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˝ndice ˝ndice ˝ndice ˝ndice ˝ndice SumÆrio 03 1. Introduªo 08 O problema 08 Os padrıes 10 Implementando esses padrıes 11 2. Policiamento e segurana comunitÆria 12 3. Ataques contra aplicadores da lei 15 4. Tiroteio policial - foi mesmo o œltimo recurso? 17 5. Disparos em meio a reuniıes pacficas 19 6. Treinamento para o uso legtimo da fora 22 7. Policiamento em zonas de conflito 25 8. Armas e crianas 27 9. ViolŒncia armada contra mulheres 29 10. Visando minorias Øtnicas e raciais 32 11. Armazenagem e licenciamento de armas de fogo 33 12. Armas policiais legtimas 35 13. Reforma no policiamento armado 38 14. Leis e regulamentaıes 39 15. Informes e investigaıes 41 16. Assumindo a responsabilidade 43 17. Recomendaıes 46 Notas 48

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ÍndiceÍndiceÍndiceÍndiceÍndiceSumário 031. Introdução 08

O problema 08Os padrões 10Implementando esses padrões 11

2. Policiamento e segurança comunitária 123. Ataques contra aplicadores da lei 154. Tiroteio policial - foi mesmo o último recurso? 175. Disparos em meio a reuniões pacíficas 196. Treinamento para o uso legítimo da força 227. Policiamento em zonas de conflito 258. Armas e crianças 279. Violência armada contra mulheres 2910. Visando minorias étnicas e raciais 3211. Armazenagem e licenciamento de armas de fogo 3312. Armas policiais legítimas 3513. Reforma no policiamento armado 3814. Leis e regulamentações 3915. Informes e investigações 4116. Assumindo a responsabilidade 4317. Recomendações 46

Notas 48

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Sumário

Este relatório foi escrito pela Anistia Internacional para a campanha Controlede Armas e é o primeiro de uma série de relatórios temáticos a serem produzidospela Anistia Internacional, Oxfam Internacional e IANSA (Rede Internacional deAção sobre Armas de Pequeno Porte) no decorrer da campanha. Ele focaliza sobreo que os governos podem fazer para melhorar a eficácia do policiamento e paraajudar a controlar as armas de fogo, sem que a própria polícia tenha que recorrerao uso de força excessiva e injustificada. Utilizando uma seleção de casosilustrativos, o texto defende que a aderência a padrões profissionais internacionaisreferentes ao uso de força e de armas de fogo deva estar incluída em quaisqueresforços para melhorar o policiamento.

A proliferação mundial de armas de pequeno porte significa que a polícia eoutros aplicadores da lei são pressionados a enfrentar índices crescentes de crimesviolentos praticados com armas ao mesmo tempo em que se espera que confrontemcriminosos armados. Porém, em muitos países os recursos disponíveis paratreinamento e equipamento da polícia são insuficientes. Por isso, mas também, àsvezes, como parte de uma política governamental propositadamente repressiva, apolícia recorre à força excessiva e arbitrária, ou usa armas de fogo para cometerassassinatos ou como um instrumento para torturar e maltratar suspeitos.

Existe, contudo, um consenso internacional sobre os padrões a seremseguidos para o uso de força e de armas de fogo pela polícia. Esses padrões incluemo Código de Conduta da ONU para os Funcionários Responsáveis pela Aplicaçãoda Lei e os Princípios Básicos da ONU sobre a Utilização da Força e de Armas deFogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei. A questão centralde todos esses padrões é o que constitui uso legítimo de força. Há situações em queé permitido à polícia usar a força, mesmo letal, com o objetivo de cumprir suafunção de oferecer segurança às comunidades e proteger as pessoas de agressõesque ameacem suas vidas. Mas a força usada não poderá ser arbitrária; deverá serproporcional, necessária e legal. Além disso, deverá somente ser usada em caso delegítima defesa ou contra uma ameaça iminente de morte ou ferimento grave.

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Para agir de acordo com esse princípio fundamental, a polícia deverá sabercomo avaliar rapidamente se estiver ocorrendo uma ameaça à vida. Para isso, ospoliciais precisam ser extremamente bem treinados em avaliação de risco táticapara que possam julgar, em cada contexto diferente, se o uso de força, inclusive deforça letal, será proporcional, necessário e legal. Muitas forças policiais em todo omundo são treinadas sobre como disparar uma armacomo disparar uma armacomo disparar uma armacomo disparar uma armacomo disparar uma arma, mas não para decidirdecidirdecidirdecidirdecidirse ou quando essa arma deveria ser disparadase ou quando essa arma deveria ser disparadase ou quando essa arma deveria ser disparadase ou quando essa arma deveria ser disparadase ou quando essa arma deveria ser disparada. Enquanto isso,pouquíssimos governos incorporaram os padrões da ONU à sua legislaçãonacional ou mostram qualquer respeito por eles na prática.

Governos e órgãos de aplicação da lei precisam investir recursossignificativos para se adeqüar aos padrões da ONU para o controle eficaz douso de armas de fogo pela polícia. A seguir, estão alguns dos exemplosencontrados neste relatório:

• O Código de Conduta da ONU afirma que os órgãos encarregados da aplicaçãoda lei �devem representar e prestar contas à comunidade como um todo�.Entretanto, repetidos testemunhos de moradores das comunidades maispobres do Rio de Janeiro, Brasil, mostram que a atuação da polícia osdiscrimina violentamente, muitas vezes com conseqüências fatais.

• Os Princípios Básicos da ONU afirmam que as armas de fogo somentedevem ser usadas pela polícia em legítima defesa ou contra uma ameaçaiminente de morte ou lesão grave. Contudo, na Jamaica, detentora da maiortaxa per capita do mundo de tiroteios policiais, as evidênciasfreqüentemente contradizem as versões da polícia de que foi atacadaprimeiro e indicam, ao invés disso, um padrão perturbador de execuçõesextrajudiciais.

• A formação policial deveria dar ênfase aos direitos humanos e às alternativaspara o uso de armas de fogo, no entanto a nova força policial do TimorLeste, que recebeu armas totalmente novas, não parece ter sido treinada nashabilidades táticas necessárias para avaliar ameaças ou efetuar contençõesde acordo com os padrões da ONU.

O relatório cita passos positivos dados pelos governos e pela polícia paraque haja maior respeito pelos padrões da ONU, como, por exemplo:

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• Segundo a legislação que antes vigorava na África do Sul, a polícia podiaatirar em pessoas suspeitas de serem ladrões, traficantes ou fugitivos quenão representavam uma ameaça à vida, uma flagrante violação dos padrõesda ONU. Esta legislação foi agora reformada.

• No Camboja, está sendo desenvolvido um ambicioso projeto sobrearmazenamento e gerenciamento de armas.

É urgente o desafio que se põe a todos os governos de ajudarem a controlaro mau uso que se faz das armas. Para alcançar este objetivo, eles devem investirmaiores recursos em um policiamento profissional baseado nos padrões acordadosinternacionalmente. Somente assim os governos poderão dar proteção a mulheres,homens e crianças através de forças de segurança legítimas que respeitem os direitoshumanos e recebam o apoio generalizado da sociedade civil, imprescindível paracontrolar a circulação e o uso de armas ilícitas.

É fundamental que a comunidade esteja verdadeiramente envolvida emtodos os esforços que se façam para melhorar o policiamento de modo consensual.Iniciativas tomadas junto à comunidade devem ser conduzidas pelos seus própriosintegrantes, para assegurar que tenham relevância e que haja participação, controle,compartilhamento de responsabilidades e compreensão. Com base nisso:

1. Todos os governos e autoridades policiais deveriam promover, divulgar e incorporarem lei e na prática os padrões da ONU para os funcionários responsáveis pelaaplicação da lei, o que inclui o Código de Conduta para os FuncionáriosResponsáveis pela Aplicação da Lei e os Princípios Básicos sobre a Utilização daForça e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei;

2. Os Estados deveriam incluir explicitamente a promoção e a adesão a estespadrões no Programa de Ação da ONU para Prevenir, Combater e Erradicara Fabricação e o Comércio Ilícito de Armas Leves e de Pequeno Porte quandoeste for discutido em 2005 e revisto em 2006;

3. Doadores institucionais e bilaterais, inclusive os organismos das NaçõesUnidas, deveriam requerer que as autoridades locais aderissem a estespadrões da ONU em todos os projetos de assistência internacional quefinanciarem, especialmente quando tais projetos envolverem a segurançada comunidade;

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4. Os Estados deveriam apoiar as recomendações do Relator Especial da ONUsobre Armas de Pequeno Porte de fortalecer a implementação dos padrõesda ONU sobre o uso de armas de fogo;

5. Todos os Estados deveriam avaliar a adesão dos Estados receptores aospadrões da ONU quando considerarem a possibilidade de exportar oufornecer armas a forças ou organismos envolvidos com aplicação da lei,sendo que não deveriam ser fornecidas armas de fogo, munições ou outrasarmas que ofereçam riscos injustificados de causar ferimentos ou que seprestem a abusos;

6. Organizações e indivíduos da sociedade civil deveriam unir-se à campanhaglobal Controle de Armas e ajudar a promover a adesão rigorosa de governose órgãos de aplicação da lei a estes princípios da ONU.

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Armas e PoliciamentoPadrões para prevenir o mau uso

“Todo o homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.” -Declaração Universal dos Direitos Humanos

“Ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida.” - Pacto In-ternacional sobre Direitos Civis e Políticos

“Em geral, não deverão utilizar-se armas de fogo, exceto quando umsuspeito ofereça resistência armada, ou quando, de qualquer forma, co-loque em perigo vidas alheias e não haja suficientes medidas menos ex-tremas para o dominar ou deter.” - Código de Conduta da ONU para osFuncionários Responsáveis pela Aplicação da Lei

“Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei, no exercício dassuas funções, devem, na medida do possível, recorrer a meios não violen-tos antes de utilizarem a força ou armas de fogo. Só poderão recorrer àforça ou a armas de fogo se outros meios se mostrarem ineficazes ou nãopermitirem alcançar o resultado desejado.” - Princípios Básicos da ONUsobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Res-ponsáveis pela Aplicação da Lei

“Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem fazer usode armas de fogo contra pessoas, salvo em caso de legítima defesa, defesade terceiros contra perigo iminente de morte ou lesão grave.” - PrincípiosBásicos da ONU sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelosFuncionários Responsáveis pela Aplicação da Lei

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1. Introdução

Este relatório foi escrito pela Anistia Internacional para a campanha Controle deArmas e é o primeiro de uma série de relatórios curtos a serem produzidos pela AnistiaInternacional, pela Oxfam e pela IANSA (International Action Network on Small Arms)durante a campanha.1 No lançamento da campanha mundial, em outubro de 2003, as trêsorganizações internacionais publicaram um relatório de 100 páginas intitulado “VidasDespedaçadas” (Shattered Lives) 2, que analisa a necessidade global de haver um contro-le concertado dos Estados sobre a transferência e o uso de armas. “Armas e Policiamen-to” focaliza sobre o que os governos podem fazer para melhorar a eficácia do policiamen-to no controle das armas de fogo, sem que a própria polícia recorra ao uso de forçaexcessiva e injustificada. Utilizando uma seleção de casos ilustrativos, o texto argumentaque a adesão a padrões profissionais internacionais para o uso da força e de armas defogo deve ser incluída em qualquer tentativa que visa à melhora do policiamento. Por queisso é tão importante?

O problemaA proliferação mundial de armas de pequeno porte está levando a um aumento

da criminalidade, das ações de bandidos e da violência armada que são prejudiciais aodesenvolvimento.3 Diariamente, em países de todo o mundo, a polícia e outrosaplicadores da lei vêem-se pressionados a enfrentar índices crescentes de crimes vio-lentos praticados com armas de fogo e têm de confrontar criminosos armados. Cada vezmais, polícia e funcionários alfandegários são chamados a detectar traficantes de armasilícitas, recolher esse tipo de armas e convencer as comunidades a relatarem seu uso.Porém, em muitos países os recursos disponibilizados para equipar e treinar a polícia,bem como para garantir que preste contas de seus atos, são insuficientes para enfrentaresses desafios.

Como resultado dessas pressões e, geralmente, devido à falta de treino e desupervisão, algumas polícias fazem uso arbitrário e excessivo da força ou utilizamarmas de fogo para cometer execuções ilegais e como instrumento de tortura e maus-tratos contra pessoas suspeitas de terem praticado crimes. Entre 1997 e 2000, a Anis-tia Internacional recebeu informes de tortura ou maus-tratos praticados por agentesdo Estado em mais de 150 países. Em mais de 80 países há informações de que pesso-

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as morreram em conseqüência do tratamento recebido nas mãos dos que estavam emposição de autoridade. A maioria dos torturadores eram policiais que fizeram uso deviolência e de ameaças com armas para subjugar suas vítimas.4 Em alguns países, ospoliciais tendem a maltratar pessoas vulneráveis - mulheres, integrantes de comuni-dades minoritárias ou menores de idade - que, geralmente, são quem mais deveriareceber proteção extra. Comunidades que vivem sob o medo podem perder a confian-ça e o respeito pela polícia, o que faz com que deixem de cooperar e não se disponhama fornecer informações, aprofundando assim a crise de segurança vivida na comuni-dade. O mau uso de armas pela polícia pode fazer com que as pessoas temam sair desuas casas - impedindo-as de ganhar seu sustento, de ir à escola, de buscar auxíliomédico e de relatar casos de roubo e corrupção - reduzindo assim suas possibilidadesde desenvolvimento.

Em casos extremos, a manipulação política e a corrupção dos poderes policiaispara utilização de força agravam ainda mais essa situação, principalmente quando a polí-cia recebe ordens dos governos para perseguir e matar ativistas políticos, suprimir pro-testos pacíficos e deter arbitrariamente oponentes do governo através do uso de armasde fogo.

Há várias maneiras pelas quais a força e o uso de força letal podem ser abusadospela polícia:

Falha operacional: aplicação arbitrária de força, em que força e armas de fogo sãoaplicadas sem proporcionalidade, necessidade ou legalidade;

Falha investigativa: uso de força para ameaçar, punir ou torturar com a intenção deobter provas através de confissão;

Falha de detenção: uso arbitrário de força para punir pessoas que estejam poralguma razão sujeitas a controle ou contenção;

Falha de proteção: quando, por negligência ou omissão, a polícia falha em protegeras pessoas vulneráveis da sociedade.

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Os padrõesA polícia e outros aplicadores da lei deveriam basear sua conduta em padrões profis-

sionais internacionais. A ONU desenvolveu padrões detalhados e específicos que, apesarde não serem, por si, legalmente obrigatórios, representam, todavia, um consenso globaldos Estados sobre como melhor implementar os tratados internacionais de direitos huma-nos através de legislação, regulamentação e durante operações reais de aplicação da lei.

A base para esses padrões são o Código de Conduta da ONU para os Funcioná-rios Responsáveis pela Aplicação da Lei (1979, doravante Código de Conduta da ONU)5,os Princípios Básicos da ONU sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelosFuncionários Responsáveis pela Aplicação da Lei (1990, doravante Princípios Básicosda ONU)6, e os Princípios sobre a Prevenção e Investigação Eficazes de ExecuçõesExtrajudiciais, Arbitrárias e Sumárias7. Esses instrumentos não são legalmente obriga-tórios, mas são, contudo, acordos mundiais feitos por governos sobre como melhorimplementar tratados internacionais de direitos humanos e o uso de força durante opera-ções de aplicação da lei.8 As origens do Código de Conduta da ONU remontam a umseminário organizado pela Anistia Internacional com policiais, em 1975, em Hague. Ocódigo contém um comentário para orientar na interpretação de seus oito artigos. OsPrincípios Básicos da ONU consistem de 26 regras diferentes que estabelecem direitos edeveres específicos da polícia e de outros aplicadores da lei, inclusive a obrigação de usararmas de fogo somente como último recurso quando houver uma ameaça imediata à vida.

A expressão “funcionários responsáveis pela aplicação da lei” usada nos padrões daONU compreende “todos os agentes da lei, quer nomeados, quer eleitos, que exerçam poderesde polícia, especialmente poderes de prisão ou detenção”. Isso inclui ‘autoridades militares’ e‘forças de segurança do Estado’ que exerçam tais poderes, o que, portanto, inclui agentes depolícia, imigração, alfândega e prisões, bem como paramilitares e guardas de fronteiras.

Estes padrões giram em torno da questão do que constitui o uso legítimo da força.Como consta no Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, ninguém poderá serarbitrariamente privado de sua vida. Isso significa que se a polícia fizer uso de força letal (oque, às vezes, deve ter permissão de fazer para impedir que haja mortes ou ferimentos ou,ainda, em legítima defesa), que esse uso não seja arbitrário. O uso da força deve ser propor-cional, necessário e legal. Força arbitrária é o que ocorre quando o uso da força falha em umou em todos esses requisitos. Ademais, força letal deve somente ser usada de acordo como artigo 9º dos Princípios Básicos da ONU, ou seja, “em caso de legítima defesa ou defesade terceiros contra perigo iminente de morte ou lesão grave”. A polícia precisa ser treinadaem avaliação de risco para que possa julgar, em cada contexto distinto, se o uso da força,inclusive de força letal, será proporcional, necessário e legal. Os policiais devem estarhabilitados a avaliar o que é uma ameaça direta à vida e quando essa ameaça se apresenta.

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Implementando esses padrõesEste relatório analisa alguns dos mais importantes padrões da ONU para o contro-

le eficaz do uso de armas de fogo. Expõe quais são as exigências e então compara estespadrões com a realidade, utilizando exemplos de práticas de policiamento de várias partesdo mundo. Infelizmente, esses padrões da ONU não foram incorporados à legislaçãonacional de muitos países e nem aplicados na prática. Ao invés, a polícia tem feito usoexcessivo e injustificado de armas de fogo, o que, por sua vez, pode ter contribuído paraque aumentasse o número de crimes praticados com armas.

Contudo, há muitos países que têm dado exemplos positivos de respeito pelos pa-drões profissionais internacionais de policiamento, sendo que alguns deles são mencionadosneste breve relatório. Manter padrões éticos no uso da força pode fazer com que a polícia sejacapaz de aumentar a cooperação com comunidades locais e com atores-chave na sociedade.Um “policiamento comunitário” ético, quando combinado com sistemas eficientes de coletade inteligência, com prevenção ao crime, com treinamento e supervisão, pode ser altamenteeficaz no combate aos crimes praticados com armas e na prevenção dos abusos dos direitoshumanos cometidos pela polícia. Em alguns países a resposta da polícia aos crimes praticadoscom armas, inclusive estupro e violência doméstica, tem apresentado melhoras e mostradomais respeito aos direitos humanos. O papel desempenhado por organizações comunitárias ede direitos humanos locais foi fundamental para que isso pudesse acontecer.

Porém, tais esforços positivos feitos pela polícia e pelas comunidades precisamser acompanhados de programas governamentais combinados que façam com que apolícia preste contas às autoridades democráticas. Isso somente será possível se osgovernos realizarem investimentos adequados em recursos para a polícia e treinamentoem práticas de policiamento profissionais. Esses programas são uma prioridade internaci-onal urgente e precisam estar baseados em padrões internacionais de direitos humanos.

Salimata Sanfo, viúva deSalimata Sanfo, viúva deSalimata Sanfo, viúva deSalimata Sanfo, viúva deSalimata Sanfo, viúva deOusmane Zongo, que, noOusmane Zongo, que, noOusmane Zongo, que, noOusmane Zongo, que, noOusmane Zongo, que, nodia 22 de maio de 2003, foidia 22 de maio de 2003, foidia 22 de maio de 2003, foidia 22 de maio de 2003, foidia 22 de maio de 2003, foibaleado quatro vezes porbaleado quatro vezes porbaleado quatro vezes porbaleado quatro vezes porbaleado quatro vezes porum policial em Manhattan,um policial em Manhattan,um policial em Manhattan,um policial em Manhattan,um policial em Manhattan,Nova Iorque. Zongo estavaNova Iorque. Zongo estavaNova Iorque. Zongo estavaNova Iorque. Zongo estavaNova Iorque. Zongo estavadesarmado. © APdesarmado. © APdesarmado. © APdesarmado. © APdesarmado. © AP

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2. Policiamento e segurança comunitária

O Código de Conduta da ONU afirma que todos os órgãos de aplicação dalei “devem ser representativos da comunidade no seu conjunto, responderàs suas necessidades e ser responsáveis perante ela”.

O Princípio Básico 18 da ONU requer que governos e órgãos de aplicação da lei“devam garantir que todos os funcionários responsáveis pela aplicação dalei sejam selecionados de acordo com procedimentos adequados, possuamas qualidades morais e aptidões psicológicas e físicas exigidas para o bomdesempenho das suas funções e recebam uma formação profissional contí-nua e completa. Deve ser submetida à reapreciação periódica a sua capaci-dade para continuarem a desempenhar essas funções”.

A baixa qualidade da formação profissional e dos sistemas de prestação de contas,bem como a falta de recursos e de equipamentos policiais básicos inibem a capacidade dapolícia e de outros aplicadores da lei de enfrentarem os índices crescentes de violênciaarmada.

Quando terminou a guerra civil em Moçambique, por exemplo, a proliferação dearmas de fogo e o aumento crescente no número de crimes violentos pressionaram ogoverno a reprimir a criminalidade. Depois que a polícia recebeu novo treinamento, osrelatos de violações dos direitos humanos diminuíram. Mais tarde, a partir do final de2000, a incidência de violações aumentou novamente. Apesar de um ativo programa derecolhimento de armas, o crime armado persistia. Muitos policiais armados torturavam oumaltratavam rotineiramente pessoas suspeitas de terem cometido crimes, com freqüênciaespancando-as. Alguns detentos morreram sob tortura, enquanto que outros foram exe-cutados extrajudicialmente. Desde meados de 2002, a incidência de tortura diminuiu, masa polícia continuou a fazer uso da força e de armas de fogo de maneira desnecessária eexcessiva.9

No Brasil, apesar de o país não estar em guerra, há um problema cada vez mais gravede proliferação de armas de pequeno porte e níveis altíssimos de violência armada, o que éexacerbado por um policiamento de baixa qualidade. De acordo com o Ministério da Saúde,quase 300 mil brasileiros foram mortos por armas de fogo na última década, muitos dos quaiscomo resultado da violência urbana. Atualmente, cerca de 11 mil armas de pequeno portesão confiscadas por ano pelas autoridades no Estado do Rio de Janeiro.10

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Há duas principais forças policiais atuando nas cidades brasileiras: a PolíciaMilitar, responsável por manter a ordem pública e policiar as áreas públicas, e a PolíciaCivil, responsável pelo policiamento investigativo. A maioria dos 37 mil policiais milita-res do Rio de Janeiro, segundo um estudo governamental realizado em 200211, é com-posta por jovens do sexo masculino, com pouca educação, que trabalham por um salá-rio mensal de cerca de R$ 1.000 (US$ 325), num sistema em que alternam um turno deserviço de 24 horas com outro de descanso de 72 horas. Para suplementar sua renda,muitos têm um segundo trabalho, geralmente como seguranças privados, o que podeser uma responsabilidade e um risco maior para as instituições policiais e para ospoliciais individualmente, uma vez que muitos deles tornam-se vítimas ou causadoresda violência armada.

Fazer o policiamento de algumas cidades brasileiras, principalmente do Rio deJaneiro, pode ser especialmente difícil, pois gangues armadas de traficantes sabem explo-rar a disposição complexa das favelas para se esconder e realizar seus negócios. Asincursões policiais para apreender pessoas suspeitas de serem traficantes acabam, inva-riavelmente, por afetar toda a comunidade. O estilo militar de formação que é dado aospoliciais significa que eles quase nunca possuem as habilidades e as ferramentas adequa-das para realizar esse trabalho, sendo que, freqüentemente, a polícia usa força excessivae comete execuções extrajudiciais.

“As ações da polícia são loucas, ninguém os espera e eles põem a populaçãotoda em risco. É por isso que às vezes têm balas perdidas que matam quemestiver por perto. Só os inocentes morrem quando a polícia sobe na favela.”12

As forças policiais brasileiras têm poucas chances de poder controlar a circulação ea proliferação de armas nas comunidades urbanas e, assim, o ciclo de violência continua.13

Durante uma visita de pesquisa ao Rio de Janeiro, em junho de 2003, a AnistiaInternacional ouviu repetidos testemunhos de residentes das comunidades mais pobresda cidade que sentiam serem eles os alvos e as principais vítimas de uma política depoliciamento público violenta e discriminatória. No dia 17 de abril de 2003, por exemplo,quatro jovens desarmados, que ou eram estudantes ou trabalhadores, foram mortos atiros durante uma operação realizada pela Polícia Militar. Eram eles: Carlos Magno deOliveira Nascimento, Everson Gonçalves Silote, Thiago da Costa Correia da Silva e CarlosAlberto da Silva Pereira. Todas as provas técnicas e os testemunhos recolhidos até agora

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indicam que eles foram executados sumariamente.14 Uma versão dos eventos dada inicial-mente pela Polícia Militar alegava que eles seriam traficantes mortos em um tiroteio. Essaversão, porém, logo foi desacreditada pelas autópsias oficiais, que mostraram que eleshaviam sido mortos com tiros na nuca e que não havia indícios de que houvera troca detiros. Uma testemunha descreveu como um deles implorou para não ser morto. Depoisdisso, a polícia alegou que as vítimas haviam sido pegas em meio a um tiroteio entrepoliciais e criminosos.

Enquanto a polícia continuar a atuar em confrontação com as comunidades em vezde agir em seu interesse, seja devido às falhas internas da instituição ou como resultadode uma política governamental deliberada, praticamente não há esperanças de que o ciclode violência e a morte de civis inocentes vão terminar.

Em São Paulo, a explicação dada pela polícia para o número de mortes causadaspor policiais é que isso seria o resultado do aumento do número de confrontos com oscriminosos nos últimos dois anos, sendo que a maioria das mortes ocorreria em casos delegítima defesa.15 Apesar disso, o quadro abaixo mostra que o número de policiais mortosse mantém constante, enquanto que o número de civis mortos pela polícia aumentoudramaticamente.16

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3. Ataques contra aplicadores da lei

No preâmbulo dos Princípios Básicos da ONU sobre a Utilização da Forçae de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação daLei, de 1990, encontra-se a afirmação que: “a ameaça à vida e à segurançados funcionários responsáveis pela aplicação da lei deve ser considera-da como uma ameaça à estabilidade da sociedade no seu todo”.

Mais do que a maioria das profissões, os policiais e outros aplicadores da leirealizam um trabalho difícil e, muitas vezes, de alto risco, sendo que seus direitos huma-nos devem ser respeitados. Eles precisam se defender e proteger o público contra ataquescom armas de fogo, facas ou outros tipos de agressões cometidas por pessoas violentas.

Policial durante missa na Delegacia de Polícia de Protea, em Soweto, naPolicial durante missa na Delegacia de Polícia de Protea, em Soweto, naPolicial durante missa na Delegacia de Polícia de Protea, em Soweto, naPolicial durante missa na Delegacia de Polícia de Protea, em Soweto, naPolicial durante missa na Delegacia de Polícia de Protea, em Soweto, naÁfrica do Sul, em abril de 2001. Mais de 200 policiais são mortos por anoÁfrica do Sul, em abril de 2001. Mais de 200 policiais são mortos por anoÁfrica do Sul, em abril de 2001. Mais de 200 policiais são mortos por anoÁfrica do Sul, em abril de 2001. Mais de 200 policiais são mortos por anoÁfrica do Sul, em abril de 2001. Mais de 200 policiais são mortos por anono país. © APno país. © APno país. © APno país. © APno país. © AP

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Mas todo o uso de força deveria estar sujeito aos padrões internacionais de direitoshumanos estabelecidos nos Princípios Básicos da ONU - sobretudo, a força deveria serusada somente quando medidas não-violentas tiverem falhado, de modo legal e proporci-onal, limitada ao mínimo exigido pela situação.

Uma maior circulação de armas de pequeno porte em muitos países faz aumentaremos riscos já inerentes ao trabalho policial. Na África do Sul, por exemplo, mais de 200policiais são mortos a cada ano, o maior índice mundial para esse tipo de morte conformeum estudo recente.17 Um nível tão alto de mortes certamente tem um profundo impacto namoral e na sensação de proteção e segurança dos policiais. Todavia, é importante notarque 65% dos 955 policiais assassinados entre 1994 e 1997 morreram enquanto estavamfora de serviço (envolvimento em brigas e atividades criminosas em geral, em vez deatividades de policiamento oficial). Somente 30% das fatalidades que atingiram policiaisocorreram no curso de ações de combate ao crime, tais como assaltos e roubos de casase carros, sendo que 61% dessas mortes ocorreram quando os policiais tiveram suaspistolas de serviço roubadas. Também é interessante notar que 27% dessas fatalidadesresultaram de desavenças, em sua maioria com outros colegas policiais enquanto emserviço.18

É interesse da polícia assegurar que o controle governamental das armas seja maissevero, para proteção dos policiais que estiverem em serviço ou fora dele. Porém, baixaremuneração, falta de treinamento e equipamentos, bem como falta de respeito, tambémcontribuem para aumentar a pressão sobre policiais que realizam trabalhos perigosos: háinformações de que 260 policiais teriam cometido suicídio na África do Sul em 1997, maisdo que o número total de policiais assassinados naquele ano.19

Em lugares onde a violência política tem se degenerado a ponto de haver confron-tos armados, exacerbados pelas mortes causadas por policiais, o número de fatalidadesentre os policiais é ainda maior. No Nepal, por exemplo, a polícia e outros aplicadores dalei têm sido envolvidos em uma espiral de violência que acabou com inúmeras vidas.Durante os cinco anos de conflitos armados entre o Partido Comunista do Nepal (CPN, deorientação maoísta) e o governo nepalês que duraram até meados de 2002, a polícia foiresponsável pela maioria das mortes de mais de mil “maoístas”, muitas das quais ocorre-ram em circunstâncias suspeitas.20 Ao mesmo tempo, estatísticas governamentais mos-tram que 873 integrantes da polícia, 97 da Força de Polícia Armada e 219 do exército forammortos desde o início da chamada “guerra do povo”.21

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4. Tiroteio policial - foi mesmo oúltimo recurso?

Segundo o Princípio Básico 9 da ONU, os funcionários responsáveis pelaaplicação da lei “só devem recorrer intencionalmente à utilização letal dearmas de fogo quando isso seja estritamente indispensável para protegervidas humanas”.

Eles somente devem usar armas de fogo com os seguintes objetivos e,ainda, “somente quando medidas menos extremas se mostrem insuficien-tes para alcançarem aqueles objetivos”:- “em caso de legítima defesa, defesa de terceiros contra perigo iminentede morte ou lesão grave”,- “para prevenir um crime particularmente grave que ameace vidas hu-manas”,- “para proceder à detenção de pessoa que represente essa ameaça e queresista à autoridade, ou impedir a sua fuga”.

Além disso, segundo o Princípio Básico 10 da ONU, “os funcionários res-ponsáveis pela aplicação da lei devem identificar-se como tal e fazer umaadvertência clara da sua intenção de utilizarem armas de fogo, deixandoum prazo suficiente para que o aviso possa ser respeitado”, a menos quecircunstâncias especiais exijam o contrário. 22

As profissões de soldado e policial são coisas bem diferentes. Desde que os solda-dos obedeçam às leis da guerra, em situações de combate eles podem atirar para matar oupara ferir combatentes inimigos. No entanto, conforme as regras da ONU, policiais e outrosaplicadores da lei devem proteger o direito à vida, à liberdade e à segurança da pessoa - elessomente poderão usar força letal quando houver uma ameaça iminente ou direta à vida oude ferimento que leve à morte. Isso poderia ser em caso de legítima defesa ou para impedirque outra pessoa seja morta. Qualquer que seja o caso, os tiros disparados por um policialpara impedir a ação letal de um agressor deveriam absolutamente ser um último recurso ejamais deveriam ser arbitrários ou excessivos. Essa regra da ONU também se aplica a polici-ais e carcereiros responsáveis por detentos ou prisioneiros em prisões e locais de custódia.

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23 Além disso, em instituições penais os funcionários não deveriam normalmente portararmas de fogo a menos que isso fosse absolutamente necessário. 24

Portanto, policiais que portarem armas de fogo precisam ter um alto nível de treina-mento e de supervisão, para que possuam as habilidades de controle e de avaliação táticade ameaça necessárias para legitimamente fazerem uso de força, inclusive letal. Infeliz-mente, são muitos os policiais que não recebem tal treinamento ou supervisão.

Em 2002, a Jamaica era detentora não apenas de um dos mais altos níveis de assassina-tos do mundo, como também do maior número per capita de disparos letais dados pela polícia.Segundo estatísticas oficiais, nos últimos dez anos uma média de 140 pessoas por ano sãobaleadas e mortas pela Força Policial da Jamaica (Jamaica Constabulary Force) e pela Forçade Defesa da Jamaica (Jamaica Defense Force), em um país cuja população é de apenas 2,6milhões de habitantes.25 O alto índice de crimes praticados com armas na Jamaica significa queos próprios funcionários responsáveis pela aplicação da lei são alvo dessas armas - 18 inte-grantes da Força Policial da Jamaica foram mortos em 2002. A polícia da Jamaica, porém, usaesse fato para justificar o impressionante número de pessoas baleadas pela polícia. O resulta-do disso é que há pouca confiança na polícia em algumas comunidades e o ciclo de violênciaé perpetuado, com mais policiais sendo atacados e civis sendo mortos.

Em vários casos de suspeita de execuções extrajudiciais na Jamaica as declarações dapolícia são extraordinariamente uniformes: alegam que uma patrulha policial encontrou homensagindo “de maneira suspeita” que, quando desafiados, sacaram armas de fogo e começaram aatirar nos policiais, que revidaram os tiros matando um ou mais deles enquanto que os outrosescaparam. As suspeitas levantadas pela repetição desses relatos são reforçadas pelo fato deque quase todos os tiroteios com a polícia resultam em fatalidades. A experiência mostra quemuitas das pessoas baleadas pela polícia, ou por outros, deveriam sobreviver ao menos portempo suficiente para que chegassem até um hospital, mas em quase todos os casos de tiroteiosenvolvendo policiais na Jamaica a pessoa é declarada morta ao chegar às instalações médicas.

A Anistia Internacional monitorou reportagens na mídia sobre mortes causadaspela polícia na Jamaica em 2001 e 2002.26 A mídia impressa reportou que 68 pessoas forammortas pela polícia em 47 casos distintos. Em 44 desses casos a polícia informou que apessoa atingida mortalmente havia atirado antes. Mas em apenas seis desses casos ospoliciais foram atingidos por tiros, sendo que nenhum deles morreu. Em 19 dos casos, amídia trazia declarações de testemunhas que contradiziam as versões dadas pela políciaaos eventos. Um major do exército britânico aposentado, a quem foi solicitado que co-mentasse esses dados, disse: “Esses números são altamente questionáveis. Seria deesperar que a parte primeiro atingida pelos disparos apresentasse o maior número defatalidades ... a habilidade das forças policiais jamaicanas de fazer disparos letais emalvos móveis enquanto sob fogo inimigo é impressionante.”27

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Richard Williams, por exemplo, foi fatalmente baleado pela polícia no dia 8 de junhode 2001 em Spanish Town, Jamaica, após ter sido espancado por mais de uma hora diantede seus colegas no estaleiro em que trabalhava.28 Sua mãe chegou ao local após terouvido seus gritos e tentou intervir. Disse que o espancamento prosseguiu enquanto elasegurava o filho em seus braços, sendo que ela também foi espancada e chutada. Apolícia então matou seu filho a tiros. Testemunhas dizem que uma arma foi “plantada” neledepois de ele ter sido baleado. Desde então, seus familiares têm sido intimidados e, no dia6 de agosto de 2001, dois membros de sua família foram presos e mantidos em um local dedetenção em Kingston. Um deles, Levan Linton, permanece sob custódia. A investigaçãosobre o incidente foi dificultada devido às tentativas dos policiais de intimidarem e asse-diarem seus parentes. Mesmo assim, no final de 2003, quatro policiais foram acusados damorte de Richard Williams, enquanto que outro foi acusado de agredir sua mãe.

Tais incidentes demonstram claramente situações em que a polícia não age deacordo com os Princípios Básicos da ONU, mas de maneira criminosa devido ao usoarbitrário que faz da força. Isso sublinha a necessidade de dar treinamento apropriado aospoliciais. Alguns governos têm demonstrado esse compromisso investindo em escolaspara treinamento em armas de fogo. No Reino Unido, por exemplo, a Polícia Metropolitanaconstruiu recentemente uma escola para treinamento em armas de fogo, ao custo de 5milhões de libras, para melhorar as habilidades dos policiais.

Em 1991, um relatório da polícia britânica sobre a Força Policial da Jamaica concluiuque: “não existe estratégia na Jamaica ... para assegurar que as armas de fogo sejam usadasapenas como último recurso e não como uma reação imediata ... A continuidade dos índicesde mortes atribuíveis a operações com armas de fogo envolvendo a Força Policial daJamaica são, sem dúvida, produto do uso de armas de fogo como primeiro recurso.”29

Richard Williams,Richard Williams,Richard Williams,Richard Williams,Richard Williams,morto a tiros pelamorto a tiros pelamorto a tiros pelamorto a tiros pelamorto a tiros pelapolícia no dia 8 depolícia no dia 8 depolícia no dia 8 depolícia no dia 8 depolícia no dia 8 dejunho de 2001 emjunho de 2001 emjunho de 2001 emjunho de 2001 emjunho de 2001 emSpanish Town,Spanish Town,Spanish Town,Spanish Town,Spanish Town,Jamaica. © ParticularJamaica. © ParticularJamaica. © ParticularJamaica. © ParticularJamaica. © Particular

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5. Disparos em meio a reuniões pacíficas

O Princípio Básico 13 da ONU afirma que ao dispersar reuniões ilegais, masnão violentas, os funcionários responsáveis pela aplicação da lei deveriamevitar o uso de força. Se for preciso usar a força para, por exemplo, garantira segurança de outros, eles deveriam “limitar a utilização da força aoestritamente necessário”.

Segundo o Princípio 14, os “funcionários responsáveis pela aplicação dalei só podem utilizar armas de fogo para dispersarem reuniões violentasse não for possível recorrer a meios menos perigosos, e somente nos limi-tes do estritamente necessário”. Além disso, armas de fogo somente de-vem ser usadas conforme as condições expostas no Princípio 9, isto é, “emcaso de legítima defesa ou defesa de terceiros contra perigo iminente demorte ou lesão grave”.

A implicação clara desses padrões da ONU é que os funcionários responsáveispela aplicação da lei não devem atirar contra uma multidão para dispersá-la, somentecontra quem apresentar uma ameaça direta à vida. De acordo com os Padrões Básicos daONU, para que a força oficial seja usada dentro dos limites do estritamente necessário, apolícia deveria estar equipada com outros meios que não armas de fogo para dispersarreuniões violentas, sendo que a força jamais deveria ser usada contra uma reunião pací-fica apenas por esta ser ilegal. Quando as próprias reuniões apresentarem ameaça deviolência coletiva, pode-se usar gás lacrimogêneo que, porém, em áreas confinadas nãopoderá ser usado arbitrária ou indiscriminadamente. A polícia, portanto, precisa receberum treinamento de alto nível em técnicas de controle de tumulto, além de trajes protetorese outros instrumentos legítimos “não letais” para evitar o uso desnecessário de armas defogo. Os policiais precisam estar capacitados a saber como exercer contenção, usando,tanto quanto possível, a persuasão e outros meios não violentos. Não há necessidade deporte de armas de fogo em uma situação de tumulto a menos que haja uma ameaça à vida.Em muitos casos, as armas podem apresentar um risco maior para os próprios policiais,pois elas podem ser tomadas deles ou ainda perdidas.

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Em novembro de 2002, em Moçambique, ocorreram manifestações oposicionistaspor todo o país, algumas das quais violentas, em que, ao menos, 41 pessoas morreram,incluindo seis policiais. Em Chimoio, na Província de Manica, os policiais agrediram osmanifestantes com coronhadas de seus rifles antes do início da passeata. Na cidade deNampula eles teriam atirado sem que houvesse provocação e indiscriminadamente, ma-tando uma pessoa a tiros enquanto a multidão se dispersava.30

A Polícia de Intervenção Rápida, de cunho paramilitar, tem feito uso de forçaexcessiva contra manifestantes pacíficos.31 Há poucas chances de compensação paravítimas de violações de direitos humanos por parte da polícia, as quais geralmente têm debuscar o apoio de organizações não-governamentais para que seus casos sejam levadosàs autoridades. No entanto, houve um caso recente, em setembro de 2003, em que umainvestigação criminal foi iniciada logo após a polícia ter matado a tiros um manifestanteem Maputo.32

No dia 9 de abril de 2002, milhares de estudantes participavam de uma manifesta-ção na Universidade de Alexandria, no Egito, em protesto contra a política dos EUA parao Oriente Médio, por ocasião da visita ao Cairo do Secretário de Estado norte-americano,Colin Powel. Durante a manifestação, Muhammad Ali al-Sayid al-Saqqa, um estudanteuniversitário de 19 anos, foi morto e vários outros, inclusive policiais, ficaram feridos.Havia informações de que Muhammad Ali al-Sayid al-Saqqa fora atingido por um projétildisparado por um integrante das forças de segurança.33

Informes do local onde ocorreu a violência no Egito indicavam que a manifestaçãohavia começado pacífica, porém o evento ganhou força quando os manifestantes tenta-ram sair da área do campus universitário para juntarem-se a outros do lado de fora erumarem em passeata em direção a um Centro Cultural norte-americano localizado nasproximidades. Os estudantes teriam atirado pedras e garrafas contra membros das forçasde segurança que tentavam impedi-los de seguir em passeata fora do campus. Uma decla-ração divulgada pelo Ministério do Interior egípcio, no dia 10 de abril de 2002, não fezqualquer sugestão sobre o uso de armas de fogo pelos manifestantes. Na mesma declara-ção, porém, observou-se que as forças de segurança haviam feito disparos com chumbogrosso para tentar acalmar a situação.34

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6. Treinamento para o uso legítimoda força

O Princípio Básico 19 requer que “os governos e os organismos de aplica-ção da lei devem garantir que todos os funcionários responsáveis pelaaplicação da lei recebam formação e sejam submetidos a testes de acordocom normas de avaliação adequadas sobre a utilização da força. Osfuncionários responsáveis pela aplicação da lei que devam transportararmas de fogo deveriam ser apenas autorizados a fazê-lo após recebimen-to de formação especial para a sua utilização”.

O Princípio 20 estipula que tal treinamento deveria enfatizar “questões de éticapolicial e de direitos do homem, em particular no âmbito da investigação” e“(a)os meios de evitar a utilização da força ou de armas de fogo, incluindo aresolução pacífica de conflitos, (a)o conhecimento do comportamento demultidões e (a)os métodos de persuasão, de negociação e mediação”.

Uma vez que a força devesse ser apenas um recurso limitado ao estritamentenecessário em quaisquer operações de aplicação da lei, a polícia deveria estar equipadacom outras capacidades que lhe permitisse desfazer tensões pacificamente. Obviamente,para estar de acordo com os padrões da ONU, os policiais não precisam de treinamentocom armas de fogo apenas com relação a como atirar no alvo ou limpar e manter suasarmas. Essas são habilidades relativamente simples. Eles precisam também de um altonível de treinamento sobre como avaliar uma situação e responder da maneira mais pro-porcional para impedir ou prevenir uma ameaça direta à vida. Isso poderia se dar, porexemplo, por meio de contenção e negociação. Há situações, porém, em que isso podeenvolver tirar a vida de um agressor.

Para esse treinamento, uma avaliação de risco tática deve ser aplicada em um treinooperacional que envolva exercícios e situações da vida real. O treinamento deve ser conceituale operacional, com testes e certificados baseados rigorosamente nos padrões da ONU. Paraalcançar o nível de habilidade exigido, os candidatos devem ser selecionados cuidadosamen-te e receber treinamento para iniciantes, bem como treinamento regular em serviço sobre usode força e de armas de fogo. Isso somente poderá ser alcançado através de investimentossubstanciais em recursos por parte dos governos, bem como de regulamentos rígidos.

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Em outubro de 1999, uma administração transitória da ONU foi estabelecida naRepública Democrática do Timor Leste para ajudar na reconstrução do país após décadasde violações dos direitos humanos em grande escala e da destruição generalizada coman-dada, em 1999, pelas forças de segurança da Indonésia e por milícias pró-Indonésia. Orápido desenvolvimento de um serviço policial profissional foi uma vitória importante.Uma força policial com cerca de 3 mil integrantes começou a ser estabelecida em abril de2001, a maioria dos quais, porém não todos, armados com modernas pistolas Glock 9mm.35

Porém, violações dos direitos humanos contra civis cometidas pela nova políciaarmada refletem a falta de treinamento adequado supervisionado pela ONU. Em dezembrode 2002, por exemplo, duas pessoas foram mortas a tiros e pelo menos outras 13 ficaramferidas na capital, Dili, durante um tumulto que durou oito horas. As conclusões de umainvestigação realizada pela Polícia da ONU foram publicadas em novembro de 2003. Segun-do o relatório, a polícia não foi capaz de identificar os indivíduos responsáveis pelas mortesnem de esclarecer as circunstâncias em que se deu o tiroteio.36 No decorrer de 2003, eramfreqüentes as reclamações contra a polícia por agressão e mau uso de armas. Apesar de oTimor Leste ser agora independente, a responsabilidade executiva pelo policiamento aindaestá nas mãos das Nações Unidas. Mesmo com a presença da ONU, a inadequação dotreinamento policial e a falta de mecanismos apropriados de supervisão e de prestação de

Treinamento do Serviço de Polícia de Timor Leste sobre o uso de pistolas.Treinamento do Serviço de Polícia de Timor Leste sobre o uso de pistolas.Treinamento do Serviço de Polícia de Timor Leste sobre o uso de pistolas.Treinamento do Serviço de Polícia de Timor Leste sobre o uso de pistolas.Treinamento do Serviço de Polícia de Timor Leste sobre o uso de pistolas.Academia de Polícia, Dili, outubro de 2002. © AIAcademia de Polícia, Dili, outubro de 2002. © AIAcademia de Polícia, Dili, outubro de 2002. © AIAcademia de Polícia, Dili, outubro de 2002. © AIAcademia de Polícia, Dili, outubro de 2002. © AI

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contas para a Polícia Nacional do Timor Leste significa que, muitas vezes, essas reclama-ções são tratadas de maneira inconsistente quando não são completamente ignoradas.37

O treinamento dos novos cadetes limita-se a quatro meses na Academia de Polícia (erade três meses em setembro de 2003 e deve passar a ser de seis meses em 2004), sendo que,apesar de o treino para o uso de força e de armas de fogo constituir uma porção significativado treinamento, o que se pode perceber através de uma observação direta do treino com armasde fogo é que enquanto os cadetes aprendiam habilidades técnicas, como tiro ao alvo emanutenção das armas, eles não estavam sendo preparados com as habilidades táticas que oscapacitariam a avaliar riscos ou fazer uso de contenção conforme os padrões da ONU.38

Os Princípios Básicos da ONU também requerem que “sempre que o uso legítimoda força ou de armas de fogo seja indispensável, os funcionários responsáveis pelaaplicação da lei devem”... “assegurar a prestação de assistência e socorros médicos àspessoas feridas ou afetadas, tão rapidamente quanto possível”.39 Entretanto, em muitolocais essa assistência médica pode ser difícil de ser encontrada. No Timor Leste, osprocedimentos operacionais (projeto) afirmam que se uma arma de fogo for disparada, ospoliciais “deveriam imediatamente buscar assistência médica para quaisquer feridos”.Porém, em um país com pouco ou nenhum recurso médico isso se torna problemático.Sendo assim, os policiais deveriam receber treinamento em primeiros socorros e ser equi-pados com material para curativos. Atualmente, os recrutas policiais em Timor Lesterecebem 12 horas de treinamento em primeiros socorros.

Todavia, sob supervisão da ONU, os policiais foram equipados com spray de pimenta,cassetetes e pistolas Glock austríacas, sendo que há planos de equipar um número seleciona-do de policiais do Serviço de Operações Rápidas com armas semi-automáticas. Está claro queum considerável apoio internacional adicional ainda é necessário para ajudar a construir umserviço policial eficiente, capaz de proteger os direitos humanos em Timor Leste. Apesar doprogresso significante, a Polícia Nacional do Timor Leste ainda é uma instituição frágil esubdesenvolvida, que não está treinada e equipada adequadamente, nem tem apoio suficientepara manter a lei e a ordem conforme os padrões internacionais de direitos humanos.40

Todos os funcionários encarregados de aplicar a lei, inclusive os que trabalhampara empresas de segurança privadas - caso tenham licença e autorização para portaremarmas, deveriam receber treinamento adequado para uso de armas de fogo, conforme ospadrões da ONU. Um estudo realizado em 2002 na África do Sul mostrou que aproximada-mente 100 mil agentes de segurança não haviam sido treinados para o tipo de trabalho querealizavam; em 1999, três quartos de todos os agentes de segurança tinham apenas asqualificações mais básicas, o que os capacitava a portarem armas e exercerem suas fun-ções com apenas cinco horas de treinamento para uso de armas de fogo.41

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7. Policiamento em zonas de conflito

Segundo os Princípios da ONU sobre a Prevenção e Investigação Eficazesde Execuções Extrajudiciais, Arbitrárias e Sumárias, os “governos proibi-rão por lei todas as execuções extrajudiciais, arbitrárias ou sumárias...Não poderão ser invocadas para justificar essas execuções circunstânci-as excepcionais, como, por exemplo, o estado de guerra ou de risco deguerra, a instabilidade política interna nem nenhuma outra emergênciapública”.

O artigo 3º comum às Convenções de Genebra proíbe o homicídio, a mutila-ção, a tortura e outros crimes por qualquer uma das partes, sob quaisquercircunstâncias, durante conflitos armados não internacionais.

Violações do direito à vida e de não ser torturado costumam ocorrer quando apolícia e outras forças de segurança operam em contextos caracterizados por confrontoscom grupos de oposição armados, apesar de que tais direitos jamais devessem ser deso-bedecidos, sob nenhuma circunstância.

O conflito entre o Partido Comunista do Nepal (PCN - maoísta) e o governonepalês teve início em 1996. No final de outubro de 2002, o conflito já havia, no total,tirado a vida de mais de 7 mil pessoas. A grande maioria das vítimas era de civis,visados por seu apoio, real ou aparente, ao PCN.42 Somente entre os meses de setembroe dezembro de 2003, após o colapso do cessar-fogo de janeiro de 2003, mais de 1.500pessoas foram mortas pelos dois lados, o que inclui um número substancial de nãocombatentes.

Entre fevereiro de 1996 e julho de 2001, a polícia nepalesa matou um total de 1.060pessoas ditas maoístas, de acordo com os dados oficiais disponíveis em 2002. O governodeclarou que todas elas eram membros do CPN e que haviam sido mortas durante “encon-tros” com a polícia. Pelo menos outras 130 pessoas ‘desapareceram’ enquanto em custó-dia policial e muitas outras foram torturadas.43

Em 2002, um superintendente graduado da polícia admitiu para a Anistia Internaci-onal que as forças de segurança mataram deliberadamente aqueles descritos como sendomaoístas. Ele explicou que as características do terreno e a falta de locais de detenção

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faziam com que fosse difícil levar os maoístas feridos para o hospital ou os maoístascapturados para a prisão.44

Abusos dos direitos humanos cometidos pelos maoístas incluem a matançadeliberada de cerca de 800 civis considerados �inimigos da revolução�, a tomadade reféns para resgate, a tortura de pessoas mantidas em cativeiro e a mortedeliberada de membros das forças de segurança após estes terem sido capturados.

Policial armadoPolicial armadoPolicial armadoPolicial armadoPolicial armadono Nepal, 2001.no Nepal, 2001.no Nepal, 2001.no Nepal, 2001.no Nepal, 2001.© Panos© Panos© Panos© Panos© PanosPictures/Dermot TatlowPictures/Dermot TatlowPictures/Dermot TatlowPictures/Dermot TatlowPictures/Dermot Tatlow

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8. Armas e crianças

Segundo os princípios do Código de Conduta da ONU para osFuncionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, �O emprego dearmas de fogo é considerado uma medida extrema. Devem fazer-setodos os esforços no sentido de excluir a utilização de armas de fogo,especialmente contra as crianças�.45

A Convenção sobre os Direitos da Criança, ratificada por todos osEstados com exceção dos EUA e da Somália, também requer que osgovernos providenciem ampla proteção a todas as pessoas menoresde dezoito anos de idade, inclusive durante conflitos armados.

Conforme as regras da ONU, os policiais devem se abster de usar armas defogo contra crianças, que são definidas como sendo todas as pessoas menores dedezoito anos. Uma das mais chocantes violações desse princípio ocorre emHonduras, onde, segundo organizações não-governamentais locais, mais de 1.500crianças e jovens foram assassinados entre 1998 e 2002. Na maioria dos casos, osautores não são identificados, apesar de os depoimentos de sobreviventes etestemunhas indicarem que eles possam ser policiais ou civis agindo com oconsentimento implícito das autoridades, em circunstâncias que sugerem estarhavendo uma campanha de �limpeza social�.46

Desde que assumiu o poder em janeiro de 2002, o presidente Ricardo Madurovem promovendo uma série de medidas para investigar esses casos. Porém, váriaspropostas e iniciativas governamentais para enfrentar o problema ainda não foramcumpridas e não houve declínio no número de mortes. Pelo contrário, de acordocom dados colhidos por ONGs hondurenhas, o número de mortes teria mais quedobrado nos últimos dois anos. Órgãos de imprensa vêem essas mortes e execuçõescomo sendo uma solução para o crescente problema da violência e da criminalidadenas ruas.47

A grande maioria das vítimas pertence aos setores mais marginalizados dasociedade. Há indícios de que o número de vítimas do sexo feminino aumentounos últimos dois anos e há informações sobre estupros de moças e meninas por

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parte de funcionários responsáveis pela aplicação da lei. Durante o mês de outubrode 2003, um total de 25 crianças e jovens com menos de 23 anos foram assassinados- todos com armas de fogo. Esses dados são assustadores mas, mesmo assim,representam uma queda considerável da média de 50 a 70 mortes por mês no anoanterior. Esse foi o segundo mês que apresentou uma queda significativa nastaxas de morte de crianças.48

Nenhum dos 30 casos levados à Comissão Especial para InvestigarAssassinatos de Crianças, estabelecida pelo governo Maduro em 2002, resultou emcondenação. Em 11 desses 30 casos, o Departamento Geral de Investigação Criminal,DGIC, concluiu suas investigações: um total de 9 policiais foram investigados,inclusive um investigador integrante do DGIC; um membro do Congresso Nacionale um membro do �Comitê de Segurança Pública�, um grupo voluntário de segurançados bairros encorajado pelo Ministério da Segurança Pública.49

Policiais armados caminham perto de crianças nesta área urbana dePoliciais armados caminham perto de crianças nesta área urbana dePoliciais armados caminham perto de crianças nesta área urbana dePoliciais armados caminham perto de crianças nesta área urbana dePoliciais armados caminham perto de crianças nesta área urbana deSanto Domingo, República Dominicana. Como ocorre em outras áreasSanto Domingo, República Dominicana. Como ocorre em outras áreasSanto Domingo, República Dominicana. Como ocorre em outras áreasSanto Domingo, República Dominicana. Como ocorre em outras áreasSanto Domingo, República Dominicana. Como ocorre em outras áreasurbanas em todo o mundo, um grande número de policiais armadosurbanas em todo o mundo, um grande número de policiais armadosurbanas em todo o mundo, um grande número de policiais armadosurbanas em todo o mundo, um grande número de policiais armadosurbanas em todo o mundo, um grande número de policiais armadosatua muito próximo de crianças. © APatua muito próximo de crianças. © APatua muito próximo de crianças. © APatua muito próximo de crianças. © APatua muito próximo de crianças. © AP

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9. Violência armada contra mulheres

Conforme os termos da Declaração da ONU sobre a Eliminação daViolência contra a Mulher,50 �Os Estados devem aplicar, por todos osmeios apropriados e sem demora, uma política que se destine aeliminar a violência contra as mulheres�, seja de natureza física,sexual ou psicológica, quer ocorra na esfera da vida pública ouprivada (artigos 1º e 4º). Devem ainda �Proceder com a devidadiligência a fim de prevenir, investigar e, de acordo com a legislaçãonacional, punir atos de violência contra as mulheres, sejam elesperpetrados pelo Estado ou por particulares� (artigo 4º, �c�).

Especialmente, os Estados devem �Adotar medidas para assegurarque os funcionários responsáveis pela aplicação da lei e osfuncionários públicos encarregados da implementação de políticaspara a prevenção, a investigação e a punição da violência contra asmulheres recebam treinamento para sensibilizá-los sobre asnecessidades das mulheres� (artigo 4º, �i�).

A Declaração da ONU sobre a Eliminação da Violência contra a Mulherestabelece padrões para todos os governos e autoridades encarregadas documprimento da lei combaterem a violência contra a mulher, sobretudo a denatureza sexual. Porém, em todo o mundo, ainda há muita ignorância e descasopara com esses padrões, sendo que a violência armada praticada contra mulheresé muitas vezes alimentada por uma cultura de violência generalizada contra elas.

Em Lesoto, a polícia geralmente não consegue investigar ou agir comsensibilidade frente a relatos de estupro e de violência doméstica. As vítimas detais crimes são obrigadas a fazer declarações detalhadas em guichês públicos nasdelegacias de polícia, sendo que freqüentemente são submetidas a questionamentoshumilhantes.51 Esse tipo de problema em países do sul e do leste da África levou aOrganização de Cooperação Regional dos Chefes de Polícia da África Austral aproduzir, em julho de 2003, um manual de conduta policial sobre como agir emcasos de violência contra as mulheres.52

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Na África do Sul, um número maior de mulheres foi baleada em casa, emsituações de violência doméstica, do que nas ruas ou nas mãos de estranhos.Policiais do sexo masculino são responsáveis por um índice maior de abusodoméstico do que o que ocorre entre civis comuns: um levantamento pilotorealizado em Johanesburgo, em meados dos anos 90, concluiu que um de cadacinco responsáveis pela morte de uma mulher em casa, fosse esposa ou parente,era policial.53

Em certos países, os funcionários encarregados de fazer cumprir a lei nãoagiram como deveriam quando confrontados com um padrão persistente deviolência sexual. Nos últimos dez anos, na cidade mexicana de Ciudad Juárez,mais de 370 mulheres foram mortas, algumas com armas de fogo, sendo que aomenos 137 delas foram estupradas antes de serem mortas. Outras 70 jovens aindaestão desaparecidas segundo as autoridades, mas as ONGs afirmam que são maisde 400. Geralmente, essas mulheres são trabalhadoras das maquiladoras (unidadesde montagem) estabelecidas por empresas multinacionais que controlam aeconomia de Ciudad Juárez, bem como garçonetes, trabalhadoras da economiainformal ou estudantes. A pobreza em que vive a maioria delas não lhes deixaoutra opção que não enfrentar uma longa e solitária viagem de ônibus até seu localde trabalho ou estudo. Um padrão de mortes similar começa agora a surgir nacapital do estado, Chihuahua.

A polícia local não conseguiu ainda estabelecer um sistema eficiente pararesponder às chamadas de emergência que informam que mulheres estão sendoespancadas ou estupradas, apesar de esses crimes já virem ocorrendo há mais deuma década. Têm havido atrasos injustificáveis nas investigações iniciais, períodoem que há mais chances de que a mulher seja encontrada viva ou de identificar osresponsáveis, e fracasso em lidar com provas e declarações de testemunhas quepoderiam ser cruciais. Em outros casos, os exames forenses realizados eraminadequados e foram dadas às famílias informações incorretas e contraditóriassobre a identidade dos corpos, aumentando assim a dor sofrida pelos familiares eatrapalhando seu processo de luto. Em um dos casos, existem alegações que dãoconta do envolvimento de um policial federal com raptos, mas esses indícios,contudo, não foram totalmente investigados.54

É fundamental que o treinamento policial desafie crenças e atitudesdiscriminatórias comumente encontradas, que fazem com que as mulheres sejamparticularmente vulneráveis a sofrerem violência armada.

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Norma Andrade, mãe de Lilia Alejandra, cujo corpo foi encontradoNorma Andrade, mãe de Lilia Alejandra, cujo corpo foi encontradoNorma Andrade, mãe de Lilia Alejandra, cujo corpo foi encontradoNorma Andrade, mãe de Lilia Alejandra, cujo corpo foi encontradoNorma Andrade, mãe de Lilia Alejandra, cujo corpo foi encontradoem fevereiro de 2001, em Ciudad Juárez. Junto a ela está a filha deem fevereiro de 2001, em Ciudad Juárez. Junto a ela está a filha deem fevereiro de 2001, em Ciudad Juárez. Junto a ela está a filha deem fevereiro de 2001, em Ciudad Juárez. Junto a ela está a filha deem fevereiro de 2001, em Ciudad Juárez. Junto a ela está a filha deLilia. © AILilia. © AILilia. © AILilia. © AILilia. © AI

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10. Visando minorias étnicas e raciais

Os Estados-Partes na Convenção Internacional sobre a Eliminação deTodas as Formas de Discriminação Racial �comprometem-se a proibire a eliminar a discriminação racial sob todas as suas formas e a garantiro direito de cada um à igualdade perante a lei, sem distinção de raça,de cor ou de origem nacional ou étnica�, inclusive o gozo do �direito àsegurança da pessoa e à proteção do Estado contra violência ou lesãocorporal cometida por funcionários do governo ou por qualquer pessoa,grupo ou instituição� (artigo 5º e alínea �b�).

As Diretrizes da ONU para Funcionários em Função de Comando ouSupervisão em treinamento policial enfatizam, entre outras coisas, odever dos comandantes da polícia (a) de emitir ordens claras sobre avulnerabilidade e as necessidades de proteção de refugiados eestrangeiros; (b) de desenvolver projetos de cooperação comrepresentantes das comunidades para combater atos de violência eintimidação de natureza racista e xenofóbica; (c) de organizar patrulhasa pé em áreas com altas concentrações de refugiados e considerar apossibilidade de estabelecer subdelegacias nessas áreas; e (d) de criarunidades especiais com as habilidades lingüísticas, sociais e legaispara desenvolver um trabalho que dê mais atenção à proteção dosimigrantes do que ao cumprimento das leis de imigração.55

Todos os Estados devem agir com a devida diligência para impedir aviolência étnica e racial. Apesar de os padrões da ONU citados acima nãomencionarem explicitamente a questão das armas de fogo, eles têm implicaçõesprofundas na maneira com que a polícia poderá aplicar a força. Se houver indíciosde que agentes do Estado, tais como policiais armados, estiverem persistentementevisando minorias étnicas ou raciais, isso exigirá uma investigação imediata e umaextensa ação compensatória por parte do governo e das autoridades policiais.Contudo, há países em que as autoridades têm demorado a tomar uma atitudecom relação a uma polícia que age contra as minorias étnicas ou raciais.

Na Grécia, por exemplo, imigrantes e membros de minorias étnicas corremmaiores riscos de sofrer abusos, apesar de não serem poupadas nem mesmo as

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pessoas que pertencem à maioria grega da população. A xenofobia e o preconceitoracial são parcialmente responsáveis pelos abusos sofridos por gruposminoritários na Grécia. Dentre eles se incluem os roma e outros estrangeiros, quesão, na maioria das vezes, imigrantes albaneses sem documentação, bem comoimigrantes e requerentes de asilo do Oriente Médio, da África e da Ásia. Ascondições de marginalização e insegurança de muitos integrantes desses grupos,bem como suas limitações financeiras e dificuldades lingüísticas, asseguram quepoucos deles farão qualquer reclamação formal.56 Em Zefyri, Attica, em outubro de2001, um jovem roma foi morto com um tiro na nuca por não ter parado seu carroao passar por uma patrulha policial. O policial que o matou foi acusado de�homicídio negligente�; porém, foi libertado mediante pagamento de fiança apóster passado cinco dias em custódia e retornou ao serviço, o que provocou revoltana comunidade roma.57

11. Armazenagem e licenciamentode armas de fogo

O Princípio Básico 11 da ONU pede que os governos �regulamentemo controle, o armazenamento e a distribuição de armas de fogo einstituam procedimentos para assegurar que os funcionáriosresponsáveis pela aplicação da lei prestem contas de todas as armase munições que lhes sejam distribuídas�.

Em alguns países, o armazenamento e a distribuição de armas de fogo emunição para a polícia é tão precário que acaba por incentivar os policiais aalugá-las para os criminosos em troca de parte dos proventos do crime ou a elesmesmos cometerem os crimes. Os países que mais correm esses riscos são aquelesem que as delegacias e os agentes de polícia não armazenam as armas comsegurança, mantêm registros inadequados da munição e das armas entregues acada policial e têm procedimentos negligentes com relação ao monitoramento einvestigação do uso de armas de fogo e de munição pela polícia.

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Uma questão básica é se a polícia deve ou não receber armas de fogo comoparte de seu equipamento regular. A Noruega e o Reino Unido encontram-se entreos poucos países do mundo com uma força policial na sua maioria desarmada,mas que conta com policiais especializados em armas de fogo capazes de sedeslocarem rapidamente quando necessário. Para esses policiais especialmentetreinados, as armas de fogo são armazenadas em depósitos específicos nasdelegacias ou nas viaturas e podem ser usadas como legítima defesa ou em situaçõesem que houver uma ameaça imediata à vida, geralmente com a permissão de umcomissário de polícia.58

Em 2003, uma auditoria sobre as leis para controle de armas de fogo em 12países pertencentes à Comunidade de Desenvolvimento da África Austral59

concluiu que apenas Maurício e África do Sul possuíam leis referentes ao controlee gerenciamento dos estoques de armas do Estado, apesar do temor generalizadode que algumas delas pudessem sumir desses estoques.60

Depósitos de armas de fogo da polícia mantidos sem o devido cuidado são,em muitos países, combustível para o crime armado. Os policiais no Camboja, porexemplo, costumavam levar suas armas para casa à noite, o que fazia com que elasacabassem sendo usadas em brigas familiares e com vizinhos. Agora, porém, estáem andamento um projeto ambicioso de armazenamento e gerenciamento de armas.Após o êxito de um projeto para estocar armas do exército, a União Européia financiouum programa para armas policiais nas províncias de Phnom Penh, Kandal eKompong Speu.61 Segundo o órgão coordenador da União Européia, este projeto:

• Registrou todas as armas pertencentes à Polícia Nacional em um banco dedados computadorizado central.

• Construiu em cada província um depósito seguro para estocagem de armasque não são de uso diário. Cada prédio tem capacidade para armazenar1.260 armas.

• Construiu um depósito maior para estocagem de armas da reserva nacional,em Phnom Penh, que tem capacidade para armazenar 7 mil armas.

• Equipou cada posto policial com um armário especial para trancar as armasde uso em serviço. Um total de 477 armários foram produzidos para as trêsprovíncias. Isso representa uma capacidade de armazenamento de 5.670armas.

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• Instalou armários adicionais no Ministério do Interior, em Phnom Penh,para uma capacidade extra de 800 armas.

• Ofereceu cursos de treinamento em logística, gerenciamento de armas einformática para os policiais aos quais isso era relevante.

Todas as instituições encarregadas do cumprimento da lei devem manterregistros precisos de entrega e retorno de armas e munição. Devem ainda adotarregulamentos rigorosos que façam com que irregularidades na manutenção dosregistros sejam consideradas questão de disciplina e que exijam que os agentesinformem sobre qualquer descarregamento de suas armas - por razões legítimas,por negligência ou por outros motivos - para que uma investigação seja conduzidapor uma autoridade competente.

12. Armas policiais legítimas

O Princípio Básico 2 da ONU afirma que governos e organismos deaplicação da lei �devem desenvolver um leque de meios tão amploquanto possível e habilitar os funcionários responsáveis pelaaplicação da lei com diversos tipos de armas e de munições, quepermitam uma utilização diferenciada da força e das armas de fogo�.

O Princípio 11 requer que os governos �Proíbam a utilização de armas defogo e de munições que provoquem lesões desnecessárias ou representem umrisco injustificado�.

A polícia geralmente usa armas que utilizam munição de velocidade maisbaixa do que as utilizadas pelas forças militares, pois o ambiente tático em queatua é completamente diferente do ambiente militar. As operações policiais sedão em um raio de ação muito mais próximo do que os combates militares, devidoà necessidade de se identificar se está ou não havendo uma ameaça à vida e paragarantir a segurança do público. Projéteis de alta velocidade possuem maioralcance e muito mais energia que um projétil de pistola 9mm, portanto, em um

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ambiente urbano, oferecem um risco muito maior para o público, principalmentese o projétil errar o alvo que buscava atingir. Além disso, projéteis totalmenteencamisados de alta velocidade têm potencial para atravessar o corpo da pessoa-alvo e seguir até atingir outra pessoa com energia suficiente para matá-la ou feri-la gravemente, enquanto que um projétil de 9mm provavelmente se alojará nocorpo, sendo assim mais seguro para as pessoas que estiverem no local doincidente.

Assim, em muitos países, uma polícia que opere em circunstâncias normaisde patrulha não portará fuzis de assalto automáticos de alta velocidade. Em vezdisso, os policiais são equipados com revólveres ou, cada vez mais, com carabinassemi-automáticas ou pistolas de 9mm, que são mais apropriadas para o tipo deameaças apresentadas pelo uso criminoso de armas de fogo em tempos de paz -contanto que os policiais sejam treinados e supervisionados no uso de taisarmas.

Entretanto, o licenciamento para armas de fogo precisa ser constantementerevisado de acordo com as mudanças na avaliação de risco tática. No ReinoUnido, por exemplo, mudanças na avaliação de risco, motivadas em parte pelouso de armas de alta velocidade e de coletes protetores por parte dos criminososarmados, estão, cada vez mais, levando as autoridades britânicas a armarem asunidades especiais da polícia com armas de alta velocidade de calibre 5.6mm/.223.

A escolha das armas para uso policial deveria ser baseada em um processoobjetivo e meticuloso de avaliação de risco, conduzido pela polícia e por autoridadesgovernamentais. A questão fundamental é quais são os tipos de equipamentosnecessários em cada situação para impedir uma ameaça direta à vida e, ao mesmotempo, proteger a vida dos policiais e do público. Cada vez mais, a tendência éutilizar alternativas �menos que letais� às munições reais, o que possibilita umamaior diferenciação do uso de força e de força letal, apesar de que o uso de armaselétricas e de irritantes químicos ainda causa preocupação.

Na maioria dos países em desenvolvimento, há uma carência crônica detipos diferenciados de equipamentos policiais com os quais se poderia aplicarforça mínima, em diversas circunstâncias, como requerem os Princípios Básicosda ONU. Em países mais pobres ou em desenvolvimento, a polícia geralmente temde escolher entre usar, ou ameaçar usar, sua própria força física, algemas, casseteteou bastão, gás lacrimogêneo ou arma de fogo.

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Porém, as novas tecnologias �menos que letais� introduzidas nas práticasde policiamento são, às vezes, consideradas como sendo inerentemente abusivasou mesmo letais. O spray de pimenta, por exemplo, esteve implicado na morte depessoas sob custódia policial nos Estados Unidos.62 As novas tecnologias desegurança podem também facilmente ser mal utilizadas. Em março de 2003, umprojétil de plástico e metal disparado por um policial, por meio de um �lançadormenos que letal�, provocou uma lesão permanente em uma mulher em Genebra,Suíça, deixando em seu rosto fragmentos que não podem ser retirados, pois podemcausar paralisia. Isso teria ocorrido antes que quaisquer outros meios de controlefossem tentados.63 O fabricante alertou que essa arma em particular não deveriaser apontada �para a face, garganta ou pescoço�.64

Os novos projéteis não letais (balas plásticas L21A1) introduzidos nosarmamentos das forças policiais britânicas se deslocam mais rapidamente eatingem o alvo com mais força do que os que eles substituíram. Isso é consideradonecessário, pois agora estão sendo utilizados em novos ambientes táticos. Osantigos, que eram usados para o controle de multidões na Irlanda do Norte,possuíam quantidades variáveis de propelente e, portanto, podiam causar danosvariáveis. Os novos, sendo mais precisos, agora estão disponíveis para uso emsituações táticas em todo o Reino Unido, para impedir ameaças com armas, eforam usados também em uma variedade de operações policiais com armas defogo nas quais a polícia anteriormente teria usado munição real, prevenindo assima perda de vidas.65

As armas Taser, adotadas por algumas forças policiais, atiram dois dardosligados a fios presos à arma, através dos quais é lançada uma descarga elétricaincapacitante de 50.000 volts. Até 2002, armas Taser foram oferecidas para vendaa forças policiais em, ao menos, 18 países no mundo, sendo que em 2003 estavamsendo testadas em outros quatro países.66 Na América do Norte, ocorreram váriasmortes de pessoas atingidas por Tasers. A Anistia Internacional está pedindo queessas armas sejam rigorosa e independentemente investigadas para determinarsua compatibilidade com os padrões de direitos humanos antes que seu uso sejaautorizado para as forças policiais.67

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13. Reforma do policiamento armado

O Relator Especial da ONU sobre armas de Pequeno Porte e DireitosHumanos recomendou que �todos os Estados devem incorporar emsua própria legislação os Princípios Básicos da ONU sobre aUtilização da Força e de Armas de Fogo pelos FuncionáriosResponsáveis pela Aplicação da Lei�.

Ademais, todos os Estados devem �lidar com as raízes da violênciaem suas comunidades, oferecendo treinamento sobre as normasbásicas relativas ao uso de armas de pequeno porte pelos agentesque as portarem, bem como trabalhar com grupos da comunidadesobre outros tipos de intervenções práticas�.68

Reformar o uso que a polícia faz das armas de fogo é um conjunto complexode tarefas que requer vontade política continuada e investimento em recursos. Onúmero crescente de casos documentados de tiroteios policiais que resultaram emvítimas fatais levou o governo brasileiro a implementar uma série de políticas emmeados dos anos 90. O governo do Estado de São Paulo transferiu para distritosdiferentes policiais envolvidos em tiroteios com vítimas fatais, oferecendo-lhesassistência psicológica e retreinamento profissional, inclusive sobre padrões dedireitos humanos, por um período de seis meses. O número de vítimas fatais de tirosda polícia caiu de 60, em setembro de 1995, para 13, em outubro de 1995, e permaneceuem uma média de 9,9 nos primeiros três meses de 1996.69 Apesar de esses númerosserem considerados altos segundo padrões internacionais, o número de vítimasfatais diminuiu significativamente se comparado à média mensal de 111 durante1992. Porém, a reforma não foi suficientemente sistemática. Em julho de 1996, osmassacres e as chacinas aumentaram na periferia da cidade de São Paulo e levantaramsuspeitas de que, além da violência relacionada ao tráfico de drogas, algumasexecuções poderiam estar ligadas a grupos de extermínio com envolvimento policial.70

Ademais, o relatório do governo brasileiro à ONU em 1996 admitia uma �falta deinformações em nível nacional com relação a vítimas fatais de tiros da polícia�.

Também no Rio de Janeiro houve tentativas de se reformar práticas e políticas depoliciamento, sobretudo no período 1998-2000, em um esforço para enfrentar a corrupçãointerna. Apesar disso, essas tentativas não estavam totalmente baseadas em padrões

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internacionais. Um policiamento confrontativo e repressivo - que geralmente conta como apoio de uma grande parcela dos eleitores, que acredita que esses sejam os únicosmeios de combater o crime armado - continuou a ser a regra, enquanto que o crime e aproliferação de armas continuavam em níveis extremamente altos.71

Como conseqüência da crença em métodos de policiamento repressivos econfrontativos, tanto no Rio quanto em São Paulo, o número de fatalidades emoperações policiais aumentou dramaticamente. Nos primeiros cinco meses de 2003,segundo dados oficiais, 521 civis foram mortos em confrontos com a polícia naGrande Rio, comparado com 900 em todo o estado do Rio em 2002. Em São Paulo,houve um aumento de 51%, elevando para 435 os registros oficiais de mortes decivis causadas pela polícia nos primeiros cinco meses de 2003, comparado com omesmo período de 2002.72 Apesar de, no final de 2003, o novo governo brasileiroter aprovado uma legislação que restringe a posse, o comércio e o uso de armasparticulares, é improvável que a violência relacionada ao uso de armas seja reduzidasignificativamente sem que haja uma reforma mais profunda no policiamento.

14. Leis e regulamentações

O Princípio Básico 11 da ONU requer que as �normas eregulamentações relativas à utilização de armas de fogo pelosfuncionários responsáveis pela aplicação da lei devem incluirdiretrizes que (...) especifiquem as circunstâncias nas quais osfuncionários responsáveis pela aplicação da lei sejam autorizados atransportar armas de fogo e prescrevam os tipos de armas de fogo emunições autorizados...�, bem como uma ampla gama de disposições,como indicado neste relatório.

O primeiro passo é assegurar que seja estabelecida uma estrutura legal baseadanos padrões da ONU e, então, fazer com que essa estrutura seja realmenteimplementada. Tratados de natureza vinculante, como o Pacto Internacional sobreDireitos Civis e Políticos (PIDCP), oferecem uma base legal para que os padrões daONU sobre aplicação da lei sejam incorporados às políticas, bem como às leis eregulamentos nacionais.73 As leis que, em qualquer país, talvez precisem ser revistas

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ou reformadas incluem a constituição, a legislação específica que regulamenta a políciae outros serviços de aplicação da lei, as leis sobre armas de fogo e armas ilegais, bemcomo as leis referentes a procedimentos criminais e administração da justiça.

A maioria dos países da África Meridional permite que se faça uso de força letalcom o simples propósito de efetuar uma prisão, mesmo que nenhuma vida estejasendo ameaçada. Por exemplo, crimes cometidos enquanto se efetua uma prisão legalou se impede a fuga de de pessoa detida legalmente são considerados exceções dodireito à vida garantido nas constituições de Botsuana, Lesoto, Zâmbia e Zimbábue.74

Sob a legislação da época do apartheid, a polícia sul-africana tinhapermissão para atirar contra indivíduos suspeitos de serem ladrões, traficantes,fugitivos e outros que não representavam qualquer ameaça direta à polícia ou aopúblico.75 Apesar de isso claramente envolver uma violação dos padrõesinternacionais de direitos humanos, inclusive dos Princípios Básicos da ONU, ogoverno da África do Sul tem sido lento em emendar a legislação. A principaldisposição em questão é a Seção 49 da Lei de Procedimentos Criminais, de 1977.Em novembro de 1998, o Parlamento da África do Sul adotou um projeto revisadoda Seção 49 para torná-la compatível com a nova Constituição do país.Posteriormente, o projeto foi sancionado pelo então Presidente Nelson Mandela epublicado no dia 11 de dezembro de 1998.76 Contudo, a nova lei não foi promulgadaou posta em funcionamento pelo governo.77

Assim, em maio de 2002, a Corte Constitucional decidiu que a Seção 49(2)da Lei de Procedimentos Criminais de 1977, que permitia o uso irrestrito de força�mortal� pela polícia, ou por qualquer outra pessoa, contra um suspeito fugitivo,violava o direito à vida.78 Em resposta à decisão da Corte, a liderança do Serviço dePolícia da África do Sul, com apoio do ministro da Defesa e Segurança e do vice-presidente, postergaram a implementação das mudanças legais até que o governoconseguisse recursos suficientes para um abrangente programa de retreinamentoem armas de fogo para a polícia, compatível com as orientações da decisão daCorte Constitucional.79 Para assentar o terreno para a nova lei, em maio de 2002, aliderança do Serviço de Polícia emitiu uma nova ordem provisória a todos ospoliciais que portassem armas de fogo, substituindo desse modo a Ordem de ServiçoEspecial de 1977. A nova ordem estipulava que �força que possa causar a morteou lesões graves à pessoa que estiver sendo presa�, inclusive com armas de fogo,somente poderá ser usada se o policial tiver um embasamento razoável para crerque seja necessário proteger a si mesmo ou a qualquer outra pessoa do perigo de�morte iminente ou futura ou, ainda, de lesão corporal grave�. Finalmente, emjulho de 2003, o governo da África do Sul fez com que a emenda tivesse efeitolegal.80 As novas regulamentações representam uma melhora significante comrelação à lei de 1977, da época do apartheid.

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Na Romênia, desde meados da década de 90, dezenas de pessoas forammortas e muitas outras feridas em incidentes nos quais policiais dispararam contrasuspeitos que resistiam à prisão sem, contudo, representarem uma ameaça à vida. Alegislação nacional permitia que policiais atirassem �para prender um suspeito queseja pego em flagrante e tente fugir sem obedecer a uma ordem para permanecer nolocal do crime�, o que é uma violação dos padrões internacionais de direitos humanos.Em setembro de 2000, o Ministério do Interior emitiu novas instruções sobre o uso deforça e de armas de fogo que limitavam as disposições acima a casos de �crimesconsiderados graves�. Não ficava claro quem avaliaria se o crime era grave e combase em que isso seria feito. A conduta de policiais que atiravam em pessoas suspeitasde terem cometido crimes menores continuava a ser considerada como sendo usolegal de armas de fogo. Uma nova lei sobre a organização e o funcionamento dapolícia, que começou a vigorar em maio de 2002, não revisou essas disposições.

15. Informes e investigações

O Princípio Básico 11 da ONU requer que �As normas e regulamentações(...) Prevejam um sistema de registros de ocorrência, sempre que osfuncionários responsáveis pela aplicação da lei utilizem armas de fogono exercício das suas funções.�

Segundo o Princípio Básico 22 os governos e os organismos de aplicaçãoda lei �devem estabelecer procedimentos adequados de comunicaçãohierárquica e de inquérito para os incidentes� em que a polícia causarferimentos ou morte, ou quando utilizar armas de fogo no exercício desuas funções. Os governos e as autoridades policiais também deveriam�garantir a possibilidade de um procedimento de controle efetivo e queautoridades independentes (administrativas ou do Ministério Público)possam exercer a sua jurisdição em condições adequadas�.

Muito freqüentemente, essas regulamentações são negligentes ou nem sequerexistem e as pessoas afetadas pelo uso de armas de fogo da polícia não têm acessoa procedimentos independentes. Em 1994, O Congresso norte-americano autorizou

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o Departamento de Justiça a conduzir investigações a respeito de departamentosde polícia municipal acusados de cometerem, de maneira sistemática, violaçõesdos direitos civis. Uma investigação na polícia de Cincinnati foi iniciada depoisde ocorrerem protestos e tumultos motivados porque Timothy Thomas, um homemnegro, desarmado, foi baleado pela polícia em abril de 2001. O acordo requeria quea polícia instituísse melhoramentos em diversas áreas, como procedimentos dereclamação, orientações para uso de força, treinamento e supervisão.81

Em março de 2001, a polícia da Jamaica matou a tiros sete meninos e jovensque tinham entre 15 e 20 anos em Braeton, perto de Kingston.82 A polícia alegouque foram os sete que começaram a atirar e que foram mortos quando os policiaisrevidaram. Mas os moradores do local disseram ter ouvido os jovens implorarempara serem deixados vivos antes de serem mortos a tiros, um de cada vez. A políciafalhou em preservar as provas da cena do tiroteio, permitiu que provas forensesfossem contaminadas, moveu os corpos antes que suas posições tivessem sidoindependentemente examinadas e retirou, de maneira deliberada, as cápsulasusadas do local do crime, impedindo assim que se identificasse de que posiçãoforam feitos os disparos.

Um perito em armas de fogo da polícia, incumbido pela Anistia Internacionalde analisar o caso, achou �inconcebível� que dois dos jovens tivessem sido feridosdo modo descrito pela polícia e concluiu que os tiros pareciam terem sido �miradospropositalmente� nas cabeças de cinco dos rapazes. Ele recomendou que �umexame forense fosse realizado no chão do local para verificar se havia ali umpadrão de tiros que correspondesse aos ferimentos causados pelos tiros� e que �osregistros do treinamento com armas de fogo do agente Edwards sejam examinadospara determinar sua habilidade no uso de armas e que isso seja então comparadocom suas ações durante o incidente� - sendo que nada disso foi feito pela políciajamaicana.83 O perito em armas de fogo examinou, ele mesmo, o chão do local eencontrou buracos de balas 9mm que correspondiam aos encontrados na cabeçade André Virgo, indicando que ele havia sido mantido deitado e depois baleado.Em novembro de 2003, foi anunciado que seis dos policiais de baixa patenteenvolvidos no incidente serão julgados por sua ligação com as mortes, sendo queaproximadamente dez policiais haviam cercado a casa onde elas ocorreram.84

Sempre que a arma de um policial for descarregada, isso deveria serrigorosamente investigado, estando ele sujeito a procedimentos disciplinares.

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16. Assumindo a responsabilidade

Os Estados-Membros da ONU são convidados a �tomarem emconsideração e a respeitarem os Princípios Básicos no quadro dasrespectivas legislação e prática nacionais� e a �informarem oSecretário-Geral, de cinco em cinco anos a partir de 1992, dosprogressos realizados na aplicação dos Princípios Básicos�.85

Os relatórios dos governos ao Secretário-Geral sobre o progresso alcançado naimplementação dos Princípios Básicos têm sido inexistentes ou irregulares. Contudo, algunsrelatórios detalhados mencionando os Princípios Básicos da ONU, com recomendaçõessobre como efetuar melhoras, foram feitos pelo Comitê de Direitos Humanos (CDH) da ONUe pelo Relator Especial sobre Execuções Extrajudiciais, Sumárias e Arbitrárias, por exemplo,sobre a França, Honduras, Nepal, Portugal, Turquia e Estados Unidos.86

Em uma observação sobre o relatório da França em 1997, o CDH afirmou estar�profundamente preocupado com a gravidade da natureza e da quantidade dedenúncias recebidas sobre maus-tratos por parte de funcionários responsáveis pelaaplicação da lei contra detentos e outras pessoas que com eles mantiveram contatoconflituoso, havendo inclusive uso desnecessário de armas de fogo que resultou emvárias mortes, sendo que o risco de maus-tratos era muito maior caso se tratasse deestrangeiros ou imigrantes�. O Comitê mostrava preocupação por, na maioria doscasos, haver �poucas, se é que alguma investigação sobre reclamações desse tipo pelaadministração interna da polícia e pela gendarmerie nationale, o que, praticamente,resultava em impunidade�. O CDH preocupava-se ainda por �não haver mecanismosindependentes para receber queixas individuais dos detentos�.87

A responsabilidade por mudar as atitudes da polícia também deve ser assumidapelos governos. De abril a junho de 2003, depois de uma intensa campanha de gruposde direitos humanos, inclusive a Anistia Internacional, bem como de intervençõesdiplomáticas de diversos governos, o governo da Jamaica se comprometeu a adotaruma série de medidas designadas a prevenir e punir assassinatos cometidos pelapolícia de maneira ilegal. Foram tomadas medidas para:

• melhorar as autópsias feitas em civis mortos pela polícia;• diminuir o acúmulo de inquéritos sobre mortes causadas pela polícia na

Vara Criminal;• declarar pública e explicitamente que assassinatos cometidos por policiais

de modo ilegal não serão tolerados.

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O governo ainda:O governo ainda:O governo ainda:O governo ainda:O governo ainda:• pediu publicamente que o procurador-geral tomasse uma decisão quanto a

processar ou não os membros da Unidade de Controle de Crimes implicadosnos assassinatos ilegais dos sete rapazes de Braeton;

• buscou e recebeu auxílio de especialistas dos governos do Reino Unido,Estados Unidos e Canadá para investigar as circunstâncias da morte dequatro pessoas, em Crawle, por agentes da Unidade de Controle de Crimes,no dia 7 de maio de 2003;

• dissolveu a Unidade de Controle de Crimes que estava implicada em váriosabusos dos direitos humanos.88

Sob pressão da sociedade civil e de empresários preocupados com o aumentonos índices de crimes violentos, o governo de Maláui, com auxílio britânico enorueguês, ampliou sua reforma da polícia e da área de justiça criminal, realizadaem 1999. Com a colaboração da sociedade civil e de organizações não-governamentais, representantes da comunidade se engajaram em centenas de novosFóruns de Policiamento Comunitário que foram realizados por todo o país. Umacampanha de conscientização sobre padrões básicos de direitos humanos usadosno policiamento e sobre os perigos da proliferação de armas foi divulgada atravésde rádio, TV, pôsteres e outros meios de comunicação, como um vídeo intitulado�Protegendo nossas vidas�.89

Apesar de ser ainda muito cedo para dizer o quanto isso foi eficaz parareduzir os índices de crimes violentos e enfrentar o problema da posse ilegal dearmas de fogo, há indicadores que apontam para um aumento no número dedenúncias feitas pela comunidade à polícia sobre o uso de armas ilegais. Umamaior conscientização do público quanto a questões relativas ao policiamentotem auxiliado a polícia a colher mais informações e a construir apoio nacomunidade para um policiamento que ocorra de modo consensual..... Entretanto, areforma feita na Lei de Armas de Fogo ainda é inadequada e não há transparênciacom relação às investigações policiais sobre mal uso de armas de fogo e sobre aemissão de licenças de armas de fogo para civis.90

Muitas agências de desenvolvimento ainda têm de ser convencidas danecessidade de considerar a questão do controle de armas de pequeno porte ummotivo de preocupação e inclusão em projetos e não vêem a reforma institucionaldo policiamento e das armas como sendo uma questão de desenvolvimento.91 No

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Camboja, a União Européia ofereceu uma série de 14 cursos de treinamento parapoliciais em áreas rurais, visando a melhorar seu relacionamento com os moradoresda região.92 Quando esses moradores acreditarem na polícia, então eles entregarãosuas armas ilegais; mas isso somente acontecerá quando nem a polícia nem suasarmas representarem uma ameaça aos moradores. Mais uma vez, isso demonstraa importância de haver gerenciamento e segurança no trato com as armas.

O Princípio Básico 24 da ONU afirma: �Os governos e organismos deaplicação da lei devem garantir que os funcionários superiores sejamresponsabilizados se, sabendo ou devendo saber que os funcionáriossob as suas ordens utilizam ou utilizaram ilicitamente a força ouarmas de fogo, não tomaram as medidas ao seu alcance paraimpedirem, fazerem cessar ou comunicarem este abuso�.93

Policial em Maláui. Imagem de um vídeo sobre segurança comunitária ePolicial em Maláui. Imagem de um vídeo sobre segurança comunitária ePolicial em Maláui. Imagem de um vídeo sobre segurança comunitária ePolicial em Maláui. Imagem de um vídeo sobre segurança comunitária ePolicial em Maláui. Imagem de um vídeo sobre segurança comunitária econtrole de armas de fogo. © Malawi Pictures e Projeto de Controle decontrole de armas de fogo. © Malawi Pictures e Projeto de Controle decontrole de armas de fogo. © Malawi Pictures e Projeto de Controle decontrole de armas de fogo. © Malawi Pictures e Projeto de Controle decontrole de armas de fogo. © Malawi Pictures e Projeto de Controle deArmas de Fogo e Segurança Comunitária de MaláuiArmas de Fogo e Segurança Comunitária de MaláuiArmas de Fogo e Segurança Comunitária de MaláuiArmas de Fogo e Segurança Comunitária de MaláuiArmas de Fogo e Segurança Comunitária de Maláui

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O dever de obedecer a um comando não exime individualmente os policiaisde sua própria responsbilidade pelo uso ilegal de força ou de armas de fogo. OPrincípio Básico 26 da ONU estipula que �a obediência a ordens superiores nãopode ser invocada como meio de defesa� para tal conduta. O Princípio 25 especificaque governos e organismos responsáveis pela aplicação da lei não devem punirpoliciais que se recusem a executar uma ordem de uso de força ou de armas de fogoque esteja em conflito com os padrões de policiamento da ONU, ou que denunciemtal uso por parte de outros policiais.

17. Recomendações

É um desafio urgente que os governos ajudem a controlar o mal uso que sefaz das armas. Para que isso ocorra, mais recursos devem ser investidos para quese tenha um policiamento profissional baseado em padrões aceitosinternacionalmente. Somente quando isso acontecer os governos poderão oferecermaior proteção a mulheres, homens e crianças, por meio de forças de segurançalegítimas que respeitem os direitos humanos, e conquistarão o amplo apoio dasociedade civil, necessário para controlar a circulação e a utilização ilícita dearmas.

É imprescindível que a comunidade esteja verdadeiramente engajada emtodos os esforços para melhorar o policiamento de um modo consensual. Iniciativastomadas junto à comunidade devem ser dirigidas por seus integrantes paraassegurar que tenham relevância e que haja participação, controle,compartilhamento de responsabilidades e compreensão. Baseados nisso:

1. Todos os governos e autoridades policiais deveriam promover, divulgar eincorporar em lei e na prática os padrões da ONU para os funcionáriosresponsáveis pela aplicação da lei, o que inclui o Código de Conduta paraos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei e os Princípios Básicossobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários

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Responsáveis pela Aplicação da Lei;Responsáveis pela Aplicação da Lei;Responsáveis pela Aplicação da Lei;Responsáveis pela Aplicação da Lei;Responsáveis pela Aplicação da Lei;

2. Os Estados deveriam incluir explicitamente a promoção e a adesão a estespadrões no Programa de Ação da ONU para Prevenir, Combater e Erradicara Fabricação e o Comércio Ilícito de Armas Leves e de Pequeno Porte quandoeste for discutido em 2005 e revisto em 2006;

3. Doadores institucionais e bilaterais, inclusive os organismos das NaçõesUnidas, deveriam requerer que as autoridades locais aderissem a estespadrões da ONU em todos os projetos de assistência internacional quefinanciarem, especialmente quando tais projetos envolverem a segurançada comunidade;

4. Os Estados deveriam apoiar as recomendações do Relator Especial da ONUsobre Armas de Pequeno Porte de fortalecer a implementação dos padrõesda ONU sobre o uso de armas de fogo;

5. Todos os Estados deveriam avaliar a adesão dos Estados receptores aospadrões da ONU quando considerarem a possibilidade de exportar oufornecer armas a forças ou organismos envolvidos com aplicação da lei,sendo que não deveriam ser fornecidas armas de fogo, munições ou outrasarmas que ofereçam riscos injustificados de causar ferimentos ou que seprestem a abusos;

6. Organizações e indivíduos da sociedade civil deveriam unir-se à campanhaglobal Controle de Armas e ajudar a promover a adesão rigorosa de governose organizações de aplicação da lei a estes princípios da ONU.

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Notas1 O Grupo de Estudos sobre Armas de Pequeno Porte, sediado em Genebra, publicará

um estudo mais aprofundado sobre o tema em seu Anuário 2004. O Relator Especialda ONU sobre Armas de Pequeno Porte e Direitos Humanos também pretende, em2004, elaborar propostas para melhorar a implementação dos padrões internacionaisde aplicação da lei com relação ao uso de armas de fogo.

2 Anistia Internacional e Oxfam Internacional, Vidas Despedaçadas: um caso para rígi-dos controles internacionais de armas, Londres e Oxford, outubro de 2003.

3 Departamento para o Desenvolvimento Internacional, �Tackling Poverty by ReducingArmed Violence Recommendations from a Wilton Park Workshop� (Enfrentando aPobreza através da Redução da Violência Armada, de uma oficina realizada emWilton Park), 14 a 16 de abril de 2003, Reino Unido, Crown Copyright, junho de 2003(ISBN 1861925662).

4 Anistia Internacional, Faça sua parte - vamos acabar com a tortura, outubro de 2000(Índice AI: ACT 40/013/2000).

5 Assembléia Geral da ONU, Código de Conduta para os Funcionários Responsáveispela Aplicação da Lei, adotado pela Resolução 34/169, de 17 de dezembro de 1979.

6 Conselho Econômico e Social da ONU, Princípios Básicos sobre a Utilização da Forçae de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, adotadospelo Oitavo Congresso da ONU sobre Prevenção do Crime e Tratamento dos Delin-qüentes, Havana, Cuba, 27 de agosto a 7 de setembro de 1990.

7 Conselho Econômico e Social da ONU, Princípios sobre a Prevenção e InvestigaçãoEficazes de Execuções Extrajudiciais, Arbitrárias e Sumárias, recomendados na Reso-lução 1989/65, de 24 de maio de 1989.

8 O texto dos Princípios Básicos da ONU com o qual os governos concordaram afirmaque estes �deveriam ser levados em conta e respeitados pelos governos dentro daestrutura de sua legislação e prática nacionais�, op. cit.

9 Anistia Internacional, Policing to protect human rights: A survey of police practice incountries of the Southern African Development Community (Policiando para prote-ger os direitos humanos: estudo sobre a prática policial em países da Comunidade deDesenvolvimento da África Austral), de 1997 a 2002, julho de 2002, (Índice AI: AFR 03/004/2002).

1 0 Data on Brazilian and foreign-produced small arms seized by police and stockpiledat the Division of Control of Firearms and Explosives (DFAE) between 1950 and 2001(Dados sobre armas de pequeno porte brasileiras e de fabricação estrangeira apreen-didas pela polícia e armazenadas na Divisão de Fiscalização de Armas e Explosivos(DFAE) entre 1950 e 2000) - Viva Rio / ISER em parceria com o Governo do Estado doRio de Janeiro, Secretaria de Segurança Pública, Polícia Civil, Divisão de Fiscalização de

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Armas e Explosivos (DFAE), julho de 2003. Disponível em inglês na internet em http://www.desarme.org/publ ique/media/Global%20Report%202003%20-%20Seguindo%20as%20armas.pdf

1 1 Núcleo de Pesquisa e Análise Criminal, Secretaria de Segurança Pública do Estado doRio de Janeiro. Estudo disponível na internet em www.novapolicia.rj.gov.br

1 2 Declaração de morador de uma favela no Rio de Janeiro encontrada na página 83 deChildren in of the Drug Trade: A Case Study of Children in Organized ArmedViolence in Rio de Janeiro, Viva Rio / ISER, 2003. Disponível na internet, em inglês,em http://www.coav.org.br/publique/media/livroluke_eng.pdf

1 3 Pesquisa da Anistia Internacional.1 4 Anistia Internacional, Brasil: Rio de Janeiro 2003: Candelária e Vigário Geral 10 anos

depois, agosto de 2003 (Índice AI: AMR 19/015/2003).1 5 Folha de S. Paulo, 3 de julho de 2002.1 6 Estatísticas oficiais publicadas trimestralmente pela Secretaria de Segurança Pública do

Estado de São Paulo.1 7 Anthony Minnaar, �An analysis of attacks on and murder of members of the South

African Police Service: Searching for preventative and protective strategies� (Umaanálise das mortes e ataques a membros do Serviço de Polícia da África do Sul: Buscan-do estratégias preventivas e protetivas), trabalho apresentado no Décimo SimpósioInternacional de Vitimologia, Montreal, Canadá, 6 a 11 de agosto de 2000, pg. 4-7.

1 8 NEDCOR e Instituto de Estudos sobre Segurança, Crime index, vol 2, 1998, Pretória.1 9 The Sowetan, 2 de março de 1998.2 0 Por exemplo, no dia 22 de fevereiro de 2000, 15 civis foram mortos pela polícia no que

parece ter sido uma represália pela morte de 15 policiais durante um ataque de mem-bros do CPN (maoístas) a uma delegacia em Ghartigaun, distrito de Rolpa, três diasantes. Anistia Internacional, Nepal: A spiralling human rights crisis, abril de 2002,(Índice AI: ASA 31/016/2002).

2 1 Governo do Nepal, estatísticas divulgadas em outubro de 2002. Aproximadamenteoutras 1.500 pessoas foram mortas no conflito entre setembro e dezembro de 2003,em ambos os lados, com fatalidades entre civis e forças de segurança. Nenhumaespecificação quanto às mortes de policiais foi, porém, disponibilizada.

2 2 Isto é �a menos que fazer isso colocasse os funcionários responsáveis pela aplicação da lei emdemasiado risco ou que isso oferecesse risco de morte ou lesão grave a outras pessoas ou,ainda, que isso fosse obviamente inapropriado e sem sentido nas circunstâncias do incidente.�

2 3 O Princípio Básico 16 da ONU proíbe o uso de armas de fogo contra detentos �excetocomo legítima defesa ou para defesa de outros contra uma ameaça imediata de morteou de lesão grave�, ou, ainda, quando �estritamente necessário para impedir a fugade uma pessoa em custódia ou detenção que represente (uma grave ameaça à vida)�.

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2 4 A Regra 54.3 das Regras Mínimas da ONU para o Tratamento de Prisioneiros especifi-ca que: Salvo circunstâncias especiais, os agentes que prestem serviços que os po-nham em contato direto com os reclusos não devem estar armados. Além disso,jamais deverá ser entregue uma arma a um funcionário sem que ele tenha sidotreinado para o seu uso�.

2 5 Anistia Internacional, Jamaica: Jamaicans for Justice (JFJ), janeiro de 2002 (Índice AI:AMR 38/005/2002).

2 6 Não foi um estudo exaustivo, mas foi baseado em declarações feitas por policiais epublicadas na mídia durante 2001 e 2002. Isso, porém, oferece uma forte evidência dopadrão das versões dadas pela polícia para muitos tiroteios fatais.

2 7 Anistia Internacional, Jamaica: The killing of the Braeton Seven - A justice system ontrial, (Jamaica: A chacina dos sete rapazes de Braeton - Um sistema de justiça no bancodos réus), março de 2003 (Índice AI: AMR 38/005/2003).

2 8 Anistia Internacional, Richard Williams, Beaten in his mother�s arms, Apelo do mêsde outubro de 2001.

2 9 Anistia Internacional, Jamaica: Killings and Violence by Police: How many morevictims? (Jamaica: Mortes e Violência Policial: Quantos ainda serão vítimas?), abril de2001 (Índice AI: AMR 38/007/2001).

3 0 Informação compilada pela Anistia Internacional de relatórios publicados e fontesconfidenciais.

3 1 Ibid.

3 2 Ibid.

3 3 Informe Anual 2003 da Anistia Internacional, pg. 95 (Índice AI: POL 10/003/2003), eCarta da Anistia Internacional ao Ministro do Interior do Egito, 2002, não publicada.

3 4 �Chumbo grosso� refere-se a cartuchos de espingarda carregados com balins de chum-bo grandes, geralmente usados para caça.

3 5 Anistia Internacional, Terror Trade Times 4 (publicação mensal da AI), junho de 2003(Índice AI: ACT 31/002/2003).

3 6 Missão de Apoio da ONU em Timor Leste, Executive Summary of investigations ofpolice responses to the riots on 4 December 2002 (Resumo do resultado das investiga-ções sobre a reação policial aos tumultos de 4 de dezembro de 2002), 14 de novembrode 2003.

3 7 Anistia Internacional, The Democratic Republic of Timor-Leste: A new police service- a new beginning, (República Democrática do Timor Leste: uma nova polícia, umnovo começo) julho de 2003 (Índice AI: ASA 57/002/2003).

3 8 Ibid.

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3 9 Princípio Básico 5 da ONU. Este artigo inclui outras disposições, tais como a obrigaçãode: �Assegurar a comunicação da ocorrência à família ou pessoas próximas da pessoaferida ou afetada, tão rapidamente quanto possível�. Contudo, no Brasil, por exem-plo, os familiares raramente são informados sobre tiroteios com a polícia e têm delutar para localizar seus entes queridos.

4 0 Anistia Internacional, A New Police Service, A New Begining, op. cit.4 1 Anistia Internacional, Policing to protect human rights, op. cit.4 2 Anistia Internacional, Nepal: A deepening human rights crisis: Time for international

action, (Nepal: uma crise de direitos humanos que se aprofunda: hora para uma açãointernacional) dezembro de 2002 (Índice AI: ASA 31/072/2002).

4 3 Anistia Internacional, Nepal: A spiralling human rights crisis (Nepal: Uma crise dedireitos humanos que se agrava), abril de 2002, (Índice AI: ASA 31/016/2002).

4 4 Anistia Internacional, A deepening human rights crisis, op. cit.4 5 Parágrafo C do Comentário sobre o Código de Conduta da ONU, op. cit.4 6 Anistia Internacional, Honduras: Zero Tolerance for Impunity: Extrajudicial executions

of children and youths since 1998 (Honduras: Tolerância Zero com a Impunidade:Execuções extrajudiciais de jovens e crianças desde 1998), fevereiro de 2003 (Índice AI:AMR 37/001/2003). Veja também o relatório do Relator Especial da ONU sobre Exe-cuções Extrajudiciais, Sumárias e Arbitrárias para a Comissão de Direitos Humanos,�Mission to Honduras�, 14 de junho de 2002, E/CN.4/2003/3/Add.2

4 7 Ibid.4 8 Casa Alianza, Child Murders Start to Drop but Still No Convictions, em Casa Alianza

Cases, 13 de novembro 2003 - www.casa-alianza.org4 9 Ibid.5 0 Assembléia-Geral da ONU, Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a Mu-

lher, Resolução 48/104, de 20 de dezembro de 1993.5 1 Anistia Internacional, Policing to protect human rights, op. cit.5 2 SARPCCO, Manual and Reader on Policing Violence Against Women and Children,

julho de 20035 3 Lisa Vetten, Man Shoots Wife: A pilot study detailing intimate femicide in Gauteng,

South Africa, Johannesburg: People Opposing Women Abuse, 1995, pg.165 4 Anistia Internacional, Intolerable Killings: Mexico: 10 years of abductions and murder

of women in Ciudad Juárez and Chihuahua (Mortes Intoleráveis: México: 10 anos deraptos e assassinatos de mulheres em Ciudad Juárez e Chihuahua), agosto de 2003(Índice AI: AMR 41/026/2003).

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55 Manual de treinamento do Gabinete do Alto Comissariado da ONU para DireitosHumanos (OHCHR), op. cit. pg. 77

5 6 Anistia Internacional, Greece: In the shadow of impunity: Ill-treatment and the misuseof firearms (Grécia: Na sombra da impunidade: Maltratos e mal uso de armas defogo), setembro de 2002 (Índice AI: EUR 25/022/2002).

5 7 Ibid.5 8 Associação de Chefes de Polícia, Manual de Orientação sobre o Uso Policial de Armas

de Fogo, Reino Unido, 2001.5 9 Botsuana, Lesoto, Maláui, Maurício, Moçambique, Namíbia, Seychelles, África do Sul,

Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue.60 Cross, Peter, Rick de Caris, Ettienne Hennop e Angus Urquhart, Law of the Gun: An

Audit of Firearms Contol Legislation in the SADC Region, SaferAfrica and Saferworld,Pretória e Londres, junho de 2003.

6 1 Comunicado de imprensa emitido pelo Programa de Assistência da União Européiapara a Restrição de Armas Leves e de Pequeno Porte no Camboja (EU ASAC), 14 denovembro de 2003.

6 2 Anistia Internacional, The Pain Merchants: security equipment and its use in tortureand other ill-treatment (Os Mercadores da Dor: equipamentos de segurança e seu usoem torturas e outros maus-tratos), dezembro de 2003 (Índice AI: ACT 40/008/2003).

6 3 Ibid.6 4 www.fnherstal.com/html/FN303.htm6 5 Fundação Omega, A Review of the human rights implications of the introduction

and use of the L21A1 baton round in Northern Ireland and proposed alternatives tothe baton round, março de 2003.

6 6 Ligação telefônica entre a Anistia Internacional e a Taser Internacional em março de2002.

6 7 Anistia Internacional, The Pain Merchants, op. cit.6 8 Comissão de Direitos Humanos, Prevention of human rights violations committed

with small arms and light weapons (Prevenção de violações dos direitos humanoscometidas com armas leves e de pequeno porte), relatório preliminar submetido porBarbara Frey, Relatora Especial, de acordo com a resolução 2002/25 da Subcomissão,de 25 de julho de 2003.

6 9 Anistia Internacional, Commentary on Brazil�s First Report on the Implementation ofthe International Covenant on Civil and Political Rights, julho de 1996 (Índice AI:AMR 19/26/96)

7 0 Ibid.

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7 1 Pesquisa da Anistia Internacional.7 2 Anistia Internacional, Candelária e Vigário Geral, 10 anos depois, op. cit.7 3 Em 2002, 45 Estados não haviam ratificado o PIDCP, apesar de alguns deles terem

assinado. São esses: Andorra, Antígua e Barbuda, Bahamas, Bahrain, Butão, BruneiDarassalam, China (assinou), Comoros, Ilhas Cook, Cuba, Djibouti, Eritréia, Fiji, GuinéBissau (assinou), Santa Sé, Indonésia, Casaquistão, Kiribati, Laos (assinou), Libéria(assinou), Malásia, Malvinas, Ilhas Marshal, Mauritânia, Micronésia, Myanmar (Burma),Nauru (assinou), Niue, Omã, Paquistão, Papua Nova Guiné, Qatar, São Kitts e Nevis,Santa Lucia, Samoa, São Tomé e Príncipe (assinou), Arábia Saudita, Cingapura, IlhasSalomão, Suazilândia, Tonga, Turquia (assinou), Tuvalu, Emirados Árabes Unidos eVanuatu. Fontes: Informe Anual 2003 da Anistia Internacional, Alto Comissariado daONU para os Direitos Humanos.

7 4 Anistia Internacional, Policing to protect human rights, op. cit.7 5 Wyndham Hartley, �New Non-lethal Force Law Still Not Implemented�, Business Day,

25 de novembro de 2002. Encontro com o Capitão Bongani Mbhele, Chefe da Unidadede Direitos Humanos, Divisão de Padrões de Policiamento, Serviço de Polícia da Áfricado Sul, 13 de dezembro de 2002.

7 6 Judicial Matters Second Amendment Act, 1998, que, no entanto, só passou a vigorarem julho de 2003.

7 7 Corte Constitucional da África do Sul, Caso CCT 28/01, decisão em 21 de maio de2002, pg. 56.

7 8 Ibid., pg. 65.7 9 Informação prestada pelo Serviço de Polícia da África do Sul, 13 de dezembro de 2002.8 0 National Comissioner, Serviço de Polícia da África do Sul, Ordem Especial de Serviço

relativa ao Uso da Força para Efetuar Prisão, 18/5/1, 24 de maio de 2002.8 1 Informe Anual 2002 da Anistia Internacional, pg. 259 (Índice AI: POL 10/001/2002).8 2 Anistia Internacional, The Killing of the Braeton Seven � A justice system on trial (A

chacina dos sete rapazes de Braeton - Um sistema de justiça no banco dos réus), marçode 2003 (Índice AI AMR 38/005/2003).

8 3 Ibid.8 4 Comunicado de imprensa da Anistia Internacional, Jamaica: Braeton Officers Charged

� Milestone in ending police impunity, 5 de novembro de 2003 (Índice AI: AMR 38/020/2003).

8 5 Resolução referente aos Princípios Básicos da ONU sobre a Utilização da Força e deArmas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, adotada peloCongresso da ONU sobre Prevenção do Crime e Tratamento dos Delinqüentes, emHavana, Cuba, 27 de agosto a 7 de setembro de 1990.

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8 6 Esses relatórios podem ser encontrados no sítio na internet do Alto Comissariado daONU para os Direitos Humanos em http://www.unhchr.ch/hchr_un.htm

8 7 Nações Unidas, Observações Conclusivas do Comitê de Direitos Humanos: França.04/08/97. CCPR/C/79/Add.80. (Comentários/Observações Conclusivas).

8 8 Anistia Internacional, Jamaica: Welcome developments: Is an end to police impunityin sight? (Jamaica: Boa novas: pode ser avistado um fim para a impunidade policial?),25 de junho de 2003 (Índice AI: AMR 38/015/2003).

8 9 Brian Wood, com Undule Mwakasungura e Robert Phiri, Report of the MalawiCommunity Safety and Firearms Control Project, Lilongwe, agosto de 2001.

9 0 Anistia Internacional, Policing to Protect Human Rights, op. cit.9 1 DFID, Tackling Poverty by Reducing Violence, op. cit.. A ausência de qualquer tipo de

discussão sobre policiamento no relatório deste encontro de especialistas em desen-volvimento e armas de pequeno porte é uma omissão lamentável.

9 2 �O Grupo de Trabalho para a Redução de Armas em Phnom Penh organizou 22 fórunspúblicos para autoridades locais, funcionários e policiais dialogarem em conjunto so-bre redução de armas, segurança, o papel por eles desempenhado na solução dosproblemas acima mencionados em suas comunidades e sobre a construção de umsentimento de confiança entre eles mesmos.�

9 3 Veja também o Princípio Básico 26.

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© Amnesty International, International Action Network on SmallArms e Oxfam International, fevereiro, 2004

Este relatório foi escrito por Brian Woods, da Anistia Internacional.Este texto poderá ser utilizado livremente para os fins de campanha,educação e pesquisa, portanto que sua origem seja devidamentereconhecida.

Pode-se fazer um download deste material no endereçowww.controlarms.orgÍndice AI: ACT 30/001/2004

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