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1 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA MESTRADO EM CIÊNCIAS DO CUIDADO EM SAÚDE Vanessa Carine Gil de Alcantara O MUNDO DA VIDA DE MOTORISTAS DE ÔNIBUS: ESTUDO DESCRITIVO Niterói, RJ 2015

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  • 1

    UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE

    ENFERMAGEM AURORA DE AFONSO COSTA

    MESTRADO EM CINCIAS DO CUIDADO EM SADE

    Vanessa Carine Gil de Alcantara

    O MUNDO DA VIDA DE MOTORISTAS DE NIBUS: ESTUDO DESCRITIVO

    Niteri, RJ

    2015

  • 2

    Vanessa Carine Gil de Alcantara

    O MUNDO DA VIDA DE MOTORISTAS DE NIBUS: ESTUDO DESCRITIVO

    Dissertao apresentada ao Mestrado

    Acadmico em Cincias do Cuidado em

    Sade (MACCS), da Escola de

    Enfermagem Aurora de Afonso Costa

    (EEAAC), da Universidade Federal

    Fluminense (UFF), como parte dos

    requisitos necessrios obteno do

    ttulo de mestre.

    Orientadora Prof. Dr. Rose Mary Rosa Costa Andrade Silva

    Niteri, RJ 2015

  • 3

    Vanessa Carine Gil de Alcantara

    O MUNDO DA VIDA DE MOTORISTAS DE NIBUS: ESTUDO DESCRITIVO

    Dissertao apresentada ao Mestrado Acadmico em Cincias do Cuidado em Sade (MACCS), da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (EEAAC), da Universidade Federal Fluminense (UFF), como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de mestre.

    Aprovada em ___/___/___.

    BANCA EXAMINADORA

    Prof. Dr. Rose Mary Rosa Costa Andrade Silva. (PRESIDENTE) Universidade Federal Fluminense

    Prof PHD. Eliane Ramos Pereira ( 1 EXAMINADORA) Universidade Federal Fluminense

    Prof Dr. Aline Miranda da Fonseca Martins (2 EXAMINADORA) Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Prof PHD. Enas Rangel Teixeira ( SUPLENTE)

    Universidade Federal Fluminense

    Prof Dr. Martha Sauthier (SUPLENTE) Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Niteri, RJ

    2015

  • 4

    Dedico este trabalho aos meus pais cujo amor e cuidado sempre me inspiraram ao

    crescimento e amor ao prximo.

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Ao Deus de Abrao, Isaque e Jac, que em tudo me fortaleceu e me encheu de coragem para trilhar este caminho. Aos meus pais, Fernando e Madalena, pelo amor inafastvel e suporte incessante. Ao meu esposo, Azinio, pelo amor revigorante e pela compreenso constante. Aos profissionais do transporte coletivo que me ensinaram lies para toda a vida. minha doce e inafastvel orientadora Prof Dr Rose Mary Rosa por sua dedicao de sempre e por sua confiana e ousadia do Esprito Santo. minha (co) orientadora Prof Dr Eliane Ramos por suas contribuies ao longo deste processo. Aos professores que participaram da banca examinadora. Diretoria da empresa de transporte coletivo que autorizou a realizao da pesquisa pelo apoio e confiana. Gustavo por suas palavras de incentivo e fora. Sr Eduardo pelo olhar de apoio e carinho e Sr. Daniel pela motivao e considerao. administrao da empresa, na pessoa de Jociara Rodrigues, que acreditou na proposta deste trabalho. minha assistente, Priscilla Ramos, por sua responsabilidade e brilhante trabalho em minhas ausncias da empresa. minha assistente Mayara Rodrigues por tamanha dedicao e disposio sempre acolhedora queles que torceram e/ou contriburam para que este estudo acontecesse

  • 6

    E esta a confiana que temos Nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos ouve. 1 Joo 5:14

    https://www.bibliaonline.com.br/acf/1jo/5/14+

  • 7

    RESUMO

    O trabalho dos motoristas de nibus, apesar de indispensvel, necessita de valorizao, principalmente, no que tange qualidade de vida destes profissionais. Trata-se de um estudo que objetivou compreender as implicaes provocadas pelo trabalho na sade do sujeito que trabalha no transporte coletivo (nibus). Para tanto, desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa com abordagem fenomenolgica luz do referencial terico-filosfico de Maurice Merleau-Ponty e da Psicanlise de Sigmund Freud. Aps a aprovao do Protocolo do Projeto de Dissertao pelo Comit de tica com Seres Humanos da instituio, sob o N 19593513.2.0000.5243, iniciou-se a entrevista fenomenolgica. Esta aconteceu nos meses de janeiro de 2014 a abril de 2014 encerrando-se quando se percebeu a suficincia de significados. O cenrio foi uma empresa privada de transporte coletivo no leste fluminense do Rio de Janeiro. Na entrevista, utilizaram-se as seguintes questes: comente livremente como a experincia de dirigir, comente livremente sua percepo sobre qualidade de vida, e que medidas poderiam melhorar o seu trabalho. Dirigir para os motoristas participantes da pesquisa satisfao indiscutivelmente esses profissionais acreditam que alm das intemperes do cotidiano, dirigir uma experiencia inserida na vida social. O equilbrio familiar est vinculado ao processo de trabalho do motorista de nibus afinal, sua ateno concentrada na direo e nos agentes externos depende da mente tranquila, estar em famlia qualidade de vida, as melhorias para o trabalho dos motoristas que participaram da pesquisa pautada no respeito dos clientes, condies positivas do nibus e melhor salrio. A mobilidade urbana tem foco na atual conjuntura vivida no pas, a Copa do Mundo e a iminncia dos Jogos Olmpicos de 2016. Valorizar os profissionais de transporte coletivo um passo importante para a garantia da boa imagem diante do mundo quanto ao transporte coletivo brasileiro.

    Descritores: Corpo; Mobilidade; Percepo; Sujeito; Trabalho.

  • 8

    RESUMN

    El trabajo de los conductores de autobs, aunque indispensable, requiere de una apreciacin, especialmente con respecto a la calidad de vida de estos profesionales. Este es un estudio que pretende entender las consecuencias causadas por trabajaren en la salud del sujeto que trabaja en el transporte pblico (autobs). Con este fin, desarroll un enfoque fenomenolgico de investigacin cualitativa a la luz el terico-filosfico de Maurice Merleau-Ponty y el psicoanlisis de Sigmund Freud. Despus de la adopcin del protocolo del proyecto de tesis por el Comit de tica de la institucin con los seres humanos, en el apartado 19593513.2.0000.5243, comenz la entrevista fenomenolgica. Esto sucedi en los meses de enero a abril 2014 2014 final cuando fue realizada la suficiencia de los significados. El escenario era un transporte privada en el Oriente fluminense de Ro de Janeiro. En la entrevista, se utilizaron las siguientes preguntas: comentar libremente como es la experiencia de conduccin, comentar libremente su percepcin sobre la calidad de vida, y qu medidas podran mejorar su trabajo. En coche a los conductores de la encuesta es la satisfaccin podra decirse que estos profesionales creen que adems de la intemperes de la vida cotidiana, conducir es un experimento en la vida social.. El equilibrio familiar est vinculado al conductor del autobs, despus de que toda su atencin se centr en la direccin y agentes externos depende de la mente tranquila, en calidad de vida de la familia, las mejoras a la labor de los pilotos que participaron en la encuesta se basa en el respeto de los clientes, condiciones positivas del autobs y mejores salarios. Movilidad urbana tiene el foco en el actual clima econmico experimentado en el pas, la Copa del mundo y los Juegos Olmpicos de 2016 que se avecina. Mejorar el transporte masivo profesionales es un paso importante para garantizar la buena imagen ante el mundo en relacin con el transporte colectivo brasileo.

    Palabras clave: Cuerpo; Movilidad; Percepcin; Tema; Trabajo.

  • 9

    ABSTRACT

    The work of bus drivers, although indispensable, requires appreciation,

    especially regarding the quality of life of these professionals. This is a study that

    aimed to understand the implications caused by work on the health of the

    subject who works at the public transportation (bus). To this end, developed a

    qualitative research phenomenological approach in the light of the theoretical-

    philosophical of Maurice Merleau-Ponty and psychoanalysis of Sigmund Freud.

    After the adoption of the Protocol of the Dissertation project by the Ethics

    Committee of the institution with human beings, under paragraph

    19593513.2.0000.5243, began the phenomenological interview. This happened

    in the months of January to April 2014 2014 ending when it was realized the

    sufficiency of meanings. The scenario was a privately held transportation in the

    East Fluminense of Rio de Janeiro. In the interview, the following questions

    were used: comment freely as is the experience of driving, comment freely their

    perception about quality of life, and what measures could improve their work.

    Drive to survey drivers is satisfaction arguably these professionals believe that

    in addition to the untempers of everyday life, driving is an experiment in social

    life. The family balance is linked to the bus driver, after all his attention focused

    on direction and external agents depends on the quiet mind, be in family's

    quality of life, the improvements to the work of the drivers who participated in

    the survey is based on respect for customers, positive conditions of the bus and

    better wages. Urban mobility has focus in the current economic climate

    experienced in the country, the World Cup and the 2016 Olympic Games

    looming. Enhance mass transit professionals are an important step towards

    guaranteeing the good image before the world regarding the Brazilian collective

    transportation.

    Key Words: Body; Mobility; Perception; Subject; Job.

  • 10

    LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1: Circularidade do mundo da vida dos motoristas de nibus..........114

    Figura 2: Mosaico do Rodovirio................................................................ 121

  • 11

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1: Categorizao dos artigos encontrados na base de dados

    LILACS......................................................................................................... 23

    Quadro 2: Categorizao dos artigos encontrados na base de dados

    SCIELO..........................................................................................................27

    Quadro 3: Categorizao dos artigos encontrados na base de dados

    PEPSIC..........................................................................................................29

    Quadro 4: Categorizao dos artigos encontrados na base de dados

    BVS............................................................................................................. ....30

    Quadro 5: Categorizao dos artigos encontrados na base de dados

    BDENF............................................................................................................31

    Quadro 6: Categorizao da tese encontrada na Universidade Federal do Rio

    Grande do Norte..............................................................................................32

  • 12

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1: Quanto ao tempo de profisso.......................................................88

    Grfico 2: Quanto a tratamento de sade........................................................89

    Grfico 3: Quanto ao sexo.................................................................................89

    Grfico 4: Quanto idade................................................................................. 90

    Grfico 5: Quanto ao estado civil.......................................................................91

    Grfico 6: Quanto ao estado marital..................................................................92

    Grfico 7: Quanto religio.............................................................................. 92

    Grfico 8: Quanto escolaridade .....................................................................93

  • 13

    DETRO: Departamento de Transportes Rodovirios

    DRH: Departamento de Recursos Humanos

    FETRANSPOR: Federao das Empresas de Transportes de Passageiros do

    Estado do Rio de Janeiro

    RH: Recursos Humanos

    SGSPD: Saindo da Garagem sem perder a direo

    SENAT: Servio Nacional de Aprendizagem do Transporte

    SEST: Servio Social de Transporte

    SETRERJ: Sindicato das Empresas de Transportes Rodovirios do Estado do

    Rio de Janeiro

    PTC: Profissional do transporte coletivo

    TCLE: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

  • 14

    SUMRIO

    1 CONSIDERAES INICIAIS.........................................................................16

    2 ESTADO DA ARTE........................................................................................22 3 FUNDAMENTAO TERICA................................................................................ 36 3.1 O corpo perceptvel em Ponty....................................................................36

    3.2 O mundo perceptvel conhecido pelo corpo............................................ 39

    3.3 O corpo em Freud expresso do inconsciente....................................... 42

    3.4 A linguagem em Freud: modo de interpretao do corpo.......................... 43

    4 REFERENCIAL TEORICO ........................................................................... 46 4.1 Fenmenos sensveis e o olhar................................................................ 46

    4.2 O Sujeito Rodovirio e os seus desafios................................................... 48

    4.2.1 As condies conflitantes de trabalho.................................................... 51

    4.2.2 A identidade profissional........................................................................ 53

    4.2.3 Treinamento Saindo da Garagem sem perder a direo: Desafio vencido............................................................................................................54

    4.2.4 O sujeito motorista que diante da psicloga fala silenciando.......................................................................................................46

    4.2.5 O apelo capitalista e o motorista frente ao consumismo..........................55 4.2.6 O gnero feminino e o transporte coletivo..............................................62

    4.3 O transporte coletivo e a mobilidade urbana............................................. 63

    5 TRAJETRIA METODOLGICA .................................................................82

    5.1 O cenrio da pesquisa............................................................................... 83 5.2 A entrevista fenomenolgica e sua peculiaridade ..................................... 84 5.3 Percepes da pesquisadora na entrevista fenomenolgica..................84

    5.4 Anlises dos dados......................................................................................85

    5.5 Aspectos ticos...........................................................................................86

    6. RESULTADOS LUZ DO REFERENCIAL.............................................................87

    6.1 Anlise dos dados.................................................................................. 87

    6.2 Categorizao dos dados demogrficos.......................................... 87

    7 DISCUSSO DE DADOS...............................................................................94

  • 15

    7.1 Dirigir o nibus: Uma direo para a valorizao externa ao prazer

    interno de conduzir..................................................................................................94

    7.2 Qualidade de vida estar em famlia e satisfeito com a atividade..98

    7.3 Melhorias para o motorista de nibus sinnimo de boas condies

    de trabalho...................................................................................................... 104

    7.3.1 O respeito da sociedade ao condutor uma reinvindicao dos

    motoristas de nibus........................................................................................105

    7.3.2 O salrio alm do capital forma de valorizao pelo bom servio

    prestado..........................................................................................................107

    7.3.3 As condies de trabalho medida pelo estado do nibus:

    escritrio do motorista.....................................................................................110

    7.3.4 Propostas diretas dos motoristas para melhoria da atividade

    representada em um ciclo contnuo do mundo da vida dos profissionais:

    implicaes ....................................................................................................114

    8 O MUNDO PERCEBIDO NO CONTATO COM O MUNDO DA VIDA DO

    MOTORISTA DE NIBUS EM VIAS DE CONCLUSO................................115

    9 IMPACTO SOCIAL: O RETORNO DA DISSERTAO NA PRTICA......119

    9.1 Mosaico Rodovirio................................................................................. 121

    REFERENCIAS........................................................................................................122

    ANEXOS....................................................................................................................130

    APENDICE ...............................................................................................................134

  • 16

    1 CONSIDERAES INICIAIS

    Diariamente, mais de 88 mil pessoas se deslocam dos mais variados

    lugares na cidade de So Gonalo1. O interesse pelo presente estudo parte

    do meu cotidiano como psicloga de uma empresa de nibus, recrutando e

    selecionando candidatos, treinando, atendendo as demandas psicolgicas dos

    funcionrios e, em grande escala, os motoristas. Trata-se de lugar em que me

    deparo com algumas dificuldades, como: controle dos ndices de rotatividade,

    excesso de motoristas em medidas disciplinares, medo de envolvimento em

    acidentes de trnsito, estresse gerado pela carga horria de trabalho.

    A concepo de mundo, em Maurice Merleau Ponty, filsofo francs, diz

    respeito experincia de estar em contato, ao mesmo tempo, consigo e com o

    outro. O mundo no aquilo que eu penso, mas aquilo que eu vivo; eu estou

    aberto ao mundo, comunico-me indubitavelmente com ele, mas no o possuo,

    pois ele inesgotvel. (PONTY, 1994, pg. 17). Na relao com o passageiro,

    o motorista de nibus convocado a sentir uma gama de sensaes, desde a

    satisfao de executar o trabalho de conduzir pessoas ao destino desejado at

    mesmo desconfortos gerados por falhas na comunicao, alm de desrespeito

    ao lugar do outro, fazendo com que o corpo senta os percalos do

    relacionamento interpessoal. o motorista de nibus condutor da mquina que

    dirige na viso organizacional. Considerando os processos psicolgicos em

    questo nessas relaes, o mundo da vida do motorista de nibus insere uma

    terceira responsabilidade: consigo.

    O interesse latente em minha prtica como psicloga e em conformidade

    com o projeto j em andamento2 promover sade aos trabalhadores que

    sustentam dia-a-dia empresa. A resposta para as implicaes profissionais

    que me moveram a pensar neste plano est no segundo princpio fundamental

    descrito no Cdigo de tica do psiclogo, de agosto de 2005, que assim afirma:

    1 Programao interna da empresa F de transporte coletivo 2 Saindo da garagem sem perder a direo que ser abordado posteriormente

  • 17

    O psiclogo trabalhar visando promover a sade e a

    qualidade de vida das pessoas e das coletividades e

    contribuir para a eliminao de quaisquer formas de

    negligncia, discriminao, explorao, violncia, crueldade e

    opresso. (pg. 07).

    Em 2012, foi sancionada a Lei da Mobilidade Urbana objetiva a

    integrao dos transportes e a maior acessibilidade populao que depende

    do servio. A referida lei apresenta os objetivos da Poltica Nacional de

    Mobilidade Urbana, direciona a regulamentao do servio, garante os direitos

    dos usurios, apresenta as atribuies das esferas do governo, direciona o

    planejamento e gesto dos sistemas de mobilidade e apresenta instrumentos

    de apoio mobilidade, porm no contm nenhum indicativo de promoo de

    qualidade de vida para este profissional.

    A qualidade de vida (QV) multifatorial e pode ser definida como o grau

    de prazer e realizao pessoal na vida de um indivduo. Para um elevado nvel

    de QV, devem ser atendidas, minimamente, as necessidades bsicas de uma

    pessoa, as condies laborativas e o estilo de vida, estes contribuindo

    sobremaneira para a promoo ou no da QV, influenciando no bem estar

    fsico e emocional dos indivduos. O trabalho que no oferece ao sujeito a

    liberdade necessria para que ele use suas habilidades no exerccio de sua

    atividade resulta em sofrimento. Para Christopher Dejours apud (Rodrigues,

    lvaro e Rondina 2006, p.09) tal sofrimento um modo de defesa construda.

    Lanar mo da sade e distorcer a percepo do trabalho so

    ferramentas psquicas que se instauram para tentar dar conta do insuportvel,

    dos efeitos que o trabalho causa, da falta operante ao psiquismo muitas vezes

    pobre de sentido. Diante de tantos limites impostos pela sociedade

    contempornea e pelo sofrimento no trabalho, o resgate do trabalhador

    imprescindvel, no apenas o motivando, mas tambm lhe dando condies de

    realizar seu trabalho de forma plena. Estudos sobre seu estilo de vida e os

    fatores psicossociais aos quais esto submetidos se fazem necessrios para

    uma compreenso macro dos modos como este profissional reage s

    intempries da psicodinmica do trabalho.

  • 18

    A psicodinmica do trabalho estressante e esse fator no muda, pois o

    trabalho demanda responsabilidades, presso; toda atividade requer um

    investimento psquico por parte do trabalhador e a atividade se torna mais

    pesada e fonte de insatisfao.

    Dejours considera que a significao e o resultado do sofrimento como

    dimenso essencial no entendimento da relao sade-trabalho revela a

    importncia da escuta dos trabalhadores, para melhor compreender e dar

    visibilidade a eles, para dar sentido ao que acontece nas relaes de trabalho.

    (MILANI, 2007, p.03). Sendo assim, a proposta de desenvolvimento deste

    trabalho leva em considerao a proposta transdisciplinar importante para o

    pensamento contemporneo e contribuinte para a renovao do pensamento

    acadmico sobre o trabalho em si.

    A pesquisa disciplinar diz respeito, no mximo a um nico e

    mesmo nvel de Realidade; alis, na maioria dos casos, ela s

    diz respeito a fragmentos de um nico e mesmo nvel de

    Realidade. Por outro lado, a Transdisciplinaridade se interessa

    pela dinmica gerada pela ao de vrios nveis de Realidade

    ao mesmo tempo. A descoberta desta dinmica passa

    necessariamente pelo conhecimento disciplinar. Embora a

    Transdisciplinaridade no seja uma nova disciplina, nem 23

    uma nova hiperdisciplina, alimenta-se da pesquisa disciplinar

    que, por sua vez, iluminada de maneira nova e fecunda pelo

    conhecimento transdisciplinar. Neste sentido, as pesquisas

    disciplinares e transdisciplinares no so antagonistas, mas

    complementares. (NICOLESCU, 1999).

    As exigncias capitalistas, sociais, culturais, levaram o trabalhador da

    fora pensante fora bruta. A massificao e a coisificao do homem

    fizeram dele vtima de seu prprio corpo; se este falha, tambm o faz a funo

    atroz de produo. Os tempos modernos trouxeram desenvolvimento, mas tal

    evoluo no salvou o prazer pelo labor, no se trabalha para viver e sim se

    vive para trabalhar. A voracidade da poltica capitalista, o ter para ser leva o

    homem a consumir e a ser consumido. (TEIXEIRA e COUTO, 2010, p. 583).

    Quando o trabalho deixa de ser um lugar de satisfao e um ambiente

    de valorizao do profissional, a probabilidade de ele adoecer grande, j que

  • 19

    o sofrimento para o trabalhador pode ser considerado como uma fuga.

    Dependendo do clima no ambiente, a carga psquica acumulada, devido ao

    estresse vivido pelo trabalhador, poder articular via inconsciente, um sintoma

    no corpo do sujeito.

    O trabalho que no oferece ao sujeito a liberdade necessria para que

    ele use suas habilidades no exerccio de sua atividade resulta no sofrimento.

    Os conflitos interpessoais so uma das consequncias do sofrimento psquico.

    A defesa diante dos colegas de equipe reforada por medo de ser

    prejudicado, ainda que esse temor seja inconsciente. O trabalho como um lugar

    de construo de sentido deve levar o sujeito realizao e libertao, uma

    vez que nossas escolhas profissionais tm a ver com nossas inclinaes

    psquicas satisfao o desejo mediador entre nossa habilidade e o ser de

    fato.

    A transdisciplinaridade no invasora, no um saber dualista e de

    excluso, mas constitui se uma viso que considera o saber alm das

    disciplinas. Se pudermos entender a transdisciplinaridade como um mtodo de

    descentralizao do conhecimento, e considerarmos que o trabalhador, alm

    de estar doente, ou estressado, um corpo bio-psico-social-espiritual, e no se

    reduz ao seu sintoma (mas fala atravs dele), e que sua matria est ligada a

    emoes, pensamentos, qumica e subjetivamente, o sintoma deve ser

    compreendido a partir de um texto escrito com vrias consideraes, visando

    sempre ao aparecimento do sujeito.

    Quanto transdisciplinaridade, podemos ainda afirmar que ela no

    exclui os escritos freudianos, ou as consideraes feitas por Merleau Ponty

    sobre o corpo, mas, quando o profissional se permite olhar o horizonte depois

    de seu prprio estudo e saber sobre ele, quem ganha o cuidado.

    A apreenso das significaes se faz pelo corpo: aprender a

    ver as coisas adquirir um certo estilo de viso, um novo uso

    do corpo prprio, enriquecer e reorganizar o esquema

    corporal" (PONTY, 2006, p. 212).

  • 20

    No excluindo a importncia de Descartes para a filosofia e as cincias,

    mas considerando o conhecimento descentralizado a fim de responder

    demanda do sculo XXI, entende-se acima de tudo que o conhecimento no se

    esgota em si mesmo, que o corpo complexo e impassvel de explicao por

    uma interpretao objetiva. O trabalho em sade complexo, envolve mais do

    que conhecimentos tericos ou tcnicos, transcende teoria. Este trabalho exige

    um envolvimento com a questo do Outro a alteridade essencial. O Outro

    no objeto de estudo, no um portador de doena; o Outro um

    participante, algum que possui o mundo da vida em si.

    O motorista de nibus tem papel fundamental na manuteno do

    transporte coletivo na sociedade ps-contempornea. Fatores, como o trnsito,

    relacionamento interpessoal dentro e fora da empresa onde o motorista est

    vinculado e questes familiares, devem ser considerados ao falamos em

    mundo da vida do sujeito rodovirio. O mapeamento de trabalhos atravs do

    estado da arte ratificou a importncia do presente trabalho, j que as pesquisas

    consultadas no aproximavam os temas qualidade de vida e opinio do

    profissional de transporte coletivo.

    Percebemos que trabalhos sobre o estilo de vida e os fatores

    psicossociais aos quais os motoristas de nibus esto submetidos so

    necessrios para uma compreenso mais profunda dos modos como este

    profissional reage s intempries da psicodinmica do trabalho. O ineditismo

    do tema justifica a iniciativa pela busca de reflexes sobre o mundo da vida do

    motorista de nibus no ambiente organizacional onde atuo como psicloga,

    recrutando e selecionando candidatos, treinando, atendendo as demandas

    psicolgicas dos funcionrios e, em grande escala, os motoristas. O setor

    rodovirio carente de prticas e estudos que interpretem os sintomas dos

    sujeitos envolvidos neste setor fato, portanto, que justifica a relevncia deste

    estudo. Delimita se, assim, como:

    Objeto de estudo: o mundo da vida dos sujeitos rodovirios.

    Questes norteadoras: Quais as implicaes provocadas pelo

    cotidiano do trabalho na sade do sujeito? O que o motorista de nibus

    considera como qualidade de vida, em relao sua rotina? Quais medidas

  • 21

    resgatariam a qualidade de vida do sujeito rodovirio a partir da sua prpria

    perspectiva?

    Objetivo geral: Compreender as implicaes provocadas pelo trabalho

    na sade do sujeito que trabalha no transporte coletivo (nibus).

    Objetivos especficos: Discutir a partir da percepo do motorista de

    nibus o significado de qualidade de vida, propor estratgias de melhorias que

    resgatem a qualidade de vida.

    Relevncia: Entende-se que este estudo colaborar com as empresas

    de transporte interessadas em melhorar as condies de trabalho para o

    profissional de transporte coletivo, tendo elementos para o desenvolvimento de

    medidas que possam garantir a qualidade de vida no trabalho e

    consequentemente para o mundo da vida do motorista de nibus, bem como

    para os estudos e pesquisas realizadas no mbito da Linha de Pesquisa

    relacionada ao Cuidado em Sade e Enfermagem, do Curso Mestrado da

    Universidade Federal Fluminense.

  • 22

    2 ESTADO DA ARTE

    Para mapeamento do conhecimento produzido acerca da temtica,

    realizou-se reviso da literatura em bases de dados da Biblioteca Virtual de

    Sade (BVS), quais sejam: Literatura Latino-Americana e do Caribe em

    Cincias da Sade (LILACS) e Base de Dados ndex em Psicologia e BDENF.

    Como termos de busca, foi utilizada a palavra chave motorista. posteriormente

    foi utilizada motorista de nibus. Incluram-se na reviso apenas os artigos

    nacionais publicados em peridicos da rea da sade. Foram excludos os

    artigos que no abordavam sobre a temtica deste estudo que estivessem em

    lngua estrangeira e os que no estavam disponveis na ntegra, em meio

    eletrnico. A busca foi realizada entre Setembro e Novembro de 2013

    A busca das publicaes na LILACS se deu, inicialmente, por meio do

    uso da palavra motorista. nessa etapa, retornaram sessenta e duas

    publicaes. Foram selecionados doze artigos desta base, pois atendiam

    proposta deste trabalho. um artigo completo relacionando a micropoltica da

    atividade, um trabalho completo relacionando sade mental e ao afastamento

    do trabalho, um artigo completo sobre associao entre presso arterial e

    estresse, um artigo completo acerca da viso de trabalho para o motorista e o

    cobrador, um tese sobre a mulher no volante, um artigo completo sobre o ofcio

    de motorista de nibus. foi encontrado tambm um artigo completo sobre o

    motorista agressivo, trs artigos completos sobre sintomas em motorista de

    nibus. Na base Scielo, foram encontrados vinte e nove artigos que tinham

    descritor motorista, porm foram utilizadas cinco publicaes que eram

    especficas de motorista de nibus.

    Na base de dados ndex Psi, retornaram seis publicaes, porm foram

    selecionados apenas dois trabalhos: um artigo completo relacionando a

    condies de trabalho do motorista de nibus, um artigo acerca da ergonomia

    do motorista do nibus. Na base BDENF, resultou sete, utilizou-se um artigo

    que correspondia com a temtica deste trabalho. As demais publicaes,

    apesar de terem o descritor motorista, foram excludas, pois tratavam de outra

    categoria de motorista. Ao realizar o corte temporal de 2002 a 2013, devido

    relevncia desses trabalhos quanto aos assuntos abordados, retornaram 98

  • 23

    publicaes, porm, destas, apenas vinte e trs publicaes falavam de fato do

    motorista de nibus. Foram lidas trs teses na ntegra e vinte artigos

    relacionados com o tema e analisados luz da proposta deste estudo.

    QUADRO 1: Categorizao dos artigos encontrados na base de dados LILACS

    Os artigos foram organizados pelo protocolo contendo o ttulo, resultados,

    autores, tipo de estudo, peridico, ano e grau de relevncia.

    Ttulo Resultados Autores Tipo do

    estudo

    Peridico Ano Grau

    de

    relevn

    cia

    Associao entre

    presso arterial e

    estresse

    percebido em

    motoristas de

    nibus

    Os resultados apresentados

    mostram que 18, dos 46 motoristas

    de nibus, encontram-se hipertensos

    e que 100% se percebem

    estressados, comparando-se com a

    tabela normativa, tanto norte-

    americana, quanto sul-brasileira.

    Assim, fazem-se necessrias novas

    pesquisas para averiguar qual fator

    est relacionado hipertenso

    arterial, para que se possa ter um

    controle maior sobre eles.

    SILVA,

    A.M.B,

    KELLER, B

    COELHO,

    R.W

    Quantitativo Rev.Inst.Cienc

    .Sade

    2013 B3

    Acessibilidade

    em transporte

    coletivo urbano

    na perspectiva

    dos motoristas e

    cobradores

    Os resultados apontam que a frota

    de nibus coletivos em circulao na

    cidade, na empresa pesquisada, de

    acordo com as consideraes dos

    respondentes, apresenta

    equipamentos inadequados, o que

    repercute em uma acessibilidade

    restrita devido a diversos fatores,

    como falta de manuteno

    preventiva e peridica, dificuldade de

    acesso por parte de usurios

    especficos e falta de instalao dos

    dispositivos de acessibilidade nos

    veculos, dentre outros.

    CAVALCAN

    TI, A,

    ALVES, A.L,

    VIEIRA,

    A.F.R, et al.

    Quantitativo Psic.estu.

    Universidade

    Estadual de

    Maring

    2013 A2

    Micropoltica da

    atividade

    Sendo a dimenso subjetiva

    presente na prescrio tambm,

    preciso question-la. Desde outro

    ponto de vista, em que a

    subjetividade no seja to somente

    elemento a considerar na

    reformulao racional dos meios.

    Passa-se a questionar os prprios

    ZAMBONI,

    J, DE

    BARROS,

    M.E. B

    Qualitativo Barbari-

    Biblioteca

    Central

    2012 B2

    http://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-677817http://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-677817http://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-677817http://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-677817http://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-677817http://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-677817

  • 24

    objetivos da organizao do

    trabalho, em funo da atividade dos

    sujeitos. A produo desejante

    coletiva irrompe na organizao do

    trabalho, excedendo a mera

    considerao das condies

    estabelecidas de trabalho, pelos

    seus processos de

    institucionalizao como

    irracionalizao das razoabilidades

    assentadas, dando margem

    produo de outras razes para

    trabalhar, ou melhor, outros sentidos

    e modos de produzir.

    Sentidos do

    trabalho e do

    afastamento por

    problemas de

    sade mental

    para motoristas

    de transporte

    coletivo urbano:

    um estudo de

    caso

    Os sentimentos do afastamento

    so vividos de forma intensa,

    indicando a importncia de aes

    organizacionais que procurem

    auxiliar o trabalhador no

    desenvolvimento de estratgias de

    proteo, visando a uma melhor

    adaptao/sade. Assim, a proposta

    de criao de um ambulatrio que

    tenha um olhar menos clnico e mais

    voltado para a promoo de sade

    pode ser uma interveno frtil no

    ambiente das organizaes. Um

    ambiente acolhedor, de escuta para

    esses trabalhadores, parte da ideia

    de Carreteiro (2003), citado por

    Ramos et al. (2008), que define o

    acolhimento como as condies de

    suporte, presentes no contexto do

    trabalho, que funcionam como apoio.

    GONCALVE

    S, J;

    BUAES, C.

    S.

    Quanti-quali Cad.psicol.soc

    .trab

    2011 B2

    Quem d mais,

    cobra mais!":

    Uma anlise das

    normas

    antecedentes do

    ofcio de

    motorista de

    nibus em um

    contexto

    especfico

    O que est, entretanto, por trs

    desse ser leo, suas implicaes e

    impactos sobre a sade, incluindo a

    a possibilidade de estar presente

    certa ideologia defensiva criada por

    esses trabalhadores para suportar o

    cotidiano, so questes que

    merecem ser pensadas. Resta

    investigar, no real do trabalho, que

    ajustes so realizados por esses

    trabalhadores, como estes podem

    revelar tanto as estratgias de

    defesa quanto a legtima

    criatividade, alm do savoir-faire e

    inteligncia que atuam no trabalho

    real.

    PRANGE, A.

    P

    Qualitativo Estud.e

    pesquisa em

    psicologia

    2011 B1

    Mulheres ao

    volante: uma

    anlise de

    gnero, sade e

    trabalho em

    As diferentes repercusses do

    trabalho na sade de mulheres e de

    homens que desempenham a

    mesma funo devem considerar a

    atribuio da realizao dos

    trabalhos domsticos por elas. No

    VELLOZO,

    D. P.M.

    Qualitativo Biblioteca de

    sade pblica

    2010 A2

  • 25

    mulheres

    motoristas de

    nibus na cidade

    do Rio de Janeiro

    entanto, no podemos afirmar que o

    mesmo ocorre com os homens no

    que concerne ao biscate. Assim,

    convm a realizao de novos

    estudos que abordem o trabalho

    masculino, de forma a correlacion-

    lo com equivalentes acoplagem

    dos trabalhos domsticos, como o

    biscate.

    A gesto da

    atividade do

    motorista de

    nibus: um olhar

    ergolgico

    Fica evidente que os valores

    dimensionados e no-

    dimensionados, como diz Schwartz,

    esto presentes nos constantes usos

    de si, tanto com relao ao prprio

    motorista quanto na relao entre

    ele e os outros. Temos a uma

    dramtica incontornvel do trabalho

    humano frente s adversidades do

    meio.

    PINTO, FM,

    NEVES, MY

    Qualitativo Estud.e

    pesquisa em

    psicologia

    2009 B1

    Cenrios da

    agresso no

    trnsito: a

    percepo que

    as pessoas tm

    de um motorista

    agressivo

    A populao geral ainda hesita em

    confiar no trabalho do psiclogo,

    perito, examinador de trnsito

    (Gouveia et al., 2002), talvez por no

    perceber que sua avaliao tenha

    conexo com os fatos em situao

    real de trnsito. Neste sentido,

    parece evidente que cada dia mais

    os psiclogos devam ter a premissa

    na escolha dos testes, cabendo-lhes

    fundamentar sua necessidade.

    igualmente preciso repensar o

    processo de avaliao.

    GOUVEIA,

    Valdiney V.

    et al .

    Quantitativo Cad.Ter.Ocup.

    UFSCAR

    2008 B3

    Sintomas de

    distrbios

    ostemomuscular

    es em motorista

    e cobradores de

    nibus

    A prevalncia de sintomas de

    distrbios osteomusculares mostrou-

    se acentuada nos motoristas e

    cobradores e estes no

    apresentaram associao com

    jornada de trabalho, nvel de

    atividade fsica e estado nutricional.

    Estes resultados indicam a

    necessidade de novos estudos

    longitudinais e prospectivos e com

    amostra representativa. A fim de

    obter melhorias no ambiente de

    trabalho, preservar a sade do

    trabalhador e aprimorar a qualidade

    dos servios prestados, programas

    educacionais e de carter preventivo

    podem ser institudos.

    CARNEIRO

    L.V, A. V.;

    BARBOSA

    Quantitativo Rer.bras.ciean

    tropom.

    desempenho

    hum

    2007 B2

    Promoo e

    divulgao de

    medidas

    educativas em

    circulao

    Como procuramos desenvolver

    nesse trabalho, constatamos que a

    problemtica do trnsito tambm

    est globalizada. Do 37 Congresso

    de Psicologia do Trnsito, realizada

    recentemente pelas Associaes e

    ALMEIDA,

    N.D.V

    Qualitativo Psicol.argum. 2006 B2

  • 26

    QUADRO 2: Categorizao dos artigos encontrados na base de dados

    SCIELO. Os artigos foram organizados pelo protocolo contendo o ttulo,

    resultados, autores, tipo do estudo, peridico, ano e grau de relevncia.

    humana: em

    questo o

    fenmeno

    trnsito

    Federaes de Psiclogas e

    Psiclogos de Trnsito da

    Alemanha, ustria e Sua, podemos

    destacar alguns pontos, comuns

    com a realidade brasileira, que foram

    amplamente discutidas e debatidas

    sobre a interveno do psiclogo do

    trnsito na promoo e divulgao

    de medidas educativas de

    segurana no trnsito para a

    sociedade (Rozestraten, 2000b).

    Assim sendo, para Arajo (2003),

    faz-se necessrio um amplo trabalho

    sobre o comportamento no contexto

    virio, somado a um trabalho

    educativo, preventivo, interventivo e

    normativo eficaz, que atinja

    principalmente os futuros condutores

    e os jovens condutores com o

    objetivo de desenvolver atitudes

    compatveis com a almejada

    segurana no trnsito.

    Acidentes e

    doenas do

    trabalho de

    profissionais do

    setor transporte:

    anlise dos

    motoristas no

    Estado de So

    Paulo, 1997 a

    1999

    Por todos esses motivos, pode-se

    responder ao porqu de estudar os

    acidentes do trabalho e buscar, na

    transdisciplinaridade, caminhos para

    a elaborao de propostas que

    possibilitem Sade Pblica, aos

    Governos, s Ongs buscarem

    medidas efetivas e de qualidade

    para diminuir a ocorrncia dos

    acidentes do trabalho e contribuir

    para a melhoria da sade do

    trabalhador.

    TEIXEIRA,

    M.L.P

    Quantitativo Faculdade de

    sade pblica-

    USP

    2005 No se

    aplica

  • 27

    Ttulo Resultados Autores Tipo do

    estudo

    Peridico Ano Grau de

    relevncia

    Indicadores

    psicossociais

    relacionados a

    acidentes de

    trnsito

    envolvendo

    motoristas de

    nibus

    No que diz respeito aos

    indicadores relativos a situaes

    potencialmente preocupantes,

    verificou-se que dirigir atrasado,

    preocupaes com o sono e

    problemas familiares foram as

    situaes que mais se destacaram

    em relao ao envolvimento dos

    motoristas participantes deste

    estudo em acidentes de trnsito.

    Sugere-se s empresas do setor

    de transporte pblico de

    passageiros uma reavaliao das

    polticas, de forma a reduzir o

    nmero de horas extra,

    respeitando a jornada

    estabelecida no acordo coletivo da

    categoria, e estimular o gozo

    integral das frias dos condutores

    como uma maneira de aliviar o

    estresse e aumentar a qualidade

    do trabalho e de vida.

    OLIVEIRA, A.

    C.F, PINHEIRO,

    J.Q.

    Qualitativo Psic.estu.

    Universidade

    Estadual de

    Maring

    2007 A2

    Condies de

    trabalho e sade de

    motoristas de

    transporte coletivo

    urbano

    Quanto ao desgaste fsico, que

    acaba por influenciar nos nveis de

    fadiga e estresse, a educao

    pode ser voltada a aspectos

    especficos da profisso de

    motorista, como o fato de trabalhar

    sentado e forar constantemente

    os membros inferiores (na

    acelerao e frenagem).

    Programas educacionais e de

    conscientizao que levem at

    esse profissional o ensino de

    tcnicas de alongamento e auto-

    correo postural, por exemplo,

    podem tornar-se alternativas que

    possibilitem a reduo de danos

    ao sistema msculo-esqueltico,

    possibilitando ao motorista realizar

    essas tcnicas durante sua

    jornada diria de trabalho..

    BATTISTON, M.

    CRUZ, R. M,

    HOFFMANN, M.

    H

    Quanti-

    quali

    Estud.psicol.

    ( Natal)

    2006 A2

    As relaes de

    gnero e as

    percepes

    dos/das motoristas

    Pretende-se dar continuidade

    investigao realizada, explorando

    novas perspectivas dos dados

    aqui obtidos, tendo presente,

    tambm, que o tema no se

    esgota, nem essa a nossa

    ALMEIDA, N.

    D.V. et al

    Qualitativo Psicol.Cienc.

    Profisso.

    Conselho

    Federal de

    2005 A2

  • 28

    no mbito do

    sistema de trnsito.

    pretenso; pelo contrrio, o tema

    abre possibilidades de novas

    leituras, o que nos incita a

    curiosidade e o desejo de,

    posteriormente, desenvolver

    novas reflexes em que o tempo

    presente exige considerar o objeto

    da Psicologia inserido

    historicamente na interface entre o

    espao pblico (em especial no

    trnsito) e o privado para a

    construo do bem-estar e da

    qualidade de vida de homens e

    mulheres.

    Psicologia

    Estudo sobre a

    exposio

    combinada entre

    rudo e vibrao de

    corpo inteiro e os

    efeitos na audio

    de trabalhadores

    Efeitos sade produzidos por

    exposies combinadas entre VCI

    e rudo tm sido investigadas

    sobretudo em estudos

    experimentais, cujo efeito

    analisado tem sido a mudana

    temporria de limiar. A presente

    pesquisa, ao contrrio, teve a

    peculiaridade de ser observacional

    e analisar, como efeito, a

    mudana permanente de limiar,

    representada pela PAIR.

    SILVA, L.F. e

    MENDES, R.

    Quantitativ

    o

    Rev. De

    sade

    pblica

    2005 B2

    Contemporaneidad

    e X trnsito

    reflexo

    psicossocial do

    trabalho dos

    motoristas de

    coletivo urbano.

    Queixas relatadas pelos

    motoristas com relao a conforto

    e higiene so condies mnimas

    s quais todo (a) trabalhador(a)

    tem direito. Torna-se urgente a

    instalao de sanitrios e o

    fornecimento de gua potvel nos

    pontos finais, ao mesmo tempo,

    nesses locais deveria haver um

    espao onde o motorista se

    isolasse do pblico. considerado

    essencial populao. O Estado,

    por meio de polticas de

    transportes pblicos, tem um

    papel importante nesse processo,

    sendo corresponsvel pelas

    melhorias.

    ALMEIDA, N.D.

    V

    Qualitativo Psicol.Cienc.

    Profisso.

    Conselho

    Federal de

    Psicologia

    2002 A2

  • 29

    QUADRO 3: Categorizao dos artigos encontrados na base de dados

    PEPSIC. Os artigos foram organizados pelo protocolo contendo o ttulo,

    resultados, autores, tipo do estudo, peridico, ano e grau de relevncia.

    Ttulo Resultados Autores Tipo do

    estudo

    Peridic

    o

    Ano Grau de

    relevncia

    Tecnologia e

    trabalho: sentidos

    produzidos no

    cotidiano do

    transporte coletivo

    Ao analisarmos as vivncias e as

    relaes estabelecidas no

    cotidiano de trabalho dos

    cobradores a partir da introduo

    das diversas ferramentas que

    compem o SIT, em especial, a

    catraca eletrnica, foi possvel

    observar a emergncia de prticas

    discursivas contraditrias

    associadas a esse contexto.

    ALMASO,

    S. A. R,

    COUTINH

    O, M. C

    Qualitativo Arq.bras.

    psicol.

    2010 A2

    Violncia no

    trabalho: possveis

    relaes entre

    assaltos e TEPT em

    rodovirios de uma

    empresa de

    transporte coletivo

    Considerando o carter essencial

    dos servios de transporte coletivo

    no atendimento a uma das

    necessidades bsicas da maioria

    da populao que ocupa os

    centros urbanos, acreditamos que

    o impacto dos assaltos na sade

    mental dos rodovirios merece a

    ateno de atores sociais

    envolvidos na prestao desse

    servio de utilidade pblica.

    ALVES,

    C.R.S, DE

    PAULA,

    P.P.

    Qualitativo Cad.psic

    ol.soc.tra

    b.

    2009 B2

    Sade mental e

    trabalho:

    estratgias dos

    motoristas de

    nibus frente

    insegurana

    Esta pesquisa pretendeu contribuir

    para as questes de sade no

    trabalho e tentou dar visibilidade a

    situaes geradoras de

    sentimentos de insegurana e

    sofrimento psquico e que possam

    vir a ser modificadas no s da

    sade de quem trabalha, mas

    tambm da qualidade do trabalho

    prestado populao.

    ARAUJO,

    M. S.C.

    Qualitativo Tese

    apresnta

    da a

    Universid

    ade

    Federal

    da

    Paraba

    2008 No se

    aplica

  • 30

    QUADRO 4: Categorizao dos artigos encontrados na base de dados BVS.

    Os artigos foram organizados pelo protocolo contendo o ttulo, resultados,

    autores, tipo do estudo, peridico, ano e grau de relevncia.

    Ttulo Resultados Autores Tipo do

    estudo

    Peridico Ano Grau de

    relevncia

    Avaliao dos

    fatores de risco

    laborais e fsicos

    para doenas

    cardiovasculares

    em motoristas de

    transporte urbano

    de nibus em

    Montes Claros

    (MG)

    No presente estudo, a prevalncia

    para doena cardiovascular

    mostrou-se baixa, sendo que os

    principais fatores de risco para

    doenas cardiovasculares foram:

    sedentarismo, histria familiar

    positiva e aumento da

    circunferncia abdominal. Os

    principais indicadores para

    doenas cardiovasculares obtidos

    atravs dos exames laboratoriais

    demostraram hipertrigliceridemia e

    hipercolesterolemia. Contudo, os

    nveis de HDL estavam

    satisfatrios, bem como o LDL

    apresentou nvel normal e

    desejvel em mais da metade da

    amostra.

    ALQUIMIM

    , A.F et al

    Quantitativo Cinc.sade

    coletiva

    2012 B1

    Doenas do sono

    associadas a

    acidentes com

    veculos

    automotores:

    reviso das leis e

    regulamentaes

    para motoristas.

    Nesse momento, importante

    frisar que a adoo dessas

    normas e de outras baseadas na

    legislao de outros pases deve

    ser mais breve possvel, pois

    sabemos que a preveno, mais

    que a represso, a sada para

    diminuir os ndices assustadores

    de violncia no trfego. Esse um

    desafio que, sem dvida, estimula

    e agua o mdico. Ao saber quo

    dolorosos eles se apresentam aos

    indivduos e sociedade,

    tornamo-nos peas fundamentais

    na discusso e adequao desse

    verdadeiro flagelo social que so

    os acidentes de trnsito.

    WEBER,

    S.A.T,

    MONTOVA

    NI J. C.

    Qualitativo Rev. Bras.

    Otorrinolaringo

    logia SBROL

    2002 B4

  • 31

    QUADRO 5: Categorizao do artigo encontrado na base de dados BDENF. O

    artigo fora organizado pelo protocolo contendo o ttulo, resultados, autores, tipo

    do estudo, peridico, ano e grau de relevncia.

    Ttulo Resultados Autores Tipo do

    estudo

    Peridico Ano Grau

    de

    relevn

    cia

    Fatores de risco

    para hipertenso

    arterial:

    investigao em

    motoristas e

    cobradores de

    nibus

    A extenso da influncia dos

    fatores de risco para alteraes

    cardiovasculares ainda objeto de

    investigaes, principalmente com

    relao a determinadas atividades

    ocupacionais, sobretudo em

    pases em desenvolvimento,

    resultando em grande

    desvantagem em relao aos

    pases desenvolvidos. Acredita-se

    que o enfermeiro possa

    desempenhar um papel

    imprescindvel para a modificao

    efetiva do cenrio encontrado,

    dando ateno especial aos

    ndices de sobrepeso e obesidade,

    em contraposio ao grande

    nmero de sedentrios, incluindo

    os cuidados na manuteno de

    uma alimentao adequada com

    frutas e verduras.

    CHAVES,

    DBR.

    COSTA,

    AGS.

    OLIVEIRA,

    ARS

    Quantitativo Rev.

    Enferm.UERJ

    2008 B1

    http://pesquisa.bvsalud.org/enfermagem/resource/pt/bde-15137http://pesquisa.bvsalud.org/enfermagem/resource/pt/bde-15137http://pesquisa.bvsalud.org/enfermagem/resource/pt/bde-15137http://pesquisa.bvsalud.org/enfermagem/resource/pt/bde-15137http://pesquisa.bvsalud.org/enfermagem/resource/pt/bde-15137http://pesquisa.bvsalud.org/enfermagem/resource/pt/bde-15137http://pesquisa.bvsalud.org/enfermagem/resource/pt/bde-15137

  • 32

    QUADRO 6: Categorizao da tese encontrada na Universidade Federal do Rio

    Grande do Norte. O trabalho foi organizado pelo protocolo contendo o ttulo,

    resultados, autores, tipo do estudo, peridico, ano e grau de relevncia.

    notria a preocupao com os rodovirios das mais variadas reas de

    conhecimento. cada uma em sua especificidade debrua-se sobre os sujeitos

    que trabalham no trnsito das grandes cidades dia a dia estressante. A

    pluralidade de cincias envolvidas na discusso, apresentao, descrio da

    realidade desses trabalhadores contribui para aproximar o setor rodovirio de

    uma realidade de trabalho mais preocupada com o bem estar daqueles que

    fazem a mobilidade urbana acontecer. Ao percorrer as obras citadas,

    destacamos que o olhar para o motorista de nibus indispensvel a fim de

    garantir a eficincia dos servios prestados populao.

    Observamos que a responsabilidade das empresas de nibus grande

    diante de tantos desafios impostos pelo governo do pas, pelos clientes que

    usufruem do nibus e tambm pelos motoristas, porm compreendemos que

    as melhorias de condies de trabalho para os trabalhadores interferem

    diretamente na qualidade do servio e no rendimento positivo das empresas. O

    Ttulo Resultados Autores Tipo do

    estudo

    Peridico Ano Grau de

    relevncia

    As fontes de

    desgaste fsico e

    emocional e a

    Sndrome de

    Burnout no setor

    de transporte

    coletivo urbano de

    Natal

    Considerando que a sndrome de

    burnout j reconhecida no Brasil,

    pelo Ministrio do Trabalho, como

    doena ocupacional, como

    referido anteriormente, a mesma

    deve passar a ser uma

    preocupao das organizaes,

    inclusive, para evitar sofrerem

    penalidades trabalhistas. Os

    resultados deste trabalho

    apontaram a importncia de

    variveis do ambiente de trabalho

    para a predio dos fatores de

    burnout. Recomenda-se que as

    estratgias de combate

    sndrome sejam desenvolvidas em

    mbito organizacional e de

    polticas pblicas.

    GIANASI,

    L.B.D.S

    Quantitativ

    o

    Tese

    apresentad

    a a UFRN

    2004 No se aplica

  • 33

    primeiro trabalho apresentou um panorama quantitativo acerca do estresse dos

    motoristas que participaram da pesquisa, os nmeros resultantes

    encaminharam os pesquisadores para uma nova pesquisa quantitativa. os

    pesquisadores evitaram as subjetividades dos trabalhadores, como afirmaram

    na concluso deste trabalho. Contextualizando este resultado, notamos que a

    avaliao da subjetividade do motorista de nibus permitiria uma concluso

    para alm do sintoma que ele apresenta.

    O objetivo do trabalho de CAVALCANTI, A, ALVES, A.L, VIEIRA, A.F.R,

    et al, 2013, foi mostrar a viso dos motoristas e cobradores sobre a

    acessibilidade em transporte coletivo. o exposto neste trabalho leva-nos

    concluso de que os trabalhadores respondem pela empresa ao longo da

    jornada de trabalho. As satisfaes e insatisfaes dos usurios so

    testemunhadas pelos motoristas e cobradores, que expuseram na pesquisa a

    necessidade de manuteno dos equipamentos e a adequao dos

    equipamentos da acessibilidade para as necessidades dos usurios. Quando a

    manuteno preventiva falha, a influncia negativa sobre o servio prestado

    transforma-se em hostilidade por parte dos clientes.

    Doze trabalhos consultados: SILVA, A.M. B, KELLER, B COELHO, R.W,

    2013, ALQUIMIM, A.F et al, 2012, GONCALVES, J; BUAES, C. S. 2011,

    ARAUJO, M. S.C 2008, VALDINEY V. et al 2008, CHAVES, DBR. COSTA,

    AGS. OLIVEIRA, ARS, 2008, CARNEIRO L.V. BARBOSA 2007, BATTISTON,

    M. CRUZ, R. M, HOFFMANN, M. H 2006, SILVA, L.F MENDES, R 2005,

    GIANASI, L.B.D. S, 2004, WEBER, S.A. T, MONTOVANI J. C, 2002, ALMEIDA,

    N.D. V, 2002 abordaram problemticas no mbito da sade do trabalhador,

    sintomas, muitas vezes, gerados pelo prprio trabalho. Eles so relevantes

    para este estudo, j que a qualidade de vida est diretamente ligada s

    condies de sade do profissional. O desgaste corporal, a exposio a fatores

    de risco devem ser preocupaes das organizaes para contribuir com

    polticas de segurana a integridade fsica dos trabalhadores.

    Interessante destacar que em um trabalho quantitativo realizado para

    relacionar problemas cardiovasculares e funo de motorista, o resultado da

    pesquisa refutou o objetivo do estudo. As doenas cardiovasculares naquele

  • 34

    grupo foram geradas pela juno de histrico familiar e alimentao

    inadequada. Aspectos psicolgicos foi tema de trs artigos estudados

    GONCALVES, J; BUAES, C. S, 2011, ALVES, C.R. S, DE PAULA, P.P 2009,

    GOUVEIA, V. et al 2008) sugeriram maiores estmulos a programas de

    promoo de sade ao trabalhador a fim de prevenir que o profissional adoea.

    Importante destacar questes psicolgicas que aparecem como recurso para o

    sujeito olhar para si, no af de cumprir a jornada de trabalho sob as

    dificuldades variadas do ramo, o motorista de nibus sofre e compromete sua

    sade, em destaque o artigo 09 que estudou a questo do assalto a coletivo e

    sua consequncia na sade mental do profissional.

    O trnsito foi tema base dos trabalhos de ALMEIDA, N.D. V et al, 2005 e

    2006, ambos trabalhados abordam a temtica como aspecto para ateno do

    governo, politicas educativas salvaguarda a paz no trnsito, a segurana para

    os prprios trabalhadores e usurios.

    Os artigos de ZAMBONI, J. DE BARROS, M.E. B, 2012 e PINTO, F.M. e

    NEVES, M.Y, 2009 abordam a questo ergonmica no transporte. O estudo se

    refere s necessidades da organizao quanto ao trabalho do motorista de

    nibus. Ainda que este profissional trabalhe em uma posio ergonomicamente

    confortvel, este trabalhador um ser desejante. Importante destacar que os

    interesses das organizaes no deveriam ir contramo das condies

    satisfatrias de trabalho para o motorista de nibus.

    Infelizmente, acidentes envolvendo coletivos, apesar de evitveis,

    acontecem. Os trabalhos de OLIVEIRA, A.C. F, PINHEIRO, J.Q, 2007 e

    TEIXEIRA, M.L. P, 2005 abordam o assunto, considerando como consequncia

    pelo no cumprimento de aspectos bsicos, como: tempo de descanso, frias

    integrais, as principais causas de avarias.

    Em mobilidade urbana, aspectos tecnolgicos promovem segurana ao

    trabalhador, mas a representao delas para os trabalhadores

    responsabilidade da organizao, a fim de ter efetivamente as tecnologias

    funcionando e sendo utilizadas no cotidiano do transporte. (ALMASO, S.A. R,

    COUTINHO, M.C, 2009).

  • 35

    As representaes da identidade profissional foram abordadas nos

    artigos 06 e 07, o trabalho real no transporte coletivo foi conhecido a partir de

    opinio e relato dos prprios motoristas, apontando para novos estudos que

    valorizem o trabalho em transporte coletivo para a manuteno da mobilidade

    urbana.

  • 36

    3 FUNDAMENTAO TERICA

    A fenomenologia o estudo das essncias, e todos os problemas, segundo ela, resumem-se em definir essncias: a essncia da percepo, a essncia da conscincia, por exemplo. (PONTY, 1999, p.05).

    O ponto de partida para a interpretao fenomenolgica acerca do

    conhecimento romper com o pragmatismo das cincias positivistas que tm,

    na experincia, recursos para medir, quantificar, determinar um objeto. Tal

    movimento nem sempre fcil, pois o ensino acadmico influenciado pela

    objetividade da experincia, da universalidade dos fatos. Precisamos

    esclarecer que esta colocao no uma crtica ao pensamento biomdico;

    tais colocaes so necessrias para compreender a interpretao da

    Fenomenologia de Maurice Merleau Ponty, como uma vertente de pensamento

    diferenciada no superior nem inferior s demais cincias.

    Faz-se necessrio para o entendimento das interpretaes que este

    trabalho tem por base, citar o que Ponty assesta sobre o sujeito, em sua obra

    Fenomenologia da Percepo, (1999, p. 07):

    Eu no sou o resultado ou o entrecruzamento de mltiplas causalidades que determinam meu corpo ou meu "psiquismo", eu no posso pensar-me como uma parte do mundo, como o simples objeto da biologia, da psicologia e da sociologia, nem fechar sobre mim o universo da cincia.

    Destacamos tambm o pensamento freudiano para lanarmos mo do

    processo de interpretao de conceitos, como corpo, sintoma, adoecimento,

    linguagem, entre outros.

    3.1 O corpo perceptvel em Ponty

    A Fenomenologia pode ser definida como a filosofia vivenciada. Em

    Ponty, a percepo no est afastada do corpo, mas sim a concebe como

    acolhimento do ser no mundo.

  • 37

    Na viso clssica do empirismo e do intelectualismo o juzo

    que, aliado sensao, forma a percepo. Porm, Merleau-

    Ponty segue na crtica a esse legado clssico ao dizer que se a

    percepo interpreta, ela s o faz a partir do mundo, com

    sentido sensvel, anterior a qualquer juzo. (REIS, 2008, p.03)

    Por ser uma linha terica filosfica prope-se a compreender os

    significados dos fenmenos, os quais podem considerar como significaes a

    partir de nossa compreenso acerca de acontecimentos, expresses. Esta

    teoria filosfica no comporta qualquer pr-julgamento ou preconceito por parte

    do agente da pesquisa. Por exemplo, a escrita de Merleau-Ponty repleta de

    sentido subjetivo. A leitura que o mesmo faz sobre os juzos clssicos parte

    sempre do princpio da experincia, no razo pura da experincia, a

    singular, a compreenso una de si consigo e de sua relao com o mundo

    atravs da percepo do sujeito acerca do fenmeno que compreenderemos o

    mundo da vida do sujeito, neste trabalho: o sujeito rodovirio.

    O que habita o mundo o corpo, a parte material de ns mesmos. Esse

    corpo capaz de sentir e, sentindo, capaz de relacionar se. Merleau-Ponty

    Ponty quer dizer que o corpo est junto ao mundo. Esse corpo consciente,

    suas mos tateiam as coisas e reconhecem o espao. Para a teoria pontyana,

    o corpo s corpo em relao com o mundo, e esse corpo no o que

    conhecemos dissecado, exaustivamente estudado, no o corpo

    cientificamente construdo. O corpo que habita o espao corpo fenomenal e

    se insere existencialmente no espao. (REIS, 2011, p.07). A inovao do

    pensamento pontyano para a poca e a posteridade foi justamente o

    rompimento com o corpo da conscincia separado do corpo biolgico, o retorno

    ao significado. O estudo da essncia dita quase erudita posiciona o objeto de forma

    subjetiva e reflexiva, colocando o conhecimento fisiolgico luz do existencialismo.

    Tal filosofia transcendental proposta por Merleau-Ponty supera

    o sujeito transcendental kantiano, pois neste no h o

    problema do outro, uma vez que conhece a si mesmo atravs

    de uma constituio inteiramente subjetiva. (REIS, 2008, p. 06).

  • 38

    Podemos afirmar que a concepo de corpo rompe com as ideias

    anteriores, uma vez que a questo norteadora do pensamento fenomenolgico

    quanto ao corpo no reside na definio de duas instncias divididas,

    exercendo funes antagnicas. O corpo em fenomenologia aparece em uma

    espcie de zona hbrida entre o subjetivo e o objetivo, no se reduzindo nem a

    uma soma de processos em terceira pessoa nem ao invlucro de uma

    conscincia. (MOURA, p. 56, 2006). O marco epistemolgico de Ponty a

    retirada da conscincia, a responsabilidade de responder significao de que

    o corpo no ato puro do sujeito, mas existente no mundo. O corpo, portanto,

    o lugar de resposta para essa significao.

    Meu corpo no alguma coisa que eu tenho; eu sou meu corpo. Ao estabelecer o contato com outra pessoa, eu me revelo pelos gestos, atitudes, mmica, olhar. (A. M. Luijpen apud Moura, p. 275).

    o corpo para Ponty que d sentido ao mundo em si para ns. A

    situao do corpo no mundo dialtica, sendo esta a tenso de uma existncia

    a outra e no a unio de uma terceira nesta relao, como a dialtica

    hegeliana. (REIS, 2011, p.09). Isto significa que, ao mesmo tempo em que o

    corpo percebido pelo mundo, este me dado pelo corpo. A percepo est

    nos processos corporais, est posta no mundo e este mundo para o filosofo

    instncia tambm psquica, no apenas um espao fsico onde habitamos. O

    homem est no mundo e no mundo que se conhece (Ponty, p.09, 1999).

    Podemos afirmar que Ponty teoriza a percepo livre do criticismo da cincia,

    mas parte dela para instaurar uma nova forma de pensar conceitos

    previamente tomados com rigor indivisvel. Corpo mundo, carne,

    fenmeno, conscincia. Ponty une esses conceitos brilhantemente,

    considerando a percepo de um objeto pelo sujeito como sendo algo em

    harmonia com sua forma, partindo da conscincia, sendo, mais ainda, a

    conscincia caminho para o objeto tomar forma de um fenmeno a partir do

    significado que o sujeito lhe deu.

    O corpo (...) este lugar da natureza em que, pela primeira vez

    os acontecimentos em lugar de impelirem se uns aos outros no

    ser, projetam em torno de presente um duplo horizonte de

    passado e de futuro e recebem uma orientao histrica. Aqui

  • 39

    existe uma invocao, mas no a experincia de um naturante

    eterno. Meu corpo toma posse do tempo ele faz um passado e

    um futuro existirem para um presente, ele no uma coisa, ele

    faz o tempo em lugar de padece lo. (Ponty, 1999, p. 321).

    3.2 O mundo perceptvel conhecido pelo corpo

    Um importante passo para a construo deste trabalho compreender e

    dissertar sobre o mundo, conhec-lo atravs do seu significado na

    Fenomenologia pontyana. O mundo no o lugar apenas de ser ou estar, no

    esttico, como o mapa. O mundo no apenas o discurso do outro,

    espacialidade de acontecimentos. Ele parte do que somos e est em ns,

    no pelo vis da conscincia, mas da prpria interao. O espao no o

    ambiente (real ou lgico) em que as coisas se dispem, mas o meio pelo qual a

    posio das coisas se torna possvel. (p.327)

    Os sentidos e instncias de percepo do corpo em Merleau Ponty so

    fortes, j que o autor dedica seu discurso s sensaes na obra

    Fenomenologia da percepo. Essa interao dos sentidos (corpo-mundo-

    linguagem) exaustivamente descrita nesta obra basal para esse trabalho e

    nos possibilitar compreender um novo eu. A partir desse significado,

    possvel decifrar o discurso do motorista de nibus, participantes deste trabalho

    que fonte de sentido. O sentir desses profissionais acerca de fenmenos

    cotidianos, em sua prtica, desvelar o conhecimento da essncia do

    pensamento de melhorias a partir do prisma de significados desses

    profissionais, sem a rigidez de preconceitos e saberes pr-concebidos, como o

    prprio Ponty ensinou:

    Se acreditarmos em um passado do mundo, no mundo fsico,

    nos "estmulos", no organismo tal como nossos livros o

    representam, primeiramente porque temos um campo

    perceptivo presente e atual, uma superfcie de contato com o

    mundo ou perpetuamente enraizada nele, porque sem cessar

    ele vem assaltar e investir a subjetividade, assim como as

    ondas envolve um destroo na praia. (PONTY, 2006, p. 278)

  • 40

    Para o filsofo, conceber o mundo fora da percepo um retrocesso,

    afinal o mundo objetivamente considerado como espao impossibilita o curso

    da entrada da subjetividade do pensamento filosfico e da sua prpria

    validao como parte do processo de conhecer e tambm de entender.

    exatamente essa viso fenomenolgica que est na base

    das ideias ps-modernas que questionam as certezas e

    hegemonias tericas e metodolgicas. Justamente o que

    contrasta com a objetividade e a autoridade do pensamento

    positivista da modernidade. (CREMASCO, 2009. p. 05).

    Sabemos que, em Ponty, o mundo percebido fonte inesgotvel de

    sentidos. Ao olhar para uma rvore, nossa percepo sobre ela est ligada s

    emoes que nos causam a conscincia dela em ns. Isso produz sentido de

    significado. O que a cincia fabrica e a tecnologia se utiliza so

    superficialidades de interao. As coisas so objetos e, no conscientes,

    somos levados a resumir nossa prpria existncia no ter. Diversamente, o

    mundo percebido pontyano faz-nos compreender que o retorno essncia do

    fenmeno foi um caminho de libertao para a questo do homem, do corpo,

    do modo de se perceber, pois:

    O sujeito perceptivo o lugar dessas coisas, e o filsofo

    descreve as sensaes e seu substrato como se descreve a

    fauna de um pas distante sem perceber que ele mesmo

    percebe que ele sujeito perceptivo e que a percepo, tal

    como ele a vive, desmente tudo o que ele diz da percepo em

    geral. (Ponty, 1999, p.277).

    O mundo percebido funda o corpo, mas no unidade de objeto, de ser

    manipulvel; corpo em esquema de corpo e no corpo objetivamente. No

    podemos, porm, retirar a importncia dos pensamentos acerca do corpo ao

    longo da linha do tempo. Para conhecer, foi necessrio abrir, observar,

    dissecar o corpo do homem. Para aprender seus mecanismos, processos e

    defesas, usufrumos do conhecimento micro e do macro organismos. Dividir

  • 41

    para saber teve seu preo para a cincia. O pensamento cartesiano, por

    exemplo, retirou do corpo seu status sensvel: alma e corpo separados por

    suas diferenas funcionais, mundo como um conceito externo ao homem. A

    partir do pensamento existencialista, essa diviso foi questionada. A retomada

    desta questo proporcionou inovao que utilizada no campo da sade, na

    forma de cuidar e entender processos. Como exemplo, sade e doena, o

    corpo, retirando-se do mundo objetivo, arrastar os fios intencionais que o

    ligam ao seu entorno e finalmente revelar o sujeito que percebe como o

    mundo percebido. (Ponty, 1999, p.86).

    Importante destacar a formao de psiclogo do autor. Em seu tempo,

    os laboratrios experimentais retiravam o ser sujeito do homem, e ao estudar

    para tentar compreend-lo, separava reaes do corpo. Talvez habitasse

    nessa influncia o retorno s essncias, o que abre a possibilidade da

    Psicologia existir o seu territrio basal na Filosofia. A psicologia da

    conscincia o estudo da alma sem alma; os estudos das reaes excluram

    durante muito tempo cronologicamente histrico a dinmica viva do ser.

    O corpo e o mundo se entrelaam como Ponty concebe, a grandeza e a

    forma do objeto como leis e as determinaes numricas da cincia repassam

    sobre o pontilhado de uma constituio do mundo j feita antes delas (Ponty,

    1999, p. 348). A influncia da psicologia moderna fez o prprio Ponty percorrer

    um caminho novo, um caminho em que o comportamento no se reduz ao-

    reao, a uma cincia que justifica a objetividade como verdade.

    O sujeito no feixe de vrias reaes qumicas, o mundo percebido

    aquele que faz parte do tato, do olhar, da linguagem, o mundo percebido

    ilimitvel a experincia do viver, corpo, forma, fenmeno, experincia.

    Meu corpo a textura comum de todos os objetos e ele , ao menos em vista

    do mundo percebido, o instrumento geral da minha "compreenso" (Ponty,

    1999, p. 271-272).

    Outra maneira pontyana de pensar essa relao intrincada, entre mundo

    e corpo, o conceito de ser para si e ser no mundo. Ambos os conceitos falam

    do lugar de interao: nenhum destes fenmenos esttico, o ser para si

    envolve outros seres. Quanto ao sujeito que fala, preciso que o ato de

  • 42

    expresso tambm lhe permita ultrapassar aquilo que anteriormente ele

    pensava. (Ponty, 1994, p.515). Ser para si parte constitutiva do ser para o

    mundo.

    3.3 O corpo em Freud expresso do inconsciente

    O corpo para Freud contedo para a apario instncias psquicas. A

    mais imperativa o inconsciente, estrutura que ele tira da escurido cerebral e

    vivifica. Ele descreve-o como parte viva do ser humano. Seu modo de

    funcionamento determina as caractersticas de comportamento dos sujeitos.

    Interessa-nos enfatizar que o corpo marcado pela ao do Inconsciente.

    palco para as representaes mais ntimas e desconhecidas do ser humano,

    inclusive do analista que conhece o potencial deste conceito inaugurado por

    Freud, mas que no prev suas aes, nem capaz de domin-las; apenas

    interpret-las, a fim de dar um novo significado ao sujeito que,

    conscientemente, no reconhece as consequncias do inconsciente. O corpo

    no existe sem investimento psquico, sem foras pulsionais que o mantm

    vivo, e tambm sem os primeiros cuidados logo aps o nascimento. O meio

    externo influencia o funcionamento do corpo biolgico e psquico. Como ser de

    razo que trabalha e como ser tico que compartilha e se comunica, como ser

    afetivo que experimenta e gera prazer, como ser biolgico que se abriga e se

    alimenta e se reproduz, com um corpo que, alm de ser determinado pelo

    universalismo do biolgico, antes uma realidade simblica.

    O inconsciente na Psicanlise o corte inaugurado por Freud na

    teorizao centrada na conscincia da psicologia moderna. O inconsciente

    rege imperativamente a vida do sujeito, articulando sensaes, sentimentos,

    lembranas, sonhos e tambm sintomas. Sabemos que as doenas so signos

    para lembrar-nos de nossa finitude como humanos, porm o inconsciente

    articula sensaes que se assemelham a dores fsicas dinamicamente, para

    exprimir alguma represso social, algum conflito interno, por exemplo.

    O adjetivo inconsciente por vezes usado para exprimir o

    conjunto dos contedos no presentes no campo efetivo da

    conscincia, isto num sentido descritivo e no tpico quer

    dizer, sem fazer discriminao entre os contedos dos

    sistemas pr-consciente e inconsciente. (LAPLANCHE E

    PONTALIS, 2004).

  • 43

    O Inconsciente como lugar- o lugar onde se desenvolve a

    Outra cena est constitudo por contedos recalcados que no

    tem acesso ao sistema Pr-consciente-consciente a no ser

    retornando de uma forma deformada. Estes contedos so as

    inscries psquicas de representaes. Estas representaes

    no so imagens seno traos com sentido para o sujeito. So

    representaes-coisa, os seus traos.

    O princpio que governa este sistema o Princpio do Prazer,

    a partir do qual se define que o acmulo de energia psquica

    que circula livremente produzir desprazer, e o prazer ser a

    descarga produzida pelo sistema, (VIVIANI, A.L s/d).

    3.4 A linguagem em Freud: modo de interpretao do corpo

    A cincia moderna ainda no produziu um medicamento tranquilizador

    to eficaz como o so umas poucas palavras bondosas. Esta declarao

    freudiana confirma o que sempre visto nos tratamentos clnicos de doenas.

    A fora das palavras levanta ou sucumbe o sujeito. Freud sabia o que estava

    afirmando, afinal, no incio de sua carreira como neurologista, ele se ocupara

    das afeces nervosas e o caminho da hipnose colocara esse aficionado para

    falar. Posteriormente, Freud descobriu que a fantasia era a articuladora de

    alteraes nervosas, causando sintomas e desconfortos. Atravs da

    linguagem, o sujeito pe em palavras tudo o que lhe incomoda, exceto alguns

    materiais que o prprio sujeito ainda no tem acesso. A a funo do analista

    ser crucial, para que tais materiais tomem a conscincia e, por sua vez, a

    linguagem.

    A fim de tratar qualquer afeco, necessria uma investigao

    diagnstica. Se no sculo XVIII a noo de diagnstico era concebida a partir

    dos sinais emitidos pelo corpo atravs de marcas visveis, com os avanos

    tecnolgicos foi possvel descobrir alteraes do corpo no vistas a olho nu.

    Como em toda clnica nem sempre possvel afirmar com veemncia do que o

    sujeito sofre, porm o cuidado com o corpo pelo prprio sujeito est ligado

    tambm ao reinado consumista contemporneo.

    Os processos fisiolgicos do corpo humano desde a Antiguidade vm

    sendo estudados numa busca constante de compreenso, visando sempre ao

    tratamento de possveis disfunes. Por Freud, a doena tomou outro

  • 44

    significado e, desde ento, um novo prisma institudo pela fenomenologia

    pontyana: o cuidador faz parte do cuidado, e o fenmeno sintoma no

    considerado apenas como doena. Hoje, no sculo XXI, o mtodo

    transdisciplinar renova o cuidado com o corpo e o caminho tambm aberto por

    Nightingale embasa nossas consideraes sobre o cuidado que transcende a

    tcnica e rompe os limites entre o sujeito cuidado e o cuidador. O trabalho do

    motorista de nibus exige equilbrio entre o corpo e o psiquismo. So

    necessrias intervenes, garantindo o cuidado deste sujeito.

    O corpo humano referncia de estudos e fonte de conhecimentos para

    as diversas cincias. Animado ou sem vida, o homem estuda-o, disseca-o,

    descreve-o, debrua-se sobre o tema desde os primrdios da histria. As

    culturas o definem de acordo com seus prprios valores e tradies. A

    complexidade de compreender o corpo transcende a clnica mdica, pela

    antropologia, psicologia, educao fsica, fisioterapia, enfermagem, filosofia. O

    rompimento epistemolgico da psicanlise ocorre quando o pai da teoria rejeita

    o status de cincia para seus artigos e relatos a rigidez do positivismo

    criticada por Freud. A cincia no comporta o status do mundo percebido nem

    do inconsciente, pois a lgica biomdica dotada de objetividade.

    A ideia de inconsciente permite-nos conceber que o material disponvel

    na conscincia muito pequeno diante dos contedos que a maior parte do

    tempo fica em latncia, estando psiquicamente no inconsciente. A teoria

    freudiana legitima que os processos mentais so inconscientes em si e que so

    percebidos por meio da conscincia percepo do meio externo atravs dos

    rgos sensoriais. Uma ideia inconsciente sempre encontrar censura no

    caminho de passagem conscincia, pois h um movimento de resistncia

    que tenta impedir que os materiais mais obscuros do nosso eu aparecem

    conscincia.

    A concepo de Inconsciente faz a Psicanlise se distanciar da

    Psicologia da Conscincia, j que no defende um lugar fsico (anatmico) no

    corpo, mas Freud em suas obras fala de mecanismos mentais independentes

    de sua situao no corpo.

  • 45

    O Inconsciente possui algumas caractersticas. Seu ncleo, por

    exemplo, tem impulsos carregados de desejo, e, quando dois impulsos cheios

    de desejo apresentam finalidades incompatveis, tornam-se ativos ambos

    formam um meio-termo. No Inconsciente, no h negao, dvidas. Nele, h

    materiais catexizados3 com mais ou menos fora. Os processos Inconscientes

    so intemporais, no se modificam com a passagem do tempo, apenas a

    Conscincia vincula-se ao tempo.

    O Inconsciente est submetido ao Principio do Prazer:

    (...) a atividade psquica no seu conjunto tem por objetivo

    evitar o desprazer e proporcionar o prazer. um princpio

    econmico na medida em que o desprazer est ligado ao

    aumento das quantidades de excitao e o prazer reduo

    (...) (LAPLANCHE & PONTALIS, 2004).

    Atravs da neurose e dos sonhos, os processos inconscientes so

    conhecidos. O sistema inconsciente sofre contestao do sistema pr-

    consciente. este segundo sistema que faz a comunicao entre os distintos

    contedos ideacionais, de modo que possam se influenciar mutuamente.

    3 Energias psquicas ligadas a alguma representao

  • 46

    4 REFERENCIAL TERICO FILOSOFICO

    Este estudo utilizou a Fenomenologia pontyana como referencial, e a

    Psicanlise freudiana como suporte para interpretaes especficas.

    4.1 Fenmenos sensveis e o olhar

    Maurice Merleau- Ponty filsofo, francs existencialista e psiclogo,

    nasceu no dia 14 de maro de 1908. Conheceu o horror da I Guerra Mundial

    ainda pequeno, perdeu seu pai, morto durante uma batalha, e cresceu com

    uma irm e um irmo, amparado pelo zelo de sua me. No ano de 1926, ele vai

    para Escola Normal Superior. Com 18 anos, estuda com Paul Sartre, Simone

    de Beauvoir, Claude Lvi-Strauss. Esses alunos questionam a filosofia

    lecionada na universidade, em razo da sua superficialidade defendiam uma

    filosofia implicada com a existncia humana, em consonncia com a atualidade

    da poca, mudanas no campo das artes, tenso pr II Guerra, lutas de

    classes, causando grande impacto para a sociedade francesa, que no estava

    acostumada a ser contrariada. Ponty sofreu uma grande perda emocional: a

    morte precoce de sua namorada Zaz. A famlia da moa no aceitava o

    relacionamento e chantageou o jovem Ponty a terminar o namoro, em funo

    da reputao de sua me, que namorava um professor universitrio. Aps

    alguns anos, Ponty casa-se e tem uma filha. Era definido por Simone de

    Beauvoir como um homem de palavras comedidas e racionais.

    No perodo da Segunda Guerra Mundial, publicou duas principais obras:

    A Estrutura do comportamento e Fenomenologia da Percepo, que abordam a

    questo da conscincia e o corpo. Torna-se professor de Pedagogia e

    Psicologia na Sorbonne.

    Ponty se aproxima das questes polticas da poca e escreve artigos

    juntamente com Sartre para a revista Les Temps Moderns. Sua tese de

    Doutoramento, nomeada Fenomenologia da Percepo, no foi

    compreendida por sua banca, j que o tema era revolucionrio e discursava

    sobre uma nova concepo de conscincia de si. se antes, por meio de

    Descartes, a conscincia era separada do biolgico; em Ponty, a conscincia

    e est no biolgico.

  • 47

    O olhar a porta de entrada para sensaes, emoes, interpretaes e

    tambm para o dilogo. Sabemos que o olhar no isolado, precisamos

    decodificar o que observamos, logo lanamos mo da percepo como forma

    de apreenso do objeto e interpretamos o que vemos a partir de nossa

    conscincia das coisas:

    Um campo visual no feito de vises locais. Mas o objeto visto feito de fragmentos de matria e os pontos do espao so exteriores uns aos outros. Um dado perceptivo isolado inconcebvel, se ao menos fazemos a experincia mental de perceb-lo. (Ponty, 1999, p. 27-28).

    Se o olhar fosse focal, as leses cerebrais limitariam a interpretao dos

    sentidos. Pelo contrrio, Ponty retorna no sentido para desfazer o determinismo

    das cincias. O que ele prope : somos convidados a retornar s prprias

    experincias que elas designam para defini-las novamente. (1999, p.35).

    Entendemos que o olhar em Ponty no acessvel apenas com os olhos, mas

    com as mos, com a boca que fala. Ponty considerou a totalidade do corpo em

    sua multiplicidade de processos interligados. Talvez por esta razo, a

    dificuldade dos intelectuais da sua poca em alcanar tamanha complexidade

    que, ao mesmo tempo, se torna de fcil compreenso quando o entendimento

    se abre ao fenmeno visto.

    Essa converso do olhar, que inverte as relaes entre o claro e o obscuro, devem ser efetuados por cada um e em seguida que ela se justifica pela abundncia dos fenmenos que permite compreender Mas antes dela eles eram inacessveis, e descrio que deles se faz o empirismo sempre pode objetar que ele no compreende. (Ponty, 1999, p. 52).

    Este olhar indispensvel para nossas reflexes vindouras, j que este

    trabalho se prope a conhecer qualidade de vida a partir do olhar do sujeito

    rodovirio.

  • 48

    4.2 O Sujeito Rodovirio e os seus desafios

    A eleio da palavra sujeito no ttulo neste tpico proposital. Com o

    uso do termo, no se tem a pretenso de definir ou classificar o motorista de

    nibus. A pessoa que trabalha no transporte coletivo transcende a uma

    nomenclatura. Faz-se necessrio um pronome de tratamento, de modo que

    sujeito se adqua com a proposta da presente pesquisa, parte do lugar de

    divisvel, de reconstruir e sujeito para a Psicanlise palavra que se

    aproxima da pluralidade do homem, se sujeita vida, s angstias, aos

    desejos sempre limitados pelo inconsciente. Em fenomenologia, o sujeito est

    no ser para si, no espao interno que se abre ao fenmeno, que se abre para

    significar o que lhe caro, suas opinies, crenas, valores.

    Nomear o motorista como indivduo seria reduzi-lo indivisibilidade. Toda a

    temtica deste trabalho estaria comprometida pelo indivisvel.

    Considera-se motorista profissional aquele cujo ofcio remunerado

    conduzir veculo automotor, autonomamente ou mediante vnculo empregatcio.

    (Lei n. 12.619, de 30 de abril de 2012).

    O motorista de transporte coletivo um profissional que no trabalha em

    local fixo, seu cotidiano tem uma rotina pr-determinada: o itinerrio a ser

    realizado. Esse percurso possui uma intensa rotatividade de pessoas, ele

    convocado a lidar com os clientes de maneira polida e exercer sua funo de

    modo seguro, evitando m operao do veculo, como freadas bruscas e at

    mesmo acidentes. Este trabalho pode ser considerado estressante, pois no

    um trabalho individual. O trnsito o ambiente de convvio misto. Isto quer

    dizer que h pessoas circulando e os mais variados transportes. A maneira de

    conduo individual determina o estilo da mobilidade urbana. Zamboni afirma:

    [...] podemos ver nesse trabalhador um primeiro passageiro, um protagonista na constituio do transporte coletivo urbano, aquele que assume dianteira, uma essencialidade na produo do transporte. Essencial porque no dispensvel. Do contrrio, o transporte no segue. Protagonismo porque o motorista o passageiro que assumiu o volante, que tomou para si o process