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1 NELSON RODRIGUES E OS ENTRELAÇAMENTOS NA CULTURA LETRADA 1 Edson Rodrigues de Souza 2 Resumo: O jornal se consolida no Brasil na passagem do século XIX para o XX, sendo que, na década de 1940, configura-se como o grande meio de comunicação do país, atraindo nomes que se transformaram em referências nacionais em áreas como política, ciências, artes, literatura e, é claro, jornalismo. Dentre os destaques, Nelson Rodrigues e sua obra são escolhidos para ilustrar a relação de complementariedade entre jornal, jornalismo e literatura no Brasil. Escritor profícuo, na década de 1940 tinha concluído cinco das 17 peças que compõem sua dramaturgia, inclusive aquela que é considerada marco do teatro brasileiro moderno, Vestido de noiva (1943). Também nessa década escreve cinco folhetins, todos encartados em jornais: Meu destino é pecar (1944), Escravas do amor (1944), Minha vida (1946), Núpcias de fogo (1948) e A mulher que amou demais (1949). Conclui-se que o jornal foi, até o final do século XX, o mais popular produto da tipografia e maior responsável pelo acesso à literatura por parte da massa de leitores que se formava, em especial no Brasil da década de 1940. Palavras-chave: Jornalismo. Literatura. Brasil. Década de 1940. Nelson Rodrigues. No Brasil, jornalismo e literatura apresentam pontos em comum e entrelaçamentos desde o incremento das tipografias. A partir do início do século XIX imprensa, ideias e ideais passaram a ocupar o mesmo espaço em periódicos diversos, que se espalharam pelo Brasil. Amarrando todas as influências e discussões, estavam a literatura e a dramaturgia, duas realizações intelectuais que há muito ocupavam crescente espaço na Europa e começavam a apresentar seu poder sedutor no Brasil. O exercício conjunto da literatura, da dramaturgia e do jornalismo criou o ambiente 1 Trabalho apresentado no GT Comunicação, Sensibilidades e Performances do I Recom - Comunicação e Processos Históricos, realizado de 29 de setembro a 01 de outubro de 2015, na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cachoeira, BA. 2 Mestre em Cultura e Sociedade pelo Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da Universidade Federal da Bahia - UFBA ([email protected])

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NELSON RODRIGUES E OS ENTRELAÇAMENTOS NA CULTURA

LETRADA1

Edson Rodrigues de Souza2

Resumo: O jornal se consolida no Brasil na passagem do século XIX para o XX, sendo

que, na década de 1940, configura-se como o grande meio de comunicação do país,

atraindo nomes que se transformaram em referências nacionais em áreas como política,

ciências, artes, literatura e, é claro, jornalismo. Dentre os destaques, Nelson Rodrigues e

sua obra são escolhidos para ilustrar a relação de complementariedade entre jornal,

jornalismo e literatura no Brasil. Escritor profícuo, na década de 1940 tinha concluído

cinco das 17 peças que compõem sua dramaturgia, inclusive aquela que é considerada

marco do teatro brasileiro moderno, Vestido de noiva (1943). Também nessa década

escreve cinco folhetins, todos encartados em jornais: Meu destino é pecar (1944),

Escravas do amor (1944), Minha vida (1946), Núpcias de fogo (1948) e A mulher que

amou demais (1949). Conclui-se que o jornal foi, até o final do século XX, o mais

popular produto da tipografia e maior responsável pelo acesso à literatura por parte da

massa de leitores que se formava, em especial no Brasil da década de 1940.

Palavras-chave: Jornalismo. Literatura. Brasil. Década de 1940. Nelson Rodrigues.

No Brasil, jornalismo e literatura apresentam pontos em comum e

entrelaçamentos desde o incremento das tipografias. A partir do início do século XIX

imprensa, ideias e ideais passaram a ocupar o mesmo espaço em periódicos diversos,

que se espalharam pelo Brasil. Amarrando todas as influências e discussões, estavam a

literatura e a dramaturgia, duas realizações intelectuais que há muito ocupavam

crescente espaço na Europa e começavam a apresentar seu poder sedutor no Brasil. O

exercício conjunto da literatura, da dramaturgia e do jornalismo criou o ambiente 1 Trabalho apresentado no GT Comunicação, Sensibilidades e Performances do I Recom - Comunicação

e Processos Históricos, realizado de 29 de setembro a 01 de outubro de 2015, na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cachoeira, BA. 2 Mestre em Cultura e Sociedade pelo Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da Universidade

Federal da Bahia - UFBA ([email protected])

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necessário para o surgimento de vários intelectuais, que supriam em uma atividade o

que lhes faltava na outra.

Os homens de letras faziam imprensa e faziam teatro. Naquela, encontravam

liberdade relativa para as suas criações literárias, não para os impulsos

políticos; nesse, porém, nem tudo era favorável. Para qualquer peça a ser

levada à cena, devia passar pelo Conservatório e receber o visto da polícia.

(SODRÉ, 1983, p. 192)

Além dos impulsos artísticos destacados por Sodré, havia outros bem mais

mundanos a serem considerados. Na realidade, o exercício do jornalismo podia

proporcionar, a quem queria se dedicar à pena, ao menos um salário mensal, quantia

certa para cobrir parte das despesas. Coisa impossível para quem pretendia viver apenas

da ficção e do sonho de publicar um livro atrás do outro.

Os jornais, cada vez mais, precisavam de mão de obra especializada, gente

íntima da escrita. E corriam atrás desse profissional. Por volta de 1880, a Gazeta de

Notícias e o Diário do Rio faziam questão de ter em suas equipes literatos, pagando até

70 mil réis ao mês de salário. E esse movimento de atração de escritores para as

redações, que já existia de forma mais tímida, foi se espalhando, então com maior

robustez, atingindo diversos periódicos e trazendo um grande número de pessoas

ligadas à literatura para o jornalismo, como aquele que foi considerado "o príncipe dos

poetas brasileiros", Olavo Bilac (1865-1918).

Apesar de ter sido uma espécie de best-seller da poesia, com tiragens de até 4

mil exemplares, não era com os livros que Bilac mantinha seus confortos de

solteirão viajado. Nem mesmo Coelho Neto, seu contemporâneo, com mais

de 50 livros escritos, conceberia essa façanha. Assim como boa parte dos

integrantes do meio intelectual de então, era o jornal e não o livro que pagava

as contas do escritor no fim do mês. (COSTA, 2004, p. 28)

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Além do pagamento, havia também a publicidade de si e de seu trabalho. Os

jornalistas da primeira metade do século XIX já entendia essa conta. Monteiro Lobato

(1882-1948), por exemplo, que escreveu para jornais como O Estado de S. Paulo e A

Manhã, não vê necessidade de pudores nessa utilização do jornal como, para além de

suporte de conteúdo, divulgador mesmo do trabalho de um jornalista ou autor que seja.

Para elencar essas vantagens do escritor na relação com o jornal, Lobato (apud COSTA,

2004, p. 46) se debruça em contas:

Dizes bem quanto à disseminação do nome por intermédio de outras folhas.

Isto é como eleitorado. Escrevendo no Estado, consigo um corpo de 80 mil

leitores, dada a circulação de 40 mil do jornal e atribuindo a média de 2

leitores para cada exemplar. Ora, se me introduzir num jornal do Rio de

tiragem equivalente, já consigo dobrar o meu eleitorado. Ser lido por 200 mil

pessoas é ir gravando o nome - e isso ajuda [...] Para quem pretende vir com

livro, a exposição periódica do nomezinho equivale aos bons anúncios das

casas de comércio - em vez de pagarmos aos jornais pela publicação dos

nossos anúncios, eles nos pagam - ou prometem pagar.

Monteiro Lobato não foi um caso isolado. O jornal era o veículo possível de

ser multiplicado em grande número, dia a dia, e quem escrevia nele, inevitavelmente,

era lido. Somado a isso, o gosto crescente do público pelos folhetins, encartados em

jornais, elevava as vendas, criava uma relação de proximidade com o leitor, além de

possibilitar ganhos aos jornalistas que se aventuravam na literatura. Os grandes jornais

valorizavam seus colaboradores e pelas páginas espalhava-se uma longa lista de

produção escrita: artigos, crônicas, críticas, entrevistas, matérias jornalísticas, contos e

folhetins. O jornal era, por excelência, o lugar subjetivo da sociedade da época, onde

tudo era exposto e discutido, dos assuntos mais sérios à mais pura diversão.

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Nelson Rodrigues é um produto desse meio. Nascido em 1913, tinha 15

anos de idade quando seu irmão, Milton Rodrigues, o convidou para fazer parte da

equipe da reportagem de polícia do jornal A Manhã, do pai de ambos, Mário Rodrigues.

À época, o jornal estava completando dois anos de fundado. Era fins de 1927. Nelson

trabalhou em jornais até os 68 anos de idade, totalizando, então, uma experiência de 53

anos na atividade. Morreu dia 21 de dezembro de 1980, quando se completavam 19 dias

que havia saído em O Globo sua última crônica, louvando o Fluminense, time do

coração, que havia ganho o campeonato carioca de futebol daquele ano, batendo um

arquirrival, o Vasco.

Depois da experiência em A Manhã, Nelson escreveu no jornal O Globo

(com Roberto Marinho), nos Diários Associados (em O Jornal, com Assis

Chateaubriand), no jornal Última Hora (com Samuel Wainer), passando a também

trabalhar na televisão na década de 1960, integrando o grupo de jornalistas da recém-

fundada TV Globo: participou da bancada do programa Grande resenha esportiva

Facit, a primeira mesa-redonda sobre futebol da televisão brasileira. A partir de 1967,

passou a publicar suas Memórias no jornal Correio da Manhã.

Na dramaturgia, onde é constantemente celebrado, escreveu 17 peças

teatrais. De legado múltiplo, ainda é alvo de interesse para diretores, dramaturgos e

roteiristas que fazem adaptações de seus romances e contos. E todos, peças, romances e

contos, vêm rendendo versões para o teatro, o cinema,3 telenovelas e minisséries.

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3 Exemplos de filmes adaptados a partir de obras de Nelson Rodrigues: Somos dois - 1950 - Direção:

Milton Rodrigues; Meu destino é pecar - 1952 - Direção: Manuel Pelufo; Mulheres e milhões - 1961 - Direção: Jorge Ileli; Boca de Ouro - 1963 - Direção: Nelson Pereira dos Santos; Meu nome é Pelé - 1963 - Direção: Carlos Hugo Christensen; Bonitinha mas ordinária - 1963 - Direção: J.P. de Carvalho; Asfalto selvagem - 1964 - Direção: J.B. Tanko; A falecida - 1965 - Direção: Leon Hirszman; O beijo - 1966 - Direção: Flávio Tambellini; Engraçadinha depois dos trinta - 1966 - Direção: J.B. Tanko; Toda nudez será castigada - 1973 - Direção: Arnaldo Jabor; O casamento - 1975 - Direção: Arnaldo Jabor; A dama do lotação - 1978 - Direção: Neville d'Almeida; Os sete gatinhos - 1980 - Direção: Neville d'Almeida; O beijo no asfalto - 1980 - Direção: Bruno Barreto; Bonitinha mas Ordinária ou Otto Lara Rezende - 1981 - Direção: Braz Chediak; Álbum de família - 1981 - Direção: Braz Chediak; Engraçadinha - 1981 - Direção: Haroldo Marinho Barbosa; Perdoa-me por me traíres - 1983 - Direção: Braz Chediak; Boca de Ouro -

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Entre vários nomes e trajetórias que poderiam ser elencados para ilustrar,

como um estudo de caso, essa relação entre jornalismo e literatura no Brasil, a escolha

recaiu sobre Nelson Rodrigues. Isso por ele se enquadrar na descrição acima (relação

jornal e literatura), além de acrescentar um importante ingrediente ao todo: as artes

cênicas. Como crítico de óperas do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e depois

dramaturgo de peças que causaram grande impacto na cena cultural brasileira, Nelson

Rodrigues é, por natureza, um misto de jornalista e artista, romancista e cronista.

Vivenciou por décadas o cotidiano das redações e, da mesma forma, é um dos principais

responsáveis pela mudança de realidade da cena teatral brasileira; é autor de romances

fatiados em edições diárias de jornal (folhetins) e, da mesma forma, é criador de textos

em prosa que ganharam adaptações para o palco; jornalista que participou do início da

tevê no Brasil e, da mesma forma, dono de textos que viraram filmes e telenovelas.

Trafegou por jornalismo, literatura e arte como só se é possível fazer-se entre veículos e

formatos que possibilitem esses entrelaçamentos e complementariedades.

No teatro, foi quem primeiro experimentou colocar em texto inovações para

a cena; buscou impor um estilo, empregando falas curtas, diálogos incisivos e

personagens do cotidiano. Além disso, passou a tocar em assuntos envoltos em

preconceito e incômodo da sociedade, tudo com uma realidade que empurrava a plateia

ao debate de posições, conceitos, tradições. Entre comédias, dramas e farsas, impôs a

sua assinatura à cena brasileira.

Nelson começava a esboçar uma dramaturgia que não seguia os preceitos da

construção verborrágica e, sim, dava vazão aos diálogos imersos na malícia das

esquinas e praças brasileiras. Sua opção pela inspiração popular, do mundo ordinário

1990 - Direção: Walter Avancini; Traição - 1998 - Direcão: Arthur Fontes, Cláudio Torres e José Henrique Fonseca; Gêmeas - 1999 - Direção: Andrucha Waddington; Vestido de noiva - 2006 - Direção de Joffre Rodrigues; Bonitinha mas ordinária ou Otto Lara Rezende – 2009. 4 A morta sem espelho - TV Rio – 1963; Sonho de amor - TV Rio – 1964; O desconhecido - TV Rio –

1964; O homem proibido - TV Globo – 1982; Meu destino é pecar - TV Globo – 1984; Engraçadinha... seus amores e seus pecados - TV Globo – 1995; A vida como ela é... - TV Globo – 1996.

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mesmo, não se permitia ao descuido e por isso debruçou-se sobre a carpintaria de seu

teatro, dando forma a diálogos memoráveis, rápidos e, ainda assim, repletos de

subentendidos, profundos, reflexivos. Um dramaturgo que possibilita ao diretor a

montagem de cenas ágeis, mas ricas em possibilidades e leituras. Por tudo, então, um

dramaturgo que oferecia algo diferente do realismo que imperava nos palcos brasileiros,

na primeira metade do século XX, com seus textos filosóficos e longas falas para cada

ator.

Durante sua carreira, Nelson Rodrigues passou tanto por períodos de

intensos elogios quanto de fortes ataques. Ainda conheceu momentos nos quais a

divisão completa das opiniões formava o ambiente. Muitas vezes aclamado pelos

intelectuais (se bem que muitos deles o detestavam); outras tantas vaiado pelo público

comum (embora vários o chamassem de gênio), este jornalista, romancista e dramaturgo

foi o exemplo da multiplicidade de opiniões a que pode levar a obra de um artista.

[...] assim como em toda experiência real, também na experiência literária

que dá a conhecer pela primeira vez uma obra até então desconhecida, há um

`saber prévio´ ele próprio um momento dessa experiência, com base no qual

o novo de que tomamos conhecimento faz-se experienciável, ou seja, legível,

por assim dizer, num contexto experiêncial. (JAUSS, 1994, p. 28)

Sábato Magaldi5 comenta que a introdução das peças de Nelson Rodrigues

em nosso cenário teatral, “[...] representava para o palco o que trouxeram Villa-Lobos

para a música, Portinari para a pintura, Niemeyer para a arquitetura e Carlos Drummond

de Andrade para a poesia.” (RODRIGUES, 1981. p. 21) Nelson Rodrigues explorou um

outro imaginário no teatro, distanciando-se da corrente naturalista que predominava no

5 Sábato Magaldi (1927-) é o mais respeitado teórico da obra de Nelson Rodrigues para teatro, tendo

escrito os prefácios da Obra completa do dramaturgo. Também publicou estudos sobre as peças de

Oswald de Andrade e a respeito da história do teatro brasileiro. Em reconhecimento ao seu trabalho, foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras em dezembro de 1994, passando a ocupar a cadeira de número 24.

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país. Muito devido a isso, as primeiras montagens de seus textos dividiram opiniões,

com várias peças chegando a ser, por vários anos, impedidas de irem à cena.6

Representa a entrada do Brasil em um seleto rol de países que fazem experiências

modernas com a dramaturgia, como dimensiona Magaldi:

[...] aproxima-se de todos os grandes criadores, que não se cingiram às

conveniências realistas, não temendo o exagero, superação do irreal que se

erige em protótipo. Essa argila esculpiu os heróis de Eurípedes, Aristófanes,

Shakespeare, Moliére e tantos derramados na dramaturgia. (RODRIGUES,

1981. v.1. p.10)

E isso tendo como enfoque principal a sociedade brasileira de uma época e

suas formas de lidar com condições universais como a relação homem/mulher, carências

da monogamia, homossexualismo, segredos da relação incestuosa, interesses, poder

político e financeiro, e, permeando tudo, desejos. Vendo-se retratada, essa sociedade

deu à produção nelsonrodrigueana da época um caráter ético com ecos sociais.

O horizonte de expectativa de uma obra, que assim se pode reconstruir, torna

possível determinar seu caráter artístico do modo e do grau segundo o qual

ela produz seu efeito sobre um suposto público [...] tal distância estética

deixa-se objetivar historicamente no espectro das reações do público e do

6 Na obra dramatúrgica de Nelson Rodrigues, Álbum de família, Anjo negro e Senhora dos afogados

foram as peças que enfrentaram maiores dificuldades com a censura. Álbum de família foi escrita em 1945 e submetida à censura federal em fevereiro de 1946, recebendo interdição em 17 de março de 1946. Álbum de família só foi liberada em 3 de dezembro de 1965, tendo sua primeira montagem em julho de 1967. Anjo negro, escrita em 1946, tinha estreia acertada para janeiro de 1948, porém ficou mais de dois meses impedida de ir a palco, o que só aconteceu em 2 de abril daquele ano, no Teatro Fênix, no Rio de Janeiro. Senhora dos afogados, escrita em 1953, foi logo censurada. Só foi à cena um ano depois, sob a direção de Bibi Ferreira e com Nathalia Timberg no papel de Eduarda, a mãe. Senhora dos afogados só foi liberada no curto espaço de um ano devido à intervenção do jornalista Otto Lara Rezende, amigo de Tancredo Neves, então recém-nomeado Ministro da Justiça do segundo governo Getúlio Vargas. Senhora dos afogados, ao estrear, provou ter mesmo conteúdo impactante para a época: metade da plateia, ao fim da apresentação, tratou o autor da peça como gênio; a outra metade como um depravado. Nelson chegou a subir ao palco, ao fim da apresentação, e numa cena que bem demonstra até que ponto ia sua confessa passionalidade, enfrentou parte da plateia que urrava. Nelson devolveu os apupos com gritos de “burros, burros”.

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juízo da crítica (sucesso espontâneo, rejeição ou choque, casos isolados de

aprovação, compreensão gradual ou tardia. (JAUSS, 1994, p. 28)

Apesar de várias peças de Nelson Rodrigues estarem imersas na vida social

e desdobramentos psicológicos de uma época, não ficaram datadas. Textos como os que

compõem a chamada fase das Tragédias Cariocas, para citar a classificação de Sábato

Magaldi, mesmo recheados de citações a acontecimentos, procedimentos e arquétipos

de uma época, transcendem para além da simples exibição de cenas e ganham valor

simbólico. A falecida; Perdoa-me por me traíres; Os sete gatinhos; Boca de Ouro; O

beijo no asfalto; Bonitinha, mas ordinária; Toda nudez será castigada; e A serpente, os

oito títulos das Tragédias Cariocas, representam quase que a metade da produção

dramática do autor, que criou 17 peças em sua vida, e também são exemplos de um

momento especial. São obras que questionam o seu tempo e o seu lugar, mas vão além.

São atemporais e universais.

O objeto de estudo de Nelson Rodrigues é o homem, mergulhado em

problemas e superações cotidianas, apresentado em situações e ambientes simbólicos e

existenciais. O homem e a mulher nelsonrodrigueanos não são heróis da pureza e

exemplo de qualidades, mas, sim, seres de defeitos e de virtudes, apresentados com “[...]

la capacidad del poeta para poder decir, o poder conferir su expresión íntegra a todo lo

que permanece mudo, reprimido o desconocido por culpa de las exigencias y

convenciones de la esictencia diaria”.7 (JAUSS, 1986, p. 40)

Em seus textos em jornais, mas, sobremaneira, no teatro, cria um ambiente

simbólico onde real e não-real se misturam, confrontam-se e questionam legitimidade.

O dramaturgo cria personagens palpáveis, socialmente identificáveis (jornalista, dono

de jornal, delegado, motorista etc), mas que vivem uma realidade redimensionada. Um

7 "[...] a capacidade de um poeta para falar, ou para dar a sua plena expressão de tudo o que permanece

em silêncio, reprimido ou desconhecido por causa das demandas e convenções da existência cotidiana". (tradução nossa)

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artifício típico dos grandes criadores da literatura, na busca por encontrar o melhor

equilíbrio entre as inovações que querem impor ao texto e a observância dos limites do

gosto do leitor. Frente a tal dilema, os criadores que inovaram na literatura,

“primeiramente, graças a uma convenção do gênero, do estilo ou da forma, evocam,

propositadamente, um marcado horizonte de expectativas em seus leitores para, depois,

destruí-lo passo a passo”. (JAUSS, 1994, p. 28) O que Jauss chama de horizonte de

expectativa, Iser denomina repertório: o conjunto de convenções que constituem a

competência de um leitor (ou de uma classe de leitores) num dado momento; o sistema

de normas que define uma geração histórica. (COMPAGNON, 1999, p.156)

Ora, Nelson Rodrigues sempre foi um escritor que soube manejar as

convenções dos estilos. Construiu textos jornalísticos durante toda a vida e aprendeu

desde cedo a adequar seus escritos a uma condição de entendimento geral. Além disso,

teve uma forte experiência como escritor de romances para folhetins, que vendiam, em

seus seguidos capítulos adequados ao jornal, milhares de exemplares diariamente. Sobre

isso, traz importante informação Ruy Castro na apresentação da reedição de um dos

folhetins de Nelson, Escravas do amor (RODRIGUES, 2001):

Em 1944, Nelson Rodrigues, ainda saboreando o tremendo sucesso de sua

peça Vestido de noiva, foi trabalhar nos Diários Associados de Assis

Chateaubriand. Sua principal incumbência era escrever um folhetim – uma

história de amor em capítulos diários, com emoção suficiente para prender o

público durante meses. O folhetim era o equivalente impresso das novelas de

TV: Trama e paixão em estado puro, sem preocupações `literárias´. Nele a

ação não pode parar, as situações mudam em altíssima velocidade.

Para que não confundissem os folhetins com seu teatro, Nelson preferiu

assiná-los com um pseudônimo – e assim nasceu Suzana Flag. Meu destino é pecar foi

o primeiro. Publicado em O Jornal, decuplicou a circulação do então combalido

matutino. O Jornal já tinha sido o carro-chefe dos Diários Associados, mas, em 1944,

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vendia pouco mais de três mil exemplares por dia. Meu destino é pecar passou a ocupar

uma página no diário, que logo teve sua vendagem/dia elevada para 30 mil exemplares.

Meses depois de publicado o último capítulo da história no jornal, Meu destino é pecar

virou livro, transformando-se em um fenômeno editorial que vendeu 50 mil exemplares

em três meses; em dois anos, chegou à marca de 300 mil livros vendidos.

Tal sucesso fez com que, no mesmo ano, Nelson tivesse que escrever outro

romance: veio, então, Escravas do amor. Suzana Flag tornara-se tão nacionalmente

famosa que o folhetim saiu ao mesmo tempo nas dezenas de jornais de Chateaubriand8.

Sobre seu trabalho como romancista, dimensionou:

Escrevi Meu destino é pecar, O casamento (sou das raras pessoas do país que

gosta do livro), Núpcias de fogo, Minha vida, de Suzana Flag, O homem

proibido, Engraçadinha, seus amores e seus pecados – em dois volumes, dos

12 aos 18 anos e depois de 30 anos -, Escravas do amor, um folhetim, como

o Núpcias. Eu nunca me assumi como romancista. Não tenho tempo. Preciso

escrever para comer. E a minha obra teatral é mais importante para mim.

(STEEN, 1982, p. 279)

Nelson Rodrigues é um autor cuja trajetória profissional merece menção na

formação da tradição literária brasileira. Pela multiplicidade de suportes do qual se

utilizou, da maneira que utilizou, sempre escrevendo para a discussão, nunca para o

conformismo. Elevou as discussões sobre temas e procedimentos na literatura brasileira

– aqui incluída evidentemente a dramaturgia – e as formas como isso era apresentado.

Apesar dos embates com leitores e público, na prática acreditava na potencialidade da

assistência, criando obras que a desafiava, a instigava.

8 Jornalista, empresário e político, Assis Chateaubriand (1892-1968) criou e dirigiu a maior cadeia de

imprensa já formada no Brasil: os Diários Associados. Chegou a ser formada por 34 jornais, 36 emissoras de rádio, 18 estações de televisão, uma agência de notícias, uma revista semanal (O Cruzeiro), uma mensal (A Cigarra), várias revistas infantis (iniciadas com a publicação da revista em quadrinhos O Guri, em 1940), e a editora O Cruzeiro. (JUNIOR, 2004)

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Em suas crônicas e romances em folhetins,9 começou a lapidar um estilo

que colocava sempre a mulher como principal argumento e personagem. O universo

feminino foi-lhe manancial de riqueza insuperável. Como exemplo, a peça em três atos

A mulher sem pecado, que inaugura sua dramaturgia, escrita em 1941 e que foi à palco

em primeira montagem no ano seguinte. Sobre a obra, Sábato Magaldi observa:

Eu me pergunto se o receio de não atingir o público, familiarizado apenas

com as comédias de costumes e o dramalhão, não determinou aqui, e em

muitas outras peças, o caráter folhetinesco da narrativa. (RODRIGUES,

1981, p.10)

Vestido de noiva, por sua vez, também apresenta ambiente reconhecível

pelos leitores de romances mais leves da época. O casamento, as relações na família, o

palavreado, tudo indicava como que mais um drama social. Só que o dramaturgo trai

essa expectativa primeira de um horizonte facilmente apreensível. Coloca no palco três

ambientes – realidade, alucinação e memória – modulando suas personagens dentro

desse triângulo. Com boa bagagem em reportagem de polícia, enche suas peças com

acontecimentos frequentes na sociedade da época.

9 Fora a produção dramatúrgica, Nelson Rodrigues publicou quinze livros, listados aqui pela primeira data

de edição: Meu destino é pecar (1944, textos publicados como Suzana Flag em O Jornal), Escravas do amor (1944, textos publicados como Suzana Flag em O Jornal), Minha vida (1946, textos publicados como Suzana Flag em O Jornal), Núpcias de fogo (1948, textos publicados como Suzana Flag em O Jornal), A mulher que amou demais (1949, textos publicados como Myrna no Diário da Noite), O homem proibido (1951, textos publicados no jornal Última Hora, como Suzana Flag, em 1951), A mentira (1953, textos publicados como Suzana Flag na revista Flan), Asfalto selvagem (1960, textos publicados como Nelson Rodrigues no jornal Última Hora, entre 1959 e 1960), Cem contos escolhidos: A vida como ela é... (1961, textos publicados como Nelson Rodrigues no jornal Última Hora), O casamento (1966, romance de Nelson Rodrigues), Memórias de Nelson Rodrigues (1967, textos publicados como Nelson Rodrigues no Correio da Manhã), O óbvio ululante (1968, textos publicados como Nelson Rodrigues no jornal O Globo), A cabra vadia (1970, textos publicados como Nelson Rodrigues no jornal O Globo), Elas gostam de apanhar (1974, seleção dos contos publicados na coluna A vida como ela é...) e O reacionário (1977,

textos publicados como Nelson Rodrigues nos jornais O Globo e Correio da Manhã). Cf. KUSUMOTO, Meire. Obscenamente genial. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/infograficos/especiais/nelson-rodrigues/literatura.shtml>. Acesso em: 02 dez. 2014.

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Mas se esses assuntos mostravam-se como fatos possíveis de comentários

rápidos nos jornais, acabaram por causar consideráveis problemas quando retratados de

formas mais profunda e longa, como era o caso das peças nelsonrodrigueanas que

começavam a surgir.

Atividade de grande exposição humana, o teatro, evidentemente o de

qualidade, faz reverberar ideias e mensagens no público. A condição de presença do

ator, a necessidade da plateia imaginar para vivenciar (imaginar que um cenário é o que

representa ser, que os acontecimentos citados em uma fala realmente aconteceram

dentro da lógica do espetáculo etc), fazem do teatro encenado um momento de fruição,

comunhão e confrontamento.

Bons espetáculos levam a boas indagações. Boas indagações não faltavam

aos textos de Nelson Rodrigues, mas também não faltavam-lhes tópicos indigestos para

a moral vigente. O que se vê é um retrato, não poucas vezes irônico, da sociedade e de

suas relações, centrando foco no núcleo familiar. Sucedem-se discussões sobre ideais e

realidades da família, do poder, da justiça, do sexo, do adultério, do amor e da morte,

que reverberaram no ambiente brasileiro de sua época.

Também não poucas vezes as situações vividas por suas personagens, e as

formas como elas as enfrentavam, transcendem o imediato do tempo e tornam-se

trágicas. E há situações - o que mostra a versatilidade do dramaturgo - que resvalam no

melodramático e no nonsensse. Como se a humanidade precisasse descer de seu

pedestal e sentir o ridículo da vida. Humanizar o humano pela concentração, no palco,

de suas falhas, anseios e taras. Repete nas entrelinhas de suas obras, sobretudo nas

tragédias cariocas, uma vontade crítica. Sistematicamente, volta seus personagens e

tramas a serviço de um enfoque na convivência social dos indivíduos, com maior

atenção pelo humano que habita, convive, nutre, ama e odeia essa família.

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A família é uma prisão para os personagens nelsonrodrigueanos. Quase

todos são fadados ao insucesso, à saturação das relações, ao embate de gerações ou de

poder. O autor trata a família do ponto de vista da instituição social. Confronta, assim,

um estado de coisas supostamente perfeito com as mazelas da condição humana, o que

cria em seus personagens uma dualidade permanente. Os personagens são levados a

viver divididos entre o anarquismo social e mesmo biológico (incestos, taras entre

parentes biológicos e também cunhados...) e uma forte moral.

A destinação final desses textos, o palco, possibilita que as questões

simbólicas e morais abordadas pela obra dramática alcancem um indisfarçável impacto

social. A isso, soma-se a profissão de jornalista e seus influentes contatos em

periódicos, que o ajudaram a ser motivo de longas entrevistas e exposição na mídia

durante suas estreias.10

Exposição extensiva a seus textos, analisados e criticados em

matérias assinadas por personalidades como Álvaro Lins, Manoel Bandeira, Gilberto

Freyre, Ledo Ivo, Menotti Del Pecchia, Carlos Heitor Cony, dentre vários outros. Os

textos de Nelson Rodrigues ajudaram a mudar costumes.

Se atualmente o impacto desses mesmos textos sobre um leitor

contemporâneo não é tão explosivo como à época de suas publicações e encenações, é

exatamente porque essas peças abriram novas perspectivas e horizontes. Como diz

Jauss, expandiram, assim, “[...] o espaço limitado do comportamento social rumo a

novos desejos, pretensões e objetivos, abrindo, assim, novos caminhos para a

experiência futura”. (JAUSS, 1994, p. 52)

Com Nelson Rodrigues, a cena local contextualiza-se com o então moderno

pensamento teatral que invade o mundo na virada do século XIX para o XX. Um tempo

em que o teatro realista predomina, mas começa a ter a companhia do resultado cênico

10

Já foi tratado aqui sobre as vantagens dessa exposição, como auxílio para o conhecimento da obra e

do autor.

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de movimentos de vanguarda que pregam uma saída do cotidiano e exploração de outras

nuanças temáticas. A briga foi boa.

[...] os argumentos levantados contra o espetáculo naturalista – seja ele de

Antonie ou de Stanislaviski – são aproximadamente os mesmos: é uma ilusão

ingênua acreditar que o teatro possa ficar a reboque do real, a não ser que

queira perder toda a sua especificidade. (ROUBINE, 1998, p. 38)

Os textos de Nelson Rodrigues para o teatro buscam, exatamente, abdicar

dessa necessidade de realidade exposta por Jean-Jacques Roubine, sendo determinantes

para que o ambiente da arte da encenação existente no Brasil se modificasse em

definitivo, a partir da década de 1940.

Esta conjunção de fatores que conspiravam a favor de Nelson Rodrigues

muito tem a ver com a força que o movimento artístico demonstra quando novos rumos

são tomados. Thomas Mann trata disso em Doutor Fausto (2000). Em dado momento

da trama, o narrador da história, o professor Zeitblon, conta como incrível era o quanto

a música erudita alemã necessitava naquele instante (início do século XX) exatamente

de um criador aberto para o novo, como era Adrian Leverkûn, seu amigo de infância,

personagem central do romance.

Hoje em dia, a Arte carecia de pessoas como ele, exatamente como ele [...]. A

frieza, a `inteligência rapidamente saciada´, a percepção do insípio, a

lassidão, a propensão para o tédio, a facilidade de enojar-se – tudo isso

contribuía para elevar o inerente talento ao nível de uma vocação. Por quê?

Porque só em parte pertencia a personalidade privada, mas em outra parte

tinha caráter supra-individual e expressava o sentimento coletivo do desgaste

histórico e do esgotamento dos recursos artísticos, do aborrecimento causado

por eles e do desejo de encontrar caminhos novos. (MANN, 2000, p. 190)

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As descrições do perfil do criador e do próprio clima do momento histórico

cabem perfeitamente à figura de Nelson Rodrigues e ao Brasil da década de 1940.

Novos recursos artísticos foram possibilitados ao teatro pela obra nelsonrodrigueana.

Ao momento de sua chegada ao palco, peça a peça, houve celebrações e vaias. Com o

passar do tempo, porém, as qualidades sobressaíram-se e o final do século XX

experimentou uma verdadeira renovação das atenções para com as 17 peças e também

os romances e crônicas. Foi quando tornou-se possível visualizar os contornos gigantes

desse criador que por mais de meio século produziu sequencialmente, seja em redações

de jornais, seja para o teatro. Se antes sua obra dividia opiniões, hoje, não há como

contestar, as favoráveis são em número bem maior do que as ainda reticentes. Até as

peças que outrora foram severamente criticadas, ou até censuradas, passaram, com o

tempo, a galgar posições privilegiadas. Isso, evidentemente, deu-se par a passo com a

publicação de suas crônicas, em seguidas antologias, e também por conta das novas

edições em livro dos seus romances folhetinescos. Suas crônicas, ricas em personagens

e situações, logo que ficaram mais conhecidas pelas novas gerações, através de

antologias, passaram a render adaptações para teatro e tevê.11

Em 1987, Sábato Magaldi (p. 193) opinava: “Nelson Rodrigues é o maior

autor da História do Teatro Brasileiro.” Em 2004, o jornalista e escritor Carlos Heitor

Cony defende: “Depois de Machado de Assis, o único fato realmente novo em nossas

letras foi a obra do autor de Vestido de noiva.” (RODRIGUES, 2004, p. 11) Somadas a

essas duas avaliações, outras tantas ajudaram a dimensionar a grande importância de

Nelson Rodrigues para o teatro e as letras brasileiras.

Novamente recorrendo a Jauss (1994, p. 26): “Diferentemente do

acontecimento político, o literário não possui consequências imperiosas, que seguem

11

Algumas crônicas de A vida como ela é... foram roteirizadas e apresentadas semanalmente no programa Fantástico, da Rede Globo, durante os anos 1996/97. Com atores conhecidos das telenovelas,

boas adaptações e direções, a série foi sucesso de crítica e de público. A partir daí, ficou evidente, nos audiovisuais, um tratamento mais artístico aos textos de Nelson Rodrigues. Antes, percebia-se uma sexualização, não poucas vezes exagerada, da obra.

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existindo por si sós e das quais nenhuma geração posterior poderá escapar.” Jauss

prossegue lembrando: “A literatura como acontecimento cumpre-se primordialmente no

horizonte de expectativas dos leitores, críticos e autores, seus contemporâneos, e

pósteros, ao experienciar a obra”. Para reverberar nas gerações futuras, a obra, então,

precisa possuir qualidades que lhe habilitem ao feito.

Assim, as atenções voltaram-se à obra de Nelson Rodrigues através de um

processo no qual os efeitos de seus textos, somados aos efeitos de outros textos que lhes

sucederam, perceptivelmente influenciados pelo universo nelsonrodrigueano,

remodelaram um horizonte de expectativa onde passaram a habitar. A obra não

prevalece – agora até com mais força publicitária – por um benefício do destino ou

casualidade do tempo. Prevalece, sim, por ter não só um poder de inovação muito

grande para a época de sua apresentação, como também por abrigar uma qualidade

estética que proporcionou essa fusão de horizontes, distanciando-a das limitações de

uma arte ligeira.

A maneira pela qual uma obra literária, no momento histórico de sua

aparição, atende, supera, decepciona ou contraria as expectativas de seu

público inicial oferece-nos claramente um critério para a determinação de seu

valor estético [...]. À medida que essa distância se reduz, que não se demanda

da consciência receptora nenhuma guinada rumo ao horizonte da experiência

ainda desconhecida, a obra se aproxima da esfera da arte `culinária´ ou ligeira

[...] pelo fato de não exigir nenhuma mudança de horizonte, mas sim de

simplesmente atender as expectativas que delineiam uma tendência

dominante do gosto. (JAUSS, 1994, p. 32)

Um texto de teatro sobrevive ao tempo não devido ao floreado dos

monólogos ou pela nobreza dos diálogos. Sobrevive, sim, pela pertinência do uso de

determinadas ferramentas estilísticas no caso determinado. A vasta multiplicidade dessa

graduação é que situa a obra, considerando aqui também elementos externos como

momento político, artístico, pensamento em vigor (se liberal ou radical), momento

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social (se de guerra, paz, harmonia, desavença). Ao autor, então, estão dispostos todos

esses elementos e tantos outros. Cabe-lhe partir em busca da alquimia exata para

conceber, no momento ideal, a obra referencial. A criação que “[...] ou funda o gênero

ou o transcende, e numa obra de arte perfeita as duas coisas se fundem numa só.”

(BENJAMIM, 1987, p. 66)

Várias são as montagens de textos de Nelson Rodrigues que podem servir

de exemplos para a demonstração das suas qualidades. Ele levou para o tablado a

riqueza de histórias que via, ouvia e relatava nos jornais que trabalhou desde os 15 anos,

época em que começou a escrever sistematicamente para jornal.

No início do século XX a situação econômica da maioria do povo brasileiro

era precária. Em termos de habitação, era frequente que as casas, em uma cidade já

grande à época, como era o caso do Rio de Janeiro, abrigassem muita gente, até mesmo

para a divisão das despesas. Não raro uma residência era teto para duas ou três famílias,

com improvisadas e pouco eficazes divisões entre os cômodos. Um ambiente no qual

cunhados, primos, parentes e até amigos dividiam forçosamente intimidades e, não raras

vezes, passavam a nutrir desejos. Nelson percebeu isso e aproveitou esses ambiente e

movimentação na sua criação. Já no final do século XIX, Aluísio Azevedo, por

exemplo, havia lançado O cortiço (1890), marco da literatura realista-naturalista

brasileira, que é um romance no qual a habitação coletiva resulta em desdobramentos

diversos e inesperados. Mas Nelson Rodrigues procurou relatar essas relações de sua

época com um frescor de abordagem e linguagem antes não visto na literatura e

dramaturgia brasileiras. Daí parte da explicação do impacto que causaram as criações

nelsonrodrigueanas, à época de suas publicações e exibições no palco.

Mas outros aspectos da época interessaram ao autor a ponto de serem

redimensionados em suas obras: os pactos de amor entre jovens que bebiam veneno

com mel porque os pais não aceitavam a união; a fantasiosa importância dos jornalistas

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que chegavam em caravana ao local do crime, muitas vezes antes da polícia, e mexiam

em cadáveres, interrogavam possíveis testemunhas e agiam com uma falsa autoridade; o

já perceptível poder da mídia e dos donos dos veículos de mídia; a força dos conceitos

cristãos na sociedade; o desfacelamento da família. Tudo isso está ponteado de forma

impactante na obra dramática do autor.

Buscando uma história dos efeitos decorrentes da aparição, a partir da

década de 1940, de uma obra dramática brasileira como a de Nelson Rodrigues,

veremos que “aquilo que resultou do acontecimento”, como trata Jauss, foi um criador

brasileiro menos compromissado com a necessidade de sempre explicitar uma realidade

objetiva na arte; e um espectador mais aberto a acompanhar, no teatro, voos simbólicos

no tratamento dos temas. Quanto mais levando-se em questão que o Brasil não tinha

grande tradição na dramaturgia até então e, nesse caso, a aparição de um bom autor tem

repercussão muito maior do que fosse ele um nome dentre outros.

O estilo nelsonrodrigueano rapidamente transformou-se em marco de toda

uma maneira de se escrever para teatro. Essa importância acabou servindo, e ainda hoje

serve, de inspiração e influência para novas gerações de dramaturgos. Sábato Magaldi

conta interessantes histórias que ilustram como a obra de Nelson acabou por se tornar

uma influência que espalhou-se pelo teatro brasileiro.

Num plano sério, cabe mencionar a presença de Nelson, em fase decisiva da

confirmação de Jorge Andrade. O dramaturgo contava-me as dificuldades

para relacionar passado e presente, os anos de 1929 e 1932, na fatura de A

moratória. Indiquei-lhe a leitura de Vestido de noiva como possível caminho

para a superação do problema. [...] Oduvaldo Vianna Filho não empregaria a

flexibilidade temporal em Moço em Estado de Sítio e sobretudo em sua obra-

prima, Rasga coração, sem o candente exemplo de Vestido de noiva.

(MAGALDI, 1987, p. 192)

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Em Vestido de noiva, e depois em outros textos nelsonrodrigueanos, os

personagens ficam a transitar através do tempo e do espaço. Transitam entre a morte e a

vida em um ambiente que não faz exigência de realidade palpável, mas que se lhes

apresenta com uma dimensão alegórica. Por várias ocasiões, seja dando entrevistas a

colegas ou construindo crônicas, Nelson afirmou que uma das técnicas que distinguia

realmente seu teatro era “as ações simultâneas em tempos diferentes”.

Da mesma maneira que o estilo nelsonrodrigueano deu novo alento à cena

nacional, influenciando criadores como Jorge Andrade, Oduvaldo Vianna Filho e Plínio

Marcos, dentre outros, também acabou servindo de inspiração para uma série de peças

equivocadas. “Nos anos cinquenta, não surgia no Rio de Janeiro obra que, sob a égide

de Nelson, dispensasse em cena dois ou três incestos.” (MAGALDI, 1987, p. 192) Essa

proliferação de textos mal resolvidos que tentavam seguir soluções apresentadas ao

teatro brasileiro por Nelson Rodrigues, e fracassaram, acabaram por influenciar, e

muito, o conceito do público a respeito do autor. Foi todo o ambiente criado ao redor do

jornalista atuante e conhecido, e escritor de peças de teatro e de folhetins, que fez com

que lhe atribuíssem desvios como os de tarado, depravado e imoral. Nelson teve, por

muito tempo, que responder por sua obra, o que é natural; e também por seu legado, o

que é perigoso.

Outro fato sempre importante de se destacar é que Nelson Rodrigues iniciou

sua produção dramatúrgica em plena Segunda Grande Guerra, tendo, antes de seu

término, apresentado ao público duas peças: A mulher sem pecado (escrita em 1941,

encenada em 1942) e Vestido de noiva (1943). Então era uma obra que se mostrava

repleta de novos conceitos, em uma época propícia a se repensar a sociedade que,

naturalmente, estava em xeque por conta dos horrores de uma guerra sanguinolenta

como a que se prolongou entre 1937 e 1945.

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A obra dramática de Nelson trouxe à sociedade brasileira da década de 1940

uma possibilidade de abertura de horizontes nunca antes experimentada dentro do teatro

nacional. Colocava sua construção artística a serviço da discussão intelectual, abrindo

espaço para um colóquio a respeito da condição humana dentro da organização social à

época, dos conceitos empregados no teatro brasileiro naquela primeira metade do século

XX e, em especial, dos dogmas morais que dirigiam aquela sociedade. Uma obra que

não fazia concessões para agradar. E difícil de ser imitada.

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