noções de estrutura personalidade

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Noções de estrutura personalidade Bergeret (2006) diz que os termos neurótico ou psicótico (neurose ou psicose) são empregados para designar uma “doença”, ou seja, o estado de descompensação visível ao qual chegou uma estrutura, na seqüência de uma inadaptação da organização profunda e fixa do sujeito a circunstancias novas, interiores ou exteriores, tornados mais potentes que os meios de defesa de que ele dispõe. Mas esses dois termos podem ser utilizados referindo-se a noção de estrutura, das quais a doença não é senão uma das possibilidades evolutivas, mas não a única. Pouco a pouco o psiquismo se organiza se estrutura como um todo complexo, com traços originais que não poderão variar depois. Bergeret (2006) fala que essa organização e estruturantes do psiquismo individual começaram desde a infância, antes do nascimento em função da hereditariedade para certos fatores, mas, sobretudo do modo de relação com os pais, desde os primeiros momentos da vida, das frustrações, dos traumas, e dos conflitos encontrados, em função também das defesas organizadas pelo Ego para resistir às pressões internas e externas, das pulsões do Id e da realidade. Nas neuroses o conflito se situa entre o ego e as pulsões, a principal defesa é o recalcamento das representantes pulsionais; há investimento objetal e o processo secundário; não há desligamento da realidade. Na estrutura psicótica há uma recusa ( e não uma recalque) da realidade, o investimento objetal é precário, predominando o investimento narcísico; o processo primário se impõe, com seu caráter imperioso, imediatista. A Psicose não negocia com a realidade, como no caso da neurose; a recusa. A analise de um sintoma, antes de classificá-lo como neurótico ou psicótico deve ser considerado em toda a sua dimensão latente. Os sintomas por si só, não permitem julgar a organização estrutural profunda da personalidade. Pois mesmo sintomas considerados típicos de uma estrutura ou patologia podem estar camuflando a existência de outro tipo de organização.

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Noções de estruturas da personalidade segundo a visão psicanalítica, de acordo com o livro de Jean Bergeret

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Noes de estrutura personalidadeBergeret (2006) diz que os termos neurtico ou psictico (neurose ou psicose) so empregados para designar uma doena, ou seja, o estado de descompensao visvel ao qual chegou uma estrutura, na seqncia de uma inadaptao da organizao profunda e fixa do sujeito a circunstancias novas, interiores ou exteriores, tornados mais potentes que os meios de defesa de que ele dispe. Mas esses dois termos podem ser utilizados referindo-se a noo de estrutura, das quais a doena no seno uma das possibilidades evolutivas, mas no a nica.

Pouco a pouco o psiquismo se organiza se estrutura como um todo complexo, com traos originais que no podero variar depois. Bergeret (2006) fala que essa organizao e estruturantes do psiquismo individual comearam desde a infncia, antes do nascimento em funo da hereditariedade para certos fatores, mas, sobretudo do modo de relao com os pais, desde os primeiros momentos da vida, das frustraes, dos traumas, e dos conflitos encontrados, em funo tambm das defesas organizadas pelo Ego para resistir s presses internas e externas, das pulses do Id e da realidade.

Nas neuroses o conflito se situa entre o ego e as pulses, a principal defesa o recalcamento das representantes pulsionais; h investimento objetal e o processo secundrio; no h desligamento da realidade.

Na estrutura psictica h uma recusa ( e no uma recalque) da realidade, o investimento objetal precrio, predominando o investimento narcsico; o processo primrio se impe, com seu carter imperioso, imediatista. A Psicose no negocia com a realidade, como no caso da neurose; a recusa.

A analise de um sintoma, antes de classific-lo como neurtico ou psictico deve ser considerado em toda a sua dimenso latente. Os sintomas por si s, no permitem julgar a organizao estrutural profunda da personalidade. Pois mesmo sintomas considerados tpicos de uma estrutura ou patologia podem estar camuflando a existncia de outro tipo de organizao.

Em geral agrupam-se entre defesas ditas neurticas, o recalque, o deslocamento, a condensao, a simbolizao, etc.; e entre as defesas ditas psicticas, a projeo, a recusa da realidade, a duplicao do ego, a identificao projetiva, etc.

Alguns episdios no podem ser entendidos no sentido estrutural, sem uma referencia a todo o contexto pessoal mais antigo e latente.

Em crianas e adolescentes sinais manifestos e aparentes no podem ser identificados como correspondentes uma estrutura especificas, pois a personalidade ainda no esta formada, nem as estruturas psquicas definidas.

Mesmo em adultos, ho estados passageiros onde as antigas identificaes so recolocadas em movimento por incidentes afetivos, h flutuaes no sentido de identidade e modificao no esquema corporal, mas isso indica uma mudana de estrutura, no implica que o sujeito esteja em um estado pr-psictico.

Bergeret (1998) pontua que nos verdadeiros episdios mrbidos, os termos neurtico e psictico designam um estado de desapontao visvel em relao estrutura prpria e profunda. uma forma de comportamento mais ou menos durvel, que emana realmente da estrutura profunda, conseqente a impossibilidade de enfrentar circunstncias novas, internas ou externas que ficaram mais poderosas do que as defesas habitualmente mobilizveis no contexto dos dados estruturais, e unicamente nesse contexto. Com efeito, uma doena pode eclodir somente na estrutura que lhe corresponde, e tal estrutura no pode dar origem a qualquer doena. (Bergeret,1998, pg. 50)

O mesmo autor cita ainda que em psicopatologia a noo de estrutura corresponda aquilo que, em um estado psquico mrbido ou no, constitudo por elementos metapsicolgicos profundos e fundamentos da personalidade, fixados em um conjunto estvel definitivo.

Quando se analisa uma sintomatologia convm pesquisar o funcionamento mental e seus mecanismos fundamentais.

Fonte: https://psicologado.com/abordagens/psicanalise/nocao-de-estrutura-da-personalidade Psicologado.com

BERGERET, Jean. Personalidade Normal e Patolgica. 2 ed. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1991. 291p.

Estruturas Neurticas1 - Obsessiva.2 - Histrica de angstia.3 - Histrica de converso.Estruturas Psicticas1 - Esquizofrnica.2 - Paranica.3 - Melanclica.

Meus principais critrios de classificao, prximos das referncias de L. RANGELL (1965), sero similares para todas as categorias examinadas e essencialmente centrados em quatro fatores:- natureza da angstia latente;- modo de relao de objeto;- principais mecanismos de defesa;- modo de expresso habitual do sintoma.1. A linhagem estrutural psictica... a linhagem psictica parte do nvel das frustraes muito precoces, originando-se essencialmente do plo materno, pelo menos no que concerne s frustraes mais primitivas.Um ego que sofre srias fixaes e permanece bloqueado, ou ento regressa em seguida a este nvel, se pr-organiza mui rapidamente, em uma primeira etapa, conforme o modelo j exposto anteriormente, segundo a linha estrutural psictica, posta assim em funcionamento de modo bastante determinante.Isto apenas pode ocorrer durante a fase oral ou, o mais tarde, durante a primeira parte da fase anal, determinada por ABRAHAM como a fase anal de rejeio.Esta linha divisria situa-se, segundo ABRAHAM, do ponto de vista do desenvolvimento pulsional, entre o primeiro subestgio anal de rejeio e o segundo subestgio anal de reteno. Todas as regresses e fixaes situadas a montante desta linha de separao fundamental corresponderiam s estruturaes psicticas: a estrutura esquizofrnica apresentar-se-ia como a mais arcaica, a seguinte seria a estrutura melanclica (ou os comportamentos manacos defensivos da mesma organizao), depois viria, por ltimo, bem encostada linha divisria, a estrutura paranica, a menos regressiva do grupo das estruturas psicticas, no plano pulsional.Aquilo que, em contrapartida, se situasse da "divided line" de K. ABRAHAM, corresponderia s estruturaes do modo neurtico, comeando pela estrutura obsessiva, continuando depois pela estrutura histrica...... casos de eventual desvio da linhagem psictica pr-estruturada para uma linhagem de estruturao definida de tipo neurtico por ocasio da adolescncia (e possvel unicamente neste momento) mostram-se, infelizmente, muito raros, embora realizveis... somente uma psicoterapia bastante profunda, no plano da anlise das defesas, na transferncia, pode levar a uma mudana de linhagem estrutural.Os principais mecanismos de defesa psicticos so: projeo, clivagem do ego (interior do ego, e no pela simples clivagem de imagos objetais), negao da realidade; todos estes mecanismos concorrem para com o nascimento de fenmenos de despersonalizao, de desdobramento da personalidade, ou ainda de simples desrealizao.2. A linhagem estrutural neurtica... se um sujeito desta linhagem adoecer, no poder faz-lo seno conforme um dos modos neurticos autnticos: neurose obsessiva e histeria (de angstia ou de converso), correspondentes s duas estruturas possveis de se encontrar no seio da linhagem estrutural neurtica em geral, a estrutura obsessiva e a estrutura histrica.A maneira como vivido o dipo matiza todas as variedades neurticas no seio da mesma linhagem. O superego apenas entra em jogo de forma efetiva depois do dipo, do qual o herdeiro. No se pode falar de superego propriamente dito, seno nas estruturas neurticas. O conflito neurtico situa-se entre o superego e as pulses e desenrola-se no interior do ego.A defesa neurtica caracterstica foi longamente descrita por FREUD sob o vocbulo "Verdrngung", traduzido por ns como "recalcamento". Embora outros mecanismos acessrios possam vir em auxlio deste recalcamento conforme as variedades neurticas, jamais se apela, contudo, negao da realidade, mesmo de forma parcial. A realidade pode achar-se transformada pela elaborao defensiva, mas permanece np negada. As exigncias do princpio do prazer sempre ficam mais ou menos submetidas ao controle do princpio da realidade.