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INSTITUTO AGRONÔMICO IAC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA TROPICAL E SUBTROPICAL NITROGÊNIO NA PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR: ASPECTOS AGRONÔMICOS E AMBIENTAIS HELIO ANTONIO WOOD JORIS Orientador: Heitor Cantarella Campinas, SP 2015 Tese apresentada ao Instituto Agronômico (IAC) para obtenção do título de Doutor em Agricultura Tropical e Subtropical na área de concentração de Gestão de Recursos Agroambientais

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INSTITUTO AGRONÔMICO – IAC

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA TROPICAL E

SUBTROPICAL

NITROGÊNIO NA PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR: ASPECTOS

AGRONÔMICOS E AMBIENTAIS

HELIO ANTONIO WOOD JORIS

Orientador: Heitor Cantarella

Campinas, SP

2015

Tese apresentada ao Instituto Agronômico

(IAC) para obtenção do título de Doutor em

Agricultura Tropical e Subtropical na área de

concentração de Gestão de Recursos

Agroambientais

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“Pouco conhecimento faz com que as pessoas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento, que

se sintam humildes. É assim que as espigas sem grãos erguem desdenhosamente a cabeça

para o Céu, enquanto que as cheias se baixam para a terra, sua mãe.”

Leonardo da Vinci

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AGRADECIMENTOS

Expresso meus sinceros agradecimentos às pessoas e instituições sem as quais esse

trabalho não seria realizado.

A Deus, por toda a inspiração divina que governa nossas ações. Por ter me

proporcionado a vida e a capacidade de ir atrás de meus sonhos.

Aos meus pais, Helio Antonio Joris e Alcida Maria Wood Joris, pelo amor e apoio

incondicional em todas as fases de minha vida. Serão para sempre meu grande exemplo de

caráter e determinação. Meus heróis.

Ao meu amado irmão, Reinaldo Joris Netto (in memoriam), por ter sido sempre uma

pessoa fantástica e um irmão maravilhoso. Apesar de toda a dor da ausência, me alegra ter

usufruído da sua companhia e ter a certeza que a sua presença em minha vida me tornou um ser

humano muito melhor.

À minha namorada Lívia Sanches, por todo o amor e companheirismo em todos os

momentos. Aos seus pais, Paulo e Márcia Sanches, pela carinhosa acolhida e apoio.

Ao meu orientador, Dr. Heitor Cantarella, pela ideia da realização do presente estudo,

com excelente orientação e sábios conselhos. É para mim um grande exemplo profissional e

pessoal, e só tenho a agradecer a oportunidade de receber sua orientação.

Ao Instituto Agronômico (IAC), e em especial ao Programa de Pós-Graduação, por todo

o suporte proporcionado durante o meu doutorado.

A todos os professores do Programa de Pós-Graduação do IAC, e em especial à Dra.

Adriana P. D. Silveira e demais membros da Coordenação do Curso, pelo excelente trabalho

realizado.

Aos amigos e colegas de trabalho do IAC, pelo grande auxílio e amizade: Vitor Vargas,

Acácio Martins, Rafael Sousa, Johnny Soares, Zaqueu Montezano, Késia Lourenço, Renan

Vieira, Aline Puga e Thais Souza.

Aos funcionários do IAC, em especial aos funcionários do Centro de Solos e Recursos

Agroambientais, Renata Presta, José Luiz Domingues, Marilda Magalhães, Gizelda Pedro, Luis

Mosquim, Leonilde Souza e Anita Calado.

Aos pesquisadores da Agência Paulista de Tecnologia em Agronegócios (APTA), Dr.

André César Vitti, Dra. Raffaella Rossetto e Dr. Glauber Gava, pelo enorme auxílio nos

experimentos de campo e ideias para o presente estudo.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), pela bolsa

concedida durante o meu curso de doutorado e também durante o período de doutorado

sanduíche.

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À FAPESP, pelo apoio financeiro à pesquisa (2008/56147-1).

Ao Oak Ridge National Laboratory (ORNL), pela excelente acolhida durante os sete

meses em que permaneci realizando o período de doutorado sanduíche. Em especial, às pessoas

Maggie Davis, Keith Kline, Melanie Mayes, Virginia Dale, Shujiang Kang, Gangsheng Wang,

Sujith Nair e Teresa Hurt.

A todas as demais pessoas e instituições que contribuíram com a minha formação e a

realização desse estudo. Muitas páginas seriam necessárias para denominar todos, e

provavelmente ainda cometeria injustiça com alguns. Entendo que, na vida, há muito mais a

agradecer, do que a pedir. E eu sou muito grato pela ajuda e apoio de todos. Muito Obrigado!

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SUMÁRIO

RESUMO .................................................................................................................................... i

ABSTRACT ............................................................................................................................... ii

1. INTRODUÇÃO GERAL ....................................................................................................... 1

REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 6

2. EFEITOS DE LONGO PRAZO DO NITROGÊNIO APLICADO EM SOQUEIRAS DE

CANA-DE-AÇÚCAR: ALTERAÇÕES NO SISTEMA SOLO-PLANTA, BACTÉRIAS

DIAZOTRÓFICAS E APROVEITAMENTO DO 15N-FERTILIZANTE .............................. 12

RESUMO ................................................................................................................................. 12

ABSTRACT ............................................................................................................................. 13

2.1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 14

2.2 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................ 16

2.2.1 Localização, delineamento experimental e condução do experimento ................... 16

2.2.2. Alterações químicas do solo ................................................................................... 19

2.2.3. Acúmulo de nutrientes e produtividade .................................................................. 20

2.2.4 Tratamentos aplicados na 4ª soqueira ...................................................................... 21

2.2.5 Análises Estatísticas ................................................................................................ 22

2.3 RESULTADOS .............................................................................................................. 22

2.3.1 Atributos de solo e planta ao longo de quatro soqueiras ......................................... 22

2.3.2 Tratamentos adicionais aplicados na 4ª soqueira .................................................... 28

2.4 DISCUSSÃO .................................................................................................................. 35

2.4.1. Atributos químicos do solo ..................................................................................... 35

2.4.2. Acúmulo de nutrientes e produtividade de colmos ................................................ 37

2.4.3. Inoculação com bactérias diazotróficas e recuperação de 15N ............................... 41

2.5 CONCLUSÕES .............................................................................................................. 43

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 44

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3. ADUBAÇÃO NITROGENADA EM CICLO COMPLETO DE CANA-DE-AÇÚCAR:

ASPECTOS AMBIENTAIS PARA PRODUÇÃO DE BIOENERGIA .................................. 52

RESUMO ............................................................................................................................. 52

ABSTRACT ......................................................................................................................... 53

3.1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 54

3.2 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................ 56

3.2.1 Descrição do experimento ....................................................................................... 56

3.2.2 Estimativas e simulação de cenários ....................................................................... 57

3.2.3 Estimativa do balanço energético ............................................................................ 58

3.2.4. Estimativa de emissão de gases efeito estufa (GEE) .............................................. 59

3.2.5 Estimativas a partir de outros ensaios com doses de N-fertilizante ........................ 60

3.2.6 Análises estatísticas ................................................................................................. 61

3.3 RESULTADOS .............................................................................................................. 61

3.4 DISCUSSÃO .................................................................................................................. 70

3.5 CONCLUSÕES .............................................................................................................. 75

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 76

MATERIAL SUPLEMENTAR ........................................................................................... 81

4. ADUBAÇÃO NITROGENADA E INOCULAÇÃO COM BACTÉRIAS

DIAZOTRÓFICAS NA CANA-DE-AÇÚCAR ....................................................................... 83

RESUMO ............................................................................................................................. 83

ABSTRACT ......................................................................................................................... 84

4.1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 85

4.2 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................ 87

4.2.1 Descrição das áreas experimentais e aplicação dos tratamentos ............................. 87

4.2.2 Teor de N na folha, acúmulo de N na parte aérea e produtividade de colmos ........ 89

4.2.3. Quantificação da contribuição da FBN por abundância natural de 15N ................. 90

4.2.4 Eficiência de uso de 15N-fertilizante ........................................................................ 90

4.2.5 Análises Estatísticas ................................................................................................ 91

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4.3 RESULTADOS .............................................................................................................. 92

4.4 DISCUSSÃO .................................................................................................................. 96

4.5 CONCLUSÕES ............................................................................................................ 101

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 101

5. AVALIAÇÃO DA EXTRAÇÃO DE NITROGÊNIO COM ANÁLISE DE EXTRATO DE

SEIVA E FOLIAR EM SOQUEIRAS DE CANA-DE-AÇÚCAR APÓS ADUBAÇÃO

NITROGENADA* ................................................................................................................. 107

RESUMO ........................................................................................................................... 107

ABSTRACT ....................................................................................................................... 107

5.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 108

5.2 MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................................... 110

5.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................. 113

5.4 CONCLUSÕES ............................................................................................................ 120

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 120

6. CONCLUSÃO GERAL ..................................................................................................... 123

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RESUMO

A cultura da cana-de-açúcar tem se consolidado como uma das principais matérias-primas para

a produção de bioenergia, além da importância já estabelecida para a produção de açúcar. Com

a produção de bioenergia, diversos questionamentos surgem em relação ao manejo e uso de

insumos, sendo que o uso de nitrogênio (N) é um dos principais tópicos que vêm sendo

discutidos. Diferenças na resposta ao N em função dos ciclos da cultura, baixas doses de N em

relação a outros países, altas quantidades de palha adicionados ao sistema, fixação biológica de

N (FBN) e o cultivo de variedades cada vez mais produtivas e responsivas ao N indicam a

necessidade de mais estudos relacionados ao tema. O objetivo desse estudo foi elucidar algumas

questões recentes a respeito do manejo do N na cana-de-açúcar, tais como: (i) Quais as

alterações no sistema com a aplicação consecutiva de N na soqueira em condições de alta

produtividade? (ii) O uso contínuo de altas doses de N pode comprometer a eficiência de uso

de parte do fertilizante nitrogenado em longo prazo, e a inoculação com bactérias diazotróficas

pode substituir o N a ser aplicado? (iii) A intensificação da produção de cana-de-açúcar com

altas doses de N e aumento na produtividade é viável do ponto de vista energético e ambiental?

(iv) Os efeitos benéficos das bactérias diazotróficas podem promover melhoria na eficiência de

uso do fertilizante nitrogenado? (v) Análises de extrato de seiva podem auxiliar nas avaliações

de resposta da cana à adubação nitrogenada? Estudos com cana-soca foram desenvolvidos para

tentar responder as questões acima descritas. O presente trabalho foi dividido em quatro

diferentes capítulos para avaliar tais questões. Resultados obtidos em áreas experimentais com

aplicação de N em cana-de-açúcar foram utilizados para as avaliações. A partir do primeiro

capítulo desse estudo, que teve o objetivo de responder as questões (i) e (ii), conclui-se que a

adubação nitrogenada em condições favoráveis para obtenção de altas produtividades resulta

em aumentos na produção, mas com possível acúmulo excessivo de N no sistema, ao passo que

baixas doses ou ausência de adubação nitrogenada resulta em balanço negativo entre N aplicado

e exportado, podendo comprometer a sustentabilidade do sistema. A partir da avaliação de

inoculação com bactérias diazotróficas e adubação com 100 kg ha-1 de N após aplicação de

doses de N (0, 60, 120 e 180 kg ha-1soqueira-1) nas três soqueiras anteriores, com aplicação de

sulfato de amônio enriquecido com 15N, conclui-se que o maior aproveitamento do N-

fertilizante ocorre em condições de baixo aporte prévio de N mineral, ao passo que altas

produtividades são obtidas pelo maior aproveitamento de N do solo em condições de alto

aporte. A adubação nitrogenada não pode ser substituída pela inoculação com bactérias

diazotróficas, da maneira que é atualmente realizada. O segundo capítulo teve o objetivo de

responder a questão (iii), e a partir dos dados de adubação nitrogenada em longo prazo, conclui-

se que a adubação nitrogenada, quando resulta em aumentos significativos de produtividade,

pode ser mais desejável que baixas doses ou ausência de adubação do ponto de vista energético

e ambiental, ao levar em consideração que o N exportado precisa ser minimamente reposto, e

baixas produtividades resultariam em demanda maior de terra para a produção da mesma

quantidade de energia. O terceiro capítulo buscou responder a questão (iv), e por meio da

avaliação em áreas experimentais onde foi realizada a inoculação com bactérias diazotróficas,

foi observado que a contribuição do N proveniente do ar, sem adubação nitrogenada, variou de

0 a 41%, sem diferenças aparentes com a inoculação, com alguns efeitos positivos na absorção

de N e produção de colmos. Duas áreas experimentais receberam a aplicação de 100 kg ha-1 de

sulfato de amônio enriquecido com 15N, com e sem inoculação, e os resultados originados

levaram à conclusão de que as bactérias podem melhorar a absorção de N-fertilizante em solo

arenoso, sem efeitos significativos nas condições de solo argiloso. O quarto capítulo buscou

responder a questão (v), e resultados em diferentes períodos mostraram sensibilidade da análise

de seiva a diferentes doses de N na cana-soca, sendo portanto uma ferramenta que pode auxiliar

na avaliação do comportamento da cultura ao manejo da adubação nitrogenada. Os resultados

desse estudo mostram a necessidade de otimizar o uso de N em cana-de-açúcar para obtenção

i

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de altas produtividades. A inoculação precisa ser mais bem estudada para trazer benefícios

significativos na produção de cana-de-açúcar.

Palavras-chave: Produção sustentável; Eficiência de uso de 15N; Bactérias diazotróficas

ABSTRACT

Brazilian sugarcane has been established as one of the main bioenergy feedstock, despite of the

known importance for sugar production. With bioenergy production, several question comes

up with regards to inputs use and management, whereas nitrogen (N) is one of the main

discussed topics. Distinct response to N because of crop cycle, low N rates compared to other

countries, high amounts of trash, biological nitrogen fixation and more productive and N

responsive varieties have indicated the need of more studies related to this subject. The aim of

this study was to investigate some recent questions about N management in sugarcane, such as:

(i) Which changes are expected after consecutive N application to sugarcane ratoon under high

yield potential? (ii) May the continuous use of high N rates prejudice fertilizer-N use efficiency

in long-term and diazothrophic bacteria inoculation can replace mineral N application? (iii) Is

it suitable intensify crop production by applying high N rates and achieving higher crop yields

from the energetic and environmental point of view? (iv) Does beneficial effects promoted by

diazothrophic bacteria improve fertilizer-N use efficiency? (v) Can sap extract analysis improve

the evaluation of sugarcane response to N fertilization? Ratoon-cane studies were carried out

to elucidate the questions described above. From the first chapter of this study, aiming to answer

questions (i) and (ii), it was concluded that N fertilization in favorable conditions to reach high

yields results in large yield increases, but possibly by accumulating excessive N in the system.

On the other hand, low N rates or absence of N application results in negative balance between

applied and removed N, potentially harming system sustainability. Diazothrophic bacteria

inoculation and N fertilization with 100 kg N ha-1 after N rates in previous ratoon cycles (0, 60,

120 and 180 kg ha-1 ratoon-1) were evaluated, with application of 15N-ammonium sulfate. It was

concluded that higher fertilizer-N use occurs under low previous N input, whereas high yields

are obtained when high amounts of N were accumulated in previous cycles. N fertilization

cannot be replaced by inoculation with diazothrophic bacteria. Second chapter aimed to answer

question (iii), and from N fertilization in long-term data, it was concluded that N fertilization,

when it results in yield increases, can be more desirable than low N rates from energetic and

environmental point of view. It takes in consideration that removed N needs to be replaced, and

low yields would result in higher land demand to produce the same amount of energy. Third

chapter aimed to answer question (iv), and by evaluating experimental trials with diazothrophic

bacteria inoculation and N fertilization, it was estimated 0-41% of N from the air, with no

effects because of inoculation and some positive effects on N use and stalk yield. Two trials

have received 15N-ammonium sulfate application, with and without inoculation. Results leaded

to conclude that these bacteria may improve fertilizer-N absorption in sandy soil, with no effects

under clayey soil. Fourth chapter aimed to answer question (v), and results from different

periods have shown sensibility of sap extract analysis to different N rates in ratoon-cane,

therefore is helpful tool to evaluate crop response to N fertilizer management.

Key words: Sustainable production; 15N use efficiency; Diazothrophic bacteria

ii

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1

1. INTRODUÇÃO GERAL

Mais de 9 milhões de hectares são atualmente cultivados no Brasil com a cultura de

cana-de-açúcar, produzindo em torno de 660 milhões de toneladas na safra 2013-2014

(CONAB, 2014). A expansão dessa cultura no Brasil foi impulsionada inicialmente para a

produção de açúcar. No início dos anos 1970, o etanol de cana-de-açúcar foi introduzido em

função da crise internacional do petróleo, que encorajou o governo brasileiro a criar o Proálcool,

que visava a produção de etanol como combustível para automóveis. Após um período de pouco

incentivo ao etanol nas décadas de 1980 e 1990, a expansão mais expressiva da cultura ocorreu

após o desenvolvimento da tecnologia Flex em 2003 (GOLDEMBERG; COELHO;

GUARDABASSI, 2008). A expansão da cultura foi sempre motivada por questões econômicas

e políticas; no entanto, o cultivo da cana-de-açúcar também apresenta vantagens no ponto de

vista ambiental, quando comparado com o cultivo de outras matérias-primas para bioenergia.

Os principais aspectos positivos são: baixo custo de produção, alta produtividade, baixo uso de

nitrogênio (N), ótimas relações de balanço de energia renovável/energia fóssil e bom potencial

de mitigação de gases efeito estufa (GEE) (CORTEZ, 2012).

Os aspectos positivos da produção de cana-de-açúcar para a produção de bioenergia

estão intimamente relacionados com produtividade da cultura e uso do N. No Brasil, a cana-de-

açúcar é cultivada com doses relativamente baixas de N (90-120 kg ha-1). Em outros países

produtores de cana-de-açúcar, as quantidades de N aplicadas na cultura podem ser até 100%

superiores (150-250 kg ha-1) às doses empregadas no Brasil, com a obtenção de produtividades

similares (CANTARELLA; TRIVELIN; VITTI, 2007). Com baixo uso de insumos, as

condições favoráveis de solo e clima resultam em altas produtividades da cultura nas regiões

produtoras brasileiras, fornecendo assim bons índices de produção de energia renovável em

relação ao total de energia fóssil gasto na produção agrícola e industrial. Nesse contexto, o uso

de fertilizantes nitrogenados é um componente-chave no balanço energético-ambiental da cana-

de-açúcar para produção de biocombustíveis. A adubação nitrogenada em cana é responsável

por 23% da energia fóssil utilizada nas operações da cultura, e 19% da energia total gasta,

considerando também todas as etapas para a produção de bioetanol (GALDOS et al., 2010).

A adubação nitrogenada pode promover aumento da produtividade em ciclo de cana-

planta, no entanto embora existente em algumas situações, a resposta da cana-planta ao N é

pequena e normalmente ocorre em doses baixas ( FRANCO et al., 2010; FORTES et al., 2013;

PENATTI, 2013). No estado de São Paulo, Cantarella; Trivelin; Vitti (2007) relatam que apenas

30% de uma compilação de mais de 70 ensaios em cana-planta mostraram respostas à aplicação

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2

de N. Na cana-soca, as respostas à adubação nitrogenada são mais evidentes que em cana-

planta, refletindo em maior vigor das soqueiras, aumentando assim o potencial produtivo da

cultura (PENATTI, 2013; VITTI; TRIVELIN, 2011). No ciclo de cana-soca, as condições são

mais favoráveis ao aproveitamento do N aplicado pois iniciam após a obtenção de altas

produtividades com baixas doses de N na cana-planta (PENATTI, 2013). Portanto, a

contribuição do N adicionado via fertilizante é maior em cana-soca do que em cana-planta. Ao

avaliar a contribuição de 15N-fertilizante em cana-planta e cana-soca no final do ciclo, Franco

et al. (2011) verificaram valores de aproximadamente 40% em cana-soca e 5% em cana-planta.

A crescente adoção, incentivada por legislação ambiental, da cana colhida sem despalha

a fogo, gera vários questionamentos para o manejo da adubação nitrogenada não só com

respeito às doses, mas também às fontes e modos de aplicação. Ao colher a cana mecanicamente

sem a queima prévia, mantém-se sobre a superfície do solo uma grande quantidade de resíduos

vegetais (10-15 t ha-1 de matéria seca), que correspondem às folhas secas, ponteiros e pedaços

de colmos. Esses resíduos representam um acúmulo considerável de massa seca e nutrientes

que podem provocar alterações importantes na disponibilidade de nutrientes (FRANCO et al.,

2013; TRIVELIN et al., 2013). Em longo prazo, esse acúmulo de resíduos pode resultar em

reduções na demanda de fertilizantes nitrogenados, porém em curto e médio prazo podem

ocorrer aumentos na necessidade de N-fertilizante (ROBERTSON; THORBURN, 2007;

TRIVELIN et al., 2013). Trabalhos mais recentes em cana-soca sem queima prévia têm

apresentado tendências a aumento nas doses de N para a cana-soca (VITTI et al., 2007;

ROSSETTO et al., 2010; FORTES et al., 2013; PENATTI, 2013;). Além da imobilização de N

causada pela grande quantidade de resíduos, as respostas positivas têm sido atribuídas ao uso

de variedades mais produtivas e responsivas (PENATTI, 2013).

Resultados recentes com resposta positiva da cultura a altas doses (>120 kg ha-1) de N

em cana-soca podem sugerir que doses baixas de N não são suficientes para os materiais

genéticos e sistemas de manejo com maior potencial produtivo, podendo comprometer a

produtividade e longevidade do canavial. Por outro lado, resultados de aproveitamento do 15N

fertilizante pela cultura mostram resultados normalmente inferiores a 40% em cana-soca

(TRIVELIN et al., 2002; TRIVELIN et al., 2002; VITTI, 2003; FORTES et al., 2011; VITTI

et al., 2011). Os baixos níveis de aproveitamento do N-fertilizante pela cultura é explicado por

possíveis perdas de N no sistema (CANTARELLA; TRIVELIN; VITTI, 2007) e à elevada

imobilização de N no solo (COURTAILLAC et al., 1998). Normalmente, a maior parte do N

absorvido pelas plantas é derivado do solo ao invés do fertilizante (DOURADO-NETO et al.,

2010). No entanto, o efeito cumulativo de adubações pode ser importante para a manutenção

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da matéria orgânica e para o suprimento de N em longo prazo (VALLIS; KEATING, 1994).

Há a necessidade de estudos em longo prazo, que permitam avaliar a interação entre diferentes

ciclos de cana-soca em termos de uso e aproveitamento do N-fertilizante aplicado. Estudos

desenvolvidos em áreas de alta produtividade e potencial de resposta ao N-fertilizante podem

fornecer informações importantes a respeito do sistema solo-planta sob doses contrastantes de

N.

Possíveis aumentos na quantidade de N aplicada na cultura precisam no entanto ser

acompanhadas de aumentos proporcionais de produtividade para que não ocorram

comprometimentos nos índices ambientais para a produção de bioenergia. O alto consumo de

energia para a produção de fertilizantes nitrogenados pode ser um fator limitante,

principalmente se houverem aumentos consideráveis nas doses de N recomendadas para a

cultura. Alguns estudos (BODDEY et al., 2008; MACEDO; SEABRA; SILVA, 2008;

SEABRA et al., 2011) avaliaram o balanço de energia do etanol de cana e encontraram

resultados muito positivos, da ordem de 9,0 MJ MJ-1 (Energia renovável produzida / Energia

fóssil consumida). Além do balanço de energia, os fertilizantes nitrogenados também possuem

um papel importante no balanço de emissões de GEE do etanol de cana (CRUTZEN et al.,

2008; LISBOA et al., 2011). Esses estudos no entanto consideram doses fixas de N, de acordo

com a média utilizada em diversas unidades de produção de cana-de-açúcar. A intensificação

agrícola, que representa um melhor uso de elevadas quantidades de insumos, pode minimizar

os efeitos negativos de altas doses de fertilizantes pela obtenção de altas produtividades

(SNYDER et al., 2014, 2009), de maneira que maiores produtividades podem significar menor

demanda de terra. As avaliações dos aspectos ambientais afetados pela adubação nitrogenada,

como o balanço de energia e emissões de GEE precisam ser melhor estudados em diferentes

aportes de N e produtividade do sistema.

Por outro lado, a aplicação de N-fertilizante em quantidades próximas ou mesmo abaixo

da quantidade removida pelos colmos na colheita pode causar, em longo prazo, uma depleção

no estoque de N e matéria orgânica do solo. Porém há relatos de áreas cultivadas com cana-de-

açúcar por várias décadas que não apresentam degradação, a despeito das baixas quantidades

de N adicionadas (URQUIAGA et al., 2012). Isso tem sido apontado como indicativo da

ocorrência de fixação biológica de nitrogênio (FBN) em áreas de cana-de-açúcar no Brasil

(URQUIAGA; CRUZ; BODDEY, 1992; BODDEY et al., 2003; HERRIDGE; PEOPLES;

BODDEY, 2008; URQUIAGA et al., 2012). Desde os primeiros trabalhos de Dobereiner

(1961), quando foram encontradas estirpes de bactérias fixadoras de N2 nos tecidos de cana-de-

açúcar, muitos estudos foram desenvolvidos com a finalidade de encontrar associações com

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bactérias diazotróficas em cana-de-açúcar (BALDANI et al., 2002). Estudos com diluição

isotópica em cana-de-açúcar apontaram 60% a 70% de N acumulado pelas plantas de algumas

variedades devido à FBN (URQUIAGA; CRUZ; BODDEY, 1992). Isto estimulou a busca por

bactérias eficientes em fixar N2 e desenvolver um inoculante a ser aplicado em campo, capaz

de impulsionar a FBN e potencialmente substituir parte do N aplicado (REIS; BALDANI;

URQUIAGA, 2009).

No entanto, a FBN em cana-de-açúcar é controversa. Estudos conduzidos na África do

Sul e Austrália sugerem que a FBN não contribui significativamente para a nutrição nitrogenada

da cultura nesses países (BIGGS et al., 2002; URQUIAGA; CRUZ; BODDEY, 1992;

HOEFSLOOT et al., 2005). A substituição de parte da adubação nitrogenada pela inoculação

poderia representar uma enorme economia para o setor, no entanto estudos realizados a campo

não indicam essa possibilidade. Os resultados de trabalhos recentes realizados com a cultura

têm mostrado respostas positivas em algumas condições e altamente dependente da variedade

utilizada (URQUIAGA; CRUZ; BODDEY, 1992; PEREIRA et al., 2013; SCHULTZ et al.,

2012, 2014). As respostas positivas que ocorrem não têm sido atribuídas a aumentos na FBN,

mas a efeitos benéficos promotores de crescimento, que comprovadamente ocorrem pela ação

de bactérias diazotróficas (URQUIAGA; CRUZ; BODDEY, 1992; DOBBELAERE;

VANDERLEYDEN; OKON, 2003; SARAVANAN; MADHAIYAN; THANGARAJU, 2007;

YADAV et al., 2009 TAULE et al., 2012; VIDEIRA et al., 2011). A melhoria no

desenvolvimento da cultura com a aplicação de inoculantes precisa ainda ser melhor estudada

sob condições de campo, em diferentes variedades. Possíveis efeitos benéficos podem também

promover aumento na eficiência de uso de insumos pela cultura, porém a interação entre a

inoculação e uso de fertilizantes nitrogenados precisa ser também melhor investigada.

Para uma adequada avaliação do estado nutricional e da resposta das plantas de cana-

de-açúcar a diferentes aportes de N no sistema, o monitoramento da nutrição mineral da cultura

durante o seu desenvolvimento se faz necessário. As avaliações feitas diretamente nas plantas

integram todos os fatores de solo e ambientais. Para a maioria das culturas, o teor de nutrientes

na folha é uma ferramenta eficaz para diagnosticar o estado nutricional das plantas

(MALAVOLTA, 2006). No entanto, a análise foliar em cana normalmente apresenta pouca

sensibilidade às variações nutricionais na cultura e não é efetiva (ORLANDO FILHO et al.,

1999), sendo constantemente observadas diferenças na produção de colmos e atributos

tecnológicos em situações contrastantes de manejo nutricional, sem a detecção dessas

diferenças na análise foliar (FARONI et al., 2009; FRANCO et al., 2010).

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Com a finalidade de se fazer um melhor uso do N-fertilizante na produção de cana-de-

açúcar, e aumentar a eficiência no uso desse nutriente pela cultura, é importante conhecer os

momentos de maior absorção e formas de N mais absorvidas. A maior extração de N

proveniente do fertilizante normalmente ocorre no início do desenvolvimento da cultura

(FRANCO et al., 2011), normalmente até 90 dias após a rebrota em cana-soca. Dessa maneira,

análises foliares realizadas em período de máximo crescimento, normalmente 180 dias após

rebrota podem não ser eficazes em identificar diferenças devido à adubação nitrogenada. Um

monitoramento nutricional adequado no início de desenvolvimento da cultura potencialmente

possibilita alterações no manejo nutricional, assim como auxilia na tomada de decisões

referentes ao parcelamento da adubação, que pode ser necessária em casos de solos com baixo

teor de argila. O uso de análise de seiva pode ser uma alternativa viável para avaliação do status

de N na planta de cana-de-açúcar. A extração do líquido contido na nervura de folhas jovens,

genericamente denominado seiva, e a posterior quantificação de conteúdo de nutrientes tem

sido aplicada com sucesso em culturas olerícolas e frutíferas perenes como o citrus, no Brasil (

SOUZA et al., 2012; QUAGGIO et al., 2014). Não existem registros de uso dessa técnica para

a cana-de-açúcar, e a sua eficácia na cultura pode ser verificada por meio de testes em diferentes

condições de nutrição da cultura para o N, que tem sido o nutriente que apresenta maiores

dificuldades de recomendação.

Com base nesses questionamentos, as hipóteses consideradas nesse estudo foram: (i) os

efeitos da aplicação de N em cana-de-açúcar são visualizados de maneira mais intensa quando

se fazem aplicações consecutivas em longo prazo (ciclo completo); (ii) há diferenças no uso de

N proveniente do fertilizante pelas plantas de cana-de-açúcar (eficiência de absorção de N) em

função das condições de adubação nitrogenada em soqueiras anteriores; (iii) sob condições de

baixa adição de N-fertilizante no sistema, o balanço energético e emissão de GEE tende a ser

mais favorável que sob adição de altas doses de N. Porém, ao considerar a demanda adicional

de terra e a reposição mínima de N, o cenário pode se inverter; (iv) a inoculação com bactérias

diazotróficas pode ser favorável para a cultura da cana-de-açúcar, ao ser realizada em condições

de aplicação de N-fertilizante; (v) a análise de extrato de seiva pode ser uma ferramenta útil

para diagnóstico de estado nutricional relacionado ao N em diferentes fases de desenvolvimento

no início do ciclo.

Assim, para testar tais hipóteses, esse estudo foi dividido em quatro capítulos, dentro

dos seguintes objetivos:

a) Avaliar as alterações no solo e nas plantas de cana-de-açúcar em função de doses de N-

fertilizante durante quatro soqueiras, e a influência do efeito residual do N aplicado na

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4ª soqueira na resposta à inoculação com bactérias diazotróficas e aproveitamento do

15N-fertilizante.

b) Estimar os impactos ambientais relacionados ao balanço de energia e emissões de GEE

em função de diferentes doses de N em ciclo completo de cana-de-açúcar, considerando

as situações hipotéticas de demanda adicional de terra e reposição de N sob condições

de balanço negativo entre N adicionado e N removido do campo.

c) Avaliar a reposta da cana-de-açúcar à inoculação com bactérias diazotróficas na

presença de adubação nitrogenada em cana-soca em diferentes locais e variedades.

d) Verificar o aproveitamento de 15N-fertilizante pelas plantas de cana-de-açúcar após a

aplicação de 100 kg de N ha-1, na presença e ausência de inoculação em dois tipos de

solo (arenoso e argiloso).

e) Estudar o comportamento do N na cana-de-açúcar sob diferentes manejos de adubação

nitrogenada em dois locais e cinco épocas de amostragem, com a finalidade de analisar

a viabilidade da análise de extrato de seiva para o manejo de fertilizante nitrogenado na

produção de cana-de-açúcar.

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2. EFEITOS DE LONGO PRAZO DO NITROGÊNIO APLICADO EM SOQUEIRAS

DE CANA-DE-AÇÚCAR: ALTERAÇÕES NO SISTEMA SOLO-PLANTA,

BACTÉRIAS DIAZOTRÓFICAS E APROVEITAMENTO DO 15N-FERTILIZANTE

RESUMO

O objetivo desse trabalho foi avaliar as alterações em longo prazo da adubação nitrogenada no

cultivo de cana-de-açúcar durante quatro soqueiras e a influência do efeito residual do N-

fertilizante na resposta da cultura à inoculação com bactérias diazotróficas e aproveitamento do

15N-fertilizante. O experimento foi implantado em Piracicaba-SP, no delineamento de blocos

ao acaso e 4 repetições, em março/2007. Doses de N-fertilizante foram aplicadas após a

brotação da 1ª soqueira (0, 60, 120 e 180 kg ha-1) e reaplicadas nas três soqueiras posteriores,

até a colheita da 4ª soqueira em setembro/2012. No último ciclo, entre outubro/2011 e

setembro/2012, as parcelas foram divididas para avaliação da inoculação com bactérias

diazotróficas e aplicação de 100 kg ha-1 de N em cada tratamento de adubação nitrogenada em

longo prazo, com implantação de microparcelas e aplicação de 15N-sulfato de amônio para

avaliação do aproveitamento do N-fertilizante pelas plantas. O acúmulo de nutrientes aumentou

com as doses de N aplicadas, e a ordem de acúmulo dos nutrientes na parte aérea foi

K>N>Ca>Mg>S>P. Em todas as soqueiras avaliadas, ocorreu aumento linear na produtividade

de colmos, com um incremento médio de 175 kg de colmos para cada kg de N-fertilizante

aplicado. Considerando o balanço de entradas e saídas de N do sistema, a quantidade média

necessária para reposição do N exportado foi 69 kg de N ha-1ciclo-1, que representa 38,3% da

maior dose aplicada (180 kg ha-1). A inoculação com bactérias diazotróficas beneficiou a

nutrição mineral das plantas (assim como a aplicação de N-fertilizante), porém resultou em

produtividade de colmos inferior à aplicação de N (100 kg ha-1). O aproveitamento de 15N-

fertilizante foi maior nas condições de ausência de aplicação de N nas soqueiras anteriores

(44,2%) que nas doses 60 (34,3%), 120 (24,8%) e 180 (31,8%). A inoculação com bactérias

diazotróficas não substitui a adubação nitrogenada. O solo é a principal fonte de N para as

plantas de cana-de-açúcar, porém a obtenção de altas produtividades depende de doses elevadas

de N-fertilizante para a manutenção do sistema.

Palavras-chave: Efeito residual; Saccharum spp.; Fixação Biológica de Nitrogênio

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LONG-TERM EFFECTS OF N ON SUGARCANE RATOONS: CHANGES IN THE

SOIL-PLANT SYSTEM, DIAZOTHROPHIC BACTERIA AND RECOVERY OF

FERTILIZER-15N

ABSTRACT

The aim of this research was to evaluate long-term changes on soil and sugarcane plants as

affected by long-term nitrogen fertilization over four ratoons and residual effect of fertilizer-N

on crop response to diazothrophic bacteria inoculation and fertilizer-15N recovery. The trial was

established in Piracicaba-SP, in randomized blocks design, with four replications, in

March/2007. N-fertilizer rates were applied after regrowth in 1st ratoon (0, 60, 120 e 180 kg ha-

1) and the treatments were reapplied over four ratoons, until the harvest of 4th ratoon, in

September/2012. Over this period, chemical soil changes, macronutrients accumulation and

stalk yield were evaluated. In the last cycle, between Oct 2011 and Sep 2012, plots were

fractioned to evaluate diazothrophic bacteria inoculation and application of N-fertilizer to all

plots (100 kg ha-1). Microplots were established in order to apply 15N labelled fertilizer and

evaluate fertilizer-N recovery by sugarcane plants. After proper acidity alleviation, nitrogen

fertilization provided improvement on soil chemical conditions. Nutrient accumulation

increased after N rates application, and nutrients accumulation followed the order

K>N>Ca>Mg>S>P. In all ratoons, stalk yield increased in a linear fashion, and the mean

increment was 175 kg of fresh stalks for each kg of N applied. Based on the N inputs/outputs

balance, the N needed to replace removal was 69 kg of N ha-1cycle-1, which represents 38.3%

of higher N rate applied (180 kg ha-1). The fertilizer-15N recovery was higher (44.2%) after

absence of N application in previous ratoons than in the rates 60 (34.3%), 120 (24.8%) and 180

(31.8%). Diazothrophic bacteria did not replace nitrogen fertilization. Soil is the main source

for N nutrition of sugarcane plants, but in order to achieve high yields, it is important to apply

high fertilizer-N rates to the system.

Key words: Residual effect; Saccharum spp.; Biological Nitrogen Fixation

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2.1. INTRODUÇÃO

A cana-de-açúcar é cultivada no Brasil com aplicação de doses de N-fertilizante muito

inferiores a outros países produtores de cana-de-açúcar (CANTARELLA; TRIVELIN; VITTI,

2007). Apesar disso, a grande demanda da cultura por N, alto custo financeiro e energético dos

fertilizantes nitrogenados, riscos ambientais relacionados à adição de N mineral no sistema e

outros questionamentos têm originado diversos estudos sobre adubação nitrogenada na cana-

de-açúcar (CANTARELLA; TRIVELIN; VITTI, 2007; ROSSETTO et al., 2010a; PENATTI,

2013),. A adubação nitrogenada pode promover aumento da produtividade em cana-planta

(FORTES et al., 2013a; FRANCO et al., 2010a). No entanto, em geral a resposta é pequena e

ocorre em doses baixas, principalmente em virtude da incorporação de resíduos culturais e

melhorias nas condições de fertilidade do solo com a reforma e replantio do canavial

(CANTARELLA; TRIVELIN; VITTI, 2007; FRANCO et al., 2007; VITTI et al., 2007b),

diferente do que ocorre na soqueira.

Nas soqueiras, que iniciam com a rebrota após a 1ª colheita e geralmente são conduzidas

durante quatro ciclos (podendo se estender por mais ciclos, dependendo do nível de produção),

as condições são mais favoráveis ao aproveitamento do N aplicado pois iniciam após a obtenção

de altas produtividades sob baixas doses de N-fertilizante na cana-planta (PENATTI, 2013).

Além disso, com o fim da queima prévia antes da colheita, grandes quantidades de palha com

alta relação C:N ficam sobre o solo e imobilizam boa parte do N orgânico (MEGDA et al.,

2012; VITTI et al., 2008, 2007a), tornando importante a adição de N mineral para garantir vigor

e produtividade das soqueiras (VITTI; TRIVELIN, 2011).

Trabalhos mais recentes conduzidos em cana-soca sem queima prévia têm apresentado

tendências a aumento nas doses de N para cana-soca (VITTI et al., 2007a; ROSSETTO et al.,

2010b; FORTES et al., 2013a; PENATTI, 2013). Além da imobilização de N causada pelo

grande volume de resíduos, as respostas positivas têm sido também atribuídas ao uso de

variedades mais produtivas e responsivas. Com a aplicação de N, é esperado que ocorra

aumento na absorção e acúmulo de N pelas plantas. Se a adubação nitrogenada resultar em

melhorias nas condições de fertilidade do solo, a absorção e acúmulo de outros macronutrientes

também pode ser mais elevada. Com isso, a exportação e a demanda de nutrientes também

aumentariam. No entanto, o uso de altas doses de N-fertilizante pode aumentar o estoque de N

do solo, uma vez que as adições de N ao sistema podem superar o N exportado pelos colmos.

Em longo prazo, diferentes aportes de N-fertilizante para a cana-de-açúcar podem

resultar em condições muito distintas. Ausência de aplicação de N ou doses muito baixas

poderiam resultar em exaustão do N orgânico do solo, prejudicando a sustentabilidade do

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sistema. Porém existem relatos de diversas áreas de cana-de-açúcar cultivadas no Brasil com

adições de N inferiores à exportação e potenciais perdas de N, sem sinais de degradação após

várias décadas de cultivo, o que evidencia a entrada de N via fixação biológica de nitrogênio

(FBN) (BALDANI et al., 2002; BODDEY et al., 2003). Alguns estudos apontam a evidência

de ocorrência de FBN em cana (URQUIAGA; CRUZ; BODDEY, 1992; URQUIAGA et al.,

2012), com estimativas de contribuição de em torno de 40 kg ha-1ano-1 (HERRIDGE;

PEOPLES; BODDEY, 2008; URQUIAGA et al., 2012).

As evidências de ocorrência de FBN em cana-de-açúcar têm originado uma série de

estudos a partir do desenvolvimento de inoculantes com bactérias diazotróficas (OLIVEIRA et

al., 2003, 2002; REIS; BALDANI; URQUIAGA, 2009). A potencial economia de fertilizantes

nitrogenados proporcionada pelo uso desses produtos seria extremamente benéfica para a

sustentabilidade da produção brasileira de cana-de-açúcar (JAMES; BALDANI, 2012; DEL

GROSSO et al., 2014). No entanto, até o momento, os resultados de experimentos a campo com

inoculação de bactérias diazotróficas (CANTARELLA et al., 2012; MORAIS et al., 2011;

PEREIRA et al., 2013; SCHULTZ et al., 2012, 2014) não têm comprovado a hipótese de

substituição de adubos nitrogenados pela inoculação, entretanto indicam a ocorrência de efeitos

promotores de crescimento, que podem beneficiar a produção de cana-de-açúcar. Condições

contrastantes de adubação nitrogenada em ambientes com alto potencial produtivo podem

ajudar a verificar a eficácia da inoculação com bactérias diazotróficas em função de adubações

minerais anteriores.

Estudos realizados com aplicação de 15N em cana-de-açúcar relatam que o

aproveitamento do fertilizante é geralmente variável em função de condições ambientais e de

manejo, permanecendo em diferentes níveis, normalmente abaixo de 40% em cana-soca

(TRIVELIN et al., 2002; VITTI, 2003; GAVA et al., 2003; FORTES et al., 2011; VITTI et al.,

2011). Essas variações no aproveitamento de 15N-fertilizante pela cultura estão associadas às

possíveis perdas de N no sistema solo-planta (CANTARELLA; TRIVELIN; VITTI, 2007) e à

elevada imobilização de N no solo (COURTAILLAC et al., 1998). Normalmente, a maioria do

N recuperado nas plantas cultivadas é derivado do solo ao invés do fertilizante (STEVENS;

HOEFT; MULVANEY, 2005; DOURADO-NETO et al., 2010; FRANCO et al., 2011).

Portanto, as recomendações de N-fertilizante baseadas em produtividade podem resultar em

aplicações excessivas ou insuficientes de N (THORBURN et al., 2011; OTTO et al., 2013). Por

outro lado, apesar do baixo aproveitamento do N-fertilizante aplicado em um ciclo de cana-de-

açúcar, o efeito cumulativo de adubações pode ser importante para a manutenção da matéria

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orgânica e para o suprimento de N em longo prazo (VALLIS; KEATING, 1994; VITTI et al.,

2007a).

Em geral, ensaios com adubação em cana-de-açúcar são feitos considerando a cana-de-

açúcar como uma cultura anual (PENATTI, 2013). Estudos recentes têm mostrado a

importância da avaliação de diversos ciclos consecutivos (OLIVEIRA, 2011; VITTI et al.,

2011; FORTES et al., 2013a; PENATTI, 2013). Como uma cultura semi-perene, os tratamentos

aplicados em diferentes ciclos da cana-de-açúcar podem interagir e produzir resultados mais

conclusivos. Diferentes aportes de N via fertilizante em ciclos consecutivos de cana-de-açúcar

podem originar condições contrastantes de desenvolvimento das soqueiras e estoque de N no

solo, gerando condições mais favoráveis para a observação de resposta da cultura ao N aplicado,

à eficácia e contribuição da inoculação com bactérias diazotróficas e aproveitamento de 15N

fertilizante.

Portanto, o objetivo desse trabalho foi avaliar as alterações no solo e nas plantas de cana-

de-açúcar em função de doses de fertilizante nitrogenado durante quatro soqueiras, e verificar

o efeito residual do N aplicado na 4ª soqueira na resposta à inoculação com bactérias

diazotróficas e aproveitamento do 15N-fertilizante.

2.2 MATERIAL E MÉTODOS

2.2.1 Localização, delineamento experimental e condução do experimento

O experimento foi instalado na estação experimental da Agência Paulista de Tecnologia

em Agronegócios (APTA), situada em Piracicaba – SP, 22°43’S e 47°38’W, altitude de 546 m,

temperatura média anual de 22°C e precipitação média anual de 1400 mm, em um Latossolo

Vermelho distrófico, textura muito argilosa e moderada. A área é cultivada há mais de 20 anos

com cana-de-açúcar. Em março/2007, foi realizado o plantio da área. Após a colheita da cana-

planta, em setembro/2008, os tratamentos com doses de adubo nitrogenado foram aplicados

para avaliação em cana-soca, sendo que os mesmos tratamentos foram repetidos nas três

soqueiras subsequentes. As avaliações experimentais foram realizadas entre os anos de 2008 a

2012, durante quatro ciclos de cana-soca consecutivos.

Antes do plantio em 2007, foi realizada aplicação de calcário em área total, na

quantidade de 3,5 t ha-1. O plantio foi realizado após gradagem e aração com arado de aiveca

para eliminação da soqueira anterior e incorporação do calcário, subsolagem e sulcação para a

disposição das mudas e fertilizante. No momento do plantio, foi realizada a adubação no sulco

de plantio com 48 kg ha-1 de N, 168 kg ha-1 de P2O5 e 96 kg ha-1 de K2O. A variedade IAC 92-

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1099 foi plantada na quantidade de 15-20 gemas viáveis por metro, em espaçamento de 1,4 m.

Trata-se de uma variedade de porte muito ereto, maturação média-tardia, altíssima

produtividade agrícola, indicada para ambientes mais favoráveis, apresentando excelente

brotação de soqueiras, ótimo perfilhamento e manutenção da produtividade em cortes

avançados (UDOP, 2014). O alto potencial produtivo foi confirmado no ciclo de cana-planta,

com a obtenção de 216 t ha-1 de colmos na área, acima da produtividade normalmente observada

em cana-planta na região.

Amostras de solo foram retiradas antes da implantação do ensaio (fev/2007) e durante

o primeiro ciclo de cana-soca, em maio/2009 (média dos tratamentos), para avaliação dos

atributos químicos do solo em diferentes profundidades (Tabela 2.1). Nota-se que no momento

da amostragem, o solo apresentava alta acidez. Visando melhoria nas condições de acidez no

solo na superfície e subsuperfície, foi realizada a aplicação de 4 t ha-1 de calcário e 2 t ha-1 de

gesso agrícola após a colheita da primeira soqueira, em setembro/2009.

Tabela 2.1. Atributos químicos do solo em diferentes profundidades antes da implantação do

experimento (fev/2007) e no final da 1ª soqueira (maio/2009).

Prof. pH1 H+Al Ca2+ Mg2+ K+ M.O. P2 V B Cu Fe Mn Zn

cm -------mmolc dm-3------- --mg dm-3-- % ----------------mg dm-3--------------

fev/2007

0-20 4,0 72,0 10,0 5,0 2,4 22,0 8,0 19,5 0,29 1,0 37,0 17,0 0,6

20-40 4,0 68,0 4,0 4,0 1,7 19,0 5,0 12,5 0,23 0,8 31,0 9,0 0,4

maio/2009

0-20 4,2 71 13 7,5 0,8 24,8 5,5 23,3 0,24 0,9 42 11,2 0,6

20-40 4,3 63 12 3,8 0,4 18 1,8 20,3 0,15 0,7 18,3 4,4 0,2

40-60 4,4 48 14 3,3 0,3 16,3 1,3 26,3 0,12 0,58 9,8 1,7 0,1 1 pH em CaCl2 0,01 mol L-1, 2 P extraído por Resina

Após a colheita do ciclo de cana-planta, em setembro/2008, a área experimental foi

delineada em blocos ao acaso, com 4 tratamentos e 4 repetições. Cada parcela era constituída

de 10 linhas de cana-de-açúcar com 30 m de comprimento. O tamanho das parcelas foi superior

ao normalmente empregado em experimentos a campo com cana-de-açúcar, em função dos

propósitos de avaliação em longo prazo e eventual subdivisão das parcelas originais. Os

tratamentos aplicados foram diferentes doses de adubo nitrogenado: 0, 60, 120 e 180 kg ha-1 de

N. A aplicação do fertilizante foi realizada nas linhas, em faixas de 20 cm de largura, na posição

superior de acordo com o declive do terreno. Tais doses foram reaplicadas em cada soqueira,

de maneira que as doses acumuladas na 4ª soqueira foram 0, 240, 480 e 720 kg ha-1 (Tabela

2.2). Os ciclos de cana-soca foram de 11 a 13 meses, e as parcelas foram colhidas

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mecanicamente, sem despalha a fogo. Após a colheita da 3ª soqueira em 2011, ocorreu fogo

acidental na área, causando a queima de restos culturais na ocasião.

A fonte de N utilizada foi nitrato de amônio, na 1ª, 2ª, e 3ª soqueira e sulfato de amônio

na 4ª soqueira. Na 4ª soqueira, houve a implantação de microparcelas para aplicação de

fertilizante enriquecido com 15N, de maneira que foi necessário o uso de sulfato de amônio

nesse ciclo, devido à maior disponibilidade do sulfato de amônio marcado e à necessidade de

padronizar a mesma fonte no restante da área experimental. As diferentes doses de N foram

aplicadas logo após a primeira chuva no início de cada ciclo, para assegurar melhor absorção

do nutriente pelas plantas. Além do adubo nitrogenado, também foram aplicados 150 kg ha-1 de

K2O, na forma de cloreto de potássio, e 50 kg ha-1 de P2O5, na forma de superfosfato triplo no

início de cada ciclo. No início da 4ª soqueira, também foi realizada a aplicação de

micronutrientes (3 kg ha-1 de Zn e Cu, 2 kg ha-1 de B e 0,5 kg ha-1 de Mo).

Tabela 2.2. Ciclos de cana-de-açúcar avaliados e tratamentos aplicados

Ciclo Período Data de

colheita Doses de N

Quantidade

acumulada de N

kg ha-1

1ª soqueira set/2008-set/2009 05/08/2009

0 0

60 60

120 120

180 180

2ª soqueira set/2009-ago/2010 17/08/2010

0 0

60 120

120 240

180 360

3ª soqueira ago/2010-jul/2011 11/07/2011

0 0

60 180

120 360

180 540

4ª soqueira jul/2011-ago/2012 02/08/2012

0 0

60 240

120 480

180 720

Durante a condução do experimento, as quantidades de chuva ocorridas no período

foram coerentes com as características da região, com verões chuvosos e invernos secos (Figura

2.1). Apenas durante a 1ª soqueira, a precipitação foi em geral menor que a média dos últimos

90 anos, porém em geral a ocorrência de chuvas foram similares à média, exceto em alguns

meses, entre 2010 e 2011, durante a 3ª soqueira.

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Figura 2.1. Precipitação e temperatura durante o período de desenvolvimento de quatro

soqueiras de cana-de-açúcar (2008-2011) em Piracicaba-SP.

2.2.2. Alterações químicas do solo

Para avaliação das alterações químicas do solo em função dos tratamentos aplicados em

diferentes profundidades, amostras de solo foram coletadas em novembro/2012, nas

profundidades de 0-10, 10-20, 20-40 e 40-60 cm. As amostras coletadas nas profundidades de

0-10 e 10-20cm foram divididas de acordo com a posição: linha e entrelinha. Nessas

profundidades foram retiradas, por meio de trado calador, 10 subamostras no meio da entrelinha

e 10 subamostras em uma faixa de 20 cm de largura nas linhas de cana-de-açúcar. Nas

profundidades de 20-40 e 40-60cm, as amostras foram retiradas em 6 diferentes pontos (posição

próxima à linha) por meio de trado holandês.

Os atributos químicos analisados foram: pH em CaCl2 0,01M, acidez potencial (H+Al),

Ca2+, Mg2+, K+ e P, N mineral no solo, nas formas de amônio (NH4+) e nitrato (NO3

-1) e enxofre

(S-SO4), de acordo com os procedimentos de análises químicas do solo descritos em (RAIJ et

al., 2001).

0

5

10

15

20

25

30

35

0

50

100

150

200

250

300

350

400

450

500

J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J

2011 2010 2009 2008

Precipitação mensal média de 90 anos

Precipitação mensal Temperatura máxima

Temperatura mínima

Tem

pera

tura

(°C) P

reci

pit

açã

o (

mm

)

Meses e Anos

2012

1ª soqueira: 942 mm 2ª soqueira: 1596 mm 3ª soqueira: 1649 mm 4ª soqueira: 1513 mm

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2.2.3. Acúmulo de nutrientes e produtividade

Ao final de cada ciclo, foram realizadas avaliações biométricas para estimativa da

produtividade e do acúmulo de nutrientes pela parte aérea da cana-de-açúcar. Para realizar essa

avaliação, toda a parte aérea das plantas foi colhida em 2 metros de linha dentro de cada unidade

experimental (4 tratamentos e 4 repetições). Tais amostragens foram realizadas em locais

aleatórios, dentro das 6 linhas centrais.

Após a colheita das plantas em 2 m lineares, a massa foi obtida no campo, por meio de

pesagem em balança eletrônica. Após a pesagem, o material vegetal de cada amostra foi

triturado logo em seguida. Para a trituração, foi utilizada máquina picadora de forragem, sendo

a seguir obtida a subamostra, a qual foi colocada em sacos plásticos e encaminhada ao

laboratório. Em laboratório, as amostras foram pesadas em balança analítica antes e após

secagem em estufa ventilada a 65°C, para determinação de umidade. Com o valor de umidade

do material, a massa seca foi estimada em kg/ha.

As amostras secas em estufa foram moídas em moinho de facas tipo Wiley, e

posteriormente foram determinados os teores de N, P, K, Ca, Mg e S (BATAGLIA et al., 1983).

A partir dos teores de cada elemento em g kg-1 e da produção de massa seca de cada

compartimento (colmos, ponteiros e folhas secas), foi possível estimar o acúmulo de nutrientes

em kg ha-1. Para estimar o balanço de N no sistema, foi considerado o N acumulado nos colmos

em cada soqueira, em kg ha-1, e o N aplicado, em kg ha-1. Assim, o balanço de entradas e saídas

é a diferença simples entre esses valores.

A produtividade de colmos foi estimada por meio da avaliação biométrica em todas as

soqueiras avaliadas. Além do peso de colmos em 2 m de linha, foram contados o número de

colmos nos 2m coletados (para cálculo de peso de cada colmo) e também o número de colmos

em 3 linhas inteiras de cana em cada parcela. A estimativa de Toneladas de Colmos por Hectare

(TCH) foi então realizada de acordo com a equação abaixo, adaptado de Landell et al. (2005):

TCH = (𝑃𝑥𝐶) 𝑥 ℎ𝑎

𝐴

onde:

P = Peso estimado de cada colmo

C = Número de colmos em 3 linhas de 30m

ha = 10000 m2

A = Área de contagem de colmos (126 m2)

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2.2.4 Tratamentos aplicados na 4ª soqueira

O ensaio foi originalmente implantado com o intuito de preparar a área com condições

contrastantes de aporte de N-fertilizante para eventuais avaliações adicionais por meio de

divisão das unidades experimentais. Em out/2011, após a colheita da 3ª soqueira, as parcelas

foram divididas em 3 partes, sendo que metade da parcela inicial permaneceu apenas como

controle dos tratamentos iniciais, com reaplicação das doses de N (0, 60, 120 e 180 kg ha-1). Na

outra metade, não foi feita a reaplicação dos tratamentos, e foi então dividida em duas partes,

sendo que os tratamentos para cada fração da parcela original foi a inoculação das soqueiras

com bactérias diazotróficas e aplicação de 100 kg ha-1 de N. Dessa maneira, após a subdivisão,

as parcelas com o tratamento original ficaram com 10 linhas de 15 m, e as parcelas com

aplicação de inoculante e 100 kg ha-1 de N ficaram com 5 linhas de 15 m cada uma. Nas parcelas

com aplicação de 100 kg ha-1 de N, foram implantadas microparcelas para aplicação de 15N,

conforme métodos descritos em Trivelin et al. (1994). A aplicação de fertilizantes nos diferentes

tratamentos foi realizada na primeira quinzena de setembro/2011.

O inoculante utilizado foi produzido pela Embrapa Agrobiologia (REIS; BALDANI;

URQUIAGA, 2009), composto por cinco estirpes de bactérias diazotróficas

(Gluconacetobacter diazotrophicus, Herbaspirilum seropedicae, Herbaspirilum

rubrisubalbicans, Azospirilum amazonense e Bulkholderia tropica). O produto foi obtido na

forma de gel, e após diluição em água (100 l ha-1 de calda), foi aplicado no início da brotação

da cultura. A aplicação do inoculante foi realizada em operação conjunta para a aplicação de

nematicida, que é realizada após a passagem de um disco de corte sobre a superfície das

soqueiras. Após a passagem do disco de corte e aplicação de nematicida sobre a soqueira, a

calda contendo as estirpes de bactérias diazotróficas foi pulverizada por meio do uso de

pulverizador costal.

Para avaliação da recuperação de 15N-fertilizante, foi utilizado sulfato de amônio como

fonte nitrogenada, com 5,29% de abundância em átomos 15N. A implantação das microparcelas

e os cálculos de recuperação de 15N-fertilizante foram realizados de acordo com o sugerido por

Trivelin et al. (1994). O sulfato de amônio enriquecido foi aplicado ao longo de 2m lineares em

cada subparcela (3 m2). No momento da colheita, foi realizada avaliação biométrica das

microparcelas. Foram coletadas as plantas em 1m da microparcela, deixando 0,5m de cada lado,

e também 1m de plantas nas linhas imediatamente adjacentes. As amostras foram separadas em

colmos, folhas secas e ponteiros, pesadas, secas em estufa e moídas em moinho tipo Wiley para

posterior análise em espectrômetro de massa da % de 15N recuperada pelas plantas, e os cálculos

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de recuperação (%15N) do N-fertilizante e do N proveniente do fertilizante (NPPF – kg ha-1),

de acordo com as equações abaixo:

NPPF = [(A - C) / (B - C)] x NT,

RN (%) = (NPPF / NAF) x 100, onde:

NPPF: Nitrogênio na planta proveniente de 15N-fertilizante; A: abundância de 15N (% de

átomos) da planta; B: abundância de 15N (5,29 % de átomos) do 15N fertilizante; C: abundância

natural de 15N (0.366% de átomos); NT: conteúdo de N na planta (kg ha-1); RN: recuperação

percentual do 15N fertilizante na planta; NAF: dose de N da fonte aplicada.

2.2.5 Análises Estatísticas

Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância, por meio do teste de F

ao nível de 95% de confiança. Para comparar o efeito de doses de N usou-se a análise de

regressão polinomial, sendo que o teste de F foi utilizado para comparar as posições linha e

entrelinha na amostragem de solo. Para a comparação dos tratamentos aplicados na 4ª soqueira,

análise de contrastes ortogonais foram aplicadas e os contrastes foram comparados por meio do

teste de F.

2.3 RESULTADOS

2.3.1 Atributos de solo e planta ao longo de quatro soqueiras

As alterações químicas do solo a partir de amostras coletadas após a colheita da última

soqueira em 2012 podem ser visualizadas nas Tabelas 2.3 e 2.4. Nessa amostragem, houve uma

divisão nas camadas de 0-10 e 10-20 cm, de acordo com a posição: linha e entrelinha. Ao final

do ciclo, o pH do solo na camada de 0-10 cm permaneceu próximo ou superior a 5,0, na linha

e entrelinha, sem diferença entre os tratamentos de N (Tabela 2.3).

Variações nos teores de Ca2+ e Mg2+ na camada 10-20 cm indicam que a adubação

nitrogenada promoveu maior movimentação de calcário no perfil do solo (Tabela 2.3). As doses

de N aplicadas ocasionaram aumentos quadráticos nos teores de Ca2+ na camada 10-20 cm e

Mg2+ na camada 0-10 da entrelinha. Na camada 10-20 cm, foi também observado aumento

linear de Mg2+ na entrelinha (Tabela 2.3). As condições de acidez do solo foram diferentes

dependendo da posição de coleta. Na linha, nota-se pH mais ácido, maior teor de Al3+ e menores

teores de Ca2+ e Mg2+ que na entrelinha da cultura, independente da dose de adubo nitrogenado.

Tais diferenças da linha e entrelinha foram mais intensas na camada 0-10 cm, mas também

foram observadas na camada 10-20 cm (Tabela 2.3). Em camadas mais profundas, de 20-40 e

40-60 cm, não foram observadas diferenças nos atributos relacionados à acidez do solo.

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23

Tabela 2.3. Alterações químicas de solo coletado em diferentes posições em nov/2012, 42

meses após última calagem, sob aplicação de doses de N consecutivamente em quatro soqueiras

de cana-de-açúcar

Dose N pH(CaCl2) Al3+ Ca2+ Mg2+ K+ P

kg ha-1 mmolc dm-3 mg dm-3

L1 EL2 L EL L EL L EL L EL L EL

0-10 cm

0 5,0 5,5 5,3 1,5 21 23 12 15 2,2 1,5 5,8 5,5

60 4,7 5,3 6,0 1,3 16 25 11 21 1,9 1,8 5,5 5,3

120 4,9 5,2 4,8 1,8 18 25 11 16 2,3 2,7 6,3 6,8

180 5,1 5,4 7,3 2,0 18 24 13 13 2,1 2,3 6,0 7,0

Média 4,9 b 5,4 a 5,9 a 1,7 b 18 b 24 a 12 b 16 a 2,1 2,1 5,9 6,2

Efeito ns ns ns ns ns ns ns Q** ns L** ns ns

R2 - - - - - - - 0,81 - 0,64 - -

10-20 cm

0 4,7 4,9 10,0 7,0 13 14 8 9 1,5 0,9 4,3 3,8

60 4,7 4,9 7,8 6,8 16 19 10 10 1,3 1,2 4,0 4,3

120 4,7 5,0 6,8 4,5 17 17 8 10 1,8 1,7 6,0 6,0

180 4,6 4,8 11,8 7,3 14 17 7 11 1,6 1,2 5,5 3,8

Média 4,7 b 4,9 a 9,1 a 6,4 b 15 17 8 b 10 a 1,6 a 1,2 b 5,0 4,5

Efeito ns ns ns ns ns Q* ns L* ns Q** L* ns

R2 - - - - - 0,80 - 0,98 - 0,79 0,59 -

20-40 cm

0 4,5 14,0 11 5 0,6 1,8

60 4,4 13,3 11 6 0,8 1,3

120 4,7 11,0 11 7 1,0 3,3

180 4,6 12,0 10 6 0,9 2,0

Efeito ns ns ns ns L** ns

R2 - - - - 0,81 -

40-60 cm

0 4,5 12,5 10 4 0,6 1,8

60 4,6 10,3 10 5 0,6 1,3

120 4,8 10,8 9 5 0,7 2,0

180 4,6 13,3 11 5 0,6 1,8

Efeito ns ns ns ns ns ns

R2 - - - - - - Análises de regressão para efeito significativo das doses de N: Linear (L), Quadrático (Q), * (P<0,05), ** (P<0,01)

e ns: não significativo. 1: Amostras de solo coletadas na região da linha (L) 2: Amostras de solo coletadas na região

da entrelinha (EL).

Os teores de K+ e P no solo analisados em 2012 também foram afetados pela adubação

nitrogenada (Tabela 2.3). Ocorreu aumento linear de K+ nas camadas 0-10 e 20-40 cm da

entrelinha, e aumento quadrático na camada 10-20 cm, também na entrelinha. O teor de P na

camada 10-20 cm na linha também aumentou linearmente com as doses de N. Na camada de

10-20 cm, o teor de K+ observado na linha foi superior ao teor observado na entrelinha.

Apesar da grande diferença nas quantidades totais de fertilizante nitrogenado aplicadas,

poucas diferenças foram observadas nos teores de amônio (NH4+) e nitrato (NO3

-) (Tabela 2.4).

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Aumentos nos teores de NH4+ e NO3

- com as doses de N foram observados somente na

entrelinha da camada 0-10 cm. Houve aumento no teor de NO3-na camada 10-20 cm, nas duas

posições avaliadas e na camada de 20-40 cm, sem resposta significativa no teor de NH4+ nessas

profundidades. A adubação nitrogenada aumentou linearmente o teor de S-SO4 na camada mais

profunda (40-60 cm), sem efeito significativo nas demais profundidades. Na camada de 0-10

cm e 10-20 cm, os teores de NH4+, NO3

- foram maiores na linha que na entrelinha (Tabela 2.4),

ao passo que os teores de S-SO4-2 foram superiores na linha apenas na camada 0-10 cm.

Tabela 2.4. Alterações nos teores de nitrato (NO3-), amônio (NH4

+) e sulfato (SO4-2) do solo

coletado em diferentes posições em nov/2012, após aplicação de doses de N consecutivamente

em quatro soqueiras de cana-de-açúcar

Dose N N-NH4+ N-NO3

- S-SO4-2

--------------- mg kg-1 ---------------

L1 EL2 L EL L EL

0-10 cm

0 18 5 15 2 34 22

60 17 6 13 0,7 29 26

120 18 5 17 3 36 25

180 18 10 15 3 38 29

Média 18 a 6 b 15 a 2 b 34 a 25 b

Efeito ns L* ns L* ns ns

R2 - 0,5 - 0,5 - -

10-20 cm

0 18 6 14 1 36 33

60 18 4 16 1 35 40

120 16 3 17 2 41 38

180 16 5 16 2 42 46

Média 17 a 5 b 16 a 2 b 38 39

Efeito ns ns L* L* ns ns

R2 - - 0,67 0,74 - -

20-40 cm

0 3 1 56

60 4 1 51

120 3 1 61

180 3 3 62

Efeito ns L* ns

R2 - 0,67 -

40-60 cm

0 3 1 44

60 3 0,4 53

120 3 1 63

180 3 2 63

Efeito ns ns L*

R2 - - 0,91 Análises de regressão para efeito significativo das doses de N: Linear (L), * (P<0,05), ** (P<0,01) e ns: não

significativo. 1: Amostras de solo coletadas na região da linha 2: Amostras de solo coletadas na região da entrelinha

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O acúmulo de N, P, K, Ca, Mg e S em diferentes partes das plantas para todas as 4

soqueiras avaliadas pode ser observado nas Tabelas 2.5 e 2.6. A adubação nitrogenada

aumentou o acúmulo de nutrientes pelas plantas, especialmente quando se considera o

acumulado de todas as soqueiras.

Tabela 2.5. Acúmulo de nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K) em diferentes

compartimentos da cana-de-açúcar após aplicação de doses de N

Dose N Nitrogênio (N) Fósforo (P) Potássio (K)

kg ha-1 Colmo Ponteiro Folhas

secas

Colmo Ponteiro Folhas

secas

Colmo Ponteiro Folhas

secas

---------------------------------kg ha-1--------------------------------

1ª soqueira (2008-2009)

0 100,5 43,9 15,7 18,3 6,1 1,6 122,5 92,7 16,6

60 107,7 42,4 15,8 19,7 5,4 1,5 128,5 87,4 14,3

120 115,5 39,5 24,5 22,3 5,7 2,3 139,2 85,9 18,8

180 97,4 39,1 25,8 21,7 5,6 2,2 153,7 75,9 22,1

Efeito ns ns L* ns ns L* L* ns ns

R² - - 0,85 - - 0,64 0,97 - -

2ª soqueira (2009-2010)

0 43,5 40,4 10,4 12,5 6,0 0,71 150,6 82,9 11,0

60 61,7 32,8 9,7 17,6 4,9 0,66 223,1 67,1 8,9

120 70,2 42,0 11,4 16,1 6,0 0,97 234,4 78,7 12,2

180 90,5 38,2 13,1 20,1 5,2 0,71 249,2 66,4 12,9

Efeito L** ns ns L* ns ns L* ns ns

R² 0,98 - - 0,75 - - 0,82 - -

3ª soqueira (2010-2011)

0 51,6 35,3 8,0 9,6 4,8 0,43 75,5 58,3 2,2

60 55,6 59,0 8,9 11,9 6,1 0,68 80,5 83,3 3,2

120 51,3 37,2 7,8 8,9 5,5 0,50 71,0 61,0 1,8

180 55,1 47,1 7,7 10,9 5,4 0,52 76,6 67,2 2,1

Efeito ns ns ns ns ns ns ns ns ns

R² - - - - - - - - -

4ª soqueira (2011-2012)

0 70,3 60,4 10,9 3,6 7,2 1,44 104,4 72,4 7,0

60 72,6 79,5 13,6 3,5 7,9 1,32 102,0 63,2 5,6

120 60,0 80,9 11,1 2,7 7,7 1,18 128,9 70,6 8,2

180 98,0 138,2 17,9 4,8 12,7 1,46 123,9 59,3 8,7

Efeito ns L** L* ns L* ns Q* ns ns

R² - 0,81 0,54 - 0,66 - 0,67 - -

Acumulado 4 soqueiras

0 265,9 180,0 45,0 44,0 24,1 4,2 453,0 306,3 36,8

240 297,6 213,7 48,0 52,7 24,3 4,2 534,1 301,0 32,0

480 297,0 199,6 54,8 50,0 24,9 4,9 573,5 296,2 41,0

720 341,0 262,6 64,5 57,5 28,9 4,9 603,4 268,8 45,8

Efeito L* L* L* L* ns L* L* ns L*

R² 0,66 0,73 0,82 0,76 - 0,53 0,96 - 0,62 Análises de regressão para efeito significativo das doses de N: Linear (L), * (P<0,05), ** (P<0,01) e ns: não

significativo.

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Além de aumento no acúmulo de N, reflexo da adição de adubo nitrogenado ao solo, as

melhores condições de fertilidade do solo também promoveram aumento no acúmulo de P, K,

Ca, Mg e S. A ordem de acúmulo de nutrientes foi K>N>Ca>Mg>S>P, assim como observado

por OLIVEIRA (2011), após a aplicação de diferentes doses de N em soqueiras de cana-de-

açúcar. As quantidades de N, P e K acumuladas pelos ponteiros foram sempre superiores às

quantidades acumuladas pelas folhas secas (Tabela 2.5).

Tabela 2.6. Acúmulo de cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S) em diferentes

compartimentos da cana-de-açúcar após aplicação de doses de N

Dose N Cálcio (Ca) Magnésio (Mg) Enxofre (S)

kg ha-1 Colmo Ponteiro Folhas

secas

Colmo Ponteiro Folhas

secas

Colmo Ponteiro Folhas

secas

---------------------------------kg ha-1--------------------------------

1ª soqueira (2008-2009)

0 43,6 28,3 38,5 36,4 10,4 17,2 21,2 9,2 11,8

60 44,6 24,2 42,3 38,1 9,9 15,4 21,4 8,9 10,4

120 44,4 23,6 54,0 42,8 10,3 20,4 25,6 9,0 12,8

180 41,6 23,9 50,6 34,5 9,5 17,8 23,6 8,7 13,2

Efeito ns ns L* ns ns ns ns ns ns

R² - - 0,74 - - - - - -

2ª soqueira (2009-2010)

0 25,3 23,2 47,9 8,1 7,9 8,1 7,5 10,8 7,5

60 18,6 19,9 36,9 6,5 6,7 6,5 5,9 8,9 5,9

120 26,7 27,4 36,2 8,9 9,9 8,9 7,7 12,3 7,7

180 26,9 25,1 41,7 9,1 8,7 9,1 8,2 10,3 8,2

Efeito ns ns ns ns ns ns ns ns ns

R² - - - - - - - - -

3ª soqueira (2010-2011)

0 50,4 14,4 8,9 34,2 8,3 2,8 25,0 8,2 1,7

60 56,4 18,4 10,4 31,9 9,0 2,5 28,1 9,8 1,8

120 50,4 17,5 10,2 24,3 9,3 2,5 20,5 10,9 1,8

180 56,7 20,3 10,5 35,7 9,6 2,7 30,6 9,8 1,9

Efeito ns L* ns ns ns ns ns ns ns

R² - 0,77 - - - - - - -

4ª soqueira (2011-2012)

0 66,8 24,4 10,1 47,4 14,0 6,9 33,5 9,1 3,9

60 57,7 28,1 9,3 39,7 18,7 7,3 22,5 12,1 4,6

120 46,7 31,5 6,9 30,8 21,8 5,2 17,7 12,3 3,1

180 90,1 50,8 11,2 69,3 35,7 8,4 41,7 22,9 5,3

Efeito ns L* ns ns L** ns ns L** ns

R² - 0,82 - - 0,89 - - 0,79 -

Acumulado 4 soqueiras

0 186,1 90,3 105,4 126,1 40,6 30,3 87,2 37,3 24,9

240 177,3 90,6 98,9 116,2 44,3 31,7 77,9 39,7 22,7

480 168,2 100 107,3 106,8 51,3 37 71,5 44,5 25,4

720 215,3 120,1 114 148,6 63,5 38 104,1 51,7 28,6

Efeito ns L* L* ns L* L* ns L** ns

R² - 0,88 0,61 - 0,94 0,81 - 0,95 - Análises de regressão para efeito significativo das doses de N: Linear (L) * (P<0,05), ** (P<0,01) e ns: não

significativo.

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Todos os nutrientes avaliados apresentaram alto acúmulo nos ponteiros na 4ª soqueira

avaliada (Tabela 2.5; Tabela 2.6). No momento da colheita desse ciclo, as plantas apresentaram

níveis médios de °Brix inferior ao recomendado como ponto ideal de maturação para a colheita

(<16%) e também ATR médio em torno de 130. Isso demonstra que as plantas ainda não

estavam em ponto ideal para corte, apesar de terem sido cortadas com mais de 11 meses após o

último corte. No entanto, por necessidades logísticas, o corte foi realizado antes da maturação

ideal. Nessa fase, os ponteiros ainda representam uma importante porção das plantas, fazendo

com que o peso elevado dos ponteiros tenha causado esse maior acúmulo geral nos nutrientes,

uma vez que os teores de nutrientes não diferiram significativamente dos observados em anos

anteriores.

A produção de colmos aumentou linearmente com as doses de adubo nitrogenado em

todas as soqueiras (Figura 2.2). Com base nas equações, o aumento estimado na produção de

colmos em função da adubação nitrogenada, em kg de colmos por kg de N aplicado foi de 140,

180, 210 e 170 kg de colmos por kg de N na 1ª, 2ª, 3ª e 4ª soqueira, respectivamente.

Figura 2.2. Produção de colmos de cana-de-açúcar em quatro soqueiras consecutivas com

aplicação de diferentes doses de N-fertilizante. **: significativo a P<0,01

O balanço de entradas (adição de N-fertilizante) e saídas (exportação de N pelos colmos)

é apresentado na Figura 2.3. Em todas as soqueiras, o balanço foi negativo nas doses 0 e 60 kg

ha-1, e positivo nas doses de 120 e 180 kg ha-1. Portanto, nas doses 0 kg ha-1 e 60 kg ha-1 poderia

ŷ = 117,7 + 0,14x

R² = 0,95**

30

80

130

180

0 60 120 180

1a Soqueira

ŷ = 89,4 + 0,18x

R² = 0,86**

30

80

130

180

0 60 120 180

2a Soqueira

ŷ = 35,8 + 0,21x

R² = 0,91**

30

80

130

180

0 60 120 180

3a Soqueira

ŷ = 60,9 + 0,17x

R² = 0,93**

30

80

130

180

0 60 120 180

4a Soqueira

N adicionado (kg ha-1) N adicionado (kg ha-1)

Pro

duti

vid

ade

de

colm

os

(t h

a-1)

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ocorrer consumo de N orgânico do solo, ao passo que as doses 120 kg ha-1, e principalmente

180 kg ha-1, incrementaram o estoque de N orgânico do solo. Com base na equação estimada a

partir do acumulado em 4 soqueiras, a quantidade necessária para a reposição do N exportado

seria 69 kg ha-1ciclo-1.

Figura 2.3. Balanço de nitrogênio (exportado – adicionado via fertilizante), de acordo com o

cultivo de soqueiras consecutivas após aplicação de doses de N-fertilizante. **: significativo a

P<0,01

2.3.2 Tratamentos adicionais aplicados na 4ª soqueira

Não foram observadas diferenças significativas (Pr>0,05) entre inoculação e aplicação

de N-fertilizante nos teores de nutrientes na folha diagnóstico da cana-de-açúcar, na

comparação em cada dose anterior de N (Tabela 2.7). Em comparação com a testemunha sem

N, a aplicação de inoculante promoveu aumento nos teores foliares de P e K (Tabela 2.7).

Nas situações em que não houve diferença significativa entre inoculação e N100, pode-

se supor que a inoculação apresentou os mesmos benefícios que a aplicação de 100 kg ha-1 de

N, ou que ambos os tratamentos não apresentaram efeito. Para checar qual situação ocorreu, foi

feito um novo contraste comparando a inoculação, na média dos tratamentos das soqueiras

anteriores, com a testemunha absoluta para todas as variáveis analisadas. Ao comparar com o

tratamento controle, observa-se que houve aumento significativo no teor foliar de P, K, Ca e

Mg com a inoculação (Tabela 2.7).

ŷ = -257,2 + 0,92x R² = 0,99**

-250

-150

-50

50

150

250

350

450

0 240 480 720

N adicionado (kg ha-1)

Ba

lan

ço d

e N

(N a

pli

cad

o –

N e

xp

ort

ad

o)

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29

Tabela 2.7. Teor de macronutrientes na folha +1 de cana-de-açúcar (4ª soqueira), durante fase

de máximo crescimento da cultura, com aplicação de N-fertilizante (100 kg ha-1) ou inoculação

com bactérias diazotróficas, sob diferentes quantidades de N-fertilizante adicionado nas 3

soqueiras anteriores.

N Trat. 4ª

soqueira N P K Ca Mg S

------------------------------------- g kg-1 --------------------------------------

0 Inoculação 15,8 1,5 8,22 4,2 2,0 1,6

N100 15,6 1,5 8,67 4,3 2,1 1,8

Pr>F* 0,8104 0,7519 0,0929 0,8058 0,2022 0,1084

180 Inoculação 14,6 1,5 8,3 4,0 1,9 1,6

N100 15,8 1,5 8,7 4,1 2,0 1,7

Pr>F 0,083 0,6737 0,1789 0,7488 0,1245 0,1638

360 Inoculação 15,9 1,5 8,4 4,0 2,1 1,6

N100 16,1 1,5 8,0 4,3 2,1 1,7

Pr>F 0,8104 0,4026 0,1731 0,3525 0,5095 0,3221

540 Inoculação 15,9 1,5 8,4 4,7 2,0 1,8

N100 16,5 1,5 8,4 4,7 2,1 1,8

Pr>F 0,346 0,916 0,9387 0,9169 0,2796 0,8775

Média Inoculação 15,6 1,5 8,3 4,2 2,0 1,7

N100 16,0 1,5 8,5 4,3 2,1 1,7

Pr>F 0,1784 0,6737 0,3735 0,4859 0,0287 0,0438

Média Inoculação 15,6 1,5 8,3 4,2 2,0 1,7

N0 15,5 1,4 7,6 3,6 1,8 1,6

Pr>F** 0,99 0,017 0,031 0,043 0,016 0,229

* Comparação entre as médias (Inoculação vs N100) por meio de análise de contrastes ortogonais

** Comparação entre a média dos resultados com inoculação e ausência de adubação nitrogenada

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30

Houve maior acúmulo de N, P e K nos colmos (Tabela 2.8), N nas folhas secas (Tabela

2.9) e N nos ponteiros (Tabela 2.10) com a inoculação, em comparação com a ausência de

aplicação de N. A aplicação de 100 kg ha-1 de N resultou em maior acúmulo de N, P e K nos

colmos na maior parte das condições avaliadas, exceto no acúmulo de N, P e K na dose 0 kg

ha-1 e P em 180 kg ha-1 de N, onde não houve diferença entre aplicação de 100 kg de N ha-1 e

inoculação (Tabela 2.8). Ao comparar a inoculação com a ausência de adubação nitrogenada

em todas as soqueiras, observa-se maior acúmulo de N, P e K nos colmos no tratamento com

inoculação.

Tabela 2.8. Acúmulo de macronutrientes nos colmos de cana-de-açúcar (4ª soqueira), com

aplicação de N-fertilizante (100 kg ha-1) ou inoculação com bactérias diazotróficas, sob

diferentes quantidades de N-fertilizante adicionado nas 3 soqueiras anteriores.

N Trat. 4ª

soqueira N P K

kg ha-1 --------------- kg ha-1 ---------------

0 Inoculação 85,0 4,6 58,1

N100 93,2 4,3 53,0

Pr>F* 0,504 0,628 0,333

180 Inoculação 82,7 3,9 36,6

N100 103,6 4,0 49,6

Pr>F 0,096 0,86 0,019

360 Inoculação 74,7 4,4 32,6

N100 116,5 6,1 42,7

Pr>F 0,002 0,014 0,045

540 Inoculação 74,6 4,3 41,4

N100 100,1 5,8 60,2

Pr>F 0,005 0,026 0,002

Média Inoculação 79,3 4,7 46,9

N100 103,4 4,7 46,7

Pr>F 0,02 0,271 0,151

Média Inoculação 79,3 4,7 46,9

N0 70,3 3,6 36,9

Pr>F** 0,049 0,017 0,031

* Comparação entre as médias (Inoculação vs N100) por meio de análise de contrastes ortogonais

** Comparação entre a média dos resultados com inoculação e ausência de adubação nitrogenada

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31

Aumento no acúmulo de nutrientes nas folhas secas com a aplicação de 100 kg ha-1 de

N em comparação com a inoculação foi observado no acúmulo de P e K na dose 0, N na dose

180 e N na média dos tratamentos (Tabela 2.9). Ao comparar a inoculação com a ausência de

aplicação prévia de N, não se observam diferenças significativas.

Tabela 2.9. Acúmulo de macronutrientes nas folhas secas de cana-de-açúcar (4ª soqueira), com

aplicação de N-fertilizante (100 kg ha-1) ou inoculação com bactérias diazotróficas, sob

diferentes quantidades de N-fertilizante adicionado nas 3 soqueiras anteriores.

N Trat. 4ª

soqueira N P K

kg ha-1 ---------- kg ha-1 ----------

0 Inoculação 9,3 1,3 10,7

N100 12,4 1,8 18,8

Pr>F* 0,21 0,03 0,003

180 Inoculação 12,0 1,6 21,5

N100 19,6 1,8 18,2

Pr>F 0,005 0,473 0,179

360 Inoculação 13,9 1,4 15,4

N100 18,6 1,7 14,2

Pr>F 0,067 0,161 0,613

540 Inoculação 14,1 1,8 20,2

N100 14,5 1,7 17,3

Pr>F 0,312 0,212 0,213

Média Inoculação 12,3 1,5 16,9

N100 16,3 1,6 15,8

Pr>F 0,0044 0,4818 0,1317

Média Inoculação 12,3 1,5 16,9

N0 10,9 1,4 17,6

Pr>F** 0,078 0,676 0,751

* Comparação entre as médias (Inoculação vs N100) por meio de análise de contrastes ortogonais

** Comparação entre a média dos resultados com inoculação e ausência de adubação nitrogenada

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Com relação aos macronutrientes acumulados nos ponteiros de cana-de-açúcar,

observou-se aumento no acúmulo de P no tratamento 0 kg ha-1 de N, e aumento de N em média

dos tratamentos de adubação nitrogenada (Tabela 2.10). Ao comparar a inoculação com o

tratamento controle, não foram observadas diferenças significativas.

Tabela 2.10. Acúmulo de macronutrientes nos ponteiros de cana-de-açúcar (4ª soqueira), com

aplicação de N-fertilizante (100 kg ha-1) ou inoculação com bactérias diazotróficas, sob

diferentes quantidades de N-fertilizante adicionado nas 3 soqueiras anteriores.

N Trat. 4ª

soqueira N P K

kg ha-1

0 Inoculação 60,1 7,0 125,8

N100 81,5 8,9 163,5

Pr>F* 0,075 0,032 0,083

180 Inoculação 71,2 7,0 136,9

N100 58,6 6,5 108,0

Pr>F 0,282 0,529 0,178

360 Inoculação 65,4 6,8 128,4

N100 72,5 7,5 151,8

Pr>F 0,54 0,399 0,273

540 Inoculação 85,9 9,5 196,0

N100 94,6 8,3 149,8

Pr>F 0,454 0,183 0,137

Média Inoculação 70,6 7,6 146,8

N100 76,8 7,8 143,3

Pr>F 0,0517 0,1299 0,126

Média Inoculação 70,6 7,6 146,8

N0 60,4 7,2 126,3

Pr>F** 0,078 0,676 0,751

* Comparação entre as médias (Inoculação vs N100) por meio de análise de contrastes ortogonais

** Comparação entre a média dos resultados com inoculação e ausência de adubação nitrogenada

A aplicação de N-fertilizante promoveu aumento na produção de colmos em

comparação com a inoculação após a aplicação de 0, 180 e 360 kg ha-1 de N nas 3 soqueiras

anteriores, ao passo que na maior dose aplicadas nas soqueiras anteriores (540 kg ha-1), não foi

observada diferença entre a inoculação e a aplicação de N-fertilizante (Figura 2.4). A

comparação entre os resultados de produção de colmos com inoculação ou na testemunha

absoluta (dados não mostrados) não resultou em diferença significativa.

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33

Figura 2.4. Produção de colmos de cana-de-açúcar (4ª soqueira) com aplicação de N-

fertilizante (100 kg ha-1) ou inoculação com bactérias diazotróficas, sob diferentes quantidades

de N-fertilizante adicionado nas 3 soqueiras anteriores.

Houve maior absorção de N do fertilizante nos ponteiros após a ausência de aplicação

de N nas soqueiras anteriores (Tabela 2.11), ao passo que nos colmos e nas folhas secas as

menores proporções de 15N-fertilizante foram observadas nas doses intermediárias (180 e 360

kg ha-1 de N).

Tabela 2.11. Proporção (%) de N acumulado Proveniente do Fertilizante (NPDF) em diferentes

compartimentos da parte aérea de cana-de-açúcar em cultivo de 4ª soqueira, após a adição de

diferentes quantidades de N nas 3 soqueiras anteriores

Dose N longo

prazo

% NPDF

Colmos Folhas secas Ponteiros

kg ha-1 ---------- % ----------

0 19,9 a 18,1 a 18,3 a

180 14,3 b 17,3 ab 12,7 b

360 14,8 b 12,3 b 12,7 b

540 19,9 a 19,6 a 13,9 b

Média 17,2 16,8 14,4

CV % 12,2 14,9 12,6

Quando foi considerado o total de N acumulado na planta proveniente do fertilizante,

ocorreu predominantemente maior acúmulo após baixas doses de N nas soqueiras anteriores

(Figura 2.5) nos colmos e ponteiros, e consequentemente na parte aérea total (Figura 2.6). Na

parte aérea total, a % de recuperação de N-fertilizante em cada tratamento anterior foi de 44,2%

(0 kg ha-1), 34,3% (180 kg ha-1), 24,8% (360 kg ha-1) e 31,8% (540 kg ha-1).

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

0 180 360 540

Inoculação 100 kg/ha de N

**

y = 60,9 + 0,17x R² = 0,93**

y = 56,9 + 0,04x R² = 0,84

y = 68,3 + 0,06x - 0,00005x2 R² = 0,77*

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 180 360 540

Tratamentos originais Inoculação 100 kg N/ha

** ** ns

N adicionado nas 3 soqueiras anteriores (kg ha-1)

Pro

du

ção

de

colm

os

(t h

a-1

)

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Figura 2.5. Recuperação de 15N-Sulfato de amônio em diferentes compartimentos da parte

aérea de cana-de-açúcar, aplicado na dose de 100 kg ha-1 na 4ª soqueira, após adição de

diferentes quantidades de N nas 3 soqueiras anteriores. Letras iguais não diferem entre si pelo

teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Figura 2.6. Recuperação de 15N-Sulfato de amônio pela parte aérea de cana-de-açúcar, aplicado

na dose de 100 kg ha-1 na 4ª soqueira, após adição de diferentes quantidades de N nas 3 soqueiras

anteriores. *: P<0,05.

A maior recuperação de 15N-fertilizante observada nas parcelas controle não refletiram

em maior produtividade quando comparado com os demais tratamentos. O baixo aporte de N

na condição do tratamento controle (com 100 kg ha-1 de N na 4ª soqueira) não foi suficiente

para a obtenção de produtividades similares aos outros tratamentos, apesar do maior

aproveitamento do fertilizante, com a mesma dose de N nesse ciclo.

0

5

10

15

20

0 180 360 540

Recuperação (%) do 15N-

fertilizante nos colmos

0

5

10

15

20

0 180 360 540

Recuperação (%) do 15N-

fertilizante nas folhas

secas

0

5

10

15

20

0 180 360 540

Recuperação (%) do 15N-

fertilizante nos ponteiros

y = 40,8 - 0,03x

R² = 0,56*

0

10

20

30

40

50

0 180 360 540

Recuperação (%) do 15N-fertilizante na

parte aérea total

% R

ecu

per

ação

N adicionado nas 3 soqueiras anteriores (kg ha-1)

a ab

b ab

a a a a

a

ab

b

ab

% R

ecu

per

ação

N adicionado nas 3 soqueiras anteriores (kg ha-1)

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35

2.4 DISCUSSÃO

2.4.1. Atributos químicos do solo

As elevadas produtividades obtidas nos ciclos de cana-planta e 1ª soqueira aceleraram

o processo de acidificação do solo, com pH próximo a 4,0 no final do ciclo de 1ª soqueira, em

2009 (Tabela 2.1). Isso ocorre pela alta remoção de bases trocáveis, além do uso de altas doses

de N amoniacal em alguns tratamentos, o que resultou na necessidade de reaplicação de calcário

e gesso (para melhorar as condições na subsuperfície) durante a soqueira. A aplicação de

calcário e gesso agrícola em cana-soca é uma prática comum em canaviais, sendo recomendável

a realização de análises de solo após a colheita da 1ª ou 2ª soca para verificação das condições

de acidez do solo e permitir a aplicação de calcário e gesso em tempo hábil e assegurar bons

níveis de produtividade nas soqueiras subsequentes (LORENZETTI et al., 1992;

SPIRONELLO et al., 1997; PENATTI, 2013).

Os efeitos da adubação nitrogenada na acidificação do solo cultivado com cana-de-

açúcar são normalmente observados até a profundidade de 20 cm (PRADO; PANCELLI, 2008).

A calagem na cana-soca precisa ser aplicada sobre a palha em superfície, e a reação fica limitada

à superfície, levando algum tempo até reagir em camadas mais profundas. A aplicação de altas

doses de N implica aumento na intensificação agrícola, dependendo portanto da obtenção de

elevadas produtividades para que o alto uso de N seja viável (KOLBERG; WESTFALL;

PETERSON, 1999). A acidificação causada pela adubação nitrogenada amoniacal pode ser um

fator limitante para a resposta da cana-de-açúcar ao N aplicado (DEBRECZENI;

KISMÁNYOKY, 2005; CANTARELLA, 2007) . Em solos com menor poder tampão, um ciclo

com altas doses de N e elevadas produtividades poderia limitar a produtividade do próximo

ciclo, e inclusive resultar na ausência de resposta à aplicação de N.

Os resultados da análise de solo de 2010 (dados não apresentados) mostraram que,

mesmo sem a aplicação de N, o solo estava ácido e em níveis similares às condições com

aplicação de altas doses de N, devido à remoção de bases trocáveis com a alta produtividade

obtida nos ciclos anteriores. Tais fatores indicaram a necessidade de aplicação de calcário em

toda a área, sem necessidade de discriminação entre tratamentos. Ainda existem dúvidas a

respeito da real necessidade de aplicação de calcário e gesso agrícola e qual a recomendação

para soqueiras de cana-de-açúcar sem queima (PENATTI, 2013). Em áreas de alto potencial

produtivo, a correção da acidez do solo é uma prática que garante a qualidade do solo e em

longo prazo sustenta a produção agrícola. Estudos são necessários nessas condições com

aplicação de diferentes doses de calcário e N em soqueiras de alta produtividade para futuras

recomendações.

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Os resultados de análise de solo de 2012 indicam que, após 24 meses da aplicação de

calcário, houve correção da acidez em todos os tratamentos de adubação nitrogenada. No

entanto, observam-se pequenos aumentos nos teores de Ca+2, Mg+2 e K+ com a aplicação de

adubo nitrogenado (Tabela 2.3). Aumentos nos teores de cátions trocáveis em maiores

profundidades são normalmente benéficos para o desenvolvimento de raízes em camadas mais

profundas e absorção desses nutrientes pelas plantas (MORELLI et al., 1992). Em condições

de estresse hídrico, as plantas podem se beneficiar das melhores condições de fertilidade em

subsuperfície, onde há maior disponibilidade de água.

O aumento observado nos teores de K+ na entrelinha da cultura se deve principalmente

à decomposição de maior volume de restos culturais com maiores doses de N, que rapidamente

liberam K ao solo, além da ciclagem promovida pelo sistema radicular em profundidade. Deve-

se ressaltar que altas doses de K2O foram aplicadas no solo (150 kg ha-1) em todos os

tratamentos, e em condições de menor desenvolvimento e produtividade como ocorreu na

ausência de aplicação de N, pode resultar em perdas de K.

Mesmo com aplicações de diferentes quantidades de N mineral ao solo, essa fração de

N no solo normalmente representa em torno de 5% do total, sendo que em torno de 95% do N

no solo permanece na forma orgânica. Isso explica a baixa variação nos níveis de N-NH4+ e N-

NO3- no solo, mesmo com níveis muito contrastantes de N-fertilizante aplicado, porém em

amostragem realizada ao final de 4 anos de avaliação. Uma das maiores preocupações com a

aplicação de altas quantidades de N no sistema é a lixiviação de NO3-, que pode resultar em

contaminação de lençóis freáticos (QAFOKU; SUMNER; RADCLIFFE, 2000; GHIBERTO et

al., 2011). No entanto, em solos profundos e com provável ocorrência de cargas positivas em

profundidade como o solo do presente estudo, a lixiviação de NO3- tem menor importância que

em solos arenosos e rasos (GHIBERTO et al., 2011, 2009; PENATTI, 2013).

O aumento no teor de S-SO4 na camada de 40-60 cm com as doses de N (Tabela 2.4)

foi resultado da aplicação de sulfato de amônio no último ciclo de avaliação. A aplicação de

altas doses de sulfato de amônio promove movimentação de SO42- para camadas mais profundas

(FOLONI; ROSOLEM, 2006). Existe também sinergismo entre N e S nas plantas

(MALAVOLTA; MORAIS, 2007). Ambos são constituintes de proteínas e aminoácidos nas

plantas, e a maior absorção de N quando ocorre aumento na disponibilidade é normalmente

acompanhada pela absorção de S, aumentando assim a demanda deste nutriente.

A variabilidade observada em função da posição de amostragem (linha ou entrelinha) é

esperada, uma vez que toda a fertilização mineral da cultura, nos cinco ciclos (cana-planta +

quatro soqueiras), foi realizada em uma faixa de aproximadamente 20 cm em torno da

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linha/sulco. A variabilidade espacial da fertilidade do solo em culturas perenes e semi-perenes

adubadas em linha é conhecida, porém a amostragem na entrelinha têm sido apontada como

mais representativa e eficiente para recomendação de corretivos (PRADO; FERNANDES;

ROQUE, 2001). De fato, as recomendações de correção do solo na cana-soca foram baseadas

em análise da entrelinha, e resultaram em boas condições de fertilidade em ambas as posições.

A recomendação baseada na linha poderia resultar em excessiva aplicação de calcário. No

entanto, altas doses de N concentradas em locais específicos aplicadas consecutivamente ao

longo dos ciclos pode causar excessiva acidificação no local de aplicação, resultando em

redução no desenvolvimento de raízes nas regiões próximas à localização do fertilizante e

diminuindo assim a eficiência de uso do N aplicado.

2.4.2. Acúmulo de nutrientes e produtividade de colmos

Foi observada grande variação no acúmulo de macronutrientes pela cultura no final do

ciclo, entre tratamentos e também entre as soqueiras, além da esperada diferença entre

compartimentos da planta. Em geral, a cana-de-açúcar é dividida em três compartimentos

(colmos, folhas secas e ponteiros), sendo que os colmos representam o compartimento de maior

acúmulo para a maior parte dos nutrientes, devido à redistribuição para produção e acúmulo de

açúcares, e principalmente pela maior produção de massa seca. Como os colmos são removidos

na colheita, os nutrientes acumulados nesse compartimento são exportados (OLIVEIRA et al.,

2010). Os compartimentos de folhas secas e ponteiros representam o material que permanece

após a colheita (CARVALHO et al., 2013; FRANCO et al., 2013). A diferença entre eles é que

os ponteiros contêm as folhas verdes metabolicamente ativas, enquanto que as folhas secas

representam as partes senescentes. A concentração de nutrientes em diferentes partes das

plantas é dependente da atividade metabólica de cada compartimento (MARSCHNER, 2011).

Portanto, é esperado que nutrientes mais móveis na planta, como N, P e K sejam mais

acumulados nos ponteiros que nas folhas secas, ao passo que nutrientes menos móveis, como o

Ca, apresentam maior acúmulo nas folhas secas. Além disso, podem ocorrer diferenças no

acúmulo de nutrientes entre os diferentes ciclos na mesma área, devido às diferenças climáticas

e condições da soqueira, que influenciam diretamente a disponibilidade dos nutrientes e a

produção de massa seca (OLIVEIRA, 2011).

Apesar de ser esperado aumento no acúmulo de N com as doses de fertilizante,

houveram algumas situações de ausência de resposta às doses de N. O acúmulo de nutrientes

na cultura é dependente de diversos fatores, particularmente das condições climáticas, fase do

ciclo (OLIVEIRA, 2011) e variedade (OLIVEIRA et al., 2011). Apesar da grande variação

observada, ao considerar o acumulado das quatro soqueiras, aumentos lineares no acúmulo de

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N foram observados em todos os compartimentos (Tabela 2.5). Tais resultados mostram a

importância da avaliação de ciclos consecutivos de soqueiras de cana-de-açúcar, para que se

obtenham valores que representam as variações que podem ocorrer no acúmulo de nutrientes

em função de diversos fatores, e assim auxiliar em futuras recomendações de adubação para

áreas de alta produtividade de cana-de-açúcar.

A alta acidez do solo observada nas camadas mais profundas (Tabela 2.3) pode causar

má formação de raízes. Como resultado, pode ocorrer limitação na exploração de camadas mais

profundas, e por consequência no acesso à água e nutrientes. Tal fato também pode ter

contribuído para o aumento linear na produção de colmos das quatro soqueiras avaliadas

(Figura 2.2).

Ao contrário do que normalmente ocorre em cana-planta, as respostas positivas de cana-

soca à adubação nitrogenada são mais frequentes (ORLANDO FILHO et al., 1999;

CANTARELLA, 2007). Franco et al. (2011) avaliaram a contribuição de 15N-fertilizante em

cana-planta e cana-soca, e verificaram que nas soqueiras em torno de 40% do N nas plantas foi

proveniente do fertilizante, ao passo que na cana-planta a contribuição foi de apenas 5%. No

entanto, apesar de ser mais frequente que na cana-planta, as respostas das soqueiras de cana-

de-açúcar ao N-fertilizante é em geral errática (CANTARELLA, 2007), sendo que em muitos

casos não são observadas respostas positivas à adubação nitrogenada. No entanto, trabalhos

recentes conduzidos em diferentes tipos de solo com a variedade SP 81-3250 mostraram

respostas lineares à adubação nitrogenada em soqueira até as doses de 175 kg ha-1 em solo

arenoso (VITTI et al., 2007b) e até 150 kg ha-1 em solo argiloso (FORTES et al., 2013a).

Houve grande variação na produtividade entre diferentes soqueiras, especialmente em

função de condições climáticas, além do decréscimo natural de produtividade no decorrer dos

ciclos de cana-soca. Nota-se que ocorreu excesso de chuvas nos meses de dezembro/2010 e

janeiro/2011, período de máximo crescimento da cultura. O excesso de chuvas nesses períodos

pode reduzir o potencial produtivo da cultura pelo decréscimo na energia solar disponível (alta

nebulosidade com chuvas). Tal condição afetou a produtividade no 3º ciclo de cana-soca, de

maneira que a produtividade foi até mesmo inferior à obtida no último ciclo.

É importante destacar as altas produtividades obtidas nas primeiras soqueiras e também

na cana-planta (216 t ha-1), antes da aplicação dos tratamentos. Essa elevada produção de

colmos foi resultado das ótimas condições de solo e clima em uma variedade altamente

responsiva. No entanto, altas produtividades também significam alta remoção de N e outros

nutrientes do sistema, que precisam ser supridos para as soqueiras subsequentes. Considerando

que a adubação nitrogenada na cana-planta (48 kg ha-1) provavelmente não foi suficiente para

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suprir todo o N removido pela cultura, houve consumo do N orgânico do solo, mesmo

considerando a possibilidade de que em torno de 60 kg ha-1 (40 kg ha-1ano-1) de N tenha sido

proveniente da fixação biológica de N (HERRIDGE; PEOPLES; BODDEY, 2008;

URQUIAGA et al., 2012), outra fonte apontada como importante para a nutrição nitrogenada

de cana-de-açúcar e também um dos motivos apontados para a ausência de resposta da cultura

ao N aplicado em algumas situações. Portanto, nas condições do presente estudo, o uso de uma

variedade altamente responsiva, o alto consumo de N desde o ciclo de cana-planta, além das

melhorias observadas nos atributos químicos do solo, como a correção mais rápida do solo após

a aplicação de calcário na superfície em cana-soca resultou na resposta positiva ao N aplicado

em todas as soqueiras, com alta produtividade na dose de 180 kg ha-1 de N, superior à

comumente aplicada.

Normalmente, é recomendado em torno de 100 kg ha-1 de N em cana-soca, para a

produtividade de 80-100 t ha-1 de colmos em cana com queima prévia (SPIRONELLO et al.,

1997). Essa recomendação foi baseada em uma série de ensaios realizados nas décadas de 1980

e 1990, predominantemente com queima prévia antes da colheita. No entanto, o advento da

cana-crua, sem queima prévia antes da colheita, trouxe algumas dúvidas em relação ao manejo

da adubação nitrogenada. O manejo sem despalha a fogo potencialmente conserva o N no

sistema solo-planta. Porém, a taxa de mineralização desta palhada com alta relação C:N é lenta

(CANTARELLA; TRIVELIN; VITTI, 2007). Com alto aporte de resíduos, ocorre alta

imobilização do N contido nos resíduos e no solo. Além disso, nos últimos anos o uso de

variedades mais produtivas tem mostrado respostas lineares altamente positivas ao N aplicado.

Resultados de experimentos com cana-soca sem queima do Centro de Tecnologia de Cana-de-

açúcar (CTC), reportados em Penatti (2013), mostraram respostas positivas lineares em solo

argiloso com aplicação de até 200 kg ha-1 de N e resposta quadrática em solos de textura média.

Resposta positiva linear à aplicação de N foi também reportada em solo arenoso com aplicação

de até 175 kg ha-1 de N (VITTI et al., 2007b) e em solo argiloso até 150 kg ha-1 de N (FORTES

et al., 2013a). Uma rede de experimentos conduzida com soqueiras sem queima em 15 áreas

experimentais no estado de São Paulo mostrou efeito quadrático ao N aplicado na média dos

ensaios, com maior produtividade estimada na dose de 148 kg ha-1 e maiores ganhos

econômicos na dose 120 kg ha-1 (ROSSETTO et al., 2010a).

Portanto, há uma tendência de aumento nas doses de N usado nas soqueiras de cana-de-

açúcar, principalmente em ambientes com alto potencial produtivo. A nutrição inadequada da

cultura também pode resultar em reduções na produtividade entre soqueiras, havendo

necessidade de reforma do canavial. É importante observar que na última soqueira, a

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produtividade da cultura sob altas doses de N foi superior a 70 t ha-1 de colmos. Normalmente,

quando a soqueira atinge produtividade abaixo de 70 t ha-1, é indicativo de necessidade de

reforma do canavial. Portanto, a nutrição equilibrada com nitrogênio pode auxiliar no aumento

da longevidade das soqueiras, diminuindo custos financeiros e impactos ambientais

relacionados à operação de preparo do solo e plantio.

Houve diferenças no balanço de N no sistema de acordo com a dose de N-fertilizante

aplicada (Figura 2.4). Nota-se que as diferenças aumentaram em magnitude de acordo com a

queda na produtividade das soqueiras. A recomendação de adubação nitrogenada em cana-de-

açúcar é em função da produtividade a ser obtida (SPIRONELLO et al., 1997). No entanto,

recomendar a dose de N-fertilizante de maneira fixa ou de acordo com a produtividade esperada

pode causar problemas de excesso de N no sistema, uma vez que é muito difícil prever a

produtividade – especialmente em cultivos sem irrigação – e normalmente a produtividade real

é menor que a esperada (THORBURN et al., 2011).

Os dados cumulativos das quatro soqueiras avaliadas apontam que no tratamento

controle, sem aplicação de N, houve um balanço negativo de 257 kg ha-1 de N, ao passo que na

maior dose, 180 kg ha-1 ano-1, o balanço foi positivo, da ordem de 412 kg ha-1 de N. Sem

dúvidas, ambas condições são extremas e indesejáveis. Balanço altamente negativo pode causar

decréscimo na produtividade e degradação do solo em longo prazo, ao passo que balanços

altamente positivos e excesso de N no sistema pode aumentar os riscos de perdas de N por

lixiviação e desnitrificação. Por outro lado, também pode contribuir para o reservatório de N

orgânico do solo e favorecer o cultivo em longo prazo (VALLIS; KEATING, 1994;

DOBERMANN, 2007). Deve-se considerar também que normalmente de 10% a 40% do N

aplicado é efetivamente usado pelas plantas no ciclo, de acordo com dados compilados na

literatura por Cantarella, Trivelin e Vitti, (2007). Portanto, no mínimo 60% do N mineral

aplicado provavelmente permaneceu no solo após a colheita, embora maiores quantidades de N

proveniente do fertilizante possam ter sido absorvidas pelas plantas em fases anteriores do ciclo,

quando ocorre maior demanda por N (FRANCO et al., 2011). Visando apenas a reposição do

N exportado, seriam necessários apenas 69 kg ha-1ciclo-1 em média, de acordo com a equação

linear obtida na Figura 2.3. No entanto, nessa dose as produtividades seriam menores, dada a

resposta linear positiva observada (Figura 2.2).

A aplicação de N apenas com base na reposição do N exportado pode ser insuficiente,

devido à alta imobilização de N no solo com o grande volume de resíduos. Por outro lado, com

base apenas na produtividade e na lucratividade, estudos mais recentes têm mostrado que doses

muito altas de N podem ser necessárias, e uma parte considerável desse N aplicado permanecerá

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no sistema, o que a longo prazo pode ser benéfico se o N permanecer no sistema, ou trazer

problemas ambientais, dependendo de cada condição de ambiente e manejo.

Altas quantidades de N aplicadas que não são removidas pela cultura poderiam também

nutrir a cultura em ciclos posteriores. No entanto, as quantidades de N liberadas no ciclo

seguinte à colheita são variáveis e normalmente baixas, raramente superior a 20% do N total

contido na palha (BASANTA et al., 2003; FORTES; TRIVELIN; VITTI, 2012). De qualquer

maneira, é esperado que em sistemas de cana colhida sem queima os nutrientes contidos na

palha possam retornar ao solo e melhorar a fertilidade química em longo prazo. Simulações têm

apontado que o aumento nas doses de N pode ser necessário a curto e médio prazo, porém a

longo prazo pode significar diminuições nas quantidades aplicadas com o aumento no

reservatório de N no solo (COURTAILLAC et al., 1998; ROBERTSON; THORBURN, 2007;

TRIVELIN et al., 2013).

2.4.3. Inoculação com bactérias diazotróficas e recuperação de 15N

Houve maior acúmulo de N (colmos, ponteiros e folhas secas), P e K (colmos) com a

inoculação em comparação com a ausência de aplicação de N (Tabela 2.8; 2.9; 2.10). Estudos

recentes em cana-de-açúcar que encontraram respostas positivas da inoculação no acúmulo de

N e biomassa das plantas cultivadas a campo têm atribuído tais respostas aos efeitos benéficos

promotores de crescimento, e não à fixação de N2 atmosférico (PEREIRA et al., 2013;

SCHULTZ et al., 2012, 2014). Os principais benefícios provenientes da ação das bactérias

diazotróficas atualmente conhecidos são a produção de hormônios, estímulo ao crescimento

radicular, antagonismo a patógenos e solubilização de nutrientes do solo (BENEDUZI et al.,

2013; TAULE et al., 2012). A produção de fitormônios, resulta, entre outros atributos, no

aumento da proliferação de raízes, o que por consequência pode ocasionar aumento nas

absorção de nutrientes (DOBBELAERE; VANDERLEYDEN; OKON, 2003). Além disso,

com maior número de raízes ativas, ocorre aumento na produção de exsudatos radiculares, o

que pode aumentar a disponibilidade de outros nutrientes, além do N (KENNEDY;

CHOUDHURY; KECSKÉS, 2004; DAS; SAHA; BENGAL, 2007).

Existem evidências nas condições brasileiras de que a cultura da cana-de-açúcar

cultivada pode utilizar N2 atmosférico naturalmente por meio da ação de bactérias diazotróficas

(URQUIAGA; CRUZ; BODDEY, 1992; URQUIAGA et al., 2012), sendo que a contribuição

da FBN natural tem sido estimada em torno de 40 kg ha-1ano-1 (HERRIDGE; PEOPLES;

BODDEY, 2008; URQUIAGA et al., 2012). Algumas estirpes de bactérias diazotróficas foram

isoladas para inoculação na cultura (OLIVEIRA et al., 2003, 2002; REIS; BALDANI;

URQUIAGA, 2009), com a finalidade de maximizar a fixação de N2 atmosférico e

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eventualmente substituir parte do adubo nitrogenado aplicado. No entanto, os resultados desse

estudo em solo argiloso, com variedade altamente produtiva, não fornecem subsídios para a

recomendação de inoculação em substituição à adubação nitrogenada. Por outro lado, as

bactérias diazotróficas podem promover maior mineralização de N orgânico do solo (DAS;

SAHA, 2003; KENNEDY; CHOUDHURY; KECSKÉS, 2004; DAS; SAHA; BENGAL,

2007). Assim, em condições de alta adição de N-fertilizante, os efeitos benéficos da inoculação

poderiam ser maximizados, ao passo que em condições de baixo estoque de N orgânico, há

menor probabilidade de efeitos benéficos pela ação de bactérias diazotróficas.

A aplicação de N-fertilizante foi superior à inoculação na maioria das variáveis

estudadas. A inoculação com bactérias diazotróficas tem sido comparada com a adubação

nitrogenada na cana-de-açúcar em outros estudos e para algumas variedades podem ocorrer

produtividades similares às observadas após a aplicação de fertilizante nitrogenado

(OLIVEIRA et al., 2006; DAS; SAHA; BENGAL, 2007; SCHULTZ et al., 2012, 2014). No

entanto, diversas variedades não apresentam resposta significativa em biomassa ou

produtividade (GAVA et al., 2012; SCHULTZ et al., 2012; PEREIRA et al., 2013).

Os dados de recuperação de 15N-fertilizante ao final da 4ª soqueira – após aplicação de

100 kg ha-1 de N-sulfato de amônio – diferiram em função das condições contrastantes de aporte

de N nas 3 soqueiras anteriores. Os valores observados de recuperação de 15N-fertilizante na

parte aérea das plantas de cana-de-açúcar são similares aos valores observados em outros

estudos realizados na cultura com aplicação de 15N, que variam de 7 a 40% do N aplicado em

cana-soca (CANTARELLA; TRIVELIN; VITTI, 2007). Esses valores são considerados baixos

quando comparados com outras culturas (principalmente culturas anuais), e um dos fatores

apontados como determinantes para a baixa eficiência de uso do N-fertilizante em cana-de-

açúcar é o efeito residual do fertilizante nitrogenado no solo e a elevada imobilização de N na

palha (COURTAILLAC et al., 1998).

Uma parte expressiva do N-fertilizante aplicado em cana-de-açúcar permanece no solo

e pode favorecer a produtividade em ciclos subsequentes (VALLIS; KEATING, 1994; VITTI

et al., 2011; VITTI, 2003). O N contido na palha proveniente de ciclos anteriores e no sistema

radicular também contribuem para a nutrição nitrogenada das plantas (OLIVEIRA et al., 1999;

TRIVELIN et al., 2002; FORTES et al., 2013b; VITTI et al., 2011), de maneira que o N

adicionado em um ciclo pode promover aumentos de produtividade em ciclos subsequentes

(OLIVEIRA et al., 1999; FRANCO et al., 2010b). Ao avaliar a mineralização e decomposição

da palha, Vitti et al. (2008) observaram maior mineralização (+10%) do N contido na palha

com a aplicação de N-fertilizante em comparação à testemunha. Portanto, nas condições em

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que não houve aporte de N nas soqueiras anteriores, a quantidade de N no solo, resíduos e no

sistema radicular foi certamente inferior aos demais tratamentos, fazendo com que as plantas

apresentassem melhor aproveitamento do N-fertilizante aplicado, atingindo níveis superiores

(44,2%) aos valores médios observados em outros estudos com recuperação de 15N-fertilizante

em soqueiras de cana-de-açúcar. Outra questão a ser considerada é a queima acidental ocorrida

antes da rebrota da 4ª soqueira. A maior parte do N contido nos resíduos vegetais é perdido com

a queima (CANTARELLA; TRIVELIN; VITTI, 2007), porém, em virtude do baixo teor de N

normalmente encontrado nos resíduos culturais, dificilmente houveram efeitos no

aproveitamento de N-fertilizante observado no tratamento controle.

Não foi observada diferença significativa entre as doses de aplicação de N nas soqueiras

anteriores (60, 120 e 180 kg ha-1 soqueira-1) no aproveitamento de 15N do fertilizante. Por outro

lado, as maiores produtividades foram observadas com maiores doses de N-fertilizante, o que

resultou em correlação negativa entre a produção de colmos e recuperação de 15N-fertilizante

(dados não apresentados). A contribuição do N proveniente dos resíduos e da matéria orgânica

do solo para a nutrição nitrogenada das plantas é normalmente bem superior à contribuição do

fertilizante, conforme sugerem os resultados de estudos com aplicação de 15N em várias culturas

(DOURADO-NETO et al., 2010). Além disso, há um expressivo enriquecimento de partes

subterrâneas das plantas com N, conforme verificado por Vitti et al. (2007a). Portanto, o

enriquecimento de N no sistema observado nas maiores doses de N-fertilizante (Figura 2.3)

pode resultar em altas produtividades quando o cultivo é feito em solos argilosos com alto teor

de matéria orgânica, mesmo com baixo aproveitamento de N-fertilizante aplicado na safra.

Porém, é importante destacar que, em função da dinâmica de N no solo, o sistema fica sujeito

a riscos de perda do N não utilizado. Em longo prazo, esses resultados indicam que a adubação

em cana-de-açúcar em ambientes altamente produtivos deve ser realizada de maneira

abrangente, visando a sustentabilidade do sistema, ao invés da produtividade esperada para um

único ciclo de cultivo.

2.5 CONCLUSÕES

Em ambientes altamente produtivos, onde não há limitação de água e outros nutrientes,

a cana-de-açúcar pode responder positivamente a altas doses de N na soqueira, mesmo com a

obtenção de baixa produtividade média em soqueiras mais avançadas. Nessas condições, a

quantidade de N aplicada nas maiores doses supera a quantidade removida pelos colmos na

colheita. Se não ocorrer perdas elevadas de N por volatilização, desnitrificação e lixiviação,

essas altas doses de N-fertilizante podem promover enriquecimento do estoque de N no sistema.

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A inoculação com bactérias diazotróficas pode favorecer a nutrição mineral da cana-de-

açúcar, porém a substituição da adubação nitrogenada pela inoculação resulta em queda de

produtividade, exceto em situações com elevadas quantidades de N residual de ciclos anteriores.

O aproveitamento de N proveniente do fertilizante pode atingir valores em torno de 45%

do N aplicado em condições de baixo N residual no solo, ao passo que em solos adubados com

N em ciclos anteriores, o aproveitamento do N-fertilizante não supera 30%. No entanto, as

produtividades mais elevadas em cana-soca são obtidas em condições de alto suprimento de N

pelo solo.

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3. ADUBAÇÃO NITROGENADA EM CICLO COMPLETO DE CANA-DE-AÇÚCAR:

ASPECTOS AMBIENTAIS PARA PRODUÇÃO DE BIOENERGIA

RESUMO

A aplicação de fertilizantes nitrogenados é necessária para a obtenção de altas produtividades

em cana-de-açúcar, porém a produção desses insumos demanda altas quantidades de energia e

também ocasiona a emissão de gases de efeito estufa (GEE). Estudos recentes têm apontado a

viabilidade econômica do aumento nas quantidades de nitrogênio (N) aplicadas. Altas doses de

N podem ser ambientalmente indesejáveis, porém também podem resultar em menor demanda

de área agrícola para a produção de bioenergia. Alguns estudos têm apontado dados em função

de doses de N e produtividades médias em diversas usinas de balanço de energia (energia

produzida/energia consumida) e emissões de GEE na produção de cana-de-açúcar; o N-

fertilizante têm sido um dos principais itens de consumo de energia e fonte de GEE. Com o

objetivo de comparar diferentes quantidades de N aplicadas em um ciclo completo de cana-de-

açúcar, uma área experimental foi considerada, onde doses contrastantes de N foram aplicadas

(0 a 180 kg ha-1soqueira-1) e que resultaram em respostas positivas na produtividade da cultura.

A partir dos dados de produtividade e uso de N, estimativas foram realizadas para o cálculo de

balanço de energia e emissão de GEE nas diferentes condições de entrada de N no sistema.

Foram simulados dois cenários: Demanda adicional de terra para atingir a mesma produtividade

da maior dose de N e reposição de N onde o N exportado foi superior ao adicionado via

fertilizante. Estimativas também foram realizadas com base em outros ensaios com aplicação

de N-fertilizante. Baixas doses de N resultam em balanço de energia e emissão de GEE mais

favoráveis (9,0 e 8,2 GJ GJ-1; 9,8 e 10,2 kg CO2eq GJ-1) em comparação ao uso de altas doses

de N (7,6 e 7,2 GJ GJ-1; 11,01 e 11,02 kg CO2eq GJ-1), mesmo com a obtenção de menores

produtividades, apenas considerando as condições avaliadas no campo. Ao simular a demanda

adicional de terra, ocorre redução no balanço final de energia nas menores doses (7,4 GJ GJ-1),

e não resultou em grandes diferenças nas emissões de GEE. Com a reposição de N, simulando

futura reposição para evitar degradação do solo, também ocorrem reduções no balanço de

energia nas menores doses, porém ainda superiores aos demais tratamentos. Por outro lado, as

emissões são maiores em baixas doses de N onde há a necessidade de maior reposição desse

nutriente (11,9 kg CO2eq GJ-1), mostrando que não é viável o uso de doses de N abaixo do

necessário para reposição da quantidade exportada, pois eventualmente tal reposição seria

necessária para evitar a degradação do solo. Com base em estimativas a partir de outros ensaios

com aplicação de N-fertilizante, foi possível confirmar a tendência de redução no balanço de

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energia e aumento nas emissões com aplicação de N-fertilizante, mesmo com aumentos

quadráticos na produção de colmos. Os maiores balanços de energia (6,5-9,1 GJ GJ-1) e menores

emissões (11,1-15,1 kg CO2eq GJ-1) foram observados em ambientes mais produtivos, em

comparação com ambientes de menor produtividade, independente da dose aplicada. A alta

demanda de energia e as emissões de GEE associadas à produção e uso de N não permitiram

que a intensificação agrícola com maior uso de N (apesar dos aumentos de produtividade)

melhorassem o balanço energético e ambiental e a produção de bioenergia. A otimização do

uso de N em cana-de-açúcar deve, portanto, ser um objetivo a ser perseguido.

Palavras-chave: Saccharum sp.; Cana-crua; sustentabilidade; óxido nitroso

NITROGEN FERTILIZATION IN A SUGARCANE FULL CYCLE:

ENVIRONMENTAL ASPECTS FOR BIOENERGY PRODUCTION

ABSTRACT

Nitrogen (N) fertilizers are required to achieve high crop yields in sugarcane. However, N

fertilizers also require large amounts of energy to be produced, and cause increases on

greenhouse gases (GHG) emissions. In Brazilian conditions, this crop usually requires lower

amounts of N than in other countries; however, recent studies have suggested economical

suitability of increasing N rates, whereas low N rates may not supply the N removed from the

field. High N rates might not be desirable for the environment, on the other hand may also

reduce land requirement for bioenergy production. Some studies have shown average data of

energy balance and GHG emissions on sugarcane production and fertilizer-N have been one of

the main causes of increases on energy inputs and GHG emissions. Aiming to compare different

amounts of N applied in a sugarcane full cycle, an experimental trial was evaluated under

distinct N rates and positive response of crop yield to N application. From crop yield data and

N use, estimative were performed in order to calculate the final energy balance and GHG

emissions under different N inputs. Two scenarios were also assumed: Extra land requirement

to reach the same yield under high N rates and N replacement in conditions of negative N

balance. Estimative were also calculate based on other trials evaluating N rates in sugarcane.

Low N rates give more positive energy balance and GHG emission results (9,0 e 8,2 GJ GJ-1;

9,8 and 10,2 kg CO2eqGJ-1), compared with higher N rates (7,6 e 7,2 GJ GJ-1; 11,01 and 11,02

kg CO2eqGJ-1), even with low crop yield under low N supply, only considering the field

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conditions. After assuming extra land requirement, there is a decrease on final energy balance

of low rates (7,4 GJ GJ-1), and did not result in significant differences on GHG emissions.

Assuming N replacement to avoid soil degradation over time, there is also decrease on energy

balance of low rates, but still higher than other treatments. On the other hand, GHG emissions

are significantly higher where N replacement is necessary (11,9 kg CO2eq GJ-1), showing that

N rates below necessary to replace removed N are not suitable to be applied. Based on

estimative from other trials with fertilizer-N application, it was possible to confirm the trend on

energy balance reduction and increases on GHG emissions after fertilizer N application, even

after positive quadratic response on crop yield. Higher energy balances (6,5-9,1 GJ GJ-1) and

lower emissions (11,1-15,1 kg CO2eq GJ-1) were observed in high productive environments,

compared with low productive environments, regardless of N rate. The ecological

intensification by using high N rates in sugarcane might be suitable if result in crop yield

increase, because it demands less land. However, best crop management is necessary, in order

to avoid N losses.

Key words: Saccharum spp., Unburnt sugarcane, sustainability, nitrous oxide.

3.1 INTRODUÇÃO

O uso de nitrogênio (N) é importante para o desenvolvimento e produção de cana-de-

açúcar, no entanto a produção de N-fertilizante consome grandes quantidades de energia fóssil

e altas emissões de gases efeito estufa (GEE) são também relacionadas com a adubação

nitrogenada (BODDEY et al., 2008; MACEDO; SEABRA; SILVA, 2008). A produção de

fertilizantes representa 22% do consumo de energia e 11% das emissões de GEE para a

produção de etanol (SEABRA et al., 2011). Além da produção industrial do fertilizante, a

adubação nitrogenada na agricultura em geral é a maior fonte de N-N2O (USSIRI; LAL, 2013).

Nas condições brasileiras, no entanto, a cana-de-açúcar demanda menores quantidades

de N-fertilizante que outros países, o que contribui para a obtenção de ótimos índices ambientais

na produção de etanol. Alguns casos reportam quantidades insuficientes de fertilizante para

repor o N exportado pelos colmos na colheita, sem apresentar sinais de degradação da cultura,

o que tem sido atribuído em grande parte à ocorrência de fixação biológica de nitrogênio (FBN)

(URQUIAGA et al., 2012). Porém, se as quantidades de N aplicadas não forem suficientes para

repor o N removido, e os balanços forem negativos mesmo ao considerar a contribuição natural

da FBN, pode ocorrer degradação do solo e perda de produtividade, principalmente em

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variedades recentemente desenvolvidas com maior potencial produtivo, em sistema de colheita

sem queima, onde parte do N é imobilizado pela palha.

Muitos estudos com cana-planta e cana-soca (CASTRO; FRANCO; MUTTON, 2014;

OLIVEIRA et al., 1999; CANTARELLA; TRIVELIN; VITTI, 2007; PRADO; PANCELLI,

2008; FRANCO et al., 2010; FORTES et al., 2013; PENATTI, 2013;) têm mostrado respostas

positivas da cana-de-açúcar ao N aplicado, principalmente em soqueiras, onde as quantidades

de N-fertilizante aplicadas são superiores e as respostas positivas têm ocorrido mesmo com a

aplicação de altas doses de N entre 170-200 kg ha-1 (VITTI et al., 2007; FORTES et al., 2013;

CASTRO; FRANCO; MUTTON, 2014). O fim da queima da palha antes da colheita

normalmente implica em aumento nas doses de N-fertilizante, uma vez que os resíduos de pós-

colheita (palha) que permanecem no solo no sistema sem queima possuem alta relação C:N, em

torno de 100, e causam imobilização do N do solo (FORTES; TRIVELIN; VITTI, 2012). Dessa

maneira, em condições de alta quantidade de resíduos deixadas no campo após a colheita, os

resultados têm indicado a necessidade de aumento nas doses de N aplicadas (PENATTI, 2013),

sendo recomendado com base em margens de maior contribuição econômica, a dose de 120-

130 kg ha-1 de N nas soqueiras (ROSSETTO et al., 2010; PENATTI, 2013). No entanto,

simulações têm indicado que o aumento nas doses de N em cana sem queima da palha pode ser

necessário em curto e médio prazo, até atingir um equilíbrio na ciclagem de N no sistema, de

maneira que em longo prazo as quantidades de N poderiam ser reduzidas (ROBERTSON;

THORBURN, 2007; TRIVELIN et al., 2013).

Além da imobilização de N no solo, também deve-se destacar a tendência no

desenvolvimento de variedades mais produtivas, inseridas em ambientes com condições para

obtenção de altas produtividades, que demandam maior quantidade de fertilizantes

nitrogenados, entre outros insumos. Porém, é necessário que o aporte de insumos na cultura da

cana-de-açúcar seja avaliado do ponto de vista de eficiência energética e emissões de GEE, para

que os atributos relativos à sustentabilidade da produção de etanol não sejam prejudicados.

Com a finalidade de produzir bioenergia, o consumo de energia fóssil durante a

produção agrícola e industrial precisa ser o menor possível do que a energia renovável contida

no etanol (BODDEY et al., 2008). Dessa maneira, o alto consumo de energia para produção de

fertilizantes nitrogenados pode ser um fator limitante, principalmente se há aumentos

consideráveis nas doses de N recomendadas para a cultura, sem um aumento proporcional de

produtividade. Alguns estudos (BODDEY et al., 2008; MACEDO; SEABRA; SILVA, 2008;

SEABRA et al., 2011) avaliaram o balanço de energia do etanol de cana e encontraram

resultados muito positivos, da ordem de 9,0 MJ MJ-1. No entanto, esses estudos consideram

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doses fixas de N, de acordo com a média utilizada em diversas unidades de produção de cana-

de-açúcar. Os efeitos de diferentes doses de N onde ocorrem respostas positivas ao N aplicado

são importantes de serem avaliados e podem auxiliar na determinação de quantidades a serem

aplicadas na cultura.

As emissões de GEE também têm sido indicadas como um fator limitante para o cultivo

de espécies vegetais com objetivo de produzir bioenergia, principalmente devido à adubação

nitrogenada (CRUTZEN et al., 2008; LISBOA et al., 2011). Isso pode ser minimizado de

acordo com os princípios da intensificação agrícola, com aumento na eficiência de uso de

nutrientes e obtenção de altas produtividades (SNYDER et al., 2014, 2009). Se o uso de altas

doses de N resultar em altas produtividades, isso pode significar menor demanda de terra,

reduzindo assim a competição entre culturas para alimentos e bioenergia.

O objetivo desse trabalho foi estimar os impactos ambientais relacionados ao balanço

de energia e emissões de GEE em função de diferentes doses de N em ciclo completo de cana-

de-açúcar, considerando as situações hipotéticas de demanda adicional de terra e reposição de

N sob condições de balanço negativo entre N adicionado e N removido do campo.

3.2 MATERIAL E MÉTODOS

3.2.1 Descrição do experimento

Para avaliação da adubação nitrogenada no balanço de energia e emissão de GEE na

cana-de-açúcar, foram considerados os dados provenientes de uma área experimental localizada

em Piracicaba-SP (22°4’S; 47°38’W), 580 m de altitude, em um Latossolo Vermelho distrófico

(textura muito argilosa e moderada), com precipitação anual média de 1270 mm. A área

experimental foi implantada em março de 2007, quando a variedade IAC 92-1099 foi plantada.

A variedade utilizada é altamente produtiva e recomendada para ambientes de alta

produtividade (UDOP, 2014).

Antes do plantio, foi realizada a aplicação de calcário em área total, na quantidade de

3,5 t ha-1. O plantio foi realizado após gradagem e aração com arado de aivecas para eliminação

da soqueira anterior e incorporação do calcário, subsolagem e sulcagem para a disposição dos

colmos-semente e adubação. Foi realizada a adubação em área total no sulco de plantio com 48

kg ha-1 de N, 168 kg ha-1 de P2O5 e 96 kg ha-1 de K2O. O ciclo de cana-planta foi de 18 meses,

até a colheita, em setembro/2008.

Após a colheita da cana-planta, a área foi dividida em 16 parcelas de 10 linhas por 30m

de comprimento, com a finalidade de implantação de um delineamento experimental em blocos

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ao acaso, com 4 tratamentos e 4 repetições para os ciclos posteriores de cana-soca. Os

tratamentos foram diferentes doses de N: 0, 60, 120 e 180 kg ha-1 de N por soqueira. A fonte

de N foi nitrato de amônio em 3 soqueiras e sulfato de amônio na última soqueira.

Entre setembro de 2008 e setembro de 2012, quatro soqueiras foram avaliadas, com as

doses de N sendo aplicadas no início da brotação de cada soqueira. Antes de cada soqueira, 150

kg de K2O foram aplicados e na última soqueira, 50 kg de P2O5 também foram aplicados. Além

da aplicação inicial de calcário (3,5 t ha-1), houve a aplicação de 4 t ha-1 durante a condução das

soqueiras. A área foi reformada em março de 2013. Portanto, o ciclo completo da cultura foi de

6 anos, considerando o ciclo de cana-planta, quatro ciclos de cana-soca e pousio antes da

reforma. Considerando o acumulado de quantidades de N adicionadas via fertilizante e

produção de colmos nos ciclos de cana-planta e 4 soqueiras, houve resposta positiva linear com

o aumento nas quantidades de N aplicadas (Figura 3.1).

Figura 3.1. Produtividade de colmos de cana-de-açúcar em ciclo completo de 6 anos, em

função da aplicação de diferentes quantidades de N-fertilizante. **: P<0,01; Barras verticais

indicam o erro padrão da média (n=16).

3.2.2 Estimativas e simulação de cenários

A partir dos dados obtidos nesse estudo, informações de outros estudos com estimativas

de balanço de energia e emissão de GEE foram compiladas, com a finalidade de obter

informações referentes ao efeito de diferentes doses de N-fertilizante e produção de energia

nesses parâmetros. Além da avaliação das condições reais de campo, dois cenários foram

simulados.

Considerou-se que a alta produtividade observada na maior dose de N (Figura 3.1)

poderia ser obtida em menores doses de N com aumento da área cultivada. Com isso a

y = 511,4 + 0,18x

R² = 0,97**

400

450

500

550

600

650

700

0 200 400 600 800

Pro

duçã

o d

e co

lmos

(t h

a-1)

N-fertilizante adicionado (kg ha-1)

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“Simulação 1” compreende a condição de cultivo de área adicional para obter a mesma

produtividade da maior dose (Tabela 3.1).

Para a “Simulação 2”, considerou-se que, apesar da obtenção de razoável produção de

energia mesmo na ausência de aplicação de N nas soqueiras, a exportação de N foi maior do

que o N adicionado doses de N-fertilizante (Figura 3.2). Portanto, existe a necessidade de repor

a quantidade de N exportada para que não ocorra degradação do solo em longo prazo (Tabela

3.1). A simulação considerou que essa reposição seria realizada em ciclos posteriores aos

avaliados nesse estudo. Nas doses 48 e 288 kg ha-1, haveria necessidade de reposição de N, nas

quantidades de 370,8 e 190,3 kg ha-1, respectivamente. Os dados de exportação de N no ciclo

de cana-planta não foram determinados, sendo feita a estimativa baseada em 0,82 kg de N por

tonelada de colmos produzida, valor observado na média das 4 soqueiras avaliadas.

Tabela 3.1. Índices para simulação de cenários de produção de um ciclo completo de cana-de-

açúcar

N adicionado Produção de

colmos

Área para máx.

produção

N total

exportado

Necessidade de

reposição de N

kg ha-1 t ha-1 ha kg ha-1

48 519,6 1,26 418,8 370,8

288 570,2 1,15 478,3 190,3

528 590,8 1,11 468,4 -

768 654,9 - 485,3 -

Figura 3.2. Balanço entre N exportado pelos colmos e N aplicado no ciclo completo de cana-

de-açúcar (cana-planta + 4 soqueiras).

3.2.3 Estimativa do balanço energético

Para a estimativa do balanço de energia, os itens considerados e os índices de consumo

e produção de energia foram compilados a partir de Macedo; Seabra; Silva (2008). Foi

-400

-300

-200

-100

0

100

200

300

400

48 288 528 768N e

xport

ado –

N a

pli

cad

o (

kg h

a-1)

N-fertilizante adicionado (kg ha-1)

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considerado o ciclo total de 6 anos, com colheita mecanizada em todas as colheitas e plantio

convencional, com preparo do solo antes do plantio. No estudo de Macedo; Seabra e Silva

(2008), a unidade de demanda de energia utilizada para cada item foi MJ por tonelada de cana

produzida. Esses índices foram considerados para operações de preparo do solo, corte,

carregamento e transporte de cana, transporte de insumos, outras atividades agrícolas,

herbicidas, inseticidas, sementes, maquinário, químicos e lubrificantes, construções e

equipamentos de acordo com a produção de colmos em cada tratamento. Na “Simulação 1”, a

produção de colmos seria igual para todos os tratamentos, porém em quantidades de área

diferentes. Portanto, os índices foram corrigidos de acordo com a área total considerada (Tabela

3.1).

Na estimativa de demanda de energia para calcário e fertilizantes, o cálculo foi feito de

acordo com a quantidade de produto aplicado. Para calcário, fósforo (P) e potássio (K), foram

considerados também os índices indicados em Macedo; Seabra; Silva (2008). Para o N aplicado,

foi considerado o índice obtido para a fonte nitrato de amônio, de 46,6 MJ kg-1 de N aplicado

(LAEGREID; BOCKMAN; KAARSTAD, 1999). Para as simulações dos cenários propostos,

as quantidades de calcário e fertilizantes aplicada foi considerada em função da área (Simulação

1) e da quantidade de reposição de N (Simulação 2).

Para estimativa de produção de etanol, o índice de 81 L de etanol hidratado por tonelada

de cana foi utilizado (SEABRA et al., 2011). A partir da quantidade de etanol produzida, a

quantidade de energia total foi calculada com base no poder calorífico do etanol de 21,45 MJ

L-1 (BODDEY et al., 2008). Dessa maneira, o balanço de energia (MJ MJ-1) foi estimado pela

divisão simples entre produção total de energia e consumo total de energia.

3.2.4. Estimativa de emissão de gases efeito estufa (GEE)

A estimativa de emissões de GEE foi determinada em todo o ciclo da cultura, e fontes

de GEE consideradas foram baseados em Macedo et al. (2008). Para a estimativa do presente

estudo, as fontes principais de GEE na produção de cana-de-açúcar, com maior contribuição no

balanço total de GEE de acordo com estimativas de Macedo et al. (2008) foram: Transporte e

operações agrícolas (879,7 kg CO2eq ha-1), produção de N-fertilizante, P-fertilizante (1,3 kg

CO2eq kg-1 de P2O5) e K-fertilizante (0,71 kg CO2eq kg-1 de K2O), emissão de N2O do solo,

emissão de CO2 pela calagem (0,477 kg CO2eq kg CO2 no calcário-1) e emissões resultantes da

produção de etanol na usina (2,2 kg CO2eq ton-1 de cana). Para a produção de N-fertilizante, o

índice determinado por Jenssen (2010) para a fonte nitrato de amônio foi de 3,1 kg CO2eq kg

de N-1. A emissão de N2O do solo foi estimada com base em experimentos recentes realizados

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em áreas próximas à área experimental do presente estudo, em tipo de solo similar (VARGAS,

2014). Nesse estudo, diversas avaliações foram realizadas em cana-soca, sob diferentes doses

de N-fertilizante. Os fatores de emissão obtidos para o experimento de Piracicaba não diferiram

consideravelmente entre as doses, e foi considerado no presente estudo o fator de emissão

médio de 0,57% do N aplicado como fertilizante, emitido como N-N2O. Ao transformar em

CO2eq, o índice considerado para emissão de N2O foi de 2,06 kg CO2eq kg de N-1. As

estimativas em cada cenário simulado foram realizadas da mesma forma dos cálculos de

balanço de energia. A emissão relativa, em kg CO2eq GJ-1 foi calculada por divisão simples

entre a emissão total e a produção total de energia no ciclo completo.

3.2.5 Estimativas a partir de outros ensaios com doses de N-fertilizante

Para verificar as alterações no balanço de energia e emissões de GEE em função das

quantidades de N-fertilizante adicionadas em outras áreas experimentais, foram utilizados os

dados de Rossetto et al. (2010), que avaliaram 15 ensaios com cana-soca em diferentes regiões

do Estado de São Paulo para determinação de doses mais viáveis de N e K para aplicação na

cultura. Os ensaios foram realizados em diferentes ambientes de produção, que diferem de

acordo com a fertilidade do solo, e capacidade de retenção de água no solo. Esses ambientes

são simbolizados de A a D, de acordo com o potencial produtivo, sendo que ambiente A

significa ambientes com solos férteis, alta capacidade de armazenamento de água e ambientes

D possuem menor potencial, devido às características de solo e armazenamento de água

(PRADO et al., 2008). No estudo de Rossetto et al. (2010), as avaliações de produtividade de

colmos foram realizadas em diferentes áreas experimentais em todo o estado de São Paulo, e

em diferentes ciclos (1ª, 2ª ou 3ª soqueiras). Em média, ocorreu resposta quadrática positiva à

aplicação de N, e a dose considerada mais viável economicamente foi de 120 kg ha-1 de N em

média. Para possibilitar as estimativas de balanço de energia e emissão de GEE, foi necessário

estimar a produtividade em ciclo completo (cana-planta + 4 soqueiras). Os dados de

produtividade para as diferentes quantidades de N aplicadas em diferentes ambientes de

produção (B a D) são apresentados na Tabela 3.2.

De acordo com o padrão observado em diferentes áreas de produção de cana-de-açúcar,

as produtividades para os demais ciclos foram estimadas com base no fator 100% para cana-

planta, 80% para 1ª soqueira, 70% para 2ª soqueira, 60% para 3ª soqueira e 50% para a 4ª

soqueira, conforme dados médios obtidos por Macedo et al. (2004). Foi considerada a média

dos resultados nas maiores doses de K-fertilizante (140 e 210 kg de K2O/ha) aplicadas. Portanto,

a quantidade total de K aplicada no ciclo foi estimada em 800 kg ha-1 (120 kg em cana-planta

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+ 170 kg nas quatro soqueiras). A partir desses dados, a produção de energia foi calculada em

cada condição, e os balanços foram calculados da mesma maneira descrita anteriormente,

diferindo em relação às doses de N-fertilizante aplicadas.

Tabela 3.2. Dados de produção de colmos em ciclo completo de cana-de-açúcar em função de

diferentes doses de adubo nitrogenado e ambientes de produção* (adaptado de Rossetto et al.,

2010).

N total

aplicado Cana-planta 1ª soca 2ª soca 3ª soca 4ª soca

kg ha-1 ------------------------ t ha-1 --------------------------

Ambiente ‘B’

60 130,1 104,1 91,0 78,0 65,0

300 143,5 114,8 100,5 86,1 71,8

540 142,7 114,2 99,9 85,6 71,4

780 140,2 112,1 98,1 84,1 70,1

Ambiente ‘C’

60 124,0 99,2 86,8 74,4 62,0

300 134,7 107,8 94,3 80,8 67,4

540 142,2 113,8 99,5 85,3 71,1

780 144,7 115,8 101,3 86,8 72,4

Ambiente ‘D’

60 89,6 71,7 62,7 53,8 44,8

300 92,7 74,2 64,9 55,6 46,4

540 105,4 84,3 73,8 63,3 52,7

780 98,5 78,8 68,9 59,1 49,2

Ambiente ‘E’

60 90,0 72,0 63,0 54,0 45,0

300 93,0 74,4 65,1 55,8 46,5

540 100,7 80,5 70,5 60,4 50,3

780 101,5 81,2 71,0 60,9 50,7 *Os ambientes de produção foram baseados no tipo de solo (PRADO et al., 2008) e representam o

potencial produtivo de cada local, podendo ser entendido como: B: potencial alto; C: potencial médio; D:

potencial baixo e E: potencial muito baixo.

3.2.6 Análises estatísticas

Os resultados obtidos de balanço de energia e emissão relativa de CO2eq foram

submetidos à análise de variância, por meio do teste de F ao nível de 95% de confiança. Para

comparar o efeito de doses de N usou-se a análise de regressão polinomial.

3.3 RESULTADOS

Nas condições de campo, a adubação nitrogenada na cana-soca reduziu o balanço de

energia no sistema (Tabela 3.3). Nas menores doses de N, o maior consumo de energia ocorreu

com a colheita e transporte de cana, entre outras atividades agrícolas relacionadas ao consumo

de óleo diesel. Por outro lado, nas maiores doses de N o uso de fertilizantes nitrogenados passou

a representar o maior gasto de energia no sistema. A contribuição do uso de fertilizantes

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nitrogenados para o gasto de energia total nas condições de campo foi 2,2% (48 kg N), 11,1%

(288 kg N), 18,2% (528 kg N) e 22,6% (768 kg N).

Tabela 3.3. Balanço de energia da produção de cana-de-açúcar em função da adubação

nitrogenada em longo prazo (Unidade: MJ/ciclo completo)

Entradas e saídas de energia Quantidade de N aplicada (kg ciclo completo-1)

48 288 528 768

Entradas* MJ/Ciclo

Operações Agrícolas1 6951 (6,9)13 6951 (6) 6951 (5,4) 6951 (4,7)

Colheita2 17303 (17,2) 18984 (16,3) 19674 (15,2) 21809 (14,9)

Transporte de cana3 19121 (19) 20980 (18) 21741 (16,8) 24101 (16,4)

Transporte de insumos4 5696 (5,7) 5696 (4,9) 5696 (4,4) 5696 (3,9)

Outras atividades5 20120 (20) 20120 (17,3) 20120 (15,5) 20120 (13,7)

Fertilizantes6 6023 (6) 17207 (14,8) 28391 (21,9) 39575 (27)

Calcário, herbicidas e inseticidas7 6323 (6,3) 6323 (5,4) 6323 (4,9) 6323 (4,3)

Sementes8 3083 (3,1) 3083 (2,6) 3083 (2,4) 3083 (2,1)

Maquinário9 3554 (3,5) 3554 (3,1) 3554 (2,7) 3554 (2,4)

Químicos e lubrificantes10 9976 (9,9) 10946 (9,4) 11343 (8,8) 12575 (8,6)

Construções11 260 (0,3) 285 (0,2) 295 (0,2) 327 (0,2)

Equipamentos12 2026 (2,0) 2223 (1,9) 2304 (1,8) 2554 (1,7)

Total de entradas 100437 116352 129476 146669

Saídas

Produção de colmos, t ha-1 519 570 590 654

Produção de etanol, L ha-1 42088 46186 47854 53046

Produção de energia, GJ ha-1 902779 990520,2 1026485 1137908

Balanço final de energia (MJ

MJ-1) 8,99 8,51 7,93 7,76

*: Todos os índices foram retirados de Macedo et al. (2008); 1: De acordo com área cultivada, 6951

MJ/ha; 2: De acordo com a produção de colmos, 33,3 MJ/t; 3: De acordo com a produção de colmos,

36,8 MJ/t; 4: De acordo com a área cultivada, 5696 MJ/ha; 5: De acordo com a área cultivada, 20120

MJ/ha; 6: De acordo com a quantidade de fertilizantes. N (46,6 MJ/kg), P (3,19 MJ/kg, considerando a

aplicação de 125 kg durante o ciclo) e K (5,89 MJ/kg, considerando a aplicação de 575 kg durante o

ciclo); 7: De acordo com a área cultivada, 6323 MJ/ha; 8: De acordo com a área cultivada, 3083 MJ/ha; 9: De acordo com a área cultivada, 3554 MJ/ha; 10: De acordo com a produção de colmos, 19,2 MJ/t; 11:

De acordo com a produção de colmos, 0,5 MJ/t; 12: De acordo com a produção de colmos, 3,9 MJ/t. 13:

Valores entre parênteses indicam a porcentagem referente ao total de energia consumida.

Na simulação de terra adicional para atingir a produtividade máxima obtida na dose 768

kg de N (Tabela 3.4), ocorreu – como era esperado – um incremento no consumo de energia

em todos os fatores nas doses menores que 768 kg de N. Com o aumento na área cultivada, há

também aumento nas doses aplicadas de N nos outros tratamentos, destacando-se a contribuição

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das atividades agrícolas no consumo de energia. A contribuição do uso de fertilizantes

nitrogenados para o gasto de energia total na “simulação 1” foi de 1,8% (60,5 kg N), 9,9%

(331,2 kg N), 16,8% (586,1 kg N) e 22,6% (768 kg N).

Tabela 3.4. Balanço de energia da produção de cana-de-açúcar em função da adubação

nitrogenada em longo prazo, simulando a necessidade de aumento da área de cultivo para

equiparação da produtividade obtida na maior dose de N (Unidade: MJ/ciclo completo)

Entradas e saídas de energia Quantidade de N aplicada (kg ciclo completo-1)

60,5 331,2 586,1 768

Entradas MJ/Ciclo

Operações Agrícolas1 8758 7993 7646 6951

Colheita2 27480 25081 23990 21809

Transporte de cana2 30368 27717 26512 24101

Transporte de insumos1 7177 6551 6266 5696

Outras atividades1 25351 23138 22132 20120

Fertilizantes2 7588 19788 31230 39575

Calcário, herbicidas e inseticidas1 7968 7272 6956 6323

Sementes1 3885 3546 3392 3083

Maquinário1 4478 4087 3909 3554

Químicos e lubrificantes3 12575 12575 12575 12575

Construções3 327 327 327 327

Equipamentos3 2554 2554 2554 2554

Total de entradas 138509 140628 147488 146669

Saídas

Produção de colmos, t 654 654 654 654

Produção de etanol, L 53047 53047 53047 53047

Produção de energia, GJ 1137908 1137908 1137908 1137908

Balanço final de energia (MJ MJ-1) 8,21 8,09 7,72 7,76 1: Cálculos realizados de acordo com a área cultivada, dentro da simulação realizada em cada tratamento

(60,5 – 1,26 ha; 331,2 – 1,15 ha; 586,1 – 1,1 ha); 2: Cálculos realizados considerando a produção de

colmos, porém com correção dos fatores em função da área cultivada, devido ao maior consumo de

energia com essas atividades ao aumentar a área de cultivo; 3: Valores iguais em todos os tratamentos,

ao considerar a mesma produção de colmos em todos os tratamentos na simulação.

A simulação de reposição de N nos tratamentos com balanço negativo entre adição e

exportação durante o ciclo completo de cana-de-açúcar mostrou o aumento no consumo de

energia, principalmente na menor dose de N, devido à alta demanda de energia para a produção

de fertilizantes nitrogenados (Tabela 3.5). Os demais itens permanecem iguais às condições de

campo. Ao considerar a contribuição dos fertilizantes nitrogenados no consumo total de energia,

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notam-se valores similares para todos os tratamentos, da ordem de 16,6% (48 kg N), 17,2%

(288 kg N), 18,2% (528 kg N) e 22,6% (768 kg de N).

Tabela 3.5. Balanço de energia da produção de cana-de-açúcar em função da adubação

nitrogenada em longo prazo, simulando a necessidade reposição de N nas condições de balanço

negativo entre N aplicado e exportado (Unidade: MJ/ciclo completo).

Entradas e saídas de energia Quantidade de N aplicada (kg ciclo completo-1)

48 288 528 768

Entradas MJ/Ciclo

Operações Agrícolas 6951 6951 6951 6951

Colheita 17303 18984 19674 21809

Transporte de cana 19121 20980 21741 24101

Transporte de insumos 5696 5696 5696 5696

Outras atividades 20120 20120 20120 20120

Fertilizantes1 23302 26075 28391 39575

Calcário, herbicidas e inseticidas 6323 6323 6323 6323

Sementes 3083 3083 3083 3083

Maquinário 3554 3554 3554 3554

Químicos e lubrificantes 9976 10946 11343 12575

Construções 260 285 295 327

Equipamentos 2026 2223 2304 2554

Total de entradas 117716 125220 129476 146669

Saídas

Produção de colmos, t ha-1 519 570 590 654

Produção de etanol, L ha-1 42088 46186 47854 53046

Produção de energia, GJ ha-1 902779 990520,2 1026485 1137908

Balanço final de energia (MJ MJ-1) 7,67 7,91 7,93 7,76 1: Valores alterados em relação à Tabela 3.3, de acordo com a demanda de N a ser reposto nas condições

de balanço negativo.

As diferenças entre os tratamentos no balanço final de energia dentro de cada cenário

podem ser observadas na Figura 3.3. Houve diminuição linear significativa no balanço de

energia nas condições de campo e na “simulação 2”. No entanto, a magnitude nas condições de

campo foi de 0,0026 MJ MJ-1 para cada kg de N aplicado nas condições de campo, e 0,0011

MJ MJ-1 para cada kg de N aplicado na “simulação 2”. Na “simulação 1”, não houve diferença

significativa entre os tratamentos, portanto ao utilizar mais terra para o cultivo, a relação entre

produção e consumo de energia se equilibra com a intensificação agrícola por meio do uso de

doses elevadas de N nas soqueiras de cana-de-açúcar.

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Figura 3.3. Balanço de energia da produção de cana-de-açúcar, em diferentes situações de

campo e simuladas, em função de diferentes quantidades de N-fertilizante adicionadas ao

sistema, considerando um ciclo completo (cana-planta + 4 soqueiras). **: P<0,01.

As emissões estimadas de GEE nas condições de campo da cana-de-açúcar em ciclo

completo podem ser observadas na Tabela 3.6. Transporte e operações agrícolas respondem

pela maior quantidade de emissões de CO2eq do sistema, em qualquer tratamento de adição de

N no ciclo completo. Em geral, a contribuição da adição de N mineral (produção de fertilizante

+ emissão de N2O do solo) nas emissões totais foram de 2,8% (48 kg N), 14,8% (288 kg N),

24,1% (528 kg N) e 31,6% (768 kg N).

y = 9,02 - 0,002x

R² = 0,96**

7

7,5

8

8,5

9

9,5

10

0 200 400 600 800

y = 8,27 - 0,0007x

R² = 0,88*

7

7,5

8

8,5

9

9,5

10

0 200 400 600 800

7

7,5

8

8,5

9

9,5

10

0 200 400 600 800

y = ȳ = 7,82

Bal

anço

de

ener

gia

(M

J M

J-1)

N-fertilizante adicionado (kg ciclo completo-1)

Doses de N em longo prazo

Simulação 1: Demanda de terra

adicional

Simulação 2: Reposição de N nas

menores doses

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Tabela 3.6. Estimativa de emissão de gases efeito estufa (GEE) da produção de cana-de-açúcar

em função da adubação nitrogenada em longo prazo

Fontes de GEE Quantidade de N aplicada (kg ciclo completo-1)

48 288 528 768

Operações de campo kg CO2/Ciclo

Transporte e Operações Agrícolas*,1 5278 5278 5278 5278

Produção de fertilizantes

Produção de N-fertilizante**,2 148 892 1636 2380

Produção de P2O5-fertilizante*,2 143 143 143 143

Produção de K2O-fertilizante*,2 532 532 532 532

Emissões do solo

Emissão de N2O do solo***,3 98 593 1087 1582

Emissão de CO2 pela calagem*,1 1469 1469 1469 1469

Emissões da usina

Produção de etanol*,1 1149 1149 1149 1149

Total emissões, kg CO2 ciclo

completo-1 8820 10058 11297 12535

Produção de energia, GJ 902 990 1026 1137

Total CO2 eq GJ-1 9,77 10,16 11,01 11,02

*: Índices baseados em Macedo et al. (2008); **: Índice baseado em Jenssen (2010); ***: Índice baseado

em Vargas (2014). 1: Cálculos realizados de acordo com a área cultivada, em kg CO2eq ha-1; 2: Cálculos

baseados nas doses dos fertilizantes contendo N, P e K; 3: Cálculo baseado em fator de emissão de N-

N2O.

Os resultados de emissões foram muito similares quando se considerou a demanda

adicional de terra para cultivo na “simulação 1” (Tabela 3.7). O aumento na área de cultivo

ocasionou incremento nas quantidades totais de emissões, principalmente devido às emissões

de transporte e operações agrícolas. No entanto, a contribuição de N adicionado em relação às

emissões totais foi a mesma que a observada nas condições de campo, pois os valores

modificaram na mesma proporção em função da área de cultivo.

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Tabela 3.7. Estimativa de emissão de gases efeito estufa (GEE) da produção de cana-de-açúcar

em função da adubação nitrogenada em longo prazo, simulando a necessidade de aumento da

área de cultivo para equiparação da produtividade obtida na maior dose de N

Fontes de GEE Quantidade de N aplicada (kg ciclo completo-1)

60,5 331,2 586,1 768

Operações de campo kg CO2/Ciclo

Transporte e Operações Agrícolas 6650 6069 5858 52781

Produção de fertilizantes

Produção de N-fertilizante 187 1026 1816 23801

Produção de P2O5-fertilizante 180 164 158 1431

Produção de K2O-fertilizante 671 612 591 5321

Emissões do solo

Emissão de N2O do solo 124 682 1207 15821

Emissão de CO2 pela calagem 1851 1689 1630 14691

Emissões da usina

Produção de etanol, L ha-1 1448 1322 1276 11491

Total emissões, kg CO2 ciclo

completo-1

11113 11567 12539 125351

Produção de energia, GJ 1137 1137 1137 11371

Total CO2 eq GJ-1 9,77 10,17 11,02 11,021 1 Valores não alterados em relação ao balanço de GEE original

Na “simulação 2”, que considerou a reposição de N ao sistema (Tabela 3.8), os valores

observados nas doses 48 e 288 kg de N foram muito diferentes, e função da grande quantidade

de N necessária para a reposição do balanço negativo, e à alta emissão de GEE relacionada ao

N-fertilizante, durante a produção do fertilizante na indústria e nas emissões de N2O no solo.

Nessa simulação, a contribuição do N adicionado (produção de fertilizante + emissão de N2O

do solo) nas emissões totais de GEE foi de 20,1% (48 kg de N), 22,4% (288 kg de N), 24,1%

(528 kg de N) e 31,6% (768 kg de N).

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Tabela 3.8. Estimativa de emissão de gases efeito estufa (GEE) da produção de cana-de-açúcar

em função da adubação nitrogenada em longo prazo, simulando a necessidade de aumento da

área de cultivo para equiparação da produtividade obtida na maior dose de N, e reposição de N

nas condições de balanço negativo entre N aplicado e exportado

Fontes de GEE Quantidade de N aplicada (kg ciclo completo-1)

48 288 528 768

Operações de campo kg CO2/Ciclo

Transporte e Operações Agrícolas 5278 5278 52781 52781

Produção de fertilizantes

Produção de N-fertilizante 1298 1482 16361 23801

Produção de P2O5-fertilizante 143 143 1431 1431

Produção de K2O-fertilizante 532 532 5321 5321

Emissões do solo

Emissão de N2O do solo 862 985 10871 15821

Emissão de CO2 pela calagem 1469 1469 14691 14691

Emissões da usina

Produção de etanol, L 1149 1149 11491 11491

Total emissões, kg CO2 ciclo

completo-1 10067 10374 112971 125351

Produção de energia, GJ 902 990 10261 11371

Total CO2 eq GJ-1 11,89 11,15 11,011 11,021 1 Valores não alterados em relação ao balanço de GEE original

As diferenças entre os tratamentos na emissão relativa de GEE (CO2eq GJ-1) dentro de

cada cenário podem ser observadas na Figura 3.4. Conforme esperado, nas condições de campo,

apesar da maior produção de energia na maior dose de N, não foi suficiente para resultar em

menores taxas de emissão de GEE em comparação com uso de menores doses de N, mesmo em

condições de menor produção de energia. Ao aumentar a área de cultivo para equiparar a

produtividade obtida na maior dose nas condições de campo, poucas diferenças foram

observadas. Por outro lado, quando se considera a reposição de N, ocorre uma inversão na

resposta, de maneira que a maior emissão de GEE por GJ de energia produzida ocorre na menor

dose de N (48 kg de N), e decresce na taxa de 1,2 CO2eq MJ-1 para cada kg de N aplicado,

considerando a reposição de N posterior ao final do ciclo completo (cana-planta + 4 soqueiras).

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Figura 3.4. Balanço de emissões de GEE da produção de cana-de-açúcar, em diferentes

situações de campo e simuladas, em função de diferentes quantidades de N-fertilizante

adicionadas ao sistema, considerando um ciclo completo (cana-planta + 4 soqueiras). **:

P<0,01.

Com base nos dados estimados a partir de (ROSSETTO et al., 2010), nota-se que os

balanços de energia e de emissões de GEE foram diferentes de acordo com a dose de N aplicada

e também de acordo com o ambiente de produção (Tabela 3.9). Assim como ocorreu nas

estimativas a partir dos dados avaliados no presente estudo, houve decréscimo no balanço de

energia e aumento na estimativa de emissões com a aplicação de doses de N-fertilizante. Os

balanços de energia mais positivos e as menores emissões de GEE ocorreriam nos ambientes

de maior potencial produtivo. O uso de baixas doses de N na soqueira (60 kg ha-1) em ambientes

y = 9,71 + 0,0019x

R² = 0,90**

8

9

10

11

12

0 200 400 600 800

y = 9,63 + 0,002x

R² = 0,93**

8

9

10

11

12

0 200 400 600 800

y = 11,7 - 0,0012x

R² = 0,71*

8

9

10

11

12

0 200 400 600 800

Doses de N em longo prazo

Simulação 1: Demanda de terra

adicional

Simulação 2: Reposição de N

nas menores doses

(C

O2eq

GJ-1

)

N-fertilizante adicionado (kg ciclo

completo-1)

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mais produtivos resultaria em maiores balanços de energia e menores emissões que na ausência

de aplicação de N nas soqueiras em ambientes menos produtivos. Os valores de balanço de

energia estimados variaram de 5,5 a 9,1 GJ GJ-1, e as estimativas de emissão de GEE variaram

entre 11,2 e 18,5 kg CO2eq GJ-1.

Tabela 3.9. Estimativa de balanço de energia e emissão de GEE em diferentes ambientes de

produção de cana-de-açúcar, após a aplicação de N em ciclo completo (estimativas a partir de

dados adaptados de Rossetto et al., 2010)

Ambiente de

produção* 60 kg N ha-1 300 kg N ha-1 540 kg N ha-1 780 kg N ha-1

Balanço de Energia, GJ GJ-1

Ambiente ‘B’ 9,1 8,5 7,2 6,5

Ambiente ‘C’ 9,1 8,4 7,2 6,5

Ambiente ‘D’ 8,7 7,8 6,5 5,6

Ambiente ‘E’ 8,6 7,8 6,7 5,5

Balanço de GEE, kg CO2eq GJ-1

Ambiente ‘B’ 11,2 11,6 13,6 15,1

Ambiente ‘C’ 11,4 11,9 13,6 14,9

Ambiente ‘D’ 13,0 14,1 15,9 18,5

Ambiente ‘E’ 13,0 14,0 16,3 18,2 Os ambientes de produção foram baseados no tipo de solo (PRADO et al., 2008) e representam o potencial

produtivo de cada local, podendo ser entendido como: B: potencial alto; C: potencial médio; D: potencial

baixo e E: potencial muito baixo.

3.4 DISCUSSÃO

Apesar das baixas doses de N aplicadas na cana-de-açúcar nas condições brasileiras,

existe uma tendência de aumentar as doses de N aplicado em algumas situações, como resultado

da colheita sem queima (maior imobilização de N), e também pelo uso de variedades mais

responsivas e adaptadas para ambientes de alta produtividade (FORTES et al., 2013; PENATTI,

2013; ROSSETTO et al., 2010). Projeções realizadas por (MACEDO; SEABRA; SILVA,

2008) indicam um cenário com a aplicação de 120 kg ha-1 na cana-soca para 2020. No entanto,

respostas positivas em doses mais elevadas que 120 kg ha-1 têm sido observadas (FORTES et

al., 2013; PENATTI, 2013), mesmo em solos arenosos (VITTI et al., 2007). No entanto, essas

respostas não são constantes e ocorrem situações com ausência de resposta ao N aplicado

(CANTARELLA; TRIVELIN; VITTI, 2007). De qualquer maneira, é necessário destacar que

incrementos nas doses de N aplicado podem prejudicar o balanço de energia e as emissões

relativas de GEE, se tais aumentos no N aplicado não vierem acompanhados de aumentos

proporcionais de produtividade.

O impacto ambiental da produção de etanol em cana-de-açúcar é regulado por: Impacto

global (balanço de energia da produção de bioetanol e impacto nas emissões de GEE) e impacto

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71

local/regional (poluição da água e ar atmosférico e erosão do solo) (BODDEY et al., 2008). Os

impactos locais e regionais são causados principalmente pela queima da cana-de-açúcar antes

da colheita e produção em solos inadequados para o cultivo (solos rasos e com declividade

acentuada). Essas situações não ocorreram nesse estudo, e portanto não foram considerados os

impactos locais. No entanto, é importante salientar que, se as práticas de manejo não forem

suficientes para a obtenção do máximo potencial produtivo de uma determinada área, isso pode

resultar na necessidade de uso de outras áreas com problemas de erosão e riscos de

contaminação de lençóis freáticos.

Considerando todos os itens de gasto de energia para a produção de etanol a partir da

cana-de-açúcar, os fertilizantes, principalmente N, são responsáveis pelas maiores

contribuições, normalmente acima de 20% do total de energia gasta para a produção de etanol

(BODDEY et al., 2008; MACEDO; SEABRA; SILVA, 2008). Com as alterações nas doses de

N nas condições de campo, houve um decréscimo significativo no balanço de energia final

(Figura 3.3). Os valores de balanço de energia final com aplicação de N na cana-soca ficaram

abaixo das médias calculadas por Boddey et al. (2008), que obtiveram 9,07 MJ MJ-1, com

produtividade média de 76,7 t ha-1ano-1, 57,6 kg de N ha-1ano-1 e com base na colheita manual

de cana. Macedo; Seabra; Silva (2008) fizeram levantamentos das safras de 2002, 2005/06

(índices usados no presente estudo) e projeções para 2020. Considerando a produção de

eletricidade pelo bagaço, além da produção de etanol pela cana, com produtividade de 87,1 t

ha-1 ano-1 e doses de N de 48 kg ha-1 na cana-planta e 88 kg ha-1 na soqueira, esses autores

obtiveram, em média, balanços de energia de 9,0 MJ MJ-1 para a os anos 2005/2006. Foram

valores, portanto, similares aos obtidos nas condições de campo, com baixas doses de N

aplicadas (Tabela 3.2).

De modo geral, todos os balanços finais de energia resultaram em valores relativamente

altos, acima de 7,0 MJ MJ-1. Isso ocorre principalmente pela alta eficiência de produção de

biomassa da cana-de-açúcar, e às baixas doses de N aplicadas nas condições brasileiras. A

capacidade das plantas em produzir altas quantidades de biomassa com baixo suprimento de

insumos pode ser verificada pela alta produção de energia na ausência de aplicação de N nas

soqueiras, de maneira que os incrementos de produção de energia proporcionados pela

adubação nitrogenada não são suficientes para suprir a energia gasta com a produção do

fertilizante nitrogenado, ao considerar apenas a produção de colmos em 1 ha. No entanto,

quando o balanço de energia atinge altos níveis, diferenças de 1 ou 2 unidades na relação entre

consumo e produção de energia representa pouca diferença na proporção de energia

economizada em relação ao uso de combustíveis fósseis (BODDEY et al., 2008). Esses

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72

balanços são superiores aos comumente observados na produção de etanol de milho, por

exemplo, que é em torno de 2,3, ou mesmo do biodiesel de canola da Europa (3,0) e óleo de

palma da Malásia (5,0) (CORTEZ, 2012).

É preciso levar em consideração a grande influência dos adubos nitrogenados nas

entradas e saídas de energia, e além disso, é preciso avaliar se a intensificação agrícola pelo uso

de altas doses de N pode ser mais sustentável para a produção de bioenergia, em função dos

recentes questionamentos referentes à competição de culturas para bioenergia e alimentos por

áreas de cultivo (LAPOLA et al., 2010; SEARCHINGER et al., 2008).

O uso da terra para bioenergia é uma questão que vem sendo amplamente discutida nos

últimos 10 anos, após o rápido crescimento da produção de bioenergia em larga escala no Brasil

e nos EUA. As principais preocupações se referem à competição de culturas para bioenergia e

alimentos por terra e também devido a possíveis mudanças indiretas de uso da terra (LAPOLA

et al., 2010; SEARCHINGER et al., 2008), embora não existam evidências convincentes de que

essas mudanças indiretas ocorram de maneira significativa (KHANNA; CRAGO, 2012; KIM;

KIM; DALE, 2009; KLINE; DALE, 2008). Além da produção de bioenergia, o sequestro de C

também é um benefício importante, principalmente em áreas degradadas ou com problemas de

manejo (DALE et al., 2011). Além disso, na produção de cana-de-açúcar, existem diversas

limitações logísticas, que praticamente inviabilizam a produção em raio superior a 30 km ao

redor das usinas. Além do transporte de colmos frescos de cana, o retorno dos resíduos também

é de extrema importância para a sustentabilidade do sistema, de maneira que quanto maior for

a área cultivada, maior será a distância a ser percorrida para que os resíduos retornem ao campo.

Os resultados mostraram também que aumentos na demanda de terra causam

diminuições importantes no balanço final de energia (Tabela 3.3; Figura 3.3), dado o alto

consumo de energia com operações de plantio, transporte e colheita, que são naturalmente

maiores com aumento da área de cultivo. Por outro lado, as emissões relativas de GEE não

aumentaram de maneira expressiva, pois a proporção entre a produtividade estimada (igual à

maior dose) e a entrada de insumos agrícolas (principal fonte de emissão de GEE) permaneceu

a mesma. As emissões naturais de CO2 do solo não foram estimadas, pois se considera que não

é uma fonte de GEE proveniente de C inerte na natureza, como ocorre com o uso de

combustíveis fósseis. Porém, mudanças de uso da terra podem causar elevadas perdas de C-

CO2, além de afetar a preservação ecológica e de biodiversidade (PAYNE, 2010). Estudos

recentes no entanto têm demonstrado que o C perdido na mudança de uso da terra para cultivo

da cana-de-açúcar é reestabelecido ao longo do tempo com o cultivo de cana-de-açúcar

(MELLO et al., 2014).

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73

A intensificação agrícola resultante da aplicação de altas doses de N e obtenção de alta

produtividade parece ser uma alternativa mais viável do que aumentar a área cultivada com

baixas produtividades. Mas, é importante salientar que é imprescindível a resposta positiva da

cultura ao N aplicado e que outros insumos sejam também fornecidos em quantidades

adequadas. Além disso, o potencial produtivo de cada ambiente precisa ser respeitado. Outros

riscos ambientais, como contaminação de lençol freático, precisam também ser levados em

consideração, principalmente em condições de solos rasos. Por outro lado, um dos caminhos

sugeridos para a produção de bioenergia tem sido o uso de terras denominadas marginais. Terras

marginais são aquelas pouco viáveis para outras culturas comerciais, com a obtenção de baixas

produtividades devido a limitações de solo e clima (GELFAND et al., 2013). O uso dessas áreas

para bioenergia poderia, em adição às melhorias na preservação e cobertura do solo, aumentar

o valor da terra e o lucro dos produtores, que potencialmente resultaria em maiores

investimentos em práticas agrícolas mais modernas e eficientes. Nessas condições, não

haveriam problemas na obtenção de baixas produtividades, com baixo uso de insumos. No

entanto, ainda carecem mais estudos para melhor definição dessas áreas e da viabilidade para

produção de cana-de-açúcar ou de outras culturas com potencial para produção de bioenergia.

Baixas doses de N resultam em consumo de N do reservatório orgânico do solo, que

eventualmente precisariam ser repostos. Com a finalidade de evitar degradação do solo em

longo prazo, o consumo de N do solo precisa ser reposto a partir de outras fontes, normalmente

N-fertilizante mineral. A reposição de N pode também ser uma estratégia de recomendação em

condições de alto risco de contaminação ambiental (THORBURN et al., 2011). Portanto, nas

condições de ausência de aplicação de N nas soqueiras (48 kg ha-1 na cana-planta), houve uma

produtividade relativamente alta (86,6 t ha-1ano-1), de maneira que a maior parte do N usado

pela cultura foi provavelmente obtido da matéria orgânica do solo, além da possível entrada de

N via N2 atmosférico pela ação de bactérias diazotróficas (URQUIAGA et al., 2012). No

entanto, é importante destacar que a reposição do N exaurido do solo pode também ser realizada

pelo meio do cultivo de plantas para cobertura verde durante a reforma do canavial. Ambrosano

et al (2011) constataram que o cultivo de crotalária júncea pode adicionar em torno de 196 kg

ha-1 de N para o sistema.

Muitos estudos têm demonstrado a importância dos biocombustíveis de primeira

geração na redução de emissão de GEE. Essas reduções são entre 20-60%, sendo de 70 a 90%

para combustíveis de segunda geração, se as emissões provenientes da mudança de uso da terra

forem excluídas (PAYNE, 2010).

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74

De acordo com as estimativas de GEE, as emissões seriam maiores com aumento na

dose de N. O aumento nas emissões de GEE em função do N aplicado na cana-de-açúcar tem

sido observado em estudos da Austrália (ALLEN et al., 2010; DENMEAD et al., 2010) e

também do Brasil (DO CARMO et al., 2013; SIGNOR; CERRI; CONANT, 2013; VARGAS,

2014). A emissão de N2O aumenta quando N-fertilizante é aplicado no solo. O Painel

Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) estabelece que 1% do N aplicado é emitido

na forma de N2O. Esse valor considera uma média geral para diversos solos, climas, espécies

vegetais e tipos de fertilizante. No entanto, é importante observar os dados específicos para

cada região, quando disponíveis.

O uso de N-fertilizante na agricultura é a maior fonte de emissões diretas e indiretas de

GEE (USSIRI; LAL, 2013). No entanto, existem evidências de que a maior parte do N2O

emitido é proveniente de N excedente do sistema (VAN GROENIGEN et al., 2010), devido

principalmente ao aumento de N mineral no solo, que serve como substrato para nitrificação e

desnitrificação. Isso indica que o aumento na eficiência de uso de N e no potencial produtivo

da cultura (intensificação agrícola) pode resultar em menor impacto das emissões de N-N2O

(VAN GROENIGEN et al., 2010). Dessa maneira, a simples redução nas quantidades de N

aplicado não parece ser a melhor decisão para diminuir as emissões de GEE em relação ao total

de energia produzida. Além disso, com técnicas e fontes mais eficientes, há evidências de que

altas produtividades e altas quantidades de insumos com baixas emissões de GEE não são

questões conflitantes em condições de manejo adequado (GRASSINI; CASSMAN, 2012).

A emissão de N2O pode aumentar linearmente ou exponencialmente com a dose de N

(HOBEN; GEHL; MILLAR, 2011; SIGNOR; CERRI; CONANT, 2013). No entanto, a

produtividade obtida é sensível às doses de N, principalmente na cana-soca. Em geral para a

maior parte das culturas comerciais, a viabilidade de reduzir a quantidade de N aplicado como

uma estratégia para mitigar N2O deve considerar os impactos econômicos, além de outros

aspectos geopolíticos (ARCHER; HALVORSON, 2010). A simples redução da dose de N sem

modificar outras práticas pode também transferir a produtividade perdida (e as emissões de N2O

associadas) para outra localização geográfica (VENTEREA et al., 2012).

Com base nesses resultados, pode-se concluir que muitos fatores precisam ser

considerados na definição da melhor dose de N para a cana-de-açúcar nos próximos anos com

o avanço do uso da cultura para fins bioenergéticos. Mais estudos são ainda necessários para

verificar o impacto de doses mais altas de N em diferentes condições, assim como do uso de

resíduos que podem contribuir com o aporte de N no solo, como a vinhaça. Normalmente, a

recomendação de doses de N e outros nutrientes para as culturas é realizada de acordo com a

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75

maior lucratividade obtida. Porém, para cumprir requisitos de certificação para exportação do

etanol brasileiro, limites terão que ser respeitados para não afetar significativamente a eficiência

energética e as emissões de GEE. Simulações têm sugerido que em cana sem queima um novo

equilíbrio pode ser obtido em médio a longo prazo (ROBERTSON; THORBURN, 2007;

TRIVELIN et al., 2013), o que pode resultar em reduções nas demandas de N-fertilizante, de

maneira que seria portanto aceitável a aplicação de altas doses de N em curto e médio prazo,

promovendo enriquecimento do N do solo e reduzindo as emissões de N2O em longo prazo.

No que se refere à sustentabilidade ambiental dos biocombustíveis, baixos custos de

produção, alta produtividade média, alta relação entre produção de energia renovável e

consumo de energia fóssil e alto potencial de mitigação de GEE são atributos essenciais para

qualquer matéria-prima renovável em comparação ao uso de combustíveis fósseis (CORTEZ,

2012). A adubação nitrogenada influencia todos esses atributos. Em resumo, o uso de N-

fertilizante aumenta os custos de produção, mas também aumenta a produtividade, resultando

em maior lucratividade. Também afeta diretamente o balanço de energia, contribuindo com

mais de 20% do total de energia consumida nas maiores doses de N. No que diz respeito à

mitigação de GEE, como mencionado anteriormente, o etanol de cana-de-açúcar apresenta

potencial de redução de mais de 60% em comparação com a gasolina. A adubação nitrogenada

em si pode também ser considerada um fator de mitigação, quando bem manejada e

eficientemente utilizada, promovendo aumentos significativos de produtividade, evitando

degradação do solo e considerando os possíveis impactos provenientes de mudanças diretas e

indiretas de uso da terra. Deve-se destacar, entretanto, que os resultados desse estudo mostraram

índices ambientais menos vantajosos com a aplicação de N, mesmo após aumentos lineares de

produtividade. Por outro lado, produção líquida de energia foi superior com o aumento das

doses de N. De qualquer maneira, tais condições mostram que a otimização de eficiência de uso

do N é um objetivo a ser perseguido.

3.5 CONCLUSÕES

As elevadas demandas de energia e emissões de GEE relacionadas ao uso de fertilizantes

nitrogenados resultam em queda no balanço de energia e aumento nas emissões totais de GEE.

Isso ocorre mesmo em condições de respostas positivas ao N na produção de energia pela cana-

de-açúcar, o que demonstra a grande contribuição dos fertilizantes nitrogenados nos parâmetros

energéticos e ambientais. Por outro lado, a obtenção de altas produtividades em ambientes

favoráveis com a aplicação de doses elevadas de N pode trazer resultados mais adequados para

a produção de bioenergia a partir de cana-de-açúcar ao considerar o sistema de maneira global.

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76

Ao aumentar a demanda de terra para produzir energia, o aumento no consumo de

energia devido principalmente às operações agrícolas de plantio e colheita resultam em

similaridade entre altas produtividades com altas doses de N em menor área e baixas

produtividades usando maior quantidade de terra no balanço final de energia. As emissões de

GEE permanecem menores em baixas doses de N do que a aplicação de altas quantidades de

N-fertilizante. Tais diferenças porém precisam ser melhor estudadas no que se refere aos

impactos ambientais do uso de N e das mudanças de uso da terra, levando em consideração os

questionamentos referentes ao uso da terra para produção de bioenergia.

A reposição de N em condições de balanço negativo (N adicionado < N exportado pelos

colmos) ocasiona redução no balanço final de energia, ao considerar a aplicação posterior de N

para suprir o estoque de N no solo. Aplicações de N abaixo do necessário para suprir as

quantidades exportadas podem causar maiores emissões de GEE que a aplicação de doses muito

superiores à exportação, se tal prática permanecer por muito tempo e ocasionar a necessidade

de adição de N-fertilizante para evitar a degradação do solo.

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MATERIAL SUPLEMENTAR

Tabela S 1. Índices de balanço de energia utilizados, de acordo com diferentes doses de N aplicadas em 15 diferentes localidades do estado de São

Paulo, considerando o ciclo de 12 meses de soqueira de cana-de-açúcar (dados adaptados de Rossetto et al., 2010).

Local Produção de colmos Produção de energia Gasto energético do N Balanço energético

N 0 N 60 N 120 N 180 N 0 N 60 N 120 N 180 N 0 N 60 N 120 N 180 N 0 N 60 N 120 N 180

---------- t ha-1 ---------- ---------- GJ ha-1 ---------- MJ gasto / GJ produzido -------- GJ GJ-1 ---------

Andradina 63,4 61,7 83,6 60,0 110,1 107,2 145,2 104,2 0,0 26,1 38,5 80,5 7,9 7,5 7,4 7,0

Araçatuba 65,3 70,9 84,2 87,3 113,4 123,1 146,3 151,7 0,0 22,7 38,2 55,3 7,9 7,6 7,4 7,2

Araras 128,0 137,0 131,1 134,7 222,4 238,0 227,8 234,0 0,0 11,7 24,5 35,8 7,9 7,7 7,6 7,4

Guaíra 1 64,0 68,7 78,1 82,7 111,3 119,4 135,7 143,6 0,0 23,4 41,2 58,4 7,9 7,6 7,4 7,2

Guaíra 2 100,0 111,3 110,4 110,8 173,7 193,4 191,8 192,5 0,0 14,5 29,2 43,6 7,9 7,7 7,5 7,4

Iracemápolis 90,4 101,8 103,9 102,0 157,0 176,9 180,6 177,2 0,0 15,8 31,0 47,3 7,9 7,7 7,5 7,3

Orindiuva 70,2 64,3 74,1 71,5 121,9 111,6 128,8 124,2 0,0 25,0 43,4 67,5 7,9 7,6 7,4 7,1

Planalto 45,9 51,7 45,5 46,6 79,8 89,8 79,0 80,9 0,0 31,1 70,8 103,7 7,9 7,5 7,1 6,8

Pradópolis 76,7 80,6 79,9 82,0 133,2 140,0 138,9 142,4 0,0 20,0 40,3 58,9 7,9 7,6 7,4 7,2

Promissão 92,7 94,2 94,2 92,0 161,1 163,7 163,6 159,8 0,0 17,1 34,2 52,5 7,9 7,7 7,5 7,3

Rib Preto 99,5 90,9 102,1 104,5 172,8 158,0 177,4 181,5 0,0 17,7 31,5 46,2 7,9 7,6 7,5 7,3

S.Rita 80,2 89,5 97,7 97,6 139,3 155,5 169,7 169,6 0,0 18,0 32,9 49,5 7,9 7,6 7,5 7,3

S J Barra 83,9 105,3 113,0 111,3 145,7 182,9 196,3 193,3 0,0 15,3 28,5 43,4 7,9 7,7 7,5 7,4

Piracicaba 100,0 111,3 110,4 110,8 173,7 193,4 191,8 192,5 0,0 14,5 29,2 43,6 7,9 7,7 7,5 7,4

Sertãozinho 89,2 99,0 93,3 80,6 155,0 172,0 162,1 140,0 0,0 16,3 34,5 59,9 7,9 7,7 7,5 7,2

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82

Tabela S 2. Índices de balanço de gases de efeito estufa (GEE), de acordo com diferentes doses de N aplicadas em 15 diferentes localidades do

estado de São Paulo, considerando o ciclo de 12 meses de soqueira de cana-de-açúcar (dados adaptados de Rossetto et al., 2010).

Local Produção de colmos Produção de energia

Emissão de GEE

relacionada ao N Balanço de GEE

N 0 N 60 N 120 N 180 N 0 N 60 N 120 N 180 N 0 N 60 N 120 N 180 N 0 N 60 N 120 N 180

---------- t ha-1 ---------- ---------- GJ ha-1 ---------- kg CO2eq / GJ produzido -------- kg CO2eq ha-1 ---------

Andradina 63,4 61,7 83,6 60,0 110,1 107,2 145,2 104,2 0,0 2,9 4,3 8,9 5,7 6,4 5,4 7,5

Araçatuba 65,3 70,9 84,2 87,3 113,4 123,1 146,3 151,7 0,0 2,5 4,2 6,1 5,6 5,7 5,3 5,5

Araras 128,0 137,0 131,1 134,7 222,4 238,0 227,8 234,0 0,0 1,3 2,7 4,0 3,4 3,5 3,8 4,0

Guaíra 1 64,0 68,7 78,1 82,7 111,3 119,4 135,7 143,6 0,0 2,6 4,6 6,5 5,7 5,8 5,6 5,8

Guaíra 2 100,0 111,3 110,4 110,8 173,7 193,4 191,8 192,5 0,0 1,6 3,2 4,8 4,1 4,0 4,3 4,6

Iracemápolis 90,4 101,8 103,9 102,0 157,0 176,9 180,6 177,2 0,0 1,8 3,4 5,2 4,4 4,3 4,5 4,9

Orindiuva 70,2 64,3 74,1 71,5 121,9 111,6 128,8 124,2 0,0 2,8 4,8 7,5 5,3 6,1 5,9 6,5

Planalto 45,9 51,7 45,5 46,6 79,8 89,8 79,0 80,9 0,0 3,4 7,8 11,5 7,5 7,4 8,9 9,3

Pradópolis 76,7 80,6 79,9 82,0 133,2 140,0 138,9 142,4 0,0 2,2 4,5 6,5 5,0 5,1 5,5 5,8

Promissão 92,7 94,2 94,2 92,0 161,1 163,7 163,6 159,8 0,0 1,9 3,8 5,8 4,3 4,6 4,9 5,3

Rib Preto 99,5 90,9 102,1 104,5 172,8 158,0 177,4 181,5 0,0 2,0 3,5 5,1 4,1 4,7 4,6 4,8

S.Rita 80,2 89,5 97,7 97,6 139,3 155,5 169,7 169,6 0,0 2,0 3,6 5,5 4,8 4,7 4,8 5,1

S J Barra 83,9 105,3 113,0 111,3 145,7 182,9 196,3 193,3 0,0 1,7 3,2 4,8 4,6 4,2 4,3 4,6

Piracicaba 100,0 111,3 110,4 110,8 173,7 193,4 191,8 192,5 0,0 1,6 3,2 4,8 4,1 4,0 4,3 4,6

Sertãozinho 89,2 99,0 93,3 80,6 155,0 172,0 162,1 140,0 0,0 1,8 3,8 6,6 4,4 4,4 4,9 5,9

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4. ADUBAÇÃO NITROGENADA E INOCULAÇÃO COM BACTÉRIAS

DIAZOTRÓFICAS NA CANA-DE-AÇÚCAR

RESUMO

Estudos recentes têm apontado a inoculação com bactérias diazotróficas como potencialmente

favorável para a cana-de-açúcar devido a efeitos promotores de crescimento, ao invés de

aumento na fixação biológica de nitrogênio (FBN). As respostas são no entanto irregulares, e

há a necessidade de avaliações em diferentes condições ambientais e genéticas. Efeitos

benéficos provenientes da ação desses organismos podem resultar em melhor eficiência da

planta em aproveitar o nitrogênio (N) aplicado via fertilizante, porém a eficiência da inoculação

pode ser prejudicada na presença de adubos nitrogenados. Esse trabalho teve o objetivo de

avaliar a resposta da cana-de-açúcar à inoculação em diferentes locais e variedades após a

aplicação de adubo nitrogenado e verificar o aproveitamento de 15N-Sulfato de amônio na

presença e ausência de inoculação. A eficiência da inoculação em termos de N foliar, acúmulo

de N e produção de colmos foi avaliada em cinco áreas experimentais do estado de São Paulo

em 1ª soqueira (Sales de Oliveira-SP, Jaú-SP, Piracicaba-SP e Santa Maria da Serra-SP). O

delineamento experimental foi em blocos ao acaso, no arranjo de parcelas subdivididas, com

quatro repetições. Nas parcelas, os tratamentos foram três variedades, e nas subparcelas, 100

kg ha-1 de N com e sem inoculação. Análises de abundância natural de 15N foram realizadas,

usando plantas invasoras próximas ás áreas experimentais como plantas de referência não-

fixadoras. Microparcelas com aplicação de sulfato de amônio enriquecido com 1% de átomos

de 15N em excesso foram implantadas em duas áreas com solos distintos (argiloso - Piracicaba

e arenoso – Santa Maria da Serra), na mesma variedade, para determinação de aproveitamento

de 15N-fertilizante pelas plantas, em função da inoculação. Poucas diferenças foram observadas

em termos de N foliar, N acumulado e produção de colmos em função da inoculação, porém

em algumas variedades e locais, houve aumento no acúmulo de N e na produção de colmos

com a inoculação após a adubação nitrogenada. Os resultados de abundância natural de 15N

variaram de 0 a 41% de contribuição da FBN, sem diferença aparente entre plantas inoculadas

e não inoculadas na ausência de adubação nitrogenada. Os resultados de 15N indicaram redução

na recuperação de 15N por causa da inoculação ( de 55,8 para 40,5 kg ha-1 de N) em solo argiloso

em análise realizada na fase de máximo crescimento, sem diferenças no final do ciclo (34 kg

ha-1 em média). Em solo arenoso, aumentos significativos no aproveitamento de 15N-fertilizante

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com a inoculação ocorreram na fase de máximo crescimento, de 25,2 kg ha-1 para 45,3 kg ha-1

e no final do ciclo, de 25,5 kg ha-1 para 45,3 kg ha-1, considerando toda a parte aérea das plantas.

Esses resultados indicam que os benefícios da inoculação podem ocorrer, embora de maneira

errática, e potencialmente incrementam a eficiência de uso do N-fertilizante. No entanto, não é

recomendável substituir a adubação nitrogenada pela inoculação com as tecnologias e

variedades atualmente disponíveis.

Palavras-chave: Saccharum sp.; bioenergia; crescimento vegetal

NITROGEN FERTILIZATION AND DIAZOTHROPHIC BACTERIA

INOCULATION IN SUGARCANE

ABSTRACT

Recent studies have shown diazothrophic bacteria inoculation as being positive for sugarcane

development due to growth promotion, instead of nitrogen biological fixation (BNF). However,

crop responses are erratic to inoculation, and it is necessary to assess inoculation effects under

different genetic and environmental conditions. Benefits provided by these organisms might

result in higher plant efficiency to use the fertilizer nitrogen (N), but the presence of synthetic

fertilizers may prejudice inoculation efficiency. This study aimed to evaluate sugarcane

response to inoculation in different sites and varieties following N application and to assess

ammonium sulfate-15N recovery under presence or absence of inoculation. The inoculation

efficiency in terms of leaf N, N accumulation and stalk yield was evaluated in five experimental

sites of Sao Paulo state in first ratoon. Experimental design was randomized blocks, in split-

plot arrangement and four replications. On plots, treatments were three varieties and on

subplots, 100 kg ha-1 N with and without inoculation. Natural 15N abundance analysis were

performed, by using weeds as non-fixing reference plants. Microplots with ammonium sulfate

(1% 15N) were established in two sites of contrasting soils (sandy and clayey soils), using the

same variety, in order to determine fertilizer 15N recovery by plants. Only few differences were

observed in terms of leaf N, accumulated N and stalk yield as a function of inoculation.

However, in some sites and varieties there was increase on N accumulation and stalk yield after

inoculation under N application. Natural 15N abundance results varied from 0 to 41% of BNF

contribution, without apparent difference between inoculated and non-inoculated plants under

N fertilizer absence. Results of 15N experiment have indicated reduction on 15N recovery

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because of inoculation (from 55,8 to 40,5 kg ha-1 of N) in the clayey soil on grand-growth

period, without differences at the end of the cycle (34 kg ha-1 on average). In the sandy soil,

significant increases were observed on fertilizer-15N recovery because of inoculation on grand

growth period (from 25,2 kg ha-1 to 45,3 kg ha-1) and at the end (from 25,5 kg ha-1 to 45,3 kg

ha-1), considering the whole aboveground plant. These results have indicated that inoculation

benefits may occur, although erratically, and potentially increase fertilizer-N use efficiency.

However, it is not recommended to replace N fertilization by inoculation with the currently

available technologies and varieties.

Key words: Saccharum sp., bioenergy, plant growth

4.1 INTRODUÇÃO

A cultura da cana-de-açúcar é cultivada em mais de 8 milhões de hectares no Brasil

(CONAB, 2014). As quantidades de N aplicadas na culturas são pequenas em comparação com

outras culturas (DEL GROSSO et al., 2014) e com outros países produtores de cana-de-açúcar

(CANTARELLA; TRIVELIN; VITTI, 2007). O cultivo da cultura em condições de baixo

suprimento de N e alta remoção pelos colmos por muitos anos, mas sem sinais claros de

degradação ou quedas de produtividade tem sido considerado como evidência de que a FBN

desempenha um importante papel no suprimento de N para a cultura (URQUIAGA; CRUZ;

BODDEY, 1992; BODDEY et al., 2003; URQUIAGA et al., 2012). A ocorrência de bactérias

diazotróficas fixadoras de N2 tem sido observada na cultura desde o trabalho de Dobereiner

(1961) e diversos trabalhos posteriores foram conduzidos com o objetivo de isolar e determinar

estirpes de bactérias diazotróficas que fazem associação com a cana-de-açúcar (BALDANI et

al., 2002).

A contribuição da FBN para a nutrição nitrogenada é altamente variável, dependendo

de inúmeros fatores ambientais e genéticos. Estudos conduzidos por meio de diferentes técnicas

para estimar a proporção de N proveniente da FBN apontam contribuição de 0 a 70%

(YONEYAMA et al., 1997), 25 a 60% (BODDEY et al., 2001) e até mesmo acima de 60%

(URQUIAGA; CRUZ; BODDEY, 1992). Em geral, Herridge; Peoples e Boddey (2008);

Urquiaga et al. (2012) assumem que em torno de 40 kg ha-1ano-1 são assimilados pelas plantas

de cana-de-açúcar em média via FBN. Possíveis aumentos na população dessas bactérias

diazotróficas, principalmente de estirpes que se associam mais facilmente com a cana-de-açúcar

poderiam incrementar a contribuição da FBN, por meio de maior colonização por esses

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microrganismos e o N2 assimilado for transferido para a nutrição da cultura. Tais condições

podem ser estabelecidas pela inoculação das plantas com estirpes de bactérias diazotróficas.

Considerando o grande potencial de aproveitamento da cultura de cana-de-açúcar do N2

assimilado pelas bactérias diazotróficas, um inoculante foi desenvolvido com cinco estirpes de

bactérias diazotróficas pela Embrapa Agrobiologia, inicialmente com o objetivo de substituir a

adubação nitrogenada de plantio e parte do fertilizante aplicado nas soqueiras (REIS;

BALDANI; URQUIAGA, 2009). No entanto, resultados de campo têm mostrado respostas

irregulares à inoculação (CANTARELLA et al., 2012; GAVA et al., 2012; MORAIS et al.,

2011; PEREIRA et al., 2013; SCHULTZ et al., 2012, 2014), com ocorrência de respostas

positivas em algumas situações, sem indícios de serem resultado de FBN por meio de avaliações

de abundância natural de 15N (PEREIRA et al., 2013; SCHULTZ et al., 2012, 2014).

A ocorrência de respostas positivas da cultura à inoculação com bactérias diazotróficas,

sem contribuição de FBN, sugere que as bactérias inoculadas podem funcionar como agentes

benéficos para a promoção de crescimento das plantas. Esses efeitos provenientes de bactérias

diazotróficas foram comprovados em diversos estudos (BENEDUZI et al., 2013; DAS; SAHA,

2003; DAS; SAHA; BENGAL, 2007; DOBBELAERE; VANDERLEYDEN; OKON, 2003;

KENNEDY; CHOUDHURY; KECSKÉS, 2004; SARAVANAN; MADHAIYAN;

THANGARAJU, 2007; SEVILLA et al., 2001; SINGH et al., 2007; SUMAN et al., 2005;

TAULE et al., 2012; VIDEIRA et al., 2011; YADAV et al., 2009). Dentre outros efeitos

benéficos, pode ocorrer melhoria no desenvolvimento de raízes das plantas. O melhor

desenvolvimento radicular pode aumentar o aproveitamento de N adicionado via fertilizante.

O aproveitamento do N do fertilizante pela cana-de-açúcar é baixo, quando comparado

com outras culturas, sendo dificilmente superior a 40% (CANTARELLA; TRIVELIN; VITTI,

2007). Possíveis aumentos no aproveitamento de N-fertilizante após a inoculação com bactérias

diazotróficas representariam importante melhoria no sistema, pois reduz a quantidade de N que

permanece no sistema sujeito a perdas. No entanto, a maior parte dos estudos com inoculação

em campo têm comparado a inoculação com bactérias diazotróficas (sem adubação) e a

fertilização nitrogenada. O uso de fertilizantes nitrogenados em cana-de-açúcar podem causar

decréscimo no número e na capacidade fixadora das bactérias diazotróficas (BODDEY et al.,

2003). Dessa maneira, torna-se necessário avaliar a eficiência da inoculação na presença de

adubação nitrogenada em diferentes variedades e os possíveis benefícios das bactérias

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diazotróficas no aproveitamento das plantas de cana-de-açúcar do N-fertilizante aplicado na

soqueira.

Os objetivos desse estudo foram: i) avaliar a resposta da cana-de-açúcar à inoculação

com bactérias diazotróficas na presença de adubação nitrogenada em cana-soca em diferentes

locais e variedades e ii) verificar o aproveitamento de 15N-fertilizante pelas plantas de cana-de-

açúcar após a aplicação de 100 kg de N ha-1, na presença e ausência de inoculação em dois tipos

de solo (arenoso e argiloso).

4.2 MATERIAL E MÉTODOS

4.2.1 Descrição das áreas experimentais e aplicação dos tratamentos

Para avaliar os efeitos da inoculação com bactérias diazotróficas na resposta da cana-

de-açúcar à aplicação de fertilizante nitrogenado, cinco áreas experimentais foram implantadas

e diferentes tratamentos foram implementados nos ciclos de cana-planta e 1ª soqueira. Essas

áreas foram conduzidas em diferentes regiões do estado de São Paulo: Piracicaba

(22º41’10,25’’ S; 47º38’54,70’’ W; 547 m altitude), Jaú (22º15’10,25’’ S; 48º34’6,26’’ W; 522

m altitude), Santa Maria da Serra (22º33’30” S; 48º16’41” W; 495 m altitude) e duas áreas em

Sales de Oliveira (20°49’27.6” S; 47º55’57.2” W; 730 m altitude). A precipitação pluviométrica

anual média de cada localidade é de 1427 mm (Sales de Oliveira), 1350 mm (Jaú), 1273 mm

(Piracicaba) e 1467 mm (Santa Maria da Serra).

Os experimentos foram conduzidos em diferentes tipos de solo (Tabela 4.1) com

delineamento de blocos ao acaso, esquema de parcelas subdivididas e quatro repetições. Nas

parcelas, os tratamentos foram três variedades para cada local (Tabela 4.1), e nas subparcelas

os tratamentos consistiram na presença e ausência de inoculação, sem aplicação de N e após a

aplicação de 100 kg ha-1 de N-Sulfato de amônio. Os mesmos tratamentos foram aplicados no

ciclo anterior, de cana-planta, porém a dose de N aplicada foi 60 kg ha-1 de N-ureia. Tais doses

de N são as quantidades comumente utilizadas em ciclos de cana-planta e soqueira de cana-de-

açúcar, dependendo da produtividade esperada (SPIRONELLO et al., 1997).

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Tabela 4.1. Variedades e tipos de solo nas áreas experimentais conduzidas em diferentes

municípios do estado de São Paulo

Local Variedade Tipo de solo

Sales de Oliveira #1 SP 81-3250 RB 85-5536 IAC 95-5000 Latossolo Vermelho

Sales de Oliveira #2 SP 81-3250 RB 86-7515 SP 93-3046 Latossolo Vermelho

Jaú SP 81-3250 SP 95-5000 RB 85-5536 Latossolo Vermelho

Piracicaba SP 81-3250 IAC 87-3396 CTC 14 Argissolo Vermelho-amarelo

Santa Maria da Serra SP 81-3250 RB 93579 RB 86-7515 Neossolo Quartzarênico

As subparcelas das áreas experimentais foram constituídas de cinco linhas de dez metros

de comprimento nas duas áreas de Sales de Oliveira e em Piracicaba, e oito metros de

comprimento em Jaú, todas com espaçamento de 1,5 m entre linhas de cana-de-açúcar. Em

Santa Maria da Serra, as subparcelas foram constituídas de seis linhas de quinze metros de

comprimento, com espaçamento de 1,0 m. O plantio da cultura foi realizado após revolvimento

e preparo convencional do solo, com a distribuição manual de colmos semente em sulcos

abertos mecanicamente. No momento do plantio, os tratamentos de inoculação foram aplicados

nos colmos-semente após imersão por uma hora em solução aquosa de 100L contendo o produto

inoculante com bactérias diazotróficas. A inoculação foi realizada novamente após a brotação

da soqueira, por meio da pulverização do produto, também diluído em 100 L de água, após

passagem de disco de corte na superfície dos rizomas. A adubação de plantio foi realizada de

acordo com as recomendações da cultura, com P (140 kg ha-1 P2O5), K (120 kg ha-1 K2O), S

(60 kg ha-1), Zn e Cu (3 kg ha-1), B (2 kg ha-1) e Mo (0,5 kg ha-1). Na cana-soca, foram aplicados

50 kg ha-1 de P2O5, 120 kg ha-1 de K2O, 3 kg ha-1 de Zn e Cu, 2 kg ha-1 de B e 0,5 kg ha-1 de

Mo. Considerando a ocorrência de 2-3 gemas por seção de colmo, a distribuição dos colmos-

semente foi realizada com o objetivo de fornecer 8-10 gemas por metro quadrado nas áreas

experimentais, de acordo com o espaçamento aplicado.

O inoculante foi produzido e fornecido pela Embrapa Agrobiologia, sendo constituído

de cinco estirpes de bactérias diazotróficas: Pal5t, de Gluconacetobacter diazotrophicus;

Cbamc, de Herbaspirilum seropedicae; HRC54, de Herbaspirilum rubrisubalbicans; HCC103,

de Azospirilum amazonense; e PPe8T, de Bulkholderia tropica. Essas estirpes foram

previamente testadas e selecionadas por Oliveira et al. (2003, 2006). Com a finalidade de obter

o inoculante, as estirpes bacterianas foram cultivadas individualmente em meio de cultura

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Dyg’s (RODRIGUES NETO; MALAVOLTA; VICTOR, 1986). Existem diversos meios sendo

estudados para melhor preservação das bactérias e eficiência de infecção das plantas. No ciclo

de cana-planta, foi utilizado o inoculante na forma de turfa, cujo preparo é descrito em Schultz

et al. (2012). Na soqueira, o inoculante utilizado foi na forma líquida, conforme descrito em

Pereira et al. (2013). Ambos produtos foram diluídos em 100 L de água limpa. No plantio, a

inoculação foi realizada pela imersão dos colmos-semente na suspensão de inoculante diluído

em água por aproximadamente 60 minutos. Na soqueira, a inoculação foi realizada por meio da

pulverização das brotações, com auxílio de disco de corte, permitindo a aplicação no interior

dos rizomas.

4.2.2 Teor de N na folha, acúmulo de N na parte aérea e produtividade de colmos

As avaliações do presente estudo foram realizadas no ciclo de 1ª soqueira, após os

tratamentos aplicados conforme descrição anterior. Amostras de folha foram retiradas para

avaliar o estado nutricional das plantas durante a estação de máximo crescimento, entre janeiro

e março, quando ocorre alta disponibilidade de água e luz solar sob temperaturas elevadas. Um

total de 30 folhas foram retiradas das plantas localizadas nas 3 linhas centrais de cada

subparcela, na posição +1, que consiste na 1ª folha a partir do topo com lígula visível

(SPIRONELLO et al., 1997). O terço médio das folhas sem a nervura foi seco em estufa (65°C),

moído em moinho Wiley e então a subamostra foi encaminhada para determinação de N total

da folha (BATAGLIA et al., 1983).

Na fase de maturação das plantas, 11-12 meses após a última colheita em cana-soca,

uma seção de 2 m lineares em cada subparcela foi amostrada para avaliação biométrica e

determinação de acúmulo de N. A parte aérea das plantas foi separada em folhas secas,

ponteiros e colmos. Esses compartimentos foram pesados no campo, e subamostras foram secas

(65°C), moídas em moinho tipo Wiley e analisadas para determinação de N total (BATAGLIA

et al., 1983), de maneira que o acúmulo de N em cada compartimento foi calculado com base

no teor de N e no peso total de cada compartimento em 2 m lineares, sendo então estimado por

ha. Após a coleta de material vegetal para determinação de N acumulado na parte aérea, a área

total foi colhida mecanicamente em Santa Maria da Serra e manualmente nas demais áreas, sem

queima prévia da palha. No momento da colheita, os ponteiros e as folhas secas foram

removidos, e os colmos foram pesados para posterior estimativa da produtividade em tonelada

de colmos por hectare.

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4.2.3. Quantificação da contribuição da FBN por abundância natural de 15N

A contribuição da fixação biológica de nitrogênio (FBN) natural na cana-de-açúcar foi

avaliada pela técnica de abundância natural de 15N (δ15N), a qual foi desenvolvida inicialmente

para estimar a FBN de leguminosas, sendo posteriormente aplicada em gramíneas, como a cana-

de-açúcar (YONEYAMA et al., 1997). Consiste na comparação entre os valores de δ15N

(relação entre 15N e 14N) da cana-de-açúcar e de plantas vizinhas, geralmente invasoras, não

leguminosas, e que conhecidamente não possuem relações simbióticas com bactérias fixadoras

de N. Para essa avaliação, amostras de folhas +3 de plantas de cana não adubadas com N foram

retiradas em fevereiro/2012, nas áreas experimentais de Piracicaba, Jaú e Santa Maria da Serra.

Amostras de plantas invasoras foram retiradas próximo às parcelas experimentais, sendo

posteriormente processadas e a abundância natural de 15N foi analisada. A estimativa de N

proveniente do ar (% Npda) foi calculada de acordo com Yoneyama et al. (1997):

% Npda = 100 x (δ15N referência − δ15N fixadora)

δ15N referência

4.2.4 Eficiência de uso de 15N-fertilizante

Com a finalidade de verificar os efeitos das bactérias diazotróficas na eficiência de uso

do N-fertilizante, foi realizada a aplicação de fertilizante nitrogenado enriquecido com 15N para

estimativa da recuperação de 15N na presença e ausência de inoculação. A recuperação de N-

fertilizante marcado com o isótopo 15N (Sulfato de amônio com 1% de 15N) foi avaliada em

duas áreas experimentais: Piracicaba (solo argiloso) e Santa Maria da Serra (solo arenoso), na

variedade SP 81 3250, na presença e ausência de inoculação com bactérias diazotróficas. O

fertilizante nitrogenado (sulfato de amônio), com 1% de átomos de 15N em excesso, foi aplicado

em microparcelas de 2 m de comprimento, na dose de 100 kg ha-1. O desenho e disposição das

microparcelas, além da condução e avaliação das mesmas, seguiram a metodologia proposta

por Trivelin et al. (1994).

Durante a fase de máximo crescimento da cultura, em março/2012, amostras de folha

+3 (terceira folha a partir do topo com lígula visível) foram coletadas nas microparcelas para

determinação da concentração de 15N nas plantas. A alta mobilidade de N na planta permite que

a concentração de 15N observada na folha +3 possa ser extrapolada para outras partes da planta,

de acordo com dados analisados por Franco et al. (2011). Dentro da subparcela, em posição

diferente da microparcela, amostras de planta inteira foram retiradas em 2m lineares, com a

divisão de ponteiros+folhas secas e colmos, para determinação do acúmulo total de N em cada

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compartimento e posterior estimativa de recuperação de 15N-Sulfato de amônio, conforme

metodologia sugerida por Franco et al. (2011).

Ao final do ciclo, foram coletadas as plantas em 1 m linear no interior da microparcela,

deixando 0,5 m de cada lado. Nas linhas adjacentes à microparcela, também foi realizada a

coleta de 1 m linear de plantas, que foram separadas em colmos, folhas secas e ponteiros,

pesadas, secas em estufa e moídas em moinho tipo Wiley para posterior análise em

espectrômetro de massa da % de 15N recuperada pelas plantas.

Os cálculos de recuperação (%15N) do N-fertilizante e do N proveniente do fertilizante

(NPPF – kg ha-1) foram realizados de acordo com as equações abaixo:

NPPF = [(A - C) / (B - C)] x NT,

RN (%) = (NPPF / NAF) x 100, onde:

NPPF: N na planta proveniente de 15N-fertilizante; A: abundância de 15N (% de átomos) da

planta; B: abundância de 15N (1,0 % de átomos 15N) do 15N fertilizante; C: abundância natural

de 15N (0.366% de átomos); NT: conteúdo de N na planta (kg ha-1); RN: recuperação percentual

do 15N fertilizante na planta; NAF: dose de N da fonte aplicada.

4.2.5 Análises Estatísticas

Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância em blocos ao acaso com

arranjo de parcelas subdivididas. As diferenças entre a presença e ausência de inoculação foram

comparadas pelo teste de F ao nível de 95% de confiança.

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92

4.3 RESULTADOS

A partir dos dados de teor foliar de N (Tabela 4.2), foi observada redução no teor de N na folha

com a inoculação em Jaú, na variedade IAC 5000 e em Sales de Oliveira 1, na variedade RB

5536. Por outro lado, na mesma variedade em Sales 1, houve aumento no acúmulo total de N

pela parte aérea com a inoculação, sendo que o efeito observado em Jaú não se refletiu em

diferença significativa no N acumulado ao final do ciclo. Em Sales de Oliveira 2, ocorreu

aumento no acúmulo de N na variedade SP 81 3250 com a inoculação (Tabela 4.2). Algumas

diferenças foram observadas na produção de colmos da 1ª soqueira entre ausência e presença

de inoculação, porém de maneira errática (dados não apresentados).

Tabela 4.2. Teor de N na folha diagnóstico +1 e acúmulo total de N na parte aérea de cana-de-

açúcar em diferentes locais e variedades, em função da aplicação de 100 kg ha-1 de N na

ausência (100) e presença de inoculação com bactérias diazotróficas (100 + I).

Variedade N foliar N acumulado

---------- g kg-1 ---------- ---------- kg ha-1 ----------

100 100+I Efeito 100 100+I Efeito

Piracicaba

CTC 14 20,0 21,2 ns 112,7 161,7 ns

IAC SP 3396 19,9 19,5 ns 112,7 116,3 ns

SP 81 3250 20,9 20,5 ns 110,1 125,7 ns

Jaú

IAC 95 5000 18,2 16,6 * 116,2 85,5 ns

RB 5536 18,9 18,2 ns 112 126,3 ns

SP 81 3250 19,6 19 ns 114,9 116,7 ns

Santa Maria da Serra

RB 7515 16,1 16,9 ns 75,4 59,7 ns

RB 93579 18,3 18,7 ns 53,7 63,8 ns

SP 81 3250 16,4 16,3 ns 75,6 73,1 ns

Sales de Oliveira 1

IAC 95 5000 14,4 14,5 ns 85,7 75,8 ns

RB 5536 16,7 14,7 * 63,1 87,2 *

SP 81 3250 16,8 16,2 ns 67,1 84,7 ns

Sales de Oliveira 2

IAC 3046 18,0 17,4 ns 84,6 93 ns

RB 7515 15,4 16 ns 78 90,2 ns

SP 81 3250 16,5 16,6 ns 82,8 135,2 **

* e **: significativo a P<0,05 e P<0,01, respectivamente.

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A diferença de abundância isotópica de 15N entre as folhas de cana-de-açúcar e plantas

invasoras não leguminosas fornece indícios de que houve entrada de N2 proveniente da

atmosfera nas plantas de cana-de-acúcar. As estimativas no entanto são variáveis, sendo que os

valores de % de Npda variaram de 0 a 41% (Tabela 4.3).

Os valores médios foram diferentes dependendo do local. Em solo argiloso de

Piracicaba, e em solo de textura média de Jaú, contribuição estimada foi de 27% (Piracicaba) e

31,8% (Jaú). Por outro lado, foram observados valores muito baixos no estudo de longo prazo,

em solo argiloso de Piracicaba e em solo arenoso de Santa Maria da Serra (Tabela 4.3).

Tabela 4.2. Estimativas de N derivado do ar, por meio de técnica de abundância natural de 15N

(δ15N), em amostras coletadas durante a fase de máximo crescimento das plantas. Cana-de-açúcar Planta vizinha Npda*

% Tratamento Variedade N

(g kg-1)

δ15N (‰) Espécie N

(mg g-1)

δ15N

(‰)

Piracicaba (Textura argilosa)

N 0 SP-3250 15,5 4,602 Cynodon dactylon 15,1 6,252 41,0

N 0+I SP-3250 13,3 6,232 Commelina difusa 23,3 8,747 16,5

N 0 IAC-3396 17,2 5,127 Bidens pilosa 17,5 5,956 31,3

N 0+I IAC-3396 12,1 5,877 Sida rhombifolia 15,0 8,913 21,3

N 0 CTC 14 13,5 5,949 20,3

N 0+I CTC 14 13,8 5,048 32,4

Jaú (Textura média)

N 0 SP-3250 15,0 3,683 Brachiaria plantaginea 18,2 4,032 33,3

N 0+I SP-3250 14,3 4,154 Bidens pilosa 13,0 5,888 24,8

N 0 RB-5536 13,2 3,685 Digitaria sanguinalis 13,7 5,959 33,3

N 0+I RB-5536 13,4 3,713 Cyperus rontundus 10,7 5,175 32,7

N 0 IAC-5000 14,7 3,655 Amaranthus viridis 20,2 6,549 33,8

N 0+I IAC-5000 14,3 3,719 32,6

Santa Maria da Serra (Textura arenosa)

N 0 SP-3250 14,0 5,554 Commelina difusa 11,0 5,613 0,0

N 0+I SP-3250 14,5 6,049 Cyperus rotundus 17,8 4,739 0,0

N 0 RB-93579 17,6 5,482 Digitaria sanguinalis 14,9 5,442 0,0

N 0+I RB-93579 17,5 5,224 Cynodon dactylon 13,7 5,667 1,5

N 0 RB-7515 14,0 4,744 Pennisetum setosum 12,6 5,045 10,5

N 0+I RB-7515 13,1 4,600 13,2

* Estimativa realizada com base nos valores obtidos de δ15N

Na biometria realizada em abril, não houve diferença de acúmulo de N em diferentes

compartimentos da cana-de-açúcar em função dos tratamentos aplicados (adubação nitrogenada

e inoculação com bactérias diazotróficas). Após a aplicação de sulfato de amônio enriquecido

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com 15N, os cálculos percentuais de N proveniente do fertilizante não mostraram diferenças

significativas entre a ausência e presença de inoculação (Tabela 4.4).

Tabela 4.4. Acúmulo de N e % do N proveniente do fertilizante em biometria realizada no mês

de abril/2012, nas duas áreas experimentais, na variedade SP 81-3250.

Trat. N acumulado (kg ha-1)

Npdf % Colmo

Ponteiro +

Folhas secas Parte aérea

Piracicaba

N 100 60,9 52,0 101,1 50,9

N 100+I 54,2 44,6 99,0 41,2

Teste F ns ns ns ns

Santa Maria da Serra

N 100 24,1 37,7 61,8 45,8

N 100+I 32,9 43,8 76,7 59,4

Teste F ns ns ns ns

ns: não significativo

Ao final do ciclo, o acúmulo de N nos diferentes compartimentos da planta foi

incrementado em Santa Maria da Serra pela inoculação, em adição à aplicação de 100 kg de N-

fertilizante, sem efeitos significativos em Piracicaba. Houve aumento significativo no N

acumulado nos ponteiros, que se refletiu em aumento na parte aérea total em Santa Maria da

Serra (Tabela 4.5). No que se refere ao percentual do N acumulado que foi proveniente do

fertilizante nitrogenado aplicado (Npdf%), as estimativas indicam diminuição no N do

fertilizante acumulado nos colmos em Piracicaba, em função da inoculação (Tabela 4.5). Por

outro lado, houve aumento de N proveniente do fertilizante em todos os compartimentos

avaliados em Santa Maria da Serra.

Com base no total de N acumulado na planta e na proporção de N na planta proveniente

do fertilizante, foi possível estimar o total de N acumulado do fertilizante, em kg/ha (Figura

4.2). Na biometria de abril/2012, foram observados efeitos inversos em relação aos tratamentos

aplicados entre as áreas experimentais. Em Piracicaba, foi observada diminuição na quantidade

de N do fertilizante, em kg ha-1, após a inoculação, nos colmos e na parte aérea total,

consequentemente. Por outro lado, em Santa Maria da Serra, houve aumento no N acumulado

proveniente do fertilizante, em ponteiros + folhas secas, e nos colmos, sendo refletido em

aumento na parte aérea (Figura 4.2).

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Tabela 4.5. Acúmulo de N e % do N proveniente do fertilizante em biometria realizada no final

do ciclo da cultura, nas duas áreas experimentais, variedade SP 81-3250.

Trat. N acumulado (kg/ha) Npdf %

Colmo Ponteiro Folhas

secas

Parte

aérea

total

Colmo Ponteiro Folhas

secas

Parte

aérea

total

Piracicaba

N 100 54 30,2 10,5 94,7 40,2 35,2 48,9 39,5

N 100+I 66,9 31,7 10,7 109,3 28,4 34,2 39 31,1

Teste F ns ns ns ns * ns ns ns

Santa Maria da Serra

N 100 30,8 20,6 19,7 71,1 37 34,5 35 35,7

N 100+I 25,8 37,4 17,5 80,7 58,3 50,3 52,6 53,4

Teste F ns ** ns ns ** * * *

* e **: significativo a P<0,05 e P<0,01, respectivamente.

Figura 4.1. N acumulado na planta de cana-de-açúcar, derivado do sulfato de amônio

enriquecido com 15N, 1% de abundância. * e **: significativo a P<0,05 e P<0,01,

respectivamente.

0

20

40

60

80

100

Ponteiro +

Folhas secas

Colmos Parte aérea

Piracicaba (abril/2012)

100

100+I

0

20

40

60

80

100

Ponteiros Folhas

secas

Colmos Parte

aérea

Piracicaba (fim do ciclo)

100

100 + I

0

20

40

60

80

100

Ponteiro +

Folhas secas

Colmos Parte aérea

Sta Maria da Serra (abril/2012)

100

100+I

0

20

40

60

80

100

Ponteiros Folhas

secas

Colmos Parte

aérea

Sta Maria da Serra (fim do

ciclo)100

100 + I

ns *

*

ns ns

ns

ns

* *

**

*

ns ns

*

Np

df

(kg

ha

-1)

Np

df

(kg

ha

-1)

Np

df

(kg

ha

-1)

Np

df

(kg

ha

-1)

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Ao final do ciclo, no entanto, não foram observados os mesmos efeitos negativos da

inoculação com relação ao uso de N do fertilizante em Piracicaba. Em Santa Maria da Serra, os

efeitos positivos da inoculação foram observados novamente, porém apenas nos ponteiros, que

se refletiram na parte aérea total (Figura 4.2).

A recuperação de N em abril foi superior à recuperação observada no final do ciclo em

média, principalmente em Piracicaba. Sem inoculação, a recuperação de N-fertilizante em

Piracicaba em abril foi superior a 50%, e em torno de 40% após inoculação. Em Santa Maria

da Serra, as avaliações de abril indicaram uma recuperação de em aproximadamente 30% sem

inoculação e em torno de 40% com inoculação, similar ao valor observado na presença de

inoculação em Piracicaba. Esses valores não mudaram significativamente na avaliação

realizada ao final do ciclo.

4.4 DISCUSSÃO

Os efeitos da inoculação nos teores foliares e acúmulo de N na parte aérea das plantas

foram em geral erráticos, com apenas três condições de diferença significativa: em Jaú, na

variedade IAC 5000, em Sales de Oliveira I, na variedade RB 5536 e em Sales de Oliveira II,

na variedade SP 81 3250 (Tabela 4.2). Em Jaú e Sales de Oliveira I, houve diminuição no teor

de N foliar com a inoculação. Tal diminuição pode ocorrer devido ao efeito de diluição

(JARRELL; BEVERLY, 1981), que ocorre normalmente em cana-de-açúcar (FARONI et al.,

2009). Porém, esse efeito ocorre quando a maior absorção de N acarreta em maior

desenvolvimento nas folhas, de maneira que isso seria detectado ao avaliar o acúmulo total de

N na planta. No entanto, entre os locais que também apresentaram aumento no teor de N foliar,

apenas em Sales de Oliveira I o acúmulo de N foi maior com a inoculação, ao passo que na

variedade IAC 5000 de Jaú não houve diferença significativa devido à inoculação. Em Sales de

Oliveira II, por outro lado, houve diferença apenas no acúmulo de N pelas plantas, com aumento

significativo devido à inoculação.

Para a maioria das culturas, o teor de nutrientes na folha é uma ferramenta eficaz para

diagnosticar o estado nutricional das plantas. No entanto, a diagnose foliar em cana

normalmente apresenta pouca sensibilidade às variações nutricionais na cultura e não é efetiva

(ORLANDO FILHO et al., 1999), sendo constantemente observadas diferenças na produção de

colmos e atributos tecnológicos em distintas situações de nutrição da cultura, sem haver

detecção das diferenças na análise foliar (FARONI et al., 2009; FRANCO et al., 2010).

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Mesmo que tenha ocorrido em poucas situações, o aumento no acúmulo de N indica que

ocorreu ação de bactérias diazotróficas que foram adicionadas via inoculação nessas áreas e

variedades. Esse aumento pode ocorrer em função de incremento na fixação biológica de N, ou

por efeitos benéficos causados pelas bactérias diazotróficas (DOBBELAERE;

VANDERLEYDEN; OKON, 2003; OLIVEIRA et al., 2006; GOSAL et al., 2012; PEREIRA

et al., 2013). Nas outras condições, onde nenhum efeito foi observado, as plantas podem não

ter se beneficiado da ação dessas bactérias quando bem nutridas com N via fertilizante, ou a

inoculação não foi eficiente em aumentar a população desses microrganismos nas plantas.

Os resultados de produtividade de colmos mostraram maior ocorrência de resultados

positivos em função da inoculação com bactérias diazotróficas do que os resultados observados

no teor foliar e acúmulo de N. No entanto, apenas na variedade SP 81 3250 em Sales de Oliveira

II, o aumento no acúmulo de N se refletiu em aumento na produtividade de colmos com a

inoculação. Portanto, a maior parte dos aumentos em produtividade observados dificilmente

estiveram relacionados com FBN nas plantas. Tal fato foi confirmado pelos resultados de

abundância natural de 15N, onde não foram detectadas diferenças significativas na quantidade

de N proveniente do ar entre plantas inoculadas e não inoculadas. Respostas positivas à

inoculação em algumas variedades e locais têm sido também observadas em outros estudos

realizados a campo com cana-de-açúcar (PEREIRA et al., 2013; SCHULTZ et al., 2012, 2014).

Os efeitos benéficos promotores de crescimento têm sido apontados como os principais fatores

que resultam em respostas positivas da inoculação e que também explicam o fato de essas

respostas serem normalmente erráticas.

Destaca-se que algumas variedades (SP 81 3250, IAC 95 5000 e CTC 14) responderam

positivamente à inoculação após a adubação nitrogenada, ao passo que outras variedades não

apresentaram tal tendência. Estudos recentes demonstram evidências de que a resposta à

inoculação com bactérias diazotróficas é dependente da variedade de cana-de-açúcar. Pereira

et al. (2013) testaram seis variedades e inoculação com bactérias isoladamente ou em coquetel,

como utilizado no presente estudo, e verificaram também que os ganhos de produção devido à

inoculação são diferentes entre variedades e estirpes de bactérias, sendo que a variedade RB

7515 foi a mais responsiva ao coquetel de estirpes de bactérias. A mesma variedade apresentou

aumento em matéria seca e acúmulo de N em ciclo de cana-soca em trabalho de Schultz et al.

(2012), ao passo que outra variedade (RB 72754) não respondeu à inoculação em nenhuma das

variáveis analisadas. No presente estudo, no entanto, não foram observadas respostas positivas

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na variedade RB 7515 que foi cultivada em Santa Maria da Serra e Sales de Oliveira II. Com

base nos resultados obtidos em outros estudos, permite concluir que existe interação entre

variedade e resposta da cultura à inoculação, porém os resultados observados no presente

trabalho demonstram que o uso de variedades mais propensas a apresentar respostas positivas

não garante tal efeito em qualquer condição ambiental e agronômica.

O primeiro estudo que estimou a contribuição da FBN pelo método da abundância

natural de 15N em cana-de-açúcar foi desenvolvido por Yoneyama et al. (1997) em diversas

áreas de cana-de-açúcar no Brasil, Filipinas e Japão. As estimativas desse estudo geraram

valores em torno de 30% de N proveniente do ar nas plantas. Outras estimativas realizadas no

Brasil por meio dessa técnica geraram valores entre 25 e 60% (BODDEY et al., 2001;

URQUIAGA et al., 2012). Estudos com capim-elefante usando plantas invasoras como

referência indicaram valores da ordem de 21 a 52% em cinco genótipos cultivados em solos de

baixa fertilidade (MORAIS et al., 2009). Essa grande variação nos valores de estimativa de

FBN por essa técnica gera dúvidas sobre a real contribuição da FBN para a nutrição nitrogenada

da cana-de-açúcar. Normalmente, as plantas invasoras são de menor porte que a cana-de-açúcar

e não conseguem explorar o mesmo volume de solo, de maneira que as invasoras

potencialmente absorvem menores proporções de N em comparação com a cana-de-açúcar

(BODDEY et al., 2001). Sendo assim, o uso das invasoras como referência pode subestimar a

FBN. Com a finalidade de melhorar as estimativas da FBN em cana-de-açúcar, recentemente

Baptista et al., (2014) propuseram que as medidas de contribuição do N do solo sejam feitas até

80 cm de profundidade em plantas comprovadamente não-fixadoras.

As técnicas para medida da contribuição de FBN em cana precisam ser melhor

estudadas, no entanto algumas estimativas podem ser realizadas. Com ressalvas à grande

variação na FBN aparente em cana-de-açúcar no Brasil, Japão, Filipinas, Austrália e África do

Sul, Herridge, Peoples e Boddey (2008) relatam que o valor mais realista para as condições

brasileiras de contribuição média da FBN é em torno de 40 kg de N ha-1ano-1, assumindo Npda

de 20% e extração de 200 kg ha-1 de N em média. Esse valor médio também foi observado em

estudo conduzido por 15 anos com cana-de-açúcar, após avaliações de abundância natural de

15N e balanço de N total no solo (URQUIAGA et al., 2012).

Estudos recentes têm comparado plantas inoculadas e não-inoculadas em termos de

abundância de 15N, considerando as plantas não inoculadas como referência, para atestar se a

inoculação com bactérias diazotróficas promove aumentos na FBN pelas plantas. No entanto,

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esses estudos mostraram ausência de contribuição da inoculação na FBN das plantas inoculadas

(SCHULTZ et al., 2012, 2014), assim como foi observado no presente trabalho. Por outro lado,

alguns efeitos positivos têm sido observados, como aumento na massa seca e acúmulo de N em

algumas variedades, que vêm sendo atribuído aos efeitos benéficos promotores de crescimento

(PEREIRA et al., 2013; SCHULTZ et al., 2012, 2014).

Diversos estudos conduzidos com cana-de-açúcar resultaram no isolamento de

diferentes estirpes de bactérias diazotróficas que fazem associação com a cultura e que, além

do potencial fornecimento de N2 atmosférico, também apresentam outros efeitos positivos. Os

principais efeitos observados têm sido a produção de hormônios de crescimento, como ácido

indol acético (SUMAN et al., 2005), solubilização de fosfatos (SINGH et al., 2007) e compostos

de zinco (SARAVANAN; MADHAIYAN; THANGARAJU, 2007), estímulo ao crescimento

radicular, aumentos no teor de C orgânico do solo e da extração de nutrientes na rizosfera

(SUMAN et al., 2005; YADAV et al., 2009; TAULE et al., 2012; BENEDUZI et al., 2013) e

mineralização do N orgânico do solo (DAS; SAHA, 2003; KENNEDY; CHOUDHURY;

KECSKÉS, 2004; TAULE et al., 2012;). Em geral, os efeitos promotores de crescimento agem

principalmente no sistema radicular da cultura (SEVILLA et al., 2001; SARAVANAN;

MADHAIYAN; THANGARAJU, 2007; VIDEIRA et al., 2011) e a produção de fitormônios

resulta em maior proliferação de raízes ativas e produção de exsudatos, com aumento na

absorção de nutrientes (DOBBELAERE; VANDERLEYDEN; OKON, 2003; KENNEDY;

CHOUDHURY; KECSKÉS, 2004; SEVILLA et al., 2001).

Tais efeitos promotores de crescimento não foram analisados no presente estudo, de

maneira que impossibilita determinar quais foram os efeitos que resultaram em melhoria do uso

do N-fertilizante aplicado em solo arenoso. Tais resultados sugerem que nas quantidades e

modos de aplicação de N-fertilizante aplicados em cana-de-açúcar nas condições brasileiras,

não há grandes limitações para a população de bactérias diazotróficas adicionadas via

inoculação, apesar do risco de diminuição de população desses organismos com o uso de

fertilizantes sintéticos nitrogenados (REIS JUNIOR et al., 2000; BODDEY et al., 2003;

KENNEDY; CHOUDHURY; KECSKÉS, 2004). No entanto, a diminuição de recuperação de

15N-fertilizante com a inoculação em Piracicaba na fase de máximo crescimento precisam ser

também ser considerados, apesar de esses efeitos não terem ocorrido na produção de colmos.

A recuperação de 15N-fertilizante pela cana-de-açúcar é normalmente baixa, variando

de 7 a 40% em cana-soca (CANTARELLA; TRIVELIN; VITTI, 2007). No entanto, nas fases

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100

de máximo crescimento, a recuperação do 15N-fertilizante pode ser superior (FRANCO et al.,

2011), antes das perdas ocorridas com a senescência da planta. Possíveis aumentos na

recuperação do 15N-fertilizante no entanto não implicam necessariamente em aumentos na

produtividade de colmos, uma vez que a maior parte do N fornecido para as plantas é

proveniente do estoque de N orgânico do solo para a maioria das culturas (DOURADO-NETO

et al., 2010), principalmente em culturas semi-perenes e perenes.

O restante do N adicionado via fertilizante que não é aproveitado pelas plantas enriquece

o estoque de N do solo ou é perdido, principalmente por lixiviação, desnitrificação e

volatilização (REIS JUNIOR et al., 2000; CANTARELLA, 2007; VITTI et al., 2011). Em solo

arenoso, há maior suscetibilidade à perdas de N por lixiviação (OLIVEIRA et al., 2002).

Portanto, a maior recuperação de 15N-fertilizante em solo arenoso poderia sugerir uma

diminuição nas quantidades de N necessárias com adição de inoculante em cana-soca, ao

assumir que o N que não foi absorvido pelas plantas seria perdido. Porém, em condições de

obtenção de altas produtividades, quantidades de N-fertilizante inferiores à remoção de N pelos

colmos pode resultar em depleção de N no solo em longo prazo. Além disso, as respostas

erráticas observadas à inoculação com bactérias diazotróficas geram questionamentos sobre a

ocorrência dos efeitos benéficos em diferentes climas e variedades. O aumento no estoque de

N orgânico do solo pode também favorecer o desenvolvimento de cultivos posteriores

(VALLIS; KEATING, 1994).

Em geral, esses resultados confirmam a possibilidade de ocorrência de resposta positiva

das plantas de cana-de-açúcar à inoculação com bactérias diazotróficas sob aplicação de N-

fertilizante, devido aos efeitos benéficos promotores de crescimento, sem contribuição da FBN.

Tais efeitos podem melhorar o desenvolvimento da cultura e a eficiência do sistema. No

entanto, a ausência de resposta significativa na maior parte das condições avaliadas demonstra

a dificuldade em prever respostas positivas, mesmo em variedades e condições de solo e clima

mais propícias. Possíveis diminuições nas quantidades de N aplicadas na cultura são de grande

interesse econômico e ambiental. Porém, mesmo com o aumento observado no aproveitamento

de 15N-fertilizante em solo arenoso, não se recomenda modificar as recomendações de aplicação

de N na cultura nas atuais condições, uma vez que possíveis diminuições podem causar perdas

de produtividade e degradação do solo, principalmente em condições onde as bactérias

inoculadas não apresentam efeito. Estudos adicionais são ainda necessários para compreender

os efeitos promotores de crescimento proporcionados pelas bactérias diazotróficas e a resposta

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101

das plantas de cana-de-açúcar em termos de eficiência de uso de nutrientes e produtividade das

plantas.

4.5 CONCLUSÕES

A inoculação com bactérias diazotróficas na presença de adubação nitrogenada em cana-

soca resulta em respostas positivas na absorção de N e produção de colmos em algumas

situações, porém de maneira errática. Com base nos dados de abundância natural de 15N, pode-

se concluir que tais repostas, quando ocorrem, não são provenientes de fixação do N2

atmosférico.

A inoculação pode promover melhorias no aproveitamento de N-fertilizante aplicado na

cultura em solo arenoso, o que potencialmente diminui as perdas de N no sistema. No entanto,

isso não resulta necessariamente em ganhos de produtividade e não se recomendam alterações

nas doses de N atualmente utilizadas na cultura.

REFERÊNCIAS

BALDANI, J. I.; REIS, V. M.; BALDANI, V. L. D.; DOBEREINER, J. A brief story of

nitrogen fixation in sugarcane - reasons for success in Brazil. Functional Plant Biology, v. 29,

n. 4, p. 417–423, 2002.

BAPTISTA, R. B.; MORAIS, R. F.; LEITE, J. M.; SCHULTZ, N.; ALVES, B. J. R.;

BODDEY, R. M.; URQUIAGA, S. Variations in the 15N natural abundance of plant-available

N with soil depth: Their influence on estimates of contributions of biological N2 fixation to

sugar cane. Applied Soil Ecology, v. 73, p. 124–129, jan. 2014.

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5. AVALIAÇÃO DA EXTRAÇÃO DE NITROGÊNIO COM ANÁLISE DE EXTRATO

DE SEIVA E FOLIAR EM SOQUEIRAS DE CANA-DE-AÇÚCAR APÓS

ADUBAÇÃO NITROGENADA*

RESUMO

A adubação nitrogenada é importante para a cultura da cana-de-açúcar, do ponto de vista

agronômico e ambiental. Um melhor uso do nitrogênio (N) proveniente do fertilizante é

importante para o manejo da cultura, e para isso é necessário que se faça um monitoramento

adequado da nutrição nitrogenada. A análise de extrato de seiva é uma técnica que vem sendo

usada com esse propósito em outras culturas, e pode ser aplicada para a cana-de-açúcar. O

objetivo desse estudo foi avaliar o uso de N e a resposta da cana-de-açúcar à adubação

nitrogenada por meio de análise de extrato de seiva e tecido foliar. Duas áreas experimentais

foram conduzidas no ano agrícola de 2012-2013, em cana-soca, após a aplicação de 0, 50, 100

e 150 kg ha-1 de N. Cinco amostragens foram realizadas nas folhas mais novas da planta, nas

fases iniciais de desenvolvimento, quando foi avaliado o teor de N-nitrato, N-amônio e N total

no líquido presente na nervura central, e o N total no limbo foliar. O N mineral no extrato da

seiva aumentou como resultado da adubação nitrogenada na primeira coleta em solo de textura

média e até 120 dias após adubação em solo argiloso. Os teores de N total no extrato de seiva

seguiram comportamento semelhante. Os teores de N na folha diagnóstico aumentaram

linearmente nos dois locais com a adubação nitrogenada e apenas em Piracicaba houve aumento

na produtividade de colmos. A análise de N no extrato de seiva se mostrou eficiente no

monitoramento do status de N na cana em diferentes tipos de solo.

Palavras-chave: Saccharum spp.; amônio; nitrato; eficiência de uso de nitrogênio; estado

nutricional

EVALUATING NITROGEN UPTAKE IN SUGARCANE RATOON AFTER

FERTILIZATION BY USING LEAF AND SAP ANALYZES

ABSTRACT

The nitrogen fertilization is important for sugarcane crop, from agronomic and environmental

views. A better use of nitrogen from fertilizer is necessary for crop management, in order to

achieve it, an adequate nitrogen nutrition monitoring is necessary. Sap analysis is a technique

*: Artigo publicado. Referência: American Journal of Plant Sciences, v.5, 2014

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108

that has been adopted with this objective in other crops, and can be used for sugarcane. The aim

of this study was to evaluate the nitrogen use and sugarcane response through sap and leaf tissue

analysis. Two experimental areas were carried out in 2012-2013, in ratoon-cane, after

application of 0, 50, 100 and 150 kg ha-1 of N. Five sampling were performed on the youngest

leaves, at initial development stages, when it was evaluated the content of N-nitrate, N-

ammonium and total N on the liquid present on leaf midribs, and total N on leaf tissue. The

mineral N on sap increased because of nitrogen fertilization at the first sampling in medium

texture soil and up to 120 days after fertilization in clayey soil. The total N content of sap

followed similar behavior. The leaf N content increased linearly in the two places because of

fertilization and only in Piracicaba there was increase on stalk yield. The sap analysis proved

to be efficient in monitoring nitrogen status in different soil types.

Key words: Saccharum spp.; ammonium; nitrate; nitrogen use efficiency; nutritional status.

5.1 INTRODUÇÃO

O nitrogênio (N), juntamente com o potássio (K), são os elementos minerais acumulados

em maiores quantidades na cultura de cana-de-açúcar. O N é um elemento essencial para a

produção vegetal e a absorção desse nutriente pela cana-de-açúcar varia de 100 a 300 kg ha-1

para a produção de 100 t ha-1 de colmos, de acordo com dados compilados de diversos autores

(CANTARELLA; TRIVELIN; VITTI, 2007). O uso de fertilizantes nitrogenados é um

componente-chave no balanço energético-ambiental da cana-de-açúcar para produção de

biocombustíveis. A adubação nitrogenada em cana é responsável por 23% da energia fóssil

utilizada nas operações da cultura, e 19% da energia total gasta, considerando também todas as

etapas para a produção de bioetanol (GALDOS et al., 2010). Portanto, é preciso racionalizar o

uso de fertilizantes nitrogenados, com a finalidade de melhorar a sustentabilidade do cultivo de

cana-de-açúcar.

As quantidades de N utilizadas na cana-de-açúcar no Brasil são bem menores que em

outros países (CANTARELLA; TRIVELIN; VITTI, 2007), podendo promover aumento na

produtividade de cana-planta ou cana-soca. Na cana-soca, no entanto, as respostas ao N são

mais frequentes. Isso se reflete em maior vigor nas soqueiras, aumentando o potencial produtivo

da cultura. Franco et al. (2011) demonstraram que a contribuição do N proveniente do

fertilizante no momento da colheita de cana-de-açúcar foi em torno de 40% na cana-soca,

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109

enquanto na cana-planta foi em torno de 5%, o que pode explicar a escassez de resposta da

cana-planta e fertilização nitrogenada em muitos estudos realizados na cultura nas últimas

décadas. No entanto, apesar da ocorrência de altas ou médias respostas na soqueira, as respostas

são irregulares e controversas.

Os baixos valores e irregularidade na eficiência de uso de N na cana-açúcar são

associadas ao efeito residual do fertilizante no solo e sua elevada imobilização

(COURTAILLAC et al., 1998), além de perdas no sistema solo-planta-atmosfera. No entanto,

o N imobilizado pode ficar no solo, na forma orgânica. Dourado-Neto et al. (2010) observaram

que a matéria orgânica foi a principal fonte de N para a produção agrícola, após estudas a

recuperação de 15N em ambientes tropicais de 9 países diferentes, sendo encontrado em média,

79% do N encontrado nas plantas proveniente da matéria orgânica do solo.

Para que se possa racionalizar o uso de fertilizantes na cultura, melhorando a sua

eficiência de uso pelas plantas, é importante conhecer os momentos e as formas mais absorvidas

pelas plantas. Conforme apontado por Franco et al. (2011), o momento de maior absorção de N

do fertilizante pela cultura ocorre em fases iniciais de desenvolvimento, nos primeiros 90 dias

após a adubação, antes da completa formação de biomassa. Com isso, a análise foliar, realizada

normalmente após o fechamento do dossel, pode não representar as respostas positivas da

adubação nitrogenada observadas na produtividade da cultura (FARONI et al., 2009; FRANCO

et al., 2010).

O adequado monitoramento nas fases iniciais podem permitir correções no manejo de

fertilizantes da cultura, assim como na tomada de decisões de parcelamento da adubação

nitrogenada, especialmente em solos com menor quantidade de argila. Devido à baixa

sensibilidade da análise foliar em cana-de-açúcar, surge a necessidade da busca por alternativas

para o melhor monitoramento do estado nutricional da cultura. A extração do líquido presente

nos tecidos celulares da planta, genericamente denominado de extrato de seiva, quantificação

dos nutrientes presentes é uma técnica usada em hortaliças e árvores frutíferas, sendo de

especial interesse para o manejo da adubação (SOUZA et al., 2012).

Assim, o objetivo desse estudo foi avaliar o status de N na cana-soca sob diferentes

doses de N fertilizante em diferentes locais e épocas de coleta, visando identificar fases de

maior acúmulo de N, formas predominantes e a viabilidade da análise de extrato de seiva na

cultura.

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110

5.2 MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi desenvolvido em duas áreas experimentais localizadas no estado de São

Paulo, nos municípios de Jaú e Piracicaba. A área experimental de Jaú está localizada na região

centro-oeste do estado (22º15’10,25”S; 48º3’6,26”W; 522 m altitude), em Latossolo vermelho

distrófico, textura média. A área experimental de Piracicaba está localizada na região centro-

sul (22º41’10,15”S; 47º38’54,7”W; 547 m altitude) em um Latossolo vermelho distrófico,

textura argilosa. Em ambas áreas, experimentos foram instalados em 2010, quando a cana-de-

açúcar foi plantada. Após a colheita da cana-planta, em agosto-setembro de 2011, e a colheita

da 1ª soqueira, em 2012, a 2ª soqueira foi avaliada no presente estudo. A variedade de cana

utilizada foi a SP 81-3250, nas duas áreas experimentais. O espaçamento de plantas foi de 1,5

m entre linhas. Amostras de solo foram coletadas em 2010, antes do plantio da cana, e

informações sobre condições do solo no início do experimento estão descritos na Tabela 5.1.

As condições climáticas estão descritas na Figura 5.1.

Tabela 5.1. Características químicas do solo nas áreas experimentais de cana-de-açúcar1

Prof. MO pH K Ca Mg Al H+Al CEC P S Argila Silte Areia

cm g dm-3 ------------------------- mmolc dm-3 ------------------------ - mg dm-3 - ------------ % -----------

Jaú, SP

0-20 23 4,8 1,6 15,8 6,3 2,0 25,0 49,0 17,8 10,0 17,8 5,7 76,6

20-40 14 4,3 0,9 7,5 1,8 6,3 24,5 34,7 9,3 24,3 23,6 6,2 70,2

Piracicaba, SP

0-20 28 5,0 3,8 44,3 20,5 1,3 29,8 98,5 11,3 15,8 51,9 16,7 31,4

20-40 19 4,7 2,4 24,3 9,8 5,8 41,3 77,9 3,3 27,8 61,8 10,6 27,6

1: Análises de solo foram realizadas de acordo com métodos descritos em Raij et al. (1997)

O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com quatro repetições. Quatro

tratamentos foram aplicados: 0, 50, 100 e 150 kg ha-1 de N, na forma de nitrato de amônio. As

doses de N foram definidas com base na recomendação para o estado de São Paulo de 100 kg

ha-1 de N para a cana-soca. Foi também realizada a adubação com P (50 kg ha-1 P2O5) e K (150

kg ha-1 K2O). A adubação foi realizada após a primeira chuva depois da colheita, quando as

plantas começaram a rebrotar.

Após a adubação com N, amostras para análise de tecido foliar e extrato de seiva foram

retiradas. Para evitar a destruição de plantas muito pequenas, e também para que as plantas

pudessem absorver o N adicionado pelo fertilizante, um período de 15 dias para Piracicaba e

30 dias em Jaú foi determinado para a primeira coleta. Em Piracicaba, as coletas subsequentes

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111

ocorreram aos 40, 70, 120 e 150 dias após a adubação. Em Jaú, elas ocorreram aos 60, 90, 120

e 150 dias. Essas diferenças entre períodos de coleta ocorreram devido ao desenvolvimento

inicial mais demorado em Jaú, que não permitia a coleta aos 15 dias após a adubação. Após 150

dias, a menor ocorrência de chuvas e a maturidade das plantas não possibilita a extração de

grandes quantidades de extrato de seiva, mesmo em folhas mais novas. Assim, seria necessária

a coleta de um número muito excessivo de folhas, prejudicando o desenvolvimento das plantas

e a produtividade. De qualquer maneira, aos 150 dias o dossel da cana-de-açúcar encontra-se

fechado, sendo de menor importância o monitoramento nutricional nessa fase.

No momento da coleta, parte vegetal escolhida para análise de extrato de seiva foi a

folha mais nova desenvolvida, que corresponde à estrutura com maior fluxo de nutrientes,

especialmente nas fases iniciais de desenvolvimento. Além disso, folhas maduras não possuem

conteúdo muito grande de seiva, o que dificulta a extração para análises laboratoriais. A nervura

central das folhas mais novas foi retirada para análise de extrato de seiva, ao passo que o terço

médio do limbo foliar foi também separado para análise de N total no tecido foliar.

Para obter o extrato de seiva, foram coletadas 30 folhas novas por parcela, considerando-

se as linhas úteis da parcela, no período da manhã. As folhas foram acondicionadas em caixas

térmicas e encaminhadas ao laboratório. No laboratório, as nervuras centrais foram separadas

do limbo foliar. O tecido foliar foi limpo com água e levado para secagem a 65oC. As nervuras

foram limpas com gaze umedecida em água destilada, secas sobre papel toalha, cortadas em

frações de 1 a 2 cm e acondicionados em frascos plásticos com éter etílico padrão analítico. A

quantidade de éter utilizada foi a suficiente para cobrir o material, garantindo assim a completa

extração da seiva. Como a extração foi feita em material fresco, no máximo um dia após a

coleta, os ramos já foram colocados em éter e imediatamente congelados pelo período

aproximado de 15 dias, em freezer convencional, com temperatura próxima de -15oC. Após o

descongelamento, as amostras foram transferidas para funis de separação, com a finalidade de

separar os pigmentos vegetais dissolvidos em éter no extrato de seiva, os quais não são

miscíveis. O nitrogênio, nas formas de N-NH4+ e N-NO3

-, foi determinado por destilação a

vapor (RAIJ et al., 2001), enquanto o N total foi determinado por digestão sulfúrica e destilação

a vapor (BATAGLIA et al., 1983). A solução extraída com éter etílico não foi apenas seiva,

uma vez que, devido ao congelamento das nervuras, ocorre o rompimento das células,

extravasando o suco celular. A solução extraída, portanto, é a seiva mais o conteúdo celular,

denominado extrato de seiva por convenção (SOUZA et al., 2012).

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112

Próximo aos dias em que foram coletadas amostras para análise de seiva, amostras de

solo foram coletadas na camada de 0-10 cm, próximas às linhas de cana-de-açúcar, em 20-30

pontos por parcela. As amostras foram acondicionadas em gelo e levadas a laboratório para

extração com KCl 0,01 mol l-1, e posterior destilação a vapor para análise de N-NH4 e N-NO3,

conforme métodos descritos em Raij et al. (2001). As amostras de solo foram também pesadas

úmidas e após secagem em estufa a 105oC, para determinação do conteúdo de água.

Figura 5.1. Precipitação mensal, temperaturas medias máximas e mínimas em Jaú e Piracicaba,

estado de São Paulo.

No mês de fevereiro de 2013, durante a fase de máximo crescimento da cultura, a folha

+1, que consiste na primeira folha com lígula visível a partir do topo, foi coletada em 30 plantas

de cada parcela nas duas áreas experimentais. As nervuras centrais foram removidas, sendo

mantido apenas o terço médio da lâmina foliar. Assim como o limbo foliar das folhas jovens

usadas para análise de extrato de seiva, as amostras foram secas em estufa, moídas e

posteriormente encaminhadas para digestão sulfúrica e destilação a vapor para determinação de

N total, conforme métodos descritos em Bataglia et al. (1983). Ao final do ciclo, as plantas

foram colhidas para determinação da produtividade de colmos. A área total das parcelas foi

colhida manualmente, e os colmos foram pesados, estimando-se a produtividade em toneladas

por ha.

0

5

10

15

20

25

30

35

0

50

100

150

200

250

300

350

Au

g

Sep

Oct

No

v

Dec Jan

Feb

Mar

Ap

r

May Jun

Jul

Au

gPrecipitação

Temperatura máxima média

Temperatura mínima média

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

Ag

o

Set

Ou

t

No

v

Dez Jan

Fev

Mar

Ab

r

Mai

Jun

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Ag

o

Jaú-SP Piracicaba-SP

Prec

ipit

açã

o (

mm

)

Tem

pera

tura

(ºC

)

Meses (2012-2013) Meses (2012-2013)

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113

Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância no modelo de parcelas

subdivididas (ANOVA – teste de F a 5% e 1% de probabilidade), e a testes de regressão (linear

e polinomial).

5.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A umidade do solo foi distinta entre os locais, de maneira que o solo mais argiloso, em

Piracicaba, apresentou os maiores valores de umidade do solo em média (Figura 5.2). Mesmo

sob condições similares de chuva (Figura 5.1), as diferenças nas condições de umidade do solo

foram afetadas principalmente pelo teor de argila do solo, de maneira que o solo argiloso, em

Piracicaba foi o que apresentou maior teor de água em comparação com o solo de textura média,

em Jau. Em ambos os locais, a umidade do solo foi diretamente relacionada com a chuva

ocorrida nos períodos de coleta.

Em Piracicaba, os teores de nitrato e amônio foram significativamente maiores que em

Jau durante as fases iniciais. Porém, mesmo com aumento da umidade do solo nas amostragens

de 120 e 150 dias após adubação, os teores de N mineral do solo observados foram baixos e

similares a Jau. Em Jaú, os valores de N mineral do solo permanecerem em níveis

significativamente menores que em Piracicaba, mesmo pouco tempo após a aplicação do adubo

nitrogenado. A movimentação de N mineral proveniente da aplicação de fertilizantes no solo

depende de diversos fatores, como a concentração dos nutrientes em solução, da capacidade de

adsorção do elemento pelo solo, do pH (QAFOKU; SUMNER; RADCLIFFE, 2000), da

solubilidade do fertilizante (SCHUMMAN, 2001), do conteúdo de água do solo,

macroporosidade e extração pela cultura (GHIBERTO et al., 2011). No presente estudo, pode-

se assumir que as maiores concentrações de N mineral na camada de 0-10 cm ocorreram nos

primeiros 30 dias após a adubação em Jau. Porém, devido à textura arenosa e baixa retenção de

água nessa camada, ocorrem condições mais favoráveis à nitrificação, de maneira que o N-

nitrato é facilmente movimentado para camadas mais profundas do solo. Por outro lado, em

Piracicaba, os níveis de nitrato e amônio permaneceram em altos níveis, mesmo após 70 dias

da adubação. Mesmo com altos teores de água no solo, os níveis de nitrato observados foram

maiores em 40 e principalmente 70 dias após adubação.

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114

Figura 5.2. Umidade média do solo e N mineral no solo na camada de 0-10 cm e N mineral no

extrato de seiva de cana-de-açúcar, em função de diferentes épocas relativas ao momento da

adubação, na média de doses de N aplicadas em cana-soca.

No extrato de seiva de cana-de-açúcar, pode ser observado que na primeira amostragem

em Jau, foi observada uma alta concentração de nitrato no extrato de seiva (Figura 5.2). Isso

mostra que nos primeiros 30 dias, houve grande absorção de N. Quando ocorre absorção

0

10

20

30

40

50

60

70

30 60 90 120 150

Amônio

Nitrato

0

10

20

30

40

30 60 90 120 150

Amônio

Nitrato

25

35

45

55

65

75

85

95

30 60 90 120 150

25

35

45

55

65

75

85

95

15 40 70 120 150

0

10

20

30

40

50

60

70

15 40 70 120 150

Jaú-SP Piracicaba-SP

Umidade do Solo

N mineral do solo (profundidade 0-10cm)

N mineral na seiva de cana-de-açúcar

0

10

20

30

40

15 40 70 120 150

Dias após adubação Dias após adubação

Um

ida

de (

%)

N m

iner

al

do

so

lo (

mg

kg

-1)

N m

iner

al

na

sei

va

(m

g l

-1)

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115

excessiva de N pela planta, há um acúmulo de nitrato, que não é reduzido na planta, e assim o

N não se associa à molécula de clorofila (DWYER, 1995). Portanto, o N absorvido

excessivamente na forma de nitrato não beneficia de maneira significativa o desenvolvimento

da cultura. Aos 60 dias após a adubação, os níveis de nitrato e amônio em Jau foram muito

similares, diminuindo a concentração na seiva ao longo do tempo, correspondendo aos baixos

teores de N mineral observados no solo nos períodos analisados. Em Piracicaba, as

concentrações de N mineral na seiva permaneceram elevados até 150 dias após a adubação.

Nesse local, as concentrações de amônio foram maiores que nitrato aos 15, 70 e 120 dias após

adubação. A alta disponibilidade de N proveniente da aplicação de nitrato de amônio ocasionou

maior concentração de nitrato no solo, porém há resultados em estudos da Austrália que

mostram que a cana-de-açúcar tem preferência pela absorção de amônio ao invés de nitrato.

Isso ocorre em solos bem supridos com N durante os primeiros três meses da estação de

crescimento (ROBINSON et al., 2011).

A maior absorção de N, independente da aplicação de fertilizante, ocorreu no início do

ciclo da cana-soca (Tabela 5.2). Em Jau, ocorreu aumento nos teores de nitrato e amônio na

seiva das plantas na primeira amostragem, com destaque para os altos teores de NO3- (Figura

5.2), e em menores concentrações totais, também foi observado aumento no teor de NO3- na

seiva, na 2ª amostragem, 60 dias após adubação. Em Piracicaba, foram observados aumentos

na concentração de NH4+ até 120 dias após adubação, e na concentração de NO3

- aos 40, 70 e

120 dias após a adubação. Portanto, em solos mais argilosos, o uso de N proveniente do

fertilizante é maior, devido à permanência de N mineral no solo por mais tempo. As baixas

concentrações de NO3- na seiva da cana em Piracicaba na primeira coleta pode ser explicada

pelo curto período (15 dias) após a adubação. Mesmo com teores similares no solo (Figura 5.2),

a preferência por amônio nas primeiras fases de desenvolvimento, principalmente nos primeiros

30 dias (ROBINSON et al., 2011) pode explicar o comportamento observado nesse estudo.

Os teores de N total na seiva de cana-de-açúcar foram muito maiores que os teores de

N mineral (Tabela 5.3), em ambos locais. Em geral, houveram grandes teores de N total mesmo

na ausência de aplicação de fertilizantes, o que mostra absorção de N predominante na forma

orgânica do solo, porém aumentos no teor de N na seiva observados em Piracicaba mostram

que houve também alta assimilação de N proveniente do fertilizante. Por outro lado, em Jaú foi

observado aumento no teor de N total na seiva apenas aos 30 dias após adubação, sem efeito

nas coletas posteriores, e diminuição nos teores com o avanço de desenvolvimento da cultura.

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116

No solo argiloso de Piracicaba, o aumento no teor de N total na seiva foi observado até 90 dias

após a adubação. Na última coleta, 150 dias após a adubação, os teores de N total na seiva foram

muito similares entre doses e locais.

Tabela 5.2. Nitrogênio mineral na seiva de cana-de-açúcar, em função de doses de N em

diferentes épocas de amostragem.

Dose N 1a amostragem1 2a amostragem1 3a amostragem1 4a amostragem1 5a amostragem1

NH4+ NO3

- NH4+ NO3

- NH4+ NO3

- NH4+ NO3

- NH4+ NO3

-

kg ha-1 ----------------------------------------------------mg l-1---------------------------------------------------

Jaú-SP

0 13,5 5,2 10,1 10,2 9,3 7,9 6,9 7,1 5,2 4,5

50 14,2 23,9 16,2 8,2 9,2 9,5 7,2 7,5 4,2 5,3

100 15,7 49,5 11,4 12,3 10,1 7,9 8,3 8,2 4,5 6

150 18,6 54,7 11,1 18,7 12,7 8,7 8,2 8,1 4,6 5,1

Efeito L* L** ns L* ns ns ns ns ns ns

R² 0,92 0,95 - 0,7 - - - - - -

Piracicaba-SP

0 22,9 3,7 15,5 6,4 16,4 2,8 14,7 6,8 6,9 7,6

50 26,7 2,7 28,6 22,2 23 23 15,4 7,1 8,5 6,1

100 32,5 3,4 30,6 36 33,3 33,3 17,8 10,6 9,6 7,3

150 35,7 3 26,9 31,8 31,9 31,9 25,8 15,8 10,2 7,6

Efeito L** ns Q** Q** L** L** L* L** ns ns

R² 0,99 - 0,98 0,97 0,85 0,99 0,82 0,89 - - 1: Amostragem da folha mais jovem para análise de seiva aos 30, 60, 90, 120 e 150 dias após adubação (Jaú-SP); 15, 40, 70,

120 e 150 dias após adubação (Piracicaba-SP). * e **: P<0,05 e <0,01, respectivamente.

Para avaliar a assimilação de N no tecido foliar, nas mesmas folhas onde a seiva foi

extraída da nervura central, o teor de N total foi analisado no limbo foliar (Tabela 5.3). Em Jau,

não foi observado qualquer resposta de N no tecido foliar à aplicação dos tratamentos de

adubação nitrogenada. Por outro lado, em Piracicaba, foram observadas respostas positivas à

adubação nitrogenada nas coletas onde também houve resposta positiva no N total da seiva.

Houve diminuição no teor de N no tecido com o tempo, em Piracicaba, fato que não ocorreu

em Jaú. As magnitudes de diferença, aos 15, 40 e 70 dias após adubação em Piracicaba foram

menores que observado para o N na seiva. Portanto, o N no extrato de seiva é uma metodologia

mais sensível a alterações de manejo da fertilidade que a simples extração de N no tecido foliar

de folhas mais jovens. Os valores consistentes de N total na seiva indicam que futuros níveis

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117

críticos podem vir a ser estabelecidos, com o objetivo de avaliar o status de N nas plantas de

cana-de-açúcar.

Tabela 5.3. Nitrogênio total na seiva e tecido foliar a partir das mesmas plantas em cinco

diferentes épocas de amostragem

Dose N 1a amostragem1 2a amostragem1 3a amostragem1 4a amostragem1 5a amostragem1

Seiva Limbo Seiva Limbo Seiva Limbo Seiva Limbo Seiva Limbo

kg ha-1 mg L-1 g kg-1 mg L-1 g kg-1 mg L-1 g kg-1 mg L-1 g kg-1 mg L-1 g kg-1

Jaú-SP

0 307,5 12,5 187,6 11 126,7 9,9 182,5 10,4 91,2 11,2

50 359,6 13 207,8 11,3 146,9 9,9 167,3 9,9 93,8 9,9

100 349,2 21,6 197,7 12,7 147 8,1 179,9 7,6 108,9 9,3

150 354,4 15 197,7 11,9 139,4 9,5 167,3 10,1 108,9 10,8

Efeito L* ns ns ns ns ns ns ns ns ns

R² 0,50 - - - - - - - - -

Piracicaba-SP

0 271 17,3 307,5 13,6 190,8 11,5 114,6 9,5 114,8 10,4

50 303,9 19,6 359,6 16,7 243,4 13,2 106,5 9,8 106,5 10,2

100 299,7 19,7 367,4 17,3 289,3 14,1 111,5 10,9 111,5 10,6

150 317,9 18,2 354,4 16,5 315,3 12,9 93,8 9,3 100,6 10,5

Efeito L* Q* Q* Q** L** Q** ns ns ns ns

R² 0,80 0,98 0,98 0,99 0,98 0,98 - - - - 1: Amostragem da folha mais jovem para análise de seiva aos 30, 60, 90, 120 e 150 dias após adubação (Jaú-SP); 15, 40, 70,

120 e 150 dias após adubação (Piracicaba-SP). * e **: P<0,05 e <0,01, respectivamente.

Não foram encontrados estudos científicos na literatura a respeito de teores de nutrientes

no extrato de seiva das folhas de cana, usando as técnicas descritas nesse estudo. Alguns estudos

avaliaram a concentração de extrato de seiva nos colmos de cana (TEJERA et al., 2004, 2006).

Nesses estudos, foi observado que as principais formas de N encontrado no extrato de seiva dos

colmos são aminoácidos e proteínas (TEJERA et al., 2004), de maneira que a porcentagem de

N na forma de aminoácidos encontrada variou entre 50 e 70% para o extrato de seiva do

apoplasto e simplasto, enquanto a porcentagem de nitrato foi em torno de 10%,

independentemente da variedade de cana utilizada (TEJERA et al., 2006). Os resultados da

análise de extrato de seiva da folha do nosso estudo confirmam também essa proporção de N

mineral em relação ao N total nas fases iniciais de desenvolvimento da cultura.

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118

A avaliação da folha +1, na fase de maior desenvolvimento da planta, aproximadamente

180 dias após a adubação, mostrou aumentos nos teores de N em ambos locais, de maneira que

apenas na ausência de aplicação de N, os níveis foram um pouco inferiores ao mínimo

recomendado de 18 g kg-1 (RAIJ et al., 1996). O aumento nos teores foliares em Jau não se

refletiram em aumentos na produtividade, ao contrário de Piracicaba, onde foi observado

aumento linear na produtividade. Portanto, a baixa resposta observada nos teores de N mineral

(Tabela 5.2) e N total (Tabela 5.3) no extrato de seiva em Jau foram mais coerentes com a

ausência de resposta na produtividade que a análise da folha diagnóstico. Por outro lado,

conforme se poderia prever com os resultados de análise de extrato de seiva em Piracicaba, se

refletiu em aumentos significativos na produtividade.

O uso de fertilizantes nitrogenados é um fator de grande importância no balanço

energético e ambiental da cana-de-açúcar, sendo que a adubação nitrogenada é responsável por

25% da energia fóssil utilizada nas operações da cultura (BODDEY et al., 2008). Portanto, é

necessário racionalizar o uso de fertilizantes nitrogenados, visando benefícios para a

sustentabilidade em longo prazo e para o balanço energético da cultura. Na cana-soca, as

respostas à adubação nitrogenada são mais observadas que em cana-planta no Brasil,

aumentando o vigor das soqueiras e o potencial produtivo da cultura (CANTARELLA;

TRIVELIN; VITTI, 2007; ORLANDO FILHO et al., 1999). Porém, estudos realizados com

15N relatam que o aproveitamento do fertilizante pela cana-de-açúcar é normalmente abaixo de

40% em cana-soca (FRANCO et al., 2011; GAVA et al., 2003; TRIVELIN et al., 2002).

A imobilização de N no solo é um dos fatores que ajudam a explicar o baixo

aproveitamento de N-fertilizante pela cana-de-açúcar (COURTAILLAC et al., 1998). A matéria

orgânica é normalmente a principal fonte de N para a produção agrícola (DOURADO-NETO

et al., 2010), de maneira que a partir dos 90 dias após a aplicação do fertilizante nitrogenado,

foi provavelmente a principal fonte para extração de N para a cultura. Isso faz com que a maior

extração de N ocorra próximo à aplicação de fertilizantes em cana. Franco et al. (2011), após a

avaliação da eficiência de uso do 15N em cana-soca, observaram que aos 30-60 dias após a

adubação da soqueira, a cana-de-açúcar havia absorvido praticamente todo o N que é

acumulado durante todo o ciclo da cultura. Além disso, durante os estágios iniciais da soqueira,

o N do fertilizante foi a principal fonte de N para as plantas. Portanto, em solos mais arenosos,

como em Jaú, o parcelamento da adubação pode ser necessário para que a planta consiga

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119

aproveitar melhor o N do fertilizante, antes que ocorra lixiviação, prejudicando a nutrição da

cultura.

Embora recomendações específicas de adubação nitrogenada não sejam fornecidas em

função das análises foliares, deficiências ou desequilíbrios indicam onde adições ou mudanças

no programa de adubação são necessárias. Para muitas culturas, a análise foliar é uma

ferramenta eficiente no diagnóstico do estado nutricional das plantas (MALAVOLTA, 2006).

No entanto, a análise foliar em cana normalmente apresenta pouca sensibilidade às variações

nutricionais na cultura, sendo constantemente observadas diferenças na produção de colmos

sem detecção de diferenças na análise foliar (FARONI et al., 2009; FRANCO et al., 2010). Tal

controvérsia é normalmente explicada pelo efeito de diluição (JARRELL; BEVERLY, 1981) e

pela dificuldade na determinação da folha diagnóstico e da melhor época para coleta. No

presente estudo, foi possível detectar variações no teor de N na folha em função dos tratamentos

aplicados, porém nota-se que a magnitude de diferença foi menor que observado nos teores de

N total da seiva, assim como o aumento observado no N da folha em Jau não se refletiu em

aumento na produtividade em função das doses de N aplicadas.

Tabela 5.4. Conteúdo de nitrogênio na folha +1 e produção de colmos em plantas de cana-de-

açúcar em função de doses de N em dois locais diferentes.

Folha +1 Produção de colmos

Dose N Jaú Piracicaba Jaú Piracicaba

kg ha-1 -----g kg-1----- -----t ha-1-----

0 17,77 16,74 84,88 90,38

50 18,80 17,46 88,76 97,25

100 20,29 18,90 94,62 97,12

150 20,24 20,37 89,80 106,00

Efeito Q** L** ns L*

R² 0,96 0,98 - 0,89 * e **: P<0,05 e P<0,01, respectivamente

As diferenças observadas entre tratamentos nos resultados de nutrientes na seiva de

cana-de-açúcar mostram que a análise de extrato de seiva é uma ferramenta eficiente para

detectar diferenças nos tratamentos de adubação nitrogenada, e também analisar diferentes

formas de N na folha mais jovem em expansão. Além disso, permite que avaliações da dinâmica

do uso de nitrogênio em cana-de-açúcar possa ser melhor avaliada em estudos futuros. Com o

advento de novas técnicas que permitem a aplicação de nutrientes de maneira parcelada, como

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a fertirrigação, a análise de extrato de seiva pode ser uma técnica promissora para auxiliar na

recomendação de fertilizantes ao longo do ciclo da cultura. Em comparação com outras técnicas

que permitem a avaliação da cultura pela coloração da folha, a análise de extrato de seiva

permite uma avaliação quantitativa, e também podem ser analisados outros nutrientes contidos

na seiva, podendo auxiliar na recomendação de adubação com fósforo (P), potássio (K), entre

outros nutrientes. Essa técnica vêm sendo muito utilizada na horticultura e em culturas perenes

de fruticultura (CADAHÍA; LUCENA, 2005; SOUZA et al., 2012). Na cultura da cana-de-

açúcar, esse é o primeiro estudo que analisa essa técnica. Estudos futuros são ainda necessários

para avaliar a sensibilidade da técnica a diferenças de manejo com outros nutrientes, em

diferentes sistemas de manejo e variedades de cana-de-açúcar.

5.4 CONCLUSÕES

A absorção de N proveniente do fertilizante em cana-soca ocorre principalmente nos

períodos iniciais, e em solo de textura média, a absorção de N proveniente do fertilizante é

menor que em solo argiloso, quando aplicados em quantidades e épocas similares. Por

apresentar alta sensibilidade à aplicação de N fertilizante, a análise de extrato de seiva em cana-

de-açúcar pode ser eficientemente utilizada para tomadas de decisão de parcelamento da

adubação e para melhor entendimento da dinâmica de absorção de N pela cultura.

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6. CONCLUSÃO GERAL

Altas doses de N (acima de 120 kg ha-1) em soqueiras de cana-de-açúcar podem

promover ganhos de produtividade em ambientes responsivos. Por outro lado, ausência de

aplicação de N nessas condições pode causar alto consumo do N do solo, principalmente em

função de altas remoções com a colheita. Essa situação de alta remoção de N pelas plantas, sem

a devida reposição via fertilizante, e considerando que a FBN potencialmente supre apenas

parte do N para as plantas, provoca maior demanda no uso de N-fertilizante ou empobrecimento

do solo em longo prazo. Mesmo considerando diferentes níveis de produtividade e adição de

N, os fertilizantes nitrogenados continuam sendo parte importante no balanço de energia e

emissão de GEE. A obtenção de altas produtividades com baixas doses (ou ausência) de N

favorece os índices de balanço energético e ambiental. Altas doses de N em todos os cenários

estudados resultaram em aumentos na emissão de GEE e reduções no balanço energético

líquido. Mesmo assim, esses foram bastante positivos em relação a outras matérias-primas

consultadas na literatura. Porém, outras dimensões de sustentabilidade, incluindo a econômica,

dão suporte ao uso de fertilizantes nitrogenados na cultura da cana-de-açúcar para produção de

bioenergia. Não há indícios de que a inoculação promove aumento na FBN em plantas de cana-

de-açúcar. Por outro lado, alguns efeitos positivos podem ocorrer em função da inoculação,

como o aumento na eficiência de uso do N-fertilizante em condições de solo arenoso. Os

resultados desse estudo não dão suporte à possibilidade de diminuição nas quantidades de N-

fertilizante aplicado na cana-de-açúcar com a inoculação de bactérias diazotróficas. A análise

de extrato de seiva se mostra uma técnica promissora para a avaliação em estágios iniciais da

cultura, fase em que o N adicionado pelo fertilizante apresenta maior importância no

desenvolvimento da cana-de-açúcar.