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A História De Uma Contação De Histórias Geraldo Gomes Gattolini Nossa terra, nossos caminhos

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A História De Uma Contação De Histórias

Geraldo Gomes Gattolini

Nossa terra, nossos caminhos

Nossa terra, nossos caminhos 03

uase todas as vezes que seus netos vêm à sua chácara para passar fins de semana prolongados ou em suas férias, Vovô Romualdo tem uma trabalheira danada para responder as perguntas

deles, que estão cada vez mais loquazes.

Na chácara, as crianças gostam de subir nas árvores e de comerem amoras, jaboticabas, gabirobas, jambos, bananas e estão sempre pedindo para Vovó fazer sucos de frutas do quintal.

Um dos divertimentos que as crianças mais gostam é a contação de histórias. Dias desses, começaram a perguntar sobre as estradas no Estado de São Paulo.

-Vô – perguntou Ícaro – o que significa Anhanguera?

-Significa na língua dos índios Diabo Velho.

-E por quê surgiu isso? – atalhou a neta Bárbara.

-É uma história comprida, que nasceu em São Paulo com as Bandeiras.

-Bandeiras?

-Era a reunião de um grupo de pessoas que saía em direção ao interior para buscar índios.

-Buscar índios? – atalhou Matheus.

GENTE PARA TRABALHAR

-Naqueles tempos antigos de São Paulo, quase não havia gente para trabalhar. Então, os habitantes procuravam fazer com que os índios passassem a ser trabalhadores. Os índios não gostavam do trabalho regular. Eles pescavam, caçavam, plantavam alguma coisa para comer, como a mandioca, faziam suas ocas, e viviam em paz. Mas os portugueses, acostumados ao trabalho duro, queriam que eles fizessem seus serviços. No início, eles capturavam índios que viviam em torno da vila de São Paulo. Depois passaram a procurar mais longe. Chegaram a ir até o Rio Grande do Sul, norte do Paraná, norte de Santa Catarina, a pé ou em canoas. Tudo isso para buscar índios.

-E as índias?

-Elas também vinham aprisionadas com seus filhos. Acompanhavam o martírio de seus maridos.

-Então, esses bandeirantes eram bravos? – perguntou Lucas

QParte I

Nossa terra, nossos caminhos04

AS PLANTAÇÕES

-Vamos dizer que eram valentes. Eles queriam prosperar, criar riquezas, plantar trigo, feijão, frutas e cana-de-açucar.

-Então, existiu trigo em São Paulo? Olha, nunca ouvi falar nisso.

-Sim, existiu, sim. O trigo era muito plantado na vila de São Paulo. E inclusive tornou-se artigo de exportação. Aliás, o segundo artigo, pois o primeiro foi o açúcar. As primeiras sementes de trigo vieram da Espanha. Depois de Buenos Aires. Aqui o trigo ficou em processo de adaptação por uns vinte anos. Até que as sementes começaram a germinar abundantemente.

-Abundantemente? – repetiu Lucas.

Vô – perguntou Ícaro – e o que fez esse tal de Anhanguera?

BANDEIRANTES DE JUNDIAÍ

-A história nos diz que Bartholomeu Bueno da Silva resolveu procurar ouro num lugar onde moravam os índios goiases. Hoje, seria o atual estado de Goiás. Ele saiu a procurar pessoas que tivessem condições de ajudá-lo. E veio encontrar essas pessoas na vila de Jundiaí. Reunido a um grupo de caboclos, de índios, sua bandeira foi em direção a Goiás.Entre São Paulo, Jundiaí e Mogi Mirim existia uma trilha indígena. Era mais ou menos onde hoje passa a Via Anhanguera.

-Quer dizer –perguntou Liara,- que esse Bartholomeu era o mesmo Anhanguera?

-Sim, isso mesmo.

-Então, esse Bartholomeu.

-Vamos com calma, vamos chegar lá. O Anhanguera levava consigo seu filho que tinha o mesmo nome do pai. Devia ter uns dezesseis anos. Algumas pessoas falam que ele tinha dez anos. A Bandeira do Bartholomeu passou vários meses pesquisando, andando pelo interior de Goiás. Chegou até o rio Araguaia. Lá teria visto índias dançando com enfeites de ouro puro. Ficou encantado. Pediu para os índios indicarem o lugar das minas de ouro. Como os índios recusassem, Bartholomeu pegou uma quantidade de pinga, colocou num prato de barro, ateou fogo e disse para os índios que se não mostrassem o lugar das minas de ouro, ele iria colocar fogo nas águas de todos os rios. Os índios ficaram apavorados e apelidaram o Bartholomeu de Anhanguera, que significa o quê?

A ILUSÃO DOS BANDEIRANTES

-Diabo Velho, vô.- falou Bárbara, sempre atenta.

-Esse Anhanguera então é o mesmo da rodovia? – perguntou Liara.

-Sim, é isso mesmo. É uma homenagem aquele que foi um pioneiro.

-E ele achou as minas?

-Existe uma informação história que diz que sim. Mas ele não trouxe muito ouro consigo. Mas estava aberta a trilha por onde depois outros bandeirantes seguiram em busca do ouro. O Anhanguera implantou uma vila chamada Vila Boa de Goiás, que é a atual Cidade de Goiás, antiga capital do Estado. Ele é considerado o fundador do Estado de Goiás, tanto que quando foi construída a nova capital, Goiânia, foi erigido no centro da cidade uma grande estátua em homenagem ao bandeirante Anhanguera.

-Nossa vô, então esse homem foi importante, chegou a fundar até um Estado- falou Lucas.

-Do ponto de vista histórico, foi sim, muito importante, assim como seu filho, que herdou seu nome, e que também criou outras vilas, que se transformaram em novas cidades. Por causa dessas viagens dos bandeirantes ao interior, por volta de 1710 já estava sendo construída a estrada que ligava São Paulo aos sertões de Jundiaí. Posteriormente, essa estrada foi sendo aumentada e pequenas vilas foram surgindo.

-Isso daí foi na época da febre do ouro, não foi vô? – perguntou Liara.

-Sim, o importante é que a febre passou, o ouro escasseou, mas hoje o interior do Brasil se transformou num grande celeiro de produção de cereais, e está em grande processo de transformação, construindo novas estradas, implantando novas indústrias.

CAPITAL DO PIONEIRISMO

-E Brasília, vô? – perguntou Matheus.

-Podemos dizer que Brasília faz parte de toda essa conquista, iniciada por Bartholomeu, o Anhanguera, lá pelos idos de 1682. Brasília foi inaugurada no dia 21 de abril de 1.960, em homenagem a outro homem de vulto da nossa história. Quem foi, quem foi esse homem, quem sabe?

-Ora, se foi 21 de abril só pode ser em homenagem a Tiradentes.- Bárbara respondeu rapidamente.

-Quando vocês passarem pela via Anhanguera, lembrem-se de seu significado. Isso é importante. Nós só podemos conhecer as coisas que nos rodeiam, as obras, os edifícios, as conquistas, se conhecermos a história. Teve um sábio na Grécia, de nome Heródoto, que disse que a história é mestre da vida.

-O vô, e o Fernão Dias?

-Ele também foi um bandeirante importante. Ele saiu aqui das terras paulistas, não se sabe se de São Paulo ou de Jundiaí, e embrenhou-se pelo sertão das Minas Gerais. Mas antes disso, ele fez parte da bandeira de Raposo Tavares, que foi para o sul em 1638. Em 1640 participou de expedições para a expulsão dos holandeses de algumas vilas de nosso litoral

-Holandeses aqui no litoral paulista? Perguntou Liara.

Nossa terra, nossos caminhos 05

-Sim, eles chegaram a ameaçar em São Vicente. Os paulistas, intrépidos defensores da Pátria, que ainda estava em formação, foram para o litoral e defenderam o nosso território.

-E o que fez mais esse Fernão Dias? Perguntou Ícaro.

-Ele exerceu várias funções na antiga Câmara de Vereadores de São Paulo e construiu o Mosteiro de São Bento. Depois foi eleito juiz ordinário da vila de São Paulo.

-Ah, então ele foi importante – falou Lucas.

DESCOBRIR ESMERALDAS

A epopéia de Fernão Dias começou em 1671 quando ele recebeu ordens do governador Afonso Furtado de Castro para penetrar no interior e descobrir as minas de esmeraldas. Fernão Dias mandou dois amigos irem à frente, para construírem as choupanas e plantarem roças de mantimentos. Depois saiu a sua Bandeira com muitos índios e caboclos que conheciam ervas medicinais, sabiam caçar e pescar, e também sabiam como sobreviver nos sertões das gerais.

-E quando ele partiu? – perguntou Isadora, que tinha chegado ao grupo, depois de brincar com a sua boneca preferida.

-Partiu em 1674. Fernão Dias já estava com 66 anos. A família fez tudo para ele não ir. Mas de nada adiantaram os pedidos dos amigos e dos familiares. Com ele foi seu genro, que depois viria a ficar muito famoso, o bandeirante Borba Gato. Já velho, todo mundo achava que ele não ia agüentar. Durante sete anos vasculhou o sertão, a partir do rio das Velhas. Chegou até a região de nome Serro Frio, onde depois os paulistas encontraram muito ouro. Encontrou pedras verdes, que ele achou que eram esmeraldas, mas depois de examinadas em São Paulo, não passavam de turmalinas, que naquele tempo não tinha valor comercial. Fernão Dias, conhecido como o Caçador das Esmeraldas, morreu em Sabará, vítima da malária.

-E qual a importância dele? – perguntou Matheus

-A importância dele é que abriu caminho para os paulistas descobrirem ouro em Minas Gerais.

-E a rodovia Fernão Dias?- atalho Ícaro.

-Foi dado o nome a ele, porque ele foi o precursor desse caminho para Minas Gerais, hoje transformado em rodovia moderna e que liga a capital de São Paulo a Belo Horizonte e que passa por região muito rica e próspera, tanto em São Paulo

quanto em Minas Gerais.

BORBA GATO E A ESTÁTUA

-Esse Borba Gato, eu já vi uma estátua dele lá em Santo Amaro, em São Paulo.- disse Bárbara.

Nossa terra, nossos caminhos06

-Isso mesmo, é uma homenagem a esse bandeirante. Seu nome completo era Manuel da Borba Gato. Quanto morreu Fernão Dias, Borba Gato ficou em seu lugar, já que o filho direto de Fernão Dias morreu em circunstâncias muito difíceis para o pai. Mas não vamos entrar em detalhes sobre isso. Borba Gato foi quem encontrou algum tempo depois as minas de Sabará, uma riqueza imensa.

-Então ele ficou rico?

-Curiosamente, o ouro que os paulistas descobriram não fez a riqueza dos paulistas. O ouro serviu mesmo para Portugal. Havia muita intriga, brigas, principalmente entre os funcionários do Governo de Portugal. E quase sempre o espoliado era o bandeirante que havia descoberto essas minas.

-Mas não tem rodovia com o nome do Borba Gato? – perguntou Ícaro.

-Pelo que eu saiba, não. Só se houver por esse mundão de Brasil. Nós não conhecemos. Sabemos que Borba Gato foi o criador da cidade de Sabará e de Caetés, que rendem homenagens a ele.

-Render homenagens – que coisa esquisita- disse Ícaro.

É assim mesmo Ícaro. Render homenagens significa reconhecer o trabalho, o pioneirismo de criar as coisas.

RAPOSO TAVARES

-E o Raposo Tavares? – perguntou Liara

-Esse tal de Raposo, que você falou aí, era o marido da raposa. – disse Ícaro.

-Esse Raposo Tavares deve ter sido parente da minha avó.- falou Isadora – mas eu acho que ele não pode ter sido tão bom. É que naquele tempo, quem se chamava raposo não deveria ser boa gente.

-Bem, essa é uma personalidade briguenta, se envolveu em muitas disputas.- continuou vovô Romualdo. Ele era vizinho de fazenda do fundador de Jundiaí, Rafael de Oliveira. Ambos tinham propriedades em Quitaúna. Ao lado deles, vamos encontrar uma outra propriedade, de Manuel Preto, que também teve casa em Jundiaí. Manuel Preto era um bandeirante muito valente, e foi companheiro de Raposo Tavares em sua famosa viagem para Guairá, onde aprisionaram muitos índios e dizimaram as missões dos jesuítas espanhóis.

-Nossa vovô – falou Bárbara, mas esse daí, o Manuel, era um assassino.

-Os padres espanhóis que sobreviveram ao ataque fizeram muitas representações judiciais contra Raposo Tavares e Manuel Preto, mas não conhecemos se houve castigo. Diz a história que aprisionaram milhares de índios. O lado interessante de Manuel Preto é que ao mesmo tempo ele era um guerreiro agressivo, também era um construtor de capelas. A igreja da Freguesia do Ó, em São Paulo, foi iniciativa dele. E outras capelas ele também construiu juntamente com seus índios. Parece que havia de algumas autoridades portuguesas ordens para acabarem com as missões

Nossa terra, nossos caminhos 07

espanholas. Era uma ordem política.

-Autoridades portuguesas era gente do governo? – perguntou Matheus.

-Claro – falou Liara – você queria que fosse quem?

-E tem mais. Diz a história que Raposo Tavares passou pela Bolívia, entrou pelo território do Peru, desceu o rio Amazonas e chegou até a atual cidade de Belém do Pará com poucos companheiros. A maioria morreu pelo caminho. Como não havia a ligação para o Rio de Janeiro, eles pegaram um navio e foram parar em Lisboa, lá em Portugal. Só depois é que vieram para o Brasil. Chegaram muito desfigurado. Raposo Tavares não foi reconhecido nem pela família.

-E qual o lado importante disso? – perguntou Lucas.

-O lado importante é que esses bandeirantes permitiram o aumento do território brasileiro em quase 70 por cento. Antes deles, o Brasil era só 30 por cento do que é hoje.

-Nossa, então bota importante nisso.- falou Ícaro.

OS PADRES E AS MISSÕES

-E o que era uma missão?- perguntou Lucas.

-Missão era uma reunião de índios e padres. O objetivo era transformar os índios em católicos e acabar com alguns costumes bárbaros, como comer carne humana, fazer guerra entre irmãos, em suma,viver numa sociedade pacífica e respeitosa.

-Nossa, que época ruim foi essa, muitas brigas para aprisionar índios. E ninguém era contra? – perguntou Ícaro.

-Sim, os padres jesuítas eram contra. Mas como a força econômica era muito grande, os paulistas passaram a ter nos índios uma espécie de riqueza. Os índios eram vendidos e até mesmo para outras regiões. Ter um índio pacífico em sua casa com sua família era muito importante, pois ele domava cavalos e mulas, caçava, pescava, sabia plantar, buscava água no rio.

-E tomava banho o dia inteiro – falou Ícaro.

-Sim, isso é verdade, eles gostavam de tomar banho.

-Coisa que os portugueses não gostavam – falou Liara.

-Os portugueses viviam numa região fria, com inverno rigoroso, não tinham o costume de banharem-se.

-Eu não disse? – atulhou Ícaro.

Nesse ponto, surgiu Tiago, de dois anos, que chamou a atenção de todos. E o vô logo colocou um fim na conversa.

-Vamos, à tarde voltaremos a falar sobre a história de nossas estradas e outros fatos.

Nossa terra, nossos caminhos08

Parte II

D epois de tomarem banho na piscina, as crianças resolveram ouvir histórias no salão da casa. Reunidas em torno de uma mesa, vovô Romualdo perguntou se alguém tinha alguma pergunta sobre a

conversa da parte da manhã. Alguns segundos se passaram e Ícaro perguntou:

-E os tamoios, eram índios muito bravos?

-Onde você ouviu isso?

-Foi num livro de história.

-E ele foi nome de estrada...eu já vi isso – falou Lucas.

-Eram índios que habitavam o litoral entre a Guanabara e Caraguatatuba. O episódio histórico é que eles índios de várias tabas indígenas se reuniram em torno de um só objetivo: expulsar os portugueses do Brasil. Eles se uniram aos franceses, invasores do nosso litoral, e passaram a brigar contra os portugueses, que eles consideravam inimigos.

-E daí eles viraram nome de estrada? – perguntou Bárbara.

A HOMENAGEM AOS TAMOIOS

-Mas isso aconteceu muito tempo depois. O nome dado à estrada que liga São José dos Campos à Caraguatatuba é muito recente.

-Mas é em homenagem a eles? – perguntou Liara.

-Sim, é em homenagem a eles.

-Eu já passei por essa estrada. Foi quando nós fomos para Ubatuba, passamos por Caraguatatuba. – emendou Ícaro.

-Esses índios colocavam penas na cabeça? – perguntou Matheus.

-Colocavam, pintavam o rosto, dançavam, isso eu vi num filme. – falou Lucas.

-Eu gostaria de brincar com um indioznho – disse Isadora.

-Acho que seria bacana brincar com eles. Conheciam a floresta como ninguém. Eles punham o ouvido no chão para ver se vinha algum inimigo. – falou Ícaro.

-E o que significa Tamoios?.- perguntou Matheus. Foram com o grito tamoios que os índios tupinambás e os índios tupiniquins se reuniram para combater os portugueses.

Significa os mais antigos donos da terra.

-Vovô – perguntou Bárbara – e o Anchieta era também índio?

-Não, Anchieta era padre. Ele veio de Portugal. Tinha uma doença nos pulmões. Foi

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recomendado que ele morasse nos trópicos, aqui no Brasil, para ver se conseguia sarar. Ele veio para cá, em 1553, se uniu ao padre Manuel da Nóbrega.

-E o que ele fez de importante? – quis saber Lucas.

-De importante foi a fundação de São Paulo, juntamente com o padre Manuel da Nóbrega. Mas ele também fez peças de teatro. Foi o primeiro dramaturgo do Brasil.

-E o que é dramaturgo?- perguntou Isadora.

-Dramaturgo é gente que faz teatro. – disse Lucas.

A CARTILHA DE ANCHIETA

-Mas ele fez mais do que isso. Ele fez a primeira cartilha em tupi para que todos pudessem entender a língua dos índios.

-E o que mais? – perguntou Liara.

-Ele catequizou os índios, deixou eles pacíficos, ensinou a eles que o trabalho dignifica o homem.

-Mas isso eles já faziam. Li no livro de escola que os índios plantavam mandioca, pescavam, caçavam, e adoravam domar cavalos.- disse Bárbara.

-Isso é verdade...e o que você sabe mais sobre Anchieta?

-Que ele também era sapateiro, fazia alpercatas para os padres e outras pessoas.

-Isso mesmo, Bárbara, Anchieta era sapateiro, mas também fazia o papel de um outro profissional.

-De médico – disse Liara. Já li que ele curava as pessoas.

-Mas tinha mais uma qualidade. Quem sabe, quem sabe? – perguntou Vovô Romualdo.

-Bem, como ninguém respondeu, eu vou dizer. Ele era professor.

-Ah...isso mesmo. Estava esquecendo...disse Ícaro.

-Outra profissão de Anchieta? Quem sabe, quem sabe? – Vovô olhou para todos.

-Pescador? –disse Lucas.

-Podemos dizer que sim. Ele também pescava. Mas o que eu quero dizer é que também era professor de música. Ensinava músicas sacras para os índios.

-E o que ele tem a ver com a via Anchieta? – perguntou Ícaro.

-Ora, seu bobinho, é também homenagem a ele – disse Liara.

-E ali onde está a via Anchieta era também caminho dos índios? – perguntou Matheus.

-Bem exatamente não sabemos. Mas foi uma forma de homenagear Anchieta.

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CAMINHOS E DESAFIOS

Quando ele fez a primeira viagem entre São Vicente e Santo André, onde morava João Ramalho, achou o caminho um verdadeiro paredão. Ele subiu a serra de quatro, com os pés e as mãos no chão, e a mala nas costas. Depois fez muitas vezes essa viagem. Era muito difícil. Vocês já imaginaram subir tudo aquilo com uma mala nas costas?

-Nossa eu imagino – disse Bárbara.

-E tem mais – atulho o avô. Ele sofria de problemas na coluna. Parece que quando era estudante, caiu uma tábua nas suas costas, tanto que ele andava meio vergado, assim para frente.

Para as crianças entenderem o que era vergado, vô Romualdo deu uns passos com a cabeça e o tronco vergados para frente.

-Nossa, esse Anchieta...hein?...

-O que que ele tem, Matheus?

-Era um forte,fraco, forte, fraco.

-Forte,fraco, forte fraco, não entendi.- falou Romualdo.

-É que ele era forte de espírito e fraco de corpo. – disse Lucas.

-E quem construiu a Via Anchieta? – perguntou Ícaro

NOVAS ESTRADAS

-A história nos conta que foi Adhemar de Barros, governador paulista. Eu mesmo, quando fui conhecer o mar, em 1948, passei pela via Anchieta, que estava em construção. Os passageiros aplaudiram o governador.

-Mas tem outra estrada...-disse Ícaro.

-Tem sim, é o Caminho do Mar. Se não me engano foi construída bem no início do século 19, depois resolveram pavimentar com pedras. Estrangeiros que conheceram aquela estrada disseram que nem na Europa havia uma obra tão bem feita.

-O vô, esse negócio de século 19, era em que ano?

-Vamos dizer que faz muito, muito tempo.

-Uns duzentos anos? – perguntou Liara.

-Acho que sim.

-Vovô – perguntou Bárbara, e a Imigrantes?

-A Imigrantes foi construída porque a Via Anchieta estava saturada.

-Saturada? O que vem a ser isso? – perguntou Ícaro.

Nossa terra, nossos caminhos 11

É que tinha muito carro para subir ou descer a serra. – disse Lucas.

-Eu estava no Palácio no Governo, lá no Morumbi, quando o governador Abreu Sodré informou que estava pronto o projeto para a construção da primeira pista da Rodovia dos Imigrantes. Foi uma festa. Jornais, televisão, rádio, todo mundo anunciou a construção da Imigrantes com grande satisfação. O povo queria a nova rodovia.

-Vovô Romualdo, posso perguntar? – quando vocês vão acabar? Eu quero comer. – a reclamação era de Tiago, que até aquele momento estava sentado, ouvindo a conversação.

-Pode sim, você não precisa pedir.

-Era só isso.

A RODOVIA DOS IMIGRANTES

-Bem, a Imigrantes foi feita em homenagem a todas as pessoas que vieram de outros países para viver no Estado de São Paulo, seja na capital ou no interior, e mesmo em outros Estados. É uma homenagem a todos os estrangeiros.

-Ela é bem bonita. – disse Liara.

-É uma estrada moderna, que foi construída por vários governadores.

-E o padre Manuel da Nóbrega, esse que ajudou Anchieta a fundar São Paulo?.- perguntou Bárbara.

-Ele era o chefe de Anchieta. Ele mandou Anchieta rezar a primeira missa no lugar onde depois surgiu o Pátio do Colégio. Era o Provincial, o que manda em todos. Em sua homenagem foi construída no litoral a rodovia Padre Manuel da Nóbrega, que vai de Cubatão até Peruíbe.

-Crianças, crianças, agora uma pausa, para tomarem um gostoso suco de laranja.- era Tia Flávia e Tia Nono, que vinham da cozinha.

-O que o vovô ta contando para vocês? – perguntou Nono.

-Está contando histórias de nossa gente e das estradas. – falou Bárbara.

Após alguns minutos de conversações paralelas, Vovô Romualdo perguntou se elas queriam continuar.

A VIA DUTRA

-Eu quero saber sobre a via Dutra.- disse Liara

-Dutra é nome de gente? – perguntou Ícaro.

-Então continuando, vamos falar do Dutra. Ele foi um marechal.

Nossa terra, nossos caminhos12

-Marechal, o que é marechal? – perguntou Matheus.

-Marechal é um general? – perguntou Liara.

-É mais que isso. Pelo menos era. Hoje não tem mais esse cargo no Exército Brasileiro. Mas ele foi ministro da Guerra, mandava em tudo no Exército, foi também presidente da República. E aí resolveram dar o nome dele à rodovia que liga o Rio de Janeiro a São Paulo.

-Ele não tem nada a ver com índio?

-Não Matheus, não tem. Ele era muito católico. Todo dia ia à missa. Toda a semana confessava seus pecados.

-Nossa, é tanta estrada que eu até me perco. – falou Liara.

-E não terminamos. Existem muitas rodovias no Estado de São Paulo.

-Mas o senhor não vai querer contar sobre todas, vai? – perguntou Tia Ariadne, que passava por perto.

Tio Benê que também estava ali ouvindo a contação de histórias, ainda arrulhou.

-Vai terminar no ano que vem...

-É melhor a gente recomeçar amanhã.- disse Bárbara.

-Agora vamos falar da Bandeirantes...

-Essa daí é homenagem a todos os bandeirantes. – disse Lucas.

CONSTRUÇÃO RECORDE

-Isso mesmo, a homenagem foi para todos os paulistas que um dia deixaram suas casas para irem desbravar o interior- falou o avô. Para vocês terem uma idéia, essa rodovia foi construída em apenas 26 meses. O governador Paulo Egydio Martins assumiu o compromisso de não deixar faltar verba, isto é dinheiro, para que a rodovia fosse construída em tempo recorde. A via Anhanguera já não suportava mais o trânsito intenso. Eu me lembro de seu início e de sua inauguração.

-Nós já passamos por ela muitas vezes. – disse Liara.

-E não é uma ótima rodovia?

-Ah...sem dúvida...é a melhor que temos.

-A Bandeirantes – falou o avô – liga São Paulo a Cordeirópolis, servindo, muito bem uma vasta região muito populosa e de grande concentração de empresas.

-Vovô, o Corinthians também tem concentração. -disse Matheus.

-Só um torcedor fanático pode entrar neste assunto. – falou Ícaro.

-Bem, agora, por hoje chega, tenho que ir buscar o pão para o lanche.

Nossa terra, nossos caminhos 13

-Posso ir com o senhor, vô? – perguntou Tiago.

-Ele só quer ir junto para tomar sorvete.- disse Bárbara.

-Vô, tem uma rodovia aí no seu nome que tem nome esquisito. Deve ser nome de índio.- falou Ícaro.

-Qual é o nome que você fala?

-É Regis.

-Vamos chegar à ela – disse Romualdo.

CASTELO BRANCO

- Bem, crianças, ia me esquecendo. Tem também a Castelo Branco.

-Já sei – disse Ícaro – foi em homenagem a um castelo branco...

-Não, não foi....A história da rodovia Castelo Branco começa quando o governador Adhemar de Barros, lá pelos anos de 1965, anunciou que iria começar a construção da Estrada do Oeste.

-Isso mesmo, Estrada do Oeste. Depois, mais tarde, virou Rodovia Castelo Branco em homenagem ao ex-presidente Castelo Branco, recentemente falecido num desastre de avião. O governador disse que a nova rodovia deveria terminar na fronteira com o Estado de Mato Grosso, Mas isso ainda vai acontecer.

-E aí o vô conheceu o Castelo Branco.

-Ah...isso mesmo, almocei com ele na Cosipa.

-Cosipa? Cosipa?

-Era a Companhia Siderúrgica Paulista, senhor Ícaro, que fica ali em Cubatão na estrada que vai ao Guarujá.

-Ah, que minha mãe, quando criança, falava Gurujá?

-Isso mesmo.

-E como ela falava gasolina?

-Não vamos mudar de assunto. O lado importante é que a Rodovia Castelo Branco atende à uma das mais dinâmicas regiões do Estado.

RODOVIA REGIS BITTENCOURT

-Voltando ao assunto. Que nome de índio você falou Ícaro?

-É um tal de Regis.- disse Ícaro.

-Ah...é um empreiteiro, que foi engenheiro e diretor do Departamento Nacional de

Nossa terra, nossos caminhos14

Estradas de Rodagem. Ele não era índio- disse Romualdo

-Nossa, ele era então muito importante.- falou Lucas

-Cada pessoa tem sua época. E ele foi importante. O nome dele era Regis Bittencourt.

-Nossa, que nome complicado.- disse Lucas

-Deve ser nome de japonês. – falou Ícaro.

-Imagine, só, deve ser estrangeiro. – disse Matheus.

-Ele era brasileiro – falou o avô. E agora vamos parar com a contação para limparmos a piscina.

Nossa terra, nossos caminhos 15

Parte III

O dia amanheceu cinzento. O tempo escuro com nuvens carregadas ameaçava chuva a qualquer momento. As crianças foram acordando aos poucos, lavavam o rosto, trocavam o pijama e sentavam à mesa

para o café com leite, biscoitos, broas e pão com manteiga.

-Eu só quero leite.

-Eu só quero pão.

-Tem Nescau?

-Só quero pão com manteiga, pão, leite, bolo e café.

-Esse daí – disse Liara apontando para Matheus- quer tudo.

-E depois deixa tudo – falou Bárbara – é guloso só de olhar.

Enquanto os pais das crianças dormiam, vovô Romualdo tinha uma grande trabalheira para servi-los e também responder as perguntas.

QUEM FOI AYRTON SENNA

-A rodovia Ayrton Senna é homenagem a quem? – perguntou Matheus.

-Ora, se já tem um nome, só pode ser ao Ayrton Senna.- disse Ícaro.

-E ele fez o quê?

-Ora, Matheus, ele foi piloto de corrida, campeão mundial de Fórmula 1 – disse Bárbara.

-Ah, agora entendi.

-E ele já morreu?

-Sim morreu, Matheus, morreu numa corrida na Itália, num lugar chamado Bolonha.

-Ele bateu com o carro, não foi vô? – falou Liara.

-Antes que vocês perguntem, vou dizer – falou o avô. Ele foi campeão mundial de corrida por três vezes, em 1988, 1990 e 1991 e vice campeão em 1989 e 1993.

-Nossa, então, ele foi um super campeão.- Ícaro abriu mais os olhos para comentar o feito de Senna.

-E o senhor conheceu o Ayrton Senna? – perguntou Lucas.

-Conheci num coquetel num hotel, em São Paulo. Ele era uma doçura de pessoa, muito carinhoso.

Nossa terra, nossos caminhos16

-Mas muito exigente. – aduziu Bárbara.

-E como é que você sabe? – perguntou Romualdo.

-Eu já li, ora. Taí numa revista do vovô.

-Agora, eu quero contar para vocês um sonho que eu tive com o Airton Senna.

-Conta vô, conta logo. – disse Ícaro.

-Eu sonhei que ele estava no céu. Estava se recuperando do desastre. Estava meio triste. De repente ele olhou pela janela e viu um jardim maravilhoso. Então, ele perguntou se podia passear pelo jardim. E um dia ele foi levado para visitar o maravilhoso jardim. E sabe o que ele pediu para o seu anjo da guarda?

-O que foi, o que foi...diga logo.- disse Liara

Romualdo, nesses momentos de curiosidade das crianças, fazia uma espécie de suspense.

Conta logo...

-Pois ele pediu para ser jardineiro.

-E foi atendido?

-Foi, na hora.

-E depois disso?

-Voltei uns três anos depois a sonhar com ele. Agora era chefe de uma turma de jardineiros.

-Nossa, um campeão mundial agora jardineiro? – falou Ícaro. Só pode ser mesmo sonho de nosso avô. Ninguém iria sonhar com uma coisa tão esquisita.

-Mesmo depois de morto, Aírton Senna continua a espalhar benefícios para muita gente.

-Como assim? – perguntou Liara

-A família resolveu criar o Instituto Aírton Senna, que dá reforço escolar às crianças que precisam de ajuda para passar de ano.

-Então, ele continua muito importante. – falou Lucas.

RODOVIA CARVALHO PINTO

-Olha aqui vô, tem uma outra rodovia, tem o nome de Carvalho Pinto – disse Lucas.

-Esse Carvalho Pinto também era piloto? – perguntou Matheus.

-Não, não era, ele foi professor universitário, governador de São Paulo e senador. Foi um bom governador e um homem muito sério.

-O vô, e porque ele tinha o sobrenome de pinto?

Nossa terra, nossos caminhos 17

Todas as crianças riram de Matheus, que estava sempre fazendo algumas perguntas arrevezadas.

-Sei lá...disse o avô.Acho que era por causa do nome do pai dele.

-E você Ícaro o quê acha?

-Sei lá - falou Ícaro- quem é sabido tem que saber tudo.

-Não é bem assim- destacou Liara- ninguém sabe tudo. Nós só sabemos um pouco.

-Posso fazer uma outra pergunta? – falou Ícaro.

-Se eu tiver condições de responder...disse Romualdo.

-O senhor conheceu o Carvalho Pinto?

-Conheci quando eu era mocinho. Ele foi visitar a minha terra e me escolheram para fazer um discurso em sua homenagem. No final ele me abraçou e agradeceu.

-E o senhor conheceu o padre Anchieta?

-O Matheus, onde você está com a cabeça? Anchieta morreu há mais de 400 anos.-disse a Tia Flávia, que tinha acabado de levantar.

Mas Matheus não se deu por vencido.

-Vô, e o senhor conheceu o padre Manuel da Nóbrega.

-Ih...piorou... esse padre aí que você falou Matheus, deve ter morrido antes do Anchieta. Mas pode ser que você tenha razão. Quem sabe se o vovô Romualdo conheceu?- disse Ícaro.

-Vovô...não liga não. Ele tem mania de fazer pegadinha na gente. – disse Bárbara.

-O seu avô não é tão velho assim – falou Tia Ariadne – que estava chegando à cozinha.

-Prestem agora atenção. A rodovia Carvalho Pinto é uma extensão da rodovia Ayrton Senna.

-Isso significa que é a continuação...

-Isso mesmo.

CONSTÃNCIO CINTRA E DOM GABRIEL

-Eu tô vendo aqui no mapa as rodovias que passam por Jundiaí. O senhor pode falar quem foi esse aqui...olha...Constâncio Cintra?

-Ele foi engenheiro rodoviário. Construiu muitas estradas.

-Tem essa estrada aqui....a Dom Gabriel. – destacou Bárbara..,.apontando o dedo para o mapa.

-Esse foi o primeiro bispo de Jundiaí.

Nossa terra, nossos caminhos18

-Esse o senhor conheceu, né, vô.- falou Liara.

-Esse eu conheci. Ele era muito magro. Algumas pessoas diziam que ele flutuava.

-No ar? – perguntou Matheus.

-E você queria que ele flutuasse aonde? – perguntou Ícaro.

-Eh, Matheus, hein Matheus...cada pergunta. - falou Isadora.

-Jundiaí é uma cidade privilegiada em matéria de rodovias. Por ela passam a via Anhanguera e a Bandeirantes, duas de nossas melhores rodovias brasileiras.- destacou Ariadne.

- Ah...ia me esquecendo, a rodovia Dom Gabriel, depois de Itu, passa a se chamar rodovia Marechal Rondon, em homenagem a um soldado, que seguiu carreira no exército e chegou a marechal.– falou Romualdo. E por essa estrada chegou a Jundiaí a missão dos cientistas alemães Spix e Martius.

-Em que ano, vô? – perguntou Matheus.

-Lá pelos anos de 1823.- disse Flávia.

-E tem nome de índio – perguntou Lucas.

-Isso mesmo, o marechal Rondon tinha origem indígena. Por isso, quando ele instalou fios telegráficos pelo interior afora, sempre encontrava índios pelo seu caminho. Mas ele dizia. Morrer? Sim. Matar, nunca. Amar os índios como nossos irmãos, é mais do que um dever do soldado. É amar o nosso semelhante.

-O Rondon anda rondando a nossa casa.

-Pare de falar besteira Ícaro. Falou Liara.

-É que Rondon gosta de rondar.

-Êta muleque...disse Isadora.

-E tem a estrada velha de São Paulo a Jundiaí, que depois vai até Campinas, que já serviu de ligação entre a cidade de São Paulo e o interior. Através dela Dom Pedro II fez sua primeira visita a cidade. E isso aconteceu em 1846. Depois ele voltou a Jundiaí, em 1875, mas agora depois veio de trem. – falou o avô. Mas antes dele, em 1811 passou por essa estrada um sábio, um cientista, de nome Santo Hilário. As crianças riram.

-Santo Hilário é coisa de dar risada, hein vovô? – perguntou Bárbara.

-Pai, é melhor você falar o nome correto. É Saint Hilaire o nome do cientista. – disse Ariadne.

-Hei, gente, agora é hora de desocupar a mesa. Vão assistir televisão, brincar com o gato, balançar na rede.- ordenou Nono.

-Será que esse bebê que você está esperando vai ser tão perguntador? – perguntou Flávia.

Nossa terra, nossos caminhos 19

-Vai ser não, ela já faz cada pergunta de dentro da minha barriga!. A Gabriela vai perguntar muito. Disso eu tenho certeza.

-A Carol se estivesse aqui, ia fazer muitas perguntas.

-Mas a mãe dela não deixou ela vir – falou Nono

-Todos foram saindo.

-O vô, depois a gente vai continuar?

-Claro...claro. Mas um outro dia. Agora vou sair buscar pão quente na padaria.

-Nós vamos juntos.

-Não, ninguém vai...falou Tia Ariadne.

-Eu vou. O vovô já tinha dito que eu podia ir.- disse Tiago.

No final, todos foram com a promessa de ninguém pedir nada.

Mas qual o avô que deixa de atender a um neto ou à uma neta?

-Deixa que vou – disse Benedito Carlos- saindo do banheiro.

-É melhor irmos todos juntos.- falou o avô Romualdo.

-Hei, hei, aonde vocês vão? – perguntou vovó Nereide.

-Vamos à padaria.

-Nada disso, já vou mandar servir o almoço.- falou.

-Nossa – disse Ariadne – com esse negócio de contação de histórias, a gente perde a noção do tempo.

RODOVIA WASHINGTON LUIZ

-Tem uma rodovia com o nome da capital dos Estados Unidos...Disso eu sei.

-Não é bem assim...Ícaro. A rodovia Washington Luís tem esse nome por causa de um governador do Estado de São Paulo e presidente da República, que tinha esse nome. Ele era brasileiro.

-Se foi presidente...foi importante.-disse Lucas.

-No seu tempo ele ficou conhecido como o homem das estradas. Ele mesmo dizia que governar é abrir estradas. E foi o que ele mais fez.

-E quais são as outras estradas mais importantes?- perguntou Liara.

-Nós temos no Estado de São Paulo a Rio-Santos, que liga o Rio de Janeiro até a localidade de Piaçaguera, perto de Santos, a rodovia Faria Lima e tantas outras, que eu não consigo lembrar agora. Umas são extensas, outras curtas. Todas são importantes. O Estado de São Paulo possui as melhores rodovias da América Latina e um dos melhores sistemas rodoviários do mundo.

Nossa terra, nossos caminhos20

Parentesco-

Romualdo – pai de Benedito Carlos, sogro de Nono e avô das crianças.

Ariadne – Mãe de Ícaro e Isadora

Flávia- mãe de Liara

Nereide – avó das crianças.

Benedito e Nono – Pai e mãe de Bárbara, Lucas, Matheus e Tiago.

Carol – neta de Romualdo

Nossa terra, nossos caminhos 21