neurobiologia dos comportamentos aditivos

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0 2011/2012 André Filipe Pereira de Oliveira Neurobiologia dos Comportamentos Aditivos Março, 2012

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  • 0

    2011/2012

    Andr Filipe Pereira de Oliveira

    Neurobiologia dos Comportamentos Aditivos

    Maro, 2012

  • 1

    Mestrado Integrado em Medicina

    rea: Psiquiatria

    Trabalho efectuado sob a Orientao de:

    Prof. Doutor Manuel Antnio Fernandez Esteves

    Andr Filipe Pereira de Oliveira

    Neurobiologia dos Comportamentos Aditivos

    Maro 2012

    Revista: Arquivos de Medicina

  • 1

    Ttulo: Neurobiologia dos Comportamentos Aditivos

    Neurobiology of Addictive Behaviors

    Autor: Andr Filipe Pereira de Oliveira1

    Co-autor: Prof. Dr. Manuel Antnio Fernandez Esteves2

    Filiao: 1,2

    Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

    Contactos: Andr Filipe Pereira de Oliveira

    Travessa Dr. Barros, n17 Apartamento 408

    4465-034 S. Mamede Infesta, Porto

    Portugal

    +351963358658, [email protected]

    Contagem de palavras: Abstract em portugus: 245 palavras.

    Abstract em ingls: 238 palavras.

    Texto integral: 4999 palavras.

  • 2

    Agradecimentos

    Gostaria de agradecer ao Professor Doutor Manuel Antnio Fernandez Esteves pela sua

    disponibilidade e sabedoria sem a qual esta monografia no teria sido possvel.

    Um grande obrigado ao Professor Nikolai Lukoyanov, a todos os meus amigos e famlia

    pelo apoio, carinho e pacincia ao longo de todo o meu percurso.

  • 3

    RESUMO

    Neurobiologia dos Comportamentos Aditivos

    Os comportamentos aditivos so cada vez mais estudados como uma doena neurobiolgica

    em que o uso repetido de uma substncia corrompe e reorganiza o circuito normal de recompensa e o

    comportamento adaptativo, causando mudanas neuroplsticas. O objetivo deste artigo foca-se na

    explicao organizada dos avanos nesta rea, propondo-se igualmente expor o atual estado da arte

    dos mecanismos subjacentes aos comportamentos aditivos e sua etiologia.

    Foi efetuada uma pesquisa bibliogrfica utilizando a base de dados MEDLINE. As palavras-

    chave usadas foram neurobiology e addiction. Definiram-se limites de artigos publicados nos ltimos

    5 anos. Foram consultados outros estudos por pesquisa manual de referncias cruzadas, o DSM-IV e

    outros artigos citados.

    As dependncias tm sido caracterizadas como distrbios que envolvem elementos quer de

    impulsividade quer da compulsividade produzindo um ciclo complexo de dependncia composto de

    trs fases: intoxicao, abstinncia e antecipao. Vrios neurotransmissores e neurocircuitos esto

    subjacentes s alteraes patolgicas em cada uma destas fases. Evidncia crescente sugere que as

    adies comportamentais se assemelham s adies de dependncia de substncias em muitos

    domnios.

    O aumento de transmisso da dopamina no ncleo accumbens faz parte da via comum dos

    aspectos recompensadoras das drogas de abuso e do incio do processo de adio. Outros

    neurotransmissores como o GABA, opiides, serotonina e os endocanabinides tambm

    desempenham um papel importante no processo inicial da adio.

    Os progressos no conhecimento da neurobiologia da adio permitem uma melhor abordagem

    terica psicofarmacolgica no tratamento dos comportamentos aditivos, adequando vrias

    intervenes biolgicas s diversas fases da doena.

    PALAVRAS-CHAVE: adio, neurobiologia, dependncia, substncias, dopamina, adio

    comportamental.

  • 4

    ABSTRACT

    Neurobiology of Addictive Behaviors

    Addictive behaviors are increasingly studied as a neurobiological disease in which the

    repeated use of a substance corrupts and rearranges the normal reward and adaptive behavior, causing

    neuroplastic changes. This article focuses on an organized explanation of the advances in this area,

    proposing also to expose the current "state of the art" mechanisms underlying addictive behaviors and

    etiology.

    A theoretical background research was conducted using the MEDLINE database. The

    keywords used were neurobiology and addiction. We defined limits for articles published within the

    past five years. Other studies were found by manually searching cross-references, the DSM-IV and

    other cited articles.

    Addiction has been characterized as a disorder that involves elements of both impulsivity and

    compulsivity and produces a complex cycle of addiction comprised of three stages: intoxication,

    withdrawal and anticipation. Several neurotransmitters and brain circuits underlie pathological

    changes in each of these phases. Increasing evidence suggests that behavioral addictions resemble the

    addictions of substance dependence in many areas.

    The increase of transmission of dopamine in nucleus accumbens is part of the common

    pathway of rewarding aspects of drugs of abuse and in the initiation of the addiction. Other

    neurotransmitters such as GABA, opioids, serotonin and endocannabinoids also play an important role

    in the initial addiction.

    The progress on knowledge of the neurobiology of addiction allows a theoretical approach to a

    psychopharmacologic treatment of addictive behaviors, particularly in certain biological interventions

    aimed at the different stages of the disease.

    KEY-WORDS: addiction, neurobiology, dependence, substance, dopamine, behavioral addiction.

  • 5

    ABREVIATURAS

    5-HT 5-hidroxitriptamina

    ACTH Hormona adrenocorticotrfica

    AMPA -amino-3-hydroxy-5-methyl-4-isoxazole propionic acid

    BDNF Brain-derived neurotrophic factor

    cAMP 3'-5'-cyclic adenosine monophosphate

    CB1 Cannabinoid receptor type 1

    CREB Cyclic AMP Response Element Binding Protein

    CRF Corticotropin-releasing factor

    DA Dopamina

    DARPP-32 Dopamine and cyclic 3, 5 adenosine monophosphate-regulated phosphoprotein

    DSM-IV-TR Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fourth Edition, Text Revision

    DSM-V Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition

    ERK Extracellular signal-regulated kinases

    GABA Gamma-aminobutyric acid

    MAO Monoamino oxidase

    NA Ncleo accumbens

    NMDA N-methyl-D-aspartic acid

    PET Tomografia por Emisso de Positres

    PFC Prefrontal cortex

    SPECT Tomografia Computorizada por Emisso de Foto nico

    THC Tetrahydrocannabinol

  • 6

    NDICE

    1. INDRODUO... 7

    2. MATERIAL E MTODOS.... 9

    3. COMPORTAMENTOS ADITIVOS . 9

    3.1. CONCEITOS/DEFINIES ................. 9

    3.1.1. DEPENDNCIA DE SUBSTNCIAS (ADIO) VS

    ADIO COMPORTAMENTAL... 12

    3.2. ETIOPATOGENIA DOS COMPORTAMENTOS ADITIVOS..... 13

    4. O PROCESSO DE ADIO.. 14

    4.1. INCIO DA ADIO (REFORO POSITIVO).... 17

    4.1.1. DOPAMINA, NCLEO ACCUMBENS E RECOMPENSA .... 17

    4.1.2. GABA, SEROTONINA, ENDOCANABINIDES,

    OPIIDES E OUTROS.... 19

    4.2. REFORO NEGATIVO E RECRUTAMENTO DE SISTEMAS

    DE STRESS DO CREBRO.. 22

    5. CONCLUSES .......23

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................... 25

    7. ANEXO............................... 31

  • 7

    1. INDRODUO

    Padres anormais de uso de substncias tm sido descritos desde a antiguidade, pelo menos

    desde a morte de Alexandre o Grande em 323 a.C. provocada por anos de grande consumo alcolico.

    Aristteles registou os efeitos da privao do lcool em dependentes e alertou sobre os perigos do seu

    consumo durante a gravidez. No entanto foi o mdico romano Celsus que afirmou que o consumo

    excessivo constitua uma doena (1).

    Os comportamentos aditivos, ou seja de dependncia, so o resultado de uma combinao

    entre uma substncia e o meio ambiente. Esta relao moldada por diversos fatores incluindo cultura,

    sociedade, religio e crenas, psicologia individual (personalidade aditiva, ansiosa ou antisocial),

    pensamento (adio como um comportamento aprendido), neurobiologia e a gentica. A

    complexidade etiolgica dos comportamentos aditivos ilustrada pela histria de constantes mudanas

    de opinies sociais e mdicas no existindo unanimidade de pontos de vista nesta matria. Tem sido

    comum observar-se no mesmo tempo e no mesmo lugar, a confrontao de atitudes opostas em

    questes como:

    - definio estrita vs definio alargada de adio (e.g., incluso de dependncias

    comportamentais);

    - proibio ou uso livre;

    - punio ou tratamento do dependente;

    - e da responsabilidade individual (1).

    O objetivo atual da investigao em neurobiologia dos comportamentos aditivos perceber os

    mecanismos genticos, celulares e moleculares que medeiam a transio entre o uso ocasional e

    controlado para um descontrolo do comportamento na busca e consumo de drogas e de recadas

    crnicas mesmo aps abstinncia prolongada, que uma caracterstica da adio (4).

  • 8

    Neste artigo, os termos dependncia ou adio so considerados sinnimos e equivalentes ao

    termo ingls addiction. Irei tambm clarificar algumas definies imprescindveis para a interpretao

    dos processos aditivos.

    O comportamento aditivo tambm conhecido como toxicodependncia ou dependncia de

    substncias de acordo com o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fourth Edition,

    Text Revision (DSM-IV-TR) (2) uma doena crnica e recidivante que caracterizada por uma

    compulso na procura e uso de drogas, descontrolo do uso de drogas e um emergente estado

    emocional negativo (e.g., disforia, ansiedade e irritabilidade) que define uma sndrome de privao

    motivacional quando o acesso s drogas se encontra impossibilitado (3). O uso ocasional, limitado e

    recreativo de uma droga clinicamente distinto de um aumento progressivo de uso de drogas, perda de

    controlo no uso e de um comportamento compulsivo em busca da droga que caracteriza a adio. A

    distino crtica entre dependncia e o abuso de substncias encontra-se referenciada em dados

    estatsticos que mostram que aproximadamente 15,6% (29 milhes) da populao adulta dos Estados

    Unidos da Amrica vai envolver-se com o consumo no mdico ou ilcito de substncias ao longo da

    vida, mas apenas 2,9% (5,4 milhes) vo desenvolver dependncia de substncias como resultado do

    uso ilcito e crnico de drogas (4).

    Os comportamentos aditivos vm sendo cada vez mais estudados como uma doena

    neurobiolgica em que o uso repetido de uma substncia corrompe e reorganiza o circuito normal de

    recompensa e o comportamento adaptativo, causando mudanas neuroplsticas significativas (5) que

    se manifestam como: um comportamento recorrente e compulsivo na procura de substncias;

    incapacidade de regulao desses comportamentos; uso contnuo de substncias apesar de

    consequncias catastrficas negativas; vulnerabilidade contnua a recadas mesmo depois de perodos

    longos de sobriedade; vontade reduzida para adquirir reforos naturais biolgicos importantes na

    sobrevivncia e na insero psicosocial na sociedade (6).

    A neurobiologa um ramo da cincia que tem como objeto de estudo as clulas do sistema

    nervoso e a organizao destas clulas dentro de circuitos funcionais que processam a informao e

  • 9

    medeiam o comportamento. So abordadas desde alteraes macroscpicas at ao nvel molecular, no

    esquecendo genmica, interao com o ambiente, bem como fenmenos de plasticidade neuronal. A

    neurobiologia moderna vem utilizando de forma crescente tcnicas de estimulao cerebral assim

    como de imagiologia (49,50). Os estudos gerados nesta rea so imensos quer em qualidade quer em

    quantidade, o que parece exceder a capacidade de organizar teorias coerentes (7). O objetivo deste

    artigo de reviso da literatura foca-se na explicao organizada dos avanos nesta rea, propondo-se

    igualmente expor o atual estado da arte dos mecanismos subjacentes aos comportamentos aditivos e

    sua etiologia.

    2. MATERIAL E MTODOS

    Foi efetuada uma pesquisa bibliogrfica utilizando a base de dados MEDLINE, atravs do

    motor de busca PubMed. As palavras-chave usadas foram neurobiology e addiction. Foram definidos

    limites de artigos publicados nos ltimos 5 anos (julho de 2006 at julho 2011). S foram tidos em

    conta os artigos de lngua inglesa e portuguesa. No foram definidos limites de artigos escritos noutras

    lnguas. Da pesquisa resultaram 401 entradas, tendo-se excludo 350 por leitura dos resumos obtidos.

    Os restantes artigos, foram lidos em full-text. A lista bibliogrfica foi aumentada por pesquisa manual

    de referncias cruzadas, tendo-se includo desta forma mais 5 artigos. De referir ainda a consulta do

    DSM-IV-TR e outros estudos, no includos na pesquisa inicial, citados nos artigos lidos ou na

    pesquisa manual de artigos sugeridos pelo orientador da tese de mestrado, perfazendo um total de 64

    referncias a citar.

    3. COMPORTAMENTOS ADITIVOS

    3.1. CONCEITOS/DEFINIES

    A apresentao da teoria da adio sem uma definio clara e detalhada do termo, levaria

    certamente a uma m interpretao do tema. A definio de adio matria controversa e o prprio

  • 10

    DSM-IV-TR nem aplica o termo. Comeou-se por formular uma definio com base nas

    caractersticas principais da toxicodependncia, definida no DSM-IV-TR como dependncia de

    substncias, o paradigma dos comportamentos aditivos (7).

    Um contexto psiquitrico e motivacional envolvendo os reforos positivo e negativo no uso de

    drogas a confirmao de que a adio do uso de drogas tem aspetos simultaneamente de perturbao

    do controlo dos impulsos e de compulso (4). As perturbaes de controlo dos impulsos so

    caracterizadas pela sensao crescente de tenso ou excitao antes de cometer um ato impulsivo e

    prazer, satisfao ou alvio no momento de cometer o ato (2). Estas perturbaes esto grandemente

    associadas com mecanismos do reforo positivo (2,4). Por outro lado, as perturbaes compulsivas so

    caracterizadas por ansiedade e stress antes de cometer um comportamento compulsivo repetitivo e

    alvio do stress pela realizao do comportamento compulsivo (2). Perturbaes compulsivas esto

    fortemente associadas a mecanismos de reforo negativo e de automatismo (2,4). Finalmente, o

    comportamento aditivo busca tanto a obteno de prazer como a reduo dos estmulos dolorosos

    sendo assim motivado tanto pelo reforo positivo como negativo (7).

    Quando combinamos a funo destes dois sistemas motivacionais distintos nos

    comportamentos aditivos e juntamos as caractersticas chave que distinguem o uso normal e ocasional

    do uso aditivo de substncias, chegamos a uma definio comportamentalmente inespecfica e vivel

    de adio. A adio uma condio em que um comportamento pode funcionar tanto na busca e

    produo de prazer como na reduo de afetos negativos. O padro de comportamento permite ainda

    distinguir duas caractersticas chave: falha recorrente do controlo comportamental e prosseguimento

    do comportamento apesar das significativas consequncias prejudiciais (7).

    Outra questo pertinente prende-se com o facto de existir um ponto-chave na adio a

    autoadministrao. A dependncia fsica pode resultar do uso em doses elevadas de um analgsico

    opiide administrado terapeuticamente por um profissional de sade em doentes com dor severa, e no

    entanto estes doentes raramente se tornam toxicodependentes (27). A situao foi diferente nos

    veteranos feridos da guerra civil americana, aos quais foram dadas seringas e placas de morfina para

  • 11

    autoadministrao (28). O mesmo autor refere ainda vrios artigos na literatura realizados com as mais

    recentes tecnologias, mas com a falha bsica de que os animais so presumidamente tratados como

    dependentes pela exposio contnua a drogas (lcool, opiides ou cocana). Estes artigos sustentam

    informaes importantes dos mecanismos biolgicos de tolerncia e de dependncia fsica, mas que

    no devem ser considerados verdadeiramente como adio (29, 30).

    A adio no ocorre em todos os doentes sujeitos administrao de opiides por

    profissionais de sade. Apenas alguns indivduos vm a desenvolver dependncia. A grande maioria

    dos pacientes que se autoadministraram morfina no desenvolveram dependncia (31). Dito isto

    podemos mencionar vrios fatores importantes a ter em considerao para alm da autoadministrao:

    - contextos ambientais (e.g., veteranos de guerra que sofreram traumas severos durante e aps

    a guerra; o desemprego elevado e possveis problemas de sade mental);

    - a probabilidade e importncia de coadministrao de substncias;

    - nveis elevados de rutura ou desinsero social;

    - outras vulnerabilidades (e.g. predisposies genticas).

    Outros autores defendem modelos conceptuais ou integrativos como aquele que proposto por Koob e

    colaboradores. que colocam tais fatores num contexto mais alargado (31,32).

    Aviel Goodman, ao classificar os comportamentos aditivos inclui no s a adio por

    substncias psicoativas como tambm a bulimia, o jogo patolgico, adio s compras, adio

    sexual e outras que respeitem a definio de adio. Refere tambm que quando se fala de

    comportamentos aditivos como um grupo de distrbios, no se trata apenas de uma coleo de

    perturbaes distintas, mas sim de um processo subjacente que capaz de ser expresso em uma ou

    mais manifestaes comportamentais (7).

    Uma evidncia crescente mostra que as adies comportamentais se assemelham s adies

    por substncia em vrios domnios (9).

  • 12

    3.1.1. DEPENDNCIA DE SUBSTNCIAS (ADIO) VS ADIO COMPORTAMENTAL

    Muitos comportamentos, para alm dos aditivos relativamente a substncias psicoativas,

    produzem recompensas de curto prazo que podem gerar comportamentos persistentes mesmo com

    conhecimento das consequncias adversas, i.e., diminuio do controlo sobre este mesmo

    comportamento. Esta semelhana deu origem ao conceito de adies livres de substncias ou adies

    comportamentais, i.e. sndromes anlogas adio de substncias mas sem o componente

    comportamental da ingesto de substncias psicoativas (9). O conceito de adio comportamental tem

    valor clnico heurstico e cientfico, mas permanece controverso (9). Diversas questes relativas s

    adies comportamentais esto a ser debatidas e ponderadas no contexto do desenvolvimento do

    DSM-V (10, 11).

    As adies comportamentais e de substncias apresentam inmeras similaridades tanto no que

    diz respeito sua etiologia como sua histria natural, fenomenologia e consequncias. Ambas tm

    incio na adolescncia e idade do adulto jovem e taxas mais elevadas nestes grupos etrios do que

    entre adultos mais velhos (13,14). Ambas apresentam igualmente uma histria natural que pode

    apresentar padres crnicos de recadas, mas com muitas pessoas a recuperar por conta prpria sem

    tratamento formal (o chamado abandono "espontneo") (15).

    O DSM-IV-TR definiu critrios formais de diagnstico para vrios distrbios

    comportamentais (e.g., jogo patolgico, cleptomania) classificando-os como perturbaes do controlo

    do impulso, uma categoria diferente das perturbaes por uso de substncias (2,9). Prev-se que outros

    comportamentos ou distrbios do controlo do impulso venham a ser considerados no prximo DSM-V

    como compra compulsiva, pathologic skin picking, adio sexual (hipersexualidade no paraflica),

    excesso de bronzeamento, adio a jogos de vdeo e computador e adio internet (9,12).

  • 13

    3.2. ETIOPATOGENIA DOS COMPORTAMENTOS ADITIVOS

    Diversos estudos de histria familiar indicam que parentes biolgicos de um indivduo ao qual

    foi diagnosticado uma dependncia psicoativa de substncia, bulimia nervosa, jogo patolgico ou

    adio sexual, apresentam um risco significativamente maior do que a populao em geral de

    desenvolverem algum tipo de doena aditiva (7, 13). Estes estudos familiares controlados suportam a

    ideia de que as adies comportamentais devem ter uma componente gentica tal como acontece com

    as perturbaes relativas ao abuso de substncias (13,16).

    A componente gentica nos comportamentos aditivos foi igualmente comprovada em estudos

    com pares de gmeos tendo sido reunida evidncia para uma vulnerabilidade comum no abuso de

    substncias psicoativas, independentemente do tipo de substncias (17). Nesses estudos verificou-se

    uma partilha de vulnerabilidade abrangendo quer fatores geneticamente determinados quer fatores

    determinados pelo ambiente. Noutras pesquisas em que no foi examinado o fator ambiental, foi

    possvel concluir que havia uma predisposio hereditria para o abuso, manifestada numa

    suscetibilidade comum aos dois indivduos mas que no era especfica para uma substncia (18).

    Durante as ltimas dcadas, ocorreram mudanas importantes no pensamento psicodinmico

    sobre abuso de substncias (19). Os comportamentos aditivos encontraram tambm explicao em

    teorias com base na psicologia. As teorias psicanalticas relativas adio, realam primariamente o

    uso de drogas como uma regresso ou adaptao agradvel (19).

    Diversos trabalhos de investigao no campo das neurocincias foram mais alm, mostrando a

    vulnerabilidade comum que est por trs do abuso de substncias psicoativas e delineando os

    processos neurobiolgicos que condicionam e explicam esta mesma vulnerabilidade. Algumas das

    referidas investigaes dizem respeito :

    - desregulaes dos circuitos mesolmbicos da dopamina (DA) (20,21);

    - reduo dos recetores da DA D2 (21);

    - anormalidades no crtex orbitofrontal (22);

  • 14

    - anormalidades no crtex ventromedial pr-frontal (23);

    - variaes genticas do recetor canabinide 1 (CB1/Cnr1) (24);

    - up-regulation do brain-derived neurotrophic factor (BDNF) (25);

    - atividade comprometida da leptina (26).

    Estes estudos ampliaram tambm as reas desta vulnerabilidade para incluir o jogo patolgico e o uso

    patolgico de recompensas naturais como o sexo e comida, bem como o abuso de substncias

    psicoativas (7,20,26).

    4. O PROCESSO DE ADIO

    A chave para a compreenso dos processos aditivos passa necessariamente pelo estudo da

    neurobiologia da recompensa natural assim como do comportamento adaptativo. A um nvel

    fundamental os organismos tm sistemas adaptativos e evolucionrios que medeiam:

    - a aquisio de comportamentos recompensadores de prazer muito importantes na

    sobrevivncia (e.g., sexo, alimentao);

    - o evitar de situaes aversivas quer sejam de ordem fsica ou psicolgica (5).

    Trs regies base do crebro foram extensivamente identificadas. So responsveis por mediar esse

    comportamento adaptativo bem como pela regulao do comportamento face ao exterior. De uma

    forma simplista, trata-se: a) do ncleo accumbens (NA) mediando atividades relacionadas com a

    recompensa (valncia positiva); b) da amgdala, regio envolvida em comportamentos motivados pelo

    medo (valncia negativa); c) do crtex pr-frontal (PFC) envolvido nas tomadas de deciso e na

    previso de comportamentos recompensadores devido determinao da importncia de estmulos

    ambientais e adaptando a intensidade da resposta comportamental (33). O funcionamento

    homeosttico do sistema interoceptivo (e.g. motivao interna) e estados afetivos em conjunto com

  • 15

    estmulos externos recompensadores determinam a resposta comportamental de um indivduo na busca

    de recompensas naturais ou para evitar ou diminuir os estados de conscincia da dor (34,35).

    A motivao subjacente procura patolgica de droga envolve dois sistemas distintos de

    reforo o positivo e o negativo (34). O reforo positivo ocorre quando na presena de um estmulo

    este aumenta a probabilidade de resposta traduzindo-se frequentemente num estado hednico

    (recompensa) positivo (34). A sustentao para o efeito de recompensa das drogas de abuso vem da

    observao de animais no-dependentes que se esforam para obter drogas mesmo na ausncia de um

    estado motivacional imposto (e.g., alimentao, privao de gua ou abstinncia de drogas) (34). Este

    fato esteve na origem das primeiras posies tericas sobre o incentivo da motivao e mais

    recentemente do incentivo de importncia (35). Atravs destes factos, um quadro conceptual para a

    adio pode ser desenvolvido. As drogas usurpam o lugar dos sistemas de incentivo de importncia

    do crebro, levando a um estreitamento da resposta comportamental com o objetivo principal de

    obteno e uso de drogas (33,36). O reforo negativo envolve o uso de drogas na auto-medicao de

    um estado aversivo ou de modo a aliviar sintomas emocionais negativos induzidos pela abstinncia

    das drogas (inclundo disforia, ansiedade, irritabilidade e distrbios do sono) (34).

    Os estudos iniciais da neurobiologia dos comportamentos aditivos colocavam maior nfase no

    impacto agudo das drogas de abuso. Atualmente os cientistas centram-se na administrao crnica e

    nas mudanas neuroadaptativas agudas e de longo prazo que ocorrem no crebro durante as recadas

    (4).

    O processo aditivo pode ser entendido como envolvendo a disfuno em trs sistemas

    funcionais distintos (7):

    - da motivao-recompensa, que expe os dependentes a estados de irritabilidade, tenso,

    insatisfao, e anedonia impaciente. No contexto desta disfuno, comportamentos que esto

    associados com a ativao do sistema de recompensa so mais fortemente reforados do que normal

    quer pelo reforo positivo quer negativo;

  • 16

    - da regulao do afeto, que torna os dependentes cronicamente vulnerveis instabilidade

    dolorosa afetiva e emocional. Comportamentos que esto associados com o evitar ou fuga dor afetiva

    so mais fortemente reforados por via do reforo negativo;

    - da inibio comportamental, que aumenta a probabilidade dos impulsos, para alguma forma

    de reforo a curto prazo (negativo, positivo ou ambos) se sobreporem ponderao de consequncias

    a longo prazo, tanto positivas quanto negativas.

    Quando existe perturbao do sistema motivao-recompensa e regulao do afeto, a disfuno da

    inibio comportamental significa que impulsos envolvidos no desenvolvimento de comportamentos,

    que esto associados com a ativao (a) do sistema de recompensa, e (b) fuga ou o evitar da dor

    afetiva, so extraordinariamente difceis de resistir, apesar das consequncias nefastas que podem

    acarretar. (7)

    Koob e colaboradores defendem que o colapsar dos ciclos de impulsividade e compulsividade

    produz um ciclo complexo da adio que compreende trs fases (4):

    - compulso (binge)/intoxicao;

    - efeito da abstinncia/afeto negativo;

    - preocupao/antecipao.

    Estas trs fases so caracterizadas por interagirem umas com as outras, tornando-se progressivamente

    mais intensas, e, conduzindo finalmente ao estado patolgico conhecido como adio (4). Ao longo

    deste ciclo, a impulsividade domina frequentemente nas fases iniciais e a impulsividade combinada

    com compulsividade domina nas fases posteriores (4). Quando um indivduo se move a partir da

    impulsividade para a compulsividade, ocorre uma mudana do reforo positivo direcionando o

    comportamento motivado para o reforo negativo e automaticidade comandada pelo comportamento

    motivado (4). A transio do uso de drogas ocasional para a dependncia envolve a neuroplasticidade

    em todos estes elementos e pode comear com o uso de drogas inicial em indivduos vulnerveis ou

    indivduos particularmente vulnerveis em perodos de desenvolvimento (e.g., adolescncia) (14, 37).

  • 17

    A hiptese inicial que nenhum fator considerado individualmente necessrio ou suficiente

    j que o processo de adio resulta de uma variedade de combinaes multi-fatoriais. O processo de

    adio que caracteriza uma pessoa o resultado singular da gentica individual e influncias

    ambientais. E, entre este conjunto de particularidades, um bom conjunto de teorias vai permitir-nos

    reconhecer alguns padres chave (7).

    4.1. INCIO DA ADIO (REFORO POSITIVO)

    4.1.1. DOPAMINA, NCLEO ACCUMBENS E RECOMPENSA

    Uma caracterstica comum s drogas suscetveis de provocar adio e tambm s adies

    comportamentais, e.g., jogo patolgico, atividade sexual ou ingesto de alimentos (especialmente

    doces) a sua capacidade em aumentar os nveis extracelulares de DA no NA (fazendo parte na via

    comum de recompensa mesolmbica da rea tegmental ventral [VTA] ao NA) (21,38,41). Este

    aumento de DA pelas drogas acontece por trs mecanismos distintos:

    - diretamente atravs da inibio da recaptao;

    - diretamente atravs da libertao pr-sinptica (e.g., cocana, anfetaminas);

    - indiretamente atravs de alteraes no disparo das clulas dopaminrgicas (e.g., lcool,

    opiides, nicotina, canbis e antagonistas do N-methyl-D-aspartic acid [NMDA]) (39).

    A recompensa ou prazer foram inicialmente relacionados sob o ponto de vista neurobiolgico com a

    atividade dopaminrgica no NA. No entanto, estudos recentes vieram clarificar a funo da DA na

    sinalizao de eventos de incentivo importantes (estmulos aversivos, recompensadores, novos e

    inesperados) na execuo de comportamentos motivados, previso de recompensa ou no recompensa

    e no sentido de facilitar a consolidao da memria para eventos importantes (34,40,41). Cinco

    recetores da DA foram identificados, sendo que todos eles se encontram acoplados protena G.

    Podem ser classificados em duas famlias:

  • 18

    - recetores D1 e D5 que estimulam a adenilato ciclase para produzir 3'-5'-cyclic adenosine

    monophosphate (cAMP);

    - recetores D2, D3 e D4 que inibem a produo de cAMP. (7)

    A maioria dos recetores D1 e D5 tem uma localizao ps-sinaptica enquanto os recetores D2, D3 e D4

    esto localizados pr-sinapticamente (44). As funes dos recetores D1, D2 e D3 esto relacionadas

    com a motivao e recompensa, e os D4 e D5 parecem estar mais envolvidos com a inibio do

    comportamento (7).

    A ativao dos recetores D1 foi associada a recompensa do etanol, alimentos e psicoestimulantes entre

    outros (7, 45). Esta ativao parece ter como consequncia alguns dos seguintes processos:

    - alteraes da superfcie celular provocadas por psicoestimulantes que promovem a

    exteriorizao dos recetores -amino-3-hydroxy-5-methyl-4-isoxazole propionic acid (AMPA) com o

    desenvolvimento de potenciao de longo prazo, o que facilita a aprendizagem relacionada com a

    recompensa (46);

    - modificaes intracelulares como induo de genes c-Fos, FosB, Fra-2 e JunB pelo uso

    agudo de cocana, ativao das extracellular signal-regulated kinases (ERK) (induzida por cocana,

    morfina, nicotina e Tetrahydrocannabinol [THC]) ou da fosforilao do mensageiro intracelular

    dopamine and cyclic 3, 5 adenosine monophosphate-regulated phosphoprotein (DARPP-32) que se

    descobriu ser um importante mediador dos efeitos recompensadores da cocana (47, 48).

    Alguns estudos propem que a administrao contnua de antagonistas D1 (ecopipam) conduz a um

    aumento da sensibilidade dos recetores D1 levando a um acrscimo dos efeitos subjetivos e de reforo

    da cocana (7).

    Diversos estudos clnicos mostraram uma associao entre o alcoolismo e a diminuio de

    recetores D2. Utilizando tomografia por emisso de positres (PET) e tomografia computorizada por

    emisso de foto nico (SPECT) em indivduos com adio ao etanol, cocana, metanfetamina e

    herona foi possvel observar uma reduo na densidade de recetores D2 no estriado ventral que

  • 19

    persistia mesmo aps a desintoxicao (49). Foi avanada a hiptese com suporte em estudos pr-

    clnicos e com populaes no-clnicas, que baixos nveis de recetores D2 predispem os indivduos a

    procurarem substncias psicoativas ou outros reforos (51), como forma de compensar o consequente

    decrscimo da ativao do circuito de recompensa (52,53).

    A investigao dos recetores D3 constitui um fenmeno recente. Embora se saiba que estes

    esto localizados primariamente nas regies lmbicas tal conduziu especulao de que os recetores

    D3 estariam envolvidos no processo de adio. Somente aps o desenvolvimento de antagonistas

    destes recetores puderam ser realizados estudos sobre dependncia. Embora alguns resultados apontem

    para o facto dos recetores D3 estarem relacionados com a reduo e preveno do abuso de substncias

    outras investigaes mostraram-se inconclusivas (7).

    Na fase inicial do aumento da transmisso dopaminrgica no NA, as vrias drogas de abuso

    so responsveis pela fase aguda do estado pedrado ou pelo incio dos efeitos de reforo positivo.

    Em animais, a leso do NA ou a inibio da libertao de DA no NA diminuiu a aquisio de

    comportamentos em busca de droga e atenuou significativamente a autoadministrao de drogas

    (8,54).

    Embora a DA parea ser o mecanismo primrio do incio do reforo das drogas, outros

    neurotransmissores foram estudados e relacionados como tendo propriedades no reforo em situaes

    agudas. Estes sistemas podem atuar em conjunto com o sistema dopaminrgico mesolmbico ou

    podem constituir uma via independente do reforo (55).

    4.1.2. GABA, SEROTONINA, ENDOCANABINIDES, OPIIDES E OUTROS

    Em relao aos recetores do gamma-aminobutyric acid (GABA) esto identificados trs tipos:

    GABAA, GABAB e GABAC. Interneurnios GABArgicos fornecem uma via inibitria aferente que

    modula a libertao de DA quer na VTA quer no NA. Recentemente foram realizados estudos com

  • 20

    frmacos que aumentam a transmisso GABArgica demonstrando sucesso no tratamento de

    toxicodependncias nomeadamente da cocana, lcool e nicotina (56).

    Antagonistas dos recetores GABAA que se ligam perto ou no local ativo, como a picrotoxina

    ou a bicuculina mostraram-se redutores da autoadministrao de etanol e cocana (7, 57). No entanto

    existe uma especificidade neuroanatmica que reflete o papel da VTA no sistema de recompensa

    dopaminrgico, provada por microinjees em regies fora da VTA que mostraram no reduzir o

    consumo de etanol (7). Neurnios dopaminrgicos da VTA que projetam para o NA esto sob controlo

    inibitrio tnico mediado por recetores GABAA, e injees de picrotoxina na VTA constataram um

    aumento da libertao de DA no NA (7).

    Em estudos pr-clnicos, o baclofen, agonista do recetor GABAB revelou atenuar a

    autoadministrao de cocana, herona, etanol, nicotina e de d-amphetamine (58-61). Verificou-se

    tambm que diminua a taxa de recada na autoadministrao de cocana e herona (58).

    O sistema opiide tem um papel modulatrio importante no processo dopaminrgico onde a

    ativao de recetores opiides (mu) aumenta a transmisso de DA pela provvel inibio dos

    interneurnios GABArgicos que normalmente possuem uma inibio tnica dos neurnios

    dopaminrgicos da VTA (5,7). Alm da propriedade inata de reforo dos opiides, o sistema

    opioidrgico foi relacionado tambm com as propriedades de reforo do etanol, canbis e como tendo

    um papel importante nas perturbaes de controlo de impulso (e.g., jogo patolgico) (23).

    Em relao ao sistema serotoninrgico, a VTA e o NA recebem aferncias serotoninrgicas

    provenientes dos ncleos da rafe e estudos com marcadores perifricos da funo da 5-HT (atravs

    nomeadamente da MAO-B) mostraram baixos nveis de 5-HT em pessoas com perturbaes do uso de

    substncias e do jogo patolgico. possvel que a disfuno da 5-HT nas perturbaes do controlo do

    impulso espelhem uma insuficincia inibitria do PFC e que compostos serotoninrgicos possam

    modular a via mesolmbica da DA (21).

    O componente mais estudado e aparentemente mais significativo do sistema serotoninrgico,

    que influencia a motivao-recompensa, o recetor 5-HT1B que est acoplado protena Gi e que pode

  • 21

    ser encontrado no terminal axonal de muitos tipos de neurnios. Terminais dos axnios GABArgicos

    que se projetam da periferia do NA VTA contm recetores 5-HT1B que, quando ativados, inibem a

    libertao de GABA (7). Como o GABA, que libertado na VTA, inibe neurnios dopaminrgicos

    locais, a inibio da libertao de GABA vai desinibir os neurnios dopaminrgicos mesolmbicos e,

    assim, potenciar os efeitos da DA no uso de cocana e de outras substncias e comportamentos

    gratificantes (7, 63).

    Neurnios colinrgicos dos ncleos pednculo-pontino e tegmental dorsolateral proporcionam

    uma via excitatria para o VTA, causando libertao de DA na projeo ao longo da VTA at ao NA.

    Recetores nicotnicos colinrgicos 42 mostraram-se fortemente implicados nas propriedades de

    reforo da nicotina, ao passo que os recetores muscarnicos M5 mostraram-se envolvidos nos efeitos de

    recompensa dos opiides e da cocana (56).

    No que respeita ao sistema endocanabinide, o recetor CB1 um mediador das propriedades

    de reforo dos canabinides facilitando a libertao de DA no NA, porm o mecanismo ainda no est

    totalmente esclarecido. Os terminais dopaminrgicos no possuem recetores de canabinides. No

    entanto, a eliminao gentica de recetores CB1 (CB1 knock-out mice, CB1-/-) extinguiu a libertao de

    DA no NAc, em resposta morfina e ao etanol (7). Alm disso, o rimonabant (um agonista inverso e

    antagonista dos recetores CB1) foi associado ao bloqueio das propriedades de reforo da canbis,

    opiides, lcool, cocana e nicotina em animais. A ativao do sistema endocanabinide pode ter um

    papel importante na motivao, libertao de DA e propriedades de reforo de vrias drogas de abuso.

    Consequentemente, os antagonistas/agonistas inversos do CB1 representam uma classe da

    farmacoterapia com forte potencial anti-aditivo (5).

    O glutamato o responsvel pela entrada excitatria glutamatrgica numa variedade de

    estruturas corticais (incluindo o PFC) e estimula a libertao de DA na VTA e no NA (5,7). Alguns

    antagonistas do NMDA, como a cetamina, tm um potencial de adio elevado enquanto outros como

    a memantina, acamprosato ou ibogana, mostraram estar associados a efeitos anti-aditivos em

    humanos (5).

  • 22

    Outros substratos neuroqumicos tm sido extensamente estudados na sua relao com os

    comportamentos aditivos. Foram relacionados com a adio desde fatores de transcrio como o

    CREB ou o FosB (membro da famlia Fos), at hormonas, caso da leptina, melanocortinas e

    glicocorticoides passando por neuromoduladores entre os quais a substncia P e neuropeptdeo Y e

    outros peptdeos como DARPP-32, galanina e orexina (7).

    4.2. REFORO NEGATIVO E RECRUTAMENTO DE SISTEMAS DE STRESS DO

    CREBRO

    Na transio do abuso para dependncia, todas as drogas ativam o sistema de stress do

    crebro, resultando num aumento de ACTH, corticosterona e fator de libertao de corticotrofina

    (CRF) na amgdala durante a privao aguda. Alm disso, antagonistas CRF1 tm mostrado uma

    diminuio da autoadministrao de cocana, abstinncia de vrias drogas de abuso, e induo de

    stress pelo restabelecimento de opiides, lcool e comportamentos de busca de cocana em ratos.

    Antagonistas de recetores de glucocorticoides mostraram provocar uma diminuio das propriedades

    de reforo dos estimulantes. Considerados em conjunto, a ativao dos sistemas de stress do crebro

    parecem contribuir para o reforo negativo associado a estados de privao e recada na fase de

    abstinncia. Farmacoterapias anti-stress, em particular os antagonistas CRF1 podem constituir uma

    nova classe de medicamentos anti-aditivos de amplo espetro (5,35).

    Outro candidato para explicar os efeitos aversivos da abstinncia a dinorfina. Diversos

    trabalhos de investigao mostraram que os nveis de dinorfina se encontram aumentados no NA em

    resposta ativao dopaminrgica e que, por sua vez, a hiperatividade dos sistemas de dinorfina pode

    fazer diminuir a funo dopaminrgica. Agonistas opiides- so aversivos, e a abstinncia da

    cocana, dos opiides e do etanol encontra-se associada ao aumento da dinorfina no NA e/ou amgdala

    (64).

  • 23

    Uma hiptese importante defende que os sistemas de DA se apresentam comprometidos em

    fases cruciais do ciclo de adio, tal como acontece na fase de abstinncia, conduzindo a uma

    diminuio da motivao para estmulos no relacionados com a droga e ao aumento da sensibilidade

    droga consumida (63).

    Diversos estudos imagiolgicos avaliaram marcadores da funo cerebral, mostrando que os

    toxicodependentes examinados durante desintoxicaes prolongadas, apresentavam atividade

    disfuncional das regies: frontais (incluindo a regio dorsolateral pr-frontal) circunvoluo do

    cngulo e crtex orbitofrontal. Acredita-se que estas zonas estejam envolvidas nas perturbaes do

    controlo inibitrio e da impulsividade que contribuem para a recada (4).

    5. CONCLUSES

    O conhecimento da neurobiologia dos comportamentos aditivos evoluiu substancialmente nos

    ltimos anos, merc do contributo de inmeros investigadores que ajudaram a melhor compreender

    um fenmeno com enorme expresso na sociedade atual e cuja etiopatogenia extremamente

    complexa.

    No estudo dos comportamentos aditivos passou-se progressivamente de consideraes

    etiolgicas pouco mais que filosficas para um paradigma que assenta no mtodo cientfico e que

    incorpora diferentes pontos de vista, diferentes hipteses, todas elas complexamente interligadas e

    cada uma delas indubitavelmente ainda incompleta.

    Mltiplas regies cerebrais e circuitos tornam-se disfuncionais na adio s drogas e so

    suscetveis de contribuir diferenciadamente no complexo fentipo observado em indivduos

    dependentes. Embora algumas destas perturbaes funcionais possam estar presentes num maior ou

    menor grau em todas as classes de dependncia de drogas, algumas das alteraes parecem ser

    especficas para determinados tipos de drogas.

  • 24

    Pesquisa adicional necessria para melhorar o nosso conhecimento acerca das adies

    comportamentais equiparando-a ao estado atual da compreenso das dependncias de substncias. Os

    avanos conseguidos, apontam o caminho para direes futuras na pesquisa dos neurocircuitos da

    adio no mesmo quadro conceptual de compulso / intoxicao, abstinncia / efeito negativo, e

    preocupao / antecipao.

    Os vastos recursos da neurocincia moderna aplicados neurobiologia das dependncias

    oferecem uma oportunidade no s para entender os neurocircuitos do processo de dependncia, mas

    tambm para compreender os mecanismos da vulnerabilidade e em ltima anlise para orientar o

    tratamento desta doena devastadora.

  • 25

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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  • 31

    ANEXO

  • normas de publicao

    ARQ MED 2010; 4(5):167-70

    167

    Estas instrues seguem os Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals (disponvel em URL: www.icmje.org).

    Os manuscritos so avaliados inicialmente por membros do corpo editorial e a publicao daqueles que forem considerados adequados fica dependente do parecer tcnico de pelo menos dois revisores externos. A reviso feita anonimamente, podendo os revisores propor, por escrito, alteraes de contedo ou de forma ao(s) autor(es), condicionando a publicao do artigo sua efectivao.Todos os artigos solicitados sero submetidos a avaliao externa e seguiro o mesmo processo editorial dos artigos de investigao original.Apesar dos editores e dos revisores desenvolverem os esforos necessrios para assegurar a qualidade tcnica e cientfica dos manus-critos publicados, a responsabilidade final do contedo das publicaes dos autores.Todos os artigos publicados passam a ser propriedade dos ARQUI-VOS DE MEDICINA. Uma vez aceites, os manuscritos no podem ser publicados numa forma semelhante noutros locais, em nenhuma lngua, sem o consentimento dos ARQUIVOS DE MEDICINA.Apenas sero avaliados manuscritos contendo material original que no estejam ainda publicados, na ntegra ou em parte (incluindo tabelas e figuras), e que no estejam a ser submetidos para publicao noutros locais. Esta restrio no se aplica a notas de imprensa ou a resumos publicados no mbito de reunies cientficas. Quando existem publicaes semelhantes que submetida ou quando existirem dvidas relativamente ao cumprimento dos critrios acima mencionados estas devem ser anexadas ao manuscrito em submisso.Antes de submeter um manuscrito aos ARQUIVOS DE MEDICINA os autores tm que assegurar todas as autorizaes necessrias para a publicao do material submetido.De acordo com uma avaliao efectuada sobre o material apresen-tado revista os editores dos ARQUIVOS DE MEDICINA prevm publicar aproximadamente 30% dos manuscritos submetidos, sendo que cerca de 25% sero provavelmente rejeitados pelos editores no primeiro ms aps a recepo sem avaliao externa.TIPOLOGIA DOS ARTIGOS PUBLICADOS NOS ARQUIVOS DE MEDI-CINA

    Artigos de investigao originalResultados de investigao original, qualitativa ou quantitativa.O texto deve ser limitado a 2000 palavras, excluindo referncias e tabelas, e organizado em introduo, mtodos, resultados e discusso, com um mximo de 4 tabelas e/ou figuras (total) e at 15 referncias.Todos os artigos de investigao original devem apresentar resu-mos estruturados em portugus e em ingls, com um mximo de 250 palavras cada.Publicaes brevesResultados preliminares ou achados novos podem ser objecto de publicaes breves.O texto deve ser limitado a 1000 palavras, excluindo referncias e tabelas, e organizado em introduo, mtodos, resultados e discusso, com um mximo de 2 tabelas e/ou figuras (total) e at 10 referncias.As publicaes breves devem apresentar resumos estruturados em portugus e em ingls, com um mximo de 250 palavras cada.Artigos de revisoArtigos de reviso sobre temas das diferentes reas da medicina e dirigidos aos profissionais de sade, particularmente com impacto na sua prtica.

    Os ARQUIVOS DE MEDICINA publicam essencialmente artigos de reviso solicitados pelos editores. Contudo, tambm sero avaliados artigos de reviso submetidos sem solicitao prvia, preferencialmente revises quantitativas (Meta-anlise).O texto deve ser limitado a 5000 palavras, excluindo referncias e tabelas, e apresentar um mximo de 5 tabelas e/ou figuras (total). As revises quantitativas devem ser organizadas em introduo, mtodos, resultados e discusso.As revises devem apresentar resumos no estruturados em por-tugus e em ingls, com um mximo de 250 palavras cada, devendo ser estruturados no caso das revises quantitativas.ComentriosComentrios, ensaios, anlises crticas ou declaraes de posio acerca de tpicos de interesse na rea da sade, designadamente polti-cas de sade e educao mdica.O texto deve ser limitado a 900 palavras, excluindo referncias e tabelas, e incluir no mximo uma tabela ou figura e at 5 referncias.Os comentrios no devem apresentar resumos.Casos clnicosOs ARQUIVOS DE MEDICINA transcrevem casos publicamente apresentados trimestralmente pelos mdicos do Hospital de S. Joo numa seleco acordada com o corpo editorial da revista. No entanto bem vinda a descrio de casos clnicos verdadeiramente exemplares, profundamente estudados e discutidos. O texto deve ser limitado a 1200 palavras, excluindo referncias e tabelas, com um mximo de 2 tabelas e/ou figuras (total) e at 10 referncias.Os casos clnicos devem apresentar resumos no estruturados em portugus e em ingls, com um mximo de 120 palavras cada.Sries de casosDescries de sries de casos, tanto numa perspectiva de tratamento estatstico como de reflexo sobre uma experincia particular de diag-nstico, tratamento ou prognstico.O texto deve ser limitado a 1200 palavras, excluindo referncias e tabelas, organizado em introduo, mtodos, resultados e discusso, com um mximo de 2 tabelas e/ou figuras (total) e at 10 referncias.As sries de casos devem apresentar resumos estruturados em por-tugus e em ingls, com um mximo de 250 palavras cada.Cartas ao editorComentrios sucintos a artigos publicados nos ARQUIVOS DE MEDI-CINA ou relatando de forma muito objectiva os resultados de observao clnica ou investigao original que no justifiquem um tratamento mais elaborado.O texto deve ser limitado a 400 palavras, excluindo referncias e tabelas, e incluir no mximo uma tabela ou figura e at 5 referncias.As cartas ao editor no devem apresentar resumos.Revises de livros ou softwareRevises crticas de livros, software ou stios da internet.

    O texto deve ser limitado a 600 palavras, sem tabelas nem figuras, com um mximo de 3 referncias, incluindo a do objecto da reviso.As revises de livros ou software no devem apresentar resumos.FORMATAO DOS MANUSCRITOSA formatao dos artigos submetidos para publicao nos ARQUI-VOS DE MEDICINA deve seguir os Uniform Requirements for Manus-cripts Submitted to Biomedical Journals.Todo o manuscrito, incluindo referncias, tabelas e legendas de figuras, deve ser redigido a dois espaos, com letra a 11 pontos, e justi-ficado esquerda.Aconselha-se a utilizao das letras Times, Times New Roman, Cou-rier, Helvetica, Arial, e Symbol para caracteres especiais.Devem ser numeradas todas as pginas, incluindo a pgina do ttulo.

    Instrues aos Autores

    Os ARQUIVOS DE MEDICINA publicam investigao original nas diferentes reas da medicina, favorecendo investigao de qualidade, particularmente a que descreva a realidade nacional.

  • ARQ MED 2010; 24(5):167-70

    normas de publicao168 Devem ser apresentadas margens com 2,5 cm em todo o manuscrito.Devem ser inseridas quebras de pgina entre cada seco.No devem ser inseridos cabealhos nem rodaps.Deve ser evitada a utilizao no tcnica de termos estatsticos como

    aleatrio, normal, significativo, correlao e amostra.Apenas ser efectuada a reproduo de citaes, tabelas ou ilustra-es de fontes sujeitas a direitos de autor com citao completa da fonte e com autorizaes do detentor dos direitos de autor.Unidades de medidaDevem ser utilizadas as unidades de medida do Sistema Interna-cional (SI), mas os editores podem solicitar a apresentao de outras unidades no pertencentes ao SI.AbreviaturasDevem ser evitados acrnimos e abreviaturas, especialmente no ttulo e nos resumos. Quando for necessria a sua utilizao devem ser definidos na primeira vez que so mencionados no texto e tambm nos resumos e em cada tabela e figura, excepto no caso das unidades de medida.Nomes de medicamentosDeve ser utilizada a Designao Comum Internacional (DCI) de frmacos em vez de nomes comerciais de medicamentos. Quando forem utilizadas marcas registadas na investigao, pode ser mencionado o nome do medicamento e o nome do laboratrio entre parntesis.Pgina do ttuloNa primeira pgina do manuscrito deve constar:1) o ttulo (conciso e descritivo);2) um ttulo abreviado (com um mximo de 40 caracteres, incluindo espaos);3) os nomes dos autores, incluindo o primeiro nome (no incluir graus acadmicos ou ttulos honorficos);

    4) a filiao institucional de cada autor no momento em que o tra-balho foi realizado;5) o nome e contactos do autor que dever receber a correspondn-cia, incluindo endereo, telefone, fax e e-mail;6) os agradecimentos, incluindo fontes de financiamento, bolsas de estudo e colaboradores que no cumpram critrios para autoria;7) contagens de palavras separadamente para cada um dos resumos

    e para o texto principal (no incluindo referncias, tabelas ou figuras).

    AutoriaComo referido nos Uniform Requirements for Manuscripts Sub-mitted to Biomedical Journals, a autoria requer uma contribuio substancial para:1) concepo e desenho do estudo, ou obteno dos dados, ou anlise e interpretao dos dados;2) redaco do manuscrito ou reviso crtica do seu contedo intelectual;3) aprovao final da verso submetida para publicao.

    A obteno de financiamento, a recolha de dados ou a superviso geral do grupo de trabalho, por si s, no justificam autoria.

    necessrio especificar na carta de apresentao o contributo de cada autor para o trabalho. Esta informao ser publicada.Exemplo: Jos Silva concebeu o estudo e supervisionou todos os aspectos da sua implementao. Antnio Silva colaborou na concepo do estudo e efectuou a anlise dos dados. Manuel Silva efectuou a recolha de dados e colaborou na sua anlise. Todos os autores contribuiram para a interpretao dos resultados e reviso dos rascunhos do manuscrito.Nos manuscritos assinados por mais de 6 autores (3 autores no caso das cartas ao editor), tem que ser explicitada a razo de uma autoria to alargada. necessria a aprovao de todos os autores, por escrito, de quais-quer modificaes da autoria do artigo aps a sua submisso.

    AgradecimentosDevem ser mencionados na seco de agradecimentos os colabora-dores que contribuiram substancialmente para o trabalho mas que no cumpram os critrios para autoria, especificando o seu contributo, bem como as fontes de financiamento, incluindo bolsas de estudo.

    ResumosOs resumos de artigos de investigao original, publicaes bre-ves, revises quantitativas e sries de casos devem ser estruturados (introduo, mtodos, resultados e concluses) e apresentar contedo semelhante ao do manuscrito.Os resumos de manuscritos no estruturados (revises no quanti-tativas e casos clnicos) tambm no devem ser estruturados.Nos resumos no devem ser utilizadas referncias e as abreviaturas devem ser limitadas ao mnimo.Palavras-chaveDevem ser indicadas at seis palavras-chave, em portugs e em ingls, nas pginas dos resumos, preferencialmente em concordncia com o Medical Subject Headings (MeSH) utilizado no Index Medicus. Nos manuscritos que no apresentam resumos as palavras-chave devem ser apresentadas no final do manuscrito.

    IntroduoDeve mencionar os objectivos do trabalho e a justificao para a sua realizao.Nesta seco apenas devem ser efectuadas as referncias indispen-

    sveis para justificar os objectivos do estudo.

    MtodosNesta seco devem descrever-se:1) a amostra em estudo;2) a localizao do estudo no tempo e no espao;3) os mtodos de recolha de dados;4) anlise dos dados.As consideraes ticas devem ser efectuadas no final desta seco.

    Anlise dos dadosOs mtodos estatsticos devem ser descritos com o detalhe suficiente para que possa ser possvel reproduzir os resultados apresentados.Sempre que possvel deve ser quantificada a impreciso das es-timativas apresentadas, designadamente atravs da apresentao de

    intervalos de confiana. Deve evitar-se uma utilizao excessiva de testes de hipteses, com o uso de valores de p, que no fornecem informao quantitativa importante.Deve ser mencionado o software utilizado na anlise dos dados.Consideraes ticas e consentimento informadoOs autores devem assegurar que todas as investigaes envolvendo seres humanos foram aprovadas por comisses de tica das instituies em que a investigao tenha sido desenvolvida, de acordo com a Decla-rao de Helsnquia da Associao Mdica Mundial (www.wma.net).Na seco de mtodos do manuscrito deve ser mencionada esta aprovao e a obteno de consentimento informado, quando aplicvel.Resultados

    Os resultados devem ser apresentados, no texto, tabelas e figuras, seguindo uma sequncia lgica.No deve ser fornecida informao em duplicado no texto e nas ta-belas ou figuras, bastando descrever as principais observaes referidas nas tabelas ou figuras.

    Independentemente da limitao do nmero de figuras propostos para cada tipo de artigo, s devem ser apresentados grficos quando da sua utilizao resultarem claros benefcios para a compreenso dos resultados.Apresentao de dados nmericosA preciso numrica utilizada na apresentao dos resultados no deve ser superior permitida pelos instrumentos de avaliao.Para variveis quantitativas as medidas apresentadas no devero ter mais do que uma casa decimal do que os dados brutos.As propores devem ser apresentadas com apenas uma casa decimal e no caso de amostras pequenas no devem ser apresentadas casas decimais.

    Os valores de estatsticas teste, como t ou 2, e os coeficientes de cor-relao devem ser apresentados com um mximo de duas casas decimais.Os valores de p devem ser apresentados com um ou dois algarismos significativos e nunca na forma de p=NS, p0,05, na medida em a informao contida no valor de P pode ser importante. Nos casos em

  • normas de publicao

    ARQ MED 2010; 4(5):167-70

    169que o valor de p muito pequeno (inferior a 0,0001), pode apresentar--se como p

  • ARQ MED 2010; 24(5):167-70

    normas de publicao170

    Carta de apresentaoDeve incluir a seguinte informao:1) Ttulo completo do manuscrito;2) Nomes dos autores com especificao do contributo de cada um para o manuscrito;3) Justificao de um nmero elevado de autores, quando aplicvel;4) Tipo de artigo, de acordo com a classificao dos ARQUIVOS DE MEDICINA;5) Fontes de financiamento, incluindo bolsas;6) Revelao de conflitos de interesse ou declarao da sua ausncia;7) Declarao de que o manuscrito no foi ainda publicado, na n-tegra ou em parte, e que nenhuma verso do manuscrito est a ser avaliada por outra revista;8) Declarao de que todos os autores aprovaram a verso do ma-nuscrito que est a ser submetida;9) Assinatura de todos os autores. dada preferncia submisso dos manuscritos por e-mail ([email protected]).O manuscrito e a carta de apresentao devem, neste caso, ser

    enviados em ficheiros separados em formato word. Deve ser enviada por fax (225074374) uma cpia da carta de apresentao assinada por todos os autores.Se no for possvel efectuar a submisso por e-mail esta pode ser efectuada por correio para o seguinte endereo:ARQUIVOS DE MEDICINAFaculdade de Medicina do PortoAlameda Prof. Hernni Monteiro4200 319 Porto, PortugalOs manuscritos devem, ento, ser submetidos em triplicado (1 original impresso apenas numa das pginas e 2 cpias com impresso frente e verso), acompanhados da carta de apresentao.Os manuscritos rejeitados ou o material que os acompanha no sero devolvidos, excepto quando expressamente solicitado no momento da submisso.

    CORRECO DOS MANUSCRITOSA aceitao dos manuscritos relativamente aos quais forem solicita-das alteraes fica condicionada sua realizao.A verso corrigida do manuscrito deve ser enviada com as alteraes sublinhadas para facilitar a sua verificao e deve ser acompanhada duma carta respondendo a cada um dos comentrios efectuados.

    Os manuscritos s podero ser considerados aceites aps confirma-o das alteraes solicitadas.MANUSCRITOS ACEITESUma vez comunicada a aceitao dos manuscritos, deve ser enviada a sua verso final em ficheirto de Word, formatada de acordo com as instrues acima indicadas.No momento da aceitao os autores sero informados acerca do formato em que devem ser enviadas as figuras.A reviso das provas deve ser efectuada e aprovada por todos os au-tores dentro de trs dias teis. Nesta fase apenas se aceitam modificaes que decorram da correco de gralhas.Deve ser enviada uma declarao de transferncia de direitos de autor para os ARQUIVOS DE MEDICINA, assinada por todos os autores, juntamente com as provas corrigidas.