neurobiologia da personalidade

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Neurobiologia da Personalidade Temas e Prática do Psiquiatra V. 32 N.6263 P. 1152 Jan / Dez 2002 São Paulo Décio Gilberto Natrielli Filho Resumo O estudo da personalidade envolve diferentes campos da psiquiatria e psicologia, recebendo influências da antropologia, sociologia, filosofia e, atualmente, mais do que nunca, da biologia e da genética. Este trabalho tem como objetivo o estudo dos fatores biológicos envolvidos na determinação dos traços de personalidade e de seus distúrbios, citando contribuições dos diversos campos da psiquiatria, com uma ênfase no modelo dimensional de Cloninger e col. do temperamento e caráter e suas aplicações para o estudo do comportamento humano. Unitermos: Personalidade, Neurotransmissores, Psicobiologia Introdução Gordon Alport definiu a personalidade como “uma organização dinâmica, dentro do indivíduo, daqueles sistemas psicofísicos que determinam seus ajustamentos únicos ao ambiente”. O termo “organização dinâmica” enfatiza o fato de que personalidade está constantemente se desenvolvendo e mudando, embora, ao mesmo tempo, exista uma organização ou sistema que une e relaciona os vários componentes da personalidade. O termo “psicofísico” lembra que a personalidade não é nem exclusivamente mental nem exclusivamente neural. A organização envolve a operação do corpo e da mente, inextrincavelmente fundidos em uma unidade pessoal. A palavra “determinam” deixa claro que a personalidade é constituída por tendências determinantes que desempenham um papel ativo no comportamento do indivíduo: A personalidade é alguma coisa e faz alguma coisa... Ela é o que está por trás de atos específicos e dentro do indivíduo”. É amplamente aceito que a personalidade se desenvolve através da interação de disposições hereditárias e influências ambientais. Do ponto de vista estrutural, a maioria dos autores concordam que a personalidade consiste de temperamento, caráter e inteligência. Resumidamente, o temperamento reflete as contribuições biológicas e o caráter reflete as contribuições culturais e sociais para a personalidade. A inteligência influencia tanto os traços constitucional e social e modifica as funções da personalidade em uma totalidade. As funções básicas da personalidade são sentir, pensar e incorporar estes em comportamentos intencionais. Para Kurt Schneider, “A personalidade compreende os sentidos, as tendências não corpóreas e a vontade. Esses três aspectos com certa razão, isoladamente.”. Com uma grande importância

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neurobiologia da personalidade

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19/07/2015 PsiquiatriaGeral.............:::::::::::::::::::::http://www.psiquiatriageral.com.br/psicopatologia/Neurobiologia_da_Personalidade.htm 1/19NeurobiologiadaPersonalidadeTemasePrticadoPsiquiatraV.32N.6263P.1152Jan/Dez2002SoPauloDcioGilbertoNatrielliFilhoResumoOestudo da personalidade envolve diferentes campos da psiquiatria e psicologia, recebendoinflunciasdaantropologia,sociologia,filosofiae,atualmente,mais do que nunca, da biologia eda gentica. Este trabalho tem como objetivo o estudo dos fatores biolgicos envolvidos nadeterminao dos traos de personalidade e de seus distrbios, citando contribuies dosdiversos campos da psiquiatria, com uma nfase no modelo dimensional de Cloninger e col. dotemperamentoecarteresuasaplicaesparaoestudodocomportamentohumano.Unitermos:Personalidade,Neurotransmissores,PsicobiologiaIntroduoGordonAlportdefiniuapersonalidadecomoumaorganizaodinmica,dentrodoindivduo,daquelessistemaspsicofsicosquedeterminamseusajustamentosnicosaoambiente.Otermoorganizao dinmica enfatiza o fato de que personalidade est constantemente sedesenvolvendo e mudando, embora, ao mesmo tempo, exista uma organizao ou sistema queune e relaciona os vrios componentes da personalidade. O termo psicofsico lembra que apersonalidade no nem exclusivamente mental nem exclusivamente neural. A organizaoenvolveaoperaodocorpoedamente,inextrincavelmentefundidosemumaunidadepessoal.A palavra determinam deixa claro que a personalidade constituda por tendnciasdeterminantes que desempenham um papel ativo no comportamento do indivduo: Apersonalidadealgumacoisaefazalgumacoisa...Elaoqueestportrsdeatosespecficosedentrodoindivduo.amplamenteaceitoqueapersonalidadesedesenvolveatravsdainteraodedisposieshereditrias e influncias ambientais. Do ponto de vista estrutural, a maioria dos autoresconcordam que a personalidade consiste de temperamento, carter e inteligncia.Resumidamente, o temperamento reflete as contribuies biolgicas e o carter reflete ascontribuies culturais e sociais para a personalidade. A inteligncia influencia tanto os traosconstitucional e social e modifica as funes da personalidade em uma totalidade. As funesbsicasdapersonalidadesosentir,pensareincorporarestesemcomportamentosintencionais.ParaKurtSchneider,Apersonalidadecompreendeossentidos, as tendncias no corpreaseavontade.Essestrsaspectoscomcertarazo,isoladamente..Comumagrandeimportncia19/07/2015 PsiquiatriaGeral.............:::::::::::::::::::::http://www.psiquiatriageral.com.br/psicopatologia/Neurobiologia_da_Personalidade.htm 2/19conceitual,separanoserpsquicoindividual,dentre inmeras caractersticas particulares, trscomplexosdepropriedades:ainteligncia,avidadossentimentoseimpulsoscorpreos(vitais)eapersonalidade.Wangecol.complementamafirmandoque, a partir desta viso, o indivduo constitudo de trs partes: personalidade, funes cognitivas e sentimentos e instintos vitaisqueestoemntimasrelaesrecprocas.TheodoreMillon,citadoporGundersoncol.,declarouqueapersonalidadeconsiste de modosde funcionamento psicolgico arraigados, difusos, resistentes e habituais que caracterizam oestilodeumindivduo.NaspalavrasdeMillon,dadaumacontinuidadenoequipamentobiolgicobsico, e uma faixa estreita de experincias para aprender alternativas comportamentais, acrianadesenvolveumpadrodistintivodecaractersticasqueestofortementeenraizadas,nopodem ser facilmente erradicadas e penetram em cada faceta de seu funcionamento. Emresumo, estas caractersticas so e essncia e a soma da sua personalidade, sua maneiraautomticadeperceber,sentir,pensarecomportarse. Portanto, segundo Millon, quando falamos de um padro de personalidade, estamos nosreferindo a essas maneiras de funcionamento intrnsecas e penetrantes que emergem de toda amatrizdehistriadodesenvolvimentodoindivduoequeagoracaracterizamsuaspercepeseseusmodosdelidarcomoseuambiente.Nenhumgrupodemogrficoestimuneaostranstornosdepersonalidade(TP).Estimasequea prevalncia para estes transtornos na populao geral varie de 11 a 23 %, dependendo daseveridade do comprometimento requerido para o diagnstico. Estes indivduos apresentamprejuzosalongoprazoemsuacapacidadeparatrabalhareamaretendemsermenoseducados,solteiros, toxicmanos, desempregados e apresentam dificuldades nos relacionamentosconjugais. Ainda mais, vrios perpetradores de crimes violentos ou no, assim como a maioriadosinternosdepenitencirias,apresentamumtranstornodepersonalidade. Por definio, um transtorno de personalidade desenvolvese j na infncia ou naadolescncia, permanece relativamente imutvel ao longo da vida do indivduo e constitui o seumodohabitualdeser.Otranstornodepersonalidadelevaaalgumgraude sofrimento (angstia,solido, sensao de fracasso pessoal, dificuldades nos relacionamentos) contudo, estesofrimento pode se tornar aparente apenas tardiamente em sua vida. Wang e col. descrevemtambm que o conceito desenvolveuse a partir da observao de criminosos, conotandofreqentementeumcarterpejorativonassuassinonmias:psicopatia,sociopatia,personalidadedissocial ou antisocial, insanidade moral entre outros. Sonenreich e col. propem que odiagnstico de Personalidades Patolgicas pode ter sido justificado pela necessidade de situarcondutasanormais,emgeralantisociais,praticadaspor pessoas sem doenas qualificadas, queastornemincapazesdeentenderanaturezadeseusatosoudecontrolalos.Em psiquiatria, aproximadamente metade de todos os pacientes apresentam um transtornode personalidade, freqentemente em comorbidade com transtornos do Eixo I. Os fatores depersonalidade interferem com a resposta ao tratamento de todas as sndromes do Eixo I eaumentam a incapacitao pessoal, a morbidade e a mortalidade destes pacientes. Transtornosde personalidade so fatores predisponentes para vrios transtornos psiquitricos, incluindoabuso de substncias, suicdio, transtornos do humor, transtorno do controle dos impulsos,transtornosalimentareseansiosos.Por estes e vrios outros motivos o estudo da personalidade, desde sua descrio histricaat os modelos neurobiolgicos e psicolgicos atuais, tem importncia na prtica clnica doshospitais e ambulatrios. A dificuldade no manejo dos casos que apresentam alteraessignificativasdofuncionamentoeconvviodirio,dospacientesemrelaoaoseumeio(externoeinterno),podeserfacilitadopeloconhecimentodosdiversosmodelossobreapersonalidadeoudosseustranstornosealteraes. Este trabalho tem como objetivo descrever principalmente os modelos neurobiolgicos (epsicobiolgicos) sobre o temperamento, carter, motivao, traos e definies sobre apersonalidadeecontribuiesdapsicologiaepsicanliseparaestereadapsiquiatria.O Kaplan & Sadocks Comprehensive Textbook of Psychiatry (seventh edition) descreve ummodelo que engloba nveis filogenticos hierrquicos do aprendizado e os relaciona com odesenvolvimento ontogentico do temperamento, carter e conseqentemente da personalidade.Alguns termos que foram traduzidos para a realizao deste trabalho merecem ser detalhados.Para as dimenses do temperamento temos harmavoidance, novelty seeking, rewarddependence e persistence, os quais foram traduzidos respectivamente como: esquiva (evitardanos), exploratrio (busca de novidades), dependncia por recompensa (ou gratificao) oudependenteepersistncia.Nasdimensesdocartertemosselfdirectedness,cooperativeness eselftranscendent, que foram traduzidos respectivamente como: autodirecionamento,cooperatividadeeautotranscendncia.Tambmtemosqueespecificarostermosproposicionaleprocedural, correspondentes s palavras propositional e procedural respectivamente, que sero19/07/2015 PsiquiatriaGeral.............:::::::::::::::::::::http://www.psiquiatriageral.com.br/psicopatologia/Neurobiologia_da_Personalidade.htm 3/19utilizadasparadescreverasformasdememriasedeaprendizadoparaomodeloneurobiolgicodotemperamentoecarter.EvoluoHistricadoConceitoTipologiasHumanasouTiposdePersonalidadeAprimeiratipologiadesenvolvidanahistriadamedicinaedapsicologiafoiaresultantedasconcepes da escola hipocrticagalnica. Os escritos do mdico Hipcrates de Cs (cerca de460377 a.C.) propunham a viso de que o corpo humano contm quatro humores essenciais fleuma, bile amarela, bile negra e sangue que eram secretados por diferentes rgos,possuam diferentes qualidades e variavam de acordo com as estaes do ano. Nesse sentido,todas as questes mdicas repousam sobre a teoria dos quatro elementos do filsofo prsocrticoEmpdocles(500430a.C.),asaber:gua,terra,arefogo.Ocrebroera consideradocomo sendo a sede da vida e seu funcionamento normal exigia um equilbrio entre os humores.Colp, cita o exemplo de que um excesso de fleuma levaria a uma forma de demncia, a bileamarelacausariaaraivamanacaeabilenegracausariaamelancolia.Osaspectospsicolgicosmaiscaractersticosdosquatrotemperamentosso:Sangneo,FleumticoouLinftico,Colricoou Bilioso e Melanclico ou Atrabilirio. Esta teria sido a primeira tentativa de explicar asdiferenas de temperamentos e personalidades, dando incio, portanto, a um incessante estudodeclassificaes,tipologiaseteorias,queseprolongaataatualidade. Dentre os importantes filsofos da poca, Plato (427347 a.C.) dividia a alma em trspartes: racional, apetitiva (desejos e ganncia) e espirituralafetiva. A loucura ocorria quando aalma apetitiva perdia a influncia sobre a alma reacional ou quando uma perturbao divina daalma produzia um comportamento destrutivo. Aristteles (384322 a.C.), discpulo de Plato, foio primeiro a realmente descrever os afetos de desejo, raiva, medo, coragem, inveja, alegria,dioepesar. O conceito de transtorno de personalidade remonta ao sculo XIX. Pinel (17541826)descreveuoquadrodemaniesansdlireem1809,cujacaractersticaeraoprejuzodasfunesafetivas, particularmente instabilidade emocional e tendncia dissocial, sem prejuzo da funointelectual e cognitiva. Tal concepo tambm aparece nos escritos de Esquirol sobre asmonomaniasafetivaseinstintivas,em1838. Tambm no final do sculo XIX e incio do sculo XX, podemos descrever uma teoria dedoena mental descrita por dois psiquiatras franceses, BenedictAugustin Morel (18091873) eValentin Magnan (18351916), na qual salienta a hereditariedade como um importante fator nodesenvolvimento das doenas mentais. Afirmavam que a predisposio poderia ativarselentamenteesetransformaremumadoenapelatransmissorepetitivadepaiparafilhoouporaodeestmulosexternos.ColpcitaopsiquiatraitalianoCesareLombroso(18361909),que emseusescritosOHomemDelinqente,de1876,e A Mulher Criminosa, de 1893, postulava que oscriminosos representavam um fenmeno de degenerao biolgica que podia ser identificadocombasenaaparncia. Em 1835, Prichard, citado por Rutter, apresentou a descrio da insanidade moral,generalizando a concepo de Pinel. Maudsley, em 1874, falou da privao congnita de sensomoral. O termo psicopatia foi introduzido por Koch em 1891, este autor afirmava que atmesmo nos piores casos as irregularidades no seriam equivalentes a um distrbio mental,referindoseaesteltimocomooscasosdeinsanidadeeidiotia.Seuconceitodeinferioridadespsicopticas envolvia a maioria das doenas mentais nopsicticas bem como o queatualmentechamamosdetranstornodepersonalidadeoupsicopatia.KurtSchneiderpublicou,em1923,amonografiaPersonalidadesPsicopticas, que ainda hojecitadacomoguiaparaacompreensodotema.Escreveuqueaspersonalidadesanormaissovariaesdeumafaixamdiaquesetememmente.Decisivoocritriodotermomdio,noumanormadevalorEntreaspersonalidadesanormaiseosestadosaseremclassificadoscomonormais h sempre transies sem limite algum. Das personalidades anormais distingue comopersonalidades psicopticas aquelas que sofrem com sua anormalidade ou que assim fazemsofrerasociedade.Ambasasespciesquecruzam.Cientificamente,onicoconceitoessencial19/07/2015 PsiquiatriaGeral.............:::::::::::::::::::::http://www.psiquiatriageral.com.br/psicopatologia/Neurobiologia_da_Personalidade.htm 4/19o de personalidade anormal no qual est includo o conceito de personalidade psicoptica.Procura tambm, em princpio, distinguir rigorosamente as personalidades anormais daspsicosesciclotmicaseesquizofrnicasque,comboasrazes,sohipoteticamentemrbidas.Schneider descreveu dez tipos de personalidade: hipertmicos, depressivos, inseguros de si(com os subtipos ansioso e obsessivo), fanticos, necessitados de valorizao, lbeis de humor,explosivos, frios de sentimentos, ablicos e astnicos. Ele acentuou que descreveu os tipospredominantesenoascategoriasdistintasasuperposioentreosvriostiposfreqente.Sigmund Freud, citado por Hall e col., foi provavelmente o primeiro terico a enfatizar osaspectosdesenvolvimentaisdapersonalidadeeemparticularopapeldecisivodosprimeirosanosdo perodo de beb e da infncia como formadores da estrutura de carter bsica da pessoa.Complementam que, para Freud, a personalidade j estaria muito bem formada pelo final doquintoanodevidaequeodesenvolvimentosubseqenteerapraticamentesaelaboraodessaestrutura bsica. Observando seus pacientes, chegou concluso de que suas exploraesmentais os levariam de volta a experincias da infncia inicial que pareciam decisivas para odesenvolvimentodeumaneurosemaistardenavida(AcrianaopaidoHomem.).Freuddizqueaspulsessexuaisatravessamumcomplicadocursodedesenvolvimentoesem seu final `o primado da zona genital atingido. Antes disso h vrias `organizaes prgenitaisdalibidopontosemqueelapodeficarfixadaeaosquaisretornar,na ocorrncia derepresso subseqente (`regresso). Conforme completa Dalgalarrondo, para a psicanlise asfixaesinfantisdalibidoeatendnciaregresso(aestes`pontosdefixao)acabampordeterminar tanto os diversos tipos de neuroses, como o perfil de personalidade do adulto.Particularmenteimportante,naconcepofreudiana,a trama estrutural inconsciente de amor,dioetemorderepresliaemrelaoaospais,ocomplexodedipo.Assim,apersonalidadedoadulto formase pela introjeo (sobretudo inconsciente) dos relacionamentos que seestabelecem no interior das relaes familiares, em particular da criana pequena com os seuspais,edessescomela.Conforme escrevem Hall e col., para Carl Gustav Jung, a personalidade total, ou a psique,consiste em vrios sistemas diferenciados mas interrelacionados.Os principais so o ego, oinconscientepessoaleseuscomplexos,eoinconscientecoletivoeseusarqutipos,aanimae oanimus,easombra.Almdessessistemasinterdependentes,existemasatitudesdeintroversoe extroverso e as funes do pensamento, do sentimento, da sensao e da intuio.Finalmente,existeoself,queocentrodetodaapersonalidade.Weinerecol.falamdafasede1906 a 1914, em que Jung esteve fortemente envolvido com Freud e com o movimentopsicanaltico, posteriormente renunciou presidncia da Associao Psicanaltica Internacional.Sonenreich referese presena de Jung na frente da sociedade psiquitrica e da revista depsiquiatria nazista em 1938 como um fator negativo no somente pelo que o nazismosignificou para o mundo inteiro, mas tambm especificamente pelas posies psiquitricasnazistas,pelotratamentocriminosodadoaosdoentesmentais.Segundo Dalgalarrondo, uma das biotipologias mais marcantes na histria da psicopatologiafoiadopsiquiatraalemoErnestKretschmer.Servindoseprincipalmentedaectoscopia,ouseja,da inspeo morfolgica externa, da antropometria e de outros recursos complementares,Kretschmer comea por distinguir, no que concerne arquitetura corporal, trs tiposfundamentais:oleptossmico(astnico,emsuasformasextremas), o pcnico e o atltico. Meloescreve que ao lado destes, Kretschmer veio a descrever ainda um quarto grupo algoheterogneo e a que denominou tipos displsicos especiais. Neste grupo estariam includosindivduos que, por algumas caractersticas comuns, lembrassem determinadas sndromesendcrinas. Segundo Melo, seriam os chamados eunucides de grande crescimento, osacromegalides, com ou sem gigantismo e turricefalia (crnio em torre), os obesos, virilides,hipoplsticos, etc.. Investigando um vasto material de enfermos mentais internados,Kretschmer pde concluir: 1) que h uma forte prevalncia dos tipos leptossmico e atlticoentre os doentes diagnosticados de esquizofrenia 2) que h forte prevalncia do tipo pcnicoentre os doentes diagnosticados de psicose manacodepressiva 3) que so freqentes osdisplsicos entre os esquizofrnicos e 4) que so raros os displsicos entre os manacosdepressivos. Melo completa que a partir da passou a descrever, no domnio dos caracteresanormais, fronteirios, as duas maneiras de ser antagnicas, a que denominou respectivamente esquizide e ciclide. A primeira seria observada nos indivduos de hbito astnico, atltico edisplsico, ao passo que a segunda pertenceria especificamente aos pcnicos. Acaba, portanto,porisolarostemperamentosesquizotmicoeciclotmico,decujostraos psicolgicos especficosdefluiriam,aseuver,ossintomasclnicosdaesquizofreniaepsicosemanacodepressiva. Interesse citar para este trabalho que, em relao inteligncia, Kretschmer encontraseentre os que preferem absterse de inclula no grupo dos componentes disposicionais dapersonalidade.Naatualidade,encontramosdiversosproblemascomosistemacategricodostranstornosda19/07/2015 PsiquiatriaGeral.............:::::::::::::::::::::http://www.psiquiatriageral.com.br/psicopatologia/Neurobiologia_da_Personalidade.htm 5/19personalidade codificados no Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais (DSM),desde a primeira edio publicada em 1952 at a quarta (DSMIV) e atual edio de 1994.Gunderson e col. comentam que, embora o DSM tente ser aterico, os transtornos dapersonalidade do DSMIV na verdade derivam de quatro estruturas tericas bastante diferentes:dinmica, de trao, biolgica e sociolgica. Os autores completam afirmando que odesenvolvimentodeumsistemadeclassificaoquesintetizeasforasdestesmodeloscontinuaumgrandedesafioempricoeconceitual.Emseuartigodereviso,Trullpropequeumaalternativaparaestesproblemascategricosseria atravs do estudo dos modelos dimensionais de classificao (descreve o modelo deLivesley das 18 dimenses, o modelo dos sete fatores de Cloninger e o modelo de traos depersonalidadedoscincofatores).Segundooautor,osmodelosdimensionaisfornecemresultadosmais confiveis, ajudamnos a compreender a heterogeneidade da sintomatologia, a falta delimitesbemdefinidosentreosdiagnsticoscategricos(doDSMIVporexemplo),erefletemdeforma mais acurada as achados cientficos concernentes distribuio dos traos depersonalidadeeaocomportamentomaladaptativo. Em uma das primeiras e mais importantes tentativas de encontrar correlao entre ostranstornos de personalidade maiores e alteraes neurofisiolgicos, Cloninger esboou trsdimenses de personalidade independentes e hereditrias, cada uma associada com a atividadedeumneurotransmissor.Comportamentoexploratrio(buscadenovidade)estavaassociadocombaixa atividade dopaminrgica basal comportamento de esquiva (evitar danos) com altaatividade serotoninrgica e comportamento de dependncia por recompensa (dependente), combaixa atividade noradrenrgica basal. Essas tendncias foram usadas para discriminar muitos(emboranotodos)transtornosdepersonalidade.Apersistnciatememergidocomoumaquartadimensoherdada,comdistintascorrelaespsicobiolgicas,etrsdimensesdocarterforamdistinguidas daquelas do temperamento, conforme estudaremos no decorrer do trabalho.Portanto,dentrodaestruturatericabiolgicaparaoestudodapersonalidade,o autor descrevedidaticamenteomodelodimensionaldossetesfatorespropostoporCloningerecol.Em nosso meio, Fuentes e col. traduziram o Inventrio de Temperamento e Carter ITC(Temperament and Character Inventory) para a pesquisa dos setes fatores da personalidade.Realizaram um estudo visando um processo de adaptao do ITC para a lngua portuguesa,considerandoqueoinventriofoidesenvolvidoemumaculturadiversadabrasileira.Osautoresconcluram que os resultados apresentam uma boa qualidade e confiabilidade da verso emportugus.Entretanto,colocaramemdvidaa consistncia de alguns dos subfatores do carter,provavelmente devido s diferenas culturais que impem dificuldades na doao de conceitosuniversais,poissotraoscujadeterminaodependegrandementedoambiente.Consideramapossibilidade dos determinantes biolgicos terem menor variabilidade que os culturais,justificandoaconcordnciadosestudosdotemperamentorealizadosemdiversospases.TemperamentoO trabalho pioneiro de Alexander Thomas e Stella Chess deu incio ao estudo moderno dotemperamento nas crianas com o New York Longitudinal Study. Conceituaram o temperamentocomo componente estilstico (como) do comportamento. Entretanto, os conceitos modernos detemperamento enfatizam seus aspectos emocionais, motivacionais e adaptativos.Especificamente quatro traos principais foram identificados: esquiva (evitar danos),exploratrios (busca de novidades), dependncia por recompensa (ou gratificao) epersistncia. Estes quatro temperamentos so considerados atualmente como dimensesindependentes, geneticamente determinadas, que ocorrem em todas as combinaes fatoriaispossveis,aoinvsdeseexcluremmutuamente.DistinoentreTemperamentoeCarter As quatro dimenses do temperamento humano correspondem intimamente quelasobservadas em outros mamferos, como roedores ou cachorros. Os mltiplos nveis observadosnafilognesedashabilidadesdeaprendizadodosanimais,desdeosinvertebradosatoHomem,indicam que o aprendizado apresenta mltiplos componentes e processos que estohierarquicamente organizados e interagem extensivamente atravs do desenvolvimento. OQuadro 1, elaborado por Cloninger e col., apresenta um modelo hierrquico do aprendizado,relacionandoosnveisfilogenticoecognitivo.Quadro1.ModeloHierrquicodoAprendizado. Nvelcognitivo NvelfilogenticoIdadehumana(modal)emanosInventivo19/07/2015 PsiquiatriaGeral.............:::::::::::::::::::::http://www.psiquiatriageral.com.br/psicopatologia/Neurobiologia_da_Personalidade.htm 6/19VII Imaginao Homosapiens >34VIInterpretaosimblciaHomindeos 20a34VConstruoformalGrandesprimatas 13a19IVConcretoLgicoMamferos 6a12IIIEmoointegradaRpteis 2a5IIAssociaessensitivomotorasAnfbiosePeixesvertebrados1a2IReflexossensitivomotoresInvertebrados