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NOITES NMADESmos conscientes das dificuldades e das vicissitudes inerentes a tal tarefa.Em segundo lugar, acreditamos que este estudo tambm possa contribuir para o amplo debate em torno dos impasses recentes da clnica psicanaltica contempornea no que diz respeito s formas de abordagem apreenso do sujeito. Ou seja, procuramos demonstrar, no mbito das culturas jovens urbanas, as agudas transformaes que vm se operando nas modalidades de comunicao, distanciadas da valorizao da dimenso discursiva da linguagem. Neste sentido, apresentamos ao leitor um vasto conjunto de exemplos de abordagens da subjetividade, cujo eixo central de expresso ancora se na performance corporal, na nfase sobre o ttil, o situacional e, principalmente, sobre a interatividade. O conjunto dessas transformaes apresenta, sem dvida, impactos significativos sobre como tratar e curar sujeitos que cada vez mais se encontram afastados dos recursos tradicionais com que a clnica psit analtu a ale hoje contou: reflexividade, interioridade, autoconlirt iinento I ste estudo, portanto, procura contribuir para o desafio e < > impasse (|ue assolam os modos de subjetivao contempoiiu >s Nessa perspectiva, a dimenso da exteriorizao (l.i existem u vem delineando novas configuraes da vida subjetiva qu< apontam para a necessidade de se repensar a prpria est mi ma d< > . i 1'uali lamente a esta necessidade, redesenham se tcm|>ialulad< .',eiando impass< < peipl< s uI.kl< . para todos ns. Este livro resulta em uma t< num i .1. map< amento dessas transformaes, assim < omo > m um i n I nu i toda tirania de seus impasses.Captulo IGEOGRAFIA DA NIGHTOs nmades no tm uma histria, s tm uma geografia.GILLES DELEUZE E FLIX GUATTARI, Mil plats: capitalismo e esquizofrenia vasto e mltiplo o espectro de autores e linhas de pensamento que se entrecruzam em seus diagnsticos, enfatizando que o espao teria substitudo o tempo como princpio de inteligibilidade das formaes culturais contemporneas1. A constatao desconcertante de "que nossa vida cotidiana, nossas experincias psquicas, nossas linguagens culturais so hoje dominadas pelas categorias de espao e no pelas de tempo, como o eram no perodo anterior do alto modernismo"2, longe de esgotar as discusses, apenas o ponto de partida para a configurao de um saber interdisciplinar, em sintonia com as transformaes empricas.O debate a respeito da espacialidade tornou-se estratgico para a compreenso de questes centrais das Cincias Sociais contemporneas. Em torno dessa temtica produziu-se um conjunto de reflexes na interface entre a Sociologia, a Antropologia, os Estudos Culturais e, mesmo, a Psicanlise e a Filosofia. Surgiu, assim, na ltima dcada, uma nova "geografia cultural", estruturada em torno de trs parmetros tericos: as noes de espao e lugar no envolvem sries de relaes fora da sociedade, mas esto implicadas na prpria produo das relaes sociais e so, em si mesmas, socialmente produzidas; as relaes es-26NOITES NMADESGEOGRAFIA DA NIGHT27paciais e os lugares a elas associados so mltiplas e contestveis3; a nfase no espao traz, em si mesma, um novo modo de abordar o tempo4.ESPACIALIDADES CONTEMPORNEASEm um artigo pioneiro intitulado "Os espaos outros", Michel Foucault atribui ao deslocamento das relaes entre tempo e espao a causa da inquietude contempornea. Se "a poca atual , antes de mais nada, a poca do espao"5, o novo regime espacial constituiu-se em torno de uma srie de transformaes a partir das quais a produo social do espao substituiu a localizao fsica. Foucault, porm, no est interessado apenas em apontar para a centralidade do espao, mas para sua flexibilizao, pois a contemporaneidade estaria experimentando uma "dessacralizao prtica do espao"6, assim como ocorreu com o tempo durante a modernidade.A partir desse interesse, Foucault dedica-se a pensar os lugares "que tm a curiosa propriedade de estar em relao com todos os outros, mas sob um modo tal que eles suspendem, neutralizam ou invertem o conjunto das relaes que se encontram, para eles, previamente designadas"7. Esses espaos seriam "diferentes" dos espaos culturais ordinrios nos quais vivemos, e Foucault prope cham-los de "heterotpicos" para diferenci- los dos espaos "utpicos". Embora ambos se refiram a uma contestao a um s tempo mtica e real da ordem espacial concreta em que vivemos, as heterotopias so lugares efetivamente realizados, enquanto as utopias no tm existncia concreta. As heterotopias seriam, assim, "lugares outros em relao aos espaos culturais ordinrios"8.Para viabilizar uma "heterotopologia", ou seja, uma descrio sistemtica dos espaos heterotpicos, preciso levar em conta alguns aspectos: no h sociedade sem heterotopias; o fun- i loilamento destas pode variar historicamente; as heterotopias i('mi a capacidade de justapor vrios espaos, em si mesmos nu ompatveis; as heterotopias esto associadas freqentemente 11 upturas com o tempo tradicional ("heterocronias"); as heterotopias supem um sistema de abertura e fechamento espacial que as isola e as torna penetrveis simultaneamente.O que constitui o carter singular desses espaos, sua "alte- i idade", a relao de diferena que estabelecem com outros espaos, de modo a produzir uma desestabilizao das relaes espaciais em torno de prticas sociais e discursivas. Desde que Foucault o introduziu, o conceito de "heterotopia" tem sido utilizado, por diferentes autores, especialmente no mbito das culturas jovens, sempre referidos a formaes identitrias e atos de resistncia vinculados a lugares "alternativos". Kevin Hether- nigton um dos autores que melhor interpretam a dimenso relacional dos espaos heterotpicos. Segundo ele, nenhum espao pode ser descrito de modo fixo como heterotpico, pois estes tm significados mltiplos e variveis para os agentes sociais, dependendo de sua situao especfica. Alm do mais, no dizem respeito, a priori, resistncia ou ordem, mas podem estar relacionados a um ou a outro, j que envolvem o estabelecimento de modos alternativos de organizao.Concordamos com a formulao desse autor, segundo a qual " essa combinao heterognea entre materialidade, prticas sociais e eventos situados e o que eles representam em oposio a outros espaos, que nos permite cham-los de heterotpicos"9. E tambm que as heterotopias envolvem novos modos espaciais de interao social e discurso, em uma palavra, sociabilidade. Todavia, discordamos que os espaos heterotpicos possam ser definidos meramente por uma diferena de representao em torno de formas alternativas de organizao espacial. As heterotopias definem-se fundamentalmente por prticas espa- cializantes, a um s tempo concretas e simblicas, que no se encontram, necessariamente, localizadas e no esto sempre condicionadas por variveis ideolgicas ou movimentos de resistncia.Do ponto de vista conceituai, a conhecida diferenciao entre "espao" e "lugar" proposta por Michel De Certeau, bem como sua definio do espao como "lugar praticado", revela-se estratgica para nossa argumentao. Segundo esse autor, o lugar a ordem segundo a qual os diferentes elementos (tanto volumes quanto superfcies) que compem materialmente a realidade organizam-se uns em relao aos outros, segundo eixos precisos (ordenadas e coordenadas). A possibilidade, para duas coisas, de ocuparem o mesmo lugar est, portanto, excluda. Assim definido, o lugar abarca "uma configurao instantnea de posies" e "implica uma indicao de estabilidade", j que os elementos considerados "se acham uns ao lado dos outros, cada um situado num lugar 'prprio' e distinto"10.Diferentemente do lugar, o espao no possui a unicidade e a estabilidade apontadas anteriormente. Ao contrrio, "existe espao sempre que se tomam em conta vetores de direo, quantidades de velocidade e a varivel tempo". Nesse sentido, o espao constitudo pelo cruzamento de mveis, sejam eles corpos ou fragmentos, e "animado pelo conjunto dos movimentos que a se desdobram". O espao, portanto, " o efeito produzido pelas operaes que o orientam, o circunstanciam, o temporalizam e o levam a funcionar em torno da unidade polivalente de programas conflituosos"11.Seguindo as sugestes de Foucault e De Certeau, nosso argumento est voltado para os movimentos contemporneos de reescritura do "espao", considerado como resultante de prticas histricas e contingentes, para alm das coordenadas estticas que definem a ordem dos lugares. Trata-se, portanto, de pensar o tempo e o espao conjuntamente, e a ambos como produtos de inter-relaes, pois "uma vez superada a hiptese de que espao e tempo so categorias mutuamente exclusivas, uma vez admitido que o espao composto por uma multiplicidade de histrias, percebe-se que nada poderia ser a um s tempo mais ordenado e mais catico que o espao, com todas as suas justaposies inusitadas e efeitos emergentes involuntrios"12.O trao poltico-cultural mais caracterstico da contemporaneidade parece ser, justamente, as mltiplas transformaes pelas quais vem passando a metrpole como modelo de organizao social e espacial. Segundo o antroplogo italiano Massimo Canevacci, "estamos transitando de uma forma-cidade como corao da modernidade, com precisos contornos espaciais, perspectivas geomtricas e divises em classes precisas, cidade para ser construda no projeto e atravs do projeto, a uma forma-metrpole que dissolve tudo isso: uma metrpole comunicativa"13.A identidade da nova forma-metrpole no seria determinada por seus limites materiais precisos, mas por fluxos comunicacionais que instauram um duplo processo de fragmentao e recombinao, em todos os nveis. Desse modo, a metrpole contempornea policntrica, pois "difunde-se e prolifera-se em mltiplas direes", e polifnica, pois nela "novos tipos de culturas fortemente pluralizados e fragmentados espalham-se e transitam"14.Isso introduz um elemento criativo nas experincias subjetivas e sociais que desestabiliza as identidades estveis, em suas dimenses filosficas, antropolgicas e jurdicas, produzindo identidades mltiplas e nomadismos psquicos centrados fundamentalmente na estetizao do corpo. Desse modo, "uma pluralidade de culturas (e subculturas, com estilos de vida e identidade a-tempo[rais], vidas estetizadas, modas descartveis) fragmenta a metrpole e a dilata sem mais fronteiras definidas: as fronteiras so mveis como as identidades, fronteiras plurais e polifnicas"15.A mutao da forma-metrpole apontada por Canevacci, na verdade, parte de um conjunto mais amplo de transformaes que tem chamado a ateno de diferentes autores. O arquiteto e filsofo francs Paul Virilio, por exemplo, considera que os meios de comunicao de massa, tal como redefinidos pelas tecnologias virtuais, exercem um forte impacto sobre a arquitetura das cidades e as formas de experincia urbana. Sua anlise da sociedade tecnolgica atual aponta para o surgimento de uma nova configurao de espao e tempo que produz fenmenos socioculturais complexos, provocando a alterao das nossas referncias perceptivas, cognitivas e polticas.A chave da leitura que Virilio prope a respeito da contemporaneidade reside na idia de que os meios de comunicao de massa organizam o "mundo" em funo da produo e difuso de informaes e imagens, cujo princpio o binmio distncia- velocidade; mais precisamente, a dissoluo das distncias em funo dos processos de acelerao. A originalidade dessa abordagem reside na considerao do tempo como vetor privilegiado da nova configurao espacial, responsvel pela desestabilizao das aparncias sensveis e dos modos de experincia.Segundo ele, uma das conseqncias culturais das tecnologias virtuais a dissoluo da viso de mundo dominada pela geometria euclidiana das superfcies regradas, baseada na harmonia e na proporo das formas. Essa viso cede a um novo tipo de percepo, na qual a presena fsica perde progressivamente seu valor analtico para a apreenso da realidade, "em benefcio de outras fontes de avaliao eletrnica do espao e do tempo que nada tm em comum com as do passado"16. A partir dessa nova relao de foras entre a distncia e a velocidade, a era virtual marca a passagem do espao "substancial" (contnuo e homogneo) para o espao "acidental" (descontnuo e heterogneo), no qual a intercambialidade passa a preponderar sobre a localizao.Assim como todos os outros aspectos da realidade objetiva, o espao urbano tambm composto e decomposto por sistemas de trnsito e transmisso de informaes e imagens, o que tlissolve os principais eixos de referncia que pautavam a expe- i lncia da cidade, tanto em termos simblicos e histricos (comdeclnio da centralidade e da axialidade), quanto em termos geomtricos (com a desvalorizao da antiga repartio das dimenses fsicas). Isso significa que a teletopologia dissolve a lorma urbana: "unidade de lugar sem unidade de tempo, a cida- (le desaparece ento na heterogeneidade do regime temporal das (< nologias avanadas"17. Na cidade "superexposta" contempo-.hiea, libera-se um elemento constitutivo das experincias sociais, a "trajetividade", que formas anteriores de organizao urbana teriam minimizado, devido opo pelo sedentarismo. Seriam esses modos de circulao, especficos do mundo contemporneo, passveis de um olhar antropolgico?li inegvel que a contemporaneidade constituiu-se por um conjunto de transformaes que produziram uma forma de experincia cultural qualitativamente distinta daquela que carac- ici izou os diferentes desdobramentos da modernidade. De acordo com o antroplogo francs Mare Aug, a chamada "hipermo- ilernidade" seria caracterizada pela acelerao, em todas as escalas da experincia social e subjetiva, o que gerou trs caracters- IK .is baseadas no excesso. A superabundncia espacial seria uma dessas caractersticas, mas no a nica, pois a contemporaneidade seria marcada tambm pela superabundncia factual e pela Miperabundncia identitria.Do ponto de vista da "hipermodernidade", a superabundn- ( i.i factual est relacionada no apenas crise do sistema de i cpresentao baseado na idia de progresso, mas tambm ace- leiao e multiplicao dos acontecimentos provocadas pela i evoluo tecnolgica nos meios de transporte e comunicao. I >o mesmo modo, a superabundncia espacial caracteriza-se pela crise dos sistemas de referncias baseados na idia de totalidade, crise esta produzida pela diminuio das distncias e pela Lu il idade de comunicao que dissolvem fronteiras materiais e culturais. A superabundncia identitria, estreitamente vinculada aos processos apontados anteriormente, caracteriza-se pela individualizao exacerbada das referncias, o que tornou mltiplos e flutuantes os mecanismos de identificao tanto individuais quanto coletivos.Se o desafio da modernidade parece ter sido pensar o tempo, na hipermodernidade "temos que reaprender a pensar o espao"18, pois a mudana na espacialidade o princpio ativo das figuras do excesso apontadas anteriormente. Concretamente, o regime espacial caracterstico da contemporaneidade implica mudanas de escala que se traduzem, concretamente, em modificaes fsicas notveis, como as concentraes urbanas, as migraes em massa e, especialmente, a multiplicao de lugares de trnsito ou passagem que Aug chamar de "no-lugares".Em termos descritivos, os "no-lugares" so constitudos pelas vias areas, ferrovirias, rodovirias e porturias, os domiclios mveis considerados "meios de transporte" (avies, trens, nibus, navios), as grandes cadeias de hotis, os parques de lazer, os grandes centros comerciais e, enfim, "as redes de cabo ou sem fio que mobilizam o espao extraterrestre para a comunicao"19. Em termos analticos, a categoria de "no-lugar" define- se em oposio noo antropolgica de "lugar", que se refere a culturas localizadas no tempo e no espao, em torno das quais se constroem representaes identitrias, coerentes e estveis. Desse modo, "se um lugar pode se definir como identitrio, relacional e histrico, um espao que no pode se definir nem como identitrio, nem como relacional, nem como histrico, definir um no-lugar"20.Aug esclarece que a categoria engloba duas realidades complementares, porm distintas. Por um lado, os espaos constitudos em relao a certos fins (transporte, trnsito, comrcio, lazer) e, por outro, a relao que os indivduos mantm com esses espaos. "Se as duas relaes se correspondem de maneira bastante ampla e, em todo caso, oficialmente (os indivduos via-I un. compram, repousam), no se confundem, no entanto, pois m n.io-lugares medeiam todo um conjunto de relaes consigo I-1 om os outros que s dizem respeito indiretamente a seus fins: i mi como os lugares antropolgicos criam um social orgnico, iin n.io-lugares criam tenso solitria."21 Os no-lugares estru- iim.mi-se em torno da passagem, do provisrio e do efmero e .i ibcleccm uma relao meramente contratual entre seus pas- t.inics annimos, cuja circulao regulada por mquinas auto- lli.Uii as e cartes de crdito. Neles, no possvel estabelecer h lapes, nem criar identidades singulares, mas sim individualidades solitrias.l'ara Aug, "o no-lugar o contrrio da utopia: ele existe e h.m abriga nenhuma sociedade orgnica"22. Canevacci critica essa concepo sociologicamente negativa do no-lugar e afirma oints preferidos pelos jovens de classe mdia, em sua deambula- (,1o noturna pelas festas e boates da cidade. l que os freqen- i .ulores assduos desses ambientes marcam encontros e se prepa- i .uri, com o consumo de lanches rpidos e bebidas, antes de par- iii para a night.Nos finais de semana, a chamada pr-night no posto comea por volta das 21h, quando um grande nmero de jovens se con- t entra no local em busca de contatos e informaes sobre as melhores opes noturnas da cidade. Ocupados por animados C.i npos, muitos carros, geralmente novos e de marcas e modelos v.ilorizados no mercado, so estacionados no ptio, alterando a < onfigurao espacial do local. Portas e malas so mantidas aber- I.is, para facilitar o acesso aos bancos e propagar o som, alis, bas- i.inte alto. Tem-se a impresso de que o posto tornou-se um ambiente lounge a cu aberto, no qual a permanncia breve, mas intensa. Esse ambiente composto, de modo fluido, por diferentes grupos que se sucedem at cerca de 6h da manh, quando os ltimos remanescentes se encontram para a ps-night, antes do momento, sempre adiado, de voltar para casa. Quem permanece no local observando o ritmo frentico em que as aglomeraes se lormam e se dispersam, como revoadas, entende por que Jos Machado Pais afirmou que "os jovens passaram a viver nos cus, migrando como pssaros"30.A trama rizomtica que liga os "guerreiros da night" - como .ao conhecidos esses jovens - extrapola o contexto material do posto. Atravs do uso compulsivo de telefones celulares, indivduos e grupos espalhados em diversos pontos da cidade permanecem conectados, formando uma verdadeira rede de comuni- ( aes simultneas. No interior dos carros em movimento, nas pequenas rodas que se formam no posto, nas portas e, como veremos adiante, at mesmo no interior das boates, o celular instrumento fundamental "para o uso dos nmades que tm que estar 'constantemente em contato'"31. "Celular no pra conversar, pra se achar. E pra usar na hora, instantneo." Um dos jovens entrevistados no posto de gasolina aponta o papel estratgico do celular no contexto da pr-night:A parada do posto mais um aquecimento da pr-night mesmo. Nego se ligando, marcando um tempo antes de chegar. Celular direto. Nego tambm fica sufocando nego que tem celular de conta e tal. Nego sem celular de conta [imita um menino pedindo o celular do amigo emprestado]: 'no,pera, rapidinho, uma ligaozinha', no sei qu. D uma ligada; fica a night inteira [fazendo graa dessa situao hipottica]. O posto mais pra voc ir com a galera. A vai l, nego bebe, no sei qu. A quem bebe, bebe, quem fuma, fuma, faz essas porra a. A nego vai e se liga: 'A, t onde?' 'Tantos aqui no Leblon, tamos partindo pra l tal hora.' 'Tranqilo.' Parte e se encontra l.Lanches rpidos, como hambrgueres, cachorros-quentes e batatas fritas so consumidos com avidez, bem como bebidas alcolicas, como a cerveja e as bebidas ice32. A opo predileta, porm, o gummy, drinque preparado instantaneamente com vodca, p de suco de frutas e, eventualmente, gelo ou gua gelada, j consagrado como a bebida "tpica" dos freqentadores da night. A parada estratgica na loja de convenincia permite, tambm, que os jovens se abasteam de um elemento essencial para a noite que promete ser marcada por muitos beijos na boca: as balas Halls, de preferncia no sabor cereja. O fumo est presente, mas no domina o ambiente, e o uso de drogas espordico, diramos mesmo que quase inexistente. Lembramos que esses mesmos jovens lotam, durante o dia, as academias de ginstica. Embora os cuidados com o corpo no os transformem, propriamente, em uma "gerao sade", seus efeitos se fazem sentir na moderao relativa - se comparada com outros segmentos da juventude - com que consomem fumo, drogas e mesmo bebidas alcolicas.Os grupos j chegam formados, ocupando um ou vrios carros, ou se formam no local, pois o posto um dos pontos de i ih uiitro favoritos da galera. Todos os grupos, porm, parecem milinictidos a uma lgica idntica de expanso que incorpora luivtr. elementos, refazendo de modo incessante sua configura- . ( < mu ial. A mobilidade tanta que alguns carros no chegam