neo interativa e brasil 24/7: um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro,...
DESCRIPTION
Este estudo de casos múltiplos realiza um levantamento das características tecnológicas da revista NEO Interativa, de 1994, e do jornal Brasil 24/7, de 2011. Desta forma, a pesquisa procura observar como (ou se) o avanço tecnológico ocorrido na janela de 17 anos que separam as publicações condicionou novas possibilidades para o jornalismo no âmbito digital. Palavras-chave: Jornalismo Digital; Revista NEO Interativa; Jornal Brasil 24/7; InternetTRANSCRIPT
ALLAN FERNANDO OLIVEIRA
NEO INTERATIVA E BRASIL 24/7: UM ESTUDO COM DOIS PRECURSORES DO JORNALISMO
DIGITAL BRASILEIRO, SEPARADOS POR 17 ANOS DE TECNOLOGIA.
LONDRINA
2011
ALLAN FERNANDO OLIVEIRA
NEO INTERATIVA E BRASIL 24/7: UM ESTUDO COM DOIS PRECURSORES DO JORNALISMO
DIGITAL BRASILEIRO, SEPARADOS POR 17 ANOS DE TECNOLOGIA.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, da Universidade Estadual de Londrina. Orientador: Prof. Ms. Mário Benedito Sales
LONDRINA 2011
ALLAN FERNANDO OLIVEIRA
NEO INTERATIVA E BRASIL 24/7: UM ESTUDO COM DOIS PRECURSORES DO JORNALISMO
DIGITAL BRASILEIRO, SEPARADOS POR 17 ANOS DE TECNOLOGIA.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo, da Universidade Estadual de Londrina.
COMISSÃO EXAMINADORA
____________________________________ Prof. Orientador Ms. Mário Benedito Sales
Universidade Estadual de Londrina
____________________________________ Prof. Dr. Alberto Carlos Augusto Klein
Universidade Estadual de Londrina
____________________________________ Profa. Ms. Juliana dos Santos Barbosa
Universidade Estadual de Londrina
Londrina, 09 de novembro de 2011.
Dennis Ritchie (1941 – 2011)
Steve Jobs (1955 – 2011)
AGRADECIMENTOS
À minha família por ser sempre a base de tudo.
À minha irmã, Juliana Maria Gonçalves, veterana que conheci ainda em meu
primeiro ano de UEL.
Ao meu irmão, Bruno Gonçalves (nenhum parentesco com a Ju!), companheiro
inseparável de bares e bibliotecas.
À professora Rosane Borges, por todo o apoio.
À professora Luciana Mielniczuk, por ceder sua tese de doutorado, fundamental para
a realização deste trabalho.
A todos os bons professores que me ensinaram muita coisa nestes quatro anos de
UEL.
Ao Bola, por cortar o título original deste trabalho e também por ter sido um grande
orientador.
Ao Word 2007, por “desformatar” todo o trabalho pouco antes da entrega para a
banca.
"A vida é dura para quem é mole" - José Maschio
OLIVEIRA, Allan Fernando. NEO Interativa e Brasil 24/7: Um estudo com dois precursores do jornalismo digital brasileiro, separados por 17 anos de tecnologia. 2011. 140 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2011.
RESUMO
Este estudo de casos múltiplos realiza um levantamento das características tecnológicas da revista NEO Interativa, de 1994, e do jornal Brasil 24/7, de 2011. Desta forma, a pesquisa procura observar como (ou se) o avanço tecnológico ocorrido na janela de 17 anos que separam as publicações condicionou novas possibilidades para o jornalismo no âmbito digital. Palavras-chave: Jornalismo Digital; Revista NEO Interativa; Jornal Brasil 24/7; Internet
OLIVEIRA, Allan Fernando. NEO Interativa and Brasil 24/7: A study of two precursors of brazilian digital journalism separated by 17 years of technology. 2011. 140 páginas. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo) – State University of Londrina, Londrina, 2011.
ABSTRACT This multiple case study conducts a survey of the technological features of the magazine NEO Interactive, 1994, and the newspaper Brazil 24/7, 2011. Thus, the comparative research observes how (or whether) the technological advance occurred in the window of 17 years between the publications have conditioned new possibilities for journalism in the digital world. Key Words: Digital Journalism; NEO Interativa magazine; Brasil 24/7 Newspaper; Internet
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10
1. METODOLOGIA ................................................................................................ 12
1.1. O que é um estudo de caso? ....................................................... 12
1.2. A aplicação da metodologia ......................................................... 14
1.3. O estudo de casos múltiplos ....................................................... 15
2. OS COMPUTADORES E A HISTÓRIA DA INTERNET .................................... 17
2.1. Os bastidores da Internet ............................................................. 18
2.2. A Internet no Brasil ....................................................................... 21
2.3. A Linguagem Unix ......................................................................... 23
2.4. World Wide Web 1.0 ...................................................................... 27
2.5. A polêmica World Wide Web 2.0 .................................................. 29
2.6. World Wide Web 3.0 ...................................................................... 31
2.7. O iPad e a popularização dos tablets .......................................... 32
3. AS TEORIAS DO CIBERESPAÇO .................................................................... 36
3.1. A Teoria McLuhaniana .................................................................. 37
3.2. O conceito de Inteligência Coletiva segundo Pierre Lévy ......... 40
3.3. Cibercultura ................................................................................... 43
3.4. A utopia da Teoria ......................................................................... 45
3.5. As revoluções do mundo árabe ................................................... 47
4. O JORNALISMO DIGITAL ................................................................................ 51
4.1. O Processo Comunicacional ........................................................ 52
4.2. Conceituando o Jornalismo Digital ............................................. 54
4.3. Breve retrospecto histórico do Jornalismo Digital .................... 58
4.4. As gerações do Jornalismo Digital .............................................. 61
4.5. Características do Jornalismo Digital ......................................... 63
4.6. Hipermídia: a importância do hipertexto e dos links ................. 65
4.7. A velha lógica jornalística ............................................................ 73
5. ESTUDO DE CASOS MÚLTIPLOS ................................................................... 76
5.1. Revista NEO Interativa .................................................................. 76
5.1.1. Como funciona a revista NEO Interativa ......................................................... 79
5.2. O Jornal Brasil 24/7 ....................................................................... 92
5.2.1. Como funciona o Jornal Brasil 24/7 ................................................................ 95
5.3. Estratégia analítica geral ............................................................ 103
5.4. Levantamento de dados ............................................................. 105
5.4.1. Interatividade ................................................................................................. 105
5.4.2. Hipertexto ...................................................................................................... 106
5.4.3. Multimodalidade ............................................................................................ 107
5.4.4. Atualização .................................................................................................... 108
5.4.5. Arquivo .......................................................................................................... 109
5.5. Considerações acerca dos dados levantados .......................... 110
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 113
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 117
GLOSSÁRIO DE JORNALISMO ............................................................................ 125
APÊNDICE .............................................................................................................. 138
10
INTRODUÇÃO
A partir da criação da World Wide Web (Rede de Alcance Mundial) no
início dos anos 90, o mundo viria a sofrer uma profunda transformação mediada pela
comunicação digital, sendo a Internet e sua interface gráfica as protagonistas desta
revolução. Mas qual seria o papel do jornalismo nestes novos tempos digitais?
Segundo a Dra. Luciana Mielniczuk, uma referência nacional em jornalismo digital,
“No decorrer da última década, junto com os vários avanços tecnológicos e o
surgimento de novos produtos jornalísticos, veio a certeza de que tais produtos não
exploram, de maneira efetiva, o potencial oferecido pelo novo suporte: a web.”
(2003, p. 13).
Para além da observação da autora, tivemos no início de 2011 a
popularização de um suporte digital que abriu ainda mais leques de possibilidades
para o jornalismo: os tablets. Com todo o frenesi em torno do lançamento deste,
presenciamos também o surgimento de um periódico criado e pensado
especificamente para o meio em questão: o jornal Brasil 24/7.
Mediante tantos avanços tecnológicos, surge a dúvida: o jornalismo digital
brasileiro tem utilizado o desenvolvimento da tecnologia para evoluir também? Ou
ainda cabe a afirmação ponderada acima por Mielniczuk?
Com base nessa questão, este trabalho realiza um estudo de casos
múltiplos com dois exemplares do jornalismo digital brasileiro: a revista NEO
Interativa, lançada em 1994 e que, como veremos, foi a primeira tentativa de
jornalismo 100% digital brasileira; e o já citado jornal Brasil 24/7, representando a
ponta mais recente nesta linha temporal tecnológica. Ao levantarmos as
características de cada publicação, o trabalho fará uma reflexão inicial tentando
responder as seguintes proposições:
Como a evolução da tecnologia moldou o fazer jornalístico no
jornalismo digital brasileiro?
Nestes 17 anos, houve uma evolução quanto às possibilidades
proporcionadas pela tecnologia no jornalismo digital brasileiro, de fato?
Em 17 anos, tecnologicamente falando, o que o jornal Brasil 24/7
evoluiu em relação à proposta da revista NEO Interativa?
A tecnologia tem permitido uma pluralidade de opiniões no jornalismo?
11
Houve um aprofundamento da narrativa jornalística?
Para alcançarmos esse objetivo, iniciamos o trabalho com a apresentação
da metodologia do estudo de casos múltiplos, utilizada nesta pesquisa. Seguimos,
no Capítulo 2, com um breve retrospecto da história da Internet e de alguns
contextos da Ciência da Computação, refletindo rapidamente sobre a evolução
tecnológica ocorrida no século XX e início do século XXI.
No Capítulo 3, levantaremos algumas teorias do ciberespaço para
observarmos diferentes pontos de vista de alguns autores sobre o desenvolvimento
das atuais sociedades tecnológicas.
Por conseguinte, no Capítulo 4, abordaremos a teoria do jornalismo
digital e as possibilidades de ruptura possíveis para este novo modo do fazer
jornalístico.
Por fim, no Capítulo 5, realizaremos as análises propostas neste trabalho,
com base em todo o levante teórico visto anteriormente. Assim, propomos uma
reflexão inicial sobre como (ou se) o avanço tecnológico ocorrido em 17 anos mudou
ou evoluiu a prática jornalística.
12
1. METODOLOGIA
A presente pesquisa pretende observar duas publicações jornalísticas
digitais brasileiras que foram precursoras desta modalidade de jornalismo no País,
cada uma à sua época. Assim, poderemos estabelecer reflexões iniciais sobre como
o avanço tecnológico tem moldado o jornalismo digital produzido no Brasil. Para
isso, levantaremos as características gerais de cada periódico e faremos um estudo
comparativo, ressaltando a janela de 17 anos de avanço tecnológico que os
separam.
Trata-se, aqui, portanto, de um estudo de casos múltiplos. Segundo
Duarte, o estudo de caso tem sido amplamente utilizado nas áreas de Antropologia,
Ciência Política, Sociologia, Administração Pública e Educação. Nesta pesquisa, o
estudo de caso norteará um trabalho de comunicação. (apud BARROS e DUARTE,
2009, p. 215).
1.1. O que é um estudo de caso?
Apesar de ser um método bastante utilizado, o estudo de caso, para
Duarte, carece de mais estudos em língua portuguesa que o apresente ou o discuta
com maior profundidade (apud BARROS e DUARTE, 2009, p. 215). Ainda segundo
Duarte, a obra de Robert K. Yin é a principal referência a ser utilizada no
planejamento deste procedimento metodológico. Por isso, é neste autor que o
estudo de casos múltiplos realizado neste trabalho está baseado.
Segundo Yin, a escolha pela utilização do estudo de caso surge da
necessidade de compreender fenômenos sociais complexos. Em sua clássica
definição para a metodologia do estudo de caso, Yin diz que:
Em geral, os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se
colocam questões do tipo “como” e “por que”, quando o pesquisador tem
pouco controle sobre os acontecimentos e quando o foco se encontra em
fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real. (YIN,
2005, p. 19-20).
13
O estudo de caso é uma forma de investigação empírica que compreende
um método que abrange tudo – tratando da lógica de planejamento, das técnicas de
coleta de dados e das abordagens específicas à análise dos mesmos. Nesse
sentido, o estudo de caso não é uma tática para coleta de dados nem meramente
uma característica do planejamento em si, mas uma estratégia de pesquisa
abrangente (STOECKER, 1991, apud YIN, 2005, p. 33).
Outra definição é apresentada por Bruyne, Herman e Schoutheete. Para
eles, o estudo de caso reúne, tanto quanto possível, informações numerosas e
detalhadas para apreender a totalidade de uma situação (1991, p. 224-225, apud
BARROS e DUARTE, 2009, p. 216).
Embora apresente pontos em semelhança com a pesquisa histórica, a
metodologia do estudo de caso se diferencia, segundo Yin, devido à sua capacidade
de lidar com uma ampla variedade de evidências – documentos, artefatos,
entrevistas e observações, buscando sempre a compreensão total de um caso (apud
BARROS e DUARTE, 2009, p. 219).
Para Ventura:
De acordo com diferentes autores, o estudo de caso tem origem na
pesquisa médica e na pesquisa psicológica, com a análise de modo
detalhado de um caso individual, que explica a dinâmica e a patologia de
uma doença dada. Com este procedimento se supõe que se pode adquirir
conhecimento do fenômeno estudado a partir da exploração intensa de um
único caso. Além das áreas médicas e psicológicas, tornou-se uma das
principais modalidades de pesquisa qualitativa em ciências humanas e
sociais. Já para Chizotti, o estudo de caso como modalidade de pesquisa
origina-se nos estudos antropológicos de Malinowski e na Escola de
Chicago e, posteriormente, teve seu uso ampliado para o estudo de
eventos, processos, organizações, grupos etc. Segundo Gil, sua origem é
bastante remota e se relaciona com o método introduzido por C.C. Laugdell
no ensino jurídico nos Estados Unidos.[...] Atualmente, é adotado na
investigação de fenômenos das mais diversas áreas do conhecimento,
podendo ser visto como caso clínico, técnica psicoterápica, metodologia
didática ou modalidade de pesquisa. (VENTURA apud Revista SOCERJ,
2007, p. 384).
14
Para Alves-Mazotti (apud CADERNOS DE PESQUISA, 2006, p. 650), o
consenso a que se chega sobre o estudo de caso no ambiente acadêmico é que
este deve se constituir em uma investigação específica, situada em seu contexto,
segundo critérios pré-determinados e, utilizando múltiplas fontes de dados, que se
proponha a oferecer uma visão holística do fenômeno estudado; nas palavras da
autora, um estudo que “retém as características significativas e holísticas de eventos
da vida real”. (ALVES-MAZOTTI apud CADERNOS DE PESQUISA, 2006, p. 650). O
importante é que haja critérios explícitos para a seleção do caso e de que este seja
realmente um caso, isto é, uma situação complexa e/ou intrigante, cuja relevância
justifique o esforço de compreensão.
Por se adequar às necessidades do presente trabalho, portanto,
consideramos que a metodologia do estudo de caso se mostrou como a opção mais
apropriada para esta pesquisa.
1.2. A aplicação da metodologia
Neste trabalho, é realizado um estudo de casos múltiplos com dois
exemplares do jornalismo digital brasileiro, sendo eles, a revista NEO Interativa e o
jornal Brasil 24/7. Estas duas publicações foram escolhidas por serem pioneiras em
jornalismo digital no País, cada uma à sua época, e também em relação ao suporte
midiático em que foram editadas. Conforme veremos durante o desenvolvimento
deste estudo, a revista NEO Interativa pode ser considerada como a primeira
tentativa de jornalismo 100% digital brasileira, enquanto que o jornal Brasil 24/7 é a
primeira publicação noticiosa pensada exclusivamente para os computadores
tablets. Para que o estudo comparativo seja possível, levamos em consideração que
a NEO Interativa é uma revista cultural, o que, por conseguinte, nos permite analisar
apenas a editoria de cultura do jornal Brasil 24/7. Assim, este trabalho pretende
estabelecer uma reflexão inicial a partir das seguintes proposições:
Como a evolução da tecnologia moldou o fazer jornalístico no jornalismo
digital brasileiro?
Nestes 17 anos, houve uma evolução quanto às possibilidades
proporcionadas pela tecnologia no jornalismo digital brasileiro, de fato?
Em 17 anos, tecnologicamente falando, o que o jornal Brasil 24/7 evoluiu em
15
relação à proposta da revista NEO Interativa?
A tecnologia tem permitido uma pluralidade de opiniões no jornalismo?
Houve um aprofundamento da narrativa jornalística?
Para levantarmos esses dados, estamos nos baseando também na tese
de doutorado da Dra. Luciana Mielniczuk, cujas teorias serão levantadas no Capítulo
4 deste estudo, que igualmente se fundamentou em estudos de caso. Assim,
observaremos cinco características conceituais que constituirão uma lógica de
replicação de análise tanto para a revista NEO Interativa quanto para o jornal Brasil
24/7:
Multimodalidade
Interatividade
Hipertextualidade
Atualização
Memória
A escolha das publicações NEO Interativa e Brasil 24/7 ocorre,
portanto, porque, com estes dois exemplares, podemos traçar uma linha imaginária
temporal da evolução do jornalismo digital a fim de estudar e entender sua evolução.
Desta forma, será possível uma reflexão inicial sobre como esta nova forma do fazer
jornalístico tem se desenvolvido no Brasil.
1.3. O estudo de casos múltiplos
Por contar com duas unidades de análise, este trabalho aplicará a
metodologia do estudo de casos múltiplos.
Desta forma, desenvolve-se a teoria, os estudos de caso em separado e,
posteriormente, realiza-se uma análise cruzada. Segundo Yin, cada caso deve servir
a um propósito específico dentro do escopo global da investigação (2005, p. 68).
Neste caso, as unidades de análise aqui selecionadas – a revista NEO Interativa e o
jornal Brasil 24/7 – servirão para a análise cruzada que se propõe a compreender as
questões levantadas nas páginas anteriores ou, resumidamente, como o jornalismo
digital brasileiro tem se desenvolvido (observado por meio de dois referenciais
16
pioneiros) em conjunto com as novas possibilidades proporcionadas pelo avanço
tecnológico.
Este trabalho, portanto, realizará a generalização analítica, em que,
segundo Yin (2005, p. 54) se utiliza uma teoria previamente desenvolvida como
modelo com o qual se devem comparar os resultados empíricos. Teremos, pois,
duas estruturas previstas na metodologia do estudo de caso: estrutura comparativa
e estrutura de construção da teoria. Este trabalho é, portanto, um estudo de caso
múltiplos, dado o seu caráter comparativo; exploratório, dada a falta de estudos
precedentes com a revista NEO Interativa e o jornal Brasil 24/7 (neste caso,
provavelmente devido ao seu recente lançamento) e, por fim, descritivo, no que
tange a comparar suas unidades de análise e seus resultados empíricos com a
teoria previamente desenvolvida.
É importante ressaltar que não há, nesta pesquisa, a pretensão de
realizar uma Análise do Discurso ou uma Análise de Conteúdo (embora alguns
elementos destas metodologias sejam abordados), analisando também a qualidade
editorial de ambas as publicações, mas sim somente suas características
tecnológicas e o quanto elas condicionaram, tornaram possível um novo modo de se
fazer jornalismo. Pretendemos, assim, levantar quais as evoluções ocorridas na
janela de 17 anos de avanços tecnológicos que separam a revista NEO Interativa e
o jornal Brasil 24/7.
17
2. OS COMPUTADORES E A HISTÓRIA DA INTERNET
“A história da criação e do desenvolvimento da Internet é a história de
uma aventura humana extraordinária” (2003, p. 13). É com este superlativo que o
autor Manuel Castells abre o livro “A Galáxia da Internet”, traçando uma
retrospectiva histórica sobre os eventos que dariam vida ao atual conglomerado de
redes mundiais de computadores.
Com o trabalho de Castells, é interessante perceber uma perspectiva que
é colocada em xeque pelo autor: a criação da Internet para fins militares. De fato, a
criação da rede foi financiada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos,
contudo:
A Arpanet teve origem no Departamento de Defesa dos EUA, mas suas
aplicações militares foram secundárias para o projeto. O principal interesse
do IPTO era financiar a ciência da computação dos Estados Unidos e deixar
que seus cientistas fizessem seu trabalho, esperando que algo de
interessante surgiss e disso. (CASTELLS, 2003, p. 20).
Este é um ponto de grande relevância, visto que essa liberdade de
desenvolvimento possibilitaria, desde o início, um projeto voltado para o
conhecimento. Um importante personagem na construção da Internet, Tim Berners-
Lee, que como veremos nas próximas páginas, criou a World Wide Web,
corroborava: “A Web é mais uma criação social do que técnica. Eu não a projetei
como um brinquedinho. Precisamos ter certeza de que a sociedade que construímos
na rede é aquela que almejamos” (BERNERS-LEE apud VIEIRA, 2003, p. 2).
Para Castells, a cultura da Internet de hoje reflete a cultura de seus
criadores. A Internet nasceu em função de grupos de jovens cientistas da
computação que buscavam conseguir abranger o mundo inteiro através de um
projeto inovador de comunicação entre computadores. Por isso, como veremos
posteriormente, o conceito Web 2.0 é redundante. A Internet sempre foi um projeto
voltado para a distribuição de informação e conhecimento, financiado, sim, pelos
militares americanos, mas nunca criado especificamente para este fim.
Portanto a Arpanet, a principal fonte do que viria a ser a Internet, não foi
uma consequência fortuita de um programa de pesquisa que corria em
paralelo. Foi prefigurada, deliberadamente projetada e subsequentemente
18
administrada por um grupo de determinados cientistas da computação que
compartilhavam uma missão que pouco tinha a ver com estratégia militar.
Enraizou-se num sonho científico de transformar o mundo através da
comunicação por computadores [...] (CASTELLS, 2003, p. 21).
Sobre os computadores, pode-se afirmar que o primeiro computador
digital foi projetado ainda no século XIX pelo cientista e matemático Charles
Babbage (TANENBAUM; WOODHULL, 2000, p. 19). Embora tenha dedicado sua
vida e fortuna ao projeto, Babbage nunca conseguiu fazer com que sua invenção
funcionasse adequadamente, devido ao fato da tecnologia da época não contemplar
as necessidades de seu projeto. Esse processo se concretizaria com a Segunda
Guerra Mundial e a necessidade de máquinas capazes de realizar cálculos
complexos. Em meados da década de 40 do século XX, portanto, acadêmicos norte-
americanos e europeus obtêm sucesso na construção de máquinas de cálculo
utilizando válvulas. “Essas máquinas eram enormes, ocupando salas inteiras com
dezenas de milhares de válvulas, e eram muito mais lentas que as simples
calculadoras de hoje em dia.” (TANENBAUM; WOODHULL, 2000, p. 20). Desde o
princípio da Ciência da Computação1, portanto, e assim como na história da criação
da Internet, a característica de desenvolvimento militar desses projetos está
presente, ainda que alguns deles não tenham sido criados especificamente para
este fim.
2.1. Os bastidores da Internet
Retrocedemos o tempo. O ano é 1958. Vive-se o período da Guerra Fria.
Na época a situação não era das mais tranquilas na América do Norte:
quase cinco anos após a ascensão de Leonid Brejnev como primeiro-
ministro da União Soviética (URSS), os norte-americanos enfrentavam uma
difícil guerra contra os vietnamitas, observavam com temor a ascensão do
1 Em 1936, o matemático Alan Mathison Turing (1912-1954) publicou o conceito da Máquina de Turing, que
viria a possibilitar, de fato, a criação do computador digital moderno. Entretanto, somente após o início da guerra e com a crescente necessidade de máquinas capazes de realizar cálculos complexos (para a quebra de criptografias inimigas) que os conceitos de Turing foram executados, o que justifica esta afirmativa. Com isto, Alan Turing entrou para a história como o pai da Ciência da Computação. Fonte: UOL Informática – <http://informatica.hsw.uol.com.br/alan-turing.htm> – Acesso em 29 de setembro de 2011.
19
comunismo na China e perdiam terreno na Guerra Fria. A essa altura do
campeonato, na verdade, o jogo já estava 3 x 0 para a URSS: os
camaradas haviam colocado o primeiro satélite em órbita espacial, o
Sputnik; haviam mandado o primeiro ser vivo literalmente para o espaço, a
cadela Laika; e colocado a frase “A Terra é azul” na boca do primeiro
astronauta, Yuri Gagarin. Diante dessa situação, digamos, preocupante,
uma das saídas encontradas pelos norte-americanos foi apostar na
excelência de sua comunidade acadêmica para, quem sabe, fazer a
diferença. [...] (VIEIRA, 2003, p. 4).
Confiando em sua comunidade acadêmica na tentativa de reverter a
situação, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos cria a Agência de Projetos
de Pesquisa Avançada (Advanced Research Projects Agency, ARPA, na sigla em
inglês), em 1958, como resposta, principalmente, à vitória tecnológica da União
Soviética com o lançamento do primeiro satélite artificial, o Sputnik, no ano anterior.
Um dos departamentos da ARPA era a Divisão de Técnicas de
Processamento da Informação (Information Processing Techniques Office, IPTO, na
sigla em inglês). Em 1969, o IPTO inicia um pequeno programa de pesquisa
destinado a criar uma rede interativa de computadores, a partir da sede na ARPA,
sob o nome de Arpanet.
O objetivo desse departamento, tal como definido por seu primeiro diretor
Joseph Licklider, um psicólogo transformado em cientista da computação no
Massachusetts Institute of Technology (MIT), era estimular a pesquisa em
computação interativa. (CASTELLS, 2003, p. 14).
Para montar esta rede, a equipe do IPTO utilizou-se de uma tecnologia
então revolucionária de transmissão de telecomunicações (e recusada pelos
militares): a comutação por pacotes. Desenvolvida independentemente por Paul
Baran em um centro de pesquisas que frequentemente trabalhava para o Pentágono
(Rand Corporation) e por Donald Davies no Laboratório Nacional de Física Britânico,
esta tecnologia tinha como ideia a criação de uma rede de comunicação
descentralizada e flexível, que dispensasse a necessidade de um computador
mestre, sendo assim capaz de sobreviver a um ataque nuclear. Segundo Castells,
em 1969, os primeiros nós da Arpanet foram atados na Universidade da Califórnia
em Santa Bárbara e na Universidade de Utah. Em 1971, o número de locais onde a
20
Arpanet estava presente chegava a 15, a maioria em centros universitários de
pesquisa (2003, p. 14).
Doravante, o próximo passo era tornar a Arpanet compatível com outras
redes de comunicação administradas pela ARPA, como a PRNET e a SATNET.
Essa necessidade acabou por criar um novo conceito: uma rede de redes. “Para que
pudessem falar umas com as outras, as redes de computadores precisavam de
protocolos de comunicação padronizados.” (CASTELLS, 2003, p. 14). O objetivo foi
conquistado, em parte, no ano de 1973, com o projeto de protocolo de controle de
transmissão (TCP, na sigla em inglês), em uma pesquisa liderada por Vint Cerf,
Gerard Lelann e Robert Metcalfe. Em 1978, o protocolo TCP foi dividido em duas
partes, ganhando um acréscimo de um protocolo intra-rede, gerando o TCP/IP,
padrão segundo o qual a Internet opera até hoje.
Em 1983, o Departamento de Defesa americano, preocupado com
possíveis falhas de segurança, cria a MILNET, esta sim uma rede específica para
finalidades militares, deixando a Arpanet – agora rebatizada para ARPA-INTERNET
– voltada apenas para fins de pesquisa. Em fevereiro de 1990, já tecnologicamente
obsoleta, a ARPA-INTERNET foi retirada de operação pelos militares, que liberaram
a administração da tecnologia para a Fundação Nacional de Ciência (NSF, na sigla
em inglês) dos Estados Unidos. “Com a tecnologia de redes de computadores no
domínio público, e as telecomunicações plenamente desreguladas, a Fundação
Nacional de Ciência tratou logo de encaminhar a privatização da Internet.”
(CASTELLS, 2003, p. 15).
Na década de 80 – antes dessa privatização, portanto – uma das ideias
do Departamento de Defesa dos Estados Unidos era comercializar, por conta
própria, a Internet. Assim, o Estado americano financiou fabricantes americanas de
computadores para incluir o TCP/IP em seus protocolos. Nos anos 90, logo, a
maioria dos computadores comercializados nos Estados Unidos já continha a
tecnologia capaz de acessar a ARPA-INTERNET, o que possibilitou a base da
criação da Internet e sua consequente exploração comercial.
No início da década de 1990 muitos provedores de serviços de Internet
montaram suas próprias redes e estabeleceram suas próprias portas de
comunicação em bases comerciais. A partir de então, a Internet cresceu
rapidamente como uma rede global de computadores. O que tornou isso
possível foi o projeto original da Arpanet, baseado numa arquitetura em
21
múltiplas camadas, descentralizada, e protocolos de comunicação abertos.
Nessas condições a Net pôde se expandir pela adição de novos nós e a
reconfiguração infinita da rede para acomodar necessidades de
comunicação. (CASTELLS, 2003, p. 15).
Embora tenha sido a base primordial na criação da Internet, a Arpanet
não foi a única rede de computadores criada no mesmo período. Outros
experimentos, como a FIDONET, MODEM, BITNET etc, também colaboraram para
que a Internet se tornasse o que é hoje. Para Castells: “O formato atual da Internet é
também o resultado de uma tradição de base de formação de rede de
computadores” (2003, p. 15).
Outra forma bastante popular de comunicação entre computadores foram
os BBS, sigla para Bulletin Board System (sem tradução para o português), que são
“sistemas onde um computador central, equipado com diversos modems, serve
como base para troca de informações entre os usuários que acessarem o BBS a
partir de seus computadores pessoais, usando modems e linhas telefônicas.”
(COSTA apud LÉVY, 1999, p. 251). Veremos mais adiante que a revista NEO
Interativa, estudada nesta pesquisa, se utilizava desta tecnologia para abrir canais
de comunicação para seus leitores antes mesmo da Internet ser lançada no País.
2.2. A Internet no Brasil
No Brasil, os primeiros contatos com a rede mundial datam de 1988,
quando a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp),
ligada à Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia, realizou a primeira conexão à
Internet por meio de uma parceria com o Fermi National Accelerator Laboratory
(Fermilab2), um dos mais importantes centros de pesquisa científica dos Estados
Unidos. Segundo Vieira, esse experimento foi realizado pelos professores Oscar
Sala e Flávio Fava de Moraes, da Universidade de São Paulo (USP), que juntos
inauguraram a conexão oficialmente no ano seguinte (2003, p. 9). No mesmo
período, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Laboratório Nacional
2 O nome é uma homenagem ao físico italiano Enrico Fermi (1901-1954), ganhador do prêmio Nobel em 1938
por importantes descobertas na física nuclear. (VIEIRA, 2003, p. 9).
22
de Computação Científica (LNCC), em Petrópolis, RJ, também se conectaram a rede
através de links com universidades americanas.
Em 1992, o Governo Federal cria a Rede Nacional de Pesquisa (RNP)
vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. A RNP era coordenada pelo
cientista Tadao Takahashi, e acabou criando uma gigantesca infraestrutura de cabos
para suportar a Internet, recebendo o link internacional da rede.
Paralelamente ao início das operações da RNP, surgiu no Rio de Janeiro
uma organização não-governamental (ONG), chamada Instituto Brasileiro
de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), que se tornaria a primeira
instituição brasileira fora do ambiente acadêmico a utilizar a Internet através
do Alternex, um serviço de correio eletrônico e grupos de discussão
conectado à rede, em 18 de julho de 1989. (VIEIRA, 2003, p. 9).
O sistema do Alternex seria testado novamente no País durante a Eco-92,
Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de
Janeiro. Para acompanhar os debates, um amplo sistema de veiculação de
informações eletrônicas foi montado. Neste ponto, Vieira afirma: “A Web, finalmente,
ganhava o Brasil” (2003, p. 9).
Nos anos seguintes, com a Internet evoluindo rapidamente nos Estados
Unidos, o que se viu no Brasil foi uma disputa pelos direitos de acesso à rede. Em
1994, o Governo Federal manifestou sua intenção de investir e promover o
desenvolvimento da rede no País, subordinando essas ações para o Ministério da
Ciência e Tecnologia. Segundo Vieira, a RPN colaboraria com a experiência
adquirida no ambiente acadêmico e a Embratel – na época a empresa do sistema
Telebrás – exploraria comercialmente a rede (2003, p. 10).
Com a eleição do presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1995,
contudo, os planos sofreriam alterações bruscas devido às privatizações dos
serviços de telecomunicações brasileiros. Caberia, portanto, à iniciativa privada a
exploração comercial da Internet. Segundo Vieira, o último ato precedente ao
nascimento da Internet brasileira de fato ocorre em 1996, com a criação do Comitê
Gestor de Internet (CGI), representado, à época, pelo Ministério das Comunicações,
Ministério da Ciência e Tecnologia, universidades, ONGs, e provedores de acesso
(2003, p. 11). Até os dias atuais, o Comitê é a instituição de maior importância para
o governo quando o assunto é Internet.
23
2.3. A Linguagem Unix
Uma das tendências mais marcantes ocorridas durante a gestação da
Internet a nível global veio da comunidade dos usuários UNIX. Para chegarmos até
sua criação, entretanto, é necessário voltarmos para o final da década de 60. Nesta
época, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) e as
empresas Laboratórios Bell e a General Electric (uma importante fabricante de
computadores na época) dedicaram-se ao desenvolvimento de um computer utility,
“uma máquina que suportaria centenas de usuários de tempo compartilhado
simultâneo” (TANENBAUM; WOODHULL, 2000, p. 23). Desse projeto nasceu um
sistema conhecido como MULTICS (MULTiplexed Information and Computing
Service – Serviço de Computação e Informação Multiplexado). O MULTICS
introduziu um leque de novas ideias na Ciência da Computação, mas construí-lo, à
época, se mostrou mais difícil que o esperado. Como resultado, “A Bell Labs retirou-
se do projeto e a General Electric desistiu completamente do negócio de
computadores” (TANENBAUM; WOODHULL, 2000, p. 23).
Posteriormente, cientistas que haviam trabalhado no sistema do
MULTICS, Ken Thompson, da Laboratórios Bell, e Dennis Ritchie, começaram a
escrever uma versão simplificada deste sistema, alterando drasticamente seu
conceito, agora objetivando um sistema monousuário. “Esse trabalho mais tarde
desenvolveu-se no sistema operacional UNIX, que se tornou popular no mundo
acadêmico, entre órgãos do governo e entre muitas empresas” (TANENBAUM;
WOODHULL, 2000, p. 23).
24
Figuras 1 e 2 – Ken Thompson e Dennis Ritchie trabalham na criação do sistema operacional UNIX3.
3 Disponível em: <http://www.faqs.org/docs/artu/ch02s01.html> – Acesso em 21 de outubro de 2011.
25
O UNIX, criado em 1969, era um sistema operacional que acabou sendo
habilitado para as universidades em 1974 com seu código-fonte na íntegra, sob
licença da empresa AT&T, permitindo que alterações fossem feitas em sua estrutura
por seus usuários. “O sistema tornou-se a língua franca da maior parte dos
departamentos de ciência da computação, e os estudantes logo se tornaram peritos
na sua manipulação.” (CASTELLS, 2003, p. 16).
Com o UNIX, defendia-se a bandeira do que Castells chama de
“movimento da fonte aberta”: “[...] uma tentativa deliberada de manter aberto o
acesso a toda a informação relativa a sistemas de software.” (CASTELLS, 2003, p.
16). Ainda segundo o autor, este movimento tem relação direta com a atual
configuração social e técnica da Internet4.
O “movimento da fonte aberta”, contudo, viria a sofrer um forte revés com
o lançamento da Versão 7 do UNIX:
Quando a AT&T lançou a Versão 7, começou-se a perceber quer o UNIX
era um produto valioso, e assim ela lançou essa versão com uma licença
proibindo que o código-fonte fosse estudado em cursos, para evitar pôr em
risco seu status de segredo de negócio. Muitas universidades tiveram de
conformar-se em simplesmente acabar com o estudo do UNIX e ensinar só
teoria. (TANENBAUM; WOODHULL, 2000, p. 25).
Visando resgatar o espírito do código-livre, Andrew Tanenbaum, Ph. D.
pela Universidade da Califórnia, decide escrever um novo sistema operacional,
compatível com o UNIX, mas completamente diferente em sua estrutura. Por não
usar nenhuma linha do código-fonte da AT&T, este novo sistema evitaria as
restrições de licenciamento, permitindo seu compartilhamento por qualquer usuário.
Tanenbaum batizou esse novo programa com o nome de MINIX: “O nome MINIX
significa mini-UNIX pois ele é tão pequeno que mesmo um não-especialista pode
entender seu funcionamento.” (TANENBAUM; WOODHULL, 2000, p. 25). Assim, a
comunidade universitária continuaria estudando sistemas operacionais, o que seria
vital para o aprimoramento da Internet e da Ciência da Computação como um todo.
Outro importante acontecimento na comunidade UNIX acontece em 1991,
quando Linus Torvalds, um estudante de apenas 22 anos da Universidade de
4 Ver Capítulo 3: As Teorias do Ciberespaço.
26
Helsinki, desenvolve um novo sistema operacional também baseado na linguagem
UNIX (e, segundo Tanenbaum, copiado de seu sistema MINIX), o qual recebe o
nome de Linux. “Nesse ponto, um estudante finlandês, Linus Torvalds, decidiu
escrever um clone do MINIX projetado para ser um sistema de produção carregado
de recursos, em vez de uma ferramenta educacional.” (TANENBAUM; WOODHULL,
2000, p. 25). Levando o movimento da fonte aberta a um novo patamar, Torvalds
distribui o Linux gratuitamente pela World Wide Web (neste momento, a WWW já
estava criada5), solicitando ajuda dos usuários da rede para que aperfeiçoassem o
sistema e publicassem os resultados obtidos de forma colaborativa, isto é, para que
todos tivessem acesso.
O resultado dessa iniciativa foi o desenvolvimento de um robusto sistema
operacional Linux, constantemente aperfeiçoado pelo trabalho de milhares
de hackers e milhões de usuários, a tal ponto que o Linux é agora
considerado um dos sistemas operacionais mais avançados do mundo, em
particular para a computação baseada na Internet. (CASTELLS, 2003, p.
17).
Um ponto a ser ressaltado é que a criação do Linux é o resultado de um
processo iniciado na década de 80 com sistemas operacionais comerciais cada vez
mais amigáveis para usuários.
A ampla disponibilidade do poder de computação, especialmente a
computação altamente interativa, normalmente com excelentes gráficos,
levou ao crescimento de uma importante indústria de produção de software
para computadores pessoais. Grande parte desse software tinha uma
interface amigável, ou seja, projetada para usuários que não só ignoravam
tudo sobre computadores como também não tinham nenhuma intenção de
aprender. (TANENBAUM; WOODHULL, 2000, p. 24).
É deste movimento que surgem outros dois importantes sistemas que,
assim como o Linux, são utilizados até hoje. O MS-DOS, hoje substituído pelo
Windows, da empresa Microsoft, e o Mac-OS, da empresa Apple. O que Torvalds fez
foi levar o sistema de iconografia gráfica, conhecido como GUI, sigla em inglês para
Interface Gráfica do Usuário, desenvolvido pela Xerox Palo Alto Research Center
5 Ver sub-capítulo seguinte.
27
(Parc), subsidiária de pesquisa da Xerox Corporation (FERRARI, 2007, p. 111),
aplicado comercialmente pela Apple e posteriormente copiado pela Microsoft, para o
movimento da fonte aberta, criando um sistema operacional de código livre tão
amigável quanto seus concorrentes comerciais, ainda que, como afirma Tenebaum,
o Linux seja, em sua estrutura básica, um clone do MINIX.
Por fim, é importante lembrarmos que também no final da década de 60,
assim como o UNIX, surge o Digital Compact Disc, comumente conhecido pela sigla
CD. Inventado por James T. Russell, um amante de música que procurava criar uma
mídia com maior qualidade para a reprodução de sons, o CD posteriormente foi
refinado para receber quaisquer tipos de dados (MIT6, Inventor of the Week: James
T. Russell), tornando-se uma importante mídia de dados para os computadores
digitais modernos com o CD-ROM, suporte no qual era editada a revista NEO
Interativa observada neste estudo, por exemplo.
2.4. World Wide Web 1.0
Na década de 90, o cenário para o sucesso da Internet já estava criado.
Computadores eram comercializados com o acesso à tecnologia do protocolo
TCP/IP de fábrica e conglomerados de redes entre computadores rumavam ao
infinito. A criação da World Wide Web (WWW, a Rede de Alcance Mundial) pelo
programador inglês Tim Berners-Lee seria o pontapé definitivo. À época, Berners-
Lee trabalhava no Laboratório Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN, sigla para
Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire posteriormente modificado para
European Organization for Nuclear Research), sediado em Genebra.
Embora o próprio Berners-Lee não tivesse consciência disso, seu trabalho
continuava uma longa tradição de ideias e projetos técnicos que, meio
século antes, buscara a possibilidade de associar fontes de informação
através da computação interativa. (CASTELLS, 2003, p. 17).
O trabalho de Berners-Lee começou em 1980, com o programa Enquire,
escrito durante esta década. “Foi Berners-Lee, porém, que transformou todos esses
sonhos em realidade, desenvolvendo o programa Enquire [...]” (CASTELLS, 2003, p.
6 Disponível em: <http://web.mit.edu/invent/iow/russell.html> - Acesso em 23 de outubro de 2011.
28
18). O software definia e implementava a possibilidade de se obter e acrescentar
informação de e para qualquer computador que estivesse conectado à Internet
através de endereços como HTTP; MTML e URL. Posteriormente, trabalhando em
parceria com Robert Cailliau, Berners-Lee escreveu um novo programa
navegador/editor em dezembro de 1990. Era, portanto, a criação do que hoje
conhecemos como os web browsers, softwares que acessam páginas situadas na
World Wide Web. O software deste primeiro navegador de web foi lançado na
Internet pelo CERN em agosto de 1991. Quase que de imediato, milhares de
usuários passaram a trabalhar e tentar desenvolver seus próprios navegadores a
partir do trabalho de Berners-Lee.
A partir dessas modificações, uma versão de navegador para a WWW
surgiu do projeto de um estudante, Marc Andreessen, e um profissional, Eric Bina,
no Centro Nacional de Aplicações para Supercomputadores da Universidade de
Illinois. Chamado de Mosaic, a dupla incluiu uma avançada capacidade gráfica na
programação do software, o que permitiria a possibilidade de captar e distribuir
imagens pela Internet. Pouco tempo depois, Andreessen e Bina seriam procurados
por Jim Clark, empresário à procura de novas ideias para investir. Andreessen, Bina,
Clark e alguns outros colegas de trabalho juntos formaram uma nova empresa: a
Mosaic Communications, que mais tarde foi obrigada a rebatizar seu nome para
Netscape Communications. “A companhia tornou disponível na Net o primeiro
navegador comercial, o Netscape Navigator em outubro de 1994 [...]” (CASTELLS,
2003, p. 18). Nascia, portanto, o que hoje conhecemos como o primeiro web browser
comercial de sucesso da Internet, o Netscape.
É com a ascensão do Netscape que, à época, a empresa Microsoft decide
voltar seus olhos para a Internet, criando um navegador concorrente para o
Netscape, chamado de “Internet Explorer”:
Na década de 90, a Microsoft foi claramente muito lenta para visualizar o
potencial da Internet, permitindo à Netscape construir uma liderança
considerável no mercado com seu navegador. (Baboo - Internet Explorer:
ascensão e queda, 2010).
Em 1995, com o lançamento do sistema operacional Windows 95, a
Microsoft inclui o software Internet Explorer no pacote, baseado na tecnologia
29
desenvolvida pela pequena companhia Spyglass. Doravante, inúmeros web
browsers comerciais começariam a surgir na rede, mas o Internet Explorer se
tornaria líder absoluto em utilização, alcançando, em 1999, o monopólio virtual de
web browsers, com cerca de 95% do mercado7.
Embora a Internet tivesse começado na mente de cientistas da computação
no início da década de 1960, uma rede de comunicações por computador
tivesse sido formada em 1969, e comunidades dispersas de computação,
reunindo cientistas e hackers tivessem brotado desde o final da década de
1970, para a maioria das pessoas, para os empresários e para a sociedade
em geral, foi em 1995 que ela nasceu. (CASTELLS, 2003, p. 19).
Assim sendo, este estudo considera o ano de 1995 como o marco inicial,
comercialmente falando, da Internet como uma tecnologia civil de comunicação.
2.5. A polêmica World Wide Web 2.0
O termo Web 2.0 é comumente utilizado para denotar o atual modus
operandi da Internet, isto é, a segunda geração da rede. A expressão foi cunhada
pelo consultor Tim O'Reilly, da companhia O'Reilly Media, durante uma conferência
onde se debatiam os rumos da rede mundial. Essa terminologia foi criada porque,
para O'Reilly, após o estouro da bolha das empresas ponto.com no início dos anos
20008, a opinião pública passou a se mostrar desacreditada em relação às
potencialidades da Internet.
Segundo o conceito Web 2.0, instabilidades são características inerentes
a qualquer nova tecnologia, e com a rede mundial de computadores não seria
diferente. Ainda segundo O'Reilly, o estouro da bolha das empresas ponto.com teria
delineado a Web 1.5, sendo uma inconstância causada por empresários vorazes por
7 Internet Explorer: ascensão e queda, 2010 – Baboo – Disponível em <
http://www.baboo.com.br/conteudo/modelos/Internet-Explorer-ascensao-e-queda_a38200_z0.aspx> – Acesso em 23 de setembro de 2011. 8 No início dos anos 2000, a "Bolha da Internet", ou seja, o fenômeno de supervalorização das empresas
ponto.com e de suas ações, estourou. Foi o fim de centenas de pequenas empresas virtuais que davam seus primeiros passos. No entanto, empresas sólidas saíram praticamente ilesas. Viu-se que o mercado de Internet gera lucros e que, apesar de extenso, tem limites. Fonte: Terra Tecnologia – <http://tecnologia.terra.com.br/internet10anos/interna/0,,OI542324-EI5026,00.html> – Acesso em 21 de setembro de 2011.
30
dinheiro fácil e desconhecimento da nova ferramenta, acarretando em medo e
incertezas sobre o futuro e verdadeiro potencial da Internet.
Para o consultor, contudo, essas instabilidades são superadas e
culminam na criação da Web 2.0:
Web 2.0 é a mudança para uma internet como plataforma, e um
entendimento das regras para obter sucesso nesta nova plataforma. Entre
outras, a regra mais importante é desenvolver aplicativos que aproveitem os
efeitos de rede para se tornarem melhores quanto mais são usados pelas
pessoas, aproveitando a inteligência coletiva. (O'REILLY, 2005, p. 1).
A Web 2.0 seria, portanto, a utilização da rede mundial para o
compartilhamento de conhecimento, sendo definida principalmente por ferramentas
como os sites Wiki9, blogs, redes sociais etc. O'Reilly se utiliza também de um
conceito do filósofo francês Pierre Lévy (a inteligência coletiva) para dar mais
embasamento ao termo. Tratado no capítulo seguinte deste estudo, o conceito de
inteligência coletiva, entretanto, é mais complexo do que a apropriação simplista de
O'Reilly o faz parecer. “Se o Netscape foi a principal referência da Web 1.0, o
Google certamente é a referência central da Web 2.010” (O'REILLY, 2005, p. 1).
Como é possível perceber, há uma grande falha no conceito de Web 2.0.
Afinal, a Internet não fora criada justamente com esse ideal de compartilhamento de
informação e conhecimento? Quem responde, de maneira efusiva, é o próprio
criador da Web, Tim Berners-Lee, em uma entrevista concedida para a IBM
Developer Works (site da empresa dedicado a reunir informações para
programadores):
Web 1.0 foi toda baseada em conectar pessoas. Foi um espaço interativo, e
eu acho que Web 2.0 é, com certeza, um jargão; ninguém sabe sequer o
que significa. Se a Web 2.0 para você é blogs e wikis, então significa que é
de pessoa para pessoa. Mas isso sempre foi o que a Web supostamente
deveria ser. E, na verdade, você sabe, este termo Web 2.0, entre aspas,
significa utilizar todos os padrões que tenham sido produzidos por todas as
9 Um Wiki ([ˈwiː.kiː] <wee-kee> ou [ˈwɪ.kiː] <wick-ey>) é um tipo de site que permite aos usuários adicionar,
remover, ou editar e modificar seu conteúdo de maneira rápida e fácil. <http://pagi.wikidot.com/what-is-a-wiki-site> –- Acesso em 21 de setembro de 2011. 10
No texto original: “If Netscape was the standard bearer for Web 1.0, Google is most certainly the standard bearer for Web 2.0”.
31
pessoas que trabalharam na Web 1.0. Significa usar o modelo de objeto-
documento, que significa trabalhar com HTML , SCG e assim por diante; a
Web 2.0 está usando HTTP, isso é construir coisas usando os padrões Web
1.0, com a adição do Java script, é claro. Então, Web 2.0 para algumas
pessoas significa dar voz para o lado do cliente, tornando-a mais imediata,
mas a ideia da Web como a interação entre as pessoas é realmente o que
ela é. Esse foi o projeto de ser um espaço colaborativo onde as pessoas
poderiam interagir.11
(BERNERS-LEE, IBM Developer Works, 200612
).
Podemos concluir, pois, que o termo “Web 2.0” nada mais representa –
ainda que de forma mais concreta em sua temporalidade – a utilização da Internet
para o objetivo o qual ela sempre fora projetada.
Muitos consideram toda a divulgação em torno da Web 2.0 um golpe de
marketing. Como o universo digital sempre apresentou interatividade, o
reforço desta característica seria um movimento natural e, por isso, não
daria à tendência o título de "a segunda geração". Polêmicas à parte, o
número de sites e serviços que exploram esta tendência vem crescendo e
ganhando cada vez mais adeptos. (Folha de São Paulo, 10/06/200613
).
Apesar de toda a polêmica em torno do conceito, a terminologia Web 2.0
“pegou”, sendo utilizada em diversas publicações, inclusive científicas, para
denominar a Internet como uma ferramenta de compartilhamento de informação e
conhecimento. O sucesso foi tamanho que, recentemente, a terminologia está
recebendo uma “continuação”: a Web 3.0.
2.6. World Wide Web 3.0
11 No texto original: “Web 1.0 was all about connecting people. It was an interactive space, and I think Web 2.0 is of course a piece of jargon, nobody even knows what it means. If Web 2.0 for you is blogs and wikis, then that is people to people. But that was what the Web was supposed to be all along. And in fact, you know, this Web 2.0, quote, it means using the standards which have been produced by all these people working on Web 1.0. It means using the document object model, it means for HTML and SCG and so on, it's using HTTP, so it's building stuff using the Web standards, plus Java script of course. So Web 2.0 for some people it means moving some of the thinking client side so making it more immediate, but the idea of the Web as interaction between people is really what the Web is. That was what it was designed to be as a collaborative space where people can interact”. 12
Disponível em: <http://www.ibm.com/developerworks/podcast/dwi/cm-int082206.txt> – Acesso em 23 de setembro de 2011. 13
Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u20173.shtml> – Acesso em 21 de setembro de 2011.
32
Continuando o conceito de Web 2.0, John Markoff, jornalista do The New
York Times, cunha o termo Web 3.0, em um artigo publicado no jornal em novembro
de 2006, para representar a nova evolução para a qual, invariavelmente, caminharia
o desenvolvimento da Internet. Este novo conceito, também conhecido como Web
Semântica, sugere que as novas ferramentas da rede serão desenvolvidas com
base em inteligências artificiais cada vez mais complexas, criadas à semelhança do
raciocínio humano. Segundo Markoff, futuramente a Internet estará cada vez mais
dotada de significado e poderosos consultores virtuais poderão exercer tarefas
cotidianas antes restritas aos homens.
A meta deles é adicionar uma camada de significado sobre a Internet
existente, o que a tornaria menos um catálogo e mais um guia - até mesmo
fornecendo a fundação para sistemas que possam raciocinar de forma
humana. Tal nível de inteligência artificial tem escapado aos pesquisadores
há mais de meio século. (MARKOFF, The New York Times, 2006).
Desta vez, a terminologia apresenta uma ironia: essa conceituação,
apontada como a terceira geração da Web, é baseada em um grupo de pesquisa
liderado por Berners-Lee no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), através
do W3C (World Wide Web Consortium). “O grupo trabalha na construção de uma
rede em que os computadores entendem semântica. Eles compreenderiam o
significado das palavras que usamos na rede”. (FERRARI, 2007, p. 12). Ora, como
visto anteriormente, o próprio Berners-Lee é contrário ao jargão Web 2.0. Logo, não
é irônico que seu trabalho sirva, novamente, para a continuação dessa terminologia?
Da mesma forma que seu antecessor e pelos mesmos motivos, o termo
Web 3.0 desperta, ao mesmo tempo, a fúria e a simpatia das comunidades virtuais.
De diferenças, este termo parece fazer mais sentido, uma vez que pretende
adicionar novas configurações para a rede mundial de computadores, características
estas que não estavam previstas em seu projeto original de criação. Portanto, talvez
a Web 3.0 seja, caso venha a se concretizar, verdadeiramente a segunda geração
da World Wide Web. E, neste cenário, talvez até Berners-Lee passasse a adotar o
termo, agora sim dotado de coerência, Web 2.0.
2.7. O iPad e a popularização dos tablets
33
Conceitualmente, um computador tablet pode ser comparado como sendo
uma versão digital das clássicas ferramentas “bloquinho e caneta”. Com o avanço
tecnológico, tornaram-se, em uma lógica mcluhaniana14, verdadeiras extensões
digitais de nossas próprias mãos.
O tablet iPad, fabricado pela empresa americana Apple, não foi a primeira
tentativa de popularizar este novo formato de computador no comércio de
eletrônicos mundial. Antes dele muitos outros experimentos foram tentados, alguns
até com desempenho comercial razoável, mas nenhum alcançou o mesmo êxito de
popularização obtido pelo iPad.
Em menos de um mês, a Apple vendeu 1 milhão de iPads. [...] Em março de
2011, nove meses após o lançamento, tinham sido vendidos 15 milhões.
Dependendo dos critérios de medida, tornou-se o bem de consumo de mais
sucesso na história. (ISAACSON, 2011, p. 721).
O jornal Brasil 24/7, estudado neste trabalho, traz em seu website alguns
dados que confirmam os números apresentados acima:
O iPad é o produto de mais rápida penetração em toda a história. Nos
primeiros 28 dias, suas vendas alcançaram 1 milhão de unidades, segundo
a Apple. Em 2010, 19,5 milhões de tablets foram vendidos no mundo. E as
vendas foram lideradas pelo iPad. (Jornal Brasil 24/7, 201115
).
Com este sucesso, diversas empresas aderiram ao negócio dos
computadores tablets, dentre elas gigantes multinacionais como: LG, Motorola,
Samsung, Sony, etc. A norte-americana Google também entra neste mercado, mas
visando a produção de sistemas. Surge, então, o sistema operacional Android
Honeycomb, desenvolvido especificamente para tablets e disponibilizado para
licenciamento por parte de terceiros (G1, 02/02/201116). Portanto, embora não tenha
sido o primeiro, é possível afirmar que o tablet iPad popularizou o mercado dos
computadores tablet.
14
Ver Capítulo 3: As Teorias do Ciberespaço. 15
Disponível em: <http://brasil247.com.br/pt/247/info/175/quem-somos.htm> – Acesso em 2 de novembro de 2011. 16
Disponível em: <http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2011/02/google-apresenta-versao-do-android-para-tablets.html> – Acesso em 2 de setembro de 2011.
34
Assim sendo, há quem já até arrisque uma nova conceituação: a era pós-
PC17. É o caso de Walter Isaacson, editor da revista norte-americana Time e
biógrafo de Steve Jobs, co-fundador da Apple18. Para Isaacson, o lançamento do
iPad mudou drasticamente o mercado editorial, assim como abriu novas fronteiras
para o jornalismo digital. “Com o iPad e a App Store, ele começou a transformar todo
os meios de comunicação, desde editores e imprensa, até a televisão e o cinema”
(ISAACSON, 2011, p. 728).
Segundo Isaacson, o iPad foi anunciado em 27 de janeiro de 2010 em
uma conferência em San Francisco. À época, gerou um grande frenesi:
A revista The Economist deu Jobs na capa, com manto e auréola,
segurando “a Tábua [tablet] de Jesus” como disseram. O Wall Street
Journal também fez uma exaltação parecida: “Na última vez que ocorreu
todo esse alvoroço em torno de uma tábua, havia alguns mandamentos
escritos nela”. (ISAACSON, 2011, p 714).
Para Isaacson, o grande diferencial moldado pelo iPad foi o seu sistema
baseado em aplicativos, herdado de um produto antecessor da Apple:
O fenômeno dos aplicativos começou com o iPhone. [...] O iPad e outros
aparelhos digitais baseados em aplicativos inauguraram uma mudança
fundamental no mundo digital. No começo, nos anos 1980, para entrar on-
line geralmente era preciso utilizar um serviço como AOL, CompuServe ou
Prodigy, que ofereciam conteúdo num espaço cuidadosamente delimitado, e
mais algumas portas de saída que permitiam aos usuários mais arrojados
ter acesso amplo à internet em geral. A segunda fase, que começou no
início dos anos 1990, foi marcada pelo advento dos navegadores que
permitiam que todos percorressem a internet à vontade, usando os
protocolos de transferência de hipertexto (http) da World Wide Web, que
acessava bilhões de sites. [...] O lançamento do iPad anunciou um novo
modelo [...]. (ISAASCON, 2011, p. 725).
17
Sigla para Personal Computer; em português, Computador Pessoal. 18
Steve Jobs foi também um dos primeiros financiadores da criação do Laboratório de Mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), departamento da Universidade americana que pesquisa inovações tecnológicas e suas aplicações no cotidiano das sociedades. (NEGROPONTE, Forbes, 05/10/2011) Disponível em: <http://www.forbes.com/sites/velocity/2011/10/05/nicholas-negroponte-steve-jobs-influence-not-influenced> – Acesso em 23 de outubro de 2011. Algumas teorias do atual diretor do Media Lab do MIT, Nicholas Negroponte, serão vistas no próximo capítulo deste trabalho.
35
O modelo de aplicativos permite que desenvolvedores externos produzam
conteúdos para as plataformas que seguem esse padrão. Um exemplo está neste
trabalho: o jornal Brasil 24/7 é um aplicativo externo criado pela Editora 247
especificamente para o iPad. Posteriormente, a editora desenvolveu também uma
versão para o sistema operacional Android, da Google (que também opera com
aplicativos), passando, assim, a disponibilizar o jornal em tablets concorrentes ao da
Apple. Para Isaacson, o modelo de aplicativos se tornou uma alternativa vantajosa
para os criadores de conteúdo, principalmente para editoras (2011, p. 728).
Segundo dados de uma pesquisa realizada pelo Projeto para Excelência
em Jornalismo do Centro de Pesquisa da Pew, em parceria com o grupo The
Economist, 77% dos usuários de tablets utilizam o apetrecho diariamente, sendo que
mais da metade (53%) consomem notícias também diariamente.
O levantamento da Pew aponta ainda que 30% dos usuários de notícias em
tablet hoje passam mais tempo consumindo conteúdo jornalístico do que
antes de terem comprado o dispositivo. (Folha On-line, 25/10/201119
).
Em outro importante levantamento divulgado em abril de 2011, constatou-
se que os livros digitais (também conhecidos como e-books) se transformaram na
categoria individual mais vendida do mercado editorial americano, segundo a
Associação de Editores Americanos (Association of American Publishers – AAP). “As
vendas de livros eletrônicos cresceram 202,3% em fevereiro quando comparadas ao
igual período de 2010, de acordo com a AAP. A demanda por livros impressos, ao
contrário, está em franca decadência” (iG, 15/04/201120). Tais números refletem o
momento posterior de lançamento do tablet iPad, bem como a popularização deste
novo modelo de computador.
19
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/tec/996388-quem-tem-tablet-nao-desgruda-dele-e-le-mais-noticia-diz-pesquisa.shtml> – Acesso em 26 de outubro de 2011. 20
Disponível em: <http://economia.ig.com.br/empresas/comercioservicos/livro+digital+vende+mais+que+impresso+pela+primeira+vez+nos+eua/n1300077836336.html> – Acesso em 26 de outubro de 2011.
36
3. AS TEORIAS DO CIBERESPAÇO
No capítulo anterior, retomamos brevemente a história da Internet e de
alguns contextos do desenvolvimento da Ciência da Computação. Assim sendo, com
o passar dos anos tem-se o efeito de que “a computação não é mais domínio
exclusivo dos militares, do governo e dos negócios, mas está sendo canalizada
diretamente para as mãos de indivíduos [...]” (NEGROPONTE, 1995, p. 83). Para o
filósofo francês Pierre Lévy: “A partir da invenção de uma pequena equipe do CERN,
a World Wide Web propagou-se entre os usuários da Internet como um rastilho de
pólvora para tornar-se, em poucos anos, um dos principais eixos de
desenvolvimento do ciberespaço” (1999, p. 154).
A Internet, portanto, torna-se uma tecnologia de comunicação civil e
rapidamente começa a ocupar o centro da vida cotidiana das pessoas onde é
estabelecida. O autor Lorenzo Vilches diz que “[...] somos todos emigrantes de uma
nova economia criada pelas tecnologias do conhecimento, que supõe o
deslocamento para um planeta altamente tecnificado” (2003, p. 10). Concomitantes
e atentos a esse novo processo, pesquisadores criam os conceitos de ciberespaço e
cibercultura. Mas o que eles significam?
A palavra ciberespaço, de origem americana, foi empregada pela primeira
vez pelo autor de ficção científica William Gibson, em 1984, no romance
Neuromancer21. Sobre Gibson e sua obra, há uma interessante estória que circulou
no final da década de 80 relacionada à teoria mcluhaniana, que retomaremos nas
páginas seguintes:
No final da década de 1980, circulava entre os fãs de ficção científica a
seguinte história: em uma conferência, pouco depois do lançamento de seu
livro Neuromancer, o escritor americano William Gibson teria sido abordado
por ninguém menos que Marshall McLuhan, que lhe disse: “Você realizou
meu sonho.” Esse encontro não é citado em nenhum texto biográfico
referente aos dois escritores – porque provavelmente jamais ocorreu.
McLuhan morreu em 1980, três anos antes de Gibson concluir o que é até
hoje considerada sua obra-prima. [...] O advento do ciberespaço seria, para
muitos desses fãs, uma interpretação bastante adequada do conceito mais
famoso do professor canadense Marshall McLuhan: a aldeia global –
21 LÉVY, Pierre. A Inteligência Coletiva: por uma antropologia do ciberespaço, 1998, p. 104.
37
precisamente o “sonho” que Gibson teria realizado ao construir o mundo de
Neuromancer. (FERNANDES, 2003, p. 1).
Para Pierre Lévy, o ciberespaço “é o novo meio de comunicação que
surge da interconexão mundial dos computadores” (1999, p. 17). O termo diz
respeito não apenas à infraestrutura material da comunicação digital, mas também
ao universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos
que são, simultaneamente, produtores e consumidores deste universo.
O dilúvio informacional jamais cessará. [...] Não há nenhum fundo sólido sob
o oceano das informações. Quanto ao neologismo “cibercultura”, este
especifica o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de prática, de
atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem
juntamente com o crescimento do ciberespaço. (LÉVY, 1999, p. 14-17).
Em outras palavras, a cibercultura é um processo inerente e relativo ao
ciberespaço, que, por sua vez, é congênere à Internet.
As teorias do ciberespaço e da cibercultura, contudo, apresentam pontos
de vista bastante divergentes. Segundo Vilches:
De um lado, a versão otimista e utópica que prevê uma sociedade mais
igualitária, mais livre e com o pleno exercício do direito de expressão
individual, que será obtido com o desenvolvimento das Teorias da
Informação e da Comunicação. Do outro, uma crítica radical a essas
posições, uma vez que o desenvolvimento das tecnologias é uma fase de
adaptação do capitalismo [...]. (VILCHES, 2003, p. 10).
Assim sendo, o presente capítulo fará um também breve retrospecto das
teorias do ciberespaço. Pretendemos, com isto, exemplificar as possibilidades
tecnológicas que se tornaram disponíveis com o passar do tempo e suas
consequências, de acordo com alguns autores, para as sociedades humanas. Desta
forma, poderemos contrastar algumas dessas reflexões com a teoria do jornalismo
digital e verificar se estas são possíveis ou utilizadas nas unidades de análise
propostas nesta pesquisa.
3.1. A Teoria McLuhaniana
38
Em 1965, o jornalista Tom Wolfe escreveu um perfil de Marshall McLuhan
para o jornal New York Herald, lançando a seguinte questão: “Supondo-se que ele
seja o que parece, o pensador mais importante desde Newton, Darwin, Freud,
Einstein e Pavlo [...], e se ele estiver certo?”22
O pensador canadense Herbert Marshall McLuhan é comumente citado
como um importante pesquisador dos efeitos dos meios de comunicação de massa.
Um de seus livros mais referenciados, “Os meios de comunicação como extensões
do homem”, foi publicado em 1964 nos Estados Unidos, isto é, justamente na
década em que a Ciência da Computação estava em pleno desenvolvimento
(período da Guerra Fria23), criando novas perspectivas para o futuro, o que, de certa
forma, se refletiu no trabalho deste autor. “McLuhan, até então, conhecia a
potencialidade dos computadores e suas múltiplas funções, com base nos
equipamentos que eram empregados pelo exército e pelo serviço de inteligência dos
Estados Unidos” (ALMEIDA, 2007, p. 18).
Assim sendo, McLuhan observou não apenas o impacto dos meios de
comunicação na sociedade, como também antecipou o que hoje conhecemos como
a Internet, o ciberespaço e a cibercultura. Para McLuhan, “A tecnologia é parte de
nosso corpo” (1969, p. 88), e os meios de comunicação nada mais são do que a
extensão de nossos sentidos. “Qualquer invenção ou tecnologia é uma extensão ou
auto-amputação de nosso corpo [...]” (MCLUHAN, 1969, p. 63). Partindo desse
pressuposto, o pensador canadense cunhou dois importantes conceitos, “o meio é a
mensagem e a aldeia global”, que até hoje servem como uma espécie de base para
as teorias do ciberespaço.
Ao afirmar que o “o meio é a mensagem”, talvez o seu mais importante
aforismo, McLuhan quer dizer que “a mensagem de qualquer meio ou tecnologia é a
mudança de escala, cadência ou padrão que esse meio ou tecnologia introduz nas
coisas humanas” (1969, p. 22). “Os efeitos das tecnologias não ocorrem aos níveis
das opiniões e dos conceitos: eles se manifestam nas relações entre os sentidos e
nas estruturas da percepção, num passo firme e sem qualquer resistência.”
(MCLUHAN, 1969, p.34).
22
MANZANO, Rodrigo. Meio e Mensagem – O Centenário de McLuhan <http://www.meioemensagem.com.br/home/comunicacao/noticias/20110720-O-centenario-de-McLuhan.html> – Acesso em 2 de setembro de 2011. 23
Ver Capítulo 2: Os Computadores e a História da Internet.
39
Como extensões de nossos sentidos, as futuras tecnologias, que na
década de 60 McLuhan titulava de “era da eletricidade”, culminariam num ponto em
que projetaríamos nossa própria consciência como uma extensão de nosso sistema
nervoso central. Desta forma:
Ao colocar nosso corpo físico dentro do sistema nervoso prolongado,
mediante os meios elétricos, nós deflagramos uma dinâmica pela qual todas
as tecnologias anteriores – meras extensões das mãos, dos pés, dos dentes
e dos controles de calor do corpo, e incluindo as cidades como extensões
do corpo – serão traduzidas em sistemas de informação. A tecnologia
eletromagnética exige dos homens um estado de completa calma e repouso
meditativos, tal como convém a um organismo que agora usa seu cérebro
fora do crânio e os nervos fora do abrigo. (MCLUHAN, 1969, p. 77).
Com todos os antigos meios traduzidos em sistemas de informação, e
nosso sistema nervoso prolongado através da “eletricidade”, teríamos a criação de
uma consciência mundial, coletiva e descentralizada, onde o globo já não seria mais
do que uma vila. Segundo McLuhan, isto faria com que retornássemos a uma era
tribal, sem qualquer verbalização:
A eletricidade indica o caminho para a extensão do próprio processo da
consciência, em escala mundial e sem qualquer verbalização. Um estado de
consciência coletiva deve ter sido a condição do homem tribal. (MCLUHAN
1969, p. 98).
Destas ideias, nasce o conceito da Aldeia Global, onde McLuhan visionou
uma sociedade tribal, nômade, voltada para o processo criativo do conhecimento,
valorização das singularidades – “O uniforme e o repetível deve ceder ao único e ao
singular [...]” (MCLUHAN, 1969, p. 363) – e a descentralização do poder – “[...] a
tendência política é a de afastar-se da representação e delegação de poderes em
direção ao envolvimento imediato de toda a comunidade nos atos centrais da
decisão” (MCLUHAN, 1969, p. 230). Para o canadense, uma vez que nossa
consciência estivesse imersa no mundo do computador, poderíamos “programá-la”
para que não cedesse “ao entorpecimento e à alienação narcísica provocada pelas
ilusões do mundo do entretenimento.” (1969, p. 81).
40
Quarenta e sete anos depois da publicação de “Os meios de
comunicação como extensões do homem”, o que McLuhan chamava de meios
elétricos se aglutinaram sob o prisma da comunicação digital. E o mais próximo que
chegamos de seu conceito de Aldeia Global é o que hoje, graças a Gibson,
chamamos de ciberespaço.
3.2. O conceito de Inteligência Coletiva segundo Pierre Lévy
“O ciberespaço abre hoje imensas perspectivas de um aprofundamento
das práticas democráticas. Mas saberemos apreender essas novas possibilidades?”
(LÉVY, 1998, p. 81).
Com muitos pontos em comum à teoria de McLuhan, o filósofo francês
Pierre Lévy cria o conceito de inteligência coletiva sob uma ótica antropológica do
ciberespaço. Para Lévy, o ciberespaço como suporte da inteligência coletiva é uma
das principais condições de seu desenvolvimento. “O mundo virtual é sem dúvida o
meio da inteligência coletiva [...]” (LÉVY, 1998, p. 100). Paradoxalmente, o
crescimento do ciberespaço não determina automaticamente o desenvolvimento
desta inteligência coletiva, mas apenas fornece um ambiente propício para que ela
progrida. Para Lévy, portanto, é necessário que trabalhemos com o objetivo de
desenvolver a inteligência coletiva em mente.
Nesta inteligência coletiva, o foco seria o “Espaço do saber”: um espaço
desterritorializado, onde retornamos ao nomadismo pelo conhecimento e que não
pertence nem às instituições ou aos Estados. Um espaço invisível de inteligências,
saberes, potências de pensamento em que brotam e se transformam qualidades do
ser e maneiras de constituir sociedades.
No “Espaço do saber” três características são fundamentais para a sua
compreensão: a velocidade, a massa e as ferramentas:
Características do Espaço do Saber: a velocidade: jamais a evolução das
ciências e das técnicas foi tão rápida, com tantas consequências diretas
sobre a vida cotidiana, o trabalho, os modos de comunicação, a relação
com o corpo, com o espaço etc. Hoje é no universo dos saberes que a
aceleração é mais acentuada e as configurações mais móveis. Eis uma das
razões pelas quais o saber (entendido no seu sentido mais amplo) lidera as
outras evoluções da vida social.
41
A massa: tornou-se impossível reservar o conhecimento, até mesmo seu
movimento, à classe de especialistas. É o conjunto do coletivo humano que
deve, daqui por diante, se adaptar, aprender e inventar para viver melhor no
universo complexo e caótico em que passamos a viver.
As ferramentas: a quantidade de mensagens em circulação jamais foi tão
grande, mas dispomos de um número muito reduzido de instrumentos para
filtrar a informação pertinente, para efetuar comparações segundo
significações e necessidades que continuam sendo subjetivas, para nos
orientar no fluxo informacional. É nesse ponto que o Espaço do saber deixa
de ser objeto de uma constatação para tornar-se um projeto. Constituir o
Espaço do saber seria, em especial, dotar-se dos instrumentos
institucionais, técnicos e conceituais para tornar a informação “navegável”,
para que cada um possa orientar-se e reconhecer os outros em função dos
interesses, competências, projetos, meios, identidades recíprocos no novo
espaço. (LÉVY, 1998, p. 25).
De forma semelhante à McLuhan, Lévy também idealiza o futuro da era
porvir como um mundo nômade. Com a inteligência coletiva e o “Espaço do saber”,
Lévy propõe que nos reinventemos totalmente como espécie, executando,
conscientemente, projetos que nos auxiliem a alcançar esse novo status quo: “Não
se trata de raciocinar em termos de impacto, mas também em termos de projeto”.
(LÉVY, 1998, p. 13)
A inteligência coletiva é uma inteligência distribuída por toda parte,
incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma
mobilização efetiva das competências. Estas competências, segundo Lévy, não
responderiam a uma ordem hierárquica; não haveria mais, por exemplo, uma
distinção entre os campos do conhecimento, pois tudo estaria integrado e seria
importante para o projeto de inteligência coletiva.
Mas, se nos engajássemos na via da inteligência coletiva, progressivamente
inventaríamos as técnicas, os sistemas de signos, as formas de
organização social e de regulação que nos permitiriam pensar em conjunto,
concentrar nossas forças intelectuais e espirituais, multiplicar nossas
imaginações e experiências, negociar em tempo real e em todas as escalas
soluções práticas aos complexos problemas que estão diante de nós.
Aprenderíamos aos poucos nos orientar num novo cosmo em mutação, à
42
deriva; a nos tornar, na medida do possível, seus autores; a nos inventar
coletivamente como espécie. (LÉVY, 1998, p. 17).
Assim, o Espaço do saber teria vocação para comandar os espaços
anteriores, e não substituí-los, reconstruindo o papel histórico do Estado, [“o projeto
da inteligência coletiva supõe o abandono da perspectiva do poder.” (LÉVY, 1998, p.
201)] o de outras instituições fundamentais para a vida em sociedades, e
constituindo uma nova engenharia do laço social. Da mesma forma que a
cibercultura é um processo resultante do ciberespaço, o “Espaço do saber” é
também um efeito condicionado pela inteligência coletiva.
Passaríamos, portanto, para uma nova era, onde não mais vigoraria um
regime democrático, mas sim um regime demodinâmico: “[...] democracia (do grego
demos, povo e kratein, comandar) ao da demodinâmica (do grego dynames, força,
potência)” (LÉVY, 1998, p. 82). O conceito da inteligência coletiva encontra
semelhança à Aldeia Global de McLuhan até em sua defesa pela renovação dos
sentidos: “O intelectual coletivo reapropria-se da produtividade semiótica confiscada
pelos poderes do Território e pelos circuitos do Espetáculo.” (LÉVY, 1998, p. 147).
Essa visão otimista defendida por Pierre Lévy, que não esconde sua
inspiração no Iluminismo, é compartilhada também por Nicholas Negroponte,
fundador e diretor do Laboratório de Mídia do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT, em inglês):
Hoje, quando 20% do mundo consome 80% de seus recursos, quando um
quarto de nós possui um padrão de vida aceitável e os outros três quartos
não, como superar essa divisão? [...] uma nova geração está surgindo na
paisagem digital, desembaraçada de muitos dos antigos preconceitos. Essa
criançada está liberta da limitação imposta pela proximidade geográfica
como único terreno para o desenvolvimento da amizade, da colaboração, do
divertimento e da vizinhança. A tecnologia digital pode vir a ser uma força
natural a conduzir as pessoas para uma maior harmonia mundial.
(NEGROPONTE, 1995, p. 218).
Entretanto, Lévy também avalia o risco de que o ciberespaço evolua para
algo negativo, considerando a hipótese do mundo digital se transformar
simplesmente em uma mera “supertelevisão”:
43
É, com efeito, um dos futuros possíveis. Mas, se avaliássemos a tempo a
importância do que está em jogo, os novos meios de comunicação
poderiam renovar profundamente as formas do laço social, no sentido de
uma maior fraternidade, e ajudar a resolver os problemas com os quais a
humanidade hoje se debate. (LÉVY, 1998, p. 13).
O conceito de inteligência coletiva, portanto, é cunhado por Pierre Lévy
como a idealização do quão benéfica esta nova era das sociedades tecnológicas
pode se tornar para a espécie humana. Para o autor, contudo, nós precisamos
projetar este novo mundo, pô-lo em prática e engajarmo-nos coletivamente para o
seu sucesso. Nas páginas seguintes (e também na teoria do jornalismo digital, no
próximo capítulo), veremos que alguns autores consideram este viés da teoria do
ciberespaço como utópico, mas Lévy rebate: “Sim, o Espaço do saber é utópico,
mas trata-se de uma utopia possível.” (LÉVY, 1998, p. 154). Para Lévy, no Espaço
do saber o ser humano pluraliza sua identidade, explora mundos heterogêneos,
sendo ele próprio um ser heterogêneo, múltiplo, pensante (1998, p. 135).
3.3. Cibercultura
Conforme vimos anteriormente, a cibercultura pode ser definida como um
conjunto de atitudes, práticas, técnicas, pensamentos e valores que se desenvolvem
paralelamente ao ciberespaço. A cibercultura é inerente e condicionada pelo
ciberespaço.
Com a cibercultura, vemos o surgimento de diversos tipos de novas
formas de produção de conteúdo; um dilúvio informacional que, segundo Lévy,
jamais cessará: “[...] Devemos aceitá-lo como nossa nova condição. Temos que
ensinar nossos filhos a nadar, flutuar, talvez a navegar.” (LÉVY, 1999, p. 14). Neste
oceano de informações, navegar é preciso.
Para Lorenzo Vilches, o ciberespaço e a cibercultura criam um movimento
de migração que modifica totalmente o modo de vida das pessoas:
A migração digital começou a transformar a dinâmica social de modo tão
massivo como o fizeram as migrações do campo para a cidade no alvorecer
da era industrial. Ao mesmo tempo, o comércio internacional começa a
44
deslocar-se da exportação de produtos para a exportação de ideias.
(VILCHES, 2003, p. 40).
No momento atual da cibercultura, e sob uma ótica otimista da teoria, com
o estabelecimento da Internet e da World Wide Web, constitui-se uma imensa rede
descentralizada, convidativa à participação de todos. Dados, textos, imagens, sons,
mensagens de todos os tipos são cada vez mais produzidos sob a forma digital,
interligando todos a todos, tudo a todos.
O papel da informática e das técnicas de comunicação com base digital não
seria “substituir o homem”, nem aproximar-se de uma hipotética “inteligência
artificial”, mas promover a construção de coletivos inteligentes, nos quais as
potencialidades sociais e cognitivas de cada um poderão desenvolver-se e
ampliar de maneira recíproca. (LÉVY, 1998, p. 25).
Em resumo, Lévy acrescenta que o programa da cibercultura é o
universo sem totalidade. “[...] Para além de uma física da comunicação, a
interconexão constitui a humanidade em contínuo sem fronteiras [...]”. (1999, p. 127).
Nicholas Negroponte defende a tese da transformação dos átomos em
bits, sendo esta uma condição irrevogável, ou seja, de que não há como detê-la.
“Um bit não tem cor, tamanho ou peso e é capaz de viajar a velocidade da luz. Ele é
o menor elemento atômico no DNA da informação.” (1995, p. 19).
Para Negroponte, esse processo é o que proporciona a mudança no
modo como constituímos a mensagem no momento atual da cibercultura: “Um
conteúdo inteiramente diverso emergirá dessa digitalização, assim como novos
jogadores, novos modelos econômicos e, provavelmente, uma indústria caseira da
informação e do entretenimento.” (1995, p. 22).
Embora apresentem certas semelhanças, as visões de Pierre Lévy e
Nicholas Negroponte sobre a cibercultura têm uma enorme diferença focal.
Enquanto o francês analisa a cibercultura por meio de uma ótica reflexiva,
Negroponte valoriza, claramente, um viés corporativista e seus fins comerciais
decorrentes. “Os meios e mensagens multimídia irão se tornar uma mescla de
conquistas técnicas e expressões artísticas. E os produtos para o consumidor serão
a força motiz”. (NEGROPONTE, 1995, p. 83).
45
Por isso, Negroponte vê como evolução natural da cibercultura a
personalização de conteúdos com objetivos comerciais: “Os meios de comunicação
de massa serão redefinidos por sistemas de transmissão e recepção da informação
personalizada e entretenimento.” (1995, p. 12).
Os modelos econômicos da mídia atual baseiam-se quase exclusivamente
em “empurrar” a informação e o entretenimento para o público. A mídia de
amanhã terá tanto ou mais a ver com o ato de “puxar”: você e eu
acessaremos a rede e conferiremos o que há nela, da mesma forma como
hoje fazemos numa biblioteca ou videolocadora. (NEGROPONTE, 1995, p.
164).
Esta tendência apontada por Negroponte em 1995 é o que hoje
chamamos de conteúdo sob-demanda, em que o usuário escolhe o que quer
consumir no momento em que quiser e onde desejar. “A informação por encomenda
dominará a vida digital.” (NEGROPONTE, 1995, p. 163).
O diretor do Laboratório de Mídia do MIT diz também que, doravante, as
interfaces computacionais serão cada vez mais inteligentes a ponto de aprender e
compreender os nossos gostos pessoais. Desta forma, elas serão capazes de filtrar
o conteúdo que mais tendem a nos agradar. Logo, o ato de “puxar” não mais seria
exercido por nós, mas pelas interfaces inteligentes que, para Negroponte, serão
cada vez mais desenvolvidas à semelhança do ser humano. Como vimos no capítulo
anterior, esta teoria de Negroponte começa a ser executada com o desenvolvimento
da Web Semântica, ou Web 3.0.
Para Lévy, a cibercultura se tornará, provavelmente, o centro de
gravidade da galáxia cultural do século XXI.
3.4. A utopia da Teoria
Segundo o autor Lorenzo Vilches, a atual teoria do ciberespaço conta
com opiniões bastante divergentes, o que torna possível a construção de um
resumido paralelo entre uma ótica positiva e negativa. No Brasil, um dos principais
teóricos que se opõem aos “supostos” benefícios proporcionados pelo ciberespaço e
pela cibercultura é Eugênio Trivinho. Doutor em Ciências da Comunicação pela
Universidade de São Paulo (ECA/USP), Trivinho acredita que as estruturas da
46
sociedade tecnológica atual mimetizam o mundo em que vivemos, criando bolsões
de miséria e exclusão e totalitarismos invisíveis.
A utopia da comunicação é constituída por dois afluentes básicos e
conexos: primeiro, o da articulação e “integração” internacional do planeta,
seja pelos recursos da infraestrutura tecnológica (de massa e interativa),
seja pelos artifícios da agenda e da obsessão pela transparência
progressiva (e mítica) do mundo [...]. (TRIVINHO, 2001, p. 74).
Para Trivinho, a cibercultura se tornou o próprio mundo, estando inserida
diretamente na base dos fenômenos globais. Com o processo de “reconjuntização”,
devido à tese da integração do globo pelo virtual, existe um fantasma inelidível da
exclusão infotecnológica, que acomete largas categorias sociais, negando-as o
direito de sobrevivência na cibercultura.
Para exemplificar o modo como enxerga a sociedade tecnológica,
Trivinho recorre a uma analogia às guerras:
Sob feições mais alusivas, embora não menos definidas, os céleres
acionamentos manuais do teclado (em especial da tecla enter), por sua vez,
não deixam de evocar – com um timbre um tanto gélido – o lúgubre frenesi
das metralhadoras. (TRIVINHO, 2001, p. 69).
As sociedades tecnológicas são para Trivinho, portanto, o apartheid
próprio da civilização midiática atual. A desigualdade inscrita na dinâmica da
cibercultura impõe uma disparidade gigantesca entre dois extremos: de um lado, a
elite cibercultural, sendo aqueles que gozam de todos os privilégios desta nova
modalidade de comunicação; categoria dotada de capital econômico e cognitivo-
informático suficiente para acompanhar os deslocamentos constantes do universo
infotecnológico atual. Do outro, o largo “bolsão” de uma nova miséria técnica,
incapaz de acompanhar os processos infotecnológicos atuais:
[...] avatar de mais uma desqualificação compulsória contínua dos seres,
aquela ligada à taxa nula de dromoaptidão própria, zero sob cuja égide se
socializam todas as vítimas da configuração tecnológica do presente,
doravante alijadas dos rituais da ciberalfabetização e às quais a cibercultura
entrega, portanto, os horizontes do desemprego infotecnológico, ou, quando
47
muito, os de um sazonal ou perene subemprego. Esses dois extremos, não
obstante, convivem muitas vezes numa mesma região territorial, à sombra
de uma muralha que, de tão dissimulada, furta-se à visibilidade. (TRIVINHO,
2001, p. 227).
3.5. As revoluções do mundo árabe
Essa visão negativa da Internet, do ciberespaço e da cibercultura é
corroborada por Evgeny Morozov, sob outro prisma, vale ressaltar, que diz: “[...] O
Ocidente claramente carece de uma boa teoria de trabalho sobre o impacto do
autoritarismo na Internet”24 (2011, p. 30). A afirmação encontra respaldo em questão
semelhante lançada por Trivinho: “Em outras palavras, o ciberespaço está,
decididamente, além das potencialidades convencionais dessa teoria, na medida em
que ele transborda aspectos dificilmente assimiláveis por ela”. (2001, p. 118).
Morovoz, pesquisador convidado da Universidade de Stanford, lançou
este ano seu livro-tese intitulado “A desilusão da internet: o lado negro da liberdade
digital”.
Um dos exemplos com maior relevância abordados por Morozov é a
chamada “Revolução Verde”, ocorrida no Irã, em 2009, que reelegeu o governo
autoritário de Mahmoud Ahmadinejad. Sob suspeitas de irregularidades durante o
processo eleitoral, a população do Irã encheu as ruas de Teerã, capital do país, para
protestar. O fato foi um dos primeiros eventos políticos de grande porte a ser
“coberto em tempo real” pela rede social Twitter. Logo, muitos veículos de
comunicação renomados atribuíram à rede social o fator determinante das
asseverações públicas de indignação. Morovoz, contudo, desdenha:
O impacto do Twitter no Irã é zero. Aqui [nos Estados Unidos] há uma série
de comentários, mas uma vez que você analisa, você percebe que a maior
parte são americanos conversando entre eles mesmos25
(MOROZOV, 2011,
p. 25).
24
No texto original: “[...] the West clearly lacks a good working theory about the impact of the Internet authoritarianism”. 25
No texto original: “Twitter´s impact inside Iran is zero. Here [in the United States] there is a lot of buzz, but once you look, you see most of it are Americans tweeting among themselves”.
48
O impacto do Twitter não apenas foi zero como a utilização da Internet
pelo regime autoritário foi usada com extrema eficácia. Morozov relata que, após os
protestos, o governo iraniano compôs um time com 12 especialistas em redes
digitais para uma importante missão: rastrear, identificar e prender usuários que
espalhassem informações falsas ou, como eles afirmavam, “mentiras e calúnias”
sobre o Irã. “O chefe de polícia do país, General Ismail Ahmadi Moghaddam advertiu
que aqueles que incitaram os outros para protestar ou colaborar com recursos
cometeram um crime pior do que aqueles que foram para as ruas.”26 (2011, p. 11)
Governos que já estão morrendo, morrerão ainda mais rápido, então isso é
algo que eu jamais negaria. Eu acho que devemos reconhecer que, sim, se
houvessem meios de comunicação social na União Soviética em 1989, 90 e
91, sim, o sistema provavelmente teria desmoronado mais rapidamente. [...]
Nós sabemos que as revoluções aconteceram antes da mídia social. Nós
sabemos que as pessoas já estavam frustradas antes disso. E eu acho que
nós não devemos necessariamente dar muito crédito para as ferramentas
de mídias sociais, onde o verdadeiro sacrifício das pessoas é validado.
Então, chamar isso de revolução do Twitter ou Facebook seria um
desrespeito ao sacrifício feito por muitas pessoas no Egito ou na Tunísia ou
até mesmo no Irã, dando o credito das revoluções à plataformas, que são
americanas, e que na verdade tem muito pouco interesse em espalhar
qualquer uma dessas revoluções.27
(MOROZOV, Entrevista concedida ao
site PBS, 09/02/201128).
Em uma cúpula que reuniu os principais presidentes de empresas
tecnológicas globais, Mark Zuckerberg, criador da rede social Facebook, apresentou
uma visão bastante parecida com a de Morozov. De acordo com a notícia relatada
pelo portal EXAME:
26
No texto original: ““The country's police chief Gen. Ismail Ahmadi Moghaddam warned that those who incited others to protest or issuead appeals “have committed a worse crime than those who come to the streets”. 27
No texto original: “Governments that are already dying will die faster, so this is not something that I would ever deny. I think that we should acknowledge that yes, if there was social media in the Soviet Union in 1989 and in '90 and '91, yes, the system would have probably collapsed faster. […] We know that revolutions happened before social media. We know that people have been frustrated before. And I think we shouldn't necessarily give too much credit to social media tools, where the real sacrifice is actually borne out by the people. So to call it a Twitter revolution or a Facebook revolution would be to downplay the kind of sacrifices that were made by many people in Egypt or in Tunisia or even in Iran, and to focus on technologies and platforms which are American, which have very little interest in actually spreading any of these revolutions”. 28
Disponível em: <http://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/revolution-in-cairo/interviews/evgeny-morozov.html> - Acesso em 23 de outubro de 2011.
49
“Seria tremendamente arrogante para uma empresa tecnológica reivindicar
um papel nos movimentos de protesto", declarou Zuckerberg, de 27 anos,
na intervenção que encerrou dois dias de debates sobre a internet, uma
cúpula batizada de e-G8, e que reuniu, em Paris, alguns diretores das
principais empresas tecnológicas do mundo. "O Facebook não foi nem
necessário, nem suficiente" para fazer a revolução, insistiu Zuckerberg, na
verdade foram "as populações que se encarregaram" destes movimentos de
contestação. O chefe da rede social reconheceu que "talvez o Facebook
tenha podido contribuir e levar ferramentas" a estas revoltas, mas seu papel
foi "muito menos importante do que o que disseram os meios de
comunicação". (EXAME, 25/05/201129
).
Outro ponto de vista semelhante vem da revista The Economist. Em um
artigo sobre a utilização das mídias sociais na ocupação de Wall Street, nos Estados
Unidos, a publicação também afirmou que as revoluções do mundo árabe não
poderiam ser creditadas às plataformas sociais:
Veja a penetração do Facebook nos países que tiveram os maiores
tumultos; – menos de 4% na Líbia, 5,5% no Egito, e uma maior, mas
dificilmente maciça porcentagem de 17,5% na Tunísia – e, é claro que
enquanto essas mídias podem ter ajudados a mobilizar um núcleo central
de pessoas, o tradicional boca a boca e a televisão al-Jazeera
desempenharam papéis muito maiores.30
(The Economist, 11/10/2011).
Como que agrupando tais visões, a tese de Morozov, pois, é de que a
Internet pode, sim, ser usada para a manutenção de regimes autoritários, mesmo
com o advento das redes sociais. Para o autor, governos em franca decadência,
como os Governos do Egito e da Líbia, cairão de forma ainda mais rápida com as
tecnologias comunicacionais. Contudo, governos fortes, como no caso do Irã e da
China, não serão afetados e tenderão a apertar ainda mais o cerco. “O governo
29
Disponível em: <http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/o-facebook-nao-e-necessario-nem-suficiente-para-fazer-revolucao-diz-zuckerberg> – Acesso em 23 de outubro de 2011. 30
No texto original: “Look at Facebook's penetration in the countries with the most turmoil—less than 4% in Libya, 5.5% in Egypt, and a larger but hardly massive 17.5% in Tunisia—and it's clear that while these media may have helped mobilise a core group, traditional word-of-mouth and al-Jazeera television played a much bigger role”. Disponível em: <http://www.economist.com/blogs/democracyinamerica/2011/10/social-media-and-wall-street-protests> – Acesso em 23 de outubro de 2011.
50
chinês olha para o Egito e pensa: “Nós seremos os próximos”? E provavelmente
eles dizem, “Não, não seremos, mas precisamos apertar algumas coisas”31”.
A teoria de Morozov , portanto, contrasta com afirmações de Lévy “[...]
uma vontade excessiva de domínio não pode ter poder durável no ciberespaço.”
(1999, p. 120) e também de Negroponte: “A Internet proporciona um canal mundial
de comunicação que fustiga toda forma de censura [...]” (1995, p. 152).
O filósofo Pierre Lévy, contudo, faz uma crítica da crítica ao afirmar que o
momento não é o de incitar o medo em relação ao potencial do ciberespaço, mas
sim de projetá-lo para que seja benéfico às sociedades humanas. O filósofo francês
encerra com a seguinte reflexão: antigamente a crítica era progressista, estaria se
tornando conservadora? (1999, p. 227).
31 No texto original: “You know, the Chinese government looks at Egypt and thinks, "Am I next?" And they probably say, "No, I'm not, but we should still tighten certain things up".
51
4. O JORNALISMO DIGITAL
O jornalismo digital é uma área de pesquisa ainda em desenvolvimento
no País, conforme apurou o artigo “Estudos sobre jornalismo digital no Brasil”,
realizado em 2006. Segundo este artigo, contata-se que “a formação dos nossos
pesquisadores pioneiros ocorreu majoritariamente no exterior, especificamente na
Europa [...]” (BARBOSA; MIELNICZUK; QUADROS 2006, p. 16). De 1998 a 2005,
foram produzidos 52 trabalhos, entre mestrados e doutorados, nesta área de
pesquisa, sendo que mais de 50% destes se concentram em apenas duas
academias brasileiras: a Universidade de São Paulo (USP) com 17 trabalhos, e a
Universidade Federal da Bahia (UFBA) com 10 trabalhos (QUADROS; BARBOSA;
MIELNICZUK, 2006, p. 7). Portanto, a espinha dorsal do presente capítulo está
baseada em duas autoras exatamente dessas regiões: Luciana Mielniczuk, da UFBA
(atualmente lecionando na Universidade Federal de Santa Maria – UFSM), e
Pollyana Ferrari, da USP (atualmente lecionando na Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo – PUC-SP).
Contudo, estabeleceremos também neste capítulo um paralelo entre a
história da Internet e o levantamento de algumas das teorias do ciberespaço,
versados anteriormente, com algumas conceituações definidas por essas autoras. O
conceito de inteligência coletiva de Pierre Lévy, por exemplo, é compatível com um
novo modo de se produzir jornalismo? Sequer é compatível com o que entendemos
por jornalismo? Questões como essas encontram algumas contradições dentre as
práticas mercadológicas do jornalismo digital abordadas neste estudo.
Por isso, buscaremos apresentar diferentes pontos de vista para que o
estudo de casos múltiplos realizado no capítulo seguinte possa abranger essas
interrogações, tornando-se mais completo, tanto para a revista NEO Interativa, que
tentava o jornalismo digital no País já em 1994, quanto para o jornal Brasil 24/7, de
2011.
Antes de iniciarmos, é importante ressaltar que partimos da concepção de
jornalismo apresentada por Michael Kunczik que, por sua vez, se baseia também em
diferentes pontos de vista:
Por isso o jornalismo é considerado a profissão principal ou suplementar
das pessoas que reúnem, detectam, avaliam e difundem as notícias; ou que
52
comentam os fatos do momento (Koszyk e Pruys, 1976, p. 146). Nessa
definição, o entretenimento se separa do jornalismo. Para Donsbach (1987),
o jornalista é quem está envolvido na formulação do conteúdo do produto de
comunicação de massa, seja na reunião, na avaliação, na apuração, no
processamento ou na divulgação de notícias, nos comentários ou no
entretenimento. (KUNCZIK, 1997, p. 15).
Não entraremos no mérito do envolvimento ou não do entretenimento
como característica do trabalho jornalístico, nos atendo às semelhanças das visões
apresentadas por Kunczik, que entende o jornalista como o profissional da
comunicação de massa responsável por analisar, filtrar e difundir informações.
4.1. O Processo Comunicacional
Segundo Ferrari (2007, p. 25), vivemos uma nova era, liderada por uma
revolução informacional. Uma era “pós-industrial”, na qual a moeda de troca
capitalista tornou-se a informação e a velocidade com que ela se propaga. “Se as
duas primeiras revoluções foram baseadas na energia (a do vapor e a da
eletricidade), a terceira é baseada na informação. Ela passa a ser a mola propulsora
da sociedade, a forma de organização e planejamento de toda a atividade produtiva”
(FERRARI, 2007, p. 25). Para Castells, a emergência do modo de produção nessa
etapa do capitalismo marca o surgimento da chamada “sociedade da informação”,
tendo nas redes uma de suas formas mais elaboradas de articulação (CASTELLS
apud FERRARI, 2007, p. 25).
Como efeito, criamos uma sociedade em que os valores de
conhecimento, comunicação e informação acabam por se fundir, embora não sejam,
necessariamente, inseparáveis. “Comunicação e informação são termos próximos,
mas não são sinônimos”, dizem os pesquisadores em Comunicação, Carlos Pernisa
Júnior e Wedencley Alves da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) (2010, p.
13).
Primeiramente, há uma raiz distinta para cada um dos dois termos, a qual
indica cada significado. Informar se aproxima do dado, de um elemento,
enquanto comunicar está muito mais para a relação entre pessoas. Assim, o
ato de informar não é, definitivamente, o mesmo que comunicar. (ALVES e
JÚNIOR, 2010, p. 13).
53
Segundo os pesquisadores da UFJF, essa questão se inicia pela tradição
da comunicação oral, com o diálogo sendo a forma primordial de relacionamento
para os seres humanos. “A oralidade marca a troca de papéis entre emissores e
receptores e a possibilidade de duas ou mais pessoas se entenderem” (ALVES e
JÚNIOR, 2010, p. 13). Não há, aqui, a valorização de uma ou outra característica,
portanto, “A informação não deixa de fazer parte dessa relação, mas ela é uma parte
de toda a dinâmica, não a razão principal dela” (ALVES e JÚNIOR, 2010, p. 13).
O início da tradição da escrita começa a trazer novidades nesta lógica, a
princípio com o manuscrito, em que ainda se mantém uma forte ligação com a
tradição oral. Segundo Alves e Júnior, muitas vezes os textos são lidos em voz alta
por aqueles que têm instrução para a leitura:
Outro fator relevante é o desequilíbrio entre os papéis de emissor e
receptor. O autor do texto deixa de ter contato direto com o leitor, e aquele
que faz a leitura em voz alta não pode ser visto como alguém que esclareça
as dúvidas que a audiência possa vir a ter. Os ouvintes, também, não têm
como se manifestar da mesma maneira que em uma conversa, num
diálogo, já que não é possível parar a leitura a todo o momento. A
informação é passada pela fala, mas não há uma troca de mensagens entre
todos os envolvidos. (ALVES e JÚNIOR, 2010, p. 14).
Com a invenção da imprensa, há um novo e grande avanço na área de
comunicação, com a formatação dos textos – páginas, capítulos, notas de rodapé –
e um maior volume de cópias disponíveis.
Com a paginação dos textos em cadernos, sua manipulação torna-se mais
agradável. Surge, então, a possibilidade de paginar, criar índices, propor a
relação entre trechos separados na obra. Junto com a fragmentação dos
textos em trechos para cada página, também surge a separação das
palavras, facilitando e vulgarizando a leitura – que se torna um ato
silencioso e individual. (MIELNICZUK, 2003, p. 76).
Desta forma, a imprensa cria as condições para um novo modelo de
comunicação, em que a informação passa a ter um caráter primordial no esquema.
Segundo Alves e Júnior (2010, p. 15), essa nova lógica comunicacional tem relação
54
direta à teoria matemática da comunicação, fundamentada nos estudos de Shannon
e Weaver – produzidos na década de 1960 – em que se privilegia a passagem da
mensagem em detrimento de um processo comunicacional de mão dupla. “A
comunicação de massa, assim, conceitualmente, não seria efetivamente
comunicação, mas, sim, informação” (ALVES e JÚNIOR, 2010, p. 15).
Por conseguinte, conhecimento também parece, a princípio, sinônimo
para comunicação e informação, mas não é:
Assim, é necessário entender as distinções entre os três termos. Informar é
trabalhar um conjunto de dados para repassá-los ou para utilizá-los. Já
comunicar é uma relação interpessoal, uma troca de informações. O
conhecimento também trabalha com informações, mas depende de uma
comparação entre elas. (ALVES e JÚNIOR, 2010, p. 19).
Em outras palavras, o conhecimento está intrinsecamente ligado ao
contexto, pois só ocorre quando podemos comparar informações, enquanto que a
informação é um pequeno conjunto de dados sem maiores relações entre eles,
perdendo-se o contexto e os referenciais mais gerais. Nas palavras de Pierre Lévy:
“Vivemos a sociedade da informação que não informa, apenas absorve grandes
quantidades de dados” (LÉVY apud FERRARI, 2010, p. 22). Como veremos a
seguir, através do hipertexto, essa lógica reducionista pode ser diminuída com o
aprimoramento do jornalismo digital, sendo, inclusive, esta ação uma iniciativa
sugerida por diferentes autores. Assim, poderíamos almejar construir uma
“sociedade do conhecimento” em detrimento de uma reducionista “sociedade da
informação”. É, novamente, o conceito cunhado pelo filósofo francês: a idealização
da “inteligência coletiva”.
4.2. Conceituando o Jornalismo Digital
Como podemos conceituar o que é o jornalismo digital? Segundo
Mielniczuk (2003, p. 22), em linhas gerais, observa-se que autores norte-americanos
utilizam o termo “jornalismo o n-line” ou “jornalismo digital”, enquanto que autores
espanhois optam pelo termo “jornalismo eletrônico”. Outras nomenclaturas possíveis
são, ainda, “ciberjornalismo” e “Webjornalismo”. Dentre os autores no qual este
55
capítulo se baseia, Alves e Júnior (2010), Dalmonte (2009), Ferrari (2007; 2010);
Mielniczuk (2003) e Quadros (2002), grande parte destes apresentam diferenças,
ainda que sutis, em suas definições para este novo modo de se fazer jornalismo.
Para seguirmos adiante, portanto, optamos por utilizar as definições de Luciana
Mielniczuk, que parecem mais adequadas para abranger os dois suportes nos quais
as unidades de análise deste estudo estão inseridas: o CD-ROM e os tablets.
“Propomos uma sistematização que privilegia os meios tecnológicos, através dos
quais as informações são trabalhadas, como fator determinante para elaborar a
denominação do tipo de prática jornalística [...]” (MIELNICZUK, 2003, p. 24). Como
podemos perceber, a definição segue uma lógica mcluhaniana32.
Para Mielniczuk (2003, p. 24), o termo “jornalismo eletrônico” seria o mais
abrangente de todos, visto que a aparelhagem tecnológica que se utiliza no
jornalismo é, em sua maioria, eletrônica, independentemente de ser analógica ou
digital. Inserido no aspecto eletrônico, estaria a tecnologia digital, em crescente
utilização no dia a dia.
O crescimento acontece tanto na captura quanto no processamento ou
disseminação da informação. São câmeras fotográficas digitais; gravadores
de som; ilhas de edição de imagens não-lineares; suportes digitais para a
disseminação da informação como disquete, CD e DVD; hardware e
software para a manipulação das informações (áudio, vídeo e sons em
forma de bits33
); entre tantos outros recursos. (MIELNICZUK, 2003, p. 25).
Mielniczuk indica, também, que o jornalismo digital pode ser denominado
de “jornalismo multimídia”, implicando na possibilidade de manipulação conjunta de
dados digitalizados de diferentes naturezas: texto, som e imagem. Cabe, aqui,
parênteses para uma discordância: para Pierre Lévy , o termo “multimídia” é
empregado de forma errônea quando usado para a designação de uma confluência
de mídias separadas em direção à mesma rede digital, isto é, como empregado por
Mielniczuk acima. Para Lévy, o termo “multimídia” só é corretamente empregado
quando, por exemplo:
32
Ver Capítulo 3: As Teorias do Ciberespaço. 33
É interessante traçar um paralelo, portanto, com a teoria de Nicholas Negroponte, versada no capítulo anterior, que entende o ciberespaço como a transformação dos átomos para bits. Sob essa mesma ótica, Mielniczuk sugere que a produção do jornalismo está cada dia mais se transformando de átomos em bits.
56
[...] o lançamento de um filme dá lugar, simultaneamente, ao lançamento de
um videogame, exibição de uma série de televisão, camiseta, brinquedo etc.
Neste caso, estamos de fato frente a uma “estratégia multimídia”. Mas se
desejamos designar de maneira clara a confluência de mídias separadas
em direção à mesma rede digital integrada, deveríamos usar de preferência
a palavra “unimídia”. (LÉVY, 1999, p. 65).
Os pesquisadores de Juiz de Fora, Alves e Júnior, concordam com a
objeção de Lévy ao afirmarem que o termo “mídia” já indica um conjunto de meios,
ou seja, a palavra já estaria no plural (2010, p. 25). Portanto, para Lévy e Alves e
Júnior, “unimídia” é sinônimo de “multimodalidade” (ou integração digital) que, por
sua vez, é diferente de multimídia. Doravante, portanto, adotaremos o conceito
“unimídia” citado por Lévy, embora a palavra “multimídia” continue a aparecer em
citações de outros autores. Fechado os parênteses, continuemos com as diferentes
definições acerca dos novos modos de produção jornalística.
Para Mielniczuk, ciberjornalismo faz referência ao jornalismo que é
produzido sob o auxílio de possibilidades tecnológicas oferecidas pela cibernética,
praticado no – ou com o auxílio do – ciberespaço. Já o termo on-line conduziria à
ideia de conexão em tempo real, com fluxo contínuo de informação, de forma quase
instantânea. “As possibilidades de acesso e transferência de dados on-line utilizam-
se, na maioria dos casos, de tecnologia digital. Porém, nem tudo o que é digital, é
on-line.” (MIELNICZUK, 2003, p. 26). Por fim a autora define que Webjornalismo
está referido a uma parte específica da Internet, isto é, a World Wide Web34, com
interfaces gráficas bastante amigáveis ao usuário em geral. (2003, p. 26).
Desta forma, temos a seguinte tabela:
Nomenclatura Definição
Jornalismo
eletrônico Utiliza de equipamentos e recursos eletrônicos.
Jornalismo digital ou
Jornalismo unimídia
Emprega tecnologia digital, todo e qualquer procedimento que implica no
tratamento de dados em forma de bits.
Ciberjornalismo Envolve tecnologias que utilizam o ciberespaço.
Jornalismo On-line É desenvolvido utilizando tecnologias de transmissão de dados em rede e
34
Ver Capítulo 2: Os Computadores e a História da Internet.
57
em tempo real.
Webjornalismo Diz respeito à utilização de uma parte específica da Internet, que é a web.
Tabela 1 – Resumo das definições de nomenclaturas sobre práticas de produção e disseminação de informação no jornalismo contemporâneo (MIELNICZUK, 2003, p. 27).
As definições apresentadas assemelham-se a esferas concêntricas que
fazem o recorte de delimitações. Como já foi referido, essas definições se
aplicam tanto ao âmbito da produção quanto ao da disseminação das
informações jornalísticas. Um aspecto importante é que elas não são
excludentes, o que ocorre é que as práticas e os produtos elaborados
perpassam e se enquadram de forma concomitante em distintas esferas.
(MIELNICZUK, 2003, p. 27).
Figura 3 – Esferas que ilustram a delimitação das terminologias (MIELNICZUK, 2003, p. 28).
Doravante adotaremos a terminologia “jornalismo digital”, por ser a que
mais se adequa às necessidades de análise dos objetos aqui propostos. Como
veremos no próximo capítulo, a revista NEO Interativa era produzida sobre uma
base digital – o CD-ROM – ainda que não englobasse, necessariamente, as
categorias de Webjornalismo e jornalismo on-line, o que não ocorre com o jornal
Brasil 24/7, também criado sobre um alicerce digital – os tablets – mas que, por sua
vez, já engloba as terminologias subsequentes. Decidimos, portanto, descartar a
classificação “jornalismo eletrônico” por esta nos parecer um tanto quanto confusa
em relação aos exemplos que utilizaremos. O jornalismo praticado para o rádio e a
58
televisão também podem ser eletrônicos, ainda que não necessariamente digitais.
Assim sendo, para este trabalho, a terminologia “jornalismo digital” é que melhor se
encaixa com a presente pesquisa.
4.3. Breve retrospecto histórico do Jornalismo Digital
Retomando brevemente o Capítulo 2, vimos que a World Wide Web
configurou-se como a criação definitiva para o surgimento da Internet como uma
tecnologia comunicacional civil. Por conseguinte, surgem os navegadores da WWW,
capazes de acessar qualquer endereço na oceânica estrutura de informações da
Internet. Segundo a pesquisadora Cláudia Irene de Quadros, da Universidade Tuiuti
do Paraná, o surgimento dos navegadores WWW possibilitou e facilitou a
disponibilização de conteúdo on-line, do qual os jornais on-line despontariam como
precursores, devido ao interesse despertado nos empresários de comunicação pela
rede mundial de computadores: “Nos Estados Unidos, eles foram os primeiros a
visionar uma nova forma de obter lucros” (2002, p. 3). Desta forma, os primeiros
jornais on-line surgiram em 1993, sendo eles o Mercury Center, The Chicago
Tribune e o The Atlanta Constituition (SILVA apud DELICATO, 2008, p. 51).
Dentre outras iniciativas pioneiras estão o The NandO Times, criado pela
empresa McClacthcy Newspaper Inc., lançado em 1994 e o The San Jose Mercury
Center, lançado no início de 1995 em formato comercial, mas que “possuía desde
1993 uma versão eletrônica distribuída pela companhia America On-line por meio de
uma rede própria” (QUADROS, 2002, p. 3).
Naturalmente, devido ao desenvolvimento da própria Internet35, uma
importante protagonista na história do jornalismo digital seria a comunidade
acadêmica-científica norte-americana. Segundo Quadros, além da experiência
proporcionada por grandes empresas de serviços on-line, como American On-line,
Progidy e Compuserve, os projetos científicos também foram e continuam sendo
responsáveis pelo desenvolvimento dos jornais na Internet (2002, p. 4).
Dois importantes experimentos nesse sentido vieram do Laboratório de
Mídia do MIT, coordenado por Nicholas Negroponte, cujas teorias foram brevemente
retomadas no capítulo anterior. O primeiro projeto de pesquisa, chamado News in
35
Ver Capítulo 2: Os Computadores e a História da Internet.
59
the Future, trabalhava desde a primavera de 1993 “com o apoio de diversas
empresas jornalísticas de todo o mundo, na busca de novas formas para criar jornais
mais interativos, úteis e de fácil acesso” (QUADROS, 2002, p. 4). Deste projeto
nasceu o Fiswrap, um diário digital que procurava utilizar todos os recursos
interativos da hipermídia na tentativa de tornar-se uma referência para os futuros
jornais on-line a serem desenvolvidos. Outra experiência realizada no Laboratório de
Mídia do MIT foi o Daily Me (Minha Gazeta, em tradução oficial36).
A concepção do diário como oferta de serviços dirigidos a um indivíduo
continua contribuindo para os estudos desenvolvidos na área, apesar da
experiência nunca ter obtido uma circulação massiva. No entanto,
conseguiu apresentar características destacadas pelo próprio Negroponte:
"Ser digital supõe o surgimento de um conteúdo totalmente novo, de novos
profissionais [...]”. (QUADROS, 2002, p. 5).
Em 1995 surgiriam as versões on-line dos jornais The Washington Post,
com a intenção de oferecer uma variante do jornal impresso, e a versão on-line do
diário espanhol El Mundo, que de início trazia apenas a seção Campus, destinada
ao público mais jovem, mas que, posteriormente, incluiu novas editorias, algumas
das quais inclusive inéditas em relação ao jornal impresso.
Em 1996 foi a vez do norte-americano The New York Times e o espanhol
El País Digital desembarcarem na Internet. Segundo Quadros, enquanto o primeiro
tentava explorar os recursos de não-linearidade da rede, o segundo se constituía
quase que integralmente com os textos da versão impressa, com pequenos ajustes
para o universo virtual. (2002, p. 7-10). No mesmo ano, a Microsoft se funde com a
NBC, o que resulta no lançamento do portal MSNBC (MIELNICZUK, 2003. P. 36).
Já em terras tupiniquins, “o primeiro site jornalístico brasileiro foi o do
Jornal do Brasil, criado em maio de 1995 [...]” (FERRARI, 2010, p. 25).
Posteriormente, um número significativo de jornais on-line nacionais passaria a ser
lançado.
Neste início, não havia praticamente noção alguma do que seria uma boa
edição de jornal para a web. A maioria dos veículos impressos na rede não
estava preocupada em criar uma publicação específica para a Internet,
36 Segundo consta em “A Vida Digital”, de Negroponte.
60
fazendo basicamente uma versão muito semelhante à da edição em papel.
Os grandes jornais do País, no entanto, logo começaram a perceber que
não havia motivo para estar na rede se não fosse para ter algo diferente do
que já era feito na edição em papel. A presença somente na Internet já não
parecia ser a única justificativa para a existência dessas publicações
(ALVES e JÚNIOR, 2010, p. 43).
A afirmação dos pesquisadores da UFJF é corroborada por Ferrari ao
afirmar que: “A maioria dos sites jornalísticos surgiram como meros reprodutores do
conteúdo publicado em papel” (FERRARI, 2010, p. 24).
Por conseguinte, o jornal O Estado de São Paulo, do Grupo Estado,
começou a desenvolver a versão on-line de seu jornal antes do Jornal do Brasil, mas
seu lançamento só viria a acontecer, de fato, pouco depois que o concorrente.
O jornal digital do Estadão, então denominado NetEstado, foi estruturado
em março de 1995. A arquitetura das primeiras páginas web foi planejada
em julho do mesmo ano, mas só foram disponibilizadas na internet em 8 de
dezembro. Por isso, o Jornal do Brasil é considerado o primeiro diário digital
do País "a fazer cobertura completa no espaço virtual". (MOHERDAUL,
2000). O Jornal do Brasil foi disponibilizado integralmente no sistema WWW
em 28 de maio de 1995. (QUADROS, 2002, p. 12).
O Grupo Estado era um dos que destoavam da falta de visão no campo
on-line, pois, segundo Quadros, tinha um convênio com o projeto do Laboratório de
Mídia do MIT, o já citado News in the Future, para “obter orientação tecnológica
sobre as possíveis mudanças, evitando assim muitos investimentos em recursos
tecnológicos com pouco futuro” (QUADROS, 2002, p. 12). Após o lançamento do
Estadão na Internet, a Globo lançou o seu Globo On-Line, em 29 de julho de 1996.
Atualmente, o jornal faz parte do portal da empresa, denominado Globo.com.
Um dado relevante a se enfatizar é que a proliferação de jornais on-line
avançaria até o início dos anos 2000, época em que a Bolha da Internet37 viria a
estourar.
Se olharmos para o cenário a partir do início de 2001, no entanto,
percebemos que a Internet abandonou o glamour de 2000, quando todo
proprietário de site imaginava que, com pouco investimento e muita
37
Ver Capítulo 2: Os Computadores e a História da Internet.
61
criatividade, ficaria rico [...] O mercado passou a preocupar-se mais
seriamente com a integração entre conteúdo de qualidade, design acessível
e viabilidade financeira. (FERRARI, 2010, p. 28).
Isso certamente tem vínculo direto com o desaquecimento das expectativas
em relação à internet e com a queda nos chamados investimentos da nova
economia, quando a Nasdaq – bolsa que trabalha com investimentos em
tecnologia nos Estados Unidos – despencou. (ALVES e JÚNIOR, 2010, p.
45).
Analisando tais dados, podemos concluir que o jornalismo digital brasileiro
teve início praticamente em conjunto com o restante do mundo, com jornais
recebendo suas versões on-line antes mesmo do lançamento da própria Internet no
País, comercialmente falando. É importante ressaltar, também, que os jornais
descritos acima se englobam, basicamente, na categoria de Webjornalismo,
conforme o conceito proposto por Mielniczuk. A Revista NEO Interativa, lançada em
1994, cuja história será retomada mais a frente, pode, portanto, ser considerada
como a primeira tentativa de jornalismo totalmente digital no Brasil.
4.4. As gerações do Jornalismo Digital
O jornalismo digital não é um novo jornalismo, mas sim a renovação dos
modos de produção de uma antiga prática. Dessa forma, o pesquisador Edson
Fernando Dalmonte, da Universidade Federal da Bahia, define a perspectiva sob a
qual podemos entender as novas práticas de produção jornalísticas. Portanto, essas
renovações têm sido engendradas sob conceitos que caracterizam a evolução de
todo este processo. Mielniczuk propõe uma sistematização das fases do jornalismo
na web, que, como visto acima, foram os primeiros a surgirem com o advento da
Internet. Assim, temos o que Mielniczuk chama de “Webjornalismo de primeira
geração”; “Webjornalismo de segunda geração” e, por fim, “Webjornalismo de
terceira geração”. (2003, p. 29).
O webjornais de primeira geração eram “reproduções de partes dos
grandes jornais impressos, que passavam a ocupar espaço na Internet”
(MIELNICZUK, 2003, p. 29). Assim, predominam os sites que publicam material
62
produzido para as edições de outros meios. Estes jornais eram atualizados a cada
24 horas, de acordo com o fechamento das edições do impresso.
A rotina de produção de notícias é totalmente atrelada ao modelo
estabelecido nos jornais impressos. No que diz respeito ao formato de
apresentação das narrativas jornalísticas, não há nenhuma evidência de
preocupação com relação a uma possível forma inovadora de apresentação
das narrativas jornalísticas. (MIELNICZUK, 2003, p. 33).
Conforme visto no subcapítulo anterior, são estes jornais que marcam a
iniciação de renovação das práticas jornalísticas, tanto no mundo como no Brasil.
A segunda geração do Webjornalismo acontece quando, mesmo ainda
presos ao modelo de jornal impresso, os veículos iniciam experiências na tentativa
de explorar as características oferecidas pela rede. Aqui, Mielniczuk cita McAdams
para constituir o conceito de “fase da metáfora”, que seria um meio de tornar a
informação mais clara para o público da Internet.
Ao mesmo tempo em que se ancoram no modelo do jornal impresso, as
publicações para a web começam a explorar as potencialidades do novo
ambiente, tais como links com chamadas para notícias de fatos que
acontecem no período entre as edições; o e-mail passa a ser utilizado como
uma possibilidade de comunicação entre jornalista e leitor ou entre os
leitores, através de fóruns de debates e a elaboração de notícias passa a
explorar os recursos oferecidos pelo hipertexto. (MIELNICZUK, 2003, p. 34).
Já a terceira geração do Webjornalismo tem íntima relação com o
desenvolvimento cada vez mais acelerado da Internet. São jornais que extrapolam a
ideia de uma versão para a web da versão impressa de um jornal. Segundo
Mielniczuk, um dos principais exemplos dessa terceira geração é a fusão entre as
gigantes Microsoft e a NBC, ocorrida em 1996, gerando o site www.msnbc.com.
(2003. P. 36).
Nos produtos jornalísticas dessa etapa, é possível observar tentativas de,
efetivamente, explorar e aplicar as potencialidades oferecida pela web para
fins jornalísticos. Nesse estágio, entre outras possibilidades, os produtos
jornalísticos apresentam recursos em multimídia, como sons e animações,
que enriquecem a narrativa jornalística; oferecem recursos de interatividade,
como chats com a participação de personalidades públicas, enquetes,
63
fóruns de discussões; disponibilizam opções para a configuração do produto
de acordo com interesses pessoais de cada leitor/usuário; apresentam a
utilização do hipertexto não apenas como um recurso de organização das
informações da edição, mas também começam a empregá-lo na narrativa
de fatos. (MIELNICZUK, 2003, p. 36).
Para além da pesquisa de Luciana Mielniczuk, segundo Dalmonte: “Na
linha evolutiva das pesquisas aplicadas ao jornalismo na Internet, já se fala de um
Webjornalismo de quarta geração [...]”, ainda sem definições por parte dos autores,
mas que seria relacionado ao banco de dados de informações na utilização do
Webjornalismo (2009, p. 128).
4.5. Características do Jornalismo Digital
Com o desenvolvimento tecnológico, abre-se um leque de possibilidades
para novas práticas de produção jornalísticas, ainda que estas não sejam
exploradas em sua totalidade. Por isso, para Pollyana Ferrari, “conteúdo” tornou-se
a palavra vital para o sucesso dos jornais digitais, “E não foi à toa: é em busca de
conteúdo – mais até mesmo do que de serviços – que as pessoas acessam a
maioria dos sites”. (2010, p. 39). Os elementos possíveis para a composição do
conteúdo on-line vão muito além dos tradicionalmente utilizados no impresso, isto é,
textos, fotos e gráficos.
Pode-se adicionar sequências de vídeos, áudio, ilustrações animadas [...]
Os desafios do jornalismo digital estão relacionados à necessidade de
preparar as redações, como um todo, e aos jornalistas em particular, para
conhecer e lidar com essas transformações sociais. [...] Para se ter uma
ideia dessa mudança do fazer jornalístico, o portal G138
prepara o repórter
para ir à rua com um notebook, um modem wireless para acesso à banda
larga, uma máquina fotográfica digital, um gravador de áudio digital e um
radiocomunicador. (FERRARI, 2010, p. 39-40).
Fica evidente, portanto, que não apenas a estrutura de difusão do
jornalismo, como também a produção jornalística, mudou. Para confirmar esta
afirmação, “basta olharmos para o inexistente número de “carros de reportagem” nas
38 Portal de notícias on-line das Organizações Globo. http://www.g1.com.br
64
redações digitais, o que mostra que raramente o repórter web sai para a rua em
busca de um fato” (FERRARI, 2010, p. 58). O que não é, necessariamente, algo
benéfico. Na organização de artigos “Hipertexto, Hipermídia”, estabelecida por
Ferrari, encontramos a seguinte afirmação:
Nem os próprios jornais podem ser tomados como fonte de informação,
porque eles erram, e muito, e muitas notícias caducam ou ficam
desatualizadas com o tempo. Por isso, ainda é preciso ir a campo, sim
senhor, seja pelo telefone ou na rua. Bom jornalismo ainda se faz na rua, e
isso ainda não mudou [...] Jornalista que é jornalista desconfia até da
própria sombra. (FERRARI, 2007, p. 21).
Trata-se, como podemos ver, de uma contradição que não é retomada
pela autora. Outra característica apontada por Ferrari é de que o jornalista digital é,
em grande parte, jovem “recém-formado, com facilidade para lidar com softwares,
mas pouca experiência para tratar da informação” (2007, p. 15).
[...] sinto falta de profissionais mais experientes, mais velhos (a idade média
de jornalistas na web é 22 anos) trabalhando na Internet, pessoas que
tragam para o mundo on-line toda uma bagagem cultural e histórica [...]
(FERRARI, 2010, p. 108).
Para Luciana Mielniczuk, as mudanças do jornalismo digital (conceituado
como Webjornalismo pela autora, vale ressaltar) podem ser classificadas em seis
principais características:
Multimodalidade – No contexto do Webjornalismo, a multimodalidade
caracteriza a convergência dos formatos das mídias tradicionais (imagem, texto e
som) na narração do fato jornalístico em um mesmo suporte.
Interatividade – Significa fazer com que o leitor se sinta parte do
processo jornalístico. O que pode ocorrer através de troca de e-mails, espaço para
opinião dos leitores; fóruns de discussões etc.
Hipertextualidade – Trata-se da possibilidade de enriquecimento da
narrativa jornalística através do hipertexto e dos links. Discutiremos este assunto
com mais detalhes nas próximas páginas.
65
Personalização – Assim como sugerido por Negroponte com a “Minha
Gazeta”, conforme vimos anteriormente, consiste na configuração de produtos
jornalísticos de acordo com os interesses individuais do usuário.
Atualização – O condicionamento, mediante a tecnologia digital, da
possibilidade de atualização de notícias em tempo real para os jornais.
Memória – O acúmulo de informações na web é mais viável técnica e
economicamente do que em outras mídias, portanto, seria possível o
estabelecimento de um banco de dados de informações para os webjornais. (2003,
p. 39-60).
Algumas semelhanças podem ser encontradas nas conceituações de
características do jornalismo digital por Ferrari e Mielniczuk, mesmo que sejam, no
geral, óticas completamente distintas. Ferrari traz uma visão claramente de
mercado39, enquanto que Mielniczuk apresenta seu ponto de vista mais acadêmico.
Contudo, o aspecto mais enfatizado por ambas as autoras é o hipertexto, “recurso
pouco ou quase nada explorado neste momento pelos sites nacionais [...]”
(FERRARI, 2010, p. 110).
4.6. Hipermídia: a importância do hipertexto e dos links
Para compreendermos a importância do desenvolvimento do hipertexto
para o jornalismo digital, é necessário retornamos às origens deste conceito.
Segundo Dalmonte, a terminologia “hipertexto” foi criada nos anos 1960 por Theodor
H. Nelson, referindo-se a uma escrita não sequencial, permitindo que o leitor
construa sua própria leitura. Ainda segundo este autor, uma ideia datada de 1588
pode ser considerada como precursora de uma estrutura que põe em contato várias
unidades de texto. Chamada de roda de leitura, o invento foi descrito na obra “Le
diverse et artificiose machine del Capitano Agostino Raminelli” e supunha um
engenho em que o usuário poderia percorrer um grande número de livros, sem sair
do lugar, através de uma roda mecânica. (2009, p. 156).
39
Ferrari foi editora da unidade de Internet da Editora Globo; ajudou a criar a versão on-line da revista Época, lançada concomitantemente à versão impressa, em 1998, e dirigiu o conteúdo do portal iG entre o final dos anos 90 e o início dos anos 2000. Muitos dos relatos documentados em seu livro “Jornalismo Digital” são puramente empíricos, embasados em sua experiência mercadológica.
66
Figura 4 – Roda de leitura de Ramelli, datada de 1588 (DALMONTE, 2009, p. 157).
Posteriormente, segundo Mielniczuk, em 1945 o artigo “As we may think”,
do matemático e físico Vanevar Bush, idealizaria um dispositivo cuja inspiração seria
a forma associativa de como a mente humana funciona, denominado Memex.
“Tratava-se de uma caixa com um ou dois metros cúbicos, que armazenava as
informações microfilmadas ou gravadas em fitas magnéticas, cujo acesso se daria
através da tela de uma televisão, com alto-falantes acoplados” (2003, p. 96). Bush
teria pensado o Memex como uma espécie de memória auxiliar do cientista, daí a
origem de seu nome: Memory Extension.
67
Estudando a acepção do hipertexto, Pierre Lévy afirma que a leitura é
uma atualização de significações de um texto. E que a hipercontextualização, por
sua vez, seria um movimento inverso “no sentido em que produz, a partir de um
texto inicial, uma reserva textual e instrumentos de composição graças aos quais um
navegador poderá projetar uma quantidade de outros textos” (1996, p. 41-42). Desta
forma, o texto é transformado em uma problemática textual.
Enfim, o suporte digital permite novos tipos de leituras (e de escritas)
coletivas. Um continuum variado se estende assim entre a leitura individual
de um texto preciso e a navegação em vastas redes digitais no interior das
quais um grande número de pessoas anota, aumenta, conecta os textos uns
aos outros por meio de ligações hipertextuais [...]. (LÉVY, 1996, p. 43).
Para Lévy, portanto, o hipertexto é uma oposição ao texto linear, sendo
um texto estruturado em rede, constituído de nós e de ligações entre esses nós.
Como exemplificação, o filósofo francês indica que uma enciclopédia clássica já
constitui uma leitura do tipo hipertextual, uma vez que utiliza diversos elementos,
textuais e gráficos, para dinamizar seu conteúdo.
No entanto, o suporte digital apresenta uma diferença considerável em
relação aos hipertextos anteriores à informática: a pesquisa nos índices, o
uso dos instrumentos de orientação, de passagem de um nó a outro, fazem-
se nele com grande rapidez, da ordem de segundos (LÉVY, 1996, p. 44).
Evocando novamente seu conceito de inteligência coletiva, Lévy diz que o
computador não seria mais um centro, mas sim um pequeno fragmento de um
centro cujas circunferências inexistem, um “computador hipertextual, disperso, vivo,
pululante, inacabado, virtual, um computador de Babel: o próprio ciberespaço”
(LÉVY, 1996, p. 47).
Para Dalmonte, citando Landow, o hipertexto teria as seguintes
características:
Intertextualidade – O hipertexto seria, essencialmente, um sistema que
potencializaria a referências a outros textos, realizando conexões através dos links
com outros textos. O link, portanto, está inerentemente ligado ao hipertexto.
68
Multivocalidade – Associada à ideia de polifonia de Bakhtin, sustenta a
possibilidade de coexistência de diversas vozes na narrativa literária. Desta forma, o
hipertexto não permite uma voz tirânica.
Descentralização – O hipertexto, ao contrário de textos impressos, não
oferecem uma ordem linear para sua leitura e compreensão.
Rizoma – Oriundo de um conceito desenvolvido por Deleuze e Guattari,
em que os autores se utilizam da metáfora de um tipo de vegetação aquática que se
desenvolve na água, sem tronco ou caule, totalmente ramificada. O rizoma opõe-se
à ideia de hierarquia e verticalização, portanto.
Intratextualidade – Esta característica refere-se às ligações internas
estabelecidas entre as conexões dentro do mesmo sistema ou site. (2009, p. 160-
161).
Mas qual a importância e a relação do hipertexto para o jornalismo digital?
Tratar o hipertexto como uma narrativa que se abre a múltiplas vozes, que
colaboram com sua construção textual, é conferir a essa modalidade um
papel inovador que, inclusive, marca um afastamento em relação à tradição
do jornalismo impresso. Na condição de texto longo e aberto à construção
por parte do leitor, fundamentado na navegação, o hipertexto é, sem dúvida,
ao mesmo tempo um incentivo e um desafio quando se pensa nas
possibilidades que abertas a partir dessa constatação. (DALMONTE, 2009,
p. 164).
Na conceituação de Ferrari: “Um bloco de diferentes informações digitais
interconectadas é um hipertexto, que, ao utilizar nós ou elos associativos (os
chamados links) consegue moldar a rede hipertextual, permitindo que o leitor avance
sua leitura do modo que quiser, sem ser obrigado a seguir nenhuma ordem linear”
(2010, p. 44).
Para Mielniczuk, a hipertextualidade é uma grande caraterística de
ruptura, abrindo grandes possibilidades para o jornalismo. Defendendo a união do
hipertexto e do link, sendo o segundo um elemento constitutivo do primeiro, a autora
69
afirma que “consideramos a hipertextualidade como a característica mais importante
em relação às demais40” (2003, p. 158).
A hipertextualidade antecede todas as outras características, porque a
implantação dessas só acontece através daquela. Em outras palavras, para
aplicar qualquer recurso relacionado às características da multimidialidade,
interatividade, memória, personalização e atualização contínua é preciso
fazê-lo através do esquema de lexias41
e links. (MIELNICZUK, 2003, p.
158).
A pesquisa de Ferrari é complementar ao afirmar que o trabalho do
jornalismo digital exige que o jornalista repense toda a informação em forma de
cadeia, buscando, através do suporte digital, o aprofundamento da informação, ou,
como afirma a autora “A existência de fato de um jornalismo digital, que aproveita
plenamente as vantagens da mídia [...]” (2010, p. 108).
Desta forma, tanto Ferrari quanto Mielniczuk propõem variantes de como
a característica hipertextual pode ser utilizada para o jornalismo. A pesquisadora da
UFBA afirma que existem duas estruturas, cuja distinção reside no nível de
complexidade de cada uma. A primeira delas, chamada de hipertexto arborescente,
supõe o texto central como uma espécie de caule, onde anexos se encontrariam
subordinados a esse corpo, tal como os galhos de uma árvore.
A segunda estrutura é chamada de hipertexto em rede, em que a ideia do
caule central desaparece e “a trama de conexões que se estabelece entre as lexias
é bem mais complexa, pois, em tese, não „respeita‟ nenhum tipo de hierarquia
aparente na organização das informações [...] Esta estrutura remete à ideia de
rizoma, abordada anteriormente” (MIELNICZUK, 2003, p. 107).
40
Ver subcapítulo anterior. 41
Mielniczuk utiliza o termo “lexias” pois sua teoria do hipertexto está embasada com o autor Landow. Ao utilizarmos Pierre Lévy, o termo utilizado neste trabalho é titulado como “nós”.
70
Figura 5 – Hipertexto em forma arborescente; hipertexto em estrutura de rede, respectivamente (MIELNICZUK, 2003, p. 106-107).
Distinguindo um pouco de Mielniczuk, Ferrari também defende o uso do
hipertexto para o aprimoramento da narrativa jornalística, mas em conjunto com
antigas práticas consolidadas do jornalismo. Segundo a autora: “Outro conceito
tradicional do jornalismo que não pode ser esquecido na web – ao contrário, deve
ganhar força – é o lide42. Ao escrever on-line, é essencial dizer ao leitor de forma
rápida qual é a notícia e por que ele deve continuar lendo aquele texto” (2010, p.
53).
Assim sendo, Ferrari defende uma conceituação própria da caraterística
hipertextual que, metaforicamente, seria semelhante à letra T.
Nessa estrutura, a parte horizontal do T representa o lide e coloca o
principal da notícia, ou seja, por que ela está sendo escrita. O lide não vai
matar ou substituir o final, mas apenas dar razões ao internauta para
continuar lendo. A partir daí, o resto da matéria – a parte vertical do T –
pode ter a forma de qualquer estrutura. O jornalista pode contar a história
de forma narrativa; ou então continuar com o resto da história; ir ponto por
ponto; ou simplesmente continuar o texto no formato da pirâmide inversa.
Isso permite ao jornalista telegrafar as informações mais importantes e
ainda assim conseguir escrever do jeito que quer. (FERRARI, 2010, p. 54).
A princípio, a estrutura proposta por Ferrari se assemelha ao hipertexto
arborescente descrito por Mielniczuk, contudo, este exemplo não prevê a
continuidade do lide, como podemos concluir observando que em sua estrutura
42
Ver Glossário de Jornalismo em anexo neste trabalho.
71
inexiste uma base inicial (de cima para baixo), como na figura de um “T”. Para
Mielniczuk, o modelo de pirâmide invertida43, que supõe o lide, sofreria uma
evolução no hipertexto jornalístico, constituindo-se em células informativas. Segundo
a autora, uma célula informativa é “a menor unidade da narrativa jornalística” em que
“é provável que a estrutura da pirâmide invertida, tal como a conhecemos, se
mantenha” (2003, p. 169). Assim, em um hipertexto que se assemelha ao de rede
apresentado anteriormente, o leitor poderia construir sua própria narrativa
jornalística, por meio de inúmeras células informativas, constituídas no formato de
pirâmide invertida.
Figura 6 – Modelo de notícia hipertextual proposto por Mielniczuk; os triângulos laranjados representam células informativas redigidas em formato de pirâmide invertida. Os círculos verdes representam sons e os quadrados amarelos representam imagens (2003, p. 170).
Não obstante, para Mielniczuk, a forma como o hipertexto é utilizado na
narrativa não é o principal elemento de ruptura propiciado pelo jornalismo digital:
“Independentemente do tipo de hipertexto, o link é o elemento-chave que vai permitir
a conexão entre as lexias. Sem essa conexão, o hipertexto inexiste, logo, não é
demasiado, então, dizer que o link é o elemento fundamental para a existência do
hipertexto” (2003, p. 107).
43
Ver Glossário de Jornalismo em anexo neste trabalho.
72
Figura 7 – Variações de leitura na narrativa hipertextual jornalística; possibilidades com o link (MIELNICZUK, 2003, p. 171).
Desta forma, através dos hipertextos e dos links é possível acreditar em
uma participação direta dos leitores na construção da notícia. “A partir da não-
linearidade e dos links, podemos, talvez, encontrar novas vozes, outras versões de
uma mesma notícia” (FERRARI, 2007, p. 141).
Levantamos, logo, que embora com algumas diferenciações, tanto Ferrari
quanto Mielniczuk acreditam que o hipertexto (constituído por links) é a grande
possibilidade de ruptura para o jornalismo digital. Ainda assim, antigos preceitos do
jornalismo não devem ser esquecidos, evitando uma possível desorientação do
leitor. Para Ferrari, o texto deve se iniciar com o formato de pirâmide invertida e
seguir o caminho desejado e pensado pelo jornalista digital após esta
contextualização. Já para Mielniczuk, a pirâmide invertida se transforma em
inúmeras células informativas, com a presença da contextualização narrativa na
abertura de todos os textos.
73
O hipertexto, portanto, se tornaria fundamental nesta nova forma de
produzir o jornalismo. Conforme dissemos anteriormente, é com esta ferramenta que
seria possível exercemos a transição de uma mera “sociedade da informação” para
uma “sociedade do conhecimento”, já que o hipertexto permite leituras aprofundadas
e comparação de dados, o que gera, quando bem realizado, conhecimento,
conforme apontamos no início deste capítulo.
4.7. A velha lógica jornalística
Com as teorias de Luciana Mielniczuk e Pollyana Ferrari, averiguamos
as possibilidades propiciadas pelo jornalismo digital para as narrativas de leitura e
aprofundamento das informações. Mas essas teorias levantam questões sobre
algumas constantes da velha lógica jornalística que ainda imperam na prática
mercadológica.
Na linha de raciocínio hipertextual, em que o leitor pode colaborar na
construção de notícias e projetar o seu próprio caminho na leitura jornalística, Pierre
Lévy faz a seguinte observação: “[...] seria ainda necessário, para se manter
atualizado, recorrer a esses especialistas da redução ao menor denominador
comum que são os jornalistas clássicos?” (LÉVY apud MIELNICZUK, 2003, p. 164).
Esta objeção do filósofo francês tem ligação direta com o conceito de inteligência
coletiva, já que, através do ciberespaço, nos reinventaríamos como uma sociedade
do conhecimento o que, no raciocínio do filósofo francês, dispensaria a necessidade
de intermediadores. Para Mielniczuk, “o autor parece desconsiderar toda uma gama
de pressupostos que embasam e dão credibilidade à atividade jornalística, seja no
âmbito técnico ou institucional.” (2003, p. 164). Não obstante, Mielniczuk cita o autor
Wolton para classificar a objeção de Lévy como ilusória:
Comunicação direta, sem mediações, como uma mera performance técnica.
Isso apela para os sonhos de liberdade individual, mas é ilusório. A Rede
pode dar acesso a uma massa de informações, mas ninguém é cidadão do
mundo, querendo saber tudo, sobre tudo, no mundo inteiro. Quanto mais
informação há, maior é a necessidade de intermediários – jornalistas,
arquivistas, editores etc – que filtrem, organizem, priorizem. Ninguém quer
assumir o papel de editor-chefe a cada manhã. A igualdade de acesso à
informação não cria igualdade de uso da informação. Confundir uma coisa
74
com a outra é tecno-ideologia. (WOLTON apud MIELNICZUK, 2003, p.
164).
Não apenas o conceito de inteligência coletiva, como – reduzindo o
espectro teórico – a própria hipertextualidade no jornalismo digital parece, também,
um pouco ilusória no contexto mercadológico em que vivemos.
Segundo Dalmonte, o jornalismo praticado atualmente na Web não visa
o aprofundamento de informações por meio de hipertextos e links, pois se limitam à
característica da intratextualidade, delimitando fortemente a possibilidade de novas
vozes no jornalismo digital:
Embora a ideia do hipertexto apresente a possibilidade de ruptura com o
espaço restrito de uma página e, por meio do link, possibilite a conexão com
outros espaços da Web, quando essa questão é analisada empiricamente, o
que se vê é a manutenção de uma lógica de concorrência entre os veículos,
o que rompe com a ideia de ligação entre textos dispersos. Na maioria dos
casos, o link permite a navegação por dentro de um mesmo produto, o que
seria a intratextualidade. (DALMONTE, 2009, p. 166).
Em uma pesquisa realizada para aferir a utilização das características
hipertextuais nos webjornais, Dalmonte diz que: “Os resultados mostram que a
maioria dos hiperlinks (94,8%) leva o leitor para o material relacionado localizado no
próprio site do jornal. O destino do hiperlink era um outro Website em apenas 137
(4,1%) casos” (2009, p. 168).
Assim, a ruptura das barreiras fica limitada, não agregando ao discurso
novas narrativas, pontos de vista distintos ou qualquer texto que acrescente ao
assunto proposto. Sim, os webjornais oferecem espaço para comentários, mas estes
são, muitas vezes, moderados e limitados. “Nesse caso, o discurso Webjornalístico
continua monovocal, monofônico” (DALMONTE, 2009, p. 167).
Neste caso, Dalmonte sugere haver uma clara discrepância entre a teoria
e a prática. Sabe-se que na Internet, a lógica do lucro para os endereços WWW se
dá com o número de page views44, que, contabilizado por instituições como o IVC,
Instituto Verificador de Circulação, e IBOPE, são posteriormente vendidos aos
44
Visualização efetiva da página de determinado site. Page View significa Página Vista, nome utilizado para determinar qual o número de visualizações que determinada página possui em certo período. (DALMONTE, 2009, p. 231).
75
anunciantes (2009, p. 170). Quanto mais page views, mais anúncios. Quanto mais
anúncios, maior o lucro. Desta forma, os Webjornais têm como objetivo final manter
o leitor navegando pelo próprio endereço.
Com isso, tem-se uma repetição, na Internet, dos ditames quanto à
capacidade de cada produto se articular com seu público, o que permite
uma organização do mercado publicitário. Critérios como “tempo de
permanência” e “page views” passam a acompanhar toda a movimentação
do internauta em relação com o produto, servindo de base para o
posicionamento de sites no mercado, definindo a destinação das verbas
publicitárias [...] Em seu cerne, o conceito do hipertexto traz a proposta de
uma textualidade capaz de romper barreiras impostas por limitações como a
falta de espaço. Quando aplicado à Web, poderia oferecer um percurso por
meio do qual o leitor pudesse agregar novas informações, a partir de um
itinerário estabelecido segundo zonas de interesse pertinentes a esse leitor.
O que se tem visto, na verdade, é a manutenção de um modelo
“monovocal/monofônico” que, em vez de proporcionar uma real
intertextualidade, opera com a intratextualidade, assegurando ao mesmo
tempo que o leitor não saia do quadrado proposto e não vá gerar page
views no espaço do concorrente. (DALMONTE, 2009, p. 170).
Na prática, portanto, a teoria do hipertexto como uma forma de ruptura
para o aprofundamento das informações no jornalismo digital é ignorada. E, se não
há aprofundamento no jornalismo, que continua com um discurso
monovocal/monofônico, podemos concluir que estes também ignoram conceitos
como o da inteligência coletiva, de Pierre Lévy. Cabe aqui uma questão reflexiva:
será que jornais digitais que privilegiassem o aprofundamento das informações da
forma como o hipertexto permite não teriam mais leitores e, consequentemente,
mais page views?
76
5. ESTUDO DE CASOS MÚLTIPLOS45
5.1. Revista NEO Interativa
A revista NEO Interativa foi um projeto ambicioso da editora Próxima
Mídia, lançado em abril de 1994, que se vendia como “a primeira revista multimídia
do Brasil”. O próprio nome da revista pode ser considerado como um indicativo de
seu objetivo: segundo o dicionário Priberam46 da língua portuguesa, a palavra “NEO”
é oriunda da língua grega e significa “Novo” em português. Seu conteúdo,
basicamente, era composto por matérias culturais, abordando cinema, televisão,
literatura, ciberespaço e outros assuntos relacionados.
Um detalhe bastante curioso que deve ser retomado é o fato da
publicação também incluir e-books na íntegra em suas edições. Na grande maioria,
os e-books que compõem a revista têm relação direta com o conteúdo jornalístico.
Assim, ao lermos o comentário da jornalista Isabela Boscov na resenha crítica do
filme Frankestein, de 1994, caracterizando o material de origem como “relativamente
tosco47”, temos a opção, com um único clique, de desbravar o texto original na
íntegra e construirmos nossa própria opinião, o que caracteriza uma
intertextualidade enriquecedora possibilitada pelo jornalismo digital.
A publicação foi criada pela agência digital Futura 3, que, em seu portfólio
na WWW, afirma:
A tarefa de produção da NEO requereu não só conhecimento tecnológico,
mas também habilidade editorial. A quantidade de artigos, o cuidado na
seleção e edição das mídias, a variedade de textos que compôs cada
edição foi o resultado de muitas horas de trabalho da equipe.
Sobreviveu até que a Internet passou a ter recursos multimídia, mas
certamente serviu de referência para muitos trabalhos hoje disponíveis na
rede. (Futura 348
).
Em um dos poucos estudos acadêmicos disponíveis sobre a NEO, a
pesquisadora Mirela Hoeltz, da Universidade de Santa Cruz do Sul, corrobora:
45
Este capítulo contém citações de terminologias técnicas da prática jornalística. Para facilitar a leitura, adicionamos um glossário de jornalismo aos anexos desta pesquisa. 46
Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=neo> – Acesso em 15 de outubro de 2011. 47
(BOSCOV apud NEO Interativa, 1995, p. 98). 48
Disponível em: <http://www.futura3.com.br/projetos.php?cd=52> – Acesso em 15 de outubro de 2011.
77
Conhecimento tecnológico e habilidade técnica não seriam suficientes para
a produção de uma publicação tão extensa. A quantidade de chamadas
para editorias, o cuidado na seleção e edição de imagens, a variedade de
textos que compõem cada edição resultavam, claramente, de muitas horas
de dedicação e de trabalho em equipe. (HOELTZ, 2002, p. 2).
Inicialmente a revista era vendida com periodicidade trimestral apenas em
livrarias e lojas especializadas em artigos de informática. “A necessidade de
computador multimídia para acessar o conteúdo da revista restringia ainda mais,
naquela época, o grupo de possíveis leitores” (HOELTZ, 2002, p. 1). A partir do
número 10, em 1996, “quando o mercado amadureceu e a equipe de produção
atingiu maturidade e capacidade suficiente, passou a ter periodicidade mensal e a
ser vendida em bancas de jornal, com distribuição em todo território nacional”
(Futura 3).
A NEO Interativa circulou até novembro de 1997, com uma coleção de 22
CD-ROMs, dentre os quais estão inclusas cinco edições especiais: NEO Wave 1 e 2,
voltada para o público adolescente; NEO Kids, infantil; NEO Internacional e NEO
Turismo.
Segundo a agência Futura 3: “A tiragem da coleção de 22 CDs foi em
torno de 350.000 cópias entre abril de 1994 a novembro de 1997” (Futura 3), o que
resulta em 16.000 cópias por cada edição, em valores aproximados.
78
Figura 8 – Todas as edições lançadas da revista NEO Interativa. Disponível no site da agência digital Futura 3.
79
Figura 9 – Edições da revista NEO Interativa observadas nesta pesquisa. Disponível no site da agência digital Futura 3.
Segundo consta na própria revista, o expediente era constituído pelos
seguintes nomes: Luís Henrique de Moraes, Ricardo Anderaós, Sérgio Diogo
Giannini Jr., Silvio Giannini, Jesus de Paula Assis, Luís Henrique de Moraes,
Roberto Villares, Luciene Calabria, Gaspar Sá Arguello, Ricardo Irineu de Sousa,
Eloá Chouzal , Fábio Lima, Liliane Giannini, Regina Yamada. Outros nomes mais
conhecidos no âmbito jornalístico brasileiro também participaram da revista NEO
como colaboradores, como Arnaldo Jabor, Isabela Boscov etc.
5.1.1. Como funciona a revista NEO Interativa
“Numa produção “Próxima”, sob o patrocínio Itautec; Saraiva Data e Sony
Music CD-ROM: Revista NEO Interativa, o primeiro CD-ROM multimídia do Brasil”.
Com a locução de Fábio Lima, concomitante à visualização dos logotipos dos
80
patrocinadores, é desta forma que somos apresentados à revista NEO Interativa em
um primeiro contato.
A primeira novidade em relação às revistas impressas que constatei na
NEO foi a abertura em áudio, na voz de um locutor que informava o que
poderia ser encontrado naquela edição e as possibilidades de navegação. O
que mais chamou minha atenção foi justamente o caráter dinâmico da
publicação digital, a possibilidade de passar de uma tela para outra com
simples toques em alguns símbolos que, conduzindo a novos documentos e
logo a outros mais, me levaram a percorrer rapidamente boa parte da
revista (HOELTZ, 2002, p. 1-2).
Os requisitos mínimos de instalação, hoje bastante rudimentares, nos
lembram da idade da revista: um computador 486 DX 333Mhz com 8 MB de
memória RAM49 e sistema operacional MS-DOS 5.0 ou Windows 3.1. Avançadas
quase duas décadas, hoje executamos a revista no sistema operacional Windows 7,
em modo de compatibilidade com o Windows 95. A primeira limitação observada é
em relação ao tamanho da tela: projetada para uma resolução amplamente inferior à
das tecnologias atuais, a NEO não é exibida em tela cheia, mas sim em uma
minúscula moldura ao centro do monitor.
Figura 10 – Capa da edição nº 4 da revista NEO Interativa e sumário, respectivamente.
Após a apresentação, somos levados à capa virtual da revista com a
apreciação da matéria de destaque. Ao fundo, uma espécie de “música-tema” da
49
Os requisitos mínimos indicam as configurações necessárias para que um programa rode adequadamente no computador.
81
presente edição de NEO é executada em qualidade de som MIDI50. O projeto gráfico
da revista é audacioso, ainda mais se considerarmos que a NEO foi lançada com
base no sistema operacional Windows 3.1, que contava com um sistema gráfico
bastante rudimentar.
Figura 11 - Interface gráfica do sistema operacional Windows 3.1, sobre o qual rodava a revista NEO
Interativa. Disponível em: http://toastytech.com/guis/win31.html - Acesso em 23 de outubro de 2011.
Naturalmente, o que observamos hoje é uma diagramação datada que,
em certos momentos, chega até a dificultar a leitura do texto. Isso acontece porque a
NEO não foi pensada para as altas resoluções que os monitores atuais conseguem
atingir.
Estruturalmente, na capa temos três possibilidades de links: podemos
clicar nos logotipos dos patrocinadores para acompanharmos publicidade com
recursos unimídia51; podemos clicar em apresentação para conhecermos os
principais destaques da edição, com locução de ora Eloá Chouzal ora Fábio Lima,
ou, ainda, podemos simplesmente clicar em uma seta que nos leva ao sumário da
revista. Usando a seta, a revista interativa funciona como metáfora de uma
publicação impressa, deste modo, o leitor passa a acompanhar a leitura de forma
linear, como se estivesse folheando as páginas da direita para a esquerda.
Embora seja uma possibilidade, a revista claramente não foi pensada
para ser lida desta forma. Podemos comprovar essa afirmação ao observarmos que
50
MIDI Musical Instrument Digital Interface (interface digital para instrumentos musicais). Uma especificação de protocolo para troca de informações digitais de performance (quais as notas tocadas, com que força foram pressionadas as teclas, durante quanto tempo foram sustentadas etc.) entre instrumentos musicais. Essas informações são transmitidas entre os diferentes instrumentos (sintetizadores, baterias eletrônicas, samplers, computadores) usando cabos especiais. Através de MIDI, é possível controlar todo um estúdio de som usando um computador e alguns programas específicos. (COSTA apud LÉVY, 1999, p. 256) 51
Conforme observamos no Capítulo 4, adotamos o conceito “unimídia”, cunhado por Pierre Lévy.
82
as seções não se encontram na mesma ordem apresentadas no sumário. Isto é,
observemos a Figura 10 na página anterior: vemos, respectivamente, as seções “Rio
de Janeiro”; “Cinema” e “Arte”. Mas se clicarmos em cada uma delas, constatamos
uma confusão nas páginas em que se iniciam: 06; 96 e 88, também
respectivamente.
A diagramação dos textos não segue uma lógica pré-estabelecida, por
isso, nas edições observadas, encontramos diagramações em colunas simétricas,
assimétricas, em tabelas, contornando imagens, mapas, animações etc. Desta
forma, podemos dizer que embora a NEO Interativa apresente a possibilidade de ser
lida como uma revista impressa, a publicação certamente tentou uma ruptura,
sugerindo para o leitor inúmeros caminhos não lineares que visam aprofundar o
conteúdo jornalístico apresentado.
No sumário da revista, encontramos as editorias como cinema, arte,
terra, gastronomia etc. Matérias exclusivas (geralmente as de capa) se transformam
em uma seção própria, como vimos na Figura 10 com o especial “Rio de Janeiro”,
referenciando a matéria de capa sobre a capital carioca. Ainda no sumário, o
software nos apresenta três novas opções de links: o CD-ROM NEO, que funciona
como uma espécie de menu central, auxiliando o leitor a retornar para “capas de
seções”/ “capas de matéria” ou desligar/ligar trilhas e locuções, e está presente
durante toda a leitura da revista; um ícone de ajuda, que nos leva para explicações
sobre a esquematização da revista e, por fim, a opção de abrir qualquer página
digitando o seu número, clicando sobre os marcadores de páginas.
83
Figura 12 – O menu central da revista, que funciona como uma espécie de navegador, pode ser acionado sempre que o leitor desejar bastando um clique no link CD-ROM NEO.
Ao clicarmos em qualquer uma das seções, somos levados para a
“capa da seção”: aqui encontramos todas as matérias da seção escolhida
subdividida em um menu semelhante a um mosaico. Clicando na matéria, abrimos a
capa do artigo e, neste ponto, iniciamos a narrativa jornalística hipertextual proposta
pela revista.
Os recursos unimídia da revista são amplamente utilizados já a partir da
capa de suas matérias. Muitas vezes a abertura conta com uma locução explicativa
sobre o conteúdo do artigo ou com a leitura da linha fina. Em outro exemplo, ao
abrirmos o especial “Rio de Janeiro”, presente na edição nº 4, por exemplo,
imediatamente a trilha da revista alterna para melodias de Tom Jobim, funcionando
como uma contextualização sonora para o artigo. Essa esquematização sofre uma
significativa alteração em edições posteriores (percebida neste estudo a partir da
edição de número 10, quando, como vimos, a revista passa a circular em período
mensal). A “capa da seção” é eliminada e, a partir do “sumário”, somos levados
imediatamente à “capa da matéria” selecionada. Outra mudança observada é uma
quantidade maior de patrocinadores e propagandas.
84
Figura 13 – Capa da seção e capa da matéria selecionada, respectivamente. Edição nº 4.
Figura 14 – Com a edição de número 10, observamos que a revista perde a “capa da seção”, assim, do “índice” somos direcionados diretamente para a “capa da matéria”; outro detalhe é que a NEO ganha mais patrocinadores e passa a ter distribuição mensal.
A grande novidade da revista NEO Interativa (além de seu pioneirismo
digital) é a utilização da teoria do hipertexto empregada para o enriquecimento da
narrativa jornalística, de forma bastante similar à proposição das células informativas
de Mielniczuk vista no capítulo anterior.
[...] apresenta um conjunto de especificidades que permitem adotá-la como
exemplo representativo das publicações hipermídia em geral. Cada uma
das dezoito edições da NEO Interativa foi publicada exclusivamente em
suporte digital (CD-ROM), apresenta estrutura hipertextual e faz uso de
material codificado em várias linguagens (visual, verbal, escrita, sonora).
(HOELTZ, 2002, p. 9). 52
52
Como vimos anteriormente, foram publicadas 22 edições de NEO Interativa. Aparentemente, Hoeltz ignorou os suplementos especiais da revista.
85
Publicitariamente, o hipertexto também é utilizado para a exibição de
mensagens direcionadas; matérias gastronômicas, por exemplo, contêm
discretamente o logotipo da Perdigão que, quando clicado, inicia vídeos comerciais
da empresa. Matérias de turismo contêm logotipos de pousadas, que também
iniciam propagandas ao serem clicados. Embora sejam raras, algumas propagandas
também estão distribuídas por entre as páginas da revista, sempre com bastantes
recursos unimídia. As possibilidades da hipermídia, portanto, são utilizadas de
maneira bastante simples, tornando-se inerentes ao próprio texto jornalístico e aos
anúncios publicitários. Para atingir esse resultado, a revista se utiliza de um sistema
iconográfico que informa ao leitor a disponibilidade de informação adicional em
paralelismo com o texto que está sendo lido, sendo eles:
Acessar texto ou dados: este ícone informa ao leitor quando há células informativas que trazem mais conteúdo sobre a matéria acessada.
Exibir fotos: este ícone informa ao leitor quando a foto pode ser ampliada ou há, por exemplo, a existência de ensaios fotográficos complementares à matéria.
Exibir vídeo: este ícone informa ao leitor quando a matéria contém vídeos complementares ao assunto, em baixa resolução.
Exibir vídeo: este ícone informa ao leitor quando a matéria contém vídeos complementares ao assunto, em alta resolução.
Exibir mapa: este ícone informa ao leitor a existência de dados geográficos sobre o assunto em questão que podem ser acessados através de mapas.
Imprimir dados: comumente utilizado na seção de gastronomia, este ícone informa ao leitor a possibilidade de imprimir conteúdo das matérias, como receitas, por exemplo.
Tocar áudio ou locuções: este ícone informa ao leitor a existência de músicas ou efeitos sonoros, como locuções, complementares à matéria.
Com o avanço tecnológico durante o período em que circulou, símbolos
adicionais foram sendo acrescentados ao sistema iconográfico da revista, como
este: , simbolizando matérias que utilizavam conexões com a Internet, ou este:
, indicando uma ligação entre texto jornalístico e a estante virtual da revista.
Contudo, o sistema iconográfico não é a única forma de apresentação do conteúdo
hipertextual. Geralmente em células informativas menores, ou que necessitem de
uma conexão mais direta com o texto, os links são apresentados em palavras
sublinhadas, podendo direcionar para qualquer tipo de recurso unimídia.
86
Abaixo, vamos ilustrar os conceitos teóricos propostos por Mielniczuk
com os critérios usados para a aplicação da estratégia de observação desta
pesquisa:
Multimodalidade – No primeiro quadro, a matéria “Veja esta canção”, de
Arnaldo Jabor, permite ao leitor duas opções de vídeos e quatro células informativas
hipertextuais logo na “capa da matéria”. De forma semelhante, em nota sobre o
lançamento do disco “The Division Bell”, da banda Pink Floyd, a revista apresenta
duas faixas do álbum.
Figura 15 – Exemplos de recursos unimídia nas matérias da NEO Interativa.
87
Interatividade – Este conceito, como vimos, refere-se à possibilidade do
leitor sentir-se parte do processo jornalístico. Neste sentido, a NEO Interativa
ofereceu recursos satisfatórios. A seção “Cartas do leitor” integra recursos unimídia,
permitindo que os leitores enviem seus comentários por texto ou áudio, sendo
respondidos pelos editores-chefes da revista (segunda consta em seu expediente)
através de áudio. A revista oferecia ainda a seção NEO Link, disponibilizando
hiperlinks para um BBS53 próprio, estimulando a participação do leitor com a
redação.
53
Ver Capítulo 2: Os Computadores e a História da Internet.
88
Figura 16 – Exemplos de recursos interativos da revista NEO Interativa.
Hipertextualidade – Citado acima, este exemplo se encontra na edição
nº 4 da publicação. Na resenha de autoria de Isabela Boscov sobre o longa-
metragem “Frankestein”, dirigido por Kenneth Branagh em 1994, encontramos
presente na “capa da matéria” um ícone de livro, indicando que podemos ler o texto
clássico de Mary Shelley na íntegra acessando a estante virtual da NEO Interativa
(neste caso, o livro está em inglês). Durante a matéria, encontramos inúmeras
palavras sublinhadas, apresentando ligações hipertextuais com determinadas
passagem do texto e, mesmo dentro das células informativas, podemos observar
ainda mais hiperlinks que nos levam a mais informações.
89
Figura 17 – Ao clicarmos no ícone de livro encontrado na “capa da matéria”, somos automaticamente direcionados para o livro “Frankestein, or the modern Promotheus”, contido na estante virtual da revista com o texto na íntegra.
90
Figura 18 – Ao passarmos o cursor do mouse sobre as palavras sublinhadas, a revista automaticamente abre uma célula informativa, no exemplo, informações biográficas sobre Mary Shelley.
91
Figura 19 – Na célula informativa linkada ao nome do produtor de “Frankestein”, Francis Ford Coppola, encontramos o ícone “exibir vídeo”. Clicando nesse ícone, somos direcionados para um comentário em vídeo de Coppola, com cerca de 30 segundos, sobre a fidelidade desta nova versão cinematográfica de “Frankestein” em relação ao material de origem.
Memória – A partir da edição de numero 10, a NEO oferece um programa
intitulado “Guia da NEO”, permitindo ao leitor a possibilidade de procurar qualquer
matéria de qualquer edição precedente através do título e ou palavras-chave.
92
Figura 20 – Tela com o programa “Guia da NEO”, disponível a partir da décima edição da revista.
5.2. O Jornal Brasil 24/754
O jornal Brasil 24/7 foi lançado em 14 de março de 2011. À época,
motivou uma grande repercussão na mídia on-line por ser o primeiro jornal brasileiro
pensado exclusivamente para o iPad, o tablet da empresa americana Apple. Criado
pela Editora 247, dirigida pelos jornalistas Joaquim Castanheira e Leonardo Attuch55,
o Brasil 24/7 recebeu um investimento de 4 milhões de reais, previsto para ser
aplicado ao longo de 12 meses, segundo Attuch (G1, 14/03/2011). Em entrevista ao
portal G1, o jornalista complementava: “A primeira edição é publicada às 20h. Logo
pela manhã, às 6h, disponibilizamos uma versão atualizada. Porém, se houver
algum acontecimento importante durante o dia, o jornal pode receber uma edição
extra56” (G1, 14/03/2011). O jornal conta ainda com um website na Internet
(www.brasil247.com.br) que reproduz todo o conteúdo do periódico e acrescenta
novas notícias ao longo do dia. A publicação apresenta as editorias de Poder, Brasil,
Mundo, Cultura e Esportes, além de Portfólio (finanças pessoais), Agro, Mídia &
54
Embora em algumas citações apareça grafado como Brasil 247, o nome correto do jornal é Brasil 24/7. 55
Fonte: Jornalistas da Web – Disponível em: <http://www.jornalistasdaweb.com.br/index.php?pag=displayConteudo&idConteudo=4754> – Acesso em 20 de outubro de 2011. 56
Fonte: G1 – Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2011/03/primeiro-jornal-brasileiro-para-ipad-chega-com-duas-edicoes-diarias.html> – Acesso em 20 de outubro de 2011.
93
Tecnologia, Games & Aplicativos, Ecologia e Fotografia e aos finais de semana traz
a revista Oásis, que fala sobre saúde e qualidade de vida em geral.
Ainda em entrevista ao G1, Attuch afirma que a ideia de criação do
Brasil 24/7 surgiu após as primeiras notícias sobre a produção do jornal norte-
americano The Daily (lançado em 2 de fevereiro de 201157), o primeiro jornal
pensado exclusivamente para o iPad a nível global, do grupo de comunicação do
empresário australiano naturalizado norte-americano Rupert Murdoch.
A ideia de criar o “Brasil247” surgiu em dezembro de 2010, quando as
notícias sobre o The Daily – primeiro jornal exclusivo para iPad –
começaram a aparecer. “O The Daily nos inspirou a criar um periódico para
iPad no Brasil. Porém, não planejamos cobrar pelo conteúdo. Acredito que a
cultura da internet é de conteúdo livre e grátis”, explica Attuch. A assinatura
do The Daily tem custo de US$ 0,99 por semana ou US$ 40 por ano.
“Acreditamos no retorno por meio da receita publicitária”, completa. (G1,
14/03/2011).
Pouco tempo depois de ser lançado, o jornal Brasil 24/7 alcançou o
primeiro lugar em downloads gratuitos na App Store, loja de aplicativos do iPad.
57
Fonte: The Daily – Disponível em: <http://www.thedaily.com/about> – Acesso em 20 de outubro de 2011.
94
Além do ranking “Geral”, a publicação liderou também a categoria “News” da loja,
sendo o produto jornalístico de maior relevância daquele momento (G1,
17/03/201158). Segundo a redação do jornal:
247 – Com seis meses de vida, o Brasil 247, primeiro jornal brasileiro
desenvolvido para o iPad e outras plataformas digitais, e também o primeiro
no mundo com conteúdo totalmente gratuito, superou todas as metas que
havia traçado. Já são 2,7 milhões de visitantes únicos e 46 milhões de page
views/ mês. (Brasil 24/7, 01/10/201159
).
É importante ressaltar que antes do lançamento do Brasil 24/7 já existiam
outros produtos de informação na App Store brasileira, mas estes eram apenas
réplicas fieis dos jornais impressos. O diferencial do Brasil 24/7, portanto, foi ter sido
o primeiro jornal digital, isto é, criado e pensando exclusivamente para este novo
suporte midiático que começava a se popularizar com o lançamento do iPad.
Assim, na seção institucional de seu website, o jornal Brasil 24/7 traz
algumas informações que reafirmam este posicionamento de pioneirismo digital para
o iPad. Encontramos, também, outras afirmações que serão relevantes no
levantamento proposto neste estudo, sendo elas:
Primeiro jornal diário do Brasil desenvolvido para iPad e demais plataformas
digitais, incluindo outros tablets e internet.
Política editorial baseada na interatividade com os leitores, na pluralidade
de opiniões, na democracia do debate. Jornal com forte ação interativa com
as demais redes sociais, como Facebook, Twitter, entre outras. (Jornal
Brasil 24/7, Quem somos60
).
A publicação teve a versão lançada para o sistema operacional Android
no dia 30 de setembro de 2011, por isso, pode ser considerado como o primeiro
jornal digital para os tablets de uma forma geral, e não mais apenas para o iPad
(Brasil 24/7, 01/10/2011).
58
Fonte: G1 – Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2011/03/na-app-store-brasileira-jornal-brasil-247-e-lider-em-downloads-gratuitos.html> – Acesso em 20 de outubro de 2011. 59
Disponível em: <http://brasil247.com.br/pt/247/midiatech/17000/Como-ganhar-um-tablet-por-dia-at%C3%A9-o-Natal.htm> – Acesso em 20 de outubro de 2011. 60
Disponível em: <http://brasil247.com.br/pt/247/info/175/quem-somos.htm> – Acesso em 20 de outubro de 2011.
95
5.2.1. Como funciona o Jornal Brasil 24/761
Como vimos no Capítulo 2, os tablets atuais são computadores que
contam com interfaces baseadas em telas sensíveis ao toque. Assim, podemos
considerar que o manuseio de um tablet é extremamente intuitivo, porque suas
interfaces foram projetadas para atingir esse objetivo. Em uma lógica mcluhaniana,
os tablets são praticamente extensões de nossas mãos. Desta forma, ao abrirmos o
jornal Brasil 24/7 pela primeira vez, não há nenhum ícone que nos informe sobre
uma possível forma de como o utilizar.
Simplesmente começamos a manipulá-lo. De início, chama à atenção a
qualidade visual do jornal: se utilizando da alta resolução proporcionada pelo monitor
do tablet, o jornal Brasil 24/7 traz fotos e grafismos de excelente qualidade. Na capa,
contamos com as principais chamadas para as matérias internas.
Figura 21 – Capa da edição de 4/4 6h; alta qualidade visual e hiperlinks intratextuais (atalhos) que são os próprios textos.
Conforme dissemos, não há nenhum ícone ou hiperlink explicitado, mas
ao clicarmos sobre qualquer uma das chamadas, ou imagens, o jornal
automaticamente nos direciona para a página correspondente do assunto
61
A versão do aplicativo observada foi a 1.95, para o tablet iPad.
96
selecionado. Assim como na revista NEO Interativa, o jornal Brasil 24/7 conta com
uma espécie de navegador, que pode ser acionado clicando em qualquer ponto da
tela. Nele, encontramos as seguintes opções:
1) Nova edição: quando conectado à Internet, esta opção permite ao usuário
verificar a disponibilidade de novas edições do jornal. Todas as edições
selecionadas pelo usuário são arquivadas em uma “Biblioteca” própria na
memória do tablet.
2) Biblioteca: seção em que ficam armazenadas as edições do jornal
baixadas pelo usuário.
3) Capa: esta opção retorna para a capa da edição que está sendo lida.
4) Últimas notícias: nesta opção, o aplicativo abre uma nova janela de
visualização e apresenta notícias atualizadas 24 horas por dia pela
redação do jornal Brasil 24/7. Para lê-las, o usuário deverá clicar em um
hiperlink que o direcionará para o site do Brasil 24/7 na Internet.
5) Ajuda: esta opção apresenta infográficos explicativos sobre como
manipular o jornal.
6) Conteúdo: esta opção apresenta a capa dos cadernos da edição que está
sendo lida.
7) Compartilhamento: esta opção permite que o usuário compartilhe as
notícias que estão sendo lidas pelas redes sociais como Facebook e
Twitter.
8) Favoritos: esta opção permite que o usuário marque alguma matéria
como favorita, para fácil acesso posterior.
97
Figura 22 – Navegador do jornal aberto; ao fundo, biblioteca de armazenamento do leitor.
Com a opção de “Últimas notícias”, o jornal Brasil 24/7 segue uma lógica
bastante semelhante ao conceito de “Webjornalismo” visto no capítulo anterior.
Entretanto, as notícias postadas nesta opção se caracterizam mais como notas
informativas, enquanto que uma matéria mais completa é vista na edição digital do
periódico, com seus dois horários de publicação. Também estruturalmente, o jornal
Brasil 24/7 segue uma lógica de mimese de uma mídia impressa. As editorias são
chamadas de cadernos. Os cadernos são folheados da direita para a esquerda e,
entre alguns deles, existem anúncios interativos, uns com recursos unimídia, que
não podem ser desabilitados. As matérias são lidas com o percorrer dos dedos de
baixo para cima, como se estivéssemos lendo um jornal formato standard, cuja
diagramação permite um grande número de matérias em uma mesma página. A
diagramação dos textos confirma esta hipótese ao se apresentar sempre em tabelas
simétricas, tais quais em um jornal standart impresso.
98
Figura 23 – As capas de caderno são folheadas da direita para a esquerda, como um jornal impresso.
Cada caderno traz uma capa, apresentando chamadas para suas
matérias internas e hiperlinks intratextuais para todas elas. Em algumas edições,
percebemos alguns recursos unimídia na capa do caderno, estabelecendo uma
composição unimídia da chamada. Observamos que os hiperlinks do jornal Brasil
24/7 apenas acrescentam comodidade para o leitor indisposto a percorrer todo o seu
conteúdo, nunca visando um aprofundamento jornalístico. Nas edições observadas,
percebemos que a teoria do hipertexto é totalmente ignorada: não existem células
informativas ou links intertextuais. Para aprofundarmos a análise, abaixo vamos
apresentar as funcionalidades do jornal com a aplicação dos conceitos de
Mielniczuk:
Multimodalidade – Constatamos que o jornal apresenta recursos
unimídia em suas matérias, mas estes são poucos. Em uma reportagem sobre uma
exposição que celebra os 85 anos da falecida atriz Marilyn Monroe, a publicação
acrescenta um vídeo de boa qualidade para complementar a matéria. O recurso
descrito dura cerca de 8 minutos e meio. Em geral, a qualidade dos conteúdos
unimídia do Brasil 24/7 são de alta resolução (áudio, vídeo ou imagens),
incorporando boas informações correlacionadas ao texto jornalístico. Os recursos
99
unimídia observados funcionam com a tecnologia de streaming62, o que obriga que o
leitor esteja conectado à Internet para sua visualização.
Figura 24 – Conteúdo unimídia inserido a narrativa jornalística; alta qualidade de imagem.
62
Streaming é uma tecnologia "servidor/cliente" que permite que conteúdo ao vivo ou gravado seja transmitido em tempo real (broadcast), transformando a Internet, ou uma intranet corporativa, num novo veículo de mídia para áudio e vídeo como notícias, educação, treinamento, entretenimento, propaganda e vários outros usos. Fonte: Netpoint. Disponível em: <http://www.netpoint.com.br/ajuda/index.php?title=O_que_%C3%A9_Streaming> – Acesso em 22 de outubro de 2011.
100
Interatividade – Não há uma seção de cartas dos leitores, não há e-mail
dos jornalistas, sequer o jornal apresenta seu expediente. O mais próximo disso que
encontramos em nossas observações foi um curto texto de “Quem somos” e um
campo para envio de mensagens no website da publicação na Internet. Ou seja, não
há a divulgação de nenhum e-mail para contato com o jornal. A possibilidade de
compartilhamento das notícias pelas redes sociais funciona de maneira bastante
engessada: o aplicativo estabelece o link da notícia e abre um campo para o
comentário do leitor. Desta forma, parece funcionar mais como uma publicidade
social do jornal do que para um estímulo de pluralidades de opiniões.
101
Figura 25 – Resumo do texto institucional “Quem somos” e menu para compartilhamento da notícia em redes sociais
Hipertextualidade – Conforme dissemos anteriormente, a teoria do
hipertexto é totalmente ignorada no jornal Brasil 24/7. Nas edições observadas, não
encontramos nenhum link ou célula informativa que proporcionasse um
aprofundamento da narrativa jornalística. O jornal contém hiperlinks intratextuais,
mas estes apenas servem de “atalhos” para acessar a matéria desejada para leitura.
Em um artigo fora do caderno de Cultura, chegamos a averiguar o endereço para
um website inserido no meio do texto, mas não linkado.
Atualização – Esta é uma característica bastante evoluída em relação
à revista NEO Interativa. O jornal Brasil 24/7 conta com duas publicações, sendo
uma às 20h e a outra às 06h. Ainda assim, o periódico pode receber edições
especiais a qualquer momento do dia. Incorporando características do
“Webjornalismo”, o Brasil 24/7 conta com uma seção “Últimas notícias” que é
alimentada por seu website na Internet. Para acessá-la, o leitor deve abrir o
navegador do jornal, que automaticamente estabelece uma conexão com a rede
através de um navegador WWW.
102
Figura 26 – Ao clicar em “Últimas notícias”, o leitor tem acesso ao website do jornal, atualizado 24/7.
Memória – Em conjunto com a “Atualização”, esta é a característica em
que o jornal Brasil 24/7 mais se destaca. Em uma espécie de biblioteca virtual, o
leitor pode encontrar todas as edições já disponibilizadas da publicação. Entretanto,
notamos que nas edições mais antigas alguns recursos unimídia, funcionando sob o
sistema de streaming, deixaram de funcionar.
103
Figura 27 – Memória do jornal: todas as edições já lançadas até a data deste estudo estavam disponíveis para o leitor.
5.3. Estratégia analítica geral
Iniciamos este trabalho apresentando a metodologia do estudo de caso.
Esta escolha foi realizada porque, baseado na metodologia de Robert K. Yin, o
estudo de casos múltiplos engloba a teoria também como um procedimento
metodológico. Assim, os conceitos versados anteriormente foram utilizados como
base do formulário de observação aplicado nos objetos de análise propostos.
Estamos utilizando a metodologia do estudo de casos múltiplos para tecer
um trabalho comparativo entre duas publicações jornalísticas digitais brasileira: a
revista NEO Interativa e o jornal Brasil 24/7, separadas por uma janela de 17 anos.
Conforme vimos anteriormente, a NEO Interativa, de 1994, pode ser considerada
como a primeira tentativa de jornalismo 100% digital brasileira, enquanto que o jornal
Brasil 24/7, de 2011, é o primeiro jornal digital criado exclusivamente para o suporte
digital popularizado neste século XXI: os tablets. Desta forma, temos o objetivo de
averiguar as características tecnológicas de cada publicação e como estas foram
utilizadas para realizar o jornalismo digital. Assim, ao compararmos a revista NEO
Interativa e o jornal Brasil 24/7, podemos fazer uma reflexão inicial sobre como (ou
104
se) o avanço tecnológico tem transformado o jornalismo digital brasileiro e aberto
novas possibilidades para a prática jornalística.
Para possibilitar o estudo comparativo, utilizamos apenas as narrativas
jornalísticas da editoria de Cultura do jornal Brasil 24/7, uma vez que a revista NEO
Interativa é, basicamente, uma revista cultural.
O formulário de observação aplicado baseia-se, também, na tese de
doutorado da Dra. Luciana Mielniczuk, cujas teorias foram levantadas no Capítulo 4
deste estudo, que igualmente se fundamentou em estudos de caso. Assim,
resgatamos cinco características conceituais que foram aplicadas sob uma lógica de
replicação tanto para a revista NEO Interativa quanto para o jornal Brasil 24/7.
1) Multimodalidade
2) Interatividade
3) Hipertextualidade
4) Atualização
5) Memória
Dentre os conceitos teóricos, a característica da “Personalização” foi
descartada por não ser aplicada em nenhum dos objetos de análise propostos neste
estudo. Portanto, utilizamos os formulários de observação de Mielniczuk com
adequações para esta pesquisa. Os documentos se encontram em anexo.
É importante ressaltar que este trabalho não tem a pretensão de
realizar uma Análise do Discurso ou uma Análise do Conteúdo (embora alguns
desses elementos sejam comentados): não estamos investigando a qualidade
editorial das publicações, mas sim como estas se utilizaram da tecnologia para
praticar o jornalismo digital.
Durante o planejamento deste estudo de caso, conseguimos encontrar
quatro edições da revista NEO Interativa por meio de um site de leilões na Internet,
consideradas exemplares de colecionador. Assim, para este estudo, observamos as
edições de número 2; 3; 4 e 10 da NEO Interativa. Paralelamente, selecionamos
também quatro edições do jornal Brasil 24/7, escolhidas dentre um período de 3
meses (março, abril, maio), suficiente para que o periódico se consolidasse, assim
como a edição 10 da NEO reflete, como vimos, um amadurecimento da revista.
Desta forma, observamos as edições 14/3 20h; 4/4 6h; 9/4 6h; 4/5 20h. Os horários
refletem a publicação da edição.
105
5.4. Levantamento de dados
Conforme apontamos nas páginas anteriores, aplicamos o mesmo
relatório de observação para todas as unidades de análise desta pesquisa, sob uma
lógica de replicação. Este procedimento foi escolhido para que pudéssemos
observar, quantitativamente, as possibilidades tecnológicas que moldaram o
jornalismo digital em cada objeto observado neste estudo. Assim, realizamos a
ligação dos dados com os conceitos apresentados no capítulo anterior. Ressaltamos
que foram avaliadas todas as narrativas jornalísticas originais das publicações,
sejam elas matérias, notas ou colunas. Outra observação é que foram consideradas
como matérias unimídia apenas os exemplos que empregaram recursos além da
mera combinação texto + imagem classicamente utilizada no jornalismo impresso.
Seções institucionais como erratas, contato com o leitor, downloads de softwares ou
suplementos oriundos de outras publicações não foram consideradas para o levante
das narrativas jornalísticas de cada periódico. Dito isto, chegamos aos seguintes
resultados:
5.4.1. Interatividade
Revista NEO Interativa Edição 2 Edição 3 Edição 4 Edição 10
Oferece e-mail para contato com a
publicação?
Sim Sim Sim Sim
Oferece fórum de discussão? Sim Sim Sim Sim
Oferece chat? Não Não Não Não
Oferece enquete com resultados? Não Não Não Não
Existem cartas do leitor disponibilizadas? Sim Sim Sim Sim
As matérias oferecem e-mail do autor? Não Não Não Não
Jornal Brasil 24/7 Edição
14/3 20h
Edição
4/4 6h
Edição
9/4 6h
Edição
4/5 20h
Oferece e-mail para contato com a
publicação?
Não Não Não Não
106
Oferece fórum de discussão? Não Não Não Não
Oferece chat? Não Não Não Não
Oferece enquete com resultados? Não Não Não Não
Existem cartas do leitor disponibilizadas? Não Não Não Não
As matérias oferecem e-mail do autor? Não Não Não Não
Com os dados observados, constatamos que a revista NEO oferecia uma
quantidade satisfatória de recursos de interação para seus leitores. Mesmo
precedendo o lançamento da Internet, a NEO já apresentava links para um BBS
próprio, em que os leitores tinham a opção de enviar críticas e sugestões para a
publicação. Além disso, as cartas dos leitores publicadas eram todas respondidas
pelos editores-chefes (segundo consta em expediente) da revista através de áudio.
Nos dados levantados do jornal Brasil 24/7, observamos a inexistência de
recursos interativos disponibilizados para o leitor. Não há seção de cartas, não há
fórum de discussão, chat, enquetes, e-mails dos jornalistas ou um e-mail para
contato geral com a redação. Desta forma, o leitor do periódico não se sente parte
do processo jornalístico.
5.4.2. Hipertexto
Revista NEO Interativa Edição 2 Edição 3 Edição 4 Edição 10
Oferece matérias cuja narrativa
jornalística se utilize de recursos
hipertextuais?
Sim Sim Sim Sim
Quantas matérias se utilizam destes
recursos?
19 (100%) 18 (100%) 11 (100%) 11
(100%)
Oferece matérias cuja narrativa
jornalística se utilize de hiperlinks
intertextuais?
Sim Sim Sim Sim
Quantas matérias se utilizam deste
recurso?
1 (5,3%) 4 (22%) 5 (45%) 3 (27%)
Jornal Brasil 24/7 Edição
14/3 20h
Edição
4/4 6h
Edição
9/4 6h
Edição
4/5 20h
Oferece matérias cuja narrativa
jornalística se utilize de recursos
Não Não Não Não
107
hipertextuais?
A revista NEO Interativa é uma verdadeira hipermídia. Esta é a
constatação que podemos observar com os dados hipertextuais levantados nesta
pesquisa. Além de aplicar a teoria do hipertexto em todos os seus artigos, foi
possível constatar que a revista também dialogou com a intertextualidade,
agregando novas vozes ao discurso jornalístico. Mesmo sem a tecnologia da
Internet, com a seção “Estante NEO”, livros de ficção, de teorias ou até mesmo teses
de doutorado foram incorporados à revista e aos textos jornalísticos, enriquecendo-
os. Na edição 4, as matérias que disponibilizavam links para conteúdos intertextuais
chegaram a constituir 45% do conteúdo da revista. Com o advento da Internet, links
para sites também foram adicionados, inclusive para sites de outros produtos
jornalísticos. Na edição 10, por exemplo, encontramos um hiperlink intertextual que
nos remetia para o site da CNN.
Em contrapartida, o jornal Brasil 24/7 ignora totalmente a teoria do
hipertexto. Não foi encontrada nenhuma matéria que procurasse aprofundar o
discurso jornalístico com hiperlinks, fossem eles intertextuais ou intratextuais.
Observamos apenas hiperlinks intratextuais que basicamente servem ao propósito
de atalho para a leitura da matéria desejada.
5.4.3. Multimodalidade
Revista NEO Interativa Edição 2 Edição 3 Edição 4 Edição 10
Possuis recursos unimídia? Sim Sim Sim Sim
Quais recursos são utilizados? Animações
Desenhos
Ensaio
fotográfico
Som
Gráficos
Vídeos
Mapas
Tabelas
-
Animações
Desenhos
Ensaio
fotográfico
Som
Gráficos
Vídeos
Mapas
Tabelas
Simulações
Animações
Desenhos
Ensaio
fotográfico
Som
Gráficos
Vídeos
Mapas
Tabelas
-
Animações
Desenhos
Ensaio
fotográfico
Som
Gráficos
Vídeos
Mapas
Tabelas
-
Qual o total de matérias com
recursos unimídia?
19 (100%) 18 (100%) 11 (100%) 11 (100%)
108
Jornal Brasil 24/7 Edição
14/3 20h
Edição
4/4 6h
Edição
9/4 6h
Edição
4/5 20h
Possui recursos unimídia? Sim Não Sim Não
Quais recursos são utilizados? Vídeos
- Vídeos
-
Qual o total de matérias com
recursos unimídia?
1 (25%) - 1 (25%) -
A revista NEO Interativa foi um produto jornalístico totalmente hipertextual
e totalmente unimídia, não poupando recursos para enriquecer seus artigos.
Desenhos, animações, vídeos, mapas, tabelas e até mesmo uma simulação de
votação eletrônica são encontradas em suas páginas.
Com o jornal Brasil 24/7, também encontramos recursos unimídia,
contudo, estes não estão presentes em todas as edições observadas. Nas edições
de 14/3 e 9/4 (de fechamento de 20h e 6h, respectivamente), cerca de 25% do
conteúdo da editoria de Cultura apresenta vídeos diretamente relacionados ao
assunto jornalístico em questão. É importante ressaltar que os conteúdos unimídia
apresentados no periódico são de alta qualidade; os vídeos podem ser exibidos em
tela cheia se assim o leitor desejar.
5.4.4. Atualização
Revista NEO Interativa Edição 2 Edição 3 Edição 4 Edição 10
Este veículo é atualizado on-line? Não Não Não Não
Qual a frequência de atualização? - - - -
Jornal Brasil 24/7 Edição
14/3 20h
Edição
4/4 6h
Edição
9/4 6h
Edição
4/5 20h
Este veículo é atualizado on-line? Sim Sim Sim Sim
Qual a frequência de atualização? 24 horas 24 horas 24 horas 24 horas
Precedendo o lançamento da Internet comercial no País, a NEO não
contava com nenhuma forma de atualização. Neste caso, a atualização da revista só
poderia ocorrer com o lançamento de uma nova edição.
Em contrapartida, o jornal Brasil 24/7 apresenta uma atualização de
conteúdo 24 horas por dia. Normalmente, o periódico disponibiliza duas edições por
109
dia mais uma aba de “últimas notícias” atualizada constantemente. Contudo, quando
necessário, o jornal se utiliza de edições extras, que podem ser lançadas a qualquer
momento.
Esta é a principal evolução que podemos constatar da revista NEO
Interativa para o jornal Brasil 24/7: com a evolução da Internet, disponibilizar notícias
em tempo real se tornou uma característica do jornal Brasil 24/7 que, nos tempos da
revista NEO Interativa, era impossível de se realizar.
5.4.5. Arquivo
Revista NEO Interativa Edição 2 Edição 3 Edição 4 Edição 10
Existe um arquivo? Não Não Não Sim
O ano do arquivo coincide com a data de
fundação do jornal?
- - - Sim
O arquivo possui instrumento de busca? - - - Sim
O acesso ao arquivo é gratuito? - - - Sim
Jornal Brasil 24/7 Edição
14/3 20h
Edição
4/4 6h
Edição
9/4 6h
Edição
4/5 20h
Existe um arquivo? Sim Sim Sim Sim
O ano do arquivo coincide com a data de
fundação do jornal?
Sim Sim Sim Sim
O arquivo possui instrumento de busca? Sim Sim Sim Sim
O acesso ao arquivo é gratuito? Sim Sim Sim Sim
Na edição 10 de NEO Interativa, a publicação traz um programa chamado
“Guia da NEO”, permitindo ao leitor buscar qualquer matéria anterior da revista
através do nome ou de palavras-chaves. Isso era possível porque o software
analisava todas as revistas instaladas no computador, gerando uma espécie de
banco de dados de seus conteúdos.
O jornal Brasil 24/7 apresenta o arquivamento de todas as suas edições
lançadas até a data deste trabalho. Entretanto, percebemos que, em alguns
exemplares mais antigos, como a edição de 14/3 20h, por exemplo, alguns recursos
unimídia deixam de funcionar, apresentando uma mensagem de erro.
110
5.5. Considerações acerca dos dados levantados
Os dados observados nas páginas anteriores refletem um estudo
comparativo entre a revista NEO Interativa e o jornal Brasil 24/7. Para que esse
levantamento fosse possível, averiguamos apenas os textos jornalísticos da editoria
de Cultura do jornal Brasil 24/7, uma vez que a revista NEO Interativa é,
basicamente, uma publicação com ênfase em conteúdo cultural.
Esta pesquisa foi proposta com base na lógica de que estamos
comparando a primeira tentativa de jornalismo digital brasileira, realizada em 1994,
com o primeiro jornal brasileiro pensado exclusivamente para os tablets, suporte
facilitador de publicações editoriais e, por consequência, de novas experiências para
o jornalismo digital.
Assim, trabalhamos um referencial teórico com base na tese de
doutorado da Dra. Luciana Mielniczuk (sem deixar de incluir uma pluralidade de
autores), que identifica seis características específicas do “Webjornalismo”. Ao
levantarmos esta fundamentação teórica, averiguamos que ela também se aplica ao
presente estudo de caso, o que, portanto, permitiu que usássemos formulários de
observação baseados na proposta de Mielniczuk.
Desta forma, observamos cinco características neste estudo
comparativo e descartamos a atribuição de “Personalização” por esta não se aplicar
aos objetos propostos.
Com base nos dados levantados, observamos que pouco se avançou
desde que a revista NEO Interativa foi lançada, isto é, há 17 anos. No quesito
“Interação”, a revista apresentou uma quantidade satisfatória de comunicação com
os jornalistas e redação, mostrando uma preocupação em estabelecer uma via de
mão dupla entre emissor e receptor com o estímulo de sugestões, críticas e
interações por parte do leitor com a publicação. Em contrapartida, com o jornal Brasil
24/7 não foi observado nenhum canal de comunicação disponível para o leitor dentro
do aplicativo.
A teoria do hipertexto, apresentada no Capítulo 4, é utilizada em 100%
do conteúdo jornalístico da revista NEO Interativa. Constituindo-se através de
células informativas e hiperlinks inerentes ao texto, averiguamos uma preocupação
por parte da revista em disponibilizar uma maior quantidade de informação
correlacionada ao texto principal. Constatamos, também, um início de diálogo com
111
novos discursos para o jornalismo. Afirmamos isso ao observarmos que teses de
doutorado, livros de ficção, teóricos ou simplesmente textos de outros autores foram,
em alguns exemplos, incorporados às matérias jornalísticas da revista. No periódico
Brasil 24/7, a teoria do hipertexto é totalmente ignorada.
No quesito multimodalidade, mais uma vez a revista NEO Interativa se
destaca, aliando tais recursos em 100% de seu conteúdo, com vídeos, imagens,
animações, locuções, simulações etc. O jornal Brasil 24/7 também apresenta
recursos unimídia em seu conteúdo, mas em menor quantidade. Entretanto, com o
avanço tecnológico, os recursos disponibilizados pelo jornal Brasil 24/7 oferecem
alta resolução e tempos de duração bem maiores que aqueles vistos na revista NEO
Interativa. Neste caso, podemos afirmar que a evolução tecnológica proporcionou
recursos unimídia de maior qualidade para o jornalismo digital, embora estes sejam
empregados ainda de forma tímida. Nas edições observadas do periódico Brasil
24/7, tais recursos não superaram a barreira de modestos 25% de aplicabilidade ao
conteúdo.
Dizendo respeito à característica da “Atualização”, averiguamos que a
evolução tecnológica (neste caso, o surgimento da Internet) possibilitou uma
cobertura em tempo real pelo jornalismo digital. No jornal Brasil 24/7, além de duas
edições diárias, o periódico oferece um campo de “Últimas notícias”, atualizado
constantemente, e edições extras sempre que necessárias. No caso da revista NEO
Interativa, sua atualização seguia a lógica da mídia impressa, isto é, sendo renovada
apenas com o lançamento de uma nova edição.
Por fim, tanto a revista NEO Interativa quanto o jornal Brasil 24/7
apresentaram o arquivamento de suas edições. Com a Internet, o jornal Brasil 24/7
se sobressai neste quesito, constituindo um catálogo em formato de biblioteca desde
sua primeira edição, característica que só averiguamos na revista NEO a partir da
décima edição. Contudo, devido ao fato dos recursos unimídia serem executados
através da Internet no jornal Brasil 24/7, constatamos erros de visualização destes
em algumas edições antigas.
De forma geral, nenhum dos dados vistos anteriormente invalida o
pioneirismo de ambas as publicações: assim como a revista NEO Interativa é,
historicamente, a primeira tentativa de jornalismo digital brasileira, o jornal Brasil
24/7 também é primeira tentativa de jornalismo digital pensada exclusivamente para
esta mídia que tem se popularizado no século XXI: os tablets. Contudo, não
112
podemos ignorar que entre ambas as publicações existe uma janela de 17 anos de
avanços tecnológico, o que possibilita mais caminhos para este novo modo de fazer
jornalismo. Não é, entretanto, o que observamos nesta pesquisa. Com base nos
dados levantados, percebemos que a revista NEO Interativa é o objeto de estudo
que mais se aproxima do ideal teórico que levantamos, mesmo sendo um produto de
quase duas décadas atrás.
É necessário considerar, sim, que estamos tratando de uma publicação
outrora trimestral (posteriormente mensal) e de um periódico diário. Entretanto, será
que em 17 anos de avanços tecnológicos e com todas as facilidades de
comunicação condicionadas pela Internet, não haveria a possibilidade do jornal
Brasil 24/7 incorporar mais elementos interativos, hipertextuais e unimídia ao seu
conteúdo? Afinal, conforme vimos em retrospecto histórico, o jornal afirma ter como
objetivo uma “Política editorial baseada na interatividade com os leitores, na
pluralidade de opiniões, na democracia do debate”. Os números observados dizem o
contrário. Ainda que não atingisse 100%, assim como a revista NEO, o periódico
poderia, no mínimo, superar os resultados que apresentamos: 0% de interatividade;
0% de hipertextualidade e apenas 25% de conteúdo unimídia.
Consideramos, portanto, que a revista NEO Interativa foi uma primeira
tentativa de jornalismo digital muito bem realizada, enquanto que o jornal Brasil 24/7,
mesmo sucedendo a NEO com 17 anos de tecnologia, ainda tem bastante o que
aprender com a referência histórica.
113
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho foi desenvolvido com o intuito de estabelecer uma reflexão
inicial sobre como os avanços tecnológicos têm sido utilizados na tentativa de
complementar, renovar (ou aprofundar) a prática jornalística com o jornalismo digital.
Para possibilitar essa reflexão, levantamos as características tecnológicas de duas
publicações que foram pioneiras nesta modalidade de imprensa: a revista NEO
Interativa e o jornal Brasil 24/7.
Iniciando o desenvolvimento teórico deste estudo com um breve
retrospecto da história da Internet e de alguns contextos da Ciência da Computação,
averiguamos o surgimento de tecnologias hoje amplamente utilizadas como
instrumentos de comunicação. Verificamos, igualmente, em capítulo seguinte,
algumas reflexões teóricas sobre as implicações dessas tecnologias, retomando
também brevemente as teorias do ciberespaço e da cibercultura.
Posteriormente, trabalhamos com a teoria do jornalismo digital, baseando-
nos em autores de duas academias que mais têm produzido sobre o assunto: a
Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Com isto, observamos algumas divergências entre as teorias do
ciberespaço e as teorias do jornalismo digital. Em certo momento, por exemplo,
vimos que o filósofo francês Pierre Lévy chega a questionar a necessidade do
jornalismo, uma vez que propõe uma reinvenção da espécie humana com o conceito
da inteligência coletiva. Tais desacordos foram levados em consideração para as
reflexões iniciais que desenvolvemos com este trabalho.
Assim sendo, nos baseamos na tese da Dra. Luciana Mielniczuk para
levantarmos cinco características tecnológicas da revista NEO Interativa, lançada em
1994, e do jornal Brasil 24/7, lançado em 2011. Desta forma, observamos como a
tecnologia moldou as práticas jornalísticas das publicações, mediante um hiato de
17 anos entre uma e outra. Tais características observadas foram:
Multimodalidade
Interatividade
Hipertextualidade
Atualização
114
Memória
Com os dados obtidos, vistos no Capítulo 5 do presente trabalho, é
possível retomarmos as perguntas que fizemos ao descrevermos a metodologia
deste estudo:
Como a evolução da tecnologia moldou o fazer jornalístico no
jornalismo digital brasileiro?
Observando comparativamente o que mudou da revista NEO Interativa
para o jornal Brasil 24/7, consideramos que pouco evoluiu. Enquanto a NEO foi uma
primeira tentativa de jornalismo digital muito bem realizada, preocupando-se em
aplicar a teoria do hipertexto, intratextual e intertextual, e recursos unimídias às suas
narrativas jornalísticas, pouco se pode dizer do jornal Brasil 24/7 quanto a essas
mesmas questões.
Nestes 17 anos, houve uma evolução quanto às possibilidades
proporcionadas pela tecnologia no jornalismo digital brasileiro, de
fato?
Sim. Como vimos no Capítulo 2 desta pesquisa, de 1994 a 2011, a
Internet evoluiu, gerando novas ferramentas de compartilhamento social de
conteúdo. Ainda, o suporte do computador tablet, sobre o qual o jornal Brasil 24/7 é
editado, faz com que a tecnologia para o jornalismo digital seja mais mais intuitiva
para sua utilização. Entretanto, com os dados obtidos no levantamento realizado
neste trabalho, consideramos que, mesmo com todo o avanço tecnológico, este é
ainda mal explorado, na atualidade, com o jornal Brasil 24/7.
Em 17 anos, tecnologicamente falando, o que o jornal Brasil 24/7
evoluiu em relação à proposta da revista NEO Interativa?
Podemos considerar que a característica que mais evoluiu em relação à
revista NEO Interativa para o jornal Brasil 24/7 foi a “Atualização”. Com o advento da
Internet, houve a possibilidade de criar um jornal digital com fluxo contínuo de
informações, antes impossível na época em que NEO Interativa era editada. Outra
característica evoluída é a qualidade dos recursos unimídia encontrados no jornal
Brasil 24/7. Vídeos e fotos de alta resolução se tornaram a regra, deixando de serem
meras exceções.
115
A tecnologia tem permitido uma pluralidade de opiniões no
jornalismo?
Sim para a revista NEO Interativa. Não para o jornal Brasil 24/7. Com o
estudo de casos múltiplos realizado, constatamos que a revista NEO chegou a
dialogar, ainda que de forma bastante primitiva, com os hiperlinks intertextuais,
considerados uma grande possibilidade de ruptura da velha lógica meramente
unidirecional do jornalismo. Precedendo o lançamento comercial da Internet no País,
a seção “Estante NEO” trazia desde e-books a teses de doutorados relacionados à
narrativa jornalística.
No jornal Brasil 24/7, constatamos que a teoria do hipertexto é totalmente
ignorada. O periódico apenas disponibiliza a possibilidade de compartilhar notícias
através das redes sociais Twitter e Facebook, de forma bastante limitada, vale
ressaltar, o que caracteriza um avanço tecnológico, mas não um ganho jornalístico
digital.
Houve um aprofundamento da narrativa jornalística?
Mais uma vez, sim para a revista NEO Interativa. Em partes para o jornal
Brasil 24/7. Como dissemos, a revista NEO se preocupou em aprofundar seu
discurso jornalístico com a utilização da teoria do hipertexto e através de uma
grande variedade de recursos unimídia. No jornal Brasil 24/7, encontramos apenas
25% destes mesmos recursos e em apenas metade das edições observadas. Cabe
aqui, novamente, ressaltar que a revista NEO Interativa tratava-se de uma
publicação trimestral (posteriormente mensal) enquanto que o jornal Brasil 24/7 é um
jornal diário. Contudo, passados 17 anos após o lançamento da revista NEO
Interativa e, baseando-nos que o jornal afirma ter uma linha editorial pautada pela
pluralidade de opiniões e conteúdo interativo para os leitores, os resultados
apresentados são muito baixos, destoando das afirmativas do periódico.
Portanto, avaliamos que a revista NEO Interativa foi uma experiência de
jornalismo digital muito bem realizada, certamente “à frente de seu tempo”. Tal
característica concede para a publicação um lugar de destaque na história do
jornalismo digital brasileiro.
No caso do jornal Brasil 24/7, este certamente tem seu mérito por
desbravar o suporte popularizado no século XXI: os tablets. Contudo, fica a
116
impressão de que o periódico ainda tem bastante a evoluir se quiser realmente fazer
jus à sua política editorial e se destacar no âmbito do jornalismo digital.
Por fim, acrescentamos a seguinte reflexão: uma maior pluralidade de
vozes no jornalismo digital não seria, por exemplo, uma forma de rumarmos para o
desenvolvimento, ainda que embrionário, de uma inteligência coletiva?
Com o experimento da revista NEO Interativa, percebemos que é possível
evoluir o jornalismo praticado atualmente, tornando-o mais plural e menos
reducionista como um mero “informativo” unidirecional.
Utopia ou não, entendemos que, agora, o jornalismo digital não depende
de mais avanços tecnológicos para poder se desenvolver. Depende apenas de
imaginação.
117
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Airton Lorenzoni. A Interface Mídia e Escola nas Concepções
Pedagógicas de McLuhan. Revista Emancipação, nº 7, p. 63-93. Universidade
Estadual de Ponta Grossa: 2007.
ALVES-MAZOTTI, Alda Judith. Usos e Abusos do Estudo de Caso. Cadernos de
Pesquisa, v. 36, n. 129, p. 637-651, Setembro/Dezembro, 2006.
ALVES, Wedencley; JÚNIOR, Carlos Pernisa. Comunicação Digital: Jornalismo,
Narrativas, Estética. Rio de Janeiro: Mauad X, 2010.
ARAUJO, Márcio Roberto. A Internet no Jornalismo Impresso: um estudo de
caso da utilização da rede na redação do jornal Tribuna do Norte. Trabalho de
Conclusão de Curso em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da
Universidade Estadual de Londrina, 2007.
Baboo. Internet Explorer: ascenção e queda. 03/03/2010. Disponível em:
<http://www.baboo.com.br/conteudo/modelos/Internet-Explorer-ascensao-e-
queda_a38200_z0.aspx> - Acesso em 23 set 2011.
BARROS, Antonio; DUARTE, Jorge. Métodos e Técnicas de Pesquisa em
Comunicação. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 2009.
BARBOSA, Suzana; MIELNICZUK, Luciana; QUADROS, Cláudia Irene. Estudos
sobre Jornalismo Digital no Brasil. Artigo apresentado no IV Encontro da
SBPJOR, em Porto Alegre, de 5 a 7 de novembro de 2006.
CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet: reflexões sobre a internet, os
negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2003.
118
DALMONTE, Edson Fernando. Pensar o discurso no Webjornalismo: temporalidade,
paratexto e comunidades de experiência. Salvador: EDUFBA, 2009.
DELEFRATI, Jean Rafael Tardem. Os Desafios do Jornalismo Participativo On-
Line no Brasil. Trabalho de Conclusão de Curso em Comunicação Social –
Habilitação em Jornalismo da Universidade Estadual de Londrina, 2008.
DELICATO, Mônica Oréfice. Estudo de Caso dos Jornais Diário Digital e
Portugal Diário. Dissertação de Mestrado em Ciências da Comunicação.
Universidade Fernando Pessoa; 2008.
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Significado da palavra “NEO”. Disponível
em: <http://www.priberam.pt/dlpo/default.aspx?pal=NEO> - Acesso em 15 out 2011.
DUARTE, Márcia Yukiko Matsuuchi. Estudo de Caso. In: BARROS, Antonio;
DUARTE, Jorge. Métodos e Técnicas de Pesquisa em Comunicação. 2ª edição.
São Paulo: Atlas, 2009.
EXAME.COM. Zuckerberg: “Facebook não é necessário, nem suficiente” para
revolução. Paris: 25/05/2011. Disponível em: <
http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/o-facebook-nao-e-necessario-nem-
suficiente-para-fazer-revolucao-diz-zuckerberg> - Acesso em 23 out 2011.
FERNANDES, Fábio. Visões da Aldeia Global de McLuhan no Futuro Próximo;
Arthur C. Clarke e William Gibson. 02/05/2007. Disponível em: <
http://www.portaldomarketing.com.br/Artigos/Visoes_da_aldeia_global_de_McLuhan
_no_futuro_proximo.htm> Acesso em 29 out 2011.
FERRARI, Pollyana. Jornalismo Digital. 4ª edição. São Paulo: Contexto, 2010.
________, Pollyana (Org). Hipertexto, Hipermídia: as novas ferramentas da
comunicação digital. São Paulo: Contexto, 2007.
119
Folha de São Paulo. Entenda o que é a Web 2.0. São Paulo: 10/06/2006.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u20173.shtml>
- Acesso em 21 set 2011.
Folha On-line. Quem tem tablet não desgruda dele e lê mais notícias, diz
pesquisa. São Paulo: 25/10/2011. Disponível em: <
http://www1.folha.uol.com.br/tec/996388-quem-tem-tablet-nao-desgruda-dele-e-le-
mais-noticia-diz-pesquisa.shtml> - Acesso em 26 out 2011.
Futura 3. Projetos: Revista NEO Interativa. Disponível em:
<http://www.futura3.com.br/projetos.php?cd=52 > - Acesso em 15 out 2011.
G1. Na App Store brasileira, jornal “Brasil 247” é líder em downloads gratuitos.
São Paulo: 17/03/2011. Disponível em:
<http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2011/03/na-app-store-brasileira-jornal-brasil-
247-e-lider-em-downloads-gratuitos.html> - Acesso em 20 de outubro de 2011.
G1. Google apresenta versão do Android para tablets. 02/02/2001. Disponível
em: < http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2011/02/google-apresenta-versao-do-
android-para-tablets.html> - Acesso em 2 set 2011.
G1. Primeiro jornal brasileiro para iPad chega com duas edições diárias. São
Paulo: 15/03/2011. Disponível em:
<http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2011/03/primeiro-jornal-brasileiro-para-ipad-
chega-com-duas-edicoes-diarias.html> - Acesso em 20 de outubro de 2011.
HOELTZ, Mirela. Armazéns de Papel x Armazéns Digitais: a rede da NEO
Interativa. Artigo apresentado no XXV Congresso Brasileiro de Ciências da
Comunicação – INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da
Comunicação – Salvador/BA – 1 a 5 Set 2002
IBM Developer Works. Interview with Tim Berners-Lee. 28/07/2006. Disponível em:
< http://www.ibm.com/developerworks/podcast/dwi/cm-int082206.txt> - Acesso em
23 set 2011.
120
iG. Livro digital vende mais que o impresso pela primeira vez nos EUA. São
Paulo: 15/04/2011. Disponível em:
<http://economia.ig.com.br/empresas/comercioservicos/livro+digital+vende+mais+qu
e+impresso+pela+primeira+vez+nos+eua/n1300077836336.html> - Acesso em 26
out 2011.
Internet FAQ Archives. Origins and the History of Unix. Disponível em:
<http://www.faqs.org/docs/artu/ch02s01.html> - Acesso em 21 out 2011.
ISAACSON, Walter. Steve Jobs – A biografia. São Paulo: Companhia das Letras,
2011.
Jornal Brasil 24/7. Como ganhar um tablet por dia, até o Natal. 01/10/2011.
Disponível em: < http://brasil247.com.br/pt/247/midiatech/17000/Como-ganhar-um-
tablet-por-dia-at%C3%A9-o-Natal.htm> - Acesso em 20 out 2011.
Jornal Brasil 24/7. Quem Somos. Disponível em: <
http://brasil247.com.br/pt/247/info/175/quem-somos.htm> - Acesso em 2 nov 2011.
Jornal Brasil 24/7. São Paulo: Editora 247, 2011. iPad. Edição 14/3 20h
Jornal Brasil 24/7. São Paulo: Editora 247, 2011. iPad. Edição 4/4 6h
Jornal Brasil 24/7. São Paulo: Editora 247, 2011. iPad. Edição 9/4 6h
Jornal Brasil 24/7. São Paulo: Editora 247, 2011. iPad. Edição 4/5 20h
Jornalistas da Web. Brasil 247 nasce com foco nas plataformas digitais. Rio de
Janeiro: 15/03/2011. Disponível em:
<http://www.jornalistasdaweb.com.br/index.php?pag=displayConteudo&idConteudo=
4754> - Acesso em: 20 de outubro de 2011.
KUNCZIK, Michael. Conceitos de Jornalismo: norte e sul: Manual de
Comunicação. 2ª edição. São Paulo: EDUSP, 1997.
121
LÉVY, Pierre. A Inteligência Coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 5ª
edição. São Paulo: Loyola, 1998.
____, Pierre. Cibercultura. 7ª edição. São Paulo: Ed. 34, 1999.
____, Pierre. O que é Virtual? 1ª edição. São Paulo: Ed. 34, 1996.
MANZANO, Rodrigo. O Centenário de Marshall McLuhan. Meio e Mensagem, São
Paulo: 21/07/2011. Disponível em:
<http://www.meioemensagem.com.br/home/comunicacao/noticias/2011/07/21/20110
720-O-centenario-de-McLuhan.html> - Acesso em 2 set 2011.
MARKOFF, Jonh. Web 3.0. The New York Times: San Francisco, 12/11/2006.
Disponível em:
<http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2006/11/12/ult574u7112.jhtm> -
Acesso em 21 set 2011.
Massachusetts Institute of Technology. Inventor of the Week: James T. Russell.
Massachusetts. Disponível em: <http://web.mit.edu/invent/iow/russell.html> - Acesso
em 23 out 2011.
MCLUHAN, Marshall. Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem
(Understanding Media). 13ª edição. São Paulo: Ed. Cultrix, 1969.
MIELNICZUK, Luciana. Jornalismo na Web: uma contribuição para o estudo do
formato da notícia na escrita hipertextual. Tese de doutorado em Comunicação e
Culturas Contemporânea. Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2003.
MOROZOV, Evgeny. Entrevista concedida ao site PBS. 09/02/2011. Disponível
em: <http://www.pbs.org/wgbh/pages/frontline/revolution-in-cairo/interviews/evgeny-
morozov.html> - Acesso em 23 out 2011.
122
_________, Evgeny. The Net Delusion: the dark side of internet freedom. 1ª
edição. Nova York: PublicAffairs, 2011.
Nathan´s Technology. Windows 3.1 interface. Disponível em:
<http://toastytech.com/guis/win31.html> Acesso em: 23 out 2011.
NEGROPONTE, Nicholas. A Vida Digital. 2ª edição. São Paulo, Companhia das
Letras, 1995.
____________, Nicholas. Steve Jobs: Influence, Not Influenced. 05/10/2011.
Disponível em: < http://www.forbes.com/sites/velocity/2011/10/05/nicholas-
negroponte-steve-jobs-influence-not-influenced/> - Acesso em 21 out 2011.
NEO Interativa. São Paulo: Próxima Mídia Interativa, 1994. CD-ROM. 2.ed.
NEO Interativa. São Paulo: Próxima Mídia Interativa, 1994. CD-ROM. 3.ed.
NEO Interativa. São Paulo: Próxima Mídia Interativa, 1995. CD-ROM. 4.ed.
NEO Interativa. São Paulo: Próxima Mídia Interativa, 1996. CD-ROM. 10.ed.
Netpoint. O que é Streaming? Disponível em:
<http://www.netpoint.com.br/ajuda/index.php?title=O_que_%C3%A9_Streaming> -
Acesso em: 22 out 2011.
O' REILLY, Tim. What is Web 2.0. 30/09/2005. Disponível em:
<http://oreilly.com/web2/archive/what-is-web-20.html> - Acesso em 21 set 2011.
Pagi. O que é um Wiki?. Disponível em: < http://pagi.wikidot.com/what-is-a-wiki-
site> – Acesso em 21 set 2011.
QUADROS, Cláudia Irene de. Uma Breve Visão Histórica do Jornalismo On-line.
Trabalho apresentado no NP02 – Núcleo de Pesquisa Jornalismo, XXV Congresso
Anual em Ciência da Comunicação, Salvador/BA, 04 e 05. Setembro, 2002.
123
RIBEIRO, Maria Rosane. Glossário de Jornalismo. Disponível em: <
http://comunicacao-midia.blogspot.com/2011/09/glossario-de-jornalismo.html> –
Acesso em 21 nov 2011.
TANENBAUM Andrew S.; WOODHULL Albert, Sistemas Operacionais: projeto e
implementação. Rio de Janeiro: Quartet, 2000.
Terra Tecnologia. Anos 00: empresas virtuais, Nasdaq e a Bolha. Disponível em:
<http://tecnologia.terra.com.br/internet10anos/interna/0,,OI542324-EI5026,00.html> -
Acesso em 21 set 2011.
The Economist. #Occupytheweb – Democracy in America. Nova York:
11/10/2011. Disponível em: <
http://www.economist.com/blogs/democracyinamerica/2011/10/social-media-and-
wall-street-protests> - Acesso em 23 out 2011.
The Daily. About The Daily. Disponível em: <http://www.thedaily.com/about> -
Acesso em: 20 out 2011.
TRIVINHO, Eugênio. O mal-estar da teoria: a condição da crítica na sociedade.
Rio de Janeiro: Quartet, 2001.
UOL Informática – Biografia de Alan Turing – Disponível em:
<http://informatica.hsw.uol.com.br/alan-turing.htm> Acesso em 29 set 2011.
VIEIRA, Eduardo. Os Bastidores da Internet no Brasil: As histórias de sucesso e
de fracasso que marcaram a Web brasileira. 1ª edição. Barueri: Ed. Manole, 2003.
VENTURA, Magda Maria. O Estudo de Caso como Modalidade de Pesquisa. In:
Revista SOCERJ, v. 20, p. 383-386, Setembro/Outubro, 2007.
VILCHES, Lorenzo. A Migração Digital. São Paulo: Loyola, 2003.
124
YIN, Robert K. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. 3ª edição. Porto Alegre:
Bookman, 2005.
125
GLOSSÁRIO DE JORNALISMO
A
Abrir Foto – Ampliar o tamanho da foto na página. Este artifício é usado para
valorizar uma foto de qualidade ou cobrir espaço quando o texto é pequeno.
Articulista - Pessoa que escreve artigos para jornais e revistas.
Artigo – Texto opinativo assinado. De responsabilidade exclusiva do autor, pode
expressar opiniões diferentes das emitidas pela publicação.
Aspas – Declaração inserida em uma matéria. Atenção: a expressão: Preciso de
umas aspas refere-se à necessidade de se inserir um personagem no texto.
B
Baixar – Mandar uma página para as oficinas do jornal. Aí termina o trabalho
editorial e começa a parte industrial do processo.
Bigode - Fio de um ponto tipográfico que serve para marcar uma separação visual
entre textos e/ou ilustrações. Sua característica é não ocupar toda a medida do
material que ele separa. É centralizado nela de forma a deixar margens brancas de
igual extensão nos dois lados.
Barriga – Matéria com informações falsas ou erradas.
Box – Recurso editorial que se reveste de forma gráfica própria. Um texto que
aparece na página entre fios, sempre em associação íntima com outro texto, mais
longo. Pode ser uma biografia, um diálogo, uma nota da redação, um comentário,
um aspecto pitoresco da notícia.
"Briefing" - Significa informe. Em jornalismo, pode ser usado em dois sentidos:
instruções sobre a execução de uma tarefa ou resumo de informações sobre
qualquer evento que uma fonte dá aos jornalistas, quase sempre oralmente.
C
126
Cabeça – Marca no alto da página usada para definir a Editoria responsável pelo
trabalho. Em alguns jornais, como no Correio Braziliense, é usada para definir o
tema da página.
Cabeçalho – Informações gerais e obrigatórias sobre a publicação. Inclui número da
página, título e data da publicação.
Caderno – Conjunto impresso formado por no mínimo quatro páginas. Veja também
suplemento e macarrão.
Calhau – Anúncio do próprio jornal usado para cobrir espaço não utilizado na
página. O calhau é muito usado para substituir anúncios que „caíram‟, quase nunca
para substituir matérias.
Cartola – O mesmo que retranca ou chapéu. Uma ou mais palavras usadas para
definir o assunto da matéria. É usada sobre o título do texto.
Chamada – Pequeno texto usado na primeira página para chamar a atenção do
leitor para determinado material.
Chapa – Material metálico como matriz usado para imprimir o jornal. É coberto por
uma película fotossensível queimada com a ajuda de um fotolito, revelada e
instalada nas rotativas. Sobre ela se aplica tinta para a impressão. Usa-se uma
chapa para cada uma das cores básica – Cyan, Magenta, Amarelo e Preto.
Chapéu – É uma palavra, nome ou expressão, sempre sublinhada, usada acima do
título e em corpo pequeno, para caracterizar o assunto ou personagem da notícia.
Chefe de reportagem - Profissional que coordena os repórteres, determinando o
que estes devem fazer. Nos organogramas das redações esse cargo vem sendo
substituído pelo editor-assistente, que é responsável pela produção das
reportagens.Clichê – O mesmo que edição. Termo herdado dos primórdios do
jornalismo. Para cada página de jornal era usado um clichê, um suporte metálico
onde eram dispostos os tipos metálicos manualmente, formando frases e colunas.
Antes da difusão do rádio e da televisão, os jornais tiravam várias edições
atualizando o material publicado. Hoje, costuma-se fazer um segundo ou terceiro
clichê para atualizar matérias importantes depois do horário de fechamento do
jornal.
127
Clipping - Serviço de levantamento, coleção e fornecimento de recortes de jornais e
revistas ou cópias de emissões de televisão ou rádio. O clipping pode ser restrito
aos interesses imediatos da empresa ou mais amplo. Em geral, é feito por empresas
especializadas.
Cobertura - Atividade do repórter ou equipe de reportagem no local de um
acontecimento.
Coluna - Seção de jornal ou revista, assinada ou não, tratando de temas ligados à
editoria ou seção. Podemos encontrar colunas nas seções ou editoriais de política,
economia, artes, agricultura, esportes, etc. Muitas vezes, uma nota numa coluna de
prestígio repercute mais do que uma reportagem no mesmo veículo.
Colunista - O responsável pela coluna.
Copydesk ou copidesque – Termo importado dos Estados Unidos por Pompeu de
Souza durante a reforma do Diário Carioca. Na época poucos repórteres escreviam
a matéria. Eles chegavam e ditavam o texto para o editor. Pompeu obrigou-os a
escrever. Para transformar o texto incompreensível dos repórteres em algo legível
existia uma Mesa de Textos (Copy Desk em inglês) com os melhores redatores do
Diário Carioca. O termo incorporou-se à linguagem jornalística como sinônimo de
redator. E já não existe quase mais. O repórter hoje e quem revisa seus textos...
Copyright - São os direitos reservados ao autor de uma obra ou a quem comprou os
direitos do autor. As fotos também têm seus direitos reservados.
Crédito – Assinatura usada em foto ou para marcar material produzido por agência
ou outra publicação.
Crônica - Não há compromisso necessariamente com temas da atualidade, como os
artigos de opinião; o estilo é geralmente livre (literário) e isento de regras de estilo
jornalístico, o tema é de livre escolha do autor, que assina sua produção.
Cruzar informação - Significa confrontar informação originária de determinada fonte
com uma fonte independente. Assim, cruzar com uma fonte significa possuir duas
origens para uma informação. Cruzar com duas fontes, três. Qualquer informação de
cuja veracidade não se tenha certeza deve ser cruzada.
128
D
Deadline – Último prazo para que uma edição seja fechada ou que uma reportagem
seja concluída. Declaração – Texto ou opinião oficial expressa verbalmente por
entrevistado.
Dedo-duro – Referência colocada em uma matéria para remetê-la para outro
assunto em página diversa. Também conhecida como Leia mais.
Derrubar a reportagem - Termo usado para expressar que uma reportagem não vai
ser publicada. Geralmente ocorre quando o repórter percebe que não vai conseguir
apurar as informações, quando uma entrevista é cancelada ou ainda quando o editor
desiste de abordar o assunto, ou quando entra um anúncio.
Diagramação – Adequação dos textos, desenhos, gráficos e fotos numa página, de
acordo com os padrões visuais da publicação.
E
Editar - Preparar matéria para ser impressa ou emitida, nos padrões do
veículo.Editor – É o jornalista que chefia um grupo de jornalistas que compõem uma
Editoria .
Editor-chefe - É o jornalista que chefia a Redação do jornal.
Editoria – Seção especializada em determinado setor (esporte, polícia, arte, meio
ambiente etc.)
Editorial – Texto com a opinião da publicação. Não vem assinado e geralmente,
localiza-se diariamente na 2ª ou 3ª página do jornal.
Enquete – Pequenas entrevistas para levantar a opinião da comunidade.
Enxugar - Resumir um texto. Cada vez mais as publicações exigem que os textos
sejam mais concisos, que não desencoraje a leitura. Às vezes também é preciso
enxugar para caber na página diagramada.
Espelho - É a previsão do que vai ser publicado em uma página com a inclusão dos
anúncios. Não confundir com diagrama. O espelho é feito pelo departamento
comercial da editora conforme a previsão do número de páginas pela redação.
129
Estouro - Ocorre quando um texto é maior que o espaço reservado. O editor
normalmente suprime dos textos as últimas linhas ou últimos parágrafos quando
ocorre um estouro.
Expediente – Quadro com os dados gerais da publicação. Consta obrigatoriamente
a relação de diretores e editores-chefes e endereços.
F
Fato - Entre um fato e uma declaração prefira o primeiro. Descrever um fato com
correção e inteligência exige sensibilidade, informação sobre o assunto e
conhecimento do idioma. Veja exatidão; importância da notícia; notícia.
Feature – Gênero jornalístico que vai além do caráter factual e imediato da notícia.
Opõe-se a "hard news", que é o relato objetivo de fatos relevantes para a vida
política, econômica e cotidiana. Um "feature" aprofunda o assunto e busca uma
dimensão mais atemporal. Define-se pela forma, não pelo assunto tratado. Pode ser
um perfil, uma história de interesse humano, uma entrevista.
Fechamento – Etapa do processo de edição em que os trabalhos são encerrados.
Depois do fechamento não há mais revisão do texto e a edição é enviada para a
gráfica.
Fio – Linha usada para dividir textos ou matérias. Também usada para realçar fotos.
Foca – Jornalista iniciante.
Follow- up - Lembrete ou reforço de pauta, por telefone ou contato pessoal.
Fonte – Pessoa que dá origem a uma informação ao veículo, por iniciativa própria
ou por solicitação do jornalista.
Fotografia - Recurso essencial do jornalismo contemporâNEO. Uma boa foto pode
ser mais expressiva e memorável que uma excelente reportagem. No jornalismo, o
valor informativo é mais importante que a qualidade técnica de uma foto. São
qualidades essenciais do fotojornalismo o ineditismo, o impacto, a originalidade e a
plasticidade.
130
Foto-jornalismo - A fotografia jornalística fixa um acontecimento e as suas
impressões. O fotógrafo é o relator, o documentador visual entre a notícia e o
público. A imagem nesse caso é o certificado de presença é a prova ao leitor que o
jornal estava presente na notícia.
Foto-legenda – Pequena matéria, de no máximo 20 linhas, usada para explicar ou
destacar foto.
Fotolito – Filme gráfico negativo usado para queimar a chapa.
Furo – Matéria jornalística exclusiva de grande repercussão.
G
Ganhar na foto – Diminuir a foto na altura ou largura de maneira a ganhar mais
texto. O corte não é proporcional.Gancho - Pretexto que gera a oportunidade de um
trabalho jornalístico. Quanto mais pretextos há para a produção de uma investigação
jornalística mais oportuna ela é. Quanto mais “ganchos” estiverem por trás de uma
edição mais “quente” ela é. Um fato que se ligue, que dê margem a outro, que sirva
de ponte, de gancho, enfim, para a notícia ...
I
Iceberg - Texto que começa na primeira página e prossegue em páginas internas.
Ilustração - Desenho ou composição gráfica feita à mão para ilustrar determinadas
notícias, crônicas ou charges, na ausência de fotografias.
Indicadores – Lista de dados do mercado financeiro em forma de tabela.
Intertítulo - Pequenos títulos colocados no meio do texto. Esse artifício é usado
para tornar o texto menos denso. Há publicações que preferem destacar frases
retiradas do texto para colocar nos intertítulos.
Infográfico – Artifício gráfico que envolve imagem e pequenas informações de texto
que se complementam.
131
Informe publicitário - Anúncio pago com aspecto jornalístico ou reprodução paga
de artigo ou reportagem.
J
Jabaculê ou jabá - Dinheiro ou presente ao jornalista.
Janela - É quando se coloca uma foto menor dentro de uma foto maior para
destacar detalhes. Um exemplo é quando se coloca uma grande foto de um incêndio
e no detalhe (janela) aparece uma foto do aparelho que causou o incêndio. Esse
recurso está em desuso nas publicações modernas.Jornalismo analítico/opinativo -
Os fatos contemporâNEOs cada vez mais exigem a análise do noticiário. A análise
dá ao leitor a oportunidade de se aprofundar nos eventos, questões ou tendências. A
análise do noticiário não deve ser confundida com a opinião ou o comentário, que
devem estar circunscritos às colunas e aos artigos.
Jornalismo crítico - O jornal não existe para adoçar a realidade, mas para mostrá-
la de um ponto de vista crítico. Mesmo sem opinar, sempre é possível noticiar de
forma crítica. Compare fatos, estabeleça analogias, identifique atitudes contraditórias
e veicule diferentes versões sobre o mesmo acontecimento.
Jornalismo de serviço - Explora temas que tenham utilidade concreta e imediata
para a vida do leitor. O jornalismo de serviço torna o jornal um artigo de primeira
necessidade e garante seu lugar no mercado.
Jornalismo especializado - A função do jornal impresso mudou com o crescimento
dos meios eletrônicos de comunicação (rádio, TV). O leitor busca no jornal impresso,
abordagens mais profundas e informações mais sofisticadas, o que requer do
jornalista domínio cada vez maior dos assuntos sobre os quais escreve. Só assim o
jornalista pode tornar a informação técnica acessível ao leitor comum.
L
Lead ou Lide – Abertura de matéria tradicional. Precisa responder às seguintes
perguntas: Quem, quando, onde, porque e de que maneira.
132
Legenda – Linha de texto colocada sob a foto. Artifício adicional para destacar o
tema da matéria.
Lidão – Texto de até 60 linhas usado em reportagens para coordenar matérias
diversas sobre um mesmo tema.
Linha de tempo – Dados dispostos em ordem cronológica com fotos e ilustrações.
Podem ser colocados na página vertical ou horizontalmente.
Logotipo - É o nome do jornal com as letras em corpo, forma e desenho escolhido
pela empresa jornalística.
M
Macarrão – Palavra usada para designar uma folha solta de papel-jornal, em
tamanho padrão, inserida entre as páginas de uma edição. O “macarrão” pode ser
previamente programado pelo setor industrial do jornal como pode também ser
utilizado para aumentar ou diminuir o número de páginas de uma edição.
Mailing - Listagem de nomes e endereços.
Manchete - É o título principal que indica a notícia mais importante do jornal. Existe
a manchete principal do jornal (na primeira página) assim como a manchete de cada
caderno, seção ou página. Onde encontrar: a manchete é sempre aquela que vier
graficamente com maior destaque, ou que tiver letras mais carregadas na tinta.
Matéria – Texto preparado jornalisticamente.
Matéria de gaveta - Aquela matéria que espera a ocasião oportuna para ser
publicada.
Matéria Fria – Matéria que independe de sua atualidade para ser publicada.
Memória - Texto preparado jornalisticamente lembrando antecedentes do fato.
Mídia eletrônica - Rádio, TV e Internet.
Mídia impressa - Jornal e revista.
N
133
Nariz-de-cera - Introdução vaga, sem necessidade, de uma matéria.Normas de
redação – Conjunto de regras usadas para padronizar a produção de textos, títulos e
legendas.
Notícia - Registro dos fatos, de informações de interesse jornalístico, sem
comentários. Fatores objetivos determinam a publicação de uma notícia: o caráter
inédito; o impacto que exerce sobre as pessoas e sobre sua vida; a curiosidade que
desperta; a imprevisibilidade e improbalidade do fato.
Nota oficial – Documento impresso com a opinião de uma determinada fonte.
Nota ou balaio – Texto curto usado em colunas. Pequeno texto referente a um
assunto que irá acontecer e responde a três questões básicas para compreensão:
que, quem, quando.
Numeralha – Box que destaca dados numéricos em uma matéria determinada.
O
Off – Declaração dada sob compromisso de não revelar a fonte.
Olho – Frase destacada sob o título ou no conjunto da página.
On – Declaração sem impedimento de revelar a fonte.
P
Pauta - É uma ordem de serviço transmitida pelos chefes de reportagem. A pauta
normalmente indica a pessoa que deve ser entrevistada, local, horário e até mesmo
o tamanho da reportagem que deve ser produzida. A pauta também deve indicar os
temas principais que devem ser abordados no texto.Nos jornais, a pauta é feita
através de reuniões de pauta, onde editor, redator-chefe e repórter sugerem pautas
para que matérias sejam produzidas.
Pauta furada – Informação falsa.
134
Pé da matéria - É o final do texto. Todo repórter deve ter em mente que se o texto
for reduzido, as últimas linhas serão eliminadas.Cortar pelo pé significa retirar os
últimos parágrafos sem se preocupar com a qualidade da informação contida no
texto.
Perguntas e respostas – Matéria disposta sob a forma de um questionário. Serve
para explicar aspectos do tema.
Perna – Sinônimo de coluna. “Descer em duas pernas”, matéria em duas colunas.
Personagem – Texto para mostrar quem é o ator principal da matéria.
Pescoção – Trabalhar durante a noite e a madrugada para antecipar material de fim
de semana.
Pingue – pongue – Matéria em forma de perguntas e respostas.
Plantar - Publicar informação com outro objetivo que não de informar. Geralmente
atende a lobby ou a interesses pessoais.
Povo Fala – Enquete com populares sobre determinado assunto (veja enquete)
Press release - Informação preparada pela assessoria de imprensa e encaminhada
aos veículos.
Propaganda - Todo jornal sobrevive graças à propaganda. Inerente aos diferentes
cadernos do jornal ou em encartes, ilustrada ou fotografada, ela também constitui
um elemento de leitura do nosso cotidiano imprescindível para o leitor se localizar e
informar a respeito das ofertas do mercado.
Projeto Gráfico – Padronização usada pela publicação para dispor uniformemente
matérias, fotografias e adereços gráficos.
Q
Quadro – Box para explicar determinada informação da matéria
R
135
Rafe - Aportuguesamento da palavra inglesa rough. É o "boneco" de um projeto
gráfico.
Reco - Matéria recomendada pelos superiores.
Redator – Jornalista especializado em rever o texto do repórter e em preparar títulos
e legendas. Na nova concepção de jornalismo, o profissional não se especializa
mais em uma determinada área da produção de texto e edição.
Release – Matéria preparada por assessoria de Imprensa.
Repercutir – Prosseguir num assunto do próprio jornal ou de outro. Veja suíte.
Reportagem – Matéria com grande centimetragem, cobrindo integralmente
determinado assunto.
Retranca – Palavra que identifica um texto. "Samba" pode ser uma retranca que
identifica um texto sobre as escolas de samba. O ideal é que a retranca tenha uma
só palavra.
S
Seção – Sinônimo de editoria ou coluna de opinião ou nota.
Selo – Recurso gráfico que marca uma reportagem uma série de reportagens. É
muito comum seu uso em série de reportagens. Normalmente é composto por uma
pequena expressão e um desenho que se repete. Por exemplo: "Crise no INSS"
pode ser acompanhado de um desenho de uma maca. Todo texto que se refira ao
assunto é acompanhado desse selo.
Serviço – Pequeno texto usado no pé da matéria contendo endereço, página web
ou telefone de algo citado na matéria.
Side - Termo usado para designar um outro lado da reportagem. São assuntos
paralelos que se publicam nos sides. Um texto sobre um jogo de futebol pode trazer
um side com o jogador que teve o melhor desempenho na partida.Standard -
Tamanho padrão dos jornais. Mede 54 x 33,5 cm. O único caso no Brasil de jornal
136
que conseguiu sucesso sem ser standard é o Zero Hora, de Porto Alegre, publicado
em tamanho tablóide. O tamanho tablóide é a metade do standard.
Stand by - Textos que podem ser publicados em qualquer época. Também são
conhecidos como textos de "gaveta". Um texto que mostre os planos da empresa
IBM para o Brasil, por exemplo, pode ser publicado em qualquer época (claro que
sem exagero. Esse texto não pode ser publicado um ano depois de ser escrito, mas
pode muito bem ser publicado duas semanas depois de ter sido escrito).
Sub – Matéria coordenada com a principal da página; título informal usado pelo sub-
editor.
Sub-lead – Parágrafo colado ao lead da matéria.
Suíte - Do francês suite, isto é, série, sequência. Em jornalismo, designa a
reportagem que explora os desdobramentos de um fato que foi notícia na edição
anterior.Também se usa o verbo suitar no sentido de repercutir.
Suplemento – Caderno adicional ao material principal do jornal.
Sutiã – Pequena linha de texto usada sobre ou logo abaixo do título para destacar
informações da matéria. Ver linha fina.
T
Tabela – Gráficos numéricos dispostos ordenadamente.
Tablóide – Formato de jornal igual à metade da página do jornal standard.
Template – Modelo de página, dentro do projeto gráfico, que servepara iniciar o
processo de diagramação.
Texto final - É o que vai ser publicado. Com a extinção do cargo do copidesque nos
jornais, todo repórter deve ter um texto final. O que ele escreve é o que vai ser
publicado.
Tijolinho – Informação contida em roteiros.
137
Título – Frase usada no alto da matéria para chamar a atenção do leitor (veja
manchete).
Toques – Número limite de letras, espaços em branco e sinais ortográficos capazes
de caber numa linha de título, legenda, sutiã ou olho.
Tripa – Coluna imprensada por anúncio ou anúncios de grande tamanho.
Trocar figurinha – Trocar informações com colegas do próprio jornal ou de jornais
concorrentes.
V
Vazado – Texto claro colocado sobre fundo escuro.
Vazamento - Informação que escapa ao controle da fonte responsável pelo seu
sigilo e chega aos meios de comunicação. Às vezes, é do interesse da fonte "vazar"
a informação.
Vender a pauta – Sugerir determinado tema ao editor.
Video-release - Release em fita para a tevê.
138
APÊNDICE
FORMULÁRIO DE OBSERVAÇÃO
(protocolo do estudo de caso)
IDENTIFICAÇÃO DO VEÍCULO
1) Nome do jornal: ____________________________________________________
2) Categoria de circulação: __________________________________________
3) Empresa proprietária do jornal: _____________________________________
4) Edição observada: _______________________________________________
5) Quantidade de páginas:___________________________________________
6) Quantidade total de matérias:_______________________________________
INTERATIVIDADE
01. Existe um e-mail geral ou alguma forma de contato com o jornal?
a) Sim
b) Não
02. Existe uma lista de e-mail dos jornalistas?
a) Sim
b) Não
03. Artigos disponibilizam link para e-mail do autor?
a) Sim
b) Não
04. Existem fóruns de discussão?
a) Sim
b) Não
05. Oferece chat?
a) Sim
b) Não
06. Existem enquetes com resultados disponibilizados posteriormente?
a) Sim
b) Não
07. Existem cartas ao editor disponibilizadas?
a) Sim
139
b) Não
MULTIMIDIALIDADE
08. Possui recursos unimídia?
a) Sim
b) Não
09. Quais recursos são utilizados ______________________________
10. Qual o total de matérias com recursos unimídia? ____________________
HIPERTEXTUALIDADE
11. Oferece matérias cuja narrativa jornalística se utilize de recursos
hipertextuais?
a) Sim
b) Não
12. Em resposta afirmativa, quantas matérias se utilizam de recursos
hipertextuais? ___________________________________________________
13. Oferece matérias cuja narrativa jornalística se utilize de hiperlinks
intertextuais?
a) Sim
b) Não
14. Em caso de resposta afirmativa, quantas matérias se utilizam de hiperlinks
intertextuais? ____________________________________________________
ATUALIZAÇÃO
15. Este veículo é atualizado on-line?
a) Sim
b) Não
16. Qual a frequência de atualização? __________________________________
MEMÓRIA
17. Existe um arquivo?
140
a) Sim
b) Não
18. O ano do arquivo coincide com a data de fundação do jornal?
a) Sim
b) Não
19. O arquivo possui instrumento de busca?
a) Sim
b) Não
20. O acesso ao arquivo é gratuito?
a) Sim
b) Não