nos estamos gravidos

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    Maria Tereza Maldonado

     Júlio Dickstein

    Nósestamos

    Grávidos

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    Copyright © 2010 Maria Tereza Maldonado e Júlio Dickstein

    Copyright © 2010 Integrare Editora e Livraria Ltda.

    PublisherMaurício Machado

    Supervisora editorialLuciana M. Tiba

    Coordenação e produção editorial

    Nobreart Comunicação

    Preparação de textoAdir de Lima

    RevisãoNicolas Brandão

    Projeto gráfco de capa e de miolo / DiagramaçãoNobreart Comunicação

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Maldonado, Maria TerezaNós estamos grávidos / Maria Tereza Maldonado, Júlio Dickstein. –

    São Paulo : Integrare Editora, 2010.

    Bibliografa.ISBN 978-85-99362-53-2

    1. Gravidez 2. Gravidez - Aspectos psicológicos3. Pediatria I. Dickstein, Júlio. II. Título.

    10-04945 CDD-618.2

    Índices para catálogo sistemático:1. Gravidez : Obras de divulgação : Medicina 618.2

    Todos os direitos reservados àINTEGRARE EDITORA E LIVRARIA LTDA.

    Rua Tabapuã, 1123, 7o

     andar, conj. 71-74CEP 04533-014 – São Paulo – SP – Brasil

    Tel. (55) (11) 3562-8590Visite nosso site: www.integrareeditora.com.br

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    SUMÁRIOMensagem do IPREDE .........................................................................................................5

    Prefácio da nona edição .......................................................................................................11Prefácio da 8ª edição .............................................................................................................13Prefácio da edição original ...................................................................................................16

    1. Filhos, para quê?Bebês planejados, bebês “da surpresa” e bebês “fabricados” ........................................20Por que ter um lho? ............................................................................................................22O que esperamos de nós, como pai e mãe? ......................................................................23

    2. O casal grávido A mistura dos sentimentos ..................................................................................................29 As repercussões da gravidez na mulher e no homem .....................................................31 Aborto: a guerra entre o medo e o desejo.........................................................................33

    3. E os outros filhos?Mudanças no comportamento da criança .........................................................................40Preparando a vinda do bebê ................................................................................................43E depois que ele nasce? ........................................................................................................45

    4. O que acontece na gravidezComo a criança se forma: a fecundação ............................................................................52O desenvolvimento dentro do útero ..................................................................................55 A inuência do afeto e do estresse na “tecelagem” dos neurônios ..............................58 A conrmação da gravidez ..................................................................................................61 As primeiras modicações ...................................................................................................63O corpo e a sexualidade na gravidez ..................................................................................68“O neném já está mexendo!” ..............................................................................................73

    Os temores mais comuns .....................................................................................................75 A alimentação da gestante ...................................................................................................78Cuidado com as drogas! .......................................................................................................79O bebê no útero: a placenta e o líquido amniótico ..........................................................82O nal da gravidez ................................................................................................................84E quando surgem problemas sérios? .................................................................................84

    5. O pré-natal integralOs grupos de “casais grávidos” ..........................................................................................96Respirar e relaxar ...................................................................................................................98Os efeitos da preparação ....................................................................................................100

    6. O grande momento: o partoOs acontecimentos do parto .............................................................................................104Os vários tipos de parto .....................................................................................................109 A moda da cesariana ...........................................................................................................113

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    O que acontece na sala de parto .......................................................................................116

    O signicado emocional do parto ....................................................................................118 Vendo o bebê pela primeira vez ........................................................................................121

    7. Leite materno: fatos e mitos A sabotagem da propaganda .............................................................................................124 As primeiras mamadas .......................................................................................................126Os mitos que atrapalham ...................................................................................................129 Algumas dicas ......................................................................................................................134Leite materno versus  leite em pó ........................................................................................140

    E quando a mulher não quer ou não consegue amamentar? .......................................143

    8. O pós-parto e as primeiras semanas de vida do bebêDo hospital para casa .........................................................................................................151 A depressão pós-parto .......................................................................................................155O corpo e a sexualidade no pós-parto .............................................................................157Para recuperar a forma .......................................................................................................160 Ajuda ou interferência? ......................................................................................................163O homem no pós-parto .....................................................................................................166

    O problema das visitas .......................................................................................................170O recém-nascido: enigma ou maravilha? .........................................................................171 As cólicas do bebê...............................................................................................................178Os pais e o neném ...............................................................................................................180

    9. O bebê e seu novo mundo Aconchego ...........................................................................................................................187Mimando o bebê? ................................................................................................................189 A aprendizagem da conança ...........................................................................................192E os horários? ......................................................................................................................193Descobrindo as pessoas: a aprendizagem do amor .......................................................196O desmame: desprender-se para se renovar ...................................................................201Como lidar com pequenos problemas que surgem .......................................................204O primeiro ano de vida: a aventura da descoberta ........................................................207 Alerta para prevenir acidentes! ..........................................................................................209

    10. A gestação emocional do filho adotivoPor que acontece a infertilidade? ......................................................................................216O caminho da adoção.........................................................................................................218

    11. A mulher, o homem e os filhos hojeOntem e hoje .......................................................................................................................224 Tecnologia com humanismo .............................................................................................229O bebê, a família e a creche ...............................................................................................231Palavras nais .......................................................................................................................234

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    brincam de papai e mamãe, não só com os jogos eróticos co-muns na infância, mas também trocando fraldas, dando banho ecomidinha para as bonecas; os adolescentes apaixonados olhamcom uma ponta de inveja para os pais que passeiam com seusnenéns e se imaginam na mesma situação. Em outros momentos,aborrecidos com as restrições impostas por seus pais, juram quequando tiverem lhos irão criá-los de modo totalmente diferente;

    nos momentos de solidão, em que se sentem incompreendidos,os jovens imaginam o lho como companhia ideal. Nessas inú-meras situações, no decorrer da vida, forma-se potencialmente aligação com o lho.

    BEBÊS PLANEJADOS, BEBÊS “DA SURPRESA”E BEBÊS “FABRICADOS”

     Às vezes, o lho vem no momento em que queremos, pla-nejamos, pensamos. Outras vezes, vem de surpresa, quando me-nos esperamos: muitas adolescentes começam a fazer sexo pelo

    prazer, sem nenhuma precaução, porque acham que sempre te-rão a sorte de escapar da gravidez. Por sua vez, há casos em que,mesmo com DIU ou com trompas ligadas, acontece a fecunda-ção. No entanto, muita gente diz que não quer, mas sutilmentesabota a anticoncepção: erra nos cálculos da tabela, esquece detomar a pílula, de colocar o diafragma, de usar a camisinha. É

    complicado tomar a decisão de “encomendar um neném” quan-do prós e contras pesam igualmente na balança: nesses casos, apessoa quer e não quer quase com a mesma intensidade e, parafacilitar, acaba deixando a gravidez “acontecer”.

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    Quando a gravidez surge fora do casamento ou de uma uniãoestável, a indecisão aumenta, na medida em que a mulher se sen-te insegura, sozinha e frequentemente sem apoio para arcar com aresponsabilidade de ter um lho, mesmo quando tem o sonho se-creto de fazer uma “produção independente”. A indecisão é tantomaior quanto mais complexa, instável ou diversicada for a nossa

     vida: quando sentimos que há outras coisas importantes e prioritá-

    rias, quando questionamos se, de fato, o principal objetivo da nossaexistência é a procriação, quando estamos vivendo em condições tãoprecárias que duvidamos de nossa capacidade para cuidar dessa crian-ça, ou não sabemos se há espaço em nossa vida para acolhê-la. Nessaencruzilhada, surgem as opções: ter o neném, fazer aborto ou doar acriança. Cada uma delas acarretará repercussões importantes na vida

    das pessoas, suas famílias e seus grupos de apoio. Essa escolha de-penderá de muitos fatores de ordem emocional, social e econômica.

    Com o surgimento da pílula anticoncepcional, na décadade 1960, a medicina deu um passo a mais na questão do lho“programado”, dando maior segurança ao planejamento familiarnas classes com maior poder aquisitivo. Mas muitos casais vivem

    o drama oposto: lutam durante anos para conseguir o lho quenão vem, apesar de inúmeros exames e tratamentos. Para eles,a medicina, a partir da década de 1980, começou a apresentarnovos horizontes: a fecundação in vitro, que possibilitou o surgi-mento do “bebê fabricado” – o bebê de proveta. A frustração denão ter lhos gera uma busca tão desesperadora que já não é mais

    o desejo sexual e amoroso que marca a formação do novo ser: éo gozo da técnica, do esforço bem-sucedido para unir um óvuloe um espermatozóide (nem sempre daqueles que serão o pai e amãe da criança) num tubo de ensaio, dentro do laboratório.

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    POR QUE TER UM FILHO?

    Um lho pode representar muitas coisas para nós e sãoinúmeros os motivos pelos quais queremos ou não que ele ve-nha. O lho pode trazer a promessa de dar continuidade à exis-tência dos pais, conservando as raízes e o “nome da família”;pode ser uma oportunidade de aprofundar, enriquecer e dar no-

     vos signicados à vida do casal, assim como pode trazer o riscode rompimento e maior desencontro no relacionamento conju-gal, sobretudo quando buscado na esperança de solidicar um

     vínculo frágil e precário. Às vezes esperamos que o lho venha arealizar desejos e aspirações que nós mesmos não conseguimosconcretizar; outras, tememos que ele venha para atrapalhar ou

    impedir a realização de outras metas de vida. Quando estamosmuito carentes, ou solitários, às vezes desejamos um lho coma esperança de preencher o vazio, para ter companhia, alguém aquem cuidar e de quem, no futuro, possamos receber cuidados.Ocasionalmente, o desejamos como espelho, criado de acordocom a imagem da pessoa ideal que gostaríamos de ser.

     Ter um lho pode representar o desejo de seguir os manda-mentos familiares, sociais ou religiosos do “crescei e multiplicai-

     vos”, segundo os quais todos os casais devem ter lhos, entre ou-tras coisas, para que o homem e a mulher possam provar que estão“funcionando” adequadamente. Para os casais com problemas deinfertilidade, este é um caminho penoso: são anos de exames e de

    tratamentos em que o lho é buscado às vezes mais por necessi-dade de se conformar aos padrões estabelecidos do que por real elegítimo desejo de procriar. Há tempos, ter um lho era essenciale indispensável nas famílias nobres, tradicionais ou ricas, onde a

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    questão da descendência ou herança cava em primeiro plano. Poroutro lado, no contexto da agricultura familiar nas áreas rurais, olho traz vantagens econômicas, pois representa mão de obra nalavoura e aumento de produção.

    O QUE ESPERAMOS DE NÓS,

    COMO PAI E MÃE?

     Além de criar expectativas com relação ao lho, tambémcostumamos criar expectativas e ideais para nós mesmos como paie como mãe. Às vezes, nos exigimos demais, esperando não falharnem errar para poder criar um lho perfeito. Esperamos que tudo

    aconteça de maneira impecável: a gravidez maravilhosa, o partoideal, o bebê perfeito que nunca reclama, a criança obediente e quenão dá problema de espécie alguma. Será que precisamos ter lhoscomo idealizamos para nos valorizar como pais? Pensando assim,corremos o risco de encarar qualquer coisa fora desse esquemacomo algo errado, podendo gerar insatisfação permanente.

    Como podemos nos gestar como pais e mães, com limita-ções e possibilidades? Claro que, na formação dessa nova partede nosso ser, conta muito a experiência como lhos. Em cer-tos aspectos, sonhamos em ser totalmente diferentes de nossospais, tentando fazer com o lho o contrário de tudo aquilo quesentimos como errado em nossa criação ou querendo dar a ele

    tudo aquilo que não recebemos; por sua vez, se achamos corretoo modo pelo qual fomos educados, nos sentiremos tentados arepetir literalmente tudo o que nossos pais zeram. No entanto,o desao é grande: uma mulher e um homem, com histórias

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    diferentes, acolhem o milagre da vida. Como poderão combinarsuas diferenças e semelhanças para criar essa nova pessoa, ge-neticamente diferente deles, criada em outra época e em outrascondições, da maneira mais harmônica possível?

    Se não conseguirmos admitir que o lho que está por virpoderá ser muito diferente do que gostaríamos que fosse, dei-xaremos pouco lugar de respeito pela sua individualidade e li-

    mitaremos nossa criatividade como pais, cerceando a necessárialiberdade de sentir o que é melhor ou mais adequado a cada mo-mento da relação.

     Ter um lho e acompanhar seu crescimento é um proces-so profundamente criativo, enriquecedor e renovador, desde quenão se abafe esse potencial com a busca de “receitas”, modelos

    ou ideais a serem seguidos à risca.

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    O casal grávido

     A  gravidez é uma época fecunda em vários sentidos: nãosó um novo ser está sendo formado, mas também, na mulher e nohomem, está se consolidando uma nova parte de si próprios – acapacidade de gerar, cuidar e propiciar o desenvolvimento de umacriatura, seu descendente. Na gestação, ocorrem modicações mui-to importantes: no corpo da mulher, que passa por uma série dealterações e adaptações que lhe possibilitam acolher o bebê; na vida

    emocional da mulher e do homem, que adquire um colorido bas-tante diferente daquele de outras épocas; na dinâmica do relaciona-mento do casal, que recebe impactos com profundas repercussões.

    E quando não há casal? Sem proteção anticoncepcional e-ciente, a mulher pode ser fecundada num encontro esporádico, semintenção de compromisso. A partir daí, pode até fazer aborto sem

    que o homem tenha a menor noção de tê-la fecundado; pior ainda,pode até mesmo resolver ter o neném, se acalentava há muitos anosum projeto de “produção independente”, sem que o homem tomeconhecimento dessa paternidade. Foi reprodutor sem saber.

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    Muitas mulheres adiam a decisão de ter um lho por nãoterem ainda encontrado um homem com quem gostariam deformar um casal e uma família; ou, então, porque um lho nãocabia dentro do seu esquema de trabalho, estudo ou ascensãoprossional. No entanto, entre trinta e quarenta anos, aumen-ta progressivamente a pressão do “relógio biológico”. Algumasmulheres se sentem tão autônomas e livres de qualquer depen-

    dência com os homens que resolvem ter lhos “sem pai”.Há também as gestações não planejadas que ocorrem

    fora do casamento ou sem que haja um vínculo estável. Antesdos exames de DNA e da aplicação mais ecaz das leis referentesà responsabilidade paterna, muitos homens recusavam-se a re-conhecer a paternidade, rejeitando até mesmo a possibilidade

    de conhecer a criança. Isso ainda acontece com frequência nasclasses de menor poder aquisitivo. A criança que se desenvolvenuma família sem afetividade é candidata a uma futura margi-nalização social.

    Como o poder de decisão de interromper ou de dar pros-seguimento à gestação é fundamentalmente da mulher, o homem

    se angustia com essa questão da paternidade à revelia: mesmoquando resiste a assumir sua responsabilidade com o lho, e evitao contato, ele sabe que o gerou. Essa criança, de algum modo,ca registrada na história desse homem.

    E há os casos em que o casal ocializa sua união a partirda gestação, modicando a ordem natural dos acontecimentos.

     A vinda do lho precipita a decisão de casar-se, como acontececom muitos adolescentes, que acabam vivendo simultaneamen-te várias etapas do desenvolvimento: transição para o mundoadulto, casamento, maternidade e paternidade.

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    Na primeira gestação, as mudanças são mais radicais; a par-tir do momento em que se toma conhecimento da gravidez nãose trata mais só de um homem e de uma mulher formando um

     vínculo, mas de um pai e de uma mãe criando um vínculo comum terceiro – o lho. Passa-se, portanto, de uma relação a doispara uma relação a três. O homem e a mulher deixam de ser ape-nas lhos para se tornarem também pais. Essa transição é muito

    importante e acarreta expectativas, anseios e temores. Apesar do vínculo entre o homem e a mulher ser sempre mutá-

     vel, jamais estático, modicando-se de uma forma ou de outra no de-correr do tempo, há certos padrões mais constantes que perduram pormuito tempo. Algumas mudanças mais signicativas na vida, como aespera de um lho, podem abalar os padrões do relacionamento. Por

    exemplo, quando o homem se sente muito dependente da mulher,solicitando-a a todo instante para que faça coisas por ele ou para ele,quando a mulher se sente muito frágil, insegura e dependente da pro-teção do homem, a vinda de um lho pode ser sentida como ameaçade romper o equilíbrio já estabelecido. O homem pode temer ser “dei-xado de lado” com a chegada do “intruso”, ao ver a mulher voltar-se

    inteiramente para o bebê; a mulher pode temer ser menos querida queo lho, ter que dar de si mais do que receber, proteger mais do queser protegida, cuidar mais do que ser cuidada. O bebê pode ser vistocomo um rival a competir pela partilha do amor.

    A MISTURA DOS SENTIMENTOSQuando olhamos mais a fundo para a complexidade dos

    sentimentos em relação ao lho que está sendo gestado, torna-se

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    mais fácil entrar em contato com a ambivalência – a balança doquerer e do não querer, da aceitação e da não aceitação, da alegriae do temor. A decisão de ter um lho é muito séria, principal-mente porque envolve um compromisso irreversível para o restoda vida. Isso é muito profundo para suscitar apenas um tipo desentimento; ao contrário, faz surgir uma gama de sensações ede emoções em diferentes intensidades.

    Mesmo quando desejamos a vinda de um lho, há sem-pre uma parcela de dúvida; o atraso menstrual é vivido com ummisto de alegria e apreensão: “Seria bom que viesse, melhor senão viesse” ou “Seria bom que não viesse, melhor se viesse”. Damesma forma, quando a gravidez ocorre num momento inespe-rado e inoportuno, pode prevalecer o sentimento de não querer

    o lho, mesmo assim sempre há uma parcela de querer – “Quemsabe não está tão fora de hora”.

    Essa mistura de sentimentos não existe apenas na gravideznem somente na relação dos pais com o bebê. É a tônica de todoe qualquer relacionamento humano importante. Todo homem etoda mulher que tenham entre si um vínculo forte com certeza

    sabem o que signica essa mistura de sentimentos, na medida emque vivenciam amor, raiva, irritação, alegria, ressentimento, má-goa ou contentamento um com o outro nos diferentes momen-tos do relacionamento. Pais e mães sentem claramente essa mis-tura de momentos de amor e ternura com momentos de raiva,impaciência e intolerância com os lhos. É fundamental admitir

    que a ambivalência existe, pois ela vai se manifestar de inúmerasformas no decorrer da gestação e após o nascimento do bebê. A intensidade dessa mistura de sentimentos em relação

    à situação de ter um lho varia não só de pessoa para pessoa,

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    mas também de acordo com a época ou momento de vida queatravessamos. Pode ser mais sentida na gestação ou somentedepois do nascimento; pode ser mais intensa quando a gravidezocorre num momento de vida difícil, que exija a renúncia demuitos planos e atividades. Para muitas pessoas, é difícil dar-seconta desses sentimentos variados em relação ao lho, porque

     vivenciam o “não querer” como errado e inaceitável; tentam,

    portanto, abafar e negar para si próprias a existência desses sen-timentos ou, então, passam a enxergá-los no parceiro. Muitas

     vezes, a mulher se queixa de que o homem se mostra indiferen-te e desinteressado pelo bebê que está sendo gestado, como seprecisasse enxergar nele os sentimentos “maus” para que elapossa car somente com os “bons”.

    O sentimento de não desejar o lho pode predominar nodecorrer da formação do vínculo: a criança que cresce perceben-do isso vive a dor da rejeição, o que pode trazer consequênciassérias em seu desenvolvimento. Algumas conseguem procuraramor e aceitação em outras pessoas e crescem bem, apesar dodesamor dos pais; outras, por conta de suas características caris-

    máticas, conseguem conquistar o amor dos próprios pais, modi-cando a postura de rejeição inicial.

    AS REPERCUSSÕES DA GRAVIDEZNA MULHER E NO HOMEM

    O impacto, as vivências e as repercussões da gravidez são,naturalmente, bastante diferentes na mulher e no homem. Em-bora a contribuição de um e de outro seja idêntica, é a mulher que

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     vai sentir o lho crescer dentro de si, dar à luz e amamentá-lo.Isso pode suscitar no homem sentimentos de ciúme e inveja dacapacidade feminina de gestar e nutrir o lho. Há vários graus departicipação do homem na gravidez: por não ter o neném dentrode si, é comum não conseguir criar um vínculo muito concreto esólido com o lho que ainda está sendo gestado. Quando acon-tece um aborto ou uma ameaça de perder o neném, muitos ho-

    mens se preocupam com o que está acontecendo com a mulhere sentem-se deprimidos mais por causa da tristeza da mulher doque por causa da perda do neném em si. A “gestação” do vínculopai-lho costuma ser mais lenta, consolidando-se gradualmenteapós o nascimento e à medida que a criança vai se desenvolven-do. Muitas mulheres se queixam desse pouco envolvimento do

    homem no início da gestação.Por outro lado, há o homem que se sente excluído por não

    poder participar diretamente do contato com o lho que estásendo gestado. Muitas vezes, chega a sentir coisas semelhantes àssensações da mulher, tais como náuseas ou aumento de apetite ede sono; tenta sentir o lho colocando a mão no ventre da mu-

    lher para captar-lhe os movimentos; procura todas as informa-ções disponíveis a respeito da gravidez, parto e cuidados com obebê. No entanto, por maior que seja a sua participação em todoesse processo, é impossível compartilhar tudo, pois as vivênciasfemininas não são idênticas às masculinas.

    Quando o homem se exclui, evita envolver-se com a gravidez

    e, em diferentes graus de intensidade, põe-se à margem do proces-so, participando pouco inclusive depois que o bebê nasce. É comose a gravidez, o parto e os cuidados com o bebê fossem coisasexclusivamente femininas, às quais ele não pode ou não deve ter

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    acesso. A educação machista tende a reprimir a ternura nos homense a iniciativa nas mulheres. Entretanto, em diferentes momentosda vida, precisamos tanto de uma quanto da outra. A mulher nãoca masculinizada quando age com rmeza, nem o homem deixade ser másculo quando cuida do bebê. Muitas pesquisas sobre odesenvolvimento precoce do ser humano mostram claramente queos recém-nascidos são sensíveis e receptivos ao contato com o pai,

    necessitando tanto da “paternagem” quanto da “maternagem”.Quando nascem gêmeos, a sobrecarga de cuidar de dois ou

    mais recém-nascidos é enorme. Isso convida ainda mais o pai a par-ticipar da vida dos lhos não só como provedor, mas também comocuidador, revezando com a mulher e complementando o envolvi-mento da mãe nos cuidados com os bebês. Não raro, a presença de

    outros familiares precisa ser solicitada, para que a família possa darconta das múltiplas necessidades do atendimento aos gêmeos.

    Portanto, apesar dos diferentes graus de envolvimento, agravidez tem repercussões muito importantes no pai, a pontode se poder falar em termos de “casal grávido”. Anal, comohomem e mulher à espera de um lho, temos por tarefa ampliar

    um espaço dentro de nós mesmos para acolher emocionalmenteo bebê e, sobretudo, aproveitar a oportunidade de poder gestarnão só o lho, mas também um novo ser dentro de nós.

    ABORTO: A GUERRA ENTRE

    O MEDO E O DESEJO Às vezes, a gravidez acontece numa época favorável, em

    que o desejo de ter, acolher e criar o lho predomina sobre o

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    medo de assumir esse compromisso e as mudanças de vida queele acarreta. Outras vezes, a mesma pessoa que já teve outroslhos passa pelo dilema da decisão – ter ou não ter? – quandosurge uma gravidez “fora de hora” ou “fora de contexto”: “Nãoestava em nosso planejamento”; “Não tenho condições de criarmais um lho”; “Estou separada há pouco tempo e engravideide um namorado que nem é tão importante”; “A minha amante

    engravidou e eu não quero ter um lho fora do casamento”. Ehá quem nem pretenda ter lhos, pelo menos no momento: “Sermãe, com15 anos?”; “Não quero me prender nem a mulher nema lhos”; “Quero fazer minha carreira e um lho vai me atrapa-lhar”; “Acho que a mulher não precisa ter lhos para se realizar”;“A vida está dura e difícil: pra que botar mais uma criança no

    mundo?”; “Estamos acostumados a uma vida sem rotina e semhorários; se tivermos um lho, vamos ter que reformular tudo”.

     Apesar da existência de métodos anticoncepcionais altamenteecazes (por exemplo, o anticoncepcional injetável administradouma vez por mês ou a pílula quando tomada regularmente tem98% de ecácia), é muito grande a incidência de gestações não

    planejadas. Isso acontece não tanto pela falha dos métodos, maspor seu uso incorreto. Embora o aborto seja ilegal e considera-do prática criminosa em muitos países, os casos de interrupção

     voluntária da gravidez atingem a cifra de milhões por ano. Namaioria das vezes, não é uma decisão fácil, nessa guerra entre omedo e o desejo, dentro de cada pessoa e entre o casal.

    Há mulheres que vivem com muita amargura a pressãodo companheiro para abortar o lho não desejado. O ressen-timento decorrente do aborto às vezes é tão grande que podeaté mesmo contribuir para o rompimento do vínculo entre os

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    dois. Essa mágoa pode perdurar por muitos anos, mesmo apóso término do relacionamento. Outras abortam por medo deassumir a responsabilidade sozinhas, por não contar com oapoio e a aceitação do companheiro, por priorizar a carreiraprossional ou por razões econômicas. Por sua vez, há homensque se entristecem quando desejam o lho inesperado, mas amulher insiste em não tê-lo por medo das transformações a

    serem enfrentadas seja pelas renúncias ou mudanças de projetode estudo ou de trabalho.

    Medo de perder a beleza do corpo e acabar sendo rejeitadacomo mulher; sentimento de não gostar de crianças; medo derepetir com o lho a convivência conitada que teve com ospróprios pais; medo por se sentir imatura e despreparada para

    criar um lho, ou medo por achar que “já passou da idade” e nãotem mais disposição para cuidar de bebezinhos. A lista é grande:quando os medos são muito fortes podem até fazer surgir a con-

     vicção de que não existe o desejo de procriar.Há quem nem pense muito e logo decida interromper a

    gravidez – “Filhos? Nem pensar!” – sem entrar em conitos,

    dúvidas, culpa. Há quem pondere prós e contras, tomando a de-cisão de abortar com tristeza e pesar – “Infelizmente, é a melhoropção”. Há quem que dias ou semanas num dilema terrível,pendurado entre o medo e o desejo, com diculdades de chegara uma decisão. Há quem decida enfrentar os obstáculos e, a qual-quer custo, abrir espaço para a vinda do lho: é a oportunidade

    de descobrir que, na maioria das vezes, as diculdades enfrenta-das são menos terríveis do que as diculdades imaginadas. Ter o neném e criá-lo, abortar, pari-lo e doar a criança: três

    decisões que carão registradas na história das pessoas e terão

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    repercussões importantes na vida de cada uma. Quando o coni-to é grande, ajuda ter alguém que possa escutar atentamente, semjulgar, opinar ou criticar. Alguém que saiba ouvir, iluminar novosângulos do problema, fazer perguntas que ajudem a reetir, am-pliar dados para melhor pensar e decidir.

     Alguns países já legalizaram a interrupção voluntária dagravidez; em outros, como o Brasil, só se permite o aborto em

    condições especiais, como nos casos de gravidez resultante deestupro ou que coloque em sério risco a vida da mulher. Tecni-camente, a interrupção da gravidez é um procedimento simples,em especial quando realizada no início da gestação, sob condi-ções assistenciais adequadas; feita em condições precárias e ina-dequadas, pode provocar problemas graves, tais como infecções

    ou roturas uterinas, colocando em risco a vida da mulher. A guerra entre o medo e o desejo tem outros matizes nos

    casos de aborto espontâneo. Com a evolução dos recursos de as-sistência a prematuros, o que antes era perda gestacional hoje ébebê prematuro de até quatro ou cinco meses de gestação, compossibilidades de sobreviver. Há casos referidos de bebês prematu-

    ros que nasceram com apenas 250g e conseguiram se desenvolver.Mas restam os casos de perda da gestação no primeiro trimestre eque às vezes se repetem em razão de problemas de desequilíbriohormonal, do colo do útero ou de malformação do ovo. Nesseúltimo caso, o aborto espontâneo é a maneira que a natureza en-contra para reduzir a incidência de anomalias genéticas.

    O sangramento que surge na gravidez é sinal de alarme: oque está acontecendo e o que é necessário fazer para evitar o abor-to? Atualmente, há medicamentos muito ecazes para prevençãoe tratamento dos fatores responsáveis pelo aborto e técnicas de

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    diagnóstico mais elaboradas, que permitem detectar as reais di-culdades. Mas nem tudo é infalível e as perdas acontecem, tra-zendo tristeza, desapontamento, desesperança. Junto a isso tudo,podem trazer também alívio quando há o conito entre querer enão querer embarcar na aventura de ter um lho.

    De qualquer forma, perda é perda. Para muitos, foi apenas“um feto que não vingou” e, dentro em breve, o casal poderá

    tentar uma nova gravidez. Mas, para a mulher, em especial, essa éuma dor silenciosa, que não encontra consolo com frases do tipo“Você é jovem, logo poderá engravidar outra vez”. Ela perdeu olho, uma pessoa pequenina que abrigava em seu interior. Mes-mo que já tenha ou venha a ter outros lhos, este em particularfoi perdido e não poderá ser substituído em sua história. Muitas

     vezes, essa perda traz sentimentos de culpa, sensação de impo-tência e de fracasso, raiva do próprio corpo que não conseguiulevar adiante a gestação, remorso por ter feito coisas que possamter contribuído para essa perda, inveja de outras mulheres queconseguiram car grávidas. É importante ter pessoas que saibamescutar e entender a dor desse luto.

     A gravidez ectópica acontece quando o ovo se implanta forado útero. O mais comum é a implantação na trompa quando, poralgum motivo, o ovo não consegue migrar até o útero. Na gravideztubária, além do lho perdido, há o risco de morte da mulher e aperda da trompa, quando o embrião não é naturalmente reabsorvidono organismo ou quando não consegue ser removido por cirurgia

    antes do rompimento da trompa. Quando este ocorre, há hemor-ragia e a necessidade de fazer cirurgia de emergência para remover oembrião e a trompa; nesse caso, a mulher tem também que enfrentara dor da redução da probabilidade de engravidar outra vez.

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