhecido como um homem bem-humorado, trabalhador e de bom coração e integridade absoluta, recebeu o título de Comandante do Império Britânico (CBE – Commander of the British Empire) em 1988. Morreu em Stanley, em 2004.

indústria funcionava e criando empreendimentos conjuntos. Sua empresa, a Fortuna, foi a pioneira, seguida por várias outras. Isso gerou um aumento da coleta de impostos, que financiou vários dos desenvolvimentos realizados nas Ilhas.

Após receber o diagnóstico de câncer em 1990, dedicou os seus últimos anos ao fortalecimento da indústria da pesca e à diversificação da economia das Ilhas, criando as bases para o licenciamento da exploração de petróleo. Morreu em 1996.

Cheek casou-se com Jan Biggs em 1968; por muitos anos, ela serviu como membro da Assembleia Legislativa; tiveram duas filhas, que ainda vivem em Stanley.

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pelo qual os cardumes são cuidadosamente monitorados pelos cientistas do Departamento de Pesca, e a pesca em si é controlada de perto por observadores a bordo dos barcos, aviões e navios de patrulha. Se necessário, as áreas de pesca podem ser fechadas com antecedência. O sucesso da pesca de lulas transformou as Ilhas Falkland, sendo que as taxas de acesso às áreas de pesca são responsáveis por quase 44% da renda do governo.

em anos movimentados, o número de turistas que visitam Stanley pode chegar a 50.000. Além das atrações da cidade, como a catedral, o museu e os bares, vários turistas fazem passeios de Land Rover até as praias de pinguins ou as fazendas, onde podem ver cães pastores em ação, presenciar a tosa de ovelhas e andar a cavalo. A impressão que muitos dos turistas guardam de Stanley é a de uma cidade muito britânica, limpa, arrumada e tranquila, em contraste com as cidades maiores e mais movimentadas do continente.

Os anos após a Libertação também testemunharam uma modernização completa das telecomunicações nas Ilhas. A empresa Cable and Wireless cuida das comunicações por meio de um acordo com o governo. Uma antena parabólica foi inaugurada em 1983, possibilitando que os habitantes das Ilhas desfrutassem de uma ligação excelente com o resto do mundo,

embora as conexões com a Internet ainda sejam relativamente lentas. Os celulares foram introduzidos em 2005. A maioria dos povoados do Campo adotaram a energia eólica, e atualmente, seis turbinas perto de Stanley fornecem mais de um terço da energia consumida na capital.

A televisão também chegou após a Libertação. No princípio, a população das Ilhas contava com o Serviço de Transmissão das Forças Britânicas, que fornecia sinais de televisão para a tropa, mas um engenheiro empreendedor, Mario Zuvic, organizou um serviço de transmissão via satélite para Stanley. Em 2011, a Televisão das Ilhas Falkland realizou sua primeira transmissão.

O serviço de rádio, inaugurado na década de 1930, continua a funcionar após uma façanha épica, em 1982, quando Patrick Watts, o diretor da estação, conduziu uma transmissão na noite da invasão, recebendo relatos de todas as partes

de Stanley. O serviço teve seu nome alterado de Serviço de Transmissão das Ilhas Falkland (FIBS – Falkland Islands Broadcasting Service) para Serviço de Rádio das Ilhas Falkland, para evitar a abreviação irônica (“fibs”, em inglês, significa “mentiras tolas, sem importância”).

O único jornal das Ilhas, o Penguin News, foi fundado em 1979, começando como um boletim informativo escrito por Graham Bound. Seu futuro foi garantido uma década mais tarde, quando foi adquirido pelo Fundo de Imprensa, um órgão voluntário fundado pelo governo. Atualmente, o Penguin News produz um jornal impresso de 24 páginas, contando com escritores entusiasmados, sendo reconhecido como a voz autêntica das Ilhas e citado com frequência por outros veículos de notícias. Possui a sua própria página: www.penguin-news.com.

a PEsca DE lUlas

Antes de 1982, a quantidade de lulas no sul do Atlântico e o seu valor econômico eram desconhecidos. Desde a abertura da Zona Provisória de Conservação das Falklands, em 1987, duas espécies bastante diferentes de lula foram encontradas nas águas das Ilhas Falkland.

A lula Illex migra para o sul através das águas argentinas e do mar aberto. Atinge os bancos de alimento nas águas das Falklands de março a maio, antes de desovar nas águas profundas. São pescadas por meio de iscas artificiais, içadas na direção das luzes brilhantes dos barcos de pesca. Depois de capturadas, as lulas são congeladas e vendidas na Ásia e na Europa. Dentre os animais pescados ao redor das Falklands, cerca da metade é composta por lulas Illex, mas suas quantidades são instáveis e os lucros resultantes de sua captura variam.

A lula Loligo (agora Doryteuthis gahi) desova ao redor das Ilhas, com números que chegam à

metade da população de lulas Illex. São pescadas por meio de redes e exportadas principalmente para a Espanha, onde são embaladas como “lula calamari” e vendidas em toda a Europa. As empresas das Falklands, geralmente em parceria com as espanholas, atuam bastante nessa modalidade de pesca.

Vários peixes de barbatana também são pescados na zona de conservação: bacalhau, merluza e a valiosa merluza-negra.

As áreas de pesca de lula são voláteis, motivo

CONCLUSÃO

Nos últimos 180 anos, através nove gerações de habitantes das Falklands, as Ilhas mudaram drasticamente. Hoje, não são mais uma colônia do Reino Unido; somos um Território Britânico Ultramarino, um status que mantemos por escolha própria. A nossa relação é moderna, baseada em valores compartilhados e no direito mais fundamental de todos: o direito do povo de determinar o seu próprio futuro. O nosso governo é independente, com exceção da defesa e dos assuntos internacionais. A população elege democraticamente os membros da nossa Assembleia Legislativa; somos escolhidos pelo povo das Ilhas Falkland para representá-lo, bem como para determinar e administrar as nossas próprias políticas e leis.

Somos economicamente autossuficientes, exceto pelas despesas de defesa. Por meio dos nossos próprios esforços, a nossa economia permite-nos gozar de excelentes serviços de saúde e educação, sendo que os habitantes das Ilhas estudam para os exames de conclusão do ensino secundário e ingressam em universidades no exterior, tendo suas despesas pagas pelo Governo das Ilhas Falkland. Uma prova do forte laço que os nossos jovens têm com sua terra natal é o fato de que muitos deles voltam para casa quando se formam, trazendo consigo habilidades, experiência e um novo dinamismo que ajudarão a garantir o futuro das próximas gerações.

O nosso meio ambiente é o nosso lar e a nossa fonte de sobrevivência; portanto, valorizamos e preservamos os nossos recursos de forma sustentável e responsável. As práticas dos nossos fazendeiros são, em sua maioria, orgânicas, a nossa indústria de ecoturismo é famosa em todo o mundo, as nossas zonas de pesca são elogiadas internacionalmente por sua gestão responsável e sustentabilidade, e a nossa indústria de petróleo, ainda em desenvolvimento, é administrada pelo nosso próprio governo e regulada de acordo com os mais altos padrões ambientais.

Somos um povo orgulhoso, inovador e trabalhador. Temos muito a oferecer, desejando apenas manter uma relação de cooperação com todos os nossos vizinhos, para o benefício de todos. Esperamos que, em um mundo moderno e progressivo, possamos viver em paz e construir o nosso próprio futuro como quisermos.

Através de um governo próprio, autossuficiência, gestão responsável dos nossos recursos e uma comunidade próspera, orgulhosa e progressiva, temos um excelente futuro adiante.

A Assembleia Legislativa das Ilhas Falkland

FA

L

KL A N D I S L A

ND

S

Page 22: Nossas Ilhas, Nossa História

New Haven

Port Howard

LittleChartres

Chartres

ShallowBayHill Cove

Dunbar

Dunnose HeadShallowHarbour

QUEEN CHARLOTTE

BAY

KINGGEORGE

BAY

Spring Point

Fox Bay (W)

PortStephens

Albemarle

Port Edgar

Cape Meredith

Fox Bay (E)

Roy Cove

Saladero

DarwinGooseGreen

NorthArm

Bleaker Is.

GreatIs.

Sea Lion Is.

Barren Is.

George Is.

Speedwell Is.

Weddell Is.

West Point Is.

Carcass Is.

Saunders Is.Keppel Is.

Pebble Is.

GrandJason

Beaver Is.

Passage Is.

New Is.

Lively Is.

Bull Point

WalkerCreek

San Carlos

Port San Carlos

DouglasStation

Salvador

Port Louis

VolunteerPoint

CapePembroke

Murrell

Fitzroy

Bertha’sBeach

Blu�CoveMount Pleasant

Airport

Stanley

Long IslandTeal Inlet

Johnson’sHarbour

Cape Dolphin Cape Bougainville

CHOISEUL SOUND

BERKELEY SOUND

SteepleJason

LAFONIA

FA

LK

LA

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U

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South Harbour

West Falkland

East Falkland

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FA

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KL A N D I S L A

ND

S

Produzido em nome do Governo das Ilhas Falkland.

Agradecimentos a Robert Headland, Hugh Osborne, John Barton, Joan Spruce, Sally Blake, Sukey Cameron, Leona Roberts, Tansy Bishop, Patrick Watts, Jan Cheek, Gerald Cheek,

Chris Bradley, Jenny Cockwell e David Tatham.

Agradecemos, também, ao Fundo Nacional e Museu das Ilhas Falkland, à Biblioteca Britânica (pág. 3: Boutflower), ao Museu Marítimo Nacional de Greenwich (pág. 4: Martens; pág. 6: Ross), à Galeria Nacional de Retratos de Londres

(pág. 6: Darwin; pág. 16: Terriss), ao falecido Rex Hunt, a Julie Halliday, Donald Betts, Jenny Smith, Peter Gilding, Andrea Barlow, à Companhia das Ilhas Falkland, à Coleção de Joe King, à Coleção de John Leonard, a Gill Aldridge, Sharon Jaffray,

Pete Holdgate e Tony Chater, que contribuíram com fotografias e outras ilustrações.

As biografias resumidas presentes neste livreto são baseadas em estudos mais aprofundados do Dicionário Biográfico das Falklands; agradecemos ao editor e aos colaboradores.