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O futuro a cada instante 3 IMAGEM EM FOCO Acervo on-line Uma das 2 mil fotos da história do Brasil 4 ENTRELINHAS Protestos pela educação Os significados dos gestos e das palavras 5 CONTEXTO Mosquitos como vetores A transmissão de doenças como a dengue 7 PLUGADO Entrevista: Biomedicina Uma carreira em prol da saúde humana Nesta edição Expediente Edição: Anaiza Selingardi, Erica Moraes, Matheus Monteiro e Vanessa Pereira Texto: Anaiza Selingardi e Matheus Monteiro Ilustração: Pedro Nogueira Projeto gráfico: Willyam Gonçalves Revisão: Tamires Faria Fonseca e Kemi Tanisho Diagramação: Paula Oliveira Licenciamento: Letícia Aparecida Tashiro “Espaço literário” é a seção* de literatura do Leia Agora e queremos dividi-la com você, nosso leitor, como uma forma de estimular sua participação, além de divulgar e descobrir novos talentos. Se você tem um poema, uma crônica ou um pequeno conto que gostaria de compartilhar, envie para [email protected], indicando o seu nome, a sua idade, a Unidade Parceira e a sua cidade. A sua composição poderá estar nas próximas edições. Participe! *A Editora Poliedro não realiza a edição dos textos veiculados nesta seção, respeitando, assim, a liberdade de criação do(a) autor(a) integralmente. PARTICIPE DO ESPAÇO LITERÁRIO! O futuro é o próximo milésimo de segundo, é a oportunidade à vista, confunde-se com o presente e, como se diz por toda parte, constrói-se no agora. Nesta edição, a proposta é pensar no amanhã de uma maneira ampla e abrangente: vamos refletir coletivamente, pensar nos rumos da sociedade e – por que não? – da humanidade. Na seção “Entrelinhas”, trazemos um assunto que é pré-requisito para se construir um futuro mais justo: os caminhos da educação e o valor que damos aos protagonistas do processo de transmissão do conhecimento, os quais dedicam os instantes de sua vida a um amanhã mais consciente. Afinal, em que estágio do desenvolvimento educacional da sociedade estamos? De que maneira podemos nos posicionar como agentes na luta por uma educação mais humana e enriquecedora? Seguindo esse raciocínio de desenvolvimento e evolução, adentramos duas outras seções que convidam para um mergulho no mundo das pesquisas e descobertas que, a cada instante, avançam em prol da saúde humana: em “Contexto”, a situação epidêmica de dengue em diversos estados do país é a deixa para conhecermos a ciência que desvendou as doenças transmitidas por mosquitos e pensarmos também sobre a responsabilidade que assumimos, como cidadãos, no controle da transmissão dessas doenças; já em “Entrevista”, vamos conhecer uma “profissão de futuro”, a Biomedicina, que tem ganhado espaço e visibilidade no ramo da saúde. Reflita sobre os próximos passos do caminho que você tem trilhado em busca de uma sociedade mais engajada. Aproveite seus instantes de leitura! Equipe Leia Agora Nº 04 – Maio 2015 Editorial

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O futuro a cada instante

3IMAGEM EM FOCO

Acervo on-lineUma das 2 mil fotos da história do Brasil

4ENTRELINHAS

Protestos pela educaçãoOs significados dos gestos e das palavras

5CONTEXTO

Mosquitos como vetoresA transmissão de doenças como a dengue

7PLUGADO

Entrevista: Biomedicina Uma carreira em prol da saúde humana

Nesta edição

E x p e d i e n t e Edição: Anaiza Selingardi, Erica Moraes, Matheus Monteiro e Vanessa Pereira Texto: Anaiza Selingardi e Matheus Monteiro Ilustração: Pedro Nogueira Projeto gráfico: Willyam Gonçalves Revisão: Tamires Faria Fonseca e Kemi Tanisho Diagramação: Paula Oliveira Licenciamento: Letícia Aparecida Tashiro

“Espaço literário” é a seção* de literatura do Leia Agora e

queremos dividi-la com você, nosso leitor, como uma forma

de estimular sua participação, além de divulgar e descobrir

novos talentos. Se você tem um poema, uma crônica ou

um pequeno conto que gostaria de compartilhar, envie para

[email protected], indicando o seu nome, a sua

idade, a Unidade Parceira e a sua cidade.

A sua composição poderá estar nas próximas edições. Participe!

*A Editora Poliedro não realiza a edição dos textos veiculados

nesta seção, respeitando, assim, a liberdade de criação do(a)

autor(a) integralmente.

PARTICIPE DO ESPAÇO LITERÁRIO!

O futuro é o próximo milésimo de segundo, é a oportunidade à vista, confunde-se com o presente e, como se diz por toda parte, constrói-se no agora.

Nesta edição, a proposta é pensar no amanhã de uma maneira ampla e abrangente: vamos refletir coletivamente, pensar nos rumos da sociedade e – por que não? – da humanidade.

Na seção “Entrelinhas”, trazemos um assunto que é pré-requisito para se construir um futuro mais justo: os caminhos da educação e o valor que damos aos protagonistas do processo de transmissão do conhecimento, os quais dedicam os instantes de sua vida a um amanhã mais consciente. Afinal, em que estágio do desenvolvimento educacional da sociedade estamos? De que maneira podemos nos posicionar como agentes na luta por uma educação mais humana e enriquecedora?

Seguindo esse raciocínio de desenvolvimento e evolução, adentramos duas outras seções que convidam para um mergulho no mundo das pesquisas e descobertas que, a cada instante, avançam em prol da saúde humana: em “Contexto”, a situação epidêmica de dengue em diversos estados do país é a deixa para conhecermos a ciência que desvendou as doenças transmitidas por mosquitos e pensarmos também sobre a responsabilidade que assumimos, como cidadãos, no controle da transmissão dessas doenças; já em “Entrevista”, vamos conhecer uma “profissão de futuro”, a Biomedicina, que tem ganhado espaço e visibilidade no ramo da saúde.

Reflita sobre os próximos passos do caminho que você tem trilhado em busca de uma sociedade mais engajada. Aproveite seus instantes de leitura!

Equipe Leia Agora

Nº 04 – Maio 2015

Editorial

// NO

TÍCIA

S EM FO

CO

Brasil

Meio Ambiente

Economia

Educação

Saúde

Internacional

Energia

$

Russia threatens to ban Google, Twitter and Facebook over extremist content Facebook and Twitter, in particular, have been

instrumental to organisers of opposition protests in Russia,

where the major television news channels are controlled by the state. Since the start of Vladimir Putin’s third term,

the government has launched a crackdown on the internet, passing laws that give state supervisory bodies wide-

-ranging powers to regulate and block websites.

20 maio 2015

The Guardian

La oposición recurre la “ley mordaza” al

vulnerar 12 puntos de la Constitución

La oposición presentará este jueves en el Tribunal Constitucional un recurso contra la ley de Seguridad

Ciudadana, conocida como ley mordaza, que entrará en

vigor el próximo día 1 de julio. El texto del recurso considera

que la norma vulnera una docena de artículos de la

Constitución y es la primera vez que un texto de este tipo es suscrito por casi todos los grupos parlamentarios, salvo el mayoritario, en este caso el PP. Los derechos afectados,

según el recurso, son fundamentalmente los de tutela judicial efectiva, manifestación,

reunión y expresión.

20 maio 2015

El País

$

Prefeitura de SP registra quase 39 mil casos de dengue e oito mortes

O número é 2,7 vezes maior que o do mesmo período de 2014, quando a cidade computou 14.219 casos. Até

agora, a Secretaria Municipal da Saúde confirmou oito mortes decorrentes da doença. Outros 25 óbitos são

investigados.7 maio 2015

G1

Nave espacial russa desintegra-se ao chegar à Terra

Uma nave espacial de abastecimento russa, não tripulada, desintegrou-se hoje (8) ao cair sobre a Terra, após sofrer falhas de comunicação a caminho da Estação Espacial Internacional (EEI). A nave transportava oxigênio, água e alimentos para a equipe de seis astronautas da EEI.

8 maio 2015

Agência Lusa

Caixa revê crédito a imóveis após poupança

perder R$ 7 bilhões

Principal fonte de financiamento da habitação no país decidiu rever a

concessão de empréstimos dentro do Sistema Financeiro da Habitação

(SFH), especialmente para novas obras e imóveis usados.

Diante de recursos escassos, a prioridade será cumprir os

empréstimos já contratados pelas construtoras, incluindo eventual

promessa de financiamento aos clientes desses empreendimentos.

8 maio 2015

Folha de S.Paulo

Emprego na indústria cai pelo

terceiro mês seguido, diz IBGE

O emprego na indústria caiu 0,6% em março

em relação ao mês anterior, segundo

informou o Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística (IBGE). É o terceiro resultado

negativo seguido.19 maio 2015

G1

Campanha de vacinação contra gripe imunizou menos de 30% do

público-alvo

Após 11 dias de campanha de vacinação contra a gripe, apenas 29,24% do público-

-alvo já foi imunizado. O grupo mais vulnerável a complicações da doença é formado por 49,7

milhões de pessoas, das quais 14,5 milhões foram vacinadas, segundo balanço divulgado

pelo Ministério da Saúde.18 maio 2015

Agência Brasil

Inscrições do Enem começam às 10h do dia 25

de maio

Inscrições ficarão abertas até as 23h59 do dia 5 de junho. O Enem será realizado nos dias 24 e 25 de

outubro. 18 maio 2015

G1

Desemprego ficou em 7,9%

no primeiro trimestre de

2015, diz IBGE

No trimestre anterior,

índice era de 6,5%. A

taxa de desemprego

subiu nos três

primeiros meses

deste ano e chegou

a 7,9%, segundo

dados divulgados pelo

Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística

(IBGE). O percentual

equivale a 7,934

milhões de pessoas.7 maio 2015

G1

$

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Todas as notícias foram adaptadas e todos os sites foram acessados em 18 fev. 2015.

$

// IMAGEM EM FOCO

Avenida Paulista, Guilherme Gaensly, 1843-1928. Imagem do acervo on-line da história do Brasil.

Todas as notícias foram adaptadas e todos os sites foram acessados em 20 maio 2015.

Acervo on-line oferece fotos da história do Brasil em alta definição

São duas mil fotos digitalizadas, da

Biblioteca Nacional e do Instituto

Moreira Salles. As imagens têm uma

riqueza de detalhes impressionante.

Momentos históricos do Brasil estão

ao alcance de um clique, em: <http://

brasilianafotografica.bn.br/>.

19 maio 2015

G1

No azul, Petrobras alimenta alta da Bolsa e investimentos no Brasil

A recuperação das ações da Petrobras, cujos resultados do primeiro trimestre

surpreenderam na sexta (15), tem o potencial de impulsionar um novo ciclo de alta na Bolsa brasileira e uma entrada maior de

investimentos estrangeiros no país.18 maio 2015

Folha de S.Paulo

Milícias xiitas tentam recuperar Ramadi após conquista pelo

Estado Islâmico

Grupos de milícias xiitas estão na cidade iraquiana de Ramadi para ajudar as forças

de segurança do Iraque a recuperar a cidade do controle do grupo Estado Islâmico, que

a tomou no domingo (17), após intenso combate.

18 maio 2015

Agência Brasil

Dilma sanciona Marco da Biodiversidade em evento no Planalto

Lei regulamenta o acesso ao patrimônio genético de plantas e animais do país, bem como de conhecimentos indígenas e tradicionais associados. Na prática, o texto estabelece um marco legal para a exploração da biodiversidade brasileira.

20 maio 2015

G1

TCU: atraso em elétricas causa prejuízo de R$ 8 bi e faz subir conta de luz

Atrasos em obras de geração e transmissão de energia nos últimos anos no país resultaram em prejuízo bilionário (mais de R$ 8 bi), aumentaram a conta de luz e contribuíram para insegurança do sistema elétrico.

20 maio 2015

UOL

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ENTRELINHAS

[...] Quando testemunho as manifestações de repúdio ao massacre de Curitiba, sinto

esse misto de esperança e de incômodo. Esperança pelos motivos óbvios. Quem sabe não acordamos, todos nós, para o buraco da

educação no Brasil? [...]Agora, o incômodo. O que esse limite revela

sobre o que não é limite? [...] Em resumo: pode pagar salário indecente, pode botar

gente pra ensinar e gente pra ser ensinado debaixo de um teto que pode cair, pode quase tudo. Só não pode ferir com balas de borracha

e sufocar com bombas de gás lacrimogênio. Ah, pit bull também pega mal. Bem, isso

os governantes acabaram de aprender que não podem fazer sem provocar repúdio dos

eleitores. Já o resto... [...]

Em Curitiba, no dia 5 de maio, professores protestam contra violência policial.

TEXTO02

TEXTO01

BRUM, Eliane. “Humilhar e ignorar professor pode. Sufocar e ferir não”. El País, 11 maio 2015. Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2015/05/11/opinion/1431351138_436101.html>. Acesso em: 13 maio 2015.

O texto e a foto fazem referência ao protesto dos professores em Curitiba que ocorreu no final de abril e que foi marcado

pelo confronto entre policiais e protestan-tes e pela atitude violenta da polícia militar.

O artigo de opinião de Eliane Brum expressa o repúdio pela ação violenta empregada contra os docentes e, con-sequentemente, a simpatia pelos que mostraram a mesma indignação. Para tanto, a autora não precisou explicitar cada intenção no texto, mas pôde deixar algumas implícitas, por meio de certas opções de redação.

A jornalista usa a palavra massacre, por exemplo, para intensificar a impres-são do leitor a respeito da ação policial, que foi muito violenta. Assim, essa ação não parece neutra nem justificada, sequer moderada; pelo contrário, na imaginação de quem lê, ela desperta a compaixão pela vítima e a ira contra o agressor, pois

sugere o condenável, o excessivo, a des-proporção de forças, o intolerável.

Um recurso semelhante é usado na foto, na qual vemos a combinação de uma intervenção no espaço urbano (o desenho de figuras no asfalto) e o retrato de um evento (o protesto dos professores contra a violência policial). As silhuetas desenha-das no chão, ainda manchado do sangue dos feridos no confronto, e as palavras es-critas indicam que as “vítimas” foram a de-mocracia, o povo, o respeito, entre outras.

O fotógrafo, Wilson Dias, aprovei-ta a cena e nos mostra os professores em marcha, como se continuassem em frente, apesar das “baixas” que sofreram; assim, permite a conotação de luta, resis-tência, determinação.

Note, então, que certos recursos expressivos, diversos quanto à natureza, podem, cada um a seu modo, dizer mais do que aparece explícito nas letras ou nas linhas e cores. A leitura dessas intenções

é pessoal (poderá variar de um leitor para outro), porém isso não impede que você, como autor, por exemplo, em uma redação do vestibular, utilize recursos retóricos como esses propositalmente, seja em favor da ar-gumentação ou para ganho de estilo.

Assim, parece claro que um texto ou uma imagem, além de oferecerem ferra-mentas para expressar o pensamento, podem atuar também no combate à in-justiça e à violência, precisamente porque nos permitem formalizar e publicar a de-núncia e promover o debate em vez de a “luta de todos contra todos”, tirando do Estado a justificativa para o uso de ba-las de borracha e gás lacrimogênio. No lugar, põe-se a palavra, a expressão e a comunicação como meios eficientes, por excelência, de atuação política.

Lute você também, com suas pala-vras e ideias, por uma política mais cida-dã e um país mais justo!

Editorial

ANÁLISE

Os professores do Paraná e a educação no Brasil Nos protestos, as palavras e os gestos têm um significado maior do que podemos imaginar em um primeiro momento.

Wils

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Agê

ncia

Bra

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5

O contato do homem com mosquitos vetores de doen-ças acontece há muitos séculos, mas o reconheci-

mento desses insetos como transmis-sores só ocorreu no final do século XIX.

No ano de 1878, o cientista es-cocês Sir Patrick Manson descobriu que a filariose (ou elefantíase), causa-da pelo verme nematoide Wuchereria bancrofti, era transmitida para o ho-mem pela picada de fêmeas infecta-das por mosquitos do gênero Culex. A partir desse momento, o interesse na identificação e na verificação de mosquitos vetores aumentou, levando ao desenvolvimento da entomologia médica. O grande crescimento dessa área pode ser facilmente observado na comparação entre o século XVIII, quando apenas duas espécies de mosquitos eram conhecidas, e a pri-meira década do século XX, quando esse número aumentou para mais de duzentos e quarenta.

Em 1881, o médico cubano Car-los Finlay apontou o Aedes aegypti como vetor da febre amarela urbana, mas seus estudos não foram reco-nhecidos pela comunidade científica. Em 1901, o americano Walter Reed confirmou os estudos de Finlay, acu-sando ser o mosquito o responsável pela transmissão do vírus da febre amarela urbana ao homem.

No início do século XX, a cidade do Rio de Janeiro enfrentava graves epidemias de varíola, peste bubôni-ca e febre amarela. Nessa época, o presidente do Brasil, Rodrigues Al-ves, nomeou Oswaldo Cruz, chefe do Departamento Nacional de Saúde Pública, ao cargo de Ministro da Saú-de. Oswaldo Cruz iniciou uma intensa campanha contra a febre amarela e

seu vetor A. aegypti no Rio de Janeiro e, para isso, melhorou as condições de higiene das residências, mandou limpar rios e lagoas, eliminou cria-douros com água parada e isolou os doentes, para que estes não ser-vissem de fonte de infecção para o mosquito transmissor. Com essa campanha, o ministro não erradicou o mosquito, mas conseguiu reduzir significativamente os casos de febre amarela urbana. Essa redução do número de casos foi ainda maior após o advento da vacina como medida profilática, em 1937, e o último caso de febre amarela urbana no Brasil foi registrado no Acre, em 1942.

Atualmente, o mosquito Aedes aegypti continua sendo preocupação para a saúde pública brasileira, mas devido à transmissão de outra doen-ça: a dengue.

A dengue entra em cena A dengue é uma arbovirose que

tem como origem um vírus RNA fita simples, com quatro sorotipos antige-nicamente distintos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. É considerada uma das mais importantes arboviroses humanas transmitidas por mosquitos

no mundo, sendo endêmica em apro-ximadamente 112 países tropicais e subtropicais da Ásia, da África e da América.

No Brasil, a primeira epidemia comprovada de dengue ocorreu em Roraima, em 1981, com isolamento dos sorotipos DENV-1 e DENV-4. Essa epidemia foi rapidamente debe-lada, o que fez com que o vírus não se expandisse para outras regiões. Mais tarde, em 1986, o sorotipo DENV-1 foi isolado no Rio de Janeiro, seguido dos sorotipos 2 e 3, regis-trados pela primeira vez no mesmo estado, em 1990 e em 2000, respec-tivamente. Já o sorotipo DENV-4 foi isolado, em 2010, nos estados de Roraima e Amazonas e, em 2011, no Rio de Janeiro.

A transmissão dos quatro soro-tipos do vírus da dengue ocorre pela picada da fêmea infectada do mos-quito A. aegypti, considerado o prin-cipal vetor da doença em diferentes partes do mundo.

O vetor: Aedes aegyptiAedes aegypti é um mosqui-

to originário da África que invadiu o Brasil, provavelmente, na época da colonização, por meio do tráfico de escravos. Na década de 1950, esse mosquito foi considerado erradicado do Brasil, porém, na década seguin-te, invadiu novamente o país e, hoje em dia, pode ser encontrado em to-dos os estados brasileiros. Os am-bientes urbanos e suburbanos, onde há elevada presença humana e gran-de concentração de residências, fa-vorecem a proliferação do A. aegypti. Com efeito, essa espécie é conside-rada altamente sinantrópica, além de endofílica – utilizando o interior das

POR TAMARA NUNES DE LIMA CAMARA

Mosquitos como vetores de doençasA ciência que descobriu os insetos transmissores, as pesquisas que revelam as características da dengue e do vetor Aedes aegypti e a luta da sociedade contra a situação epidêmica que enfrentamos

A dengue é considerada uma das mais importantes

arboviroses humanas transmitidas por

mosquitos no mundo, sendo endêmica em aproximadamente

112 países tropicais e subtropicais da Ásia, África

e Américas.

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casas para se abrigar – e antropofíli-ca, sugando o homem com elevada frequência.

O ciclo de vida do A. aegypti é chamado de holometábolo, ou seja, apresenta metamorfose completa e engloba as fases de ovo, larva, pupa e adulto. Os ovos são colocados nas paredes dos criadouros, que cos-tumam ser artificiais; dessa forma, pneus, latas, caixas-d´água, vasos de plantas, entre outros recipientes, são frequentemente utilizados como criadouros pelas fêmeas desse mosquito. O tempo de desenvolvi-mento entre o ovo e o adulto pode durar de 7 a 10 dias, dependendo de fatores abióticos, como a tempe-ratura e a umidade, e bióticos, como a competição entre as larvas por es-paço e alimento. Dos ovos, nascem as larvas, que apresentam quatro estágios de desenvolvimento (L1-L4) e das quais serão formadas as pupas; destas, posteriormente, vão emergir os adultos. É importante

ressaltar que apenas as fêmeas sugam sangue, pois precisam des-se tipo de alimentação para matura-rem seus ovos; já os machos se ali-mentam apenas de açúcar, como o encontrado nas seivas das plantas.

Como ainda não existe uma vacina contra a dengue, a melhor estratégia para reduzir os casos da doença é controlar a proliferação do mosquito. Para isso, é essencial que haja eliminação de todos os re-cipientes que possam servir como criadouros. Como as ações do go-verno nem sempre conseguem co-brir todo o país com suas equipes de combate ao vetor, é essencial que cada cidadão faça a sua parte e elimine ou inviabilize os potenciais criadouros desse transmissor.

Tamara é cientista biológica, doutora em Biologia Parasitária pela Fundação Oswaldo Cruz

(Fiocruz) e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP).

A Revolta da Vacina

No início do século XX, o Rio de Janeiro, então capital do país, passou por um processo de modernização, o que levou à

sua reestruturação e à higienização de suas ruas insalubres. A cidade não mais comportava o acelerado crescimento po-pulacional, que vinha desde o século XIX, com a chegada da família real, e que se intensificou com a vinda de imigrantes eu-ropeus e a abolição da escravidão.

Com o governo mais preocupado em atender os interesses da elite carioca, a população mais pobre foi submetida a mo-radias irregulares, como os cortiços, casas velhas e barracos construídos nos morros, formando, assim, as primeiras favelas. Isso gerou constantes epidemias – princi-palmente de varíola, febre amarela e peste bubônica – e acentuou o clima de tensão na cidade. Em vista disso, com o intuito de controlar as epidemias, o Governo Federal convocou o médico sanitarista Oswaldo Cruz, que adotou uma série de medidas, aplicadas, muitas vezes, de forma violen-ta, com os agentes sanitários invadindo as casas da população mais pobre – e de-sinformada, pois não houve um esclare-cimento adequado por parte do governo sobre esse assunto.

Dessa forma, o estopim da chamada Revolta da Vacina foi a obrigatoriedade da vacina contra varíola, em 1904, que levou a população a se rebelar, pois via nessa medida uma violação também de seus corpos. Diante desse cenário de insatisfa-ção generalizada, a população tomou as ruas da cidade, que se transformou em palco de combates violentos. A revolta foi contida dias depois por forças da Guarda Nacional e do Exército.

TOQUE DOESPECIALISTAPOR AMANDA CHAVES RAPOSO

Ciências Humanas e suas Tecnologias

HISTÓRIA

Mosquito Aedes aegypti.

Gab

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Bra

sília

Entomologia médica: ciência que estuda os insetos sob todos os seus aspectos, considerando suas relações com os seres vivos e com o meio ambiente.Arbovirose: infecções causadas por arbovírus, ou seja, vírus que podem ser transmitidos ao homem por vetores artrópodos. Endêmica: referente a endemia, doença infecciosa que ocorre habitualmente e com incidência significativa em dada população e/ou região. Sinantrópica: espécie de animais que se adaptaram a viver junto ao homem, a despeito da vontade humana.

Glossário

PLUGADO

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E N T R E V I S TA | Bruno OlivaCARREIRA: Biomedicina

Bruno é biomédico, especialista em Patologia Clínica e mestrando em Imunologia pela Universidade de São Paulo (USP). Para que você conheça mais

sobre a profi ssão, nesta entrevista, o biomédico conta alguns detalhes de uma carreira dedicada à investigação, às novas descobertas e à atuação em benefício da saúde humana.

O que é Biomedicina? Quais devem ser os inte-

resses de quem escolhe se dedicar a essa área?

Dentre todos os cursos da área da saúde, a

Biomedicina é o mais novo e o mais estruturado

para atender as demandas de pesquisa, diagnóstico

e promoção à saúde do país. O perfil dos alunos

que escolhem a Biomedicina como carreira é quase

sempre comparado com o de um bom investigador

ou detetive. Tem que estar sempre ligado nas

atualidades da saúde e ir em busca de novas

tecnologias e conceitos.

Como é o curso de Biomedicina? Quais são os

principais tópicos estudados?

O curso tem duração de 4 anos (em algumas

instituições, 5 anos) e tem como principal diferencial a

alta demanda de aulas práticas, chegando a perfazer

quase 50% do curso. Dentre as disciplinas estudadas

em sala de aula, destacamos matérias básicas como

Química, Biologia Celular e Bioestatística, além das

clínicas, como: Hematologia, Imunologia, Práticas de

Pesquisa Clínica, Farmacologia, entre outras.

O que esperar do dia a dia desse profissional?

Em que áreas ele pode atuar?

O profissional biomédico tende a fazer carreira dentro

de hospitais, clínicas ambulatoriais, centros de pesquisa

e em saúde pública no geral. O grande diferencial do

curso é a liberdade que o aluno possui de, no último

ano, escolher a área que seguirá. Chamamos essa

escolha de “habilitação”. Dentre as habilitações em que

o aluno pode atuar, destacamos: docência e pesquisa,

neurociência, patologia clínica, imunologia, biomedicina

estética, ciências forenses, perfusão, entre outras.

O perfil dos alunos que escolhem a Biomedicina

como carreira é quase sempre comparado com o de um

bom investigador ou detetive. Tem que estar sempre ligado nas atualidades da saúde e

ir em busca de novas tecnologias e conceitos.

Andre Borges/Agência Brasília/ Flickr

FICADICA

FICADICA8

Aldous Huxley. Admirável mundo novo. Inglaterra, 1932. Uma socie-dade distópica é toda organizada por um Estado científico-industrial. Sua população, concebida em laboratório, é dividida em castas e desfruta de todos os prazeres, mas sem os direitos de questionar, criar, amar e ter priva-cidade. O livro encontra-se em várias traduções para português.

ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

Aldous Huxley

Lixo Extraordinário. Direção: Lucy Walker. Reino Unido/Brasil, 2009. 99 min. O documentário acompanha o trabalho do artista plástico Vik Muniz em um dos maiores aterros sanitários do mundo: o Jardim Gra-macho, na periferia do Rio de Janeiro. Lixo Extraordinário mostra a produção de obras de arte feitas a partir de materiais coletados no aterro e acompanha a rotina de personagens que trabalham no local.

Documentário

Lixo Extraordinário

PORTAL

FIOCRUZ

Portal Fiocruz. A Fundação OswaldoCruz, Fiocruz, é uma instituição vinculada ao Ministério da Saúde, e seus conceitos se baseiam na promo-ção da saúde e no desenvolvimento social, com geração e difusão de conhecimento científico e tecnológico. No site, é possível encontrar informações variadas sobre saú-de pública, pesquisas e novidades da área.

Acesse:<http://portal.fiocruz.br/pt-br>.

Dicas para você tornar seu dia a dia mais interessante e adquirir conhecimento de uma maneira ainda mais agradável.

Qual a relação da Biomedicina com a Medicina e a Biologia? Seria essa uma carreira intermediária entre as outras duas?Embora o nome seja sugestivo para a comparação, não costumamos relacionar a Medicina – que tem como principal função tratar o paciente – com a Biomedicina. O nosso nicho de fatia de mercado é disputado com a Medicina apenas na área de gestão de negócios e gerência de setor. No mais, trabalhamos juntos em prol do paciente. Tratando-se de Biologia, carregamos o bio no nosso nome referindo-se à vida. O aluno que escolher a Biomedicina perceberá que, em alguns poucos momentos da graduação, nossas matérias se encontram com as matérias da Biologia, porém todo assunto abordado é voltado para a saúde exclusivamente humana.

Qual o panorama da profissão no Brasil?O mercado está mais aquecido do que nunca. Pela primorosa atuação dos órgãos fiscaliza-dores da Biomedicina, como os Conselhos Regionais e o Con-selho Federal de Biomedicina, estamos ganhando cada vez mais fatia de mercado. Para

elucidar, não há um único concurso público da área da saúde no país inteiro que o jurídico do CFBM não avalie para inserir o biomédico quando as atribui-ções do edital são inerentes às nossas habilitações. Em uma sociedade cada vez mais envolvida em pesquisas e novas descobertas, qual seria o papel social do biomédico? A profissão foi criada, inicialmente, para formar pesquisadores gabaritados em novas descober-tas científicas. O biomédico está inserido intrinse-camente nesse papel. Um exemplo prático desse panorama é apresentado graficamente pela socie-dade científica, visto que quase 10% de todas as publicações científicas nacionais são assinadas por biomédicos.

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Era um ponto de luz vivo e brilhante no fim de onde os olhos podiam alcançar. Tão grandioso que fez com que ela deixasse seus brinquedos de lado.

Os ombros da garotinha agora se debruçavam com esforço para enxergar tudo sobre o parapeito da sacada.

Os seis aninhos de idade, que então pensavam em estrelas, consideravam que os astros não deviam estar tão baixos, ou será que sim? Imaginavam que aquilo talvez fosse um cometa, a lua, uma nave espacial, entre tantas ideias...

Não era mais possível contemplar o brilho sozinha: – Papai, corre! Vem ver!Ele, que sempre vivia as curiosidades da filha, logo deixou alguns afazeres para estar ali.

Mostrou-se surpreso com a luz que também enxergava, agora com a filha nos braços:– Vamos até lá descobrir o que é. Você quer?Um abraço respondia que aquilo era o que ela mais desejava. Seu coraçãozinho saltava

quando entraram apressados no carro para ir ao encontro de, talvez, a sua primeira estrela. Ao dirigir, o pai se divertia com os olhinhos da criança na parte mais baixa da janela do

banco de trás, raivosos de árvores e postes que atrapalhavam o contemplar de um brilho algumas vezes mais vivo, outras quase perdido.

No carro, acompanhavam pai e filha o mistério com olhares atentos. Ele falava com ela de hipóteses, repleto da alegria de ser parte daquele pequenino sonho: encontrar um brilho que, em verdade, não era mais curiosidade só de sua criança.

Foi assim que o trajeto se estendeu até que estivessem perto o bastante para estacionar o carro. Pararam, finalmente, quando o pai avistou o que buscavam em um espaço escuro.

– Tem certeza de que é aqui, papai?Ao se aproximarem do local, de mãos dadas na escuridão, a menina estava aflita; o relógio

de todo o planeta, de repente, parou. Era um lugar lindo, ainda vazio de outros olhares: o brilho de uma roda-gigante levava luz a um parque de diversões intacto. Em poucos dias, outros também o conheceriam, mas aquela ainda era uma descoberta só dos dois. Para o herói e a sua garotinha, era, sem dúvida, muito mais do que a chance de avistar um cometa.

A primeira estrela

Michelle Teixeira de Vasconcelos A autora é formada em Letras e revisora no

Sistema de Ensino Poliedro.

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ESPAÇO LITERÁRIO