noções de direito civil

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AULA 0: DAS PESSOAS NATURAISO primeiro captulo do Cdigo Civil se refere s Pessoas. Todo concurso que exige Direito Civil coloca este ponto no Edital. fundamental saber bem esta matria. Portanto aconselhamos o aluno a acompanhar esta aula com o Cdigo Civil na mo. Especialmente dos artigos 1o ao 78. Vamos ento iniciar. Podemos conceituar pessoa como sendo todo ente fsico ou jurdico, suscetvel de direitos e obrigaes. sinnimo de sujeito de direito. Nesta aula vamos nos ater Pessoa Natural, deixando a Pessoa Jurdica para a prxima. Nesta aula vamos falar sobre a personalidade (incio, individualizao e fim) capacidade e emancipao. Comecemos pela Personalidade. O artigo 1 do Cdigo Civil prev: Toda pessoa capaz de direitos e deveres na ordem civil. Assim, o conceito de Pessoa inclui homens, mulheres e crianas; qualquer ser humano sem distino de idade, sade mental, sexo, cor, raa, credo, nacionalidade, etc. Por outro lado o conceito exclui os animais, que gozam de proteo legal, mas no so sujeitos de direito, os seres inanimados, etc. Os examinadores de concursos pblicos gostam muito de pedir sinnimos nas provas. Portanto, sempre que possvel irei mencionar sinnimos de uma palavra. Mesmo correndo o risco de ser repetitivo. Mas melhor ser repetitivo e fazer com que o aluno grave a matria e fornecer o mximo de conceitos possvel, do que omitir determinado ponto. Falo isso porque h pouco tempo vi uma questo cair em uma prova indagando qual a diferena, para os efeitos de gozo de direitos na ordem civil, entre o autctone e o dvena. A questo era simples, mas se o aluno no soubesse o significado de tais palavras, no acertaria a questo. Autctone (ou aborgine) o que nasceu no Pas. E dvena o estrangeiro. Assim a questo queria saber qual a diferena entre o brasileiro e o estrangeiro quanto ao gozo de direitos. Resposta: no Direito Civil nenhuma, pois ambos so considerados sujeitos de direitos e obrigaes. Alm disso, o Direito (especialmente o Civil) usa muitas expresses em latim. Estas expresses no esto nas leis. doutrina. Mas costuma cair. Por isso irei fornecendo as expresses em latim, com sua traduo e real significado. Da mesma forma explicarei as posies doutrinrias que so adotadas pelos examinadores, orientaes jurisprudenciais, smulas, etc. Voltemos... No Brasil, a personalidade jurdica inicia-se com o nascimento com vida, ainda que por poucos momentos (Teoria da Natalidade). Preste ateno nisto: se a criana nascer com vida, ainda que por um instante, adquire a personalidade. Para se saber se nasceu viva e em seguida morreu, ou se nasceu morta, realizado um exame chamado de docimasia hidrosttica de Galeno, que consiste em colocar o pulmo da criana morta em uma soluo lquida; se boiar sinal de que a criana chegou a dar pelo menos uma inspirada e, portanto, nasceu com vida; se afundar, sinal de

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que no chegou a respirar e, portanto, nasceu morta. Atualmente a medicina dispe de tcnicas mais modernas e eficazes para tal constatao. No caiam em pegadinhas. Esta questo, apesar de simples tem cado muito, inclusive em concursos na rea jurdica. Sempre colocada uma alternativa dizendo que a personalidade se inicia com a concepo (gravidez) da mulher, ou que a criana tem de ter viabilidade (possibilidade de vida), ou que deva ter forma humana e at que ela se inicia com o corte do cordo umbelical. Tudo isso bobagem para nosso Direito. Nascer com vida ter respirado. Respirou... ento nasceu com vida e a personalidade se iniciou. Nascituro o que est por nascer. o ente que foi gerado ou concebido, mas ainda no nasceu. No tem personalidade jurdica, pois ainda no pessoa sob o ponto de vista jurdico. Apesar de no ter personalidade jurdica, a lei pe a salvo os direitos do nascituro desde a concepo. Ele tem expectativa de direito. Exemplo: pai morre deixando mulher grvida; no se abre inventrio at que nasa a criana o nascituro tem direito ao resguardo herana. Os direitos assegurados ao nascituro esto em estado potencial, sob condio suspensiva: s tero eficcia se nascer com vida. Adquirindo a personalidade (que consiste no conjunto de caracteres prprios da pessoa, sendo a aptido para adquirir direitos e contrair obrigaes), o ser humano adquire o direito de defender o que lhe prprio, como sua integridade fsica (vida, alimentos, etc.), intelectual (liberdade de pensamento, autoria cientfica, artstica e intelectual), moral (honra, segredo pessoal ou profissional, opo religiosa, sexual, etc.). Lembre-se: a dignidade um direito fundamental, previsto em nossa Constituio, que tambm prev que so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito de indenizao pelo dano material ou moral decorrente dessa violao. Os direitos da personalidade (leia o art. 11 do CC) so absolutos, intransmissveis, indisponveis, irrenunciveis e imprescritveis. Acompanhe os prximos artigos: O artigo 12 prev a possibilidade de exigir que cesse leso a direito da personalidade, por meio de ao prpria, sem prejuzo da reparao de eventuais danos materiais e morais suportados pela pessoa. A nova lei prev tambm a possibilidade de defesa do direito do morto, por meio de ao promovida por seus sucessores. O artigo 13 e seu pargrafo nico prev o direito de disposio de partes, separadas do prprio corpo em vida para fins de transplante, ao prescrever que, salvo por exigncia mdica, defeso o ato de disposio do prprio corpo, quando importar diminuio permanente da integridade fsica, ou contrariar os bons costumes. O ato previsto neste artigo ser admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial. possvel, tambm, com objetivo cientfico ou altrustico a disposio gratuita do prprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte, podendo essa disposio ser revogada a qualquer momento.

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Note agora que os artigos 16 a 19 do Cdigo Civil tutelam o direito ao nome contra atentado de terceiros, expondo-o ao desprezo pblico, ao ridculo, acarretando dano moral ou patrimonial. O artigo 20 tutela o direito imagem e os direitos a ele conexos (tambm artigo 5, XXVIII, a da Constituio Federal), que se refere ao direito de ningum ver seu rosto estampado em pblico ou mercantilizado sem seu consenso e o de no ter sua personalidade alterada material ou intelectualmente, causando dano sua reputao. H certas limitaes do direito de imagem, com dispensa da anuncia para sua divulgao (ex.: pessoa notria desde que no haja abusos, pois sua vida ntima deve ser preservada; exerccio de cargo pblico, etc.). Tutela, tambm, o Cdigo Civil em seu artigo 21 o direito intimidade prescrevendo que a vida privada da pessoa natural inviolvel (ex.: violao de domiclio, correspondncia, conversas telefnicas, etc.). de se esclarecer finalmente, que o Cdigo Civil no exauriu a matria. A enumerao exposta exemplificativa, deixando ao Juiz margem para que estenda a proteo a situaes no previstas expressamente. Ficou bem claro at aqui que a personalidade tem incio com o nascimento com vida, mas a lei pe a salvo os direitos do nascituro. Falemos agora sobre a individualizao da pessoa natural. Esta se d pelo: a) nome reconhecimento da pessoa na sociedade; b) estado posio na sociedade poltica; c) domiclio lugar da atividade social. Vamos comentar um a um desses temas. A) Nome o sinal exterior pelo qual se designa e se reconhece a pessoa na famlia e na sociedade. Trata-se de direito inalienvel e imprescritvel, essencial para o exerccio de direitos e cumprimento das obrigaes. Tambm conferido s pessoas jurdicas. protegido pela lei. So elementos constitutivos do nome: Prenome prprio da pessoa, pode ser simples (ex.: Joo, Jos, Rodrigo, Laura, Aparecida, etc.) ou composto (ex.: Jos Carlos, Antnio Pedro, Ana Maria, etc.). Patronmico - ou nome de famlia, ou apelido de famlia, ou sobrenome identifica a procedncia da pessoa, indicando sua filiao ou estirpe, podendo ser simples (ex.: Silva, Souza, Lobo, etc.) ou composto (ex.: Alcntara Machado; Lins e Silva, etc.). Agnome sinal distintivo entre pessoas da mesma famlia, que se acrescenta ao nome completo (ex.: Jnior, Filho, Neto, Sobrinho). H outros elementos facultativos como o cognome (apelido ou epteto), pseudnimo ou codinome (para o exerccio de uma atividade especfica cantor, ator, autor, etc) e axinimo (que representam os ttulos de nobreza, eclesistivos ou acadmicos Duque, Visconde, Bispo, Mestre, Doutor, etc), mas no tenho visto estas expresses carem em concursos.

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Em princpio o nome imutvel. No entanto o princpio da inalterabilidade do nome sofre excees em casos justificados (mais rigorosos em relao ao prenome e mais elsticos em relao ao sobrenome). A lei e a jurisprudncia admitem a retificao ou alterao de qualquer dos elementos. Vamos examinar alguns exemplos que vm caindo em concursos: expuser seu portador ao ridculo ou situaes vexatrias - artigo 55, pargrafo nico da Lei de Registros Pblicos - em princpio os nomes exticos ou ridculos no podem ser registrados, o oficial do Registro Pblico pode se recusar a registrar; mas se o forem podem ser alterados. houver erro grfico evidente (ex.: Nerson, Osvardo, etc.) - artigo 58, pargrafo nico da Lei de Registros Pblicos. causar embaraos comerciais homnimo - adio de mais um prenome ou do patronmico materno. uso prolongado e constante de um nome diverso do que figura no registro inclusive adicionando apelido ou alcunha (ex.: Luiz Incio Lula da Silva, Maria da Graa Xuxa Meneghel, etc.). unio estvel a lei permite que a companheira adote o patronmico do companheiro, se houver concordncia deste. primeiro ano aps a maioridade a lei permite a alterao, independentemente de justificao, desde que no prejudique o patronmico (art. 56 da L.R.P.). casamento cuidado com esse item. Atualmente o art. 1.565, 1 CC permite que qualquer dos nubentes acrescente ao seu o sobrenome do outro Outros exemplos: adoo, reconhecimento de filho, legitimao, divrcio, separao judicial, servio de proteo de vtimas, etc. B) Estado Civil - definido como sendo o modo particular de existir. Pode ser encarado sob 3 (trs) aspectos: Individual ou fsico idade (maior ou menor), sexo, sade mental e fsica, etc. Familiar indica a situao na famlia: quanto ao matrimnio: solteiro, casado, vivo, separado ou divorciado. quanto ao parentesco consangneo: pai, me, filho, av, irmo, primo, tio, etc. quanto afinidade: sogro, sogra, genro, nora, cunhado, etc. Poltico posio da pessoa dentro de um Pas: nacional (nato ou naturalizado), estrangeiro, aptrida. Como disse acima, os examinadores gostam de sinnimos. J vi cair em um concurso a palavra heimatlos como sinmimo de aptrida. O estado civil a soma de qualificaes da pessoa. uno e indivisvel, pois ningum pode ser simultaneamente casado e solteiro; maior e menor, etc. Regula-se por normas de ordem pblica. Por ser um reflexo da personalidade, no pode ser objeto de comrcio; um direito indisponvel, imprescritvel e irrenuncivel. As aes tendentes a afirmar, obter ou negar determinado estado

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so chamadas aes de estado (ex.: investigao de paternidade, divrcio, etc.), tambm personalssimas. C) Domiclio Este o item que requer maior cuidado do aluno. Dos trs elementos da individualizao da personalidade, o Domiclio o mais importante e que tem maior incidncia nas provas. Principalmente em relao ao domiclio necessrio como veremos logo a sergiur. O conceito de domiclio surge da necessidade legal que se tem de ficar as pessoas em determinado ponto do territrio nacional. , como regra, no foro de seu domiclio que o ru procurado para ser citado. Exemplo: se eu ingresso com uma ao, onde essa ao deve ser proposta?? Resposta no domiclio do ru. Se uma pessoa morre, onde deve ser proposta a ao de inventrio? No ltimo domiclio do de cujos (falecido). E assim por diante... O conceito de domiclio est sempre presente em nosso dia-a-dia, mesmo que no percebamos. Cumpre, inicialmente, fazer a seguinte distino: residncia o lugar em que o indivduo habita com a inteno de permanecer, mesmo que dele se ausente temporariamente; uma situao de fato. domiclio a sede da pessoa, tanto fsica como jurdica, onde se presume a presena para efeitos de direito e onde exerce ou pratica, habitualmente, seus atos e negcios jurdicos. o lugar onde a pessoa estabelece sua residncia com nimo definitivo de permanecer; um conceito jurdico. Regra bsica - O domiclio da pessoa natural o lugar onde ela estabelece residncia com nimo definitivo (art. 70 do Cdigo Civil). tambm domiclio da pessoa natural, quanto s relaes concernentes profisso, o lugar onde esta exercida (art. 72 do CC). Outras regras: Pessoa com vrias residncias, onde alternativamente viva domiclio qualquer delas pluralidade domiciliar. Pessoa sem residncia habitual, sem ponto central de negcios (ex.: circenses, ciganos) - domiclio o lugar onde for encontrado. importante saber as espcies de domiclio. comum cair algo dessa classificao em concursos. Para no confundir veja os seguintes conceitos de domiclio com ateno: 1 - Voluntrio escolhido livremente pela prpria vontade do indivduo (geral) ou estabelecido conforme interesses das partes em um contrato (especial). 2 - Legal ou necessrio a lei determina o domiclio em razo da condio ou situao de certas pessoas. Assim: incapazes (sobre incapacidade veja mais adiante) tm por domiclio o de seus representantes (pais, tutores ou curadores).

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servidor pblico domiclio no lugar onde exerce permanentemente sua funo. militar em servio ativo lugar onde servir; apenas o militar da ativa possui domiclio necessrio. preso lugar onde cumpre a deciso condenatria. oficiais e tripulantes da marinha mercante marinha mercante a que se ocupa do transporte de passageiros e mercadorias. O domiclio legal no lugar onde estiver matriculado o navio. Navio nacional o registrado na capitania do porto do domiclio de seu proprietrio. o agente diplomtico do Brasil que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade, sem indicar seu domiclio no pas, poder ser demandado no Distrito Federal ou no seu ltimo domiclio. 3 - Domiclio contratual, foro de eleio ou clusula de eleio de foro o domiclio eleito, escolhido pelas partes contratantes para o exerccio e cumprimento dos direitos e obrigaes. Este o que mais tem cado em concursos. o chamado domiclio voluntrio especial (art. 78 CC). No prevalece o foro de eleio quando se tratar de ao que verse sobre imveis; neste caso a competncia o da situao da coisa. H forte corrente jurisprudencial que nega o foro de eleio nos contratos de adeso, entendendo ser clusula abusiva, pois prejudica o consumidor, uma vez que o obriga a responder ao judicial em local diverso de seu domiclio ( nula a clusula que no fixar o domiclio do consumidor). Uma questo muito comum em concursos : uma pessoa pode ter mais de uma residncia? E mais de um domiclio? A resposta est no artigo 71: se a pessoa tiver diversas residncias, onde, alternadamente viva, considerar-se- domiclio seu qualquer delas. Portanto possvel a pluralidade de residncias e domiclios. J falamos sobre o incio e individualizao da personalidade. Vamos agora nos ater ao fim da personalidade. A personalidade da pessoa natural acaba com a morte. Verificada a morte de uma pessoa, desaparecem, como regra, os direitos e as obrigaes de natureza personalssima, sejam patrimoniais ou no. Os direitos no personalssimos (em especial os de natureza patrimonial) so transmitidos aos seus sucessores. Vamos falara sobre as espcies de morte: Morte Real - A personalidade termina com a morte fsica (real), deixando de ser sujeito de direitos e obrigaes (mors onmia solvit a morte tudo resolve). A morte real se d com o bito comprovado da pessoa natural, com ou sem o corpo. A prova da morte se faz com o atestado de bito ou pela justificao em caso de catstrofe e no encontro do corpo. Se um avio explode matando todos os passageiros, h o bito comprovado de todos; entretanto, provavelmente no teremos os corpos de todos. Mesmo assim houve a morte real (ex.: Ulisses Guimares foi declarado

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morto na Comarca de Ubatuba - Lei de Registros Pblicos - 6.015/73 - Art. 88 Podero os juzes togados admitir justificao para o assento de bito de pessoas desaparecidas em naufrgio, inundao, incndio, terremoto ou qualquer outra catstrofe, quando estiver provada a sua presena no local do desastre e no for possvel encontrar-se o cadver para exame). Morte Presumida - Alm da morte real, existe tambm em nosso Direito a morte presumida, que ocorre quando a pessoa for declarada ausente. Ausncia o desaparecimento de uma pessoa do seu domiclio, que deixa de dar notcias por longo perodo de tempo e sem deixar procurador para administrar seus bens (art. 22 CC). Os efeitos da morte presumida so patrimoniais e alguns pessoais. A ausncia s pode ser reconhecida por meio de um processo judicial composto de trs fases: a) curadoria de ausentes (ou de administrao provisria); b) sucesso provisria; c) sucesso definitiva. Ausente uma pessoa, qualquer interessado na sua sucesso (e at mesmo o Ministrio Pblico) poder requerer ao Juiz a declarao de ausncia e a nomeao de um curador. Durante um ano deve-se expedir editais convocando o ausente para retomar a posse de seus haveres. Com a sua volta opera-se a cessao da curatela, o mesmo ocorrendo se houver notcia de seu bito comprovado. Se o ausente no comparecer no prazo, poder ser requerida e aberta a sucesso provisria e o incio do processo de inventrio e partilha dos bens. Nesta ocasio a ausncia passa a ser presumida. Feita a partilha seus herdeiros (provisrios e condicionais) iro administrar os bens, prestando cauo, (ou seja, dando garantia que os bens sero restitudos no caso do ausente aparecer). Nesta fase os herdeiros ainda no tm a propriedade; exercem apenas a posse dos bens do ausente. Aps 10 (dez) anos do trnsito em julgado da sentena de abertura da sucesso provisria, sem que o ausente aparea (ou cinco anos depois das ltimas notcias do ausente que conta com mais de 80 anos), ser declarada a morte presumida. Nesta ocasio converte-se a sucesso provisria em definitiva. Os sucessores deixam de ser provisrios, adquirindo o domnio e a disposio dos bens recebidos, porm a sua propriedade ser resolvel. Se o ausente retornar em at 10 (dez) anos seguintes abertura da sucesso definitiva ter os bens no estado em que se encontrarem e direito ao preo que os herdeiros houverem recebido com sua venda. Se regressar aps esse prazo (portanto aps 21 anos de processo), no ter direito a nada. O art. 1.571, 1 do CC prev que a presuno de morte por ausncia pode por fim ao vnculo conjugal, liberando o outro cnjuge para convolar novas npcias. Em casos excepcionais pode haver a morte presumida sem declarao de ausncia (art. 7 do CC): extremamente provvel a morte de quem estava em perigo de vida.

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desaparecido em campanha ou feito prisioneiro e no foi encontrado at dois anos aps a guerra.

Comorincia - esta uma palavrinha que vem caindo muito em concursos, pois ela no faz parte de nosso dia a dia. o instituto pelo qual se considera que duas ou mais pessoas morreram simultaneamente, sempre que no se puder averiguar qual delas pr-morreu. Leia agora o art. 8 do Cdigo Civil: Se dois ou mais indivduos falecerem na mesma ocasio, no se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-o simultaneamente mortos. Resumindo, comorincia presuno de morte de duas ou mais pessoas (ex.: avio que cai matando todos os passageiros). Tambm chamada de morte simultnea. Aplica-se este instituto sempre que entre os mortos houver relao de sucesso hereditria. Se os comorientes forem herdeiros um dos outros, no haver transferncia de direitos entre eles; um no suceder o outro. Suponhase o caso de mortes simultneas de cnjuges, sem descendentes e sem ascendentes, mas com irmos. Pelo instituto da comorincia, a herana de ambos dividida razo de 50% para os herdeiros de cada cnjuge, se o regime de bens do casamento for o da comunho universal. So efeitos do fim da personalidade: dissoluo do vnculo conjugal e matrimonial; extino do poder familiar; extino da obrigao de alimentos com o falecimento do credor (no caso de morte do devedor, os herdeiros deste assumiro a obrigao at as foras da herana); extino dos contratos personalssimos, etc. Observe que a morte no aniquila com toda a vontade do de cujus (falecido). Sua vontade pode sobreviver por meio de um testamento. Ao cadver, devido respeito; militares e servidores podem ser promovidos post mortem; permanece o direito imagem, honra, aos direitos autorais, etc. Quanto ao item Personalidade entendemos que a matria ficou exaurida. Passemos agora ao estudo da Capacidade que aptido da pessoa para exercer direitos e assumir obrigaes, ou seja, de atuar sozinha perante o complexo das relaes jurdicas. Embora baste nascer com vida para se adquirir a personalidade, nem sempre se ter capacidade. A capacidade, que elemento da personalidade, pode ser classificada em: de direito ou de gozo prpria de todo ser humano, inerente personalidade e que s perde com a morte. a capacidade para adquirir direitos e contrair obrigaes. "Toda pessoa capaz de direitos e deveres na ordem civil" (artigo 1 do Cdigo Civil). de fato ou de exerccio da capacidade de direito isto , de exercitar por si os atos da vida civil.

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Toda pessoa tem capacidade de direito, mas pode no ter a capacidade de fato, pois pode lhe faltar a plenitude da conscincia e da vontade. A capacidade de direito no pode ser negada ao indivduo, mas pode sofrer restries quanto ao seu exerccio (ex.: o louco, por ser pessoa, tem capacidade de direito, podendo receber uma doao; porm no tem capacidade de fato, no podendo vender o bem que ganhou). Quem tem as duas espcies de capacidade tem a capacidade plena. Quem s tem a de direito tem capacidade limitada. Incapacidade a restrio legal ao exerccio dos atos da vida civil. Pode ser absoluta ou relativa. Legitimao consiste em saber se uma pessoa tem (ou no) capacidade para exercer pessoalmente seus direitos. Cerceiam a legitimao, a sade fsica e mental, a idade e o estado. A falta de legitimao no retira a capacidade e se supre pelos institutos: da representao para os absolutamente incapazes. da assistncia para os relativamente incapazes. Considerada a legitimao, as pessoas podem ser absolutamente incapazes ou relativamente incapazes conforme veremos a seguir: 1) ABSOLUTAMENTE INCAPAZES Quando houver proibio total do exerccio do direito do incapaz, acarretando, em caso de violao, a nulidade do ato jurdico (art. 166, I do CC). Os absolutamente incapazes possuem direitos, porm no podem exerclos pessoalmente. H uma restrio legal ao poder de agir por si. Devem ser representados. So absolutamente incapazes (leia agora o art. 3 do CC): a) Os menores de 16 (dezesseis) anos critrio etrio devem ser representados por seus pais ou, na falta deles, por tutores. So chamados tambm de menores impberes. O legislador entende que, devido a essa idade, a pessoa ainda no atingiu o discernimento para distinguir o que pode ou no fazer. Dado o seu desenvolvimento intelectual incompleto, pode ser facilmente influencivel por outrem. b) Os que, por enfermidade ou deficincia mental, no tiverem o necessrio discernimento para a prtica dos atos da vida civil - pessoas que, por motivo de ordem patolgica ou acidental, congnita ou adquirida, no esto em condies de reger sua pessoa ou administrar seus bens. Abrange pessoas que tm desequilbrio mental (ex.: demncia, parania, psicopatas, etc.). Para que seja declarada a incapacidade absoluta neste caso, necessrio um processo de interdio. A interdio se inicia com requerimento dirigido ao Juiz feito pelos pais, tutor, cnjuge, qualquer parente ou o Ministrio Pblico. O interditando ser citado e convocado para uma inspeo pessoal pelo Juiz, assistido por especialistas. O pedido poder ser impugnado pelo interditando. Ser realizada uma percia mdico-legal e posteriormente o Juiz pronuncia o decreto judicial

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que poder interditar a pessoa. O decreto judicial de interdio deve ser inscrito no Registro de Pessoas Naturais, tendo, a partir da, efeito erga omnes (ou seja, relativamente a todos). A senilidade (velhice), por si s, no causa de restrio da capacidade de fato. Poder haver interdio se a velhice originar de um estado patolgico, como a arteriosclerose, hiptese em que a incapacidade resulta do estado psquico e no da velhice. c) Os que, mesmo por causa transitria, no puderam exprimir sua vontade uma expresso abrangente, que alarga as hipteses de incapacidade absoluta. Inclui o surdo-mudo que no pode manifestar sua vontade. Se puder exprimir sua vontade, pode ser considerado relativamente capaz ou at plenamente capaz, dependendo do grau de sua expresso, embora impedidos de praticar atos que dependam de audio (ex.: testemunha em testamento). Inclui, tambm, pessoas que perderam a memria, embora de forma transitria, pessoas em estado de coma, etc. muito importante notar que o Cdigo Civil no estende a incapacidade: a) ao cego (que somente ter restrio aos atos que dependem da viso, como testemunha ocular, testemunha em testamentos, etc.; alm disso no poder fazer testamento por outra forma que no seja a pblica); b) ao analfabeto; e c) pessoa com idade avanada.

2) RELATIVAMENTE INCAPAZES A incapacidade relativa diz respeito queles que podem praticar por si os atos da vida civil, desde que assistidos. O efeito da violao desta norma gerar a anulabilidade do ato jurdico, dependendo da iniciativa do lesado. H hipteses em que, mesmo sendo praticado sem assistncia, pode o ato ser ratificado ou convalidado pelo representante legal, posteriormente. So relativamente incapazes: a) Maiores de 16 anos e menores de 18 anos sua pouca experincia e insuficiente desenvolvimento intelectual no possibilitam a plena participao na vida civil. So tambm chamados de menores pberes. Os menores, entre 16 e 18 anos, somente podero praticar certos atos mediante assistncia de seus representantes, sob pena de anulao. No entanto h atos que o relativamente incapaz pode praticar mesmo sem assistncia: casar, necessitando apenas de autorizao; fazer testamento; servir como testemunha em atos jurdicos, inclusive em testamento; requerer registro de seu nascimento, etc. muito comum cair nos concursos a seguinte afirmao: o menor, entre 16 e 18 anos, no pode, para eximir-se de uma obrigao, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, espontaneamente se declarou maior. Isto previsto no artigo 180 do CC.

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b) brios habituais, os viciados em txicos, e os que, por deficincia mental, tenham o discernimento reduzido alarga-se os casos de incapacidade relativa decorrente de causa permanente ou transitria. Deve haver processo de interdio. Neste processo, averiguando-se que a pessoa encontra-se em situao tal que o impede de exprimir totalmente a sua vontade, pode-se declarar a incapacidade absoluta. c) Excepcionais, sem desenvolvimento mental completo abrange os mentalmente fracos, surdos-mudos e os portadores de anomalia psquica que apresentem sinais de desenvolvimento mental incompleto. Tambm haver regular processo de interdio. d) Prdigos so os que dilapidam, dissipam os seus bens ou seu patrimnio, fazendo gastos excessivos e anormais. Trata-se de um desvio de personalidade e no de alienao mental. Devem ser interditados e, em seguida, nomeia-se um curador para cuidar de seus bens. Ficam privados, exclusivamente, dos atos que possam comprometer seu patrimnio. O prdigo interditado no pode (sem assistncia): emprestar, transigir, dar quitao, alienar, hipotecar, agir em juzo, etc. Todavia, pode: exercer atos de mera administrao, casar-se (no entanto se houver necessidade de pacto antenupcial haver assistncia do curador, pois o ato nupcial pode envolver disposio de bens), exercer profisso, etc. Cuidado com questes referentes aos silvcolas (silva selva; ncola habitante - os que moram nas selvas e no esto adaptados nossa sociedade), a finalidade da lei proteg-los, bem como os seus bens. O atual Cdigo Civil no os considerou como incapazes, devendo a questo ser regida por lei especial (art. 4, pargrafo nico do CC). A Lei 6.001/73 (Estatuto do ndio) coloca o silvcola e sua comunidade, enquanto no integrado comunho nacional, sob o regime tutelar. O rgo que deve assisti-los a FUNAI. A lei estabelece que os negcios praticados entre um ndio e uma pessoa estranha comunidade, sem a assistncia da FUNAI nulo (e no anulvel). No entanto prev que o negcio pode ser considerado vlido se o silvcola revelar conscincia do ato praticado e o mesmo no for prejudicial. Para a emancipao do ndio exige-se: idade mnima de 21 anos, conhecimento da lngua portuguesa, habilitao para o exerccio de atividade til, razovel conhecimento dos usos e costumes da comunho nacional e liberao por deciso judicial. Tutela e Curatela Embora esse tema se refira ao Direito de Famlia, gosto de falar sobre ele aqui. Nem todos os editais exigem o Direito de Famlia. Mas tutela e curatela so pontos que podem cair tanto na Parte Geral do Direito Civil, como no Direito de Famlia. Assim, melhor falar sobre o tema duas vezes (se o edital pedir tambm o Direito de Famlia) do que no falar sobre o tema. A tutela um instituto de carter assistencial que tem por finalidade substituir o poder familiar. Protege o menor (impbere ou pbere) no emancipado e seus bens, se seus pais falecerem ou forem suspensos ou

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destitudos do poder familiar, dando-lhes representao ou assistncia no plano jurdico. Pode ser oriunda de provimento voluntrio, de forma testamentria, ou em decorrncia da lei. A curatela um encargo (munus) pblico previsto em lei que dado para pessoas maiores, mas que por si ss no esto em condies de realizar os atos da vida civil pessoalmente, geralmente em razo de enfermidade ou deficincia mental. O curador deve reger e defender a pessoa e administrar seus bens. Decorre de nomeao pelo Juiz em deciso prolatada em processo de interdio. Costuma-se dizer que a natureza da deciso constitutiva com eficcia declaratria. Os atos praticados depois da deciso so nulos ou anulveis conforme o interdito seja absoluta ou relativamente incapaz. possvel invalidar ato negocial antes da interdio desde que se comprove a existncia da insanidade por ocasio da efetivao daquele ato, posto que a causa da incapacidade a anomalia psquica e no a sentena de interdio. Representao e Assistncia O instituto da incapacidade visa proteger os que so portadores de uma deficincia jurdica aprecivel. Essa forma de proteo graduada: Representao para os absolutamente incapazes. Estas pessoas esto privadas de agir juridicamente e sero representadas. Ex.: um rapaz, com 15 anos, no pode vender um apartamento de sua propriedade. Mas este imvel pode ser vendido atravs de seus pais que iro representar o menor. No ato da compra e venda este nem precisa comparecer. Assistncia para os relativamente incapazes. Estas pessoas j podem atuar na vida civil. Alguns atos podem praticar sozinhos; outros necessitam de autorizao. Ex.: um rapaz, com 17 anos, j pode vender seu apartamento. Mas no poder faz-lo sozinho. Necessita de autorizao de seus pais. No ato de compra e venda ele comparece e assina os documentos, juntamente com seus pais. Ateno Pessoal - por meio da representao e assistncia, supre-se eventual incapacidade, e os negcios jurdicos realizam-se regularmente. Curador Especial se houver conflito de interesses entre o incapaz e seu representante legal o Juiz deve nomear um curador especial para proteger o incapaz. 3) CAPACIDADE PLENA A incapacidade termina, via de regra, ao desaparecerem as causas que a determinaram. Assim, nos casos de loucura, da toxicomania, etc., cessando a enfermidade que a determinou, cessa tambm a incapacidade (segundo Clvis Bevilqua Comentrios ao Cdigo Civil). Em relao menoridade, a incapacidade cessa quando o menor completar 18 anos. Dessa forma, tornase apto a exercer pessoalmente todos os atos da vida civil sem necessidade de ser assistido por seus pais. No se deve confundir a capacidade civil, com a imputabilidade (responsabilidade) penal, que tambm se d aos 18 anos.

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Falamos sobre a Personalidade e a Capacidade. Falta agora, para terminar esta aula, falar sobre a Emancipao. Emancipao ou antecipao dos efeitos da maioridade a aquisio da capacidade plena antes dos 18 anos, habilitando o indivduo para todos os atos da vida civil. A emancipao irrevogvel e definitiva. Adquire-se a emancipao (leia agora o artigo 5 do Cdigo Civil): por concesso dos pais ou de um deles na falta do outro (emancipao parental ou voluntria) - neste caso no necessria a homologao do Juiz. Deve ser concedida por instrumento pblico e registrada no Cartrio de Registro Civil das Pessoas Naturais. O menor deve ter, no mnimo, 16 anos completos. Admite-se a emancipao unilateral (um dos pais) se um deles j faleceu, foi destitudo do poder familiar, etc. por sentena do Juiz em duas hipteses: a) quando um dos pais no concordar com a emancipao, contrariando a vontade do outro; h um conflito de vontade entre os pais quanto emancipao do filho; b) quando o menor estiver sob tutela. O tutor no pode emancipar o menor. Evita-se a emancipao destinada para livrar o tutor do encargo. A emancipao feita pelo Juiz, se o menor tiver 16 anos, ouvido o tutor, depois de verificada a convenincia para o bem do menor. pelo casamento a idade nupcial do homem e da mulher de 16 anos (art. 1.511 CC, exigindo-se autorizao de ambos os pais, enquanto no atingida a maioridade). No plausvel que continue incapaz, depois de casado. O divrcio, a viuvez e a anulao do casamento no implicam o retorno incapacidade. No entanto o casamento nulo faz com que se retorne situao de incapaz (se o ato foi nulo, a pessoa nunca foi emancipada, posto que no produz efeitos e retroativo), salvo se contrado de boa-f (nesse caso a pessoa considerada emancipada). por exerccio de emprego pblico deve ser efetivo; excluem-se, portanto, os diaristas, contratados e os nomeados para cargos em comisso. H entendimento que deve ser funcionrio da administrao direta (excluindo-se, assim, os funcionrios de autarquias e de entidades paraestatais). H pouca aplicao prtica, pois os concursos, como regra, exigem idade mnima de 18 anos. por colao de grau em curso de ensino superior tambm h pouca aplicao prtica devido a nosso sistema de ensino. por estabelecimento civil ou comercial ou pela existncia de relao de emprego com economias prprias necessrio ter ao menos 16 anos, pois revela suficiente amadurecimento e experincia desenvolvida. No entanto, na prtica, h dificuldade para se provar "economia prpria". Obs. - servio militar hiptese prevista em lei especial - faz com que cesse para o menor de dezessete anos a incapacidade civil, apenas para efeito do

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alistamento e sorteio militar. Tambm nunca vi questo deste tipo cair em concurso. Veja uma questo interessante que j caiu em diversos concursos, misturando conceitos de Direito Penal e Civil. Uma pessoa se casa com 16 anos. Um ano depois, acaba matando seu cnjuge. Ela vai responder criminalmente? Resposta a emancipao s diz respeito aos efeitos civis. Portanto, para o Direito Penal essa pessoa continua menor (e, portanto, considerada inimputvel), ficando sujeita no ao Cdigo Penal, mas ao Estatuto da Criana e Adolescente. Outra questo: uma pessoa menor se casou. Tornou-se, portanto, capaz. Logo a seguir se divorcia. O divrcio faz com que a pessoa retorne ao estado de incapaz? Resposta pela nossa Lei, no! Isto , uma vez alcanada a emancipao, esta no pode ser mais revogada, a no ser em casos especialssimos, como vimos acima. Vamos agora apresentar um Resumo do que foi falado na aula de hoje, cujo tema foi PESSOA NATURAL (ou PESSOA FSICA) 1 - Conceito ser humano considerado como sujeito de obrigaes e direitos. Toda pessoa capaz de direitos e deveres na ordem civil (art. 1CC) 2 - Personalidade conjunto de capacidades da pessoa. Direitos de Personalidade arts. 11 a 21 do CC. a) incio nascimento com vida resguardo dos direitos do nascituro b) individualizao - nome reconhecimento da pessoa na sociedade - estado posio na sociedade - domiclio lugar da atividade social arts. 70 a 78 CC domiclio necessrio art. 76. c) fim morte real com ou sem o corpo morte presumida - efeitos patrimoniais e alguns pessoais ausncia sucesso provisria e definitiva - arts. 22 a 39 do CC

d) comorincia presuno de morte simultnea de duas ou mais pessoas art. 8 CC 3 Capacidade a) de direito prpria de todo ser humano b) de fato exerccio dos direitos. Subdivide-se:

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Absolutamente Incapazes a) menores de 16 anos b) enfermidade ou deficincia mental sem discernimento c) mesmo por causa transitria, no puderem exprimir a vontade Relativamente Incapazes a) maiores de 16 e menores de 18 anos b) brios habituais, viciados em txico e os que por deficincia mental tenham discernimento reduzido c) excepcionais sem desenvolvimento completo d) prdigos Os absolutamente incapazes so representados e os relativamente so assistidos por seus representantes legais. Capacidade Plena maiores de 18 anos e emancipados 4 Emancipao artigo 5 e pargrafo nico CC (concesso dos pais, sentena do Juiz, casamento, emprego pblico efetivo, colao de grau e estabelecimento civil ou comercial com economias prprias). Testes 1 - Assinale a alternativa incorreta: a) A incapacidade relativa, ao contrrio da incapacidade absoluta, no afeta a aptido para o gozo de direitos, uma vez que o exerccio ser sempre possvel com a representao. b) A emancipao do menor pode ser obtida com a relao de emprego que proporcione economia prpria, desde que tenha 16 anos completos. c) Pode ser declarada a morte presumida, sem decretao da ausncia se for extremamente provvel a morte de quem estava em perigo de vida. d) A mulher pode casar-se com 16 anos, desde que com autorizao do pai ou responsvel. 2 De acordo com o Cdigo Civil, os direitos inerentes dignidade da pessoa humana so: a) absolutos, intransmissveis, irrenunciveis, ilimitados e imprescritveis; b) relativos, transmissveis, renunciveis, limitados; c) absolutos, impenhorveis; transmissveis, imprescritveis, ilimitados, renunciveis,

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d) inatos, absolutos, intransmissveis, renunciveis em determinadas situaes, limitados e imprescritveis. 3 - Sobre os direitos de personalidade, pode-se afirmar que: a) A pessoa jurdica no titular de tais direitos, por no ser detentora de honra. b) So renunciveis, podendo seu exerccio sofrer limitao voluntria. c) permitida a disposio livre e onerosa do prprio corpo, para quaisquer fins. d) Embora sejam intransmissveis, o direito de exigir sua reparao transmite-se aos sucessores. 4 - Quanto ao evento morte, assinale a alternativa incorreta: a) A morte presumida ocorre quando a pessoa for declarada ausente. b) A comorincia a presuno de morte simultnea entre duas ou mais pessoas que faleceram na mesma ocasio, quando no der para verificar qual deles foi o precedente. c) Natimorto criana que ao nascer com vida, adquiriu a personalidade, e expirou minutos depois. d) A morte civil, que uma das formas de trmino da personalidade jurdica de uma pessoa, no aceita pelo Direito Civil Brasileiro. e) Excepcionalmente, se estiver ausente o corpo do de cujus, mas houver certeza de seu falecimento, a certido de bito poder ser lavrada e a morte real declarada. 5 - So consideradas absolutamente incapazes pela atual legislao civil: I - os menores de 16 anos; II - os maiores de 80 anos; III os silvcolas; IV os que, por enfermidade ou deficincia mental, no tiveram o necessrio discernimento para a prtica desses atos; V os que, por causa transitria, no puderem exprimir sua vontade. a) os itens I, II e IV so considerados corretos. b) somente o item I est correto. c) os itens I, IV e V esto corretos. d) somente o item V est incorreto. e) todas as alternativas esto corretas.

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6 - considerada como uma das formas de emancipao: a) o contrato de trabalho. b) o ingresso em curso superior. c) o exerccio do direito ao voto. d) o casamento. e) a concesso do tutor mediante instrumento pblico. GABARITO COMENTADO 1 Alternativa incorreta letra a Observe que a questo pede que seja assinalada a alternativa incorreta. A letra a, realmente est errada pois a incapacidade relativa suprida pela assistncia e no pela representao. A alternativa b est correta pois o artigo 5, inciso V do CC permite a emancipao pela existncia de emprego, desde que tenha 16 anos completos. A letra c tambm est correta pois o artigo 7 permite a declarao de morte presumida sem decretao de ausncia na hiptese narrada na questo. Finalmente a letra d tambm est correta pois tanto a mulher como o homem podem se casar com 16 anos, necessitando, para tanto, de autorizao dos pais. Acrescente-se que celebrado o casamento com 16 anos ocorre a emancipao, cessando a incapacidade e ficando o menor habilitado para a prtica de todos os atos na vida civil. 2 Alternativa correta letra a O art. 11 do CC prescreve: Com exceo dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade so intransmissveis e irrenunciveis, no podendo o seu exerccio sofrer limitao voluntria. Nas demais alternativas tem sempre pelo menos uma palavra errada: a letra b todas as palavras esto erradas; na c est errada a palavra renunciveis; e na d renunciveis e limitados. 3 Alternativa correta - letra d - Observe que o artigo 11 (que analisamos na questo anterior) prescreve que os direitos de personalidade so intransmissveis. Mas o prprio artigo faz a ressalva: com exceo dos casos previstos em lei. Veja como o examinador gosta das excees. Por isso esse artigo deve ser combinado com o artigo 943 do CC que prescreve que o direito de exigir reparao e a obrigao de prest-la transmitem-se com a herana. A letra a est totalmente errada, pois o artigo 52 do CC assegura s pessoas jurdicas a mesma proteo cabvel para a proteo da personalidade; a letra b est errada pois os direitos da personalidade, como vimos, so irrenunciveis; a c tambm est errada. Os artigos 13 e 14 regulam o tema e veja o que dispe o art. 14: vlida, com objetivo cientfico, ou altrustico, a disposio gratuita do prprio corpo, no todo ou em parte, para depois da

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morte. Assim a disposio do prprio corpo deve ser gratuita e para fins especficos (e no qualquer finalidade, como ficou na questo). 4 Alternativa incorreta letra a A morte presumida pode ser declarada sem a declarao de ausncia, como vimos na primeira questo veja o artigo 7 do CC. Reveja tambm a matria dada em aula referente a morte presumida. Possui diversos detalhes que merecem uma releitura. Note como esse tema vem caindo em concursos. A alternativa letra b est perfeita veja o artigo 8 que define comorincia. Da mesma fora a letra c natimorto aquele que nasceu morto; veio luz, com sinais de vida, mas, logo a seguir morreu. A letra d tambm est correta. Atualmente, no Brasil, no existe mais a morte civil, que era a perda da personalidade e da capacidade civil em vida, geralmente para pessoas condenadas criminalmente (tambm em relao aos escravos). A pessoa estava viva fisicamente, mas morta juridicamente... era uma loucura. Mas havia previso legal disso nas Ordenaes do Reino. No entanto, em nosso direito embora no haja mais a previso legal da morte civil, esta deixou resqucios, como nos casos de excluso de herana por indignidade do filho, como se ele morto fosse veja o art. 1.816 do CC. 5 Alternativa correta - letra c O artigo 3 arrola as pessoas que so absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficincia mental, no tiverem o necessrio discernimento para a prtica desses atos; III - os que, mesmo por causa transitria, no puderem exprimir sua vontade. Portanto o que est previsto no I e IV est correto. O maior de 80 anos, como vimos, por si s no incapaz. S ser considerado incapaz se a velhice originar um estado patolgico, como a arteriosclerose, hiptese em que a incapacidade resulta do estado psquico e no da velhice propriamente dita. A palavra silvcola no consta mais do Cdigo Civil. Este fala no ndio e determina que sua capacidade ser regulada pela legislao especial (Estatuto do ndio). 6 alternativa correta - letra d O artigo 5 C arrola as hipteses de emancipao, sendo certo que o casamento uma delas. Um contrato de trabalho (letra a) por si s, no emancipa ningum. Veja a pegadinha da letra b: a colao de grau em ensino superior que emancipa e no o ingresso em curso superior. Por isso as questes no podem ser lidas de forma afoita. Tenha calma: leia todas as alternativas com ateno, v eliminando as mais absurdas e somente ao final da leitura atenda de todas as alternativas assinale a que entende como correta. Quanto ao exerccio ao direito de voto no h previso legal; logo est errada. Finalmente deve ser esclarecido que o tutor no pode emancipar seu representado, pois desta forma ele estaria se livrando de uma obrigao legal. Neste caso a emancipao feita pelo Juiz, se o menor tiver 16 anos, ouvido o tutor, depois de verificada a convenincia para o bem do menor. Assim quem emancipa o Juiz e o tutor deve ser apenas consultado sobre a possibilidade.

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AULA 01: NOES GERAIS DE DIREITO LEI DE INTRODUO AO CDIGO CIVIL

Nem todo concurso pblico coloca no edital a matria que veremos hoje sobre as Noes de Direito e a Lei de Introduo ao Cdigo Civil. Mas, mesmo para aqueles concursos que no exigem essa matria, aconselhamos a leitura atenta desta aula. Com esta aula o aluno entrar no mundo do Direito; no mundo jurdico. Os que no so formados em Direito tero a oportunidade de captar o esprito do Direito e das normas jurdicas. E mesmo os que j so formados em Direito tero a oportunidade de relembrar importantes conceitos bsicos, que sero relevantes para o desenvolvimento normal deste nosso curso. s vezes pode cair uma questo de outra matria (Constitucional, Tributrio, Administrativo) e o aluno pode acertar a questo apenas com a leitura desta aula, que bem genrica, abordando tudo que tem cado nos concursos realizados ultimamente, inclusive nos concursos que exigem um grau mais elevado na rea jurdica, como Procurador da Repblica, da Fazenda Nacional, Juiz Federal ou Estadual, Ministrio Pblico, etc. Ento, vamos ao que interessa. O homem, desde os tempos mais antigos e mesmo na prhistria, sempre foi um ser social. Basta ler nos livros de histria, como viviam os primeiros grupos de seres humanos, a civilizao egpcia, os babilnios, os gregos, os romanos e at mesmo as tribos indgenas que viviam no Brasil antes do descobrimento. Com isso, de forma espontnea, o homem foi levado a formar grupos sociais: famlia, escola, trabalho, associao cultural, religiosa, profissional, esportiva, etc. E a partir da foram sendo criadas normas jurdicas para melhor regular essas relaes, assegurando condies de equilbrio para a coexistncia entre os homens. Alm das normas jurdicas, a sociedade exige a observncia de outras normas, como as religiosas, morais, de urbanidade, etc. Assim, o Direito no corresponde somente s necessidades individuais de cada pessoa, mas s necessidades da coletividade de paz, ordem e bem comum.

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A palavra direito vem do latim directum e designa o que reto, o que est de acordo com a lei. O vocbulo pode ser empregado com significados diversos. Em sentido tcnico, podemos assim conceituar: Direito o conjunto das normas gerais e positivas, que regulam a vida social. Algum pode agora me perguntar: O Direito pode ser dividido? E eu respondo: na realidade o Direito deve ser visto como um todo. Todas as normas, princpios e instituies devem se interrelacionar de forma harmnica, formando um s sistema. MAS, situado no conjunto dos conhecimentos humanos, e para fins didticos podemos dividi-lo. A primeira diviso se refere ao Direito Objetivo e ao Subjetivo. O Direito Objetivo a norma; de acordo com ela devem agir os indivduos. J o Direito Subjetivo a faculdade, ou seja, o reunir as condies para se obter alguma coisa; quando se diz que algum tem direito a algo, est-se referindo a um direito subjetivo. J o Direito Objetivo pode ser dividido em ramos. Essa diviso em ramos serve apenas para orientar o estudioso. Desta forma podemos dividir o Direito Objetivo basicamente em dois ramos: Direito Pblico e Direito Privado. Lembro que nem todos os autores admitem a divisibilidade do Direito. No entanto, para fins de concurso, plenamente aceita a diviso. Vamos, portanto, falar um pouco de cada um desses ramos. O Direito Pblico destinado a disciplinar os interesses gerais da coletividade. composto predominantemente por normas de ordem pblica, que so cogentes, ou seja, impositivas, de aplicao obrigatria. Forma o Direito Pblico: Direito Constitucional, Administrativo, Processual e Penal. A estes podemos adicionar, tambm o Direito Internacional e o Direito Eclesistico (ou Cannico). O Direito Pblico regula a organizao do Estado, em si mesmo, em suas relaes com os particulares e com outros Estados soberanos. J o Direito Privado o conjunto de preceitos reguladores das relaes dos indivduos entre si. composto por normas de direito privado, dispositivas, em que predominam os interesses de ordem particular. formado pelo Direito Civil e Direito Comercial. Alguns autores ainda acrescentam o Direito do Trabalho, mas h controvrsias, no havendo uma unanimidade. Nos ltimos concursos que este tema caiu (embora foram poucos) o gabarito oficial deu como certo a classificao do D. do Trabalho ainda como um ramo do Direito Privado.

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Mas, como nossa matria o Direito Civil, vamos nos centralizar nele. No entanto, como veremos mais adiante, a Lei de Introduo ao Cdigo Civil, apesar do nome, aplicada s demais matrias. O conceito de Direito Civil passou por uma evoluo histrica. Esse termo foi uma herana do Direito Romano. Os romanos chamavam de Direito Civil Ius Civile todo o Direito que regulava a sociedade romana. Direito Civil significava Direito da Cidade de Roma aplicado aos cidados romanos. Estes no faziam distines entre os ramos do Direito. Para eles, o Direito Penal, Processual, Administrativo, Comercial, etc., tudo era chamado de Direito Civil, que regia a vida dos cidados independentes, abrangendo todo o direito vigente. Podemos concluir assim: Direito Civil, para os romanos, era como o Direito Brasileiro para ns: todo o direito vigente no Brasil. Atualmente o Direito Civil disciplina a atividade dos particulares em geral. Rege as relaes familiares, patrimoniais e obrigacionais entre os indivduos. Tem no Cdigo Civil a sua lei fundamental, que se desdobra numa Parte Geral e numa Parte Especial. Mas h muita legislao especial que veremos no decorrer das aulas e que tambm integra o Direito Civil. Ex.: Lei do Inquilinado, de Condomnio, Unio Estvel, etc. so as chamadas leis extravagantes. Como falei acima, o atual Cdigo Civil (Lei 10.406/02), contm duas partes. Vamos ver com ateno o contedo de cada uma dessas partes: A) GERAL apresenta normas concernentes s pessoas fsicas e jurdicas (arts. 1 a 69), domiclio (arts. 70 a 78), aos bens (arts. 79 a 103), e aos fatos jurdicos: disposies preliminares, negcio jurdico, atos jurdicos lcitos, atos ilcitos, prescrio e decadncia e prova (arts. 104 a 232). B) ESPECIAL Apresenta normas atinentes ao direito das obrigaes (poder de constituir relaes obrigacionais para a consecuo de fins econmicos ou civis contratos, declarao unilateral de vontade e atos ilcitos - arts. 233 a 965); ao direito de empresa (regendo o empresrio, a sociedade, estabelecimento - arts. 966 a 1.195); ao direito das coisas (posse, propriedade, direitos reais sobre coisas alheias, de gozo, de garantia e de aquisio - arts. 1.196 a 1.510); ao direito de famlia (casamento, relaes entre cnjuges, parentesco e proteo aos menores e incapazes - arts. 1.511 a 1.783); e ao direito das sucesses (norma sobre a transferncia de bens por fora de herana e sobre inventrio e partilha - arts. 1.784 a 2.027). 3

Contm ainda um Livro Complementar (disposies finas e transitrias arts. 2.028 a 2.046). Precisamos, para encerrar essa parte introdutria, dar um conceito de Direito Civil. Baseado em tudo que foi dito, costumo conceitu-lo com sendo o ramo do Direito Privado destinado a reger as relaes familiares, patrimoniais e obrigacionais que se formam entre indivduos encarados como tais, ou seja, enquanto membros da sociedade. LEI DE INTRODUO AO CDIGO CIVIL Caros alunos. Todos ns sabemos que desde 2.003 entrou em vigor o novo Cdigo Civil. a Lei 10.406/02. Ela foi publicada em 2.002, mas s entrou em vigor no ano seguinte. Vamos ver isso melhor logo adiante, porque esse fenmeno tem um nome - vacatio legis. Mas antes disso j vigorava tambm uma lei conhecida como Lei de Introduo ao Cdigo Civil, ou, simplesmente, L.I.C.C. que o Decreto Lei 4.657/42. As perguntas que poderiam ser feitas agora, so: o novo Cdigo Civil revogou a antiga LICC? Ou ele incorporou a LICC em seu texto? Ou a LICC continua a vigorar normalmente? A resposta essa ltima alternativa, ou seja, a antiga LICC continua a vigorar normalmente. Concluso: o novo Cdigo Civil no revogou a LICC. O Decreto-lei n 4.657/42, tambm chamado de Lei de Introduo ao Cdigo Civil, um conjunto de normas sobre normas, isto porque disciplina as prprias normas jurdicas, prescrevendo-lhes a maneira de aplicao e entendimento, predeterminando as fontes e indicando-lhes as dimenses espao-temporais. Logo, esta lei ultrapassa o mbito do Direito Civil, atingindo tanto o direito privado quanto o pblico. Contm, portanto, normas de sobredireito. , na verdade, um cdigo de normas. considerada uma lei de introduo s leis por conter princpios gerais sobre as normas sem qualquer discriminao, indicando como aplic-las, determinando vigncia, eficcia, interpretao e integrao. Traa, ainda, regras de direito internacional privado, conforme tratados e convenes assinados pelo Brasil. Continua em vigor, a despeito do novo Cdigo Civil, em toda a sua plenitude. Notem que eu coloquei algumas expresses em negrito. Pois esses negritos no esto a por acaso. Sempre que fao isso porque h uma

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razo. Neste caso, todas essas expresses em negrito j caram em concurso. A LICC se aplica ao Direito Comercial? E ao Direito Administrativo? E ao Tributrio? Sim, ela se aplica a todo o ordenamento jurdico. Porm cada ramo do direito tem suas prprias peculiaridades, que devem ser respeitadas. Aponto, como exemplo, que a LICC se aplica ao Direito Penal, respeitando-se, no entanto, as suas regras prprias. Veremos logo adiante que pela LICC, uma lei somente poder retroagir se no prejudicar o Direito Adquirido, o Ato Jurdico Perfeito e a Coisa Julgada. Isto tambm se aplica ao Direito Penal. Porm esta matria tem mais um dispositivo peculiar: a lei somente retroage no Direito Penal para favorecer o ru e nunca para prejudiclo. Portanto, a LICC bsica para todas as matrias. Mas, se cada matria dever respeitar a LICC, dever, tambm, observar suas prprias regras, distinguindo-as, portanto, das outras matrias. A partir daqui, tudo que falarei se aplicar integralmente ao Direito Civil. Nosso objetivo o Direito Civil. At porque a LICC se refere mais ao Direito Civil do que s outras matrias. E a nossa aula trata de .... Direito Civil. No entanto o que estou falando pode se aplicar a outras matrias tambm, respeitadas as suas peculiaridades, que sero melhor explicadas pelos professores de cada matria. Quais so as fontes de Direito para a nossa matria? Fontes do Direito uma expresso figurada. Em sentido comum, fonte o ponto em que surge um veio dgua. Em sentido tcnico o meio pelo qual se estabelecem as normas jurdicas. As mais importantes so: Fontes Diretas (formais ou imediatas) - formadas pela lei, pela analogia, pelos costumes e pelos princpios gerais de direito. Todos esses itens, por si s, so capazes de gerar a regra jurdica. A lei a principal fonte de direito. As demais so acessrias. Mas nem por isso so menos importantes, especialmente para fins de concurso Fontes Indiretas (no formais ou mediatas) - formadas pela doutrina e jurisprudncia. No geram, por si s, a regra jurdica, mas contribuem para que seja elaborada. Para comear, vamos falar das Indiretas. Doutrina a interpretao da lei feita pelos estudiosos da matria. Forma-se doutrina por meio dos pareceres dos jurisconsultos, dos ensinamentos dos professores, das opinies dos tratadistas e dos trabalhos forenses. Esta nossa aula no deixa de ter um contedo doutrinrio. 5

Jurisprudncia a interpretao da lei feita pelos juzes em suas decises. Como fonte do direito podemos dizer que a jurisprudncia o conjunto uniforme e constante das decises judiciais sobre casos semelhantes. Uma andorinha no faz vero e, da mesma maneira, uma deciso solitria no constitui jurisprudncia; necessrio que as decises se repitam e sem variaes de fundo. Falaremos, agora sobre as Diretas, que so mais complexas e exigem um estudo mais aprofundado: 1 Costume - No direito antigo, o costume desfrutava de larga projeo, devido escassa funo legislativa e ao nmero limitado de leis escritas. Ainda hoje, nos pases de direito costumeiro (ou direito consuetudinrio), como na Inglaterra, ele exerce papel importante como fonte do direito. No direito moderno, de um modo geral, o costume foi perdendo paulatinamente sua importncia. Costume a reiterao constante de uma conduta, na convico de ser a mesma obrigatria. Apesar de ter pouca aplicabilidade prtica, o costume tem cado em concursos, da a sua importncia. Em relao lei, o costume pode ser classificado: a) Segundo a lei (secundum legem) quando a lei se reporta expressamente aos costumes e reconhece a sua obrigatoriedade (ex.: artigo 569, II, do C.C.: O locatrio obrigado: a pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados e, em falta do ajuste, segundo o costume do lugar). Observe que a prpria lei que determina a aplicao do costume. b) Na falta da lei (praeter legem) tem carter supletivo; a lei deixa lacunas que so preenchidas pelo costume. No h lei regendo determinado assunto! O que fao? Deixo de fazer algo por falta de previso legal? No! Aplico o costume. Lembre-se que tambm o Juiz no pode deixar de decidir uma causa com o argumento de que no h previso legal. Nesse caso deve ao menos tentar aplicar o costume na falta da lei. Mas depois veremos que tambm h outras formas de se integrar a norma jurdica. c) Contra a lei (contra legem) quando contraria o que dispe a lei. Pode ocorrer em dois casos: no desuso da lei (esta passa a ser letra morta); ou quando o costume cria nova regra contrria lei. Os costumes segundo a lei e na falta da lei so aceitos pacificamente por todos. J o costume contra a lei tem gerado inmeras discusses, sendo que a corrente majoritria no o aceita.

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2 Lei A lei pode ser definida de vrios modos. Como vocs esto observando, nosso curso objetivo, direcionado para concursos pblicos. Por isso evitamos longas citaes de autores e interminveis discusses doutrinrias. O importante para todos ns o que tem cado ultimamente nos concursos. No entanto em algumas raras ocasies precisamos citar alguns professores. Nesse caso, para conceituar lei adotamos o conceito da Professora Maria Helena Diniz: a norma imposta pelo Estado e tornada obrigatria na sua observncia, assumindo forma coativa. A norma jurdica um imperativo autorizante. Nas sociedades modernas, a lei indiscutivelmente a mais importante das fontes da ordem jurdica. Vejam o diz nossa Constituio Federal: Ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei (artigo 5, inciso II). E o artigo 4 da Lei de Introduo ao Cdigo Civil determina que somente quando a lei for omissa que se aplicaro as demais formas de expresso de direito. Depois de ler muito sobre o assunto, elaborei uma classificao das leis, baseada na melhor e mais atualizada doutrina. A classificao que daremos a seguir ajuda o aluno a entender diversas palavras que tm cado nos concursos. J vi cair em alguns testes, logo no enunciado da questo, o seguinte: Nossa lei adjetiva prescreve ...... O que uma lei adjetiva? E substantiva? A resposta est adiante. A) Quanto Obrigatoriedade: Cogentes - de ordem pblica, impositivas, de aplicao obrigatria; no podem ser ignoradas pela vontade dos interessados. Dispositivas - de ordem particular; permitem s partes estipular o que quiserem. B) Quanto Natureza: Substantivas (ou materiais) - tratam do direito material (ex.: Cdigo Civil, Cdigo Penal, Cdigo Comercial, etc.). Adjetivas (ou formais, ou processuais) - traam os meios para a realizao do direito. (ex.: Cdigo de Processo Civil, Cdigo de Processo Penal, etc.). C) Quanto Hierarquia (nesse ponto aconselhamos o aluno a ler a Constituio Federal no tpico espcies normativas; nosso objetivo agora apenas relembrar as espcies de lei, em sentido amplo):

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Constitucionais - constantes na Constituio; a lei mxima de nosso Pas. Emendas Constituio - nossa Constituio permite sua reforma por meio de emendas, que so leis que modificam parcialmente a Constituio. A proposta deve ser discutida e votada em cada Casa do Congresso, em dois turnos cada. Considera-se aprovada se obtiver em todas as votaes trs quintos dos votos dos respectivos membros. Complementares - matrias especiais, estipuladas na prpria Constituio, para melhor regulamentar determinado assunto; possui quorum especial para aprovao (maioria absoluta - metade mais um dos votos das duas Casas do Congresso). Ordinrias - leis comuns, elaboradas pelo Poder Legislativo (Congresso Nacional - Federal; Assemblia Legislativa - Estadual; Cmara dos Vereadores - Municipal). A aprovao se d por maioria simples ou relativa, abrangendo apenas os presentes votao. Delegadas - elaboradas com autorizao expressa do Legislativo. Podem ser internas (o encargo atribudo a uma comisso do prprio Poder Legislativo) ou externas (atribui-se ao chefe do Executivo a elaborao da lei). Medidas Provisrias tambm tm a mesma posio hierrquica das leis ordinrias. So normas com fora de lei, baixadas pelo Presidente da Repblica, em caso de relevncia e urgncia. Devem ser submetidas de imediato ao Congresso Nacional. Decretos Legislativos - so normas promulgadas pelo Poder Legislativo sobre assuntos de sua competncia (ex.: autorizao de referendo ou convocao de plebiscito). Resolues - so normas expedidas pelo Poder Legislativo, destinadas a regular matria de sua competncia, de carter administrativo ou poltico. Toda norma jurdica tem um mbito temporal, espacial, material e pessoal, dentro dos quais ela tem vigncia ou validade. o que se chama de limites ao campo de aplicao das normas jurdicas. Quanto vigncia, vamos analisar as leis sob duas ticas: Temporal e Territorial. Daqui para diante conveniente que o aluno tenha em mos a LICC, para poder acompanhar melhor a aula. Vamos fazer referncia a alguns dispositivos importantssimos dessa lei e aconselhvel o aluno ler e reler esses artigos citados. 8

I - VIGNCIA DAS LEIS NO TEMPO As leis nascem, modificam-se e morrem. A lei levada ao conhecimento de todos por meio de sua publicao no Dirio Oficial. Orientando a aplicao das leis, temos dois princpios informadores da eficcia: Princpio da Obrigatoriedade das Leis uma vez em vigor a lei obrigatria para todos os seus destinatrios, sem qualquer distino. Publicada a lei, ningum se escusa de cumpri-la alegando que no a conhece (art. 3 da Lei de Introduo do Cdigo Civil L.I.C.C.). Tal dispositivo visa garantir a eficcia da ordem jurdica que ficaria comprometida se fosse admitida a alegao de ignorncia de lei em vigor. O erro de direito (alegao de desconhecimento da lei) s pode ser invocado em rarssimas ocasies e quando no houver o objetivo de furtar-se o agente ao cumprimento da lei. Princpio da Continuidade das Leis a partir da vigncia a lei tem eficcia contnua, at que outra a revogue. O desuso no faz com que a lei perca sua eficcia. Incio da Obrigatoriedade das Leis - as leis, de uma forma geral, passam por cinco fases: iniciativa, discusso e aprovao, sano ou veto, promulgao e publicao. A fora obrigatria de uma lei est condicionada a sua vigncia, ou seja, ao dia em que realmente comea a vigorar. Salvo disposio contrria, a lei comea a vigorar, em todo o pas, quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada (artigo 1 da LICC) Esse princpio no absoluto porque quase todas as leis contm em seu texto disposio prescrevendo sua entrada em vigor na data da respectiva publicao. Quando no houver disposio da data em que a lei entrar em vigor (omisso proposital da lei), a, sim, ela entrar em vigor em quarenta e cinco dias aps a publicao. O espao compreendido entre a publicao da lei e sua entrada em vigor denomina-se vacatio legis. Geralmente este prazo estabelecido para melhor divulgao dos textos legais. Enquanto no transcorrido esse perodo, a lei nova no tem fora obrigatria, mesmo j publicada. Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia trs meses depois de oficialmente publicada (artigo 1, 1 da LICC). Em geral, quando cuida de atribuio de embaixadores, cnsules, etc.

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Cuidado ento: no Brasil 45 dias; no estrangeiro 3 meses (e no 90 dias como s vezes eu vejo cair em concursos, como uma forma de pegadinha). Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicao de seu texto destinada correo, o prazo deste artigo e dos pargrafos anteriores comear a correr da nova publicao (artigo 1, 3). As correes a texto de lei em vigor consideram-se lei nova (artigo 1, 4), sujeita, naturalmente, aos prazos normais das demais leis. O prazo de vacatio legis conta-se incluindo-se o dia do comeo - o dia da publicao - e tambm do ltimo dia do prazo - dia do vencimento (art. 8, 1 da Lei Complementar n 95/98, modificado pela L.C. n 107/01). Fim da obrigatoriedade das leis - no se destinando vigncia temporria, a lei ter vigor at que outra a modifique ou a revogue. De fato, algumas leis so expedidas com prazo de durao (ex.: racionamento de combustvel durante uma guerra). Contudo, no se fixando um prazo, prolonga-se a obrigatoriedade at que a lei seja modificada ou revogada por outra. Revogar tornar sem efeito uma lei ou qualquer outra norma jurdica. A revogao pode ser: total (ou ab-rogao) consiste em tornar sem efeito toda a lei ou norma anterior. parcial (ou derrogao) - quando torna sem efeito uma parte da lei ou norma. Lgico que o aluno sabe o que uma revogao total ou parcial. Mas o examinador prefere usar as expresses ab-rogao e derrogao, pois estas no so do nosso dia-a-dia. Os examinadores de concursos pblicos gostam muito de pedir sinnimos nas provas. Portanto, sempre que possvel irei mencionar sinnimos de uma palavra. Mesmo correndo o risco de ser repetitivo. Mas melhor ser repetitivo e fazer com que o aluno grave a matria e fornecer o mximo de conceitos possvel, do que omitir determinado ponto. Caiu recentemente em um concurso, de forma resumida: o que novo Cdigo Civil fez em relao ao Cdigo Comercial? Derrogou ou Ab-rogou? Resposta. O Cdigo Civil derrogou, isto porque o artigo 2045 diz que foi revogada a Parte Primeira do C.Comercial. Em que pese o CComercial estar todo ultrapassado, o C.Civil apenas revogou sua parte primeira. Portanto derrogao. A revogao ainda pode ser: 10

expressa - quando a lei nova taxativamente declara revogada a lei anterior; ela diz expressamente o que est revogando. tcita - quando a lei posterior incompatvel com a anterior e no h disposio expressa no texto novo indicando a lei que foi revogada, geralmente utiliza-se a expresso genrica: revogam-se as disposies contrrias. Observao - quando uma lei se torna incompatvel com a mudana havida na Constituio, chamamos de no-recepo da lei pela nova ordem constitucional. Repristinao Essa palavrinha muito importante nos concursos. Tem cado bastante. Tanto no D. Civil como no Constitucional. Repristinar significa restituir ao valor, carter ou estado primitivo. Na ordem jurdica repristinao o restabelecimento da eficcia de uma lei anteriormente revogada. Preceitua o artigo 2, 3 da Lei de Introduo ao Cdigo Civil que a lei revogada no se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigncia, salvo disposio em contrrio. Ex.: Se a lei A revogada pela lei B e posteriormente a lei B revogada pela lei C, no se restabelece a vigncia da lei A. No Brasil no h repristinao ou restaurao automtica da lei velha, se uma lei mais nova for revogada. S haver repristinao se a nova lei ressalvar expressamente que a lei velha retomar eficcia. Conflito das Normas no Tempo Esse tema muito importante. Est em quase todos os editais que exigem a LICC. Podem surgir conflitos quando uma norma modificada por outra e j se haviam formado relaes jurdicas na vigncia da lei anterior. Qual norma deve ser aplicada? Para solucionar o conflito so usados dois critrios: a) disposies transitrias e b) princpio da irretroatividade das leis. Disposies Transitrias (ou direito intertemporal) - A lei, para evitar eventuais e futuros conflitos, em seu prprio corpo, geralmente ao final, pode estabelecer regras temporrias, destinadas a dirimir conflitos entre a nova lei e a antiga. Irretroatividade das Leis - Irretroativa a lei que no se aplica s situaes constitudas anteriormente. Etimologicamente retroatividade quer dizer atividade para trs. Juridicamente, podemos dizer que uma norma retroage quando ela vigora, no somente a partir de sua publicao, mas, ainda, regula certas situaes jurdicas que vm do passado. A lei expedida para disciplinar fatos futuros, a partir de sua vigncia. O passado escapa ao seu imprio. Sua vigncia estende-se,

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como j se acentuou, desde o incio de sua obrigatoriedade at o incio da obrigatoriedade de outra lei que a derrogue. H casos, porm, em que a lei nova retroage no passado, alcanando conseqncias jurdicas de fatos efetuados sob a gide de lei anterior. Em regra, deve prevalecer o princpio da irretroatividade; as leis no tm efeitos pretritos; elas s valem para o futuro. O principal argumento favorvel irretroatividade da lei a garantia dos direitos individuais e a segurana das relaes jurdicas, diante da incerteza e dos riscos de alteraes futuras. O artigo 5, inciso XXXVI da Constituio Federal determina que A lei no prejudicar o direito adquirido, o ato jurdico perfeito e a coisa julgada. Por via de conseqncia, a retroatividade das leis exceo (ex.: a prpria Constituio Federal, em seu artigo 5, inciso XL, assim dispe: A lei penal no retroagir, salvo para beneficiar o ru). Assim, uma lei que estabelece que determinada conduta no mais crime, beneficiar todos os que por isso estiverem sendo processados. Entrando uma norma em vigor, tem ela efeito imediato e geral, respeitando: Ato Jurdico Perfeito o que j se consumou, segundo a norma vigente no tempo em que se efetuou (ex.: o contrato de locao celebrado durante a vigncia de uma lei no pode ser alterado somente porque a lei mudou; necessrio que seu prazo termine). Direito Adquirido o que j se incorporou ao patrimnio e personalidade de seu titular (ex.: pessoa que se aposenta e a lei modifica posteriormente o prazo de aposentadoria); o direito j foi conquistado, embora possa no ter sido ainda exercido. Coisa Julgada a deciso judicial de que j no caiba mais recurso (transitou em julgado). II - VIGNCIA DAS LEIS NO ESPAO Toda lei, em princpio, tem seu campo de aplicao limitado no espao pelas fronteiras do Estado que a promulgou. Chama-se isso Territorialidade da Lei. Esse espao ou territrio, em sentido amplo, inclui as terras ou o territrio propriamente dito, as guas e a atmosfera territoriais. Os Estados modernos, contudo, admitem a aplicao, em determinadas circunstncias, de leis estrangeiras, em seu territrio, no intuito de facilitar as relaes internacionais. essa uma conseqncia do crescente relacionamento entre homens da 12

comunidade internacional. O Brasil adotou a teoria da Territorialidade, mas de forma moderada, tambm chamada de Territorialidade Temperada. Leis e sentenas estrangeiras podem ser aplicadas no Brasil, observadas as regras: No se aplicam leis, sentenas ou atos estrangeiros no Brasil quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pblica e os bons costumes. No se cumprir sentena estrangeira no Brasil sem exequatur (cumpra-se), ou seja a permisso dada pelo Supremo Tribunal Federal para que a sentena tenha efeitos. Territrio, a extenso geogrfica ocupada por uma nao e sobre a qual o Estado exerce sua soberania. Fala-se em territrio real e ficto. O territrio real compreende: todo o solo ocupado pela nao, inclusive de ilhas que lhe pertencem, os rios, os lagos e os mares interiores, os golfos, as baas e os portos, a faixa de mar exterior que banha as suas costas, o espao areo correspondente, etc. J como exemplo de territrio ficto (fico jurdica) citamos as embaixadas, que estando em pases estrangeiros, so considerados territrio nacional. INTERPRETAO DAS LEIS Uma lei deve ser sempre clara, hiptese em que no seria necessrio qualquer trabalho interpretativo. Mas quando surge uma ambigidade no seu texto, m redao, imperfeio ou falta de tcnica, deve haver a interveno do intrprete, a pesquisar o verdadeiro sentido que o legislador realmente quis dar ou estatuir. Trata-se da mens legis (ou inteno da lei). Da surge a hermenutica, que a teoria cientfica da arte de interpretar, descobrir o sentido e o alcance da norma jurdica. INTEGRAO DA NORMA JURDICA A lei procura prever e disciplinar todas as situaes importantes s relaes individuais e sociais. Mas, muitas vezes, o legislador no consegue prever todas as situaes que uma norma pode criar. E um Juiz no pode eximir-se de julgar um caso alegando lacuna ou obscuridade da lei. Esgotados, sem resultados, os critrios interpretativos, cumpre ao aplicador da lei suprir a lacuna encontrada, recorrendo analogia, aos costumes (j visto), e aos princpios gerais do direito. H uma hierarquia na utilizao desses critrios. A analogia figura em primeiro lugar.

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Analogia consiste em aplicar, a hiptese no especialmente em lei, dispositivo relativo a caso semelhante: Caso X Aplica-se a regra jurdica Y Caso Z (parecido com o caso X) Como a lei permitida a aplicao da regra Y por analogia.

prevista

omissa,

Princpios Gerais de Direito - Na verdade so regras que se encontram na conscincia dos povos e universalmente aceitas, mesmo que no sejam escritas. Possuem carter genrico e orientam a compreenso do sistema jurdico (ex.: dar a Csar o que de Csar; no se pode lesar o prximo; ningum pode valer-se de sua prpria torpeza, etc.). A equidade, pela LICC, no um meio de suprir a lacuna da lei, mas auxilia nesta misso. Trata-se do uso de bom senso, isto , adaptao razovel da lei ao caso concreto. O Direito Romano definia o direito como ars boni et aequi, isto , como a arte do bom e do justo, demonstrando a antigidade do princpio da equidade. O Direito Processual Civil prev a aplicao da equidade para o Juiz decidir. Mas repito: a LICC no prev a equidade como forma de integrao da norma jurdica. Vamos agora apresentar um resumo do que foi falado na aula de hoje, cujo tema foi Noes de Direito e Lei de Introduo do Cdigo Civil. Esse resumo tem a funo de ajudar o aluno a melhor assimilar os conceitos dados em aula e tambm para facilitar a reviso da matria para estudos futuros. DIREITO o conjunto das normas gerais e positivas, que regulam a vida social. Direito Objetivo a norma; de acordo com ela devem agir os indivduos. Direito Subjetivo a faculdade; quando se diz que algum tem direito a algo, est-se referindo a um direito subjetivo. I - Classificao do Direito A) Direito Pblico Constitucional, Administrativo, Penal, Processual (Penal e Civil), Tributrio, Internacional, Eclesistico, etc. B) Direito Privado - Direito Civil e Comercial - controvrsia no Direito do Trabalho tese majoritria D. Privado. II - Diviso do Direito Civil 14

A) Parte Geral Normas concernentes s Pessoas, Bens e Fatos Jurdicos. B) Parte Especial Direito das Obrigaes, Direito de Empresa, Direito das Coisas, Direito de Famlia, Direito das Sucesses e Disposies Finais e Transitrias. III - Fontes do Direito A) Indiretas ou no-formais 1- Doutrina - interpretao da lei feita pelos estudiosos da matria. 2- Jurisprudncia - conjunto uniforme e constante das decises judiciais sobre casos semelhantes. B) Diretas ou Formais 1 - Lei - norma imposta pelo Estado e tornada obrigatria na sua observncia. Ningum ser obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa seno em virtude de lei (art. 5, II, da Constituio Federal). 2 - Costume - reiterao constante de uma conduta, na convico de ser a mesma obrigatria. Espcies: a) segundo a lei admitido b) na falta da lei - admitido c) contra a lei inadmissvel (teoria majoritria) IV - Vigncia das Leis A) No Tempo 1 Incio da Vigncia Regra Geral 45 dias aps a publicao - vacatio legis Prtica na data da publicao ou em outra data que a prpria lei determinar 2 Trmino da Vigncia a) Lei Temporria b) Revogao (expressa ou tcita) - ab-rogao total - derrogao parcial 3 Irretroatividade (no atinge situaes passadas) a regra. Admite-se a Retroatividade, respeitando-se: direito adquirido, ato jurdico perfeito e coisa julgada). B) No Espao 15

Territorialidade (regra) e Extraterritorialidade Territrio Nacional Real e Ficto (embaixadas, aeronaves)

navios

e

V - Integrao da Norma Jurdica Analogia, Costumes e Princpios Gerais de Direito, seguindo essa ordem hierrquica.

TESTES1- Assinale a opo falsa. a) A Lei de Introduo ao Cdigo Civil parte componente do Cdigo Civil, sendo suas normas aplicveis apenas ao Direito Civil. b) A Lei de Introduo ao Cdigo Civil uma lex legum, ou seja, um conjunto de normas sobre normas. c) A Lei de Introduo ao Cdigo Civil tambm o Estatuto do Direito Internacional Privado. d) A Lei de Introduo ao Cdigo Civil disciplina o direito intertemporal, para assegurar a certeza, segurana e estabilidade do ordenamento jurdico-positivo, preservando as situaes consolidadas em que o interesse individual prevalece. e) A Lei de Introduo ao Cdigo Civil contm critrios de hermenutica jurdica. 2 - Assinale a opo falsa. a) A Lei de Introduo no parte integrante do Cdigo Civil, por ser aplicvel a qualquer norma e por conter princpios gerais sobre as leis em geral. b) A Lei de Introduo uma lex legum, ou seja, um conjunto de normas que no rege relaes de vida, mas sim as normas, uma vez que indica como interpret-las, determinando-lhes a vigncia e eficcia, suas dimenses espao-temporais, assinalando suas projees nas situaes conflitivas de ordenamentos jurdicos nacionais e aliengenas, evidenciando os respectivos elementos de conexo. c) A Lei de Introduo um cdigo de normas que no tem por contedo qualquer critrio de hermenutica jurdica. d) As normas de direito internacional privado contidas na Lei de Introduo ao Cdigo Civil tm por objetivo solucionar o conflito de 16

jurisdio, estabelecer princpios indicativos de critrios solucionadores do problema de qualificao, determinar o efeito dos atos realizados no exterior, reger a condio jurdica do estrangeiro e tratar da eficcia internacional de um direito legitimamente adquirido em um pas, que poder ser reconhecido e exercido em outro. e) A Lei de Introduo ao Cdigo Civil disciplina a garantia da eficcia global da ordem jurdica, no admitindo a ignorncia da lei vigente, que a comprometeria. 3 Assinale a alternativa correta: a) a lei nova que estabelea disposies gerais ou especiais a par das j existentes, revoga a lei anterior que disciplinar a mesma matria; b) lei com vigncia temporria ter vigor at que outra a modifique ou revogue; c) a lei posterior revoga lei anterior somente quando expressamente o declare; d) a lei revogada no se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigncia, salvo disposio em contrrio; e) uma lei pode retroagir, mesmo que afete o ato jurdico perfeito. 4 Assinale a alternativa correta: a) a obrigatoriedade da lei brasileira nos Estados estrangeiros, quando admitida, tem inicio trs meses depois de oficialmente publicada; b) a revogao repristinatrio; de lei revogadora de lei anterior tem efeito

c) as declaraes de vontade devem ser interpretadas literalmente; d) o termo inicial da obrigao suspende aquisio do direito. 5 A vigncia da lei ordinria que rege o direito privado: a) a lei brasileira nunca ter obrigatoriedade nos Estados estrangeiros; b) a lei sempre indicar a data do incio de sua vigncia; c) a lei, como regra, entra em vigor 45 dias aps a sua publicao oficial;

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d) entra em vigor sempre na data de sua publicao, salvo a ocorrncia de vacatio legis expressamente determinado em seu texto; e) no muda o prazo de vigncia se no curso da vacatio legis for publicada correo de lei. 6 Assinale a alternativa incorreta: Consoante a Lei de Introduo ao Cdigo Civil: a) a lei revogada no se restaura por ter a lei revogadora perdido a eficcia, salvo disposio em contrrio; b) nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia 120 dias depois de oficialmente publicada; c) se, antes de entrar em vigor, ocorrer nova publicao de seu texto, destinada correo, comear a correr da nova publicao prazo para entrar em vigor; d) consideram-se direitos adquiridos aqueles que o seu titular, ou algum por ele, possa exercer e aqueles cujo comeo do exerccio tenha termo pr-fixado, ou condio preestabelecida inaltervel, a arbtrio de outrem; e) a lei nova, que estabelea disposies gerais ou especiais a par das j existentes, no revoga nem modifica lei anterior. 7 Proposies: I O costume fonte de direito e tambm recurso suplementar que orienta a integrao da norma jurdica; II Se a lei for omissa o Juiz pode decidir de acordo com os costumes e com a eqidade; III O costume no fonte de direito; IV No se considera lei nova a correo de lei j em vigor; V Em nenhuma hiptese ocorre no nosso sistema positivo a repristinao. Assinale a proposio correta: a) I b) II e IV c) III

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d) V e) Nenhuma correta 8 - A lei: (1) comea a vigorar em todo o pas trinta dias depois de oficialmente publicada, salvo se ela dispuser de outra forma. (2) nova, que estabelea disposies gerais ou especiais a par das j existentes, no revoga nem modifica a lei anterior. (3) revogada se restaura se a lei revogadora perder sua vigncia. (4) possui vigncia temporria no curso da vacatio legis. (5) no pode ter seu desconhecimento como alegao para escusa de seu descumprimento.

GABARITO COMENTADO1 Alternativa falsa letra a Como vimos em aula, a LICC no parte componente do Cdigo Civil. Trata-se de uma lei autnoma (Decreto-lei n 4.657/42), que continua em vigor. Alm disso, suas normas se aplicam a todas a outras matrias do direito (observadas as peculiaridades de cada uma). As demais alternativas esto corretas:b) deixamos bem claro que a LICC de fato um conjunto de normas sobre normas; c) a LICC possui normas de Direito Internacional Privado, como exemplo uma pessoa que morre no Brasil deixando bens no estrangeiro; d) como vimos a LICC disciplina o direito intertemporal, reveja o tpico vigncia das leis no tempo; e) possui critrios de hermenutica, ou seja de interpretao das leis. 2 Alternativa incorreta letra c Como vimos na questo acima a LICC possui sim, regras de hermenutica. As demais alternativas so conceitos verdadeiros sobre o teor da LICC. Observe como estas questes, que j caram em concurso, so parecidas. O examinador roda... roda... roda... e quase sempre exige a mesma coisa na prova. Da a importncia em se fazer os testes. Com eles o aluno vai pegando a malcia da questo.

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3 Alternativa correta letra d Esta alternativa trata da repristinao a lei revogada no se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigncia, salvo disposio em contrrio (veja o artigo 2o. 3o da LICC). A alternativa a est errada pois o que ocorre exatamente o contrrio: a lei nova que estabelea disposies gerais ou especiais a par das j existentes, no revoga a lei anterior que disciplinar a mesma matria, o que determina o artigo 2o 2o da LICC. A letra c est errada, pois como vimos a revogao pode ser expressa ou tcita (neste caso quando o texto da lei posterior incompatvel com o da lei anterior). A letra e tambm est incorreta, pois uma lei no pode retroagir. No entanto h casos em que a lei retroage, desde que respeite o Ato Jurdico Perfeito, o Direito Adquirido e a Coisa Julgada. 4 Alternativa correta letra a Uma lei comea a vigorar no Brasil (salvo disposio em contrrio) 45 dias depois de oficialmente publicada. J nos Estados estrangeiros este prazo sobe para trs meses (veja o artigo 1o da LICC). A letra b est errada, pois como vimos no h o efeito repristinatrio (art. 2o, 3o da LICC). As declaraes de vontade podem ser interpretadas de forma que a inteno da pessoa seja respeitada e nem sempre literalmente. A ttulo de exemplificao cito o artigo 423 do CC: quando houver, no contrato de adeso, clusulas ambguas ou contraditrias, dever-se- adotar a interpretao mais favorvel ao aderente, portanto a letra c est errada tambm. Finalmente na letra d o examinador pediu um conceito fora da matria LICC. Isto ns veremos com calma, mais para frente, no captulo referente a Atos e Fatos Jurdicos. Mas podemos adiantar agora que o termo inicial de uma obrigao suspende o exerccio, mas no a aquisio do direito. 5 Alternativa correta letra c Uma lei, como regra, entra em vigor 45 dias aps sua publicao (vacatio legis), salvo disposio expressa em contrrio. Ou seja, salvo quando a lei diz quando entrar em vigor. Ela pode dizer que entrar em vigor na data de sua publicao, que o mais comum; seis meses da data da publicao; etc. Como exemplo citamos o prprio Cdigo Civil que marcou prazo de um ano para entrar em vigor. A letra a est errada. At porque, a LICC marca prazo para uma lei brasileira entrar em vigor no estrangeiro trs meses. Letra b errada - nem sempre a lei marca prazo para entrar em vigor; quando ela no marcar prazo este o de 45 dias. A letra d tambm est errada pois nem sempre a lei entra em 20

vigor na data da publicao como j vimos. A letra e, apesar de errada, a mais interessante. Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicao de seu texto destinada correo, o prazo comear a correr da nova publicao (LICC - art 1, 3). 6 Alternativa incorreta letra b A obrigatoriedade de trs meses. Todas as demais alternativas j foram analisadas em questes anteriores. Veja como concursos diferentes tambm repetem as questes. 7 Alternativa correta letra a So fontes de Direito: 1 imediatas (lei e costumes) e mediatas (jurisprudncia e doutrina). So formas de integrao da norma jurdica (seguindo a ordem hierrquica fornecida pela LICC): analogia, costumes e princpios gerais de direito. Portanto o Costume , ao mesmo tempo fonte de Direito e forma de integrao da norma jurdica. O enunciado II est errado pois a LICC no prev a equidade como forma de integrao da norma jurdica. O item III est errado pois o Costume fonte de Direito. O enunciado IV tambm est errado, pois como vimos se uma lei entrar em vigor, qualquer alterao nesta lei depois disso considerado lei nova. O item V tambm est errado: vimos que a repristinao no acolhida em nosso Direito, salvo quando a lei expressamente assim dispuser. Portanto h uma hiptese em que a repristinao aceita. Questo 8 1 Errado o prazo correto de quarenta e cinco dias. 2 Certo o que dispe o art. 2, 2 da LICC 3 Errado art. 2, 3 da LICC - como regra no h repristinao em nosso Direito. 4 Errado durante a vacatio legis a lei ainda no est vigorando. 5 Certo art. 3 da LICC ningum se escusa de cumprir a lei, alegando que no a conhece.

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AULA 02 DAS PESSOAS NATURAIS O primeiro captulo do Cdigo Civil se refere s Pessoas. Todo concurso que exige Direito Civil coloca este ponto no Edital. fundamental saber bem esta matria. Portanto aconselhamos o aluno a acompanhar esta aula com o Cdigo Civil na mo. Especialmente do artigo 1o ao 78. Saber a matria pessoas importantssimo. No s agora, como tambm depois, na Parte Especial do Cdigo. Isto porque so as pessoas que iro fazer parte de um contrato (D. das Obrigaes); de uma famlia, casando e tendo filhos (D. de Famlia); sero proprietrios ou possuidores de bens (D. das Coisas); iro receber e transmitir herana (D. das Sucesses), etc. Portanto o tema muito importante durante todo o curso. Sempre que tiver dvida, mais para frente, volte a esta aula para reavivar a memria. Vamos ento iniciar. Podemos conceituar pessoa como sendo todo ente fsico ou jurdico, suscetvel de direitos e obrigaes. sinnimo de sujeito de direito. Nesta aula vamos nos ater Pessoa Natural, deixando a Pessoa Jurdica para a prxima. Nosso objetivo hoje falar sobre a personalidade (incio, individualizao e fim) capacidade e emancipao. Comecemos pela Personalidade. O artigo 1 do Cdigo Civil prev: Toda pessoa capaz de direitos e deveres na ordem civil. Assim, o conceito de Pessoa inclui homens, mulheres e crianas; qualquer ser humano sem distino de idade, sade mental, sexo, cor, raa, credo, nacionalidade, etc. Por outro lado o conceito exclui os animais, que gozam de proteo legal, mas no so sujeitos de direito, os seres inanimados, etc. Concluindo = Pessoa Natural ou Fsica o ser humano. Os examinadores de concursos pblicos gostam muito de pedir sinnimos nas provas. Portanto, sempre que possvel irei mencionar sinnimos de uma palavra. Mesmo correndo o risco de ser repetitivo. Mas melhor ser repetitivo e fazer com que o aluno grave a matria e fornecer o mximo de conceitos possvel, do que omitir determinado ponto. Falo isso porque h pouco tempo vi uma questo cair em uma prova indagando qual a diferena, para os efeitos de gozo de direitos 1

na ordem civil, entre o autctone e o dvena. A questo era simples, mas se o aluno no soubesse o significado de tais palavras, no acertaria a questo. Autctone (ou aborgine) o que nasceu no Pas. E dvena o estrangeiro. Assim a questo queria saber qual a diferena entre o bra