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Nº 7 2014

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Nº 7

2014

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REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DO

VALE DO IGUAÇU

Nº07 2014

ISSN 2176-5235

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2000 - 2004 Joaquim Osório Ribas

2004 - 2006Raulino Bortolini

Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI)

PRESIDENTES

TesoureiroJoaquim Osório Ribas

2º TesoureiroCordovan Frederico de Melo Junior

Mestres de CerimôniaAluizioWitiuk

Roberto Domit de OliveiraBibliotecária e Diretora de Publicações

Fahena Porto Horbatiuk

2006 - 2010 Therezinha Leony Wolff

2011 - 2013Raulino Bortolini

2013 - 2014Leni TrentimGaspari

DIRETORIA

PresidenteLeni TrentimGaspari

Vice-PresidenteMárcia Marlene Stentzler

Secretária GeralRoseli Bilobran KleinSecretária Adjunta

Leda Barcelos

REVISTAComissão Editorial

Fahena Porto HorbatiukLeni Trentim GaspariMárcia M. Stentzler

Roseli Bilobran KleinSoeli Regina Lima

DiagramaçãoLuciane Mormello Gohl

ImpressãoGráfica e Editora Kaygangue Ltda.

Tiragem300 exemplares

Praça Visconde de Nácar, s/n – Centro – União da Vitória – PR – CEP 84600-000Email: [email protected] – (42) 3523-4771 - Site: alvi.org.br

Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.As informações contidas nos textos são de responsabilidade dos autores.

R454 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI). - N. 1 (2000/2008) -União da Vitória, PR: Academia de Letras do Vale do Iguaçu, 2008 -

AnualISSN 2176-5235 a partir do n.2, 2009.

1. Literatura - Periódicos. I. Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI)

CDU 82 (05)

Ficha catalográfica elaborada por Fernando Leipnitz CRB-10/1958

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SUMáRIO

EDITORIAL.......................................................................................................................5

ARTIGOS ............................................................................................... 7CONSTRUINDO O ESPAÇO ESCOLAR, José Fagundes ......................................................... 9A FORMAÇÃO DO ETHOS DEMOCRÁTICO, Marilucia Flenik ........................................ 17BREVE ESTUDO SOBRE CARROCEIROS E CARROCEIRAS NAS “GÊMEAS DO IGUAÇU”, Leni Trentim Gaspari ...................................................................... 29O SONHO SE TORNA REALIDADE, Paulo Horbatiuk e Fahena Porto Horbatiuk ............ 49ESPAÇO ESCOLAR E SEUS OBJETOS: COLÉGIO INTERNO MASCULINO SOB A COORDENAÇÃO DE FRADES FRANCISCANOS NO INTERIOR DO ESTADO DE SANTA CATARINA (1940), Roseli Bilobran Klein ............................................................ 57A SAGA DE MIKOŁAJ TOPOROWSKI: LAÇOS DESATADOS, VIDAS PARTIDAS, Fernando Tokarski e Damaris Ocker............................................................................................ 73

ARTIGOS JORNALÍSTICOS ................................................................... 85PORTO UNIÃO: VILA GEMMA, ARQUITETURA E HISTóRIA, Leni Trentim Gaspari ..................................................................................................................... 87HOTEL JOIA – VIVENDO E FAZENDO HISTóRIA, Fahena Porto Horbatiuk ................ 91HOTEL SAN RAFAEL, Fahena Porto Horbatiuk ...................................................................... 95ÁUREA DE SOUZA CLAUSEN: A PRIMEIRA VEREADORA EM UNIÃO DA VITóRIA (PR), Odilon Muncinelli ....................................................................... 99HOMENAGEM A PORTO UNIÃO – 97 ANOS, Odilon Muncinell .................................. 101HISTóRIA DO POVOAMENTO E OCUPAÇÃO DE UNIÃO DA VITóRIA, Odilon Muncinell ......................................................................................................................... 103O TRANSPORTE NO RIO IGUAÇU, Ulysses Sebben ........................................................... 109A CANOA, Ulysses Sebben ......................................................................................................... 111E O ASSUNTO CONTINUA, Therezinha Leony Wolff ......................................................... 115TOMBAMENTO PATRIMONIAL, Therezinha Leony Wolff ............................................... 119VIVENDO A 3ª IDADE, Therezinha Leony Wolff .................................................................. 121120 ANOS DE UNIÃO DA VITóRIA, Therezinha Leony Wolff .......................................... 125

CRÔNICAS ......................................................................................... 127JARDIM DA MINHA INFâNCIA, Tânia Margaret Ruski ................................................... 129Vó OLINDA, Tânia Margaret Ruski ......................................................................................... 131

POEMAS ............................................................................................ 133SOMENTE HÁBITO?, Arlete Therezinha Bordin ................................................................... 135VALEU A PENA?, Arlete Therezinha Bordin ........................................................................... 137ALMA DE POETA, Therezinha Thiel Moreira ......................................................................... 141O TEMPO, Therezinha Thiel Moreira ....................................................................................... 142

REVISTA DA ALVI Nº07 2014

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PALESTRA ......................................................................................... 143IMIGRAÇÃO SIRIO-LIBANESA NO BRASIL, Carlos Guérios ........................................... 145

DISCURSOS ....................................................................................... 157DISCURSO CONCLUSIVO DA CELEBRAÇÃO DA MISSA DO 60º ANIVERSÁRIO DA ORDENAÇÃO PRESBITERAL DE DOM WALTER, Dom Walter Michael Ebejer .... 159DISCURSO PELO 14º ANIVERSÁRIO DE CRIAÇÃO DA ALVI, Joaquim Osório Ribas .................................................................................................................. 163HOMENAGEM PRESTADA À ENFERMEIRA ZELIR PELEGRINI, Therezinha Leony Wolff .............................................................................................................. 167HOMENAGEM PóSTUMA À SRA. ZELIR PELEGRINI, Dr. Ayrton Martins ................. 171SESSÃO SOLENE OUTORGA DA COMENDA PINHÃO DO VALE, Ulysses Reis Teixeira .................................................................................................................... 173SAUDAÇÃO A ULYSSES TEIXEIRA (31/05/2014) COMENDA PINHÃO DO VALE, Margareth Ribas ........................................................................................................................... 177DISCURSO PELO 13º ANIVERSÁRIO DE CRIAÇÃO DA ALVI, Dr. José Fagundes ...... 185DISCURSO EM HOMENAGEM AO DR. JOSUÉ GUIMARÃES, Joaquim Osório Ribas .................................................................................................................. 187DISCURSO DR. JOSUÉ GUIMARÃES POR OCASIÃO DO RECEBIMENTO DA COMENDA PINHÃO DO VALE, Josué Guimarães ....................................................... 189DISCURSO SESSÃO SOLENE DE POSSE DAS NOVAS ACADÊMICAS - 2013, Leni Trentim Gaspari ................................................................................................................... 195DISCURSO DE POSSE NA ALVI - 2013, Soeli Regina Lima ................................................ 197DISCURSO DE POSSE NA ALVI - 2013, Marilucia Flenik .................................................. 199DISCURSO DE POSSE DA ALVI - 2013, Margareth Rose Ribas ......................................... 205SAUDAÇÃO A MARIA TEREZA KRÖETZ BIEBERBACH ENTREGA DA COMENDA PINHÃO DO VALE – 2003, Therezinha Leony Wolff ...................................... 211

RELATOS ........................................................................................... 215CONEXÃO CULTURAL BRASIL X CHICAGO, Ladi Tamara Benda Loiacono e Alex de Miranda Silva ........................................................... 217THEREZINHA CARTONERA, Therezinha Thiel Moreira .................................................... 225

BIOGRAFIA ........................................................................................ 231QUEM ERA EUGÊNIO SCHUWALOFF? “DURA VERITAS, SED VERITAS”, Pedro Carlos Bruno Mrosk .......................................................................................................... 233

ACADÊMICOS ..................................................................................... 241RELAÇÃO DE ACADÊMICOS, PATRONOS E CONTATOS ........................................... 243

COMENDADORES ............................................................................... 251OUTORGA DA COMENDA PINHÃO DO VALE PELA ALVI ........................................253

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EDITORIAL

O sétimo número da Revista da ALVI vem consolidar o desejo dos membros da Instituição em manter a constância de sua publicação. Este número está ampliando sua proposta, abrindo espaço para veiculação de artigos científicos, ensaios teóricos, bibliográficos e relatos. Essa abertura a novas produções permite que a publicação possa inserir-se também nas discussões acadêmicas e seja reconhecida como fonte histórica, no âmbito do conhecimento.

Os artigos científicos tratam das questões educacionais, dos es-paços escolares, da realidade social, adentrando o campo da Filosofia e a formação do ethos democrático. Ainda nos textos científicos encontram-se estudos sobre história local e regional, abordando história e cotidiano. Outro artigo destaca-se pela análise da vida de Toporowski e suas relações com a história dos locais onde viveu.

Os artigos jornalísticos apresentam interessantes esclarecimentos sobre as cidades, tendo em vista que alguns deles foram escritos como for-ma de homenagear União da Vitória e Porto União, no aniversário das re-feridas cidades. Textos informativos, que contribuem muito para o ensino de história local.

Crônicas, poesias, discursos, relatos e biografias, também enrique-cem o conteúdo da Revista da ALVI, salvaguardando a identidade e cultura dos autores e, para todos, o objetivo é o mesmo: ser fiel aos compromissos que nortearam a fundação da ALVI e o pensamento de que escrever é uma arte, não importando a categoria.

Nossos agradecimentos aos Acadêmicos que atenderam nosso cha-mado enviando seus textos, e à Prefeitura Municipal de União da Vitória que tornou possível a publicação de mais esta obra, com seu apoio finan-ceiro e aval cultural.

Leni Trentim Gaspari Presidente

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ARTIGOSARTIGOSARTIGOS

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 9

CONSTRUINDO O ESPAÇO ESCOLAR

José Fagundes1

Esta reflexão sobre o espaço escolar, apoiada em vários autores (Nóvoa, Cury, Illich, Bourdieu e Passeron, Saviani, Larrosa, Kosik), busca identificar suas especificidades, suas limitações, suas possibilidades. Para responder a essas indagações torna-se necessário situar o espaço escolar no espaço societal e captar suas interações e seu processo histórico de cons-trução.

A tendência ou a tentação em tomar como natural aquilo que é his-tórico constitui -se em um dos maiores obstáculos epistemológicos, impe-dindo uma análise acurada de nossos problemas, especificamente, daqueles inerentes à escola, como agência responsável pela produção e transmissão do conhecimento.

Nada mais nefasto para a compreensão da realidade social e edu-cacional do que confiná-la e exauri-la, confundindo o real existente com o real “tout court” e, com isso, amputando a dimensão possível do real. O real existente é apenas um aspecto da realidade que, num dado momento e no jogo da correlação de forças, concretizou-se. Isso significa dizer que o real existente não esgota as possibilidades da realidade “hic et nunc” e, muito menos, de forma definitiva.

A pretensão de apresentar a realidade social ou a realidade educa-cional como o único e definitivo modo de ser da sociedade e da escola tem um nome: naturalização, ou seja, tomar como natural aquilo que nada mais é que o resultado de um processo, construído por homens concretos, num determinado momento histórico.

Os modos de produção que perpassaram a história da humanidade ilustram, de forma cabal, o acima afirmado. As sociedades, que tinham no trabalho escravo sua base de produção e sustentação, defendiam o escravis-mo como a única maneira de os homens se organizarem socialmente, como algo natural, como a vontade de deuses ou de Deus.

1 Membro fundador da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI), ocupando a cadeira n 28, tendo como patrono Hermínio Millis.

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A distribuição dos bens, tanto materiais, como espirituais (cultu-rais, educacionais) era desigual; os indivíduos eram discriminados, por exemplo, por sua origem social, por sexo.

E hoje? Com qual realidade nos defrontamos? Estaríamos viven-do numa sociedade construída pelos homens, estaríamos participando de uma escola e da produção de conhecimento feita e gerida pelos homens ou estaríamos, novamente, às voltas com a tendência que procura naturalizar o atual estágio da humanidade, fazendo-o passar como o único, como o último, coincidindo com o fim da própria história?

Sob a égide das leis do mercado, propaga-se uma visão hegemôni-ca, que se apresenta como o único caminho a ser trilhado para o bem-estar da humanidade, quando, na realidade, conduz à globalização mercadológi-ca, reproduzindo a estrutura social, acentuando a desigualdade.

O ideário neoliberal defende com vigor a liberdade plena do mer-cado; qualquer intervenção do Estado é ameaça às liberdades econômica e política. Pressiona o Estado para que se desresponsabilize de funções sociais: saúde, previdência, educação. O neoliberalismo defende a tese do Estado mínimo e da desregulamentação. Todavia a questão crucial não se circunscreve ao tamanho do Estado, mas de qual Estado.

Na esteira da globalização vêm os efeitos que são minimizados, quando não ignorados; entre eles destaca-se o desemprego, que tem como sequela a exclusão. Uma sociedade que sempre fez a apologia do trabalho é a mesma que elimina postos de trabalho, que deteriora o presente, que obs-curece o futuro, tornando-o incerto para as gerações vindouras, na medida em que não oferece opções.

Não se pode ignorar, nem seria possível, o fato da globalização, do poder das ciências, da cibernética, da robótica e do poder do capital, por meio das leis do mercado, ser capaz de fragilizar e de submeter os Estados Nacionais e dirigir os destinos da humanidade. O que se impõe é conhecer a sua dimensão, prever seus desdobramentos, e analisar suas consequên-cias. É dentro desse contexto que se situa o espaço escolar, seus limites e suas possibilidades.

O ESPAÇO ESCOLAR

Os problemas educacionais só podem ser devidamente entendidos, quando referidos a um contexto determinado. Isso por uma razão simples: a educação, assim como a escola, não se constitui num fenômeno isolado,

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 11

que se explica a si mesmo, descolado da realidade em que se insere. Pelo contrário, a educação é um dos setores que, juntamente com os demais, formam a totalidade, ou,para ser mais preciso, consubstanciam uma deter-minada sociedade.

As expectativas sobre a educação e as funções atribuídas à escola têm sido, ao longo da história, não somente diversas, mas antagônicas. A escola já acalentou os sonhos daqueles que a viam como redentora da hu-manidade, como panaceia para todos os problemas sociais e políticos. No início do século XX, alimentava-se no Brasil a crença, cunhada por Jorge Nagle 1974) como ‘entusiasmo pela educação, segundo a qual a educação seria o principal problema nacional que, uma vez resolvido, conduziria à solução dos demais.

Na sequência, tivemos com o escolanovismo, na década de trinta, um surto de ‘otimismo pedagógico’ que, na medida em que se atém ao fun-cionamento eficiente e à qualidade do sistema de ensino, vem a obnubilar as relações da educação com a problemática socioeconômica e política da sociedade.

No lado oposto, encontramos a concepção mecano-economicista, que reduz a educação a um puro reflexo da infraestrutura. Convém lembrar ainda algumas tendências meteóricas na década de 70: umas puramente contestatórias (Contestação Nova Fórmula de Ensino), outras que pro-pugnavam o desaparecimento da escola (ILLICH,1973), outras ainda que viam a escola como uma agência de reprodução da ideologia dominante (BOURDIEU & PASSERON, 1975), portanto a escola sem espaço próprio, impotente.

Postulamos uma postura equidistante, nem tanto ao mar nem tanto à terra; a educação não tem aquele poder transformador como pretendem os entusiastas, mas também não se reduz a um papel meramente caudatário na sociedade, como acreditam os mecanicistas. A educação, bem como a escola, não são apenas um instrumento de conservação social, embora o sejam precipuamente, uma vez que elas trazem em seu bojo as contradi-ções da própria sociedade. Tais contradições proporcionam as condições de possibilidade para que a escola venha a cumprir, juntamente com outros setores, um papel no desenvolvimento e na transformação da sociedade. Se a escola não se constitui, por si só, em condição suficiente para o desenvol-vimento e mudanças da sociedade, todavia ela é condição necessária. É a partir desse posicionamento que poderemos identificar o espaço possível da escola e de seus protagonistas num determinado contexto.

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ESPAÇO ESCOLAR POSSÍVEL

Urge, pois, revisitar a trajetória da escola, para redescobrir seu es-paço próprio e possível, a fim de ocupá-lo com competência, para não cair-mos em bravatas ingênuas, nem em lamentações estéreis. Impõe-se, então, identificar e problematizar alguns entraves que dificultam ou impedem a escola de preocupar-se e ocupar-se com aquilo que lhe é próprio: a produ-ção e a reprodução do conhecimento, a formação e profissionalização dos professores e dos alunos.

A escola vive uma tensão entre a visão burocrático-centralizadora (controle, resultados estatísticos) e a visão participativa, que possibilitaria a emergência de novas instâncias de poder. A tutela político-estatal trans-muta-se numa tutela científico-curricular com novos controles, mais sutis, sobre o docente (NóVOA, 1995). O fosso existente entre autores e execu-tores leva o professor a economizar esforços, a realizar apenas o essencial para cumprir suas obrigações, a apoiar-se nos especialistas, esperando que eles digam o que fazer, depreciando, assim, suas capacidades e experiências adquiridas.

O trabalho da escola consiste na apropriação do saber pelo aluno concreto, tendo, pois, como ponto de partida a prática social do aluno, isto é, prática-teoria-prática. Esse processo não se dá espontaneamente, mas demanda um método didático que é a forma que o conteúdo adquire. Há uma relação recíproca entre a forma e o conteúdo: a forma sem o conteúdo fica vazia e o conteúdo sem a forma torna-se cego, sem rumo. Para comple-tar e dar organicidade e rumo é necessário um terceiro elemento: os objeti-vos. É preciso questionar não só ‘o quê’ do saber escolar a ser ensinado, mas também o ‘como’ se pretende ensinar esse ‘o quê’. E mais ainda: é preciso questionar esses dois polos, em função de quais interesses está servindo o ‘ensinar bem’. Assim o ‘para quê’ (objetivos) preside e determina a relação entre ‘o quê’ (conteúdo) e o ‘como’ (método).

O método dialético configura-se como o mais adequado para a apropriação do conhecimento, à medida que segue estas etapas: prática-teoria-prática. A educação, aqui, está referenciada à atividade dos sujeitos do processo e não apenas à lógica dos conteúdos. O ponto de partida é a prática social (leitura da realidade), que tem como agentes sociais os alunos e os professores que possuem diferentes níveis de compreensão (conheci-mento e experiência) da prática social. A aprendizagem se dá na relação de alunos e professores com o conteúdo ou o saber escolar. A prática social é

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o ponto de partida, seguida pela problematização (vai levantar as grandes questões do âmbito da prática social e que conhecimentos são necessários para resolvê-las), que demanda a instrumentalização, ou seja, a apropriação das ferramentas culturais e instrumentos teóricos e práticos para enfrentar os problemas levantados.

Chega-se, então, ao ponto mais importante do processo ensino--aprendizagem, chamado catarse, em que o aluno faz a expressão elaborada da nova forma de entendimento da prática social; sem a catarse não há aprendizagem. Por fim, volta-se à prática social, agora como concreto pen-sado; há conhecimento de suas determinações. O professor ensina como foi ensinado e não como foi ensinado a ensinar. O aluno, mediante o fazer do professor, aprende muito mais atitudes e outras maneiras de ser do que ‘o quê’ o professor ensina.

A realidade da sala de aula, bem ou mal, efetiva-se num plano con-creto, daí a importância que deve ser dada ao cotidiano escolar. A cotidia-nidade tem uma estreita relação com a história, está no centro da história. A vida cotidiana é a vida do indivíduo como ser particular e ser genéri-co (fruto das relações sociais). O cotidiano escolar é consubstanciado por ideias pedagógicas, instituições pedagógicas, agentes pedagógicos, material pedagógico e ritual pedagógico.

A própria vida dos indivíduos é produto das circunstâncias, por outro lado, as relações entre os indivíduos tornam-se determinantes no movimento real da história. A história será a nossa história, à medida que nós lhe emprestamos um sentido, e não ficamos esperando a realização de um de um sentido pré-determinado.

CONSIDERAÇÕES

A escola não pode mudar, sem a participação do professor, e este não pode mudar, sem a transformação da escola. Se não houver articula-ção, poderão surgir resistências, seja de uma parte, seja de outra. É conve-niente lembrar as relações de corresponsabilidade entre os professores dos diferentes níveis de ensino, uma vez que é no Ensino Fundamental que são gestadas as condições de possibilidade do trabalho pedagógico nos níveis posteriores:

- Assumir coletivamente sua escola como espaço privilegiado (não único) da produção e da transmissão do conhecimento.

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- Trabalhar o espaço escolar não apenas em sua dimensão acadê-mica e científica, mas em sua dimensão política, voltada para a autonomia e formação da cidadania, encontrando o sentido po-lítico do nosso trabalho de pesquisadores e professores.

- Examinar as condições que nos oferecemos, uns aos outros, para vivermos a prática do professor.

- Trazer para o campo da reflexão nossas práticas, nossas resis-tências, nossos preconceitos, nossas seguranças, nossas crenças no senso comum, desfazendo mal entendidos e dicotomias que separam e opõem, por exemplo, teoria e prática, verdade e erro, abstrato e concreto (confundindo empírico com concreto), ar-rancando daí a problemática específica para a prática científica.

- Para que isso ocorra, faz-se necessário descobrir o espaço pos-sível da escola, que é gestado no ventre da utopia e da ilusão. Utópico significando o ainda não, todavia possível, o diferente do real existente. Ilusão, opondo-se a desilusão, enquanto carre-ga a ideia de jogo, de ação. A escola se configura, assim, como o espaço da utopia, da ilusão e do possível.

Sem uma utopia capaz de gestar e nutrir um projeto político-peda-gógico, compartilhado por todos os autores e atores da vida escolar; sem a consciência do poder que o nosso saber confere e da nossa união, corremos o risco de deixar de ocupar e explorar as virtualidades e possibilidades do espaço escolar, passando de atores a expectadores, agora, sim, do drama escolar que toma o lugar da escola unitária, pública e democrática.

REFERÊNCIAS

BOURDIEU, Pierre. & PASSERON, Jean Claude. A reprodução: elemen-tos para uma teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.

CURY, Carlos Roberto Jamil. Ideologia e Educação Brasileira. São Paulo: Cortez & Moraes, 1978.

ILLICH, Ivan. Sociedade sem Escolas. Petrópolis: Vozes, 1973.

KOSIK, Karel. Dialética do Concreto. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1976.

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 15

LARROSA, Jorge & LARA, Nuria Pérez (orgs). Imagens do Outro. Petró-polis: Vozes, 1998.

NAGLE, Jorge. Educação e Sociedade na Primeira República. São Paulo: EPU, 1976.

NóVOA, António (org.). Vidas de Professores. Porto: Porto Editora, 1995.

SAVIANI, Dermeval. História das Idéias Pedagógicas no Brasil. 2. Ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2008.

VÁSQUEZ, A.S. Filosofia da Praxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 17

A FORMAÇÃO DO ETHOS DEMOCRÁTICO

Marilucia Flenik1

1 INTRODUÇÃO

Este artigo visa provocar a reflexão acerca do despertar das pessoas para a criação do espaço democrático. A virtude cívica brota da força moral de cada cidadão que se engaja nas lutas pela emancipação política, e se dis-põe a dedicar um tempo de sua vida, a fim de compartilhar interesses que dizem respeito ao mundo comum.

A palavra “política” é tomada na acepção do referencial teórico de Hannah Arendt (1905-1975), para quem o poder democrático pertence aos cidadãos que se reúnem no espaço público, e, mediante palavras e ação, exer-citam o dom da liberdade, participando da formação da vontade coletiva.

O Brasil, especialmente, a partir de 1988, com a Constituição Cida-dã, é um país democrático em formação. Os brasileiros estão evoluindo no sentido de lutar pelos seus direitos, ao exigir políticas públicas aptas a redu-zirem o fosso das desigualdades econômicas, sociais e culturais. É pressu-posto do Estado Democrático de Direito que todo o poder emana do povo2,

verdadeiro ícone que apresenta a “vontade da nação”, tal qual idealizada por Rousseau, como fator de legitimidade do Direito democrático. A reali-dade, porém, é outra. Diante do voto obrigatório, grande parte da popula-ção brasileira comparece às urnas sem saber por que está votando em de-terminada pessoa, ignorando o programa político dos partidos em disputa eleitoral. No âmbito da política da democracia representativa, o cidadão queda inerte, entretido apenas com seus interesses particulares, deixando de lado os assuntos políticos aos profissionais que comandam a imensa bu-rocracia governamental.

Diante do tema proposto, - a participação dos cidadãos na cons-trução do espaço democrático -, serão desenvolvidas duas linhas de argu-1 Membro da Alvi, ocupando a cadeira nº 17, tendo como Patrono Paulo le-minski.2 “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. (BRASil. Constituição Federal. art. 1º, parágrafo único).

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mentação. A primeira buscará na origem da ética ocidental os traços que marcam a envergadura moral do cidadão, o que apontará alguns possíveis valores, ínsitos da criatura humana, necessários para todo aquele que assu-me a corresponsabilidade pela construção do espaço democrático. Sócrates, que anunciou ser preferível sofrer o mal, em vez de praticá-lo, e também descobriu a consciência, com o princípio da não contradição, serve como exemplo da conduta esperada do cidadão engajado na política.

A segunda linha de argumentação diz respeito à amizade, como fundamento ontológico da política democrática, e o necessário Amor Mun-di, pressuposto da ética cidadã, que se manifesta como cidadania, com-preendida como atividade de criação e de experimentação de novas formas de sociabilidade e solidariedade na esfera política.

No ethos democrático, formado pelos direitos fundamentais da igualdade, liberdade e fraternidade, os valores compartilhados brotam de princípios de justiça, por meio dos quais toda e qualquer pessoa que tenha o sentido do razoável sentir-se-á obrigada a assumir como virtude a amizade política, que possibilita a formulação de um verdadeiro pacto de convivência.

No encontro dos amigos aparece um vínculo entre criaturas que se reconhecem como “carne da mesma carne e osso do mesmo osso”. E nesse momento surge uma “obrigação” mais originária do que o mero “dever”. Consiste em uma experiência de reconhecimento recíproco indispensável para a formação dialógica da vontade dos sujeitos morais. A dignidade da pessoa humana se expressa no simples fato de que toda e qualquer criatura merece o mesmo respeito.

A esperança de que “as coisas possam se resolver”, no que diz res-peito à problemática da existência humana, encontra nesse respeito pelos outros a garantia da boa conduta. A democracia, para se manifestar como fenômeno político e social, precisa contar com sujeitos morais aptos para emitir opiniões fidedignas, contribuindo, dessa maneira, para a formação da vontade coletiva, que legitima o Estado Democrático de Direito.

2 SÓCRATES, UM EXEMPLO DE CIDADÃO

A fim de articular uma resposta à pergunta – o que nos faz pensar? – Hannah Arendt3 apresenta Sócrates como modelo do cidadão que unifica 3 “Em resumo, um pensador que tenha permanecido sempre um homem entre ho-mens, que nunca tenha evitado a praça pública, que tenha sido um cidadão entre cidadãos, que não tenha feito nem reivindicado nada além do que, em sua opinião,

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o pensamento com a ação, que não pretende ser governante, mas tampouco se submete docilmente às regras, desenvolvendo uma postura crítica e par-ticipativa nos assuntos humanos.

Em oposição a Eichmann4, o militar nazista que não teve discer-nimento moral, uma vez que “obedeceu às ordens superiores” e articulou o transporte ferroviário para encaminhar milhões de pessoas aos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, Sócrates encarna a figura da pessoa que se envolve profundamente nos assuntos humanos, preocupada com o bem.

No diálogo Górgias, é anunciado o princípio ético fundamental da convivência humana. Afirma Sócrates: “Penso, efetivamente, que tu, eu e o resto das pessoas acreditamos que cometer injustiça é pior do que sofrê-la, e não ser punido, pior do que ser.”(PlATÃO, 2007. 474B). “O objeto do diálogo socrático não é nem tu, nem eu, mas o mundo que está entre nós: a coragem, a justiça, a piedade.” (vAllÉE, 2003. p. 47).

Para Werner Jaeger (2011, p. 562-568), o saber socrático, ou phro-nesis, tem como objeto o conhecimento do bem, ou seja, os valores supre-mos da vida, cujo saber parte daquilo que o interlocutor ou os homens de modo geral aceitam, confrontando-o com outros dados da consciência, chegando-se ao espírito crítico.

O filósofo grego afirmava que o principal critério para o homem que diz sua própria doxa como verdade é que ele esteja de acordo com ele mesmo, que ele não se contradiga. Platão colocou na sua boca as seguintes palavras:

Prefiro ter minha lira, ou alguma dança com coral que possa ofe-recer ao público, tocando com dissonância ou cantando desafi-nado e ter não importa quantas pessoas discordando de mim e me contradizendo, a ter conflito e contradição dentro do meu próprio eu (PlATÃO, 2007. 482c).

Esse princípio da não contradição é a pedra angular da lógica e da ética ocidental. Trata-se de pensar criticamente em meio aos preconceitos, às opiniões não examinadas, e às crenças, revelando-se a maiêutica socrá-

qualquer cidadão poderia e deveria reivindicar” (ARENDT, 2000a. p. 126).4 ver. ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém. Um Relato sobre a Banalidade do Mal. São Paulo: Companhia das letras, 2000.

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tica um método para o despertar do ser humano para a problematização da vida humana em plena praça pública. Sócrates é o fundador do diálogo político. Ao expurgar tudo o que era mal compreendido, mediante o pensa-mento crítico, abria-se um espaço para o julgamento. “Sócrates acreditava que os homens não são meramente animais racionais, mas seres pensantes, e que prefeririam abrir mão de todas as outras ambições e até sofrer danos e insultos a perder essa faculdade.” (ARENDT, 1995. p. 157).

Tal questão é da maior relevância política, pois o diálogo de mim comigo mesmo é a primeira condição do pensamento, que deixa de ser prerrogativa apenas dos filósofos, para ser qualidade também dos cidadãos. Para que a pessoa possa compartilhar a sua opinião com os outros, é neces-sário que a sua doxa seja tida por verdadeira. O medo da contradição vem do fato de que qualquer um de nós, “sendo um”, pode, ao mesmo tempo, falar consigo mesmo, como se fossem dois. Eis aí o surgimento da cons-ciência moral, metaforicamente, uma verdadeira testemunha interior, que julga, vigia, condena, enfim, acompanha a pessoa como a própria sombra. A conduta moral não é algo natural e depende primeiramente da integri-dade pessoal de cada um, e tem como padrão a coerência consigo mesmo, quando palavras e atos não se contradizem5.

infelizmente, os atenienses acharam a atividade de pensar criti-camente subversiva, pois, segundo eles, desestabilizava a cidade, especial-mente os jovens. logo, condenaram Sócrates à morte pela cicuta. Ele não questionou esse julgamento, em atitude coerente de respeito às leis da polis. A veracidade, ser fidedigno consigo mesmo implica respeito às regras de comportamento, por convicção própria, e,não, por simples medo da pu-nição da lei ou do castigo religioso. “Para o homem socrático, a suma e o compêndio do ‘tudo o que eu tenho’ é a Paideia; a sua forma interior de vida, a sua existência espiritual, a sua cultura.” (JAEGER, 2011. p. 572). Eis a grandeza do exemplo. Ser coerente até o fim, com o sacrifício da própria vida, se necessário, mas nunca se contradizer.

Se julgar é mais do que simplesmente pensar, essa capacidade per-mite à pessoa se posicionar no mundo, discernir o certo do errado, ratificar ou questionar os valores de sua cultura e colaborar para a construção do

5 Segundo Arendt, “Não é certamente uma questão de preocupação com o outro, mas de preocupação consigo mesmo, não é uma questão de humildade, mas de dig-nidade humana e até de orgulho humano. O padrão não é nem o amor por algum próximo, nem o amor por si próprio, mas o respeito por si mesmo.” (ARENDT, 2004. p. 131).

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mundo comum. A base desse relacionamento é a amizade política, que con-grega os cidadãos, e faz surgir o poder que legitima o governo democrático.

3 A AMIZADE COMO BASE DA POLÍTICA DEMOCRÁTICA

Na época atual, com a globalização e a justicialização do direito6, não é utopia apresentar a amizade como o fundamento ontológico da polí-tica7. A virtude cívica deixa de ser o “morrer pela pátria”, como no alvorecer dos Estados modernos, para ser o “viver pela pátria”, estabelecendo-se for-mas de convivência e compartilhamento dos bens disponíveis, a fim de que todos possam almejar a “boa vida”. A recuperação da amizade como base da política significa retroceder ao espaço originário da convivência dos se-res que não foram destinados a viver sozinhos8.

Justamente porque existe uma deficiência originária que faz da criatura humana um ser de necessidade e de desejo, viver juntamente com os outros é essencial, tendo o bem soberano no horizonte de sua ação. Con-forme delineado por Aristóteles, faz parte da natureza humana viver em co-munidade, sendo o homem definido como zoon politikon. A philia significa que os homens juntos constituem uma comunidade. Dois são os caracteres definidores da ideia de comunidade, em geral: o primeiro diz respeito à unidade de uma pluralidade, e o segundo, à existência de uma finalidade comum, a significar a amizade e a justiça que liga os cidadãos entre si, para formar a polis (ARiSTÓTElES, 2000).

6 A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 é a base do Direito inter-nacional, com ênfase na universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos. O processo de universalização dos direitos humanos gradual-mente está configurando um sistema internacional de proteção desses direitos, in-tegrado por tratados internacionais de proteção que refletem na consciência ética contemporânea compartilhada pelos Estados. Busca-se a salvaguarda de parâme-tros protetivos mínimos, para garantia da dignidade de todas as pessoas humanas, sem quaisquer discriminações de raça, cor, religião, sexo e outras distinções que possam ferir os princípios da igualdade, da liberdade e da fraternidade. A relação amigo/inimigo de Carl Schmitt deverá ser superada pelas pessoas de boa vontade, que compartilham com Kant o desejo da Paz Perpétua Universal.7 A relação amigo/inimigo de Carl Schmitt deverá ser superada pelas pessoas de boa vontade, que compartilham com Kant o desejo da Paz Perpétua Universal.8 “E disse o Senhor Deus: não é bom que o homem esteja só...” (Gênesis, 2004, cap.3, versículo 18).

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A política é assim uma arte que diz respeito à comunidade e deve ser decidida por aqueles a quem ela é destinada, os cidadãos, homens livres e iguais. A polis é, de fato, para o homem o lugar de realização do bem soberano e da existência autárquica9. A deliberação coletiva permite ao ho-mem compartilhar decisões e atuar no mundo, dizendo quem ele é e sendo reconhecido como tal pelos outros. A justiça é uma virtude da comunidade, aquela que regula as relações entre seus membros e a capacidade para de-liberar se vale da experiência. A prudência é outra virtude do cidadão que não apenas delibera, como também julga10.

Ao contrário de Platão, não há uma subordinação da política à posse de um saber imutável, mas requer a posse da prudência e da expe-riência, apanágio daqueles que sabem, não, por terem aprendido, mas por terem vivido. A política é um caso de deliberação que exige a phronesis, que significa a sabedoria prática, que advém da vivência e repetição dos casos particulares e não nasce da transmissão de nenhum conceito universal11.

A contingência é inscrita na natureza mesma das coisas e as pai-xões na própria alma humana. “O elemento político, na amizade, reside no 9 “Por oposição aos filósofos convencionalistas, para quem o homem passa suces-sivamente pelos dois estados, um estado de natureza (original) e um estado civil (o efeito de uma convenção), para Aristóteles a cidade nasce naturalmente de um estado original, imperfeito, que tende a se realizar em um estado de natureza per-feito (estado civil). O homem é pois naturalmente político, o que significa que há na sua natureza uma tendência a viver em cidades, e que ao realizar essa tendência o homem tende ao seu próprio bem.” (WOlFF, 1991. p. 85).10 Esclarece Francis Wolff que para Aristóteles: “O homem não pode ser e, portan-to, não pode ser homem, se não for pela e na comunidade. A comunidade políti-ca, sendo aquela que não carece de nada, é a única a plenamente ser. Portanto, é somente por ela que o homem é plenamente: é na e pela cidade que o homem é homem.” (WOlFF, 1991. p 70-71).11 “A política se opõe não somente à generalidade das leis, mas também à ciência do especialista e é por isso que ela é um caso de deliberação: esta última exige não um saber, mas experiência e prudência. O objeto sobre o qual se delibera em política não é de fato cognoscível mas somente opinável, já que não existe necessariamente, mas pode ser diferente (caso contrário, não se discutiria a respeito dele) - e depen-de justamente da decisão dos homens que seja de um ou de outro modo. A assem-bléia do povo, mosaico de opiniões contraditórias do qual deve emanar uma só decisão, é o espaço mais bem adaptado à deliberação, que supõe a palavra pública e a contradição, e visa um futuro que também não passa de um conjunto de possíveis inconsistentes dos quais um só poderá se atualizar.” (WOlFF, 1991. p. 140).

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fato de que, no verdadeiro diálogo,cada um dos amigos pode compreender a verdade inerente à opinião do outro.” (ORTEGA, 2000. p. 99). Respeitar as opiniões que, inevitavelmente, apresentam divergências, significa enri-quecer o mundo com outras nuances no seio do caleidoscópio que é a tra-ma do mundo.

De acordo com Arendt, “neste mundo em que chegamos e aparece-mos vindos de lugar nenhum, e do qual desaparecemos em lugar nenhum, Ser e Aparecer coincidem.” (ARENDT, 2000a. p. 17). No que diz respeito a esse desvelamento da pessoa no espaço público, a faculdade do espírito que se mobiliza é a vontade. É preciso querer dar início a algo novo, mediante a ação, e a pessoa sempre decide em função de inúmeras variáveis, manifes-tando a liberdade também na livre escolha do modo como quer aparecer no espaço público.

A relação deixa de ser da pessoa consigo mesma, para ser a relação do cidadão com o mundo. O cidadão responsável é aquele que sabe utilizar o pensamento, tendo como objeto não apenas o conhecimento, na forma de mera intelecção, que sabe o que lhe vem pelos sentidos, mas o pensamento como razão, quando então julga e fornece parâmetros para a ação. Nesse momento, a vontade decide, em meio à contingência humana, na compa-nhia de quem o cidadão quer ficar. O Amor mundi arendtiano significa “esta afeição da natalidade pelo mundo, não só como uma promessa que vincula os seres humanos, mas, sobretudo, como um imperativo à ação.” (ASSY, 2002. p. 51). Com isso surge uma ética de corresponsabilidade pela conservação do mundo comum; e que o poder de efetuar “milagres” signi-fica a pessoa deter a capacidade de romper os processos pré-existentes e dar origem a algo novo, como expressão da sua liberdade.

Os princípios inspiradores dessa ação política são a solidariedade e a comiseração, ínsitos ao Amor mundi, a significar o desejo de preservar não apenas o seu meio cultural, mas também o mundo das outras culturas e um respeito maior pela Humanidade e pelo próprio Planeta. Para viven-ciar o Amor mundi, a pessoa precisa experimentar um tipo de sentimento mais elevado, a compaixão, que brota da noção de humanitas, traçada por Cícero, bastando ser uma criatura humana, para merecer todo o respeito e consideração, e nunca ser tida como meio e, sim, como um fim, tal qual escreveu Kant12.

12 ver. KANT, immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradutor Paulo Quintela.lisboa: Edições 70, [19--?].

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Afinal, é melhor acreditar que “o homem é um animal naturalmen-te político”, que alcança na comunidade política a felicidade e a plena rea-lização da sua natureza, como escreveu Aristóteles (2000, 1278 b20), do que se fixar apenas no lado do conflito, que surge da interação humana nas complexas sociedades atuais capitalistas, em que predomina a disputa individualista. Com Arendt, a natalidade é metáfora para tudo aquilo que é novo, verdadeiro recomeço que nos remete à esperança. “A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria ine-vitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos jovens.” (ARENDT, 1997. p. 247). Dessa forma, é possível manter a esperança de que o nasci-mento de cada ser humano é sempre um recomeço, e essa metáfora, quan-do utilizada no campo dos assuntos políticos, significa que, a qualquer mo-mento, o cidadão pode “nascer”, isto é, aparecer no espaço público e fazer a diferença, porque é ele quem está ali, um sujeito capaz de falar e agir e participar do debate público.

isso significa reconhecer a riqueza das opiniões pessoais, emergen-tes em múltiplas culturas em que surgem pontos de vistas diversos, mas significativos, pois é o relato do que “aparece” a cada um, o que enriquece o debate, oportunizando a releitura de hábitos, costumes, tradições e valores. Arendt propõe o resgate da ação política como uma recuperação do espaço público, palco de inovação13.

Ao ampliar o espaço público para além do Estado, a ação política pode acontecer em qualquer lugar, havendo múltiplos espaços públicos que podem ser criados e redefinidos constantemente pelos cidadãos, sem pre-cisar de suporte institucional. Sempre que as pessoas se ligam por meio do discurso e da ação, movidos pelo interesse político, ou seja, no exercício da cidadania, criam laços de amizade.

Esse é o fundamento ontológico da política democrática, uma vez que diz respeito a todo e qualquer cidadão que se desvela como pessoa perante os outros, recaindo a ênfase na pluralidade humana. Trata-se do compromisso de fidelidade consigo mesmo e para com os outros, a signifi-car o hábito de firmeza e de coerência de quem sabe honrar os compromis-

13 “O uso do termo espaço público, ao invés de esfera pública, aponta para uma visão não monista do espaço político. Sua teoria performativa da ação e sua vi-são agonística da política indicam antes uma política instantânea, múltipla: polí-tica como acontecimento e começo, como interrupção de processos automáticos.” (ORTEGA, 2000. p. 22).

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sos assumidos, mediante uma atuação refletida, representando a atitude de lealdade, de cuidado e de cooperação na construção da democracia.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Se a criatura humana chega ao mundo, vinda de lugar nenhum e seu corpo desaparece transformado em pó e se reintegra no cosmos, pode--se questionar juntamente com o escritor das Escrituras Sagradas: “vaida-de das vaidades! É tudo vaidade. Que vantagem tem o homem, de todo o seu trabalho, que ele realiza debaixo do sol?” (BÍBliA, Eclesiastes, 1,2-3). A vida humana somente adquire significado e relevância perante os olhos daqueles que têm notícia das palavras e dos feitos da pessoa que realmen-te contribuiu com um bocado de esperança para a construção do mundo comum. Os contadores de estórias se encarregam de narrar as proezas da-queles cidadãos que durante a sua vida não se preocuparam apenas com a mera sobrevivência, mas foram além, ocupando-se também dos assuntos da coletividade, engrandecendo a figura humana na sua pessoa.

Afinal, os homens do século XXi conhecem os limites do Planeta Terra e sabem, ou deveriam saber, que a mãe Gaia14 não suporta mais o nível de fruição que a Humanidade implantou no modelo capitalista, em termos de exploração econômica. A liberdade democrática significa acredi-tar na capacidade da pessoa humana de tomar o próprio destino nas mãos e exercer a prerrogativa de questionar e romper processos existentes, coo-perando para surgir algo diferente no espaço da política, cuja motivação maior é o Amor Mundi. Esse sentimento significa reconhecer que somente me constituí como criatura humana, e posso usufruir da minha vida pes-14 “A Terra também grita. A lógica que explora as classes e submete os povos aos interesses de uns poucos países ricos e poderosos é a mesma que depreda a Terra e espolia suas riquezas, sem solidariedade para com o restante da humanidade e para com as gerações futuras. Esta lógica está quebrando o frágil equilíbrio do universo, construído com grande sabedoria ao longo de 15 bilhões de anos de trabalho da natureza. Rompeu com a aliança de fraternidade e de sororidade do ser humano para com a Terra e destruiu seu sentido de re-ligação com todas as coisas. O ser hu-mano dos últimos quatro séculos sente-se só, num universo considerado inimigo a ser submetido e domesticado. Estas questões ganharam hoje uma gravidade nunca dantes havida na história da humanidade. O ser humano pode ser o satã da Terra, ele que foi chamado a ser seu anjo da guarda e cultivador zeloso. Ele mostrou que além de homicida e etnocida pode se transformar em biocida e geocida.” (BOFF, 2000. p.11-12).

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soal, porque compartilho o legado da cultura que recebi, mediante o pro-cesso permanente de aprendizagem que é a vida humana.

A maturidade pessoal implica a responsabilidade de atingir uma envergadura moral, que tem como pressuposto a autonomia kantiana, ou seja, significa dar a si mesmo as leis para a própria conduta, às quais todo e qualquer ser humano, desde que tenha entendimento, pode considerar como justas. A guinada levada a efeito pelo novo paradigma intersubjetivo desloca o centro da racionalidade da cabeça do indivíduo, para o âmbito coletivo do discurso, que caracteriza o fenômeno democrático.

Participar da luta pela emancipação política é o papel dos cidadãos, capazes de contribuir para a formação do Estado Democrático de Direito. Democracia e direitos humanos são co-originários. levanta-se a questão de que é tempo de transformações na democracia representativa, que se resume nos votos dos cidadãos, para a escolha da classe política, abrindo-se espaços de debates para que as pessoas se manifestem na formação racional da vontade da nação. Trata-se do surgimento de “espaços públicos”, confor-me delineados por Arend, arena do “poder” dos cidadãos, livres e iguais, que escolhem o destino de sua comunidade política e fornecem o seu aval ao Direito, legitimando o ordenamento jurídico democrático.

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BREVE ESTUDO SOBRE CARROCEIROS E CARROCEIRAS NAS “GÊMEAS DO IGUAÇU”

Leni Trentim Gaspari1

INTRODUÇÃO

Para o historiador Marc Bloch, a História é a ciência do homem no tempo. A partir desse conceito, entende-se que ela foi construída em torno das necessidades, dos saberes e fazeres dos diferentes grupos sociais, nos diferentes espaços e tempos. O objetivo deste estudo é socializar e preservar esse conhecimento para as gerações futuras. Pensando sob essa perspectiva, farei, neste texto, uma breve reflexão sobre o trabalho de homens e mulhe-res que, pela utilização de carroças, desenvolveram atividades de imenso valor na economia do Estado do Paraná e na vida dos moradores do Vale do Iguaçu. A carroça, meio de transporte que hoje, pela evolução tecnoló-gica, pode parecer rudimentar, foi no final do século 19 e início do século 20, um recurso valoroso no cotidiano das pessoas. O texto foi elaborado tendo como base documentos localizados em arquivos locais, no arquivo da Biblioteca Pública do Paraná, e em fontes bibliográficas, o que nos revela uma inter-relação entre os fazeres do cotidiano desses trabalhadores e as determinações legais específicas do período.

CARROÇAS E CARROCEIROS

Segundo Riesemberg (1973, p.124), a carroça foi, para a produção industrial, uma das contribuições mais interessantes do colono polonês para a cultura do vale, destinada à condução dos gêneros coloniais. Além do incremento aos transportes, a introdução das carroças determinou o traçado das estradas e o aperfeiçoamento do seu leito, preparando a região para o advento dos veículos motorizados.

O mesmo autor diferencia a carroça polaca da carroça russa. A pri-meira fazia itinerários curtos, destinando-se principalmente a transportes entre o lote rural e a sede da colônia ou até vilas próximas. Eram cobertas 1 Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira n.º 19, tendo como Patrona Edy Santos da Costa.

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somente em dias chuvosos, ao contrário das russas, que tinham a cobertura com toldas fixas, pois percorria percursos mais distantes e constituía uma casa provisória para o carroceiro. Nas palavras de Riesemberg (1969, p.38), foram os russos-alemães que introduziram à paisagem cultural do Para-ná os grandes carroções que rodaram pelas estradas da jovem Província, criada em 1853, movendo-se com rapidez e percorrendo longas distâncias. À proporção que o seu uso se generalizava, o carro de boi, lento e pesado, usado até então, ia sendo excluído.

Existiam as maiores variações possíveis de carroças, e cada etnia as adaptava às suas necessidades e possibilidades. Martins (1989, p.330) descreve que os italianos gostavam:

[...] da carrocinha bem menor, com dois varais e um cavalo, com ou sem tolda: e para o transporte da madeira utilizavam o mes-mo tipo de carroça sem, entretanto, as guardas laterais e traseira: conservou-se o que se poderia chamar de chassis, sobre o qual as tábuas são empilhadas e solidamente fixadas por um sistema engenhoso de mola de madeira, pedaço de pau roliço e flexível, que se mantém tenso como um arco indígena, preso por uma ponta ao próprio veículo e puxado pela outra, por uma corda ou corrente.

Outra peculiaridade a salientar é que a carroça fazia parte de todas as atividades de lazer e recreação dos imigrantes, e apresentava feições pi-torescas pois:

Nas festas religiosas, nos casamentos e nos batizados, toda en-feitada de ramos verdes, os animais enlaçados de fitas coloridas, o comprido chicote do boleeiro a estralejar em salvas sucessivas, lá ia ela pelas estradas batidas, por entre as searas douradas, ao claro tilintar dos guizos como uma mensagem de vida nova a se propagar pelo vale (RIESEMBERG, 1973, p.126).

Carroças e carroções usados pela família e pelos convidados eram enfeitados com flores e ramos de palmeiras para o acompanhamento dos noivos à Igreja, sem esquecer os guizos colocados nos cavalos, os quais anunciavam, com seu tilintar alegre, a aproximação dos noivos e convida-dos, chamando atenção da comunidade.

Não só aos colonos, ela também favorecia a vida dos homens e mu-lheres da cidade para deslocamentos em visitas a familiares, idas a missas,

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festas de igrejas e velórios distantes, tendo em vista o número insuficiente de outros veículos, dadas as condições financeiras da maioria da população de União da Vitória e Porto União, lá pelo final do século 19 e início do século 20. No próprio contexto administrativo da cidade constata-se a pres-tação de serviços à comunidade pelo uso da carroça, destacado em Edital, no Jornal O Pharol, de 1919 (Porto União), o qual transcrevemos na íntegra e em grafia original:

EDITAL lFiscalização Geral da Superintendência MunicipalDe ordem do snr. Superintendente Municipal e para que não alleguem ignorância, previno aos snrs. moradores das ruas Prudente de Moraes, 7 de Setembro, 15 de Novembro, Coronel Amazonas e Praça Major Mattos Costa que, a contar de hoje fi-cam expressamente prohibidos de lançar na frente de suas casas e no leito das ruas, ciscos, cascas de fructas,etc. E para evitar-se isto, as quartas feiras e aos sabbados a carroça de limpeza publi-ca, percorrerá as ditas ruas e transportará o lixo, que deve estar collocado em caixões ou latas, nas portas das casas, sob pena de serem impostas aos seus infractores, as multas de acordo com a lei. Fiscalização Geral da S.M de Porto União em 1-7-1919. Fiscal Geral Jaime Correia Pereira (O PHAROL, 20 de julho de 1919, p.3.). (sic)

O Edital refere-se à cidade de Porto União, mas acredita-se que à época o mesmo sistema fosse utilizado em União da Vitória. Outra notícia interessante que encontrei, no jornal O Pharol de Porto União, refere-se a uma grande e bela festa que ocorreu nas duas cidades, em 14 de julho de 1919, chamada a Festa da Paz, em comemoração à assinatura do Tratado de Versalhes (1919), que foi um tratado de paz assinado pelas potências eu-ropeias,  que encerrou oficialmente a  Primeira Guerra Mundial. Entre as inúmeras festividades acontecidas durante o dia todo, nas duas cidades, chamou-me a atenção o seguinte relato do jornalista: “[...] às 20 horas foi organisado, à rua General Bormann, em frente à Sociedade Dante Alighié-ri, o grande Prestito Cívico, em que tomaram parte 17 carros, entre elles, alguns allegóricos,os quaes desde as 19 horas começaram a affluir n’aquelle local [.. ]” (sic) (O PHAROL, Porto União, 20/7/1919, p.1-2).

Que carros seriam esses? Automóveis? Creio que não, os primeiros automóveis chegaram em 1923, na Agência FORD e pela descrição feita do que ia em cima desses carros, não seria possível que fossem automóveis.

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Vejamos por exemplo a descrição do Carro nº1: ‘Banda de Música União Recreativa’, Cujo carro era armado em forma de coreto e com folhagens, bandeirolas e lanternas à Giorno”. Os demais carros também levavam mui-tas coisas a céu aberto, então descarto essa hipótese. Seriam caminhões? Na época as cidades provavelmente não teriam 17 caminhões para esse desfile, mas podemos levantar a hipótese de que eles poderiam ter vindo das re-dondezas? Também creio que não! O exercício do historiador é levantar possibilidades, e inclino-me a pensar que esses carros seriam carros de tra-ção animal. Encontrei a denominação “carros” em uma Lei de 1928, que se refere ao imposto sobre carroças e carros de aluguel com tração animal. Fica a questão para os que gostam de historiar e pesquisar e, quem sabe, encontrarmos, juntos, algumas respostas.

Com o advento do trem, muitos eram os carroceiros contratados para transportar as mercadorias que chegavam ou iriam partir pelo cami-nho dos trilhos, fortalecendo a constância de suas atividades e garantin-do uma certa situação de conforto pelo trabalho contínuo, que assegurava maior poder aquisitivo. Essas novas situações favoreceram maiores opor-tunidades de trabalho pela utilização das carroças, garantindo certa esta-bilidade financeira aos carroceiros, podendo ser chamado esse período de o “tempo das carroças”. Segundo Armando Trentin, em entrevista (2007), com a chegada dos trens a União da Vitória, os carroceiros eram chamados para conduzir as mercadorias que chegavam para as casas comerciais da cidade. Para o Armazém do Sr Petry, eram levados produtos alimentícios em geral. Os sacos de sal suavam e dificultava o carregamento até as car-roças, ferindo os dedos dos carregadores. Para a fábrica de bebidas do Sr. Manfroni chegavam cervejas, as quais vinham embaladas em palhas para não quebrar, e à Loja Gabriel Nemes era grande a diversidade de utensílios transportados.

Considero relevante destacar que, se em algumas cidades o trem garantiu essa ampliação de trabalho aos carroceiros, em Curitiba, no dia 2 de fevereiro de 1885, quando se iniciava o tráfego comercial via trilhos, marcando nova fase na economia dos transportes no Paraná, segundo Wer-ner (1985,p.56), uma parte da população protestava em frente à Câmara de Vereadores, por temer o desemprego dos carroceiros que até então eram responsáveis pelo transporte de carga, principalmente, da erva-mate na es-trada da Graciosa. O temor dos carroceiros tinha fundamento, pois, com o início dos serviços ferroviários, o trânsito na rodovia da Graciosa ficou abandonado, sendo restaurada somente 25 anos mais tarde. A estrada da

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Graciosa foi o primeiro caminho carroçável que ligou Curitiba ao Porto de Antonina, tornando-se transitável a partir de 1873.

Palú Filho e Moletta (2012, p.144) asseveram que, em 1875, imi-grantes italianos que estavam assentados na Colônia Nova Itália, descon-tentes com a falta de estrutura na Colônia, manifestaram desejo de procu-rar outro lugar para se estabelecer, motivados pelas noticias que recebiam pelos carroceiros que transportavam erva- mate, sobre a prosperidade de outros imigrantes. “O Governo da Província cedeu às ‘pressões’, colocando à disposição carroças, para que os colonos pudessem subir a serra, pela Es-trada da Graciosa, rumo a Curitiba.” A viagem ocorreu em pleno inverno, com as carroças carregadas com os pertences, com as mulheres e crianças e os homens seguiram a pé, num período de três dias.

Carroças e carroções foram fundamentais, tanto para transporte de pessoas como para conduzir cargas, numa época em que havia pou-cos caminhões e as estradas muito difíceis para transitar. Eram comuns as viagens dos carroceiros que se deslocavam para Palmas, levando sal e trazendo charque, para vender nos armazéns locais. Outros produtos fo-ram transportados, como madeira, erva-mate, animais de pequeno porte e vários tipos de alimentos.

Na sequência apresento uma foto de um carroção com oito cavalos, muito comum no transporte de produtos de uma cidade para outra.Carro-ceiro não identificado.

FOTO 1: Carroção do ano 1945. Valões, hoje Irineópolis. FONTE: Acervo da autora, foto doada por Carlos Guérios.

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O transcorrer das viagens apresentava inúmeras dificuldades que tornavam o trabalho dos carroceiros desgastante, pelos perigos que enfren-tavam pelas estradas. Essa convivência diária com o perigo fez com que eles se organizassem em grupos para viajar e, assim, se protegessem mutua-mente. Ao anoitecer, paravam próximo a uma fonte de água, faziam uma pequena fogueira e, ao redor dela, refaziam suas energias, da longa viagem, aqueciam seus alimentos e tinham uma boa “prosa” com os companheiros, contando suas histórias, fortalecendo os laços de amizade e solidariedade. Além disso, segundo Bach (2003, p.135), “eram histórias de uma vida dura mas que ardia no peito deles como as fogueiras de cada parada [...] con-versavam sobre os desafios de cada trajeto, a qualidade dos animais e do espírito de coragem que parecia estar presente em cada chegada e em cada partida.”

Cleto da Silva (1920, p. 189) comenta em seu livro, o Contestado diante das Carabinas, que encontrou “no trajeto Horisonte e Taipinha, seis carroças carregadas de herva matte e couros que se destinavam a União da Victória. Os condutores sesteavam e os animais estavam largados ao pasto”. Eram momentos de conversas, descanso, de tocar gaitinha de boca, tomar um chimarrão e, enquanto os animais descansavam, e se alimentavam, os trabalhadores lembravam-se da família, cuja saudade apertava, tendo em vista que as viagens eram demoradas. Destaco a primeira estrofe do poema Carroceiro Solitário, de Jurandir Bianco, registrado no livro Carroções, de Arnoldo Monteiro Bach ;

O carroceiro ia faceiro, seguindo pela estrada,Com sua gaitinha de boca pra tocar lá na pousadaQuando a tarde chegava, todos com muita alegria,Desengatavam a burrada, pois só saiam no outro dia.A noite contavam causos, perto do fogo de chãoTomavam um gole de pura, depois de um bom chimarrão.(BIANCO apud BACH, 2003, p.7).

Havia alegria, mas também dificuldades tanto nos caminhos car-roçáveis quanto nas travessias de balsa. Rockenbach (2006, p.111) escreveu que o transporte de mercadorias entre Cruz Machado e União da Vitória era feito por meio de carroças e a travessia no Iguaçu acontecia com a utili-zação da balsa que existia ao final da Rua Cruz Machado.

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FOTO 2: Passagem sobre o Rio Iguaçu, União da Vitória a Cruz Machado. FONTE: Acervo pessoal da autora.

Essa passagem durava 30 minutos ou mais, dependendo das con-dições do rio. A balsa era guiada por um cabo de aço. Relata ainda que acidentes aconteceram várias vezes, dificultando o trabalho dos carrocei-ros: “[...] a balsa afundou com duas carroças e oito cavalos que estavam engatados e não puderam nadar porque estavam presos pelo arreiamento e morreram afogados.” Segundo a autora, os carroceiros e o balseiro foram salvos por canoeiros que chegaram a tempo.

Outra balsa foi construída nas proximidades da Ponte Férrea, e ou-tro acidente foi registrado, em consequência de grandes chuvas ocorridas, pois, com o Rio Iguaçu muito cheio, “[...] arrebentou o cabo da balsa e ela desceu rio abaixo e enroscou num galho do barranco”. (ROCKENBACH, 2006, p111.) O conserto durou quatro dias e, ao reiniciar a passagem, a balsa carregada arrebentou novamente. Esse fato causou vários transtornos aos carroceiros, que não podiam atravessar e retornar a Cruz Machado, tendo que permanecer em União da Vitória, com despesas adicionais com eles e com seus animais. As cargas nesse período passaram a ser atraves-sadas por meio de canoas e os carroceiros que aguardavam à beira do rio faziam o transporte aos locais destinados.

Em consulta ao Contrato de Arrendamento de Balsa sobre o Rio Iguaçu, datada de 29 de março de 1929, realizado entre o Dr. Rivadávia Amazonas e a Prefeitura Municipal de União da Vitória, os valores para a travessia de cargas e pessoas constam no Art. 6º do referido Contrato, da seguinte forma:

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O contratante se obriga a cobrar os seguintes preços de passa-gens dentro do seguinte horário: das 6 as 20 horas no verão e das 6 as 18 horas no inverno:De pedestres, por pessoa- 300 réisDe cavalheiros (sic) por unidade -500 réis (creio ser cavaleiros- nota minha)De animaes soltos por cabeça – 500 réis sendo bois, 600 réisDe cargueiro carregado pór unidade- 500 réisDe cargueiro vasio por unidade- 500 réisDe carroças a tracção animal com dois animaes, por unidade 1$200 réisPor animal acrescido na carroça, por cabeça, na carroça além do preço de 1$20 – 300 réisDe caminhão e automóveis por unidade2$500 réisDe automó-veis com ou sem passageiros, por unidade, 2$500 réisDe animaes caprinos, lanígeros, por cabeça 200 réis.Fora do horário os preços serão o triplo da tabela.(Registros de Contratos, Livro nº 01, Arquivo Municipal de União da Vitória, 1897, p.53)

Nessa labuta, os carroceiros ocuparam um papel fundamental, se-não insubstituível, por muitos anos, no serviço de transporte de produtos e passageiros. Rockenbach (2006,p.137) destaca que as cidades de União da Vitória, São Mateus e Inácio Martins eram, em grande parte, abaste-cidas pelos produtos vindos de Cruz Machado. Consistiam em linguiças acondicionadas em cestos de taquara lascada ou caixotes, charque seco ou prensado em sacos brancos, ovos que eram colocados e protegidos com pa-lha de trigo picada, em barricas. “Traziam banha em latas e galinhas dentro de engradados, colocados por fora da tampa traseira da carroça para não serem sufocados”. A viagem demorava aproximadamente uma semana e, muitas vezes, os carroceiros faziam o serviço de correios, estabelecendo, assim, pontos de comunicação entre uma localidade e outra.

Marczal, em entrevista concedida a Rockenbach, relata que durante a Revolução, em 1924 (chamada Revolução Paulista ou Revolução Esqueci-da), muitos carroceiros foram requisitados para transportar mantimentos para o exército acampado em Palmas. Depois de Palmas, alguns seguiram até Pouso Alegre, e outra turma até foz do Iguaçu. Segundo o entrevistado, também transportaram homens do exército, soldados e armas. Ele destaca as grandes dificuldades encontradas no transcorrer da viagem, pelo peso excessivo nas carroças e pelas estradas difíceis de trafegar: “[...] em alguns

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lugares tivemos de construir bueiros e roçar o mato. A estrada era estreita cheia de pedras e buracos não conseguíamos passar com as carroças gran-des.” (MARCZAL apud ROCKENBACH, 2006, p126.)

Na construção da pesquisa fui percebendo as formas como foram sendo construídas as relações de trabalho no universo dos carroceiros, os quais estiveram à frente das inúmeras necessidades das regiões onde es-tavam fixados. Relendo o livro Raimundinho (1996, p.12), pioneiro do Maratá, localidade situada no interior do município de Porto União, per-cebi como as carroças foram fundamentais no interior, pois davam todo o suporte necessário aos trabalhos agrícolas e aos deslocamentos para as diferentes atividades. Ele descreve: “fomos pôr os quatro bois no carretão e levamos as toras à serraria para serem serradas naquela noite mesmo. Du-rante o dia a sua força era usada na moagem de cereais”. Raimundinho des-taca, em suas memórias, as dificuldades enfrentadas com seus amigos car-roceiros, nos dias de chuva, e também no período de uma grande enchente em Porto União, quando tentaram atravessar pela água e tiveram muita dificuldade em desencalhar o carro atolado. Faz referência à determinação municipal de cobrança de impostos sobre carroças, em Porto União, o que não agradou aos carroceiros. Raimundinho afirma que (1996, p.12)”[...] no ano de 1928 ou 30 foram cobrados impostos de 22$000 réis por carroça, o que representava muito dinheiro para os pioneiros que vinham pratica-mente sem nada do Rio Grande.”

Embora os impostos constituíssem dificuldades aos carroceiros, essa cobrança era necessária, tendo em vista a pequena arrecadação das duas cidades. No diário Oficial do Estado do Paraná, de novembro de ano 1928, consta a Lei Municipal nº 209, de União da Vitória, que foi assinada no dia 25 de outubro de 1928, pelo Prefeito Municipal da época, Joaquim Penido Monteiro, estipulando a cobrança de impostos sobre as carroças, a qual transcrevo parcialmente, para melhor entendimento do leitor:

O Bacharel Joaquim Penido Monteiro, Prefeito Municipal de União da Victoria, Estado do Paraná. Faz saber a todos os mu-nícipes que a Camara Municipal decretou e elle sancciona a pre-sente Lei: Art. 1º - A tabela de preços marcada pela Lei nº 127 de 30 de Outubro de 1927 para cobrança dos impostos de vehículos fica assim alterada:a) Carroças de duas (2) rodas, com molas para uso particular,

tendo os aros das rodas com largura mínima de cinco (5)

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centímetros - 1$000 por anno; com menos de cinco (5) cen-tímetros de largura, nos aros – 12$500, por anno;

b) Carroças de duas (2) rodas sem molas, para commercio de transporte, tendo os aros das rodas com a largura mínima de cinco (5) centímetros – 15$000 por anno; carroças de duas (2) rodas sem molas para commercio de transporte, com aros de largura inferior a cinco (5) centímetros – 25$000.

c) Carroças de quatro (4) rodas, de uso particular, eixos n.ºs 16 e 17, com molas, aros com largura mínima de quatro (4) centímetros – 12$500 por anno; com aros de largura inferior a quatro (4) centímetros – 20$000, por anno.

d) Carroças de quatro (4) rodas, eixos n.ºs 18 e 19, para uso particular com molas, aros com largura mínima de cinco (5) centímetros – 18$000, por anno; com largura de aros infe-rior a cinco (5) centímetros – 25$000 por anno.

e) Carroças de quatro (4) rodas, eixos nºs 18 e 19 para com-mercio de transporte, sem molas, aros com largura mínima de cinco (5) centímetros – 30$000 por anno; com largura dos aros inferior a cinco (5) centímetros – 48$000, por anno.

f) Carroças com quatro (4) rodas, eixos nºs. 31 e 34 com lar-gura de aros mínima de dez (10) centímetros – 40$000 por anno; com aros de largura inferior a dez (10) centímetros – 60$000 por anno.

g) Carroças de quatro (4) rodas, de eixos nºs 50, inclusive, para cima, com aros de largura mínima de dez (10) centímetros – 55$000 por anno; com aros de largura inferior a dez (10) centímetros – 85$000 por anno.

h) Automóveis para uso particular – 30$000 por anno, auto-móveis de aluguel e caminhões particulares ou de aluguel 50$000 por anno.

i) Carros para uso particular puxados a um (1) animal com duas (2) ou quatro (4) rodas com aros de largura mínima de cinco (5) centímetros 12$000 por anno; com aros de largura inferior a cinco (5) centímetros – 15$000 por anno.

j) Carros para aluguel puxados a um (1) animal com duas (2) ou quatro (4) rodas, com aros de largura mínima de cinco (5) centímetros -15$000 por anno; com aros de largura infe-rior a cinco (5) centímetros – 17$500 por anno.

k) Carros para uso particular, com molas, puxados a 2 ou 4 animaes, com quatro (4) rodas com aros de largura mínima de quatro (4) centímetros – 15$000, por anno; com aros de largura inferior a quatro (4) centímetros 17$500 por anno.

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l) Carros para aluguel, de quatro (4) rodas, com molas, puxa-dos a 2 ou 4 animaes, com aros de largura mínima de quatro (4) centímetros – 17$500 por anno; com aros de largura in-ferior a quatro (4) centímetros 20$000 por anno. [...] (PA-RANÁ, Diário Oficial, 1928, p.7).

A referida Lei determina ainda que todos os contribuintes de im-postos sobre veículos deveriam pagar também as “chapas” fornecidas pela Prefeitura Municipal e que o proprietário que registrou seu veículo como de uso particular não poderia utilizá-lo para comércio, pois, nesse caso, seria punido com uma multa de cem mil réis (100$000), na primeira vez, e de duzentos mil réis(200$000), em cada reincidência.

Os artigos 2º e 3º referem-se aos impostos sobre bicicletas e moto-cicletas. O artigo 4º explica que “todos os contribuintes de impostos sobre vehículos deverão pagar também o preço das chapas fornecidas pela Pre-feitura Municipal.” Constata-se que, à medida que os trabalhadores carro-ceiros, proprietários de diferentes tipos de carros com tração animal exis-tentes na cidade, utilizavam-nas para distintos fins e os poderes públicos regulamentavam o seu uso, como forma de garantir um padrão de serviços e também de contribuições desses trabalhadores aos cofres público. Impos-tos à parte, outras exigências também faziam-se necessárias. Vejamos o que Buch Filho (2010, p.34-35) escreve sobre um relato do Sr Rodolfo Brand, morador de Lança:

[...] quando chegou um dos primeiros automóveis em Porto União/SC, um Ford, foi colocado em exposição na calçada na frente da antiga Casa Ferro. Vindo o Sr. Rodolfo de carroça à cidade para trazer erva-mate e voltar com mercadorias, os cavalos dispararam na rua Matos Costa e ele não teve como controlar a mesma, a qual veio a bater em cheio no automóvel. Como pode imaginar, caro leitor, a carroça desgovernada amassou a porta e também outras partes do automóvel zero km. O proprietário do carro tratou de chamar a policia que logo compareceu ao local do acidente.Che-gando lá o delegado perguntou ao Sr. Theodoro Kroetz, proprie-tário do automóvel e da agência Ford: O senhor tem carteira de motorista? Ele respondeu que não. O policial então indagou ao dono da carroça: o senhor tem carteira de carroceiro? Sim, está aqui. O delegado então dirigindo-se ao proprietário do automóvel proferiu: Então o senhor vai arcar com os prejuízos do seu auto-móvel e mais os da carroça (BRAND apud BUCH, 2010, p.34-35).

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Trata-se de um pequeno caso, mas que reflete bem a mentalidade da época sobre a importância de se cumprir a exigência de documentação necessária para a condução de veículos motorizados ou a tração animal. As carroças eram emplacadas na Prefeitura e os condutores recebiam o re-gulamento que norteava o trânsito desse veículo de transporte em Porto União. Tratava-se de um documento interessante, pelas normas a serem cumpridas para carroças com dois ou mais cavalos. Também estavam des-critas as proibições determinadas para transitar dentro da cidade e confor-me registro de Buch Filho (2010, p. 36) “[...] não era permitido trotear nas ruas Matos Costa, Prudente de Moraes, Sete de Setembro e em algumas outras centrais.” Revela ainda que se fossem encontrados cavalos cujo lom-bo estivesse esfolado seria atribuída multa ao carroceiro. Evidencia-se aqui a preocupação com a proteção e cuidados aos animais, fundamentais para a vida dos moradores das cidades naquela época.

Tomar contato direto com fontes primárias é gratificante para o historiador, pela riqueza de informações que se podem apreender sobre os modos de viver dos grupos sociais de tempos diferentes ao nosso. Tokarski (2013,p.63) faz uma análise do primeiro Código de Trânsito em Canoi-nhas, datado de 16 de abril de 1926, e ressalta que o décimo parágrafo do referido Código definia que, para a condução de carroças e outros veículos de tração animal, o condutor deveria ter idade mínima de16 anos. O autor complementa sua análise, explicando que não era permitido o abandono de veículos de tração animal nas ruas e praças,

[...] mesmo que os animais tenham sido desatrelados, ou ainda trabalhar com animais feridos, doentes ou excessivamente ma-gros.Também era vedada a utilização de animais em número além ao do registro do veículo e conduzi-lo fora do passo esta-belecido. Coibia-se, ainda,o uso do chicote, com risco de atingir transeuntes ou estalando, sem moderação, e sem necessidade justificável (TOKARSKI, 2013, p. 64).

Com base na Lei Nº113, de 26 de novembro de 1925, do município de Mafra2, constatei em alguns artigos várias semelhanças com os docu-mentos citados anteriormente . Destaco a seguir algumas determinações

2 Documento obtido por intermédio do Dr. Victor Buch Filho, junto ao seu amigo Sr Hilson O. Steidel. A eles meus agradecimentos.

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diferentes no que se refere às exigências para obtenção da carteira de habili-tação. No art.1º, parágrafo II, letra a , consta que o candidato deverá provar “que não soffre de moléstia contagiosa nem de mal que ,a possa privar re-pentinamente do governo do vehículo e que tem os órgãos visuaes e auditi-vos em perfeito estado de funcionamento, mediante attestado médico”.(sic)

Na sequência da Lei, outras determinações vão surgindo como forma de prevenir contra acidentes e abusos dos condutores. No artigo 9º parágrafo VI define que: “a velocidade dos vehiculos de tracção animal e applicados ao transporte de pessoas nunca poderá ser superior a de um cavallo a trope largo[...]”. A mesma referência é feita para o transporte de “cousas” (sic).

Essa preocupação com a segurança dos passageiros também apa-rece com relação aos transeuntes, quando determina que o “vehiculo deve ser dirigido com prudência de forma a evitar prejuízos aos transeuntes[...]”. Percebe-se ainda no texto da lei a preocupação com o tratamento respeito-so que deveria ser dado aos animais.

Pela análise dos documentos constata-se que o os regulamentos das cidades, em âmbito regional, assemelham-se. Fica evidenciado que os condutores deveriam ter Carteira de Habilitação para conduzir as carroças e essa exigência também acontecia nas cidades Gêmeas. Nos documentos oficiais do Arquivo Municipal de União da Vitória encontrei o Livro de Termos de Exames de Condutores de Vehículos de 1931-1941, no qual constatei que, na década de 30 do século 20, foram concedidas 35 autori-zações para conduzir carroças a pessoas de União da Vitória, Porto União, Cruz Machado e Colônia Amazonas.

MULHERES CARROCEIRAS: UM gRANDE DESAfIO

No documento mencionado anteriormente consta que das 35 auto-rizações, trinta e quatro foram para homens e uma para mulher. Vejamos a pioneira nessa conquista, na transcrição integral e grafia original do Termo de Exame de Habilitação:

Aos dois dias do mês de Setembro de mil e novecentos e trin-ta e um, nesta cidade de União da Victoria, Estado do Paraná no local designado pelo Snr. Dr. Prefeito Municipal e perante o Snr. José Serafini, Fiscal Municipal, comigo Evaldo Burmeister, Secretario Interno da Prefeitura, compareceu a senhora Dª Do-rothea Scheibe, allemã, com 46 anos de idade, casada, filha de

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Nicolau Scheibe, residente nesta cidade, declarando que queria se habilitar na forma da lei para condusir carroça. A qual foi exa-minada e julgada apta pelo que se lhe expediu a competente car-teira de habilitação. Do que para constar foi lavrado este termo que vae assignado. José Serafini.

Apenas uma mulher tinha autorização nesse período, mas é certo que muitas eram condutoras de carroças, principalmente, as mulheres imi-grantes, que vinham do interior, trazendo seus produtos rurais para ven-der: feijão, verduras,requeijão, manteiga, ovos, pinhão, milho, abóboras e até lenha. Algumas tinham freguesia certa, em determinadas residências, mas a maioria se dirigia aos armazéns de secos e molhados.

Faz parte das minhas lembranças o transitar dessas mulheres no-táveis, na década de 50, com suas carrocinhas, principalmente às sextas-feiras, quando chegavam ao Armazém do meu progenitor, no Bairro Rio D’Areia, para estabelecer comércio : vender os produtos rurais e comprar os que não havia na colônia, tais como querosene, sal, tecidos, café, armari-nhos e açúcar, entre outras coisas. A postura dinâmica dessas mulheres que enfrentavam esse desafio, além de todo o trabalho nas chácaras, mostra que elas partilhavam, ao lado dos homens, das atribuições cotidianas, deixando, porém, transparecer certa independência.

Carlos Guérios (2014),pesquisador e estudioso sobre a imigração sírio-libanesa na região, conta que as mulheres dessa etnia cuidavam da alimentação, da roupa, das doenças e remédios, além do árduo trabalho da casa. Quando necessário, faziam costuras e vendas de doces e alimentos, para atender a pedidos dos clientes. “Muitas delas sofrendo a dor da viu-vez, também pegavam malas e carroças e saíam mascatear pelo interior e arredores das Cidades Gêmeas.” O pesquisador relata ainda que, para ir aos locais mais distantes, serviam-se do trem e, nos lugares mais próximos, a carroça “[...] levavam baús com: tesouras, facas, agulhas, dedais, fios, meias, giletes, elásticos,tecidos, botões, tamancos, canivetes, suspensórios, cintas, isqueiros, penicos, colares, pulseiras, talheres, entre outras coisas.”

As carroças foram, portanto, recurso necessário para o ganha-pão de muitas mulheres das nossas cidades, seja mascateando no interior, como as sírio-libanesas, seja entregando leite nas residências, como as alemãs, seja trazendo produtos coloniais como as polonesas, ucranianas e italianas, que realizavam essas funções com altivez e segurança, pelo bem-estar das sua família, mostrando que, de sexo frágil não tinham nada.

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Relato interessante da minha progenitora, filha de carroceiro, conta que, em épocas de enchentes, tão comuns em nossas cidades, as carroças eram utilizadas para transportar mudanças dos lugares próximos ao Rio Iguaçu, para outros espaços mais seguros, e que, na ausência dos marido ou filho, as mulheres tomavam para si essa tarefa. Recorda ainda que era comum, nos anos 40, professoras e parteiras servirem-se das carroças ou cavalos, para chegar com mais rapidez à escola ou à casa onde estava para nascer um bebê.

Bach (2002, p.209) registra o caso de uma mulher que residia em Prudentópolis, conhecida como Maria Carroceira. Desde pequena mani-festava o desejo de conduzir uma carroça e, ao tornar-se adulta, com apoio do pai, realizou esse intento, com muita segurança e habilidade: “Maria movimentava as rédeas com leveza, conduzindo o carroção como se já ti-vesse muitos anos de estrada.” O autor relata ainda que sua presença na estrada era motivo de surpresa aos carroceiros e também, nos lugares por onde passava, pois ia provocando diferentes reações, chamando a atenção das pessoas, que ficavam admiradas com a coragem da moça exercendo essa profissão, considerada trabalho para homem. Aos poucos, ela foi con-quistando seu espaço, e os homens carroceiros acostumaram-se com sua presença nos comboios.

O mesmo autor continua seu relato afirmando que, mediante as preocupações do pai da jovem Maria, com a vida dura que enfrentavam nas estradas, pois ele sempre viajava junto, em outro carroção, ela respon-dia: “Não se preocupe, pai, eu gosto de viajar, de entender como é a vida de um carroceiro e como é difícil ganhar a vida nessa profissão.” Maria sentia orgulho por ser a primeira mulher carroceira da região, e imaginava que outras mulheres se juntariam a ela, para formar um comboio formado por carroceiras. Assumir profissões consideradas do universo masculino nun-ca foi fácil para as mulheres, no entanto, aos poucos, as conquistas foram acontecendo pelo dinamismo e espírito de luta com que elas abraçaram as dificuldades, para atuar junto aos homens, não como superiores, mas em situação de igualdade.

Bueno (2004, p.57) revela em sua importante pesquisa sobre as mulheres imigrantes polonesas no Paraná, no final do século 19 e nas pri-meiras décadas do século 20, que as mulheres agricultoras foram hábeis na venda dos produtos trazidos das colônias, lotando suas carrocinhas com lenha, verduras, requeijão manteiga, ovos e frutas da estação. “Conduziam suas carroças pelas ruas de Curitiba e após estacionarem suas carroças, par-

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tiam para a venda em domícilio nas casas no centro da cidade. Nessas oca-siões aproveitavam também para comprar as mercadorias necessárias para o consumo caseiro”.(BUENO, 2004, p.58).

A autora aponta que, em 1874, foi construído um mercado em Curitiba, e havia um detalhado regulamento que organizava o funciona-mento desse novo espaço destinado às vendas. As carroceiras tiveram que adaptar-se às novas normas, e suas carroças só poderiam ser estacionadas fora da Praça, teriam de pagar impostos e respeitar o espaço de circulação definido. Em que pesem as dificuldades que foram surgindo, nada impediu que as carroceiras tivessem um trabalho autônomo. Trindade (1996,p.267) assegura que “[...] o trabalho da verdureira é um caso típico de comple-mentação de renda familiar, ônus além dos encargos domésticos; e quando subsidiário aos ganhos do marido, representa uma reserva para as despesas adicionais ou para os períodos de crise”.

FOTO 3: Ultimas carroças de colonas de Santa Felicidade,

levando seus produtos para Curitiba – 1959. FONTE: Acervo Cid Destefani, publicado em Gazeta do Povo,

Sessão Nostalgia, 2003.

Essas são nossas mulheres. No passado, atuantes no seu meio, ain-da que fosse pelo uso das carroças e, muitas vezes, discriminadas até por aqueles que registraram a História e omitiram a participação delas. Hoje,

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em sua maioria, não conduzem mais as carroças, mas estão habilitadas a dirigir automóveis, motos, ônibus e caminhões, entre outros veículos, para o exercício das mais diversas profissões. Inseridas na vida pública, e, mais do que nunca, comprometidas com a sociedade, são valorizadas e suas his-tórias vão sendo escritas, tirando-as da invisibilidade.

ALgUMAS CONSIDERAÇÕES

Carroceiros ou carroceiras, nas grandes ou pequenas comunida-des, independente dos serviços que prestaram,tiveram seu papel de grande relevância no desenvolvimento social e econômico de cada espaço por onde transitaram. A crescente urbanização e os novos meios de transporte que, aos poucos, tomaram conta das cidades, modificaram os saberes e faze-res das pessoas. A modernidade trouxe benefícios, é verdade, mas também concorreu para a perda de singularidades e alteraram as relações cotidia-nas. Encerro tomando emprestadas as palavras da historiadora Wilma de Lara Bueno (2004,p.127), quando afirma que “[...] os impulsos arrasadores do progresso relegaram às margens da história os sujeitos anônimos que se ocupavam da trivialidade diária, e impuseram a todos a força do igual que a tudo sucumbe e tudo nivela”.

REfERÊNCIAS

BACH, Arnoldo Monteiro Bach. Carroções, Ponta Grossa: UEPG, 2003.

___________ Carroções: outras histórias. Ponta Grossa: UEPG, 2005.

BUCH FILHO, Victor. Meu livro minhas histórias. Florianópolis: Gráfica Editograf, 2010.

BUENO, Wilma de Lara. Uma cidade bem amanhecida: vivência e traba-lho das mulheres polonesas em Curitiba. 2 ed. Curitiba: Aos quatro ventos, 2004.

CLETO DA SILVA. O Contestado diante das carabinas, Curitiba: Gráfica Paranaense, 1920.

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GUÉRIOS, Carlos. Palestra sobre Imigração Sírio-libanesa no Brasil. Re-vista da ALVI, 2014.

LERNER, Theobaldo Raymundo. Raimundinho: um pioneiro de Maratá.Porto União, 1996.

MARTINS, Wilson. Um Brasil diferente: ensaio sobre fenômenos de acul-turação no Paraná. 2. ed. São Paulo: T. A Queiroz. (Coleção Coroa Verme-lha) Estudos Brasileiros, v. 16.

PALÚ FILHO, Paulo Sérgio. Moletta, Susete. Italianos no Novo Mundo: história, imigração, genealogia, heráldica. 2. ed. Curitiba: Edição do autor: 2012.

TOKARSKI, Fernando. O primeiro código de trânsito em Canoinhas.Re-vista da ALVI, nº 06, 2013.

TRINDADE, Etelvina Maria de Castro. Clotildes ou Marias: mulheres de Curitiba na Primeira República. Curitiba: Fundação Cultural, 1996.

RIESEMBERG, Alvir. Nhà Marica Minha Avó. Curitiba: Papelaria Max Roesner Ltda, 1969.

___________ A Instalação Humana no Vale do Iguaçu. Curitiba, 1973.

ROCKENBACH, Irene Fryder. Dados históricos e Memórias de Cruz Machado. Cuiabá: [s. ed], 1996.

WERNER, Waldemar. Estrada de Ferro Paranaguá - Curitiba - 100 anos Ferrovia e Ferroviários - Memórias. In: Ferrovia Paranaguá - Curitiba: 1885 -1895 uma viagem de 100 anos. Curitiba: RFFSA, 1985.

fONTES PRIMÁRIAS

Arquivo Municipal de União da Vitória:

REGISTROS de Contratos, livro nº 01, março de 1897.

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LIVRO de Termos de Exames de Condutores de Vehiculos de 1931-1941

Trentin Armando. Depoimento concedido à autora. União da Vitória, 2007.

Trentin, Erminia. Depoimento concedido à autora. União da Vitória, 2014.

Lei Municipal nº 113, de 26.11.1925, da cidade de Mafra.

Jornais:

O PHAROL. Porto União, Edital. 20 de julho de 1919, p. 03 (Acervo da ALVI).

___________ Porto União. Festa da Paz. 20 de julho de 1919, p. 01-02. (Acervo da ALVI).

PARANÁ, Diário Oficial. Lei Municipal n.º 209, 1928, p. 7.

GAZETA do Povo. Sessão Nostalgia, 07 de julho de 2013, p. 20. Curitiba, Paraná.

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O SONHO SE TORNA REALIDADE

Paulo Horbatiuk 1

Fahena Porto Horbatiuk2

INTRODUÇÃO

Fazer o bem a quem mais precisa, com humildade e alegria. Essa foi a vontade de Luís Maria Palazzolo, com a criação de condições para o atendimento de meninos pobres, em Bérgamo, Itália. E, logo depois, de uma organização feminina – as irmãs dos Pobres – que temos entre nós, no Instituto Palazzolo, que cuidam das nossas meninas, as mais necessitadas e em situação de risco. De 1869 a nossos dias, sempre houve pessoas genero-sas, disponíveis para essa obra beneficente.

Há 25 anos temos representantes dessas irmãs entre nós, alegres, felizes, em doação integral ao atendimento, educação e zelo de nossas crianças.

Por isso nossa comunidade, agraciada com essa bênção, precisa co-nhecê-las, dar-lhes mais apoio e embarcar nessa Onda do Amor de Deus, cooperando para que as Irmãs possam, realmente, realizar-se, em nosso meio. E tendo por elas e pelas “suas meninas”, gestos generosos de carinho.

Conhecer melhor essas Irmãs, também pode inspirar algumas jo-vens a aderirem à causa, num serviço gratuito, do mais puro Amor. Pois no serviço divino há sempre lugar para mais alguém que se encante em servir aos pequeninos, ansiosos por afeto, ternura e um pouco de esperança.

1 Membro fundador da ALVI, ocupando a Cadeira nº 06, tendo como Patrono João Hort.2 Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 08, tendo como Patrono Luiz Wolski.

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FOtO1: INStItUtO PALAZZOLO, em União da Vitória.FONtE: Cedida pelas Irmãs do Instituto (2014).

PADRE LUÍS PALAZZOLO

De família de posses e de cultura, mas de uma região pobre da Itá-lia, em Bérgamo, nasce a 10 de dezembro de 1827, o oitavo filho de teresa e de Otávio Palazzolo. Eles haviam perdido já seis filhos: dos restantes um viveria até os oito anos de idade. Luís Palazzolo, o recém-nascido, passou a chamar-se Palazzolino.

O pai, Otávio, tinha uma gráfica e o menino nascera forte, porém, durante a infância, muitas vezes, esteve doente e tornou-se franzino. Como era muito generoso, desde pequeno, doando as moedinhas que possuía aos pobres, e que eram muitos, diziam que ele era o Palazolino-Bolso-Furado.

Aos dez anos, o menino perde o pai, e Dona teresa, muito cristã, confiou ao Padre Pietro Sironi que o encaminhasse e protegesse. E eles fi-zeram grande amizade. Fez seus estudos, gostava de língua e de literatura italiana e de música. Decidiu tornar-se um sacerdote, para poder dedicar-se completamente aos pobres. Cursou Filosofia e teologia, estudando bastan-te, mas não apreciava discussões ou especulações, pensando que o princi-pal era dar testemunho de vida e muito amor aos pobres.

Ia com frequência rezar no oratório da rua Foppa, num quarteirão miserável de Bérgamo, com sua turma de meninos esfarrapados, porém adoráveis e a eles depois contava histórias, fazia jogos, teatrinhos, cantos, que os fascinavam.

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Com o tempo, fez uma salinha ao lado do oratório, para os meni-nos rezarem. E depois, alugou um terreno anexo, para ter mais pátio, tantas eram as crianças.

Mas, em dias de chuva e frio, não ficavam acomodados. Eram mais de cem. Vendeu uma casa que seu pai deixara de herança em San Pellegri-no e, lá construíra novas instalações. Inaugura com festa e com as bênçãos do Mons. Valsecchi, um de seus antigos orientadores espirituais. Palazzolo fez normas de trabalho com as crianças e buscava a santidade. Instala as primeiras escolas, pois a maioria era de analfabetos. No início, ele dava as diferentes disciplinas, depois, os próprios alunos já formados. A escola de Palazzolo era reconhecida pelas autoridades civis e eclesiásticas.

Em tempos difíceis politicamente, 1859, viu-se forçado a fechar aquela casa, comunicando, em lágrimas, aos meninos mais chegados. Fez mais algumas reuniões fora dali, numa barraca, mas o grupo se dispersou e ele entra em crise. Com sacrifício dos bens, sua mãe arranja-lhe outras ca-sas para seu trabalho com as crianças. A mãe adoenta-se e falece em 1862.

A partir daí, a situação política mudou e a Itália estava praticamen-te unificada. Padre Luís construiu uma casinha para ele, e acrescentou a seu oratório um grupo da Sociedade Juventude Católica, movimento surgido na Itália.

Um dia, Mons. Valsecchi perguntou-lhe sobre as meninas: “Alguém deveria se interessar por elas. Por que não você?

Então ele iniciou ali uma obra chamada Pia Obra de Santa Doro-teia, que funcionava já em alguns locais. E deu certo, mas o trabalho com elas exigia estrutura especial. Como o Cônego Alesandro Pesenti tinha, nos feriados, uma pastoral com jovens operárias, em Colonna, e como passava por dificuldades, Palazzolo ofereceu-lhe o oratório da rua Foppa, que esta-va fechado. Em 1867, a velha casa passou a viver de novo, o que alegrava Palazzolo. Faltando catequista, Pesenti pediu-lhe apoio na escola e ele não hesitou em ajudar.

Em 1869, Palazzolo abre o oratório feminino na sua velha casa da rua Foppa. Estava com 42 anos e tinha os dois oratórios, o masculino e o feminino.

Precisava procurar uma pessoa justa para se responsabilizar pelas atividades das meninas. Pensou então em teresa Gabrielli, eleita Vice-su-periora da Pia Obra de Santa Doroteia, em 1869. Jovem séria, formada pro-fessora, livre de compromissos e que pensava em ser religiosa. Ela aceitou colaborar. Fizeram jejum e vigília, e depois, teresa Gabrielli fez os votos de

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pobreza, castidade e obediência, diante de um quadro dos Sagrados Cora-ções de Jesus e de Maria.

Depois Palazzolo funda a segunda casa, em Vicenza (1875), depois em Brescia (1876). A Constituição das Irmãs dos Pobres (as Palazzolo) é aprovada em 12 de maio de 1886 e, em 15 de junho desse ano, falece o Padre Luís Palazzolo, em Bérgamo. Em 1963, o Papa João XXIII proclama Luís Palazzolo um Bem-Aventurado.

TERESA GABRIELLI

Nascida em Bérgamo (13 de setembro de 1837), em casa modesta, sexta filha dos oito filhos, de família pobre, família Gabrielli, cheia de fé em Deus.

A mãe, Luzia Morelli, uma pessoa doce, reservada, prudente. O pai, José, um hortelão jovial, sensível, simpático. teresa observava a miséria do povo, e via a todos com simpatia. Era pobre, mas pôde frequentar escola primária. Aos 15 anos, já moça, seu pai fica doente e pede à mulher que faça teresa continuar os estudos, e autoriza que para isso vendesse a única vaca leiteira. Ele tinha o sonho de consagrá-la a Deus. O pai falece e ela começa a frequentar a escola das Irmãs Canossianas, em 1852.

teresa foi cultivando virtudes, rezava, recebia os sacramentos, e, aos 17 anos de idade, já estava formada. Voltou para casa e continuou a ajudar na venda de verduras.

Resolvendo dedicar-se ao ensino, abre uma escola na rua Ósio, 24 (1861). Sua mãe falece em julho de 1863.

Foi aí que teresa começou a ajudar e tornou-se animadora indis-pensável na obra feminina do Padre Luís Palazzolo.

Em novembro de 1868, Padre Luís pede a teresa para cuidar de uma menina abandonada e doente, o que iluminou sua vocação. Logo vie-ram outras meninas. Ela, mais duas jovens, Catarina e Mariana, fizeram uma vigília, oraram muito, e teresa fez os votos de castidade, pobreza e obediência e de fidelidade ao Papa e à Igreja, comprometendo-se a doar sua vida, especialmente, aos jovens pobres e doentes. Padre Palazzolo redigiu um programa e, no dia 22 de maio, teresa começou a trabalhar, cheia de alegria. Logo vieram outras jovens até ela, pedindo para ingressar na Con-gregação.

Dia 21 de novembro de 1869, Madre teresa e Judite colocaram, pela primeira vez, seu hábito marrom, para ir à Missa. Madre teresa dei-

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xou o ensino na escola e passou a dedicar-se apenas às meninas, que já eram muitas. Dizia: “Os pobres, as crianças abandonadas, os sofredores são membros de Cristo.”

A corrente de caridade e de solidariedade foi-se ampliando e, a 21 de novembro de 1876, Madre teresa abre nova casa, em Brescia.

Dia 15 de junho de 1886, morre o Padre Palazzolo, e teresa conti-nua seu trabalho com as meninas. Aos 70 anos de idade, doente, ainda faz penitências e sacrifícios, e dizia, quanto a de todo bem que havia realizado: “É tudo obra de Deus, é Deus que faz tudo.”

Dia 5 de fevereiro de 1908, teve um derrame e morre no dia se-guinte, às 12 horas, junto de suas Irmãs e de seus pobres. Assim realizara o sonho do pai dela.

DE LONGE VEM ESSE GESTO DE AMOR

Irmã Anna Cancline e Irmã Rita Vezzoli, italianas de berço, rece-bem-nos com muita alegria e disponibilidade, paz e alegria. São as Irmãs dos Pobres, congregação fundada em 1869, pelo Padre Luís Palazzolo, daí o nome do Instituto Palazzolo.

Estão há 25 anos em missão em União da Vitória (1989-2014). A primeira casa ficava em São Cristóvão, onde hoje funciona a Creche da Sagrada Família.

Conforme o espírito dos fundadores, Irmã teresa Gabrieli e Padre Palazzolo, o carisma dessas irmãs é cuidar de doentes, presos, deficientes, menores sem amparo familiar...

Nessa casa bonita, localizada na BR 476, km 222, n.º 68, Bairro São Joaquim, um tanto oculta por um bosque existente em frente, podem ser atendidas até 28 crianças e adolescentes, mas, atualmente, ela abriga 22, de cinco a quatorze anos de idade. Doze delas chegaram este ano, conta a Irmã Rita. Ali residem quatro irmãs: duas italianas, uma congolesa e uma brasileira.

Pergunto sobre a congregação no mundo:“temos casa no Congo, na Costa do Marfim, Burkina Faso, Mala-

wi, Quênia (África); além disso, na Itália e na América Latina. E a Casa-Mãe?“Essa fica em Bérgamo, e a Madre Geral chama-se Irmã Bakita.” A

Delegada para a América Latina, segundo as entrevistadas, é a Irmã Ma-riella Paccani.

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Graças a voluntários, elas podem capacitar melhor as crianças e adolescentes, com aulas de reforço escolar, em contraturno, de bordado, crochê, tricô, catequese, jardinagem, ... Há ainda os colaboradores pagos.

As irmãs, para darem conta do dia a dia da casa, recebem um pe-queno auxílio do Município. Recebiam, até algum tempo, apoio da Itália, mas, com a crise europeia, muitas pessoas deixaram de mandá-lo. A solu-ção tem sido realizar promoções, como bazar de roupas usadas, e aceitar doações de alimentos não perecíveis, se alguma instituição oferecer-lhes.

FOtO 2: INStItUtO PALAZZOLO, em União da Vitória – PRFONtE: Cedida pelas Irmãs (2014).

As irmãs participam de reuniões da Saúde, da Educação, da Assis-tência Social, do Conselho tutelar e do Fórum, no que tange ao cuidado das meninas.

E o fruto desse trabalho de tantos anos já é visível: Uma jovem que saiu este ano, com 14 anos de idade, vivera com as Irmãs desde os cinco anos. Agora reside na casa de uma funcionária das Irmãs (que tem duas filhas) e faz o Magistério. Na festa dos 25 anos de Missão, tiveram a alegria de receber a visita de quatro moças e dois rapazes que ali cresceram, hoje adultos responsáveis e bem situados na vida.

No entanto o que vale para elas é viver o amor- serviço, ensinado pelo Divino Mestre, com confiança e humildade.

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FOtO 3: INStItUtO PALAZZOLO – Irmã Superiora e os pequeninos.FONtE: Cedida pelas Irmãs do Instituto – União da Vitória – PR (2014).

Padre Palazzolo dizia no seu programa: “Eu procuro e acolho aque-les que os outros desprezam [...].” E a fundadora, teresa Gabrieli, de origem humilde, estudou com muito sacrifício, e tornou-se professora. Depois, a convite de Palazzolo, recebeu uma menina pobre e doente para cuidar. Daí, aceitou de coração a missão de cuidar dos pobres, fundando uma casa e, com outras moças, atendia menores abandonados: dava comida, alargou o ambiente, multiplicou as camas. As outras irmãs a imitavam.

FOtO 4: O Instituto Palazzolo em seu dia a dia,

com a Irmã Superiora, Ir. Anna Cancline.FONtE: Irmãs Palazzolo – União da Vitória – PR.

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FOtO 5: O Instituto Palazzolo em seu dia-a-dia, com a Irmã Superiora, Ir. Anna Cancline.

FONtE: Irmãs Palazzolo – União da Vitória – PR.

Como se vê, o amor dos primeiros veio até nós, e se concretiza ali, naquela casa, discreta e silenciosamente... na ternura de cada sorriso ou abraço, em cada olhar atento ou palavra calorosa de afeto.

REFERÊNCIAS

LUBICH, Gino; LAZZARIN, Piero. Padre Luís Palazzolo: a misericórdia continua. Brecia: Queriniana,1986 (trad. Brasileira: Padre Luís Artigas Ma-yayo).

O SONHO SE tORNA REALIDADE. Irmãs dos Pobres. União da Vitória, PR

IRMÃS DOS POBRES. Entrevista concedida a Fahena e Paulo Horbatiuk pelas Irmãs do Instituto Palazzolo de União da Vitória, maio de 2014.

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ESPAÇO ESCOLAR E SEUS OBJETOS: COLÉGIO INTERNO MASCULINO SOB A COORDENAÇÃO DE FRADES

FRANCISCANOS NO INTERIOR DO ESTADO DE SANTA CATARINA (1940)1

Roseli Bilobran Klein2

1 INTRODUÇÃO

O espaço escolar contempla, por um lado, objetos, materiais edu-cativos e a própria arquitetura escolar e sua divisão interna, e, por outro lado, vai além dessa materialidade, quando há indicadores de significados sobre a concepção que se tem acerca da natureza e das funções destes. As representações mentais, valores simbólicos, manifestações não verbais que representam o espaço escolar constituem um marco para a aprendizagem cuja função educativa oferece elementos para a formação de uma cultura escolar. O presente artigo é parte de uma pesquisa histórica de um educan-dário religioso, que funcionou como colégio interno desde o ano de 1932, até meados da década de 1960, sob a coordenação dos frades franciscanos: o Colégio São José, em Porto União, Santa Catarina. Justifica-se a pesquisa pelo rigor com que as inspeções escolares aconteciam sob a supervisão de um inspetor de ensino diretamente vinculado ao Departamento Nacional de Educação no Rio de Janeiro, sendo o mesmo Departamento responsável por aprovar ou não o espaço escolar destinado ao funcionamento do esta-belecimento na época. O objetivo deste estudo é desvendar o espaço esco-lar, sua materialidade, por meio de objetos, materiais escolares, arquitetura, contidos no interior da escola, na década de 1940, sob a então denominação de Ginásio São José, com o intuito de verificar as finalidades a que se des-tinavam. A metodologia utilizada se concentra numa pesquisa de campo, mediante catalogação de documentos históricos, atrelada a uma pesquisa

1 Este artigo foi originalmente publicado In: XI Congresso Nacional de Educação. II Seminário Internacional de Representações Sociais, Subjetividade e Educação SIRSE. IV Seminário Internacional sobre Profissionalização Docente – SPD/Cáte-dra UNESCO. EDUCERE, 2013. 2 Membro da ALVI, cadeira no 38, tendo como patrono Estêvão Juk.

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bibliográfica, com base em Frago e Escolano (2001). Como resultado do estudo apresentam-se fragmentos de documentos históricos, revelando os espaços escolares existentes e os discursos implícitos referentes à aprendi-zagem de valores, disciplina, ordem e conteúdos escolares específicos.

A partir de 1930, passada a crise econômica no país, houve um desenvolvimento industrial, em que as importações foram substituídas, fa-zendo com que o Brasil requisitasse um processo de modernização. Isso fez com que novas exigências educativas surgissem. A burguesia apoiou a política do Estado Novo e, “precisamente como aconteceu com os pa-drões de consumo, os padrões de educação foram determinados pelo fa-tor demanda. A estratificação social e a herança cultural pesaram como elementos predominantes na escolha do tipo de educação escolar a preva-lecer”. (ROMANELLI, 1999, p. 56). As exigências da sociedade industrial impuseram modificações significativas na forma de perceber a educação. A escola expandiu-se para atender às necessidades de formação da popu-lação brasileira que participava de um aumento de frentes de trabalho as-salariado. Coincide com esse período a forte influência da Escola Nova no Brasil, implantando novas formas de ensinar com recursos diferenciados e expandindo a escola pública, favorecendo o processo de democratização do ensino. A elite, percebendo a aplicação de métodos modernos na escola pública, requisita-os também para os seus, entretanto desejava que fossem atrelados ainda à formação de valores tão aspirada por essa classe social, a qual não os via de forma favorável no interior do ensino público. Para tal, as escolas confessionais religiosas foram cobiçadas pela burguesia, porque, na década de 1940, passavam por um momento de reestruturação, devido às reformas de ensino como as Leis Orgânicas do Ensino Secundário e garan-tiam uma formação moral e religiosa que perpetuaria o status das classes sociais mais privilegiadas (ROMANELLI, 1999).

Esse fato forçou as escolas particulares a se adequarem às deman-das sociais, adaptando-se a essa nova realidade. Além disso, havia a suges-tão do Departamento Nacional de Educação no Rio de Janeiro de que as escolas a serem construídas deveriam se igualar aos padrões do Colégio Pedro II, na capital do país (VECHIA; CAVAZOTTI, 2003).

Diante dessa realidade, surgiu o Colégio São José, que iniciou suas atividades ainda como Escola Paroquial, em 1932, sob a coordenação dos frades pertencentes à Congregação dos Irmãos Pobres de São Francisco Se-ráfico, oriundos da Alemanha. Esse pequeno colégio interno ampliou sua estrutura física e tornou-se o Ginásio São José, no ano de 1940, funcio-

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nando como colégio interno, e atendendo aos alunos da comunidade. Foi criado no Município de Porto União, no Estado de Santa Catarina. No dia 17 de maio de 1940 foi concedida a inspeção preliminar ao Curso Secun-dário Fundamental do Ginásio São José, pela Portaria Ministerial no 91, do Ministério da Educação e Saúde Pública, assinada pelo Ministro Gustavo Capanema, nos termos do Art. 52 do Decreto 21.241, de 4 de abril de 1932 (BRASIL, 1932 apud ROMANELLI, 1999).

2 DE ESCOLA PAROQUIAL A GINÁSIO: UM NOVO ESPAÇO ESCOLAR

Da pequena Escola Paroquial, criada em 1932, em instalações im-provisadas, passou a moderno espaço físico, na década de 1940 (Figura 1). A escola paroquial continuou a oferecer o Curso Primário e o Curso Com-plementar, e, o novo espaço acolheu alunos do Curso Ginasial.

FIGURA 1: Ginásio São José, construção de 1940. FONTE: Acervo do Colégio São José.

O espaço escolhido foi cedido pela Paróquia de Porto União, na Rua José Boiteux, em frente à Igreja Matriz, próximo ao Hospital de Ca-ridade da cidade, e à Praça principal. A construção segue o mesmo estilo arquitetônico que formam o Hospital, a Casa Paroquial e o Salão Paroquial, compondo um conjunto de construções germânicas.

A planta original distribui-se em três pavimentos, distribuindo-se em salas de aulas e áreas reservadas aos alunos internos e aos frades. Uma parte anexa foi construída posteriormente, abrigando a capela na parte tér-rea e, no primeiro pavimento, a residência dos freis.

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Uma descrição detalhada do espaço físico consta no Relatório de Atividades Finais do colégio, no ano de 1946, quando o Inspetor Federal, Elpídio Caetano da Silva, assim o descreve (COLÉGIO SÃO JOSÉ, 1946, p. 08 - 13):

1ª PARTE - O prédio destinado ao internato compõe-se de dois pavimentos, os quais se comunicam por uma escada de imbuia envernizada, composta de dois lances, sendo que, o primeiro dos lances tem 10 (dez) degraus e o segundo 12 (doze). No pavimen-to superior está instalado o dormitório, em amplo e confortável salão, o qual mede 19 X 12,65 e mais uma reentrância medindo 5,20 X 3,70, ou seja, 259,59 m2 com 14 amplas janelas, medindo 1,23 X 1,84 cada uma e mais duas portas, sendo que uma mede 1,40 X 2,60 e a outra 3,32 X 2,95, e que dá uma área de ilumina-ção de 5,77m2, o que corresponde a nota 8 (oito). Ao fundo do dormitório está instalado o vestiário, numa sala medindo 6,30 X 4,60 e mais uma reentrância com a metragem de 2,05 X 12,65, e que perfaz um total de 54,90 m2 com três janelas e uma porta, sendo que duas das referidas janelas medem 1,13 X 1,65 e a outra 0,80 X 1,65 e a porta 2,60 X 0,90, o que dá uma área de ilumina-ção de 7,42 m2, e corresponde a nota 5 (cinco). A porta que se acha no vestiário dá saída para uma escada de segurança, toda ela de cimento armado. No dormitório existem 61 camas tipo PATENTE PAULISTA. Cada cama tem obrigatoriamente um colchão, um travesseiro, quatro lençóis, quatro fronhas, duas col-chas, um cobertor de lã, e um acolchoado com capa (este enxoval é de propriedade do aluno). No dormitório, à direita de quem entra, se acha instalado um belíssimo lavatório, todo ele de mar-morina, com 16 bacias e respectivas torneiras, sendo o piso de ladrilhos. No mesmo pavimento está instalado um gabinete no-turno, cujo piso é todo ele de ladrilhos, com dois WCs e três mictórios. Há também nove bacias de marmorina para a lava-gem das mãos, tudo com água encanada. Ainda no mesmo pavi-mento, está instalada a FARMÁCIA, a ENFERMARIA com seis camas, a SALA DO SUPERIOR, a CAPELA, e a TESOURARIA. A pintura do dormitório é de cor amarela clara, a altura do pé direito é de 3 metros. A altura de parapeito das janelas é de 1,05 m. Aproveitando o comprimento do corredor, nele foram insta-lados 81 armários individuais, devidamente numerados. 2ª PAR-TE – ELUCIDÁRIO DA FICHA DE CLASSIFICAÇÃO – 1º si-tuação – O edifício está situado na zona urbana, numa colina, parte Leste da cidade, em terreno amplo e em condições reco-

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mendáveis pela sua natureza, topografia e vizinhança. Pela sua altura oferece a ventilação e a insolação, um acesso franco; pela sua área de 18.660 m2, facilidade de isolamento às futuras cons-truções e uma perfeita situação dos edifícios atuais. Pela quadra urbana que ocupa, cujo acesso é dado por uma ampla avenida, tem privilégio pela distância dos cruzamentos e ruas movimen-tadas, dando livre trânsito aos alunos, abrigando-os dos ruídos e dos motivos que possam desviar ou perturbar a sua atenção. O terreno cuja permeabilidade e regularidade lhe dão qualidades não suscetíveis de fácil contaminação, permissão livre ao escoa-mento e absorção natural das águas, e uma disposição plana, sem obstáculos e protegido contra erosões e com área suficiente para futuros acréscimos. 2º Edifício – construído especialmente para ginásio, foi inaugurado em 8 de dezembro de 1939. A sua cons-trução é toda ela de alvenaria de tijolos, revestido de argamassa de cal e areia, coberto com telhas de barro, tipo FRANCESA, armações de tesouras e vigamentos reforçados de pinho. Tem a forma de um I, tendo dois pavimentos e mais a parte térrea. Duas escadas de imbuia envernizada dão acesso ao segundo pavimen-to. Os pisos são de madeira de pinho, exceto o corredor do pri-meiro pavimento, o qual é de ladrilhos. No primeiro pavimento acham-se instaladas as salas de aula da 1ª série A e B, da 2ª série, da 3ª série, da 4ª série, gabinete de física e química, gabinete de história natural, sala de geografia e desenho, secretaria, sala do diretor, gabinete médico-biométrico, sala de visitas, biblioteca e sala dos professores. No andar térreo estão instalados o refeitó-rio, a cozinha, dispensa, depósito de sapatos, salas de banho, mictórios e WCs. Existe ainda um prédio de alvenaria onde fun-ciona o Curso Primário e residência dos membros da Congrega-ção. 3º Instalações – existem quatro extintores de incêndio devi-damente instalados, um em cada corredor dos pavimentos do prédio, um no gabinete de química e física e outro no dormitó-rio. A iluminação natural pelas janelas e portas rasgadas, em nú-mero, áreas e situação convenientes, supera as exigências prescri-tas pela higiene escolar. A iluminação artificial é feita por meio de eletricidade, cuja rede é convenientemente distribuída por todo o prédio por meio de fios completamente isolados e ainda colocados em canos de chumbo. A água potável é canalizada, existindo um reservatório para quatro mil litros (4000). A limpe-za diária é feita por meio de varredura a húmido, lavagem bi-se-manal e passagem de óleo de linhaça. As instalações sanitárias compõem-se de 10 (dez) WCs e 9 (nove) mictórios para os alu-

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nos. Ao centro do gabinete das instalações sanitárias para os alu-nos, existe um grande lavatório de marmorina, com água corren-te para a lavagem das mãos. Todo o despejo é feito para uma fossa céptica geral, com capacidade para 500 (quinhentos) alu-nos. As lavagens gerais são feitas na sala de banhos, a qual é pro-vida de 10 quartos (dez) cada um com ótimo chuveiro. Existe também, na mesma sala, um lava pés com água corrente. O piso da referida sala é todo de cimento e a divisão dos quartos é de marmorina. Os bebedouros automáticos são em número de 2 (dois). No primeiro pavimento está instalado um WC e um mic-tório para os senhores professores. 4º Salas de aula – a sala da 1ª série A, tem uma área de 5 X 7, ou seja, 35 m2 e tem a forma re-tangular, dispondo de três amplas janelas basculantes e uma por-ta. A área de iluminação para esta sala dá um coeficiente menor que 5 (cinco). A sala da 1ª série B - tem uma área de 5 X 7, ou seja, 35 m2 e tem a forma retangular, dispondo de três amplas janelas basculantes e uma porta. A área de iluminação para esta sala dá um coeficiente menor que 5 (cinco). A sala da 2ª série, antiga 2ª série A, tem uma área de 5 X 8, ou seja, 40 m2 e tem a forma retangular, dispondo de três amplas janelas basculantes e uma porta. A sala de línguas vivas, antiga 2ª série B, tem uma área de 5 X 7, ou seja, 35 m2, e tem a forma retangular, dispondo de três amplas janelas basculantes e uma porta. A área de ilumi-nação para esta sala dá um coeficiente menor que 5 (cinco). A sala da 3ª série tem uma área de 5 X 7, ou seja, 35 m2 e tem a forma retangular, dispondo de três amplas janelas basculantes e uma porta. A área de iluminação para esta sala dá um coeficiente menor que 5 (cinco). A sala da 4ª série tem uma área de 5 X 7, ou seja, 35 m2 e tem a forma retangular, dispondo de três amplas janelas basculantes e uma porta. A área de iluminação para esta sala dá um coeficiente menor que 5 (cinco). As salas são todas pintadas a claro com uma barra à óleo de cor cinza, até a altura do peitoril. As carteiras são todas individuais. Na 1ª série A, exis-tem 28 carteiras individuais. Na 1ª série B, existem 27 carteiras individuais. Na 2ª série existem 43 carteiras individuais. Na 3ª série existem 18 carteiras individuais. Na 4ª série existem 17 car-teiras individuais. Na Sala de Línguas existem 22 carteiras indi-viduais. As mesas dos Snrs. Professores são de pinho enverniza-do, medindo 1 X 1,5. Os quadros negros são fixos na parede, medindo 1 X 4,80, ou seja, 4,80 m2. 5º Salas Especiais – AUDI-TÓRIO – tem uma área de 26,50 x 10, ou seja, 265 m2, e tem a forma retangular, dispondo de 8 janelas e 5 portas. A área de

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iluminação para esta sala dá um coeficiente de 5,24. A altura do pé direito é de 4,75. O referido auditório possui um ótimo palco, o qual se acha aparelhado de diversos cenários. BIBLIOTECA tem uma área de 4,80 X 3,20, ou seja, 15, 36 m2, e tem a forma retangular dispondo de duas amplas janelas basculantes e uma porta. A biblioteca já se recomenda pela qualidade dos livros di-dáticos, dicionários, enciclopédias, livros de literatura e de pre-paração profissional. A referida sala se acha ornada com móveis de imbuia envernizada, tais como sejam: um belíssimo armário todo envidraçado para livros, mesa, cadeira e porta chapéus. GI-NASIUM – tem uma área de 26 X 10, ou seja, 260 m2, dispondo de 6 chuveiros e um quarto para guardar o material de desporto. O Ginasium está provido de todo o material indispensável à prá-tica dos desportos. ÁREA LIVRE – tem uma área de 4.840 m2, onde vbse acha instalado o campo de futebol. A referida área é plana, contínua e regular, porém não é gramada nem circundada de arborização. PISTA – tem uma área de 1.310 m2, toda grama-da ao centro onde se acha instalado o pórtico de Educação Física, e serve para as corridas de velocidade para uma extensão de 100 m. SALA DE GEOGRAFIA e DESENHO tem uma área de 6 X 12,50, ou seja, 75 m2, e tem a forma retangular, dispondo de qua-tro amplas janelas basculantes e uma porta. Na referida sala exis-te todo o material necessário para as referidas cadeiras, tais como sejam: termômetro, barômetro, um globo terrestre, um telúrio, dois atlas de consulta, bússola, tabuleiro de areia, cartas murais do Brasil e dos continentes, amostras de produtos nacionais. Para o ensino de Desenho existe o seguinte material: sólidos geo-métricos de madeira, réguas, compassos, transferidores, esqua-dros, pranchetas, uma coleção de doze vasos, 6 modelos de dese-nho e 6 modelos de frutas diversas. A área de iluminação para esta sala dá um coeficiente menor que cinco. SALA de FÍSICA e QUÍMICA tem uma área de 5 X 11,60, ou seja, 58 m2, e tem a forma retangular, dispondo de 5 amplas janelas e 2 portas. A área de iluminação para esta sala dá um coeficiente menor que cinco. Nesta sala se acha instalado o anfiteatro contendo armários, mesa grande com mármore, pia com água corrente, quadro ne-gro, extintor de incêndio e todo material necessário para o ensi-no de física e química. O anfiteatro comporta 4º alunos. SALA DE CIÊNCIAS FÍSICAS E NATURAIS – o ensino desta cadeira é ministrado no gabinete de física e química onde existe o mate-rial e as instalações necessárias. SALA DE HISTÓRIA NATU-RAL – tem uma área de 10,50 X 5, ou seja, 52,50 m2, e tem a

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forma retangular dispondo de duas amplas janelas basculantes e uma porta. A área de iluminação para esta sala dá um coeficiente menor que 5 (cinco). Na referida sala há mesa para microscópio e para ensaios prognósticos. SALA DO DIRETOR – tem uma área de 3,70 X 4,80, ou seja, 17,76 m2, dispende de uma ampla janela basculante e uma porta. GABINETE DO INSPETOR E SECRETARIA – tem uma área de 4,70 X 4,80, ou seja, 22,56 m2, dispondo de duas amplas janelas basculantes e duas portas, sen-do que uma de comunicação com o gabinete do diretor. A referi-da sala se acha ornada com móveis de imbuia envernizada, tais como sejam: uma ampla mesa, cadeiras, tipo poltrona, armário, máquina de escrever marca CONTINENTAL com carro grande e respectiva mesa, arquivo, armário fichário, quadros históricos, e um aparelho de rádio marca RCA VITOR, 9 válvulas com ins-talação completa de auto-falantes para o pátio. REFEITÓRIO – tem uma área de 14,20 X 5, ou seja, 71 m2, dispondo de quatro janelas e duas portas. As pias da referida sala são todas de cimen-to e as paredes até a altura de 1,75 m, são revestidas de marmori-na. O refeitório é provido de 12 mesas de 1,10 X 0,75, com luga-res para seis alunos cada uma, e devidamente esmaltadas de branco. O lavatório está situado em área coberta, logo à saída do refeitório. COZINHA – está situada em uma ampla sala, tendo o piso revestido de cimento e as paredes até a altura de 1,75 m são revestidas de marmorina. Instalação de água quente e fria, duas pias para lavagem de alimentos. Fogão à lenha, provido de cha-miné de exaustão. Armários com tela, latas de lixo, máquinas para cortar carne, legumes, batatas e fabricar massas. GABINE-TE MÉDICO – BIOMÉTRICO – tem uma área de 3,90 X 4,80 m, ou seja, 18,72 m2, dispondo de uma ampla janela basculante e uma porta. A referida sala está ornada com móveis de pinho la-queado a branco tais como sejam: mesa para o médico, armário todo envidraçado para a guarda dos aparelhos, cadeiras e mesa para exame clínico. Possui todo o material exigido, conforme re-lação anexa a este relatório. SALA DE VISITAS – tem uma área de 3,70 X 4,80m, ou seja, 17,76 m2, dispondo de ampla janela basculante e uma porta. A referida sala se acha ornada com mó-veis de vime, porta- chapéus, mesa de centro, quadros de forma-turas e outros. ÁREA COBERTA – tem uma área de 366 m2, e computada a área de ginasium que é de 260 m2, temos um total de abrigo para os alunos de uma área de 626 m2. PISCINA – tem uma área de 14,00 X 8,50 m, ou seja, 119 m2, com água corrente. A sua profundidade máxima é de 1,60 m. é servida por uma casa

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de madeira medindo 8 X 3 m a qual serve de vestiário. DESPEN-SA – está instalada em uma ampla sala, tendo o piso revestido de cimento. É provida de depósito de madeira para gêneros alimen-tícios, armários com telas, prateleiras, etc. CONCLUSÃO – pelo presente relatório fielmente organizado conforme os dados por mim colhidos pessoalmente, concluo que o Ginásio São José, está à altura dos bons estabelecimentos secundários do país. Por-to União, 27 de julho de 1946. Elpídio Caetano da Silva, Inspetor Federal junto ao Ginásio São José.

Nessa descrição do prédio verifica-se uma constante preocupação com as questões higiênicas e de saúde: ventilação, lavatórios, chuveiros, farmácia, enfermaria, permeabilidade do terreno, isolamento de ruídos, iluminação, ginásio para a prática de educação física, pórtico para as ativi-dades esportivas, cozinha higienizada, despensa para a conservação de ali-mentos, piscina para a prática da natação. Segundo Frago; Escolano (2001, p. 19), “o discurso médico higienista configura o espaço educacional e sua distribuição e usos em função da classe social ou gênero”. A ênfase na cons-trução de uma identidade nacional se intensificou no período republicano, quando educação e saúde interligaram-se como centro de atenção e preo-cupação dos intelectuais, tornando-se objetos de intervenção do Estado. A elite aspirava à construção de uma nação pela modernização, e as reformas sanitárias e educacionais constituíam-se em estratégias de salvação. Essa preocupação se prolongou ainda durante o período do Estado Novo.

Quanto às salas-laboratório: Física e Química (Figura 2); Geografia e Desenho, é possível observar conforme Lourenço Filho (1978), que os conhecimentos de biologia e psicologia, abrangendo os princípios de expli-cação evolutiva que se ampliavam, foram de grande importância na organi-zação dos métodos de investigação, resultando na substituição de normas empíricas por outras, de maior validade técnica, na organização escolar; na análise dos fins da escola e toda a sua problemática; bem como na elabora-ção dos métodos e técnicas que favoreciam a aprendizagem inserida numa escola ativa. Segundo Lourenço Filho (1978, p. 151):

Os alunos são levados a aprender observando, pesquisando, perguntado, trabalhando, construindo, pensando e resolvendo situações problemáticas que lhes sejam apresentadas, quer em relação a um ambiente de coisas, de objetos e ações práticas, quer em situações de sentido social e moral, reais ou simbólicas.

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Essas alterações puderam ser observadas com a construção do novo espaço físico, moderno para o contexto da época, em que a estrutura contava com salas-laboratório, aparelhadas com instrumentos atualizados para aquele período histórico.

FIGURA 2: Laboratório de Física e Química do Colégio São José, na década de 1940.

FONTE: Acervo do Colégio São José.

Nos documentos do ano de 1940 (COLÉGIO SÃO JOSÉ, 1940, p. 8), quando iniciaram as atividades do Ginásio do Colégio São José, encon-tra-se uma lista do material adquirido para o laboratório (Quadro 1):

MATERIAL DIDÁTICO1 bico de bunsem a álcool, pequeno

1000.0 rolhas de cortiça1000.0 rolhas de borracha

1 tela de arame com amianto, 16x16 cms1 suporte de ferro 10 x18 cms

1 pinça de metal para cadinhos1 metro tubo de borracha para gás

1 caderno papel tronesol azul1 caderno papel tronesol vermelho

1 balão f/ chato jena, de 750 cc1 frasco para reativo, de 250 cc. Branco

1 frasco c/ 2 tubuladuras, de 500 cc

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1 regulador de watt, nacional1 pendulo reversível

1 metrônomo seg. Malz Tubos capilares

1 barômetro aneróide1baroscópio (densimetro)

1 cilindro para estudo da ressonância nac.1 harmonica chimica, c. três tubos diversos

1 sereia savart1 sonômetro c. 2 cordas e dinamômetro

1 placa vibrante1 jogo. de 3 espelhos: plano, côncavo e convexo

1 apar. para demonstração de dilatação de líquidos1 apar. para demonstração de dilatação de sólidos

1 pirômetro de quadrante nac.1 termômetro de 150 C. americano nitrogênio

1 marmita de painpim1 funil de vidro de 12 cms

1 crystalisador de 10x10 cms1000 tubos de vidro em varas nac.100 tubos de ensaio 160 x 16 mms

1furador de rolhas1 retorta com tubuladoras, jena, de 250 cc1 balão de dist. Fracionada Jena, de 100 cc

1 refrigerante de bolas, de 25 cms.1 pipeta grad. de 10: 1/10cc ncal.

1 balança de precisão, cap. 100 grs. sensib. 2–3 mgr. Sem pesos1 jogo de pesos nickelados, até 100 grs

1 balança hydrostática, com jogo de pesos de 200 grs1 monômetro de mercúrio nac.

1 higrômetro

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1 lâmpada de mineiros1 bastão de vidros

1 bastão de ebonite1 voltâmetro de peso e volume

1 coleção de 66 mineraes1 Machina Atwood

1 giroscópio c. pé, modelo de precisão1 Buba de Leslie, c. 2 termômetros

1 pluviômetro seg. Maurer1 pendulo elétrico

1 torniquete elétrico1 condensador de disco

1 garrafa de Leyde desmontável1 Machina de Whimhurst, de 21 cms.[(?)]

1 pilha de volta pequena1 acumulador de planté1 ponte de resistência

1 par. de galvanoplastia1 ímã girante

1 modelo de dínamo grande1 microfone

1 telúrio de Lange, estrangeiro1 esqueleto humano articulado

Quadro 1 – Lista de materiais adquiridos para o laboratório, no ano de 1940.Fonte: Colégio São José. Caixa Arquivo 001. Documentos Diversos. Porto União; Santa Catarina, 1940.

A descrição dos materiais contidos na referida sala-laboratório de-monstra a modernização dos espaços escolares, mediante influência das novas ideias pedagógicas inseridas no contexto educacional brasileiro. Nes-sa perspectiva, a compreensão desses espaços traz à tona o processo de en-sino no cotidiano, levando à compreensão de que, à medida que ocorrem mudanças nos espaços, também ocorrem alterações na maneira de ensinar.

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A descrição do espaço que acolheria os alunos internos revela a or-dem: disposição das camas, o enxoval que cada educando deveria possuir; revela a disciplina: implícita na arrumação, na conservação da limpeza. Ob-serva-se, ainda, a vigilância: a sala do piso superior próxima à dos alunos e à capela, o que pressupõe a vigilância divina. Frago e Escolano (2001, p. 26) ressaltam a relação entre a materialidade e a corporeidade dos sujeitos:

A arquitetura escolar é também por si mesmo, um programa, uma espécie de discurso que institui na sua materialidade um sistema de valores, como os de ordem, disciplina e vigilância, marcos para uma aprendizagem sensorial e motora e toda uma semiologia que cobre diferentes símbolos estéticos, culturais e também ideológicos.

Quanto à localização, o inspetor salienta que a escola situa-se em amplo terreno, numa colina, oferece ventilação, está livre de ruídos, etc. Esse fato, segundo Frago e Escolano (2001), diz respeito à localização da escola e suas relações com a ordem urbana das populações as quais respon-dem a padrões culturais e pedagógicos que a criança internaliza e aprende. E reforça, dizendo que “a arquitetura escolar pode ser considerada inclusive como uma forma silenciosa de ensino”. (FRAGO; ESCOLANO, 2001, p. 27).

A sala de visitas, o gabinete médico, a farmácia, a piscina são es-paços que se pressupõe serem destinados à elite. Santos (2008, p. 44-45) aponta que:

Os espaços construídos pelo homem são expressões das formas como produzem sua própria história e das relações que estabele-cem com o meio. As moradias nos falam sobre aspectos da vida individual, familiar e coletiva; as edificações para cultos religio-sos desvelam formas de vinculação dos indivíduos com elemen-tos que são situados num plano de não materialidade, metafísi-co; construções com finalidade de produções de bens ou de sua comercialização revelam dados das estruturas econômicas e das formas de trabalho. Casa, Igreja, Indústria, armazém, cada lugar revela elementos da história humana, das existências dos sujeitos.

A preocupação com a ventilação, orientação, iluminação, corredo-res, pisos, escadas, posição do mobiliário, instalações sanitárias, dimensões das salas de aula, entre outras, constituíam um ambiente privilegiado. Esses elementos que pertenceram à escolarização configuraram como um tipo

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específico de formação/organização cultural. Para Frago e Escolano (2001, p. 26), o espaço escolar não é uma dimensão neutra do ensino, tampouco um simples esquema formal ou estruturas vazias da educação. Ao contrá-rio, “os espaços operam como uma espécie de discurso que instituiu, em sua materialidade, um sistema de valores, um conjunto de aprendizagens sensoriais e motoras e uma semiologia que recobre símbolos estéticos, cul-turais e ideológicos”. (FRAGO; ESCOLANO, 2001, p. 26). No caso, essa escola e muitas outras, construídas nesse período histórico, apropriaram-se de um conjunto de práticas rituais e simbólicas que se disseminaram, exi-bindo um monumento arquitetônico imponente, que, no seu interior, regu-lou o comportamento, estabeleceu valores e normas sociais e educacionais a uma parcela da sociedade, garantindo o status social (VIDAL, 2005).

3 ESPAÇO ESCOLAR, UM TERRITÓRIO NÃO NEUTRO

Julia (2001, p. 10) define a cultura escolar como: “um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos”. Essas práticas que geram a trans-missão do conhecimento estão inseridas num determinado espaço escolar.

Quando se trabalha com essas novas fontes, espaços escolares, desvendados mediante catalogação de documentos, torna-se possível re-construir a história da educação por diferentes caminhos. Em relatórios de inspeção escolar, é comum encontrar descrições minuciosas do espaço escolar. Essa fonte vai retratar toda uma cultura material envolvida, quan-do descreve as delimitações da sala de aula, o coeficiente de iluminação, o número de janelas, a altura do pé direito, as dimensões das áreas de lazer, etc. Frago e Escolano (2001, p. 69) afirmam que o “espaço físico para o ser humano é uma das suas modalidades de sua conversão em território e lugar. O espaço não será neutro [...] o espaço educa”. No espaço ocupado pelo colégio São José é possível verificar a importância das salas-labora-tório, atentando-se às suas dimensões, que são superiores às salas de aula; isso pressupõe um ensino experimental. Quando o inspetor descreve a sala do diretor, por exemplo, utiliza a seguinte descrição: “ornada com móveis de imbuia” (COLÉGIO SÃO JOSÉ, 1946, p. 11), nota-se uma decoração requintada. Com isso verifica-se que os alunos que frequentavam a insti-tuição estavam à altura de tal decoração, e esse espaço escolar simbolizava a extensão de suas casas. A existência da capela implica a frequência às

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orações, celebrações, sacramentos, na presença da ideologia católico-cristã transmitida no interior da escola, na família, e exigida pela sociedade na-quele contexto. Ainda, ao descrever a sala do diretor, apresenta “quadros históricos, e um aparelho de rádio marca RCA VITOR, 9 válvulas, com instalação completa de autofalantes para o pátio” (COLÉGIO SÃO JOSÉ, 1946, p. 11). O rádio e os quadros históricos revelam o nível cultural dos educandos. Na década de 1940, as famílias que possuíam um rádio ou que valorizavam quadros históricos, certamente, tinham um nível social eco-nômico mais elevado e primavam pela cultura de seus filhos. É, portanto, por isso que se concorda com Frago e Escolano (2001), quando dizem que os espaços não são neutros. Os espaços, além de conhecimentos científicos, transmitem elementos de uma cultura, transmitem ideologias, interferem no modo de pensar e agir na sociedade.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pesquisar o espaço escolar pressupõe um diálogo com a história das instituições escolares. O colégio interno, sob a denominação de Ginásio São José, teve origem quando, em todo o Brasil, nesse período, surgiram os ginásios, ensino secundário público. Essa experiência pode ser notada no Estado do Paraná, São Paulo e outros. Entretanto a fundação do ginásio de origem confessional e religiosa se contrapunham às ideologias do gover-no, no sentido de que além da educação, transmitiam valores, formavam o caráter e uma vivência religiosa tão almejada pela classe burguesa. Essa foi a tática utilizada pelas congregações religiosas, para atrair os estudantes, não sendo diferente com os franciscanos. Desse modo, o Ginásio São José introduziu, de forma permanente e sistemática, a cultura escolar burguesa no ensino secundário, no Município de Porto União, em Santa Catarina. Sua edificação veio confirmar o conceito de cidade próspera, resultante do forte polo econômico que se solidificou na região; também foi um grande centro educacional, que trouxe estudantes de todas as localidades, abran-gendo o Estado de Santa Catarina e do Paraná. Seus espaços escolares e objetos materiais nele contidos confirmam esse caráter religioso educativo que influenciou muitos educandos.

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REFERêNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação e Saúde Pública. Decreto no 21.241, de 4 de abril de 1932, que consolida as disposições sobre a organização do Ensino Secundário e dá outras providências. Rio de Janeiro, 1932. In: RO-MANELLI, Otaíza de Oliveira. História da Educação no Brasil. 23 ed. Pe-trópolis; Rio de Janeiro: Vozes, 1999.

FRAGO, Antonio Viñao; ESCOLANO, Augustin. Currículo, Espaço e sub-jetividade. A Arquitetura como programa. 2 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

JULIA, Dominique. A Cultura Escolar como Objeto Histórico. Revista Brasileira de História da Educação. no 1. Jan./jun. 2001

LOURENÇO FILHO, Manuel B. Introdução ao Estudo da Escola Nova. 12 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1978.

ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da Educação no Brasil. 23 ed. Petrópolis; Rio de Janeiro: Vozes, 1999.

SANTOS, Ademir Valdir dos. Espaço Educativo da Escola primária Teu-to- Brasileira Rural. In: SANTOS, Ademir Valdir dos; VECHIA, Ariclê (Orgs.). Cultura Escolar e História das Práticas Pedagógicas. Curitiba: UTP, 2008, p. 43-59.

VECHIA, Ariclê; CAVAZOTTI, Maria Auxiliadora (Orgs.). A Escola Se-cundária. L’Enseigment Secondaire. São Paulo: Annablume, 2003.

VIDAL, Diana Gonçalves. Culturas Escolares. Campinas; São Paulo: Au-tores Associados, 2005.

FONTES PRIMÁRIAS

COLÉGIO SÃO JOSÉ. Caixa Arquivo 001. Documentos Diversos. Porto União; Santa Catarina, 1940.

COLÉGIO SÃO JOSÉ. Caixa Arquivo 007. Documentos Diversos. Porto União; Santa Catarina, 1946.

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A SAGA DE MIKOŁAJ TOPOROWSKI:LAÇOS DESATADOS, VIDAS PARTIDAS1

Fernando Tokarski2

Damaris Ocker3

1 INTRODUÇÃO

No conturbado panorama europeu do século XIX, o governo im-perial brasileiro promoveu, naquele continente, uma maciça propaganda institucional destinada ao fomento da imigração ao País. Entre 1890 e 1900, a “febre brasileira” atraiu milhares de polacos às terras do Sul, notadamente ao Estado do Paraná. Antes disso, pioneiras levas já haviam desembarcado em terras brasilianas. Ainda nos primeiros anos do século XX, os polacos continuaram a onda imigratória ao Brasil, o que se sucedeu inclusive após a II Guerra Mundial (1939-1945).

Antes, ações empreendidas pelos países invasores à Polônia tam-bém contribuíram para que muitos deixassem a nação, aportando no Brasil. Campanhas de desnacionalização, confisco de bens, deslocamentos popu-lacionais em massa eram frequentes. Os polacos procuram deixar seu país em direção à América. “Eles partem de uma Polônia que, como os demais países europeus, enfrenta as consequências do desenvolvimento do capi-talismo industrial e tem ao longo de uma história a luta contra o domínio da Áustria, da Prússia e da Rússia”. (GRITTI, 1999, p.36) O fim do sistema escravocrata nacional e o interesse pelo adensamento populacional, fomen-tando as atividades econômicas e as rendas públicas constituíram estraté-gias governamentais destinadas à atração de sucessivas levas migratórias.

1 Nesta produção acadêmica optamos por manter as grafias originais dos nomes polacos por entender que nomes próprios, especialmente de pessoas, não devem ser traduzidos. Ao adotar a cidadania brasileira, Toporowski assumiu o nome de Nicolau.2 Fernando Tokarski, membro fundador da Academia de Letras Vale do Iguaçu, Cadeira nº 31, cujo patrono é Cyro Elhke. 3 Damaris Ocker, licenciada e especialista em História, professora em Três Barras (SC), é bisneta de Mikołaj Toporowski.

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2 ERVA-MATE, ARAUCÁRIAS, POLACOS

Ao final do século XIX, a erva-mate passou a ser o principal susten-táculo da economia e, em razão disso, a capital paranaense ganhava ares de um grande centro urbano, atraindo toda a sorte de homens, inclusive os po-lacos. No rastro da erva-mate, outras indústrias proliferavam, fomentando a diversidade da oferta de mercadorias à formação de riquezas individuais.

Tokarski explica que, afora aqueles polacos que se estabeleceram no Paraná e em Santa Catarina antes de 1890, foi a partir das colônias e vilas paranaenses de Cruz Machado, Fluviópolis, General Carneiro, Mallet, Nova Galícia, Rio Azul, Rio Claro, São Mateus do Sul e Vera Guarani, além de outras, que os polacos cruzaram o Iguaçu, o Negro, o Timbó e o Ca-noinhas, fincando raízes na região do Contestado. Desses novos pontos de partida os colonos se espalharam, principalmente, pelos atuais municípios catarinenses de Bela Vista do Toldo, Canoinhas, Irineópolis, Mafra, Major Vieira, Monte Castelo, Porto União e Três Barras, consistindo até hoje, na maior parte dos casos, a maioria da população rural de origem européia (TOKARSKI, 1999, p. 35).

O mesmo autor expõe o cenário enfrentado pelos imigrantes po-lacos em terras do Contestado e resume a contribuição deles à cultura da região:

Se ao aportar em terras brasileiras o sonho do paraíso começava a ser desfeito, o imigrante polonês via na floresta desconhecida e inacessível o inferno verde, onde sepultava as esperanças da vida melhor. A inépcia estatal e as brutais diferenças encontra-das no novo território deram aos poloneses a sensação de pleno abandono, sujeitos à própria sorte e às variações políticas de um Estado incapaz. A presença dos imigrantes poloneses trouxe sig-nificativas inovações culturais à nova terra, desenhadas no mo-saico étnico-regional (TOKARSKI, 2008, p. 252).

O historiador Wachowicz também apresenta a importância dos polacos em terras nacionais:

Os imigrantes desta procedência, católicos por excelência, não demoraram a integrar-se plenamente na vida nacional, como lavradores, comerciantes (...). Profunda foi sua influência na caracterização étnica da região sul do Estado, onde formaram

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grandes e numerosas colônias (...). Foram estes imigrantes os in-trodutores no Brasil da carroça, responsável por um ciclo rodo-viário no sul do Brasil (...), substituindo com grande vantagem os carros de boi e as tropas de muares, (WACHOWICZ, 1968, p. 114-115).

Na arquitetura, os polacos também alteraram a paisagem do sertão, introduzindo casas altas e pontiagudas, prevendo a neve que poucas vezes apareceu, contrariando a expectativa trazida da terra natal. Também edifi-caram altas torres nas capelas e igrejas que, pela forte fé católica, trataram de espalhar nos confins, mostrando o forte dogmatismo religioso que até a atualidade caracteriza os descendentes polacos.

Os polacos eram afeitos ao plantio do trigo, do centeio e da tatarka, o trigo sarraceno. Porém a má qualidade do solo regional, extremamente ácido, as dificuldades climáticas, de transporte e de comercialização fize-ram com que suas lavouras logo entrassem em decadência. Ainda na agri-cultura, eles trouxeram ao Brasil a jorna, um primitivo moinho manual, e a batata inglesa, que ainda hoje cultivam em larga escala. Também incentiva-ram a apicultura e a criação de aves, como o ganso e o marreco, destinadas à produção de penas, voltadas à confecção de colchões e cobertas. Ao mesmo tempo, incorporaram ao falar regional alguns vocábulos ainda persistentes, sobretudo aqueles voltados à culinária e ao tratamento familiar.

É importante dizer que nem todos os imigrantes polônicos eram agricultores. Os que vieram do Reino da Polônia eram artesãos urbanos e não possuíam experiência agrícola. Eram ferreiros, seleiros, alfaiates, açou-gueiros, sapateiros, operários, industriários e até profissionais liberais. Na região do Contestado, tornaram-se agricultores, por mera necessidade de sobrevivência. “...tão logo os polacos foram assentados (...) eles avançaram aos sertões da região contestada, instalando-se principalmente nos grandes vazios rurais, onde até hoje estão fincados, sobrevivendo nos minifúndios do lavradio”. (TOKARSKI, 1999, p. 40).

3 A FERROVIA, O TREM, A LUMBER

Quando nos primeiros anos do século XX a construção da estrada-de-ferro São Paulo – Rio Grande invadiu a região do Contestado, não fo-ram poucos os polacos que abandonaram a roça e ofereceram mão-de-obra aos trabalhos ferroviários. Logo em seguida, como já descrevemos, quando

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se iniciou o ciclo madeireiro regional, os polônicos continuaram a deserção da lavoura, integrando-se aos processos do extrativismo e de industrializa-ção madeireiros.

A partir de 1910, quando no povoado de Três Barras foi instalada a madeireira Southern Brazil Lumber & Colonization Company, centenas de imigrantes passaram a trabalhar na empresa. A madeireira era subsidiá-ria da Brazil Railway Company, a construtora da ferrovia São Paulo – Rio Grande e do ramal São Francisco do Sul (SC) - União da Vitória (PR). Em seu apogeu, a Lumber chegou a empregar mais de 800 trabalhadores dire-tos, atuando nas mais diversas funções relacionadas à extração da madeira e da erva-mate. Em média, a empresa serrava 300 m³ de madeira por dia, uma quantidade inigualável para os padrões regionais marcados por indús-trias rudimentares movidas por força hidráulica e equipamentos obsoletos (THOMÉ, 1980, p. 101-102).

A Lumber transformou o embrionário povoado de Três Barras numa cidade-empresa, dotando-o das tecnologias inexistentes na região do Contestado. Era o maior empreendimento madeireiro da América Latina. Nesse tempo, Três Barras estava sob a jurisdição paranaense, no território disputado entre Paraná e Santa Catarina, na Questão do Con-testado. Vivia-se um momento ímpar de euforia capitalista, num período de drástica transição entre processos mecânicos rudimentares e máquinas modernas.

Mas logo em seguida eclodiu a Guerra do Contestado, que regio-nalmente perdurou entre 1914 e 1917, trazendo insegurança, dificuldades e toda a sorte de reveses à população. Foi nesse clima, entre a vida agreste dos sertões, Mikołaj Toporowski chegou a Três Barras.

4 O CONFISCO DOS GANSOS

O povoado de Ruszów, em Kosłow, ao sul da Polônia, estava sob o domínio austríaco, desde a tripartição da Polônia entre as potências da Rússia, Prússia e Império Austro-Húngaro. Como a maioria dos polacos, os Toporowski eram católicos fervorosos, trabalhavam na agricultura e criavam gansos. Conta a narrativa familiar que quando os cobradores de impostos chegavam e não havia dinheiro para pagá-los, levavam qualquer mercadoria. Numa ocasião, os cobradores optaram pelos gansos. Todos os animais foram confiscados. Ou quase todos. Prevenidos, os Toporowski ocultaram dois casais de gansos. Descobertos, os Toporowski foram conde-

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nados a trabalhos forçados. Idoso, Jan Toporowski decidiu poupar os filhos e se incumbiu do cumprimento da pena4.

Diante de tantas agruras, os filhos de Jan Toporowski começaram a sonhar com drásticas mudanças de rumo no curso de sua história familiar. Acalentava-se o desejo de sair da Polônia ocupada e seguir para outro país, onde houvesse liberdade e possibilidade de uma vida melhor. Deixar a Po-lônia era uma questão de sobrevivência digna.

5 PRIMEIROS TEMPOS NO BRASIL Um dos filhos de Jan Toporowski, Mikołaj, nascido em 1883, par-

tiu do porto de Hamburgo, na Alemanha, em 12 de maio de 1914,a bordo com navio de bandeira alemã, “Capitão Trafalgar”, com destino ao Rio de Janeiro. Estava com 32 anos.5 Na Polônia deixou a mulher e dois filhos, Franciszek e Olga. Eles iam embarcar ao Brasil no próximo navio. A fa-mília se desfez dos poucos pertences que possuía, inclusive das cobertas confeccionadas com penas de ganso, pois havia notícia de que no Brasil o clima era quente e não haveria necessidade delas. Toporowski ficou alojado na Hospedaria dos Imigrantes, no Rio de Janeiro, enquanto aguardava a chegada da sua família. Assim, de acordo com o contrato de imigração, po-deria receber o seu quinhão de terras e completar um sonho, o de se tornar um proprietário rural.

6 UMA LONGA AGONIA: LAÇOS DESATADOS

Entretanto, os reveses mal estavam começando. Em 28 de julho da-quele ano eclodiu a I Grande Guerra, quando o Império Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia. As viagens marítimas internacionais foram sus-pensas. O mundo começou a sofrer o primeiro momento de incertezas do século XX, num conflito reunindo as novas tecnologias bélicas e o início do nacionalismo radical.

A guerra logo atingiu o território polaco e Roszow foi arrasada por bombardeios. Toporowski ficou sabendo do desastre pelos jornais, enquan-to em vão esperou a vinda da mulher e dos filhos. Sozinho no Brasil, ele 4 CÂNDIDO, Maria Toporowski. Entrevista concedida por e-mail a Fermando Tokarski. Belo Horizonte, 25 abr. 2009.5 JANCZAK, Leonardo. Disponível em: <[email protected]> Acesso em: 17 mar. 2009.

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teve seu contrato rompido, perdendo o direito de ser um lavrador no Sul do país. A cada dia os sonhos imaginados se perdiam nas incertezas quanto à situação reinante na Polônia e o cotidiano no Brasil.

Mas, por compatriotas, logo descobriu que na mesma região bra-sileira havia a necessidade de trabalhadores para a construção de ferrovias. Era 1915, quando Toporowski alistou-se para trabalhar nas obras ferroviá-rias, sem quaisquer notícias dos familiares, imaginou-os mortos na terra devastada pelos canhões.

Nessa época, no bairro rural de Vera Guarany, no município de São Mateus do Sul (PR), ele conheceu a também polaca Wictoria Stoklosa e com ela, canonicamente, constituiu um novo casamento. Wictoria era filha dos imigrantes Jan e Anna Stoklosa, originários de Varsóvia.6 De acordo com Maria Toporowski Cândido, filha de Toporowski, na juventude, ainda em Vera Guarany, Victoria teve um filho natural, Augusto. Por essa razão “Ela sofreu muitos preconceitos da família, a ponto de ser rechaçada e seus filhos com Mikołaj não considerados.” Maria também afirmou que no Bra-sil nunca se soube o nome da mulher que Toporowski deixou na Polônia. Era um assunto bastante velado. “Naquele tempo as crianças não podiam participar das conversas e contava-se muito pouco sobre determinados as-suntos.”7

Concluída a construção do ramal São Francisco do Sul – União da Vitória, Toporowski viu-se desempregado. Então, em Três Barras, obteve na Lumber uma vaga como mecânico. Trabalhava no setor da sepilhadeira. Residia numa das casas da empresa. Era 28 de junho de 1919, quando os países aliados sob a tutela dos Estados Unidos impuseram à Alemanha, ao Império Austro-Húngaro, o Tratado de Versalhes, pondo fim à I Guerra Mundial.

7 UMA VISITA INESPERADA

Um dia, uma visita inesperada abalou a nova estrutura familiar de Mikołaj Toporowski. O irmão Lew apareceu na vila de Três Barras. Fugira num navio cargueiro e contou que tudo fora destruído em Ruszów, mas “a mulher e os filhos estão vivos!” Toporowski decidiu enviar metade de seus salários à família deixada na terra natal. Precisava-se economizar ainda 6 Posteriormente, no Brasil, por alguns esse sobrenome foi alterado para Stokloska. 7 CÂNDIDO, Maria Toporowski. Entrevista concedida por e-mail a Fernando Tokarski. Belo Horizonte, 25 abr. 2009.

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mais os parcos recursos obtidos no trabalho. Wictoria beneficiava penas de gansos para comercializar. Ao mesmo tempo, produzia toalhas artesanais decoradas com artes aplicadas, originárias da Polônia.

Em Três Barras, a rotina dos Toporowski se sucedia ano após ano. Até que um dia uma carta vinda da Polônia quebrou a monotonia fami-liar. Na carta,o filho Franciszek pedia a Toporowski permissão para casar. Olga também enviou cartas. Angustiado, Toporowski, sucessivas vezes, leu as missivas e chorou, olhando os pequenos filhos brasileiros ao seu redor. Deparava-se com um dilema que o atormentava um dia após o outro: devia voltar à Polônia ou ficar no Brasil?

Um acidente na fábrica também marcou a vida de Toporowski. Teve várias fraturas, ficando muitas semanas sem poder trabalhar. Leitor assíduo, gostava de saber das notícias do mundo, sobretudo aquelas ligadas ao aparecimento de novas tecnologias. Por volta de 1935, quando o filho Pedro chegara em casa anunciando que havia visto uma “caixa que fala”, referindo-se ao rádio, Toporowski retrucou, afirmando que um dia apa-receria “uma caixa onde seria possível ver as pessoas falando.”8 A casa de Toporowski era muito frequentada pelos vizinhos e amigos que gostavam de ouvir suas interpretações acerca do que ele lera nos periódicos.

Juntando economias, ele comprou um imóvel e nele planejava cons-truir uma casa. Nos fundos do terreno havia um riacho e ali poderia criar mais e mais gansos! Madeiras foram adquiridas para a edificação da nova casa. Porém, repentinamente, Toporowski resolveu demitir-se do emprego, alegando que viajaria para muito longe. Há uma outra versão. Não se sabe seguramente se ele deixou suas funções na sepilhadeira da Lumber ou foi demitido, depois que ficara com algumas sequelas do acidente de trabalho.

Quando Toporowski saiu de Três Barras, Wictoria estava grávida do décimo filho. Antes nasceram Anna, Carlos, Helena, João, Pedro, Maria, Paulo, Leonardo e Antônio. Anna morreu bem cedo, aos sete meses, por desidratação. Carlos foi vítima da gripe espanhola, em 1918, aos dois anos. Helena faleceu aos 19 anos.9

À noite, enquanto chorava pela ausência do marido e pela incerteza de sua volta, ela preparava as penas de ganso. Depois de seis meses, Toporo-

8 CÂNDIDO, Maria Toporowski. Entrevista concedida por e-mail a Fernando Tokarski. Belo Horizonte, 25 abr. 2009.9 CÂNDIDO, Maria Toporowski. Entrevista concedida por e-mail a Fernando Tokarski. Belo Horizonte, 25 abr. 2009.

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wski retornou para casa, pouco antes do nascimento da menina Elza. Esta-va desiludido e alquebrado. O governo brasileiro não permitiu a sua viagem à Polônia, alegando que no país ele constituíra numerosa família. Os sinto-mas de insanidade eram perceptíveis. Mikołaj não era mais o mesmo. Por onde andou e o que fez Toporowski durante seis meses é uma incógnita,e é um tabu na história familiar.

8 AS PEDRAS DO CAMINHO: VIDAS PARTIDAS

Depois do retorno de Toporowski a Três Barras, ele não trabalhou mais. Adoecido e cabisbaixo, passava horas e horas contemplando o vazio. A esquizofrenia se avultava a cada dia. Toporowski preferiu ir viver num ranchinho, nos fundos da casa onde morava. Dizia que todos queriam en-venená-lo. Aos poucos também foi-se tornando agressivo. À medida que a esquizofrenia de Toporowski se agravava, os amigos foram sumindo.

Enquanto isso, quase sem recursos financeiros, sem casa própria, sem terra, Wictoria e os oito filhos passavam fome, sofriam humilhações e dificuldades de toda ordem. Pedro, o quinto filho do casal, narra que “A pobreza na nossa casa era grande. (...) Me criei quase sem pai e sem mãe.” Ainda criança, em torno dos dez anos, Pedro às vezes ganhava algum di-nheiro carregando malas dos viajantes que desembarcavam na estação fer-roviária de Três Barras.10

Todos os dias, Wictoria deixava a casa ainda pela madrugada para trabalhar nas lavouras de colonos abastados, residentes nas imediações da vila. Também trabalhava na caiação de casas da vizinhança. Consigo levava a filha Elza, deixando os demais em casa. Famílias em melhores condições financeiras desejavam adotar a filha Maria. Ao que Wictoria costuma-va dizer: “Filho não é cachorro. Filho não se dá!”. (BAUKAT, 1986, p. 29) Quando chegavam aos 13 anos, os filhos começavam a trabalhar na Lum-ber. Maria tornou-se empregada doméstica na casa de um dos diretores da companhia. “Minha avó foi uma heroína diante da humilhação que se instaurou sobre a família, diante da doença do meu avô e dos filhos a serem sustentados”, afirma a neta Cristiane Cândido.11

10 TOPOROWSKI, Pedro. Entrevista concedida a Damaris Ocker. Três Barras, 20 set. 2001. 11 CANDIDO, Cristiane. Entrevista concedida por e-mail a Fernando Tokarski. Belo Horizonte, 17 maio 2009.

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Durante 20 anos Toporowski permaneceu adoecido, resignado da vida. Vitimado por síncope cardíaca e arteriosclerose,faleceu em 22 de agosto de 1951, aos 68 anos.12 Morreu no ranchinho onde, por sua vontade e por conta da esquizofrenia, permaneceu recluso.

Quando a Lumber foi incorporada ao patrimônio federal,em 1940, boa parte de seus funcionários foi indenizada, deixando Três Barras. O fi-lho Pedro continuou trabalhando na Lumber até sua aposentadoria. Depois chegou a exercer dois mandatos como vereador. Alguns dos filhos de To-porowski deixaram a vila, fixando-se em Curitiba (PR) e no Rio de Janeiro. Maria, casada e mãe de duas filhas, radicou-se em União da Vitória (PR). Bem mais tarde foi viver em Belo Horizonte (MG). A família de Toporows-ki desmantelou-se.

9 UMA CARTA NO BAÚ

Uma carta chegou da Polônia, datada de 13 de fevereiro de 1965. Wictoria estava muito doente e não teve ânimo para lê-la. Preferiu guardá--la num baú. Assim o documento ficou durante 21 anos. Em 1977, Wictoria faleceu, aos 82 anos. Em março de 1986, regressando a Três Barras, Maria encontrou a carta, cuja tradução diz:

Não sei se esta carta é recebida, mas cumprimento como é o cos-tume polonês, em primeiro lugar que seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo. Querido tio Mikołaj, o que vos cumprimenta é o seu sobrinho Marjan, filho de Adam e Zuzzana. O endereço conse-gui o de seu filho, não sei se acertei, mas experimento mandar esta carta para Três Barras, talvez alguém leia e me conte sobre a sua saúde e sua convivência. E também sobre o tio Leonardo e ainda vive ou algum de seus filhos; peço mandar o endereço deles se for possível para que eu possa me comunicar com to-dos. Não tenho muito a escrever, porque não sei se recebem esta carta. Mas depois ao responder esta nos comunicamos melhor, pois faz algum tempo que não temos notícias suas. Na próxima carta mando fotografia e peço por demais que me respondam esta carta. Fico aguardando ansioso a sua resposta e mando sau-dações das melhores. Aqui se despede. Marjan, filho de Adam e Zuzzana. (BAUKAT, 1986, p. 30)

12 Cf. certidão de óbito 492, f. 40 do livro 4 do Cartório de Registro Civil de Três Barras (SC).

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10 LAÇOS ESTREITADOS

Maria apressou-se em escrever uma carta aos parentes da Polônia e logo recebeu resposta, escrita em 1º de abril do mesmo ano:

Caríssima prima Maria. Eu recebi a sua carta bem no sábado de Aleluia. Até chorei de tanta alegria, que recebi a resposta da carta depois de longos anos. Maria, você pergunta quem da família vive: Marcel, filho de Adam e Zuzzana. Eu sou a nora deles; o sogro Adam e a sogra Zuzzana não vivem mais. E o meu Marjan que escreveu aquela carta há 21 anos também não vive, faz 25 anos (sic) que faleceu. Procurou muito por vocês e não alcançou receber a resposta da carta. Eu também me chamo Marja, esposa de Marjan e tenho três filhos: Piotr, Francizek e Michał. E agora Maria me escreva de onde você encontrou meu endereço? Tive-mos uma Páscoa muito feliz, parecia que você estava entre nós. Mas ficaríamos muito felizes se você viesse para a Polônia nos visitar. Por caridade, mande fotos de sua família, esperamos an-siosos a próxima carta. Também envio uma foto. É do meu filho Michał, sua esposa Genia e o casamento de sua filha (BAUKAT, 1986, p. 30).

Michał esteve no Brasil, visitando os Toporowski de Três Barras. Na atualidade, há troca de cartas e telefonemas esporadicamente, feitos aos parentes da Polônia, moradores de Varsóvia. Tudo pela memória de Mi-kołaj, o imigrante que buscou esperanças longe da Polônia, mas encontrou tristezas, pobreza, humilhações, desesperanças; a loucura, a morte.

11 CONCLUSÃO

Sob o ponto de vista histórico, o contexto político-econômico foi preponderante para a migração de Mikołaj Toporowski ao Brasil, dadas as conjunturas de dominação estrangeira enfrentadas pela Polônia no período histórico do início do século XX. A I Guerra Mundial representou papel decisivo na vida de Toporowski, considerando-se que ela impediu a vida de sua mulher e dos filhos ao Brasil, ocasionando uma ruptura familiar, cujos reflexos foram capitais para as suas vicissitudes familiares. “Nada do que aconteceu deve ser perdido para a história”, assinalou Walter Benjamin, citado por Ginzburg (1987, p. 31). Longe de ser tão somente uma dramática

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história familiar, a vida de Mikołaj Toporowski e de seus descendentes é o retrato em preto e branco das vicissitudes do cotidiano, da luta em torno do labor e da manutenção da própria vida, da fruição dos elementos vitais e sociais do homem como resultado da sociedade onde está contextualizado.

REFERÊNCIAS

BAUKAT, Eduardo. Página perdida. Os Pioneiros, Três Barras, n. 2, p., 28-31 out. 1986.

GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: O cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

GRITTI, Isabel Rosa. Edmundo Wós Saporski: O pai da imigração polo-nesa. In: GOULART, Maria do Carmo R. K. (Org.) Almanaque da vida polaca. Brusque: Prefeitura de Brusque, 1999, p. 60-65.

THOMÉ, Nilson. Trem de ferro: a ferrovia no Contestado. Caçador: Uni-versal, 1980.

TOKARSKI, Fernando. Os poloneses na região do Contestado. In: GOU-LART, Maria do Carmo R. K. (Org.) Almanaque da vida polaca. Brusque: Prefeitura de Brusque, 1999, p. 35-39.

________ Os polacos na guerra do Contestado. In: ESPIG, Márcia Regi-na; MACHADO, Paulo Pinheiro. (Org.) Guerra santa revisitada: novos estudos sobre o movimento do Contestado. Florianópolis: Edufsc, 2008, p. 249-282.

WACHOWICZ, Ruy Christovam. História do Paraná. Curitiba: ed. dos Professores, 1968.

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ARTIGOSJORNALÍSTICOSARTIGOSJORNALÍSTICOSARTIGOSJORNALÍSTICOS

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Porto União: Vila Gemma, arqUitetUra e História1

Leni Trentim Gaspari2

Minha homenagem a Porto União, pelos seus aniversário,vai no sentido de valorização do patrimônio arquitetônico dessa linda cidade. A preservação do patrimônio histórico-cultural de uma cidade contribui para a formação da identidade de um grupo social e fortalece sua significação cultural pela preservação desse patrimônio. A arquitetura representa um elemento da cultura de um povo e reflete o modo de agir, pensar e sentir em uma determinada época, pelo conjunto de signos que envolvem as constru-ções, fazendo com que cada uma delas tenha uma mensagem.

Minha reflexão neste texto encaminha-se para a casa conhecida como Vila Gemma, em Porto União, hoje sede do Museu Municipal Prefei-to Salustiano Costa Junior, um espaço de história e memória. Para escrever sobre o assunto, utilizo –me de informações, cedidas gentilmente por Lina Benghi, neta dos proprietários da antiga residência da família. Seus avós, Sr. Raphael Benghi e sua esposa, Gemma Balardini Benghi, ambos italianos emigrados para o Brasil ainda meninos, em 1898.

O projeto arquitetônico da casa foi encomendado a um engenhei-ro/arquiteto italiano, Carlo Conti, que residiu na cidade por algum tempo, segundo registros, entre o final da década de 1920 e o início de 1930. Na avaliação do professor de Arquitetura Brasileira, Key Imaguire Junior3, a ar-quitetura corresponde ao estilo eclético:“ Do ponto de vista estilístico, apre-senta ornamentação totalmente vinculada ao Ecletismo: os vãos têm verga em arco-pleno com ombreiras colunadas ao sabor neoclássico, assim como as janelas de vão triplo. Bandeiras, balaústres das sacadas e do guarda-corpo da escadaria, portão de ferro e demais elementos aplicados, pertencem ao mesmo momento. Há bastante probabilidade de que, para a sustentação das

1 Texto escrito como homenagem a Porto União pelos seus 97 anos.2 Membro fundadora da Academia de Letras do Vale do Iguaçu, tendo como patro-na Edy Santos da Costa.3 Parecer sobre a Casa Benghi: texto escrito pelo professor Imaguire a pedido de Lina Benghi, em 2010.

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sacadas, como conta a tradição, tenham sido usados pedaços de trilhos, prá-tica construtiva comum no período”.

FONTE: Acervo da autora.

Os documentos originais da Vila Gemma indicam que a área da construção original era de 400 metros quadrados, aproximadamente. Era considerada pelos proprietários como a “chácara”, tendo em vista que resi-diam no Hotel Hotel Internacional, de sua propriedade, localizado na Praça Hercílio Luz, no centro da cidade, em frente da Estação Ferroviária. Em 1942, o casal Raphael Benghi e Sra. Gemma, depois de aposentarem-se do trabalho de hotelaria, passaram a ter moradia fixa na Vila Gemma. Nos anos 50, a construção foi ampliada com o acréscimo no primeiro andar, junto à rua Jerônimo Coelho, recebendo um banheiro moderno, com azu-lejos e conjunto sanitário de louça, e a construção de uma saleta para a confecção das massas que eram consumidas diariamente.

Como residência da família Benghi, a Vila Gemma foi utilizada por 40 anos, aproximadamente, até início dos anos 80. Seus proprietários, muito hospitaleiros, rodeados pela família extensa e muitos amigos, pro-moviam festas, assim como belas comemorações natalinas. A cozinha era o centro da vida doméstica, com seu grande e belo fogão econômico esmal-tado e decorado com flores. A mesa farta de iguarias da culinária italiana era acompanhada pela música ao piano alemão, muito bem dedilhado pelas moças da família. No primeiro andar localizavam-se os dormitórios do ca-sal e da filha solteira. Os dois quartos do terceiro piso eram destinados aos três filhos homens. O piso térreo, por muitos anos, esteve alugado para casa comercial e atualmente abriga uma loja de artesanato local.

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Lina volta no tempo, ao relatar pormenores tão significativos da casa dos seus avós e que lhe trazem lembranças muito felizes. Conta ainda que a área onde a casa foi construída tinha aproximadamente quatro mil metros, dos quais uma parte foi vendida ao Clube Aliança, antiga Socie-dade Italiana Beneficente “Dante Alighieri”, espaço que congregava os imi-grantes dessa etnia, para preservação da sua língua, enfim, da cultura ita-liana, com escola e clube social. A Sociedade Italiana, portanto, fazia limite com a propriedade da família Benghi, na esquina da rua Jerônimo Coelho com a rua XV Novembro, onde hoje está o Clube Aliança.

Vila Gemma, que no passado foi espaço de reuniões sociais e fami-liares, hoje é um espaço de memória... um espaço cultural, que surgiu pela manifestação da sociedade local. O interesse em sua preservação manifes-tou-se no abaixo- assinado, realizado em meados do ano de 2009, momento em que tornou claro o desejo comum da população de, após a restauração, utilizá-lo como espaço cultural. Um contrato entre os herdeiros e a Prefei-tura da Cidade firmou a ocupação do edifício em regime de comodato, pelo período de 10 anos, a contar de meados de 2009, com o compromisso do restauro dele, assim como do seu jardim.

Essa ação da administração pública veio ao encontro das expec-tativas da comunidade, que espera há tempos pela revitalização do museu e pela criação de um arquivo histórico. Revitalização, não apenas no sen-tido de uma estrutura física adequada com um espaço para a “guarda” de documentos históricos cumprindo a função de preservador e conservador do patrimônio cultural, mas ser um agenciador no processo de educação alternativa e valorização do homem e seu meio.

Não há como negar a importância do museu como unidade funcio-nal social, elo entre o passado e o presente, não apenas como um espaço de “coisas antigas ou de curiosidades”, mas como o local onde a comunidade expressa seus interesses e encontra sua identidade e referências culturais. O acervo ali depositado permite essa identificação, a partir de estudos fei-tos por profissionais conhecedores da cultura material, pois é indispensável que um museu tenha um sistema de documentação que possa dar conta dos dados referentes aos objetos ali depositados.

Anteriormente à restauração, a casa fechada guardava lindos e imponentes móveis marchetados, porcelanas, objetos de decoração (atual-mente sob a guarda dos herdeiros), em sua maioria em estilo art-déco. Inte-grou-se ao acervo, permanecendo na casa alguns móveis, um piano alemão, algumas pinturas decorativas nas paredes, comuns na decoração da época,

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ao que tudo indica, é de autoria de um imigrante austríaco, Sr. Bieberbach. Observa-se no espaço a preocupação dos responsáveis pela guarda desses objetos, a preocupação com a preservação desse patrimônio, bem como dos demais elementos transferidos do antigo prédio do Museu Municipal.

Tantas lembranças... tantas histórias! Recentemente estive lá visi-tando esse espaço, com um grupo de professoras, e fiquei admirando, além da beleza da casa, o espaço dedicado ao jardim que, à época, pelos cuidados da família, era mantido com muito zelo e os belos canteiros coloridos da-vam um toque muito especial ao recanto acolhedor. Chamava a atenção dos passantes uma enorme glicínia, que se debruçava da balaustrada em cima do muro de pedra, com suas flores lilases cuja beleza e perfume ainda estão guardados na memória dos habitantes de Porto União da Vitória.

Uma linda casa... como tantas outras em nossa querida Porto União, que merecem ser preservadas e cuidadas como elemento cultural de determinada época e mantém o equilíbrio entre crescimento e progresso, sem desconsiderar o passado.

Quero registrar meu voto de louvor e admiração dos herdeiros da Vila Gemma pela Cessão em Comodato à Prefeitura municipal de Porto União, priorizando a manutenção do Patrimônio Histórico-cultural da ci-dade, em detrimento do lucro imobiliário imediato.

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HOTEL JOIA – VIVENDO E FAZENDO HISTÓRIABOLESLAu MySZkA – uM EMpREENDEDOR NATO

Fahena Porto Horbatiuk1

Foto 1: Hotel JóiaFonte: Cedida por Boleslau Myszka

Boleslau Myszka, conhecido como Boles, é nascido em Cruz Ma-chado, filho de João e Catarina Myszka. João Myszka veio de Varsóvia, aos 12 anos de idade, e Catarina é natural de Cruz Machado.

Aos 18 anos de idade, Boles, filho de lavradores, vem para União da Vitória, para assumir algum trabalho: primeiramente, foi servente de pe-dreiro; depois, funcionário no Hotel Rodoviário de União da Vitória, onde foi porteiro e, mais tarde, gerente. A seguir, foi trabalhar no Luz Hotel, que era de Zeno Bernardi, diretor da Reunidas, e de Vilson Gresana, sócio de Bernardi. Simultaneamente, trabalhava com um táxi, o que rendia muito bem.

em 1974, Dona Celita, viúva de Ari Delfino, dona do Rio Hotel, resolve alugá-lo. Vilson Gresana e Boleslau assumem o negócio.

1 Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 08, tendo como Patrono Luiz Wolski.

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Boles, empreendedor que sempre foi, primava pela qualidade. A primeira providência foi reformar as camas e trocar os colchões de crina pelos de espuma. Inteligente e dedicado, quando chegava o estrela Azul, lá pelas 11 horas, Boles ia de táxi receber os passageiros, e oferecer-lhes seus préstimos no Hotel Joia.

Para cativar os clientes, era caprichoso. ele e sua esposa ofereciam um café da manhã muito especial, com tudo que pudessem do melhor, in-cluindo frutas. Se o cliente gostasse de chimarrão, era-lhe servida a bebida. Aos taxistas que lhe traziam os hóspedes oferecia champanha, no final do ano. A todos tratava bem, por princípio.

esse hotel ficava em frente à Praça Alvir Riesenberg. Para manter os hóspedes mais alguns dias na cidade, convidava-os a participar de um time de futebol amador, o Joia esporte Clube, que participava de muitos campeonatos e vencia, com frequência, os demais times de São Cristóvão ou de municípios vizinhos. Até 11 sargentos que moravam no hotel fizeram parte do time. outros jogadores, que vinham de fora, para jogar contra o Iguaçu, paravam também no hotel. tudo isso dava ao Hotel mais vida. Ao anoitecer, os viajantes se reuniam na entrada do hotel e ficavam contando piadas ou fatos pitorescos. Apesar de comportar apenas até 45 pessoas, era muito digno e feliz o ambiente.

A cidade daquele tempo, segundo Boles, tinha pouco calçamento, muitos representantes comerciais e grandes frotas de táxis. Continua como taxista, após a devolução do hotel (1986) à dona, mas já no ano seguinte, 1987, quando as companhias iniciam a construção da Ponte Domício Sca-ramella, ele adquire um caminhão com caçamba e começa a fazer frete para essas companhias. Adquiriu seus próprios caminhões, fez frete para a GR e para outras empresas, e há 15 anos é autônomo. Conhece bem o material (areia), ou outros, e zela pela qualidade, pontualidade na entrega, preser-vando, além da credibilidade, a amizade.

Seu Boles é casado com Dona teresa Storoz Myszka. Formam um casal muito simpático, com seus três filhos. Sente-se realizado com sua fa-mília, no trabalho e na sociedade. Falando de suas lembranças de taxista, conta que certa vez conduziu os trapalhões, Mussum, Dedé e Zacarias, do Holz Hotel até Curitiba. Foi uma viagem especial.

Como motorista de caminhão, já passou por alguns acidentes, mas nada grave.

Gerson (Paco, o gaitista), seu filho, segue o exemplo do pai. For-mado em Relações Públicas, conduz um caminhão, e, nos finais de semana,

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alegra os ambientes com sua gaitinha de boca, além de ter alguns traba-lhos numa agência de publicidade. Rejane é programadora de softwares, numa empresa especializada em informática, em Curitiba. e o mais novo dos filhos, Markus, já publicou seu primeiro livro, aprende piano, e está concluindo curso de Filosofia. nas horas vagas, ajuda o pai.

Assim Boles e família vão vivendo sua história e integrando a his-tória de nossa União da Vitória, que festeja seus 124 anos. este relato é uma homenagem à cidade que aniversaria, mostrando a ela que seus filhos vão à luta pelo trabalho e pela alegria de viver.

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HOTEL SAN RAFAEL

Fahena Porto Horbatiuk1

Foto 1: Hotel San Rafael em tempo de NatalFoNte: Acervo de Lina Benghi

o escritório num local alto, ladeado de flores azuladas e brancas, perfumadas, recebe-me solícita e serena, a Lina. Pianista, apreciadora de MPB, praticante de ioga, discreta, toda harmonia.

À vontade, amistosa, põe-se disponível para me atender. Seus avós? Por parte de pai, os italianos Raphael Benghi e Gemma

Balardini Benghi. e de sua mãe? esclarena Franco Maciel tentardini e Acácio tentar-

dini (da região das Missões – RS) Seu pai, tancredo, é um dos filhos de Raphael e Gemma, que, em

sequência, foram: Alba, Hilário, ernani, tancredo e Iracema. tancredo nascera a 24 de janeiro de 1917, em União da Vitória, antes do Acordo de Limites, na atual Porto União. Formou-se em engenharia Civil, pela Uni-versidade Federal do Paraná, em 1941, e, a 13 de fevereiro de 1942, ainda em Curitiba, casa-se com Amasília Maciel tentardini, mãe de Lina, atual-mente com 93 anos de idade, residente em Curitiba.

1 Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 08, tendo como Patrono Luiz Wolski.

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Amasília, mãe amorosa, prendada, educadora, contadora de his-tórias aos filhos pequenos, e também a nós. Legou-nos, por exemplo, Nas Asas do tempo (Crônicas); o Pintinho Colorido, o Índio e o Gaúcho, A Mensagem do Unicórnio, o Cãozinho Cor-de-rosa, A Sombrinha e o Ma-caco (infantis). todos maravilhosos.

tancredo e Amasília são pais de quatro filhos: Yara, Lina, Ivan e tânia. Ivan, infelizmente, já falecido. e cada um deles tornaram o mundo mais belo e bom, com seus rebentos. Da Yara Benghi Soares – Luís Roberto B. Soares e Luís Rodrigo N. Soares; de Lina Benghi – Patrícia Burmester Abrão, Roger Benghi Burmester; de tânia Forte – Domingos Forte Neto e Bettina Forte Coradim.; de Ivan Benghi – Francis Costa Benghi e Mariana Costa Benghi.

Foto2: esposa e familiares de tancredo Benghi, e convidadas, no dia da Inauguração do Hotel San Rafael

FoNte: Acervo de Lina Benghi

o nome do hotel, San Rafael, é homenagem de tancredo a seu pai, um dos pioneiros da hotelaria na região.

o terreno em que se localiza o hotel, na esquina da rua Prudente de Moraes com a rua XV de Novembro, fora adquirido, em 1954, das famílias Hobi (Lina e Kurt), Machado (Neli e Gilberto) e Wichan (Freny Hobi).

o hotel tem também um terreno na rua Prudente de Moraes, que se constitui em garagem para carros de hóspedes, e onde, aos fundos, está instalado o pequeno escritório, de que falamos no início deste artigo, (área onde se localizava a antiga moradia das senhoras Habuba e Rosita Guérios) e outro, anexo ao hotel, que pertencia a Rosa Dequech.

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A planta do hotel é do próprio tancredo, como engenheiro que era, levado pelo gosto por essa atividade, já iniciada pelos pais dele. A inaugura-ção deu-se a 20 de dezembro de 1969. e foi administrado, desde o começo, pelos filhos. Primeiro, por Ivan, depois pela tânia. Atualmente, pela Lina (há uns seis anos).

Foto 3: Inauguração do Hotel San Rafael. Da esquerda para a direita: tancredo Benghi e Josué de oliveira, pai de Roberto Domit de oliveira.

FoNte: Acervo de Lina Benghi

Lina diz gostar dessa administração do hotel, por não haver rotina, bastando ter um bom relacionamento e objetivo nos negócios. e, principal-mente, por ser da família que, há 100 anos, trabalha com hotelaria.

Só para se ter ideia do clima organizacional desse hotel, basta sa-ber que há clientes que o frequentam há 37, 17, 15 anos. também possui funcionários que ali se dedicam há 20, 17, 15 anos. É um hotel familiar, de elevado conceito pelo atendimento e conforto, devido ao esforço para ofe-recer hospedagem de bom padrão, tanto nos apartamentos quanto no café da manhã, servido no refeitório, ao lado, que também já foi restaurante por algum tempo.

Reformas necessárias são feitas, quando preciso, para melhor ser-vir, como a criação recente de área para encontros de negócios. Dispõe de ampla sala para palestras e cursos. o hotel hoje é usufruto de D.Amasília.

Lina aprecia os pensadores modernos da área de Sociologia, An-tropologia e História. Lê todos os grandes jornais do Sul do País, além dos

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locais. Assiste a algumas novelas que retratam um painel da realidade social brasileira, como também a programas da tV Cultura, Globo News, entre outros.

Conversando a respeito de pessoas famosas que ali se instalaram, Lina contou que muitos políticos catarinenses, presidente da oAB Nacio-nal, e artistas foram e são seus clientes. entre os artistas mencionou: Ângela Maria, Roberto Carlos, edson Celulari, Renato Borgetti, Natália timberg. Jogadores, músicos, turistas, conforme os eventos maiores promovidos pe-las duas cidades ali se hospedam.

A vida? “ora, é bom viver, apesar das mazelas do mundo e de tantos sofrimentos.” e a morte? “Já a senti de perto, é tranquila. É natural e leve.”

o modo de ser de nossa entrevistada reflete uma espiritualidade madura, provinda dos evangelhos, da reflexão, e observação da vida.

Na despedida, recebo duas florinhas perfumadas, branquinhas, co-lhidas daquele canteiro de seu coração.

REFERÊNCIA

BeNGHI, Lina. entrevista cedida a Fahena Porto Horbatiuk, em março de 2014.

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ÁUREA DE SOUZA CLAUSEN: A pRimEiRA vEREADORA Em UNiãO DA vitóRiA (pR)

Odilon Muncinelli1

Na Educação Local é quase total o domínio das mulheres. Mas na Política elas são bem poucas. Em Porto União (SC), sete mulheres mar-caram o seu nome no exercício da Vereança. Em União da Vitória (PR), apenas duas. E a professora Áurea de Souza Clausen foi a primeira delas.

Concorrendo à Vereança no pleito municipal de União da Vitória, pela extinta Aliança Renovadora Nacional (ARENA), a professora Áurea de Souza Clausen foi eleita e diplomada como vereadora suplente e as-sumiu esse múnus público em substituição ao titular, nos anos de 1974 e 1975. Observação: Na época, o mandato não era remunerado e, assim mesmo, era exercido com elevada competência e exemplar zelo. Eram ve-readores por amor à causa pública e por mero altruísmo. E a professora Áurea de Souza Clausen exerceu a Vereança,dotada desses elevados atri-butos.

Só para confirmar o fato: “... vale lembrar que o legislativo local teve outra mulher – Áurea Clausen – que foi eleita suplente e che-gou a assumir a cadeira em substituição ao titular”. (No dizer do inesquecível jornalista René Augusto, in Jornal Caiçara).

Mas, quem foi essa mulher?A jovem Áurea de Souza Clausen realizou o Curso Normal Secun-

dário, no Colégio Santos Anjos, em Porto União (SC). Mais tarde, foi licen-ciada em Pedagogia, no ano de 1976, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória, atualmente, Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), campus de União da Vitória.

Como Professora, a senhora Áurea de Souza Clausen sempre es-teve à frente de grandes ações e de bons projetos. Trabalhou na Escola de Aplicação José de Anchieta, na Inspetoria Regional de Ensino (extinta pelo Decreto no 2.161, de 09 de dezembro de 1983), atualmente, Núcleo Regio-

1 Membro fundador, ocupando a Cadeira nº18, tendo como Patrono João Farani Mansur Guérios. Homenagem a União da Vitória – 124 Anos

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nal de Educação, e, no Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), como Supervisora de Área. Sempre engajada em causas culturais.

Como Vereadora, a professora Áurea de Souza Clausen foi a mu-lher pioneira, que abriu caminho, que enfrentou um palanque de comícios, que debateu a boa política, que falou em público dos nossos problemas. Enfim, que quebrou velhos paradigmas e construiu a sua vida pessoal e política, fazendo o que melhor sabia fazer, dialogar. Sempre pautada em posições firmes, ações diferenciadas e muita sensibilidade... Sempre enga-jada em causas sociais... E fez a diferença.

Pois, “O convívio com pessoas humildes, carentes de estímulo para uma inclusão social, certamente despertaram-lhe a vontade de re-verter todo esse quadro e fortaleceram-na para encaminhar-se na vida política”. E, “... sempre bem disposta e com um sorriso aberto, ganha a simpatia de muitos e chega à suplência para exercer o car-go”. (No dizer da cronista e agitadora cultural Therezinha Leony Wolff, in Pegadas Amigas, página 116).

Concluindo, a professora Áurea de Souza Clausen deixou o seu nome marcado e assinalado nas páginas da História da Política local e da Câmara de Vereadores união-vitoriense, com relevantes serviços prestados em favor da sua terra e da sua gente.

E sempre será lembrada como a primeira mulher eleita Vereadora em União da Vitória (PR).

Anoto ainda que ela foi casada com Cristiano Clausen, um excelen-te cantor e festejado jogador do nosso futebol amador.

Morreu num dia 13, sexta-feira.

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 101

HOMENAGEM A PORTO UNIÃO – 97 ANOS

Maria Therezia, a Pioneira

Odilon Muncinelli1

Nascida em Montenegro (RS), no Dia do Professor, dia 15 de ou-tubro de 1925, Maria Therezia Butzen Deboni fez os seus estudos com as Irmãs Franciscanas no Rio Grande do Sul, onde, na parte da manhã, tinha aulas em Alemão e, à tarde, em Português. Depois de formada, lecionou no Colégio São José, no Rio Grande do Sul. Fez ainda o Curso de Administra-ção Escolar (Especialização do Curso de Magistério).

Ainda nos pagos gaúchos, casou-se com Arlindo André Deboni, com quem teve uma filha, a Helena Deboni.

Depois, veio para União da Vitória (PR), em dezembro de 1952, e, em março de 1953, começou a lecionar como suplementarista, durante três anos, na Escola Normal Professora Amasília, de União da Vitória (PR). Nessa mesma escola, Maria Therezia criou a Biblioteca José de Alencar.

É formada em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC). Além de uma das fundadoras da FAFI de União da Vitória, hoje Universidade Estadual do Paraná, lecionou naquela Instituição, ape-nas as disciplinas de Crítica e Filosofia da História e ainda Introdução ao Estudo da História, apesar do Conselho Federal de Educação tê-la autori-zado a lecionar Lógica, Ética, Estética, Filosofia, História, Educação Com-parada e Sociologia.

No ano de 1958, concluiu o Curso de Direito pela Universidade Fe-deral do Paraná (UFPR). E, posso afirmar, com certeza, que Maria Therezia Butzen Deboni foi a primeira mulher a exercer a advocacia em Porto União (SC) e em União da Vitória (PR).

Em que pese uma velada discriminação, imperante na época, ela, como mulher, não sofreu nenhuma resistência de parte dos seus colegas homens, quando, cheia de ideal e de esperanças, começou a trabalhar como advogada. Simplesmente, deu tempo ao tempo e, enquanto isso, ombreou- 1 Membro fundador da Academia de Letars do Vale do Iguaçu, ocupando a Cadeira nº18, tendo como Patrono João Farani Mansur Guérios.

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-se com os colegas mais ativos e experientes, aumentando e aprimorando o seu conhecimento jurídico. Sem medo de caretas, aprofundou-se nessa temática. Com modéstia e sem nenhuma subserviência, laborou sempre de maneira dedicada e, acima de tudo, firme, zelosa e eficiente, para tornar-se, afinal, uma figura de destaque no meio forense, com uma bela história de coragem, determinação, galhardia e humildade.

Conheço a Maria Therezia, praticamente, desde os bancos univer-sitários e dedico-lhe o maior respeito, como mulher e como profissional, porquanto, ela percorre o difícil caminho da seara advocatícia, com bastan-te independência e operosidade, sem nunca esmorecer no desempenho da sua nobilitante missão.

Mulher simples, natural, autêntica, de grande riqueza interior e sem nenhuma postura artificial ou impregnada de vaidade. Extremamente educada e afável, nunca dispensou as palavras “por favor”, “com licença” e “obrigada”. A bem da verdade, esses atributos servem de exemplo para to-dos os advogados e, principalmente, para as advogadas de hoje. Porque ela fez da advocacia a ciência do justo e do bom.

A vida particular e a correta vida profissional dessa advogada pio-neira, hoje aposentada, vieram engrandecer, em muito, a história da advo-cacia, a história das mulheres advogadas e, por que não dizer, a História Local.

Ademais, professa um grande apreço pela advocacia, mas, o maior dos seus talentos é o magistério. Aliás, Maria Therezia “viveu a causa do Magistério e fala desse assunto com uma vibração jovem”. Publicou algu-mas pesquisas, entre elas: “Arquivo de Custódia da Prefeitura Municipal de União da Vitória” (in Anais do V Simpósio Nacional dos Professores Uni-versitários de História, volume II, Portos, Rotas e Comércio, 1971) e “Por Um Estudo Equilibrado da História” (in Revista Luminária n.o 1, 1972), além de outros textos de real importância para o estudo e conhecimento da História.

É severa, implacável, mesmo na cobrança dos deveres essenciais do advogado e do professor. Prega, com fervor, os valores éticos e morais que sempre deram suporte e realce à sua respeitável carreira. Personifica, como é próprio dos pioneiros, a moral, a ética e honradez. Seu nome, certamente, ficará registrado nas páginas da História Local, pela sua abnegação, cora-gem e audácia., numa homenagem digna da grandeza da sua personalidade.

Até hoje, Maria Therezia mora no alto da Cidade Nova, em Porto União (SC), juntamente, com a filha Helena.

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 103

HISTÓRIA DO POVOAMENTO E OCUPAÇÃO DE UNIÃO DA VITÓRIA1

Odilon Muncinelli 2

1 Como ocorreu o povoamento em União da Vitória?

É sabido que os primeiros povoadores de Porto União da Vitória (a cidade matriz de União da Vitória e Porto União) foram os bugres, os índios botocudos e caingangues.

No entanto, no ano de 1769, o desbravador e sertanista Antônio Silveira Peixoto estabelece o Entreposto de Nossa Senhora da Vitória (exata-mente no local onde hoje está situada Porto União da Vitória), “e continua a descer o Rio Iguassú, mandando antes fazer derrubadas e grandes roçadas para abastecimento da sua gente e dos homens que ele deixava no referido ENTREPOSTO”. (Cleto da Silva,  in Apontamentos Históricos de União da Vitória, página 19).

Aliás, “ali deixou o grosso da sua tropa”. (grifo meu).Corroborando essas afirmativas, as anotações históricas, de vários

autores, registram ainda que o Entreposto de Nossa Senhora da Vitória foi estabelecido a “quatro léguas acima das primeiras cachoeiras, em ampla e desafogada curva de rio tranquilo e fundo, onde as embarcações passam li-vremente”.

Nesta razão, salvo melhor juízo, entendo que o povoamento de Porto União da Vitória teve o seu começo com a Expedição de Antônio Silveira Peixoto.

Mais tarde, ocorre o Ciclo do Tropeirismo, que a historiografia oficial define como um simples ciclo econômico. Porém, no meu entendi-mento, esse conceito foi alterado. Porque, além de ciclo econômico, a saga tropeira teve uma forte influência histórica, cultural e social, que marcou profundamente a história, a tradição e os costumes de diversas cidades do

1 Entrevista concedida à professora Maricler Wollinger Kovalczuk. Homenagem a União da Vitória– 124 Anos2 Membro fundador da ALVI, ocupando a Cadeira nº 18, tendo como Patrono João Farani Mansur Guérios.

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Paraná e de Santa Catarina, inclusive de Porto União da Vitória (a cidade matriz de União da Vitória e Porto União). Sem dúvida, um dos momentos mais românticos e repletos de tradições, na conquista do Paraná e de Santa Catarina está ligado ao Ciclo do Tropeirismo, um ciclo econômico, cultural e social, ocorrido nos séculos 18 e 19.

Ademais, a mesma historiografia registra, também, que, partindo de Viamão, no Rio Grande do Sul, os tropeiros faziam um longo percurso até Sorocaba, em São Paulo. A viagem era lenta e marcada pelas paradas e pelos pousos que se foram transformando e dando origem a prósperas cidades. E não poderia ter sido diferente, porque os tropeiros sempre pro-curavam um bom pouso, de boas águas, de bons pastos e de boa sombra.

Tanto que, em Porto União da Vitória, a 12 de abril de 1842, o tro-peiro e sertanista Pedro de Siqueira Cortes descobriu o “vau” ou o “passo do Iguassú”, um local de baixa profundidade do rio. A descoberta desse vau, que está situado entre a Ponte Machado da Costa (a conhecida Ponte de Ferro) e a Ponte Domício Scaramella, não só veio facilitar a passagem das tropas que vinham de Palmas rumo a Palmeira, pelo Caminho das Missões, como também encurtou as distâncias, e, principalmente, deu continuidade ao povoamento do “lugarejo” que hoje é União da Vitória e Porto União.

Enfim, muita história a respeito dessa gente marcada pela simplici-dade, já foi contada em prosa, versos e trovas.

2 Quais as regiões primeiramente povoadas em União da Vitória e de que forma eram povoadas?

O mestre José Júlio Cleto da Silva, em seu livro “Apontamentos His-tóricos de União da Vitória 1768-1933”, às páginas 28 a 35, indica e localiza com riqueza de detalhes “as regiões primeiramente povoadas” em Porto União da Vitória. Inclusive, indica os moradores, os primeiros comercian-tes, et cetera, no período compreendido entre os anos de 1860 e 1876.

Quer dizer, as regiões mais povoadas se localizavam desde o “Alto da Glória”, compreendendo o Largo Prudente de Brito, a antiga Capelinha (atual Igreja Matriz), a Praça Nereu Ramos, a Rua Sete de Setembro, em Porto União (SC), até a Praça Hercílio Luz, em Porto (SC), até a Praça Co-ronel Amazonas, e, até as proximidades do antigo “Campo do União Es-porte Clube” (o atual Estádio Municipal Antiocho Pereira), em União da Vitória, PR.

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 105

3 Nessa época já apareciam formas de desigualdade espacial?

Sem dúvida, levando em conta a área central e a periferia.

4 Já existiam bairros? Como eram esses bairros?

Acredito que sim! Por volta de 1842, já existia o “arrabalde” de Tó-cos (atual Bairro São Pedro), tanto que era a passagem do Caminho das Tropas, trilhado pelos tropeiros, tropas e tropeadas. Ademais, no ano de 1882, já existia nesse “arrabalde” de Tócos, uma pequena Capela e algu-mas casas simples, construídas em madeira. As ruas eram de chão batido, poeirentas e, quando chovia, tornavam-se lamacentas e atoleiros. Não havia nenhuma iluminação pública. Outrossim, o “arrabalde” possuía uma rica vegetação, com árvores de pequeno e grande porte, mamonas, inhapindás, muitos cipós, et cetera. Além do “arrabalde” de Tócos, o outro mais impor-tante era o Bairro de Santa Rosa.

Enquanto isso, em União da Vitória, propriamente dita, os bairros são mais recentes, porquanto somente pode-se falar da existência deles e indicá-los, depois da assinatura do Acordo de Limites (1916) entre o Pa-raná e Santa Catarina. Entre os mais antigos cito os Bairros São Cristóvão, São Bernardo, Rio da Areia, Ponte Nova, Navegantes e tantos outros. Pre-sumo que essa seja a ordem.

5 Quem morava nas regiões mais nobres da cidade? Ou, que tipo de construção ocorria no centro da cidade?

Os comerciantes, os industriais, os empresários, os professores, os médicos, os advogados, os engenheiros, et cetera. As casas residenciais eram construídas em madeira e alvenaria. Igualmente, as casas comerciais em alvenaria (predominantes) e em madeira.

6 Na sua concepção de historiador e nobre estudioso no assunto, quais os fatores que foram determinantes para o desenvolvimento urbano da cidade de União da Vitória?

Inicialmente, o Ciclo do Tropeirismo (tropeiros, canoeiros e balsei-ros), o Ciclo do Extrativismo da madeira e da erva-mate (serrarias e barba-quás), o Ciclo da Navegação (vapores, lanchas e chatas), o Ciclo da Ferrovia e, por fim, o Ciclo da Rodovia.

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Na modernidade, o Ciclo da Educação. Aliás, a cidade de União da Vitória é um verdadeiro polo educacional, porquanto possui quatro Instituições de Ensino Superior, a saber: Universidade Estadual do Paraná (antiga FAFI), o Centro Universitário de União da Vitória (antiga FACE), a Unidade de Ensino Superior Vale do Iguaçu e o Instituto de Filosofia e Teologia Santo Alberto Magno.

7 O desenvolvimento urbano da cidade de União da Vitória nos dias atuais segue traços de sua história. Como o senhor vê a cidade de União da Vitória na questão do desenvolvimento urbano (crescimen-to e desenvolvimento urbano e social, indústrias, comércio, setor de serviços)?

Acredito que não! Porque, a área central de União da Vitória, com-preendida entre as Ruas Pedro Siqueira Cortes, Avenida Manoel Ribas, Carlos Cavalcanti, Professora Amasília, Professor Cleto, Rua D. Pedro II, Cruz Machado, Rua Getúlio Vargas, Praça Visconde de Nácar. Praça Co-ronel Amazonas, nos primórdios do povoamento, a maioria das casas e casarões era construída de madeira. Somente, mais tarde, a partir de 1917, começa a construção dos edifícios comerciais e casas residenciais em al-venaria, que ganharam uma riqueza de detalhes arquitetônicos, nos mais variados estilos, a exemplo do Grupo Escolar Professor Serapíão, do Hotel Paraná (destruído em incêndio), da antiga Prefeitura Municipal, do anti-go Fórum, da antiga Câmara Municipal e da Igreja Matriz, todos situados na Praça Coronel Amazonas. Além desses, tem-se a Loja Flor da Vitória (1920), o Hotel Flórida (1922), a atual Receita Federal (1929), a bonita casa residencial (ao lado do extinto Clube Operário), a antiga Livraria Cleto (1930), o Clube Apolo (1931) e tantos outros.

Atualmente, o antigo mistura-se com o moderno, nos mais varia-dos estilos. Donde conclui-se que o desenvolvimento urbano de União da Vitória não segue os traços da sua história.

8 Por que esses estabelecimentos estão dispostos dessa forma na cidade?

Acredito que pela necessidade de estabelecer e fixar uma ordem social, residencial, comercial e industrial.

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9 A cidade de União da Vitória teve a sua origem às margens do Rio Iguaçu. O senhor pode falar sobre isso como historiador?

Sem dúvida! A cidade de União da Vitória originou-se na mar-gem esquerda do Rio Iguaçu, exatamente, nas proximidades do atual Clube Concórdia (terra paranaense, antes da assinatura do Acordo de Limites, em 1916), no começo da Rua Prudente de Morais, no sentido leste a oeste, exa-tamente, onde se estabeleceu o Entreposto de Nossa Senhora da Vitória, no ano de 1769, por ação do desbravador e sertanista Antônio Silveira Peixoto. Salvo melhor juízo, a conclusão é minha!

Além disso, vale dizer que “União da Vitória brotou na rota das monções do Iguaçu, no século XVIII”, no Caminho das Águas, com o trânsi-to das canoas e das balsas, mais tarde dos vapores, das lanchas e das chatas, e, por fim, consolidou-se no Caminho das Tropas, com a descoberta do vau do Rio Iguaçu, em 12 de abril de 1842.

10 Na sua opinião, o Rio Iguaçu influenciou o processo de desenvolvi-mento urbano na cidade: de que forma?

Assinale-se que, a cidade de União da Vitória começou “junto a uma encruzilhada: fluvial (canoas e balsas) e terrestre (tropas cargueiras e xucras) – o Porto da União”.

O Rio Iguaçu foi de real importância para o processo de desenvol-vimento urbano de União da Vitória, porque, como disse, anteriormente, o Rio Iguaçu foi o Caminho das Águas, que atendia o suprimento do sal para o gado dos Campos de Palmas e demais mercadorias para o consumo dos união-vitorienses e palmenses.

Via de consequência, aumentou o índice populacional, desenvol-veu o nível comercial e industrial, a qualidade educacional, que, certamen-te, melhorou o desenvolvimento e o ordenamento urbano da cidade de União da Vitória.

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O transpOrte nO riO iguaçu

Ulysses Sebben1

Com saudosas lembranças, recordo das agradáveis viagens e pas-seios realizados entre União da Vitória e Porto Vitória, nas lanchas que representavam grande importância no transporte de pessoas e de merca-dorias, entre as duas citadas localidades.

Pela vez primeira que me foi dado utilizar a lancha, foi no início do ano de 1945, quando, de Santo Antônio do Iratim, no Município de Bituruna, onde residia, encontrava-me a caminho de Palmas, para, como seminarista, estudar no Seminário São João Maria Vianey, daquela cidade. Por seis anos seguidos utilizei, então, a famosa e mui lembrada lancha.

Recordo de uma ocasião em que, ao chegar de Palmas a União da Vitória (10 horas de viagem), em ônibus da empresa Kovalevski, estrada de chão muito ruim, fazendo inúmeras e demoradas paradas, perguntei ao ‘Vodka’ (era seu apelido), proprietário da empresa, se ainda conseguiria al-

1 Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 01, tendo como Patrono Mário José Mayer.

Ulysses e Iolanda em passeio de lancha pelo Rio Iguaçu, entre Porto

Vitória e União da Vitória(16 de janeiro de 1954).

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cançar a lancha para Porto Vitória. Ele, rapidamente me mandou entrar em uma pequena van e, foi ‘voando’, pela Rua Cruz Machado, cheia de buracos, praticamente deserta, até a embarcação, no final daquela rua, que já estava com seus motores em funcionamento. Fiquei feliz!

Quis a Providência que, no início do ano de 1952, eu deixasse os estudos em Palmas e me transferisse para União da Vitória, onde continua-ria meus estudos, como era desejo. Inicialmente cursei aqui o Artigo 91, ministrado pelo magnífico mestre Estanislau Novitzki. Foram três anos do então Ginásio, em seis meses. No final do ano de 1955, já me formava na Escola Técnica de Comércio Cel. David Carneiro.

Em março de 1953, um fato que determinaria a caminhada futura de minha vida, aconteceu. Desejava adquirir uma bicicleta. Fui à ‘Casa Es-trela’, na Av. Manoel Ribas e lá encontrei, não só a bicicleta desejada, mas também a vendedora que, pouco mais tarde, seria minha esposa e a mãe de meus sete filhos, a Iolanda.

Mas que tem a ver esse bonito momento com a história da lancha? Ocorre que, por várias vezes, no período de nosso namoro (1953/1955), viajamos – que passeios maravilhosos – pelo nosso amado Rio Iguaçu, na lancha que, por essa razão maior, nos é, agora, a mim e à Iolanda, de sau-dosa e grata memória.

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A CANOA

Ulysses Sebben1

Assim como as lanchas e as balsas, as canoas também tiveram im-portância fundamental, no início da povoação da antiga Porto da União, Porto União da Vitória e União da Vitória. Os canoeiros garantiram o transporte de mercadorias e pessoas até o estabelecimento da navegação a vapor, em 1882, e a construção de pontes sobre o Rio Iguaçu.

Uma dessas canoas é a que vemos acima. Ela merece destaque es-pecial, pelo fato de ter, por várias décadas, servido, como dissemos, de meio de transporte, em nossa cidade e localidades próximas.

Essa canoa é feita de um único tronco de imbuia, e mede 8,20 me-tros de comprimento. Originariamente tinha dois bancos fixos. Pertenceu, através de seu quase um século de existência, a quatro proprietários, encon-trando-se hoje, sem condições de uso, exposta às margens do Rio Iguaçu, no Bairro Nossa Senhora dos Navegantes.

Existem informações de que a canoa foi fabricada na década de 1920, nas proximidades de Poço Preto, Santa Catarina, às margens do Rio Iguaçu, localidade conhecida por ‘Volta Grande’. Teria sido feita por um ca-boclo/índio, conhecido por ‘Velho Sebastião Canoeiro’, para cortadores de erva-mate que a utilizavam para a passagem do produto de uma lado para

1 Membro fundador da ALVI, ocupando a cadeira nº 01, tendo como Patrono Má-rio José Mayer.

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outro do Rio Iguaçu. No início da década de 30, a canoa foi vendida para uma olaria de Santa Cruz do Timbó, localizada às margens do Rio Timbó, e servia como único meio de transporte, daquela localidade até Porto União da Vitória, de tijolos e outros produtos.

Dona Maria e Sr. Geraldo Günther

No final da citada década, o Sr. Geraldo Günther, dentista práti-co, que residia em União da Vitória e atendia várias localidades próximas, como Santa Cruz do Timbó, Matos Costa, Porto Vitória e Cruz Macha-do, que percorria a cavalo, levando seus equipamentos dentários, com-prou a canoa. O Sr. Geraldo possuía uma olaria, que adquirira da família Neubauer. A olaria estava localizada na saída de União da Vitória para Cruz Machado, local conhecido por ‘Castelinho’, onde hoje é o Bairro Mercedes, lado oposto, portanto, do Rio Iguaçu e, necessitava de uma canoa para a passagem do rio e para o transporte de tijolos, mercadorias e pessoas.

A canoa serviu, durante quinze anos, aproximadamente, ao Sr. Günther, que a utilizou como meio de transporte de seus produtos e de pessoas, na localidade conhecida por ‘Lagoa Preta’, 500 metros abaixo da ‘Ponte Nova’, até ter sido construída a referida ponte, nos anos quarenta, pelo então interventor no Estado do Paraná, Manoel Ribas.

Quando teve início a Segunda Guerra Mundial (1940), a canoa foi retida pelas autoridades locais, por ordem do Governo Federal, pelo fato de seu proprietário ser alemão. Ficou no cadeado durante toda a guerra, nos fundos da casa de um senhor conhecido por ‘João Peixeiro’, logo abaixo do Clube Concórdia.

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Essa canoa, já de alguma ‘fama,’ serviu para a passagem de impor-tantes autoridades de União da Vitória para o lado oposto ao Rio Igua-çu, quando o senhor Geraldo Günther promovia churrascadas na olaria e convidava as autoridades de União da Vitória. Entre elas lembramos o Dr. Francisco de Paula Xavier, primeiro Juiz da Comarca, que dá o nome ao Fó-rum de União da Vitória; Sr. Joaquim de Oliveira, escrivão e tantos outros.

Desejo concluir dizendo que a ‘CANOA’ de que aqui fizemos bre-ve relato teria, certamente, muitas outras ‘estórias’ a serem registradas. É por essa razão que ela merece um melhor cuidado. Quem sabe uma restau-ração e um digno abrigo, já que representa, para nossa cidade, um marco histórico e um patrimônio cultural.

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E o assunto continua...

Therezinha Leony Wolff1

Em 1992, quando iniciado um movimento a fim de conseguir a atenção dos poderes públicos, desde o municipal até a alta esfera federal, o grupo de mulheres “Força Feminina do Vale do Iguaçu”, embora hoje desativado, não deixou esquecida sua proposição e não perdeu a esperança de um dia resolver, vez por todas, tantos dramas que sofre a população, em períodos como o de hoje.

Prevenção que deve ser responsabilidade de todos: estejam ou não diretamente envolvidos nos transtornos da catástrofe das cheias.

Nós que ocupamos este espaço, diversas vezes, para explorar o as-sunto, nos reportamos hoje para mostrar coisas escritas e já publicadas, que seriam um alerta a todos os que querem não só o progresso das cidades, mas tranquilidade, qualidade de vida da população.

Em 6 de maio de 1995, mostramos que é preciso “Sair da Pequena Jaula”. Foi quando recebemos o relatório parcial nº03, da Corpreri (Comis-são Regional Permanente de Prevenção Contra Cheias do Rio Iguaçu). Mo-vimento que envolveu mulheres, nascido na agonia da enchente de 1992, com o objetivo maior de exigir, a quem de direito, medidas para minimizar e solucionar os problemas gerados naquela ocasião.

Ofícios e ofícios foram mandados a várias autoridades, mas poucas foram as que aqui compareceram para um diálogo mais espontâneo, calca-do já nos preâmbulos da Corpreri, portal de ingresso às soluções corretas.

Pessoas voluntárias, por inúmeras vezes reunidas, procuraram ajuda para enfrentar o comodismo irritante e indiferente, que permeia a sociedade.

Voltando à história da“Pequena Jaula”...Um urso fechado numa pequena jaula do zoológico, que passava os

dias inteiros dando 4 passos para um lado e 4 passos para outro. O zelador procurou o prefeito, pedindo-lhe um espaço maior para o urso. Ano de eleições, naturalmente aquele investimento retornaria em votos para o pre-feito. No dia da inauguração do espaço, uma grande festa: povo, prefeito, vereadores, banda de música... E o urso? 1 Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 20, tendo como Patrono Yvonich Furlani.

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Ao ser transferido para o novo endereço, grande e com gramado, continuou, entretanto, a dar 4 passos para um lado e 4 para outro. Repetiu pelo resto de sua vida esse mesmo comportamento, não aproveitando a oportunidade de expandir seu espaço.

Infelizmente, em nossas cidades, quantas pessoas mantiveram o hábito de viver em pequenas jaulas: sem tentar, sem participar, com medo de experimentar, de aproveitar as oportunidades, de comprometer-se...

A indiferença por parte de alguns políticos, na tentativa de ajudar na decisão de certas medidas apresentadas, acertadamente, pela Corpreri era realmente de pasmar.

O conformismo tomou conta da população: é rotina aguardar a enchente e justificar que as comportas de Foz do Areia deixaram de ser abertas.

Enquanto isso, lixos e aterros continuaram invadindo o leito do rio (eu mesma sou testemunha, porque tive que recorrer à promotoria pública para a retirada de lixo, orgânico e inorgânico, depositados no 2º leito do rio, frente ao antigo Clube Floresta).

Nessa época, numa das sessões do legislativo de União da Vitória, infelizmente, alguns dos vereadores acharam mais importante cochichar, ou até mesmo lixar as próprias unhas, enquanto o presidente da Corpreri, frente a um mapa, assinalava áreas de risco. Mapa que foi concebido por um grupo de interessados e profissionais, impresso em Curitiba, gratuitamente.

Mas voltemos ao oficio da Corpreri, que finaliza com o propósito de um Seminário sobre enchentes e justifica a necessidade de sua reali-zação. Sugestão importante para atingir toda a população, especialmente, porque o mapa ficaria nas paredes dos prédios públicos, de fácil informa-ção às pessoas.

Se idealizarmos tirar pessoas da “pequena jaula”, devemos procurar dividir e difundir atividades, incluindo no planejamento a experiência de pessoas que realmente conhecem a sua cidade. A responsabilidade, repito, não é apenas de alguns, a incumbência é de todos.

Prosseguindo, no dia 23 de julho de 1995, coloquei nesta coluna “Uma Proposta de Esperanças”. Por ela reafirmei que a população merece e precisa saber que é aqui, na região urbana, por muitas razões, tão bem esclarecidas pela Corpreri, que se instala um lago.

Tudo que foi feito em 1992, clamando pela solução do problema das enchentes: encontros, passeatas, inúmeras correspondências às auto-ridades constituídas do país, conscientizou-nos de que ajudas imediatistas

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 117

são importantes, mas a prevenção é o fator assertivo. Hoje pagamos muito caro por erros passados, infelizmente, cometidos em nome do progresso.

Novamente lamentando a desconsideração de alguns poderes pú-blicos, aplaudimos a população em geral, e as instituições organizadas, que tanto contribuem para minimizar o sofrimento de desabrigados.

Hoje, o chavão “não adianta chorar sobre o leite derramado” deve ser esquecido, para termos a esperança com a vinda de algumas autorida-des, e, especialmente, da Suprema Chefe da Nação, na solução de grandes problemas relacionados ao Rio Iguaçu. Beleza impar da natureza que deu origem as nossas cidades, fornece-nos a água da vida e que tem uma das 7 maravilhas do Mundo, admirada por turistas durante anos e anos.

Pelo conhecimento que tenho de minha vida (que já não é tão cur-ta), foi a Senhora Presidente a pessoa que, apesar dos compromissos todos assumidos, veio colocar-se à disposição, e, com alegria, apertar a mão de quantos pôde. Deixar a mensagem de otimismo que, certamente,“fez le-vantar doentes da cama”, na surpresa de ver, pela primeira vez, a autoridade maior do País em nossas cidades, não para passear, mas para ajudar a resol-ver problemas de uma extensão continental, em que fatalidades acontecem em todos os cantos, entre elas aquela que recentemente vimos no norte do Brasil,a cheia do Rio Negro, impedindo até hoje a volta de alunos às aulas.

Obrigada, Senhora Presidente, por nos permitir uma oportunida-de, única talvez, já que outros, em sua posição, aqui estiveram de passagem ou para inaugurações, e não a fim de resolver problemas, in loco: Getúlio Vargas passou por aqui no dia 16 de outubro de 1930, fez lanche no Hotel Internacional, foi saudado pelo Deputado Maciel Jr. e, da sacada do prédio (frente à Praça Hercílio Luz), cumprimentou a multidão. Em seguida partiu de trem, naquela mesma noite, rumo a Ponta Grossa. O Presidente Afonso Pena, em 4 de abril de 1909, esteve aqui em curta permanência, e seguiu para a linha sul, inaugurando a Estação Ferroviária que recebeu seu nome. Viagem esta que foi financiada pelo Município, segundo Cleto da Silva no livro Apontamentos Históricos de União da Vitória.

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 119

TombamenTo PaTrimonial1

Therezinha Leony Wolff2

Uma política de cultura, para ser completa, deve levar em conta a preservação do patrimônio cultural da cidade.

Entre as atividades da Fundação de Cultura de União da Vitória, já no início desta administração, aquelas relativas à preservação do patrimô-nio histórico e artístico vêm recebendo especial tratamento.

No último dia 19, às 14h, na sala das sessões da Câmara Municipal concretizou-se o Tombamento da Estação Ferroviária União, de União da Vitória, com o Decreto 92/2003 e assentado no Livro do Tombo em 27 de agosto de 2003, referendado em 11 de novembro de 2003.

Prestigiaram o ato de assinatura, autoridades civis, estaduais e mu-nicipais, diretores e professores das instituições de ensino, presidentes de associações e sindicatos, representantes da imprensa e do rádio e muitos dos aposentados pela ferrovia.

Tal participação levou a Sra. Maria Luiza Marques Dias, coorde-nadora do Patrimônio Histórico do Paraná, a declarar, no momento das assinaturas no Livro Tombo, que se quebrava um protocolo: as assinaturas, cabíveis somente ao Sr. Hussein Bakri, prefeito Municipal e à Sra. Môni-ca Rischbieter, Secretária de Estado da Cultura, seriam também acompa-nhadas de outras, dos demais componentes da mesa: Rodolpho Moser, representando o Sr. Valdir Rossoni, Deputado Estadual e 1º Secretário da Assembleia Legislativa do PR, Jair Brugnago, presidente da Câmara Mu-nicipal de União da Vitória, Maria Luzia Marques Dias, coordenadora do Patrimônio do PR, Carlos Henrique Sá de Ferrante, Diretor Geral da Se-cretaria de Estado da Cultura, Sirlete Stasiak, Presidente da Fundação de Cultura e Turismo, Albertino Mafra, comandante do Corpo de Bombeiros, Joaquim Osório Ribas, Presidente da Academia de Letras do Vale do Igua-çu e Wando Sckudlarek, representando a classe dos ferroviários.

1 Publicado na coluna Espaço Cultural do Jornal O Comércio, em novembro de 2003 2 Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 20, tendo como patrono Yvonich Furlani.

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Grata surpresa, também esta colunista, então Diretora Cultural da Fundação de Cultura de União da Vitória, foi convidada a deixar lá a assi-natura...

A Estação, obra que podemos considerar consequência do Con-testado e do acordo de limites que efetivou a separação de Porto União e União da Vitória; exemplar significativo de edificação, situado na divisa dos dois estados, original quanto à finalidade; atender às duas cidades.

Desativada de suas importantes funções ferroviárias, a Estação, com grandes salas em dois pavimentos, oferece espaço apropriado para ati-vidades artístico-culturais.

A importância do Tombamento reside, então, não só na possibili-dade da conservação de uma obra de relevância histórica, ameaçada de des-truição pelo abandono a que ficou exposta, como pela futura implantação de local para atividades culturais acessíveis à população.

A partir do Tombamento, há de ser imenso o esforço dos poderes públicos, em nível municipal, estadual e federal, por parte dos empresários e da população em geral, para que se preserve a obra, não apenas por de-creto, mas por consciência.

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 121

ViVendo a 3ª idade1

Therezinha Leony Wolff2

Uma semana de revelações, expectativas e alegrias foi, certamente, vivida por aqueles que estão na “melhor idade”. Pessoas realizadas como pais ou avós, donas de casa ou profissionais, hoje encontrando um tempo merecido para fazerem aquilo de que gostam e podem continuar num tra-balho produtivo.

Algumas, mais precisamente dezesseis, voltando às lides dos ban-cos escolares, concluíram o curso da Faculdade Aberta a Terceira Idade, oferecido pela FAFI, recebendo o diploma a que fizeram jus.

Outros, participando de grupos que se reúnem periodicamente para conversar, jogar bingo, para aulas de trabalhos manuais, canto, teatro ou dança, coordenados pela municipalidade, confraternizaram-se no en-cerramento do ano, desfrutando ambientes de descontração e alegria.

Outros ainda, juntando palavras com talento e criatividade, colo-cando experiências vividas ou desejadas, provocando sensibilidade do lei-tor e despertando-lhe sentimentos, os mais diversos, participaram do Con-curso “Poesias da Melhor Idade”, organizado pela Biblioteca Municipal José de Alencar.

Trinta e quatro poesias e treze autores tiveram o mérito de enfren-tar uma competição em que, sabiam, apenas três seriam as escolhidas. Os membros da Academia de Letras do Vale do Iguaçu, Nelson Sicuro, Joa-quim Osório Ribas, Márcia Stentzler Garcia de Lima e a professora do Cur-so de Letras da FAFI, Sandra Konell que, individualmente, fizeram suas avaliações, permitiram um consenso na escolha daquelas consideradas as de melhor produção literária.

A Sra. Verônica Drosdroski Huryn, com a poesia “Terceira Idade”, comparada que foi à fase inicial da poeta maior paranaense, Helena Kolody, obteve o 1º lugar. Aos 75 anos, dona Verônica voltou o tempo para registrar:

1 Artigo publicado no Jornal O Comércio em 07/12/2001.2 Membro fundadora da ALVI, ocupando a cadeira nº 20, tendo como patrono Yvonich Furlani.

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Somos meninas outra vez. Não importa a idade,

Temos em nós mocidade. Entrar na escola outra vez,

sentar no mesmo banco, talvez. Reler o be-a-bá que esquecemos de apagar

no quadro, onde escrito ficou. E nem o tempo apagou...”

Tereza Neubauer, reportou-se à “Pescaria”, exercitando a alma com uma visão da natureza:

“... Chora a espuma na areia na maré cheia.

As mãos do mar vêm e vão. As mãos do mar pela areia

onde os peixes estão. As mãos do mar vêm e vão,

em vão...”

Ledinildo A.L de Melo retratou o drama do nordestino na cidade grande, com “João da Silva Zé Ninguém”, suscitando a poesia pelo poema:

“... O que vocês sabem fazer? - De tudo nóis diz Amém! Somos pau pra toda obra,

Comemos rato e cobra, “Vivemo” sem água também. Não é mesmo, João da Silva?

É verdade, Zé Ninguém”.

Se apenas esses poetas foram escolhidos para as honrarias de pre-miação, todos, passando por uma difícil prova diante da linguagem, estão incluídos como artesãos da palavra, pessoas que alcançaram a redescober-ta do dizer.

Vivemos, felizmente, numa sociedade que se agiliza no processo de aproveitamento do potencial das pessoas em idade mais avançada, abrin-do-lhes espaços para sua realização pessoal e para o benefício social.

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 123

Há uma mudança no modo de pensar dos mais jovens e isso vem concorrendo para que aqueles que os precedem percebam não ser a ida-de avançada um empecilho para acompanhar o ritmo do desenvolvimento acelerado que ora se opera.

E, como muito bem disse a Sra. Elza Mazepa Nicolak, oradora da turma diplomada pela FAFI, sua geração estende-se ao domínio de um computador, e deixa exemplos que permitem maior motivação para a vida dos jovens.

Como expressa o pensamento incluído no convite das formandas “A vida vale a pena, quando se vive com amor e se busca sabedoria.”. De nossa parte,acrescentaríamos: “a vida é pouca, quando a gente é só um cor-po que tira e põe a roupa”.

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 125

120 ANOS DE UNIÃO DA VITÓRIA1

Therezinha Leony Wolff2

Nas ribanceiras do grande rio, radioso e de águas claras, quando o vento sussurra melodias e os pássaros traçam, de déu em déu, por longos trilhos, casebres de cepos retirados da grande floresta que enverdece esta região, cobertos de sapé ou taboinhas, vão surgindo entre as ramagens.

Prudente de Brito, conhecido como Prudentão, centrando o cora-ção, tentando trazer o Divino para mais perto dos homens, agradece a Nos-sa Senhora da Victória erguendo-lhe uma capelinha no “Alto da Glória”.Uma faísca elétrica a destrói, mas a força e a garra de ainda alguns poucos moradores, erguem-na novamente.De frente para o rio, como reconheci-mento, por ser ele o elo possível com a redondeza.

A mãe natureza, com seu amor entranhado, possibilita uma co-munidade que evolui.Hoje, voltando o olhar perdido nas estradas desses cento e vinte anos de União da Vitória, vislumbramos Caingangues e Bo-tocudos que seguidamente atacavam essa estrada.Os inúmeros imigrantes que para aqui se deslocaram e ajudaram a construir a história dessa longa estrada.

Benzedeiras e curandeiros cedem lugar a uma medicina moder-na, equipada com recursos humanos e instrumentais. Da escolinha das 1ª Letras de Mestre Colaço surgem os modernos estabelecimentos de ensino, profissionalizantes e faculdades com variados cursos. Das canoas e dos re-madores chegam os grandes vapores para transportar cargas e passageiros. E a passagem do grande rio por botes e balsas cede lugar às pontes que ligam norte e sul do país. Serrarias manuais funcionam com os mais mo-dernos maquinários.

O velho transporte em lombo de mulas e carroções cede lugar aos vagões ferroviários e as enormes carretas rodoviárias. Recursos monetários guardados em cofres particulares ou até sob colchões, estão em segurança

1 Texto publicado no folder de programação dos 120 anos de União da Vitória – março de 2010.2 Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 20, tendo como Patrono Yvonich Furlani

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nas casas bancárias. As cordas e as manivelas ou as bombas nos poços já não mais fazem parte dos quintais.

Lampiões, lamparinas e velas dos primitivos casebres servem ape-nas como adorno, em confortáveis e bonitas residências.As casas baixinhas de uma porta e uma janela deixaram espaço para os grandes edifícios.

Abrir todas essas páginas do tempo nos leva a reconhecer quão grandes foram evolução e progresso nesses 120 anos de União da Vitória e em quanto influenciaram sua vida e sua história.

Com enorme emoção, em nome da Academia de Letras do Vale do Iguaçu, cumprimos aqui uma tarefa que nos foi solicitada e o fazemos com o coração transbordante de júbilo e a alma engalanada das melhores emo-ções e dos mais festivos sentimentos. É grande a honra nesses momentos de celebrações retomarmos a consciência para salientar quão importante é o papel que desempenha União da Vitória no Estado e no Brasil.

Rica a história deste povo guerreiro, que a ergueu e a faz crescer ainda mais.

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CRÔNICASCRÔNICASCRÔNICAS

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 129

Jardim da minha infância

Tânia Margaret Ruski1

Margarida, Violeta, Dália, Malva, Hortênsia, Rosa... Nomes de ba-tismo que fazem parte do jardim da minha infância. O buquê de violetas do jardim, amarrado com um laço branco de fita de seda, era o que tinha de mais lindo, marca registrada para aqueles que aniversariavam na época da sua florada. Singelas e delicadas, a demonstração concreta de um amor verdadeiro. Extremamente delicadas, eram transportadas debaixo de uma sombrinha, para que o sol ou a chuva não as castigassem. Um dia, ao che-garmos em casa, encontramos um ramalhete murchinho, no peitoril da va-randa dos fundos, pedindo por socorro, denunciando a visita daquela que, num dia que deveria ser especial, encontrou a casa fechada. Deixou-as em um cantinho, protegidas. Mensagem de carinho para a aniversariante que fugiu do abraço...

Dálias... Para elas, um vaso especial: alto o suficiente, estreito na base e com a boca larga, para um efeito digno delas, coloridas, exuberantes, lindas! Disputando o espaço na mesa da sala, em cima de uma toalha en-gomada; saindo e voltando a cada refeição, ocupando o lugar de honra, que naquela época do ano era seu.

Malva... Parente dos gerânios, decorava nossas unhas, numa mistura de cores, rosa e vermelho. Coladas com saliva, não ficavam muito tempo, eram delicadas demais. Tinha um canteiro só para elas.

Hortênsias... Muitas! Pois lá para as minhas bandas, não há jar-dim em que não more uma hortênsia, fortes e robustas vão-se criando meio que sozinhas. Quando floresciam, também disputavam o ”lugar de honra”!

Rosas... Ah! As rosas... Em pencas, em cima do portão que fazia divisa com o pomar. Sempre que eu passava por elas, fechava os olhos e aspirava seu perfume delicioso, embriagando-me naquelas tardes mornas de primavera (não custavam um Chanel).

Não posso esquecer-me da “grinalda-de-noiva”. Morava dentro de uma caixa de areia; arbusto delicado, quando florescia se debruçava em cima de nós, crianças, protegendo-nos do sol. Como uma cascata de flores brancas, quando a brisa sacudia, caía em flocos, enfeitando nossas cabeças!1 Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 26, tendo como patrono Tadeu Krul.

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Amor-Perfeito... Seu lugar era especial: luz e umidade na medi-da certa, tratamento “VIP.” Depois de ocupar o lugar de honra, iam, muitas e muitas vezes, morar espremidos, dentro dos meus livros escolares, para que eu pudesse curti-los por mais tempo, enchendo-me os olhos e a alma de alegria!

Margaridas, estas não podiam faltar, homenagem a minha Oma, a dona desse jardim. Até hoje, quando as encontro, trago-as para o lugar de honra!

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 131

VÓ OLINDA

Tânia Margaret Ruski1

Quem a conheceu sabe que realmente era muito linda! Por fora, e muito mais, por dentro. Seu nome foi escolhido pelo pai, uma homenagem à cidade em que ele acabara de ancorar, bem no dia do seu nascimento, 6 de maio de 1901 (hoje mais de um século), segundo ele. Faltavam palavras que justificassem a beleza da cidade. Tratou de enviar um cabograma: - MENSAGEM telegráfica transmitida por meio de cabo submarino, meio de comunicação na época, escrevendo sobre o desejo de que sua filha se cha-masse OLINDA. Assim foi... Cresceu à beira-mar, sua cidade natal, Laguna, brincando e mergulhando num mar de areias brancas e macias; cercada de muitos irmãos e muitas histórias contadas a nós, em prosa e verso, tons e semitons, impostando a voz, quando achava necessário, para dar realidade aos fatos. Nós, crianças, ouvíamos embevecidas, muitas vezes, com lágri-mas dependuradas e um nozinho na garganta. Lembro-me de duas: ”Bone-ca de Pano” e “O Menino e o Mar”. Só voltou a ver o mar de sua infância e juventude depois de ter tido seus nove filhos (com certeza nunca teve TPM, pois chegou à menopausa, parindo), ou seja, 20 anos depois. Matava as saudades, olhando as nuvens, que ela dizia ser a espuma do mar, e, à noite, quando as estrelas apareciam, eram as luzes dos barquinhos dos pescado-res, que saíam na madrugada, em busca do sustento de sua família. Era na janela da escada, sentada em seus degraus que levavam ao sótão da casa, em que ficava a minha amada e querida... Vó Linda!... Era lá que se desenrola-vam as cenas, como num filme, por vezes cheias de humor, outras dramá-ticas; e nós imaginando... Idealizando... Nessa mesma janela, olhando para o infinito, aprendi algumas orações: a Ladainha, Consagração ao Sagrado Coração, a Ave Maria, sempre ao entardecer. Aprendi, ouvindo-a rezar, que as orações mais belas eram as que vinham do fundo do coração: Louvores de Agradecimento, de Perdão, de Cura, de Súplica. Nunca a vi derrotada, cuidava de tudo sozinha, cantando dia e noite; arrastando o chinelo, no verão; e o tamanco, no inverno. Dizia-me, quando lhe perguntava o porquê 1 Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 26, tendo como patrono Tadeu Krul.

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do tamanco, que, quando andava, aquelas pancadinhas aqueciam-lhe o pé, isso num inverno rigoroso! Até hoje nunca ouvi história igual.

Com ela conheci o leite da “barboleta”, isso mesmo, com A, era a justificativa quando o leite acabava, pois nós crianças não podíamos tomar café sem leite. Ela tratava de dar um jeito, colocava nosso café na xícara, ia logo dizendo: - Hoje é leite da “barboleta”! Outro episódio inusitado era quando cortava a fatia do queijo e, como medida de economia, para que o queijo fosse suficiente para todos, ela cortava a fatia e punha-a contra a luz, para ver se estava fina o suficiente, para que pudesse ver LAGUNA! Nós, crianças, achávamos o máximo! Todos queriam pegar suas fatias, desmontando os lanches, para ver se enxergavam Laguna. Como isso não acontecia, ela explicava que só ela podia ver. Na casa da vó Olinda tudo era mágico, não havia sofás em que não pudéssemos sentar ou cortina ren-dada e almofadas que nossas mãos empoeiradas não pudessem tocar. Em compensação, tínhamos uma Janela Cinematográfica; onde muitas vezes éramos os protagonistas.

Que saudades da minha VÓ LINDA!

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P O E M A SP O E M A SP O E M A S

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 135

SOMENTE HÁBITO?

Arlete Therezinha Bordin1

Com o atropelo da vidaatropelamos os amigos,

e não poucas vezes,as pessoas que amamos.

E daí, o que fazer?

Quando paramosnos damos conta

do mal feito.

E daí, o que fazer?

Meus pais me ensinaram:é preciso pedir desculpas.

Fiz sem querer,não foi de propósito.

Me desculpe.

Estava nervosa,foi um dia muito difícil.

Me desculpe.

Será que pedindo desculpao mal que foi feito,

o sentimento provocadoestá desfeito?

1 Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 05, tendo como patrono Agnelo Banach.

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Talvez... Talvez...

Até o Pai Nosso mudou.Perdoar o ofensor

até por educação o fazemos.

E as dívidas,são perdoadas?

Talvez... Talvez...

Conhecendo nossa incapacidade,por inspiração Divina,

a Igreja mudou.

Me desculpequando solicitado

com verdadeiro sentimentoa mudança de atitude deverá se concretizar.

Se isto não acontecer,me desculpe,

se torna apenas um hábito.

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 137

VALEU A PENA?

Arlete Therezinha Bordin1

Quando a vida passaRelembrando o passado

Nos perguntamos...Valeu a pena?

No começo há mistério.

Somos levados, muitas vezes,Pelas circunstâncias

Tanto na vida privadaComo na profissional.

Valeu a pena?

Vemos a família crescer.Vivemos as emoções

Dos bons e maus momentos.

É a Vida.

Sentimos a alegriaDo primeiro emprego.Apesar da insegurançaE falta de experiência

Sabemos que somos capazes

É a emoção de sermos úteis

1 Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 13, tendo como patrono Germano Wagenführ.

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Na vida socialVivemos da emoçãoE nos aprimoramos

Aceitando as diferenças.

A família nós recebemos.Os amigos escolhemos.

A profissão vem do desejoDe sermos úteis

Prestando um trabalhoNa comunidade

Existe a preocupaçãoDa nossa sobrevivênciaE dos familiares, é claro.

Será que valeu a pena?

Há ainda a dedicação voluntáriaSem remuneração.

Muitas vezes nos emprenhamos tantoQue sacrificamos

FamíliaLazer eAmigos

Será que valeu a pena?

No começo existe mistério,No final a confirmaçãoÉ no meio que reside

Toda a emoçãoE faz com que

Tudo o que foi feitoValha a pena.

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 139

A manifestação da gratidão.O reconhecimento

Da família,Dos amigos,Da sociedade

Confirma o fatoDe que tudo que foi feito

Valeu a pena.

E quando não háA manifestação da gratidão

E reconhecimentoSerá que valeu a pena?

Na realidadeÉ a nossa satisfaçãoDo dever realizado

Tendo a certezaQue fizemos com prazer

Superando as adversidadesDa vida,

É que nos dá a certeza queTudo o que foi feito

Valeu a pena.

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 141

ALMA DE POETA

Therezinha Thiel Moreira1

Onde estão as rimasCom as quais fazia

As mais belas poesias,Falando de amor, de alegria... ?

Onde estão as palavrasQue davam força e sentido,Com lindos sons coloridos,Cantando hinos de amor?

Não há rimas...Não há palavras...

Onde estão os sentimentosQue davam, a cada momento,

Novo sentido ao viver?Que provocavam emoções,Fazendo pulsar corações,Sentindo a vida... Vibrar?

Não há rimas...Não há palavras...

Não há sentimentos...Não há poe...

Mas eis que dentro de mimUm grito!... Um alerta!...É minha alma de poeta

Que de repente despertaE resolve tudo de uma vez.

1 Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 13, tendo como patrono Germano Wagenführ.

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O TEMPO

Therezinha Thiel Moreira1

O tempo vem...O tempo vai...

Depressa passa. Nem mesmo descansa.

E nunca se cansaDe ir e vir,

Sem jamais parar.Mas o tempo passa?

O que vai? O que vem?

Eu vim...Eu vou...

E continuo passando...Sem poder parar...

Sou eu que vim.Sou eu que vou.

O tempo fica.Já sou passado...

1 Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 13, tendo como patrono Germano Wagenführ.

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PALESTRAPALESTRAPALESTRA

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 145

IMIGRAÇÃO SIRIO-LIBANESA NO BRASIL

Carlos Guérios1

Minha saudação à Academia de Letras do Vale do Iguaçu, na pes-soa da ilustre presidente, professora e mestra, Leni TrentimGaspari, e a to-dos os destacados membros que compõem o seu corpo cultural, altamente capacitado e eclético. Quase todos, antigos conhecidos de minha infância e juventude. Elevo minha admiração olímpica, por tudo que fizeram e estão fazendo pela cultura de Porto União da Vitória, do Paraná, de Santa Cata-rina e do Brasil.

Autoridades presentes, ilustres senhoras e senhores da plateia, es-pecialmente, aos descendentes de sírio-libaneses, cujo DNA milenar que corre palpitante em suas veias, nos traz uma emoção indescritível, neste momento tão importante, em que vamos reviver um pouco da magnífi-ca história de sua vida. Muitos de vocês já são a 6ª geração de imigrantes históricos e abençoados, que aqui aportaram um dia, para uma nova vida de trabalho, de luta, e de ajuda ao desenvolvimento cultural, comercial e industrial de cada município deste gigante, chamado Brasil.

Eu sou um cidadão do mundo. Orgulhosamente, nascido em Porto União da Vitória, espero ajudar o meu próximo, sempre que for possível e necessário, ouvindo e ponderando as opiniões e buscando o bem coletivo acima do individual. Evoluindo como pessoa, alcançando o equilíbrio es-piritual, familiar, físico e emocional e contribuindo sempre com o resgate de nossa história. Eu sou um garimpeiro cultural! Que o orgulho de nossos antepassados, seja um fator determinante em nossa vida. Muito obrigado pela energia positiva que todos vocês trazem nesta noite em que apresenta-rei a vocês parte da minha pesquisa sobre nossos antepassados.

Foram as pequenas histórias contadas por minha avó paterna, Amene Sfeir Guérios que tocaram fundo meu coração, despertando-me a curiosidade de seguir em frente, para saber cada vez mais sobre a história dos sírio-libaneses em nossas cidades. Depois tive meu primeiro trabalho, junto com o José Carlos Huergo, em 1964, no escritório dos irmãos, João de 1 Pesquisador, Colecionador e palestrante. Esta palestra foi proferida à Comunida-de Sírio Libanesa de União da Vitória e Porto União, membros da ALVI e convida-dos. Organizada pela ALVI em 22/03/2014.

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Oliveira e do Dr. Josué de Oliveira, com sua mãe Sofia André Domite, por duas vezes, com seu esposo o Cel. Joaquim Domit. Ficaram intrigados com minhas perguntas e com o que eu já havia acumulado de informações e, aos poucos, relataram muitas informações e histórias sobre os sirio-libaneses da região. Depois mantive contato com a Profª Lilia Yared, Elias Domit, Prof.Aniz Domingos, Elias Nieman, Farid e Ghassoub Domit e dona Dibe Ayoub. Aí resolvi fazer o meu primeiro trabalho, que foi o levantamento das famílias sirio-libanesas de nossas cidades, e com a ajuda de muitas pes-soas levantei até 1978, 66 famílias.

Paralelo a isso, já com diversos contatos com libaneses e sírios de outras cidades do Paraná e de Santa Catarina, resolvi fazer um levanta-mento dos nomes dos patrícios que foram dados às avenidas, ruas, praças, escolas, hospitais e estádios, em toda Santa Catarina. Esse árduo trabalho de pesquisa foi feito em consultas por cartas, listas telefônicas e telefonemas a todo o Estado e levou oito anos.

Consegui levantar os nomes de 142 pessoas em toda a Santa Cata-rina, sendo 18 (dezoito) em Porto União e 10(dez) em União da Vitória. E, por fim, resolvi resgatar a história de todas as famílias imigrantes, em cada município do Brasil, Estado por Estado, até que, nesses 49 anos, cheguei ao altíssimo número, sendo hoje superior a 18000 biografias e nomes de pessoas vindas do Líbano e da Síria para o Brasil, e de seus descendentes aqui nascidos. É a maior pesquisa do mundo até hoje feita e conhecida. Além de conseguir, nesse quase meio século, mais de 1800 livros em língua portuguesa, de escritores sírio-libaneses, sobre os mais diversos assuntos de todos os municípios do Brasil e mais de 3000 fotos e documentos.

Ressalto do fundo do coração, minha principal homenagem às matriarcas sírio-libanesas, pois hoje quase esquecidas, foram os alicerces principais da construção da gigantesca família libanesa e síria, que existe hoje por todos os recantos do Brasil, pois se não fossem elas, muitos dos maridos, filhos e irmãos, teriam retornado. Foi pela sua fé numa vida me-lhor e a perseverança em buscar, em educar seus filhos e em ter a liberdade, que elas suportaram todas as adversidades. Essas santas matriarcas, muitas vezes de feição dura e sisuda, quase sempre trajadas de roupa preta, mas com uma grandeza imensa de amor e de esperança numa vida melhor para todos, a tudo suportavam, pois tinham uma infinita bondade de coração. Elas cuidavam de tudo, da educação dos filhos, do alicerce diário e firme para a edificação de uma boa família, principalmente, dos prestígios mo-rais e religiosos, enquanto, na árdua luta pela sobrevivência, seus pionei-

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 147

ros maridos e filhos deixavam os lares e saíam, na maioria, para mascatear pelo interior, ficando até três meses fora de casa. E assim, nossas amadas matriarcas cuidavam da alimentação, da roupa, das doenças e remédios, além do árduo trabalho da casa. Muitas ainda faziam costuras e vendas de doces e alimentos feitos na calada da noite, para atender aos pedidos dos clientes mais diversos. Recordemos que muitas delas, sofrendo a dor da viuvez, também pegavam malas e carroças e saíam mascatear pelo interior e arredores de nossas cidades. Para ir aos locais mais distantes, serviam-se do trem e, nos lugares mais próximos, da carroça. Levavam baús com te-souras, facas, agulhas, dedais, fios, meias, giletes elásticos,tecidos, botões, tamancos, canivetes, suspensórios, cintas, isqueiros, pinicos, colares, pul-seiras, talheres, entre outras coisas.

Enfaticamente repito,nós estamos aqui já na 6ª geração, para saudá-los e dizer, do fundo do coração, um “muito obrigado”, com todo o louvor, pelo que fizeram por todos nós. Com todos os seus filhos e filhas, com quem conversei, da segunda geração, lembram,com muita emoção e lágri-mas avulsas, a inesquecível singeleza da bênção noturna da amada mãe, que colocava na testa de cada filho e filha sua mão doce e firme, e rezava uma oração a Deus, em árabe, para agradecer aquele dia. Essas queridas matriarcas, geralmente, traziam junto, quando vinham, o seu dote, que geralmente eram moedas inglesas libra-ouro, que ficavam guardadas, quase esquecidas em panos costurados e amarrados na cintura e, eram esses do-tes que ficavam para um último momento, servindo de solução para uma extrema necessidade de saúde da família, ou então, de um sério problema financeiro, quando algum negócio não ia bem.

Tive uma grande emoção, ao encontrar uma senhora libanesa, com 93 anos, num asilo da cidade de Penha-SC, chamada Nazira Maria Francis-co, onde fui conversar sobre sua história de vida e levar-lhe uma Bandeira e doces do Líbano. Na cabeceira de sua cama, existia um pequeno quadro com cinco Nossa-Senhoras que me chamou a atenção, e lhe perguntei:“por que cinco Nossa-Senhoras?” Ela então me respondeu: “foram um presente de sua mãezinha e que a acompanhou desde os 13 anos e que as Senhoras eram: Nossa Senhora da Vitória (é dos conquistadores); Nossa Senhora do Desterro (é dos peregrinos); Nossa Senhora do Carmo (é dos contempla-tivos); Nossa Senhora da Luz (é dos desencaminhados) e Nossa Senhora das Mercês (a principal de todas, a luz mais brilhante e que sempre está prometendo e oferecendo todas as mercês).” Que exemplo de fé admirável dessa senhora!

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Foram tantas maravilhosas mulheres e relaciono a seguir, o nome de algumas matriarcas: Barjuth José Guérios casada com Feres Mansur Guérios, Frucina José Guérios Sfeir, casada com Elias Pedro Sfeir; Elmaz David Nohra, casada com Abrao Nohra; Rachide Wakin Guérios, casada com Zacarias José Guérios; Habcheie Sfeir Guérios, casada com Kalil José Guérios; Sophia Hadad Domingos, casada com Aziz Domingos; Zalfa Sa-waya Yared, casada com Salomao Yared; Adelia Schueiri Yared, casada com Miguel Yared; Amene Sfeir Guérios, casada com Jorge Jose Guérios; Zakie Fayad Domit, casada com Jamil Domit; Wadia Kassab Khoury, casada com Salomao Jose Khoury; Habuba Sfeir Guérios, casada com Salim Feres Gué-rios; Jamile Abdalla, casada com David Abdalla; Angela Mansur Cheden casada com Josef Cheden; Helena Jaime Kalil, casada com Miguel Kalil; Malque Guérios, casada com José Mansur Guérios; Helena Nemes, casada com Nacle Nemes; Nazareth Rezek Farah, casada com Miguel Farah; Adelia Salomao Chaud, casada com José Elias Chaud; Nagibe Mussi Guérios, casa-da com Tuffi Feres Guérios; Maria Barbar Abrão, casada com João Nicolau Abrão.

Em uma foto das matriarcas, encontrei os seguintes dizeres, que muito me tocaram: “se eu não puder me despedir, minha alma olhará por você”. Muito obrigado queridas e santas mulheres, por tudo o que fizeram por nós.

A imigração sírio-libanesa, anterior a 1870, era esparsa. Após a vi-sita do imperador D. Pedro II, em 1876, a Beirut e Damasco, ela começou a fluir mais fortemente, a partir de 1877. Os motivos: fugas e perseguições so-fridas durante as invasões e o domínio turco-otomano (1517-1917) imposto aos cristãos pelos drusos; lutas internas que deram causa ao grande massa-cre de 1860, sendo os cristãos discriminados, agredidos e até impedidos de caminhar pelas calçadas de Trípoli e Beirut; eclosão da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), quando os pacíficos cidadãos libaneses e sírios eram convoca-dos e levados à força para frentes de batalha, servindo de bucha de canhão e assim preservando a ida dos soldados turcos.E assim foram chegando...

Vinham de todas as cidades e localidades libanesas e sírias, para os portos de Byblos e Beirut, faziam escala em Gênova, na Itália, e em Marse-lha, na França, e aportavam, na maior parte, nos portos de Santos e Rio de Janeiro, depois Paranaguá, São Francisco do Sul, Rio Grande e Recife. Foi da cidade de Sultan-Yaacub, que partiu, em 1880, a primeira grande leva de Libaneses e Sírios para o Brasil, aqui no Paraná e em Santa Catarina, entre 1886 e 1890. No início, entre 1871 e 1880, oficialmente, vieram para o Brasil

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1946 imigrantes e,entre 1871 e 1947, vieram mais 79.509. De toda a imi-gração, 74% vinham do Líbano e 26% da Síria Zahle, foi a principal cidade fornecedora de imigrantes do Líbano, Homs, da Síria. Uma passagem de terceira classe de Homs para Santos custava nove libras esterlinas.

Os principais Estados que receberam os imigrantes sírio-libaneses foram:

1º São Paulo (que recebeu 50% de todo o contingente que veio para o Brasil); 2º Minas Gerais; 3º Paraná; 4º Rio de Janeiro(que recebeu os pio-neiros registrados: Fuade Alexandre Zacarias),5º Mato Grosso; 6º Ceará; 7º Santa Catarina; 8º Rio Grande do Sul; e 9º Amazonas. Curitiba foi a capital que mais recebeu imigrantes, depois de São Paulo.

Porto União da Vitória

Ao chegarem, principalmente em Santos, seu primeiro problema era a língua. Num rápido curso à noite, aprendiam as principais palavras, cumprimentos, e a matemática do dinheiro. Seus primeiros empregos eram nas feiras, onde tinha a parte prática de aprender o idioma, cumprimentos e agradecimentos, o uso do dinheiro, cálculos rápidos para trocos. Traba-lhavam de graça e, no final do dia, levavam alguma sobra da feira.Aqui em Porto União da Vitória, era feito o mesmo, os mais velhos ensinavam os que iam chegando. Sempre, à noite, todos iam aprender a língua e a matemáti-ca, e tudo era anotado em um raro caderno, que sempre traziam consigo, para tirar qualquer dúvida.

De forma geral, o primeiro trabalho dos homens foi a milenar arte de mascatear. Mas, em nossa região, foi o de Magarefe, que era o funcio-nário dos matadouros e charqueadas, que abatiam os animais (bois, vacas, carneiros, porcos e cabritos) pois os Sírio/Libaneses tinham muita prática e precisão para matar esses animais, sem lhes causar sofrimento, e tinham também muita rapidez na esfola. Prática essa adquirida em suas vilas e ci-dades do Líbano e da Síria, em suas famílias.

O primeiro a chegar em Porto União da Vitória, comprovadamen-te, foi Felix Mansur Guérios, que, anos depois, mudou seu nome e passou a assinar Feres Mansur Guérios. Assinou a Ata de Fundação de União da Vitória, em 27/03/1890, foi buscar sua esposa e prima, Barjuth José Gué-rios, formando assim a 1ª família de imigrantes Sírio-Libaneses de Porto União da Vitória. Tiveram os seguintes filhos: Salim Feres Guérios , casado com Habuba Sfeir; Tufi Feres Guérios , casado com Nagibe Mussi; Jorge

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Feres Guérios - casado com Adelia Bark; Mauricio Feres Guérios , casado com Hekena Cecy; Georgina Guérios - casada com José Kalil Guérios (pri-mos);Julieta Guerios ,casada com José Patruni; Joana Guérios, - casada com Pedro Abrão Seleme,que, em 1925, enviuvou e foi morar em Jaguaraíva, no norte do Paraná, onde constituiu nova família.

Os Domingos, Aziz e Sophia Hadad Domingos, vindos de Trípo-li-Hakar, vieram em 1903. Já em 1906 vieram os irmãos Domit (Joaquim, Neief e Nadim);e os Yared chegaram em 1909, os Patruni em 1910, os Fa-rah, em 1913, junto com Elias Nieman, e, a partir de 1918, foram muitas as famílias que aqui chegaram. Sobre os Yared, existe um fato muito curioso. Salomão e Zalfa Sawaya Yared, logo que chegaram, mandaram vir os pri-mos Gabriel e Miguel.Na viagem de vinda para Porto União da Vitória, viajava no mesmo trem o Presidente Afonso Pena, que vinha inaugurar a estrada de ferro. Na conversa com Salomão, o Presidente Pena lhe disse, entre outras coisas, ter uma família grande, com 12 filhos. Coincidência ou não, Salomão e Zalfa tiveram a maior família de nossas cidades com 15 filhos. Salomão Yared foi o maior dançarino da dança Árabe, chamada ‘Dabque’ e tocava muito bem o Derback, um tambor de batuque árabe. Foi também grande empresário de cinema de nossas cidades.

Quanto orgulho emanava das palavras do Sr. Farid Domit, quando narrava, com emoção, que a 1ª conta do Banco do Brasil, foi aberta em 30/11/1942,com Cr$ 8.000,00, em nome de Jamil Domit e Filhos, sempre aos cândidos e curiosos olhares da pequena Marlizinha Domit.Também muitas histórias escutei do Seu Farid, sobre as serrarias da família.

José Mansur Guérios e Salim Feres Guérios foram osprimeiros importadores de Porto União da Vitória: importavam tecidos da França e Inglaterra. Salim foi um grande industrial e teve sua 1ª serraria em 1920, na localidade de Santa Maria, e a 2ª no distrito de Adolpho Konder, que foi comprada de Bechara Dequech, em 1935, sendo também pioneiro de pasta mecânica. Sua residência, na rua Prudente, foi a 1ª a ter água encanada.

Outro grande industrial foi Pedro Antonio Guérios, que fixou-se em Palmas – PR, onde construiu a 1ª usina elétrica da região e o 1º moinho descascador de arroz e de trigo. Os Nemes foram muito fortes no comércio, com padarias, lojas e bares. Os Bogus tiveram a 1ª alfaiataria de nossas ci-dades.Os Khury, grandes lojas de armarinhos e exportação de madeiras.Os Irmãos Farah, Miguel e Alexandre, com suas casas de tecidos e sapataria.Miguel Farah e Nazareth Farah tiveram cinco filhos médicos.Os Patruni destacaram-se em diversas atividades comerciais e de erva-mate.Os Che-

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den tinham uma peixaria de grande fama.Os Kalil, com charqueada, fábri-ca de banha e açougue.

Em Porto União, existiu uma escola árabe, cujos professores vi-nham também de São Paulo e Curitiba, geralmente, no mês de julho, e da-vam aulas paras os filhos e filhas dos sírio-libaneses, cuja despesa era depois rateada pelos mais abastados. As aulas eram dadas, geralmente, na casa de Salim Guérios e Aziz Domingos. Mais tarde, várias professoras libanesas e sírias (ou casadas com libaneses ou sírios) se destacaram e fazem par-te da história da educação de Porto União da Vitória: Pequena Guérios Araújo, Rosita Guérios, Malque Guérios, Alzira Domingos, Aldair Domin-gos, Deayr Domingos, Alice Domingos, Selmira Mansur, Luíza Gasire Di-pp,Marly Trentin Farah ,(casada com o sírio-libanês Orlando Farah), Cha-ficaYared Favoretto, Luíza Bassan Domit, Orli Domit Rosa, Anália de Paula Guérios,Aydée Domit, Djanira Amin Pasqualim, Faride Guérios Pedroso, Guita Guérios Mier, Ivone Charam, Jandira Capriglione Domit, Lilia Yared, Maria P. Helena Aben Atar,Maria Lúcia Codagnone Hassan (casada com Chaquibe Hassan), Neusa Domit, Roseli Guérios, Scheila Yared, Terezinha Muller Seleme, Alice Kalil e Helena Mansur Bona.

Em maio de 1936, tomou posse uma nova e forte diretoria da So-ciedade União Siria,de Porto União da Vitória, a mais bem organizada e ativa instituição Sirio -Libanesa de nossa região. Essa Socieda de era cultu-ral e foi criada para ajudar os sírio-libaneses em dificuldades com a língua, e encaminhamento comercial, quando era necessário. Estava assim com-posta: Presidente : Jamil Domit;Vice-Presidente:  Habib Cheik; 1º Secretá-rio :Miguel Yared, 2º Secretario: Kalil Chaerk; 1º tesoureiro: Farid Domit; 2º tesoureiro : Nassim Bittar; Oradores  :Antonio Domit e Hatim Domit;-Comissão de contas : Aziz domingos , Bechara Simão , Jorge Curi , Neief Domit e   Jacob Abdalla; e Bibliotecário : Tamin Domit.

Sempre que era possível era mandado chamar em Curitiba ou São Paulo um Padre Sírio, que aqui vinha e realizava casamentos e batizados das famílias sírio-libanesas de Porto União da Vitória. Ficavam por aqui de sete a dez dias.

Aprendi com o Dr. Domit, entre várias conversas que tivemos, as seguintes curiosidades que ele havia aprendido com seu pai: cedro-do-Lí-bano em árabe é: arz ar-rab e Esfiha é o nome sírio e significa folha, em libanês é “LÁHME BE AGIN” e significa massa com carne; o nome fenícia, vem do original “fanik”e significa “marinheiro”. Também aprendi que o al-fabeto árabe clássico possui três vogais (A - I - U) e vinte e seis consoantes,

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não existe “pê”(P), por isso a dificuldade dos imigrantes em pronunciar palavras que tenham a letra “P”, como “Porto União - Borto União”, “Pala-vra - balavra”,”Peru - Beru” etc.

Trouxe para mostrar a vocês, após a palestra, algumas peças e do-cumentos históricos de meu acervo, conseguidos nesse quase meio século de pesquisas:

Uma coleção de moedas fenícias, com mais de 2000 anos;Raríssimo documento da primeira empresa, documentada, estabe-

lecida na rua 25 de março, em São Paulo, em 1894;Dicionário fenício-português;a) Livro de 1830, “Viege por Síria”, nos anos de 1783 a 1785, edita-

do em 1830 em espanhol;b) Coleção de mais de 500 envelopes timbrados de empresas sírio

-libanesas do Paraná e Santa Catarina;c) Documento do primeiro libanês comprovadamente estabeleci-

do no Brasil, em 1556, Simão Jorge;d) Passaporte libanês, de 1895, documento de fundação do colégio

sírio-brasileiro de Wadih Yaziji de 1918;e) Nota fiscal da “Pensão Seleta”SP, onde, de 1895 a 1925 a, maioria

dos imigrantes sírio-libaneses ficavam hospedados;f) Título de eleitor nº 111, do imigrante Jorge José Gueiros, de

1909, em União da Vitória - PR;g) Diversas cartas manuscritas, do ano 1905, vindas do Líbano

para os imigrantes estabelecidos em União da Vitória -PR;h) Guia de importação de empresa libanesa estabelecida na cidade

de Rio Grande – RS, de 1893, em nome de Elias Chediac.Destaco agora, pelo sobrenome, as 66 (sessenta e seis ) famílias li-

banesas e sírias encontradas até 1978, em Porto União da Vitória: A - Abdalla , Abrão,Abbas,Assef,Amin ,Ayoub,Antonio,Adib,Ayub;B - Baracath, Bechara,Bogus,Bakri,Barbar,Bufrem,Bittar;C - Chaud,Chaerk,Chami,Charan,Cador,Cheden,Chaibend;D - Domingos,Dipp,Domit,Dequechf;F - Farah,Faraj,Feres,Faret,Fenianos,Fadel;G - Guérios,Guslen, Ghanem;H -Haddad,Hassan,Haj;J - Jorge,Jacob;K - Khalil,Khatib,Kassab,Khury;M - Mussi,Merheje,Mansur,Miguel;

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N - Nemes,Niman,Nammura,Nora;P - Patruni,Pedro;R - Rezek;S - Sfeir,Sawaya,Saliba,Seleme,Safawi,Savoia,Schueiri,Simão;T - Tauille;Y - Yared.Em nossas cidades, muitos sírio-libaneses foram comerciantes de

erva-mate. Um dos maiores foi Zacarias José Guérios.Também, na região, tivemos grandes empresários na área comercial e industrial. Vale a pena destacar, Emiliano Abrão Seleme, de Canoinhas, que em 31/08/1930, fun-dou o Banco Popular Ouro Verde, que teve duração de quase três anos. Também em Canoinhas, o Dr. Victor Dequech elaborou a planta cadastral e o projeto urbanístico das ruas desse município.

Emiliano Abrão Seleme foi o 1º exportador de erva-mate para o ex-terior, e existe uma placa em sua homenagem, no Museu Marítimo de São Francisco do Sul. Cel. Joaquim Domit: radicado em Valões e Porto União, dizia que seu maior feito foi em 1944, onde junto com os amigos Célio Wolff, Herminio Milis, José Grobe, Frei Libório Lueg e João Guilherme Russo (Chumbita), liderou duas entrevistas em Florianópolis junto ao Go-vernador, para conseguir o terreno e a ajuda para a construção do Estádio Municipal de Porto União.Em 1929, o libanês Mansur Sfeir fundou, em União da Vitória, o Jornal “O Município”, hoje um dos mais difíceis e mais disputados jornais de coleção.

Ladislau Kowaleski criou a linha de ônibus União da Vitória-Pal-mas e convidou para ser seu agente o Sr. Mussi Farah. Pelo grande êxito das vendas das passagens em todo o ano, pediu um salário a mais, pelo que produziu uma espécie de primeiro 13º salário em nossa região. O Sr. Kowaleski estranhou o pedido, mas conferiu e reconferiu toda a produção do Sr. Mussi, e no dia 24 de dezembro, à noite, mandou-lhe entregar o en-velope com o dinheiro.

A única arma que os pioneiros sírio-libaneses usavam era um fa-cão tipo meia-lua, chamado klink, que era muito habilmente manuseado. Não usavam arma de fogo em suas viagens pelo interior. Um fato muito importante: por serem os sírio-libaneses ótimos negociantes, foram procu-rados pela Ford do Brasil, para assumirem as principais agências em Santa Catarina: J. Thome, Rio do Sul; João Buatim, Lages,Joinville e Curitibanos; Irmãos Amin (Esperidião Amin Helou, Senior Amin Helou e Dahil Amin Helou) Florianópolis; e Emiliano Abrão Seleme, em Canoinhas.

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Três libaneses fizeram as músicas dos hinos das cidades de: Joaça-ba - SC - Letefalia Jacob; Porto União – Felicio Domit;e de Cascavel - PR - Nedir Salomão.

Encontrei nos arquivos históricos de Blumenau - SC, uma grande liquidação no bazar árabe, que ficava ao lado da estação telegráfica do Sr. José Merebe,em data de 23/06/1900.

Destaque para a libanesa Dra.Adma Nasser, nascida em São João Batista - SC, advogada, professora e jornalista, foi a primeira mulher brasi-leira a se divorciar oficialmente no Brasil. A lei entrou em vigor em 02/1977 sob o nº 6515/77 e em 11/01/1978 saiu o primeiro divórcio oficial do Brasil. Muita emoção ao encontrar, de cabelos brancos, em Itajaí -SC, a primeira libanesa a disputar o concurso de Miss Brasil; Olga Mussi, eleita Miss Itajaí e Miss Santa Catarina, em 1963.Muito entusiasmo ao encontrar lúcido, e em plena atividade, o Dr. Francisco Karam, médico em Videira - SC, hoje com 94 anos, muito ativo na filantropia e contando fatos e histórias ines-quecíveis dos sírio-libaneses que conheceu no Rio Grande do Sul e no Oes-te de Santa Catarina.

Fatos em destaqUe: sírios/Libaneses no Paraná

Aniz Abud: o grande desbravador do norte do Paraná. Fundou em 1940, numa gleba de terras requerida, a cidade de Lupionópolis. Anos mais tarde, seu filho, Ibrahim Abud Neto,foi seu primeiro prefeito.Também em 1950 Aniz Abud fundou o município de Terra Rica. Já seu filho, que tam-bém foi empreendedor, Ibrahim Abud Neto,fundou a cidade de Francisco Alves, em 1961. O nome dessa cidade deveria ser David Nasser, que, ao ser consultado, não aceitou e sugeriu o nome do grande cantor Francisco Alves, de quem era fã. Além dos Abud, foram pioneiros na fundação das seguintes cidades do Paraná: Margarida Wakin- Campo Mourão – 1943, Jorge Fadel - Congoinhas– 1931,João Namer - Entre Rios do Oeste – 1959,Alexandre Nassar - Guapirama - 1918,Pedro e Armando Salomão - Ibaiti – 1927,João Callil - Itambé – 1948, Gabriel Abdalla e Jorge Abrão - Itaperuçu – 1941, David Dequech - Londrina – 1935,Salomão Jorge Hauly, casado com Jamile Ayub Hauly, tiveram uma filha: Nágila Hauly, que foi a primeira registrada em Londrina 1/1/1935,José Jorge Abrão - Maringá – 1942,Farid Sabaine - Mandaguaçu - 1948,Jamil Assad Jamus - Mauá da Serra – 1951,Jmail Sáfadi - Miraselva – 1949,José Felipe Elias - Nova Esperança – 1949,Salim Zaidan - Nova Londrina – 1950,Nicolau Nasser - Ourizona– 1959,Rajah

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Eid - Fayes Eid e Mamed Kalil Dabien ,foram os fundadores de Paranácity - 1948,Narciso Simão - Peabiru – 1946, Abdalla Derbli - Santa Cecilia do Pavão – 1947, Abrão Atem - Santa Mônica-1951,Elias Daher-Santo Antô-nio do Paraiso – 1950,Joaquim Abrão - São Manoel do Paraná – 1956,Feres Bechara - Umuarama – 1954.

Visitei, nos anos 80, em Curitiba, o médico, Dr.Rosala Carzuze,e tive um grande e inesquecível aprendizado. O Dr. Rosala, nascido na Síria em 1906, veio para o Brasil em 1920,instalando-se em Curitiba e, aos 103 anos, faleceu em 2009. Na sua sala tinha um quadro com a Cruz de Mal-ta, perguntei-lhe então se era vascaíno. Ele me respondeu sorrindo: ‘’Que nada, meu filho - Malta vem do Fenício Melita, que significa refúgio,”sendo assim, a cruz de malta: o refúgio na cruz. Falando em Malta, foi o Abade Francês Barthelemy, quem primeiro conseguiu decifrar a língua dos Feni-cios, graças a uma inscrição bilíngue, descoberta na Ilha de Malta.

Que emoção dupla, quando efetuava pesquisas em Curitiba, no ini-cio dos anos 70, encontrei a Sra. Julie Gibran, vejam só, prima do grande e famoso poeta e escritor Gibran Khalil Gibran. A Sra Julie Gibran, que morou por muitos anos na Lapa - Pr, foi casada com o famoso poeta Elias Farhat que, em 1922, venceu um concurso da colônia Sírio-Libanesa de São Paulo, pelo centenário da independência, com um poema que está gravado no parque do Ibirapuera. Elias Farhat faleceu em Belo Horizonte, em 1977, com 86 anos.

Relato a seguir algumas curiosidades interessantes, que foram en-contradas durante as pesquisas pelo interior do Brasil; principalmente, São Paulo. Bauru-SP, foi a cidade no Brasil que mais recebeu imigrantes Sirios/Libaneses. Em 1928 o libanês João Coube fundou a maior tipografia do Brasil: a tipografia e livrarias Brasil: Tilibra. Em 28/02/1964, a cidade de São Sebastião da Borboleta, em São Paulo, passou a se chamar Bady Bas-sit, nome de um deputado estadual, muito atuante, humanitário, na região de São José do Rio Preto, que era libanês. O 1° sírio-libanês a ingressar em uma faculdade de direito no Brasil foi Fares Nicolau Ansarah, em São Paulo, capital e na magistratura, foi Edmond Acar, de Araraquara – SP. O 1° Clube de futebol fundado no Brasil pelos Sírios/Libaneses foi o Sport Clube Sírio, em 14/07/1917, em São Paulo,com as cores vermelho e branco.Depois de muitos anos, deixou o futebol e passou ao atletismo e basquete.O 1° Leão Brasileiro a pertencer ao Lions internacional, é o Libanês Elias Sa-lomão Helou, de Guarajá-Mirim, Rondônia, em 17/03/1952.

Os familiares do pioneiro Rachid Mitre, que fundou a metalúrgi-ca ‘’A Libanesa’’, em 1952, que existe até hoje na cidade de Cláudio-MG,

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possui o mais bem organizado arquivo e museu familiar do Brasil. Camilo Dakashi, Libanês vindo de Salvador-BA, construiu na região da Rua 25 de Março, em 1951, o 1° prédio de apartamentos tipo quitinete, com 30 anda-res e cada apartamento com 20 m². O edifício Camilo ficava na rua Carlos de Souza Nazareth. Em 1941, a família Zarzur, fundou o Banco Mercantil de Descontos- BMD, no Rio de Janeiro.O Famoso Grupo Alfred ,de Caxias do Sul-RS, foi fundado em 1927, por Kalil Sehbe, e teve mais de 4 mil em-pregados, no seu auge.

O Brasil foi o primeiro país a reconhecer a república do Líbano, em 22/11/1943. Em 1930, foi aberto o primeiro consulado Brasileiro em Beirute, e o consulado do Líbano, no Brasil, foi em 1946. O 1° cônsul do Líbano no Brasil foi Hector Klat e o 1° embaixador, Joseph Sauda. A pri-meira farmácia libanesa no Brasil foi aberta em 1916, em Lençóis Paulista – SP, por José Khoury. Em 1924, Jorge Suleiman Yazigi abriu uma grande livraria em S. Paulo, e chegou a cadastrar entre seus clientes, em todo o Bra-sil, 38000 fichas de famílias sírio-libanesas. Esse rico acervo foi queimado num incêndio. Foram os libaneses da família Achkar que montaram a mais importante tecelagem de seda do Brasil. Foi Alberto Fares Achkar e seus familiares que fundaram a tecelagem de seda Achkar, que depois passou a se chamar Textilia, que foi vendida ao grupo Vicunha.

As duas grandes sociedades comerciais do Brasil sírio-libanesas são: UNIVINCO, de São Paulo: União dos Logistas da 25 de Março e a Sociedade dos Amigos e Adjacências, da Rua da Alfândega - Saara, no Rio de Janeiro, fundada em 1962, por Charl Habib. A Rua 25 de Março, em ho-menagem à Primeira Constituição do Brasil, outorgada por D. Pedro I em 25/03/1824. Em 1901 já havia mais de 500 lojas de sírio-libaneses. No ano 1897, nela o padre Mussa Abi Haidar, após rezar a missa num salão de nú-mero 115, organizou a 1ª procissão ortodoxa realizada na América do Sul.

Muito mais teria a relatar, mas finalizo, recordando as sábias pala-vras que o Prof. Aniz Domingos, que me disse um dia, quando lhe fiz uma entrevista:”Aprendi que quem ensina, aprende duas vezes. A felicidade é a soma de momentos felizes. E momentos felizes são aqueles em que nos sentimos vivos, amados, compreendidos, abençoados e acarinhados pelo bem. Quem morre, não morre, mas deixa sua vida na vida que fica, sob a forma de história”.

Muito obrigado, que Deus abençoe a todos.

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DISCURSO CONCLUSIVO DA CELEBRAÇÃO DA MISSA DO 60º ANIVERSÁRIO DA ORDENAÇÃO PRESBITERAL

DE DOM WALTER

Dom Walter Michael Ebejer1

24 de janeiro de 2014 Meus irmãos e minhas irmãs em Cristo, Com a graça de Deus, e em profundo espírito devocional estamos

a terminar a celebração desta Missa em Ação de Graças pelos 60 anos de minha vida sacerdotal, para a maior Glória de Deus.

Sim, o grande valor desta Missa não consiste, em primeiro lugar, em seu caráter comemorativo, menos ainda em seu elemento, quase inevitável, de louvor ou enaltecimento de personagens e suas façanhas, mas, na opor-tunidade que tivemos para glorificar a Deus, o Supremo Idealizador Provi-dente, o Guia, o Sustentador e o Impulsionador de todos os planos de agir, entregues e confiados aos mais fracos e deficientes dos agentes humanos.

Mas antes de me entregar a essas reflexões e elevados devaneios, gostaria de desincumbir-me da grave obrigação de expressar minha sentida gratidão para com todos os senhores, autoridades, civis e militares, compa-nheiros das lutas pastorais, arcebispo, bispos, padres e diáconos, religiosas e leigos, amigos de longa data ou de recentes encontros, conhecidos oca-sionais e os prezados fiéis de nossa amada Igreja. Sinto-me profundamente sensibilizado com essa mostra de amizade e consideração, ao sacrificarem suas férias, chegando de longe ou de perto, possivelmente, modificando, com sacrifícios apreciáveis, sua agenda, em plena temporada de verão.

De minha parte, evidentemente, não pude mudar datas e aniver-sários que aconteceram em pleno inverno, em outro hemisfério do plane-ta! Que Deus lhes pague e retribua com seus mais seletos bens espirituais. Deus, que perscruta o íntimo de mentes e corações, saberá valorizar e pre-miar seus sacrifícios.

1 Membro fundador da ALVI, ocupando a Cadeira nº 09, tendo como patrono Padre Francisco Salache.

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Gostaria, a esta altura de minha vida, de partilhar com os presentes certas reflexões sobre minha vida. Com o salmista digo: “já fui jovem, e sou hoje ancião” (Sl. 36.25). Frequentemente se afirma em ociosas conver-sações: “A vida é curta; passa muito depressa”. Pessoalmente, e com toda sinceridade, não penso assim. Rememorando todas as etapas e os mean-dros de minha vida, fico com a impressão, de que esta vida é longa, muito variada, com capítulos que falam, distintamente, de épocas diferenciadas.

Quando lembro da série de ambientes, locais e eventos, parece que estou revisando longínquos capítulos de atividades, e rememorando even-tos, personagens, situações que estão sumindo no horizonte do olvido. Bate a saudade, porque os que eram muito importantes para mim, simplesmente sumiram no além, não mais nos pertencem.

Um exemplo clamoroso refere-se à minha família; a Irmã Morte ceifou todos: pais, irmãos, parentes; apenas um irmão, acompanhado por sua numerosa família (já tem uma bisneta) vive em Perth, Austrália.

Outros sobrinhos, e sobrinhos netos, etc. vivem espalhados em vá-rios países. Não pretendo visitar a amada Pátria de origem, só para visitar túmulos de familiares e encontrar domicílios vazios.

Minha província dos frades dominicanos, em Malta, praticamente sumiu, sendo eu e uns poucos os supérstites; os atuais frades são uns desco-nhecidos. Melhor ficar com as bonitas lembranças do passado, juntamente com as realidades que me rodeiam hoje, aqui. Praticamente nunca partici-pei de um enterro de um familiar próximo, porque eu estava no Brasil.

Não gostaria de me apresentar, neste último capítulo de minha vida, como alguém se projetando para atrair elogios, louvores ou aplau-sos. Como ancião, refletia diariamente, cada dia mesmo dos últimos vinte e tantos anos, sobre a amiga morte, sob seus vários aspectos. Admito ficar aborrecido com o aspecto feio da corrupção da carne, aspecto já apontado por Santo Tomás de Aquino, mas, para os que confiam no Senhor, a mor-te também representa libertação deste mundo, bonito e caduco ao mesmo tempo, repleto de lágrimas e sofrimentos, para podermos finalmente en-contrarmo-nos com o Pai, em sua mansão eterna. Lembro-me do Beato João Paulo II, que observando as excessivas curas médicas a ele aplicadas, pediu que parassem, porque desejava ansiosamente ver o rosto do Pai. Nós, cristãos, ao menos na fase última da vida, devemos cultivar uma vontade, esclarecida por uma fé adulta, de, finalmente, encontrarmo-nos com Ele, e por Ele sermos envolvidos em suas riquezas misteriosamente inebriantes de eternidade.

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Acreditamos, ou não acreditamos, que a eternidade bem-aventura-da é um estado de felicidade suprema, a ser, portanto firmemente almeja-da? É por isso que uma velhice esclarecida por uma sabedoria acumulada exige ter uma certa expectativa dos bens que o Senhor nos reservou. Aliás, a velhice provecta precisa de uma fé mais robusta. Pode-se deixar envolver em temores, desespero, e abandono de sua fé. O envelhecimento, lento e sofrido, pode servir, para nós, como grande provação. O livro do Eclesiásti-co chamou a nossa atenção para que não se façam elogios precipitados dos homens: ele diz que: “É na sua última hora, que as obras de um homem são reveladas. Antes da morte não louves homem algum, pois no seu fim é que se conhece o homem!” (Ecl. 11, 29-30).

Uma comemoração, como essa de hoje, deve-nos fazer lembrar que os gestos e as façanhas de um evangelizador não são  fruto exclusivo do homem, mas devemos nos lembrar da frase: - “somos servos inúteis”, e direcionar os bens espirituais realizados, à fonte de toda a Vida, nos-so Deus, que usa e direciona os homens e suas atividades conforme Lhe apraz.

Realmente, os homens, deixados a sós, só sabem, em grande parte, criar confusão e desordem. O salmo 36,23-24 afirma isso com clareza: “É o Senhor quem firma os passos dos mortais, e dirige o caminhar dos que lhe agradam; mesmo se caem, não irão ficar prostrados, pois é o Senhor quem os sustenta pela mão”. Portanto, “confia em Deus e segue sempre seus cami-nhos, ele haverá de te exaltar e engrandecer” (Sl. 36,34) – portanto, toda a Glória seja dada a Deus!   

Neste discurso não posso esquecer de agradecer às pessoas que possibilitaram esta celebração de Ação de Graças. Em primeiro lugar, agra-deço sensibilizado a Dom João Barbosa de Sousa, DD. Bispo Diocesano, por deixar à minha disposição a Catedral e este salão de Festas. A certas perguntas que se me fazem, respondo: “Não, o bispo não está me deixando morrer de fome!... por enquanto!” Agradeço ao Cura da Catedral, Pe. Ivo Jablonski, e seu numeroso e zeloso grupo de funcionárias e colaboradores voluntários que assumiram os preparativos de nossa celebração; ao Mo-vimento Serra que se responsabilizou pelo jantar comemorativo, a seguir, e de outros itens. Os seminaristas, na execução das cerimônias litúrgicas; ao Pe. Claúdio Braciak, comentarista e coordenador de todo cerimonial; e aos cantores que nos animaram e inspiraram com seus cânticos. De novo, agradeço aos senhores Bispos e padres, religiosas e leigos, que nos enrique-ceram com sua presença e orações.

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Finalmente, e principalmente, quero tecer uma ladainha de grati-dão, a Deus, nesta última etapa de minha vida:

- Obrigado, Senhor, pelo Dom da Existência, da Vida e da Fé; por-que me amastes desde toda a eternidade.

- Obrigado, Senhor, pela família cristã que me destinastes, espe-cialmente por meu santo pai.

- Obrigado, Senhor, pela vocação religiosa e sacerdotal, que me foi dada sem eu merecer, nem desejar, porque foi pura graça.

- Obrigado, Senhor, pela família dominicana de Malta, que me acolheu, muito jovem e me acalentou, formou e acompanhou.

- Obrigado, Senhor, pelos formadores e amigos que colocastes no meu caminho.

- Obrigado, Senhor, por meus antigos colaboradores: padres, re-ligiosos e religiosas, diáconos, seminaristas, catequistas e uma legião de ministros e colaboradores leigos.

- Obrigado, Senhor, porque me facilitou trilhar o Caminho da Santidade, proporcionando-me a vivência da pobreza pessoal, colocando-me, repetidamente, frente a uma série ininterrupta de paróquias novas e pobres, ainda por construir.

- Obrigado, Senhor, pelas realizações materiais e espirituais de mi-nha vida, inspiradas e apoiadas por sua Divina Força e Graça, durante 60 anos de vida sacerdotal.

Finalmente, muitíssimo obrigado, Senhor, antecipadamente, pelo trecho de vida futura, longa ou curta, que já me destinastes a percorrer, e pelo trabalho por seu Reino que ainda conseguirei realizar até o fim de minha vida: “O Zelo da Casa de Deus me Devora”.

Meu Senhor, apenas uma só coisa almejo e peço encarecidamente, que na hora da minha morte, eu encontre um cantinho qualquer, na man-são divina dos eternamente bem-aventurados, com Maria, nossa Mãe, e os demais Santos.

Assim seja, Amém!

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DISCURSO PELO 14º ANIVERSÁRIO DE CRIAÇÃO DA ALVI

MAIO DE 2014

Joaquim Osório Ribas1

Cumpro, neste momento, a honrosa incumbência com que a Aca-demia me distinguiu:  a de proferir a oração comemorativa de seu décimo quarto aniversário de criação. Porém o Criador alterou o nosso protocolo, chamando a homenageada Zelir Pelegrini para o outro plano da existên-cia humana.  Talvez para conferir-lhe uma honra muito maior e definitiva pelos seus reais méritos. Valeu nossa intenção de homenageá-la em vida e, por decisão de nossa Presidente Leni, prestamos a homenagem póstuma.

As Academias de Letras tiveram origem na Academia Francesa, fundada por Richelieu, em 1635, para consagrar pessoas notáveis por tra-balhos feitos na área das ciências, da política ou das belas artes.Criou-se um instituto padrão para imortalizar a pessoa, em vida, pelo valor do que realizou, como indelével sinal deixado aqui na terra.

A Presidente Leni concedeu a honra de falar sobre a história da Academia, que comemora mais um aniversário. Distinção decorrente do fato de ter sido eu o seu primeiro Presidente e que compartilho com a Pro-fessora Therezinha Wolff, que esteve ao nosso lado, desde o primeiro mo-mento, no esforço pela criação da Academia.

A nossa história começa com a decisão da Academia Paranaen-se de Letras de implementar um projeto de interiorização das atividades culturais.  O caminho traçado sugeria a criação de academias de letras no interior do Estado. As cidades de Londrina, Ponta Grossa, Maringá e União da Vitória foram as primeiras escolhidas.

Como todo o projeto grandioso, no início parecia impossível. A ideia de criar uma Academia de Letras nos assustava.  Seria muita ousadia pensar em criar um Cenáculo de tamanha envergadura para abrigar o pa-trimônio literário e cultural local.

1 Membro fundador da ALVI, ocupando a Cadeira nº 03, tendo como patrono An-tonio da Lara Ribas

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Porém, passado o impacto inicial, consolidou-se o pensamento de criar a Academia possível, isto é, reunir uma confraria de devotos da lín-gua nacional, pessoas comprometidas com o processo de construção da identidade brasileira, que se engajariam no movimento desencadeado pela Academia Paranaense de Letras.

Aceitamos o desafio, dando início à caminhada que, após um ano de trabalho, dúvidas e algumas incompreensões, culminou com a instala-ção da Academia de Letras do Vale do Iguaçu. A comissão organizadora composta por Joaquim Osório Ribas, José Fagundes e Therezinha Leony Wolff foi assistida pela Academia Paranaense de Letras, por meio de seu confrade, Professor Filipak, e com o integral apoio da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras que, inclusive, nos cedeu suas instalações.

Voltando à história da Academia, lembro-me da comissão especial para estudar os currículos de 46 inscritos, dos quais foram aprovados ape-nas 28, permanecendo 12 cadeiras vagas. Houve reclamações de preteridos, protestos por escrito, mas fizemos questão de obedecer às normas estabe-lecidas e a Comissão Organizadora acatou as escolhas. Para patronos das cadeiras foram imortalizados nomes de pessoas falecidas que tiveram papel importante na construção da comunidade local.

Os estatutos fixaram como objetivos da Academia: a defesa da lín-gua nacional; a preservação da identidade brasileira por meio do estudo da história; a divulgação e crítica de estudos históricos, literários, científicos e artísticos.

Entre as atividades desenvolvidas pela Academia, nesses quatorze anos de existência, podemos registrar:  o lançamento de livros; publica-ções de diversos artigos em colunas de jornais e revistas; a revista anual da Academia; programas culturais na rádio e na TV; seminários sobre o Contestado e sobre o Tropeirismo; reconstituição do Caminho das Tropas de Palmas-Palmeira, sessões cívicas por ocasião dos aniversários de nossas cidades e em datas nacionais. Efetivamos reuniões conjuntas com outras academias: -  uma com a de Palmas e outra com as de Guarapuava, Irati e Mafra. Em todos os eventos abertos ao público procuramos valorizar os ar-tistas, pintores, músicos, poetas e escritores da cidade, convidando-os para mostrarem ao público os nossos valores maiores; com a colaboração das Prefeituras erguemos marcos e monumentos em nossos Municípios, para assinalar fatos importantes de nossa história.

Instituímos, também, o tradicional chá, realizado no sábado à tar-de, uma vez por mês. Nesse encontro um acadêmico ou algum convidado

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especial expõe um tema de filosofia, história ou literatura, para discussão entre os presentes. Nessas oportunidades tivemos momentos luminosos, em que ideias foram fertilizadas pelo conhecimento científico. Uma esplên-dida conquista da Academia foi trazer de volta para o convívio sociocultu-ral pessoas mais velhas, que estavam acomodadas.

Criamos a comenda “Pinhão do Vale”, para agraciar, anualmente, duas pessoas que tenham prestado relevantes serviços à sociedade. Uma no campo literário e outra no campo social. Hoje, para felicidade nossa, vemos duas personalidades agraciadas: pessoas humildes, desprovidas de poder econômico ou político: uma que no silêncio do Hospital São Bráz, Sani, prestou toda a dedicação, durante muitos anos, para amenizar a dor dos enfermos, e o artista Ulysses, que retratou em seus quadros a história de Porto União da Vitória. São verdadeiros exemplos de cidadania hoje colocados em relevo.

Nossa grande preocupação é seguir a unidade de doutrina, da coe-são espiritual que norteia a vida das Academias de Letras.  Espelhamo-nos na Academia Paranaense de Letras e em outras Academias, para não fugir dos elevados objetivos de legítimo órgão de cultura, como deve ser a Ins-tituição.

Parabéns, ALVI! Feliz Aniversário!Muito obrigado!

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HOMENAGEM PRESTADA À ENFERMEIRA ZELIR PELEGRINI

31 DE MAIO DE 2014

Therezinha Leony Wolff 1

Com honrosa incumbência saúdo a Senhora Leni Trentim Gaspari, Presidente da Academia de Letras do Vale do Iguaçu, o Senhor Pedro Ivo Ilkiv, Prefeito Municipal de União da Vitória, e, em seus nomes, as demais autoridades e os nossos homenageados da noite, o Dr. Ayrton Martins, re-presentando a Senhora Zelir Pelegrini, e Ulysses Teixeira.

Cumprindo o ritual desta solenidade, coube-me apresentar a ho-menageada, escolhida pelos integrantes da Academia de Letras do Vale do Iguaçu, por sua devoção de amor ao trabalho em prol da vida humana.

Se Bituruna teve a honra de ser o seu berço, no dia 20 de outubro de 1927, Porto União, desde 1941, tem seu nome projetado na história dos pri-meiros atendimentos do Hospital São Braz, na enfermagem em geral, nos serviços de assistência na sala de cirurgia e a parturientes, naquela Casa que adotou como seu lar. Azelir ou Zelir Pelegrini, para todos apenas um nome pequenino que corresponde a sua estrutura física, em oposição à grandeza de sua humildade: Sani. E, completando, como se fora parte do seu nome: Sani do Hospital São Braz.

Filha de Paulo e Francisca Pelegrini, que por toda sua dedicação, competência e amor ao próximo, pelo reconhecimento de todos quantos a conhecem, tornou-se um símbolo na saúde de Porto União da Vitória. Mas a fama não lhe endurece a alma e nem dela se envaidece. No pequeno Hospital onde iniciou um trabalho, descobriu-se como necessária em todas as ocupações.

Com o passar do tempo, consolidou-se o conceito do estabeleci-mento, havendo necessidade de ampliação das instalações, de adaptação ao uso de novos equipamentos. Com um volume de mudanças, cresceu a responsabilidade do Hospital e de sua equipe. Nossa homenageada de hoje tudo acompanhou, atualizando-se, pela força de vontade e por se curvar natural e respeitosamente, aos seus superiores.1 Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 20, tendo como Patrono Yvonnich Furlani.

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As dificuldades pelas quais passava o Hospital eram também as suas, a tal ponto que além de cuidar da saúde das pessoas, tantas vezes, realizou trabalhos da cozinha, de limpeza e alguns cabíveis a profissionais no ramo: encanadores, carpinteiros, horticultores e jardineiros.

A dignidade de Sani é reconhecida diante de coisas que nobilitam a essência humana: o sofrimento, a renúncia, a dor, a solidão e a morte. De compleição franzina, desapegada aos bens materiais, falando pouco, pre-ferindo ouvir para melhor observar. Retraída, não se importando jamais com seu visual. Avessa a reuniões sociais, sempre teve entre suas grandes amizades, a de médicos, enfermeiros, funcionários, que no Hospital São Braz foram, e são, a sua querida família. Era para essa Casa de Saúde que convergiam pessoas, não só de Porto União da Vitória, mas também do sul e sudoeste paranaense e norte-catarinense. Pioneiro, principalmen-te, em trabalhos cirúrgicos, com o Dr. Lauro Müller Soares, médico que Sani teve como amigo, protetor e professor, pois com ele muito aprendeu. Tanto que, quando o médico foi tomado pelo fascínio da política e dei-xava em parte seus compromissos com o trabalho clínico, era Sani quem se encarregava de dar atenção à sua clientela, principalmente, à menos aquinhoada.

Por todo seu mérito, reconhecido pela população e poder público, Sani não se furtou ao convite de receber o título de Cidadã Honorária de Porto União, por meio do decreto nº 24/95 do Poder Legislativo, em 31 de agosto de 1995. A sessão de outorga do título foi realizada na Sociedade Be-neficente e Recreativa Aliança Operária, cujas dependências da área social ficaram completamente tomadas.

Sabemos que ter crença faz a esperança do mundo, é da essência racional do ser humano. Religiosa convicta, Sani aceitou seu trabalho, tal fosse missionária, a cumprir um juramento.

Conheci mais de perto a nossa homenageada, quando fui mãe pela primeira vez, em 1956. Primeiro filho, parto sempre um pouco mais demo-rado, 24 horas de espera num quarto do Hospital. Seguidamente a porta se abria e lá entrava Sani, trazendo um pouco de alivio. As palavras denun-ciavam sua descendência italiana: “Tudo bem? Vai tomando esse sazinho que azuda bastante”. Já no segundo filho, parto rápido, numa madrugada de dezembro, quando o racionamento da luz elétrica estendia-se das 24h ao amanhecer, lá estava a decidida Saní, num dos quartos de madeira, am-pliação na ala direita do Hospital, apenas com uma lanterna de pilhas, aju-dando a vir ao mundo um querido garotão.

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 169

Nunca imaginei que o meu caminho e o meu destino viessem um dia se encontrar aqui, para homenagear a mulher corajosa, capaz de me animar e de socorrer nas horas difíceis, de trazer dois filhos ao meu regaço.

Certamente a concessão da Comenda Pinhão do Vale é uma singe-la homenagem, que, em nome da Academia de Letras do Vale do Iguaçu, é designada àquelas pessoas que têm uma participação importante, que se projetam em sua terra natal ou de adoção. Hoje temos orgulhosamente o prazer de outorgar também essa condecoração ao amigo, artista plástico, Ulisses Teixeira, que vem levando o nome desta terra, de forma tão bela, por nosso imenso país e por vários outros. Para Ulisses, os nossos parabéns e reconhecimento.

Por fim, agradeço aos meus confrades a oportunidade que me de-ram de particular e publicamente apresentar e homenagear Sani, enalte-cendo-a por todos os verões ensolarados, os invernos nevoentos, sem tirar uma soneca, percorrendo os corredores do Hospital e, de porta em porta, atender, sem preferências ou preconceitos os que precisavam de alento.

Transcendendo décadas e anos na sublime missão de ajudar a viver, desejamos-lhe que as bênçãos divinas a encoragem para sempre, na senda da paz, junto ao nosso Pai Celestial.

Observação : o Diploma e a Comenda Pinhão do Vale foram en-tregues à Dra. Magali Unterstell Brittes, tendo em vista que a homenageada faleceu na madrugada do dia 31, exatamente quando receberia a Comenda.   

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 171

HOMENAGEM PÓSTUMA À SRA. ZELIR PELEGRINI

Dr. Ayrton Martins

Presidente da Academia de Letras Vale do Iguaçu, Sra. Leni Tren-tim Gaspari, componentes da mesa, caros acadêmicos, ilustre homenagea-do, Sr.Ulysses Teixeira, senhoras e senhores, boa noite.

A homenageada desta noite incumbiu-me de, em seu nome, fazer o agradecimento pela honraria por ela recebida desta Academia de Letras. Adoentada há vários dias, aos cuidados dedicados e carinhosos de seu car-diologista, Dr. Cezar Augusto Pinto Lemos, e de seu cirurgião Dr. Daniel Thadeo Sens, estava em recuperação, até já deambulando pelos corredores do seu hospital. Quando o Dr. Cezar sugeriu a ela que talvez fosse melhor que não fosse à cerimônia, ela incisivamente disse, a seu modo: “se toda esta gente resolveu me homenagear, não sei se mereço: faço questão de ir.” Estava preparando-se e até a Dra. Magaly cortou seu cabelo.

Zelir Pelegrini, a nossa Sani, chegou ao hospital aos 7 anos de ida-de, quando foi trazida para consultar, logo após ficou definitivamente ali morando,e, desde os 13 anos, trabalhando diuturnamente, até há poucos dias, sempre pensando no seu São Braz. Conta que, quando muito jovem, na ausência do Dr. Lauro,uma gestante entrou em trabalho de parto e ela, inexperiente, conseguiu auxiliar e amparar o nenê,colocando-o ao lado da mãe, e, ao notar aquele cordão, que até então não sabia o que era, foi aos poucos tracionando até sair a placenta, leva um susto e sai correndo pelo corredor, encontrando com o Dr. Lauro que retornava e, apavorada, disse: puxei a bexiga da paciente, sendo de pronto confortada e esclarecida, se-guindo, ambos, para dar atenção à gestante. Foi sua iniciação.

Aprendeu, na prática, várias aptidões dentro da área de saúde, cul-minando por ser responsável pelo setor de material cirúrgico, o que fazia com extremo esmero, limpando peça por peça, metal por metal, para man-tê-los todos bem esterilizados. O baixo índice de infecção hospitalar do São Braz, um dos mais baixos do Estado, deve-se muito a ela. Não podia ouvir reclamação de que uma tesoura ou uma pinça não funcionavam a contento, que, de pronto, ela mesma comprava, com seu dinheiro, e repunha o ma-terial, tendo comprado de uma só vez 100 pinças e várias tesouras, com-pondo vários estojos para suturas, o que motivou a direção a pedir a todos

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cirurgiões e auxiliares que não manifestassem seu reclame próximo a ela e, sim, levassem o material a ser substituído para a administração fazer sua troca ou conserto

Lá pelos anos de 1954/1955, ao passar pelo corredor, foi chamada pelo Dr. Lauro,que a apresentou a um senhor e disse a ele: aqui você tem mais um voto garantido. Agradecido, dirigindo-se a ela, perguntou: “Meni-na, o que você precisa?” E ela respondeu: “Eu nada, mas o hospital precisa de algumas panelas, e então ele retirou do bolso 50 cruzeiros e entregou à Sani. Era o Dr. Jucelino Kubitschek de Oliveira, que visitava seu contempo-râneo da Faculdade de Medicina da UFMG, Dr. Lauro Müller Soares, que dali juntos saíram, descendo a Rua Frei Rogério até a esquina da Rua Sete de Setembro,onde, junto com o Sr. Paulo Ivo Rodrigues, foram tomar uma pinguinha.

Quis o destino que na noite de ontem a Sani fosse acometida por um quadro abdominal agudo e submetida a cirurgia de urgência, vindo a falecer na madrugada do dia de sua homenagem, tendo sido sepultada há pouco, em Bituruna, junto a seus pais.

O Hospital de Caridade São Braz está de luto, e seu integrantes cho-ram a perda de um pilar da entidade, o mais humilde, o mais modesto, mas certamente um ENORME pilar, de imensurável valor humano, que marcou e marcará a história de tantos, pois deu para o hospital uma vida de traba-lho, de dedicação. Os médicos que tiveram o privilégio de sua convivência e, principalmente, de trabalhar ao seu lado, desde quando os cabelos dela ainda eram pretos, jamais a esquecerão.

Agradecendo a indicação de seu nome pelo acadêmico professor Aluizio Witiuk e a professora Terezinha Wolff, pelas emocionadas palavras, também o faço a todos imortais da Academia de Letras do Vale do Iguaçu.

Na frase de John Fitzgerald Kennedy, a nossa Sani nos exige que jamais perguntemos “o que São Braz pode fazer por mim? Mas, sim, o que eu posso fazer pelo São Braz”. Obrigado à Sani pela honra de poder repre-sentá-la.

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 173

SESSÃO SOLENE OUTORGA DA COMENDA PINHÃO DO VALE

31 DE MAIO DE 2014

Ulysses Reis Teixeira1

Bem... Boa noite a todos! Primeiramente, quero dizer que é uma grande honra estar aqui. É uma grande honra partilhar este momento com vocês, meus queridos amigos, meus amigos de sempre.

A arte me trouxe aqui! Então meus agradecimentos a ela, por me proporcionar este momento maravilhoso, momento mágico!  O Caminho construído não foi fácil. Foram muitas horas de estudo e trabalho. De ris-cos e rabiscos, procurando, na linha, a verdade das cores. Procurando, nas cores, a perfeição das linhas. Procurando, nas tintas, os sentimentos e as emoções que carrego.

Lembranças de tantas histórias, dos caminhos do Lina Forte. Do Bairro São Pedro que me viu crescer, daquelas cores, que já tão pequeno, adivinhava nas manhãs de geada e frio, nos caminhos do Colégio São José, das minhas primeiras tentativas de ensaios e garatujas.    Lembranças da-quelas tardes na sala de casa, com meu caderninho de desenho, tentando copiar um Mickey ou um Pato Donald... depois, bem mais tarde, a paisa-gem que se descortinava pela janela da sala: a imponente Igreja do Ucraíno, como chamávamos. Nas longas tardes de inverno, ao lado do fogão de le-nha, em riscos desordenados, a paisagem que surgia pelas frestas da janela.

Eu sempre pensei em Arte e em colorir um pouco mais o mundo.Sempre pensei no trabalho dos artistas, rodeados de modelos, de cavaletes. Das tintas que se misturavam... desses verdes azulados, amarelos queima-dos, vermelhos que se mostram tão intensos quanto as tardes de outono. 

Então, a Escola de Música e Belas Artes. Finalmente, o sonho rea-lizado. Com os olhos de um jovem pintor, pelas correntezas do rio Iguaçu, desci barrancas, com lápis e caderno, riscando, quando menino, essa pai-sagem que se abre em esplendoroso arco –íris de cores matizadas. No Rio da Areia, sentei em gramados de charco e pintei um quadro a óleo, de que gosto muito, sentindo a brisa que perpassava e o doce balançar daqueles aguapés: Rio da Areia dos meus tempos de piá.

1 Ulysses Reis Teixeira, artista plástico e Comendador da ALVI.

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Tingi pedaços de pano, dessas cores esverdeadas, dessas cores azuladas que se misturam tão lindamente com ocres e vermelhos, numa deliciosa ciranda de águas que descem para Porto Vitória. Lindas tardes de poesia e tintas. Escorrem em minha memória o Campinho de futebol que havia na fábrica do Gugelmin. Aqueles domingos de bater bola com os amigos  que, depois, em casa, tentava reproduzir incansavelmente. Sempre perdido entre riscos e rabiscos!

Despertada a arte em mim, tudo se transformou em inspiração. Orientado pela minha primeira mestra, Dona Sônia Bortolon, que com sua paciência e dedicação, ordenou em mim, o traço e as cores que estavam espalhados em minha alma e que ajudou, enormemente, a ser o artista que hoje sou. Pelas suas mãos, adentrei nesse mundo mágico das tintas escolhi-das e do desenho afinado. Meus agradecimentos a ela. 

Agradecimentos eternos aos meus pais, Affonso Reis Teixeira Fi-lho e a minha mãe, Nilce da Silva Reis Teixeira, que souberam fazer aflorar em mim o gosto pela arte. E que não mediram esforços para a minha for-mação pessoal e artística. Aos meus amigos queridos, aos meus queridos irmãos, Virgínia, Siomara e Marcos de saudosa lembrança, que tiveram a paciência necessária para que posassem, vez ou outra, para meus estudos e trabalho. À minha esposa, Joana Smikaluk, pela imensurável paciência e a minha querida filha, Danyelle, que me acompanhou em muitas tardes e noites, no silêncio do Atelier. 

Viajando pelos corredores do tempo, visualizo a tragédia que se abateu sobre nossas queridas cidades no ano de 1983: a Grande Enchente. Fiz dessa besta, visões para o meu trabalho. Mesmo tomado de profunda tristeza, tive que, como um repórter de pincéis e tintas, retratar tudo aquilo, para que pudesse fixar no tempo, e mostrar a comoção que senti. 

Assim nasceu a obra a “ GRANDE ENCHENTE “,  que mais tarde, em 1994, em Curitiba, ganharia importante prêmio nacional. Criei paisa-gens de barro, dessa profunda tristeza que se abateu sobre a cidade. Tive que retratá-la em quadros Surrealistas, pois as cores que me vieram foram tão fortes, como fortes eram aquelas imagens aterradoras que via. Meus caminhos encharcados pela água do rio, a lua que caía por trás do azul prussiano dos morros. 

Mas antes disso, vieram os Murais de 1989. Numa iniciativa do nosso querido e inesquecível artista, Amadeu Bona, um grande amigo de conversas e paleta, pude realizar, junto com artistas locais,  os trabalhos nos Muros da FAFIUV. Trabalhos esses que resistem até hoje. Assim nasceram

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 175

os murais “ A GRANDE SERPENTE “ e o “ JOÃO MARIA “, o monge das visões de tudo aquilo. Cenas fantásticas que povoaram meu imaginário e nas quais pude mostrar a dor e a tristeza que moravam nos olhos e no co-ração de todos. 

No Jornal Gazeta do Povo, uma das maiores críticas de Arte do País e já falecida, Adalice Araújo, chama-me de “BOSCH TROPICALIS-TA”, num paralelo ao artista holandês Hieronimus Bosch e seu trabalho  fantástico.

Nesses meus caminhos, sempre procurei levar e elevar o nome da cidade em que nasci: Porto União da Vitória, dos meus sonhos de menino; das minhas primeiras garatujas. 

Hoje minha arte cruzou continentes, tornou-se conhecida e admi-rada em vários idiomas. Do Inglês ao Russo, do Árabe ao Holandês. Minha cidade de Porto União da Vitória sempre caminhou junto comigo por essas conquistas, e está adormecida sob cada linha que traço, sob cada mancha que faço, no meu trabalho de Arte.

Obrigado, mas muito obrigado mesmo, pela presença de todos. Foi uma grande honra compartilhar com todos essa grande honraria: A CO-MENDA PINHÃO DO VALE DO IGUAÇU. Continuarei, se Deus assim o permitir, com meu projeto de Colorir um pouco mais o mundo, trazendo aos olhos de todos o que o meu coração sente e os meus olhos contemplam. 

Meu muito obrigado à Acadêmica Margareth Rose Ribas, pela in-dicação a essa grande honraria. Obrigado, professora Lení Trentím Gas-pari, Presidente da Alvi, e  a todo o Colegiado de Acadêmicos, por terem aprovado por unanimidade o meu nome. Agradecimentos aos meus que-ridos amigos, aos meus amigos de uma vida inteira, por terem vindo até aqui, para que, como já disse, participarem comigo deste momento mágico.

Sintam-se abraçados! Deus nos abençoe! Boa Noite!  

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SAUDAÇÃO A ULYSSES TEIXEIRA (31/05/2014)COMENDA PINHÃO DO VALE

Margareth Ribas1

Professora Leni Trentim Gaspari, presidente da ALVI, demais au-toridades já nominadas, Ulysses Teixeira, homenageado desta noite, se-nhoras e senhores, boa noite. Uma reverência especial para a senhora Zelir Pelegrini, que homenageamos in memoriam.

Coube a mim apresentar o renomado artista plástico, ULISSES LUÍS ANTÔNIO REIS TEIXEIRA, grande merecedor da Comenda Pinhão do Vale. Ulysses é nosso conterrâneo e tem levado o nome de União da Vitória para o mundo, no meio da sua arte. Nasceu em União da Vitória, Paraná, se-gundo filho de Nilce da Silva Reis Teixeira e de Affonso Reis Teixeira Filho.

Ulysses passou toda a sua infância e adolescência em União da Vi-tória. Em 1965 iniciou seus estudos na Escola Lina Forte, no Bairro Rio D’areia. Em 1970 ingressou no Colégio São José, em Porto União.  A partir daí começou o seu gosto pela literatura, principalmente, por Vinícius de Moraes e Augusto dos Anjos. Também começou a ter contato com a pin-tura e com o desenho. A paixão por essas disciplinas o levou, mais tarde, a formar-se na Escola de Belas Artes do Paraná, em Curitiba. Em 1971 parti-cipou de um curso de pintura das Tintas Acrilex, na Livraria Giza. Essa ex-periência incentivou-o a alçar voos mais altos como artista. Nesse mesmo ano ingressou no Atelier de Pintura de Sônia Will Bortolon, tendo recebido grande incentivo para o seu destino. Sempre dedicado aos estudos, passava horas e horas dos seus dias a rabiscar folhas e mais folhas de papel. Dese-nhava, criava, inventava, copiava e reproduzia incansavelmente.

Ulysses também era muito solicitado pelos colegas de turma, para que desenhasse, atendendo-os prontamente. No Colégio São José, circulava o jornalzinho “Dinamite”, e os leitores se deliciavam com as caricaturas dos professores e colegas feitas por você... Eu era uma dessas leitoras. O jovem Ulysses praticava seus desenhos e escrevia seus primeiros versos baseados em Casimiro de Abreu e em Vinícius de Moraes. Romântico... Lia os poe-mas com prazer, diariamente. Em 1975, publicou seus primeiros versos no 1 Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 40, tendo como patrono João Túlio Marcondes de França.

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Jornal Caiçara. Do conselho editorial do jornal, da família e dos amigos recebeu grande incentivo para que continuasse escrevendo seus versos, pu-blicou-os em 1977. Paralelamente com a pintura e com os poemas, abraçou a carreira de atleta no karatê.

Dedicou-se a esse esporte, com a mesma determinação dedicada à pintura e à poesia. Sonhou em ser campeão do Estado e realizou esse so-nho, por várias vezes. Integrou também a seleção do Estado do Paraná, em campeonatos importantes pelo país.

Em 1978 concluiu o Ensino Médio no Colégio São José. Seguiu para Curitiba, para fazer cursos de preparação para o vestibular. Seu grande sonho sempre foi a Escola de Belas Artes do Paraná, mas primeiro tentou, sem obter sucesso, os vestibulares para Educação Física, Engenharia Ci-vil e Arquitetura.  Deus havia reservado outro caminho para você, amigo Ulysses...  Então ingressou na Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP) e tornou- se Bacharel em Pintura, em 1981.

Estudo, treino, pintura e poesia... Essa era a vida do jovem Ulysses na capital paranaense. Ulysses continuou escrevendo seus versos e reali-zando seu trabalho como pintor e desenhista, e, para sobreviver, começou a trabalhar em agências de publicidade.

Em 1986 casou-se com Joana Smykaluk, passaram a residir em Curitiba e, dessa união, nasceu Danyelle. Em 1988 voltou a morar em União da Vitória e junto com pintores locais, como Amadeu Bona, Renato Ruschel e Beatriz Bolbuck, entre outros, fundaram a Associação de Artistas da cidade. Pintou murais sobre as enchentes, e um, muito especial, que pas-sou a fazer parte da história das Cidades Gêmeas: o painel do monge João Maria, pintado na parede lateral da FAFI, atraindo até hoje a atenção dos munícipes e de turistas. Ulysses passou a ser considerado pela imprensa local como o introdutor do modernismo na cidade, influenciando vários jovens artistas locais com a sua pintura original e livre.

Amante das paisagens de sua terra natal, dedicou pinturas a elas, também a pinturas de flores e de animais. Depois do ano 2000, abandonou a propaganda e começou a pintar incessantemente. Seus motivos são intei-ramente de atelier. Fazendo arranjos de flores, esculturas, pássaros empa-lhados que, com o seu talento e inspiração, parecem vivos.

É emocionante acompanhar os seus trabalhos postados no ‘face-book’, querido amigo,  primeiro surgem os esboços, seguem explicações das luzes colocadas, música ao fundo, no vídeo, enquanto trabalha, e, quando apresenta a obra, uma linda poesia faz-nos viajar diante de tanta beleza.

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Como estas sobre  as telas:

CAMPEIRO

“Nesse olhar de caminhos infinitos, segui por essas montanhas e fiz do pincel meu baio gateado. Gostei da pergunta que ficou estampada na composição final: que caminho seguir? Nesses misturados de amarelos abraçados, desses ocres rosados, arderam azuis profundos de tão verdes, num silencioso trotear de gaúcho e cavalo, riscados desse minuano quei-mando orelhas. Gracias, João Batista Brandão, pela imagem forte, desse seu solitário caminho de seguir, de versos e campereadas.”

DARTANHÃ

“Particularmente, gostei do avermelhado do pelo. Da crina sol-ta em desalinho, como que soprada por um minuano andarilho. Gos-tei muito desse azulado de crina, que vai se perdendo em avermelha-dos laranjas, até terminar em ouro. O pincel correu nervoso, pelo dorso, em claros amarelos de arreios. Trabalho terminado num final de tarde, com um sol colorado deitando em serras azuis da minha imaginação. Saudades do meu Rio Iguaçu, descendo em curva, por entre os pilares da Ponte Nova...”

 FREI DIONISIO VERONESE

“Nos delicados tons perolados, a imagem de um certo Dionísio Frei,

que andou por essas estradas do Rocio. Trabalhei nas várias nuances

por luares que escolhi, entre transparências de marrons, 

em suavidade de ocres. Criei em tons de porcelana e mel

a doce imagem desse santo homem que  caminhou calçadas,  abençoou gentes, em extraordinário percurso

de desapego e louvor. Nesse toque de pincel fiz degradês, 

criei réstias de sol em semblante de santo.

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Resultado esperado em iluminado de palheta, de róseos tons aos verdes apagados, vermelhos intensos que terminaram

em suave curva de batina. Adeus que nos deu, 

cansadas pernas de caminhar e lida. Céu de União que se fez

de azulado, em entardecer de emocionar. Memória que me traz doce Dionísio, em calmo caminhar de abençoado

em silêncio de rezar.”

GALO

“Canto madrugador em terreno de barro de ocres e amarelos, misturados terras,

bailado de chuvarada em respingado de cinzas, dourados carmins em palheta de tons.

Lembranças da antiga casa  em voos delicados sobre parreiral

de bandos desorganizados, salpicado céu em voo de pombinhas. Gramados que pisei quando menino

pelo Bairro São Pedro, atrás de bola e pandorga.

Galo do quintal de casa, tão bem cuidado pelas mãos de um certo menino que partiu.

Mano que com mãos de acariciar, embalava em colo de criança, coelhos e porquinhos.

Gostei do resultado dessas tintas bem cuidadas, da fineza dos retoques em delicado passeio de pincel,

desses intensos vermelhos em rugosa tez. Em tela de pano estampado

o galo engalanado  de ondulada crista.

Orgulhoso tenor daquelas madrugadas, de sangrar horizontes de amanhecer

em canto jovial de trovador.”

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GURIA

“Longas horas de esboços em pontão de lápis, riscados verdes de pincel, encantados azuis. Planos definidos, retoques entrando madrugadas. Cavalos e peões, feitura de borrões em sutis toques de cerda. Ricos amare-los em distância de morro, que se mostrava em semicírculo delicado. Vento acariciador de lenço e cabelo. Imagem que embalei, em trabalho de arco-í-ris de paleta. Trabalho findo, surge a perfeita estampa da mulher campeira. Ensolarado dia de cavalgar: no vagaroso trote do cavalo “ DKP “, imagino estradas que não andei, mas que estampei na delicadeza da linha, no colo-rido da forma. Gracias Camila por emprestar « muy buena « imagem para os olhos encantados desse pintor.”

RETRATO DA MÃE

“Sobre o cavalete a tela ficou repousada, desenhada a lápis de ponta fina...longas semanas de contemplação. A primeira camada recebida, foi por transparente carmin, aguado, em longas pinceladas de pelo largo. De-pois, as outras, em intervalos de secagem,aproveitando as tardes de calor e aquele vento morninho. Os Suaves efeitos de fundo, foram feitos com tons claros de azul, como moldura, em ocres misturados, num arredondado de manchas. Trabalhei muitos dias na feitura da roupa e nestes reflexos de meios tons rebaixados...matizados prussianos, esverdeado cobalto em teci-do de cetim. Gostava de pintá-lo ao amanhecer, pois nessas horas a luz que entrava pela vidraça, se debruçava no branco amarelado da tela e se perdia num crescente degradê de tons suaves. Dei ênfase ao sorriso que cativa, pelo avermelhado do lábio e se perde pelo olhar em castanho de contem-plação e cuidado.

Pintura de minha mãe em retrato de parede eternizado em vermelho de rosas 

dúzias perfumadas de tinta e pincel em queimado buquê de amarelo.”

 RETRATO DE PALHAÇO

“O retrato tinha que ser fiel ao espírito do carnaval. Então, pincéis carregados de tinta, encorpados vermelhos, alaranjados no doce balanço

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dos carmins. Finíssimas passagens de tons, formas geométricas num fun-do indefinido, como papel picado erguido pelo vento. No desenho original eram confetes, que depois de alguns estudos, pousaram suavemente na rou-pa branquíssima e larga, como manchas. O riscado da gola, descrevendo a curva sinuosa e frágil da serpentina que cai, em movimento ritmado. Retra-to de Palhaço! Lembranças das noites de Aliança e Concórdia. Da folia que se fazia e daquelas manhãs de sol, no azul turquesa dos morros...”

Ulysses é membro da Academia de Cultura Precursora da Expres-são de União da Vitória e de Curitiba; da Academia Niteroiense de Belas Artes, Letras e Ciências de Niterói - Rio de Janeiro; da Confederação Bra-sileira de Letras e Artes. Embaixador da Paz da Confederação Brasileira de Letras e Artes  em 2013. Participou de várias exposições coletivas e in-dividuais em União da Vitória - PR, Florianópolis - SC, Telêmaco Borba - PR, Porto Alegre - RS, Guarapuava - PR e várias em Curitiba- PR.   E em exposições internacionais no Reino Unido, na Flórida e várias na Rússia.

Recebeu prêmios em Curitiba, em 1990; na Holanda em 2011 e 2013; no Rio de Janeiro recebeu 3 prêmios, em 2012  e 01 prêmio em 2013; Nova Iorque em 2012; Flórida 2 prêmios, em 2012 e 01 prêmio em 2013; Destaque Brasil, em 2012 e em 2013 – Prêmio Destaque Brasil, em Tauba-té – SP; em Leipzig – Alemanha, em 2012; Califórnia, em 2013; 11º lugar em 2013, 3º lugar,  em 2014, numa Competição Internacional pela inter-net com a tela “Solito”, também “Solito” ganhou 1º lugar, em Istambul, em 2014.

Seus trabalhos foram publicados no “Internacional Art Book (vo-lume IV)” de Eve Lemonidou – Nova Iorque; “Prospero Internacional Art Book” de Antonio Dulcidio e Aristides Meneses – Portugal;  « 42 Masters of Realistic Imagery” publicado em Leipzig – Alemanha; “Entrevistando a Arte” de Ivanira Tereza Dias Olbertz – União da Vitória.

Ulysses, com uma biografia tão linda, com um currículo tão rico, divulgando o nome das nossas cidades no mundo, é com muito orgulho que a ALVI lhe concede a Comenda Pinhão do Vale, como reconhecimento por seu talento e por sua arte maravilhosa!

O professor Nelson Antonio Sicuro me fez crer que a missão da arte é  melhorar o ser humano através do Belo, sentimento universal! E lembro as palavras de Heitor Villa-Lobos: “...se todas as pessoas do mundo ficassem juntas um minuto em êxtase pela Arte, neste minuto o mundo es-taria em PAZ. Não haveria guerra, maldade, crime ou violência de qualquer espécie.”

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A arte e a cultura não são para burgueses! Os verdadeiros políticos e governantes investem e acreditam nelas como benefício para o Ser Huma-no. Enquanto nossos governantes não investirem seriamente na educação e na cultura, estaremos fadados a não evoluirmos como seres humanos. Po-deremos subir no ‘ranking’ econômico, mas continuaremos a ser Terceiro Mundo. Temos como exemplo a Alemanha, cujo espaço físico foi totalmen-te destruído, mas não conseguiram destruir a  CULTURA  daquele povo, verdadeiro patrimônio imaterial e indestrutível, por isso se reorganizaram econômica e humanamente, sendo um belo exemplo para a humanidade!

Para encerrar, Ulysses, vamos trocar as nossas posições, sempre aprecio suas telas com as suas poesias, hoje eu vou recitar uma poesia sobre minha tela favorita!

SOLITO

A primeira vista foi de emoçãoLembranças da minha infância

E do nosso amado rincão! 

Cedo começava a lidaIndo a gurizada pro galpão

Uma folia à procura dos apeiros...Cavalo certo pra cada campeiro!

 Campeando...  subindo a coxilha

Voava a imaginação! 

Depois da lida, na volta pra casaO cavalo sempre troteia mais ligeiro

Então parávamos bem de ‘ansim’, O baio, o zaino e o alazão...‘Inguarzinho’ a você Solito!

Prá deixá os animais mais faceiros!Amados e companheiros

De todo peão! 

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Essa paisagem lembra meu paiQuantas vezes, você pai,

Assim pilchado...Parou seu cavalo?

 Também imagino

Meu filho seguindo esse caminhoAprendido desde menino

a perpetuar a tradição! 

E eu aqui te pergunto Solito-Onde é que você se meteu?

Estados Unidos ou Alemanha?Turquia ou Holanda?

 Eita cabra valente

Varou pra outro continente! 

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DISCURSO PELO 13º ANIVERSÁRIO DE CRIAÇÃO DA ALVIMAIO DE 2013

Dr. José Fagundes1

Há treze anos, na noite de 30 de maio do ano de 2000, nascia, no Salão Nobre da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória (PR), a Academia de Letras do Vale do Iguaçu – ALVI. A agora adolescente segue sua trajetória, procurando cumprir a missão para a qual foi concebida e criada, qual seja, a de guardiã da língua-pátria e propulsora da produção literária, nesta vasta região do vale do Iguaçu, desconhecendo fronteiras físicas, sejam estaduais, sejam municipais, tendo como chão e como horizonte a salvaguarda e o desenvolvimento dos valores que sedi-mentam a cultura de uma nação.

Como não existe geração espontânea, eu gostaria, nesta ocasião, de fazer um breve retrospecto do processo de gestação da ALVI, resultante de uma política de interiorização das Academias, levada a efeito pela Aca-demia Paranaense de Letras (APL), sob a presidência do Dr. Túlio Vargas. Menção especial merece o Prof. Francisco Filipak, membro designado pela APL, que incentivou, apoiou e acompanhou o desenrolar dos trabalhos de organização da nova Academia.

É assim que, em 1º de novembro de 1999, ocorreu a primeira re-união, sob sua presidência, neste mesmo recinto, ocasião em que ele in-formou aos participantes os objetivos da Academia e as normas para o preenchimento das vagas. Na sequência, nomeou uma comissão “ad hoc”, composta pelos seguintes nomes: Joaquim Osório Ribas, Leni Trentim Gaspari, Therezinha Leony Wolff, José Fagundes, Fahena Porto Horbatiuk, Paulo Horbatiuk, Sandra Regina de Moura Konell, Lilian Maria Bresciani Heinen. Essa comissão encarregou-se de organizar a futura Academia, as-sim como analisar os currículos das pretendentes a ela. Por fim, foi eleita por aclamação a Diretoria Provisória da ALVI, assim constituída: Joaquim Osório Ribas – Presidente, Leda Barcelos – Secretária, José Fagundes – Te-soureiro, Dago Alfredo Woehl – Orador.

1 Membro fundador da ALVI, ocupando a Cadeira nº 28, tendo como patrono Hermínio Milis.

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Após meses de muito trabalho e reuniões, a Academia de Letras do Vale do Iguaçu era fundada, em 30 de maio de 2000, e seria instalada no dia 10 de novembro de 2000. Vinte e oito das quarenta cadeiras tiveram como primeiros ocupantes-fundadores os seguintes acadêmicos: Ulysses Antô-nio Sebben, Ghassoub Domit, Joaquim Osório Ribas, Michel Kobelinski, Arlete Therezinha Bordin, Paulo Horbatiuk, Eloy Tonon, Fahena Porto Horbatiuk, Walter Michael Ebeger, Neli de Oliveira Melo Sicuro, Sueli de Souza Pinto, Irene Rucinski, Armindo José Longhi, Odilon Muncinelli, Leni Trentim Gaspari, Therezinha Leony Wolff, Ivahy Detlev Will, Cordo-van Frederico de Melo Júnior, Ladi Tamara Benda Witiuk, Fídias Telles de Carvalho, Alexandre Drabik, Helena Klotz, José Fagundes, Dago Alfredo Woehl, Yeda Cordeiro Ramires, Fernando Luiz Tokarski, Leda Barcelos, Nelson Antônio Sicuro.

Desses primeiros companheiros de jornada, sete nos deixaram – Alexandre Drabik, Francisco Filipak, Ghassoub Domit, Helena Klotz, Yeda Cordeiro Ramires, Neli de Oliveira Melo Sicuro, Nelson Antônio Sicuro. A eles nossas homenagens pelas marcas que aqui deixaram e nossa solidarie-dade na caminhada que continuam em outra dimensão. Até breve!

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DISCURSO EM HOMENAGEM AO DR. JOSUÉ GUIMARÃES

Joaquim Osório Ribas1

Saudações à mesa, aos homenageados e seus familiares, aos confra-des e confreiras.

Saudações especiais.

O cenáculo desta Academia de Letras vive um momento de sin-gular beleza, engalanado pela seleta plateia que comparece, para consagrar seu reconhecimento aos mais notáveis exemplos de cidadania.

Por deferência da Presidente, Leni TrentimGaspari, coube-me a honrosa missão de saudar o Dr. Josué Guimarães. Trata-se de uma das mais ilustres personalidades da história contemporânea de nossa região. Legítima expressão de nossos valores culturais. Um homem que, apesar de seus 93 anos de idade, permanece na atividade agropecuária, lutando com todo vigor, e participando ativamente da dinâmica da sociedade. Começou como peão de tropa e relevantes postos como prefeito de Palmas, prefeito instalador do município de General Carneiro, advogado atuante na área comercial, tributo notável pela coragem e eloquência, assessor jurídico da Secretaria de Saúde do Paraná e, acima de tudo, uma rica personalidade, com nobres atributos de humildade, simplicidade e generosidade.

Seguindo padrão das Academias de Letras, esta instituição, da qual tive a oportunidade de ser o primeiro presidente, escolhe, todos os anos, duas pessoas reconhecidas como exemplos para a sociedade, tornando-as apoteóticas em si, em vida, pelo valor de sua ação no campo social. Por decisão de nosso Colegiado, nesta jubilosa noite, a Academia entrega esse galardão, sentindo-se valorizada pelo brilho dos nomes homenageados: Jo-sué Guimarães e Zélia Nascimento Sell.

Esta homenagem é mais significativa, numa fase crucial, em que uma abominável crise moral domina a sociedade brasileira. Estamos viven-do um momento histórico em que o homem cientifica e intelectualmente é um gigante, mas, moralmente, é um pigmeu. Está na hora de se valorizarem 1 Membro fundador da ALVI, ocupando a Cadeira nº 03, tendo como patrono Antonio da Lara Ribas

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aqueles que pautaram seu comportamento dentro da ética e do respeito ao bem comum.

Sou testemunha, com absoluta segurança, de que Josué Guimarães, em sua longa e profícua trajetória de vida, desde o vigor da mocidade até os atuais cabelos brancos, orientou seus atos dentro do legado sociocultural que herdou de seus pais.

O Dr. Zuzu, como é conhecido, sempre foi presença agradável. Voz suave, afirmativa e, às vezes, categórica. Talentoso, dotado de características marcantes como: amor ao trabalho, simplicidade e humildade. Como ho-mem do campo, não vive sem o ar da coxilha. Precisa do frescor do vento, do murmúrio dos arroios, da sinfonia composta pelo mugido da res, do tilintar do cincerro e da revoada das curucacas, com seus sons estridentes. Montado a cavalo, ostentando a tradição dos antigos tropeiros, reina com galhardia, como verdadeiro monarca da coxilha.

Querido amigo Zuzu, tenho em você o maior exemplo de digni-dade, de ética e de patriotismo. Vejo em você o mais ilustre descendente do bandeirante paulista Joaquim Mendes de Souza, que, em 1839, fundou a fazenda que até hoje você conserva com o maior carinho. Você honra a nossa história pelo exemplo de vida.

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DISCURSO DR. JOSUÉ GUIMARÃES POR OCASIÃO DO RECEBIMENTO DA COMENDA PINHÃO DO VALE

NOVEMBRO DE 2013

Josué Guimarães1

Exma. Sra. Leni Gaspari, Presidente da Academia de Letras de União da Vitória. Cumprimentando a senhora, estendo meus cumprimen-tos aos demais membros da mesa de honra e aos membros da ALVI.

Quero saudar, em especial, Zélia Maria Sell, que tão gentilmente já nos recebeu em Curitiba. Sinto-me orgulhoso por estar a seu lado nesta noite solene, em que somos contemplados com a Comenda Pinhão do Vale.

Saúdo, ainda aos amigos que aqui compareceram: de Guarapuava, Palmas, General Carneiro e União da Vitória, formando uma só família, com o mesmo coração, o mesmo sentimento. Agradeço aos meus familia-res, aos representantes de jornais e TV, e ao Cleiton e à Vanderléia, que me acompanham hoje.

Enfim, agradeço a todos que deixaram seus lares, seus afazeres e vieram nesta noite, para mim maravilhosa, para prestigiar-nos, valorizando a comenda que receberemos.

Jamais sonhara ser hoje um Comendador, mas estou feliz e elevo minha gratidão a Deus.

Peço permissão, senhora Presidente, para homenagear o Colégio São José, onde estudei por algum tempo, e às duas cidades que me acolhe-ram, quando aqui vivi. Aprendi a admirá-la, nos anos que aqui passei, mui-tas vezes, batendo de porta em porta, vendendo rifas, para ajudar a bancar a aquisição do Órgão da Matriz de Porto União.

Estou muito emocionado, ante as palavras do amigo Nivaldo Krü-ger dos Passos e do professor Joaquim Ribas, que se excederam ao exaltar a minha pessoa, o que atribuo ao fato de nossa amizade.

Quando o professor Joaquim foi à minha residência, levando o convite para essa solenidade, pedi-lhe: - Você tem que arranjar alguém de cultura para redigir o meu discurso perante a Academia de Letras. Depois refleti que, se outra pessoa escrevesse para eu ler, poderia ser o texto uma

1 Comendador da ALVI em 2013.

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bela peça de oratória, mas talvez não a expressão dos sentimentos de mi-nha alma. E decidi, apesar da idade centenária, da memória já desgastada pelo tempo, com problemas de audição e dicção, tentar proferir palavras nascidas do coração, colhidas à beira dos caminhos, na longa jornada, en-costados à árvore da vida.

Assim, 83 anos já se passaram, ou seja, 30.927 dias, em que aos dez anos de idade, já percorria a Rua Coronel Amazonas, descia com o cami-nhãozinho da família Scheid, trazendo um mundo de recordações, vendo a beleza romântica dos campos de Santa Rita, batidas pelas patas do cavalo Guarani. Veio comigo o gosto de um camargo tomado na mangueira, ao sabor do leite de uma vaca vira-lata. Vieram também os sons que conhecia: o mugido da vaca, o grito monótono do vaqueiro, ecoando nas quebradas das coxilhas o som nascido do cantar dos pássaros, agradecendo a Deus a beleza e o encanto do raiar de um novo dia.

Vim de uma família estruturada segundo os rígidos preceitos de honra, dignidade e respeito, exímio cavaleiro, já hábil no manejo do laço, porém analfabeto. Decidido a conhecer a cidade grande e a freqüentar a escola Paroquial São José.

Aqui, Senhores, procurarei unicamente durante meu pronuncia-mento, evidenciar como uma boa escola pode influenciar na vida de uma pessoa. Numa vertiginosa corrida contra o tempo, vou tentar descrever, de imediato, minha ascenção cultural e social, afinal, como tornei-me quem sou.

De imediato, esse jovem demonstrou que possuía também compe-tência e habilidades com lápis e caneta. Assim, na formatura do primário, já sonhava com a formatura ginasial e com a sequência dos estudos.

Mas, senhores, a vida apresenta surpresas e aqui quero prestar mi-nha homenagem ao meu pai, José Frederico Teixeira Guimarães, seu Juca do Cedro. Homem simples, com seu progresso, passou a ser procurado como fiador, em caso de empréstimos ou compra de imóveis.

Instalou-se com uma loja aqui, na Rua Carlos Cavalcante, e, com o tempo, multiplicaram-se os avais, e multiplicaram-se também os que deixa-ram de cumprir os compromissos, vendo-se ele com todo seu patrimônio comprometido.

Desesperado, procurou um advogado que lhe apontou como so-lução:

- O senhor só tem uma saída, passar tudo o que tem para o nome de outra pessoa.

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 191

E meu pai respondeu:- Vivi e envelheci como homem honesto, e não morro como velha-

co. E cumpriu todos os compromissos. Lá se foram nossos imóveis, nossas economias; lá se foi o rebanho de gado da fazenda, e, o pior ainda, a terça parte da fazenda Santa Rita. Tudo bem, ao menos estava salvo o maior pa-trimônio que um pai pode deixar para um filho: um nome honrado, cerca-do de respeito.

O sonho daquele jovem que esperava continuar os estudos, filho de pai desesperado, não teve outra solução, mesmo adolescente teve de voltar à Santa Rita e procurar atividades naquilo que sabia fazer.

Chegando lá, encontrei a figura respeitável de um homem condu-tor de tropas na região. Ele abastecia a produção do sudoeste e oeste de Santa Catarina, de Ponta Grossa, Palmeira e Curitiba. Era uma figura sem-pre lembrada de Silvio M. de Araújo, que me convidou para fazer parte de seus projetos.

Daqui junto com seu avô, Emílio Santana de Morais, levamos anos trilhando esse caminho, mas, com o correr dos anos, cheguei aos 17, 18, 19, 20 e tinha que cumprir o meu dever com a pátria. Serviria o exército. Outra vez, meu pai procurou as autoridades aqui em União da Vitória, tentando a minha dispensa, mas ela não aconteceu. Recebi a comunicação que devia apresentar-me urgente, na unidade militar de Palmas. Apresentei-me para os exames médicos e fui aprovado para a Força Expedicionária Brasileira, licenciamento suspenso até terminar a guerra. Mas o soldo que Exército pagava ao soldado era irrisório, teria de encontrar mais algum rendimento, para dar conta das despesas. Nisso, ocorre um curso de preparação, para preencher uma vaga para Cabo. Procurei inscrever-me, e, ao fazer a inscri-ção, fui advertido de que eram 30 soldados engajados e que eu era apenas um recruta, o que não me impedia de participar do certame. Iniciado o curso, tendo sido aluno do São José, cheguei a ser o primeiro colocado. Depois veio o curso para Sargento, quantas vagas? Uma apenas. E o recruta vindo do São José ocupou.

Assim descobri meu potencial. Agora, mais experiente, com di-ploma de contabilidade, mesmo que feito por correspondência, assumi a administração das indústrias de Pedro Scheid e Moisés de Araújo. Nessa época, já casado com um anjo de mulher, agraciada por Deus de todas as virtudes.

Era época do apogeu da madeira em União da Vitória, embarques de vários vagões. Tinha que residir aqui e viajar até Lança, Valões, para

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abastecer os navios em Itajaí, e em São Francisco. Depois, fechou a exporta-ção da madeira, e nós ficamos desempregados. Restou o quê? Voltar a Santa Rita.

Deixo União da Vitória, mas vou agora, com União da Vitória e Porto União no meu coração, lembrando os versos do professor Serapião, em homenagem à passagem da primeira locomotiva da estrada de ferro.

“Selvagem qual bugre nu: Banhada pelo Iguassú A beira dele nascestes, Linda cabocla indolente A dormir em mata indigente, Entre colinas crescestes!”

Assim, volto a referir-me a Santa Rita, ali chegando, coloquei um armazém à beira da estrada de rodagem, com auxílio de amigos de Porto União, de União da Vitória e de Palmas. Quis denominar essa casa como “Novo Horizonte”, mas prevaleceu o nome dado pelo povo: “A Bodega do Zuzu”. Coisa certa, no lugar certo e na hora certa. O progresso foi indes-critível.

O Juíz de Direito, Dr. Francisco de Paula Xavier e seus amigos ad-vogados iam fazer suas caçadas todos os anos, saborear um churrasco à beira de um riacho qualquer. Certo dia comentei com eles sobre a mágoa de não ter podido estudar. Sensibilizaram-se e começaram a me incentivar, ao que eu respondi: “mas eu não tenho ginásio.” Eles contaram que havia o Art.91 em Porto União, no Colégio Ruy Barbosa, que preparava os alunos. Chegando o lá o diálogo foi mais ou menos, assim:

- O senhor mora na fazenda? Não pode estudar. Vai faltar muito, e vai reprovar!

- Mas foi o Dr. Xavier que me mandou vir aqui!- Então eu lhe dou a matéria, o programa e depois, mais tarde, virá

se inscrever para as provas. No dia das provas, vieram examinadores de Curitiba e as provas

foram realizadas no Salão da Igreja Matriz de União da Vitória. Somente dois alunos foram aprovados, e um deles, o provindo do Colégio São José. Depois disso, abriram-se as portas ao curso de contabilidade e ao ingresso na faculdade de Direito, em Curitiba. Logo a seguir, tive breve passagem com Secretário na Prefeitura de Palmas. Na corrida do tempo, eleito o Go-

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vernador do Paraná, Paulo Pimentel, sendo Secretário da Saúde, Arnaldo Buzatto, fui convidado a exercer o cargo do Diretor Administrativo da Se-cretaria do Estado do Paraná. Vejam a mudança, tive que fazer curso de Saúde Pública, para conhecer a dinâmica da Secretaria. Havia 16 hospitais e cursos integrados à essa área. O Deputado Buzzato assume a presidência da Campanha Nacional de Saúde nas escolas da comunidade, e eu assumi uma das diretorias. Assim passei a conhecer esses dois setores tão importantes: educação e saúde.

Nessa época o lema era: “saúde não é privilegio, é direito humano.” Foi grande a movimentação impressa no Paraná. A uma reunião visando a construção da usina de Itaipu, compareceu um jovem secretário, que fez um belo pronunciamento. Era a figura do ex-senador, inspetor, historiador, Nivaldo dos Passos  Kruger.

Mas, ao conhecer os setores de Educação e da Saúde, notamos que era preciso mudar a forma de os governos tratarem esses temas, princi-palmente o Governo Federal, “onde são amarrotados os milhões de reais que recolheram com nossos impostos, mas que, para a Educação e Saúde, vinham migalhas”.

Aprendi que Educação e Saúde são responsabilidades, ser profes-sor não é profissão, é missão. Trabalhar na saúde não é emprego, é doação, porque esses setores sobrevivem do idealismo, da abnegação, do desenvol-vimento dos que exercem essas atividades. Por isso, ao encontrar um pro-fessor, o que se pode fazer é inclinar a cabeça e respeitar, porque são eles que traçam o caminho da vida.

Aqui se foram 26 anos da minha existência, que reconto como os mais importantes. Cansado já da aposentadoria e minha esposa Dja-nira também da escola em que trabalhava como professora e secretária, em Curitiba, filhos criados, netos quase todos formados, voltamos a nossa Santa Rita, onde Deus deu a vida que todos pedem a ele, não sem compro-misso, pois a Djanira não se havia afastado das atividades com crianças carentes do centro espírita Casa do Pobre de Curitiba. Era fim de maio, começo de junho, era sua vez de coletar leite, nos deslocamos para Curiti-ba. Uma semana de muito trabalho e, depois de visita aos filhos, duas netas foram as últimas a sair, já passava das 10h da noite, quando busquei um departamento médico: Djanira não passava bem. Aos trinta minutos do dia três, sobreveio uma parada cardíaca fatal. Nessa hora ruiu o castelo. Foi embora a mão que, por 63 anos, deu segurança e iluminou o meu caminho e, aí, perdi a companhia.

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Volto ao ninho que juntos construímos: a minha Santa Rita, onde me impus isolamento voluntário, tendo saído raramente, quando o Prof. Joaquim e o amigo Antônio Costa, na luta por manter viva a história e me manter feliz, organizam cavalgadas e eventos relacionados a esse período da história. Ou em atividades relacionadas à educação, em General Carnei-ro, onde sempre sou convidado.

Agora, nesta solenidade, recebo a Comenda Pinhão do Vale, e agradeço emocionado. É tão difícil definir, apenas digo: “Recebo esta ho-menagem, não por mérito; recebo como um gesto de afeto, como um gesto de carinho de mãe a um filho adotivo, que educou e ensinou os caminhos da vida.”

E, para tanto, não tem-me faltado o apoio dos amigos, o zelo dos filhos e filhas, o doce carinho dos netos e bisnetos. Aguardo dos céus a derradeira chamada, não sem antes pedir a Deus força para fazer ecoar, aos quatro ventos, minha terna despedida.

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DISCURSO SESSÃO SOLENE DE POSSE DAS NOVAS ACADÊMICAS - 2013

Leni Trentim Gaspari1

Presidente da ALVI

Fala inicial da Presidente

A todos que aqui estão, autoridades já nominadas e demais con-vidados, pelo privilégio de sua honrosa presença, os saúdo, com votos de boas-vindas e amizade.  Esta é uma Sessão Solene, mas também uma sessão festiva, uma sessão de alegria, pela certeza de que a ALVI, nestes 13 anos, vem cumprindo seus objetivos, pelo incentivo à  Arte e à Cultura. Invocan-do a Proteção  Divina, declaro aberta esta Sessão Solene da Academia de Letras do Vale do Iguaçu, que hoje se reúne para comemorar seu 13º ano de Instalação, e  ampliar seu contingente de Acadêmicos.

Palavras Finais

Antes de me dirigir às novas confreiras, quero agradecer a presença de todos que vieram nos prestigiar. A vocês,  o abraço carinhoso e fraterno de todos os membros da Academia de Letras, por sua presença querida ao  nosso coração, e participem sempre conosco.

Agradeço   as pessoas que contribuíram  de alguma maneira com a realização deste evento, em  especial, ao Diretor  da FAFI,  Bel. Valder-ley Garcias Sanches, que   sempre estende as mãos para  a ALVI,  o que muito me alegra, pois minha alma e coração ainda estão  aqui nesta casa de ensino, onde trabalhei por 25 anos. Meu  agradecimento também aos  Acadêmicos, Aluízio e Márcia,  sempre  ao meu lado, e também aos demais  confrades e confreiras, que  me auxiliam de forma tão prestativa e carinho-sa. Muito obrigada a todos!

1 Membro fundadora e presidente da ALVI, ocupando a Cadeira nº 19, tendo como patrona Profª. Edy Santos da Costa.

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Queridas Confreiras Soeli, Marilúcia e Margareth,

Quando comecei a escrever este texto, fiquei a pensar sobre o que diria a vocês, que acabam de assumir, como novas integrantes do Colegia-do da ALVI. Pensei e concluí que minha fala não poderia ser outra a não ser falar do nosso ofício  ligado às artes: à arte  de pesquisar e historiar… Habilidade da  confreira Soeli, minha ex-aluna e hoje afilhada, convite que muito me honrou; a arte de filosofar sobre a ética e o Direito  refletindo sobre uma  sociedade  que pode ser melhor, como faz,  com tanta convic-ção, a Confreira Marilúcia,  e a arte  de  emocionar e encantar a todos com a magia da música, privilégio da Confreira Margareth.

Cada uma de vocês vem percorrendo caminhos, com as habilida-des e saberes que conquistaram, de forma tão linda, em sua vida, como mulheres íntegras, inteligentes e de muita sensibilidade.

Mas não é só por isso que vocês foram admitidas por unanimidade em nossa Confraria, pelo Colegiado de Acadêmicos… Mas porque, além da ligação com as artes, que já mencionei, estão conectadas, também, com a “arte de escrever”, como falava nosso querido confrade Nelson Sicuro, que já se encontra no Plano Celestial. Sim… dizia ele: “escrever é uma arte” …  e  fico pensando que, se escrever é uma arte,  somos “Artesãos das Letras “,  e constatamos  isso,  percebendo a  diversidade de caminhos que  o “Artesão das Letras” percorre para escrever  sobre  a História dos homens,  sobre o Direito e a Filosofia, e sobre os músicos,  como vocês já fizeram  tão linda-mente,  e publicaram.

Sejam bem-vindas à ALVI… Temos orgulho de tê-las conosco,  e  gostaria de ressaltar a valorosa oportunidade que terão aqui, no contato es-treito, no convívio com autores experientes, ativos e consagrados de nossa cidade e de outras também… Esta é uma experiência de estimado valor, e nosso desejo é proporcionar  a vocês um espaço em que possam expressar-se, expondo e debatendo suas ideias, trocando informações e interagindo com um grupo que tem objetivos comuns. Para finalizar, quero pedir que tenham sempre em  mente nosso lema: Nulla dies sine línea: nenhum dia sem uma linha. Muito Obrigada!

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DISCURSO DE POSSE NA ALVI - 2013

Soeli Regina Lima1

Boa noite!

É com muito orgulho que assumo, na Academia de Letras Vale do Iguaçu, a cadeira de número 2, do escritor e artista plástico, Dirceu Marés de Souza.

Ele nasceu na localidade de Estácio, Município de Paula Freitas, Paraná, em dezembro de 1920, e faleceu em Curitiba, em janeiro de 1994. Como político, exerceu o mandato de vereador, na Câmara Municipal de União da Vitória. Na pintura, procurou retratar cenas da História regio-nal, sendo a mais famosa tela a que reproduz a “Batalha do Irani’, alusiva à Guerra do Contestado.

O primeiro ocupante dessa cadeira foi Jayme Ayres da Silva, nasci-do no ano de 1958. Ele era graduado em Ciências Biológicas, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Jacarezinho, FAFIJ; Especialista em Metodologia e Didática do Ensino Superior, UNOESTE; com estudos em Ecologia, UNICENTRO; Meio Ambiente e Gestão Ambiental, UNIPAR e Mestrado em Engenharia da produção: Gestão Ambiental, UFSC.

Pretendo, neste momento, relatar de forma breve, a trajetória pela qual estou aqui hoje a ocupar uma cadeira na Academia de Letras Vale do Iguaçu. Em primeiro lugar, ingressar na ALVI representa a coroação do tra-balho de pesquisadora e escritora. O primeiro momento em que senti que poderia escrever, foi no ano de 2001, por ocasião da correção de um texto, pelo professor, historiador, Dr. Eloy Tonon. Na época, eu era sua aluna de Especialização em História do Brasil. Ele fez o seguinte registro: “Parabéns! Você está no caminho certo. Escreve muito bem e poderá enveredar no cami-nho da pesquisa”.

Passados alguns anos, percebi que gostava de escrever, e de pesqui-sar quando a professora Doutora Olga Firkoviski, da UFPR, orientadora do Mestrado, apontava caminhos metodológicos, de análise das fontes, de autores, e a partir daquele momento, despertou-se, em mim, a paixão por 1 Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 02, tendo como patrono Dirceu Marés de Souza.

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pesquisar, escrever, comprovando os fatos, buscando compreender a reali-dade vivida por determinada região.

Devo muito ao Senhor Francisco Farias. Ele foi presidente da Câ-mara Municipal de Três Barras, o qual depositou confiança em oficializar o convite para um trabalho de pesquisa sobre a trajetória política do muni-cípio. Sabemos que contratar um profissional para elaboração de um livro requer que ele tenha créditos de produção e, na época, eu não os tinha. Assim à Câmara Municipal de Três Barras os meus agradecimentos por ter-me aberto as portas para a pesquisa, possibilitando a produção do meu primeiro livro.

Quero destacar a importância da Instituição de Ensino Superior, a FAFIUV. Nos seis anos em que atuei como docente tive oportunidade de pesquisar, produzir artigos, participar de eventos, sempre com o apoio da faculdade.

Pesquisar e escrever dependem da personalidade dos indivíduos; e a personalidade vai sendo construída ao longo da trajetória de vida. A esco-lha de Leni Trentim Gaspari, presidente da ALVI, como madrinha, deve-se ao fato de sua fundamental importância em minha vida. Com ela, como professora e colega de trabalho, aprendi a valorizar a disciplina, o respeito e a humildade.

Para escrever é necessário paixão e tempo. A paixão eu a tenho e o tempo e condições necessárias para produção escrita, devo a minha mãe. Sem ela, com certeza, eu não poderia estar aqui hoje.

Gostaria ainda de deixar uma mensagem para o meu filho, sobre este momento que sua mãe está vivendo, que ele sirva também para você refletir. Quando o ser humano tem um sonho, deve lutar por ele, para po-der concretizá-lo. Que você lute por seus sonhos e possa realizá-los.

Devo dizer da importância e do compromisso de fazer parte da ALVI, e assumo publicamente o compromisso de auxiliar para que a acade-mia atinja seus objetivos.

Para encerrar, vou usar das palavras de Joaquim Nabuco, político, diplomata, historiador, jurista e jornalista, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, em 20 de julho de 1897: “Privar um poeta de sua língua é roubar-lhe a metade da alma.” E digo que para mim: “Privar o ato de es-crever é roubar a metade de minha alma”.

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DISCURSO DE POSSE NA ALVI - 2013

Marilucia Flenik1

Prezada Profa. Leni Trentim Gaspari, prezados componentes da

Academia de Letras do Vale do Iguaçu, autoridades presentes, Senhoras e Senhores.

Com elevada honra ocupo a Cadeira nº 17 da Academia de Letras de União da Vitória, cujo patrono é o poeta paranaense Paulo Leminski Filho, e o seu fundador, o Prof. Armindo José Longhi.

O Prof. Armindo é gaúcho de Vacaria, filho de José Longhi e de Lidia Boff, nascido no ano de 1959. Mestre em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria e Doutor em Educação pela UNICAMP. Filósofo e educador. Tais palavras marcam a sua biografia e por si só estampam a grandeza de sua pessoa.

O amor à sabedoria, o taumatzhen originário de quem se confronta com os acontecimentos e os interroga, sempre foi a mola propulsora da filosofia. Por sua vez a educação é a mais nobre das tarefas, pois toma a si o encargo de compartilhar a cultura, tanto no que diz respeito à evolução da pessoa ao longo de sua vida, quanto ao acolhimento das novas gerações que precisam apropriar-se desse extenso cabedal cultural, que é o mundo em que vivemos.

A obra literária do Prof. Armindo tem sido de valiosa contribuição para a arte cotidiana do aprender. Além da sala de aula, participa como pesquisador, orientador e coordenador de projetos de pesquisas.

É autor de livros e artigos, uma produção literária dedicada à educação e às letras, que muito engrandece a Academia de Letras do Vale do Iguaçu.

Acerca de nosso patrono, Paulo Leminski Filho, devo dizer que nasceu em Curitiba, no dia 24 de agosto de 1944, e morreu no dia 7 de junho de 1989, com apenas 44 anos de idade. Neto de colonos poloneses, tinha ascendência negra, por parte da mãe. Seu pai era militar, e talvez por esse motivo tenha passado parte de sua infância no interior de Santa Cata-rina. Leminski foi seminarista da Ordem dos Beneditinos e ali iniciou seus estudos de latim e grego.1 Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 17, tendo como patrono Paulo Lem-ninski.

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Exerceu o magistério em várias cidades do Paraná, especialmente em Curitiba. Foi professor de História e redação em cursos pré-vestibula-res, diretor de criação e redator de publicidade. Escrevia para o Folhetim da Folha de São Paulo, e resenhava livros de poesia para a revista Veja. Seus primeiros poemas foram publicados na revista Invenção, em 1964, então porta-voz da poesia concreta paulista.

Retrato dos valores contraculturais e libertários da década de ses-senta, Leminski tinha prazer em provocar polêmicas. Sua autodefinição diz:

O pauloleminski é um cachorro louco que deve ser mortoa pau a pedraa fogo a piquesenão é bem capazo filhadaputade fazer choverem nosso piquenique

E escreve:

quando eu tiver setenta anosentão vai acabar essa adolescênciavou largar da vida loucae terminar minha livre-docênciavou fazer o que meu pai quercomeçar a vida com passo perfeitovou fazer o que minha mãe desejaaproveitar as oportunidadesde virar um pilar da sociedadee terminar meu curso de direitoentão ver tudo em sã consciênciaquando acabar essa adolescência.

Parodiando Braz Cubas, o personagem de Machado de Assis, Le-minski poderia dizer no seu réquiem: não concluí o Curso de Direito, aban-donei diversas vezes o Curso de Letras, não fui o que os meus pais queriam que eu fosse.

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Mas, diferentemente de Braz Cubas, por ter sido poeta, escritor, professor, compositor, publicitário, Paulo Leminski Filho nos deixa um legado de valor inestimável. Uma obra volumosa e plural, que domina a norma culta, mas sabe usar o linguajar do cotidiano, chegando às vezes a ser desbocado.

Faixa preta de judô, Leminski foi um aficionado das artes orientais. Dali a disciplina, a precisão, a competência de quem usa a linguagem como um mestre; mas, ao mesmo tempo, ele apresenta a sagacidade do malandro brasileiro, capaz de surpreender, numa gingada, e dizer o inusitado.

Leyla Perrone-Moisés bem o definiu:“Samurai e malandro, Leminski ganha a aposta do poema, ora por

um golpe de lâmina, ora por um jogo de cintura. Tão rápido que nos pega de surpresa; quando menos se espera, o poema já está ali. E então o golpe ou a ginga que o produziu parece tão simples que é quase um desaforo.”

A forma breve concretiza a poesia e a faz uma obra de arte no papel. Como publicitário, soube como ninguém distribuir as palavras de forma gráfica, fazendo da poesia o instante em que o dito está além das palavras e expressa a pura emoção.

Também escreveu romances e a prosa experimental de Catatau cha-mou a atenção dos tropicalistas Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Mo-raes Moreira, com quem Leminski passou a ter um contato estreito. Glauber Rocha, cineasta, e Jorge Mautner, escritor e compositor, fizeram questão de conhecê-lo pessoalmente. A casa onde morava com Alice Ruiz, em Curitiba, passou a ser parada obrigatória de todos esses artistas, quando em viagens pelo sul do país. Esse contato com compositores da MPB fez crescer seu en-tusiasmo por compor letras e canções, atividade que já desenvolvia junto ao grupo Chave, de Curitiba. Quem não conhece os versos desta canção:

um homem com uma doré muito mais elegantecaminha assim de ladocomo se chegando atrasadoandasse mais adiante

carrega o peso da dorcomo se portasse medalhasuma coroa um milhão de dólaresou coisas que os valha

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ópios edens analgésicosnão me toquem nessa dorela é tudo que me sobrasofrer, vai ser minha última obra

Em 1984, Leminski lançou o seu segundo romance: Agora é que são elas. Muito criticado na época, o livro prenuncia uma nova narratividade, ligada aos meios de expressão contemporâneos. Criou um gênero literário, diferente do conto e do romance da época moderna. Leminski, como todo gênio, esteve adiante do seu tempo.

Viveu com a poeta Alice Ruiz, por vinte anos, com a qual teve um filho e duas filhas. A morte de seu filho Miguel, de leucemia no ano de 1977, fê-lo voltar a beber, no ano seguinte, o que acabaria abreviando a sua vida.

Finalmente, a separação conjugal fê-lo mudar-se para São Paulo, em 1988. Trabalhou como colaborador do Jornal de Vanguarda, na Rede Bandeirantes, e, em um breve momento de reconciliação com Alice Ruiz, selecionaram juntos os poemas que seriam publicados postumamente sob o título de La vie en close.

Morreu no dia 7 de junho de 1989, após uma vida intensa, que pode ser lembrada com os seus versos:

minhas 7 quedas

minha primeira quedanão abriu o paraquedas

daí passei feito uma pedrapra minha segunda queda

da segunda à terceira quedafoi um pulo que é uma seda

nisso uma quinta quedapega a quarta e arremeda

na sexta continuei caindoagora com licençamais um abismo vem vindo

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A respeito de Marilúcia Flenik, posso dizer que tenho o mesmo espírito inquieto do poeta Leminski, porém, aliado à disciplina e ao amor pelo estudo do Professor Armindo Longhi.

Nenhuma genialidade. Apenas o amor pela Sabedoria e pelo tra-balho.

Desde a minha infância tive o privilégio de contar com um profes-sor, o Prof. José Nicolas, que abriu a sua biblioteca particular para a peque-na polaquinha, que levava o litro de leite a sua porta, todos os dias.

Ali me deparei com as obras completas de Machado de Assis, José de Alencar, e demais autores, cujos livros, com capas de couro e papel de arroz, nunca mais esqueci. O mundo encantado da literatura a minha dis-posição. Com doze anos curti ler Os Sertões de Euclides da Cunha e Casa Grande e Senzala de Gilberto Freire. Nunca mais parei. Quando cursei Pe-dagogia, nos anos de 1970, descobri a Filosofia e me encantei. Li escondido o Capital de Karl Marx. Eram os anos sombrios da ditadura e, se alguém ousasse falar em socialismo estaria preso no dia seguinte, no 5º Batalhão de Engenharia e Combate.

Das muitas coisas que fiz na vida, em termos profissionais, ser pro-fessora é a minha maior vocação. Compartilhar saberes. Poder dizer com Rubem Alves, que o professor é aquele que, de repente, aprende. Somos eternos aprendizes e, enquanto perdurar a curiosidade, estaremos manten-do a vitalidade e a alegria de viver.

Agradeço aos nobres pares a escolha que fizeram pela minha pes-soa para ocupar a cadeira nº 17 da Academia de Letras do Vale do Iguaçu. Neste espaço poderei cultivar o meu amor pelas letras, pela cultura, pela história, e estarei entre amigos.

O ser humano se realiza quando deixa atrás de si um traço digno de ser lembrado. Somos pó e ao pó voltaremos. No entanto, ao viver, cada um assume a tarefa de potencializar em si mesmo, a criatura humana. As escolhas que cada um faz na sua vida são os seus fios que entram na com-posição da trama do mundo.

A vida segue o seu curso normal e nós nos eternizamos nos nossos filhos e netos. A minha família é o meu porto seguro. Nossa morada está construída sobre a rocha, no sentido bíblico.

“Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na an-gústia. Pelo que não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares. O Senhor dos Exércitos está conosco: o Deus de Jacó é o nosso refugio.” Estas palavras do Salmo 46

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estão presentes em minha vida, desde o momento em que deixei a casa de meus pais e formei a minha própria família.

O Deus de meus pais, a significar os valores que herdei e que são o norte de minha vida, e que vivencio em âmbito familiar, entre os amigos, nas salas de aula e nos tribunais.

Nestes meus sessenta anos de idade, aprendi a conviver com as vi-cissitudes da vida. Tal qual o super homem de Nietzsche, sou uma mulher viajante, que sabe esperar pelo sol, ainda que em meio das maiores tempes-tades. Escalar, escalar, subir, subir, sempre seguir adiante...

No seu livro, Assim falou Zaratustra, Nietzsche escreve: “Eu sou um viajante e um escalador de montanhas. Cada qual vive

unicamente a si mesmo. O meu próprio ser está, enfim, de regresso, e quan-to dele próprio andou durante muito tempo por estranhas terras e disperso entre todas as coisas e todas as contingências.

Agora preciso seguir o meu caminho mais rigoroso! Começou a minha viagem mais solitária.’ Segue o teu caminho de grandeza, o que veio agora a ser o teu último refúgio, que até aqui se chamou o teu último peri-go! Segue o teu caminho de grandeza: a tua melhor animação agora é não existirem caminhos atrás de ti!... E se, mais adiante, te faltarem todas as escadas, será preciso saberes subir sobre a tua própria cabeça; senão, como quererias seguir adiante? Sobre a tua própria cabeça e por cima do teu pró-prio coração. [...]

Tu, Zaratustra, que querias ver todas as razões e o fundo das coi-sas, precisas passar por cima de ti mesmo, e ascender, ascender até as tuas próprias estrelas ficarem abaixo de ti! ‘Sim! Ver-me a mim próprio, e até as minhas estrelas, olhando para baixo! Só isso chamo o meu cume; é esse o último cume que me falta escalar.’”

Assim é a vida. Como afirmou Leminski,

não discutocom o destino

o que pintareu assino

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DISCURSO DE POSSE DA ALVI - 2013

Margareth Rose Ribas1

Boa noite, professora Leni, presidente da ALVI, assim cumprimen-to todos os meus confrades e confreiras, demais autoridades e todos os pre-sentes.

Ocupo a cadeira número 40, que tem como patrono o doutor João Túlio Marcondes de França, nascido em União da Vitória, em 1888, e fale-cido em Guarapuava, em 1931.

João Túlio Marcondes de França foi formado em Direito, professor, poeta e escritor.

Foi promotor público em União da Vitória. Exerceu o cargo de Juiz de Direito nas comarcas de União da Vitória, Palmas, Lapa, Foz do Iguaçu e São José dos Pinhais, e o cargo de juiz da 3ª Vara Criminal de Curitiba.

Publicou “As Quatro Cidades do Vale do Iguaçu”, trabalho que fo-caliza diversos aspectos socioeconômicos do sul do Paraná. Em 1924, publi-cou “Decisões”, sentenças e despachos jurídicos. A Coleção Vale do Iguaçu, da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória, publicou, em 1974, sua obra inédita de versos, intitulada “Flores de Inver-no”. Em 1947, o Ginásio Estadual de União da Vitória (fundado em 1945), passou a chamar-se Ginásio Estadual Túlio de França em sua homenagem.

O acadêmico fundador e primeiro ocupante dessa cadeira foi o professor Nelson Antonio Sicuro.

Nasceu em Bateias de Baixo, município de Campo Alegre, Santa Catarina, em 1936, e faleceu em Curitiba, no dia 28 de novembro de 2011.

Formado em Filosofia Pura, Direito, Letras – Português e Francês, Língua e Literatura Francesa, pela Université de Nancy, pós-graduado em Língua Portuguesa pela Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Professor do Colégio Estadual Túlio de França, Colégio Cid Gon-zaga, professor e diretor da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória, da Faculdade de Ciências Administrativas de Canoinhas, Santa Catarina, da Fundação Universitária do Planalto Norte Catarinense – FUNPLOC, atual Universidade do Contestado. 1 Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 40, tendo como patrono João Túlio Marcondes de França

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• Suas publicações:• Antologia do Vale do Iguaçu, juntamente com o professor

Francisco Filipak.• Grafia Fonêmica da Língua Portuguesa do Brasil.• Esboços de uma Ortografia Fonêmica.• Explicação de Textos – autores brasileiros.• Prismas – volumes 1 ao 7.• Gramática & Gramática.• A (evoluída) gramática caipira. In: Revista da Academia de Le-

tras do Vale do Iguaçu.• Grafia fonética da língua portuguesa no Brasil. In: Revista da

Academia de Letras do Vale do Iguaçu.O professor Nelson acreditou que “...Dentre os valores permanentes

da humanidade, destacam-se as obras de arte. Talvez porque estas colaboram com o despertar e elevação da consciência humana pela percepção da beleza, sentimento universal que ultrapassa todas as fronteiras geográficas, políticas, raciais, filosóficas, ideológicas e religiosas.”

Dizia o professor Nelson: “...a música, como as demais artes, pode elevar e aperfeiçoar o espírito humano pela percepção do Belo. Quanto mais alta a inspiração da música e quanto mais apurado o nível artístico da com-posição, orquestração e interpretação... mais a música tem o poder de levar as pessoas à percepção da Beleza e, com isso torná-las melhor.” Foi um ver-dadeiro amante da música e participou de vários grupos musicais, incenti-vando jovens músicos, liderando e formando orquestra.

Sinto-me honrada em participar da Academia de Letras do Vale do Iguaçu, e compreendo muito bem a importância da ALVI perante a comu-nidade. Tive a honra de participar da Academia, mesmo não sendo ocu-pante de cadeira, desde o início da sua implantação. Lembro do primeiro telefonema que o doutor Túlio Vargas deu ao meu pai, Joaquim Osório Ribas, que foi o primeiro presidente desta Academia.

Acompanhei todos os passos, todas as reuniões que eram feitas nesta casa, para esclarecer o funcionamento, o objetivo, a filosofia e o idea-lismo da Academia. Incentivar a escrever... escrever e escrever.... contos, fatos históricos, poemas, poesias, artigos. Pesquisar e divulgar!... e o dou-tor Túlio Vargas disse que a Academia deveria andar sempre junto com as artes, que em todas as sessões solenes deveria ter uma apresentação artística!... e a ALVI tem colocado números artísticos em todas as sessões solenes!

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Durante um ano foram muitos contatos, reuniões com um grupo de intelectuais das nossas cidades, meus confrades e confreiras fundadores da ALVI.

Em nossa casa, na hora do almoço o assunto diariamente era a Academia. A minha filha, então com 7 anos de idade, adorava atender o telefone, sentia-se a secretária do avô, e certo dia, toda orgulhosa, chamou: “vô... o Getúlio Vargas está no telefone...” riso geral, sabia que era um telefonema muito importante! Noutra feita, também na hora do almoço, disse prá avó: “agora o vô e os amigos dele só pensam em academia, a senhora pode imaginar eles fazendo tanta ginástica? E começou a fazer alongamentos e flexões.....”

Sim, era o que tinha nos pensamentos da minha pequena, mas que-ro dizer que ainda hoje muitos não sabem o que é a Academia de Letras e qual a sua função na sociedade! “Nulla dies sine línea” – Nenhum dia sem uma linha!!

Sou uma privilegiada por pertencer a este grupo e sei que vou aprender muito com vocês e aproveitar a oportunidade para continuar di-vulgando a arte musical, que é a minha missão!!

Quero parabenizar os confrades e confreiras fundadores da ALVI, e principalmente, o meu pai e a Therezinha Wolff, que foram os grandes líderes na realização deste ideal que hoje está consolidado, com a ajuda de muitas mãos!

Encerro com a poesia Mãos:

MÃOS

Mãos se tocam... Trocam carícias Tornando deliciosos momentos Os inocentes ou os com malícia

Motivando o nascimento...

De um belo rebento!

Com todo cuidado... Movimentos bem treinados. As mãos do médico são as primeiras

A tocar naquele tesouro, mais valioso que o ouro. Entregando à mãe altaneira!

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Que o segura com desvelo... Ajeitando o bico do seio.

Mãos cuidadosas pegando no colo... Segurando com carinho as mãos do pequenino

Seja na cama macia ou no áspero solo Sabe como ninguém tratar do menino

Mãos dedicadas acompanhadas de receios...

Zela com esmero como se fora um paladino

Mãos ajeitando o lápis nas mãos do seu garoto Sonhando para ele um lindo destino! Educando para que não seja maroto

As mãos crescem...

Tornam-se altaneiras ou traiçoeiras

Independentes ganham a estrada Nesta vida passageira!

Vemos braços esticados com mãos abertas

Dedicação, entrega da mãe sempre alerta!

Mãos suadas e calejadas... Pelo trabalho pesado Insensível a qualquer dor...

Mãos batalhando pelo pão... Com muito amor!

Mãos molhadas de suor frio

Pelas emoções... Tensões... Arrepios... Mãos finas, delicadas... Que seduzem.

Com unhas rubras que reluzem! Mãos que julgam... Condenam ou absolvem.

Na simples caneta de um juiz!

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Mãos unidas em oração Implorando ajuda em momentos de desespero e aflição!

Mãos pequenas esticadas ao relento Pedindo para que saciem a sua fome

Fruto da crueldade do homem!

Mãos solidárias nas calamidades

A enxugar as lágrimas derramadas Nas catástrofes e imprevistas fatalidades

Doenças a pessoas dizimadas

Que assolam a humanidade!

Mãos de artistas

Pintando, escrevendo e tocando. Despertando emoções infinitas! Tantas mãos, tantas missões...

Mãos das minhas confreiras e confrades Com seus dedos e segredos

Abençoadas sejam todas

Mãos corajosas e sem medoRegistrando a História da nossa comunidade!

Obrigada!

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SAUDAÇÃO A MARIA TEREZA KRÖETZ BIEBERBACHENTREGA DA COMENDA PINHÃO DO VALE – 2003

Therezinha Leony Wolff1

Dois anos após o Acordo de Limites entre Paraná e Santa Catarina, tempo em que o charque de primeira era vendido a mil reais, e o leite a tostões, aqui chegavam Maria Vier Kröetz e Theodoro Kröetz Sobrinho. Renomado comerciante, fundava uma grande loja de ferramentas, louças e presentes, a Casa Ferro e a 1ª Concessionária Ford-Central de Automóveis e Oficinas, “Cenauto”. Concessionária que por mais de 60 anos permaneceu com a família, tendo recebido, por esse motivo, uma homenagem especial da Ford do Brasil S/A.

Com o casal Kroetz chegava, ainda menininha, a filha, Maria Te-reza, gaúcha de Santa Maria do Herval, município de São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Destinada a receber uma educação esmerada, aos 9 anos, passa a ter aulas de piano com Frau Meta Wakers e com o professor Walter Hostffeld. No colégio Santos Anjos, passa toda a sua vida escolar: desde as primeiras letras até a Escola Normal. Recém-diplomada, deixa aqui a família e segue para lecionar em Rio Bonito (Tangará), município de Cam-pos Novos. Nomeação feita pelo então Governador de Santa Catarina, Dr. Nereu Ramos.

Ano seguinte, volta a nossas cidades e cupido a apanha de surpresa. Corre o ano de 1938. Maria Tereza contrai núpcias com Ernesto Alfredo Bieberbach, cidadão Joinvilense, também admirador da arte musical, des-cendente de Ernest Bieberbach, pintor artístico de várias obras, entre as quais, residências, como a do Castelinho, em Porto União. Logo após o ca-samento, a jovem senhora leva arte para o Externato Santa Terezinha, com aulas de canto orfeônico, dança e teatro. Vieram os filhos: Ronald James, Normam Wilmar, Maria Líris, Roger Luiz, Relindes Celeste e Leacir Mil-dred. Com tão grande família para atender, embora a coragem e o espírito forte, difícil conciliar o trabalho fora de casa ou dedicar-se aos estudos de piano.

1 Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 20, tendo como patrono Yvonnich Furlani.

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Católica praticante, religião e música fazem parte de sua vida. In-tegrando o Apostolado da Oração, exerce também sua presidência. Jun-tamente com a Sra. Ofélia Feijó, funda a Liga das Senhoras Católicas de União da Vitória tendo, inclusive, conseguido o registro da Irmandade em cartório. Participando do Sagrado Coração de Jesus e, posteriormente, re-gendo o Coro feminino Stela Maris, abrilhanta, por muitos anos, as missas, procissões, festas religiosas, cívicas e cerimônias de casamento. O coro, sob sua regência, se fez presente em vários concursos, deu uma colaboração importantíssima aos Festejos do Cinquentenário de Emancipação de Porto União, tendo também gravado um disco.

Com a instalação do Instituto Raul Mensing, em União da Vitória, Maria Tereza pôde ali concluir seus estudos e, por anos seguidos, lecionar teoria musical e piano. Quando o Instituto é  transferido para Curitiba, Ma-ria Tereza permanece em União da Vitória, como sua supervisora.

O nome de nossa homenageada está tão intimamente ligado à his-tória da música em nossas cidades, que falar de uma é mentalizar outra. Seu vasto currículo nas participações e realizações, inclui:

- cursos Internacionais de Verão – de Música, em Curitiba; - curso de Canto Pastoral e 1º Concurso de Corais de Porto União

da Vitória; - participação no IV Festival de Corais do Vale do Iguaçu, no I,

II e IV Encontro com a Música, promovido pelo SESI de Porto União da Vitória;

- participação na II Semana da Cultura- Educação Musical, pro-movida pelo Centro de Cultura, Arte e Pesquisa e Departamento de Educação da FAFI;

- organização do desfile de carros alegóricos da I Semana Voca-cional de nossas cidades e da noite “Prata da Casa”, realizada no Centenário de União da Vitória, e mais tantas outras participa-ções e realizações que levaríamos  muito para enumerar.

Seu conhecimento musical reconhecido, levou-a a integrar muitas comissões julgadoras, nos vários concursos de música e canto, inclusive quando realizados fora, como os que ocorreram em Francisco Beltrão, para escolher o Hino do Município; em Lages, para escolher os melhores do Concurso Novos Intérpretes, e em Monte Negro – Rio Grande do Sul, no 5º Seminário de Jovens Instrumentistas.

Empresária, por cinco anos, dirigiu e gerenciou a Casa Ferro. Pro-fessora, ministrou aulas de canto, em curso de férias, para professoras, no

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 213

Programa de Aperfeiçoamento do MEC, do serviço de Supervisão da Se-cretaria de Educação e Cultura do Paraná.

A alegria de possuir sua própria Escola de Música aconteceu em 1979. Apoiada pela compreensão e incentivo do esposo, ganhou a clã dos filhos Ronald e Leacir, de um grupo de leais professores e fundou a Escola de Música Maria Tereza. Reconhecida pelo Instituto Nacional de Música e pela Secretaria de Educação e Cultura do Paraná, oferecendo cursos de piano, violino, flauta, teclado e acordeom, a Escola oportunizou aos alunos participação em audições musicais promovidas pela Associação das Esco-las de Música do Paraná, em Curitiba.

A vida que, para Maria Tereza, tem sido como disse o poeta, “man-so lago azul, e algumas vezes, mar fremente”, não a esmoreceu.

Quando todos pensavam que essa mulher guerreira, com nove ne-tos e cinco bisnetos, ao atingir mais  ³/4 de século de vida, iria descansar, maldizendo a velhice que a alcançara, ela, trilhando os caminhos da gran-deza cristã, vivenciando princípios de cidadania, foi colaborar com a FA-CULDADE ESTADUAL DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS de União da Vitória (FAFI), regendo o coral da 3ª Idade. E fez mais: levou-o para apresentações nas festas natalinas, juninas e missa da Catedral, nas progra-mações artísticas, e com fundos beneficentes.

Maria Tereza, a professora de música, orgulha-se de ter iniciado os estudos de piano para muitos, hoje cidadãos bem sucedidos em dife-rentes profissões, como Dr. James Yared, Dr. Célio Waldraff, Dra. Magali Unterstell Brittes, Dra. Silvia Regina Fagundes, Dr Ari Carneiro, Dra. Ester Farah, Sra. Neli Sicuro, Sra. Elenara Hirsch, Sr. João Carlos Côas, Sr. Jef-fersson Bernardon, Sra. Maristela Corrêa, entre outros. Teve seu empenho e dedicação reconhecidos em 1996, homenageada que foi com o Troféu Hermínio Milis.

Hoje, cabe à Academia de Letras do Vale do Iguaçu reconhecer- -lhe o mérito, entregando-lhe o Pinhão do Vale. Condecoração instituída para simbolizar o respeito e a admiração àqueles que muito realizam pela cultura em suas diversas áreas. E embora cada Comenda deva ser conferida a uma só pessoa, nos permitimos aqui estendê-la ao casal Maria Tereza e Ernesto Bieberbach, que unidos pelo amor e a família, por 65 anos sempre se complementaram nas realizações artísticas e sociais. 

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RELATOSRELATOSRELATOS

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Conexão Cultural Brasil x ChiCago

Ladi Tamara Benda Loiacono1

Alex de Miranda Silva2

Uma das mais significantes mudanças na história das relações do

Brasil e Estados Unidos começou nos anos 80, quando cidadãos brasileiros migraram para os Estados Unidos. Esse fato, acompanhado pelo aumento de turistas brasileiros que visitam os Estados Unidos, anualmente, por di-versas razões e, a principal delas, o turismo comercial. É estimado que mais de 1.5 milhões de brasileiros visitaram os EUA em 2013. Em se tratando de moradia permanente, segundo o Itamaraty, a população brasileira nos Estados Unidos é de acima de 1 milhão de habitantes. A maioria reside nos estados de Massachusetts, New York, New Jersey, Flórida e Texas. De acordo com a Terceira Secretária, Marianne Martins Guimarães, do Consu-lado-Geral do Brasil, em Chicago, cerca de 50 mil pessoas é a população de brasileiros que residem nos dez estados da jurisdição que abrange: Illinois, Indiana, Iowa, Michigan, Minnesota, Missouri, Nebraska, North Dakota, South Dakota e Wisconsin.

Há 42 anos, foi fundado por Jota Alves, em New York, o jornal The Brasilians, distribuído mensalmente, para promover e reportar a voz do Brasil no exterior. Outro jornal de publicação mensal e gratuita é o jornal Nossa Gente, expedido em Orlando, na Flórida, e tem como seu editor, Paulo de Souza. São os nossos jornais brasileiros nos EUA. Já em Chicago, o jornal online Chicagoano, foi fundado por Sérgio Barreto, em agosto de 2011, para destaca a cultura, a arte e a história brasileira. Em seu projeto mais recente, chamado Brazilophilis, o editor incorporou o Chicagoano como sessão de notícias locais. O novo veículo visa abranger os aconteci-mentos brasileiros em todo o território americano.

A participação brasileira na dança e na música é muito significativa. No verão, acontece o “Chicago Summer Dance”, evento patrocinado pela prefeitura da cidade, para promover o lazer e as diferentes culturas que a 1 Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 23, tendo como Patrono José Júlio Cleto da Silva. 2 Graduado em Comunicação Social pela UMESP e Vice-Presidente do Partners of the Americas Capítulo Illinois.

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cidade acolhe. O local vira uma escola de dança a céu aberto. Então, no dia especial do Brasil, não só brasileiros, mas pessoas de outras naciona-lidades, reúnem-se e se divertem no Grant Park, para aprender a dançar samba, seguindo as orientações da dançarina, cantora e atriz Dill Costa, que já interpretou diversas personagens em novelas e seriados da Rede Globo e também foi passista de várias Escolas de Samba, no Carnaval da Marquês da Sapucaí, no Rio de Janeiro. Do mesmo modo, destacam-se os grupos musicais, e cantores formados por brasileiros residentes em Chicago, como o Copacabana Trio, o Chicago Sambae, o mineiro Paulinho Garcia, que foi agraciado com o prêmio da Imprensa Brasileira de “Melhor Vocalista Bra-sileiro Internacional de 2013”. Em 2010, na categoria Jazz, recebeu o prêmio de “Chicagoan of the Year”, pelo Chicago Tribune, o maior e mais tradicional jornal da região. Continuamente, o grupo “Chicago Samba” também anima as festas de Carnaval e outras atividades sociais, como o Brasil Fest, que teve a sua primeira edição apenas em 2012, reunindo vários artistas brasileiros.Carnaval nos EUA passa despercebido pelos nativos, mas os brasileiros não deixam passar. A Evanston Escola de Samba se reúne todos os anos, com carro alegórico e fantasias, para animar, principalmente a criançada, e não deixar morrer essa cultura de festa durante essa época do ano.

A Capoeira, misto de esporte e dança, também tem espaço em Chi-cago. O Gingarte, representado pela Mestra Marisa, foi fundado em 1991 e, além de oferecer aulas, faz apresentações em eventos. Ainda no ramo dos esportes, o Brasil exportou para Chicago um jogador de baseball, André Rienzo, um paulistano de 26 anos que foi contratado como arremessador do time “White Sox”. Em 2013, o total de 567 brasileiros vieram competir na Maratona de Chicago, um crescimento impressionante comparado com os 440 atletas que competiram em 2012.

Um dos grupos mais fortes da comunidade se chama “Mães Brasi-leiras de Illinois,” com pouco mais de 350 mães, que se reúnem eventual-mente, para que seus filhos, nascidos nos EUA, cresçam falando a língua portuguesa e conheçam a cultura brasileira por meio de várias atividades e eventos, como: contar histórias de livros infantis brasileiros, participar das festas juninas e de carnaval, futebol para crianças, etc.

No campo da educação, Chicago abriga uma única escola exclusi-vamente para o ensino do português brasileiro, a Brazil in Chicago, fundada em 2006, por Marcelo Jarmendia. O local e seu fundador tornaram-se re-ferência de cultura brasileira na região. Marcelo que é formado em Ciên-cias Políticas pela Universidade de São Paulo, foi frequentemente convidado

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para opinar sobre questões que envolviam o Brasil em programas de rádio, TV e jornais, enquanto residia em Chicago. Além da escola, Marcelo tam-bém fundou a primeira Casa de Cultura Brasileira, da qual também fazemos parte, promovendo nossa cultura por meio de eventos sem fins lucrativos.

Aos domingos, numa das emissoras de rádio FM local, o locutor e apresentador Scott Adams toca músicas brasileiras, tanto para ouvintes brasileiros como também para os ouvintes americanos que gostam da nos-sa melodia.

Entre os meses de junho e julho deste ano, durante a Copa do Mun-do, cerca de 21 mil americanos se inscreveram diariamente, em todos os consulados dos Estados Unidos, para adquirir o visto brasileiro. A deman-da para conhecer o Brasil continua após a Copa do Mundo, porque os ame-ricanos sentiram-se atraídos pelas imagens das belezas naturais do Brasil, mostradas durante os jogos de futebol, pela Internet e pelas emissoras de TV. Veremos o número de turistas crescer consideravelmente nos próximos anos, ponto positivo para o Brasil nesse quesito. Juntamente com todos es-ses esforços de não deixar morrer a nossa cultura entre os compatriotas, o Brasil conta com um poderoso aliado estadunidense, a instituição não governamental, Partners of the Americas.

A conexão dos Parceiros das Américas (Partners of the Americas) com o Brasil vem de longa data, desde 1964, quando o então presidente John F. Kennedy idealizou o projeto “Aliança para o Progresso”, uma ini-ciativa de cooperativismo, para desenvolver os países sul-americanos. Esse plano consistia em parcerias políticas entre estados americanos e estados brasileiros e outros países da América do Sul. Com o passar dos anos, a “Aliança para o Progresso” cresceu e se transformou de estratégia política internacional na organização sem fins lucrativos Partners of the Americas, que este ano completa 50 anos de existência. Seu lema é conectar, servir e mudar vidas. Tal missão reflete-se em seus projetos culturais, de agricul-tura, sustentabilidade, arquitetura e urbanismo, entre outras atividades de responsabilidade social.

Cada estado brasileiro possui um parceiro, como, por exemplo, a contraparte do Estado do Paraná é Ohio; já a de Santa Catarina é Virgínia. Aqui, em Illinois nós somos membros do capítulo que é coligado com o Es-tado de São Paulo, e nos últimos anos, temos participado ativamente dessa organização, como voluntários, mais precisamente na “Mostra de Filmes Brasileiros em Chicago”, dito como um dos projetos de maior sucesso de toda a instituição atualmente.

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A “Mostra de Filmes Brasileiros em Chicago” é um projeto edu-cacional, fundado por Ariani Friedl, uma gaúcha que vive na cidade, há mais de 50 anos. Seu objetivo principal é trazer filmes que possuam te-mática sociocultural e que dificilmente serão exibidos nos cinema dos EUA. Em 2010, o evento começou com pouco mais de 5 filmes e uma audiência tímida de 20 pessoas em cada exibição; já em 2013, houve um aumento de aproximadamente 300% em cada apresentação, em compa-ração com a primeira edição.Mais de 200 pessoas assistiram aos filmes das noites de abertura e encerramento. Durante os 13 dias do evento do ano de 2013, mais de 25 filmes, entre ficções, documentários e animações longas e curtas-metragens foram exibidos nos 14 locais de exibição, que, em sua maioria, são grandes e renomadas universidades, consideradas as mais importantes do país. Além de recebermos a visita de ilustres direto-res, produtores e críticos de cinema, que desempenham papel exemplar na atual indústria do cinema brasileiro. Para citar um desses convidados especiais, escolhemos Franthiesco Ballerini, jornalista e mestre em comu-nicação pela Universidade Metodista de São Paulo, autor de dois livros: Diário de Bollywood – Curiosidades e Segredos da Maior Indústria de Cinema do Mundo e o mais recente título: Cinema Brasileiro no Século 21. Ballerini foi peça fundamental na última mostra de filmes brasileiros, pois proporcionou verdadeiras aulas sobre a história e a evolução do cine-ma nacional, deixando o público mais cativado e curioso para conhecer o maior país da América Latina. Inclusive, em um dos jornais locais de circulação gratuita, o Chicago Reader, seu jornalista especialista em cine-ma, Ben Sachs, dedicou três colunas, em diferentes dias, para reproduzir toda a entrevista com Ballerini. Um documento para ficar guardado na história.

Não só os Parceiros das Américas, mas também o Consulado-Ge-ral do Brasil em Chicago considera hoje a “Mostra de Filmes Brasileiros em Chicago”um dos projetos culturais mais importantes em toda a jurisdi-ção, pois além dos filmes que ensinam sobre o Brasil, de forma prazerosa, os departamentos de português e estudos latinos das faculdades transfor-mam o dia de exibição do filme em uma verdadeira experiência brasileira, oferecendo comidas e bebidas típicas. Muitos alunos, apaixonados pelo Brasil, também fazem shows, sempre com músicas brasileiras. É gratifi-cante e uma honra imensa ver como americanos e tantos outros povos apreciam nossa cultura, tentam esforçadamente aprender nossa língua, cantar nossas músicas, e amam nosso jeito de tratar o próximo.

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Considerada uma cidade modelo para a arquitetura mundial, Chi-cago recebeu recentemente a arquiteta paulista, Cristina Ortega, via inter-câmbio patrocinado pelos Partners of the Americas, para um seminário exclusivo sobre a renomada designer e arquiteta italiana, radicada no Bra-sil,Lina Bo Bardi, famosa mundialmente pelo seu reconhecido trabalho rea-lizado em São Paulo.

Ainda no campo da sétima arte, o ano todo, alguns filmes brasilei-ros são exibidos em festivais internacionais de cinema, como o “Chicago International Film Festival”e o “Chicago Latino Film Festival”. Este último reúne filmes de toda América Latina em um evento consagrado, que em 2014 comemorou seu 30º aniversário.

Outras formas de expressão artística passam por aqui casualmente.Em 2013, o dramaturgo Felipe Sant’Angelo, de São Paulo, foi convidado para participar do projeto “International Voices Project”, com sua peça: Artista – Um Drama Pequeno Burguês. Seu texto foi traduzido e interpretado por atores americanos. No campo das Artes Plásticas, a artista contemporânea e ativista ambiental, Denise Milan, expôs sua coleção, “Mist of the Earth”em uma das galerias do Chicago Cultural Center, que é um marco da cidade e ocupando um edifício centenário. Um misto de fotografias e colagens que retratam a beleza natural do Brasil e sua cultura miscigenada expressam o olhar de Denise, deixando todos os visitantes encantados e curiosos sobre a nossa terra.

Chicago é a quinta cidade que mais recebe brasileiros nos EUA. To-dos os dias centenas de brasileiros desembarcam na “cidade dos ventos”, em voos que saem diretamente de São Paulo e do Rio de Janeiro. Tal fato cha-mou a atenção do atual governador de Illinois, Pat Quinn, que em setembro de 2012 visitou alguns estados, como: Recife, Brasília e São Paulo, em uma missão diplomática de negócios e intercâmbio cultural. A iniciativa de estrei-tar os relacionamentos com o Brasil, provou-se acertada e cheia de sucesso. Contratos foram fechados com agências de turismo e também com univer-sidades. Esse acordo entre as duas nações reservou aproximadamente U$ 155.000 em bolsas de estudos,especialmente para brasileiros, o que de fato resultou em um aumento considerável de nossos alunos no Estado de Illinois.

Para alimentar a alma e o espírito, existem as mais variadas formas de expressar a fé. A mais popular de todas é o catolicismo, assim como no Brasil. Duas vezes por mês, a Paróquia de St Charles Borromeo, localizada no município de Melrose Park, reza missas em português, para os brasilei-ros católicos.

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Já, para alimentar o corpo, existem tanto famosas churrascarias brasileiras, como: Texas de Brasil, Fogo de Chão, quanto restaurantes es-pecializados em nossa culinária. Entre eles estão: Taste of Brasil, Sabor Express, Brasil Legal e Sinhá Elegant Cuisine. Este último, é um dos mais solicitados nos eventos mais importantes da cidade. Sua bem sucedida proprietária, Jorgina Pereira, possui uma elegante cozinha brasileira, com fino sabor internacional, que se tornou uma referência de nossa culinária.

Com o Brasil sediando a Copa do Mundo, é notável que nossa cultura veio a ser centro das atenções, em todo o mundo, e por aqui não foi diferente. Em 2014, recebemos desde o “Primeiro Simpósio Interna-cional de Candomblé”, uma religião pouco conhecida entre os americanos, porém igualmente respeitada, quanto diversas empresas brasileiras, que participaram de feiras e convenções de negócios, fazendo com que nosso país aparecesse com mais frequência nos noticiários locais.

Quando sentimos falta da nossa terra natal, começamos a dar va-lor às pequenas coisas, e um dos grandes prazeres que temos, é quando estamos caminhando pelas ruas da cidade de Chicago e de repente, ou-vimos alguém falando português, ou quando entramos em uma loja ou restaurante, e está tocando alguma melodia da inconfundível bossa nova. Ao nos depararmos com Gisele Bündchen estampando uma grife de rou-pas, ao dobrar uma esquina. Quando vamos ao cinema, teatro ou museu e prestigiamos nossa cultura, é uma quebra de rotina que revigora. É a mais pura e plena adição simplória ao cotidiano, que nos leva de volta ao Brasil, de forma nostálgica; uma sensação que se assemelha àquela quando revi-sitamos nossa infância.

RefeRências

http://brazilophiles.com/

http://brazilophiles.com/blog/2013/10/14/brazil-chicago-marathon/

http://www.chicagoreader.com/Bleader/archives/2013/11/14/a-conversa-tion-

http://www.denisemilanstudio.com/assets/files/denise-milan-press-relea-se-mist-of-the-earth-pt.pdf

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 223

http://gingartecapoeira.org/ http://www2.illinois.gov/gov/exports/Pages/Brazil.aspx

http://thebrasilians.com/

http://www.nossagente.net/

http://www.partners.net/partners/History.asp

http://www.parishesonline.com/scripts/hostedsites/org.asp?ID=5467

http://www.paulinhogarcia.com/who-is-paulinho-garcia

http://www.chicagoreader.com/Bleader/archives/2013/11/14/a-conversa-tion-with-brazilian-film-critic-franthiesco-ballerini-part-one

http://pt.wikipedia.org/wiki/Andr%C3%A9_Rienzo

http://pt.wikipedia.org/wiki/Lina_Bo_Bardi

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 225

THEREZINHA CARTONERA

Therezinha Thiel Moreira1

O Professor Dr. Caio Ricardo Bona Moreira, em viagem a Buenos Aires, teve a oportunidade de conhecer o Projeto Eloisa Cartonera. Voltan-do a União da Vitória, trouxe consigo a ideia do Projeto Cartonera para o Projeto Memórias Poéticas do Vale do Iguaçu, criando, assim, a Editora de Livros Artesanais Therezinha Cartonera.

O Projeto Memórias Poéticas do Vale do Iguaçu foi criado em 2010, um projeto cujos objetivos são: mapear, investigar e divulgar a produção literária local; ofertar oficinas poéticas para as escolas públicas da região, tendo em vista o incentivo à leitura e à produção literária em sala de aula. Projeto esse que faz parte do PIBID (Programa Institucional de Iniciação à Docência), promovido pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior).

Em maio de 2013 foram distribuídas, extraoficialmente, algumas dezenas de livros, já da edição Therezinha Cartonera, em Curitiba, no evento do PIBID-UNESPAR.

Em Minas Gerais, no ENALIC (Encontro Nacional de Licencia-tura), já haviam sido distribuídos alguns exemplares da coleção, inclusive, para alunos de outros estados.

Dia 28, às 20 horas, quando do 13º Aniversário da ALVI, aconteceu a lançamento oficial do Projeto Therezinha Cartonera, no Salão Nobre da Fundação Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de União da Vitória, contando com a presença de acadêmicos do Curso de Letras, bolsistas, con-frades e confreiras da Academia, parentes e amigos da professora home-nageada. Na ocasião foram entregues dezenas de exemplares de livros da coleção.

Participantes do primeiro momento do projeto:• Coordenador Professor: Dr. Caio Ricardo Bona Moreira.• Professoras Supervisoras: Bernardete Dolinski, Eliane Afonso

Smykaluh e Jerri Cristina Renner. Acadêmicos bolsistas: Amos Ribeiro, Ana Carolina Kostesk, Eunice Siemiatkoski, Fernanda

1 Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 13, tendo como Patrono Germano Wagenführ.

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Carolina de Almeida Andrucho, Flávia Thais Carneiro, Gabrieli Margarida Zanella, Giliandra Aparecida da Cruz Weisshaar, Gil-mar Pereira de Souza, Guido Rafael Ressel, Jessé Antônio Ma-ciel, Jéssica Correia da Luz Azeredo, Jéssica Margarida Zanella, Josiele Scheuer, Juciele Gemniczak, Juliana Savi, Katia Emanoeli Campos Grobe. Lais Silva, Mariane Gomes, Rafael Horácio Ro-drigues dos Santos, Valquíria Amanda Cordeiro.

FOtO 1: Professora Therezinha Thiel Moreira, com a participante do Projeto Jessica Magarida Zanella, quando do lançamento do

Projeto momento em que a professora e poetisa recebe o volume de nº 01 da Coleção Therezinha Cartonera, com a assinatura

de todos os participantes do projeto. FONtE: Acervo próprio.

Em 31 de março de 2013, os integrantes do Projeto promoveram a 1ª Intervenção Poética em União da Vitória, quando foram distribuídos pela cidade 600 exemplares do 1º volume da coleção Therezinha Cartonera distribuídas. Em seguida, reunidos na Praça Alvir Riesemberg, promove-ram uma série de atividades culturais com a população que por ali transita-va. Seguem duas fotos desse evento.

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 227

FOtOS 2 e 3: Intervenção PoéticaFONtE: Acervo projeto

Uma segunda edição da Coleção Therezinha Cartonera (edição especial) em contos, de escritores locais dará sequência às atividades com novos bolsistas do Projeto Memórias Poéticas do Vale do Iguaçu- 2014.

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QuEm é THEREZINHA CARTONERA?

“Nascida em Santa CatarinaEm um lugar: UruguaiQue nem no mapa está.

Nasceu Therezinha Thiel.Moça, veio ao Paraná.

Deixando de ser solteiraAcrescentou ao seu nome, Moreira.

Anos...se passaram...Não mais Therezinha Thiel...

Não mais Therezinha Thiel Moreira...Conhecida será por muitos...

Lembrada será nos tempos porTherezinha Cartonera”.

Como fiquei sabendo da homenagem?

Em fevereiro de 2013, mais precisamente, no dia 15, o Professor Caio me envia a seguinte mensagem, via facebook:

Olá, professora Therezinha, escrevo esta mensagem para comu-nicar à senhora que estamos organizando um livro artesanal, com capa de papelão e capa a guache, com poemas inéditos de poetas da cidade, a ideia e que os alunos de nossas oficinas ilus-trem a capa. O livro será distribuído gratuitamente na cidade. É uma publicação inspirada na coleção Eloisa Cartonera, de Buenos Aires, e na coleção Catarina Cartonera de Florianópolis. Decidimos, em homenagem à senhora, intitular a nossa coleção de Therezinha Cartonera. Espero que a senhora fique feliz com a homenagem do Projeto Memórias Poéticas...

O Dr. Odilon Muncinelli, em sua coluna Milho no Manjolo, do Jornal O Comércio, no dia 22 de fevereiro de 2013, faz também alusão, com um comentário do qual extraímos alguns trechos:

FOtO 4: Therezinha Thiel Moreira.FONtE: Acervo próprio.

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 229

Poetas do Iguaçu- Sob a liderança do Professor Caio Ricardo Bona Moreira está-se organizando um livro artesanal [...], em homenagem à poetisa Therezinha Thiel Moreira, membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu [...] O livro será distribuí-do gratuitamente nas escolas, praças, pontos de ônibus, restau-rantes, bares, hospitais... O nome Therezinha foi escolhido para homenagear uma das poetisas regionais, por seu talento e por ser muito querida pelos integrantes do projeto.

Não resta a menor dúvida de que, ao dar início ao Projeto Therezi-nha Cartonera, o Professor Caio imaginou a dimensão que ele alcançaria. Com ele, a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de União da Vitória, a Academia de Letras do Vale do Iguaçu, a Cidade de União de Vitória, e meu nome, cruzaram as fronteiras do país e do continente.

Quando olhamos o lado pedagógico do projeto, vemos que atinge vários níveis de escolaridade, desde o fundamental até o mestrado; senão vejamos: primeiramente com seus alunos no Curso de Letras, depois estes com alunos do Ensino Fundamental, e professores cursando mestrado, tra-balhando com essa temática.

FOtOS 5 e 6: Aplicação do projeto em nível universitário

e em nível fundamental.FONtE: Acervo projeto

Podemos perceber quantas habilidades e atitudes poderão ser de-senvolvidas quando da aplicação do projeto: socialização, parceria, respon-sabilidade, compromisso, criatividade, organização, persistência, alegria,

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dinamismo. Quantos objetivos poderão ser atingidos? Quantas metas po-derão ser alcançadas? Quantos poetas floriram ou poderão florir em meio a esse festival de atividades?

FOtO 7: Visita da Professora Therezinha à turma de alunos do Projeto PIBID 2014, em 16-05

Ao Professor Caio Ricardo Bona Moreira todos os louros desse projeto vitorioso que, com muita honra, leva meu nome.

Sua criatividade não tem limites. além da coleção, formou agora uma seleção: Therezinha Cartonera Futebol Clube. Seleção essa onde ele é o técnico e os poetas locais os jogadores. Seleção para ninguém colocar defeito!

Agradeço de todo o coração.

RefeRÊnCias

BONNA, Caio Ricardo Moreira. Facebook – 15.02.2013

MUNCINELLI, Odilon. Coluna Milho no Monjolo. Jornal O Comércio – 22.02.2013

ZANELLA, Jessica Margarida; Conversas eventuais.

http://therezinhacartonera.blogspot.com.br/

https://maps.google.fr

www.eloisacartonera.com.ar

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BIOGRAFIABIOGRAFIABIOGRAFIA

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 233

QUEM ERA EUGÊNIO SCHUWALÓFF?“DURA VERITAS, SED VERITAS”

Pedro Carlos Bruno Mrosk1

Existem verdades e verdades, umas que agradam e outras de que poucos gostam. Muitas vezes, as que custam a ser descobertas e aceitas, são as que demoram a vir à luz do dia, mediante provas e testemunhos.

Enfim, chegou o dia que vai abrir a porta que, cerrada por longos anos, deixará cair luz sobre um assunto que pode ser classificado como vergonhoso para a arte, uma família, e as Cidades Gêmeas.

É bem possível que aqui, hoje, eu seja um dos poucos ainda vivos que conheceram Eugênio Schuwalóff, pois há quase meio século que o PAI DA PINTURA DO VALE DO IGUAÇU despediu-se deste mundo.

Neste momento, podemos buscar na lembrança, na memória, as palavras do Divino Mestre ante os “Juízes-de-plantão” que estavam prontos para apedrejarem a pecadora: “Entre vós, quem não tiver pecado, que lance a primeira pedra!” Um atrás do outro, saíram quietinhos todos eles.

Meus amigos - é tão fácil fazer justiça, principalmente, quando o “pecado” chegou pelos ventos e não se tem certeza qual é, e se tem mesmo algum pecado ou um pecador a ser punido. No caso, logo no começo, Eugê-nio Schuwalóff foi visto na rua, andando com dificuldade, e foi logo julgado “alcóolatra”. Assim, nem era bem conhecido ainda.

Caso esteja aqui presente alguém que o tenha conhecido o sufi-ciente e se considere habilitado, ou seja, habilitado a algum julgamento, mas falando, porque conheceu Eugênio Schuwalóff como ninguém, e como co-partícipe em termos de conhecimento e vivência. Chegou a hora de lim-par - para assim dizer - o nome de Schuwalóff. Para começar, para poder dar continuação às narrações que apresentarei, comecemos com o nome dele: é Iewguên Schuwalow.

Vou justificar, ou melhor dizendo, explicar: citarei nomes e mais nomes, de pessoas, de localidade, de paisagens e outros, e não é correto eu querer abrasileirar tudo isso, se todos nós já criticamos quando lemos, onde quer que seja, o nome BRASIL com “Zê”.1 Pintor e escritor, ver obra: Livro Entrevistando a Arte, Ed. 2014, autora Ivanira Tereza Olbertz.

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Pela mesma razão, não chamarei o imperador da Rússia de “Que-zar”, pela seguinte razão: escrito com “CZ”, o mundo instruído lerá como “TSCHAR”, o que é ridículo. O pior é que está assim até nas enciclopédias - fui buscar. Na língua russa é TZAR, escrito com o“ZÊ” do alfabeto cirílico. Perdoem-me a corrigenda, pois há quem inventou a palavra “presidenta”, possivelmente virá “presidento” etc...

A hora chegou, e coube a mim, porque, além da amizade que nos unia, passei por situações parecidas: uma guerra não menos violenta e des-tinos parecidos. Falávamos a mesma língua e enfrentamos os mesmos ini-migos. Só isso é o suficiente - e necessário - para alguém poder avaliar o peso que o próximo carregou e soube vencer.

Imaginem um jovem, com cerca de quinze anos, ser expulso da terra em que nasceu, e levar anos para, singrando pelos sete mares, encon-trar uma nova pátria. Não foi bem este meu destino, mas, de resto, nossos caminhos foram parecidíssimos.

Para melhor entendimento, convido a todos os presentes a recua-rem comigo no tempo e no espaço, para conhecer quem era, na verdade, o homem de nome Iewguên Schuwalow, brasileiro por opção e Pai da Pintura do Vale do Iguaçu.

São Petersburgo, na língua russa “Petrograd”, assim batizada e cria-da à margem do rio Neva, que inicia no lago Ladoga e deságua no gol-fo da Finlândia, obra do Tzar Pedro o Grande, que procurava uma saída marítima, já que existentes para pouco serviam: Murmansk, praticamente no Polo Norte e servindo dois ou três meses por ano; Wladiwostok, prati-camente no outro lado do mundo, situado à beira do Mar do Japão, quase inútil; e no sul, Odessa, na Ucrânia, no Mar Negro, e praticamente fechado pelos turcos, no Bósforo, Estreito de Constantinopla. Para sair de Moscou, então a Capital, só pelo rio Volga, que deságua no Mar Cáspio, onde, no outro lado, encontram-se as costeiras do Iraque e do Irã. Impossível.

O lago Staraia Ladoga (Velha Ladoga), ou Ladoga, simplesmente, e emissário do Rio Neva, quando chega o inverno, fica coberto de gelo de tal espessura que permite que os trilhos, que circundam o lago para chegar até a Finlândia, sejam fechados ao trânsito e substituídos por trilhos de aço sobre suportes de aço que acabam implantados no gelo, por onde as loco-motivas - munidas de equipamentos limpa-trilhos - trafegam normalmente sobre o lago, só que, então, pela metade da distância.

Seria aí a saída sonhada e convocando engenheiros de quase toda a Europa, criou sua nova Capital que, unindo tudo o que deve conter, foi

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então a mais moderna de todas, contando com a experiência desses enge-nheiros, toda essa área era coberta de florestas, rios, lagos e pântanos.

Estamos agora em São Petersburgo, em honra de São Pedro, e como o nome soa bem ante os europeus, pois para estes a Rússia era conhecida como terra dos tártaros.É o ano de 1904, e nas florestas de Bielosansk, nas proximidades da Capital, o pálido sol da tarde ilumina os troncos preto-e-branco das bétulas - árvore típica do leste europeu, e vemos uma troica (carruagem de três cavalos) se aproximando, já ao final do passeio de um casal, ainda jovem, conduzido pelo “mujik” Grigori Mikhailówitsch.

Este, cantarolando baixinho as estrofes do “UtchiórnuiZwon”, a canção dos sinos, na hora do anoitecer, e que significa “Soam os Sinos”, se traduzido para a língua portuguesa.Pouco se importando com o casal no banco de trás, conduzia os animais muito bem. Já estavam próximos da ponte do rio Neva- logo estariam em casa.

George Schuwalow só tinha olhos para Lídia, sua esposa, e que es-perava o primeiro filho do casal. George, jovem tenente da Marinha Im-perial, tinha certeza de que viria um varão, pois assim desejava, para dar continuidade à tradição de sua família, nobre, e sempre servindo no Almi-rantado de Petrograd. Com experiência de “embarcado”, preparava-se para sua primeira Comissão de Comando. A majestosa frota do Mar Báltico era orgulho de oficiais e marinheiros, do Tzar e do povo.Naquele ano, em 1904, começara a guerra russo-japonesa, e a saída da base do porto de Wladiwós-tok era quase impossível para a frota russa do Mar do Japão. Assim a frota do Mar Báltico estava para sair em socorro daquele porto, então comanda-do pelo Almirante Rojdestwénski, que certamente venceria os nipônicos.

O Tenente Schuwalow não participaria da batalha distante - o Con-de Von Stottnagel, amigo da família e oficial influente nos círculos do Al-mirantado, conseguiria sua permanência junto à esposa, nesse período. O Conde, velho oficial técnico, conhecia muito bem as deficiências da Marinha Imperial e temia a derrota russa na batalha que, de fato, foi o triste fim im-posto pela armada japonesa do Almirante Togo, no estreito de Tsushimá, em 1905: depois de seis navios russos afundados, o resto da frota entregara-se.

Graças ao Conde, longe da guerra, terminaram os Schuwalow o passeio, atravessando a ponte e seguindo pelo Newski Prospekt (espécie de Avenida Beira-mar); logo chegaram à casa onde Olga Iefímowa, a gover-nanta, já os aguardava. Após o jantar, Lídia recolheu-se ao Pequeno Salão, onde delicado cavalete sustentava uma pequena tela, e começou esboçar as impressões colhidas durante o passeio.

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Lídia chegara a frequentar a Academia de Belas Artes de Paris, na França, mas pintava unicamente para seu próprio prazer. Largou o pincel, quando George entrou para comentarem o passeio. Falavam em Francês - por duas razões: as famílias nobres usavam essa língua mesmo no dia a dia, pois a língua russa ficava para o povão, os ‘’tártaros’’, como os russos euro-peus queriam ainda que fossem; e havia ainda a conveniência de poderem comentar qualquer assunto na presença da criadagem. Enquanto isso, em um canto do salão, o samovar (máquina de fazer chá, mediante aquecimen-to, usando querosene, da água) fervia a água para o chá.

Aguardavam eles a visita de Sofia Andréiewna Schuwalowa, prima rica e elegante, para o dia seguinte. Agente da Ochrana (Serviço Secreto da Rússia) com sede no Newski Prospekt, também era prima bailarina do Ballet Imperial, onde fora nomeada pelo próprio Tzar, e ainda amiga de Anna Pawlówa - a mais famosa bailarina e conhecida como Anúschka. Tal como em toda parte - falavam - sempre convinha estar nas proximidades da Família Imperial. Naqueles dias, duplamente conveniente, por que lá estava mudando o Stáretz Raspútin (Staretz = espécie de título dos magos), um Sibíriak, cujo nome verdadeiro era Grigori Definóvietz.

Em 1914 estourou a Primeira Guerra Mundial, que foi fatal para o Exército Imperial Russo, depois da derrota em Tannenberg, Prússia Orien-tal, pelas divisões alemãs do Marechal Von Hindenburg. O fiasco de todas as tropas e instituições russas abriu o caminho para a revolta bolchevique que, em outubro de 1919, acabou tomando conta de uma vez, inclusive São Petersburgo, sede da Escola Naval do Império Russo, e onde estudava um cadete de nome Iewguên Schuwalow, então com quinze para dezesseis anos de idade.

Os cadetes formando uma verdadeira tropa de elite, comandada pelos seus instrutores, tentaram a defesa da Academia, mas tiveram que se movimentar na direção sul, combatendo sempre, via Nóvgorod e Kiew, até boa parte do efetivo conseguir alcançar Odessa, cidade portuária da Ucrânia, onde ainda havia mando imperial. Foi aí o “Motim do Encoura-çado Potémkin, em 1905, e a vitória definitiva dos “Soviéticos” (Soviet = conselho), que fez com que todos os cadetes procurassem obter vagas nos navios ancorados em Odessa, mesmo como simples marinheiros, porém de formação superior, para procurarem nova pátria. Além deles, incontável foi o número de fugitivos russos pelo mundo afora, principalmente, na Euro-pa, nos Estados Unidos e no Canadá.

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Eugênio Schuwalóff passou pela Alemanha, Bélgica, França e ou-tros países, sem maior motivo, e acabou ancorando no Brasil, de que gos-tou, e resolveu ficar.

Começou como técnico em máquinas a vapor, nas fazendas, no Estado de São Paulo. Naquele tempo, todos os equipamentos e máquinas eram movidos por rodas d’água ou máquinas a vapor. No fim chegou a Pomerode, Santa Catarina, onde conheceu a jovem Berta, com quem teve a filha Tamara; e acabou em Porto União - então Família Schuwalóff - alu-gando uma casa na Rua Padre Anchieta.

Ele, como teve uma mãe que estudou Belas Artes em Paris, com quem, naturalmente, aprendeu alguma coisa, optou pela profissão de pintor - na França, Messieur Le Paintre. Pintou também na Bélgica e em Berlim, na Alemanha. Aqui chegou para ficar, gostou das Cidades Gêmeas e tratou de conhecer nossa gente, nossos costumes e adaptar-se.

Se fosse só isso, tudo iria bem, só que ele não sabia - e nem poderia saber, que a época ainda era de jeitinho interiorano, onde a maior parte das nossas famílias desconheciam quadros a óleo, e as paredes da sala eram en-feitadas com fotografia do casal, em molduras ovais e coloridas a mão; um retrato do Santo da casa; outro do Presidente Getúlio Dorneles Vargas, e a Folhinha do Ano, com ilustrações, e ganho no armazém mais próximo. Os mais abonados ostentavam ainda mais um: da Santa Ceia. Tentemos imagi-nar como alguém consegue vender, nessas condições, quadros em tela pin-tados a mão, com tinta a óleo, considerados muito caros e ainda exigindo a colocação de uma moldura - igualmente cara, uma despesa a mais. Era sorte mesmo, vender um quadro. Teve um comerciante, um só, bem mais esperto, que comprou uma tela e fez dela quatro telinhas, com a tesoura. Quando soube, Schuwalóff queria morrer, no mínimo...

Tentemos imaginar novamente, um ser humano com família para alimentar e aluguel para pagar, além de outras despesas, e voltar para casa com as mesmas telas debaixo do braço, o peso do desânimo, da decepção e, para apimentar, o rancor! Quando havia conseguido uma venda, uma “zi-nha” de telas, uma festinha? Que festinha!... uma pinguinha para não chorar...

A Medicina é unânime em confirmar falta de resistência ante be-bidas alcoólicas de grande parte de pessoas de origem eslava, mesmo “uma só” pinguinha. Isso me faz perguntar: o “pecado” de uma só dose vale uma justiça só para o mundo ver, como aquela do apedrejamento da mulher pecadora? Vale lembrar, isto sim, que nem um só de nós tem o nome de Pilatos para errar e depois lavar as mãos...

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Com o tempo, Schuwalóff “encarou” e “bateu o bom combate”, isto é, lutou e conseguiu comprar uma boa casa e abriu um atelier pequeno mas convidativo. Certo dia apareceram religiosos dos Estados Unidos, viram nele o valor artístico e humano, e todos eles (vinham sempre de dois, e quando iam embora, outros dois apareciam) - foram seus “Duble-Effe” - fregueses e fãs.

Lamentavelmente, com todas as melhoras, e havendo assumido a maneira e a vivência brasileira de coração, nunca faltavam os “beatos” para apontar-lhe o dedo e afirmar> “O Schuwalóff só pinta bem quando bebe”, e até hoje ainda tenho ouvido essa afirmação leviana que pesa... Ainda há pessoas que não o conheceram, e entendem que ele só pintava quando a pinga o inspirava.

Ora, desde quando a pinga inspira a arte e o artista?Cansado de ouvir todas estas maldades, que, na verdade, nada mais

são do que rebentos da inveja, da incompetência, resolvi buscar e achar uma prova para poder dizer, de alto e bom tom, que eu sei porque vi. Eu já o conhecia havia alguns anos, e como meu caminho do serviço para casa n fim do dia passava defronte à casa dele, tive honra e a alegria de poder visitá-lo e conversamos como bons amigos.

Agradeço a todo instante as oportunidades que Deus me concedeu de estudar algumas línguas com que, além de terem sido utilíssimas na vida profissional, obtive condições de poder entender melhor e saber mis da vida deste meu colega, amigo e - por que não? - irmão. Ele dominava além do russo, igualmente bem o português, o alemão, o francês, como tam-bém alguns conhecimentos de outros idiomas, podendo assim expressar-se usando vários idiomas em uma só frase, escolhendo os termos que mis se coadunavam com o seu pensamento, buscando e mantendo assim as afini-dades dele com outras culturas.

Era um gênio este Eugênio. Querem saber os assuntos que lhe des-pertavam o interesse? A resposta só pode ser: tudo o que existe neste mun-do, e que conhecia como poucos, e podia-se perceber o interesse com que perguntava ou respondia, sempre “ligado”.

É óbvio, que demonstrasse prazer em recordar os assuntos que tra-tavam da sua terra natal, um tanto porque eu entendia (naquele tempo!) o que era falado no seu idioma de origem. Falava, e também entoava os cânti-cos da Rússia, sobre o rio Volga, as estepes, os cossacos e, naturalmente, da “Stáraia Mátuschka Rossía”, a Velha Mãe Rússia. Vez por outra, Dona Berta trazia alguma coisa para beliscar, ou convidava para jantar, interrompendo

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o papo. Ele perguntava: “Vais jantar comigo, aceitas?” Claro que eu aceitava o jantar, geralmente original russo, como, por exemplo, arenque com pão e chá. Ele apreciava as oportunidades de recordar os hábitos do passado: o chá, “tchai’s molokóm”, que é chá com leite, costume milenar (importado - o costume! - do antigo Tibet) na Velha Rússia, e o arenque, que é o peixe que mais ocorre no Mar Báltico. Com pão de centeio e manteiga, por mais que frugal, é um manjar dos deuses para quem conheceu ou viveu na “Stá-raia Mátuschka Rossía”.

Nessas ocasiões, à moda européia, chamava-me pelo sobrenome e então surgiam os fragmentos de sua vida. Tudo isso sem uma única bebida. Uma vida riquíssima desfilava diante da minha mente, e quase tudo perma-nece perpetuado assim até hoje. Vale captar-lhe a grandiosidade, a dimen-são e o conteúdo para, em um dia como hoje, transmiti-la a todos aqueles que conheceram Schuwalów, sem conhecê-lo, e também a todos que não o conheceram, que lhe sabem o nome apenas, e que, na santa ignorância, comentam o que ouviram.

Foi em uma ocasião dessas que percebi o ponto de partida para uma empreitada que, de antemão, eu sabia que não iria ser muito fácil, mas que a gratidão se me impõe, pois foi Eugênio Schuwalów que me iniciou na filosofia da vida, na filosofia vivida de cálices cheios de ostracismo, de nostalgia e de frustração, mas também de realização plena, de riquezas in-ternas e de saber.

Decidi “encarar” - não de imediato, pois toda realização requer seu amadurecimento para alcançar o resultado. Deixar o tempo ensinar-me, como se faz ser valioso para todas as partes, poder ser compreendido pelos que não compreendiam, porque uns diziam que ele bebia para poder pintar se, na realidade, gostava de tomar chá.

Tinha prazer de oferecer uma bebida, curtida com ameixas ou ou-tras frutas, aos que o visitavam, e então acompanhava o amigo com um gole. A era de uma “pinguinha” já pertencia ao passado remoto. Ele estava ciente de que não podia, pois que a mão então não dominava o pincel.

Fiz uma experiência, que só Dona Berta sabia que a faria, e ainda com uma dose relativamente fraca, e pedi a ele que me mostrasse como se pinta determinado tema - um retrato. Ele anuiu e o resultado foi um fiasco. Não entrarei em detalhes, porque nada mudam. Para mim foi prova bastan-te, e que seja também para todos.

Ele mesmo não se abalou, e sim, comentou que com bebida ingeri-da o ser fica por ela escravizado, um inútil.

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Hoje, passados mais de quatro decênios do dia em que Schuwalów, então em apartamento de hospital, pediu uma xícara de chá que queria to-mar, sem a presença de visitantes, e chegou ao Mundo Maior, com a xícara na mão. Chegou lá feliz, porque reencontrou os seus, onde havia, em um canto, um samovar...

Os poucos objetos que os “herdeiros de plantão” não quiseram, pois já estavam locupletados, Dona Berta nos entregou, dizendo que eu saberia lhes dar o destino. Assim fiz, entreguei-os ao museu. Espero que existam.

O que interessa é a realidade, sem pôr nem tirar, apenas faltava alguém devolver, ao Vale do Iguaçu, seu dileto filho adotivo. Brasileiro por opção, amou sua terra natal e a terra que o cobriu - a matéria! - pois a alma de Eugênio Schuwalów sempre amou o mundo.

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ACADÊMICOSACADÊMICOSACADÊMICOS

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RELAçãO DE ACADÊMICOS, PATRONOS E CONTATOS

ACADÊMICOS FUNDADORES E EFETIVOS

Cadeira n.º 01 - Patrono: Mário José MayerAcadêmico: Ulysses Antônio Sebben, Fundador Telefone: (42) 3523-9197Endereço: Rua Barão do Cerro Azul, 142 - UVA - PRE-mail: [email protected]

Cadeira nº 02 - Patrono: Dirceu Marés de SouzaAcadêmico fundador: Ghassoub DomitJayme Ayres da Silva - 1º ocupanteAcadêmica: Soeli Regina Lima - 2ª ocupante Telefone: (47) 9645-7203 Endereço: Rua João Pacheco de Miranda Lima, 34889.490- 000 - Três Barras - SC E-mail: [email protected]

Cadeira n.º 03 - Patrono: Antônio da Lara RibasAcadêmico: Joaquim Osório Ribas, FundadorTelefones: (42) 3522-2115 / 9913-8395/ (46)4055-9046Endereço: Praça Cel. Amazonas, 56 - UVA - PRE-mail: [email protected]

Cadeira n.º 04 - Patrono: Didio AugustoAcadêmico Fundador: Michel Kobelinski.Atualmente vaga. Cadeira n.º 05 - Patrono: Agnelo BanachAcadêmica: Arlete Terezinha Bordin, FundadoraTelefones: (47) 9222-0817Endereço: BR 476, 1663, bairro São Joaquim - UVA - PR Cadeira n.º 06 - Patrono: João Hort Acadêmico: Paulo Horbatiuk, FundadorTelefone: (42) 3522-3153Endereço: Rua 13 de Maio, 363 - PU - SC

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Cadeira n.º 07 - Patrono: Frederecindo Marés de Souza Acadêmico: Eloy Tonon, FundadorTelefone: (42) 3524-2138 / 9975-7122 / 3522-4711Endereço: Rua Augusto Lima, 93Bairro Sagrada Família - UVA - PRE-mail: [email protected]

Cadeira n.º 08 - Patrono: Luiz WolskiAcadêmica:Fahena Porto Horbatiuk, FundadoraTelefone: (42) 3522-3153Endereço: Rua 1° de Maio, 363 - PU - SCE-mail: [email protected]

Cadeira n.º 09 - Patrono: Padre Francisco SalacheAcadêmico: Dom Walter Michael Ebejer, FundadorTelefone: (42) 3522-7528Endereço: Rua Francisco Paes Carneiro, 48Bairro Jardim Brasília - PU - SCE-mail: [email protected] Cadeira n.º 10 - Patrono: Abílio Heiss Acadêmico: Raulino Bortolini - 2º ocupante Telefone: (42) 3522-3159 / 9103-1097Endereço: Rua Castro Alves, 555 - UVA - PR Cadeira n° 11 - Patrono: Ermindo Francisco RovedaAcadêmica fundadora: Neli de Oliveira Melo Sicuro Acadêmico: Roberto Domit de Oliveira - 1º ocupanteTelefone: (42) 3522-6987/ 9975-1409 Endereço: Rua Prudente de Morais, 515 ap. 102 - PU -SC E-mail: [email protected] Cadeira n.º 12 - Patrono: Lamartine AugustoAcadêmico: João Darcy Ruggeri - 1º ocupanteTelefone: (41) 3242-5356 / 9979-9732 / (41) 3242-2875Endereço: Rua Nestor Victor, 315/227Bairro Água Verde - 80.620-400 - Curitiba - PRE-mail: [email protected]

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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014 245

Cadeira n.º 13 - Patrono: Germano Wagenführ Acadêmica: Therezinha Thiel Moreira - 1ª ocupante Telefone: (42) 8867-2433 / (42) 9982-8710 Endereço: Rua Benjamim Constant, 55 Apto 01 - UVA - PR E-mail: [email protected]

Cadeira n.º 14 - Patrono: Frei Rogério NeuhausAcadêmica: Márcia Marlene Stenzler Garcia de Lima - 1ª ocupanteTelefones: (42) 3521-9100 / 9103-8758Endereço: Rua Cel. Amazonas, 868 - PU - SCE-mail: [email protected] Cadeira n.º 15 - Patrono: Ari Milis Acadêmica fundadora: Sueli de Souza Pinto, FundadoraAcadêmico: Willy Carlos Jung - 1.º ocupanteTelefone: (42) 3522-4888 / 3522-4490Endereço: Rua Prudente de Moraes, 130 - PU - SCE-mail: [email protected]

Cadeira n.º 16 - Patrono: Alvir RiesembergAcadêmica: Irene Rucinski, FundadoraTelefone: (42) 3522-5841Endereço: Avenida João Pessoa, 1912 - PU - SCE-mail: [email protected]

Cadeira nº 17 - Patrono: Paulo LeminskiAcadêmico fundador: Armindo José LonghiAcadêmica: Marilucia Flenik - 1ª ocupanteTelefone: (42) 3522-2264 / (42)  9975-0792Endereço: Rua Max Metzler, 71 - PU - SCE-mail: [email protected]

Cadeira n.º 18 - Patrono: João Farani Mansur GuériosAcadêmico: Odilon Muncinelli, FundadorTelefones: (42) 3522-3620 / 3522-4291Endereço: Rua Voluntários da Pátria, 131 - Caixa Postal 45 - PU - SCE-mail: [email protected]

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Cadeira n.º 19 - Patrona: Profª. Edy Santos da Costa Acadêmica: Leni Trentim Gaspari, FundadoraTelefones: (42) 3522-4561 / 3521-9100Endereço: Rua Marechal Floriano Peixoto, 39584.600-000 - UVA - PRE-mail: [email protected]

Cadeira n.º 20 - Patrono: Yvonnich Furlani Acadêmica: Therezinha Leony Wolff, FundadoraTelefone: (42) 3522-2927 / 8809-4170/ 3523-9280Endereço: Rua Cel. Belarmino, 367 - PU - SCE-mail: [email protected]

Cadeira n.º 21- Patrono: Jorge WillAcadêmico: Ivahy Detlev Will, FundadorTelefone: (41) 3324-6511Endereço: Rua Visconde de Guarapuava, 3748/5180.250-220 - Curitiba - PR Cadeira n.º 22- Patrono: Cordovan Frederico de MeloAcadêmico: Cordovan Frederico de Melo Junior, FundadorTelefone: (42) 3522-4820 / 9975-8473Endereço: Rua Castro Alves, 92 - UVA - PR

Cadeira n.º 23- Patrono: José Júlio Cleto da SilvaLadi Tamara Benda Loiacono, Fundadora Endereço: 54 W Lake Street- Oak Park, Illinois 60302- USA E-mail: [email protected]

Cadeira n.º 24 - Patrono: João Guilherme RussoAcadêmico: Ivan Vidal Portela, Fundador Telefone: (41) 3274-2939 / 3522-9933 Endereço: Rua Angela Ganz, 218 80.740-240 - Campina do Siqueira - PRE-mail: [email protected]

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Cadeira n.º 25 - Patrono: Wolfgang AmmonAcadêmico: Fídias Telles de Carvalho, FundadorTelefone: (48) 9991-4010 Endereço: Caixa Postal 220, Central 88.010-970 - Florianópolis - SCE-mail: [email protected]

Cadeira n° 26 - Patrono: Tadeu KrulAcadêmico Fundador: Alexandre DrabikFrancisco Filipak - 1º ocupanteAcadêmica: Tânia Margaret Ruski - 2ª ocupanteTelefone: (42) 3522-0204 Endereço: Rua Sete de Setembro, 608 - apto 502 - PU - SC E-mail: [email protected]

Cadeira n.º 27 - Patrono: José Pacheco CletoAcadêmica fundadora: Helena Lima KlotzAcadêmica: Maria Genoveva Bordignon Esteves - 1ª ocupanteTelefone: (42) 3522-1837 / 3523-6195 / 9900-2020 Endereço: Rua Tancredo Benghi, 33Bairro São Basílio Magno - UVA - PRE-mail: [email protected]

Cadeira n.º 28 - Patrono: Hermínio MilisAcadêmico: José Fagundes, FundadorTelefone: (42) 3522-2424 / 3522-4433Endereço: Avenida João Pessoa, 2131 - PU - SCE-mail: [email protected] Cadeira n.º 29 - Patrono: Ernesto Ulrich BreyerAcadêmico: Dago Alfredo Woehl, FundadorTelefone: (42) 3523-1515 / 9945-0238Endereço: Rua Francisco de Paula Dias, 672Bairro Santa Rosa - PU - SCE-mail: [email protected]

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Cadeira n.º 30 - Patrono: Joaquim Serapião do NascimentoAcadêmica fundadora: Yeda Cordeiro RamiresAcadêmico: Aluízio Witiuk - 1º ocupanteTelefone: (42) 3522-3920 Endereço: Rua João Savi, 15789.400-000 Porto União - SC E-mail: [email protected]

Cadeira n.º 31 - Patrono: Cyro EhlkeAcadêmico: Fernando Luis Tokarski, FundadorTelefones: (47) 3622-3102 / (47) 3621-7742 / (47) 9918-5052Endereço: Rua Marechal Rondon, Alto das Palmeiras, 1.08189.460-000 - Canoinhas - SCE-mails: [email protected] / [email protected] Cadeira n.º 32 - Patrono: Frei Libório LuegAcadêmico: Pedro Alberto Skiba - 1º ocupanteTelefones: (47) 3633-1230 / 9986-0258 / 3634-1536Endereço: Rua Osni Roberto Turek, 26 - Caixa Postal 45089.290-000 - São Bento do Sul - SCE-mail: [email protected]

Cadeira n.º 33 - Patrona: Amasília Pinto de AraújoAcadêmica: Lili Matzenbacher, FundadoraTelefone: (42) 9910-8282Endereço: Rua 7 de Setembro, 148 - PU - SC

Cadeira n.º 34 - Patrono: Pedro Margarido Maciel de AraújoAlcides Rodrigues de Almeida - 1º ocupanteAcadêmica: Maria Rosa Gaiovicz - 2ª ocupanteTelefones: (42) 3552-1257/ 8813-6557 Endereço: Presidente Kennedy, 130 84.660-000 - General Carneiro - PR

Cadeira n.º 35 - Patrono: Mário RiesembergAcadêmica: Leda Barcelos, FundadoraTelefones: (42) 9927-8698 / 9144-1915Endereço: Cruz Machado, 401 - UVA - PR

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Cadeira n.º 36 - Patrono: Cícero Marcondes de FrançaAcadêmico: Célio Horst Waldraff - 1º ocupanteTelefones: (41) 9154-7926 / (41) 3016-7926Endereço: Rua Vicente Machado, 147 80.420-010 - Curitiba - PRE-mail: [email protected]

Cadeira n.º 37 - Patrono: Ladislau RomanowskiAcadêmico: Acir Mário Karwoski - 1º ocupanteTelefones: (34) 9115-5528 / 3318-5032 / 3318-5049Endereço: Avenida Leopoldino de Oliveira, 579Residencial Jardim Europa, apto 202, bloco 23Bairro Parque do Mirante - 38.081-000 - Uberaba - MGE-mail: [email protected]

Cadeira n.º 38 - Patrono: Estevão JukAcadêmica: Roseli Bilobran Klein - 1º ocupanteTelefone: (42) 3522-5794Endereço: Rua Vereador Otto Eggers, 201- PU- SCE-mail: [email protected]

Cadeira n.º 39 - Patrono: Raimundo ColaçoAcadêmico: Ivo Dolinski - 1º ocupanteTelefones: (42) 3522-4671 / 9975-0039 / 3522-0950Endereço: Rua Barão do Rio Branco, 560 - UVA - PRE-mail: [email protected]

Cadeira nº 40 - Patrono: João Tulio Marcondes de FrançaAcadêmico fundador: Nelson Antônio SicuroAcadêmica: Margareth Rose Ribas - 1ª ocupante Telefone: (42) 3522-2630 / 9103-8545 Endereço: Praça Coronel Amazonas, 56 - centro - UVA - PRE-mail: [email protected]

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COMENDADORESCOMENDADORESCOMENDADORES

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OUTORGA DA COMENDA PINHãO DO VALE PELA ALVI

A iniciativa desta homenagem nasceu em 2003, de uma proposição dos Acadêmicos Odilon Muncinelli e Ivo Dolinski, a qual foi prontamente acolhida pelo Colegiado, por se enquadrar nos objetivos desta Academia. A indicação e escolha das pessoas a serem agraciadas é feita pelos membros integrantes da ALVI, levando em conta, como critério de merecimento, todo e qualquer trabalho trazido a público, de reconhecido e expressivo valor li-terário, histórico e artístico, ou relevantes serviços prestados à comunidade, na área de abrangência da nossa Academia. Esta instituição privilegia todos os anos, dois exemplos maiores, um no campo das Letras e Artes e outro, no campo Social. A homenagem consiste na outorga de uma medalha de forma ovalada, em dourado, com presilha para fita, contendo um pinhão dourado em alto relevo, sob um fundo de textura espiralada em azul-marinho. Medi-das: 6 cm de altura, contando com a presilha e 3,5 de largura no ponto mais largo. Acompanha um Diploma de Comendador pela ALVI.

RECEbERAM A COMENDA PINhãO DO VAlE:

2003 - MARIA TEREZA bIEbERbACh Maria Tereza,filha de Maria Vier Kroetz e Theodoro Kroetz. Des-

tinada a receber uma educação esmerada, aos 9 anos, passa a ter aulas de piano com Frau Meta Wakers e com o professor Walter Hostffeld. No colégio Santos Anjos, passa toda a sua vida escolar: desde as primeiras letras ate a Escola Normal.Recém-diplomada, segue para lecionar em Rio Bonito (Tan-gará) município de Campos Novos. Em1938, Maria Tereza contrai núpcias com Ernesto Alfredo Bieberbach, cidadão Joinvilense, também admirador da arte musical. Leva arte para o Externato Santa Terezinha, com aulas de canto orfeônico, dança e teatro Religião e música fazem parte de sua vida.Integrando o Apostolado da Oração, exerce também sua presidência. Parti-cipando da Paróquia Sagrado Coração de Jesus e, posteriormente, regendo o Coral feminino Stela Maris, abrilhanta, por muitos anos, as missas, pro-cissões, festas religiosas, cívicas e cerimônias de casamento. Com a instala-ção do Instituto Raul Mensing, em União da Vitória, Maria Tereza pôde ali concluir seus estudos e, por anos seguidos, lecionar teoria musical e piano. Quando o Instituto é  transferido para Curitiba, Maria Tereza fica como sua supervisora. A criação de sua própria Escola de Música aconteceu em 1979. Reconhecida pelo Instituto Nacional de Música e pela Secretaria de Educa-ção e Cultura do Paraná, oferecendo cursos de piano, violino, flauta, tecla-

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do e acordeon, a Escola oportunizou aos alunos participação em audições musicais promovidas pela Associação das Escolas de Música do Paraná, em Curitiba, e em outras inúmeras atividades culturais coordenadas por ela, nas Cidades Gêmeas (Therezinha Leony Wolff).

2003 - MANOEl ClARO AlVES NETOManoel Claro Alves Neto, nascido em Curitiba, 1937, foi militar, me-

cânico, professor na Face/Uniuv. Viveu muito tempo em União da Vitória. Agora reside em Ponta Grossa, onde exerce sua nova profissão - a medicina. Pretende, em breve, fazer um trabalho como médico na África. Escreveu, em União da Vitória, 13 obras poéticas, ricas em valores existenciais, cujos no-mes apontam claramente: Bom Senso, Bom Ânimo, Linha Divisória, Desafio Cristão, O Vale Mágico, Esquina do Tempo, Como fazer poesia, Relíquias, Poemas Escolhidos, Velho, Velho, Eterno Tema..., Meus Balões Coloridos, Novas Trovas, Últimos Versos. Todos esses livros foram compilados no livro De um pastor de estrelas: poemas da vida inteira, publicado pela Juruá, em 2007.Seu curriculum vitae já diz como é o Manoel: incansável - na vida e na arte - inseparáveis. Seu olhar brilha, seu mistério sobressai, e vai adian-te, pondo em prática, na mais bela forma, sua existência. Agora, prepara-se para publicar: “Fábulas de um Monge Taoísta”. A fábula é um gênero literário que os animais, em geral, dialogam, às voltas com seus problemas, mas cujas atitudes se aplicam a comportamentos humanos. Ao final, costuma apare-cer, em destaque, a Moral da História. É um gênero breve, com tempo inde-terminado, e cujo título não antecipa o conteúdo.São misteriosas as origens da astrologia chinesa, com seus animais: Rato, Boi, Tigre, Coelho, Dragão, Serpente, Cavalo, Carneiro, Macaco, Galo, Cão e Porco. Esses 12 animais são os signos da astrologia chinesa, e são por eles considerados o espelho do Universo. Com base na sabedoria taoísta, e nesses animais, Manoel Claro desenvolveu suas fábulas, encontrando uma forma de repassar valores huma-nizantes, como fez nas obras anteriores (Fahena Porto Horbatiuk).

2004 - GUERINO MASSIGNANNasceu em Nova Balsa no Rio Grande do Sul, em 15/09/1919, filho

de agricultores, mudando-se, ainda criança, com a família, para a Colônia Barra Verde, em Herval, hoje Herval d’Oeste, onde adquiriram uma área de terras rurais e se estabeleceram. Com 17 anos, foi procurado por uma comis-são de moradores, para ser professor na escola de Barra Verde, permanecen-do nessa função por três anos. Alistou-se como voluntário no 15o Batalhão de Caçadores, em Curitiba, participando logo de seleção para cabo, tendo sido

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aprovado e promovido. Nessa época, conheceu Antônia, com quem se casou, em 29 de maio de 1943, e continuou suas atividades de professor na escola de Barra Verde, agora auxiliado pela esposa. Com desejo de melhorar de vida, em 1945, vieram para Porto União, onde iniciaram sua vida comercial, com um armazém, na Rua Matos Costa, próximo ao Açougue Catarinense, uma atividade muito bem sucedida. Pouco tempo depois, veio seu irmão Severi-no, passando a empresa a chamar-se Irmãos Massignan. Seu pai, José Massig-nan, associa-se, igualmente, passando a empresa a ser Irmãos Massignan & Cia. Os negócios foram crescendo, adquiriram um engarrafamento de bebi-das, na Rua Prudente, em União da Vitória. Logo, arrendaram uma serraria, em Santa Maria, próximo à cidade. Pouco depois, permutam o imóvel da Rua Prudente por uma serraria, com a empresa Bohrer, situada em Horizon-te. Deixam, então, o comércio a varejo e o engarrafamento, dedicando-se às serrarias e à compra de cereais, por atacado.Em 1954, adquirem um moinho de trigo, em Pato Branco, transferindo-o, em 1957, para União da Vitória, onde funcionou por quase 50 anos. Com sua esposa, constituiu uma família exemplar, com seus filhos Sérgio, Nelson e Léa, que lhe trouxeram muitos netos e bisnetos. Guerino Massignan sempre foi uma pessoa empreendedora, honesta, correta e generosa, participando ativamente da vida em sociedade, também como membro do Lions, colaborando sempre com as campanhas beneficentes. Foi vereador, de 1968 a 1972, e presidente da Câmara Munici-pal de União da Vitória por dois anos. Participou da fundação do Regional Hospital, do qual foi, por muitos anos, vice-presidente. Católico praticante, um dos responsáveis pela vinda dos padres Capuchinhos (Romano Berejuk).

2004 - JOSÉ KRETSChEK Em 2004, José Kretschek, recebia de União da Vitória por meio da

Academia de Letras do Vale do Iguaçu, a Comenda Pinhão do Vale, “pelos serviços prestados à sociedade e pelos seus méritos no campo da Música e Memória Social”. Nascido em Florianópolis, em 1914, construiu em Porto União a sua vida. Enquanto estudante, atleta, ator, músico, membro da Igre-ja Luterana e comerciante (Casa Renner, de artigos masculinos), participou ativamente da vida social e cultural da região. Como músico - primeiro violi-no - participou de diversas orquestras: Sociedade Rio Branco (Curitiba/PR), SCAHJO (Joaçaba/SC e, em União da Vitória, da Sociedade Filarmônica União, da Elite e do Grupo Orquestra Vivaldi. Pela sua dedicação, do Decre-to Legislativo de Porto União que lhe concedeu, em 1996, o título de Cidadão Honorário, consta: “não são poucos os corações que guardam com carinho os sons de sua música, que embalou casamentos, batizados, formaturas”.Ca-

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sou em 1941, com Gerda Alice Winter. Tiveram três filhos. Faleceu em 2008. Sua trajetória em nossas cidades lembra a de muitas pessoas igualmente em-penhadas na promoção da cultura de Porto União da Vitória, muitas delas lembradas no acervo que construiu ao longo de sua vida, hoje, conhecido como Acervo do Seu José (Dago Alfredo Woehl e Irene)Rucinski).

 2005 - FRANCISCO FIlIPAK

Francisco Filipak nasceu em Araucária, a 7 de agosto de 1924. É filho de Antônio Filipak e Maria Gawlak Filipak. Em 1943, prosseguiu os estudos no Seminário Maior Imaculada Conceição, em São Leopoldo, Rio Grande do Sul, onde, em 1949, concluiu os cursos de Filosofia e Teologia. Em 22 de dezembro de 1949 foi ordenado sacerdote por Dom Antonio Mazza-rotto, na igreja matriz de Nossa Senhora da Luz, em Irati. No início de 1950, foi nomeado coadjutor da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em União da Vitória. Em 1956, foi nomeado Pároco de União da Vitória. No período de 1956 a 1967, Filipak preparou a base para a criação da Diocese de União da Vitória, concretizada em 1976. Atuante, íntegro e respeitado pela comuni-dade, recebeu o título de Primeiro Cidadão Honorário de União da Vitória. Professor fundador da FAFI, fez mestrado, e ocupou na FAFI o cargo de Di-retor, no quadriênio 1968-1972. Lançou-se ao estudo das Letras Regionais, delas resultando a Antologia do Vale do Iguaçu, de sua co-autoria, publicada pela FAFI, em 1976. No mesmo ano, publicou Helianto Outonal, poemas líricos de sua lavra. Foi estudioso dos problemas linguísticos dialetais, pu-blicando em 1977, o Glossário do Vale do Iguaçu. Esses trabalhos lhe deram notoriedade estadual, sendo por isso, admitido como sócio nos sodalícios literários da Capital, bem como no Centro Letras do Paraná, Academia de Letras José de Alencar, Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaen-se, mais tarde passou a integrar também a Academia de Letras do Centro-Sul - Irati e Academia de Letras do Vale do Iguaçu. Publicou Mosaico, poemas de Dante Jesus Augusto e Flores de Inverno, de Túlio de França, ambos de União da Vitória. O Livro Centenário no Brasil da Família Filipak, foi fruto de cinco anos de pesquisas. Foi co-autor de Poetas do Brasil. Pesquisou as variantes linguísticas das diversas regiões do Paraná, e publicou o Dicionário Dialeto-lógico Paranaense (Leni Trentim Gaspari).

2005 - JOSÉ NElSON DISSENhAHomem de negócios da mais larga visão, que percorreu os cami-

nhos da vida sempre mirando horizonte além de suas atividades profissio-nais, preocupando-se também com os problemas da sociedade. Personali-

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dade engrandecida pelos mais nobres atributos de humildade, simplicidade e generosidade. Nelson veio de Curitiba, liderado por se pai João Batista Dissenha, em busca de negócios no setor da madeira. Acreditou no projeto nascido com a pequena serraria, em 1947, lá na Colônia Mendes. Agregou valor na produção, evoluindo para o fabrico de lâminas, daí para compensa-dos culminando com a moderna indústria de papel. Seu parque fabril ocupa 55.000m² de área coberta e abriga 600 empregos diretos.O trabalho da em-presa não absorveu seu tempo todo. Reservou espaço suficiente e recursos financeiros, para ajudar na construção de abrigo para crianças de rua, asilo para velhos, hospitais de caridade, igrejas, escola profissional e Universidade. É um plantador de árvores e ideias (Joaquim Osório Ribas, 2005).

2006 - IVETTE MAZZAlINascida em Curitiba, em 1919, veio para Porto União aos três anos

de idade, fazendo o primário, ginásio e Escola Normal, no Colégio Santos Anjos, onde começou a lecionar, antes mesmo de formada no Magistério. Depois de fazer um curso de especialização, chamado Escola Normal Su-perior Vocacional, no próprio colégio, passou a lecionar nesse curso por mais oito anos. Lecionou no Grupo Escolar Serapião (PR), fez a faculdade de Pedagogia em Curitiba, em 1956, começou a lecionar na Escola Professora Amazília, já em 1955. Foi a fundadora do Serviço de Orientação Educacio-nal, no Colégio Estadual Túlio de França. Lecionava, portanto, no Túlio de França e na Escola Normal Professora Amazília. Trabalhou aproximadamen-te dez anos na Comissão da Reforma de Ensino, com os padrões da Escola Normal Professora Amazília e da Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de União da Vitória, na qual foi fundadora. Como membro atuante da Fafi, participou de vários congressos nacionais de Ensino Superior e Médio. A Escola Normal Professora Amazília, graças à Prof. Ivette e seus colegas, era atuante na comunidade, tanto quanto hoje são as universidades. D. Ivette foi multiplicadora de cursos de aperfeiçoamento, e aosentou-se da Fafi, em 1986, após 44 anos em prol da Educação. É lembrada como símbolo do Ma-gistério em nosso meio (Lili Matzenbacher).

2006 - PE. OSVAlDO SANTONI Nasceu em Fiavé, cidade de Trento, na Itália em 26 de março de

1940.Aos 12 anos entrou para o Seminário Piamartino,fazendo a 1ª profissão religiosa em 1959, e profissão perpértua em 1965.Foi ordenado sacerdote da Congregação Sagrada Família de Nazaré, em 1968, em Bréscia, na Capela do Instituto Artigianelli, construído pelo Pe. João Piamarta Chega ao Brasil e

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atua como Pároco na Igreja de S. Rosa de Lima no período de 1973 a 1978. Vem para União da Vitória, onde inicia um belo trabalho voltado às crian-ças, com apoio da Itália, para construir o o Instituto Piamarta, que abrigaria meninos necessitados. Nesse local os meninos, além de estudar, participam de atividades esportivas, e das atividades cotidianas dentro do Instituto, com objetivo de fortalecimento da conduta moral e personalidade íntegra. Com responsabilidade, os jovens vão se tornando adultos resgatando sua autoes-tima, sua dignidade de ser humano, pelo trabalho, estudo e oração. Alguns já cursando Faculdade, casando e sendo úteis à sociedade. O trabalho desse sacerdote, envolvido sempre com seus “filhos do coração”, faz dele uma pes-soa exemplo de amor ao próximo.Planeja e age, sempre rompendo barreiras e tornando possível aquilo que para muitos seria utopia (Fahena Horbatuik).

2007 - WIlhElM hEINRIChS (FREI JOãO)Wilhelm Heinrichs nasceu em 1º de novembro de 1931, na aldeia

de Kueckhoven, município de Erecklenz, Renania, na Alemanha. Em 10 de agosto de 1952, Wilhelm entrou como postulante na Congregação dos Ir-mãos Pobres de São Francisco, os quais dedicavam-se à educação de jovens abandonados. Em 1953, foi admitido no noviciado, recebendo o nome de Frei João Evangelista. Em 1955, Frei João emitiu seus primeiros votos. Veio ao Brasil em 1956, e logo veio a Porto União, auxiliando no Juvenato. Em 1958 foi para São Paulo, e fez seus votos perpétuos. Foi para Alemanha em 1962,estudou em regime de internato, sendo diplomado com a Missio Canô-nica e autorizado a dirigir casa de assistência social. Dedicou-se ao atendi-mento de marginalizados da sociedade moderna. Em 1965, recebeu convite para retornar ao Brasil, aceitando com muita alegria e veio para Porto União, no Colégio São José. Iniciou como professor, assumiu a Secretaria e depois a administração financeira do Colégio, que passava por uma situação finan-ceira difícil. Assumindo a direção, inúmeras foram as modificações feitas por ele: entre elas, a introdução 2º. Ciclo Secundário; de curso misto; criou cursos profissionalizantes, combinados com uma formação geral; reabriu as primeiras séries do primário e introduziu o pré-escolar. Firme e dedicado, mas também generoso, auxiliou alunos carentes e a comunidade. Além de professor, administrador e Diretor Geral do Colégio,Frei João orientou o Colégio São José para os sucessos que o foram engrandecendo, transforman-do-o num empreendimento vitorioso de que Porto União, com justas razões, se orgulha. Em 1984 recebeu da Câmara Municipal o Título de Cidadão Ho-norário de Porto União, pelos relevantes serviços prestados à comunidade (Cordovan F de Mello Junior- Livro: Historia do Colégio são José - 1973).

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2007 - JOãO SlIWINSKI PRIMOJoão Sliwinski Primo, nascido em 24 de junho de 1951, é o primeiro

dos sete filhos do casal Waldomiro e Verônica Sliwinski Primo, pertencente à segunda geração de ucranianos no Brasil. Participa ativamente da comuni-dade ucraniana, junto à Paróquia de São Basílio Magno, e também do Clube Ucraniano, como Presidente e membro das diretorias. O espírito de lideran-ça é uma marca indelével da vida de Sliwinski. Em 1969 ajudou a fundar o Grupo Folclórico Ucraniano de União da Vitória, que mais tarde passaria a denominar-se Folclore Ucraniano Kalena. O Kalena é um dos orgulhos de João Sliwinski Primo; conquistou as muitas vitórias, como o Festival de Joinville, o reconhecimento do Governo Ucraniano ao convidar o Kalena para comemorações dos 1500 anos da Capital Kyiev, centenas de apresen-tações do grupo pelo Sul e Sudeste Brasileiro, tudo isso, são motivos para reconhecer que todo o esforço valeu a pena. Em 1981, a convite do Sr. Miguel Kalinoski, diretor da Rádio União, cria programa ‘’Saudades da Ucrânia’’, es-tando ao ar até os dias de hoje. Primo é técnico óptico, e há trinta e sete anos é funcionário (e atualmente, proprietário) da Ótica Iguaçu de Porto União. Atualmente, é o Vice-Presidente da Comissão Administrativa da Matriz São Basílio Magno, Relações Públicas do Folclore Ucraniano Kalena, Diretor de Patrimônio do CDL, Diretor Cultural do Clube Apolo, faz parte do Con-selho Superior da SUBRAS (Sociedade Ucraniana do Brasil), com sede em Curitiba. No primeiro dia de julho de 2004, Sliwinski recebeu do Governo da Ucrânia uma MOÇÃO HONROSA, através do Presidente para Assun-tos Exteriores, o Sr. Genedij Moskalhal, reconhecimento oficial do Governo Ucraniano, pelo seu empenho em ajudar o consolidar e preservar a Cultura Ucraniana no Brasil (Dago Alfredo Woehl).

2008 - WAlFRIDO DEllA bARbA KÜRTENNasceu em 23 de julho de 1908, no Bairro de Tocos, hoje, Porto

União, na época, União da Vitória, Paraná. Naquele logradouro era a entra-da das tropas que percorriam o caminho de Palmas à Palmeira. Walfrido, na companhia de seus contemporâneos, acorria para a beira do antigo caminho, para ver a passagem das tropas. A família Kürten mantinha laços intensos de comércio e amizade com os fazendeiros e tropeiros daquela época. Germano Kürten e Dona Olinda Della Barba Kürten, seus pais, tinham armazém de secos e molhados, para abastecer de sal e outros gêneros de consumo os ru-ralistas. A sua atividade comercial estendia-se até Palmas e Clevelândia. Na década de 1930, a família Kürten passou à atividade extrativista, instalando serrarias em São João dos Pobres e no Palmital. Coube a Walfrido a função

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de perito contador, que desempenhou com lisura e critério, no registro da documentação da empresa. Espargindo amor, Walfrido viveu mais de um século. A família, seus pares do comércio e os irmãos na doutrina espírita, fizeram de sua vida uma fascinante aventura, no aprendizado do sentido da existência humana. Como espírita, sempre esteve presente nos eventos, para ajudá-las nos momentos de angústia. Transmitia a paz. Como dizem seus filhos e netos: “A luz que emanava dele é mais forte que a do sol, mais bonita que a lua e tão verdadeira quanto à das estrelas mais brilhantes” (Joaquim Osório Ribas).

2008 - MÁRIO RENATO ERZINGER, O SOlDADO EDUCADOR Filho da prestimosa Iracema Marschalk Erzinger e do inesquecível

Emílio Erzinger, Mário Renato Erzinger nasceu na cidade de Canoinhas, Es-tado de Santa Catarina, no dia 30 de agosto de 1964. Começou a sua Edu-cação Primária no Colégio Sagrado Coração de Jesus, e realizou o Ensino Médio no Colégio Estadual Santa Cruz, ambos na cidade de Canoinhas (SC). Amealhou a sua formação Acadêmica Militar na Academia da Polícia Militar da Trindade, em Florianópolis, realizando o Curso Superior de Formação de Oficiais, com graduação em Segurança Pública, em 1986; o Curso de Espe-cialização em Psicotécnica Militar, em 1988; e o Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, em 1999. Realizou também os Cursos de Prevenção e Repressão às Drogas e à Violência, da Secretaria Nacional Antidrogas, em Florianópolis - 1996 e Blumenau - 1998, e Cursos de Instrutor PROERD - Séries Iniciais, Quarta e Sexta Séries e Pais. Recebeu a Comenda Pinhão do Vale no dia 8 de novembro de 2008(Odilon Muncinelli).

2009 - AlDAIR WENGERKIEWICZ MUNCINEllI No dia 30 de dezembro de 1945, na querida e amada Porto União,

Estado de Santa Catarina, nasceu Aldair Wengerkiewicz Muncinelli, filha do casal Wenceslau Albino Wengerkiewicz e Ilda Tarlombani Wengerkiewicz, ele ferroviário e ela de afazeres domésticos. A sua formação escolar e profis-sional foi amealhada, a tempo e modo, - completou o Curso Normal Secun-dário, no Colégio Santos Anjos, e é Pedagoga pela Faculdade Estadual de Fi-losofia, Ciências e Letras de União da Vitória (PR), atualmente Universidade Estadual do Paraná. Além de educadora, foi Supervisora Local de Educação, em Porto União (SC). Foi Vereadora em Porto União (SC), por dois manda-tos, e também Suplente, por duas legislaturas. Foi Conselheira do Conselho Estadual de Educação, em Santa Catarina, por 12 anos; a primeira e única mulher Presidente desse Conselho, por um mandato. É Sócia Fundadora da

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Associação de Pais e Amigos do Excepcional (APAE). É Conselheira Fun-dadora do Centro de Integração Empresa Escola de Santa Catarina (CIEE/SC). É Conselheira da Federação das APAEs de Santa Catarina (no Planalto Norte). Ademais, dedica-se voluntariamente às lides sociais e comunitárias, na Casa de Apoio “Amor Fraterno”, no Centro Espírita “Amor e Caridade” e no Albergue Noturno “Onofre Brittes”. Recebeu a Comenda Pinhão do Vale no dia 6 de dezembro de 2009 (Odilon Muncinelli).

2009 - AlTAMIRO lISbOARecebeu a Comenda Pinhão do Vale em 6 de novembro de 2009,

em Sessão Solene da Academia de Letras do Vale do Iguaçu, no Auditório da Câmara de Vereadores de União da Vitória. Foi homenageado, na Ses-são Solene pela Acadêmica Therezinha Leony Wolff. Nasceu em 09/06/1943 em Major Vieira - SC. Ferroviário aposentado,exerceu os cargos de Agente de Estação, Chefe de Estação e aposentou-se como Supervisor de Estação Após aposentar-se realiza trabalhos voluntários, dando atendimento à Esta-ção Ferroviária, sem nenhuma remuneração. Executa serviços de limpeza no recinto da Rede, como forma de manter esse espaço organizado e aprazível para a comunidade e estudantes que sempre surgem no local. Oferece, de forma atenciosa, informações às pessoas que transitam nas calçadas da Rede Ferroviária.Acionou a Justiça para que fossem retiradas pessoas que acampa-vam na Estação, sujavam, faziam algazarras e incomodavam a comunidade com a solicitação que lhes dessem outro espaço para ficarem. Realiza servi-ços como troca de lâmpadas, telhas e outros necessários para a Estação Fer-roviária, sem cobrar nada.Sempre disposto a ajudar, teve muita importância no meio ferroviário, como profissional e como pessoa, e continua dando sua contribuição, em forma de cuidados com esse espaço que lhe é caro, por tantos anos de profissão de ferroviário (Leda Barcellos).

2010 - DJANYRA AMIN PASQUAlINNascida em Joinville, filha de Cezar Amin Ghanen e de Helena Amin

Ghanen. Casada com Francisco Pasqualin Sobrinho. Atuou como professo-ra no Grupo Escolar Professor Balduíno Cardoso, como pianista, regente de corais e, na filantropia, seu nome é uma bandeira de devoção a integrar educação e cultura. Incansável trabalhadora em prol da arte musical, formou um grupo de pessoas que gostavam de tocar e cantar para se apresentarem em eventos sociais da comunidade. Foi esse amor pela arte, particularmente a música, que fortificou no trabalho canto coral. Esse seu trabalho foi, sem dúvida, um esteio para que Ivonich Furlani (membro do grupo de artistas)

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poetizasse a letra e ganhasse a a harmonia musical do maestro Felicio Do-mit e nascesse o Hino Oficial do Município de Porto União: Cidade Amiga. Educadora, artista e pessoa maravilhosa, digna da honraria que ora recebe (Therezinha Leony Wolff).

2010 -MOACIR DE MElOVindo à luz na cidade de Curitibanos, ainda menino Moacir mu-

dou-se para a Fazenda Santo Agostinho, nos campos de Palmas. O seu cur-rículo escolar começa no Colégio Diocesano de Palmas, onde fez o primário, passando para o ginasial no Ginásio Aurora de Caçador e no Internato Para-naense em Curitiba. O segundo grau no Internato Paranaense e no Colégio Túlio de França. Cursou Direito da UFPR e História da FAFI de União da Vitória. Destacamos entre os relevantes serviços prestados à causa pública, a sua ação como fundador e primeiro Diretor da FACE, hoje Cenro Uni-versitário.Professor da FAFI. Fundador e Presidente do Sindicato Rural de União da Vitória. Fundador e Presidente do Regional Hospital de Caridade. Fundador e Presidente da SIMAE, que antecedeu a Sanepar no fornecimento de água tratada às nossas cidades. Cidadão Benemérito de Palmas e Honorá-rio de União da Vitória. Exerceu todos os cargos da OAB-União da Vitória. Líder rural. Foi um dos fundadores e coordenador da Feira de Bezerros de União da Vitória e da Associação Brasileira dos Criadores da Raça Caracu, com sede em Palmas. O seu nome é um paradigma da sociedade local. Aqui apeia com sua nobre bagagem de ideais, tantas vezes colocada em benefício desta cidade (Joaquim Osório Ribas).

2011- ClÁUDIO ZINIFilho de descendentes de Italianos, vindos de Marcelino Ramos,

Lino e Olga Zini, viveu em Bituruna até seus 10 anos de idade. Depois fez o ginásio no colégio São José e o curso científico no Colégio Túlio de França. Posteriormente fez Engenharia Civil em Curitiba, na Universidade Federal do Paraná. Sua profissão de Engenheiro, com especialização em estradas, exerceu-a apenas por dois anos.Volta a União da Vitória e, desde então, vive mergulhado nos assuntos da PORMADE, há 34 anos, em meio a quase 500 colaboradores. Em 1988, Cláudio foi ao Japão, e ali viu a novidade do cresci-mento empresarial, orientado por Peter Drucker, e, dali em diante, com suas próprias palavras: ‘’pôs um pé no acelerador e não soltou mais’’. A partir de 2001, a conselho do amigo João Ademir, começou a participar dos rankings nacionais. Sua empresa promove muitos projetos, cursos, treinamentos, em todos os níveis: programas escolares para Ensino Fundamental e Médio, pro-

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grama de Inclusão Digital para funcionários e familiares, subsídio aos estu-dos, teatro educativo ambiental, para crianças de escolas, bairros, associa-ções e comunidades carentes. Igualmente, teatro sobre higiene bucal, cursos que ensinam a comer bem, cursos para as esposas dos colaboradores, cursos de empreendedorismo para as mesmas senhoras que aprendem alguma for-ma produtiva de trabalho, aulas de qualidade de vida e de esporte. Para tudo isso a equipe da Pormade instituiu a Universidade Corporativa Pormade (Unicop), cuja moeda de retorno é o respeito, credibilidade, reconhecimen-to, paixão pelo trabalho e orgulho do que fazem (Fahena Horbatiuk).

2011 - JOSÉ lEONIDAS GASPARINascido em Porto União, Santa Catarina, a 1o de fevereiro de 1936,

José Leônidas cursou o Ensino Primário na Escola Professor Serapião, o Gi-nasial no Colégio Estadual Túlio de França, o Científico no Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba. E o Superior na Faculdade de Direito da Universi-dade Federal do Paraná, onde se graduou em Direito com a Turma de 1959. Porém não exerceu a nobre profissão. Apenas serviu-se dela para dar cum-primento aos encargos do Ofício Notarial. Começou no 1o Tabelionato de Notas, em União da Vitória, no ano de 1956, como Escrevente Juramentado do Ofício, dirigido por seu próprio pai, o inesquecível Ivanové Gaspari, o compadre Vaninho, como era tratado pelos mais chegados. No ano seguinte (1957), assumiu a função de Oficial Maior. No ano de 1961, prestou con-curso para a Comarca de Palmas e, no ano seguinte (1962), foi removido para União da Vitória, como Titular do 1º Tabelionato de Notas, onde se aposentou no ano de 1995. Um dos fundadores da FAFI de União da Vitória, atualmente, Universidade Estadual do Paraná. Recebeu a Comenda Pinhão do Vale, no dia 03 de dezembro de 2011(Odilon Muncinelli).

2012 - IRMã DIONÍSIA -UMA PEQUENA GRANDE MUlhER Dionísia Ladika, ou simplesmente Irmã Dionísia, filha dos falecidos

Basílio Ladika e dona Maria Waurik Ladika, nasceu a 6 de maio de 1953, em Prudentópolis, Estado do Paraná, mais exatamente na comunidade de São João do Rio Claro, vinculada à Paróquia de São Josafat, onde ela é tida e reconhecida como a sua representante religiosa. (Aproximadamente 45 fa-mílias fazem parte dessa comunidade. Todos são pequenos agricultores, e uma boa parte lida com feijão, milho e erva-mate). Sob sua profissão de fé, a Irmã Dionísia pertence à Congregação das Irmãs Catequistas de Sant’Anna, que se dedica à assistência em hospitais, asilos, orfanatos e pensionatos. De-corre daí, que ela é uma atenciosa enfermeira e uma abnegada cuidadora de

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idosos, pois, com mãos e braços fortes, acolhe e atende mulheres e homens idosos, com palavras, gestos e atitudes que revelam uma atenção efetiva e diária, apesar de sua constituição física mostrar uma “freirinha”, aparente-mente frágil. Recebeu a Comenda Pinhão do Vale no dia 19 de outubro de 2012, (Odilon Muncinelli).

2012 - ENÉAS AThANÁZIO O nome de Enéas, que é advogado e promotor público, expande-se

por todo o Brasil, por meio de seus contos, artigos em revistas e jornais, por sua vasta coleção de obras, 54 livros contos, crônicas, ensaios e pelo relacio-namento humilde com todas as pessoas que amam a arte e a ciência. Nascido em Campos Novos, é filho de um médico, José Athanázio, quase lendário por sua bondade e dedicação aos doentes. Tem sido premiado por inúmeras Associações Culturais. É colunista do Jornal Página 3, de Balneário Cambo-riú, onde reside. Também é colunista do Site Coojornal - Revista Rio Total. Manteve o jornal literário, jornal do Enéas por dez anos, circulando por todo o país, com a descoberta de muitos escritores, dando-lhes um grande incen-tivo. Em suas publicações, Enéas revela o interior Catarinense. São algumas de suas obras: Peão Negro, O Cavalo Inveja e a Mula Manca, José Athanázio, Meu Pai, e, O Pó da Estrada (Fahena Horbatiuk).

2013 - ZÉlIA MARIA NASCIMENTO SEllNascida em Curitiba - Paraná, filha de Ney Regatierri e Luíza Grein,

Zélia é casada com Luiz Carlos Sell e possui três filhos, dois dos quais tam-bém jornalistas.Estudou no Colégio Sion, formou-se em Inglês pelo Cen-tro Brasil - Estado Unidos e Tradução pela Universidade Federal do Paraná, Francês pela Alliance Française e em Jornalismo pela UFPR. Pós-raduou-se em Administração, com ênfase em Planejamento Governamental pela PUC/PR.Trabalhou em vários jornais e revistas na Prefeitura de Curitiba. É mem-bro efetivo e assíduo do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, e desde 1999, tem exercido cargo de diretora de pesquisa, e a partir de 2002 pro-duz e apresenta o programa “Nossa História”, transmitido pela rádio Paraná Educativa AM 630. No ano de 2009, escreveu e publicou o livro “Altdeuts Altdeutschen - A História que não foi contada”, sobre os pioneiros alemães de 1829. Por causa do programa de rádio e do livro, recebeu vários prêmios, como a “Cruz Honorífica da Freguesia Nova” no grau de Cavaleiro Maior pelo Instituto Histórico e Geográfico da Cidade de Palmeira, Paraná, “Vo-tos de Congratulações e Aplausos das Comunidades Luso-Brasileiras”, “Voto de Louvor e Congratulação da Câmara Municipal de Curitiba” e “Votos de

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Louvor, Aplauso e Congratulações pelos Relevantes Trabalhos Prestados à Cultura Paranaense”, pela Assembleia Legislativa do Paraná (Leni Trentim Gaspari- com base no Currículo da jornalista).

2013 - DR. JOSUÉ GUIMARãESTrata-se de uma das mais ilustres personalidades da história con-

temporânea de nossa região. Legítima expressão de nossos valores culturais. Um homem que, apesar de seus 93 anos de idade, permanece na atividade agropecuária, lutando com todo vigor, e participando ativamente da dinâ-mica da sociedade. Começou como peão de tropa e relevantes postos, como prefeito de Palmas, prefeito instalador do município de General Carneiro, advogado atuante na área comercial, tributo notável pela coragem e elo-quência, assessor jurídico da Secretaria de Saúde do Paraná e, acima de tudo, uma rica personalidade, com nobres atributos de humildade, simplicidade e generosidade. Exemplo de dignidade, de ética e de patriotismo. Ilustre des-cendente do bandeirante paulista Joaquim Mendes de Souza, que, em 1839, fundou a fazenda que até hoje conserva com o maior carinho. Foi aluno da primeira turma de alunos do Colégio São José, em Porto União, (Joaquim Osório Ribas).

2014 - ZElIR PElEGRINISe Bituruna teve a honra de ser o seu berço, no dia 20 de outubro

de 1927, Porto União desde 1941, tem seu nome projetado na história dos primeiros atendimentos do Hospital São Braz, na enfermagem, em geral, nos serviços de assistência, na sala de cirurgia, e a parturientes, naquela Casa que adotou como seu lar. As dificuldades pelas quais passava o Hospital eram também as suas, a tal ponto que além de cuidar da saúde das pessoas, tantas vezes realizou trabalhos da cozinha, de limpeza e alguns cabíveis a profissio-nais de outros ramos: encanadores, carpinteiros, horticultores e jardineiros. Por todo seu mérito, reconhecido pela população e poder público, Saní re-cebeu o título de Cidadã Honorária de Porto União, por meio do decreto nº 24/95 do Poder Legislativo, em 31 de agosto de 1995. Transcendendo déca-das e anos na sublime missão de ajudar a viver, desejamos que as bênçãos divinas a encorajem para sempre na senda da paz, agora no Plano espiritual, junto ao nosso Pai, tendo em vista seu falecimento na madrugada de 31 de maio de 2014, data em que receberia esta homenagem e a Comenda Pinhão do Vale (Therezinha L. Wolff).

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2014 - UlYSSES TEIXEIRANasceu em União da Vitória, Paraná, segundo filho de Nilce da Silva

Reis Teixeira e de Affonso Reis Teixeira Filho.Em 1970 ingressou no Colégio São José, em Porto União.  A partir daí começou o seu gosto pela literatura, principalmente por Vinícius de Moraes e Augusto dos Anjos. Também co-meçou a ter contato com a pintura e com o desenho. A paixão por essas disci-plinas o levou mais tarde a formar-se na Escola de Belas Artes do Paraná em Curitiba. Ingressou na Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP) e tornou- se Bacharel em Pintura em 1981. Em 1986, casou-se com Joana Smykaluk. Passaram a residir em Curitiba e, dessa união, nasceu Danyelle.Em 1988, junto com pintores locais, como Amadeu Bona, Renato Ruschel e Beatriz Bolbuck, entre outros, fundaram a Associação de Artistas da cidade. Pintou murais sobre as enchentes, e,  um muito especial que passou a fazer parte da história das Cidades Gêmeas, o painel do monge João Maria, pinta-do na parede lateral da FAFI, Ulysses passou a ser considerado pela imprensa local como o introdutor do modernismo na cidade, influenciando vários jo-vens artistas locais, com a sua pintura original e livre. É membro da Acade-mia de Cultura Precursora da Expressão de União da Vitória e de Curitiba; da Academia Niteroiense de Belas Artes, Letras e Ciências de Niterói - Rio de Janeiro; da Confederação Brasileira de Letras e Artes. Embaixador da Paz da Confederação Brasileira de Letras e Artes, em 2013. Seu trabalho é conhe-cido e respeitado internacionalmente, tendo recebido inúmeros prêmios no Brasil e em outros países (Margareth Rose Ribas).

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