newsletter julho 2013

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Edição # 24 5 de Julho 2013 Conselho Editor: Anabela Lemos, Daniel Ribeiro,Janice Lemos, Ruben Mama e Vanessa Cabanelas/ Layout & design: Ticha / Editor : Ruben Manna Propriedade da JA! Justiça Ambiental , Av:Mao Tse Tung no 549, 1o andar MaputoTel: 21496668 Foto:D.Ribeiro Papo na Praça “O Estado da Nação” A não ser quando correlacionado com o nosso trabalho, procuramos não nos imiscuir na vida política do país. Mas desta feita, e porque de certa maneira o prevalecer de um Moçambique democrático, multipartidário e acima de tudo em paz é imperativo para que possamos continuar a desempenhar adequadamente o nosso papel dentro da sociedade civil, não podemos deixar de partilhar convosco o que nós e centenas de outros Moçambicanos que lotaram o Cineteatro Gilberto Mendes (fora os milhares que provavelmente viram na televisão) testemunhámos esta Quartafeira. Mais um Xipoko na Matola: PAIROAFRICA Desde meados do primeiro semestre de 2012 que os moradores do bairro Beluluane no município da Matola vivem ainda mais preocupados com o ar que respiram. Isto acontece devido à fumaça densa e escura resultante da queima de pneus protagonizada por uma empresa discreta, para não dizer desconhecida, e cuja legalidade, segurança e consciência em termos ambientais é, no mínimo, questionável. Essa empresa é a PAIROAFRICA. A PAIROAFRICA dedicase à queima de pneus para produção de um determinado tipo de óleo, que tanto quanto sabemos, posteriormente fornece a outras empresas que o usam para misturar com alcatrão. Esta empresa, localizada a menos de um quilómetro da Mozal (outra empresa também notória pelas suas actividades poluidoras), tem estado a operar sem qualquer cuidado ou medida de segurança ou controle relativamente aos impactos que a sua actividade possa estar a causar tanto na vida e saúde dos seus pobres trabalhadores, bem como na das comunidades vizinhas. Por esta razão, a população em seu redor tem vindo constantemente a protestar, acusandoa de expôlos a altos níveis de poluição em resultado da sua queima negligente e descurada de resíduos perigosos. A população tem razão. A queima de pneus gera óleo pirolítico, que contém químicos tóxicos e metais pesados capazes de produzir efeitos adversos à saúde, como perda de memória, deficiência no aprendizado, supressão do sistema imunológico, danos nos rins e fígado, e não só. Esse óleo pode percorrer longas distâncias, contaminando o solo e a água, além de penetrar em lençóis freáticos. Antes de mais, para que não hajam más interpretações, gostaria de salientar que o que escrevemos não é, de maneira alguma, um ataque a força política A ou propaganda a B, e quem esteve no dia 3 de julho, no Cineteatro Gilberto Mendes e não tem qualquer agenda política poderá certamente confirmar que o que narramos é um relato fiel dos acontecimentos. Ora, dada a conjuntura política do país nos dias que hoje correm, quando fomos convidados pelo Parlamento Juvenil a estar presentes neste debate, percebemos logo que iria ser um exercício de cidadania fantástico para todos os presentes, mas estávamos longe de pensar que seria o que foi. Sabíamos que o país está divido. Sabíamos que o povo não aprova o que a RENAMO está a fazer em Sofala. Sabíamos que a maioria dos Moçambicanos, apesar de não aprovar, percebe o porquê que a RENAMO está a agir assim. O que não sabíamos é para que lado pendia a balança, se é que para algum... O debate foi muito bem conduzido e muitas perguntas pertinentes foram colocadas (e bem) tanto aos representantes de FRELIMO, RENAMO e MDM, como aos académicos e membros de organizações da sociedade civil que compunham o painel. Mas, sem papas na língua, o que ontem ficou claro em Maputo foi o descontentamento geral da população com a FRELIMO. Nunca em Maputo a FRELIMO foi tão contestada ou a sua oposição, por contraste, tão ovacionada como ontem. Nunca. Fruto desse descontentamento, a RENAMO por outro lado, saiu do debate praticamente ilesa, impune, como se os seus actos tivessem uma justificação plausível, como se não tivessem assumido publicamente ter morto civis o mês passado (com ou sem aviso). Dá que pensar... o povo está tão cansado de ser negligenciado pelo partido do poder, que está disposto a perdoar dos outros o imperdoável. Na nossa opinião, a credibilidade da FRELIMO bateu no fundo.O “estado de graça” de que gozava junto dos moçambicanos parece estar a acabar, e ainda bem, a nossa democracia está a precisar de deixar de ter filhos e enteados.

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Newsletter mensal da organização não governamental moçambicana Justiça Ambiental.

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Edição # 24 5 de Julho 2013

Conselho Editor: Anabela Lemos, Daniel Ribeiro,Janice Lemos, RubenMama e Vanessa Cabanelas/ Layout & design: Ticha / Editor : RubenManna

Propriedade da JA! Justiça Ambiental , Av:Mao­ Tse­ Tung no 549, 1o andar ­Maputo­Tel: 21496668 Foto:D.Ribeiro

Papo na Praça“O Estado da Nação”

A não ser quando correlacionado com o nossotrabalho, procuramos não nos imiscuir na vida política do país.Mas desta feita, e porque de certa maneira o prevalecer deum Moçambique democrático, multipartidário e acima de tudoem paz é imperativo para que possamos continuar adesempenhar adequadamente o nosso papel dentro dasociedade civil, não podemos deixar de partilhar convosco oque nós e centenas de outros Moçambicanos que lotaram oCineteatro Gilberto Mendes (fora os milhares queprovavelmente viram na televisão) testemunhámos estaQuarta­feira. Mais um Xipoko na Matola: PAIROAFRICA

Desde meados do primeiro semestre de 2012 que osmoradores do bairro Beluluane no município da Matola vivemainda mais preocupados com o ar que respiram. Istoacontece devido à fumaça densa e escura resultante daqueima de pneus protagonizada por uma empresa discreta,para não dizer desconhecida, e cuja legalidade, segurança econsciência em termos ambientais é, no mínimo,questionável. Essa empresa é a PAIROAFRICA.

A PAIROAFRICA dedica­se à queima de pneus paraprodução de um determinado tipo de óleo, que tanto quantosabemos, posteriormente fornece a outras empresas que ousam para misturar com alcatrão. Esta empresa, localizada amenos de um quilómetro da Mozal (outra empresa tambémnotória pelas suas actividades poluidoras), tem estado aoperar sem qualquer cuidado ou medida de segurança oucontrole relativamente aos impactos que a sua actividadepossa estar a causar tanto na vida e saúde dos seus pobrestrabalhadores, bem como na das comunidades vizinhas. Poresta razão, a população em seu redor tem vindoconstantemente a protestar, acusando­a de expô­los a altosníveis de poluição em resultado da sua queima negligente edescurada de resíduos perigosos. A população tem razão. Aqueima de pneus gera óleo pirolítico, que contém químicostóxicos e metais pesados capazes de produzir efeitosadversos à saúde, como perda de memória, deficiência noaprendizado, supressão do sistema imunológico, danos nosrins e fígado, e não só. Esse óleo pode percorrer longasdistâncias, contaminando o solo e a água, além de penetrarem lençóis freáticos.

Antes de mais, para que não hajam másinterpretações, gostaria de salientar que o que escrevemosnão é, de maneira alguma, um ataque a força política A oupropaganda a B, e quem esteve no dia 3 de julho, noCineteatro Gilberto Mendes e não tem qualquer agendapolítica poderá certamente confirmar que o que narramos éum relato fiel dos acontecimentos.

Ora, dada a conjuntura política do país nos dias quehoje correm, quando fomos convidados pelo ParlamentoJuvenil a estar presentes neste debate, percebemos logo queiria ser um exercício de cidadania fantástico para todos ospresentes, mas estávamos longe de pensar que seria o quefoi. Sabíamos que o país está divido. Sabíamos que o povonão aprova o que a RENAMO está a fazer em Sofala.Sabíamos que a maioria dos Moçambicanos, apesar de nãoaprovar, percebe o porquê que a RENAMO está a agir assim.O que não sabíamos é para que lado pendia a balança, se éque para algum...

O debate foi muito bem conduzido e muitas perguntaspertinentes foram colocadas (e bem) tanto aos representantesde FRELIMO, RENAMO e MDM, como aos académicos emembros de organizações da sociedade civil que compunhamo painel. Mas, sem papas na língua, o que ontem ficou claroem Maputo foi o descontentamento geral da população com aFRELIMO. Nunca em Maputo a FRELIMO foi tão contestadaou a sua oposição, por contraste, tão ovacionada comoontem. Nunca. Fruto desse descontentamento, a RENAMOpor outro lado, saiu do debate praticamente ilesa, impune,como se os seus actos tivessem uma justificação plausível,como se não tivessem assumido publicamente ter morto civiso mês passado (com ou sem aviso). Dá que pensar... o povoestá tão cansado de ser negligenciado pelo partido do poder,que está disposto a perdoar dos outros o imperdoável.

Na nossa opinião, a credibilidade da FRELIMO bateuno fundo.O “estado de graça” de que gozava junto dosmoçambicanos parece estar a acabar, e ainda bem, a nossademocracia está a precisar de deixar de ter filhos e enteados.

Infelizmente, apesar das várias tentativas de dialogare dos vários apelos à empresa e ao governo (através dequeixas à polícia e de cartas ao posto administrativo deBeluluane) para que a situação fosse corrigida, a populaçãonunca obteve resposta alguma, nem da empresa, muitomenos do Governo, o que levou os mesmos a manifestarem­se para que a empresa fechasse e alegadamente a umatentativa de incendiar a propriedade.

Do ponto de vista ambiental e de saúde pública, tantoo óleo como os resíduos derivados das carcaças de pneuscontêm metais pesados e altamente tóxicos. É importanteperceber que a queima de pneus por si só (esquecendo aagravante de neste caso ser desprovida de qualquer tipo detratamentos ou filtros) emite fumos altamente tóxicos, quepara o ser humano representam riscos de mortalidadeprematura, deterioração de funções pulmonares, problemasdo coração e depressão do sistema nervoso e central. A céuaberto, a queima de pneus é 13.000 vezes mais mutagénicaque a queima de carvão em instalações bem desenhadas eoperadas apropriadamente. A borracha vulcanizada, quandoqueimada a céu aberto, contamina o meio ambiente comcarbono, enxofre e outros poluentes. Para mais, estaactividade também representa uma ameaça de contaminaçãodo solo e dos lençóis freáticos, uma vez que os produtosquímicos tóxicos e os metais pesados libertados pelacombustão dos pneus, podem durar até 100 anos no meioambiente, acabando inevitavelmente por se depositar no solo.

A PAIROAFRICA está repleta de violações. Ostrabalhadores operam sem qualquer tipo de equipamento deprotecção pessoal, simplesmente com a roupa de corpo; achaminé encontra­se instalada no chão da parte traseira dapropriedade, e a uma altura abaixo de 2 metros e os despojosdo processo da queima dos pneus (o pó de cor preta e osferros) são acumulados e abandonados no quintal daempresa, expostos aos elementos. É igualmente importantereferir que a PAIROAFRICA opera dentro de umestabelecimento sem as devidas condições para o efeito, eque anteriormente era um simples armazém. Armazém esseque se encontra localizado numa zona habitacional, a menosde 100 metros das casas.

Apesar dos níveis de poluição admitidos pelaorganização mundial da saúde (OMS) serem de 25 ug/cm2por dia e 10 ug/cm2 por ano, segundo os resultados de umapesquisa de três semanas realizada e monitorizada naMatola pela ONG Sul Africana GroundWork, os níveis depoluição atmosférica registados nas zonas investigadas estámuito acima destes. O ar que é respirado, principalmente nasredondezas das empresas Cimentos de Moçambique eMozal está gravemente poluído.

Lamentavelmente, a PAIROAFRICA é só mais umadas nossas muitas preocupações a nível nacional em relaçãoao impacto ambiental das actividades de empresaspoluidoras. Apesar de já terem sido feitas várias denúnciasacerca dos níveis de poluição causados por este tipo deempresas, invariavelmente, o Ministério para Coordenaçãoda Acção Ambiental (MICOA) que é a instituição que se dizresponsável pelas questões ambientais, não sabe respondercabalmente às questões que lhes são levantadas e nãoparece interessado nem em ouvir as preocupações dascomunidades, nem em investigar, monitorar ou abordar asempresas em questão. Pelo contrário, o MICOA muitas vezesparece “apadrinhar” as ilegalidades com as quais taisempresas regem o seu funcionamento, e ao nãoresponsabilizar essas empresas e seus projectos pelos altosníveis de poluição que estas causam, ao ignorar asexperiências e exemplos já existentes no mundo, compactuae perpetua este tipo de prática, perigando cada vez mais asaúde e vida de muitos moçambicanos. Como disse e muitobem o académico Carlos Nuno Castel­Branco, “é preciso queo Governo perceba que, para além da crise internacionaleconómica e financeira, Moçambique também está a entrarnuma crise ambiental, daí a necessidade de Moçambiquecontribuir para a preservação do meio ambiente, através daintrodução de medidas severas contra os agentes maispoluidores”.

No caso específico de Beluluane, apelamos àintervenção urgente de quem de direito, para que estasituação, literalmente sufocante para os moradoresdaquele bairro, seja resolvida quanto antes. Nem queisso implique fechar a PAIROAFRICA, que nestemomento, pelo que testemunhámos nas várias visitasque fizemos ao local, nos parece ser o maisaconselhável e sensato a fazer.

Para além de casas, também nas redondezas e bempróximo da empresa, encontra­se um Hospital, um mercado eum posto policial, que também são afectados pela actividadeda mesma. Segundo os moradores do bairro, quando ospneus são queimados quase que não se consegue respirar emuitos nem sequer conseguem ficar dentro de suas própriascasas, uma vez que estas também ficam de tal modo cheiasde fumo que os seus tectos estão a ficar pretos. Aindasegundo os moradores, as queimadas ocorrem em media 2vezes por dia, durante 30 a 40 minutos por ronda.

Segundo uma conversa informal que tivemos com odono da empresa, esta encontra­se registada e tem umalicença para fazer gestão de resíduos, em particular materialplástico, “como forma de contribuir para a sustentabilidadeambiental”. Mas de que forma é que este tipo de actividadepode contribuir para uma sustentabilidade ambiental? Aactividade da PAIROAFRICA é, nada mais, nada menos, queum sério atentado à saúde publica e ao meio ambiente.

O Negócio do REDDEnquanto corremos para assegurar que está tudo a

postos para dar início aos projectos de REDD (Redução deEmissões por Desmatamento e Degradação Florestal),surgem cada vez mais relatórios e estudos que demonstramque o REDD não é a solução para nada. Como é o caso darecente publicação da FERN e Amis de la Terre, “O carbonodesacreditado: A razão pela qual a UE deve evitar ascompensações de carbono florestal” (I), uma análise do casoda Envirotrade em Nhambita.

A JA! retirou­se do REDD Readiness PreparationProcess (Processo de Preparação e Disponibilização daREDD), um processo financiado e muito promovido peloBanco Mundial, assim que verificou que este visavaessencialmente definir como implementar o REDD emMoçambique o mais rapidamente possível sem sequerconsiderar promover a discussão sobre se Moçambiquedeveria ou não abrir as portas a mais um conceito importadopara satisfazer a ganância dos países mais ricos e maispoluidores... Embora sem o nosso avale, na nossa opinião,acabou avançando mais um processo viciado e direcionadoúnica e simplesmente a cumprir formalidades, tendo sempremuito claro no horizonte um objectivo cego: implementarREDD rapidamente.E porquê? Porque é tão grande a pressão dos investidores edo Banco Mundial para que Moçambique adopte rapidamenteeste esquema? Porque há necessidade de assegurar que ospoluidores continuem a poluir, iludindo os mais distraídos compromessas falsas de conservação de florestas muitohabilidosamente com novas terminologias como florestasplantadas, que não passam de desertos verdes, monoculturascuja única semelhança com florestas nativas reside no factode ambas possuirem árvores?

É com estas manhosas meias verdades que seavança nestes processos. Por exemplo, para a maioria doscidadãos comuns, o REDD é, como a própria sigla indica, ummecanismo para Redução de Emissões por Desmatamento eDegradação Florestal, e nestes termos, só pode ser positivo!– Mas afinal REDD não serve a conservação de florestas!?– Perguntam­se certamente agora alguns de vós.

A verdade é que o REDD não pretende salvar florestaalguma. O que pretende, é permitir dissimuladamente que ospaíses industrializados promovam essas tais plantações demonoculturas (maioritariamente eucaliptos e pinheiros) noterritório de países pobres como Moçambique, de modo apossibilitar que esses países ditos desenvolvidos continuem apoluir no seu território sob o pretexto de que estão a contribuirsignificativamente para a redução do carbono na atmosfera ao“plantar florestas” noutros pontos do planeta. O que ninguémdiz é que o valor pago por essas “florestas plantadas” é muitomenor do que o que esses países teriam de pagar porexceder a sua cota de emissões de carbono, que no fim dodia, é o cerne da questão. Visto assim, deixa de ser nobre ebonito, não é? Assim se ganha a opinião pública...

Os moçambicanos e moçambicanas não têm vozactiva na escolha do rumo que o país leva. As ideias edecisões são tomadas à revelia de todos nós e ainda nosacusam de sermos manipulados por interesses estrangeiros!De sermos porta­vozes de interesses externos que nãoquerem ver o país desenvolver. Haja vergonha e algum bomsenso! E estas ideias geniais todas vem de onde mesmo? Énecessário ir buscar boas ideias, de onde quer que estasvenham, de aproveitar os exemplos do mundo para tomar asdecisões mais correctas para Moçambique, para todos nós,mas não assim, não cega e gananciosamente!

Falamos em REDD, REDD+, REDD RPP Process,mas quantos moçambicanos e moçambicanas sabem do queestamos a falar? Quantos de nós podem de facto sentar ediscutir REDD com algum conhecimento? Pouquíssimos... eporquê? Porque o objectivo, não é nem nunca foi, promoverdebates e discutir construtivamente estas questões, emborasejam tão importantes para o nosso futuro e dos nossos filhos,como para o futuro de Moçambique e do Planeta.

Mas este é somente mais um exemplo da política“divide et impera” (dividir para reinar) daqueles que nosgovernam. Fragmenta­se e divide­se tudo: aspectos sociais,de género, do ambiente, de economia do país, da indústriaextractiva, de governação... tudo muito partidinho, muitoorganizadinho e consequentemente, muito mais fácil decontrolar e manipular. Enquanto cada um puxar a suacarroça e correr atrás da cenoura que nunca alcançará,continuaremos cada um na sua luta como se fossemosilhas... Mas os problemas estão todos relacionados, e sóuma análise profunda, abrangente, mais holística e unidapoderá contribuir para que a sociedade civil moçambicanaassuma um papel mais forte no rumo que o país está a levar,pois neste momento, estamos apenas e somente a ver abanda passar!

O tema REDD necessita de uma reflexão profunda,aberta, transparente, e não esta permanente e constantemanipulação de ideias movida por interesses sempre delucro e ganância. Mas o tempo e o espaço para esta reflexãoescasseiam pois a corrida continua e quando é precisosomos todos muito eficientes, tanto que a proposta deregulamento já existe e está a ser publicamente partilhada.

Uma das condições para implementar projectosREDD, positivamente imposta pelo MICOA, é ter a devidaregulamentação para o efeito. Daí a pressa em aprovar oRegulamento “Procedimentos para Aprovação de Projectosde Demonstração que visam a Redução de Emissões porDesmatamento e Degradação Florestal (REDD+)”, emprocesso de “discussão pública”. Onde? Você sabia?(I) http://www.fern.org/pt­br/nhambita

Os Males e Ilogismos do Carvão

O monstro do carvão começa finalmente a mostrarsinais de doença e de declínio.

A campanha contra o carvão nos EUA tem tidoalgumas grandes vitórias e remeteu o carvão para osbastidores do planeamento energético, inclusive com oPresidente Obama a mencionar publicamente no seu discursode terça­feira (25 de Junho) na Universidade de Georgetown oafastamento progressivo do carvão. Com inúmeras usinas decarvão a chegar ao fim da sua vida útil, o consumo de carvãodos EUA está em declínio, o que coloca os EUA numasituação onde pode se tornar um grande exportador mundialde carvão em vez de um usuário.

Na China, os primeiros sinais de mudança já sãovisíveis. Em 2010, o carvão foi ultrapassado pelas energiasrenováveis em capacidade de energia recém­instalada, e asestratégias da China e planeamento de longo prazo estão acomeçar a refletir esse arredamento do carvão para umacapacidade energética mais diversificada. Quando até mesmoa China começa a priorizar afastar­se do carvão, entãosabemos que as marés estão a mudar. Essas mudanças,embora prematuras e relativamente pequenas, estão acomeçar a dar frutos. Por exemplo, o plano dedesenvolvimento futuro da Mongólia era fortemente baseadona exploração das suas vastas reservas de carvão para supriras necessidades de carvão da China, e a contar com essasreceitas avultadas provenientes do carvão, a Mongólia pediulargos empréstimos. No entanto, os preços do carvão foramcaindo e o aumento do consumo de carvão na China foi maislento do que o previsto, enquanto o aumento no uso dealternativas mais limpas foi maior do que o previsto. Istocomprometeu o pagamento de dívidas da Mongólia e,consequentemente, o futuro do seu desenvolvimento.

No nosso país, Moçambique, esses riscos estão asentir­se. A Vale e a Rio Tinto (que de acordo com as nossasfontes já colocou os seus negócios no país à venda) estão asentir o impacto do estrangulamento de soluções infra­estruturais, com atrasos e derrapagens orçamentaisfrequentes a afectarem as suas margens de lucro. Estesfactores, aliados aos preços decrescentes do carvão, aosprojectos de incerteza económica e às estimativas optimistasda qualidade e volume das reservas de carvão deMoçambique, resultaram em bilhões de dólares em prejuízos

Prejuízos esses, que ocorrem apesar de um contratosecreto muito favorável, que as empresas negociaram com o

Por outro lado, o custo das energias alternativas elimpas é cada vez menor, e opções como a eólica já sãomais baratas a um dólar por quilowatt produzido, e nospróximos anos, até a solar se vai tornar mais barata. Omundo dos investimentos também está a começar aentender e beneficiar dos elementos positivos que asenergias alternativas representam. Por exemplo, tanto aenergia eólica como a solar têm períodos muito curtos entreinvestimento e rentabilidade e são altamente modulares. Asturbinas eólicas podem ser instaladas e colocadas em redenum período de tempo muito curto, e gradual efaseadamente aumentadas em correlação direta com ademanda. Em contraste, no caso das centrais a carvão, osinvestimentos iniciais são muito grandes, com períodos muitolongos de construção, muitas vezes prorrogados por atrasos.Estas dependem mais da demanda de projectos a longoprazo que são regularmente demasiado optimistas oucompletamente incorretos. Devido à sua longa esperança devida, a capacidade de produção é geralmente muito maior doque a demanda inicial, a fim de lidar com futuros aumentosde demanda projetada, o que torna o investimento maior doque o inicialmente necessário. Ao contrário das suasalternativas, que produzem lucros de uma forma modularconforme cada fase é concluída, a produção tradicional àbase de carvão não retornos até que o projecto estejacompleto e concluído. Em seguida, gera um enorme pico nadisponibilidade de energia, que pode causar uma queda nospreços de energia devido ao excesso de oferta. Anecessidade de fazer um planeamento a longo prazo e ospicos de energia regulares e inerentes à produção de energiaà base de carvão, têm também sido dados como uma dasrazões para a baixa prioridade que começa a ser dada aocarvão pelo sector de energia. O carvão não é uma fonteenergética eficiente.

o governo moçambicano, e que é injusto paraMoçambique, na medida em que nos traz poucos benefíciose muitos impactos negativos.

Num nível técnico mais amplo, começam­se aperceber as dificuldades que o carvão está a enfrentar.

O custo de construção de centrais a carvão disparoue os extensos requisitos logísticos e infra­estruturais(ferrovias, portos, terminais, etc) estão a enfrentarconstrições em todo o mundo, o que aumenta ainda mais oscustos globais. A nível económico, os riscos aumentamconstantemente. Um relatório recente sobre matérias primaselaborado pelo Deutsch Bank, revelou projeções sombrias emais reduções nas possíveis receitas do carvão.

Uma pessoa inteligente resolve um problema,um sábio o previne. "Albert Einstein"

No dia 29 de Junho foi lançado mundialmente umacampanha para acabar com o uso de carvão no mundo. A JAorgulhosamente também fez parte desta iniciativa e emsolidariedade com todos os habitantes das ilhas do Pacífico."O futuro das ilhas do Pacífico e o futuro da industriafóssil nunca poderão coexistir. Uma delas terá queacabar" estas poderosas palavras foram proferidas por umajovem natural de uma das ilhas do Pacífico.

Mais informação :www.endtheageofcoal.org"

O relatório da Greenpeace África do Suldenominado "O verdadeiro custo do carvão", destaca esteabsurdo. Na verdade, mais do que 200 formas diferentesde subsídios foram identificados.

Além de tudo isso, o carvão é uma das principaiscausas da mudança climática, tornando­se um dos principaisalvos dos debates sobre o assunto. Não é uma questão de"se", mas uma questão de "quando" é que as gravesrestrições e limitações às emissões de carbono começarão aser impostas; e quando isso acontecer, o carvão vai ser umdos mais afetados. No entanto, mesmo agora, e semrestrições reais nas negociações internacionais sobremudança climática, os problemas ambientais e sociaisassociados com o carvão são tão devastadores e notórios queestão a levar a uma oposição ao carvão cada vez maior emtodo o mundo. Está a ficar cada vez mais difícil a obtenção deconsentimento público, que está a tornar­se uma exigênciacrescente nos países democráticos em todo o mundo.

Adicionalmente, além de competir com alternativas cadavez melhores e mais limpas, o carvão está também a competircom outros extrativos. A maioria das empresas de mineraçãocobrem uma série de atividades extrativas, mas têm recursoslimitados para investir em novos projectos, portanto, asdecisões têm de ser feitas entre as diferentes propostas demineração. Tendo em conta os riscos crescentes, o carvãocaiu na lista de investimentos rentáveis.

Infelizmente, monstros como o carvão não tombamfacilmente. Sempre que a doença do carvão é exposta, umasérie de "especialistas" do sector proclamam a sua saúdeatravés de projeções hiper­positivas e estimativas de lucrosespeculativas, na tentativa de continuar a fomentar oinvestimento em carvão. Como a indústria começa a percebero futuro limitado nos países desenvolvidos, vira­se para África,onde sempre pode contar com a miopia e a corrupção dosnossos líderes irresponsáveis para permitir as más decisões.

África e Moçambique em particular, não precisamde percorrer este caminho destrutivo para odesenvolvimento que já foi percorrido pelas potênciasatuais, e arriscar os impactos devastadores que a eleestão associados. Podemos evitar estes “buracos” naestrada rumo ao desenvolvimento, como fizemos nosector de comunicação.

A maior parte de África não tinha uma rede telefónicacablada, por isso, saltámos este recurso e cuja aplicaçãoseria morosa, e fomos diretos à rota mais limpa e eficiente decomunicação, a rede celular. Vamos optar pelo mesmocaminho em termos de energia e desenvolvimento.

O carvão também se desenvolveu como sector numaépoca em que a economia estava mais aberta a subsídios ese tinha uma noção mais estreita de custos eresponsabilidades, se a ideia de usar carvão surgisse hoje,seria considerada louca. Infelizmente, muitos dessesproblemas ainda fazem parte das práticas comuns no sectordo carvão. Subsídios incluem gastos diretos, incentivos fiscaisou isenções, empréstimos a juros baixos, garantias deempréstimos, perdão de empréstimos, doações, ferrovias eportos subsidiados, e muito mais. Em termos de subsídiosglobais, em 2010, os combustíveis fósseis receberam quasesete vezes mais subsídios do que as energias renováveis, eeste valor é baseado numa definição restrita de subsídios.Mas o carvão ainda tem um custo externo. Por exemplo, umestudo médico de Harvard calculou que os custosadicionais ambientais e de saúde da queima de carvãonos EUA são de 500.000 milhões de dólares por ano.

Os governos também perdem receitas avultadas comdescontos no pagamento de royalties sobre terras, água emuitos outros.

É uma prática comum das minas e centrais eléctricasa carvão não pagar nada, ou pagar quantias insignificantespara os serviços ambientais, como a água (que consomem epoluem em grandes quantidades), bem como não restaurar osdanos que causam. Na verdade, a soma dos subsídiosindiretos aos combustíveis fósseis, tais como o acessofavorável à terra, água e outros bens, é equivalente ao total desubsídios recebidos pelo sector de energias renováveis.

.Quando é que vamos deixar de ser o local de

despejo de tecnologias obsoletas?De momento, o carvão está a viver a latência

associada com a mudança e ainda é viável nos sectores jádesenvolvidos num futuro próximo, mas perigoso para ospaíses que ainda estão apenas a começar a desenvolver oseu desenvolvimento em carvão.

"Só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último riofor poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro."Indios Cree

A Visibilidade do ProSavana no TICAD V

Entre os dias 01 a 03 de Junho do corrente ano,decorreu em Yokohama, Japão a 5a Conferência Internacionalsobre Desenvolvimento Africano de Tóquio, denominadaTICAD V. A TICAD visa mobilizar a sabedoria e os recursos detodas as partes interessadas no desenvolvimento Africano sobo conceito de propriedade africana e parceria entre a África ea comunidade internacional.

Este ano, com o slogan “De mãos dadas com umaÁfrica mais Dinâmica”, esta conferência esteve focada natransformação de África por crescimento de qualidade,nomeadamente em três perspectivas: economia robusta esustentável, sociedade resiliente e inclusiva e paz eestabilidade.

Curiosamente, de acordo com a imprensa japonesa,com a repercussão da Carta Aberta das Organizações eMovimentos Sociais Moçambicanos dirigida aos Presidentesde Moçambique, Brasil e Primeiro­Ministro do Japão em Maiode 2013, e aliada à pressão das Organizações da SociedadeCivil Japonesas, o ProSavana acabou sendo um dos assuntosque despertou maior atenção dos participantes, tanto pelotamanho das áreas envolvidas para o agronegócio, como pelonúmero de pessoas que poderão ser afectadas e o impactoeconómico, sócio­cultural e ambiental que este programapoderá causar, não só naquela região do Corredor deDesenvolvimento de Nacala, como em Moçambique em geral.

Entre outras reações, a inesperada atenção dada aoProSavana mereceu uma vergonhosa e arrogante reação porparte do executivo moçambicano na pessoa de sua excelênciao Ministro dos Transportes e Comunicações Paulo Zucula, quechamou os camponeses moçambicanos de analfabetos aoproferir que “se eles tivessem mesmo escrito (essa carta), (...)haveria de dizer que o analfabetismo já acabou emMoçambique. Mas os nossos camponeses ainda sãoanalfabetos para fazer uma carta tão perfeita como aquela”.

Entre outras demandas, a Carta Aberta exige que oslegítimos representantes dos povos de Moçambique, Brasil eJapão, tomem as medidas necessárias para a suspensãoimediata de todas as ações e projetos em curso na savanatropical do Corredor do Desenvolvimento de Nacala no âmbitoda implementação do Programa ProSavana. Exige tambémque o Governo de Moçambique institua um mecanismoinclusivo e democrático de construção de um diálogo oficialamplo com todos os sectores da sociedade moçambicana,particularmente camponeses e camponesas, povos do meiorural, comunidades do Corredor e organizações religiosas eda sociedade civil, com o objectivo de definir as suas reaisnecessidades, aspirações e prioridades da matriz e agenda dedesenvolvimento soberano.

Ecos da TICAD V:The Japan Times(KYODO MAY 31, 2013)"Mozambique farmers seek halt to aid project"­http://www.japantimes.co.jp/news/2013/05/31/national/mozambique­farmers­seek­halt­to­aid­project/#.UagW7tKpVS

Após pressão popular, governo suspendeestudos para barragens no Tapajós.

O Governo Federal anunciou a suspensão dos estudos paraa construção de barragens no Tapajós.Suspensão é umavitória popular“Esta é uma vitória também das comunidadesribeirinhas, dos pescadores e do conjunto da populaçãourbana e rural desta região que também querem ser ouvidossobre estes empreendimentos”, afirma Fred Rênero, membroda coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens(MAB) da bacia do Tapajós.

Fonte e mais informação: www.andes.org.br/andes/print­ultimas­noticias.andes?

Alimentos com agrotóxicos causam estragos à saúde eao meio ambienteOs recursos para garantir a produção de alimentos emescala mundial vêm causando danos irreparáveis, não sópara o meio ambiente, mas também para a saúde daspessoas. É preciso ficar atento às refeições – até as maisbalanceadas podem esconder agrotóxicos, fertilizantes eoutras substâncias usadas nas plantações. Além disso, éimportante tomar decisões individuais por uma alimentaçãomenos agressiva.As substâncias utilizadas para fortificar as plantações nomundo inteiro já respondem por boa parte da poluição dosolo, dos recursos hídricos e até pelo aumento de doenças.“O consumo de agrotóxicos está diretamente relacionado aosurgimento de vários tipos de câncer. Além disso, estassubstâncias também trazem impactos neurológicos, sendoresponsáveis por vários casos de déficit de atenção”, afirmao nutrólogo Eric Slywitch.Fonte: ciclovivo.com.br (28 de Junho de 2013)